Construção de livro de artista: o caminho “semfé”
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< 1 >
Construção de livro de artista: o caminho “semfé”
¶ Rômulo do Nascimento Pereira
Senac-Am / Editora Valer
RESUMO
Este trabalho parte do caminho entre design e arte na criação de uma obra híbrida por
natureza, o livro de artista. Busca-se compreender esse produto sobre vários aspectos, a
saber, sua história e apropriação pela arte como suporte ao fazer artístico às experiências
próprias a um espaço conceitual importante. Utilizando nesta realização ideias apreendidas
ao longo do caminho em um ofício novo, o de elaborar-se num livro.
Palavras-chave: Livro de artista, design gráfico, traição e artes visuais
ABSTRACT
This work part of the path between design and art work in creating a hybrid in nature, the
artist's book. We seek to understand this product on several aspects, namely, its history and
ownership of art and artistic support, experiences a very important conceptual space. Using
this realization ideas learned along the way in a new craft, to develop into a book.
Keywords : Book artist, graphic design, betrayal and visual arts.
>
Artigo publicado a partir do trabalho de conclusão de curso de Especialização em Artes Visuais, Senac-Am [2010] e aceito como trabalho completo [apresentado na forma de comunicação oral], no 1.° Congresso internacional de Criatividade e inovação: visão e prática em diferentes contextos, em Manaus, Amazonas [2011].
< 2 >
O livro é um mundo que fala, um surdo que responde,
um cego que guia, um morto que vive.
– Padre Antônio Vieira
¶ Primeiro caderno
O livro, que na forma mais comumente associada a ele, a do códice, é composto por
unidades chamadas páginas, normalmente de cor clara, com um texto a lhe dar cor e
significado, possui tamanho e características variadas, sempre com o número de páginas
sendo múltiplo de quatro. Sua forma já foi a de um papiro enrolado, forma mais usada
antes do uso de peles [pergaminho] para a sua feitura, também já assumiu a forma de
pequenos tabletes de argila, ou ainda utilizou-se de tecido, do casco de tartarugas e
outros muitos suportes. A intenção era a permanência, o registro, a fuga do esque-
cimento ou das traições do tempo, utilizando-se do código arbitrário da escrita para
fazer chegar ao outro. A mensagem que foi grafada, marcada com os mais diversos
materiais em outra superfície: um pincel, uma faca, um talo de bambu, o dedo, a pena...
A mão a serviço do homem, nem que fosse para anotar as condições do clima, para
registrar serviços e fazer cálculos, contar as histórias formadoras de um povo, entre
outros. Nas palavras de R. Bringhurst (2004, p. 9):
A escrita é a forma sólida da palavra, o sedimento da linguagem. A fala sai de
nossas bocas, mãos e olhos de forma quase líquida, e depois, evapora-se. (...) E o
que é a linguagem? Linguagem é o que nos expressa, assim como aquilo que
falamos. Nossos neurônios, genes e gestos, premissas compartilhadas e hábitos
pessoais exprimem diariamente, enquanto falamos, muitas linguagens. Usamo-
las para nos expressar e interagir uns com os outros, com as outras espécies e
com os objetos – os naturais e os elaborados pelo homem – que habitam nosso
mundo. Mesmo em silêncio, não há como se esquivar totalmente do mundo dos
símbolos, signos e gramática.
< 3 >
As técnicas utilizadas na produção de um livro mudaram: do manuscrito foi brutal o
alcance e avanços conseguidos pela utilização dos tipos móveis de Gutenberg, passando
pelas grandes rotativas e tiragens propiciadas pela Revolução Industrial até a
desmaterialização do objeto nos e-books atuais. Para além de sua fisicalidade, esse
objeto é capaz de abarcar muito do que significa “ser humano”: sua loucura, ideias,
devaneios, imaginação, conhecimento, emoções, fabulação, vileza, mentiras, uma lista
longa de palavras e significados, tal como a variedade de pessoas: “Eu não escrevo aquilo
que quero, escrevo aquilo que sou” (LISPECTOR, Clarice; apud CARRENHO, 2005), ou
ainda “Sempre imaginei que o paraíso será uma espécie de biblioteca” (BORGES, Jorge
Luis; apud CARRENHO, 2005). Livros foram e são produzidos para serem lidos, Chartier
(1999, p. 77) nos diz:
A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segundo a
bela imagem de Michel Certeau, o leitor é um caçador que percorre terras
alheias. Apreendido pela leitura o texto não tem de modo algum – ou ao menos
totalmente – o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comen-
tadores. [...] Mas esta liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é cercada de
limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam,
em suas diferenças, as práticas da leitura. Os gestos mudam segundo os tempos
e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas atitudes são inventadas,
outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex medieval, do livro impresso ao
texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras
de ler. Elas colocam em jogo a relação entre corpo e o livro, os possíveis usos da
escrita e as categorias intelectuais que asseguram a sua compreensão.
