Construção de Um Teste Objetivo de Personalidade

download Construção de Um Teste Objetivo de Personalidade

of 16

description

Artigo

Transcript of Construção de Um Teste Objetivo de Personalidade

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    1 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Construo de um Teste Objetivo de Personalidade Baseado no Eneagrama de Claudio Naranjo: uma abordagem Fuzzy

    Marco Cristellotti [email protected]

    Carlos Alberto Nunes Cosenza

    [email protected]

    Getlio Marques Martins [email protected]

    Universidade Federal do Rio de Janeiro Programa de Engenharia de Produo

    PEP/COPPE/UFRJ

    Resumo

    Apresentamos neste trabalho uma proposta metodolgica para modelagem de um

    teste objetivo de personalidade baseado no modelo do eneagrama da personalidade

    de Claudio Naranjo. As ferramentas da lgica fuzzy so utilizadas para melhor dar

    conta, na hora da quantificao dos resultados, da variedade, vagueza e

    ambiguidade das expresses lingusticas que precisam ser adotadas dentro de um

    reativo como esse. O contexto onde se insere a modelagem da personalidade de

    Claudio Naranjo e suas principais caractersticas tambm so abordadas. A efetiva

    construo do teste no aqui realizada, tratando-se de uma proposta metodolgica

    que posteriormente permitir a montagem do instrumento.

    Palavras Chave: teoria da personalidade; testes de personalidade; eneagrama da personalidade; lgica fuzzy.

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    2 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Construction of an Objective Personality Test Based on the Enneagram of Claudio Naranjo: a Fuzzy approach

    Abstract We are proposing in this work a methodology for modelling an objective personality

    test, based on model of C. Naranjos Enneagram of personality. Fuzzy logic tools

    are employed too, to cope more appropriately, as far as results computing is

    concerned, with the variety, vagueness and anbiguity of linguistic expressions that

    are to be used in a test like this. C. Naranjo approach to personality as well is briefly

    taken into account, with its main characteristics. The construction of the very test is

    not the aim of the present work, wich is a methodological proposal that eventually in

    the future will allow to build a real personality test.

    keywords: Enneagram of personality, Fuzzy logic.

    Now I'm going to tell you about a scorpion. This scorpion wanted to cross a river, so he asked a frog to carry him. "No," said the frog, "no thank you. If I let you on my back you may sting me, and the sting of the scorpion is death." "Now where," asked the scorpion, "is the logic of that?" For scorpions would try to be logical. "If I sting you, you will die, I will drown." So the frog was convinced to allow the scorpion on his back. But, just in the middle of the river, he felt a terrible pain and realized that, after all, the scorpion had stung him. "Logic!" cried the dying frog as he started under, taking the scorpion down with him. "There is no logic in this!" "I know," said the scorpion, "but I can't help it. It's my character.

    Mr. Arkadin Confidential Report - Orson Welles

    Premissa gnoseolgica

    Adotamos em mbito acadmico a abordagem sincretista de Claudio Naranjo,

    que funde conceitos e at smbolos esotricos mutuados da tradio mstico-

    religiosa com outros conceitos mais tipicamente pertinentes psicologia clnica,

    psicopatologia e psiquiatria modernas. Estas cincias, como a cincia de maneira

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    3 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    geral, tendem s vezes a se legitimar atravs de uma cesura forte com seus

    passados. A cincia, de forma geral, com a tradio mgica e alqumica, a psicologia

    e a psiquiatria com a teologia e a medicina antiga. Com isso a cincia paga o preo

    de se entregar demasiadamente ao imediatismo das aplicaes tecnolgicas; a

    psicologia de se encontrar sem uma tradio, precisando inventar seus conceitos em

    um presente sem tempo. Por no assumir essa postura a abordagem de Claudio

    Naranjo, dentro das modelagens da personalidade, se torna um instrumento de fato

    considerado por muitos profissionais da rea. Ela no se furta ao legado histrico

    das cincias humanas assim como necessidade de se confrontar com o mbito da

    verdade, mais tipicamente teolgico de que cientfico. No contexto cientfico s a

    matemtica clssica, eliminando totalmente o problema da representao, atinge o

    conhecimento autntico, mas abre mo do mbito da verdade (W. Benjamin, 1925):

    uma tentativa de atingir o conhecimento autntico se livrando do problema da

    representao. O espao que a Lgica Fuzzy est conquistando no mbito cientfico,

    as custas da matemtica clssica, se deve justamente a sua disponibilidade para se

    confrontar com o problema da representao da realidade e, portanto, com o legado

    das lnguas histricas e consequentemente da verdade, entendida como maior

    aproximao realidade material de suas aplicaes. Levando em conta as

    caractersticas recprocas, consideramos vlida a aplicao de conceitos

    matemticos fuzzy teoria da personalidade proposta por Naranjo.

