Construir - Folheto Da Aco1981

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CONSTRUIR VOZ DE TRABALHADORES N' 14/N0VEMBR0 1981 4 ' á . AÇÃO CATÓLICA OPERARIA (ACO) - Rua Gervásio Pires. 404 RECIFE

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Folheto da Associação Catóilica Operária, Recife - PE

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CONSTRUIR VOZ DE TRABALHADORES N' 14/N0VEMBR0 1981

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AÇÃO CATÓLICA OPERARIA (ACO) - Rua Gervásio Pires. 404 RECIFE

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BRASIL: Menor salário da Dmérica

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O DIEESE — Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econõ- micos realizou em maio deste ano um estudo comparativo dos valores dos salários mínimos nos diversos países da América Latina, tendo constatado que o único país onde o salário mínimo é menor que o do Brasil é o Peru. Na época a que se refere a pesquisa, março de 81, o salário mínimo no Brasil era de Cr$ 5.788,80 e o do Peru, Cr$ 4.316,94. O maior salário mínimo latinoamericano é o da Venezuela, no valor deCr$ 15.938,37.

O DIEESE verificou ainda que o salário mínimo do Peru terminava valendo mais do que o do Brasil, devido as seguintes bonificações mensais garantidas pela legisla- ção: Cr$ 761,50 de compensação pelo aumento do custo de vida; Cr$ 1.218,40, a título de bonificação adicional e Cr$ 304,60 a título de subsídio de despesas de transporte.

O salário mínimo do Peru, acrescido desses adicionais, era de Cr$ 6.601,44. Outra coisa apurada pelo DIEESE: além de ser menor do que nos outros países, o salário mínimo do Brasil é para 48 horas semanais de trabalho, coisa que só acon- tece na Venezuela, onde se paga o maior salário mínimo da América Latina. Nos outros países, as jornadas variam de 40 a 46 horas semanais, sendo que quatro têm jornada de 40 horas, dois de 44; um de 45 e outro de 46 horas.

Considerando-se a relação entre salário e jornada de trabalho, o salário mínimo brasileiro é ainda mais baixo, pois se nos demais países se trabalhasse 48 horas os salários seriam maiores.

SALÁRIOS NA AMÉRICA LATINA - MARÇO/81

PAÍSES SALÁRIOS JORNADA SEMANAL

46 horas 48 horas 40 horas 45 horas 40 horas 44 horas 40 horas 40 horas 44 horas 48 horas

ARGENTINA 13.668,62 BRASIL 5.788,80 CHILE 8.881,98 COLÔMBIA 8.528,80 EOUADOR 12.184,00 PANAMÁ 9.549,21 PARAGUAI 13.749,31 PERU 4.316,94 URUGUAI 10.192,12 VENEZUELA 15.938,37

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Reorganiza-se a JOC (Juventude

Operária Católica) A Juventude Operária Católica — JOC,

nos dias 19 e 20 de setembro, realizou em Olinda seu primeiro Encontro com jovens trabalhadores de cidades do Gran- de Recife. O Encontro foi o resultado de diversas experiências militantes, onde os jovens refletiram sobre a situação da Ju- ventude Trabalhadora nos ambientes de trabalho, bairro, estudo, e frente ao pro- blema do desemprego. Houve uma rea- valiação da prática dos militantes e se chegou a definir uma orientação para o movimento joclsta, que parte para se reestruturar.

Participaram do encontro 36 jovens trabalhadores e alguns convidados, repre- sentando seus companheiros e expressan- do as suas experiências de acro e organi- zação. Os participantes sairam animados com a proposta da JOC, assumindo a con- tinuidade e o crescimento do movimento no Grande Recife.

Novo bispo de Campina Grande

continua a Igreja dos Pobres

Para substituir D. Manoel Pereira na direção da Diocese de Campina Grande, o Vaticano nomeou D. Luiz Fernandes, bispo auxiliar de Vitória do Espírito San- to. Meses atrás, D. Manoel havia renuncia- do por questão de saúde, e deve ter ficado contente com seu substituto, também um grande e generoso trabalhador engajado na causa dos pobres e oprimidos.