O trabalho a ser desenvolvido vai ao encontro de um novo tipo de caçador/leitor, sua
isca para “prender” sua audiência não será mais a das ideias materializadas por meio da
escrita tipográfica do livro tradicional, mesmo que associada à ilustração. A forma talvez
pareça enganadoramente igual, uma brochura de papel branco, algo estranho, mas que
não pretende aprisionar o que quer que seja. Trata-se apenas de um “livro de artista”
que busca se constituir num espaço conceitual, um espelho para mostrar e refletir, não
uma imagem nítida e íntegra, esta talvez não seja mais possível, nem “verdades”, não há
< 4 >
certezas nas páginas deste semfé (título da obra); sem dúvida há exposição, “auto”,
inclusive, há muito de sinceridade, ou assim foi pensado pelo autor. Sua pretensão maior
é... Para começar, ser uma Obra aberta (título da obra não lida pelo autor desse
trabalho, de Umberto Eco); ter algo de A insustentável leveza do ser (obra de M.
Kundera), e sabedora de que Tudo o que é sólido se desmancha no ar (obra de M.
Berman), mesmo que escrita como sendo Memórias do subterrâneo (obra de F.
Dostoievsky). Ser um livro de muitos livros, até dos não lidos, dos projetados ou so-
nhados, dos desconhecidos e não-escritos, uma leitura de mundo, particular, imprecisa,
fragmentária, escrita de imagens, aberturas, enigmas, que se acredita poder ser com-
partilhada para ser melhor vivida [comfé?].
¶ Segundo caderno
Um livro pode conter a chuva? Ou ser de carne? Quem sabe composto por mais de 800
páginas que receberam um tiro de revólver? Para quem conhece esse campo movediço
chamado “livros de artista” responderia calmamente: “ué, claro que sim”. Nesses cinco
cadernos que compõem este artigo estão misturados conceitos motivadores, referên-
cias, resultados pretendidos, tempos verbais, e o que mais conseguir perceber o leitor.
Todos os trabalhos que tratam sobre “livro de artista”, as imprecisões e falta de com-
senso são comuns, o que se explica por ser esse campo híbrido por natureza e fértil para
experimentações, tais como: expor uma página de um livro à chuva para fazê-la reci-
piente do assunto que trata; ou então fatiar um pedaço de carne e deixá-lo com a forma
de um livro; mandar produzir um livro de 800 páginas com todas as folhas em branco, à
espera da escrita proposta pelo artista: um tiro de revólver atravessa suas páginas
concluindo o livro, com o sugestivo título de Balada. O que eles têm em comum?
Vejamos algumas (in)definições propostas, primeiro de Castleman (2008, apud SILVEIRA,
p. 36), “Livros de artista são isso – a obra do artista cujo imaginário, mais do que estar
submetido ao texto, supera-o por traduzi-lo dentro de uma linguagem que tem mais
significados do que as palavras sozinhas podem transmitir”. Já Johana Drucker (2008,
< 5 >
apud SILVEIRA), faz uma distinção entre livres d’artiste (entendidos como “livros de arte”
ou de bibliófilo) e os livros de artistas propriamente dito, diz que “Enquanto muitos livres
d’artistes são interessantes ao seu próprio modo, eles são produções mais que criações,
produtos mais que visões, exemplos de uma forma, não interrogações sobre seu
potencial conceitual, ou formal ou metafísico”. Féria diz “que o que distingue os livros de
artista dos restantes é a utilização do livro como suporte de um projecto artístico es-
pecífico, não restringido ao papel e à tinta, mas incorporando todos os tipos de materiais
usados pelo artista”. Também faz questão de destacar que esses se distinguem de livros
de reproduções de trabalhos de um artista, ou sobre um artista.
Poderia seguir com outros conceitos e polêmicas, como a que existe sobre a reproduti-
bilidade do suporte livro, onde alguns autores fazem forte distinção entre livros de
artista de fato e os chamados livros objeto, ainda há controvérsia quanto a edições
limitadas, numeradas, catálogos de exposição, obras coletivas e outros. Por fim, cabe a
definição de Silveira (2005):
o livro de artista é um produto da arte contemporânea, construído deliberada-
mente a partir de um suporte preexistente, o livro, que é o seu protótipo, e ao
qual louva ou faz contraposição crítica. A página e a estrutura podem ser
enaltecidas ou sofrer todas as possibilidades de injúria e objeção, até alcançarem
o estatuto da escultura e abandonarem a condição objetiva de livro.
O livro de E. Ruscha Twentysix Gasoline Stations é considerado uma das primeiras mani-
festações autônomas desse tipo de livro, junto com Dieter Roth e seu Daly Mirror, ambos
da década de 60, tendo como precursores os livros manuscritos e ilustrados por Blake,
livros realizados com a colaboração de artistas, os livros editados pelas vanguardas e
suas experiências, passando pela Caixa Verde de Duchamp entre muitos outros. No
Brasil, como antecedente, na década de 50, há o livro Ave de Wlademir Dias-Pino e os
trabalhos de poesia concreta.
