Conto Feliz Aniversário

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Anais do IV Coloacutequio Internacional Cidadania Cultural diaacutelogos de geraccedilotildees

22 23 e 24 de setembro de 2009

Campina Grande Editora EDUEPB 2009 ndash ISSN 2176-5901 983089

SENTIMENTO DE ABANDONO NA MATURIDADE FEMININA UMA ANAacuteLISE DOCONTO FELIZ ANIVERSAacuteRIO DE CLARICE LISPECTOR

Maria Aparecida do Nascimento Diaslowast Mariacutelia Arauacutejo Feacutelix

RESUMO

O presente artigo discute a problemaacutetica da velhice no acircmbito familiar a partir do

conto Feliz aniversaacuterio de Clarice Lispector observando o desprezo conferido agrave anciatilde

DAnita pelos demais sujeitos (seus proacuteprios filhos) que sendo de uma geraccedilatildeo mais

jovem se sentem no dever ou mesmo obrigados a cuidar desta senhora cuja idade

avanccedilada atrapalha o individualismo das demais personagens Nesse sentido buscou-

se averiguar o sentimento de abandono e de anguacutestia que permeia uma pessoa

ldquovelhardquo por natildeo se sentir mais correspondida no campo afetivo-emocional com

atitudes de carinho e proteccedilatildeo por parte dos parentes Partiu-se de uma revisatildeo

bibliograacutefica baseada em Giannetti (2005) Falcatildeo e Dias (2005) Bauman (2008)

sobre as temaacuteticas maturidade anguacutestia na velhice e individualismo na sociedade

contemporacircnea

PALAVRAS-CHAVE Maturidade anguacutestia na velhice e individualismo na sociedade

contemporacircnea

INTRODUCcedilAtildeO

Eacute bem verdade que a globalizaccedilatildeo no mundo poacutes-moderno imprimiu um novo

ritmo na vida das pessoas bem como nas suas relaccedilotildees interpessoais Cada vez mais o

indiviacuteduo e principalmente os jovens tem perpetuado na mente a ideacuteia de que eacute

obrigado a se superar sempre ser competitivo enfim precisa procurar se capacitarpara garantir seu espaccedilo na sociedade

Essa necessidade de vencer a todo custo as cobranccedilas que o mundo capitalista

impotildee reflete natildeo raro uma sociedade caracterizada como individualista na qual a

afetividade e os sentimentos de carinho entre os indiviacuteduos estatildeo cada vez mais

fragilizados ateacute mesmo no acircmbito familiar principalmente na fase da vida conhecida

como a velhice

lowast

Graduandas em Letras pela Universidade Estadual da Paraiacuteba - UEPB

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Entendida como uma etapa da vida cuja fragilidade corporal e mental do

indiviacuteduo estaacute em maior evidecircncia a velhice pode configurar-se para alguns como o

periacuteodo mais doloroso da existecircncia uma vez que natildeo raro o idoso eacute tratado por

alguns que vecircem neste senatildeo um ldquopesordquo um estorvo um fator cerceador da liberdade

plena do uso do tempo de cada um diretamente ligado ao idoso

Na velhice caso o idoso tenha tido filhos no decorrer da sua vida estes

geralmente jaacute tem casado ou mesmo saiacutedo do lar em virtude dos estudos trabalho

enfim deixando dessa forma o ninho vazio E mesmo aqueles filhos que se

encarregam de cuidar do idoso nem sempre se dedicam como deveriam chegando

na maioria dos casos a tratar o idoso com arrogacircncia ou falta de cuidado e proteccedilatildeo

devidos Situaccedilotildees desse tipo podem gerar no sujeito idoso sentimentos deanguacutestia de solidatildeo de invalidez que desaacutegua quase sempre numa atmosfera de

muito abandono confirmando assim um confronto afetivo e de objetivos entre

jovens e velhos Enquanto o primeiro grupo se preocupa mais com a sua realizaccedilatildeo

profissional e seus projetos pessoais o segundo grupo fica muitas vezes agrave mercecirc do

amparo dos outros sem muita seguranccedila A esse respeito Giannetti (2005 P107)

argumenta

O teor da antevisatildeo do futuro tambeacutem se altera Enquanto aos olhos

ainda frescos e expectantes da juventude o vaacutecuo do porvir tende a serpreenchido pelo sonho o mesmo natildeo ocorre agraves retinas fatigadas dosmais velhos O peso da experiecircncia acumulada ndash boa parte delapossivelmente feita de decepccedilotildees e dissabores ndash e o horizonte maisrestrito agrave frente tendem a reforccedilar o elemento de pessimismo eapreensatildeo quanto o amanhatilde

