Consumo, violência e juventude - Ilanud Brasil

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    Consumo,

    ViolnciaeJuventude

    SumrioExecutivo

    Julho|2010

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    FICHATCNICA

    Realizao

    GovernodoEstadodeSoPaulo|SecretariadaJustiaedaDefesadaCidadania|FundaodeProteoe

    DefesadoConsumidorDiretoriadeRelaesInstitucionais

    InstitutoLatino-AmericanodasNaesUnidasparaPrevenodoDelitoeTratamentodoDelinquente

    IlanudBrasil

    DiretoriaExecutiva

    PaulaMiraglia

    CoordenaoGeral

    AlineYamamoto

    Pesquisadoraresponsvel

    NatliaBouasdoLago

    EquipedePesquisa

    DennisvanWanrooij

    MarianaZanataThibes

    PesquisadoresdeCampo

    AdaltonJoseMarques

    ClaudiaDIpolittodeOliveiraScir

    GlauciadaSilvaDestrodeOliveira

    JosAgnelloAlvesDiasdeAndrade

    NatliaFelixdeCarvalhoNoguchi

    TalitaPereiradeCastro

    ApoioFabianaRizzodeMouraLeibl

    MarinaNunesRodriguesdeMenezes

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    |ndice|

    |Apresentao|.......................................................................................................................................3

    |Introduo|...........................................................................................................................................4

    |NotassobreaMetodologia|..................................................................................................................6

    Definiodaamostra .................................................................................................................................... 6

    |Asdinmicasdoconsumoedaviolncia|...............................................................................................8

    DoPerfil:quemsoosadolescentes? .......................................................................................................... 8

    Doshbitos:oquefazerdavida?............................................................................................................... 11

    Avontadedecomprar ................................................................................................................................ 14

    Daspercepes:comoosadolescentesenxergamaviolncia?................................................................. 16

    Dasinfraescomoosadolescentespodemserviolentos?.................................................................... 18

    |Concluseserecomendaes| ............................................................................................................20

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    |Apresentao|

    A despeito da frequente meno ao consumo como fator relevante compreenso das dinmicas daviolncia, sobretudo as relacionadas autoria de infraes pela juventude, os estudos que relacionam

    essestrstemassoquaseinexistentesquandomuito,trabalhamaquestodajuventudealiadaauma

    dasoutrasduasquestes.

    O presente projeto foi delineado partindo desse cenrio, que muito reproduz e pouco conhece as

    implicaesentreconsumo,violnciaejuventude.

    Nesse relatrio, socompiladasas informaescoletadasno mbitodapesquisa Consumo, Violncia e

    Juventude,contratadapelaFundaoProcon-SPerealizadapelooIlanudentreosmesesdenovembrode

    2009amaiode2010.

    A iniciativa, de carter piloto, obteve informaes sobre os temas citados junto a trs grupos de

    adolescentes:i)aquelesemcumprimentodemedidassocioeducativasemmeioaberto;ii)moradoresde

    um distrito de alta vulnerabilidade social (Brasilndia); e iii) moradores de um distrito de baixa

    vulnerabilidadesocial(Perdizes).

    Esperamos que esta pesquisa possa contribuir para a reflexo acerca das relaes entre consumo e

    violnciaem setratandodeadolescentes e jovense, sobretudo,estimularaproduode conhecimento

    sobreessestemas.

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    |Introduo|

    A pesquisa teve comoponto departidaa reviso dabibliografia existente sobre consumo, violncia e

    juventude para, posteriormente, realizar a coleta de dados junto aos adolescentes em cumprimento de

    medidas socioeducativas em meio aberto, bem como aos grupos de controle, compostos pelos

    adolescentesresidentesnosdistritosdeBrasilndiaePerdizes.

    Comoobjetivodeconheceraproduocientficasobreostemasdapesquisa,foramselecionadosartigos,

    dissertaes,teses,livroserelatriosquecontinhamconceitoseelementosrelevantesconstruodos

    instrumentoseroteirosparaapesquisadecampo,bemcomoanlisedosdados.

    De modo geral, o levantamento bibliogrfico aponta para uma produo consistente sobre juventude

    aliada a umdos outrosdois temas, violncia ou consumo. No entanto, so escassos os trabalhos queatentamparaaidentificaoeanlisedasrelaesentreostrsassuntos,conjuntamente.Issoreforao

    carterinovadordoprojetoeaimportnciademelhorconheceraspossveisimbricaesentreeles.

    importantefrisarquearevisobibliogrficafoiconsideradanaanlisedosdados,massemprecomo

    cuidadodesuperarosdiscursosdecriminalizaodapobrezaenoreduziroenvolvimentoematividades

    ilcitas incapacidadeoudificuldadede inserona sociedadede consumo.Nessesentido,oconsumo

    investigadocomoelementoa serconsideradona construodas identidades,sobretudoas juvenis, sem

    pretenderanalis-locomocausanicaparaprticasviolentasouilegais.Oprojetopartedapremissaque

    todoequalquer ato violento oudelituosopossuinaturezamulticausal1enopretendebuscarsolues

    genricasparaestesfenmenos.

    Porfim,valedizerqueapesquisabuscouinvestigaraviolnciaenquantocategoriaquevaialmdosatos

    considerados ilcitos e tipificados pelo Cdigo Penal, incluindo no escopo da ao violenta prticas

    cotidianasnopassveisdeumapuniolegal.

    Garantiadedireitoseaviolncia

    Osadolescentesejovenstambmso,hoje,asprincipaisvtimasdaviolnciaurbananopas.Deacordo

    comoIHA,ndicedeHomicdiosnaAdolescncia,lanadoemjulhode2009 2,emmdia2,03emcada

    1.000adolescentesmorreroantesdecompletar19anosdeidadenoBrasil.Noentanto,aviolncialetal

    contraadolescentesnosedistribuideformahomogneanoterritrio.

    Noquetangeaoperfildasvtimas,oestudomostraqueaprobabilidadedeservtimadehomicdioquase

    dozevezessuperiorparaosexomasculino,emcomparaocomofeminino,emaisdoqueodobroparaos

    negrosemcomparaocomosbrancos.

    1Compreenderaviolnciapassapelainvestigaodeinmerosfatoressociais,culturais,econmicos,aexistnciadepolticasderepressoqualificada,etc.(Londoo,1998,yArriagadayGodoy,1999).2

    O IHA(ndicedeHomicdiosnaAdolescncia)foicriadocomoobjetivodeexemplificaroimpactodaviolncialetalnestegruposocialdeumaformasimples,sintticaequeajudassenamobilizaodaspessoasparaagravidadedoproblema.

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    Dessaforma,importanteressaltaradeterminaosocialdofenmenodaviolncianajuventude,oque

    equivaleadizerqueoriscoaqueum jovemse encontraexpostodeenvolver-seemsituaesviolentas

    variaconformeocontextosocialemqueeleestinserido.

    Aindaqueospoucosdadosexistentessobreaautoriadoscrimesapontemparaumasignificativapresena

    dajuventudeentreosperpetradoresdeaesviolentas,sobretudoaose tratardejovensentre18e 24

    anos,hhojeumaforteperspectivadecriminalizaodaadolescnciabrasileiraeasuperestimaodos

    delitoscometidospor adolescentes nouniverso decrimes, sobretudoquando so delitoscontra avida.

    InformaesdaSecretariadeDireitosHumanosdaPresidnciadaRepblicaindicamqueapenas0,2%do

    universodeadolescentesnopascumpremedidasdeprivaodeliberdadeemdecorrnciadaprticade

    atosinfracionais3.