A festa de posse de D. Luiz, realizada no dia 18 de outubro, além de muito bo- nita, foi uma verdadeira festa do povo, com a presença de milhares de pessoas não só da Paraíba, mas de várias outras cidades do Nordeste. Uma grande carava- na de Vitória do Espírito Santo veio tam- bém homenagear o seu querido bispo auxiliar, que se transferia para Campina Grande.

Da Prelazia de S. Feliz do Araguaia, em Goiás, D. Pedro Casaldáliga mandou uma bonita mensagem em forma de poe- sia, de onde transcrevemos os seguintes versos:

"Voltar às origens é dar com Belém na vida dos pobres."

• •• "Beber o Evangelho na cuia do povo"

• •• "Seres tu, por fim, igual a ti mesmo: viola e cangaço, orvalho e vento, arado profundo, algodão matreiro, pensando na seca as dores e os medos, lavrando nas bases o Povo e o Reino"

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A angústia do desemprego

Inconformados com as demissões, cerca de 500 operários forçaram o portão princ

No dia 29 de outubro, a ACO levou a público um manifesto onde analisa a praga do desemprego e propõe uma mobilização geral para enfrentar o mal. O documento se encontra à disposição dos interessados na sede da ACO, na Rua Gervásio Pires n^ 404, Recife. Transcrevemos alguns pontos:

Impressionam revelações levadas a pú- blico pelo próprio IBGE - Instituto Bra- sileiro de Geografia e Estatística. Segun- do elas, no mês de agosto deste ano, em apenas seis cidades brasileiras havia 930 mil desempregados. Destes, cerca de 362 mil são de São Paulo, 303 mil do Rio de Janeiro, 89 mil de Belo Horizonte, 54 mil de Porto Alegre, 52 mil de Salvador, 69 mil de Recife. As seis cidades assinaladas contam com 11 milhões de pessoas eco- nomicamnte ativas, num total de 44 mi- lhões em todo o Brasil. Estes são dados oficiais. E conhecê-los é importante para nos protegermos contra as tentativas de atenuar ou negar a objetividade dos fatos. Tentativas essas que estão presentes em declarações também, oficiais, feitas pelos Ministros do Planejamento e do Comércio e Indústria, como por exempo: "o fenô- meno é transitório", "o desemprego no País é importante, mas não é trágico, por- que em termos globais não é tão sério assim"; que "no resto do País se procura empregados".

Confrontadas com a informação esta- tística, tais declarações se revelam sem nenhum fundamento e mesmo maldosas. Infelizmente, e acima de quaisquer decla- rações, o que a realidade demonstra é que a praga do desemprego é geral, assolando de Norte a Sul a família trabalhadora bra- sileira. E se juntarmos ao desemprego o subemprego, teremos dados ainda mais impressionantes, sobre a situação do tra- balho no Brasil. Os números oficiais nos dizem que para uma população ocupada de 44 milhões de pessoas, temos cerca de 20 milhões de subêmpregados, isto é, trabalhadores com rendimento inferior a um salário mínimo, sem carteira assinada e sem acesso á previdência social. A estes, acrescentam-se ainda os milhões de me- nores trabalhando em condições pouco

decentes ou sub-humanas.

NO NORDESTE O PROBLEMA É MAIS GRAVE

São ainda dados oficiais a demonstrar, com dolorosa precisão, que se o desem- prego é mal nacional, no Recife e em ci- dades nordestinas menores, a percenta- gem de desempregados é relativamente maior do que na região do ABC paulista. Some-se a isto o retorno das levas e levas de trabalhadores da região, expulsos pelo desemprego em São Paulo e no Rio.

É HORA DE MOBILIZAÇÃO

Não negamos a atualidade e a impor- tância das questões institucionais e par- tidárias, mas entendemos também que os problemas sociais, como o desemprego, não podem ficar sempre à espera de um eterno amanhã e devem contar, agora, com mais compromisso e presença dos homens de boa vontade. Particularmente aos represntantes do povo, cabe apoiar a ação da classe trabalhadora e suas enti- dades representativas.

A hora é de mobilização de todas as forças vivas deste País, numa ação pacífi- ca e enérgica, para dominar a praga do desemprego. Trata-se de um desafio de sobrevivência de uma parte considerável do povo brasileiro, que tem direito à vida e ao trabalho.