O livro de Ruscha é constituído por uma série de 26 fotografias de estações de gasolina,
com legendas identificando a marca e a localização delas. Esta obra teve várias tiragens,
embora hoje seu custo seja elevado pelo status que adquiriu com o tempo, o seu lugar,
< 6 >
em muitas bibliotecas, foi a estante de “transporte” ou similares, e não a de “artes” –
seu lugar não deveria ser uma galeria ou museu? Mais uma indefinição.
A apropriação desse espaço “não artístico”, o livro, acentua o caráter ambíguo e com-
ceitual desse “lugar”, propícia a um florescimento de ideias tão significativas à variedade
das experiências da vida e da arte “moderna”. Pelo estudo da arte contemporânea nos
chega um conceito que será central, tanto na motivação quanto na realização da pré-
sente obra, por isso incorporo parte de um trabalho escrito anteriormente, usando um
recurso comum na contemporaneidade, a autorreferência, aqui, acredita-se justificada:
Enigma, entretenimento, inventividade, apropriação, jogo, estranhamento, fuga,
virtualidade, desumanização, contradição, esvaziamento, desmaterialização, re-
dundância, processo, codificação, massificação, degradação, traição, acomoda-
ção, descentramento, mistificação, irrelevância, desçonexão, convergência, anti-
arte... São alguns conceitos que agora fazem parte do repertório apreendido e
que afiaram nossa percepção, compreensão e mêsmo nossa incompreensão da
arte moderna e sua ampla gama de tons. Claro ficou que se pode usar tudo para
fazer arte e que são muitas as conexões possíveis, das mais pobres às mais
absurdas, visionárias ou degradantes, comerciais ou indecifráveis. (...) sinto falta
de uma ideia que consiga simbolizar o choque e a gritaria que parece ser sempre
necessária nas obras “atuais e transgressoras”. Talvez o senso comum só obser-
ve, mesmo que com certo desprezo, o que lhe assusta e se impõe. Arte como
exercício de falar mais alto, de dizer ou fazer o maior absurdo, de entreter com
seu show de esquisitices ou falsamente validar obras, etiquetá-las como “o novo
sucessor de Duchamp”, “não se via tal extraordinário artista de rua desde
Basquiat” – arte como jogo de impor verdades, ou melhor dizendo, engodos/pro-
dutos vendidos com status de obra-prima.
Arte? Dubiedade? Indefinição? Dúvida? Interrogação? Traição! Uma pessoa traí-
da dificilmente se esquece a infidelidade sofrida, mesmo que há tanto tempo.
Não dá para esquecer quando ele trouxe àquela roda de bicicleta “tosca e sem
graça” presa num banquinho e depois a colocou em nosso sagrado museu. Como
teve coragem? E fez pior, um mictório!? Maldito! Não tinha esse direito, não com
< 7 >
toda a nossa história, não se faz isso, o que dirão? Não consigo entender até hoje
o que isso significa, e aquela gargalhada hostil ainda ecoa até hoje. TRAIR,
segundo o Houaiss: “1. iludir, enganar por traição; atraiçoar. 2. denunciar (al-
guém) em ato de traição; 3. demonstrar infidelidade a. 4. abandonar (crença,
convicção etc.) de maneira traiçoeira. 5 deixar de cumprir (uma promessa, um
compromisso etc.). 6. revelar (algo) de maneira involuntária. 7. deixar de corres-
ponder a (expectativas etc.)”. Uma sugestão para a oitava acepção: função da
arte moderna. Tal como fazem as bruxas, nos oferecem suaves e despretensiosos
papeizinhos de arroz como uma maçã suculenta, mas ao morder a isca sentimos
o veneno, o mistério que se ocultava. Percebemos a fragilidade e o precário de
nós mesmos nessa absurda sucessão de folhas, tão calmas, sós e suavemente
duras, sua vida como uma folha em branco. Não escrevendo nada nela ela conti-
nuará pura? Ou já nasce estéril e cabe a nós semear algo que tenha valor, es-
crever alguma história que valha a pena ser lida/vivida?