    Introduo

    Temos no contexto da psicologia clnica uma teoria hbrida da personalidade,

    que se fundamenta no smbolo esotrico do eneagrama, de origem supostamente

    centro asitica, introduzido no ocidente pela escola da Quarta Via de G. Gurdjeff e

    aplicado sucessivamente ao campo da psicopatologia clnica por O. Ichazo e

    finalmente por C. Naranjo. A teoria do eneagrama da personalidade, na poca de

    sua divulgao inicial feita pelos alunos de C. Naranjo, suscitou bastante

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    4 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    desconfiana no establishment da psicologia clnica, devido a sua forte componente

    esotrica e sincretista. Em seguida sua consistncia acabou conquistando interesse

    at nos mbitos psiquitricos. O fato de ela ter se tornado tambm um modismo nos

    ambientes mais variados no tira seu brilho, j que este foi o destino de muitas boas

    teorias, de serem banalizadas em seus ismos.

    A modelagem do eneagrama da personalidade estruturalmente e

    explicitamente hbrida, abrindo o acesso a conceitos e reflexes que pertencem a

    domnios variados: teologia, filosofia moral, psicologia clnica, psiquiatria,

    psicanlise, anlise transacional, homeopatia, esoterismo, religies comparadas.

    Esta abordagem pode ser, portanto, e de fato foi, questionada por quem queria

    manter o campo da Teoria e Testes da Personalidade dentro dos limites da

    psicologia cientfica, mas o interesse que desperta e a aceitao que ganhou nos

    mbitos especialsticos diz muito a respeito da possibilidade de constituir-se a

    psicologia, mesmo que s em sua vertente clnica, em uma cincia independente,

    com seu corpus de conhecimentos compartilhados e uma metodologia unificada:

    coisa que de fato nunca foi.

    verdade que a mistura de conceitos heterogneos rdua, muitas vezes

    fonte de confuses levianas ou de aspiraes a teorias totalizantes: por este motivo

    ser cuidado da parte terica deste paper verificar a fundamentao e

    eventualmente os aspectos problemticos da sistematizao de C. Naranjo luz da

    tradio grega e crist relativamente s paixes, vcios, pecados e virtudes. A

    hiptese de fundo a ser verificada se o sistema dinmico do eneagrama das

    paixes uma vlida e fundamentada representao do psiquismo humano e,

    consequentemente, justifica a segunda parte deste paper, constituda por uma

    proposta formal para construo de um teste de personalidade objetivo baseado no

    prprio eneagrama dos carteres. Relativamente parte terica relevante avaliar,

    luz de textos de autores gregos e cristos principalmente, as seguintes questes:

    1. Se a ordenao em nove paixes adotada pelo eneagrama da

    personalidade valida e coerente com a longa tradio de que lana mo:

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    5 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    uma tradio onde houve variantes e discrepncia na ordenao em 7 ou 8

    paixes/pecados capitais. Aqui, avaliaremos necessariamente as relaes

    dinmicas, hierrquicas e generativas entre as paixes.

    2. Qual a antropologia que fundamenta esta ordenao e hierarquia de

    paixes e seus eventuais aspectos problemticos.

    3. Se a extenso do modelo dinmico circumplexo do eneagrama ao DSM III

    vivel, quer dizer, se h correlao entre as paixes predominantes e as

    sndromes psicopatolgicas e transtornos mentais listados pela APA

    (American Psichiatryc Association), como proposto por C. Naranjo.

    No abordaremos neste trabalho todas essas questes, nos limitando a

    algumas reflexes sintticas e apresentao da modelagem do teste de

    personalidade.

