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2264 CONSTRUINDO POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE FÍSICA: A EXPERIÊNCIA DIDÁTICA DO “CINE FÍSICA” Rachel Deboni PAPA, UNESP i Eugenio Maria de França RAMOS, UNESP ii João Eduardo Fernandes RAMOS, UNISO e Instituto Federal - SP Eixo 01: Formação inicial de professores da educação básica CAPES [email protected] 1. Introdução Filmes cinematográficos e vídeos encontrados na internet, em páginas como as do YouTube, são objetos culturais que estão cada vez mais presentes no nosso dia-a- dia. Tais produções audiovisuais, pela sua inserção na sociedade moderna, têm o poder de ditar regras, tendências e modas para a sociedade. Morán salienta algumas de suas características que considera relevantes, ao mencionar que O vídeo é sensorial, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não- separadas. Daí sua força. Somos atingidos por todos os sentimentos e de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras realidades (no imaginário), em outros tempos e espaço. (MORÁN, 1995, p.28) Mas, além destas características, tais obras podem difundir a um grande público assuntos incomuns, é o caso de filmes como De volta para o futuro (Back to the Future, ZEMECKIS, 1985), onde a viagem no tempo e suas possíveis consequências são destacadas, um tema de ficção científica que, para a época, era pouco acessível ao grande público. Seja pelas características mencionadas por Moran e pela temática, obras como essa acabam por proporcionar materiais potencialmente pedagógicos, embora não seja seu objetivo principal, pois ao tratar temas insólitos e de relevância humana, permitem questionamentos e reflexões que podem ser úteis ao Ensino de Física. Morán (1995, p.27) descreve que a utilização de filmes “aproxima a sala de aula do cotidiano, das linguagens de aprendizagem e comunicação da sociedade urbana, e também introduz novas questões no processo educacional”. E, como salienta Piassi, (2013, p. 22) “os temas do mundo têm de ser trazidos para a sala de aula, têm de ser debatidos e problematizados, e isso só se faz através de elementos culturais que os alunos trazem para o contexto escolar”, tal como observamos no caso de filmes. Em função do barateamento de equipamentos, tanto de registro de imagens como

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CONSTRUINDO POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE FÍSICA: A

EXPERIÊNCIA DIDÁTICA DO “CINE FÍSICA”

Rachel Deboni PAPA, UNESP i

Eugenio Maria de França RAMOS, UNESP ii

João Eduardo Fernandes RAMOS, UNISO e Instituto Federal - SPEixo 01: Formação inicial de professores da educação básica

[email protected]

1. Introdução

Filmes cinematográficos e vídeos encontrados na internet, em páginas como as

do YouTube, são objetos culturais que estão cada vez mais presentes no nosso dia-a-

dia. Tais produções audiovisuais, pela sua inserção na sociedade moderna, têm o poder

de ditar regras, tendências e modas para a sociedade.

Morán salienta algumas de suas características que considera relevantes, ao

mencionar que

O vídeo é sensorial, linguagem falada, linguagem musical e escrita.Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não-separadas. Daí sua força. Somos atingidos por todos os sentimentos ede todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta emoutras realidades (no imaginário), em outros tempos e espaço. (MORÁN,1995, p.28)

Mas, além destas características, tais obras podem difundir a um grande público

assuntos incomuns, é o caso de filmes como De volta para o futuro (Back to the Future,

ZEMECKIS, 1985), onde a viagem no tempo e suas possíveis consequências são

destacadas, um tema de ficção científica que, para a época, era pouco acessível ao

grande público.

Seja pelas características mencionadas por Moran e pela temática, obras como

essa acabam por proporcionar materiais potencialmente pedagógicos, embora não seja

seu objetivo principal, pois ao tratar temas insólitos e de relevância humana, permitem

questionamentos e reflexões que podem ser úteis ao Ensino de Física.

Morán (1995, p.27) descreve que a utilização de filmes “aproxima a sala de aula

do cotidiano, das linguagens de aprendizagem e comunicação da sociedade urbana, e

também introduz novas questões no processo educacional”. E, como salienta Piassi,

(2013, p. 22) “os temas do mundo têm de ser trazidos para a sala de aula, têm de ser

debatidos e problematizados, e isso só se faz através de elementos culturais que os

alunos trazem para o contexto escolar”, tal como observamos no caso de filmes.

