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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO VINHO:
A RELAÇÃO ENTRE BIOLOGIA E QUÍMICA
Elcio Schuhmacher, Dr. - [email protected]
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática -
PPGECIM/FURB.
Endereço: Rua Antônio da Veiga, 140 - Victor Konder.
89012-900 Blumenau – Santa Catarina.
Fabiana Fachini - [email protected]
Bolsista da FAPESC/SC - Brasil
Kátia Girardi Dallabona - [email protected]
Bolsista do PPGCIM - FURB
Resumo: O presente artigo tem por objetivo compreender a interdisciplinaridade e discutir a
necessidade de contextualizar temas abordados pelo currículo escolar. O processo de ensino
interdisciplinar foi realizado em uma escola da rede estadual de ensino de Santa Catarina,
onde foi possível discutir uma atividade predominante e típica da região, que é a produção de
vinho. Envolver mais de uma área de ensino no aprendizado dos alunos torna-se relevante
para que os conteúdos tenham significado. Assim, a escolha do tema, enfatiza conhecimentos
prévios e científicos, pois parte de algo do senso comum de uma comunidade escolar. A
metodologia de pesquisa utilizada para verificar se o trabalho atingiu os objetivos propostos,
foi o de uma pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva e participativa, tendo a
participação direta dos pesquisadores. Durante a aplicação deste trabalho interdisciplinar
sobre o tema “Vinho” pode-se verificar que os alunos adquiriram conhecimentos científicos e
reorganizaram o seu conhecimento de “senso comum”, adquiridas no cotidiano familiar,
pois a bebida vinho está presente na maioria das famílias como também produzida por
muitos dos pais de nossos alunos. Desta forma, procurou-se enfatizar a questão histórica,
trabalho em equipe e o aprendizado dos processos de produção, além de explorar os
conceitos de Biologia e de Química envolvidos durante a temática: o Vinho.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Ensino de biologia e química, Contextualização,
Vinho.
1 INTRODUÇÃO
No processo de aprendizagem é necessário que o professor esteja atento as situações
que ocorrem em sala de aula. A aprendizagem somente será significativa se o aluno estiver
motivado para os estudos, ou quando o assunto trabalhado em sala de aula despertar o seu
interesse. Uma das críticas que se faz a escola é o fato de o ensino tradicional não considerar
interesses da vida do aluno. Essa separação, que ocorre entre a escola e o cotidiano, nem
sempre desperta o interesse no aluno para conteúdos apresentados em sala de aula.
Incluir questões e temas interdisciplinares da realidade local ou regional do aluno, tais
como ética, meio ambiente, saúde, orientação sexual, entre outros, em aulas de ciências
auxilia na significação do conteúdo disciplinar, na reflexão e entendimento da realidade. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) descrevem a interdisciplinaridade e a
contextualização como pontos essências a serem trabalhados dentro de um ensino
significativo. Pesquisas mostram que o aluno, mesmo conhecendo conceitos científicos
importantes, ao serem questionados sobre situações do cotidiano, não são capazes de usar
esses conceitos e acabam explicando e utilizando o conhecimento do senso comum.
(BRASIL, 2002).
Contextualizar o ensino e obter uma interrelação com diferentes áreas do
conhecimento é uma forma de trabalhar os conteúdos do cotidiano, buscando no
conhecimento científico explicações, e com isto, tornando o aluno capaz de relacionar o
conhecimento da ciência com a sua práxis.
A formação de um cidadão pleno exige um conhecimento mais amplo, as disciplinas de
Ciências ajudam neste processo de formação e ampliam o universo de conhecimento do
aluno. O objetivo do trabalho foi trabalhar uma inter-relação entre as disciplinas de Biologia e
Química, tendo como tema gerador o “Vinho”, produto típico da região. Durante o trabalho
foi discutida a história do vinho, processos de fermentação, algumas questões sociais
relacionadas com o “beber e dirigir”, questões de ordem política e econômica dentre outros
temas. Com isto, o ensino da temática incentiva o desenvolvimento de competências no aluno.
