CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS NAS … · O serviço prestado com prazer, ... AL-ATEEN – Divisão...
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FACULDADE TECSOMA
Curso de Graduao em Enfermagem
CONSUMO DE BEBIDAS ALCOLICAS NAS FAMLIAS
CADASTRADAS NO PROGRAMA DE SADE DA FAMLIA
CHAPADINHA NO MUNICPIO DE PARACATU-MG
Ftima Aparecida dos Reis Ulha
PARACATU-MG
2010
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FTIMA APARECIDA DOS REIS ULHA
CONSUMO DE BEBIDAS ALCOLICAS NAS FAMLIAS
CADASTRADAS NO PROGRAMA DE SADE DA FAMLIA
CHAPADINHA NO MUNICPIO DE PARACATU-MG
Monografia apresentada disciplina de Trabalho de Concluso de Curso II, ministrada pelo Prof. Geraldo Benedito Batista de Oliveira, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Enfermagem. Orientadora Temtica: Evanir Soares Fonseca
PARACATU-MG
2010
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Ulha, Ftima Aparecida dos Reis. Consumo de bebidas alcolicas nas famlias cadastradas no Programa
de Sade da Famlia Chapadinha no municpio de Paracatu-MG. / Ftima Aparecida dos Reis Ulha. 2010.
73p. : il. color.; 30 cm. Orientadora: Evanir Soares Fonseca Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Faculdade Tecsoma,
Curso de Enfermagem, Paracatu, 2010. 1. Alcoolismo. 2. Teste de Identificao de Problemas Relacionados ao
Uso de lcool (AUDIT). 3. Incidncia. 4. Fatores de risco. I. Fonseca, Evanir Soares. II. Faculdade Tecsoma. III. Ttulo.
CDU 612.63
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FTIMA APARECIDA DOS REIS ULHA
Consumo de bebidas alcolicas nas famlias cadastradas no Programa de
Sade da Famlia Chapadinha no municpio de Paracatu-MG.
Monografia apresentado disciplina de
Trabalho de Concluso de Curso II, como
requisito parcial para obteno do ttulo de
Bacharel em Enfermagem.
_______________________________________________
Evanir Soares Fonseca
Orientadora Temtica
_______________________________________________
Geraldo Benedito Batista de Oliveira
Professor Supervisor
PARACATU-MG, 21 de junho de 2010
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Dedico ao meu esposo, filhos, familiares,
professores e colegas que juntos me incentivaram
nessa difcil jornada.
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AGRADECIMENTO
Agradeo primeiramente a Deus razo do meu viver. Ao meu esposo
Adelmar Kepler Andrade Ulha pela fora, carinho, incentivo em todos os
momentos. Aos meus queridos filhos Gabriel Kepler dos Reis Ulha e Rafaely
Kepler dos Reis Ulha que estiveram sempre ao meu lado sempre incentivando e
ajudando. A todos os professores, familiares, amigos e colegas que juntos
torceram por mais essa vitria na minha vida.
Em especial minha orientadora Evanir Soares Fonseca pela presteza,
cordialidade e confiana, ao professor Geraldo Benedito Batista de Oliveira, pela
orientao metodolgica, ao grupo A.A. pelas relevantes informaes e carinho, a
enfermeira Vnia e aos moradores da Chapadinha os quais foram grandes
colaboradores para a realizao deste trabalho, coordenadora Rosalba Cassuci
Arantes pela fora e amizade e, todos os funcionrios da biblioteca pela
pacincia, ateno e amizade.
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Em todas as nossas atividades
O servio prestado com prazer, as obrigaes cumpridas com
retido, os problemas bem aceitos ou solucionados com a ajuda
de Deus, o reconhecimento de que em casa ou fora dela somos
parceiros em um esforo comum, o fato de que aos olhos de
Deus todos os seres humanos so importantes, a prova de que o
amor livremente concedido traz um retorno completo, a
certeza de no estarmos mais isolados e sozinhos em prises
construdas por ns mesmos, a certeza de que podemos nos
adaptar e pertencer ao esquema das coisas criadas por Deus,
essas so as satisfaes permanentes e legtimas que frumos de
uma vida correta que nenhuma pompa e circunstncia, e
nenhum amontoado de posses ateriais, poderiam possivelmente
substituir.
Bill Wilson.
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LISTA SIGLAS
AA Alcolicos annimos
AVAI - Anos de Vida Ajustados por Incapacidade
AL-ANON Programa de Doze Passos para familiares e amigos de alcolico
AL-ATEEN Diviso de Al-Anon dedicada a pessoas mais jovens que so
afetadas pelo hbito de algum beber
AUDIT: Teste de identificao de Distrbio de uso de lcool
AVAI Anos de Vida Ajustados por Incapacidade
CEBRID Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas Psicotrpicas
CID-10 Classificao Internacional de Doenas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
JUNAAB Junta de Servios Gerais de Alcolicos Annimos do Brasil
OMS Organizao Mundial de Sade
PSF Programa de Sade da Famlia
SAA Sndrome de Abstinncia do lcool
SAF Sndrome aguda fetal
SDA Sndrome da dependncia do lcool
SENAD Secretaria Nacional Antidrogas
SIAB Sistema de Informao de ateno Bsica
SUS Sistema nico de Sade
TCC Trabalho de concluso de curso.
UNIFESP Universidade Federal de So Paulo
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RESUMO
O presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a incidncia do consumo
de lcool na populao acima de 15 anos, cadastrados no Programa de Sade da
Famlia Chapadinha, no municpio de Paracatu, Minas Gerais. As informaes
foram coletadas foi atravs de entrevista estruturada com perguntas
predeterminadas realizada nas residncias dos moradores (n=332) foram
aplicados o Teste de Identificao de Problemas Relacionados ao Uso de lcool
(AUDIT) e um questionrio estruturado para informaes sociodemogrficas. Os
resultados mostram que 79% faz uso de bebidas alcolicas e enquanto 21% no
consomem bebidas alcolicas. De acordo com a pontuao no questionrio
AUDIT, observou-se que 62% relataram sintomas de dependncia ao lcool, e
47% j manifestam danos ocasionados pelo consumo de lcool. Os dados
apontam que as pessoas esto cada vez mais acometidas pelo uso do lcool,
havendo necessidade urgente de implantao de polticas pblicas visando aes
de sade direcionadas ao alcoolismo, a fim de buscar abordagens que ampliem o
olhar e as possibilidades de interveno em nvel da preveno, promoo
sade e bem como tratamento dos alcoolistas.
Palavras- chave: alcoolismo. Teste de Identificao de Problemas Relacionados
ao Uso de lcool (AUDIT). Incidncia. Fatores de risco.
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ABSTRACT
The present study was to evaluate the incidence of alcohol consumption in the
population over 15 years, enrolled in the Family Health Program Chapadinha, in
Paracatu, Minas Gerais. Information was collected through interviews was
structured with predetermined questions held in the homes of residents (n = 332)
were applied to the Identification Test Problems Related to Alcohol (AUDIT) and a
structured questionnaire for sociodemographic information. The results show that
79% makes use of alcoholic beverages while 21% did not consume alcohol.
According to scores on the AUDIT questionnaire, it was observed that 62%
reported symptoms of alcohol dependence, and 47% had manifest damage
caused by alcohol consumption. Data indicate that people are increasingly
affected by alcohol use, urgent need to implement public policies aimed at health
actions directed to alcoholism, aim to seek approaches that broaden perspectives
and possibilities for intervention in the prevention, and health care and treatment
of alcoholics.
Keywords: alcoholism. Identification Test Problems Related to Alcohol (AUDIT).
Incidence. Risk factors.
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Perfil socioeconmico dos usurios entrevistados, PSF
Chapadinha, 2010 ............................................................................................ 44
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LISTA DE GRFICOS
GRFICO 1: Distribuio dos entrevistados, conforme a bebida alcolica
consumida, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 .................................................. 47
GRFICO 2: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do
consumo de bebida alcolica, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ..................... 48
GRFICO 3: Distribuio dos entrevistados, quanto ao nmero de doses de
bebida alcolica consumidas em dia de consumo, PSF Chapadinha
Paracatu, 2010 0 ............................................................................................... 49
GRFICO 4: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do
consumo de 6 ou mais doses de bebida alcolica numa mesma ocasio, PSF
Chapadinha Paracatu, 2010 ............................................................................. 50
GRFICO 5: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia durante
os ltimos 12 meses percebeu que no conseguia parar de beber, uma vez
que havia comeado, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 .................................. 50
GRFICO 6: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes
durante o ano passado deixou de fazer o que era esperado devido ao uso de
bebidas alcolicas, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ...................................... 51
GRFICO 7: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes
durante os ltimos 12 meses precisou de uma primeira dose pela manh
para sentir-se melhor depois de uma bebedeira, PSF Chapadinha Paracatu,
2010 ................................................................................................................. 52
GRFICO 8: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes
no ano passado sentiu-se culpado ou com remorso depois de beber, PSF
Chapadinha Paracatu, 2010 ............................................................................. 53
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GRFICO 9: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes
durante o ano passado no conseguiu lembrar o que aconteceu na noite
anterior porque estava bebendo, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ................ 53
GRFICO10: Distribuio dos entrevistados, conforme freqncia de crtica
recebida pelo resultado das suas bebedeiras, PSF Chapadinha Paracatu,
2010 ................................................................................................................. 54
GRFICO 11: Distribuio dos entrevistados, em que algum parente, amigo,
mdico ou qualquer outro trabalhador da rea de sade referiu-se s suas
bebedeiras ou sugeriu parar de beber, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 ........ 55
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SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................ 14 1.1 Justificativa ............................................................................................. 18 1.2 Objetivos ................................................................................................. 20 1.2.1 Objetivo geral ...................................................................................... 20 1.2.2 Objetivos especficos .......................................................................... 20 2 ALCOOLISMO ............................................................................................ 21 2.1 Fatores de risco ...................................................................................... 24 2.2 Sndrome da dependncia ..................................................................... 26 2.3 Sndrome da abstinncia ....................................................................... 27 2.4 Complicaes ......................................................................................... 28 2.5 Custo social do alcoolismo ................................................................... 31 3 ALCOLICO ANNIMO (A.A.) .................................................................. 33 3.1 O Nascimento de A.A. e seu Desenvolvimento .................................... 33 3.2 Histria de A.A. no Brasil ....................................................................... 36 3.3 Histria do A. A. em Paracatu ............................................................... 39 4 FUNDAMENTAO METODOLGICA ..................................................... 41 5 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................. 44 6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................ 57 REFERNCIAS ............................................................................................... 58 APNDICE ..................................................................................................... 66 ANEXO ............................................................................................................ 72
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1 INTRODUO
A palavra alcoolismo foi usada pela primeira vez em 1854 por Magnus Huss
para significar o uso abusivo de bebidas alcolicas e as consequncias, sintomas e
sinais patolgicos fsicos e psquicos apresentados pelo alcoolista, alcolico ou
ainda alcolatra. A palavra lcool de origem rabe e etimologicamente que dizer
coisa sutil, enganadora. (SILVEIRA,1997).
