CONSORCIAÇÃO DA MAMONA COM CULTURAS ANUAIS ...tricos de Ouixadá relativos aos anos de 1985....

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CONSORCIAÇÃO DA MAMONA COM CULTURAS ANUAIS DE CICLO CURTO FRANCISCO JOS~ A. F. TAvORA* FRANCISCO IVALDO O. MELO** FANUEL PEREIRA DA SILVA* MANUEL BARBOSA FILHO*** RESUMO após uma drástica poda, não é recomendado por não produzir resultadossatisfatórios. A consorciaçãodeter- minou reduções na participação dos racemos secun- dários na produção total da mamona. Dois ensaios de campo foram instalados em Quixadá, Ceará, em 1985/86 e 1987, com o objetivo de estudar o comportamento da cultura da mamona (Ricinus communis L.) consorciada com culturas de ciclo curto. No primeiro ensaio (1985/86) a mamona foi consorcaida durante dois ciclos com o gergelim (Sesamum indicum U, sorgo granffero (Sorghum bicolor (L.) Moench.), e feijão caupi (Vigna ungui- ~ culata (L.) Walp.).No segundo ensaio (1987), o gerge- lim foi substituido pelo amendoim (Arachis hypogaea L.) e soja tropical (Glycine max (L.) Merrilj). Em 1985/86, ocorreram boas precipitações pluviométricas, com distribuição regu lar, fato que permitiu a explora- ção da mamoneira tanto no primeiro como no segundo anos, com produtividades superiores àquelas obtidas no segundo ensaio, em 1987, ano considerado seco. Todas as associações da mamona com culturas anuais, no primeiro ano de crescimento da cultura, determi- naram reduções expressivas tanto na produção da mamona como das culturas a ela associadas. A poda aplicada no 2.0 ano de exploração da mamoneira, em 1986, não determinou redução na produtividade. D consórcio da mamona com as culturas anuais de ciclo curto determinou vantagens expressivas no primeiro ciclo da cultura, medidas pelo uso eficiente da terra (UET), em relação aos respectivos monocultivos. Ao contrário, o consórcio da mamona no segundo ano, Termos para Indexação: Uso eficiente da terra, Ricinus communis, soja tropical, amen- doim, sorgo e gergelim. CASTORBEAN INTERCROPPING WITH ANNUAl SHORT CYCLE CROPS. SUMMARY Two field experiments were conducted in Quixadá, Ceará, Brazil, in 1985/86 an 1987, with the objective of studying the behavior of castorbean (Ricinus communis L.) intercropped with short cycle annual crops. In the first experiment (1985/86) castorbean was intercropped, during two growth cycles, with sesame (Sesamum indicum L.), sorghum (Sorghum bicolor (L.) Moench), and cowpea (Vigna unguiculata (L.) Walp.). In 1987, sesamewas substi- tuted by peanut (Arachis hypogaea L.) and soybean (Glycine max (L.) Merrill). In 1985/86 there was plenty of rainfall with regu lar distribution, allowing castorbean plants grow as biannuals, with seed yields higher than the ones obtained in the second experi- ment, in 1987, which was a droughty year. As a conse- quence of intercropping, it was observed a reduction in both castorbean and short cycle companion crop yields. When pruned in the second year (1986) castor- bean did not show yield reduction. In the first cycle castorbean intercropped with the short cycle crops yielded significant advantagescompared to the single crops, measured by the land equivalent ratio (LER). * Professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará,Bolsista do CNPq, Fortaleza-Ce.CEP 60355, C. Postal 12168. ** Professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará. *** Eng.o Agr.o. Pesquisador do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará. 85 Ciên. Agron.,Fortaleza, 19(2):pás.85-94 - Dezembro, 1988

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CONSORCIAÇÃO DA MAMONA COM CULTURAS ANUAIS DE CICLO CURTO

FRANCISCO JOS~ A. F. TAvORA*FRANCISCO IVALDO O. MELO**FANUEL PEREIRA DA SILVA*MANUEL BARBOSA FILHO***

RESUMO após uma drástica poda, não é recomendado por nãoproduzir resultados satisfatórios. A consorciação deter-minou reduções na participação dos racemos secun-dários na produção total da mamona.