2 CONHECENDO A HISTÓRIA DO VINHO
A história do vinho tem grande importância para a humanidade, pois o seu surgimento
em tempos remotos tornou-o um produto que acompanhou grande parte da evolução
econômica e sociocultural de várias civilizações ocidentais e orientais.
Desta forma, introduzimos a questão histórica através das seguintes indagações: Quem
foi o primeiro a degustar a uva? Quem descobriu o suco contido na uva? Afinal, e quem
inventou o vinho?
Esses questionamentos permitiram uma participação ativa dos alunos a fim de
interagirem com o tema proposto. Segundo Cataluña (1991), consta que as primeiras videiras
teriam sido encontradas na Ásia Ocidental e na Europa. Nessas duas regiões, em cavernas pré-
históricas, foram localizadas folhas de videiras e sementes de uvas.
Segundo o Velho Testamento, o primeiro produtor de vinho foi Noé, personagem
importante da história do vinho, pois consta que depois de descer de sua Arca, logo após o
dilúvio, nas terras de Ararat (hoje Turquia), plantou ali a vinha, colheu as uvas e fez o vinho.
Para a mitologia grega, o desenvolvimento da vinha e do vinho deve-se ao deus Dionísio, os
mesmos que os romanos chamavam de Baco. Para a história, foram os arianos do sul do
Cáucaso que deixaram vestígios, comprovando que já se produzia vinho 10 mil anos a.C.
(PERCUSSI,1998 e PACHECO, 2000).
A história da vitivinicultura no Brasil inicia-se em 1532 com Martim Afonso de Souza
que veio da Ilha dos Açores. Esse colonizador trouxe consigo as videiras que deram início a
cultura de uva no Brasil. (CATALUÑA, 1991).
Conforme descrito por Braga e Alzer (2004), existem três épocas históricas do vinho:
- a primeira é a do barro cozido, da cerâmica (aproximadamente do ano 800 até o ano 1000).
Época da ânfora (moringa), usado pelos gregos e romanos;
- a segunda, a do tonel: quando o vinho passou a se desenvolver na madeira, tornando-se mais
ligeiro, mais leve, passava do tonel à mesa;
- a terceira, a da garrafa: a garrafa de vidro mais resistente foi criada no final do século XVII,
e a partir de então se transformou a técnica do vinho, no qual, permitiu o uso da rolha, que já
era conhecida na Roma Antiga.
Braga e Alzer (2003) descreveram o vinho, assim como a maioria das bebidas
alcoólicas existentes na Idade Média, no qual era usado na medicina, no tratamento de feridas
e de outros males. Hipócrates, no século V a.C., já recomendava o uso do vinho branco, rico
em elementos que estimulam a eliminação de toxinas, de efeito diurético, para lavar feridas
externas e lesões abertas, como ação bactericida, combate ao herpes, facilita a digestão, fonte
de sais minerais, minimizar alergias, inibindo a oxidação do LDL (mau colesterol) e
estimulando a produção do HDL (o bom colesterol).
3 A INTERDISCIPLINARIDADE E A CONTEXTUALIZAÇÃO
As condições encontradas no momento de se realizar uma atividade interdisciplinar
nas escolas nem sempre são favoráveis, pois parte dos professores que atuam na rede de
ensino não tem claro como esse princípio unificador pode ser colocado em prática no
cotidiano escolar.
A isso se somam três níveis de dificuldade para a implantação da interdisciplinaridade
no Ensino Médio, conforme descreve Milanesi, (2004). No primeiro nível chamado de
estrutural, o autor aponta a ausência de uma política educacional que privilegie, de fato, a
interdisciplinaridade e um investimento maciço em educação, além da fragmentação do
contrato de trabalho dos professores. No segundo nível identificado como nível do sujeito, o
autor aponta a má vontade e baixa autoestima de muitos professores ocasionada, em grande
parte, pelo baixo salário e as más condições de trabalho. Os esforços de integração disciplinar,
no terceiro nível, nomeado por nível de conhecimento, por sua vez, são feitos, geralmente, a
partir de temas interdisciplinares, o que privilegia conteúdos de algumas disciplinas em
detrimento de outras. Desse modo, mesmo que os professores não estejam alheios à discussão
sobre a interdisciplinaridade, eles podem não programar ações para efetivá-la nas escolas.
