CONSULTORIA Inovação no ambiente hospitalar...passando pelo requerimento de paten-tes e busca de...

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13 REVISTA DE MANGUINHOS | NOVEMBRO DE 2013 CONSULTORIA Irene Kalil Instituto Nacional de Saú- de da Mulher, da Crian- ça e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/ Fiocruz) sediou, no mês de setembro, o 1º Simpósio de Inova- ção Hospitalar da Fiocruz (SinHosp), reunindo representantes governamen- tais, empresários, consultores, gestores e profissionais de unidades hospitala- res de vários estados do país. Com uma ampla programação, o evento abordou o ciclo completo da inovação em saú- de, desde a concepção de novas solu- ções até sua chegada ao mercado, passando pelo requerimento de paten- tes e busca de financiadores e parcei- ros. O I SinHosp é um dos resultados do projeto que o Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto (NIT-IFF) desen- volve, desde novembro de 2012, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Inovação no ambiente hospitalar Geração de conhecimento e desenvolvimento de tecnologias aplicadas na melhoria da saúde da população são tema do I SinHosp da Fiocruz O (Faperj). “O IFF acolheu a proposta do evento, realizado em parceria com a Coordenação de Gestão Tecnológica da Fiocruz (Gestec/VPPIS), por entender que as tecnologias geradas aqui e em outras instituições hospitalares têm es- pecificidades, e é necessário pensar so- bre a melhor forma de fomentá-las e de viabilizar sua prototipagem e incor- poração na atenção”, enfatizou a res- ponsável pelo Sistema Fiocruz de Gestão Tecnológica e Inovação (Sistema Ges- tec-NIT), Maria Celeste Emerick. Para a vice-diretora de Pesquisa do Instituto e representante do NIT-IFF, Ká- tia Sydronio, embora a inovação no cam- po da saúde venha conquistando cada vez mais espaço, ainda persiste uma lacuna na área hospitalar. “O fluxo da inovação é, na maioria das vezes, das indústrias de equipamentos e insumos, que contratam pesquisadores para de- senvolver soluções para as instituições de saúde. Pouco se fomenta a capaci- dade de criação do profissional inserido em sua prática, e entendemos que o evento veio ao encontro dessa necessi- dade”, afirmou. Segundo o diretor da unidade, Carlos Maciel, o SinHosp con- tribuiu também para fortalecer, entre os gestores dos institutos nacionais do Mi- nistério da Saúde, a reflexão sobre seu papel no estabelecimento da equidade e da qualidade dos serviços prestados à população brasileira, atuando na gera- ção e avaliação de novas tecnologias em saúde. Presente à mesa de abertu- ra e palestrante do painel sobre inova- ção no setor saúde, o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estraté- gicos do Ministério da Saúde (MS), Car- los Gadelha, destacou a importância da iniciativa. “Trata-se de uma visão estra- tégica a de promover o debate sobre a instituição hospitalar entendida para além do espaço do serviço. O hospital é, antes de tudo, uma instância de in- teligência sistêmica da saúde, a quem cabe pautar o padrão de desenvolvimen- to tecnológico do país”, frisou. O 1º SinHosp é um dos resultados do projeto que o Núcleo de Inovação Tecnológica do IFF desenvolve, desde 2012, com recursos da Faperj

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CONSULTORIA

Irene Kalil

Instituto Nacional de Saú-de da Mulher, da Crian-ça e do AdolescenteFernandes Figueira (IFF/Fiocruz) sediou, no mês

de setembro, o 1º Simpósio de Inova-ção Hospitalar da Fiocruz (SinHosp),reunindo representantes governamen-tais, empresários, consultores, gestorese profissionais de unidades hospitala-res de vários estados do país. Com umaampla programação, o evento abordouo ciclo completo da inovação em saú-de, desde a concepção de novas solu-ções até sua chegada ao mercado,passando pelo requerimento de paten-tes e busca de financiadores e parcei-ros. O I SinHosp é um dos resultadosdo projeto que o Núcleo de InovaçãoTecnológica do Instituto (NIT-IFF) desen-volve, desde novembro de 2012, comrecursos da Fundação de Amparo àPesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Inovação no ambiente hospitalarGeração de conhecimento e desenvolvimento de tecnologias aplicadas namelhoria da saúde da população são tema do I SinHosp da Fiocruz

O(Faperj). “O IFF acolheu a proposta doevento, realizado em parceria com aCoordenação de Gestão Tecnológica daFiocruz (Gestec/VPPIS), por entenderque as tecnologias geradas aqui e emoutras instituições hospitalares têm es-pecificidades, e é necessário pensar so-bre a melhor forma de fomentá-las ede viabilizar sua prototipagem e incor-poração na atenção”, enfatizou a res-ponsável pelo Sistema Fiocruz de GestãoTecnológica e Inovação (Sistema Ges-tec-NIT), Maria Celeste Emerick.