No presente trabalho intitulado Sentimento de abandono na maturidade

feminina Uma anaacutelise do conto feliz aniversaacuterio de Clarice Lispector buscou-se

averiguar o tratamento desumano oferecido a uma senhora velha por seus filhos A

partir da narrativa em questatildeo observa-se como a velhice pode ser vista como um

empecilho para aqueles que soacute pensam em si proacuteprios instalando-se um contexto de

grande abandono para aqueles que nesta etapa da vida estatildeo sozinhos dependentes

dos familiares que natildeo se dispotildeem ao seu cuidado ou por falta de oportunidade ou

por mero descaso

No conto a personagem principal D Anita eacute homenageada pelos filhos com

uma festa de aniversaacuterio pelos seus oitenta e nove anos de idade Esperava-se que

fosse realmente um feliz aniversaacuterio mas na verdade a festa tinha mais ares para

veloacuterio Tendo sido organizada por Zilda - dona da casa e responsaacutevel pela senhora

sua matildee - e pelos demais filhos homens e noras a ocasiatildeo festiva seria uma forma de

camuflar o desprezo e abandono votado agrave anciatilde que soacute era visitada de ano em ano

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pelos familiares Mesmo no auge dos seus cabelos brancos DAnita natildeo escondia o

desgosto para com os filhos e enteados e era talvez a uacutenica que natildeo estava

representando um papel uma farsa Permanecia moacuterbida furiosa e infeliz porque

sabia que na iacutentegra todos se aproveitaram do momento do aniversaacuterio para disfarccedilar

a falta de cuidado e de carinho por ela

Em algumas passagens do conto Feliz aniversaacuterio a autora Clarice Lispector

atraveacutes da teacutecnica de introspecccedilatildeo psicoloacutegica oferece ao leitor um quadro interior

psicoloacutegico das personagens Na passagem que se segue a anciatilde D Anita faz uma

reflexatildeo ou soliloacutequio sobre o tipo de personalidade dos filhos que ela teve

expressando um sutil desgosto por natildeo poder confiar ou mesmo se amparar naqueles

que formavam a sua prole ldquoOh o desprezo pela vida que falhava Como como tendosido tatildeo forte pudera dar agrave luz aqueles seres opacos com braccedilos moles e rostos

ansiososrdquo (P60) Na descriccedilatildeo supracitada acerca da ldquoimagemrdquo que a idosa fazia dos

filhos a triacuteade de adjetivos opacos moles ansiosos eacute muito importante para

entendermos como a matriarca pensava a respeito dos seus entes Ao citar ldquoseres

opacosrdquo a idosa parece natildeo conseguir ldquoverrdquo refletido naqueles que ela tinha gerado

um traccedilo uma heranccedila sequer da sua personalidade Pelo contraacuterio eles natildeo

transpareciam o que sentiam mas eram opacos como um vidro embaccedilado onde natildeo eacute

possiacutevel enxergar com nitidez o que estaacute do outro lado Tinham ldquobraccedilos molesrdquo

contrariando a ideacuteia de que braccedilos fortes conotam seguranccedila proteccedilatildeo e firmeza

