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DESIGUALDADE DESIGUALDADE (Contardo Calligaris)

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DESIGUALDADEDESIGUALDADE(Contardo Calligaris)

A DESIGUALDADE é a culpada da vez Ela seria a nossa grande falha – políticaA DESIGUALDADE é a culpada da vez. Ela seria a nossa grande falha política, econômica e moral. "O Capital no Século 21", de Thomas Piketty, contestado ou aclamado, tornou-se um best-seller: enfim alguém apontava o dedo para a vergonha do capitalismo tardio. Depois da Segunda Guerra Mundial, nos EUA e navergonha do capitalismo tardio. Depois da Segunda Guerra Mundial, nos EUA e na Europa, a gente parecia se encaminhar para um mundo médio, com ambições e consumo médios –um dia, estaríamos todos vivendo no bonito subúrbio de um filme americano dos anos 1960. Esse sonho (ou pesadelo) acabou nos anos 1980. Na década de 1990, pareceu claramente que o retorno dos investimentos financeiros era maior do que o nosso crescimento econômico. Ou seja, os ricos seriam sempre mais ricos, e os outros, mais pobres. Aumentando, a desigualdade econômica se traduziria em desigualdade de influência política e acabaria com nossas democracias –os ricos sendo mais cidadãos do que os pobres. No Brasil, isso não seria novidade. Na Folha de sábado (13), Eleonora de Lucena comentou o livro de Robert Gordon, "TheRiseandFallof American Growth" (ascensão e queda do crescimento americano), para quem a desigualdade crescente compromete o futuro econômico dos EUA.

Reduzir a desigualdade se tornou a palavra de ordem do século que começa. É preciso diminuir os supersalários investir em educação para garantirpreciso diminuir os supersalários, investir em educação para garantir oportunidades a todos, aumentar os impostos dos mais ricos e ajudar os mais pobres com políticas assistenciais. A desigualdade começou a parecer obscena, moralmente condenável. Mas eis que aparece o pequeno livro de um filósofo, que moralmente condenável. Mas eis que aparece o pequeno livro de um filósofo, que João Pereira Coutinho já comentou nesta "Ilustrada" (29/12/2015): "OnInequality" (sobre a desigualdade), de Harry Frankfurt. Frankfurt mostra que a desigualdade está nos distraindo do verdadeiro problema moral: o escândalo não é que Bill p qGates tenha infinitamente mais do que eu; o escândalo é que alguém, aqui ou onde quer que seja, não tenha o necessário. Ou seja, em si, a igualdade não é um valor moral, nem a desigualdade é uma falha moral da sociedade. O escândalo é a existência da pobreza. Mas o que é a pobreza? O que significa não sermos pobres? Para Frankfurt, a resposta vai muito além da lista das necessidades vitais: não somos pobres quando temos o suficiente para viver uma vida que julguemos boa. Obviamente, a definição do que é suficiente e necessário para ter uma vida boa é diferente para cada um. Frankfurt poderia citar Marx, que não era igualitarista e, na "Crítica do Programa d G h " (1875) d fi i i i "D d dde Gotha" (1875), definia o comunismo assim: "De cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades".

Agora, de onde vem a idéia de que a diferença excessiva seria a grande falha moral da nossa época? Minha hipótese (e provocação) é que a indignação com a desigualdade (mais do que com a pobreza) é, digamos, um efeito Facebook: para saber se minha vida me satisfaz, eu preciso sempre compará-la à dos outros. Em termos psicológicos, para a moral que parece dominante na nossa época, o desejo se confunde com a inveja, perde-se nela. Cuidado. Não acho que a inveja seja desprezível. A inveja tem uma função importante: é por ela que descobrimos e valorizamos a série infinita dos objetos que nos dão alguma satisfação (efêmera, mas, mesmo assim, alguma

)satisfação). A inveja nos ajuda a escolher o carro, a bicicleta, o apê, o perfume, o bolo, o lugar de férias e até o parceiro –ou seja, aquelas ————————————————————————————————————————————

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Coisas que queremos, eventualmente, para emular um outro, competir com ele q q , , p , pou até pelo duvidoso prazer de ter o que ele não tem. O desejo se expressa nessas bagatelas atrás das quais a inveja corre ("Eu quero isso, quero aquilo"¦"); mas, antes disso, o desejo é aquela parte de nossa história que orienta nossa vida. Um exemplo trivial: 1) eu sonho com um carro de luxo (expressão de inveja); 2) mas quero ser professor e ter dois filhos (orientação do desejo); 3) terei o suficiente para uma vida boa, se conseguir ser professor e sustentar meus filhos; 4) poderia deixar de ensinar ou de ter filhos para me dedicar a ganhar dinheiro. Terei uma vida boa? Só um cuidado: às vezes, dedicar-se a ganhar di h i é d j d l é l liá é ddinheiro é mesmo o desejo de alguém – geralmente, aliás, esse é o caso de quem consegue mesmo enriquecer. CONTARDO CALLIGARIS é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. E i E t d C lt i N S h l d NY f i f d t l iEnsinou Estudos Culturais na New School de NY e foi professor de antropologia médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias) Jornal FOLHA DE SÃO PAULO Fevereiro de 2016ordinárias). Jornal FOLHA DE SÃO PAULO, Fevereiro de 2016.