    Por fim, reconhecendo a violncia como um fenmeno multicausal, so muitos os aspectos a serem

    investigadosparaasuaanliseeentendimento.Oconsumo,geralmente,apontadocomoumdosfatores

    que pode contribuir para a violncia. Assim, a pesquisa procurou se debruar sobre tal hiptese,

    discutindo-a e qualificando-a a partirda abordagem realizada comadolescentes e jovens de diferentes

    realidades do municpio de So Paulo, com maior destaque para aqueles que, pela prtica de atos

    infracionais, foram inseridosno sistemade justia juvenil (destinadoaosadolescentes de12 a 18 anos

    incompletosquepraticaramdelitos).

    3SecretariadeDireitosHumanos.LevantamentoEstatsticodoNmerodeAdolescentesCumprindoMedidasSocioeducativas,no

    Brasil,emjaneirode2004 .Disponvelem:http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/.arquivos/.spdca/mapa2004.pdf

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    |NotassobreaMetodologia|

    Para identificar as relaes existentes entre consumo, violncia e juventude, utilizou-secomo principalmetodologia a realizao de entrevistas orientadas por um questionrio quanti-qualitativo que buscou

    abarcartemascomooshbitosdosadolescentes,atividadespreferidas,prticasedesejosdeconsumoeas

    percepessobreaviolncia.

    A pesquisa de campo consistiu na aplicao desse questionrio junto a trs grupos de adolescentes: i)

    aqueles em cumprimento demedidas socioeducativas emmeio aberto nomunicpio de So Paulo; ii)

    adolescentes moradores de Perdizes, um distrito de baixa vulnerabilidade social4; e iii) adolescentes

    moradoresdaBrasilndia,umdistritodealtavulnerabilidadesocial,sendooprimeirooprincipalfocode

    anlisedapesquisaeosdemais,osgruposdecontrole.

    Alm disso, antes da etapa de campo, foram realizados dois grupos de consulta para verificao doinstrumentodepesquisaedasuaeficcianodilogocomosjovens.UmdelesaconteceunobairrodaVila

    Nova Cachoeirinha, regio demdia/alta vulnerabilidade juvenil e o outro emMoema, local de baixa

    vulnerabilidadejuvenil.Asopiniesepercepesdosjovensqueparticiparamdadinmicacontriburam,

    de forma efetiva, para a elaborao do questionrio e auxiliaram na compreenso dos elementos

    observadosemcampo.

    Outras duas atividades de consulta foram desenvolvidas, envolvendo especialistas nas temticas da

    pesquisa. A primeira reunio, realizada em14 de janeiro de2010, teveo propsito dediscutir temas,

    abordagens e ideias para auxiliar na construo do questionrio e identificar aspectos relevantes de

    anlise; a segunda, por suavez, aconteceu em29de abril de2010 para a discusso da sistematizaopreliminardosdadoscoletadosemcampo.

    DefiniodaamostraAdefiniodaamostradosadolescentesemcumprimentodemedidassocioeducativasemmeioaberto,

    quecompeo focodapesquisa,bemcomoaseleodosbairrosdePerdizeseBrasilndia,obedeceuas

    especificidadesdecadagrupo.

    Comomencionadoanteriormente,osadolescentesresidentesemdistritosdealtaebaixavulnerabilidade

    foramtratados,parafinsdapesquisa,comogruposdecontrole,semrepresentar,portanto,umaamostraestatstica fiel ao universo de jovens dessas regies5. Os dados coletados junto a esses grupos foram

    utilizadosnaconstruodecritriosdecomparaoemrelaoaosadolescentesquecumpremmedidas

    socioeducativas.

    A escolhapor focar a pesquisa nosadolescentes em cumprimentodeMSEparte da hiptese bastante

    reproduzida pelos atores do sistema de justia de que as experincias infracionais dialogam com o

    consumo.Aimportnciadosgruposdecontrolereside,justamente,nanecessidadedetestarumapossvel

    4Paraadefiniodosdistritosdebaixaealtavulnerabilidade,utilizou-seondicedeVulnerabilidadeJuvenil(IVJ),elaboradopela

    FundaoSeade.5Ocarterpilotodapesquisaeseucurtoperododeexecuomotivaramtalescolhametodolgica.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    relao entre a prticade atos de violncia,no necessariamenteconsiderados delitospela leipenal e

    eventualmenteligadosaoconsumo,emadolescentesdedistintosperfissociaisequenopassarampelo

    sistema de justia. Menos que uma anlise entre diferentes classes sociais, considerou-se como fator

    relevantenainvestigaoaseletividadedosistemapunitivo,quenotadamentereproduzestigmassociaise

    criminalizamjovenscomdeterminadosperfis.

    Grupo1:Adolescentesemcumprimentodemedidassocioeducativas

    Apesquisa realizouentrevistas comadolescentes inseridosemdois tiposdemedidassocioeducativas,a

    PrestaodeServioComunidade(PSC)eaLiberdadeAssistida(LA),ambasexecutadasemmeioaberto.

    NomunicpiodeSoPaulo,ocumprimentodessasmedidasacompanhadoporprofissionaisdosNcleos

    deProteoPsicossocialEspecial(NPPEs)6

    .

    Dototalde4.629adolescentescumprindoLAe/ouPSCnos51NPPEsdomunicpio7,foramrealizadas129

    entrevistas,incluindoadolescentesdosexomasculinoefeminino.Aamostrarepresenta,assim,2,78%do

    universo.Asentrevistasbuscaramcontemplarumarepresentaoregionaldosncleos.Todasas5regies

    (Norte,Sul,Sudeste,LesteeOeste)foraminvestigadasem,pelomenos,2ncleosdiferentesemcadauma.

    Grupo2:Adolescentesresidentesemdistritosdealtaebaixavulnerabilidade

    Emrelaoaosgruposdecontrole,adolescentesresidentesemregiesdealtaebaixavulnerabilidadee

    quenocumpremmedidassocioeducativas,foramrealizadas81entrevistas,distribudasentreosbairrosdeBrasilndiaePerdizes,respectivamente.Aescolhadaslocalidadesfoifeita,sobretudo,apartirdondice

    deVulnerabilidadeJuvenil(IVJ)daFundaoSeade.

    AsentrevistasforamrealizadasnoEspaoCrianaEsperana(ECE)8,nobairrodaBrasilndia;emPerdizes,

    foramentrevistadosestudantesde3colgiosdistintos 9.

    6OsNPPEssoorganizaesno-governamentaisqueexecutamapolticadeatendimentosocioeducativodomunicpiodeSoPaulopormeiodeconvniocomaSecretariaMunicipaldeAssistnciaSocial(SMADS).7AinformaosobreouniversodeadolescentesinseridosnomeioabertofoiconcedidapelaPrefeituraMunicipaldeSoPauloatravsdaSecretariaMunicipaldeAssistnciaSocialSMADS.Osdadosreferem-sesistematizaodosatendimentosrealizadosnoprimeirosemestrede2009.8 Coordenado pelo Instituto Sou da Paz, o espao oferece cursos e atividades voltadas cultura e esportes a crianas e

    adolescentesdaregio.9ColgiosGlobal,PentgonoeSoDomingos

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    |Asdinmicasdoconsumoedaviolncia|Aapresentaodosdadossegueaestruturadoquestionrio,organizadopor:i)perfil;ii)hbitos(atividadescotidianaseprticasdeconsumo);iii)percepessobreaviolncia;eiv)aautoriadeinfraes.