Aqueles eram ldquomolesrdquo Em nenhum momento da festa ousaram direcionar um a-braccedilo

para a aniversariante Finalmente aqueles ldquorostos ansiososrdquo provavelmente pelo

teacutermino da festa para novamente voltarem agraves suas rotinas atividades e negoacutecios

habituaisrdquo

Em certos trechos do conto D Anita parece mais um robocirc uma pessoa estaacutetica

ou imoacutevel como uma boneca cuja expressatildeo facial e corporal natildeo demonstra graccedila ou

satisfaccedilatildeo diante daquele evento oferecido pelos seus filhos e respectivos netos enoras Veja-se neste fragmento a indiferenccedila estampada no semblante da idosa ldquoOs

muacutesculos do rosto da aniversariante natildeo interpretavam mais de modo que ningueacutem

podia saber se ela estava alegre (P56) Decerto natildeo estava feliz com aquele

momento visto que nem um sorriso conseguia manifestar Sabia que tudo fora

preparado meticulosamente natildeo com o intuito de confraternizarem os seus 89 anos de

idade mas para natildeo deixar tatildeo agraves claras a penumbra do abandono que nem mesmo

os adereccedilos coloridos conseguiam disfarccedilar a situaccedilatildeo dela Vale ressaltar que embora

os filhos natildeo demonstrem ldquonojordquo ou direcionem palavras agressivas agrave velha tambeacutemnatildeo mostram carinho sincero Ateacute aquele conjunto de palavras ldquofeliz aniversaacuteriordquo cujo

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uso jaacute se tornou um clichecirc ou bordatildeo para saudar aniversariantes natildeo

representavam sinceridade na narrativa em questatildeo

10 Perdas abandono e aparecircncias

Pensar nas diversas possibilidades de encarar eou culpar algo ou algueacutem pelas

tristezas e maacutegoas sentidas por D Anita seria entatildeo enfatizar que o luto eacute tambeacutem

um dos responsaacuteveis por acarretar tais sentimentos na anciatilde Aleacutem eacute claro dos

demais fatores contribuintes para elevaccedilatildeo do estado emocional da mesma como por

exemplo a falta de atenccedilatildeo de carinho enfim de sentimentos verdadeiros dos filhos

e parentes A partir de trechos do conto vejamos entatildeo o que se justifica acerca desta

temaacutetica

No momento de despedir-se da anciatilde em festas anteriores Jonga - o filho

mais velho- sempre estava em sua casa para proferir as palavras de carinho e afeiccedilatildeo

para com a Matildee Entretanto natildeo era mais o que acontecia desde sua morte Observe

(p65)

ldquoJoseacute esperando de si mesmo com perseveranccedila e confianccedila a

proacutexima frase do discurso Que natildeo vinha Que natildeo vinha Que natildeo

vinha Como Jonga fazia falta nessas horas [] Como Jonga fazia faltanessas horas Tambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e

respeitara [] E quando ele morrera a velha nunca mais falara nele

pondo um muro entre sua morte e os outrosrdquo

Aleacutem da falta de sentimentos verdadeiros expressos nesta ocasiatildeo de

despedida por parte dos filhos que diferentemente de Jonga nada representavam

para esta senhora ldquovaziardquo e ldquoimpotenterdquo de sentimentos haacute tambeacutem o fato de que

para a anciatilde assim como para os demais filhos Jonga fazia falta nessas horas e datas

especiais pelo fato de ser o uacutenico a natildeo ter dificuldade de falar sobre a matildee e para a

matildee de modo especial e verdadeiro para tal estado emocional justifica-se entatildeo ofato de que D Anita passou por perdas consideraacuteveis ao longo de sua vida

Principalmente se esta perda for relacionada ao filho e ao cocircnjuge entes queridos

para a idosa Vejamos o que diz (OLIVEIRA e LOPES 2008 p220) acerca deste

assunto

ldquoLidar com a morte eacute mais difiacutecil quando se conviveu com a pessoa

Imaginemos quatildeo mais intenso eacute o luto para aqueles que natildeo soacute conviveram com o

falecido mas tambeacutem foram seus progenitoresrdquo

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Teoricamente apontado como um dos fatores indispensaacuteveis a ser considerado

acerca das maacutegoas e ressentimentos vividos por D Anita o luto ldquoeacute um processo de

aperceber-se de tornar real o fato da perdardquo (Cf Parkes 1998 p199 Apud OLIVEIRA

e LOPES 2008 p218) Entatildeo o luto de uma forma geral quer por causa do filho

Jonga quer por causa do seu cocircnjuge fora e eacute um aacuterduo acontecimento para esta

senhora que cultivara o amor e respeito para com estes seres simbolicamente

importantes para ela

ldquoCasara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem respeitara e

() que lhe fizera filhos O tronco fora bomrdquo (P60)

ldquoTambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e respeitarardquo (P60)