Dois ensaios de campo foram instalados emQuixadá, Ceará, em 1985/86 e 1987, com o objetivode estudar o comportamento da cultura da mamona(Ricinus communis L.) consorciada com culturas deciclo curto. No primeiro ensaio (1985/86) a mamonafoi consorcaida durante dois ciclos com o gergelim(Sesamum indicum U, sorgo granffero (Sorghumbicolor (L.) Moench.), e feijão caupi (Vigna ungui-

~ culata (L.) Walp.). No segundo ensaio (1987), o gerge-lim foi substituido pelo amendoim (Arachis hypogaeaL.) e soja tropical (Glycine max (L.) Merrilj). Em1985/86, ocorreram boas precipitações pluviométricas,com distribuição regu lar, fato que permitiu a explora-ção da mamoneira tanto no primeiro como no segundoanos, com produtividades superiores àquelas obtidasno segundo ensaio, em 1987, ano considerado seco.Todas as associações da mamona com culturas anuais,no primeiro ano de crescimento da cultura, determi-naram reduções expressivas tanto na produção damamona como das culturas a ela associadas. A podaaplicada no 2.0 ano de exploração da mamoneira, em1986, não determinou redução na produtividade. Dconsórcio da mamona com as culturas anuais de ciclocurto determinou vantagens expressivas no primeirociclo da cultura, medidas pelo uso eficiente da terra(UET), em relação aos respectivos monocultivos. Aocontrário, o consórcio da mamona no segundo ano,

Termos para Indexação: Uso eficiente da terra,Ricinus communis,soja tropical, amen-doim, sorgo e gergelim.

CASTORBEAN INTERCROPPING WITH ANNUAlSHORT CYCLE CROPS.

SUMMARY

Two field experiments were conducted inQuixadá, Ceará, Brazil, in 1985/86 an 1987, with theobjective of studying the behavior of castorbean(Ricinus communis L.) intercropped with short cycleannual crops. In the first experiment (1985/86)castorbean was intercropped, during two growthcycles, with sesame (Sesamum indicum L.), sorghum(Sorghum bicolor (L.) Moench), and cowpea (Vignaunguiculata (L.) Walp.). In 1987, sesame was substi-tuted by peanut (Arachis hypogaea L.) and soybean(Glycine max (L.) Merrill). In 1985/86 there wasplenty of rainfall with regu lar distribution, allowingcastorbean plants grow as biannuals, with seed yieldshigher than the ones obtained in the second experi-ment, in 1987, which was a droughty year. As a conse-quence of intercropping, it was observed a reductionin both castorbean and short cycle companion cropyields. When pruned in the second year (1986) castor-bean did not show yield reduction. In the first cyclecastorbean intercropped with the short cycle cropsyielded significant advantages compared to the singlecrops, measured by the land equivalent ratio (LER).

* Professor do Departamento de Fitotecnia da

Universidade Federal do Ceará, Bolsista do CNPq,Fortaleza-Ce. CEP 60355, C. Postal 12168.

** Professor do Departamento de Fitotecnia da

Universidade Federal do Ceará.*** Eng.o Agr.o. Pesquisador do Departamento de

Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará.

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On the other hand, intercropping of the castorbeanratoon crop with the short cycle crops did not yieldgood results. As a result of intercropping, it wasobtained a reduction in the contribution of secondaryracemes in the total castorbean yield.

plantio predominante na região, estimulou opresente trabalho, que teve por objetivoprincipal avaliar o comportamento da mamonaem consórcio com culturas tradicionais (feijãocaupi) e alternativas (sorgo, soja tropical, gerge-lim e amendoim). Das culturas alternativas, trêssão oleaginosas. A introdução destas culturasvisa melhorar o perfil de oferta de grãos ricosem óleo, para atender à demanda insatisfeita daindústria de processamento de sementes oleagi-nosas que opera em elevado nível de ociosi-dade (BRITO3).

Index Terms: land equivalent ratio, Ricinus

communis, soybean, peanut,sorghum, sesame.

INTRODUÇÃO

MATERIAL E M~TODOS

o estudo envolveu dois ensaios de camporealizados na Fazenda Lavoura Sêca em Qui-xadá, Ceará, em solo Podzólico-Vermelho-Amarelo, nos anos de 1985/86 e 1987.