(...) Impressionistas traíram o coletivo em nome de uma subjetividade particular,
de um momento fugidio, molhado de luz e tênue movimento, fixaram o que antes
era sem importância, romperam com o casamento feliz da arte, foram colocados
nas salas [salões] secundárias da grande, segura e bela casa: a Arte. Esta estava
de mudança, foi traída e colocada para fora, saíram também muitas vertentes
desta infidelidade, por muitos motivos como a expressão pessoal, a simplificação
formal, a abstração geométrica, a mistura de suportes, o amor às máquinas e
suas variações, o processo/ montagem... foram muitas as causas e as vanguar-
das. Depois da separação nada foi o mesmo, seus casos são retratados em livros
diferentes, a reconciliação parece impossível. Sabemos que não, já conseguimos
saber os critérios para o que foi arte antes não se aplicam às obras de hoje, os
tempos e relacionamentos mudaram drasticamente, mas sem dramas, acompa-
nharam a marcha, se agarraram à modernidade e estão no turbilhão, como
todos, girando como o inventado “parangolé”. Ao olhar para um, mesmo que
imaginado, repetimos o movimento que pode significar alegria, um rodopio vi-
brante de cores e vida, também uma dança da morte, perdida, sem sair do lugar
e ciente de que acabará a qualquer momento.
< 8 >
Acabaram muitos parangolés em um incêndio, mas não a arte que havia neles.
Nessa traição, que já podemos chamar de bela e justificada, o filho infeliz desta
separação, o público, ganhou uma mãe mais generosa, embora muito difícil e até
perigosa. Ela nos dá alimentos/obras que precisam de nós para ganhar sabor,
para alimentarem elas dependem da nossa capacidade de buscar, de digerir, de
questionar e saber-se faminto, não saciado pelas fast-foods, pelos produtos mas-
sificados da comunicação de massa. O sabor é esse: bom, mau, sem gosto, gos-
toso de uma maneira estranha, ou indefinível. É esse mesmo: o que nós, indivi-
dualmente, e mesmo que só degustando o que nos foi servido de forma mediada,
somos capazes de sentir, de descrever ou de tentar entender, como o que foi feito
neste texto, por favor, leitor, que sabor ele teve para o senhor?
Na graduação em Desenho Industrial (Design), na década de 90, a distinção entre design
e arte era enfatizada, sobretudo, pelo caráter de obra única e sua consequente “aura”,
referendada ainda pelo domínio técnico dos meios e convenções próprios da Arte. Além
desta se bastar, não atendendo a nenhuma função utilitária concreta, muito menos para
aqueles que seguiam a máxima: “a forma segue a função”. Essas condições faziam o
estudante de então afirmar, sem dúvida, que sua atividade era útil, tratava e utilizada
das novas tecnologias e estava conectado aos desejos e aspirações materiais das pessoas
e de seu tempo, ao contrário da arte, subjugada pelo seu peso e história, olhando para o
próprio umbigo, e fazendo questão de afastar-se do público.
A reconciliação, ou melhor, a percepção de fronteiras entre as duas áreas é bastante di-
fusa agora, ambas estão manchadas pelos matizes produzidos pela multiplicidade de
condições e caminhos. Interessante citar o método de trabalho de Sol Lewitt, importante
artista que realizou diversos livros de artista, embora esse campo seja secundado por sua
produção pictórica/muralista. No texto do catálogo que apresenta sua obra, Miller-Keller
(1996) nos conta que o artista enviou um colaborador até o prédio da Bienal em São
Paulo, e, uma vez definido o espaço para a realização de sua pintura mural, realizou
fotografias, dimensionamentos e juntou informações que foram repassadas ao artista
em atelier nos Estado Unidos para que ele criasse sua obra. Ele de fato a criou, mas
deixou a cargo do mesmo colaborador concretizar o trabalho, para isso enviou instruções
< 9 >
claras de como este deveria proceder, não era a primeira vez que trabalhavam assim.
Esse colaborador selecionou artistas-colaboradores brasileiros para que eles “colo-
rissem” os desenhos que Lewitt, seguindo instruções para isso nas diversas paredes do
prédio selecionadas para esse fim. Esses colaboradores tiveram o crédito dado durante a
exposição e a obra foi apagada depois de terminada a Bienal.
Para deixar mais claro, no caso do design, essa ruptura, citemos Rafael Cardoso (2000, p.
208):
O processo de quebra do paradigma modernista-fordista e de ingresso no perío-
do pós-moderno, ainda bastante nebuloso enquanto se configurava ao longo das
décadas de 1970 e 1980, já estava claramente definido em 1989, quando a queda
do muro de Berlin veio apenas confirmar que a modernidade havia desmoronado
de vez (...). Sem as certezas do paradigma naterior, o design atravessa um perío-
do de enorme insegurança mas, livre da rigidez do mesmo, ingressa também em
um período de grandes esperanças e fervilhamento (...). O design vem se líber-
tando da rigidez normativa que dominou o campo durante mais de meio século.
A marca da pós-modernidade é o pluralismo, ou seja, a abertura para posturas
novas e a tolerância para posições divergentes. Na época pós-moderna, já não
existe mais a pretensão de encontrar uma única forma correta de fazer as coisas,
uma única solução que resolva todos os problemas, uma única narrativa que
amarre todas as pontas.