A POBREZA NO BRASILA POBREZA NO BRASIL E NO MUNDOE NO MUNDO

No Brasil, o crescimento econômico que estamos vivendo não está necessariamente ligado à melhoria da qualidade de vida da população, pois grande parte dela ainda não tem acesso às condições mínimas de saúde, educação e serviços básicos.

A POBREZA NO BRASIL E NO MUNDO

No Brasil o res imento e onômi o q e estamos i endo não estáNo Brasil, o crescimento econômico que estamos vivendo não está necessariamente ligado à melhoria da qualidade de vida da população, pois grande parte dela ainda não tem acesso às condições mínimas de saúde, educação e serviços básicoseducação e serviços básicos.Em outras palavras, o país enriqueceu, mas não conseguiu transferir esta riqueza em maior expectativa de vida e alfabetização para toda população. Ao menos na mesma velocidademenos na mesma velocidade.Este problema é, em parte, conseqüência da grande concentração de renda que existe no país. O Brasil continua sendo um dos países onde é maior a concentração de renda. Enquanto os 20% mais pobres ficam apenas com 2,5%concentração de renda. Enquanto os 20% mais pobres ficam apenas com 2,5%

da renda, os 20% mais ricos ficam com mais de 60% da renda. É verdade, no entanto que nos últimos 25 anos a situação vem apresentando melhora masentanto, que nos últimos 25 anos a situação vem apresentando melhora, mas ainda está precisando atenção do governo para resolver estes problemas.A concentração de renda é uma tendência muito antiga, se se levarem em conta estatísticas dos séculos passados naturalmente menos completas e refinadas Emestatísticas, dos séculos passados, naturalmente menos completas e refinadas. Em 1870, por exemplo, os 20% mais ricos tinham renda apenas 7 vezes maior do que a dos mais pobres.Os desníveis sociais não vem aumentando apenas entre países mas tambémOs desníveis sociais não vem aumentando apenas entre países, mas também dentro dos países. Mesmo nações ricas, como as da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne as 29 nações supostamente mais industrializadas) registraram grandes aumentos nasupostamente mais industrializadas) registraram grandes aumentos na desigualdade depois dos anos 80 – especialmente a Suécia, o Reino Unido e os Estados Unidos.A globalização tem um enorme potencial para reduzir a diferença de renda. Temos g ç p p çmais riqueza, tecnologia e mais compromissos em relação à comunidade mundial do que antes. Mercados mundiais, tecnologia mundial, idéias mundiais e solidariedade mundial podem enriquecer a vida das pessoas por toda parte, aumentando muito suas escolhas.

Mas ainda está longe de se atingir estas metas pois apenas 40 países mantémMas ainda está longe de se atingir estas metas, pois apenas 40 países mantém crescimento médio de renda per capita de mais de 3% ao ano, ao passo que quase 100 países têm renda mais baixa que há um década e países da África, Europa do Leste e países desmembrado da extinta União Soviética têm renda per capitaLeste e países desmembrado da extinta União Soviética têm renda per capita decrescentes.Por isto, organismos internacionais com a ONU, por exemplo, pedem a ampliação do papel dessas organizações, pois Estados nacionais têm crescente dificuldades p p g ç , pem implantar políticas que respondam a desafios que superam suas fronteiras.

A pobreza no Brasil

A pobreza no Brasil vem diminuindo nos últimos anos, mas o país ainda apresenta uma grande quantidade de pessoas em condições de miséria.