O preparo do solo constou de araçãoseguida de gradagem cruzada, realizadas umasemana antes do plantio, no início do períodochuvoso.

O delineamento experimental utilizado foio de blocos ao acaso com quatro repetições.

Ensaio de 1985/86

Os tratamentos constaram dos consórciosno primeiro e segundo anos envolvendo asseguintes combinações de culturas:

1.0 ano

a. Mamona isolada

b. Mamona + gergelim

c. Mamona + feijão caupi

d. Mamona + sorgo

2.0 ano

a.1 Mamona isoladanão podada

a.2 Mamona isoladapodada

b.1 Mamona podadaisolada

b.2 Mamona podada+ gergelim

c.1 Mamona podadaisolada

c.2 Mamona podada+ feijão caupi

d.1 Mamona podadaisolada

d.2 Mamona podada+ sorgo

Nos dois anos foram implantadas parcelasisoladas de gergelim, sorgo e feijão caupi parauso como referencial na avaliação do consórcio.As parcelas dos diferentes tratamentos foramplantadas com espaçamentos variáveis. Mamonaisolada ou consorciada: quatro fileiras de 9,Omno espaçamento de 2,Om x 1 ,Om; feijão consor-ciado: três fileiras duplas de 9,Om no espaça-

A consorciação de culturas, embora cons-titua o principal sistema de plantio em todas asregiões tropicais do mundo, só recentementevem recebendo maior atenção por parte dospesquisadores (MACHADO et alii6). Os traba-lhos publicados nas duas últimas décadas reve-laram, em geral, que os sistemas consorciadosapresentam níveis mais elevados de produtivi-dade da terra e maior estabilidade da produçãoem relação ao sistema de monocultivo (RAO& MORGAD08. ROOUIB et alli10'WILLEy13.THUNG12 e NATARAJAN &' WI LLEy7):Esses resultados estimularam a busca de infor-mações mais aprofundadas sobre as poss(veiscausas dessas respostas, bem como incentivaramo estudo de novas opções de combinações deculturas, com o intuito de otimizar os fatoresde produção disponíveis. Sabe-se que o melhordesempenho do consórcio deve-se, em termosgenéricos, à complementariedade temporal ouespacial entre os parceiros do consórcio(WILLEy13).

O sistema de plantio consorciado é prefe-rido pelos pequenos e médios agricultoresresponsáveis por mais de 60% da produção degrãos no Nordeste semiárido brasileiro. A tecno-logia agrícola empregada pelo público usuáriodo plantio em consórcio é baseada numaelevada densidade de mão-de-obra e pequenaquantidade de insumos modernos. Vale destacarque o risco da atividade agrícola nessa região émuito elevado, dada a grande irregularidadepluviométrica característica da região. A incer-teza talvez seja a principal responsável pelobaixo nível tecnológico característico daagricultura tradicional posta em prática pelorurícola nordestino. Nessa região, o milho,o feijão, a mandioca, o algodão e a mamonasão cultivados predominantemente em regimeconsorciado. No caso particular da mamona,ela é consorciada basicamente com o feijãocaupi e o milho.

A necessidade de diversificação da produ-ção agropecuária com a introdução de novoscultivos, mantendo-se o mesmo sistema de

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1986

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1985

Figura 1 - Precipitação pluviométrica em Qui xadá-Ceará, 1985/86/87.

87Ciên. Agron., Fortaleza, 19(2): pág. 85-94 - Dezembro, 1988

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1986 e 1987. Nota-se que, nos dois primeirosanos, os níveis pluviais foram superiores aosobtidos em 1987. A mamona recebeu em 1985,do plantio à colheita, cerca de 900mm dechuva. Em 1986, da aplicação da poda e plantiodas culturas consorciadas à colheita final damamo na, constatou-se uma queda pluviomé-trica de cerca de 1100mm. Em 1987, a mamonarecebeu durante todo o ciclo apenas 400mmde chuva, inclu ídos neste total os 56mm apli-cados através da irrigação por aspersão. Nomês de maio o ensaio recebeu apenas 57,3mmde chuva, incluindo-se aquela aplicada artificial-mente.