    OfocodaanlisesoosadolescentesquecumpremLAe/ouPSC10,sendoqueasinformaescoletadas

    junto aos distritos de Perdizes e Brasilndia sero apresentadas apenas quando relevantes para a

    comparaocomoprincipalgrupopesquisado.

    DoPerfil:quemsoosadolescentes?

    Demodogeral,asinformaesobtidasconfirmamosdadosjexistentessobreadolescentesquecumpremmedidassocioeducativas:identificou-seumamaiorpartedepretosepardos,comdefasagemidade-srie

    noqueserefereaosestudos,umaltondicedeevasoescolar 11eumarelaoprecocecomomundodo

    trabalhonagrandemaioriadasvezes,otrabalhoinformal.

    Na realizao do campo, buscou-se fidedignidade s informaes j existentes quanto ao perfil dos

    adolescentes emcumprimentodemedidas socioeducativas emmeio abertonoque se refere a sexo e

    idade. Assim, a maior parte dos 129 adolescentes em cumprimento deMSE entrevistados do sexo

    masculino(92%),sendoqueapenas8%sodosexofeminino 12.

    Com relao idade, partiu-se da informao do Mapeamento Nacional que apontava uma maior

    prevalncia de adolescentes entre 16 e 17 anos em cumprimento deMSE emmeio aberto. Assim, apesquisabuscouessamesmaproporo, tendo52%dosadolescentesentrevistados entre16e 17anos;

    25%entre12e15anos;e23%entre18e21anos.

    Cor

    Porserumaspectodiretamenterelacionadovitimizaopelaviolnciaurbana,outroelementorelevante

    anlisedoperfildosadolescentesasuacorouraa.Nasentrevistas,apesquisaabordouessaquestoa

    partirdaautodeclarao13dosadolescentes,ouseja,dequemaneiraelesseidentificamquantosuacor 14.

    Verificou-se,entreosadolescentesquecumpremmedidassocioeducativas,umaconsidervelprevalncia

    depretosepardos,quejuntosrepresentam64%dosadolescentes.Ainda,27%sedeclararambrancos,3%

    indgenase1%amarelos.

    10 Quando o textose refere a adolescentes, semespecificao, as informaes dizemrespeito queles emcumprimentode

    medidas socioeducativas, foco da pesquisa. Nos casos em que forem citados os entrevistados de Perdizes e Brasilndia, taldiferenciaoserapresentada.11InformaesdoMapeamentoNacionaldeMedidasSocioeducativasemMeioAberto(Ilanud,2007)apontamqueamaiorparte

    dosadolescentesemcumprimentodemedidastementre16e17anosecursaoensinofundamental.12Ressalta-sequeapesquisanotemcomoobjetivoretratarigualmenteosgneros,muitomenosfazerumaanliseaprofundada

    deles, mas represent-los conforme o contexto analisado. A proporo pesquisada obedece as informaes coletadas noMapeamentoNacionalsupracitado.13Apesquisaescolheuadotaressaprticanasentrevistasusandocomorefernciaasuautilizao,peloIBGE,nacoletadedados.

    14

    Aautodeclaraofoifeitaapartirdaleitura,pelopesquisador,dascategoriasdecor/raaestabelecidaspeloIBGE:branca,preta,parda,indgena,amarela.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Entre osadolescentes dosgruposdecontrole,humagrandemaioria deentrevistados autodeclarados

    brancosemPerdizes,eumamaioriadepardos,naBrasilndia.

    Pode-se perceber, portanto, a prevalncia de adolescentes pretos e pardos cumprindo medidas

    socioeducativas,japontadaemdiversaspesquisasanteriores.Taldadopodeserproblematizadoapartir

    daconstataodequeoSistemadeJustiaseletivo,reproduzestigmassociaiseatinge,portanto,pessoas

    maisvulnerveisporquestesdeclasse,locaisderesidncia,escolaridadee,tambm,coreraa.

    Religio

    Assimcomoacorpodeserumfatordevitimizao,aprticadeumareligiopodeserentendidacomoum

    fatordeproteosocial15.

    Contudo,amaioriadasrespostas(65%)entreadolescentesemcumprimentodemedidassocioeducativas

    indicaqueelesnopraticamatividadesreligiosas.EssesnmerosserepetememPerdizes,onde60%dos

    entrevistadosdizemnopraticarqualquerreligio.

    NaBrasilndia verificou-se,poroutrolado, umaprevalnciadeadolescentes quepossuemalgumcredo

    (59%dosentrevistados).

    Escolaridade

    Osdadosdapesquisaindicamque64%dosadolescentesemMSEafirmamestudar,enquanto36%esto

    foradaescola.

    Aquantidadedeadolescentesquenoestudasignificativa,aindamaisquandoselevaemcontaqueum

    dos elementos do cumprimento da liberdade assistida e da prestao de servios comunidade a

    inseronaeducaoformal.Agrandeproporodeadolescentesemcumprimentodemedidasqueest

    fora da escola indica que a evaso escolar16 dialoga com a situao de vulnerabilidade comumente

    relacionadaprticadeumatoinfracional.

    DosadolescentesemMSEqueestudam,59%cursamoensinofundamental.H,portanto,umdficitde

    escolaridadeseconsiderarmosque75%dessegrupotemmaisde16anos,idadecompatvelcomoensino

    mdio.EssequadronosereproduznaBrasilndia,tampoucoemPerdizes.

    Trabalho

    Dos adolescentes emcumprimentodemedidassocioeducativas,81%delestrabalhaou jtrabalhouemalgummomentodesuavida.

    Nota-sequetrabalharinterpretado,namaiorpartedasvezes,comoumaatividadequegerarenda,seja

    elaformalouinformal.Aolongodasentrevistaspde-seperceberqueotrabalhoformalumasituao

    excepcionaleasatividadesempregatciascomumenterelacionam-seaserviostemporriosouinformais.

    Renda

    15 Elemento tambm apontado por alguns dos integrantes da primeira reunio de consulta com especialistas em consumo,

    violnciaejuventude.16

    OsdadosdeevasoescolardomunicpiodeSoPauloumdosfatoresutilizadosparaaconstruodo ndicedeVulnerabilidadeJuvenil(IVJ)daFundaoSeade.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    OsadolescentesemMSEresponderam,emsuamaioria(56%doscasos),quenopossuemrendamensal

    individual.EssedadocoincidecomasinformaeslevantadasemPerdizeseBrasilndia.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Doshbitos:oquefazerdavida?

    Faotudoquequero 17.

    Deitarnacamaeficarsossegado,comumacompanhiadolado,nohcoisamelhor.

    Entenderasdinmicasrelacionadasaoquefazemcomoseutempolivre,dequemaneiraseinformama

    respeitodomundoe,ainda,comocompramese compramoquequerem,ofereceelementosparauma

    compreenso das prticas que os envolvem, as estratgias utilizadas para concretizar essas prticas e

    tambmasmaneirasdeconstruirsuasidentidades.

    Demodogeral,percebe-sequeosadolescentesrealizamatividadespoucodiversificadasnoseucotidiano.

    Atelevisopossuipresenasignificativanoseudiaadiaeelesquasenoparticipamdeatividadesque

    envolvamaorganizaoemgrupossejamelasrelacionadasaONGs,igrejas,esportesouartes.Oshbitos

    edesejosdeconsumoso,porsuavez,majoritariamentecompostosporprodutoscomoroupasesapatos

    epelavontadedepossuirumamotoouumcarro(muitasvezes,osdoisaomesmotempo).