DISSÍDIOS As diversas categorias profissionais, na

época de suas datas-base, mobilizam-se para os acordos salariais entre trabalhado- res e patrões. Nos acordos, os trabalhado- res lutam basicamente por um aumento de salário superior ao INPC (índice Nacio-

ipal e ocuparam o pátio da Mercedes

nal de Preços ao Consumidor), através de uma maior percentagem na produtividade, e por um piso salarial que permita um sa- lário mais de acordo com o aumento do custo de vida. A estabilidade é também uma grande luta, contra a rotatividade e o pavor do desemprego.

Setembro e Outubro, em Pernambuco, muitas categorias tiveram suas datas-base e realizaram acordos com os patrões. Ve jamos alguns deles.

Metalúrgicos: piso salarial de Cr$ .... 11.400,00, produtividade 2% e estabili- dade de um ano para quatro companhei- ros da Comissão de Negociação.

Vigilantes: piso salarial de Cr$ 18.000,00 e desconto de 2% do salário mensal de cada vigilante em favor da As- sociação.

Gráficos: piso salarial de Cr$ 10.500,00, produtividade 2% e estabili- dade durante sete meses, para seis mem- bros da comissão de negociação; adicio- nal de 5% para quem tem cinco anos na mesma empresa.

Os trabalhadores da CELPE tiveram piso salarial de Cr$ 27.600,00.

Os bancários chegaram a um acordo com os banqueiros sobre piso salarial e outros pontos, mas houve um impasse. É que havia um processo na justiça pelo pagamento de uma taxa de 22% sobre os salários, que os banqueiros deviam do dissídio anterior. Os banqueiros exigiam que o processo fosse retirado. A oposição foi contra e teve" todo o apoio da catego- ria, em repetidas votações numa assem- bléia convocada para decidir. A direção do sindicato, segundo denúncias da oposi- ção, armou uma briga e deu até tiro, para desmobilizar a assembléia e poder fazer um conchavo com os banqueiros, renun- ciando aos 22% a que se tinha direito lí- quido e certo. A reposição dos 22% era a principal reivindicação da categoria.

Embora os resultados, na maioria dos casos, fiquem muito abaixo das reais ne- cessidades dos trabalhadores, de qualquer jeito eles representam já o fruto de um trabalho de mobilização e organização das diversas categorias.

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A situação piorou no INPS 6S56 flBS50/a * fO/VS OM

o INPS.»*

O governo deve 99 bilhões de cruzeiros à Previdência Social. As empresas priva- das devem uns bons 16 bilhões. O traba- lhador não deve nem um centavo: descon- ta na folha pontualmente, sem direito a débito. Mas quando estourou o rombo na caixa da Previdência, a solução do go- verno e dos empresários foi sempre no sentido de tapar o buraco aumentando a carga nas costas de quem não devia.

No começo, queriam simplesmente au- mentar o recolhimento de 8 para 10 por cento. Os empresários chiaram, porque também teriam de pagar. Aí foi bolado e mandado ao Parlamento o Projeto de Reforma da Previdência que previa, en- tre outras coisas, o corte de 75 por cento nos salários dos aposentados que voltas- sem a trabalhar, e a eliminação do adicio-

nal de dez por cento nos benefícios dos que recebiam de um a três salários mí- nimos.

Os trabalhadores, que já tinham indi- cado a solução correta {taxar em um e meio por cento os lucros extraordiná- rios dos empresários), abriram a boca no mundo. Foi uma mobilização geral: telegramas e documentos enviados aos parlamentares, aposentados e sindicalis- tas nas sessões do Congresso, etc. etc.

O PIOR PELO MENOS RUIM

O governo, por conta das pressões e também de olho nas eleições de 82, se viu obrigado a recuar, cedendo em parte, num acordo com as oposições: não foram engolidos os aposentados em 75% de seus

benefícios e foram mantidos os dez por cento para quem ganha de um a três salá- rios mínimos. Mas não deixou de haver prejuízo para os trabalhadores, porque foi instituído o seguinte: a taxação em 20 por cento de uma série de produtos, con- siderados de luxo; a redução dos serviços médicos da previdência; a exigência de uma espera de três meses, depois que se começa a pagar, para se ter direito a bene- fícios.