Fervendo, essa condição transitória, essa indefinição, multiplicidade, mistura nos faz
questionar sempre “o que é arte?”, que valores, ferramentas e definições usar para
realizar um trabalho, uma obra? Sempre encontramos caminhos provisórios, difíceis até
de serem chamados caminhos, neste, o da produção de um livro, classificado como “livro
de artista”, o que o faz conter arte? É possível haver arte nas páginas de um livro? Basta
dizer-se artista e fazer um livro com a intenção de ser uma obra para esta de fato
configurar-se como tal? Por que expor [-se]?
< 10 >
¶ Terceiro caderno
O livro a ser criado não espera ter “arte” em suas páginas, não mesmo. Nele haverá,
como dito anteriormente, aberturas, janelas, fragmentos, tentativas, um “não-sei-o-quê”
de coisas que se espera que consiga ter alguma significação para quem se proponha a
folheá-lo. Nesse toque do leitor/jogador que conceda a graça de dar vida a um morto,
que o “jogo”, metáfora usada para apreender o sentido de vivenciar a arte, se realize.
Que o papel desse jogo e obra possa criar/expor um espaço que se espera rico de riscos,
utilizando as potencialidades que o livro possibilita, promovendo a convergência de
divergências [ideias e formas], de intenções, tempos, projeções, ruídos e outros, por
meio de imagens obtidas/realizadas utilizando-se de várias técnicas, principalmente o
desenho, a fotografia digital e tipografia, incluindo a manipulação delas por softwares
específicos.
Cabe nestes cadernos iniciais, expressar algumas idéias e obras que influenciaram
diretamente a realização deste trabalho:
Hibridismo/ambiguidade. Paul Valéry (apud BALTANÁS): “Es, pues, necessario que tu ser
se divida, y se haga, en el mismo instante, calor y frío, fluido y sólido, libre y sujeto,
rosas, cera y fuego; matriz y metal de Corinto”. Segundo Uddin (apud CAUDURO, 2007):
Híbridos são o resultado da fertilização cruzada entre pais relacionados mais ou
menos distantemente entre si. Como regra geral, híbridos são intermediários
entre os tipos de seus pais com respeito a suas características morfológicas e
fisiológicas. Híbridos, em alguns casos, podem se tornar maiores ou mais vigoro-
sos que qualquer um de seus pais. Isto é verdade para todas as mídias, incluindo
as visuais. Em termos de desenho e manipulação de imagens, as combinações de
elementos que são heterogêneos por origem ou composição produzem híbridos.
Fazer livros. Do belo e desafiador texto Ulises Carrion há varias indicações e idéias
sedutoras que nos dirigem à revolução: “Un libro es una secuencia de espacios.Cada uno
de estos espacios es percibido en un momento diferente – un libro es también una
secuencia de momentos. Un escritor, contrariamente a la opinión popular, no escribe
< 11 >
libros. Un escritor escribe textos”. Nos diz mais, propondo novas maneiras de “escritura”
e “leitura” para este novo livro em oposição ao livro tradicional/comum:
(...) El viejo arte asume que las palabras impresas están situadas en un espacio
ideal. El nuevo arte sabe que los libros existen como objetos en una realidad ex-
terior, sujeta a condiciones concretas depercepción, existencias, intercambio,
consumo, uso, etc.
(...) En un libro del viejo arte las palabras trasmiten la intención del autor. Por
este motivo él las busca acuradamente. En un libro del nuevo arte las palabras no
trasmiten ninguna intención; son empleadas para formar un texto el cual es un
elemento del libro, y es este libro, como totalidad, que trasmite la intención del
autor. El plagio es el punto inicial de la actividad creadora el nuevo arte.
(...) Los autores del viejo arte tienen el don por el lenguaje, el talento por el
lenguaje, la facilidad por el lenguaje. Para los autores del nuevo arte el lenguaje
es un enigma, un problema; el libro alude a las maneras de solventarlo.
(...) Para leer el viejo arte, es suficiente conocer el alfabeto.Para leer el nuevo arte
se ha de entender el libro como una estructura, identificando sus elementos y
entendiendo su función. Se puede leer el viejo arte creyendo que se entiende y
estar equivocado.Tal error es imposible en el nuevo arte. Puedes leer solo si lo
comprendes. En el viejo arte todos los libros son leídos de la misma manera. En el
nuevo arte cada libro requiere una lectura diferente.
En el viejo arte, leer la última página toma mucho tiempo, tanto como leer la
primera. En el nuevo arte el ritmo de lectura cambia, se acelera, de coge. Para
comprender y apreciar un libro del viejo arte, es necesario leerlo a fondo. En el
nuevo arte a menudo No necesitas leer el libro completo. La lectura puede
pararse en el momento en que hayas comprendido la estructura total del libro.