Uma das maiores calamidades sociais do mundo moderno o alcoolismo.
Produz no viciado uma perda progressiva do senso tico da vida, crescente perda
senso de responsabilidade, diminuio da produtividade em qualquer gnero de
atividade profissional. A perda do senso tico conduz o alcolatra crnico a ir
descendo na escala social dos companheiiros que busca para as suas libaes.
(SILVEIRA,1997).
Segundo Ramos e Bertolote (1997) o lcool uma droga psicoativa que
admite dependendo da dose, da freqncia e das circunstncias um uso sem
problemas. Contudo, o seu uso inadequado pode trazer graves conseqncias tanto
a nvel orgnico, como psicolgico e social, caracterizando a condio conhecida
como alcoolismo. Esta passagem, do beber sem problemas ao alcoolismo, no se
faz do dia para a noite. E um processo que admite uma longa interao entre o
beber normal e o alcoolismo, em geral de vrios anos.
Nesta interao comeam a aparecer os problemas relacionados ao uso
inadequado do lcool. O beber passa a ser priorizado em relao a outras
atividades, adquirindo cada vez mais importncia na vida da pessoa. E, usando uma
imagem, quando amigos, famlia, vida profissional, preocupao com o prprio corpo
comeam como a ser a parte desbotada de uma retrato antiga, em branco e preto,
onde o detalhe que se destaca cada vez com mais clareza o lcool. (RAMOS;
BERTOLOTE, 1997)
De acordo com Silveira (1997) em todas as as camadas sociais usa-se e
abusa- se do lcool, desde os mais remotos tempos da humanidade alcoolismo
sem dvida uma das maiores pragas sociais, mas infelizmente no h meios de
extipar essa epidemia mundial.
Alcoolismo uma doena, uma entidade clnica como se diz. Durante
muito tempo o alcoolismo foi visto como sintoma de uma estrutura de personalidade
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prvia alterada e ento o que causaria o alcoolismo seriam os conflitos emocionais
do indivduo. (RAMOS; BERLOTE, 1997).
Entre outras doenas, o consumo do lcool pode causar importantes
alteraes na mucosa gastrointestinal, no pncreas e no fgado. (ALMEIDA;
COUTINHO, 1993; SEITZ; HOMANN, 2001 apud FONTES; FIGLIE; LARANJEIRA,
2006). Segundo o consenso sobre a sndrome da abstinncia do lcool
(LARANJEIRA et al., 2000), as principais comorbidades clnicas do sistema
gastrointestinal associadas ao consumo de bebidas alcolicas so: pancreatite
crnica, esteatose heptica, hepatite alcolica, hemorragia digestiva, cirrose
heptica com ou sem hepatite alcolica, gastrite, esofagite de refluxo e tumores.
Ainda no Brasil, o lcool responsvel por mais de 90% das internaes
hospitalares por dependncia. (CARLINI et al., 2002). Em relao aos pacientes
internados por problemas psiquitricos, aproximadamente 35% apresentam
problemas decorrentes do uso de substncias psicoativas, sendo 90% ligados ao
consumo de lcool. (NOTO; CARLINI, 1995). No entanto, a maior parte daqueles
que procuram tratamento opta por ajuda mdica geral e no por tratamento
especializado em sade mental. (TURISCO et al., 2000).
De acordo com Almeida e Coutinho (1993) em relao diminuio da
qualidade dos aspectos sociais, lembrando que o lcool exerce uma funo de
mediador social em nossa e em muitas outras culturas, esse resultado torna-se
compreensvel. Na prtica clnica, observa-se que dependentes e abusadores de
lcool, ao pararem de beber, sentem-se socialmente prejudicados, uma vez que
seus compromissos sociais em geral esto relacionados ao consumo alcolico.
O consumo e a dependncia de substncias constituem uma importante
carga para os indivduos e as sociedades em todo o mundo. O Informe sobre a
Sade no Mundo 2002 indicou que 8,9% da carga total de morbidade se deve ao
consumo de substncias psicoativas. (MATUTE; PILLON, 2008).
Segundo Matute e Pillon (2008), entre as substncias capazes de
desenvolver problemas e dependncia esto o lcool e o tabaco, consideradas
drogas lcitas de maior ndice de consumo em diferentes grupos da populao.
Alcoolismo um dos principais problemas de Sade Pblica que afetam
consideravelmente os setores mais vulnerveis da sociedade, como, por exemplo,
os jovens - principalmente os estudantes, cuja etapa da vida a que apresenta
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maior risco para iniciar o consumo de lcool e tabaco, considerados por sua vez
como porta de entrada para o uso de outras drogas. (MATUTE; PILLON, 2008).
De acordo com Costa e outros (2004) o ato abusivo de lcool elevado e
acarreta inmeras conseqncias negativas para a sade e qualidade de vida dos
indivduos. Os resultados indicam uma alta prevalncia de consumo abusivo de
lcool e identificam alguns subgrupos da populao mais suscetveis ao alcoolismo.
O uso abusivo de lcool tambm provoca direta ou indiretamente custos altos
para o sistema de sade, pois as morbidades desencadeadas por ele so caras e de
difcil manejo. Alm disso, a dependncia do lcool aumenta o risco para transtornos
familiares. (COSTA et al., 2004).
O alcoolismo considerado uma das mais freqentes doenas de todo o
mundo transformou-se num grave problema social, que no Brasil triplicou nas ltimas
dcadas. (DINIZ; RUFFINO, 1996).
De acordo com Fornazier e Siqueira (2006), o alcoolismo, alm de ser
bastante antigo e disseminado, tambm um dos mais graves problemas de sade
pblica dos grandes centros civilizados, o que preocupa os profissionais da sade,
tanto envolvidos com pesquisa quanto aqueles dos programas de tratamento.
Percebe-se que o uso do lcool vem causando considervel prejuzo sade
de todas as populaes, e, sendo essa uma droga lcita, no h restries para seu
consumo, afetando homens e mulheres de diferentes grupos tnicos,
independentemente de classe social, econmica ou mesmo idade. (FORNAZIER;
SIQUEIRA, 2006).
Pelos mais diferentes prismas que se possa encarar o alcoolismo, o quadro
comum: trata-se de uma das mais freqentes enfermidades em qualquer parte do
mundo, que se transformou num grave problema social, pelas variadas
conseqncias que dele advm. (DINIZ; RUFFINO, 1996).
Segundo Vargas e Luis (2008) apesar de amplamente aceito, e at
estimulado socialmente, o consumo de lcool, quando excessivo torna-se um
problema importante e acarreta altos custos para a sociedade. As intercorrncias
causadas pelo lcool extrapolam as amplamente divulgadas na literatura,
caracterizando-o como um problema que acarreta graves conseqncias sociais e
colocando-o entre os principais problemas de sade pblica da atualidade.
A deteco dos grupos populacionais mais expostos ao consumo abusivo de
lcool permite planejar aes de sade mais eficazes, visando diminuio dessa
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morbidade e de outras doenas desencadeadas pelo alcoolismo. (VARGAS; LUIS,
2008).
A alta freqncia de problemas relacionados ao consumo excessivo de
bebidas alcolicas, inclusive em nosso meio, evidencia-se a importncia da
abordagem do alcoolismo, o qual, muitas vezes, no diagnosticado por
profissionais de sade. (ROSA et al., 1998).
De acordo com o Ministrio da Sade (BRASIL, 1990) citado por Rosa e
outros (1998), um profissional de sade devidamente esclarecido pode contribuir
bastante em sua comunidade, tanto na preveno do alcoolismo, como na
preveno dos problemas derivados do uso do lcool.
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1.1 Justificativa
De acordo com Santos e Veloso (2008), O lcool tem sido apontado como a
droga mais consumida ou, pelo menos, experimentada no Brasil. A facilidade com
que essa droga comercializada por ser lcita tem favorecido o seu elevado
consumo, o que apontado como umas das causas do alcoolismo, um problema
que atinge milhes de brasileiros, que considerado, por rgos competentes, como
um dos maiores problemas de sade pblica no Brasil e um dos grandes
responsveis por fatalidades em acidentes de trnsito, homicdio, suicdio e
agresso.
O uso crnico do lcool causa alteraes comportamentais agressividade,
conflitos familiares, violncia urbana e domstica e comprometimento orgnico por
exemplos hipertenso arterial, gastrite, cirrose e clnicos por exemplos depresso,
doenas mentais, que so as causas para buscar cuidados de sade, contribuindo
tambm para a alta prevalncia de acidentes automobilsticos e o absentesmo
laboral. (ACAUAN; DONATO; DOMINGOS, 2008).
No Brasil, dados do Ministrio da Sade revelam que cerca de 10% das
internaes autorizadas pelo Sistema nico de Sade (SUS) so devido ao uso de
lcool e 50% das internaes psiquitricas do sexo masculino so devido ao uso de
lcool e 50% das internaes psiquitricas do sexo masculino so por alcoolismo.
(RAMOS; BERTOLOTE, 1997).
Para a Organizao Mundial de Sade a dependncia do lcool acomete de
10% a 12% da populao mundial. (OMS, 1999 apud FONTES; FIGLIE;
LARANJEIRA, 2006). Diante de tal situao, pode-se concluir que os problemas
relacionados ao consumo de lcool so igualmente alarmantes e responsveis por
mais de 10% dos problemas totais de sade no Brasil. (MELONI; LARANJEIRA,
2004).
Nas unidades de sade onde o enfermeiro oferece cuidados de enfermagem,
ele exerce uma funo fundamental em identificar e talvez iniciar uma interveno
teraputica aos pacientes com problemas relacionados ao uso de lcool ou pelo
menos encaminhar a um servio apropriado. (PILLON, 2005).
Imprescindvel que o enfermeiro busque novos saberes acerca do alcoolismo,
o que lhe propiciar um novo olhar em relao ao uso abusivo de bebida alcolica e
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a oportunidade de prestar uma assistncia mais eficiente e eficaz a populao.
(ACAUAN; DONATO; DOMINGOS, 2008).
E atravs deste contexto o alto ndice de pessoas sendo acometidas por
consumo de bebidas alcolicas e sendo cada vez mais doentes ser que os
programas de sade da famlia esto trabalhando com a preveno e os fatores de
risco?
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1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Avaliar a incidncia do uso do lcool da populao assistida pelo Programa
de Sade da Famlia da Chapadinha.