    O smbolo do eneagrama, de origem sufi mas com claras referncias

    tradio crist e egpcia tambm (a trindade, o triangulo, o nmero 7 e as oitavas

    musicais), tem sido adaptado por O. Ichazo e sucessivamente por C. Naranjo aos

    modernos conceitos da psicopatologia clnica, mantendo, porm, todas suas

    ligaes com a tradio protocrist e medieval, da teologia e da filosofia grega:

    principalmente na assuno dos vcios capitais como eixos de cada um dos nove

    tipos neurticos (7 + 2 variantes).

    De um ponto de vista da psicopatologia neurtica, a principal guinada terica

    desta abordagem da personalidade sustentar que o ncleo da neurose de tipo

    caraterial, em outras palavras que uma teoria do carter implica uma teoria da

    neurose. Postura essa que contrasta com as classificaes psicopatolgicas

    tradicionais tanto da psiquiatria como psicanalticas, que consideram as disfunes

    neurticas, de um lado, como conflitos nucleares dentro do indivduo

    (pulso/defesa), e do outro uma neurose de carter (caraterial) que envolveria a

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    6 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    personalidade como um todo: uma analogia com o que vulgarmente chamado de

    mau carter.

    Em linha com as intuies de vrios clnicos com W. Reich, K. Horney, D.

    Shapiro, R. Fairbairn e H. Guntrip, C. Naranjo faz a conexo entre carter e neurose,

    considerando sempre as neuroses como alteraes ou disfunes da personalidade

    como um todo, assumindo o conceito de estilos neurticos.

    Adotaremos na proposta deste teste de personalidade essa premissa: que os

    desdobramentos do carter ou personalidade coincidem com os dos estilos

    neurticos. Isto, como veremos, na definio da referncia de normalidade, implica

    que no h soluo de continuidade entre neurose e normalidade, mas que esta ,

    em ltima anlise, uma capacidade do indivduo de se movimentar com maior

    plasticidade e harmonia, com maior equilbrio e menores fixaes, dentro da

    variedade dos 9 estilos neurticos, como de fato das virtudes que com eles

    contracenam de forma dialtica, entendidas como vetores de sade ou

    ortopsiquismo.

    Na parte de modelagem formal do teste de personalidade ser apresentada

    uma proposta apoiada nos conceitos da Lgica Fuzzy e da Teoria dos Conjuntos

    Fuzzy, que permitem manipular computacionalmente e apropriadamente conceitos

    difusos baseados em afirmaes lingusticas vagas e/ou ambguas, eventualmente

    imprecisas, como o caso de um teste de personalidade, por mais objetivo que este

    se proponha de ser.

    Proposta de modelagem do teste

    A hiptese central do trabalho que possvel (e til) estruturar um teste

    objetivo que permita determinar heuristicamente a posio do sujeito dentro do

    espao e das relaes do eneagrama da personalidade. Esse teste objetivo (ou

    instrumento) faz essa determinao, utilizando sentenas ou frases, envolvendo

    motivaes, cognies, comportamentos, hbitos e vivncias que, avaliados pelo

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    7 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    sujeito, permitem atribuir-lhe um grau de pertinncia dentro de cada uma das 9

    tipologias propostas por C. Naranjo. Chega-se, dessa forma, a um mapa da

    personalidade, representado graficamente por um circulo dividido em nove setores

    circulares regulares, nos quais a rea sombreada corresponde graficamente

    agregao dos graus de pertinncia relativos intensidade dos traos de carter das

    tipologias mencionadas. Essa intensidade expressa por graus de pertinncia entre

    0 (mnimo) e 1 (mximo).

    Na construo do teste, os fatores/caractersticas que conformam os traos

    de carter so expressos em Sentenas/Frases reveladoras de comportamentos,

    vivncias, motivaes, sentimentos, atitudes cognitivas, manifestaes psico-fsicas

    etc., em relao s quais o sujeito deve atribuir um grau de concordncia,

    identificao ou frequncia, utilizando, para isso, escalas formadas respectivamente

    pelas seguintes expresses lingusticas:

    A. Concordo totalmente/ Me identifico totalmente/ Muito frequentemente

    B. Concordo / Me identifico / Frequentemente

    C. Discordo / No me identifico / Raramente

    D. Discordo totalmente / No tem nada a ver comigo/ Nunca

    Essas expresses lingusticas so representadas por quatro nmeros fuzzy

    triangulares (conjuntos fuzzy), que permitem capturar a vagueza semntica existente

    nessas expresses, isto , falta de nitidez entre as fronteiras dos conjuntos

    (expresses lingusticas). A figura 1, a seguir, mostra a representao geomtrica

    desses nmeros fuzzy triangulares.