Publicado por: Rodolfo F. Alves Pena em Geografia humana do Brasilp g

A pobreza ainda é um problema no Brasil, apesar dos últimos avanços

O Brasil, em função de seu histórico de colonização, desenvolvimento tardio e dependência econômica, além dos problemas internos antigos e recentes, possui uma grande quantidade de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Assim, por representar um país subdesenvolvido emergente, a pobreza no Brasil apresenta elevados patamares.S d d d fi i l d i i é i d l i d b àSegundo um dado oficial do Ministério de Desenvolvimento de Combate à Fome datado de 2011, existiam no Brasil até esse ano cerca de 16,27 milhões de pessoas em condição de “extrema pobreza”, ou seja, com uma renda familiar mensal

b i d R$70 00 V l l b lt l ãabaixo dos R$70,00 por pessoa. Vale lembrar que ultrapassar esse valor não significa abandonar a pobreza por completo, mas somente a pobreza extrema.É preciso dizer, porém, que a pobreza não é uma condição exclusiva de uma região ou outra como se costuma pensar Praticamente todas as cidades do paísou outra, como se costuma pensar. Praticamente todas as cidades do país (principalmente as periferias dos grandes centros metropolitanos) contam com pessoas abaixo da linha da pobreza.No entanto é válido ressaltar que apesar dos problemas históricos o Brasil vemNo entanto, é válido ressaltar que, apesar dos problemas históricos, o Brasil vem avançando na área de combate à fome e à pobreza no país. Segundo um relatório divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de pessoas que abandonaram a pobreza no Brasil em 2012 ultrapassou os 3,5pessoas que abandonaram a pobreza no Brasil em 2012 ultrapassou os 3,5 milhões. Nesse estudo, o critério para pobreza extrema era, inclusive, mais alto que o acima mencionado: R$75,00 por membro da família.

Outra boa notícia é a de um relatório apresentado pela Assembleia das NaçõesOutra boa notícia é a de um relatório apresentado pela Assembleia das Nações Unidas em 2013 que colocou o Brasil como o 13º país que mais investe no combate à pobreza no mundo, em um rankingcomposto por 126 países em desenvolvimento. Assim, o país investe mais do que todos os demais membrosdesenvolvimento. Assim, o país investe mais do que todos os demais membros do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul), mas ainda está atrás de nações como Argentina e Venezuela. Ao todo, segundo o relatório, o Brasil gasta quase US$ 4 mil dólares por ano para cada pessoa [1].$ p p p [ ]O carro-chefe atual das políticas públicas de combate à fome no Brasil é o programa Bolsa Família, criado em 2003. Trata-se de uma política assistencialista de transferência de renda, em que o governo oferece subsídio para famílias em condições de pobreza ou miséria acentuada. Apesar das muitas críticas e polêmicas na esfera política, o programa vem recebendo elogios por parte de sociólogos e economistas, uma vez que gasta muito pouco (0,5% do PIB) e contribui substantivamente para a melhoria da qualidade vida. Segundo o Ipea, a estimativa é a diminuição de 28% da miséria do país em 2012 somente pelo Bolsa Família.

Recentemente, um apontamento do Banco Mundial revelou que o Brasil vem servindo de modelo e exemplo no que diz respeito ao combate à pobreza no mundo, com a redução da miséria, a diminuição de dependentes do próprio Bolsa Família e com a criação do Cadastro Único, que visa a identificar a quantidade de pessoas em

b í [2] T i did ê d d d é i dextrema pobreza no país [2]. Tais medidas vêm sendo estudadas e até copiadas por especialistas e governantes de outras localidades do mundo.Por outro lado, há uma grande quantidade de pessoas que ainda vivem à margem da so iedade no Brasil problema q e difi ilmente se resol erá somente om a promo ãosociedade no Brasil, problema que dificilmente se resolverá somente com a promoção de programas assistencialistas. Os principais desafios estão em vencer os problemas nas áreas de saúde e educação, que vêm recebendo tímidos avanços, e ampliar a qualificação profissional e a oferta de emprego no paísqualificação profissional e a oferta de emprego no país.Além disso, para muitos especialistas, diminuir o número de pessoas que vivem com menos de US$1,25 por dia – critério elaborado pelo Banco Mundial e pela ONU para definir a pobreza extrema – não é o suficiente A ideia seria a de elevar esse valor nadefinir a pobreza extrema não é o suficiente. A ideia seria a de elevar esse valor na definição de miséria e traçar uma nova meta para a redução da pobreza no Brasil,

principalmente através de medidas que não taxem tanto as classes média e baixa e que consigam encontrar formas de diminuir a desigualdade social e a concentração de renda, que ainda são muito acentuadas no Brasil.________________________[1] D l t I iti ti I ti t t E d P t 2013[1] Development Initiatives. Investiments to End Poverty.2013.[2] The World Bank, 22/03/2014. Como reduzir a pobreza: uma nova lição do Brasil para o mundo?

A POBREZA SÓ EXISTE POR CAUSA DA RIQUEZAA POBREZA SÓ EXISTE POR CAUSA DA RIQUEZA...