Segundo Lenoir, (1998), as opções epistemológicas para a interdisciplinaridade
escolar têm-se caracterizado pelo estabelecimento de conexões entre duas ou mais disciplinas
(abordagem relacional), ou pelo estudo de conceitos ou temas de aspecto amplo, valorizando a
substituição do conhecimento dividido em disciplinas por uma unidade do saber, por um tema
(abordagem radical).
De acordo com as orientações contidas nas DCNEM, “a interdisciplinaridade deve ser
compreendida a partir de uma abordagem relacional” (BRASIL, 2002, p. 36). Fazenda (2002,
p. 25), estabelece a pesquisa como condição para a ocorrência da interdisciplinaridade,
afirmando que ela “caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau
de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”.
O conceito de interdisciplinaridade de “senso comum” entre professores é de que a
interdisciplinaridade se constitui de uma integração de conteúdos. Pensar desta forma é
descrevê-la de modo superficial, dificultando a realização de um trabalho integrado. Um dos
principais argumentos usados pelos professores, para evitar a interdisciplinaridade é de que os
conteúdos da sua disciplina deixam de ser apresentados e/ou aprofundados. A grande
dificuldade apresentada na construção de atividades em conjunto ocorre por que a
interdisciplinaridade exige dos professores um trabalho pedagógico cooperativo e integrado, e
isto não ocorre. A cooperação integrada entre os professores é um ponto chave para a
interdisciplinaridade escolar ser possível. (HARTMANN, ZIMMERMANN, 2007).
A contextualização, por sua vez, visa dar significado ao que é ensinado. É uma forma
de trazer os conteúdos disciplinares trabalhados no cotidiano escolar para o cotidiano
vivenciado pelo aluno fora da escola, ligando as duas realidades vividas pelo aluno, as quais
muitas vezes se encontram à quilômetros de distância. Pois fatos e eventos que se encontram
separados fisicamente, pode estar conectados a uma mesma rede de contato. Essa realidade
pode ser tanto próxima quanto distante, pois em um mundo globalizado, acontecimentos
distantes podem afetar diretamente a vida do aluno e constituir ponto de partida para tornar os
conhecimentos atraentes. (BRASIL, 2006a).
O professor, contudo, precisa reconhecer as situações que possibilitem ou facilitem a
contextualização, tendo presente que ela pode ser efetivada tanto em aulas expositivas quanto
nas de estudo do meio, de experimentação ou no desenvolvimento de projetos. Nesse sentido,
a contextualização não deve acontecer apenas para tornar o conteúdo mais atraente, mas é
fundamental que o aluno torne-se capaz de analisar a realidade, imediata ou distante, atual ou
histórica, e consiga compreender, na sua vida em particular, a importância do que é estudado.
(BRASIL, 2006).
A contextualização consiste em atribuir sentido e significado ao que é vivido e uma
oportunidade para o professor tornar o aluno capaz de assumir posições diante de situações e
problemas reais e de ampliar seu nível de conhecimento científico e tecnológico, de modo a
utilizá-lo como instrumento para compreender e modificar seu contexto social.
Os conteúdos deixam, assim, de serem fins em si mesmos (ou para aprovação em algum
vestibular) para se tornarem meios para a interação com o mundo, fornecendo ao aluno
instrumentos para construir uma visão articulada, organizada e crítica da realidade.
Deve-se considerar a interdisciplinaridade e a contextualização dois princípios
curriculares complementares, que contribuem para que o aluno compreenda a realidade.
Partindo do pressuposto apresentado por Japiassu, (1976), de que a interdisciplinaridade se
caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das
disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa, exige-se que as disciplinas, em seu
processo constante e desejável de interpenetração, se fecundem cada vez mais
reciprocamente.
