Considerações sobre as inundações no Brasil

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CONSIDERAES SOBRE AS INUNDAES NO BRASILRoberto Fabris Goerl1 & Masato Kobiyama2 RESUMO: O presente trabalho analisa a diferena entre os termos enchente e inundao. Atravs de uma breve pesquisa bibliogrfica, tambm analisa dois tipos de inundaes, as graduais e bruscas, quanto a sua terminologia e quanto as suas caractersticas. Pode-se verificar que h distino entre as duas inundaes. Apesar de haver esta distino, no h qualquer mtodo ou parmetro utilizado para diferenci-las. Essa diferenciao se torna importante para o registro da ocorrncia de um desastre natural provocado por uma inundao. Este registro denominado AVADAN o nico registro reconhecido oficialmente pelos rgos governamentais. Neste sentido, o presente trabalho props um ndice para que se possa diferenciar as duas inundaes, que se chama ndice de Eficincia de Operao. Este ndice a relao entre o tempo de concentrao e o tempo operacional de resposta da comunidade perante a possibilidade de ocorrncia de uma inundao. Alm disso, com o intuito de zonear reas susceptveis a inundao, o ndice de Perigo analisado com uso da equao de Manning. ABSTRACT: The present work analyzes the difference between the terms high-water and flood. Through a brief bibliographical review, two types of floods (flood and flash flood) are analyzed with respect to their terminology and characteristics. It is verified that there is a distinction between these two types. In spite of this distinction, there arent any methods or parameters that differentiate them. This differentiation is important for the occurrence registration of natural disasters provoked by floods. This registration denominated AVADAN is the unique registration officially utilized by the government organs. In this sense, the present work proposes an index to differentiate these two floods, which is called the Operation Efficiency Index. This index is the relationship between the time of concentration and the operational time of the community's response to minimize disasters due to floods. Furthermore, with the intention for zoning flood-susceptive areas, the Hazard Index is analyzed by using the Manning equation.

Palavras-chave: Inundao gradual, inundao brusca, ndice de Eficincia de Operao

1 2

Acadm. de Geografia da UFSC, Cx.Postal 476. CEP 88040-900, Florianpolis-SC. Email: [email protected] Prof. Depto. de Eng. Sanitria e Ambiental, UFSC, Cx.Postal 476. CEP 88040-900, Florianpolis-SC. Email: [email protected]

1. INTRODUO As inundaes vm fazendo parte da histria da humanidade. Nos ltimos anos, o nmero de ocorrncias e o nmero de pessoas afetadas vm aumentando significativamente (Figura 1). Este aumento est acompanhando a tendncia relacionada a todos os tipos de desastres naturais. Este fato pode ser atribudo s alteraes antrpicas, principalmente relacionadas como a intensa e desordenada urbanizao, ocupao de reas de risco e desmatamento.200 N de ocorrncias 180 160 140 250,0 N de afetados (milhes) 300,0 350,0

n de ocorrncias

120 100 80 60 40

200,0

150,0

100,0

50,0 20 0 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 0,0

Figura 1 Freqncia e nmero de pessoas afetadas pelas inundaes no mundo entre os anos de 1974 a 2005. Fonte: EM-DAT: OFDA/CRED International Disaster Database - Universit Catholique de Louvain, Belgium (2004) Devido a grande escala de ocorrncia do fenmeno, a terminologia associada a ele acaba variando de local para local. No Brasil, os termos associados s inundaes so: cheia, enchente, enxurrada, inundao gradual, inundao brusca, alagamentos, inundaes ribeirinhas, inundaes urbanas, enchentes repentinas entre outros. Devido a esta diversidade de termos, h uma divergncia e at mesmo confuso quanto caracterizao das inundaes. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi analisar algumas definies dos dois principais tipos de inundaes, isto , inundaes bruscas e graduais. Com base nesta analise, propor um ndice para distinguir estes dois tipos de inundaes. Alm disto, este trabalho tambm props a reformulao do ndice de Perigo proposto por Stephenson (2002), que tem por objetivo auxiliar no zoneamento de reas susceptveis a inundaes. 2 ENCHENTES E INUNDAES