O luto pode representar um processo de grande impacto noidoso pois este traz consigo perdas pessoais e sociaisdecorrentes de a velhice ser estigmatizada como fase dainvalidez ou da condescendecircncia () Devemos entatildeoconsiderar que cada um viveraacute essa morte do cocircnjuge ou do filhode acordo com o histoacuterico de convivecircncia entre esses ()(Brasil escola sd Apud OLIVEIRA e LOPES p 220-221)

As maacutegoas e ressentimentos da vida de D Anita parecem ser justificados pelas

perdas que passou ao longo de sua vida haja vista perder o filho que mais amava

assim como o cocircnjuge por quem tivera carinho e respeito em vida Aleacutem deste

agravante considera-se ainda o fato de os demais filhos natildeo estarem na festa para

homenageaacute-la eou demonstrar que a amam mas sim para vivenciar as aparecircncias

de uma relaccedilatildeo familiar amorosa-sentimental Joseacute sempre tenso em representar o

papel do filho mais velho as noras num jogo de futilidades fingem sempre suportar

a situaccedilatildeo delicada que foram ldquoobrigadasrdquo a passar A uacutenica filha Zilda natildeo esconde o

fato de que cuida e mora com a anciatilde porque natildeo haacute outro que o queira E nesse jogo

de aparecircncias percebe-se entatildeo que o idoso passa a ser um peso quando natildeo um

problema para aqueles seres que ocupados com suas vidas com o dinheiro e a atual

famiacutelia desprezam aqueles que lhes proporcionaram a vida E em meio a esta agitada

sociedade as atuais geraccedilotildees natildeo mais tecircm tempo para cuidar e se preocupar com

seus velhos O que se torna um problema gerado pela sociedade contemporacircnea e

individualista

A ocasiatildeo ldquocelebradardquo pelos filhos pelas noras e netos de DAnita natildeo parece

ser motivo de celebraccedilatildeo interior ou mesmo exterior para a anfitriatilde que tomada pelo

sentimento de abandono de sua prole para consigo sente-se insegura e passa a

perder o controle da situaccedilatildeo ambivalente na qual se encontra visto que estaacute diantede parentes que supotildee amaacute-la e se fazem presente em sua festa quer para

homenageaacute-la quer para demonstrar que estatildeo ali por falta de opccedilatildeo de estar em

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outro lugar quer ainda para demonstrar desprezo como faz a nora da Olaria ldquoVim

para natildeo deixar de virrdquo (p54)

Passados os momentos de enfrentar a hipocrisia inicial por parte das noras afalsidade e falta de afeiccedilatildeo dos filhos e os inutilizaacuteveis presentes trazidos por estes a

anciatilde cansada de tais acontecimentos repugna a presenccedila destes seres opacos fuacuteteis

e fracos em sua festa e enojada dos rostos ali presentes age instintivamente

ldquoE de suacutebito a velha pegou na faca E sem hesitaccedilatildeo como se hesitando um

momento ela toda caiacutesse para frente deu a primeira talhada com o punho de

assassinardquo (p59) ldquoVirou a cabeccedila e com forccedila insuspeita cuspiu no chatildeordquo (p61)

a raiva a sufocava como denuncia o narrador e mais ainda ao ver a famiacutelia que tem

ldquocorja de maricas cornos e vagabundasrdquo (P61)

Estes e outros momentos nada convencionais ou confortaacuteveis aos que assistem

e participam de atos instintivos e de hesitaccedilatildeo como estes satildeo seguramente

comentados por BAUMAN (2008 P 78)