1.2.2 Objetivos especficos
Averiguar o perfil dos usurios de bebidas alcolicas e doentes alcolicos
do Programa de Sade da Famlia da Chapadinha;
Identificar o consumo de bebidas alcolicas nas famlias que participam do
Programa de Sade da Famlia da Chapadinha;
Verificar os fatores de risco que contribuem para o uso da bebida alcolica.
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2 ALCOOLISMO
No faz muito tempo o lcool foi includo na lista das drogas. Isto se deve ao
fato de ser uma droga lcita, mas nem sempre foi assim. Por outro lado, por ser
legalizada tem sido verificado que uma das drogas mais consumidas por
adolescentes e jovens, sendo considerada porta de entrada para outras drogas
(ilcitas).
As substncias psicoativas podem ser analisadas sob trs aspectos: o legal,
que define quais so as lcitas e as ilcitas; o moral relacionado aceitao na
sociedade, o cientfico, determinado pelo quadro epidemiolgico do problema. O
tabaco e o lcool s podem ser vendidos a maiores de 18 anos. Mas o seu consumo
acontece por menores, muitas vezes acompanhados dos pais, caracterizando sua
permisso moral. As conseqncias desse uso por parte dos adolescentes e que
merecem ateno dos pais dizem respeito s dificuldades de comunicao e ao
distanciamento afetivo que ocorre no mbito familiar, tambm h a possibilidade da
marginalizao e maior susceptibilidade ao uso de substncias ilcitas. (PEREIRA,
2001).
Adolescncia e alcoolismo parecem ter uma ligao muito estreita. A primeira
considerada como um rito de passagem, tornando a vulnerabilidade para o
contato com as drogas ainda maior. Talvez para fugir das crises prprias desta fase
de transio e da busca de auto-afirmao. E os adultos nem sempre acompanham
as aventuras de seus filhos adolescentes. (BERTONI, 2004).
[...] e quase sempre consideram absolutamente normal a experincia com o lcool, como se fosse parte do desenvolvimento de qualquer um, e no um primeiro degrau na escalada das drogas. Afinal, dizem eles, tomar o primeiro porre como perder o primeiro dente: marca uma passagem obrigatria para todos os indivduos de nossa cultura. (ARATANGY, 2000, p. 70).
De acordo com o Ministrio da Sade (BRASIL, 2003), atualmente h um
intenso contedo emocional e apelo da mdia que so contraditrios, como a falta de
controle sobre as drogas lcitas. Uma poltica para a reduo de danos relacionados
ao consumo de lcool deve necessariamente propor modificao na legislao,
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dirigida proibio da propaganda de bebidas alcolicas nos meios de comunicao
de massa, ficando restrita apenas aos locais de venda.
Kyes e Hofling (1985) dividem os alcolatras em dois grupos: aqueles que so
at certo ponto fisicamente dependentes da droga (como os fenmenos de
tolerncia e sndrome de abstinncia) e aqueles cuja dependncia apenas
psicolgica. O ltimo grupo muito maior.
O lcool um sedativo hipntico com efeitos semelhantes aos dos
barbitricos. Alm dos efeitos sociais do uso, a reavariedade de transtornos mentais
orgnicos e fsicos. (BERTOLOTE, 2004).
Os padres de consumo de bebidas alcolicas variam conforme a cultura, o
pas, o gnero, a faixa etria, as normas sociais vigentes e o subgrupo social
considerado. Tambm bastante varivel o risco associado aos diversos padres
de consumo. Exemplificando, beber vinho habitualmente s refeies e em
quantidades moderadas um padro de menor risco comparado ingesto copiosa
de destilados, mesmo esta sendo ocasional, em pblico ou no. (MELONI;
LARANJEIRA, 2004).
Consumir bebidas que contenham lcool considerado comum e aceitvel.
Em torno de 90% dos norte-americanos j tomaram pelo menos uma bebida que
contivesse lcool, e cerca de 51% de todos os adultos so usurios. Depois das
doenas cardacas e do cncer, os transtornos relacionados ao lcool constituem,
no momento o terceiro maior problema de sade dos Estados Unidos. Cerca de 200
mil mortes por ano esto diretamente relacionadas ao abuso de lcool. As causas de
morte comuns entre pessoas com transtornos relacionados ao lcool so suicdio,
doenas cardacas e hepticas. Embora os envolvidos em fatalidades
automobilsticas nem sempre satisfaam os critrios diagnsticos para transtorno
relacionado ao lcool, motoristas embriagados esto envolvidos em 50% de todas
as mortes por acidentes de trnsito, e essa porcentagem aumenta para 75% quando
se consideram apenas os que ocorrem na madrugada. (SADOCK, Benjamim;
SADOCK, Virginia, 2007).
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A ingesto de lcool, mesmo em pequenas quantidades, diminui a coordenao motora e os reflexos, comprometendo a capacidade de dirigir veculos ou operar outras mquinas. Pesquisas revelam que grande parte dos acidentes provocada por motoristas que haviam bebido antes de dirigir. Nesse sentido, segundo a legislao brasileira (Cdigo Nacional de Trnsito, que passou a vigorar em janeiro de 1998), dever ser penalizado todo motorista que apresentar mais de 0,6g de lcool por litro de sangue. A quantidade de lcool necessria para atingir essa concentrao no sangue equivalente a beber cerca de 600ml de cerveja (duas latas de cerveja ou trs copos de chope), 200ml de vinho (duas taas) ou 80ml de destilados (duas doses). (CARLINI, 2007, p.14).
O uso e os transtornos relacionados ao lcool tambm esto associados a
50% de todos os homicdios e a 25% de todos os suicdios. O abuso reduz a
expectativa de vida em 10 anos, e o lcool a primeira causa de morte relacionada
ao uso de substncias. (SADOCK, Benjamim; SADOCK, Virginia, 2007).
O uso regular de lcool na populao geral (pelo menos trs a quatro vezes
por semana), em indivduos com idade entre 15 e 65 anos, foi relatado por uma
mdia de 5,2% da populao entrevistada nas 107 maiores cidades brasileiras.
Notou-se tambm um nmero relativamente pequeno (0,2%) de meninos de 12 a 17
anos fazendo uso regular de bebidas alcolicas e um consumo mais freqente
dessa substncia entre homens. (CARLINI et al., 2002). O uso na vida na faixa
etria de 12 a 17 anos foi relatado por 48,3% da amostra pesquisada por Carlini
(2006).
Conforme anlise do V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas
Psicotrpicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Mdio da Rede Pblica de
Ensino nas 27 capitais brasileiras, o uso de lcool no Brasil varia tambm de regio
para regio. No norte do pas, o uso freqente de bebidas alcolicas atinge 8,4% da
populao estudantil. J a regio sul apresenta uso freqente dessa substncia em
12,9% da populao total. No todo a mdia do Brasil de 11,7% de sua populao.
Se o objeto de anlise for a impresso que a populao tem do fenmeno beber
lcool, as respostas tambm divergem ao longo do territrio nacional. Na regio
norte, a populao revela mais medo e insegurana do que no sul do pas. A
populao do sul considera, em linhas gerais, menos ofensivo sade o uso de
bebidas alcolicas. interessante notar que h, no sul do pas, uma cultura de
consumo do vinho, com a presena das culturas alem e italiana modelando o saber
beber e a maneira de se cultuar o vinho. (GAUDURZ et al., 2004).
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Em termos da idade de ocorrncia de iniciao no uso de drogas, com o
lcool houve a incidncia da menor idade: 12,5 anos de vida. J com o uso de
cocana a idade registrada foi de 14,4 anos de vida. (CARLINI et al., 2002).
Estudos realizados ao longo de sucessivas dcadas tem mostrado que o
alcoolismo desponta como uma das primeiras causas de internao em instituies
psiquitricas. Entre 1930 e 1960, Cardim e outros (1986) apontam que a
esquizofrenia e o alcoolismo totalizavam 50% dos diagnsticos psiquitricos. Entre
1960-1974 os diagnsticos mais comuns por internaes psiquitricas entre os
homens tambm foram esquizofrenia e alcoolismo. (CAETANO, 1982 apud
OLIVEIRA; LUIZ, 2002).
J para Noto e Carlini (1995), em estudos realizados ao longo de 7 anos
consecutivos (87-93) identificaram o lcool como responsvel por cerca de 90% das
causas de internaes por dependncia e psicoses devidas ao uso de substncias
psicotrpicas. Os internados eram, na maioria homens na faixa etria de 31 a 45
anos.
2.1 Fatores de risco
De acordo com Stipp e outros (2007) o lcool uma substancia txica que
pode contribuir para acontecimento de algumas doenas como: hipertenso arterial,
hipertrigliceridemia, diabetes no-insulinodependente, cncer, hepatite alcolica,
esteatose heptica, cirrose, encefalopatia, gastrite, pancreatite, problemas
psicossociais e comportamentais. Seu uso crnico e no moderado acarreta prejuzo
no convvio social e pode ser visto como uma importncia patologia social.
O lcool considerado uma droga lcita, sem restries para seu consumo, o
que muitas vezes leva homens e mulheres a seu uso abusivo. O consumo de lcool
afeta diferentes grupo tnicos, no depende de idade, classe social, econmica e
gnero. (STIPP et al., 2007).
De acordo com o Ministrio da Sade (BRASIL, 1994) indivduos que fazem
uso abusivo de lcool de forma prejudicial, no so portadores de defeito moral,
portanto, no devem ser punidos ou excludos, pois estas pessoas esto doentes e
precisam ser ajudadas.
-
25
Todas as pessoas que consomem bebidas alcolicas esto em risco de
apresentar algum tipo de complicao associada a esse hbito ao longo de suas
vidas. A maior e a menor probabilidade de que isso ocorra depende da interao
entre os diferentes fatores de risco, conhecidos e desconhecidos, os quais
contribuem com intensidades variveis de indivduos para indivduos.
Soibelman, Luz Junior e Diemen (2004, p. 541) classificam esses fatores de
risco em socioculturais e biolgicos:
Os fatores de risco socioculturais incluem maior disponibilidade de bebidas alcolicas, alto grau de estresse coletivo, estmulo social (presso social) para beber, postura tica ambivalente frente ao lcool, inexistncia de sanes sociais contra a embriaguez e contra o abuso de lcool e costumes tradicionais que incluem consumo freqente de lcool. J nos fatores de risco biolgicos, h evidncia de predisposio gentica aos problemas relacionados ao uso de lcool, que parece estar relacionada a diferenas nas composies enzimticas e a algumas caractersticas da personalidade, sendo que tal predisposio no implica predestinao ou inevitabilidade.