n de afetados

Como acima mencionado, existem diversos termos relacionados ao fenmeno das inundaes. Muitos destes termos so usados erroneamente em virtude de tradues equivocadas e adaptaes mal feitas de termos provenientes de lnguas estrangeiras, principalmente do ingls e espanhol. As palavras cheia e enchente tm como origem o verbo encher, do Latin implere, que significa ocupar o vo, a capacidade ou a superfcie de; tornar cheio ou repleto. Para melhor entender o que realmente caracteriza uma enchente, tem-se o exemplo de um copo. Quando se coloca uma quantidade de gua at a sua mxima capacidade dize-se que o copo est cheio. Esta situao tambm ocorre com os rios. Quando as guas do rio elevam-se at a altura de suas margens, contudo sem transbordar nas reas adjacentes, correto dizer que ocorre uma enchente. A partir do momento em que as guas transbordam, ocorre uma inundao. A Figura 2 demonstra a diferena entre as enchentes e inundaes.

Normal

Enchente

Inundao

Figura 2 Elevao do nvel de um rio provocada pelas chuvas, do nvel normal at a ocorrncia de uma inundao. A partir deste transbordamento, ocorrem diversos tipos de inundaes, das quais os tipos mais comuns so as inundaes costeiras, graduais e bruscas (Kron, 2002). Enquanto a primeira relacionada ao local especfico, isto , a zona costeira, as duas ltimas esto ligadas

velocidade do prprio fenmeno e podem ocorrer em quaisquer locais. Daqui pra frente, o presente trabalho trata apenas estas ltimas. 2.1 Inundaes Graduais. As inundaes graduais so aquelas que, como o prprio nome diz, ocorrem gradualmente, ou seja, a elevao do nvel das guas e o conseqentemente transbordamento ocorrem lentamente. Na lngua inglesa denominada flood ou flooding. A Tabela 1 apresenta algumas definies utilizadas para as inundaes graduais. Tabela 1 Alguns conceitos utilizados para definir as inundaes graduaisTermo Flood Autor NFIP (2005) Definio Uma condio geral ou temporria de parcial ou completa inundao de dois ou mais acres de uma terra normalmente ou duas ou mais propriedades (uma das quais a sua propriedade), proveniente da inundao de guas continentais ou ocenicas. Inundaes ocorrem nas chamadas plancies de inundao, quando prolongada precipitao por vrios dias, intensa chuva em um curto perodo de tempo ou um entulhamento de gelo ou de restos, faz com que um rio ou um crrego transbordem e inundem a rea circunvizinha. A inundao de uma rea normalmente seca causado pelo aumento do nvel das guas em um curso dgua estabelecido, como um rio, um crrego, ou um canal de drenagem ou um dique, perto ou no local onde a chuvas precipitaram. Inundao resulta quando um fluxo de gua maior do que a capacidade normal de escoamento do canal, ou quando as guas costeiras excedem a altura normal da mar alta. Inundaes de rios ocorrem devido ao excessivo escoamento superficial ou devido ao bloqueio do canal. As guas elevam-se de forma paulatina e previsvel, mantm em situao de cheia durante algum tempo e, a seguir, escoam-se gradualmente. Normalmente, as inundaes graduais so cclicas e nitidamente sazonais. Inundaes de rios ocorrem devido s pesadas chuvas das mones e ao derretimento de gelo nas reas a montante dos maiores rios de Bangladsesh. O escoamento superficial resultante causa elevao do rio sobre as suas margens e propagando gua sobre a plancie de inundao. Quando a precipitao intensa e o solo no tem capacidade de infiltrar, grande parte do volume escoa para o sistema de drenagem, superando sua capacidade natural de escoamento. O excesso de volume que no consegue ser drenado ocupa a vrzea inundando de acordo com a topografia reas prximas aos rios. Uma inundao de terra normalmente no coberta pela gua e que so usadas ou utilizveis pelo homem. o resultado de intensa e/ou persistente chuvas por alguns dias ou semanas sobre grandes reas algumas vezes combinadas com neve derretida. Inundaes de rios elevam-se gradualmente, ainda assim, algumas vezes dentro de um curto perodo.