Explico-me, enquanto o mundo se organizar com base na riqueza e na luta fratricida pelo seu domínio, a avalanche de pobres engrossará todos os dias. Porfratricida pelo seu domínio, a avalanche de pobres engrossará todos os dias. Por isso, enquanto a riqueza for um fim e não um meio, todos, nós todos, seremos pobres, muito pobres de valores e de espírito.E a Igreja Católica o que podia fazer como instituição a favor da pobreza? - Muito, g j q p ç p ,devia denunciá-la sem medo e apontar claramente quem são os principais responsáveis por ela... Se tal acontecesse o mundo tremia e a Igreja fixava-se no essencial da sua missão, ser profeta à maneira de Jesus de Nazaré. Afinal bastava que o Evangelho fosse vida para a vida dos homens e mulheres concretos de cada tempo.Neste sentido, têm razão as vozes que apontam responsabilidades às igrejas pela pobreza. Cometeu-se aqui um pecado grave, as igrejas também se corromperam com a luta pela riqueza, pelo dinheiro - os vários escândalos que envolvem o Banco do Vaticano, é sintomático (não é curioso a Igreja Católica Instituição ser

d d b ?)possuidora de um banco?)...

Os vários sistemas políticos compraram as igrejas com chorudas ofertas. Manietaram a sua voz e a sua ação, para que imperasse a luta feroz pela riqueza. Negociado o silêncio de quem devia falar por missão, ficou o caminho livre para a ganância, o egoísmo. Com esta tragédia a humanidade construiu um sistema que f f li i dú i d h id d b d i Efaz feliz meia dúzia, mas o grosso da humanidade empobrece cada vez mais. E enquanto não acabar esta injustiça o mundo não muda, afunda-se, miseravelmente, para o seu fim, porque a instabilidade social é já uma evidência por todo o lado e os re rsos nat rais (bens destinados a todos) fa e à anân iapor todo o lado e os recursos naturais (bens destinados a todos), face à ganância dos senhores da riqueza, esgotam-se aceleradamente, o que pode levar à destruição total do nosso habitat. Mas, continuemos o sonho com esperança...

José Luís Rodrigues

Desigualdade e pobreza no Brasil

Ricardo Paes de BarrosRicardo Paes de BarrosRicardo HenriquesRosane Mendonçaç

RBCS Vol. 15 no 42 fevereiro/2000

Introdução

O Brasil, nas últimas décadas, vem confirmando, infelizmente, uma tendência de enorme desigualdade na distribuição de renda e elevados níveis de pobreza. Um país desigual, exposto ao desafio histórico de enfrentar uma herança de injustiça social

l i t i ifi ti d l ã d di õ í i dque exclui parte significativa de sua população do acesso a condições mínimas de dignidade e cidadania. Como uma contribuição ao entendimento dessa realidade, este artigo procura descrever a situação atual e a evolução da magnitude e da natureza da pobreza e da desigualdade no Brasil estabelecendo inter relaçõesnatureza da pobreza e da desigualdade no Brasil, estabelecendo inter-relações causais entre essas dimensões.Trata-se de um relato empírico e descritivo, que retrata a realidade da pobreza e da desigualdade Nossa hipótese central presente em estudos anteriores 1 é que emdesigualdade. Nossa hipótese central, presente em estudos anteriores,1 é que, em primeiro lugar, o Brasil não é um país pobre, mas um país com muitos pobres.Em segundo lugar, acreditamos que os elevados níveis de pobreza que afligem a sociedade encontram seu principal determinante na estrutura da desigualdadesociedade encontram seu principal determinante na estrutura da desigualdade brasileira — uma perversa desigualdade na distribuição da renda e das oportunidades de inclusão econômica e social.

Procuramos ainda demonstrar a viabilidade econômica do combate à pobreza eProcuramos, ainda, demonstrar a viabilidade econômica do combate à pobreza e justificar a importância, no atual contexto econômico e institucionalbrasileiro, de estabelecer estratégias que não descartem a via do crescimento econômico mas que enfatizem, sobretudo, o papel de políticas redistributivas queeconômico mas que enfatizem, sobretudo, o papel de políticas redistributivas que enfrentem a desigualdade.O trabalho está organizado em três partes. A primeira parte visa mensurar a pobreza no país, descrevendo sua evolução nas últimas duas décadas.p p , çA segunda parte procura estabelecer um diagnóstico genérico sobre os principais determinantes da pobreza, documentando em que medida o grau de pobreza observado no país deve-se à insuficiência agregada de recursos ou à má distribuição dos recursos existentes. Nesta parte, realizamos uma comparação internacional e uma análise da evolução dessas dimensões ao longo do período estudado. Em seguida, procuramos descrever a estrutura da distribuição de renda entre as famílias brasileiras.