Ensaio de 1985/86

Os níveis de produtividade no ano de 1986(2.0 ano) foram mais baixos que os obtidos em1985, principalmente quando a mamona foiplantada em monocultivo (Tabela 1). Noprimeiro ano, a mamona em monocultivo foisignificativamente mais produtiva que quandoconsorciada com quaisquer das culturas. Estas,quando associadas à mamona, reduziram suaprodutividade (média de 34%), não havendodiferença significativa entre elas (Tabela 2).A produtividade da mamona no segundo anonão foi influenciada pela prática da poda.Igualmente, a associação da mamona com ogergelim, o sorgo ou o feijão caupi, no segundoano, não ocasionou reduções significativas naprodução de sementes da primeira (Tabelas1 e 3). Tal fato deveu-se ao rápido desenvol-vimento da mamona, determinando uma redu-ção nas culturas a ela associadas no segundoano, não sofrendo a mamona, destas, por viade conseqüência, competição expressiva que

alternadas com a mamona, no espaçamento de2,Om x 0,1m. As parcelas das culturas anuaisisoladas foram constituídas de quatro fileiras de6,Om de comprimento, obedecendo-se aosseguintes espaçamentos: soja - 0,6m x 0,2m;amendoim - 0,6m x 0,1m; feijão caupi -1,Om x 0,25m; e sorgo - 1,Om x 0,1m. Osseguintes cultivares foram utilizados: mamo na- Amarela de Irecê; amendoim - PI 165317;soja - BR 791759; feijão caupi - BR-1 e sorgo- EA 955.

Irrigações suplementares foram realizadasatravés do uso da aspersão, durante as três ú Iti-mas semanas de maio e primeira semana dejunho, num total de 56mm, com a finalidade desuprir a deficiência hídrica aguda decorrente dagrande escassez de chuvas no período. A irriga-ção suplementar apenas possibilitou a sobrevi-vência das culturas no período crítico, pois nãoevitou que reduções drásticas nas produçõesfossem constatadas.

O trabalho deveria prosseguir no ano de1988, através da poda da mamona no segundoano e consorciação mais uma vez com as cultu-ras anuais. Entretanto, em virtude do grandenúmero de plantas mortas, não foi possível darprosseguimento ao estudo como inicialmenteplanejado.

A avaliação do consórcio em relação àsculturas isoladas foi feita, nos dois ensaios,através da determinação do uso eficiente daterra (UET), descrito por BANTI LLAN &HARWOOD'.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A figura 1 apresenta os dados pluviomé.tricos de Ouixadá relativos aos anos de 1985.

TABELA 1

'rodução de Sementes de Mamona (kg/ha) no Primeiro e Segundo Anos, Submetida às Práticas da Podae do Consórcio com as Culturas do Feijão Caupi, do Gergelim e do Sorgo. Quixadá-Ceará, 1985/86.

-2.0 ano

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TABELA 2

Análise da Variância da Produção de Sementes de Mamona do Consórcio com Gergelim;Sorgo e Feijão Caupi. Quixadá, Ceará, 1985.

(3)12

39

15

199089,17586976,33

10291,1 7

451243,50772277,00

6,84.0,06 ns

TratamentoIsolado vs. consorciadoEntre consorciadoBlocosRes(duoTotal

cv (%) = 30* = significativo ao nível de 5% de probabilidadens = não significativo

TABELA 3

Análise da Variância da Produção de Sementes de Mamona do Consórcio com Gergelim,Sorgo e Feijão Caupi. Quixadá, Ceará, 1986.

Causas da variação G. L.

m111223

2030

-Quadrado médio F

0,040,070,110,400,49

TratamentoIsolado vs. consorciadoNão podado vs podado/isoladoNão consorciado vs consorciado/podadoEntre não consorciado/podadoEntre consorciado/podadoBlocosRes(duoTotal

" CV (%) = 36

sivo do sorgo sobre o tamanho dos cachos demamona no segundo ano de plantio consor-ciado.

As culturas do gergelim e feijão caupi sofre-ram uma expressiva redução na produtividadequando em consórcio com a mamona noprimeiro ano. O sorgo, no entanto, revelou umamaior estabilidade de produção nos dois siste-mas de plantio. No segundo ano não foramobtidas produções de gergelim e sorgo nosplantios consorciados com a mamona, enquantoo feijão, quando consorciado, produziu apenas200 kg/ha (Tabela 7).