Flood

NATIONAL DISASTER EDUCATION COALITION (2004) NWS/NOAA (2005)

Flood

Flood

FEMA (1981)

Inundaes Graduais ou Enchentes

Castro (1996).

River Flood

Choudhury et al (2004)

Inundaes Ribeirinhas

Tucci e Bertoni (2003)

Flood

OFFICE OF THECNOLOGY ASSESSMENT (1980) Kron (2002)

River Flood

A partir da Tabela 1, podem-se perceber algumas caractersticas em comum nas diversas definies. Elas ocorrem nas reas adjacentes s margens dos rios que por determinados perodos permanece seca, ou seja, na plancie de inundao. Geralmente so provocadas por intensas e persistentes chuvas e a elevao das guas ocorre gradualmente. Devido a esta elevao gradual das guas, a ocorrncia de mortes menor que durante uma inundao brusca, contudo, devido a sua rea de abrangncia, a quantidade total de danos acaba sendo elevada. Segundo Castro (1996), esta inundao est associada a grandes rios, como o Nilo, o Amazonas, o Mississipi-Missouri. Conseqentemente, esse tipo de inundao acaba possuindo uma sazonalidade e um perodo de retorno previsvel. Contudo, nota-se que no so todas as inundaes graduais que possuem sazonalidade, como no Amazonas e no Pantanal. Este foi o caso das inundaes ocorridas em 1983 no estado de Santa Catarina, onde devido a persistentes e excessivas chuvas provocadas pelo fenmeno El Nino houve inundaes em todo o estado de Santa Catarina. 2.2 Inundaes Bruscas As inundaes bruscas so aquelas que ocorrem repentinamente, com pouco tempo de alarme e alerta para o local de ocorrncia. Em Santa Catarina, este tipo de inundao geralmente est associado a sistemas convectivos de mesoescala ou sistemas convectivos isolados (Marcelino et al., 2004). Na lngua inglesa conhecida como flash flood, e no Brasil so conhecidas popularmente como enxurrada. Na Tabela 2 encontram-se algumas definies utilizadas para o termo inundao brusca. A partir da Tabela 2, observa-se que as inundaes bruscas possuem caractersticas muito diferentes das inundaes graduais. Como o prprio nome diz, elas so bruscas, ou seja, devem ocorrer no tempo prximo ao momento da ocorrncia do evento que as causam. Outra caracterstica particular deste tipo de inundao o pouco ou nenhum tempo de alerta. Por elas se desenvolverem bruscamente, geralmente atingem as reas susceptveis a ela de surpresa, no tendo tempo hbil para os moradores tomar os devidos procedimentos para se protegerem ou salvar os seus bens. 3. PROBLEMTICA DAS INUNDAES GRADUAIS E BRUSCAS. Como observado na Tabela 2, no Brasil a nica definio para as inundaes bruscas a sugerida e adotada pela Defesa Civil Nacional, proposta por Castro (1996), que se caracteriza pela sbita e violenta elevao dos caudais. Segundo Georgakakos (1986), um dos fatores que determina a curta durao das inundaes bruscas a declividade das vertentes. Castro (1996) descreve que as inundaes bruscas so tpicas de relevo acidentado.