    Atividadesmaisfrequentesepreferidas

    Em ordem de relevncia, as cinco atividades mais realizadas18 so19: ouvir msica, assistir televiso,encontraramigos,ficar/namorar eassistirfilmesemcasa.A sistematizaodafrequncia comaqualos

    adolescentesrealizamasatividadesindicaqueorepertriodeopesrestritoaosespaosdasuacasa

    (ouvirmsica,assistirTV,assistirfilmesemcasa)esrelaescompessoasprximasdoconvvio,como

    amigos(as)enamorados(as).

    Pode-se dizer que os adolescentes pesquisados, independente do bairro onde residem ou do seu

    envolvimentocomatosinfracionais,possuemsemelhanasnoquesereferesprticasmaispresentesem

    seucotidiano.Essaconstataofortalecidanoquesereferessuasatividadespreferidas:asprticas

    esportivas aparece em primeiro lugar de preferncia tanto nos grupos de controle como para os

    adolescentes que cumprem uma medida socioeducativa. A vontade de encontrar os amigos e usar ocomputadortambmsocomunsaostrsgrupos.

    17 A partir dessemomento do relatrio, todo tpico que se inicia ter como epgrafe umaoumais frases dos adolescentes

    entrevistadospelospesquisadoresdecampo.18Asatividadesmaisrealizadassoaquelasqueosadolescentesafirmamrealizarpraticamentetodososdiasouaomenosumavez

    nasemana.19Asatividadesmaisrealizadaspelosadolescentesforaminvestigadasapartirdeumaperguntacom22 aespr-estabelecidas,

    maisapossibilidadedeinclusodeatividadesnacategoriaoutra.Paraveraquesto,consultaroquestionrionoVolumeIIdesserelatrio.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Comrelaoaoreconhecimentodelimitaesparaarealizaodeatividades,osadolescentesemMSE,em

    sua maioria (60%), afirmam no deixar de realizar as atividades que gostam, caracterstica tambm

    encontradaentreasrespostasdosresidentesnaBrasilndiaaindaqueemmenorproporo(51%).

    J osmoradoresdePerdizes afirmam, emmaior proporo, deixar de realizar o que gostam (62% das

    respostas).Oprincipalobstculorealizaodeatividades(sendoasmaiscitadasasprticasesportivas)

    tambmafaltadetempo,ressaltandoquenestegrupo,hadolescentesqueindicamanopermisso

    dospaisouresponsveiscomoumimpeditivo.

    AquantidadedeadolescentesemMSEqueafirmamnoterimpeditivosparaaprticadassuasatividades

    preferidas relevante, ainda mais se considerarmos que essa fase da vida marcada por limitaes

    (geralmenteimpostaspelosadultos)quesesomamsdificuldadesrelacionadasaocontextoemquevivem,

    commenorofertaepioracessoadeterminadosservioseequipamentos.

    Sendoassim,ainexistnciadeimpedimentospodeserinterpretadatantocomoumarealpossibilidadede

    sefazeroquesequerindependentedeobstculoscomodistncia,limitaesfinanceiraserestriesdos

    familiares,mastambmpodedarindciosdaexistnciadeumrepertriolimitadodeatividades(oque

    torna mais fcil realiz-las), de um menor controle social (nesse caso, exercido pela famlia) e,

    consequentemente,deumamaiorautonomia-ou,aomenos,deumacrenadequeessaautonomiaexiste

    epodeserpraticadasemrestries.

    Alm disso, as informaes obtidas indicam uma participao pequena dos adolescentes emMSE em

    atividadescoletivas,embora encontraramigossejaumadasaesmaispresentesemsuasvidas,tanto

    entreaquelesquecumpremmedidasquantoentreosouvidosnosbairrosdePerdizeseBrasilndia.

    Dosmeiosdecomunicao

    ATVeainternetrepresentam,juntas,75%dosmeiosdecomunicaomaisacessadospelosadolescentes,

    commaiorpresenadaprimeira(43%)emrelaosegunda(32%).

    Osadolescentesdosgruposdecontroleindicamqueatelevisotemmenorrelevnciaemsuasvidascomo

    principalmeiodecomunicao.Emambososbairros,ainternetjaformamaisutilizadaparaacesso

    informao,comdestaqueemPerdizes(onde80%dosentrevistadosafirmamutilizarmaisainternetdo

    quequalqueroutroveculo).Valedestacarqueosjornaiserevistassaparecemcomomeiosdecomunicaomaisutilizadosentreos

    entrevistadosdaBrasilndia,edeformapoucosignificativa.

    Taisinformaessugeremqueosadolescentespesquisadosnopossuemohbitodeler,sobretudose

    considerarmosapoucamenoderevistasejornaiscomomeiosdecomunicaoeofatodealeiturano

    aparecer como umaatividade frequente e serpouco citadaentre aspreferidaspara o tempo livre.No

    entanto, preciso considerar que os jovens podem acessar outras ferramentas de leitura, geralmente

    associadasaocomputador.

  • 7/28/2019 Consumo, violncia e juventude - Ilanud Brasil

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Asrespostasrelacionadasaosprincipaisacessosinternetdocontadequeasredessociais(como Orkute

    Facebook)eferramentasdecomunicaoinstantnea(como MSNMessenger,GoogleTalk eSkype)so,

    juntos,osmaisindicadospormetadedosadolescentesemMSE.

    Identificou-setambmqueafrequnciadousodainternetmaiorentreosentrevistadosdosgruposde

    controle,sendoqueosresidentesemPerdizessoosquemaisaacessam.Maisde30%dosadolescentes

    emMSEnoutilizamaredevirtualouofazemraramente,enquantoquemetadedosentrevistadosde

    Brasilndiaafirmaseconectarinternetpraticamentetodososdiasdasemana 20;emPerdizes,todosos

    entrevistadosaacessam,nomnimo,algumasvezesporsemana.

    Os indicadores de frequncia no uso da internet entre todos os entrevistados apontam que a

    democratizaodessemeiodecomunicaoestligadaaocontextosocialdosjovens.Osadolescentesem

    MSEsoosquemenosautilizam,seguidospelosentrevistadosdaBrasilndia.Perdizes,obairrodebaixa

    vulnerabilidade juvenil, o nico onde todos os entrevistados acessam a internet, mesmo que no

    diariamente.

    Ainda,apresenadatelevisonavidadosadolescentesemMSEfoiumfatorbastantesignificativoentreas

    respostasrelacionadassatividadesfrequentesesformasdeacessoinformao.

    Ainda quea TV seja omeio de comunicaomais utilizadopelos adolescentes, a internet obtevemais

    citaesquandoindagadosarespeitodapreferncia.Detodomodo,tambmnainternetconsidervelo

    nmerodeannciosedemarketingdirecionadosajovens,bemcomodefacilidadesdecompraqueatraem

    essesegmento.Asprpriasredessociais,como OrkuteYoutubepassaramahospedarannciosemseus

    sites.Juntos, televiso e internet, criam poderosos padres de necessidades, desejos, sentimentos e

    comportamentos,levando,muitasvezes,frustrao,insatisfaoebaixaautoestimadadasasdificuldades

    emalcanara visodefelicidadee sucessoveiculadasnessesmeiosde comunicao,muitoatreladas

    imagemecondiosocial.

    Arespeitodainfluncia21queaspropagandasexercemnasvidasdosadolescentesemMSE,maisde70%

    respondeuqueelanoexiste.OsentrevistadosemPerdizeseBrasilndia,porsuavez,indicaram,emsua

    maioria,aexistnciadeinflunciadaspropagandasemsuasvidaseselembramcommaisfrequnciadas

    publicidadesexistentes.

