Contexto 8

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16 INFRAESTRUTURA pREstEs A sE toRNAR REAlIDADE A pavimentação da MG 760, sempre vista com des- confiança, agora parece que finalmente irá sair do papel. No dia 24 de outu- bro, foi assinado o contrato das obras entre a empresa vencedora da licitação e o Departamento de Estradas e Rodagens (DER) de Mi- nas Gerais. Mas, por causa do período chuvoso que se estende de novembro a fe- vereiro, as obras só devem Após décadas de falsas promessas, a pavimentação da MG-760 enfim parece que irá sair do papel. Saiba como a reestruturação da estrada permitirá abrir o caminho do desenvolvimento econômico do Vale do Aço rumo a Zona da Mata, uma das regiões mais prósperas de Minas Por Bruno Granato Em Cava Grande, o trecho onde termina o asfalto e se inicia o acesso a MG-760; ao lado, o mapa com o percurso da rodovia

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16 iNFRAeSTRUTURA

pREstEs A sE toRNAR REAlIDADE

A pavimentação da MG 760, sempre vista com des-confiança, agora parece que finalmente irá sair do papel. No dia 24 de outu-bro, foi assinado o contrato das obras entre a empresa vencedora da licitação e o Departamento de Estradas e Rodagens (DER) de Mi-nas Gerais. Mas, por causa do período chuvoso que se estende de novembro a fe-vereiro, as obras só devem

Após décadas de falsas promessas, a pavimentação da MG-760 enfim parece que irá sair do papel. Saiba como a reestruturação da estrada permitirá abrir o caminho do desenvolvimento econômico do Vale do Aço rumo a Zona da Mata, uma das regiões mais prósperas de Minas

Por Bruno Granato

Em Cava Grande, o trecho onde termina o asfalto e se inicia o acesso

a MG-760; ao lado, o mapa com o percurso da rodovia

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ZoNA DA mAtA E VAlE Do Aço: potENCIAlIDADEs

começar de fato no início de 2013. Com orçamento estimado em R$ 134 milhões, a pavimentação está previs-ta em dois lotes. O primeiro, com 64 km de extensão, inicia-se na BR-262, em Rio Casca, passa próximo a São José do Goiabal, às margens do Par-que Estadual do Rio Doce (PERD), e termina no distrito de Cava Grande, em Marliéria.

Ainda em Cava Grande começaria o segundo lote, estimado em 21 km e planejado para passar pelo bairro Licuri, em Timóteo, até o entronca-

mento da BR-381, nas proximidades do bairro Amaro Lanari, em Coronel Fabriciano. Criada para ligar Timóteo a São José do Goiabal, encurtando as distâncias entre o Vale do Aço e a Zona da Mata, a MG-760 iria beneficiar a economia das duas regiões. Entre-tanto, a rodovia encontra-se em pés-simas condições. A estrada teve sua terraplanagem iniciada na década de 1980 e, além de ligar as duas regiões e dar acesso ao PERD, o objetivo da via era escoar a produção de carvão das siderúrgicas do Vale do Aço. Por des-

caso do governo estadual, a via que possibilitaria o crescimento econô-mico para vários municípios acabou sendo motivo de falsas promessas eleitoreiras. Desde o primeiro manda-to de Nilton Cardoso, há 25 anos, uma sucessão de políticos se comprome-teu a “levar o asfalto” à MG-760. Esbu-racada e em péssimas condições para o tráfego de veículos, a pavimentação da estrada tornou-se uma lenda que, literalmente, só existe no papel: nos arquivos e mapas do governo estadu-al, ela consta como asfaltada.

Uma vez pavimentada, a MG-760 abriria caminho para novas perspectivas de desenvolvimento através da integra-ção entre o Vale do Aço e a Zona da Mata, duas regiões de rico potencial econômi-co. A MG-760, por meio do eixo Viçosa/Ponte Nova com o Vale do Aço, poderá receber o fluxo de todo trânsito da BR-262, se tornando a opção mais viável rumo à Zona da Mata. Este traçado será um atalho em direção a uma das econo-mias mais sólidas, dinâmicas e estrategi-camente localizadas do Estado. A Zona da Mata mineira representa 7,6% do PIB de Minas Gerais, mais que o dobro do Vale do Aço, correspondente a 3,56%. Na Zona da Mata, a agricultura, a pecuária e

a indústria possuem papel importante. No setor agrícola, destacam-se a agroin-dústria de produtos derivados do leite, a fruticultura, produtos hortigranjeiros, além da produção avícola, suinocultura e pecuária leiteira.