Tabela 2 Alguns conceitos utilizados para definir as inundaes bruscas.Termo Flash flood Autor NATIONAL DISASTER EDUCATION COALITATION (2004) NWS/NOAA (2005) Definio Inundaes bruscas ocorrem dentro de 6 horas aps uma chuva ou aps a quebra de barreira ou reservatrio, ou aps uma sbita liberao de gua armazenada pelo atolamento de restos ou gelo. Uma inundao causada pela pesada ou excessiva chuva em um curto perodo de tempo, geralmente menos de 6 horas. Tambm, as vezes uma quebra de barragem pode causar inundao brusca, dependendo do tipo de barragem e o perodo de tempo que ocorre a quebra. Inundaes bruscas usualmente consistem de um rpido aumento na elevao da superfcie da gua com uma anormal alta velocidade das guas, freqentemente criando uma parede de guas movendo-se canal abaixo ou pela plancie de inundao. As inundaes bruscas geralmente resultam da combinao de intensa precipitao, inclinaes ngremes, uma pequena bacia de drenagem, e uma alta proporo de superfcies impermeveis. Inundaes bruscas so inundaes de curta vida e que duram de algumas horas a poucos dias originam-se de pesadas chuvas. Sbitas inundaes com picos de descarga elevados, produzidos por severas tempestades que so geralmente de limitada rea de extenso. Operacionalmente, inundaes bruscas so inundaes que so de fuso curta, e requerem a emisso de alertas pelos centros locais de previso e aviso preferencialmente do que pelos Centros Regionais de Previso de Rios. Inundaes bruscas so normalmente produzidas por intensas tempestades convectivas, a qual causa muito rpido escoamento, e o dano da inundao geralmente ocorre dentro de horas da chuva que a causa e afeta uma rea muito limitada. So provocadas por chuvas intensas e concentradas em regies de relevo acidentado, caracterizando-se por sbitas e violentas elevaes dos caudais, os quais escoam-se de forma rpida e intensa. Uma inundao que acompanha um evento que a causa (excessivas chuvas, quebra de barragens) dentro de poucas horas. Inundaes bruscas geralmente ocorrem em pequenas reas, passado apenas algumas horas (as vezes minutos), e elas tem um inacreditvel potencial de destruio. Elas so produzidas por intensas chuvas sobre uma pequena rea.

Flash flood

Flash flood

FEMA (1981)

Flash flood

Choudhury et al. (2004)

Flash flood

IAHS-UNESCO-WMO, (1974) Georgakakos (1986)

Flash flood

Flash flood

Kms et al. (1998)

Inundao Brusca ou Enxurrada Flash flood

Castro (2003)

OFFICE OF THECNOLOGY ASSESSMENT (1980) Kron (2002)

Flash flood

Com maior declividade, as guas escoam mais rapidamente para o canal, elevando o seu nvel subitamente. Entretanto, se a inundaes bruscas so inundaes de natureza sbita, elas podem ocorrer tambm em reas planas. Kron (2002) comenta que as inundaes bruscas no esto associadas apenas ao rpido fluxo de gua em terrenos ngremes, mas tambm com inundaes de reas planas. Por causa da intensa urbanizao ocorrida principalmente nas ltimas dcadas, cidades de mdio e grande porte, independente da declividade, vm possuindo locais de ocorrncias de