Para se alcançar estes objetivos é necessário que exista entre as disciplinas uma
complementariedade entre métodos, conceitos, estruturas e sobre os quais se fundam as
práticas pedagógicas das disciplinas científicas. Japiassu, (1976), destaca ainda:
[...] do ponto de vista integrador, a interdisciplinaridade requer equilíbrio entre
amplitude, profundidade e síntese. A amplitude assegura uma larga base de
conhecimento e informação. A profundidade assegura o requisito disciplinar e/ou
conhecimento e informação interdisciplinar para a tarefa a ser executada. A síntese
assegura o processo integrador. (p. 65-66).
Deve-se entender a disciplina como um espaço de organização, sistematização e
socialização dos conhecimentos parciais produzidos no âmbito de uma ciência para fins de
ensino e pesquisa. Cada disciplina tem uma linguagem própria para descrever eventos que
ocorrem.
O que se propõe é uma revisão de pensamento disciplinar, caminhando no sentido da
intensificação do diálogo, das trocas, da integração conceitual e metodológica nos diferentes
campos do saber. Nas palavras de Japiassu:
“Podemos dizer que nos reconhecemos diante de um empreendimento
interdisciplinar todas as vezes em que ele conseguir incorporar os resultados de
várias especialidades, que tomar de empréstimo a outras disciplinas certos
instrumentos e técnicas metodológicos, fazendo uso dos esquemas conceituais e das
análises que se encontram nos diversos ramos do saber, a fim de fazê-los integrarem
e convergirem, depois de terem sido comparados e julgados. Donde podermos dizer
que o papel específico da atividade interdisciplinar consiste, primordialmente, em
lançar uma ponte para ligar as fronteiras que haviam sido estabelecidas
anteriormente entre as disciplinas com o objetivo preciso de assegurar a cada uma
seu caráter propriamente positivo, segundo modos particulares e com resultados
específicos. (1976, p. 75)
Apresentar uma relação conceitual neste artigo, de forma que possamos envolver no
trabalho a interdisciplinaridade nas disciplinas de Biologia e Química, é um processo que
necessita do acesso contínuo a um conhecimento amplo pelo professor, que inclui desde
pesquisas, leituras e criatividade. Dentro dessa perspectiva foi desenvolvido o tema, com o
intuito de apresentar a importância do trabalho interdisciplinar de um componente curricular
de Biologia e Química, por meio da construção de mapas conceituais.
De acordo com Ausubel, (2010), podemos relacionar os mapas conceituais com a
teoria da aprendizagem significativa ou conhecida como teoria cognitivista de aprendizagem.
A estreita relação entre mapas conceituais e aprendizagem significativa vem do fato
de que logo após seu aparecimento essa estratégia revelou ter um alto potencial para
facilitar a negociação, construção e aquisição de significados. (AUSUBEL, 2010, p.
17).
O ensino tradicional de Biologia e de Química não tem sido muito eficaz para preparar
nossos alunos para o cotidiano e até mesmo para o mercado de trabalho, pois, desenvolver
habilidades é fundamental, para que este possa avaliar alternativas, agir criticamente,
trabalhar em grupos, enfim, entender o mundo que esta ao seu redor.
Assim, o presente artigo tem por objetivo compreender a interdisciplinaridade no
ensino de Biologia e de Química usando a temática “Vinho”. Por meio deste tema, buscou-se
exemplificar o processo de produção do vinho, usando técnicas simples, desenvolvidas em
contato direto com o conhecimento do cotidiano dos alunos. Procurou-se realizar um processo
de ensino que fosse significativo para os alunos. A escolha do tema ocorreu devido à presença
de uma vinícola nas proximidades em que se localiza a entidade escolar, e também por ser um
produto que está presente na maioria das mesas das famílias dos alunos, desde a bebida
propriamente dita, em sucos, festas típicas regionais, pratos doces e até em geleias.