A t i últi t d ti t d t t didA terceira e última parte do artigo pretende retratar em que medida as modestas reduções no nível de pobreza observadas no período analisado resultam do crescimento econômico ou da redistribuição de renda. Em conclusão e de acordo com o diagnóstico proposto ao longo do texto destacaconclusão, e de acordo com o diagnóstico proposto ao longo do texto, destaca-Dossiê desigualdade

124 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL 15 Nº 42 mos a124 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 Nº 42 mos a necessidade de as políticas públicas de combate à pobreza concederem prioridade à redução da desigualdade.

Pobreza no Brasil: afinal, qual o seu tamanho?

A evolução da pobreza e da indigência no Brasil entre 1977 e 1998 pode ser reconstruída a partir da análise das Pesquisas Nacionais por Amostrade Domicílios (PNADs) realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) E t i d i ili i 2 it t i di id d(IBGE). Estas pesquisas domiciliares anuais2 permitem construir uma diversidade de indicadores sociais que retratam, entre outros, a evolução da estrutura da distribuiçãodos padrões de vida e da apropriação de renda dos indivíduos e das famíliasdos padrões de vida e da apropriação de renda dos indivíduos e das famílias brasileiras.3 A pobreza, evidentemente, não pode ser definida de forma única e universal. Contudo, podemos afirmar que se refere a situações de carência em que os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizenteque os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizente com as referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico. Deste modo, a abordagem conceitual da pobreza absoluta requer que possamos, inicialmente construir uma medida invariante no tempo das condições de vidainicialmente, construir uma medida invariante no tempo das condições de vida dos indivíduos em uma sociedade. A noção de linha de pobreza equivale a esta medida. Em última instância, uma linha de pobreza pretende ser o parâmetro que permite a uma sociedade específica considerar como pobres todos aqueles p p p qindivíduos que se encontrem abaixo do seu valor.

Neste trabalho consideramos a pobreza na sua dimensão particular (evidentemente simplificadora) de insuficiência de renda, isto é, há pobreza apenas na medida em que existem famílias vivendo com renda familiar4 per capita inferior ao nível mínimo necessário para que possam satisfazer suas

id d i bá inecessidades mais básicas.5A magnitude da pobreza está diretamente relacionada ao número de pessoas vivendo em famílias com renda percapita abaixo da linha de pobreza e à distân ia entre a renda per apita de ada família pobre e a linha de pobre adistância entre a renda per capita de cada família pobre e a linha de pobreza.6Os resultados das PNADs revelam que, em 1998, cerca de 14% da população brasileira vivia em famílias com renda inferior à linha de indigência e 33% em famílias com renda inferior à linha de pobreza Deste modo como vemos nafamílias com renda inferior à linha de pobreza. Deste modo, como vemos na Tabela 1, cerca de 21 milhões de brasileiros podem ser classificados como indigentes e 50 milhões como pobres.7 Ao longo das últimas duas décadas como observamos na tabela a7 Ao longo das últimas duas décadas, como observamos na tabela, a intensidade da pobreza manteve um comportamento de relativa estabilidade, com apenas duas pequenas contrações, concentradas nos momentos de implantação dos planos Cruzado e Real.implantação dos planos Cruzado e Real.

Este comportamento estável, com a porcentagem de pobres oscilando entre 40% e 45% da população apresenta flutuações associadas sobretudo à instável dinâmica45% da população, apresenta flutuações associadas, sobretudo, à instável dinâmica macroeconômica do período. O grau de pobreza atingiu seus valores máximos durante a recessão do início dos anos 80, em 1983 e 1984, quando a porcentagemde pobres ultrapassou a barreira dos 50%. As maiores quedas resultaram, como de pobres ultrapassou a barreira dos 50%. As maiores quedas resultaram, como dissemos, dos impactos dos planos Cruzado e Real, fazendo a porcentagem de pobres cair abaixo dos 30% e 35%, respectivamente. Considerando o período como um todo, constatamos que a porcentagem de pobres declinou de cerca de 39% em q p g p1977 para cerca de 33% em 1998. Este valor ao final da série histórica analisada, apesar de ainda ser extremamente alto, aparenta representar um novo patamar do nível de pobreza nacional. A intensidade da queda na magnitude da pobreza ocorrida entre 1993 e 1995 foi menor do que em 1986. No entanto, a queda de 1986 não gerou resultados sustentados, com o valor da pobreza retornando no ano seguinte ao patamar vigente antes do Plano Cruzado. Entre 1995 e 1998 a porcentagem de pobres permaneceu estável em torno do patamar de 34%, indicando a manutenção dos impactos do Plano Real. Apesar da pequena queda observada no grau de pobreza, o número de pobres no Brasil, em decorrência do

d i l i l d 10 ilhõprocesso de crescimento populacional, aumentou em cerca de 10 milhões, passando de 40 milhões em 1977 para 50 milhões em 1998.