inundaes com maior velocidade. Segundo Georgakakos (1986), esse tipo de inundao pode ser includa na categoria das inundaes bruscas. H uma grande dificuldade em estabelecer um limiar, ou seja, um tempo limite que diferencie s inundaes bruscas das graduais. De acordo com o NWS/NOAA (2005), este tempo pode ser de 6 horas. A WMO (1994) tambm sugere que as inundaes bruscas so caracterizadas por um tempo de concentrao curto, de aproximadamente 6 horas. Entretanto, este tempo pode variar muito de acordo com a localidade, pois no apenas a quantidade de precipitao que determina a ocorrncia de um desastre devido a uma inundao. Segundo Kelsch (2002) uma inundao brusca no pode ser definida apenas pela quantidade de chuva ou pela resposta do canal, pois ambos variam significativamente de um evento para outro. Desta forma, fatores como precipitao antecedente, tipo de uso do solo, quantidade de reas impermevel, taxa de cobertura vegetal, retinilizao de canais e rios, e outros fatores podem determinar a ocorrncia ou no de uma inundao, bem como o seu tipo. Few et al (2004) comentam que devido a diferentes percepes e terminologias utilizadas para inundaes, h uma dificuldade em padronizar as categorias das inundaes. Pois a cada evento, ela adquire algumas caractersticas particulares, inerentes localidade de ocorrncia. Essas particularidades podem ser diferentes alturas e velocidades, elas podem estar confinadas em estreitos vales ou espalhar atravs de plancies. Cada localidade possui uma determinada resposta hidrolgica para uma quantidade de chuva. Desta forma, no se pode simplesmente determinar um tempo limite para diferenciar as inundaes bruscas das graduais, como foi estabelecido pela WMO (1994) e pela NWS/NOAA. Aquele tempo de 6 horas poderia servir para um local e no para outro. Contudo, se faz necessria a distino entre as inundaes bruscas e graduais, visto que h um sistema de registro para cada tipo de inundao criado e gerenciado pela Defesa Civil Nacional. Este sistema se baseia em relatrios de avaliao de danos (AVADAN) enviados a Defesa Civil quando um municpio decreta situao de emergncia ou estado de calamidade publica em virtude da ocorrncia de um desastre natural. Este registro uma importante fonte de dados, pois o nico reconhecido oficialmente. Atravs dele podem-se realizar levantamentos de desastres ocorridos ao longo de um determinado perodo, como o elaborado por Herrmann (2001). No caso de uma inundao, este AVADAN adota as definies de inundaes propostas por Castro (1996), que as separa em bruscas e graduais, contudo sem especificar corretamente a diferena entre as duas. 4. NDICE DE EFICINCIA DE OPERAO Georgakakos (1986) admite que as inundaes bruscas requerem a emisso de alertas pelos centros locais de previso. O sistema de monitoramento, previso e conseqente alerta da ocorrncia de

inundao deve ser local. Assim, um dos aspectos que poderia determinar a diferena entre as duas inundaes que as bruscas necessitam de centros de monitoramento, previso e alerta local, e no em escala regional. Outro fator que pode ser utilizado para diferenciar os dois tipos de inundaes aqui tratados seria o tempo de resposta. Desta forma, se em determinada localidade uma inundao ocorresse seis horas aps uma determinada quantidade de chuva, mas a populao localizada na rea susceptvel a sua ocorrncia fosse alertada e tomasse as medidas preventivas em quatro horas, ainda haveria mais duas horas para tomar um cafezinho. Devido ao grande impasse que existe em determinar a diferena entre as duas inundaes, o presente trabalho props uma forma simples de diferenciar estas inundaes, criando o ndice de Eficincia de Operao (E). Este ndice definido como:

E=

Tc Ta

(1)

onde Tc o tempo de concentrao e Ta o tempo operacional de resposta no sistema instituiocomunidade. Nota-se que o Tc um fator que contm influncias ambientais de precipitao, topografia, uso de solo, etc. e o Ta determinado pelos fatores humanos tais como previso, comunicao, preparo da comunidade etc. Desta maneira, esse ndice envolve aqueles fatores que determinam a ocorrncia de um desastre natural, isto , os fatores ambientais e sociais. A partir deste ndice, de modo geral pode-se dizer que:

E > 1: dano menor (h tempo de salvar vidas do ser humano) Inundao gradualE = 1: ponto crtico