A conclusão é que o projeto aprovado no acordo com as oposições, apenas é me- nos ruim do que o anterior. Porque pre- juízos mesmo, isto houve, e é preciso que fique bem claro. A medida justa, seria a taxação de um meio por cento nos lucros extraordinários dos empresários, como os trabalhadores propuseram e não foi aceito.

MACAXEIRA SO PAGA ATRASADO A Fábrica da Macaxeira, situada em

Recife no Bairro do mesmo nome, de propriedade da famflia "Othon Bezerra de Melo", é uma das mais importantes indústrias têxteis de Pernambuco. Além dessa fábrica e de mais outra no estado de Alagoas, o grupo "Othon" possui uma re- de de hotéis espalhados Brasil a fora, co- mo por exemplo o luxuoso Internacional Othon Palace (Hotel de Boa Viagem) em Recife, e outro no Rio de Janeiro.

DE SALÁRIO A FÉRIAS

Ao que se sabe, nenhum hóspede saí de um dos hotéis da Othon, sem pagar suas contas na horinha certa. Mas a estó- ria na Fábrica da Macaxeira é diferente. Termina a quinzena, e quem quizer que espera três ou quatro dias de atraso. O dinheiro das férias ou das indenizações, é pior ainda: o pessoal só recebe depois de 10 ou 15 dias, dando não se sabe quan- tas viagens na fábrica. Enquanto isso, coi- sas programadas compromissos assumi-

dos, não podem ser cumpridos. Quem en- tra de férias, nem ao menos pode aprovei- tá-las para um pequeno descanso fora da cidade, uma visita a parentes distantes. Foi, por exemplo, o caso de Maria, que tirou férias, marcou viagem para visitar um irmão doente em São Paulo, e no fim teve que desistir de tudo, pois quando o dinheiro saiu as férias estavam perto de terminar. Houve também um companhei- ro que marcou no período de férias uma operação pelo INPS, mas foi obrigado a desmarcar, porque a "Macaxeira" não soltava o dinheiro. E como fazer as des- pesas mais imediatas, fazer uma feirinha pagar um táxi e outras coisas?

REVOLTA É GRANDE

Depois de tanta espera, de tanto ir e voltar sem resultado, tem gente que che- ga a chorar de cansaço e de raiva. "Fazem a gente de palhaço" - desabafam alguns. Alguns trabalhadores foram ao Sindicato pedir que ele se mexesse, que assumisse

alguma providência diante do problema. O diretor do Sindicato saiu-se com esta: 'Tenham paciência, a empresa está em dificuldade..." Ora, será que os trabalha- dores da Fábrica da Macacheira estão folgados, com dinheiro na poupança?

A situação dos atrasos de pagamento da Fábrica da Macaxeira, já foi denun- ciada nos jornais e no Rádio, por um grupo de trabalhadores que não quis se identificar temendo perseguições de em- presa. Será que isso basta?

A realidade da Macaxeira, que infeliz- mente não é fato isolado, mas se soma a muitas outras injustiças e desrespeitos contra o trabalhador, não será um alerta para todos nós?-Alerta no sentido de que ou a gente se une e se organiza ou" nun- ca será respeitado, nunca terá sindicato combativos e fortes, batalhando a serviço da nossa classe?

Rádio e jornal podem ajudar, mas o que decide mesmo é a gente lutar para ser reconhecido e tratado como gente..

Gente que trabalha, produz, constrói e tem direitos a exigir.

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Data muito especial:

1° DE OUTUBRO, DIA NACIONAL DE LUTA

Em 322 cidades de 18 estados do Bra- sil, de Fortaleza a Manaus, realizaram-se manifestações operárias no dia 1° de ou- tubro. Dia Nacional de Luta, lançado e preparado pela CONCLAT - Conferên- cia das Classes Trabalhadoras, realizada em agosto em São Paulo, com a partici- pação de mais de S mil trabalhadores. Nas áreas de concentração operária, nas praças, nas sedes dos sindicatos urbanos e rurais, os trabalhadores proclamaram e defende- ram, na data programada, as reivindica- ções básicas da classe, como por exem- plo a independência dos sindicatos, o salário justo, a reforma agrária e, sobretu- do, uma solução para o problema terrível do desemprego.