O CID-10 distinguiu dois tipos de beber excessivo (excesso de consumo de
bebida alcolica): episdico e habitual, sendo o beber excessivo aparentemente
equivalente intoxicao. O beber excessivo episdico inclui ataques relativamente
breves de consumo excessivo de lcool ocorrendo pelo menos algumas vezes por
ano. Esses ataques podem durar alguns dias ou semanas. J o beber excessivo
habitual inclui o consumo regular de grandes quantidades de lcool que podem ser
prejudiciais para a sade do indivduo ou para seu funcionamento social.
(BERTOLOTI, 2004).
Os aspectos psicolgicos da etiologia do alcoolismo variam de um paciente
para outro. O alcoolismo pode ser uma caracterstica do comportamento de
neurticos obsessivo-compulsivos, hopomanacos, esquizofrnicos, personalidades
esquizides, ciclotmica e compulsivas e outros. Ele encontrado comumente como
um aspecto das tentativas de ajustamento ou de outro tipo de distrbio da
personalidade, especialmente da personalidade oral. (KYES; HOFLING, 1985).
Muitas pessoas com histria familiar indicativa de alto risco no desenvolvem
problemas desse tipo, uma vez que a interao dos fatores genticos e ambientais
que ir determinar a vulnerabilidade individual. Da mesma forma que alguns genes
facilitadores sejam herdados, eles podem no se expressar na ausncia de fatores
ambientais provocadores.
-
26
Assim como os fatores culturais, os hbitos familiares, em especial dos pais
para com a bebida, podem afetar os hbitos das pessoas em relao ao lcool.
Contudo, algumas convivncias indicam que esse processo est menos ligado ao
desenvolvimento de transtornos relacionados ao lcool do que se pensava
anteriormente; do ponto de vista comportamental, os aspectos de reforo positivo do
lcool induz sentimentos de bem-estar e euforia e reduzir o medo e a ansiedade
encorajam ainda mais o consumo. (SADOCK, Benjamim; SADOCK, Virginia, 2007).
Na viso de Soibelman; Luz Junior e Diemen (2004) h casos em que
mulheres desenvolvem dependncia de lcool e complicaes mdicas associadas
ingerindo menores quantidades de bebida e em menos tempo do que homens.
2.2 Sndrome da dependncia
A sndrome da dependncia do lcool (SDA) caracterizada por um conjunto
de fenmenos fisiolgicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de bebidas
alcolicas, para um determinado indivduo alcana prioridade muito maior do que
outros comportamentos que antes eram priorizados. Uma caracterstica descritiva da
sndrome de dependncia o desejo (frequentemente forte, algumas vezes
irreversvel) de consumir lcool, sendo o estgio mais avanado do alcoolismo
(SOIBELMAN; LUZ JUNIOR, DIEMEN, 2004).
De acordo com Edwards (1976) citado por Gigliotti e Bessa (2004) descreve
os elementos da (SDA) em sete sinais e sintomas:
1) Estreitamento do repertrio no incio; o usurio bebe com flexibilidade de
horrios, de quantidade e at de tipo de bebida. Com o tempo, passa a beber com
mais freqncia, at consumir todos os dias, em quantidades crescentes, ampliando
a frequncia e deixando de importar-se com a inadequao das situaes;
2) Salincia do comportamento de busca do lcool; com o estreitamento do
repertrio do beber, h uma tentativa do indivduo de priorizar o ato de beber,
mesmo em situaes inaceitveis (por exemplo, dirigindo veculos, no trabalho).
3) Aumento da tolerncia ao lcool; com a evoluo da sndrome, h
necessidade de doses crescentes de lcool para obter o mesmo efeito conseguido
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27
com doses menores, ou a capacidade de realizar atividades apesar de altas
concentraes sangneas de lcool;
4) Sintomas repetidos de abstinncia; quando h diminuio ou interrupo
do consumo de lcool, surgem sinais e sintomas de intensidade varivel. No incio,
eles so leves, intermitentes e pouco incapacitantes, mas, nas fases mais severas
da dependncia, podem manifestar-se os sintomas mais significativos, como tremor
intenso e alucinaes;
5) Alvio ou evitao dos sintomas de abstinncia pelo aumento da ingesto
da bebida; este um sintoma importante da SDA, sendo difcil de ser identificado
nas fases iniciais. Torna-se mais evidente na progresso do quadro, com o paciente
admitindo que bebe pela manh para sentir-se melhor, uma vez que permaneceu
por toda noite sem ingerir derivados etlicos;
6) Percepo subjetiva da necessidade de beber; h uma presso psicolgica
para beber e aliviar os sintomas da abstinncia;
7) Reinstalao aps a abstinncia; mesmo depois de perodos longos de
abstinncia, se o paciente tiver uma recada, rapidamente restabelecer o padro
antigo de dependncia. (GIGLIOTTI; BESSA, 2004).
2.3 Sndrome da abstinncia
Segundo Laranjeira e Pinsky (2001) evidncias revelam que de 50 a 70% dos
alcoolistas apresentam problemas no sistema nervoso, que so devidos ao
direta do lcool nas clulas do crebro, provocando uma diminuio na memria, na
capacidade de raciocnio mais complexo, no julgamento de situaes difceis.
Embora algumas semanas de abstinncia faam com que os danos no crebro
sejam reduzidos, cerca de 10% dos alcoolistas sofrero danos irreversveis e
podero chegar a desenvolver um quadro de demncia alcolica. No entanto, vale
ressaltar, que a abstinncia sempre melhora o quadro mental ou faz com que os
sintomas estacionem.
A sndrome de abstinncia do lcool um quadro que aparece pela reduo ou parada brusca da ingesto de bebidas alcolicas, aps um perodo de consumo crnico. A sndrome tem incio 6 a 8 horas aps a parada da
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28
ingesto de lcool, sendo caracterizada por tremor das mos, acompanhado de distrbios gastrintestinais, distrbios do sono e estado de inquietao geral (abstinncia leve). Cerca de 5% dos que entram em abstinncia leve evoluem para a sndrome de abstinncia grave ou delirium tremens que, alm da acentuao dos sinais e sintomas anteriormente referidos, se caracteriza por tremores generalizados, agitao intensa e desorientao no tempo e no espao. (CARLINI, 2007, p.15).
Sndrome da abstinncia com delirium tremens um estado psictico agudo
que ocorre em indivduos dependentes de lcool, durante a fase de abstinncia, e
caracterizado por confuso, desorientao, ideao paranide, delrios, iluses,
alucinaes (tipicamente visuais ou tteis, menos comumente auditivas, olfatrias ou
vestibulares), inquietaes, distraibilidade, tremores (algumas vezes grosseiros),
sudorese, taquicardia e hipertenso. Usualmente precedida por sinais de sndrome
de abstinncia simples. Esse episdio ocorre usualmente 48 horas ou mais aps a
suspenso ou a reduo do consumo de lcool, mas pode apresentar-se at 1
semana aps este perodo. (LARANJEIRA et al., 2000).
2.4 Complicaes
Os indivduos dependentes do lcool podem desenvolver vrias doenas. As
mais freqentes so as relacionadas ao fgado (esteatose heptica, hepatite
alcolica e cirrose). Tambm so freqentes problemas do aparelho digestivo
(gastrite, sndrome de m absoro e pancreatite) e do sistema cardiovascular
(hipertenso e problemas cardacos). H, ainda, casos de polineurite alcolica,
caracterizada por dor, formigamento e cibras nos membros inferiores. (CARLINI,
2007).
A cardiopatia alcolica um transtorno difuso do msculo do corao,
observado em indivduos com uma histria de consumo arriscado de lcool,
geralmente no mnimo de 10 anos de durao. Os pacientes caracteristicamente
apresentam insuficincia cardaca biventricular, os sintomas mais comuns incluem:
diminuio do flego durante o esforo e em repouso (dispnia noturna),
palpitaes, edema de tornozelos e distenso abdominal (devida ascite), comum
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29
o transtorno do ritmo cardaco, a fibrilao auricular a arritmia mais freqente.
(BERTOLOTE, 2004).
Cirrose alcolica uma forma grave de hepatopatia alcolica caracterizada
por necrose e deformao permanente da arquitetura do fgado devido formao
de tecido fibroso e de ndulos regenerativos. O cncer de fgado uma complicao
tardia da cirrose em aproximadamente 15% dos casos. (BERTOLOTE, 2004).
Embora diversos fatores tenham sido implicados na etiologia da cirrose, o
consumo de lcool em excesso considerado o principal fator etiolgico. A cirrose
ocorre com frequncia mxima entre os alcolicos. (SMELTZER; BARE, 2005).
A sndrome aguda fetal (SAF) uma condio irreversvel caracterizada por
anomalias craniofaciais tpicas, deficincia de crescimento, disfunes do sistema
nervoso central e vrias malformaes associadas. O termo "efeitos fetais do lcool"
foi proposto para um grupo de crianas expostas ao lcool intra-tero, mas que no
possuam o quadro clnico completo de SAF. (BERTOLOTE, 2004).
Entretanto, suscetibilidade fetal ao lcool modulada por quantidade ingerida,
poca da exposio, estado nutricional e capacidade de metabolizao materna e
fetal. A quantidade segura de lcool que uma gestante pode consumir no est
definida na literatura, por isto recomenda-se abstinncia total durante toda a
gravidez. Estudos comprovam que o consumo de 20 gramas de lcool j suficiente
para provocar supresso da respirao e dos movimentos fetais, observados por
meio de ultra-sonografia. (KLINE et al., 1981 apud FREIRE et al., 2005).
Alm disto, o consumo de lcool na gestao est relacionado ao aumento do
nmero de abortos e a fatores comprometedores do parto, como risco de infeces,
descolamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, prematuridade do trabalho
de parto e lquido amnitico meconial. (PARKS et al., 1996 apud FREIRE et al.,
2005).
Para Carlini (2007) o consumo de bebidas alcolicas durante a gestao pode
trazer conseqncias para o recm-nascido, e, quanto maior o consumo, maior o
risco de prejudicar o feto. Dessa forma, recomendvel que toda gestante evite o
consumo de bebidas alcolicas, no s ao longo da gestao, como tambm
durante todo o perodo de amamentao, pois o lcool pode passar para o beb
atravs do leite materno.
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30
Cerca de um tero dos bebs de mes dependentes do lcool, que fizeram uso excessivo dessa droga durante a gravidez, afetado pela sndrome fetal pelo lcool. Os recm-nascidos apresentam sinais de irritao, mamam e dormem pouco, alm de apresentarem tremores (sintomas que lembram a sndrome de abstinncia). As crianas gravemente afetadas, e que conseguem sobreviver aos primeiros momentos de vida, podem apresentar problemas fsicos e mentais que variam de intensidade de acordo com a gravidade do caso. (CARLINI, 2007, p.15).