E < 1: dano maior(no h tempo de salvar vidas do ser humano) Inundao bruscaAtravs desta relao, as inundaes brusca e gradual podem ser classificadas, isto , quando E > 1 ocorrem inundaes graduais e E < 1 ocorrem inundaes bruscas. Do ponto de vista de preveno de desastres naturais, quando E < 1, ou seja, quanto menor valor de E, pode-se ter maior dano, pois a populao no teria tempo hbil para tomar as medidas preventivas. As inundaes em si so fenmenos naturais. Mas como a sociedade brasileira exige a identificao destes dois tipos de inundao para tratar desastres, a diferenciao entre dois pode ser feita com E que inclui consideraes ambientais e humanas. 5. NDICE DE PERIGO Observa-se que poucas comunidades possuem sistemas de alerta contra inundaes, principalmente em escala local. Poucas comunidades tambm so educadas de como agir em uma inundao.

Desta maneira necessrio elaborar um zoneamento preventivo em relao a reas susceptveis a inundao, bem como restringir o acesso destas reas quando ocorre uma inundao. Este zoneamento visa suprir a falta de conhecimento das medidas preventivas em caso da ocorrncia de uma inundao por parte das comunidades. Para elaborar este zoneamento preventivo, o presente trabalho modifica o ndice de Perigo proposto por Stephenson (2002). Perigos naturais (natural hazards) so processos ou fenmenos naturais que ocorrem na biosfera e que podem constituir um evento danoso e podem ser modificados pela atividade humana, tais como degradao do ambiente e urbanizao (UNPD 2004). Assim, a inundao bem como outros tipos de fenmenos naturais que possam causar desastres so considerados perigos naturais. H uma grande importncia em se conhecer as caractersticas fsicas do perigo natural que poder se tornar um desastre, pois, estas caractersticas esto diretamente ligadas quantidade de danos ocasionados em uma determinada localidade, ou seja, h a necessidade de se associar s caractersticas do perigo com as caractersticas do ambiente (vulnerabilidades). Nas inundaes, as caractersticas fsicas principais so a altura ou a profundidade (h), a velocidade (v) e o tempo de durao. Em reas urbanas, os fatores responsveis pela maior parte dos danos so a velocidade e a altura. Para estabelecer esta relao, Stephenson (2002) props um ndice de Perigo e Risco (Figura 3). Este ndice leva em conta, a velocidade, a profundidade e o tempo de retorno. O risco (Ri), de acordo com UNPD (2004), a relao entre o perigo (P) e a vulnerabilidade (V), ou seja, Ri = PV, e no apenas o tempo de retorno da inundao. Devido a esta divergncia entre a UNPD (2004) e Stephenson (2002), o presente trabalho apenas props uma modificao do ndice de Perigo (IP), no levando em conta a vulnerabilidade, visto a mesma variar em cada localidade, no podendo ser mensurada por este ndice. Em outras palavras, para determinar apenas as caractersticas fsicas, utiliza-se o IP. Segundo Stephenson (2002), o IP definido como:IP = v h

(2)

Para calcular a velocidade, o presente trabalho usa a equao de Manning:

1 v = R3 I 2 n obtm-se:

2

1

(3)

onde n a rugosidade; R o raio hidrulico; e I a declividade. Substituindo a equao (3) na (2),2 1

IP =

1 3 2 R I h n5

(4)

Assumindo-se que R h , a equao (4) torna-se: 1 IP = h 3 I 2 n1

(5)

3

ndice de Risco (IR)

2Velocidade 2

1

0

XProfundidade (m/s)

ndice de Perigo e Risco (IPR) = IP X IR

61

3

0

ndice de Perigo (IP)

3

40,5

2

0

2

20 1 10

1100

0

1

1000

Intervalo de Recorrncia das Inundaes, anos

Figura 3 Representao do ndice de Perigo e Risco, adaptado de Stephenson (2002). Quanto maior for rugosidade da rea inundada, menor ser o IP. Contudo, quanto maior for altura e quanto maior for declividade, maior ser o IP. Este dano no se caracteriza apenas com danos materiais, mas tambm com impactos a vida humana. Segundo Ramsbottom et al. (2003), estudos experimentais sugerem que o limite seguro para um adulto o produto da altura pela velocidade no intervalo de 0,5 a 1,0 (m/s), ou seja, o limite mximo do produto entre as duas variveis do IP no pode ser superior a 1,0 m/s. A partir disso pode-se estabelecer as equaes (6) e (7), representadas nas Figuras 4 e 5, respectivamente.IP = v h 1