Quando dizemos que coisas ou situaccedilotildees satildeo ambivalentes o quedesejamos dizer eacute que natildeo podemos estar certos do que vai acontecernem saber como nos comportar tampouco prever qual seraacute oresultado de nossas accedilotildees Instintivamente ou por haacutebito adquiridonatildeo gostamos e tememos a ambivalecircncia aquela inimiga da seguranccedilae da autoconfianccedila Estamos inclinados a acreditar que nos sentiriacuteamosmuito mais seguros e confortaacuteveis se as situaccedilotildees natildeo fossemambiacuteguas ndash se o que fazer fosse claro e o que viria a acontecer se ofizeacutessemos fosse sempre previsiacutevel

Os atos e falas de D Anita acima descritos compactuam de tal descriccedilatildeo

elaborada por Bauman no que diz respeito a perder o controle da situaccedilatildeo pois no

decorrer da ldquofestardquo a anciatilde surpreende a todos com suas atitudes nada convencionais

quando se fala em matildee e em aniversaacuterio haja vista natildeo fazerem parte destas

representativas simbologias Entretanto passamos a entender o modo como a mesma

se sente frente agraves adversidades do evento que fora de ser um normal desejado everdadeiro evento comemorativo eacute na verdade uma representaccedilatildeo uma encenaccedilatildeo

do ideaacuterio famiacutelia feliz Podemos entatildeo entender que a falta de seguranccedila e o temor

da situaccedilatildeo fez com que D Anita agisse de tal maneira ateacute mesmo porque natildeo se

pode haver seguranccedila e confianccedila numa situaccedilatildeo pouco convencional para qualquer

idoso

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As reflexotildees aqui apontadas neste artigo pautado no conto feliz aniversaacuterio de

Clarice Lispector apresentaram um tema de fundamental importacircncia que eacute osentimento de abandono na velhice no contexto familiar Nessa abordagem

entendemos que muitas situaccedilotildees que levam o idoso a se sentir abandonado satildeo

provocadas pela condiccedilatildeo de fragilidade nas relaccedilotildees afetivas e sociais pela

dependecircncia de outras pessoas natildeo raro os filhos que muitas vezes natildeo se dedicam

como deveriam propiciando uma distacircncia afetiva uma vez que o idoso quer o

acolhimento a presenccedila e o amor dos seus tambeacutem a perda de autonomia e da

independecircncia e principalmente pelo esfriamento desses viacutenculos afetivos ocasionado

por uma sociedade individualista na qual vivemos

Entendemos que a discussatildeo sobre o abandono na velhice natildeo se esgota nessa

anaacutelise mas consideramos que existem inuacutemeras maneiras para amenizar este

problema tais como o envolvimento da famiacutelia nas relaccedilotildees com seu idoso a

consciecircncia da sociedade para realizar accedilotildees sociais eficazes que sejam frutos de

poliacuteticas puacuteblicas e sociais para permitir que a pessoa velha seja tratada com

dignidade proteccedilatildeo e cuidado por parte da famiacutelia e da sociedade em geral

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BAUMAN Zygmunt Modernidade e clareza a histoacuteria de um romance fracassado

P78-94 In _________ A sociedade individualizada vidas contadas e

histoacuterias vividas Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008

Brasil Escola (sd) Um estudo teoacuterico da morte Recuperado em 16 de fevereiro de

2007 de httpwwwbrasilescolacompsicologiaestudo-teorico-morte2htm In

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa Revista

Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008

Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

FALCAtildeO Deusivacircnia Vieira da Silva e DIAS Cristina Maria de Souza Brito (Orgs)

Depressatildeo na maturidade feminina Benefiacutecios e desafios de uma intervenccedilatildeo grupal

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P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa RevistaPsicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