Atkinson e Murray (1989, p. 499) relatam sobre o abuso de lcool relacionado
ao funcionamento sexual:
O abuso de lcool no homem leva perda da fertilidade, incapacidade de conseguir uma ereo e produo reduzida de testosterona. O consumo de lcool pela mulher grvida est associado sndrome fetal alcolica do neonato (SFA); quanto mais bebe uma mulher, maior o risco de SFA para feto.
Dentre as complicaes do alcoolismo h tambm os efeitos agudos:
A ingesto de lcool provoca diversos efeitos, que aparecem em duas fases
distintas: uma estimulante e outra depressora. Nos primeiros momentos aps a
ingesto de lcool, podem aparecer os efeitos estimulantes, como euforia,
desinibio e loquacidade (maior facilidade para falar). Com o passar do tempo,
comeam a surgir os efeitos depressores, como falta de efeito depressor fica
exacerbada, podendo at mesmo provocar o estado de coma. (CARLINI, 2007).
Os efeitos do lcool variam de intensidade de acordo com as caractersticas
pessoais. Por exemplo, uma pessoa acostumada a consumir bebidas alcolicas
sentir os efeitos do lcool com menor intensidade, quando comparada com outra
que no est acostumada a beber. Um exemplo est relacionado estrutura fsica: a
pessoa com estrutura fsica de grande porte ter maior resistncia aos efeitos do
lcool. O consumo de bebidas alcolicas tambm pode desencadear alguns efeitos
desagradveis, como enrubecimento da face, dor de cabea e mal-estar geral.
Esses efeitos so mais intensos para algumas pessoas cujo organismo tem
dificuldade de metabolizar o lcool. (CARLINI, 2007).
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31
2.5 Custo social do alcoolismo
A despeito de todos os significados culturais e simblicos que o consumo de
bebidas alcolicas adquiriu ao longo da histria humana, o lcool no um produto
qualquer. uma substncia capaz de causar danos atravs de trs mecanismos
distintos: toxicidade, direta e indireta, sobre diversos rgos e sistemas corporais;
intoxicao aguda; e dependncia. Tais danos podem ser agudos ou crnicos e
dependem do padro de consumo de cada pessoa, que se caracteriza no somente
pela freqncia com que se bebe e pela quantidade por episdio, mas tambm pelo
tempo entre um episdio e outro e ainda pelo contexto em que se bebe.
(LARANJEIRA; ROMANO, 2004).
Na viso de Meloni e Laranjeira (2004), distinguidas dos problemas de sade,
as categorias de problemas sociais relacionadas ao lcool incluem: vandalismo;
desordem pblica; problemas familiares, como conflitos conjugais e divrcio; abuso
de menores; problemas interpessoais; problemas financeiros; problemas
ocupacionais, que no os de sade ocupacional; dificuldades educacionais; e custos
sociais. Ainda que uma causalidade direta no possa ser estabelecida, o estudo
dessas categorias de danos incluindo variveis como volume de lcool consumido,
padres de consumo e outros fatores interativos demonstrou que as
conseqncias sociais do uso do lcool colocam esse produto, no mnimo, como um
fator adicional ou mediador entre outros que contribuem para a ocorrncia de
determinado problema, concluso similar quela vlida para problemas de sade.
A avaliao do custo social relacionado ao lcool demonstra que o ambiente
social no qual o lcool consumido, conforme sua estruturao econmica e regras
de convvio determina diversos matizes de insero do consumo alcolico, ao
mesmo tempo em que diretamente influenciado pelos padres de uso vigentes.
No artigo de autoria de Laranjeira e Hinkly (2002) que avalia a relao entre
privao social, violncia e densidade de pontos de vendas de lcool em uma regio
perifrica pobre da rea metropolitana de So Paulo, ilustra claramente esta
dinmica. A privao social est relacionada enorme densidade de pontos de
vendas de lcool e grande violncia urbana.
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32
Como a maioria dos alcolatras tem um emprego, mas funciona em um nvel consideravelmente abaixo de sua capacidade potencial, o alcoolismo tambm de grande interesse para a indstria e o progresso econmico do pas em geral. (KYES; HOFLING, 1985, p. 315).
A violncia est presente nas famlias de alcoolistas, marcando a trajetria
dessas pessoas e levando produo de sentimentos e emoes que favorecem a
ruptura das relaes e da prpria vida psquica dos diferentes membros, no
conseguindo vencer a situao patolgica, a dinmica familiar sofre profundas
alteraes quando os outros membros acabam assumindo papis que se esperava
fossem assumidos pelo sujeito alcoolista. (COSTA, 2004, p. 60).
Estudo realizado por Neves (2004) ressalta que a necessidade de
compreender os modos moralizantes de representao do alcoolismo: seus efeitos
sobre a construo das relaes sociais e sua atribuio como fator dissolvente de
unidades sociais fundamentais, como a famlia, ou perturbador do exerccio de
papis bsicos, como o de trabalhador e esposo.
Em consonncia com esse pensamento, Mota (2004) defende que, embora o
lcool, de certa forma, seja considerado, inicialmente, como um agente produtor de
sociabilidade - um dos significados da bebida em nossa sociedade - ao qual se
atribui um valor positivo, ele se torna, para uma parcela da populao, um agente de
dissociao, um fator que gera rupturas no campo das relaes sociais, na famlia e
no trabalho.
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3 ALCOLICO ANNIMO (A.A.)
H vrias modalidades teraputicas que podem contribuir com dependente
durante o seu tratamento, oferecendo todo o apoio durante essa fase, como por
exemplo, os grupos de alcolicos annimos (AA.).
3.1 O Nascimento de A.A. e seu Desenvolvimento
Alcolicos Annimos (A.A.) iniciou-se em 1935, em Akron, Ohio, com o
encontro de Bill W., um corretor da Bolsa de Valores de Nova Iorque, e o Dr. Bob,
um cirurgio de Akron. Ambos haviam sido alcolicos desenganados. Antes de se
conhecerem, Bill e o Dr. Bob tinham tido contato com o Grupo Oxford, uma
sociedade composta, em sua maior parte, por pessoas no alcolicas, que defendia
a aplicao de valores espirituais universais na vida diria. Naquela poca, os
Grupos Oxford da Amrica eram dirigidos pelo renomado clrigo episcopal Dr.
Samuel Shoemaker. Sob sua influncia espiritual, e com a ajuda de seu velho
amigo, Ebby T., Bill havia conseguido sua sobriedade e vinha mantendo sua
recuperao trabalhando com outros alcolicos, apesar do fato de que nenhum de
seus "candidatos" haver se recuperado. Entretanto, o fato de ser membro do Grupo
Oxford no havia oferecido ao Dr. Bob a suficiente ajuda para alcanar a
sobriedade. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO
BRASIL, 2004).
Quando finalmente o Dr. Bob e Bill se conheceram, o encontro produziu no
Dr. Bob um efeito imediato. Desta vez encontrava-se cara a cara com um
companheiro alcolico que havia conseguido deixar de beber. Bill insistia que o
alcoolismo era uma doena da mente, das emoes e do corpo. Esse
importantssimo fato fora-lhe comunicado pelo Dr. William D. Silkwoth, do Hospital
Towns, de Nova Iorque, instituio em que Bill fora internado vrias vezes. Apesar
de mdico, o Dr. Bob no tivera conhecimento de que o alcoolismo era uma doena.
Bob acabou convencido pelas idias contundentes de Bill e logo alcanou sua
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sobriedade, e nunca mais voltou a beber. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE
ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005a).
Ambos comearam a trabalhar imediatamente com os alcolicos internados
no Hospital Municipal de Akron. Como conseqncia de seus esforos, logo um
paciente alcanou sua sobriedade. Apesar de ainda no existir o nome Alcolicos
Annimos, esses trs homens constituram o ncleo do primeiro Grupo de A.A. No
outono de 1935, o segundo Grupo foi tomando forma gradualmente em Nova Iorque.
O terceiro Grupo iniciou-se em Cleveland, em 1939. Havia-se gasto mais de quatro
anos para conseguir 100 alcolicos sbrios, nos trs Grupos iniciais. (JUNTA DE
SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2004).
Em princpio de 1939, a Irmandade publicou seu livro de texto bsico,
Alcolicos Annimos. Nesse livro, escrito por Bill, expunha-se a filosofia e os
mtodos de A.A. a essncia dos quais se encontram agora nos bem conhecidos
Doze Passos de recuperao. Enquanto isso, o Dr. Bob e Bill haviam estabelecido
em Nova Iorque, em 1939, uma Junta de Custdios para ocupar-se da
administrao geral da Irmandade recm-nascida. Alguns amigos de John
Rockefeller, Jr. integravam esse conselho, junto com alguns membros de A.A. Deu-
se Junta o nome de Fundao Alcolica. No entanto, todas as tentativas de se
conseguir grandes quantias de dinheiro fracassaram porque o Sr. Rockfeller havia
chegado concluso prudente de que grandes somas poderiam atrapalhar a
nascente Irmandade. Apesar disso, a Fundao conseguiu abrir um pequeno
escritrio em Nova Iorque, para responder aos pedidos de ajuda e de informaes e
para distribuir o livro de A.A., um empreendimento, diga-se de passagem, que havia
sido financiado principalmente pelos membros de A.A. (JUNTA DE SERVIOS
GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005a).
Apareceu ento, em maro de 1941, no Saturday Evening Post, um excelente
artigo sobre Alcolicos Annimos e a reao foi tremenda. No final daquele ano o
nmero de membros subira a 6.000 e o nmero de Grupos multiplicara-se
proporcionalmente. A Irmandade crescia a passos gigantescos por todas as partes
dos EUA/Canad.
Em 1950, havia no mundo inteiro perto de 100 mil alcolicos em recuperao.
Por mais impressionante que tenha sido esse desenvolvimento, a dcada de 1940 a
1950 foi de grande incerteza. A questo crucial era se todos aqueles alcolicos
volveis poderiam viver e trabalhar juntos em seus Grupos. Poderiam manter-se
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unidos e funcionar com eficcia? Esta pergunta ainda pairava sem resposta. Manter
correspondncia com milhares de Grupos relativamente a seus problemas
particulares chegou a ser um dos principais trabalhos do escritrio de Nova Iorque.
No obstante, no incio de 1946, j era possvel tirar algumas concluses bem
razoveis sobre as atitudes, costumes e funes que se ajustariam melhor aos
objetivos de A.A. Esses princpios, que haviam surgido a partir das rduas
experincias dos Grupos, foram codificados por Bill, sendo hoje conhecidos pelo
nome de As Doze Tradies de Alcolicos Annimos. Em 1950, o caos dos anos
anteriores quase havia desaparecido. Havia-se conseguido enunciar e por em
prtica, com xito, uma frmula segura para a unidade e o funcionamento de A.A.