    Nesse aspecto, preciso considerar que a influncia desses meios de comunicao nem sempre

    conscienteoquemuitoexploradopelosprofissionaisdemarketing.

    20Destaca-sequeaquantidadedeadolescentesqueafirmouacessarainternetpeloEspaoCrianaEsperanafoimuitopequena.

    21

    Asrespostasrelacionadasinflunciadaspropagandasnavidadosadolescentesapontaramaexistnciade:i)total;ii)bastante;ouiii)poucainfluncia.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Avontadedecomprar

    Oque,paravoc,importanteconsumir?

    Roupa.Semroupavocnonada.

    Todomundotemnecessidadedemostrarquetemcoisademarca,senotem,vocmenos.

    Osadolescentesforamquestionadosarespeitodasltimascoisasquehaviamcomprado,eaproporode

    respostas relacionadas a roupas e sapatos foi consideravelmente mais alta do que qualquer outroproduto22.Emseguida,osobjetosmaiscitadosforamosacessrios,tambmdiretamenterelacionados

    formadesevestir.Juntos,roupas,sapatoseacessriossomammaisdedosprodutosmaiscitadosentre

    asltimascomprasdosadolescentesemMSE.

    EntreosentrevistadosdeBrasilndiaePerdizes,as roupase sapatos tambmforammaismencionadas,

    seguidasporcomidaebebidanoprimeiroepelosacessriosnosegundo.

    Para investigar os desejos de consumo que no se limitam s reais possibilidades de compra, os

    adolescentes foram questionados sobre o que comprariam, se pudessem, independente do preo. A

    despeitodavariedadederespostas,queincluramnosobjetos,mastambmvaloresesensaes 23,mais

    de1/3dosadolescentesemMSEafirmaramavontadedeterumcarroe/ouumamoto.Damesmaformaqueavestimenta,ficouevidentequeodesejodeterumamotoe/ouumcarroincluiaspectossubjetivos

    ligadosasensaesdepertencimentoemelhorposiosocialperanteosamigos,familiares,comunidade

    etc.

    Osquestionamentosacercadosdesejosdeconsumodosadolescentes foramseguidosdeum dilogoa

    respeito das formas para concretiz-los. A grande maioria dos entrevistados, sejam aqueles em

    cumprimento deMSE como os dos grupos de controle, aponta o trabalho como o principal meio de

    alcanar seus desejos de consumo. Entre os adolescentes emMSE, o trabalho foi citadopor 77% dos

    entrevistados,incidnciasuperiorencontradanosdemaisgrupos.

    Apesarde representar apenas 4% das respostas,as prticas infracionais foram citadas como forma de

    acesso aos desejosdeconsumo pelos adolescentes emMSE e indicadas, ainda que demaneira pouco

    expressiva,nasentrevistasdeBrasilndiaePerdizes.

    AsrespostasdePerdizesapontamparaumsensodeplanejamentodoquesefazercomodinheiro,ouseja,

    economizar para conseguir comprar alguma coisa posteriormente, e indicam a no necessidade de

    contribuir para o oramento da prpria famlia, o que faz com que a utilizao do dinheiro seja

    integralmenteparasi.

    22

    Essaquestoeraaberta,ouseja,nohaviacategoriaspr-estabelecidascomorespostas.23Taiscomoamor,paz,igualdadesocialeracial.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    importanteteremvistaqueaaodeeconomizarprojetaousodorecursoparao futuro(prximoou

    distante)eque,nocasodeadolescentesquevivememcontextosdemaiorvulnerabilidade,ondeastaxas

    de homicdios atingem predominantemente essa faixa etria, as perspectivas para o futuro so,

    provavelmente,menospresentesemsuasvidas.

    Alm disso, os adolescentes emMSE afirmam gastar o seu dinheiro com produtos diversos: os itens

    relacionados aparncia (roupas, sapatos, produtos de higiene e beleza) somam 28% das citaes,

    produtosalimentciosnoligadosprimeiranecessidade(lanchesforadecasa,guloseimaserefrigerantes)

    representam25%,eosgastoscomlazertemcomodestaqueevidenteasfestasebaladas(12%).

    Osartigosrelacionadosaparnciademonstramaimportnciadaconstruodaimageme,porsuavez,da

    identidade, superando em importncia os produtos alimentcios, que seriam os itens mais bsicos

    sobrevivncia.Ainda,percebe-sequefestasoubaladasso,reconhecidamente,espaosfundamentaisde

    sociabilidadedosadolescentes.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Daspercepes:comoosadolescentesenxergamaviolncia?

    Porqueacriminalidadeaquimuitovulgar,muitonacara.

    Osadolescentesforamquestionadossobreoqueconsideramumcomportamentoviolento,emaiorparte

    dosquecumpremmedidasocioeducativa(34%)mencionouaagressofsica.

    EntreosjovensdePerdizeseBrasilndia,osresultadosseguemamesmatendncia,comdestaqueparaas

    agressesfsicas,seguidaspelasagressesmoraiseverbais. EmrelaoaoslocaisondeosadolescentesemMSEmaispresenciamviolncia,foramdestacadosoespao

    pblico(rua),com46%eaTV/internet,com35%.AmaiorpartedosadolescentesdeBrasilndia(51%)tambmcitouaruacomooespaonoqualpresenciammaisviolncia,seguidapelaTV/internet(35%).Em

    Perdizes,curiosamente,aproporoseinverte:51%afirmapresenciarviolncianaTV/internete31%citaa

    rua.EssedadopodeserexplicadopelofatodePerdizesserumbairroconsideradodebaixavulnerabilidade

    social,noqualaprobabilidade(eosdadosmostram)doadolescentepresenciarumfatoviolentonoespao

    pblicomenorsecomparadoaumbairrodealtavulnerabilidade.

    Osadolescentestambmforamquestionadossobreapercepoque tmdaviolnciaem seudiaa dia.

    Nesta questo, poderia se esperar que os adolescentes emMSE percebessem maior violncia em seu

    cotidiano.Noentanto,oresultadodapesquisaapontouemsentidocontrrio:desseuniverso,54%afirmou

    tercontatocomaviolncianodiaadia,enquantoemBrasilndiaePerdizes,essaproporofoide71%e62%respectivamente.Essedadopodeserinterpretadonocomoumindciodequeexistemaisviolncia

    em Brasilndia e Perdizes, mas sim que a percepo dos entrevistados acerca da violncia est

    intimamente relacionada ao seu contexto social, e que o mesmo fato pode receber diferentes

    interpretaesdependendodolocalondepresenciado.

    Essaaparente incoernciapode tambmser interpretadacomopartedeumaestratgiaquerelacionaa

    construo de uma concepo sobre a violncia reflexo sobre as suas prprias prticas enquanto

    violentas ou no. Em outras palavras, o esforo de definio do que um ato violento pode levar a

    ponderaessobreosprpriosatos,eaexistnciadejustificativasparadeterminadaformadeproceder

    fazempartedaelaboraodoveredictosobreaao,aserentendidacomoviolentaouno.Assim,algoquepoderiaserconsiderado,aprincpio,violento,podenoserencaradocomotalseprecedidoporuma

    justificativaqueoabone.