Todos os esquemas de consórcio apresen-taram, no primeiro ano, vantagens de produti-vidade da terra, espressa pelo UET, em relaçãoaos respectivos monocultivos. O consórciosorgo + mamona apresentou a maior vantagem(62%), seguido do consórcio mamona + gerge-lim (25%) e mamona + feijão caupi (17%).Observou-se um intenso ataque de pássaros aosorgo, fato que certamente reduziu sua produ-tividade. Embora não tenha sido possível quan-

ocasionasse restrição ao seu crescimento eprodução.

A participação dos racemos, por categoria,na produção global da mamona em 1985(Tabela 4) mostrou que, em monocultivo, osracemos secundários predominaram, totali-zando 52% do total produzido, contra apenas34% dos primários. Por sua vez, nos esquemasconsorciados houve um maior equilíbrio naparticipação dos racemos primários e secundá-rios (42 e 47%). Os racemos terciários tiveramuma participação inexpressiva na produçãoglobal da planta, independente do sistema deplantio adotado (7 a 13%).

No segundo ano, o peso de 100 sementesnão foi afetado por quaisquer dos tratamentosimpostos (Tabelas 5 e 6). Ao contrário, o pesodos racemos foi reduzido significativamentequando a mamona não foi podada no início doperíodo chuvoso, bem assim, quando amamona, embora podada, tenha sido associadaao sorgo nos dois anos de cultivo. Depreende-se,portanto, ter havido um efeito residual depres-

~QCiên. Agron., Fortaleza, 19(2): pág. 85-94 - Dezembro. 1988

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TABELA 4

Participação dos Racemos Primários, Secundários e Terciários na Produção daMamoJla no Ensaio de Consórcio. Quixadá, Ceará, 1985.

Tratamentos Primários

Categoria do racemo

Terciários

Mamona isoladaMamona + feijãoMamona + gergelimMamona + sorgo

52;047,647,343,7

13,69,57,5

13,1

TABELA 5Análise da Variância do Peso de Sementes/Cacho (g) e Peso de 100 Sementes (g) de Mamona,

co Consórcio com Gergelim, Sorgo e Feijão Caupi. Quixadá, Ceará, 1986.

Causas da variação G. L.

TratamentosBlocosRes(duosTotal

73

2030

5,80* 2,03 ns

C. V. para peso semente/cacho = 14,91%C. V. para peso de 100 sementes = 3,32%* = significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F.ns = não significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F

TABELA 6Peso de Sementes por Cacho e Peso de 100 Sementes de Mamona do Ensaio de Consórcio com as

Culturas do Gergelim, Sorgo e Feijão Caupi. Quixadá, Ceará, 1986.

TratamentosPeso de sementes/cacho

(9)Peso de 100 sementes

(9)1.oano 2.0 ano

28,6 bc42,8 ab36,6 abc32,6 abc40,0 abc44,3 a28,2 c43,8 a

Mamona isoladaMamona isoladaMamona + feijão caupiMamona + feijão caupiMamona + gergelimMamona + gergelimMamona + sorgoMamona + sorgo

Mamona não podadaMamona podadaMamona podada + feijão caupiMamona podadaMamona podada + gergelimMamona podadaMamona podada + sorgo

Mamona podada

Média37,1

73,376,177,576,278,178,674,877,9

Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, ao n(vel de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

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tificar, é provável que os pássaros tenhamatacado diferenciadamente as parcelas de sorgoem monocultivo e em consórcio. Caso o sorgoem monocultivo tenha sido atacado mais inten-samente que o consórcio, estaria explicada, emparte, a grande vantagem do consórcio mamo na+ sorgo. Com exceção do sorgo que se compor-tou como cultura dominante sobre a mamona,os demais parceiros do consórcio não apresen-taram em consórcio tendência à dominação. Nosegundo ano, apenas a associação mamona +feijão caupi apresentou valor de UET superior àunidade (Tabela 7).