3.1. A construção da interdisciplinaridade
A partir da constatação da necessidade da aplicação de práticas interdisciplinares no
ambiente escolar, foi realizado o projeto interdisciplinar, entre as disciplinas de Biologia e
Química, que envolveu alunos do 1º Ano do Ensino Médio da Escola de Educação Básica
Ruy Barbosa, situada no município de Timbó – SC. Utilizando as instalações da escola, os
alunos, de acordo com a disponibilidade e o consentimento dos pais, participaram de
atividades, vivenciando a construção do conhecimento a partir de visitas e experimentações,
com as quais puderam estabelecer uma relação entre saúde, ciência e meio ambiente, e criar
discussões em cima da problemática do vinho.
Além disso, o trabalho buscou mostrar ao aluno, da necessidade de conhecer conceitos
de biologia e química, para uma compreensão plena dos diferentes assuntos pertinentes ao
vinho. Fez parte desse estudo a investigação de atitudes, habilidades e procedimentos
desenvolvidos nos alunos, as modificações da rotina da sala de aula e do papel do professor, a
mudança de postura em relação às questões que foram levantadas e da concepção em relação
às disciplinas.
A metodologia de pesquisa utilizada para verificar se o trabalho atingiu os objetivos
propostos, foi o de uma pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva e participativa, tendo a
participação direta dos pesquisadores. Os sujeitos do processo de busca de novos
conhecimentos foram os alunos participantes do projeto. O professor elaborou, junto com os
alunos, as diferentes etapas de desenvolvimento do projeto, participou de todas as etapas
como um orientador dos trabalhos e de todos os momentos de coleta de dados.
Este projeto interdisciplinar ajudou a amenizar as dificuldades existentes entre
professores formados em um pensamento fortemente disciplinar, com poucas conexões com
outros conhecimentos. Havendo a necessidade de introduzir novas formas de fazer Ciências,
mais próxima da vida escolar e principalmente da cotidiana, consideramos estas disciplinas
como um conhecimento interpretativo, relativo, construído socialmente e acessível a todos.
O projeto teve inicio com a discussão entre os professores de Biologia e de Química,
sobre o tema vinho, e as inter-relações existentes entre as duas disciplinas. Na figura 01, é
apresentado o mapa conceitual resultante da discussão e usado para o desenvolvimento do
tema interdisciplinar intitulado “Vinho” nas disciplinas e direcionado ao 1º ano do Ensino
Médio.
O mapa conceitual foi utilizado pelos professores como forma de organização dos
conceitos envolvidos e proporcionou a contextualização do tema dentro das respectivas
disciplinas. Além disso, o mapa oportunizou uma nova forma de “fazer do professor”, uma
nova rotina da sala de aula, possibilitando a construção de conceitos e no desenvolvimento de
procedimentos e atitudes.
Observa-se pelo mapa que a disciplina de Biologia, tem como princípio norteador o
tema microrganismos que está relacionado ao fato da ocorrência da fermentação, assunto
proposto na disciplina de Química. A partir destes dois princípios foram discutidos os
conceitos envolvidos em cada uma das áreas, sob o tema gerador.
Figura 01: Mapa Conceitual abordando o tema Vinho.
FONTE: As autoras.
Na disciplina de Química discutiram-se os principais componentes químicos
envolvidos na fabricação do vinho. Para isto, foi solicitado aos alunos que fizessem uma
pesquisa sobre as substâncias presentes no vinho, o significado de cada elemento, sua
contribuição ao processo de fermentação. Houve a mediação do professor, enquanto os alunos
buscavam relacionar as principais substâncias químicas presentes no vinho.
Embora as bebidas alcoólicas sejam diferenciadas por suas propriedades, tais como suas
matérias primas e diferentes teores alcoólicos, todas elas têm uma origem básica comum, isto
é, todas derivam de um processo bioquímico denominado fermentação alcoólica. A
fermentação alcoólica é um tipo de reação química realizada pela ação de microrganismos
(leveduras) sobre os açúcares, produzindo etanol e gás carbônico.