Durante essa frentica dcada, o Dr. Bob dedicava seus esforos ao assunto
da hospitalizao dos alcolicos e tarefa de incutir-lhes os princpios de A.A. Os
alcolicos chegavam em grande nmero a Akron para obter cuidados mdicos no
Hospital Saint Thomas, uma instituio administrada pela Igreja Catlica. O Dr. Bob
se integrou ao corpo mdico desse hospital e ele e a irm Ignatia, tambm do
pessoal do hospital, prestaram cuidados mdicos e indicaram o programa a cerca de
5.000 alcolicos internados. Aps a morte do Dr. Bob, em 1950, a irm Ignatia
seguiu trabalhando no Hospital da Caridade, em Cleveland, onde contava com a
ajuda dos Grupos de A.A. locais e onde outros 10.000 alcolicos internados
encontraram Alcolicos Annimos pela primeira vez. Esse trabalho foi um grande
exemplo de boa vontade, que permitiu comprovar que A.A. cooperava eficazmente
com a medicina e a religio.
No dia 24 de janeiro de 1971, Bill faleceu de pneumonia em Miami Beach,
Flrida, onde - havia sete meses - pronunciara diante da Conveno Internacional
do 35 aniversrio suas ltimas palavras aos companheiros de A.A.: "Deus os
bendiga, a vocs e a Alcolicos Annimos, para sempre.".
Desde ento A.A. se tornou uma Irmandade mundial, demonstrando que a
maneira de viver de A.A. hoje pode superar quase todas as barreiras de raa, de
credo e de idioma. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS
DO BRASIL, 2005a).
Conforme o Ministrio da Sade, Alcolicos Annimos (A.A.), cuja descrio
"uma comunidade mundial de homens e mulheres que se ajudam a ficarem sbrios,
sendo geralmente reconhecido como um programa eficiente de auto-ajuda para
recuperar dependentes de lcool. (BRASIL, 1997).
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3.2 Histria de A.A. no Brasil
Conforme consta no livro da Junta de Servios Gerais de Alcolicos
Annimos do Brasil (JUNAAB, 2005a) sobre o A.A. no Brasil:
No ano de 1945, um membro viajante norte-americano, de nome Bob
Valentine, amigo de Bill W., de passagem pelo Rio de Janeiro, conhece uma pessoa
tambm americana (no est totalmente definido se era homem ou mulher), com o
nome de Lynn Goodale. Aps uma conversa com Bob Valentine, Lynn encontra a
sobriedade. Esse registro documentado a mais clara evidncia de que a data de
incio do primeiro Grupo de A.A. no Brasil foi 5 de setembro de 1947.
O mais provvel que nessa data deu-se o encontro de Herb com o primeiro
brasileiro que conseguiu manter-se sbrio em A.A. o companheiro Antnio P.,
falecido em meados de 1951, quando tentava recuperar-se de um acidente de
trabalho.
Sem sombra de dvida, a maior dificuldade encontrada por aqueles pioneiros
no Brasil foi o idioma. Os brasileiros que chegavam no entendiam o ingls e os
americanos, residentes ou de passagem pelo Brasil, pouco ou quase nada falavam
em nossa lngua. At mesmo Herb, j h dois anos no Rio, pouco dava "colorido"
aos seus depoimentos em portugus - como ele mesmo mencionou. Hoje
entendemos que s atravs da linguagem do corao, aquela que acontece quando
um alcolico fala com outro, que esses membros se comunicavam.
Para a Junta de Servios Gerais de Alcolicos Annimos do Brasil (JUNAAB)
(2004) a histria de A.A. do Brasil comea em junho de 1946, quando Herb D., que
havia ficado sbrio h um ano em Chicago - EUA, vem para o Rio de Janeiro com
um contrato para trabalhar como diretor artstico de uma empresa americana de
publicidade. Como era novato no programa, sua preocupao imediata foi procurar a
Irmandade na cidade onde ele viveria por trs anos. Alcolicos Annimos,
entretanto, era desconhecida no Rio de Janeiro, embora Herb tivesse alguns nomes
para fazer contato. Visto que nenhum desses companheiros permanecia por muito
tempo no Brasil, a Irmandade ainda no havia criado razes.
Aps alguns meses de tentativas, Herb esperou pelo interesse de bebedores-
problema brasileiros (e havia muitos no Rio naquela poca), para ajudarem-no a
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37
manter-se sbrio e, levando a mensagem, formarem um Grupo no Brasil. Como em
todo o mundo naqueles dias, os alcolicos no Brasil eram considerados um estorvo
social dos quais o verdadeiro lugar era numa clnica psiquitrica ou na delegacia de
polcia.
Em 1947, Herb conseguiu bebedores brasileiros como ingressantes. Um
desses era Antnio P., que parou de beber e manteve-se sbrio com alguma
dificuldade, em virtude da falta de literatura traduzida para o portugus, at sua
morte num acidente em 1951. O outro brasileiro afastou-se. As reunies aconteciam
nas casas de companheiros que estavam sbrios.
O grande apoio a Herb vinha de sua esposa, Libby, uma no-alcolica que o
incentivava muito no seu trabalho de levar a mensagem. Herb tinha uma
correspondncia volumosa com a Fundao do Alcolico e conseguiu publicar
alguns artigos sobre A.A. nos jornais do Rio.
No incio de 1948, graas boa vontade de um bispo episcopal que estava no
Rio, Herb encontrou-se com Harold. Ele era um anglo-brasileiro com um caso de
alcoolismo tido como perdido. Tinha servido o exrcito britnico durante a Segunda
Guerra Mundial, retornando ao Rio de Janeiro em 1946. Nesse nterim, havia
perdido vrios empregos, fora expulso da casa de seus sogros, perdido sua esposa
e, por fim, ido morar no poro da casa de um irmo na cidade de Niteri, do outro
lado da Baa da Guanabara. O bispo e o irmo de Harold arranjaram um encontro
entre os dois para um sbado.
Nesse primeiro encontro, Herb contou a Harold (que havia bebido a manh
toda) a histria de como tinha parado de beber substituindo, gole a gole, a bebida de
seu copo por gua pura, at que passasse a beber somente a gua. Como, aps
muitas tentativas frustradas, ele tinha sido capaz de evitar encher o copo com
bebida alcolica e, assim, evitar o primeiro gole. Ele falou tambm sobre o plano das
vinte e quatro horas, sobre a melhora em sua vida pessoal e empresarial. Por fim,
Herb pediu a Harold que pusesse o sistema em prtica e que, quando ele parasse
de beber.
A Irmandade funciona atravs de mais de 97.000 Grupos locais em 150
pases. Milhes de alcolicos tm alcanado a sobriedade em A.A, mas seus
membros reconhecem que seu programa no sempre eficaz com todos os
alcolicos e que alguns necessitam de aconselhamento e tratamento profissional
(BURNS, 1995).
-
38
A.A. preocupa-se unicamente com a recuperao pessoal e contnua dos
alcolicos que procuram socorro na Irmandade. O movimento no se dedica a
pesquisas sobre alcoolismo ou ao tratamento mdico ou psiquitrico, e no apia
quaisquer causas - embora os membros de A.A. possam participar como indivduos.
(JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL,
2005b).
O A.A. v o alcoolismo como uma doena fsica, mental e espiritual,
progressiva, incurvel e de trmino fatal. Os alcolicos que conhecemos parecem ter
perdido o poder para controlar suas doses de bebidas alcolicas. A.A. pode ser
descrito como um mtodo para recuperao do alcoolismo, no qual os membros
ajudam-se mutuamente, compartilhando entre si uma enorme gama de experincias
semelhantes em sofrimento e recuperao do alcoolismo. (JUNTA DE SERVIOS
GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005b).
A unidade bsica em A.A. o grupo local (do bairro ou cidade) que
autnomo, salvo em assuntos que afetem outros grupos de A.A. ou Irmandade
como um todo. Nenhum grupo tem poder sobre seus membros. Os grupos
geralmente so democrticos, assistidos por "comits de servios" de curtos
perodos de mandato. Desta maneira, nenhum grupo de A.A. tem uma liderana
permanente. (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO
BRASIL, 2005b).
Cada grupo realiza reunies regulares, nas quais os membros relatam entre si
suas experincias - geralmente em relao aos "DOZE PASSOS" (Apndice A)
sugeridos para a recuperao, e s "DOZE TRADIES" (Apndice B) sugeridas
para as relaes dentro da Irmandade e com a comunidade de fora. Existem
reunies abertas para qualquer pessoa interessada, e reunies fechadas somente
para alcolicos. Pessoas que acham que tm problemas com sua maneira de beber
so bem-vindas para assistir a qualquer reunio de A.A.. (JUNTA DE SERVIOS
GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005b).
Membros de A.A. so homens e mulheres provenientes de todos os nveis
sociais, desde adolescentes at pessoas com idade avanada, de todas as raas,
de todos os tipos de afiliaes religiosas, e mesmo sem nenhuma.
Os membros de A.A. ajudam qualquer alcolico que demonstre interesse em
ficar sbrio. Os membros de A.A. podem visitar o alcolico que necessite de ajuda -
embora eles possam sentir que seja melhor para o alcolico solicitar tal ajuda antes.
-
39
Eles podem auxiliar a providenciar uma internao hospitalar. Os escritrios de
servios de A.A. freqentemente sabem onde existem hospitais para tratamento de
alcoolismo, embora A.A. no seja afiliada a qualquer estabelecimento hospitalar.
Os membros de A.A. tm satisfao em compartilhar suas experincias com
qualquer pessoa interessada, seja em conversaes ou em reunies formais.
(JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL,
2005c).
Os doze passos de A.A. consistem em um grupo de princpios, espirituais em
sua natureza que, se praticados como um modo de vida pode expulsar a obsesso
pela bebida e permitir que o sofredor se torne ntegro, feliz e til. (JUNTA DE
SERVIOS GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2004).
Sobre a Orao da Serenidade (JUNTA DE SERVIOS GERAIS DE
ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2005 c):
Conceda-nos, Senhor, a Serenidade necessria para aceitar as coisas que no podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, e Sabedoria para distinguir umas das outras. (JUNAAB, 2005c).
As doze tradies de A.A. ((Apndice B) dizem respeito vida da prpria
Irmandade. Delineiam os meios pelos quais A.A. mantm sua unidade e se relaciona
com o mundo exterior, sua forma de viver e desenvolver-se. (JUNTA DE SERVIOS
GERAIS DE ALCOLICOS ANNIMOS DO BRASIL, 2004).