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Ensaio de 1987

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A cultura do gergelim foi substituida porduas leguminosas de porte baixo e ciclo relati-vamente curto em 1987 (amendoim e sojatropical). Essas culturas apresentam amplaspossibilidades de exploração comercial nascondições em que o trabalho foi conduzido. Amamona, tanto em monocultivo como consor-ciada, apresentou níveis de produtividade bemabaixo dos obtidos no ensaio de 1985/86(Tabela 8). Tal fato motivou-se, principalmente,pela pequena e irregular precipitação pluvio-métrica ocorrida na área experimental duranteo ano de 1987. A cultura recebeu durante todoo ciclo apenas 400mm de chuva, sendo que nomês de maio o total precipitado e aplicadoatravés da irrigação por aspersão foi de apenas

,-57,3mm.O consórcio com amendoim e feijão redu-

ziram significativamente a produtividade damamona (Tabelas 8 e 9). Por outro lado, oconsórcio com o sorgo e a soja, embora tenhamdeterminado reduções na produção de mamona,as diferenças observadas não atingiram níveis designificância. Constata-se na Tabela 8, nos doissistemas de plantio, uma maior participação dosracemos primários na produção da cultura. Aocontrário do ocorrido em 1985, em 1987 nãohouve produção de racemos terciários. Tal fatodecorreu, provavelmente, da escassez de chuvasque inibiu sobremodo o crescimento da plantae a produção de racemos secundários e sustoua de terciários. Observa-se, ainda, que o consór-cio determinou uma maior inibição na produ-ção de racemos secundários (Tabela 7).TÁVORA et alli" já haviam reportado umefeito expressivo da densidade de plantio naparticipação das diferentes categorias de racemona produção global da planta. Os fatos indicamque o manejo e as condições ambientais interfe-riram de forma decisiva na origem da formaçãoda produção. Os dados relatados se revestem de

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Ciên. Agron., Fortaleza, 19(2): pág. 85-94 - Dezembro, 1988 91

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importância pelo fato do tamaho do cacho oudas sementes ser afetado pela c~tegoria doracemo (LINS et alli5 e KITTO &WI LLIAMS4). -

A tabela 9 revela que o plantio consorciadodeterminou uma redução no tamanho dassementes dos racemos prim~rios (peso de 100sementes), embora a significância estat ísticatenha sido constatada apenas para o consórciomamona x feijão caupi. Por sua vez, o tama-nho das sementes dos racemos secund~rios nãofoi afetado pelo sistema de plantio (Tabela 10).Os racemos prim~rios apresentaram, nos doissistemas, sementes maiores que os secund~rios.Esses resultados confirmam os obtidos porKITTOCK & WILLIAMS4 e BANZATO &ROCHA2; porém divergem dos resultados rela-tados por LINS et alli5. A exemplo do ocor-rido com o peso das sementes, o peso dos

cachos primários também apresentou reduçãonos sistemas consorciados. O consórcio nãoafetou o peso dos cachos secundários. Comexceção do consórcio mamona x feijão caupi,os racemos secundários apresentaram menorpeso que os primários.

Quando associadas à mamona as culturasdo amendoim, feijão caupi, sorgo e soja tropicalapresentaram reduções em sua produtividade(Tabela 11). Apesar dessas reduções, o U ETrevelou valores superiores à unidade em todosos sistemas de consórcio, significando vantagensde produtividade da terra dos plantios consor-ciados em relação às respectivas culturasisoladas, tendo essas vantagens variado entre14 e 39%. Os valores parciais de UET revelamuma ligeira dominância do feijão caupi emconsórcio com a mamona e desta em relação àsoja. Os consórcios mamona + sorgo e mamona

TABELA 8

Produção de Sementes de Mamona e Participação dos Racemos, por Categoria, do Ensaio deConsórcio com Soja Tropical, Sorgo, Amendoim e Feijão Caupi. Quixadá, Ceará, 1987.

Participação na produção (%)Produção de sementes

(kg/ha)Tratamentos -

Racemo secundário

42,436,521,520,938,2

Racemo primário

57,663,578,579,161.8

Mamona isoladaMamona + sojaMamona + amendoimMamona + feijão caupiMamona + sorgo

Média

542,3 a383,8 ab272,3 a231,9 b420,4 ab

68,1 31,9

Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, ao n(vel de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey

TABELA9

Análise da Variância e Coeficiente de Variação da Produção de Sementes, Peso dos Racemos,e Peso de 100 Sementes de Mamona do Ensaio de Consórcio com Soja, Amendoim,

Sorgo e Feijão Caupi. Quixadá, Ceará. 1987.