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Entendida como uma etapa da vida cuja fragilidade corporal e mental do

indiviacuteduo estaacute em maior evidecircncia a velhice pode configurar-se para alguns como o

periacuteodo mais doloroso da existecircncia uma vez que natildeo raro o idoso eacute tratado por

alguns que vecircem neste senatildeo um ldquopesordquo um estorvo um fator cerceador da liberdade

plena do uso do tempo de cada um diretamente ligado ao idoso

Na velhice caso o idoso tenha tido filhos no decorrer da sua vida estes

geralmente jaacute tem casado ou mesmo saiacutedo do lar em virtude dos estudos trabalho

enfim deixando dessa forma o ninho vazio E mesmo aqueles filhos que se

encarregam de cuidar do idoso nem sempre se dedicam como deveriam chegando

na maioria dos casos a tratar o idoso com arrogacircncia ou falta de cuidado e proteccedilatildeo

devidos Situaccedilotildees desse tipo podem gerar no sujeito idoso sentimentos deanguacutestia de solidatildeo de invalidez que desaacutegua quase sempre numa atmosfera de

muito abandono confirmando assim um confronto afetivo e de objetivos entre

jovens e velhos Enquanto o primeiro grupo se preocupa mais com a sua realizaccedilatildeo

profissional e seus projetos pessoais o segundo grupo fica muitas vezes agrave mercecirc do

amparo dos outros sem muita seguranccedila A esse respeito Giannetti (2005 P107)

argumenta

O teor da antevisatildeo do futuro tambeacutem se altera Enquanto aos olhos

ainda frescos e expectantes da juventude o vaacutecuo do porvir tende a serpreenchido pelo sonho o mesmo natildeo ocorre agraves retinas fatigadas dosmais velhos O peso da experiecircncia acumulada ndash boa parte delapossivelmente feita de decepccedilotildees e dissabores ndash e o horizonte maisrestrito agrave frente tendem a reforccedilar o elemento de pessimismo eapreensatildeo quanto o amanhatilde

No presente trabalho intitulado Sentimento de abandono na maturidade

feminina Uma anaacutelise do conto feliz aniversaacuterio de Clarice Lispector buscou-se

averiguar o tratamento desumano oferecido a uma senhora velha por seus filhos A

partir da narrativa em questatildeo observa-se como a velhice pode ser vista como um

empecilho para aqueles que soacute pensam em si proacuteprios instalando-se um contexto de

grande abandono para aqueles que nesta etapa da vida estatildeo sozinhos dependentes

dos familiares que natildeo se dispotildeem ao seu cuidado ou por falta de oportunidade ou

por mero descaso

No conto a personagem principal D Anita eacute homenageada pelos filhos com

uma festa de aniversaacuterio pelos seus oitenta e nove anos de idade Esperava-se que

fosse realmente um feliz aniversaacuterio mas na verdade a festa tinha mais ares para

veloacuterio Tendo sido organizada por Zilda - dona da casa e responsaacutevel pela senhora

sua matildee - e pelos demais filhos homens e noras a ocasiatildeo festiva seria uma forma de

camuflar o desprezo e abandono votado agrave anciatilde que soacute era visitada de ano em ano

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pelos familiares Mesmo no auge dos seus cabelos brancos DAnita natildeo escondia o

desgosto para com os filhos e enteados e era talvez a uacutenica que natildeo estava

representando um papel uma farsa Permanecia moacuterbida furiosa e infeliz porque

sabia que na iacutentegra todos se aproveitaram do momento do aniversaacuterio para disfarccedilar

a falta de cuidado e de carinho por ela

Em algumas passagens do conto Feliz aniversaacuterio a autora Clarice Lispector

atraveacutes da teacutecnica de introspecccedilatildeo psicoloacutegica oferece ao leitor um quadro interior

psicoloacutegico das personagens Na passagem que se segue a anciatilde D Anita faz uma

reflexatildeo ou soliloacutequio sobre o tipo de personalidade dos filhos que ela teve

expressando um sutil desgosto por natildeo poder confiar ou mesmo se amparar naqueles

que formavam a sua prole ldquoOh o desprezo pela vida que falhava Como como tendosido tatildeo forte pudera dar agrave luz aqueles seres opacos com braccedilos moles e rostos

ansiososrdquo (P60) Na descriccedilatildeo supracitada acerca da ldquoimagemrdquo que a idosa fazia dos

filhos a triacuteade de adjetivos opacos moles ansiosos eacute muito importante para

entendermos como a matriarca pensava a respeito dos seus entes Ao citar ldquoseres

opacosrdquo a idosa parece natildeo conseguir ldquoverrdquo refletido naqueles que ela tinha gerado

um traccedilo uma heranccedila sequer da sua personalidade Pelo contraacuterio eles natildeo

transpareciam o que sentiam mas eram opacos como um vidro embaccedilado onde natildeo eacute

possiacutevel enxergar com nitidez o que estaacute do outro lado Tinham ldquobraccedilos molesrdquo

contrariando a ideacuteia de que braccedilos fortes conotam seguranccedila proteccedilatildeo e firmeza