Na indústria, a força está no setor de confecções (têxtil, malhas, meias, ves-tuário, calçados, bolsas e cintos) e nos setores metalúrgico, de construção civil e moveleiro. A região é cortada por im-portantes rodovias federais, tais como BR-040, BR-116, BR-262, BR-267 e BR-482. Diferentemente da Zona da Mata, a eco-nomia do Vale do Aço gira em torno do setor industrial, com destaque para o si-derúrgico, metal-mecânico e produção de celulose. Com capacidade produtiva de milhões de toneladas, a Usiminas, Aperam e Cenibra encontram no escoa-mento da produção um dos maiores en-traves para serem mais competitivas.

A localização estratégica do Vale do

Aço, que deveria facilitar o transporte de produtos não só para a Zona da Mata, mas para todo o Brasil, não é aproveitada em sua totalidade pela má condição das estradas que passam pela região. Se há algo que pesa nos custos de produção e impede as empresas do Vale do Aço de serem ainda mais competitivas, são os problemas enfrentados na hora de esco-ar a produção, sempre pela BR 381. Para Luciano Araújo, presidente regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), a pavimentação da MG-760 seria uma via de escape estraté-gica. “O Vale do Aço possui todas as con-dições para tornar-se o principal vetor de desenvolvimento no Leste Mineiro. Temos fonte de energia acessível com o gasoduto, mão de obra qualificada com o Senai, mas o que nos falta são estradas para escoar nossa produção. A MG-760 vai ajudar a sanar essa situação”, reforça Luciano.

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tuRIsmo ECológICo

Outro setor que poderia ganhar força com a pavimentação da estrada é o turismo eco-lógico em Marliéria. Com o investimento, o PERD estaria mais acessível para receber turis-tas interessados em conhecer uma das maio-res remanescentes de Mata Atlântica de Minas Gerais - e desconhecida pela maioria da popu-lação da Região Metropolitana do Vale do Aço.

Os 36.970 hectares da unidade de conser-vação abrigam, entre outros recursos naturais, o maior complexo lacustre nacional, com 40 lagoas, 468 espécies animais e outras 1.129 vegetais, algumas ameaçadas de extinção. Embora aberto ao público, a visitação no local é baixa, prejudicada pela estrada esburacada que dá acesso ao parque.

ZoNA DA mAtA, umA REgIão Em FRANCoCREsCImENto

A Zona da Mata possui uma localização privilegiada: faz fronteira com as mesorregiões mineiras do Sul/Sudeste, com o Vale do Rio Doce e com a Região Metropolitana de Belo Hori-zonte, além de estar na divisa com os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Logisticamente a região é estratégica, sendo cortada pela BR- 040 e pela ferrovia da MRS Logística, contando ainda com suporte de um porto seco e um aeroporto regio-nal que opera cargas e faz pequenos vôos comerciais. A região possui cerca de 2,2 milhões de habitantes distribuídos em 142 municípios, com destaque para Juiz de Fora, Ubá, Ponte Nova, Manhuaçu, Viçosa e Muriaé.

Juiz de Fora continua sendo a que mais atrai indústrias e negócios. Atualmente, a cidade se encontra em um fluxo de de-senvolvimento no setor industrial, com investimentos recentes de empresas como Mercedes, Codeme, Brafer, Açotel, Votoran-tim e Arcelor Mittal. Embora a indústria esteja concentrada em Juiz de Fora, outros pólos importantes vêm se desenvolvendo. É o que mostra a confecção de roupas em São João Nepomu-ceno e Muriaé, o circuito do queijo em Rio Pomba, a avicultura, suinocultura e a indústria de suco de frutas em Visconde do Rio Branco. Vale destacar também a produção de móveis em Ubá e em sete municípios vizinhos que formam um dos principais pólos moveleiros do país, formado por 450 empresas que em-pregam 45 mil funcionários.