    OseventosviolentosmaiscitadospelosadolescentesemMSEforamasagresses,aviolnciapolicialeas

    brigas.OsentrevistadosdaBrasilndiafalaramsobreasbrigase asagresseseemPerdizes,asbrigas,a

    discriminao,preconceitoebullyingeosassaltosouroubos.Observa-sequeasbrigasfiguramentreos

    principaisepisdiosdeviolnciapresenciados nostrsuniversos emquesto.Adiferena se localizana

    presenadaviolnciapolicialentreosadolescentesemMSE,edopreconceito,bullyingeosassaltosentre

    osadolescentesdePerdizes.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Seria possvel argumentar que as percepes dos adolescentes sobre a violncia so informaes por

    demaissubjetivasparaseremconfiveis.Noentanto,notou-sequeapercepodelesestrelacionada

    vivnciaconcretadesituaesviolentas.DentreosadolescentesemMSE,45%dissejtersofridoalgum

    tipodeviolncia.EmBrasilndia,de formasemelhante,46%dosentrevistadosafirmatersidovtimade

    violncia.EmPerdizesessaporcentagemfoide35%.Apesardasdiferenasnassignificaesqueaviolncia

    adquire nessesuniversos,os resultadosmostramqueparteconsiderveldosentrevistadossenteque j

    sofreualgumtipodeviolncia,independentedobairroondereside.

    Noquedizrespeitoaotipodeviolnciasofrida,emtodososuniversoshouvedestaqueparaasagresses.

    Entre os adolescentes emMSE, contudo, a segunda situao maismencionada foi a violncia policial,

    enquantoemPerdizeseBrasilndiafoioroubo.Olocalondemaisocorremasagressesarua,emtodos

    oscasos.Nos gruposde controle,contudo,destacaram-seasagressesocorridasnaescola, informao

    queserelacionacomodestaquedadosporessesadolescentessformasdeagressoclassificadascomodiscriminaes,preconceitosebullying,queocorrem,majoritariamente,noambienteescolar.

    Aovislumbraraautoavaliaodosentrevistadossobreseuscomportamentos,aporcentagemdosquese

    consideramnuncaouraramenteviolentossobepara71%dosadolescentesemMSE.Issotalvezmostreque

    eles se enxergam mais como vtimas do que como perpetradores da violncia. Em Perdizes, essa

    porcentagemde83%eemBrasilndia,de68%.Aqui,valeretomarqueconsiderar-seviolentopassapor

    interpretarasprticaspossivelmenteviolentasluzde fatose justificativasquepodemvira amenizaro

    proceder,tornando-o,aosolhosdoseuautor,umaaonoviolenta.

    Comefeito,aoseremquestionadosarespeitodaautoriadealgumcomportamentoviolentonoltimoano,

    53% dos adolescentes emMSE responderam positivamente, o que, aparentemente, contradiz o dado

    anterior. Porm, possvel aventar que haja uma notvel diferena entre se considerar uma pessoa

    violentaecometerpontualmentealgumatodessanatureza.Dessaforma,ofatodeteremsidoautoresde

    alguma ao violenta, para os prprios, no seria suficiente para caracteriz-los enquanto pessoas

    violentas. Dentre esses 53% dos disseram ter praticado algum ato violento, 22% foram autores de

    agressese17%deassaltosouroubos.

    A pesquisa tambm indagou sobre a possibilidade dos adolescentes j terem exercido algum

    comportamentoviolentoparacomprarouteralgumacoisaquedesejammuito.Osresultadosmostraramqueamaioriadeles(59%)respondeunegativamente.Dentreaquelesquedisseramqueusaramouusariam

    deviolncia paraobter algo desejado, 76% apontouo assalto ou roubo. Por fim,o que mais chama aatenoque81%dosadolescentesafirmamquenenhumobjetodeconsumoseriarazoparaquetivesse

    algumcomportamentoviolento.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Dasinfraescomoosadolescentespodemserviolentos?

    Porqualatoinfracionalvocfoiacusado?

    157.Quandoavtimasaidotrabalhooudobancoecoloca-seum38o.

    Verificou-sequedentreosentrevistados,o cumprimentoda LA, isoladaoucumuladacomaPSC, tevea

    representaomaissignificativaentreasrespostas.

    Emseguida,constatou-sequeagrandemaioriadosadolescentesfoiautordeatosinfracionaisequiparados

    acrimescontraopatrimnio:rouboefurto.Otrficodedrogastambmtemgrandedestaqueentreosdelitosmaiscometidos.

    Oshbitosedesejosdeconsumosofatoresrelevantesnocotidianodosadolescentes,emsuasatividades

    realizadasepreferidase,assim,nosprocessosdesocializaoeconstruodeidentidades.Nessesentido,

    oconsumo tambmpodeserumdosdiversoselementospresentesnosprocessosdeenvolvimentodos

    adolescentescomprticasilcitas,partindodaconcepoqueindicaoconsumonocomoumaatividade-

    fim,massimummeiodesealcanardeterminadasformasdesereagirconstitutivasdasidentidades.

    Questionadosarespeitodasmotivaesparaaprticadoatoinfracionalpeloqualforamacusados,quase

    metadedos adolescentesapontaquestesrelacionadasaosbensdeconsumocomojustificativas (48%).

    Elementos relacionados identidade e apontados de formamais explcita tambm foram significativosentreasrespostas,com19%dascitaes24.

    Asmotivaessistematizadasnacategoriaoutrossoapresentadasnatabelaabaixo,bemcomoascitaes

    quecorrespondemsdemaiscategoriasbensdeconsumo,identidadeenecessidade.

    24 As categorias foram criadas a partir da sistematizao das respostas pergunta aberta, apenas para facilitar a anlise e

    considerandooelementomaisexplicitadonafaladosadolescentes.Sabe-se,noentanto,quetaisjustificativaspodemapresentarinmerasimplicaeseque,portanto,sopassveisdeseremencaixadasemmaisdeumacategoria.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Tabela1:Motivaesparaaprticadeatosinfracionais

    Motivo Especificao CitaesQueriamuitooobjeto(CD) 1

    Comprarmoto 3

    Comprardrogas 5

    Vontadedetercoisas(maisrapidamente,semtrabalhar) 9

    Comprarroupas,tnis 20

    Terdinheiro 17

    Motivosligadosbensdeconsumo Comprarbebidaemfestas/baladas 7

    Total 62

    Independncia 4

    Causarimpresso(comasmeninas) 4

    Provocaes,brigas(entregruposouinterpessoais) 7

    Darumroldecarro/moto 2

    Motivosligadosidentidade

    Influnciadeamigos 8

    Total 25

    Motivosligadosnecessidade Ajudarme 2

    Total 2

    Seproteger 1

    Estavabbado 1

    Revoltacomavida 1

    Semmotivo/euquis 4

    Outros Pagardvida/contas 4

    Total 11

    Noquisresponder 13

    Diz-seinocente 12

    Seminformao 4Fonte:IlanudPesquisaConsumo,ViolnciaeJuventude2010.

    Analisandoas informaesapresentadas pelos adolescentes para aprtica doato infracional possvel

    identificar osdiscursos existentesaolongode todooquestionrio,que permeiam tantooshbitosdos

    adolescentesquantoassuasconsideraessobrecomprarequererdeterminadosprodutos.

    Assim,asmotivaesparaa prtica deatos infracionais relacionadas aos bensde consumocorroboram

    comahiptesedequeaculturadeconsumo,demaneiramaisgeral,eodesejodepossuirdeterminados

    bens,deformaespecfica,sofatoresque,adespeitodenoseremnecessariamentenicosoudemaiorrelevncia,integramasdinmicasdaviolncia.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    |Concluseserecomendaes|

    [Querotercarroemoto]porquesoascoisasprincipaisparasequerernavida.Depoisvemroupa,tnise

    outrascoisas.