A bi ã t fl t õ ô i i t l i lA combinação entre as flutuações macroeconômicas e o crescimento populacional fez com que o número de pobres chegasse a quase 64 milhões na crise de 1984 e a menos de 38 milhões em 1986.

DESIGUALDADE E POBREZA NO BRASIL 125

No final dos anos 80 registra-se uma aceleração no contingente da populaçãoNo final dos anos 80 registra-se uma aceleração no contingente da população pobre e, no período recente, após a implantação do Plano Real, cerca de 10 milhões de brasileiros deixaram de ser pobres. Os atuais 50 milhões de pessoas pobres, por sua vez, encontram-se heterogeneamente distribuídos abaixo da linhapobres, por sua vez, encontram se heterogeneamente distribuídos abaixo da linha de pobreza e sua renda média encontra-se cerca de 55% abaixo do valor da linha de pobreza. Os 21 milhões de pessoas indigentes, que correspondem a um subconjunto da população pobre, estão igualmente distribuídos de forma j p p ç p , gheterogênea e encontram-se mais próximos de seu valor de referência, com sua renda média mantendo- se cerca de 60% abaixo da linha de indigência.

P t t it d d b d t t t d l dPortanto, a magnitude da pobreza, mensurada tanto em termos do volume e da porcentagem da população como do hiato de renda, apresenta, na segunda metade da década de 90, a tendência de manutenção de um novo patamar, inferior ao observado desde o final dos anos 70 Isto indica sem dúvida algumainferior ao observado desde o final dos anos 70. Isto indica, sem dúvida alguma, uma melhoria aparentemente estável no padrão da pobreza, mas este valor continua moralmente inaceitável para a entrada do Brasil no próximo século.

Determinantes imediatos da pobreza: escassez de recursos e desigualdade na distribuição de recursos

b l á d l dA pobreza, como ressaltamos anteriormente, está sendo analisada neste artigo exclusivamente na dimensão de insuficiência de renda. Neste sentido, a pobreza responde a dois determinantes imediatos: a escassez agregada de recursos e a

á di t ib i ã d i t t E t t d t b lh i timá distribuição dos recursos existentes. Esta parte do trabalho investiga essas relações causais, procurando avaliar os pesos relativos da escassez agregada de recursos e da sua distribuição na determinação da pobreza no Brasil.

COMO FOMOSCOMO FOMOS ENGANADOS!ENGANADOS!

Sou um miúdo… Sei que tenho cinco anos, pois olho para as minhas pequenas mãos e tento aprender a contar pelos dedos em espanhol para poder entrar na escolatento aprender a contar pelos dedos, em espanhol, para poder entrar na escola primária. Eu, que apenas sabia contar em italiano.Sou um miúdo, e ninguém se importa com o que eu possa ouvir… Talvez por essa razão posso acercar me da grande secretária de nogueira onde meu pai engenheirorazão, posso acercar-me da grande secretária de nogueira, onde meu pai, engenheiro de profissão, conversa com um famoso astrônomo da época, em Buenos Aires, chamado Martin Gil. Eram ambos discípulos das idéias de Einstein. Os dois entretêm-se a sonhar com uma segunda metade do século XX maravilhosaa sonhar com uma segunda metade do século XX maravilhosa.Paro, presto atenção e depressa me esqueço de contar pelos dedos, em espanhol…Por fim, dão pela minha presença, sentam-me numa cadeira, que me parece duma altura imensa e sinto-me verdadeiramente importante. Depois olham-me comaltura imensa e sinto me verdadeiramente importante. Depois olham me com meiguice e dizem-me que quando crescer verei um mundo maravilhoso. O homem chegará à Lua, os progressos da ciência e da técnica vão-nos permitir atingir planetas longínquos antes que termine o fabuloso século XX. Invejam-me, porque dos três, só g q q j , p q ,eu poderei testemunhar todas essas coisas extraordinárias. Explicam-me que todos os meninos do futuro serão felizes e terão imensos brinquedos e guloseimas. Dizem-me, também, que a grande guerra que havia assolado a Europa em 1914-18 nunca mais se repetirá. Que haveria paz.