Em função do barateamento de equipamentos, tanto de registro de imagens como

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de reprodução, da popularização e da expansão da rede mundial de computadores (que

ampliam o acesso e a disponibilidade de conteúdos digitais), tanto filmes

cinematográficos como produções independentes difundidas na internet têm se tornado

cada vez mais recursos didáticos, acessíveis para ilustrar e complementar atividades de

ensino.

Neste sentido, características ficcionais ou reais das filmagens, uso de efeitos

especiais e ludicidade da comunicação audiovisual e até mesmo erros do ponto de vista

físicos, permitem a nosso ver oferecer materiais de ensino diferenciados, particularmente

para o ensino de Física.

Em um primeiro momento pode soar estranho fazer qualquer ligação entre obras

cinematográficas com o ensino de Física, pois, ao pensarmos em Física,

automaticamente pensamos nos livros didáticos da Educação Básica, fórmulas e uma

infinidade de contas e listas de exercícios. De fato, quando nos deparamos com

atividades escolares em ciências exatas dificilmente se é apresentado um filme comercial

ou até mesmo de caráter científico dentro da sala de aula, pois, embora acessível,

simplesmente não é um recurso usual. Mesmo quando estes são sugeridos em livros

didáticos, raramente são de fato levados para o ambiente escolar.

Muitas escolas, apesar de ter a estrutura necessária para trabalhar com filmes em

sala de aula, ainda encaram como uma atividade que não é propriamente didática, ou

seja, muitas vezes a utilização de obras cinematográficas é encarada como uma coisa

ruim dentro da sala, uma forma de “enrolar” e não de ensinar.

2. Física e ficção científica

Neste trabalho realizamos um estudo exploratório com obras audiovisuais e

atividades educacionais para o Ensino de Física, utilizando obras que fazem parte do

gênero de ficção científica. Grande parte das obras desse gênero acabam usando

conceitos e ideias científicas como pano de fundo, como apontado por Piassi

A ficção científica tem sua própria maneira de falar sobre ciência (...). Elaé didática, porque se propõe a veicular ideias, mas não no sentido deexplicar o que é a ciência ou ensinar conceitos científicos, embora issopossa ocorrer ocasionalmente. (PIASSI, 2013, p.12)

Nossa intenção foi a de nos apropriarmos didaticamente das obras

cinematográficas de ficção científica e fantasia, estudando como elas poderiam ser

utilizadas em atividades voltadas para o ensino, tendo a consciência inclusive de que,

nos filmes comerciais, o discurso original da obra não foi pensado para se tornar uma

atividade de ensino diretamente. Procuramos explorar o que Piassi discute, ou seja,

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os possíveis mecanismos que a escola pode adotar para lidar com o fatode que hoje, não apenas o principal foco de interesse, mas também aprincipal fonte de informação para o jovem se situa fora de seus limites.(PIASSI, 2013, p.14)

Inicialmente realizamos uma pesquisa videográfica, procurando longa metragens

comerciais nos quais tópicos de Ensino de Física no nível de Educação Básica fizessem

parte das histórias.

Nesta fase foram selecionadas três obras cinematográficas: O Aprendiz de

Feiticeiro (The Sorcerer’s Apprentice, 2010), O Grande Truque (The Prestige, 2006) e

Cidade das Sombras (City of Ember, 2008). Com elas consideramos a possibilidade de

aprofundar temas de Eletromagnetismo, tais como a bobina de Tesla e a gaiola de

Faraday, analisando o fenômeno da blindagem eletrostática, o fato histórico da guerra

das correntes elétricas, protagonizado por Nikola Testa e Thomas Edison, os diferentes

tipos de produção de energia elétrica, entre outros.

Como optamos por longa metragens (filmes com mais de 50 minutos de duração)

naturalmente consideramos uma estratégia com um trabalho extraclasse, considerando a

participação voluntária dos estudantes. Dessa forma, constituiu-se o projeto “Cine Física”,

desenvolvido em uma escola pública na cidade de Rio Claro – São Paulo.