< 12 >
(...)El nuevo arte apela a la habilidad que cada hombre posee par comprender y
crear signos y sistemas de signos
Alguns livros encontrados na pesquisa, basicamente obras que mantém a forma tra-
dicional do livro composto por cadernos feitos de papel e os chamados “livros objetos”
ou livros esculturais, onde plasticidade da forma é explorada em detrimento de sua
estrutura interna. Vejamos alguns deles:
> Acima livros de E. Ruscha e Sol Lewitt.
< 13 >
> Obras do artista brasileiro Paulo Bruscky.
> “Livro de carne” de A. Barrio e “Rain Work”, de Ted Purvis,1994.
< 14 >
> Dois grandes artistas brasileiros e seus trabalhos: Julio Plaza e Wlademir Dias-Pino.
¶ Quarto caderno
O projeto tradicional de um livro inicia com o recebimento dos originais, um texto, que
depois de passar pelo editor, pelo projetista gráfico, diagramador, revisor, impressor,
livreiro, até chegar às mãos preciosas do leitor. A definição do formato, de quantas cores
será a impressão do miolo e para qual público o livro deve se dirigir são orientações
iniciais que permitem ao projetista planejar o trabalho de maneira clara. Estou no
escuro, por livre e espontânea vontade, sim, vontade de ser responsável por todas as
etapas do livro, menos a impressão, de ter as decisões e escolhas orientadas por um
desejo maior que o sucesso comercial de uma obra. Preciso trair esse ofício, o projeto do
livro. O preto no branco não deve ser mensageiro de clareza, da linear leitura de
sentenças ou do folhear seguro de quietas páginas.
< 15 >
O primeiro passo no escuro é a escolha por dissonâncias, ambiguidades, e a quebra da
regularidade, a primeira traição a ser cometida é com o princípio da página dupla. O
projeto gráfico de um livro é realizado levando-se em conta o livro aberto: uma página
par e outra ímpar, essa dualidade repetida transmite o conforto do já familiar, da
simetria e espelhamento regular, sem distorções. Escolho ter dois tempos distintos no
livro, o “passado”, nas páginas pares, e o “projetado” nas ímpares. Escolho fazer uma
previsão de futuro nas páginas 1, 3, 5, 7, 9... E uma revisão do passado, partindo da
última página do livro para o início, por exemplo: 60, 58, 56, 54, 52, 50...
Nas páginas pares, desenhos já realizados, desde os esboços juvenis até trabalhos
recentes, todos usando o papel como suporte, mesmo que na forma de papelão, de
colagem e outros. A mão marcando o suporte, o gesto que fica impresso. Tempo pas-
sado? Resgatado e quase sempre modificado pela memória. Foram reunidos diversos
trabalhos, desse primeiro contato foram selecionados vários “momentos” e o formato
do livro ganhou a linha do horizonte, ou melhor, a orientação da página ficou definida
como a horizontal. O passado, o já reconhecido, a similaridade de uma linha do tempo
conferiu a forma ao objeto.
O futuro, o ainda ser projetado, caberia às páginas ímpares, as mais nobres de um livro,
nunca estão em branco. Desse momento outra definição, nesse espaço só trabalhos
originais, realizados a partir de inquietações e conceitos expostos anteriormente,
buscando-se permanecer no escuro. A fronteira com o passado é definida pela utilização
apenas dos meios digitais para a sua feitura, sobretudo a fotografia digital, a digitalização
feita por scanner, tipografia e muitas interferências, utilizando ferramentas, efeitos e
manipulações em programas específicos, sobretudo o Photoshop. A escolha pela pro-
dução e impressão também passa pelo digital, se do passado veio o formato e suporte
do livro, do tempo “projetado” veio o processo e o tipo de impressão a ser usado.
Utilizando-se um programa de editoração para o livro e o sistema de impressão a ser
usado na impressão, realizado em gráfica digital.
< 16 >
Se nas páginas pares o livro começa da última página e nas ímpares a sequência é linear,
o que haverá nesse movimento? Passado e futuro (projetado) lado a lado? A obra
quando aberta será presente, nem passado, nem futuro: encontro, de um espaço com o
seu habitante. O “projeto de interiores” não deverá ser feito para agradar, nem para ser
meramente desconfortável. Como será então? Plural, cheio de aberturas, tanto para o
exterior como para o interior, portas fechadas, claro/escuro, meios tons, com muitas
misturas, ecos, deslocamentos, chaves, exposição, dor, crítica, indefinições, espelho,
sentimentos, inversões, exageros, humor, olhares, muitos olhares – mas o que verá o
olhar do jogador/leitor quando o tiver nas mãos? O que será lido no “olhar” de outrem?
Dirá algo além de “desconheço-te”? Por que por esse objeto e se por nas mãos de outro?
Como saber se está pronto? Pronto para quê? Sequer saber se há algo do que foi
desejado nas imagens impressas, o que fazer? Acreditar? Em quê? Em quem?...
> Caminho das páginas pares: trabalhos produzidos, sobretudo em desenho, antigos e recentes.