As leveduras são fungos e, especialmente, a espécie Saccharomyces cerevisae é
utilizada para a fabricação de cerveja, pães, pizzas, e o vinho, nosso principal objetivo. Por ser
a fermentação um processo anaeróbio, realizado principalmente por leveduras e algumas
bactérias para produção de ATP (adenosina trifosfato) a partir de compostos orgânicos.
Durante as discussões foi sendo construído o mapa conceitual que representa os
principais elementos e substâncias químicas presentes na constituição do vinho, sendo
visualizado na Figura 02.
Figura 02: Principais elementos ou substâncias químicas do vinho.
Fonte: As autoras.
Na verificação dos conceitos envolvidos na disciplina de Biologia sobre o tema, os
alunos realizaram pesquisas em endereços eletrônicos, sobre os tópicos: microrganismos,
fungos, importância dos fungos no processo de fabricação do vinho, a importância dos
microrganismos para a sociedade e no ecossistema. Os resultados da pesquisa foram sendo
colocados pelos alunos e das discussões resultou o mapa conceitual de Biologia, Figura 03.
Figura 03: Principal relação da biologia com os fungos.
Fonte: As autoras.
3.2. Experiências realizadas durante a interdisciplinaridade
No âmbito da experimentação, a dificuldade de encontrar métodos de ensino que não
envolva a utilização de equipamentos e infraestrutura, que não estão de acordo com a
realidade da maioria das escolas públicas, foi mais um dos desafios encontrado pelos
professores de Biologia e de Química. As experiências despertam um grande interesse por
parte dos alunos, além de propiciar um momento de investigação e auxiliá-lo na compreensão
dos fenômenos sobre os quais se referem os conceitos, ajuda a melhorar o aprendizado,
proporcionando uma maior assimilação do conteúdo discutido em sala de aula.
Como forma de entendimento do processo de fermentação, os alunos foram conduzidos ao
laboratório de Ciências – Biologia e Química, no qual houve a realização de um experimento
para poder-se observar o processo de fermentação alcoólica, que ocorre devido a adição de
realizada por leveduras.
Durante o trabalho experimental, houve novamente discussão sobre o que são as
leveduras e foram levantadas algumas questões sobre o processo de fermentação, de forma a
despertar o interesse dos alunos no experimento a ser realizado. Algumas das questões
levantadas foram: “- Que composto orgânico é indispensável em uma matéria prima para que
ocorra a fermentação? – Qual substância afeta a intensidade da fermentação?”, entre outros
questionamentos. Na sequência foi realizada a atividade para evidenciar o processo de
fermentação, para isso utilizou-se de duas garrafas transparentes do tipo PET, dois balões,
água, açúcar e fermento biológico (utilizados para fazer pão).
Na primeira garrafa colocou-se água e fermento biológico, em seguida fechou-se com
um balão, enquanto que na outra garrafa colocou-se a mesma medida de água da experiência
anterior, acrescentando água, fermento biológico e açúcar e o balão. Após alguns minutos
analisamos os resultados.
Como nesse tipo de fermentação ocorre liberação de gás carbônico, a fermentação
pode ser percebida porque o balão acoplado enche-se de gás. Observou-se que somente onde
foi adicionado açúcar houve fermentação, pois as leveduras precisam de glicose para
fermentar, ou seja, a mistura água, fermento e açúcar provocam o enchimento do balão,
devido à produção de gás carbônico produzido pelos fungos, enquanto que na outra garrafa
não ocorreu o enchimento de balão, pois não estava presente a glicose (açúcar) alimento dos
fungos.
Para assegurar um aproveitamento entre a aula experimental e a fixação do conteúdo
aprendido, os resultados obtidos foram discutidos com os alunos. O professor de química
discutiu o processo de fermentação, no qual foi enfatizado, que este é um processo
bioquímico realizado por microrganismos que convertem moléculas de carboidratos
(açúcares) em álcool, gás carbônico e energia. Resultando em um processo da reação:
Reação: C6H12O6 2 C2H6O + 2 CO2
Sendo também enfatizado que a fermentação é utilizada na elaboração de bebidas
fermentadas, como o vinho e a cerveja. No caso do vinho, a fermentação é utilizada para a
obtenção de álcool a partir dos açúcares do suco de uva. Para isso, são utilizados os
microrganismos do tipo leveduras (fermentos semelhantes aos utilizados na fabricação de
pão) do gênero Saccharomyces.