Após a seleção dos filmes, para sistematizar a análise dos filmes foi desenvolvida

uma forma de análise que chamamos de decupagem didática. A decupagem é uma forma

de registro usada na produção de obras audiovisuais, como descrita por Pereira e Prado

Tem uma escrita técnica que começa pelo plano, movimento de lente oucâmera, descrição da cena, descrição do áudio: off e sonoras. É oplanejamento da filmagem, a divisão das cenas em planos e a previsãode como estes planos vão se ligar uns aos outros através de cortes(PEREIRA; PRADO, 2011, p.8).

Em nosso caso não estávamos interessados em utilizar a decupagem como

técnica de produção, mas de análise. Ou seja, analisamos os filmes registrando em uma

tabela as cenas de interesse que apresentassem fenômenos, ações, sons, falas etc.,

indicando conceitos que poderiam ser trabalhados referentes aos filmes selecionados

indicando onde ocorre alguma imagem ou falas envolvendo conceitos físicos. A título de

exemplo, no quadro 1 há uma parte da decupagem do filme O Grande Truque. A coluna à

esquerda representa o tempo da cena no filme, ao centro uma breve descrição da cena e

à direita os conteúdos científicos presentes.

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Feita a decupagem dos filmes, realizamos um estudo mais detalhado dos

conceitos presentes e da história por trás do seu desenvolvimento. Um exemplo da Física

envolvida é indicada na imagem (figura 1) do filme O aprendiz de Feiticeiro, onde alguns

dos atores principais, Dave Sutter (interpretado por Jay Baruchel) e Becky Bames

(interpretada por Teresa Palmer), estão dentro de uma gaiola de Faraday atingida por

diversos raios produzidos pela bobina de Tesla e nada acontece com eles. Na cena,

inclusive, a ciência acaba sendo utilizada como uma maneira do Dave se aproximar da

Becky. Há uma quebra, pois, Becky acaba se passando por uma leiga que não conhece a

ciência e se surpreende com o fato de não levar choque.

Figura 1Imagem retirada do filme “O Aprendiz de Feiticeiro” envolvendo conceitos físicos presentes

quando se observam descargas elétricas no ar produzidas por geradores, na qual a bobina deTesla e e uma gaiola de Faraday são apresentadas.

Quadro 1Amostra de trecho do processo de decupagem didática

de um dos filmes selecionados para nosso trabalho

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A bobina foi desenvolvida por Nikola Tesla (1856 – 1943), um físico croata e seu

funcionamento é basicamente o de um transformador, onde se produz tensões altíssimas

sob altas freqüências. Foi em Colorado Spring que ele produziu, utilizando uma bobina de

12 milhões de volts descargas elétricas com 38 metros de extensão.

A temática da bobina de Tesla também se faz presente no filme O Grande Truque.

Neste, o equipamento desenvolvido pelo físico ganha a possibilidade ficcional de fazer

mágicas. Abaixo podemos ver Nikola Tesla (estrelado por David Bowie) em seu

laboratório com as bobinas funcionando.

Figura 2Imagem retirada do filme “O Grande Truque” onde Tesla atravessa os raios produzidos pelas

bobinas

Analogamente há um registro de Tesla trabalhando com bobinas em seu

laboratório. Na imagem (figura 3), retirada do seu livro (REF), podemos ver Tesla no

canto esquerdo tranquilamente sentado enquanto as bobinas disparam seus raios.

Figura 3

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Imagem retirada do livro “Minhas invenções: A autobiografia de Nikola Tesla”, onde Tesla gera raios artificiais de suas bobinas em seu laboratório, semelhante a cenas

mostradas nas figuras 1 e 2

Situação semelhante aparece representada na figura 3. Na figura 4 vemos uma

representação de uma cidade dentro de um gerador.

Figura 4Imagem retirada do filme “Cidade das Sombras” onde mostra por dentro do gerador elétrico da

cidade

Com os conteúdos de Eletromagnetismo evidenciados após a análise que fizemos

com a decupagem didática e um aprofundamento nos conteúdos científicos,

conseguimos elaborar um mapa de conceitos, com o qual foi possível observar os

principais temas da Física contidos nos filmes, que poderíamos trabalhar no âmbito do

Eletromagnetismo, como na figura a seguir, com o mapa utilizado com os alunos em uma

das exibições do CINE FÍSICA.

A partir do mapa conceitual, oriundo das análises das obras, mostrado acima,

montamos roteiros didáticos para conduzir a conversa após a apresentação do filme na

escola.