Aconselham-me a que economize, que estude muito, pois nesse tal futuro dourado, cada moeda guardada se multiplicará por muitas, os livros serão muitos e estarão ao alcance de todos, e praticamente todas as doenças serão debeladas. Um deles, já não me recordo qual, acaricia-me a cabeça e diz-me: “Talvez até se descubra um

édi d d é ”remédio para todas as doenças e até para a morte”.

Eu já tinha reparado que na cidade havia manchas de telhados que não eram de telhas mas de lata q e obriam mas asitas q e não eram bem asitas mas simtelhas, mas de lata que cobriam umas casitas, que não eram bem casitas, mas sim uma espécie de barracas, lá para baixo, junto ao porto, e que nelas viviam miúdos como eu, mas que não recebiam prendas pelo Natal. E perguntei porquê, e se no futuro não haveria miséria se todos os meninos teriam brinquedos como eufuturo não haveria miséria, se todos os meninos teriam brinquedos como eu. Parece-me vê-los, lá longe na bruma do tempo, olharem um para o outro longamente e logo responderem que sim, com toda a certeza, pois o avanço da técnica e da ciência acabaria com todas essas diferençastécnica e da ciência acabaria com todas essas diferenças.Continuaram a falar de coisas mais complicadas, falaram das enormes reservas de petróleo, do trigo, de metais e novos produtos. Falaram também de paz e de fraternidade entre todos os homens.fraternidade entre todos os homens.

D i já l t d d iDe novo repararam em mim, que já me levantara da cadeira, e um pouco aborrecido voltava a contar pelos dedos em espanhol; e o sábio astrônomo perguntou-me: “Para que aprendes espanhol?O mundo do futuro, aquele em que tu viverás só falará um idioma: o Esperanto” Saí da sala perguntando a mimtu viverás só falará um idioma: o Esperanto . Saí da sala perguntando a mim próprio o que seria o Esperanto, e ao mesmo tempo sentia-me feliz por ter nascido no século XX, o século das maravilhas, da bondade, do progresso. Fui para o quarto dos brinquedos continuar a montar uma enorme grua com umpara o quarto dos brinquedos continuar a montar uma enorme grua com um imenso “Mecano” de centenas de pecinhas em metal. Sentia-me bem, sentia-me contente. Martin Gil, o astrônomo, dissera-me numa outra vez que tratasse de estar cá ainda neste mundo quando o cometa Halley passasse de novo pelo céu,estar cá ainda neste mundo quando o cometa Halley passasse de novo pelo céu, pois era algo belíssimo de ver.Os túmulos são profanados. Desenterram-se os mortos e atiram-se bebes para as lixeiras. Os avós são abandonados onde calha. O cão fiel que lambia as mãos de f qseus donos é abandonado, às vezes atirado do carro em andamento, por altura das férias porque se tornou um estorvo. Como fomos enganados! Era este o maravilhoso século XX? Era este o maravilhoso século da justiça e da paz?

Quantas maravilhas!... Não tinhas outras palavras para expressar o que sentia, e repetia-o e tornava a repetir, ora em italiano, ora em espanhol.Passaram os anos, e o meu enorme “Mecano” servia-me para reproduzir barcos e aviões de guerra, os quais depois fingia que incendiava, prendendo-lhes pedaços de algodão, pois queria imitar o que via nas fotografias do London News e no Signal. Só muito mais tarde tive consciência dos horrores dos «jogos de guerra», e ouvi falar dos campos de concentração, das cidades arrasadas e, por fim, das bombas atômicas que o idolatrado Einstein tinha ajudado a construir.Quando da primeira experiência feita com a bomba de hidrogênio, na ilha de Bikini, correu o boato de que devido ao fato do planeta estar cheio desse elemento, poderia desencadear uma explosão gigantesca que acabaria com o mundo; eu estava junto ao rádio, e ouvi aquele rugido terrível, seguido de repetidos estrondos

i ã b ique pareciam não acabar mais.