Para a vice-diretora de Pesquisa doInstituto e representante do NIT-IFF, Ká-tia Sydronio, embora a inovação no cam-po da saúde venha conquistando cadavez mais espaço, ainda persiste umalacuna na área hospitalar. “O fluxo dainovação é, na maioria das vezes, dasindústrias de equipamentos e insumos,que contratam pesquisadores para de-senvolver soluções para as instituiçõesde saúde. Pouco se fomenta a capaci-dade de criação do profissional inserido

em sua prática, e entendemos que oevento veio ao encontro dessa necessi-dade”, afirmou. Segundo o diretor daunidade, Carlos Maciel, o SinHosp con-tribuiu também para fortalecer, entre osgestores dos institutos nacionais do Mi-nistério da Saúde, a reflexão sobre seupapel no estabelecimento da equidadee da qualidade dos serviços prestados àpopulação brasileira, atuando na gera-ção e avaliação de novas tecnologiasem saúde. Presente à mesa de abertu-ra e palestrante do painel sobre inova-ção no setor saúde, o secretário deCiência, Tecnologia e Insumos Estraté-gicos do Ministério da Saúde (MS), Car-los Gadelha, destacou a importância dainiciativa. “Trata-se de uma visão estra-tégica a de promover o debate sobre ainstituição hospitalar entendida paraalém do espaço do serviço. O hospitalé, antes de tudo, uma instância de in-teligência sistêmica da saúde, a quemcabe pautar o padrão de desenvolvimen-to tecnológico do país”, frisou.

O 1º SinHosp é um dosresultados do projeto que oNúcleo de Inovação Tecnológicado IFF desenvolve, desde 2012,com recursos da Faperj

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Gestão hospitalar eatenção ao paciente

Reunindo instituições públicas e fi-lantrópicas, o painel valorizou expe-riências inovadoras na gestão e naatenção aos pacientes em diversosestados brasileiros. Ao relatar a trans-ferência do Instituto Nacional de Trau-matologia e Ortopedia (Into) para suanova sede, em 2010, a coordenadorade Planejamento da instituição, Germa-na Bähr, enfatizou a necessidade doentendimento da inovação como pro-cesso, no qual as experiências são fei-tas e repetidas continuamente por meiode simulações ou pilotos. Ela afirmouque uma estratégia adotada pelo Intopara driblar a resistência à mudançade muitos profissionais foi a mobiliza-ção do corpo técnico por meio da com-posição de um grupo de transição.“Esse grupo atuou ao longo de todo oprocesso de transferência de sede, tor-nando-se, mais tarde, o grupo de ino-vação do órgão”, frisou. O diretorclínico do Hospital Giselda Trigueiro, deNatal, João Bosco, abordou a estraté-gia de gestão participativa como ino-vação nas relações de trabalho e naqualificação do SUS. “Os conflitos aflo-ram nas relações e são discutidos. Nãopodemos colocá-los para debaixo dotapete”, afirmou ele. Donizetti Giam-berardino Filho, do Hospital PequenoPríncipe, de Curitiba, também desta-cou a importância da comunicação edo investimento nas relações interpes-soais. “Acho que não há maior inova-ção hoje do que se comunicar bem.Os gestores e profissionais da saúdeprecisam compreender o pacientecomo sujeito de direitos, não como umobjeto de cuidados”, declarou.

Da ideia ao mercado,como inovar?

O ciclo completo da inovação foiabordado desde a prospecção de boasideias e a necessária proteção da pro-priedade intelectual até a transferên-cia de tecnologia, com a chegada doproduto ou serviço ao mercado. A só-cia do escritório Barbosa, Müssnich e

Aragão Associados Cristina Müller de-fendeu o valor das inovações incremen-tais, modificações em um produto ouserviço original que o tornam mais ade-quado aos usos e às demandas de umdeterminado público, e destacou aimportância de alguns cuidados queinstituições e inventores devem ter aonegociar suas inovações com empre-sas, como a redação cautelosa do con-trato. “Não basta penas a intenção demanter determinada informação emsegredo. É preciso tratá-la como segre-do, como assinar um acordo de confi-dencialidade com o parceiro”, afirmou.

No âmbito do fomento, represen-tantes de instituições financiadorascomo Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES),Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-nep), Fundação de Amparo à Pesquisado Estado do Rio de Janeiro (Faperj), ecoordenação de Equipamentos e Ma-teriais de Uso em Saúde do Ministérioda Saúde contribuíram para o debate,destacando os principais programasgovernamentais e instrumentos de fo-mento para pesquisa e elaboração denovos produtos para o mercado. Jun-tos, eles permitem o apoio a empre-

sas, laboratórios e institutos de ciênciae tecnologia e garantem o investimen-to a obras civis, instalações e equipa-mentos, softwares, matérias-primas,recursos humanos, treinamentos, ser-viços de consultoria, entre outros itens.O diretor de Tecnologia da Faperj, RexAlves, destacou a importância de ha-ver espaço para o financiamento deprojetos de todos os portes. “Quandose faz inovação hospitalar, é necessá-rio pensar grande, mas também sabervalorizar pequenas ideias que podemmelhorar os processos e serviços naatenção ao paciente. Devemos traba-lhar em todos os níveis, buscando par-ceiros para grandes e pequenosinvestimentos”, ressaltou.