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    8 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Figura 1

    Como se pode observar, a nossa modelagem se d dentro de um espao

    matemtico normalizado de duas dimenses, em que as ordenadas variam de 0 a 1

    e representam os graus de pertinncia dos elementos dos conjuntos fuzzy, enquanto

    as abcissas, tambm variando de 0 a 1, representam os conjuntos de nmeros que

    servem de suporte s expresses lingusticas.

    A escolha desses suportes procura apropriar da forma mais coerente e

    precisa possvel as caractersticas de vagueza e ambiguidade das expresses

    lingusticas. Aqui convm relembrar que tais expresses j constituem uma sntese

    mental feita pelos respondentes s sentenas do teste. Por essa representao,

    conforme mostrado na legenda da figura 1, o nmero fuzzy triangular

    correspondente expresso Concordo (0,25; 0,75; 1).

    Um exemplo de afirmao que teria pertinncia 1,0 no tipo 1

    Ira/Perfeccionismo (obsessivo), em caso de concordncia plena, a seguinte:

    0,25 0,5 0,75 10

    1

    A(x)

    x

    Legenda

    A.concordototalmente/meidentificototalmente/muitofrequentemente(0,75,1,1)

    C.discordo/nomeidentifico/raramente(0,0,25,0,75)

    D.discordototalmente/notemnadaavercomigo/(0,0,0,25)

    B.concordo/meidentifico/frequentemente(0,25,0,75,1)

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    9 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Trabalho duro em minhas tarefas mas nunca saem do jeito que eu queria. Me d

    vontade de destrui-las.

    A resposta No tem nada a ver comigo daria baixa pertinncia (0; 0; 0,25) ao

    tipo 1.

    Um mnimo de 90 Sentenas/Frases reveladoras devero ser construdas, 10

    para cada carter do eneagrama: cada uma permitir determinar o grau de

    pertinncia do sujeito ao tipo correspondente com base no grau de

    Concordncia/Identificao/Frequncia com aquela afirmao. As afirmaes

    podero ser distribuidas como na tabela 1, de forma a no ser sequencias

    relativamente a cada tipo mas misturadas.

    Tabela 1

    TIPO1 TIPO2 TIPO3 TIPO4 TIPO5 TIPO6 TIPO7 TIPO8 TIPO91 2 3 4 5 6 7 8 910 11 12 13 14 15 16 17 1819 20 21 22 23 24 25 26 2728 29 30 31 32 33 34 35 3637 38 39 40 41 42 43 44 4546 47 48 49 50 51 52 53 5455 56 57 58 59 60 61 62 6364 65 66 67 68 69 70 71 7273 74 75 76 77 78 79 80 8182 83 84 85 86 87 88 89 90

    AFIRMAES

    Asafirmaesdecadacolunasoreveladorasdaquelatipologia

    A natureza das afirmaes fundamental para validade do teste e para sua

    insero em um contexto cultural especfico como o Brasil ou outros paises. Elas

    podero ser elaboradas sucessivamentes por um pool de experts (psiclogos e

    psicoteraputas) familiarizados com o uso do eneagrama da personalidade.

    Computao dos resultados do teste

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    10 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Com base no posicionamento do sujeito em relao a cada sentena,

    expressado de acordo com as opes ao pargrafo precedente, sero obtidos para

    cada tipo 10 graus de pertinncia ( X nmeros fuzzy triangulares). Dessas 10

    pertinncias ser tirada uma mdia que, successivamente defuzzyficada, nos dar o

    grau de pertinencia do sujeito em cada tipo.

    Esses 9 graus de pertinncia, alm de nos dar uma valorao numrica em

    relao a qual tipo o sujeito pertence (1=pertinncia plena; 0=nenhuma pertinncia),

    sero elaborados de trs formas:

    1. Sero projetados graficamente numa figura circular em setores. O

    cumprimento do mdulo de 0 a 1 determina o preenchimento dos setores, nos

    dando uma visualizao sintica das 9 pertinncias.