Mais tarde, vi pela televisão a chegada do primeiro Homem à Lua e a sua inesquecível pegada na poeira cósmica E não há muito tempo visitei no Texas uminesquecível pegada na poeira cósmica. E não há muito tempo visitei no Texas um museu, onde se encontra o Apolo XI, o vestuário utilizado e pedaços de rocha lunar. E tudo isso para quê? Não se continuou a viajar para o Lua, nem isso favoreceu o mundo cada vez com mais conflitos e mais fome Depois tudo sefavoreceu o mundo cada vez com mais conflitos e mais fome. Depois tudo se tornou mais claro para mim. Tratava-se, praticamente, duma disputa entre os Estados Unidos e a URSS, e tal como dizem as crianças, a ver quem chegava primeiro Uma mera rivalidade para as duas potências se amedrontarem uma àprimeiro. Uma mera rivalidade para as duas potências se amedrontarem uma à outra, aquilo a que depois se chamou imprópria e vaidosamente «A Guerra das Estrelas», que afinal acabou em intermináveis bichas para comprar batatas podres e em sofisticados sistemas que permitem matar um homem sem sequer lhe ver oe em sofisticados sistemas que permitem matar um homem sem sequer lhe ver o rosto… e que nos assusta porque ameaça com um fuzil, detrás de uma árvore ou das ruínas de uma latrina.Os novos explosivos plásticos serviram para matar cobardemente. Os pára-quedas p p p p qforam reservados para os aviões militares.Em alguns lugares do mundo atiram-se alimentos ao mar para manter os preços em determinados níveis, enquanto que noutros lugares milhões de seres humanos morrem de fome.

Já não escolhemos nem as bebidas, nem a comida, nem a roupa. Os “Amos da Caverna”, como lhes teria chamado Platão, fazem-no por nós. O racismo de todas as cores está de volta, e até dentro da mesma cor, pois o tribalismotroglodita está aí, utilizando de novo gases asfixiantes para exterminar povos i i f ibid l C ã d G b há iinteiros, gases esses que foram proibidos pela Convenção de Genebra, há mais de setenta anos, e que nem os loucos que desencadearam a Segunda Guerra Mundial se atreveram a utilizar.Está de olta a mentalidade Inq isitorial Tamerlan e Saladino q erem de no oEstá de volta a mentalidade Inquisitorial… Tamerlan e Saladino querem de novo construir a sua pirâmide de crânios; Torquemada regozija-se e ao mesmo tempo chora na sua louca paixão por ver acenderem-se, a seu mando, milhares de fogueiras consumindo os infiéis nas suas labaredas não deixando de falarde fogueiras consumindo os infiéis nas suas labaredas, não deixando de falar de humildade, acariciando ao mesmo tempo os acetinados mármores dos seus palácios, os quais não pensa de nenhuma maneira deixar.Um produz vinte especulam um consomeUm produz… vinte especulam… um consome.O estado é um sócio no que respeita a lucros, mas nunca nas perdas. Na hora da verdade, importa mais um cartão de crédito do que uma vida. E o pobre não terá sequer uma cama limpa para morrer.terá sequer uma cama limpa para morrer.

Mas, que importa? Estamos todos contentes pois temos democracia, leis, inúmeras associações de beneficências e os debates das Nações Unidas Estamosinúmeras associações de beneficências e os debates das Nações Unidas… Estamos tão contentes porque nos levaram à loucura e até nos rimos das nossas próprias desgraças. - E já repararam nas fotografias? - Não estão todos sempre tão sorridentes?!sorridentes?!Deus foi destronado da Igreja para dar lugar à importantíssima polêmica sobre preservativos; das sinagogas pelo problema das barbas; e as mesquitas pela proibição das mulheres mostrarem as solas dos sapatos e de usarem óculos de sol. p ç pMuitos budistas tornaram-se guerrilheiros; os brahmanes adoram o traseiro das vacas e o ideal do Shinto é substituído por melhores aparelhos eletrônicos. Confúcio lê Mao.Os túmulos são profanados. Desenterram-se os mortos e atiram-se bebes para as lixeiras. Os avós são abandonados onde calha. O cão fiel que lambia as mãos de seus donos é abandonado, às vezes atirado do carro em andamento, por altura das férias porque se tornou um estorvo.Como fomos enganados!Era este o maravilhoso século XX? Era este o maravilhoso século da justiça e da

?paz?

E t t d l b b b éE agora que estamos todos loucos, que sobre as nossas cabeças se abre o céu para deixar passar mortíferos raios, e que a terra, o ar e a água empestam, deixar-nos-ão, ao menos, tentar outros caminhos? Deixar-nos-ão fazer filosofia, procurar a Verdade onde quer que ela esteja? Deixar nos ão crer de novo em Deus pois é a únicaonde quer que ela esteja? Deixar-nos-ão crer de novo em Deus, pois é a única certeza neste mundo?Não… Sei que farão tudo para o impedir, pois estão loucos. Mas como nós também estamos loucos mas de uma outra loucura a Divina Loucura não abandonaremos oestamos loucos, mas de uma outra loucura, a Divina Loucura, não abandonaremos o nosso objetivo! Custe o que custar! Porque, sabem de uma coisa? O mundo está em tal estado que já não temos nada a perder.

Jorge Angel LivragaFundador da Org. Internacional Nova Acrópole

http://www.nova-acropole.pt/a fomos enganados.htmlp // p p / _ _ g