Empreendedorismoque faz a diferença

Representantes do Instituto Israeli-ta de Ensino e Pesquisa Albert Einstein,que se notabilizou pelo estabelecimentode uma política institucional que colo-ca a inovação como meta de todos osseus funcionários, e de algumas dasprincipais instituições públicas de saú-

Reunindo instituições públicas efilantrópicas, o evento valorizouexperiências inovadoras na gestãoe na atenção aos pacientes emdiversos estados brasileiros

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de que atuam em atividades de aten-ção, ensino, pesquisa e desenvolvimen-to tecnológico apresentaram seusexemplos de sucesso. Ao lado da in-trodução, em 2012, da cirurgia robóti-ca oncológica no Instituto Nacional deCâncer (Inca) e dos kits diagnósticospara HIV, malária e diversas doençasdesenvolvidos pelo Instituto Carlos Cha-gas, unidade da Fiocruz no Paraná, oIFF apresentou o trabalho de seus pro-fissionais ao longo do evento. O copi-nho para alimentação alternativa derecém-nascidos de risco, elaboradopela fonoaudióloga Nádia Mallet, re-centemente tornou-se objeto de nego-ciação com empresa nacional deequipamentos médicos, e diversos pro-dutos elaborados pelo técnico de en-fermagem Sérgio Fernandes, desde umdispositivo pediátrico para punção ve-nosa até um suspensório que auxiliaos cuidados com o bebê internado emunidades de terapia intensiva, já tive-ram patente deferida. “São dispositi-vos simples, mas que visam ao confortoe segurança do paciente e à praticida-de da atenção”, afirmou ele.

Outras iniciativas empreendedorasque fazem a diferença na atenção pres-

tada pelo Instituto também foram abor-dadas, como a Rede Brasileira de Ban-cos de Leite Humano, considerada amaior e mais complexa do mundo; otrabalho capitaneado pelo Núcleo deApoio a Projetos Educacionais e Cultu-rais (Napec), que promove a leitura emtodos os espaços do hospital, escolari-zação formal e informal para criançase adolescentes internados, entre outrasiniciativas; e o Programa Saúde e Brin-car, cuja atuação é pautada em ummodelo de atenção centrado no paci-ente. “Tecnologias leves, baratas e defácil aplicação”, como destacou a co-ordenadora do Napec, Magdalena Oli-veira. Ou, como definiu a responsávelpelo Saúde e Brincar, Martha Moreira,“uma inovação de processos de con-teúdo imaterial, pois as relações nãosão palpáveis, mas fundamentais parao sucesso da atenção à saúde”.

Inovação nasaúde: desafiose oportunidades

A necessidade de interlocução en-tre os diversos setores da sociedade para

viabilizar o processo de inovação foienfatizada pelo vice-presidente de Pro-dução e Inovação em Saúde da Fiocruz,Jorge Bermudez. “A inovação precisaser pensada como uma atividade quese realiza por meio de parcerias entreinstituições de pesquisa, agências defomento, ministérios e outros órgãos dosistema público e empresas privadas eem sua necessária interface com o SUSe o Sistema Nacional de Inovação”, fri-sou. Para o vice-presidente de Ambien-te, Atenção e Promoção da Saúde daFundação, Valcer Rangel, um das ques-tões fundamentais que se coloca paraos institutos nacionais do MS é a de cri-ar um ambiente de inovação. “Estamosfalando de produtos, serviços, ensino,pesquisa e desenvolvimento tecnológi-co que possibilitem a construção de umarede de atenção à saúde que possaatender às necessidades do SUS e dapopulação brasileira”, afirmou Rangel.

O diretor executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde daUnião de Nações Sul-Americanas (Isa-gs/Unasul) e ex-ministro da Saúde, JoséGomes Temporão, que proferiu a pa-lestra de encerramento do evento, des-tacou os avanços ocorridos na últimadécada, contribuindo para que o paístenha hoje uma política industrial emsaúde que visa fortalecer seu potenci-al de produção e inovação. O ex-mi-nistro abordou, no entanto, um desafioque persiste para o desenvolvimentodo campo. “Possuímos estrutura cien-tífica e quadros profissionais capazesde gerar conhecimento. Mas precisa-mos, cada vez mais, consolidar a visãoda saúde como investimento, produto-ra de riqueza, inovação, renda e em-prego. Ela não é apenas resultado, masparte da solução para a crise econômi-ca”, concluiu Temporão.

O registro audiovisual completodo evento encontra-se disponívelno endereço do Laboratório de

Telessaúde do Instituto:

http://angelicabaptistasilva.com/telehealth/

SAIBA MAIS

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