GOVERNO HOSTILIZA E RECUSA DIÁLOGO

Embora a repressão ao Dia Nacional de Luta não tenha sido muito violenta a não ser em algumas cidades, como o Rio, a verdade é que o Governo, em to- dos os Estados, manifestou abertamente a sua hostilidade ao movimento. Hostili- dade que teve o seu momento culminante em Brasília, quando o Presidente em exer- cício, Dr. Aureliano Chaves, se recusou a receber a comissão enviada pela CON- CLAT. Formada por sindicalistas conhe- cidos como os mais autênticos deste país, a comissão era encarregada de apre- sentar ao Governo o documento que con- tinha as grandes reivindicações da classe trabalhadora no Brasil.

A recusa do Governo em dialogar com os trabalhadores não se trata de uma simples atitude de prepotência e arbitra- riedade. As razões são as mesmas que fize- ram com que a falada abertura política não tenha chegado ainda até aos trabalha- dores, que continuam marginalizados. Trata-se do medo ante uma classe operá- ria que está dando os seus primeiros pas- sos no caminho da independência e da li- berdade. Medo, acima de tudo, das mu- danças fundamentais que uma classe operária unida e livre exigirá neste país. Mudanças que representam a valorização dos que hoje estão marginalizados, a me- lhor repartição das riquezas e das respon- sabilidades e a criação de condições para que sejamos todos iguais.

A DETERMINAÇÃO DOS TRABALHADORES

Mas não é recusando o diálogo que o Governo vai quebrar a determinação dos trabalhadores conquistarem seus direitos como pessoas e como classe. O Dia Na- cional de Luta, que não surgiu espon- taneamente, mas foi o fruto da vontade organizada dos trabalhadores brasileiros, é uma prova dessa verdade. Os trabalha- dores, apesar de todas as dificuldades e recusas, continuarão a contribuir, com força e dignidade, para a construção deste país em bases que não sejam o absurdo de hoje.

No caminho dessa construção, o Dia Nacional de Luta, que começou a realizar o sonho da unidade de ação dos trabalha- dores, foi um passo valioso. Por isso, sau-

dámos o 1° de outubro como Uma nova («ata muito especial na história do movi- mento operário brasileiro.

Motoristas no volante da luta

Diário ficou congfstiitnada curiosos noite

No 19 de outubro, escolhido na CON- CLAT — Conferência das Classes Traba- lhadoras como "Dia Nacional de Luta", antes da concentração marcada para a noite na Praça Nossa Senhora do Carmo, em Recife, houve uma surpresa no come- ço da tarde. Perto do meio-dia, o trânsito começou a se congestionar no centro da cidade. A razão, logo se soube: ós moto- ristas de ônibus, revoltados, decidiram entrar em greve contra a decisão da EMTU — Empresa Metropolitana de Transportes urbanos, no sentido de co- brar passagens dos motoristas, a partir daquela data, rompendo assim a isenção que sempre beneficiou a categoria.

Apesar de espontâneos, e sem muita organização, o movimento alastrou-se rapidamente. Às duas horas da tarde, a cidade já estava completamente parada, a maioria dos ônibus com os pneus esvasia- dos pelos manifestantes. Foram muitas as expressões de solidariedade da popu- lação que se encontrava nas ruas do cen- tro. Teve gente que chegou a dizer que

voltaria a pé para casa, mas apoiava a decisão do pessoal lutar para manter a isenção do pagamento de passagens para motoristas empregados e desempregados.

SINDICATO DE FORA

Em meio à luta, o que também revol- tava muito os manifestantes, era a ausên- cia do seu Sindicato, que preferiu contri- buir- com os "pobrezinhos" dos empresá- rios, não assumindo a greve ao lado dos trabalhadores do volante.

No meio da tafde, um grupo de grevis- tas decidiu negociar com o governo do Estado, caminhando rumo ao Palácio. A comissão escolhida para dialogar com as autoridades, conseguiu o adiamento da injusta medida por mais uma semana, pa- ra que o assunto fosse melhor estudado.

O saldo final, posteriormente, foi que a EMTU resolveu respeitar a isenção para motoristas e cobradores. Isto porque, quem impôs respeito primeiro, foi a cora- gem e a união dos motoristas.