    Seeudesseavoc200reaisagora,oquevocfaria?

    Eunotavaaqui,tavacheirando.Noescreveisso.Estariacomprandoumasroupinhas.

    Oconsumodeveserentendido,nocontextodapesquisa,comoumelementoquefazpartedaconstituio

    das identidades na adolescncia e juventude. Em uma sociedade de consumo, sentir-se includo e teracesso a determinados produtos e servios ganha ainda mais importncia nas etapas de definio

    identitriae deautoafirmao.Asprticasdeconsumoeosbensemsimesmosestorelacionadosaos

    modos de ver-se e servisto,afirmar-se e diferenciar-sede pessoas e grupos. Nesse sentido, os relatos

    sistematizadospelasentrevistasmostramquesevestirdecertamaneiraeterapossibilidadedeacessar

    objetos(comoroupas,sapatoseacessrios)traduzemumadeterminadamaneiradeveromundo,dese

    relacionarcomospares,deatribuirsignificadosaosprodutosetc.

    Aanlisedosdadosindicaqueelementosrelacionadosaoconsumo,juventudeeviolnciadialogamentre

    si. No entanto, evidente que determinados desejos de consumo tpicos da adolescncia no esto

    diretamenteligadosprticadeatosviolentos,sejamilcitosouno25

    ,eporissonopodemseranalisadosisoladamentedocontextoemqueessesadolescentesestoinseridos.Mesmoaprticadeatosinfracionais

    cujarelaocomoconsumoparecesermaisevidentetambmresultadodemltiplosfatorese,dentre

    outrosaspectos,podeserumatalhoparaaconquistadedeterminadosbensquefazempartedosdesejos

    comunsaosegmentojuvenil.

    Nesseaspecto,asinformaesdosadolescentesautoresdeatosinfracionaisoumoradoresdasregiesde

    BrasilndiaePerdizesmostraramque,aindaqueoshbitosedesejosdeconsumosejamosmesmos,as

    formasdeacessoaeleseograudeexposioviolnciasediferenciam.

    possvel perceber, a partir dos dados coletados, que o perfil dos adolescentes em cumprimento de

    medidassocioeducativasbastantesemelhanteaoconstatadopeloIHA26

    comoogrupocomaltoriscodesofrerhomicdios,poismajoritariamentecompostoporadolescentesejovensdosexomasculino,negros,

    debaixaescolaridadeeresidentesderegiesperifricasouconsideradasvulnerveis.Nomesmosentido,

    dadosde2009indicamqueaviolnciaumapresenaconstantenavidadequase1/3dapopulaojovem

    dopas27commaiornfaseaosjovensnegros,dosexomasculinoeemcondiesprecriasdetrabalho.A

    violnciapolicial,amplamentecitadapelosadolescentesemMSEcomoconstanteemsuasvidas,umdos

    fatorespresentesnasrespostasdequase60%dosjovensentrevistados,segundoomesmoestudo.Dessa

    25Levandoemcontaquenemtodasasaesviolentassotipificadaspelalegislaoenquantocrimesecontravenes.

    26ndicedeHomicdiosnaAdolescncia,apresentadonaIntroduo.Disponvelem:http://www.unicef.org/brazil/pt/IHA.pdf

    27

    BRASIL,Ministrio da Justia, Pronasci, FrumBrasileiro deSeguranaPblica, ILANUD,InstitutoSou daPaz,SEADE.ProjetoJuventudeePrevenodaViolncia:primeirosresultados. Braslia,novembrode2009.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    forma,oadolescentemoradordaperiferia,muitasvezesestigmatizadopelosensocomumcomopotencial

    criminoso,retratadoporessaeoutraspesquisasprincipalmentecomoumapotencialvtimadaviolncia,

    incluindoapolicial.

    Comefeito,taisfatoresderiscopodemserencontrados,emalgumamedida,entreosadolescentesda

    Brasilndia,masse distanciamradicalmentedo perfildos entrevistadosde Perdizes.Por suavez,alguns

    fatoresdeproteoestomaispresentesentreosadolescentesdePerdizeseBrasilndia,secomparados

    comosadolescentesemcumprimentodemedidas.

    ExemplodissoaaltaproporodeadolescentesemMSEquenoestudam.Assumindoqueaconcluso

    doensinomdioumfatorquecontribuiparaaentradanomercadodetrabalho,sobretudooformal,a

    defasagem educacional constatada entre esses adolescentes reduz as oportunidades de emprego e,

    consequentemente, traz impacto no acesso aos bens de consumo. Esse dficit de escolaridade no

    encontrado, nas mesmas propores, entre os entrevistados na Brasilndia e tampouco entre os

    adolescentesemPerdizes,quenovivenciamessaexperincia.

    Relacionado aocontexto educacionalest o fato dequeosadolescentes se inseremprecocemente em

    atividades de trabalho que, em geral, caracterizam-se pela informalidade no garantem direitos, no

    oferecem estabilidade e no proporcionam chances de crescimento profissional. O hiato causado pela

    inexistncia de uma renda estvel contribui para a impossibilidade do estabelecimento de hbitos de

    consumoregulares.

    Analisandoasinformaescoletadasemseusdiferentescontextos,tendoemvistaasdistintassituaesde

    vulnerabilidadedosadolescentes(queincluemofatordarenda,masvomuitoalmdeleeconsideram,especialmente,ograudeexposioviolncia)possvelafirmarqueexistenoumarelaodireta,mas

    uma relao mediada entre consumo e violncia. Isso significa que entre a constatao de que os

    adolescentestmdesejosdeconsumocomuns(pormimpossveisdeseremconcretizados)eaprticade

    umaaoviolentaoudelituosaparaconquist-lo,hinmerosfatoresqueparticipamdessarelao.Os

    dadosapresentadosfornecempistasdesseselementos,quepodemsermaisbemaprofundadosemfuturas

    investigaes sobre o tema. Alguns exemplos so: nos casos de adolescentes que vivem em contextos

    sociais parecidos, aescolaaparececomoumfatorde proteo socialrelevante, enquantoemsituaes

    distintas,aexposioviolncia,omenorcontrolesocialeouso/abusodedrogasaparecemcomofatores

    derisco.

    Assim, a presente pesquisa apontou para a necessidade demelhor conhecer as atuais concepes da

    adolescncia, com ateno s informaes que indicam aparentes incongruncias entre concepo e

    prtica,entreao e representao, emdiferentesassuntos abordadosnoquestionrio,massobretudo

    sobre violncia. Os adolescentes se representam de uma maneira e com uma determinada distncia

    daquiloqueconsideramviolncia,masseucotidiano,seushbitos,suamaneiradeinterpretaromundoe

    at mesmo nveis de tolerncia variados revelam uma prtica distinta. Assim, investigar com mais

    profundidadeosmltiplossignificadosqueserviolentopodeganharumaetapafundamentalparaum

    estudoposterior.

    Observou-sequeosadolescentesprocuraminseriraviolnciaemumadeterminadaconjuntura,incluindo

    naanlise justificativasquepodem relativizarumaaoque,aprincpio,seriaconsideradaviolenta.Em

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    outraspalavras,a presena decontradieslanaluz aelementos subjacentesaosdiscursos,que so

    relacionadosaostrstemasdapesquisaedevemserinterpretadosnocontextodeaodojovemedesua

    histria.