    2. Uma matriz de cruzamento entre todas as pertinncias ser montada, com

    a finalidade de medir a distncia de cada pertinncias do sujeito a um tipo

    com as dos outros 8. Em particular ser extraida da matriz uma representao

    grfica da distncia entre o tipo/s dominante e os outros, de acordo com uma

    ordem circular horria ao longo da circumferncia, do tipo 1 at o 9. Esta

    representao levar em conta, no cumprimento da perna de ligao entre os

    9 tipos, a distncia obtida na matriz de cruzamento. Essa ltima elaborao

    tem a finalidade de oferecer uma possvel constellao caraterial para cada

    indivduo, baseada nas variaes de pertinncia ao longo do eneagrama,

    complementando com isso, com ulteriores detalhes, o quadro apresentado na

    elaborao grfica do ponto 1 acima.

    Um teste de fato oferece uma fotografia da personalidade, onde os

    movimentos temporais so de alguma forma congelados: com essa medio

    tentamos recuperar o movimento temporal que na realidade constitue a

    vivncia do sujeito, inferindo a movimentao metadinmica dele com base

    nas diferenas de pertinncia (dX). A regra geral adotada nesta medio a

    seguinte:

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    11 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    maior dX (+dX) = menor movimentao metadinmica

    menor dX (-dX) = maior movimentao metadinmica

    3. O somatrio na ltima coluna, que a mdia das 9 pertinncias do sujeito

    aos 9 tipos, oportunamente defuzzyficado, nos dar um ndice genrico de

    neuroticismo, de um mnimo de 0 at um mximo de 1.

    Exemplo ilustrativo: respostas de um sujeito hipottico A

    No exemplo de aplicao abaixo o sujeito respondeu:

    1 Afirmao: A. Me identifico X (0,25; 0,75; 1

    2 Afirmao: A. Me identifico X (0,25; 0,75; 1)Etc.

    SUJEITOA

    1 0,25 0,75 1 2 0,25 0,75 1 3 0 0 0,25 4 0 0 0,25 5 0 0 0,25 6 0 0 0,25 7 0 0 0,25 8 0,25 0,75 1 9 0,25 0,75 110 0,25 0,75 1 11 0 0,25 0,75 12 0 0 0,25 13 0 0 0,25 14 0 0 0,25 15 0,75 1 1 16 0 0,25 0,75 17 0 0,25 0,75 18 0,25 0,75 119 0,25 0,75 1 20 0,75 1 1 21 0 0,25 0,75 22 0,25 0,75 1 23 0 0 0,25 24 0,25 0,75 1 25 0,75 1 1 26 0 0 0,25 27 0,25 0,75 128 0,75 1 1 29 0,75 1 1 30 0 0,25 0,75 31 0 0,25 0,75 32 0 0,25 0,75 33 0 0 0,25 34 0 0,25 0,75 35 0,75 1 1 36 0,75 1 137 0,75 1 1 38 0,25 0,75 1 39 0 0,25 0,75 40 0 0 0,25 41 0 0 0,25 42 0 0 0,25 43 0,75 1 1 44 0,25 0,75 1 45 0,75 1 146 0,75 1 1 47 0,75 1 1 48 0 0 0,25 49 0,25 0,75 1 50 0 0 0,25 51 0,25 0,75 1 52 0 0 0,25 53 0 0 0,25 54 0,75 1 155 0,75 1 1 56 0,25 0,75 1 57 0 0,25 0,75 58 0 0,25 0,75 59 0 0 0,25 60 0 0,25 0,75 61 0 0 0,25 62 0 0,25 0,75 63 0,25 0,75 164 0,25 0,75 1 65 0,25 0,75 1 66 0 0,25 0,75 67 0 0,25 0,75 68 0 0,25 0,75 69 0 0,25 0,75 70 0 0 0,25 71 0 0,25 0,75 72 0,25 0,75 173 0,75 1 1 74 0,25 0,75 1 75 0 0 0,25 76 0 0 0,25 77 0 0 0,25 78 0 0 0,25 79 0 0,25 0,75 80 0 0 0,25 81 0,25 0,75 182 0 0,25 0,75 83 0,25 0,75 1 84 0,25 0,75 1 85 0,25 0,75 1 86 0 0 0,25 87 0,25 0,75 1 88 0 0 0,25 89 0 0 0,25 90 0,25 0,75 1