3.3 Histria do A.A. em Paracatu
No ano 1977 o senhor Carlos Ubirajara Ulha (Zala) com ajuda da famlia saiu
de Paracatu em busca de recuperao. Encontrou apoio no grupo Alvorada A.A. na
cidade de Braslia-DF, j que havia frequentado vrias casas de recuperao,
medicamentos e nada de xito. Para iniciar o tratamento residiu durante trs meses
-
40
em Braslia e aps esse perodo voltou para Paracatu e passou freqentar as
reunies do A.A de Braslia todas as semanas durante um ano. (Informao verbal)1.
Aps um ano combinou com o grupo do A.A de Braslia para fundar o A.A em
Paracatu j sentia necessidade de ajudar os seus conterrneos, pois o ndice de
alcoolismo crescia na cidade. No dia 30 de junho de 1979 aconteceu a primeira
reunio aberta populao no Cine Santo Antnio, ficou completamente lotada
contando com ajuda do mdico Dr. Benjamim Palma.
A segunda reunio aconteceu em 1 de julho de 1979 para as pessoas com
problema de alcoolismo. Carlos Ubirajara Ulha (Zala) e Sebastio Porto saam de
casa em casa convidando as pessoas dependentes do lcool para participar das
reunies do A.A.
Carlos Ubirajara Ulha trabalhava como representante e fazia vrias viagens
nas cidades vizinhas e com sua experincia, sentia necessidade de fundar o A.A.
por onde ele passava e com isso foi possvel ajudar muitas pessoas.
Hoje, existem nove grupos em vrios bairros espalhando pela cidade para
melhor facilitar as pessoas que ali se encontram.
Dentro do A.A. foram criados dois subgrupos de informao as famlias: AL-
ANON (Grupos Familiares um programa de Doze Passos para familiares e amigos
de alcolicos) e AL-ATEEN ( uma diviso de Al-Anon dedicada a pessoas mais
jovens que so afetadas pelo hbito de algum beber).
Quando completou quatro anos de Associao dos Alcolatras Annimos em
Paracatu, a filha de Carlos Ubirajara escreveu uma linda poesia de agradecimento
ao pai pela sua recuperao e ao A.A que tornou isso possvel, essa poesia
(Apndice C), foi to especial que percorreu por vrias cidades do noroeste e muitas
pessoas que liam ficavam comovidas e davam o primeiro passo para parar de beber.
Segundo Carlos Ubirajara Ulha (Zala) ele e o mdico Dr. Benjamim com
apoio das suas respectivas esposas foram os fundadores da A.A. em Paracatu.
1 Informao verbal. Entrevista realizada com o Sr. Carlos Ubirajara Ulha (Sr. Zala) fundador do A.
A. em Paracatu, em maio de 2010.
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41
4 FUNDAMENTAO METODOLGICA
O presente estudo trata-se de um mtodo quantitativo descritivo de campo. O
mtodo quantitativo, segundo Lakatos e Marconi (2006) aquele no qual se utiliza
amostras amplas e informaes numricas. Ele tem o objetivo de garantir a preciso
dos resultados, evitando distores de anlise e interpretao, e possibilitando uma
margem de segurana quanto s interferncias.
Foi utilizada para a pesquisa uma entrevista estruturada, que segundo Lakatos
e Marconi (2006), aquela que segue um roteiro preestabelecido com perguntas
predeterminadas.
A pesquisa foi realizada no municpio de Paracatu MG, localizada na regio
Noroeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE, 2010) o municpio possui rea geogrfica de 8.232,23
Km2. A populao de Paracatu de aproximadamente 83.560 habitantes; situado a
500 km de Belo Horizonte, a capital do estado, e a 220 km de Braslia, capital do
Brasil.
O trabalho foi realizado de janeiro a abril de 2010 pela prpria pesquisadora e
duas amigas que recebeu orientaes devidas quanto aplicao dos questionrios
nas residncias dos moradores cadastrados na Unidade de Sade da Famlia
Chapadinha, que est situada na Rua Esprito Santo 07, sendo a segunda unidade
de atendimento populao implantada no municpio de Paracatu Minas-Gerais,
construda na administrao municipal 1989-1992, onde cinco anos depois, deu-se a
ativao do Programa Sade da Famlia Chapadinha, sb a administrao do prefeito
Almir Paraca Cristovo Cardoso.
Para o levantamento da populao a ser estudada foi obtida pelo Sistema de
Informao de ateno Bsica (SIAB) do ms de Janeiro de 2010, com populao
acima de 15 anos.
Foi realizada uma visita unidade bsica de sade, expondo coordenadora
atual da equipe os objetivos da pesquisa e solicitado consentimento para a
realizao da mesma.
Para Fonseca e Martins (2006) as pesquisas so realizadas atravs de
estudos dos elementos que compem uma amostra extrada da populao que se
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42
pretende analisar. Tornando-se claro que a representatividade da amostra
depender do seu tamanho (quanto maior melhor), visando uma amostra
significativa.
Portanto, foi aplicada a frmula estatstica de Fonseca e Martins (2006) para
obter a amostra a ser estudada.
Populao acima de 15 anos = 2.467 pessoas
N = Z2 . p . q . N .
e. (N-1) + Z2.p. q
N= tamanho da populao 2.467
Z= nvel de confiana95% (1,96)
P= proporo alcoolista
q= proporo no alcoolista
e= erro amostral= 5%
n= (1,96). 0,5. 0,5. 2.467 = 332
(0,5) . (2.467-1) + (1,96). 0,5.0.5
O resultado do clculo de amostragem foi de 332 pessoas.
O trabalho seguiu a Resoluo n 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho
Nacional de Sade (FONTINELE JNIOR, 2003), para participao no estudo foi
necessrio que os mesmos assinassem um termo de consentimento (Anexo A) que
assegurou aos participantes sigilo e anonimato quanto s informaes colhidas.
Os dados procederam da seguinte forma foram realizadas visitas domiciliares
de forma aleatria onde foi exposto o objetivo do trabalho e seguida o consentimento
para a realizao do mesmo e aps foi aplicado o questionrio (Apndice D)
composto de 22 questes; 12 sobre nvel socioeconmico e 10 questes que
Teste de Identificao de Problemas Relacionados ao Uso de lcool (AUDIT) que
incluem trs itens sobre o uso de lcool, quatro sobre dependncia e trs sobre
problemas decorrentes do consumo com uma durao aproximada de 5 minutos e
escores que vo do 0 ao 40. A pontuao igual ou superior ao escore 8 indica a
necessidade de um diagnstico mais especfico.
O AUDIT que instrumento adotado pela Organizao Mundial de Sade
ajuda a conhecer e distinguir os nveis de consumo e dependncia do alcohol.
(BABOR et al., 2003).
http://ads.us.e-planning.net/ei/3/29e9/cfa010f10016a577?rnd=0.3896602696191041&pb=7d53c4f899e35ab8&fi=75b028f3dc84f701&kw=mundial -
43
No final da entrevista foram desenvolvidas orientaes educativas visando
preveno e a promoo da sade mostrando que o alcoolismo doena incurvel,
mas tem tratamento.
Sendo assim, os dados foram avaliados, organizados em tabelas e grficos,
que foram analisados e discutidos pela prpria pesquisadora.
-
44
5 RESULTADOS E DISCUSSO
TABELA 1: Perfil socioeconmico dos usurios entrevistados, PSF Chapadinha,
2010 (continua)
Informaes socioeconmicas N Porcentagem (%)
Faixa etria
15 a 19 anos 52 15,7
20 a 39 anos 171 51,5
40 a 49 anos 66 19,9
50 a 59 anos 23 6,9
Acima de 60 anos 20 6,0
Naturalidade
Paracatu 254 76,5
Outras cidades 78 23,5
Gnero
Feminino 156 47,0
Masculino 176 53,0
Estaco civil
Solteiro 131 39,5
Casado/amasiado 178 53,6
Divorciado/separado 9 2,7
Vivo 14 4,2
Religio
Catlico 250 75,3
Esprita 2 0,6
Evanglico 48 14,5
Ateu 32 9,6
-
45
(concluso)
Informaes socioeconmicas N Porcentagem (%)
Escolaridade
Analfabeto 37 11,1
Ensino Fundamental 193 58,1
Ensino Mdio 91 27,4
Ensino Superior 11 3,3
Ocupao
Desempregado 95 28,6
Cargos operacionais 146 44,0
Cargos administrativos 8 2,4
Aposentados/outros 9 2,7
Do lar 74 22,3
Renda familiar
1 a 2 salrios mnimos 267 80,4
3 a 5 salrios mnimos 35 10,5
6 a 8 salrios mnimos 1 0,3
No sabe 29 8,7
TOTAL 332 100,0
Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no
perodo de janeiro a abril de 2010.
Do total de 332 indivduos que foram entrevistados a distribuio por faixa
etria compreendeu 171 pessoas (51,5%) entre 20 a 39 anos, 66 (19,9%) de 40 a 49
anos, 52 (15,7%) de 15 a 19 anos, 23 (6,9%) entre 50 a 59 anos e 20 pessoas
(6,0%) acima de 60 anos. No estudo de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) com 755
usurios do servio de ateno primria de Bebedouro/SP, houve tambm
prevalncia da faixa etria de 20 a 39 anos correspondendo a 41,3% da amostra.
Observa-se da populao estudada composta por 254 pessoas (76,5%) so naturais
de Paracatu e os demais outras cidades.
Quanto ao gnero, 176 pessoas (53%) so do sexo masculino e 156 (47%) do
sexo feminino. J no trabalho de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) houve prevalncia
feminina com 62,8% dos participantes. De acordo com Silveira (1997) homens que
usam lcool so mais provveis de se tornarem dependentes do que as mulheres
-
46
possivelmente porque bebem mais, embora a gentica tambm desempenhe papel
importante.
Dos dados analisados mostra-se que 178 entrevistados (53,6%) so casado
ou amasiado, os solteiros 131 (39,5%), divorciado ou separado 9 (2,7%) e vivo 14
(4,2%). O que corrobora com o estudo de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) onde a
maioria onde 65,2 so casados ou amasiados. Entre os indivduos entrevistados a
grande maioria declarou-se catlica 250 (75,3%) e os demais outras religies.
Quanto escolaridade 193 (58,1%) tm ensino fundamental, enquanto os
demais esto distribudos 91 (27,4%) ensino mdio, 11 (3,3%) ensino superior e 37
(11,1%) analfabeto. Este estudo coincide com o realizado por Figlie e outros (1997)
realizado em So Paulo, com 275 pacientes hospitalizados revelaram que 67,2%
dos pacientes possuam apenas o ensino fundamental. Tambm no estudo de
Vargas, Oliveira e Arajo (2009) houve prevalncia com 63% dos participantes com
escolaridade de nvel de ensino fundamental. De acordo com Barros e outros (2007)
a faixa de maior escolaridade consome com maior frequncia, porm, o consumo de
maior risco mais elevado no segmento de escolaridade inferior. Observou-se neste
estudo que poucos possuem o ensino superior e h nmero expressivo de
analfabetos dessa populao estudada.