    Portodososaspectosdebatidosnorelatrioqueressaltamasrelaesdeconsumoenquantocategoriade

    anlise relevante juventude uma vez que ela permeia os hbitos, as preferncias e as formas de

    socializaodosentrevistados,estasdevemserconsideradasnasintervenesquevisamcompreenderas

    vulnerabilidadesdeadolescentesejovense pensaremaesde preveno violncia. imprescindvel

    queasiniciativasqueestudamouatuamemtaistemasatentemparaopapelqueoconsumoassume,em

    algumamedida,navidade todasaspessoas,eparaas formasdeentrelaamentoentreo consumoeas

    vulnerabilidadesqueafetam,demaneiramaisaguda,essepblicoespecfico.

    Portanto,apresentepesquisanosnofinalizaessecampodeanlisecomoapontaanecessidadedese

    realizarem estudos posteriores, com grupos mais amplos de adolescentes, que possam perscrutar os

    diferentes fatores apresentados nesse relatrio. Assim, realizar investigaes focadas em questes

    especficastaiscomooacessoinformao,oshbitosdelazereasprpriaspercepessobreaviolncia

    podem aprofundar as aparentes incoerncias encontradas e avanar nessa temtica ainda pouco

    explorada.

    Tendoissoemvista,apresentamos,comorecomendaes,questesqueapareceram,aolongodaanlise,

    de forma tanto explcita quanto latente, e que so passveis de serem trabalhadas para melhor

    compreender como e emquemedida as temticasdo consumo, da violnciae da juventude dialogam

    entresi.

    Recomendaes

    IdentidadesJuvenisePrevenoviolncia

    Aadolescnciaeajuventudesoperodoscruciaisparaadefiniodasidentidades.Esseprocesso,porsua

    vez, influenciado por uma srie de fatores existentes na socializao, entre eles a prpria lgica de

    consumoeaformulaodeconcepessobredeterminadasformasdesereagirquepodeenvolver,por

    exemplo,atosviolentos.Amaioriadosadolescentesentrevistados,independentedoperfilsocial,sentemapresenadaviolncia

    emsuasvidas.Noentanto,aquelesemsituaodemaiorvulnerabilidadesocial,estoaltamenteexpostos

    a situaes diversas de violncia. Esses matizes precisam ser considerados em qualquer iniciativa de

    pesquisaouintervenocomessepblicoquetratemdaprevenoviolncia. Procurou-sedemonstrar,ainda,queaviolncianofenmenodiretamenterelacionadopobreza,assim

    comotambmnoosoosdesejosdeconsumo,jqueelesultrapassamemgrandemedidaadimensoda

    necessidade. Dessa forma,foi possvel vislumbrarhbitos edesejos semelhantesembairrosde estratos

    sociais diferentes.Amaiordiferena reside,contudo, noacessoa esses bens, notavelmentemenor em

    bairros pobres.Assim, sugere-se que o consumo, bem como as formasde consumo consciente, sejam

  • 7/28/2019 Consumo, violncia e juventude - Ilanud Brasil

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    includos entre as temticas pertencentes ao repertrio dos projetos que atuam com juventude em

    diversosmbitosformao,sensibilizao,profissionalizao,lazer,cultura,esportesetc.

    importante, ainda,criar espaosdedilogo comadolescentes e jovens,para refletiremsobre formas

    saudveisdelidarcomoconsumoeseremcrticosarespeitodasinformaesecontedosqueacessam,

    bemcomospropagandasdequesoalvo.

    Assim,sesabemosqueaspolticasdeprevenoviolnciavoltadasjuventudedevemcompreenderas

    matizesquemarcamouniversojuvenilequepermeiamosespaosdesociabilidadeeaconstruode

    identidades,buscandoproblematizardiversosfatores,comoainflunciadefamlia,amigos,comunidadee,

    entreoutros,precisoampliaressesrequisitoseincluiroconsumotambmcomotema.

    Mdia

    Apesquisaindicouqueasrelaesentreosadolescenteseamdiamerecemsermaisbemaprofundadas,

    sobretudoporque,emgeral,osentrevistadosnegamainflunciaqueelaexerceemsuasvidasaopasso

    queespecialistasapontamessafaixaetriacomoalvocrescentedapublicidade 28.

    Como foipossvel constatar, a televiso possui significativa relevnciana vida dosadolescentes e, sem

    dvida, seus contedos (programas, novelas, propagandas etc) influenciam na modulao de desejos,

    comportamentos, opinies, percepes e sentimentos. Ao lado dela, outro meio de comunicao que

    ganhacadavezmaisadeptosnessafaixaetriaainternet,elementoquedoutrocorposdinmicasde

    acesso informao, chamandoatenoasdiferentes formasde relacionar-secomas pessoaspormeio

    dessaredevirtual.Asredessociaisestoentreosprincipaisusosdainternetporadolescentesejovens,no

    havendodvidadequesetornouumimportanteespaodesociabilidadee,comoqualqueroutro,tambm

    sujeitoaatosdeviolncia.

    Dessaforma,importanteentendercomoessesmeiosdecomunicaopodemserutilizados.Seporum

    lado,os programaseprojetosvoltados juventudepodemaproveitaressasferramentaspara facilitara

    abordageme estreitar o contato comos adolescentes, osprofissionaisdamdia tambmseempregam

    dessamesmaestratgiaparadialogardiretamentecomessepblico.

    Assim,fundamentalpromoverasensibilizaodosatoresdamdia,entrejornalistasepublicitrios,para

    as correlaes existentes entre consumo e juventude e, sobretudo, as formas como esses fatores serelacionamviolncia.

    Alm disso, faz-se necessrio aprofundar a investigao sobre a recepo e o possvel impacto das

    propagandasnavidadosadolescenteseincluir,nessesestudos,aanlisesobreasconstruessociaisque

    so apresentadas e reafirmadas pelas propagandas, tais como as concepes sobre liberdade, sucesso,

    popularidade,gnero,poder,sexualidadeetc.

    28

    Ocrescimentodapropagandadirigidaaadolescentesejovensfoiumelementoapontadopelosespecialistasparticipantesnasreuniesdeconsultarealizadas.

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    ProjetoConsumo,ViolnciaeJuventude SumrioExecutivo

    Asentrevistasrealizadascomtrsgruposdeadolescentesemcontextosecomperfisdistintosmostraram

    quehmuitosaspectosemcomumnoqueserefereaoshbitosdevida,aosdesejosecompreenses

    sobreaviolncia.Entrediferenase semelhanas, precisoproblematizarosencontrose desencontros

    para que se possa pensar em aes preventivas a situaes violentas. Trata-se de compreender essas

    realidadesecontribuirparaaformaocrticadessaspessoas,sempartirparaproposiesqueimpliquem

    maisformasdeprivaodedesejosevontadesparaaquelesegmentomaisvulnervel,jprivadosdeuma

    sriederecursos(sociais,humanos,ldicos,afetivosetc).

    A riqueza e complexidade dos temas e do universo pesquisado no se esgotamnas informaes aqui

    apresentadas resultantes de uma iniciativa pilotoquemais teve a habilidade de direcionarolharese

    proporumcampodeinvestigaoquetrazerrespostasassertivassobreessecampodeanlise.

    Essa riqueza , assim, um convite produo de outros estudos, quantitativos e qualitativos, que se

    proponhamaaprofundaralgumasdasquestesaquiapresentadaseampliemoconhecimentosobreessa

    relaoaindapoucoinvestigada:oconsumoeajuventudealiadossreflexessobreaviolncia.