Para iniciar o projeto na escola, organizamos sessões que deveriam ocorrer no

período da tarde, em atividade extraclasse. Para o “Cine Física” foram convidados os

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alunos do primeiro ao terceiro ano do Ensino

Médio para assistir e as sessões que tiveram,

aproximadamente,

duas horas e meia de

duração.

Para a

divulgação do projeto

fizemos cartazes e

colamos em alguns

murais da escola, com

data e sala

reservadas

previamente com a

direção da escola.

Contudo, ao final do

projeto percebemos que essa forma de

divulgação não atingia grande parte dos alunos,

que não tinha o hábito de consultar o conteúdo dos murais. Entretanto nossa

preocupação com este trabalho exploratório foi a de verificar as condições reais de uma

escola e como organizar a inserção do filme numa atividade de Ensino de Física. Dessa

forma não nos preocupamos a princípio em atingir grande quantidade de alunos, ou de

estabelecer um roteiro formal de avaliação de conteúdos.

Após a apresentação dos filmes, abríamos um espaço para uma conversa.

Primeiramente, os alunos começavam falando o que haviam observados (seja alguma

cena específica ou alguma fala). Em seguida passávamos a etapa de discutir tópicos de

Física observados no filme (com a ajuda do mapa conceitual previamente preparado).

Geralmente o que mais atraía os alunos eram os laboratórios (como o do filme O

Aprendiz de Feiticeiro e O Grande Truque) por serem lugares grandes e com objetos

robustos.

No geral, os alunos participantes se mostraram bastante ativos diante a

apresentação dos filmes, onde participaram levantando ideias, questionamentos e até

interpretações em relação à Física e o filme. Foi possível observar que, por estarem em

um ambiente diferente da sala de aula sem a obrigatoriedade de estarem lá, eles se

sentiam bem à vontade para tirar suas dúvidas e aproveitarem ao máximo o momento.

Importante ilustrar algumas situações interessantes do trabalho com o Cine Física:

o caso de um dos alunos que fez uma comparação entre o filme O Grande Truque e

o fato histórico da guerra das correntes, onde relacionou a briga entre os dois

Figura 6Imagem do cartaz de divulgação do “Cine

Física”

Figura 5Imagem do mapa conceitual utilizado no filme “O Aprendiz de Feiticeiro”

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mágicos do filme com a briga entre Tesla e Edison, evidenciando que o

conhecimento do final estava sendo apropriado pelos participantes de uma forma

que não conseguiríamos ilustrar em uma aula expositiva sobre esse fato histórico.

Alunos do primeiro e do segundo ano, ou seja, alunos que ainda não tiveram

contato com o conteúdo Eletromagnetismo, tiveram a oportunidade de observar

fenômenos de eletricidade e ter contato com conceitos que na vida escolar ouvirão

falar apenas no terceiro ano do Ensino Médio. Entendemos que tal contato

enriquece o conhecimento de tais estudantes e, por já terem uma noção, mesmo

que superficial, é possível que teremos facilitado sua aprendizagem no futuro neste

tópico.

3. Considerações Finais

Neste trabalho foi possível observar que o tema de Física pode ser abordado em

diferentes filmes da indústria cinematográfica, tornando alguns filmes comerciais

potencialmente interessantes para atividades de Ensino de Física. Em especial nos filmes

escolhidos, vemos a Física sendo fator decisivo no desenrolar da trama, como no filme O

Aprendiz de Feiticeiro onde o ator utiliza, além da magia, a ciência para vencer o mal, ou

seja, com Fantasia e Ciência se complementando na trama do filme.

A realização do “Cine Física” mostrou que com a utilização do filme podemos ir

além do caderno e da lousa, superando algumas barreiras encontradas pelos alunos no

acesso a essa área do conhecimento. No caso, por exemplo, Eletromagnetismo é um

assunto complexo, muitas vezes distantes dos alunos, que se assustam com as

equações como a da lei de Coulomb, a simetria esférica das forças centrais etc., que em

diversos casos é a grande dificuldade no ensino deste conhecimento no nível da

Educação Básica. Tais barreiras fazem que os estudantes fiquem distantes do

aprendizado de fenômenos elétricos interessantes, como a gaiola de Faraday, uma

decorrência da lei de Gauss, impedindo-os de ter acesso a partes bonitas e desafiadoras

do conhecimento de Física.