GLTratamentos

TratamentosBlocosRes(duoTotal

04031219

92 Ciên. Agron., Fortaleza, 19(2): pág. 85-94 - Dezembro, 1988

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TABELA 10

Peso de 100 Sementes e Tamanho dos Racemos de Mamona Consorciada com Soja Tropical, Amendoim,Feijão Caupi e Sorgo. Quixadá, Ceará, 1987.

Peso de 100 sementes (9) Peso dos racemos (9)Tratamentos

Mamona i$oladaMamona + sojaMamona + amendoimMamona + feijão caupiMamona + sorgo

Média

Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, ao n(vel de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

TABELA 11

Produção de Sementes e Uso Eficiente da Terra do Ensaio de Consórcio de Mamona comAmendoim, Sorgo, Soja Tropical e Feijão Caupi. Quixadá, Ceará. 1987.

Sistema de plantioMamona Cultura

consorciadaMamona Total

833,11909,71880,2629,2

637,61231,31155,3294,3

-

542,3231,9272,3420,4383,8

Feijão caupiAmendoim

SorgoSojaMamonaMamona + feijão caupiMamona + amendoim

Mamona + sorgoMamona + soja

0,430,500,780,71

0,770,770,610,46

1,201,141,391,17

+ amendoim mostraram indefinição de domi-nância para quaisquer das culturas (Tabela 11).REDDY et alii9 estudaram o consórcio damamo na com diversas culturas na India econcluíram que os melhores retornos econô-micos foram obtidos quando a mamo na foiassociada ao amendoim.

. A deficiência hídrica motivada pela baixae irregu lar precipitação pluviométrica ocorridaem 1987 determinou uma redução expressivana produção de sementes de mamona, compa-rada com os níveis obtidos em 1985;

. O consórcio da mamona no 1.0 ano comas culturas do sorgo, amendoim, feijão caupi,gergelim, e soja tropical determinou valoressuperiores à unidade para o uso eficiente daterra (UET), revelando assim, incrementos deprodutividade das associações de culturas emrelação aos respectivos monocultivos;

. Não obteve êxito a tentativa de consor-ciação da mamona podada com o gergelim e osorgo no segundo ano de exploração. O consór-cio com o feijão, nas mesmas condições, apesarde ter propiciado baixa produtividade para estacultura, revelou vantagens de produtividade daterra de cerca de 27% sobre os monocultivos;

CONCLUSOES

. A associação da mamo na com as culturasdo sorgo, gergelim, feijão caupi, amendoim esoja tropical determinou reduções expressivastanto na produção de sementes de mamonacomo na das culturas a ela associadas;

. A poda aplicada no 2.0 ano de explora-ção da mamona não determinou diferença signi-ficativa na produção de sementes, em relação aotratamento não podado;

93Ciên. A2r0n.. Fortaleza. 19(2): oÍ2. 85-94 - Dezembro. 1988

Page 10: CONSORCIAÇÃO DA MAMONA COM CULTURAS ANUAIS ...tricos de Ouixadá relativos aos anos de 1985. TABELA 1 'rodução de Sementes de Mamona (kg/ha) no Primeiro e Segundo Anos, Submetida

. A consorciação da mamona com culturasanuais de ciclo curto determinou reduções naparticipação dos recemos secundários na produ-ção global da planta. O efeito foi semelhante aoproporcionado em 1987 devido à deficiênciahídrica resultante da baixa e irregular preci-pitação pluviométrica, e

. A associação no primeiro ano das cultu-ras do sorgo, feijão caupi, amendoim e sojatropical com a mamo na, apresentou-se tecnica-mente vantajosa sobre os respectivos monocul-tivos. Este fato pode ser constatado a partirdos incrementos observados na produtividadeda terra, constituindo ainda essas culturas exce-lentes opções para a diversificação da produçãodo pequeno e médio agricultor do semi-áridodo Nordeste brasileiro.

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