Em relao ocupao dos indivduos entrevistados 146 (44%) possuem
cargos operacionais, 95 (28,6%) desempregados, 9 (2,7%) aposentados/outros, 74
(22,3%) so do lar e 8 (2,4%) possuem cargos administrativos. Percebe-se o
desemprego preocupante e est presente nesta populao estudada.
Resultados semelhantes ocorreram no estudo de Vargas, Oliveira e Arajo
(2009) onde 39,7% dos entrevistados ocupava, cargos operacionais e 28,9% eram
do lar.
Quanto a renda familiar 267 (80,4%) recebem de 1 a 2 salrios mnimos, 35
(10,5%) de 3 a 5 salrios mnimos, 6 a 8 salrios mnimos 1 (0,3%) e que no sabe
29 (8,7%). Nota-se a renda familiar de maior relevncia 1 a 2 salrios mnimos,
portanto, so considerados pobre num pas de grande economias, mas infelizmente
to mau distribudo entre as famlias. J no estudo de Figlie e outros (1997)
revelaram que a maioria 61,5% dos entrevistados tinham renda familiar de 1 a 5
salrios mnimos; e no estudo de Vargas, Oliveira e Arajo (2009) a renda familiar
prevalente com 95,7% tambm foi de 1 a 5 salrios mnimos.
-
47
TESTE AUDIT
47%
16%
5%
11%
21%Cerveja
Pinga
Vinho
Outros
No utiliza
GRFICO 1: Distribuio dos entrevistados, conforme a bebida alcolica consumida, PSF
Chapadinha Paracatu, 2010
Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no
perodo de janeiro a abril de 2010.
Observa-se que a cerveja a bebida alcolica mais consumida por 47% das
pessoas, 16% usam pinga, 11% outras bebidas alcolicas, 5% usam vinho e 21%
no consomem bebidas alcolicas.
importante observar que qualquer bebida alcolica contm a mesma
quantidade de lcool puro por dose padro e que, sob este ngulo, no existe
bebida fraca. Ao beber um copo 300 ml de cerveja, ingere-se a mesma quantidade
de lcool puro (12g) e alcanando 0,2 g/ de sangue (alcoolemia). Ento, de modo
geral, pode-se dizer que 3 copos de cerveja seriam suficientes para atingir a
alcoolemia mxima permitida. (ABREU; LIMA; SILVA, 2007).
Galdurz e Caetano (2004) citados por Ronzani e outros (2007) estimam que
no Brasil 17,1% dos homens e 5,1% das mulheres sejam dependentes de lcool,
mas que apenas 4% deste tenha frequentado algum servio para tratamento. Alm
do peroblema de alta prevalncia, sabe-se que a dependncia do lcool est em
quinto lugar entre os principais problemas de sade entre a populao com idade
entre 15 e 44 anos de idade em todo o mundo em termos de Anos de Vida
Ajustados por Incapacidade (AVAI). Considerando apenas alguns pases da Amrica
Latina, incluindo o Brasil, os transtornos por uso de lcool ocupam a primeira
posio em relao aos AVAI. (BABOR et al., 2003).
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48
21%
29%
3%
16%
31%
Nenhuma
1 ou menos 1 vez por ms
2 a 4 vezes por ms
2 a 3 vezes por semana
4 ou mais vezes por semana
GRFICO 2: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do consumo de bebida alcolica, PSF Chapadinha Paracatu, 2010
Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no perodo de janeiro a abril de 2010.
De acordo com a frequncia ao consumo de bebidas alcolicas 29%
consomem uma ou menos de uma vez por ms, 16% consomem 4 ou mais vezes
por semana, 31% 2 a 3 vezes por semana, 3% 2 a 4 por ms e 21% nenhuma vez, o
que corrobora com os resultados do trabalho de Martins e outros (2008) realizado
em So Paulo, onde mostrou-se que 15,1% dos entrevistados bebem mensalmente
ou menos; e 45% deles bebem de 2 a 4 vezes, ou mais por semana.
Conforme dados do I Levantamento nacional sobre os padres de consumo
de lcool na populao brasileira (LARANJEIRA et al., 2007) realizado na Regio
Sudeste do Brasil, apresentou um padro de consumo de lcool em que 50% da
populao com 18 anos ou mais de idade ingerem bebida alcolica, 6% diariamente
e 18% uma a quatro vezes semana. A cerveja a bebida alcolica mais
consumida, seguida do vinho.
Observa-se que o uso do lcool vem causando considervel prejuzo sade
de todas as populaes, e, sendo essa uma droga lcita, no h restries para seu
consumo, afetando homens e mulheres de diferentes grupos tnicos,
independentemente de classe social, econmica ou mesmo idade. (FORNAZIER;
SIQUEIRA, 2006).
A deteco do beber problemtico, um fenmeno de consumo que antecede
a instalao de um transtorno propriamente dita, essencial para aes de
preveno do alcoolismo. Estudos anteriores demonstram que uma situao de
beber problemtico pode ser detectada em 8 a 20% dos pacientes atendidos em
servios de Ateno Primria Sade. Alm disso, a maior parte da morbidade e da
-
49
mortalidade relacionada ao lcool, na populao geral, incide sobre sujeitos no-
dependentes, que habitualmente no chegam a procurar servios especializados em
tratamento de alcoolistas. (RIBEIRO et al., 2001 apud RONZANI et al., 2007).
De acordo com o II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotrpicas envolvendo 108 maiores cidades do pas, a distribuio dos 7939
entrevistados, segundo uso de bebida alcolica ficou assim distribudo: 74,6% j
consumiu alguma vez na vida, 49,8% consumiu no ano e 38,3% fez uso no ms.
(CARLINI et al., 2007).
21%
10%
9%
14%
25%
21% Nenhuma
1 a 2 doses
3 a 4 doses
5 a 6 doses
7 a 9 doses
10 ou mais doses
GRFICO 3: Distribuio dos entrevistados, quanto ao nmero de doses de bebida alcolica
consumidas em dia de consumo, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no
perodo de janeiro a abril de 2010.
Quanto ao nmero de doses de bebida alcolica consumida em um dia tpico,
21% bebem 10 ou mais doses, 10% consomem 1 a 2 doses, 9% consomem 3 a 4
doses, 14% 5 a 6 doses, 25% 7 a 9 doses por dia e 21% no consomem. De acordo
com Martins e outros (2008) o padro de beber nestas ocasies alto, pois 66,6%
bebem 5 ou mais doses por dia. Tambm coincide com o estudo de Barros e outros
(2008) onde 62,8% dos entrevistados consomem cinco ou mais doses em dia tpico.
Dados mostram claramente que o uso abusivo de bebida alcolica est cada
vez aumentando em nosso meio, necessitando urgentemente de medidas
educativas por profissionais de sade e todas as autoridades governamentais.
A alta frequncia de problemas relacionados ao consumo excessivo de
bebidas alcolicas, inclusive em nosso meio, comprova-se a importncia da
abordagem do alcoolismo, o qual, muitas vezes, no diagnosticado por
profissionais de sade. (ROSA et al., 1998).
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50
39%
9%9%
14%
29%
Nunca
Mensalmente
Menos que mensalmente
Semanalmente
Diariamente
GRFICO 4: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia do consumo de 6 ou mais
doses de bebida alcolica numa mesma ocasio, PSF Chapadinha Paracatu, 2010 Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no
perodo de janeiro a abril de 2010.
Os dados mostram que 29% consomem 6 doses semanalmente, 9%
mensalmente, 9% menos que mensalmente, 14% diariamente e 39% nunca
consomem. No trabalho de Martins e outros (2008), ao avaliar o beber
embriagando-se, 44,5% dos entrevistados relataram beber seis ou mais doses
semanalmente.
Este estudo est em concordncia com o trabalho realizado por Barros e
outros (2008) onde 9,6% tomam seis ou mais doses pelo menos uma vez ao ms.
De acordo com Costa e outros (2004) o uso abusivo de lcool elevado e
acarreta inmeras consequncias negativas para a sade e qualidade de vida dos
indivduos. Os resultados indicam uma alta prevalncia de consumo abusivo de
lcool e identificam alguns subgrupos da populao mais suscetveis ao alcoolismo.
14%18%
14%
38%16%
Nunca
Mensalmente
Menos que mensalmente
Semanalmente
Diariamente ou quase
GRFICO 5: Distribuio dos entrevistados, conforme a freqncia durante os ltimos 12 meses percebeu que no conseguia parar de beber, uma vez que havia comeado, PSF
Chapadinha Paracatu, 2010 Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo com usurios cadastrados no PSF Chapadinha, no
perodo de janeiro a abril de 2010.
-
51
De acordo com o grfico 5, conforme a freqncia durante os ltimos 12
meses percebeu que no conseguia parar de beber, uma vez que havia comeado,
38% dos entrevistados afirmaram nunca ter acontecido com eles, 18% menos que
mensalmente, 16% semanalmente, 14% diariamente e 14% mensalmente. No
trabalho de Martins e outros (2008) 43,6% dos entrevistados relataram nunca terem
tido esta experiencia e 20,2% declararam acontecer menos que uma vez ao ms.
Declaram-se concepes negativas frente ao uso do lcool as que mais
aparecem so do lcool como uma substncia txica, capaz de modificar o
comportamento e a personalidade do indivduo que a consome. Substncia que tem
poder txico que altera o comportamento do indivduo, viciando, alterando o seu
psiquismo, tirando-o da normalidade. (VARGAS; LUIS, 2008).
Para Coutinho (1992), a dependncia psicolgica, que se traduz num grande
desconforto na ausncia de lcool, de difcil determinao dada a sua
subjetividade. J a dependncia fsica constitui-se num critrio muito restritivo, pois
se caracteriza pelo aparecimento de sintomas de abstinncia, os quais podem estar
ausentes em indivduos que j apresentam problemas ligados ao consumo do lcool
e outro lado, a definio baseada nos problemas relacionados ao lcool pressupe
que o fato de algum beber at apresentar dificuldades importantes na vida indica
uma incapacidade da pessoa em interromper o uso de bebida alcolica.
16%
15%
11%41%17% Nunca
Mensalmente
Menos que mensalmente
Semanalmente
Diariamente ou quase
GRFICO 6: Distribuio dos entrevistados, conforme quantidade de vezes durante o ano passado deixou de fazer o que era esperado devido ao uso de bebidas alcolicas, PSF Chapadinha Paracatu, 2010