Com os filmes permite-se aos estudantes “enxergar” a Física sob um outro ponto

de vista, percebendo a blindagem eletrostática dentro do contexto de uma aventura ou a

chamada Guerra das Correntes e, com isso, ver que a Física não se reduz às equações

matemáticas e aos exercícios repetitivos, como salientado por Rosa e Oliveira,

É possível através da alfabetização visual proporcionarmos ao educandoum contexto de maior clareza, entendimento e menos mistificação emque ele possa ser um indivíduo ativo frente a construção do seuconhecimento. (ROSA; OLIVEIRA, 2008, p.9)

Por meio do desenvolvimento do projeto “Cine Física” foi possível observar que

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nem sempre a aula tradicional teórica é o suficiente para o aprendizado do aluno,

principalmente quando se é estudado Eletromagnetismo.

Constatamos que os filmes são importantes, mas temos consciência que a

atividade não deve se limitar somente ao filme, mas com ele permitir aos estudantes ter a

Física como ferramenta para interpretar acontecimentos plausíveis e não plausíveis ali

representados, bem como incentivá-los a buscar novos conhecimentos de Física (até

mesmo as equações) para entender fenômenos interessantes como corrente alternada

ou contínua ou a blindagem eletrostática.

Escolher trabalhar com filmes em suas atividades de Ensino demanda vê-los e

estudá-los, planejar questões e destaques de forma que o filme possa fazer sentido para

os alunos, principalmente fazendo ligação com o conteúdo teórico ou prático ensinado

em sala. O uso de filme é instrumento a mais à disposição da melhoria das atividades de

Ensino, como salientado por Ferreira e Andrade,

o uso do cinema como método para a deflagração de questões permite,ao Professor, mais um elemento para estimular o interesse dos alunospela sutil complexidade da Física. Com efeito, representa um recursovisual complementar, que aproxima o cotidiano do aluno aos conceitos“abstratos” propostos no domínio das aulas de Física. (FERREIRA;ANDRADE, 2009, p.7)

No desenvolvimento deste trabalho percebemos a viabilidade de, na formação

inicial de professores, de inovar e buscar novos meios para se ensinar Física na

Educação Básica.

Referências Bibliográficas

CIDADE das Sombras. Direção de Gil Kenan. Eua: Walden Media, 2008. (90 min.), P&B.

DEVOLTA Para o Futuro. Direção de Robert Zemeckis. Eua: Amblin Entertainment, 1985.(116 min.), P&B.

MORÁN, J. M. O vídeo na sala de aula. Comunicação & Educação, v. 2, p. 27-35, 1995.

O APRENDIZ de Feiticeiro. Direção de Jon Turteltaub. Produção de Jerry Bruckheimer.Eua: Walt Disney Studios, 2010. (109 min.).

O GRANDE Truque. Direção de Christopher Nolan. Eua: Warner Bros., 2006. (130 min.).

PEREIRA, J.; PRADO, T. A Decupagem de Direção: Gênese e Limitações Artísticas. In:XII CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUL, 12., 2011,Londrina. Anais... . Londrina: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicação, 2011. p.1 - 14.

PIASSI, L. P. de C. Interfaces didáticas entre cinema e ciência. São Paulo: Livraria daFísica, 2013.

ROSA, A. N. da; OLIVEIRA, M. O. de. Imagem cinematográfica e artes visuais:possibilidades de entrecruzamentos no ensino das artes visuais. Visu, [s.l.], v. 6, n. 12,p.254-267, 18 abr. 2012. Universidade Federal de Goias. DOI: 10.5216/vis.v6i1ei2.18088

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TESLA, Nikola. Minhas invenções: A autobiografia de Nikola Tesla. São Paulo: Unesp,2012.

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i Licenciatura em Física, UNESP Campus de Rio Claro, PIBID UNESP e Laboratório de Prática deEnsino, Material e Instrumentação Didática (LaPEMID / CEAPLA IGCE UNESP)

ii Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Biociências, Campus de Rio Claro (SP) eLaboratório de Prática de Ensino, Material e Instrumentação Didática (LaPEMID / CEAPLA IGCEUNESP)