< 17 >
De um conjunto de desenhos bastante heterogêneo, abrangendo arco de tempo que
cobre 15 anos, fez-se a seleção de imagens a partir do conjunto mais significativo,
desenhos de rosto, olhos e similares. Alguns conceitos, ideias, inquietações, sugestões de
títulos para o trabalho surgiam, eram rabiscados para saírem do caminho, para deixar
outros movimentos e ideias fluírem, somarem-se ou reduzirem-se até deixarem de ter
importância, o processo “par” estava encaminhado.
O outro caminho, ímpar, solitário e no escuro precisa ser iniciado, para isso algumas
fronteiras teriam de existir para se poder avançar. Escolhe-se andar por lugares con-
siderados “comuns”, lugares de passagem, mistura, do desimportante cotidiano, usando
como estratégia o deslocamento. São quatro os lugares, dois de acordo com a fronteira
acima: o banheiro do trabalho e o mercadinho da família, lugares de convivência com os
outros. Mais dois lugares de confronto, do existir: o quarto e o “espelho”, este entendido
não como o objeto físico, mas sim aquele que “reflete”, que se observa.
Realizaram-se fotos digitais, tiradas, ora pelo celular, ora por uma filmadora. Sem muita
preocupação e cuidado com a resolução ou qualidade técnica, e sim com a apreensão de
imagens interessantes de um jeito meio indefinido, uma atração pelo acaso e pelo
simbólico dos pequenos gestos e objetos usados/vistos, mas não percebidos, pelo menos
não artisticamente. Nas preciosas páginas ímpares imagens “sem importância”, vazias
talvez ao olhar desatento, colocadas no centro, sem o tratamento “adequado”, sem
lugar: deslocadas. Também foram produzidas digitalizações: do rosto do autor colocado
no scanner, assim como o papel perfurado pela caneta, amassado, negado, sua cor
naturalmente branca foi invertida, negritada para ser traída, para ser o escuro do
projetado, do que está por vir. Autor digital?
Nesse grupo de imagens todas as fotos foram trabalhadas com maior ou menor grau de
interferências, sendo as mais comuns o uso do corte, da montagem, sobreposição,
mistura, distorção, exagero, repetição e muitas outras. Dentre essas cabe destacar o
desenho, não o mesmo encontrado nas páginas pares, mas feito pelo computador,
escolhe-se a ferramenta pincel, sua espessura e característica são definidas e “pinta-se”
quadradinhos mínimos, os pixels, usando o mouse para simular o gesto primordial de
< 18 >
marcar uma superfície, esta não existe, não fisicamente. Desenho, faço rabiscos digitais,
linhas mal traçadas, nervosas, inseguras, simulo, represento, traço enigmas sobre
imagens, imagens sobre imagens, rumino, escrevo, corro e sigo. Pra onde? Por quê?
> Acima: imagens capturadas e sendo trabalhadas sem muito compromisso.
A tipografia, suas letras, alfabetos, estilos e convenções, tão caras ao livro convencional,
também foram alçadas às páginas, não para tornar visível o discurso de outro, repousada
na quietude da página aguardando que sua legibilidade seja automaticamente traduzida.
A escrita e sua visualidade são próprias, para isso foram trabalhados textos produzidos
pelo autor, e, a partir desses, ocorre à produção de imagens, tendo a tipografia como
matéria-prima, com interferências, ruídos e distorções incorporadas.
O caminho ímpar segue, nele há espaço para o silêncio ruidoso da página em branco,
para a narrativa e a história do fogo, do olhar que se apaga, se imiscui do digital branco
leitoso da tela, da simulação, do sorriso planejado e traído, do infantil, da dimensão
< 19 >
ausente, de pequenos e “imperdoáveis” erros, do perder-se de si mesmo, do encontro
com o presente sem fé.
> Imagens brutas, acima [em cores] e primeiras páginas ímpares ganhando vida.
No trabalho das páginas ímpares buscou-se a realização de imagens criadas em um
tempo o mais breve possível, experimentando, brincando e brigando com os padrões
que exigiam ordem, uma maior elaboração, foi difícil de aceitar essa traição: permitir
trabalhos sem o acabamento, o cuidado que normalmente se exige em um livro. Como
permitir imagens borradas, sujas e descuidadas? Só mesmo traindo, a dor dessa
infidelidade é causada pela consciência de se “poder fazer melhor”, de estranhar-se por
não reagir...
Esse desconforto só encontrou sossego no casamento das páginas, dos tempos, imagens
e nos olhares plurais encontrados lado a lado, caminho par e ímpar próximos.
< 20 >
> Duplas de páginas, o olhar de quem se vê refletido nas páginas, acima desconstruído em camadas,
tons, movimentos e formas, e abaixo capturado pelo programa que faz a editoração, incluindo a
simulação de página no momento em que o livro era produzido, o olhar já passado? Ou projetado?