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Construção civil: Categoria acordando

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Há 17 anos os trabalhadores da cons- As asSembléias de dissídio coletivo e até trução estão com o sindicato dominado mesmo as próprias eleições, têm contado pelo peleguismo, que tem contribuído de- corn uma participação que vai de 20 a 50 mais para a desmobilização da categoria, pessoas, isto num totai de 80 mil traba- chamada somente para assistir a festas.

lhadores com um mundo de problemas. Mas alguma coisa está mudando na

construção civil. É que um grupo de peões começou a se mexer na oposição aos pelegos, e está ficando forte, na me- dida em que prepara a campanha salarial deste ano e trata de outros problemas que todos sentem.

ÉSÓ PROBLEMA

Problemas acumulados, é só o que existe na construção civil. O salário vai ficando mais fraco a cada mês que passa. Além disso, pouco ligam os patrões para

os direitos já firmados em lei, conquista- dos por todos trabalhadores brasileiros. Tem firmas que não pagam aviso prévio, outras não nagam hora-extra, outras não assinam carteira de muita gente. Em mui- tas obras não existe sanitário. As condi- ções de higiene e segurança, geralmente, são abaixo de zero. A desorganização da categoria e o corpo mole dos atuais di- rigentes do sindicato são tão grandes, que atrasaram de 17 de novembro para 19 de janeiro a data do aumento, e não hou- ve nenhuma reação.

O grupo de peões que começou a se mobilizar na oposição sindical, está dis- posto a atacar firme os problemas da ca- tegoria. Um deles, diz ao "Construir": "queremos seguir nos organizando, estu- dando e discutindo, levando a todos os companheiros sofredores uma mensagem de luta e esperança".

EUROPA PROTESTO CONTRA 0 GUERRD CANCUN: Ricos e pobres nào fazem acordo

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Heagan e icvaüo pelas ruas ae Bruxelas durante protesto antinacienr

As atitudes de senhor de guerra do Presidente Reagan apavoraram a Euro- pa, gerando nas ruas das grandes cida- des como Paris, Bruxelas, Berlim, ma- nifestações de protesto contra a insta- lação de mísseis e foguetes americanos na Europa, contra a bomba de neu- trons, contra a corrida armamentista e os planos de Reagan.

Em Bruxeias, mais de 100 associa- ções diferentes, nacionais, políticas feministas e humanitárias, fizeram-se presentes na grande manifestação, a mais importante de todos os tempos

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na belgica" E NÓS?

A Europa reage contra os planos guer- reiros dos Estados Unidos. E a América Latina, como vai reagir? Como vai reagir contra o apoio dado às forças de domi- nação que esmagam os direitos dos po- vos? Como vai protestar contra as amea- ças americanas de intervenção armada em El Salvador, em Cuba, na Nicarágua? Como vai se manifestar em favor da paz, da justiça e do respeito a todos os países e povos do mundo?

De 20 a 25 de outubro realizou-se em Cancun, no México, uma confe- rência entre os países ricos (Norte) e os países pobres (Sul), com a presença dos representantes dos Governos. A fi- nalidade do encontro era "que os paí- ses ricos e pobres sentem juntos en negociações globais e encontrem uma nova ordem econômica, mundial".

A conferência foi um verdadeiro fracasso, provocado pelas posições norteamericanas defendidas por Haig e Reagan, que tornaram impossível qual- quer negociação.

0 fato mostra que os defensores do capitalismo não podem ser os defen- sores dos homens e dos poltçs: só fa zem matar as esperanças de libertação.

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Impressão da Polônia

Manifestação do Solidariedade Transcrevendo as observações de dois sindicalistas franceses da Confederação

Francesa Democrática dos Trabalhadores (CFDT), que passaram dez dias na Polônia e tiveram muitos contatos com militantes operários do "Solidariedade", o Sindicato independente dos trabalhadores poloneses. Com isto, o "CONSTRUI R" pretende aju- dar os trabalhadores a se conhecerem mais e a descobrirem que são uma só e única classe, na Polônia, na França, no Brasil e em todo o mundo.