    /10 0,48 0,83 0,98 0,38 0,78 0,98 0,03 0,20 0,58 0,08 0,30 0,63 0,00 0,05 0,35 0,15 0,38 0,65 0,15 0,28 0,55 0,13 0,33 0,63 0,40 0,83 1,00 0,20 0,44 0,700,83 0,78 0,20 0,30 0,05 0,38 0,28 0,33 0,83 0,44

    TIPO1 TIPO2 TIPO3 TIPO4 TIPO5 TIPO6 TIPO7 TIPO8 TIPO9 N

    3 Medio = Clculo das distncias entre a pertinncia ao tipo/s predominante a es dos outros, em ordem circular

    AFIRMAES

    /GRAUSPERTINN

    CIA

    /10Defuzz.

    1 Medio = /10 e /10 Defuzz. = grau de pertinncia do sujeito A em cada tipo caraterial em numero fuzzy e defuzzificado2 Medio = N = indice geral de neuroticismo de 0 a 1 em nmero fuzzy e defuzzificado

    Uma vez defuzzificadas as pertinncias, o sujeito ter:

    1. Medio A (x) = { (0,83),(0,78),(0,20),(0,30),(0,05),(0,38),(0,28),(0,33),(0,83) }

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    12 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Apresenta um grau de pertinncia elevado nos tipos 1, 2 e 9 com polaridade pouco

    marcada com o tipo 6 (A (x) 0,38), representvel tambm graficamente:

    Esta representao grfica pode auxiliar o utilizador enquanto visualiza um espao

    neurtico onde o sujeito se movimento, mantendo-se o conceito principal de uma

    polaridade dominante, indicada pelo maior grau de pertinncia, e calculada

    vectorialmente na 3a medio. Avaliaes qualitativas cabero naturalmente ao

    examinador uma vez aplicado o teste.

    2. Cmputo das distncias (dX) via matriz de cruzamento e representao grfica

    Neste sujeito o maior grau de pertinncia occorre nos tipos 1 e 9, ambos com X =

    0,83.

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    13 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Com base nas distncias entre pertinncias (A (x)), neste sujeito predomina uma

    movimentao maior dentro das caractersticas dos tipos predominantes 1 e 9 e o

    tipo 2. A fora gravitacional deste sujeito se coloca nessa rbita (1-9 e 2), sendo a

    atrao/movimentao dos outros tipos de menor intensidade. Confirma-se a

    informao dada visualmente para a medio 1.

    3. Medio. ndice genrico de neuroticismo: N = 0,44

    Definio de normalidade

    A hiptese de partida considera um termo de referncia Normal caracterizado

    pela baixa pertinncia a grupos neurticos, mas no chegando a considerar a

    normalidade como relativa a um grau geral de neurose = 0. De acordo com o modelo

    de C. Naranjo, mutuado da tradio do eneagrama, mas podendo tambm ser

    considerada a teoria aristotlica do justo meio, relativa s virtudes, se considera a

    normalidade como uma capacidade de se movimentar dentro dos estilos de

    personalidade de acordo com as necessidades reais e contingentes da vida, que de

    fato podem ser tambm estiloso neurticos, com menor rigidez e fixao, o que

    tambm coincide com uma pertinncia baixa em cada um deles. A maior

    movimentao entre os estilos, indicada por uma baixa distncia (dX), tambm

    pode indicar uma maior flexibilidade, sobretudo se acouplada a uma pertinncia

    mdio-baixa aos tipos. Todavia, como relevamos no cap. 6.1, os movimentos devem

    ser considerados no conjunto da matriz de distncias, inferindo de uma agregao

    das 4 representaes/medies uma concluso final sobre o sujeito.

    Esta concepo finca suas raizes na tradio da medicina grega antiga.

    Alcmeone de Crotone, mdico pitagrico que viveu no V Sec. A.C. no sul da Itlia,

    declarava que a paridade de direitos (isonomia) entre as qualidades (dunmeis),

    hmido, seco, frio, quente, amargo, doce e as outras, mantm a sade, mas que a

    predominncia de uma delas (monarquia) produz a enfermidade. Ele condensou a

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    14 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    formula da sade como: Uma bem equilibrada mistura das qualidades (R. Klibansky,

    et al. 1983).