(6) (7)

IP =

1 3 2 h I 1 n

5

1

Nota-se que quanto maior a velocidade, menor a altura necessria para causar danos. A mesma relao acontece com a declividade, quanto maior a declividade, menor ser a altura necessria para causar danos. Analisando a Figura 5, observa-se tambm que quanto maior for a rugosidade, mais seguro.

4 3,5 3 Altura (m) 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0 0,5 1 1,5 Velocidade (m/s) 2 2,5

Ip=1,0 Ip=0,5

No Seguro

Seguro3

Figura 4 - ndice de Perigo para pessoas situadas em reas inundadas3 2,5 Altura (m) 2 1,5 1 0,5 0 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 Declividade (% )

n=0,015 n=0,018 n=0,022 n=0,03 n=0,035 n=0,04

No Seguro

Seguro

Figura 5 Relao entre a altura e a declividade para reas onde IP 1 Conforme NWS/NOAA (2004) e USSRTF (2005), um fluxo de inundao a 4,47 m/s com uma altura de 0,6 m o suficiente para fazer flutuar um carro popular. Assim, deve-se delimitar o acesso ou o trfego de carros, quando ocorre uma inundao, em reas onde velocidade e a altura tenham estes valores, ou seja, em reas onde o IP 2,6. Tambm deve-se delimitar as atividades econmicas tais como concessionrias ou revenda de carros nestas reas. Limitando o uso de reas inseguras a vida humana, poder haver uma compensao no que diz respeito segurana das pessoas. Pois mesmo que elas no saibam as medidas preventivas, elas no estaro locadas em reas com alto perigo a suas vidas.

6. CONSIDERAES FINAIS

Atravs de uma breve reviso bibliogrfica, verificou-se que h uma distino entre as inundaes graduais e bruscas. Essa distino ficou clara quanto a sua terminologia, mas no quanto a suas caractersticas. Contudo, no se pode constatar a existncia de um critrio para distinguir estes dois tipos de inundao, principalmente no Brasil. Esse fato pode ser atribudo a as diversas caractersticas que cada evento adquire em cada localidade. Observa-se tambm a necessidade de se pode distinguir as inundaes bruscas das graduais, pois essa mesma distino adotada nos registros oficiais enviados a Defesa Civil quando ocorre um desastre natural provocado por uma inundao. Desta maneira, o presente trabalho props um ndice, denominado ndice de Eficincia de Operao, que a relao entre o tempo de concentrao e o tempo de ao. Este ndice atende aos dois fatores envolvidos num desastre, o fator ambiental e o fator social. Contudo, poucas comunidades possuem sistemas de alertas para preveno de inundaes. Nestas localidades, props-se a utilizao de um ndice de perigo, que leva em conta a velocidade e altura do fluxo da inundao. Para estimar este ndice, foi utilizada a equao de Manning, sendo que o prprio ndice se tornou uma modificao desta equao. Atravs deste ndice, nota-se que quanto maior a velocidade, menor a altura necessria para colocar em risco a vida humana. Hipoteticamente, a mesma relao pode acontecer quando se trata de danos materiais. Contudo esse ndice no leva em conta o tempo de durao de uma inundao. Desta forma, mais estudos se fazem necessrios para que se possa estabelecer a relao entre o IP e o tempo de durao.AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos membros do Grupo de Estudo de Desastres Naturais GEDN pelas valorosas discusses que levaram ao aprimoramento dos resultados apresentados no presente trabalho.

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