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JuIZ DE FoRA: Pólo industrial, cultural e universitário ubá: É o terceiro Pólo moveleiro do país e o maior de MinasmuRIAé: Comercio, prestação de serviços e indústria.mANhuAçú: Pólo de Agricultura (Produtor de café)VIçosA: Pólo Universitário (Universidade Federal de Viçosa, tida como dos mais importantes centros de estudos agronômicos da América Latina).CAtAguAsEs: Pólo cultural e Pólo da Industrial de tecidos. poNtE NoVA: Suinocultura

ZoNA DA mAtA

VAlE Do Aço

IpAtINgA: Indústria Siderúrgica e Metal-mecânicaCoRoNEl FAbRICIANo: Comércio e Prestação de Serviço tImótEo: Indústria Siderúrgica (Aço Inoxidável) bElo oRIENtE: Indústria de CelulosemARlIéRIA: Turismo Rural e Ecológico

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EmpREsáRIos DEstACAm gANhos logístICos Enquanto a obra não sai do

discurso, empresários do Vale do Aço argumentam que as péssimas condições da MG-760 inviabilizam a busca de novos mercados e o fortalecimento dos já existentes. Enfrentando mercados cada vez mais compe-titivos, as empresas buscam re-duzir os custos ao máximo para manterem o caixa equilibrado. A pavimentação da MG-760 iria de encontro a esse objetivo. Além de reduzir o trajeto em 40 km, a estrada é mais plana, per-mitindo um traçado rodoviário mais agradável, ágil e seguro.

Para Jorge Damasceno Jú-nior, da Gráfica Damasceno, lo-calizada em Coronel Fabriciano, a condição precária da MG- 760 é o principal empecilho para a prospecção de novos clientes na Zona da Mata. No caso da indústria de embalagens, a atu-ação comercial não permite ul-trapassar a distância de um raio de 300 quilômetros devido ao custo de transporte versus valor agregado. “Com a pavimentação da MG-760, estaríamos aptos a aproximar melhor nossas em-presas de algumas cidades da região da Zona da Mata, o que aumentaria a possibilidade de novos negócios. O setor da in-dústria gráfica não é diferente dos demais: cada vez mais te-mos que reduzir o tempo para realizar grandes trabalhos e atender as necessidades do cliente. Se gastarmos menos tempo na logística, teremos mais condições de competir”, destaca o empresário.

Por sua vez, Roner Cimam Mesquita já sente no bolso o quão prejudicial é o descaso com a MG-760. Proprietário de quatro lojas de móveis e ele-trodomésticos em Timóteo e Coronel Fabriciano, Roner en-frenta elevados gastos com logística para comprar seus produtos em Ubá, Rodeiro e Visconde Rio Branco, cidades que integram um dos maiores pólos moveleiros do país. Atu-almente, os valores com frete correspondem a 6% do valor fi-nal dos produtos vendidos por Roner. Se a MG-760 fosse asfal-tada, estes custos reduziriam pela metade, indo para 3%. “A pavimentação da estrada seria um marco para o setor move-leiro do Vale do Aço. Hoje, so-mos grandes consumidores da Zona da Mata. Para se ter uma idéia, 60% dos meus produtos são dessa região. Com a redu-ção dos custos, os consumido-res teriam móveis mais baratos, maior variedade e mais novida-des”, enfatiza Roner.

Para Alexandre Torquetti Junior, diretor da Emalto Indús-tria Mecânica, a pavimentação da via impactaria naturalmente em melhores preços. Com pre-tensões de conquistar o merca-do na Zona da Mata, a empresa vê principalmente em Juiz de Fora um grande potencial. “Na maioria dos casos em que dei-xamos de fazer negócios com algum cliente dessa região, fo-ram justamente as diferenças de preços que pesaram na ba-lança”, explica Torquetti.

A pavimentação da MG-760 facilitaria a prospecção de novos mercados também por parte das empresas da Zona da Mata. Para Francisco Campolina, presidente da FIEMG da Zona da Mata, a pa-vimentação da MG-760 seria ex-tremamente estratégica. “Do Vale do Aço, compraríamos o aço e o inox a um preço mais em conta,

e esse produtos poderiam incre-mentar vários setores da nossa economia, como a construção civil e a indústria metal mecâni-ca . Por outro lado, estaria sendo aberto um mercado consumidor com grande potencial para nossa tradicional indústria de bens de consumo, como móveis e carne suína”, destaca Campolina.

VIA DE mão DuplA

Junior Damasceno argumenta que

a pavimentação permitira melhor competitividade

“A estrada facilitaria a logística e reduziria custos”,

ressalta Alexandre Torquetti Jr.

Francisco Campolinha, da FIEMG Zona da Mata: “a integração entre as duas regiões significa a prospecção de novos clientes”