    Adotamos este conceito nesse trabalho relativamente definio de

    normalidade, equilbrio, em suma o referente de comparao do grau de neurose

    que a modelagem do teste de personalidade aqui apresentada pretende manter. Por

    estar adotando o modelo do eneagrama da personalidade de C. Naranjo, que de fato

    define os carteres como estilos neurticos, precisamos explicitar este referente de

    normalidade, que computado na parte quantitativa do teste com base neste

    conceito de baixa pertinncia aos 9 estilos neurticos e de uma distribuio quanto

    mais homognea das diferentes caractersticas no indivduo.

    Aplicaes e validao do teste

    Uma vez construido o teste poder ser validado por baterias de aplicaes

    paralelamente a avaliaes intuitivas de experts. A significatividade estatstica e

    desvio padro das discrepncias/correspondncias sero relevantes para validar o

    teste.

    Concluso

    Este trabalho se constitui como proposta metodologica preliminar

    relativamente a implementao de um teste objetivo de personalidade: a parte

    deixada em suspenso a redao das sentenas/afirmaes que nortearo a

    avaliao. Alm disso ela deixa em aberto em particular duas vias para demais

    pesquisas e estudos. A primeira, relativa ao capitulo 4, poder extender as

    observaes relativas ordenao dos vcios/paixes, tanto em relao tradio

    como antropologia que sustenta essa viso. A segunda diz respeito a ulteriores

    medies que podem ser concebidas considerando a complexidade dinmica e a

    relativa plasticidade dos movimentos de um sujeito dentro do eneagrama. Todas

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    15 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    estas meta-dinmicas podem sugerir diferentes representaes e medies do

    carter. Em particular pretendemos apresentar em futuro trabalho uma possibilidade

    de medir o movimento do sujeito dentro dos carteres neurticos de acordo com

    uma ou mais das dinmicas possveis dentro do eneagrama, aproveitando as

    possveis inferncias que a matriz de distncia entre pertinncias oferece.

    Referncias bibliogrficas

    Benjamin, W., Il dramma barocco tedesco, Ed.Einaudi, Torino, 2001

    Naranjo,C., Carattere e nevrosi, Ed. Ubaldini, Roma, 1996

    Colli,G., Dopo Nietzsche, Ed. Adelphi, Milano, 1974

    Naranjo,C., Paixes. O eneagrama da sociedade ed. Esfera, So Paulo, 2004.

    Klibansky,R., et al. Saturno e la melanconia, Ed. Einaudi,Torino 1983

    dAquino,T., Summa Teologica, Nuova Edizione in lingua italiana a cura di P.Tito S.

    Centi e P.Angelo Z. Belloni, Firenze 2009.

    Pontico,E., Antirrhetikos, Gli otto spiriti malvagi, Roma 1990

  • Volume 3 - Janeiro/Dezembro de 2013

    16 Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicao Laboratrio de Pesquisa em Tecnologias da Informao e da Comunicao LATEC/UFRJ

    Sobre os autores

    Marco Cristellotti

    Graduado em Psicologia junto Universit de Pdua (Itlia).

    Psiclogo inscrito no CRP do Rio de Janeiro n.33126. Mestre

    em Engenharia de Produo junto UFRJ/Coppe/PEP.

    Doutorando em Engenharia de Produo junto

    UFRJ/Coppe/PEP. E-Mail: [email protected]

    Carlos Alberto Nunes Cosenza

    Professor Emrito e Titular da UFRJ/COPPE. D.Sc. em

    Engenharia de Produo pela UFSC (1975). Docente Livre

    pela UFSC (1975). Ps-Doutorado pela Universidade de

    Cambridge UK, 1981 (pesquisador). Academic Visitor,

    Universidade de Oxford, UK 2005. Academic Visitor,

    Universidade de Cambridge, UK, 2009.

    Getlio Marques Martins

    Graduado em Engenharia Eltrica pela Universidade Federal

    do Rio de Janeiro (1978). Mestrado (1993) e Doutorado

    (2008) em Engenharia de Transportes, na UFRJ. Consultor

    em Normas e Padres Internacionais de Certificao

    Aeroporturia. Especialista em Lgica Fuzzy.

    Revista Desenvolvimento Pessoal. ISSN: 2237-096X. Data de submisso: 11/03/2013; aceito para publicao em: 12/05/2013.