À medida que a fermentação evolui, a quantidade de açúcar do mosto diminui, ao passo
que o teor de álcool aumenta. A densidade do mosto diminui progressiva e mais rapidamente
quanto mais ativa estiver a fermentação. A fermentação de cada tipo de vinho ocorre em
diferentes temperaturas, como por exemplo: a fermentação do vinho tinto ocorre entre 26 e
28°C e a fermentação do vinho branco ocorre a 15°C.
Segundo a teoria construtivista de Jean Piaget e Lev Vygotsky, com o objetivo de se
validar o desenvolvimento das habilidades dos alunos em uma aula experimental, pode-se
valer de uma aula contextualizada e com isto, se verificar do estágio de desenvolvimento das
habilidades dos alunos, perante o tema proposto. Para se validar este estágio e como
complemento as atividades interdisciplinares, houve uma saída a campo com os alunos,
visitando-se a Vinícola San Michele, localizada no município de Rodeio/SC. O objetivo foi
observar in loco os processos de produção (plantio e colheita), de fermentação, de
envelhecimento e de engarrafamento do produto final, como também os processos dos tipos
de vinho (branco e tinto) e observar o conhecimento dos alunos sobre o tópico fermentação.
Houve uma etapa não prevista no trabalho inicial, mas que foi realizada devido a
empolgação dos alunos no retorno da visita a Vinícola, os professores foram questionados
pelos alunos sobre a possibilidade de fabricar a própria bebida - vinho no laboratório de
Ciências da escola. O desafio foi aceito, pois os alunos estariam envolvidos de maneira
atrativa e desafiadora, verificando a fermentação e, ao mesmo tempo, a ação dos
microrganismos numa prática.
Durante a prática houve a formação de grupos que realizaram pesquisas com o objetivo de
encontrar uma receita para a realização da experiência, na qual não houvesse a inserção de
álcool na bebida produzida.
Discutiu-se com os alunos as diversas etapas necessárias para a preparação da bebida não
alcoólica, assim como os materiais envolvidos, tempo necessário e a organização das equipes.
Para a experiência, optamos por utilizar a seguinte receita: 1 kg de uvas, 0,5 g de fermento
biológico, coador de papel, 50 cm de mangueira plástica, fita adesiva, 50 cm de elástico, funil,
liquidificador e uma garrafa.
No preparo da bebida, seguiu-se a seguinte receita: ao serem selecionadas as uvas de
preferência as maduras, pois quanto mais madura a uva maior a quantidade de carboidrato, e,
consequentemente, maior é o teor de açúcar presente. Na sequência as uvas foram lavadas e
partidas ao meio uma a uma, retirando as sementes e batendo-as no liquidificador. Na etapa
seguinte, o suco foi transferido para a garrafa através de um funil, acrescentando o fermento
biológico. Adaptou-se uma mangueira na boca da garrafa, introduzindo 3 cm dentro,
lacrando-a com a fita adesiva. A outra extremidade da mangueira foi presa com elástico um
copo com água até a altura do elástico. O líquido permanece em repouso por dez dias em
lugar seguro e ao abrigo da luz. No final dos dez dias usou-se de um coador de papel para se
retirar as impurezas e se tem o vinho pronto.
Durante o experimento, houve diversas discussões nos grupos sobre a ação
fermentativa dos microrganismos que são produzidas nesse processo (gás carbônico e o
álcool). Nestes momentos a garrafa foi aberta e sentiu-se o cheiro que era exalado.
Realizou-se uma apresentação dos trabalhos desenvolvidos na escola, na qual mostraram o
processo de fabricação e na sequência os alunos puderam experimentar a bebida.