Descobrimos UM POVO, o povo po- lonês. Esse povo se entende bem só pela

história. Desde sempre, a Polônia luta por sua existência como nação, contra as inva- sões, sejam russas, sejam alemãs. Daí o ódio contra os russos ser de sempre. Ser polonês, livre, é um objetivo em si. Um responsável do "Solidariedade" diz: "o que estou fazendo não é para o sindicato, mas sim para a Polônia". É aí que a gente entende o papel da Igreja.

O PAPEL DA IGREJA

A Igreja é como "a alma da Polônia". Primeiro, durante a fase de industrializa- ção, ela não se afastou dos operários. Também historicamente, o povo polonês, muito religioso, se identifica com a Igreja Católica, frente às invasões ortodoxas (os russos) e protestantes (os alemães). Durante a última guerra, 1939 - 1945, a hierarquia resistiu com muita força. Em 1948, frente á "ditadura do proletaria- do", a Igreja resistiu ainda, e conseguiu impor sua presença. Ela ficou então com um lugar de união e de manifestação, co- mo as procissões. Dizem que na viagem de João Paulo II foi a Igreja que organi- zou tudo, inclusive o serviço de seguran- ça. Isto foi até um ensaio geral para o "Solidariedade". Desde então, a Igreja é (ou era até agosto de 1979, pois tem com- petição com o sindicato) o único lugar não corrupto. A corrupção tem atingido tanto o comportamento individual e cole-

tivo, que militantes marxistas, ateus, man- dam seus filhos ao catecismo, para que eles aprendam referências morais, uma vi- são do homem que vai além do cotidiano, uma dimensão mais abrangente e mais aberta dos problemas. Aí o "Solidarieda- de" se encaixa nesse ideal.

A FORÇA DO "SOLIDARIEDADE"

Sindicato de verdade, o "Solidarieda- de" é ao mesmo tempo outra coisa e vai além das reivindicações. A gente tem a impressão de que o povo todo acordou, e que encontra nesse dinamismo uma no- va esperança. Por exemplo, dizem que o consumo da vodka (a cachaça polonesa) tem baixado de quarenta por cento, pois o povo encontrou outro sentido na vida. O sindicato também está sendo solicitado para tudo e por todos: ele organiza os presos, muito numerosos (200.000 para uma população de 35 milhões de habitan- tes). Junto a ele os maconheiros estão pe- dindo conselho. Os responsáveis estão um pouco sufocados com todo tipo de pedi- dos. .. É como a maré que sobe e que na- da pode frear: a gente vê um povo que se levanta e marcha. Aí a gente não deixa de pensar no povo de Deus. É a primeira vez que a gente faz essa relação com tanta clareza, e que vibra com isso.

FRANÇA E POLÔNIA: PONTOS COMUNS

Na prática sindical, embora o "Solida-

riedade" tenha milhões de sindicalizados e nós vinte vezes menos, proporcional- mente, temos as mesmas dificuldades: Há uma enorme diferença entre as fir- mas, que têm muitos militantes, liberados meio importantes, e as pequenas empre- sas, que não têm quase nada. Quase ne- nhuma mulher com responsabilidade, enquanto 75% trabalham, portanto são sindicalizadas. E sobre a autogestão, em- bora partamos de situações quase opos- tas, temos o mesmo objetivo: o controle e a decisão dos trabalhadores sobre a pro- dução. Nós, na França, com as naciona- lizações; eles, na Polônia, com a reforma dentro da fábrica, com a indicação dos diretores pelos trabalhadores, não mais pelo governo.

A IMPRESSÃO MAIS FORTE

O método é o mesmo, sempre, quando se trata de um regime totalitário (IBM na França, Polônia, Irã, China...). Geral- mente se fala muito mais dos intelectuais, mas opressão existe sempre e em toda parte para isolar e reprimir os militantes operários.

Finalizando, gostaria de dizer que fi- quei impressionado com a determinação dos trabalhadores poloneses. Eles irão até as últimas conseqüências: "estamos no canto da parede, a gente não pode recuar" - dizem. Isto explica a não intervenção da Rússia, por enquanto.

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Formatura de trabalhador:

"Queremos uma festa nossa" Nós,

quando tradicio vitória

jovens operários do Bairro do Alto de São Sebastião de Limoeiro—PE, concluímos o 29 grau, não tendo condições e não estando de acordo com a

nal "Festa de Formatura", pensamos num jeito diferente de celebrar essa

Festa tradicional Missa: Geralmente é preparada pelos

alunos, com a orientação dos professores. Ornamenta-se a Igreja com muito luxo. É celebrada com muitas palavras, cantos e comentários bonitos e alienantes, que contribuem para sustentar a tradição.