O olhar do autor ainda será encontrado em outros lugares, olhando para si, livro lendo livro, olhar
que procura, que interroga, que mistura e perde-se, simula, anula-se, apaga-se, expõe-se, chora, diz.
A opção pelo deslocamento de um cesto de lixo, um vaso sanitário, um interruptor, uma
parede, garrafas, luminárias de teto, lixo, papel usado e descartado visualizado em um
suporte onde o papel adquire nobreza, o livro, tem óbvias referências a Duchamp. Em
alguns houve a interferência acentuada de uma mudança de ponto de vista, ou a
inserção de um deslocamento dentro do deslocamento e a ocorrência de diversas
manipulações.
Foram construídas mais de 88 páginas, entre pares e ímpares. A partir desse conjunto foi
definido o número de páginas que o livro teria: oitenta, organizadas em 5 cadernos, cada
um com 16 páginas. O miolo, com o tamanho de 115 x 180 mm [fechado], deverá ser
impresso em apenas uma cor, preto, em papel offset na gramatura 90, deverá ainda ser
costurado e permanecer sem capa. As páginas não serão numeradas, nem deverão ter
< 21 >
margem de segurança para o corte. Normalmente se usa 5 mm de cada lado para evitar
falhas devidas ao corte da gráfica, essa escolha reflete a opção pelo risco, por não
esconder as imperfeições, assumi-las, acaso, caso apareçam.
A capa de um livro confere-lhe o aspecto de produto acabado, nomeia-o e distingue-o
dos outros, é a porta de entrada a envolver e proteger o miolo, este semfé não quer essa
mediação, rejeita essa segurança. A capa que se pretende é a do tempo presente que o
envolve ao ser manuseado, é a poeira dos dias que seguem. A capa dever ser a mão, o
olhar-se, o leitor que o envolve, para fazer dele o que quiser. Percebê-lo tal qual ele se
apresenta, precário, transitório e fugaz como um olhar atirado ao próximo, ainda que
apenas imaginado. Apenas um papel vegetal envolve-o, não o contem, nem limita. Talvez
amplifique a traição ao livro comum, sem autoria identificada, buscando o precário na
impressão em jato de tinta, no papel amassado e fixado com uma fita adesiva onde se lê
o título do livro e o ano de sua impressão.
> semfé: detalhe da obra aberta e ao fundo vários exemplares.
< 22 >
> Páginas duplas antes da impressão e montagem de semfé.
< 23 >
¶ Quinto e último caderno
O que dizer disso tudo? Acabou? O que aprendi? Era para apreender algo? Ou soltar-se
ao sabor do vento e tempo? Fiz arte? Fiz algo significativo? Bom, para esta última
pergunta a resposta é afirmativa, sim, o trabalho de elaborar esta obra, refletir, gerou
um livro no qual as aberturas permitiram um caminho enriquecedor, incluindo os muitos
questionamentos e incongruências encontrados. Aprende-se a aceitar, mesmo que com
certo desconforto, as indefinições próprias do fazer artístico, o risco de expor-se,
incluindo suas limitações, sua produção imprecisa, sua falta de si mesmo, sua fragilidade
e olhar.
O livro de artista produzido foi nomeado após a reunião de suas páginas e a associação
desta ao presente do autor, a “capa” que envolve sua produção não é a de simplesmente
alguém que perdeu sua fé. Nesse momento não há nada de extraordinário, de “Sem Fé”,
há um estranhamento comum de refletir sua condição, de fazê-la presente até em seu
título não escrito e estranho: semfé.
Meus olhares não têm mais importância, estão marcados lado a lado, tempos que se
encontram nesse lugar semfé, talvez aguardando o depósito da crença alheia para
adquirir “graça”, entendida como vida, como via de acesso a algo maior, que espero ser
esse o destino que os olhares dos leitores atinjam. Não quero esperar, o que o olhar de
vocês, que passearam por estas páginas, vê, viu ou verá?
Eu os interrogo para dividir, para lhes causar incômodo, não quero esperar nada, nem
que seus olhares encontrem o meu, que entendam ou retirem algo, maior ou menor, no
que produzi. Mais uma traição, gostaria de poder mais esta e trair-me, não ligar, não
acreditar, não esperar e seguir sem angústia, sem comover-me, sem ser o que sou, ser
outro, traidor e traído, artista (?)
. . .
< 24 >
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Rômulo Nascimento
Especialista em Artes visuais, Senac-AM, 2010; Bacharel em Design pela Universidade Federal do
Amazonas, 2001. Atua como diretor de arte há 10 anos e realiza pesquisa sobre história e artes do
livro, tipografia e design gráfico. Artista visual premiado em duas oportunidades pelo Amazonas Film
Festival pelos curtas Eu trocado e Passarão, autor da obra semfé exposta na 29ª Bienal de São Paulo,
junto com outras publicações de artista, no espaço “Longe daqui, aqui mesmo”.