4 RESULTADOS
Sabemos que a maioria das disciplinas contidas nos currículos atuais oferece aos
alunos acúmulo de informações, que nem sempre são relevantes para a vida social deste. O
aprendizado somente é significativo quando o aluno pode interagir e vivenciar o seu
conhecimento cotidiano resignificando-o com o conhecimento científico.
Durante a aplicação deste trabalho interdisciplinar pode-se verificar que os alunos
adquiriram conhecimentos científicos, e reorganizaram o seu conhecimento de “senso
comum”, adquiridas no cotidiano familiar, pois a bebida vinho está presente na maioria das
famílias como também produzida por muitos dos pais de nossos alunos. Apesar desta
presença constante no cotidiano local, os alunos e algumas famílias envolvidas, não tinham
informações de como ocorria o processo de elaboração do vinho, e que foi ponto de ligação
dos conceitos entre as disciplinas de Biologia e de Química.
Através deste trabalho, observamos a transição nos alunos, entre o conhecimento
cotidiano para um conhecimento mais próximo do científico, sendo que os fatores que
motivaram esta mudança foram: mediação dos professores, visitação na Vinícola San
Michele, participação dos alunos em atividades experimentais, nas pesquisas realizadas e as
discussões ocorridas em grupo.
E dentro deste contexto, houve a possibilidade de exploração dos conteúdos escolares,
propostos pelo currículo, de uma forma mais contextualizada interagindo principalmente a
teoria com a prática das disciplinas de Biologia e Química.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fazenda, (1999), considera que o conhecimento interdisciplinar não finaliza na sala de
aula, mas ultrapassa os limites do saber escolar e se fortalece na medida em que ganha
amplitude da vida social, estimulando a competência do educador e apresentando-se como
uma possibilidade de reorganização do saber para a produção de um novo conhecimento.
As questões didático-pedagógicas na sala de aula apresentam-se como um desafio
permanente, um laboratório natural, instigador, que requer constantes adaptações e
articulações entre o vivido e o aprendido, a pesquisa e a descoberta, o saber, o fazer
e o ser, no cotidiano escolar. (FAZENDA, 1999, p. 60).
O tema interligando áreas distintas do conhecimento proposto no trabalho efetuou
respaldo necessário ao conceito de interdisciplinaridade, proposto por diversos autores. A
ideia central do trabalho com ênfase na contextualização histórica do vinho e a sua relação
com as disciplinas de Biologia e Química, mostrou que é possível, usar de conceitos comuns
as disciplinas e trabalhá-los de forma conjunta. Pois a abordagem interdisciplinar atende a
esta demanda, sem anular a importância da disciplinaridade do conhecimento. O conceito de
interdisciplinaridade permitiu termos uma visão global dos processos de fabricação do vinho e
ao mesmo tempo abordar tópico e conceitos disciplinares.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: José Olympio, 2003.
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Acesso em: 08 de maio de 2012.
HISTORICAL BACKGROUND OF WINE: THE RELATIONSHIP
BETWEEN BIOLOGY AND CHEMISTRY
Abstract: This paper aims to understand the interdisciplinarity and discuss the need to
contextualize themes of the school syllabus. The process of interdisciplinary teaching was
conducted in a state school in Santa Catarina, where it was possible to discuss a typical
activity of the region, which is the production of wine. Involving more than one area of
teaching in students learning is relevant to a meaningful content. Thus, the choice of subject
emphasizes prior scientific knowledge as part of the common sense in a school community.
The research methodology used to verify if the work has reached its objectives was a
qualitative, descriptive, and participatory study, with the direct participation of the
researchers. During the application of this interdisciplinary work on "Wine", it can be seen
that the students acquired scientific knowledge and reorganized their knowledge of "common
sense". This last one is acquired in the family routine as drinking wine is present in most
families and it is carried out by our students parents. Thus, we tried to emphasize the
historical question, the teamwork and the learning of production processes, exploring the
concepts of Biology and Chemistry involved in the wine production.
Keywords: Interdisciplinarity, Biology and chemistry teaching, Background knowledge, Wine.