Colação de Grau: Os concluintes par- ticipam de vestido longo, paletó, sapato da moda, de penteados, com uma grossa máscara de tinta na cara e o anel que cus- ta um preço muito alto.

Paraninfos, convidados e homena- geados: Geralmente são escolhidas pessoas que não ligam para a nossa classe pobre: políticos, industriais, latifundiários, se- nhores de engenho e fazendeiros.

Discursos: O orador da turma é esco- lhido pelos colegas, com a função de fa- zer um discurso bonito, falso e puxando o saco dos "grandes". Em seguida, o para- ningo e homenageados fazem os seus dis-

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cursos incentivando os formandos para sustentar esse sistema.

A nossa Festa

A nossa Missa... foi uma vigília de ora- ção, em preparação ao Natal, com os jo- vens do nosso Bairro.

A gente não arrumou os cabelos, nem usou vestido longo. Usamos nossa roupa simples e comemoramos de cara lavada, sem fantasia, e ninguém tinha anel.

Os nossos convidados, homenageados e paraninfos foram: os nossos pais, o grupo jovem, o coral da Capela do nosso Bairro e nossos amigos trabalhadores.

Uma nossa colega preparou o discurso. Foi muito divertido. Foi um discurso en- graçado, mas que mostrava a nossa reali- dade de formandos operários. Mostrava também a nossa responsabilidade na li- bertação de ncc5a classe.

Juramentos: A escola obriga a fazer juramentos desse tipo: "Prometo cumprir fielmente as leis de Deus, da República e do Estado e consagrar-me à formação de membros vivos da Igreja, úteis à Pá- tria e à humanidade.

Baile: Geralmente se exige um outro vestido, mais alinhado do que o da Cola- ção de Grau. Só participa do Baile quem estiver de traje formal. É um verdadeiro desfile de moda. Aluga-se por muito di- nheiro o Clube mais famoso da cidade e o melhor conjunto.

Fizemos o juramento de acordo com a nossa realidade e com um sentido cris- tão do nosso verdadeiro compromisso. "Prometo atender a todos os doentes po- bres e não darei vez aos privilegiados" (formanda em Saúde). "Se tenho que ser fiel a todas as leis da Nação e do Estado, prometo ficar desempregada por toda a vida" (professora).

Na nossa festa houve violão, cantos, batida, guaraná, discurso, juramentos conscientes e no fim um arrasta-pé.

NÃO HOMENAGEAR OS OPRESSORES

COMPANHEIROS OPERÁRIOS, por- que comprar anéis de Formíaura? Eles custam muito caro e não servem para na- da. Não nos oferecem emprego, nem nos dão conhecimentos.

A missa é a celebração da Eucaristia. É o momento em que se celebra a maior ex- pressão da fraternidade. É o sacramento da partilha e da doação. Será que os for- mandos participam da Missa pensando nisso? Pensando no compromisso de amor e solidariedade para com a classe opri- mida?

E o baile? Pra' que serve o baile? com tudo aquele luxo, quando o seu irmão mais pobre não pode entrar porque não tem paletó e gravata?

Outra coisa que nos deixa muito revol- tados é a escolha do paraninfo, o patrono e os homenageados de honra. Geralmente são escolhidas pessoas que não ligam para o povo só pensam em subir às custas dos trabalhadores: políticos^ des latifundiários, senlj fazendeiros. O que é,< a ver com a educaçãbn nós, que somos oprn convidar para nossos que são exploradores povo? Como podemos, lhadores, que somos vítima? tia Ry!"^- ção, prestar homer^em^m^çtSSésfepres- sores? Ou vocês ngp sáÈerc(|que^ssè nos de engenho eíazendepBsi^íídj pulsando muitas femíffe^icffòpttft clima de medo e sjolejicia Mas s|j priedades? 'Jl

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nossos amigos a melVior maneira de rejei- tar essa festa planejada pelos "grandes". Que tal fazermos a nossa festa de forma- tura, como uma festa realmente de traba- lhadores.

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