Aqueles eram ldquomolesrdquo Em nenhum momento da festa ousaram direcionar um a-braccedilo

para a aniversariante Finalmente aqueles ldquorostos ansiososrdquo provavelmente pelo

teacutermino da festa para novamente voltarem agraves suas rotinas atividades e negoacutecios

habituaisrdquo

Em certos trechos do conto D Anita parece mais um robocirc uma pessoa estaacutetica

ou imoacutevel como uma boneca cuja expressatildeo facial e corporal natildeo demonstra graccedila ou

satisfaccedilatildeo diante daquele evento oferecido pelos seus filhos e respectivos netos enoras Veja-se neste fragmento a indiferenccedila estampada no semblante da idosa ldquoOs

muacutesculos do rosto da aniversariante natildeo interpretavam mais de modo que ningueacutem

podia saber se ela estava alegre (P56) Decerto natildeo estava feliz com aquele

momento visto que nem um sorriso conseguia manifestar Sabia que tudo fora

preparado meticulosamente natildeo com o intuito de confraternizarem os seus 89 anos de

idade mas para natildeo deixar tatildeo agraves claras a penumbra do abandono que nem mesmo

os adereccedilos coloridos conseguiam disfarccedilar a situaccedilatildeo dela Vale ressaltar que embora

os filhos natildeo demonstrem ldquonojordquo ou direcionem palavras agressivas agrave velha tambeacutemnatildeo mostram carinho sincero Ateacute aquele conjunto de palavras ldquofeliz aniversaacuteriordquo cujo

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uso jaacute se tornou um clichecirc ou bordatildeo para saudar aniversariantes natildeo

representavam sinceridade na narrativa em questatildeo

10 Perdas abandono e aparecircncias

Pensar nas diversas possibilidades de encarar eou culpar algo ou algueacutem pelas

tristezas e maacutegoas sentidas por D Anita seria entatildeo enfatizar que o luto eacute tambeacutem

um dos responsaacuteveis por acarretar tais sentimentos na anciatilde Aleacutem eacute claro dos

demais fatores contribuintes para elevaccedilatildeo do estado emocional da mesma como por

exemplo a falta de atenccedilatildeo de carinho enfim de sentimentos verdadeiros dos filhos

e parentes A partir de trechos do conto vejamos entatildeo o que se justifica acerca desta

temaacutetica

No momento de despedir-se da anciatilde em festas anteriores Jonga - o filho

mais velho- sempre estava em sua casa para proferir as palavras de carinho e afeiccedilatildeo

para com a Matildee Entretanto natildeo era mais o que acontecia desde sua morte Observe

(p65)

ldquoJoseacute esperando de si mesmo com perseveranccedila e confianccedila a

proacutexima frase do discurso Que natildeo vinha Que natildeo vinha Que natildeo

vinha Como Jonga fazia falta nessas horas [] Como Jonga fazia faltanessas horas Tambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e

respeitara [] E quando ele morrera a velha nunca mais falara nele

pondo um muro entre sua morte e os outrosrdquo

Aleacutem da falta de sentimentos verdadeiros expressos nesta ocasiatildeo de

despedida por parte dos filhos que diferentemente de Jonga nada representavam

para esta senhora ldquovaziardquo e ldquoimpotenterdquo de sentimentos haacute tambeacutem o fato de que

para a anciatilde assim como para os demais filhos Jonga fazia falta nessas horas e datas

especiais pelo fato de ser o uacutenico a natildeo ter dificuldade de falar sobre a matildee e para a

matildee de modo especial e verdadeiro para tal estado emocional justifica-se entatildeo ofato de que D Anita passou por perdas consideraacuteveis ao longo de sua vida

Principalmente se esta perda for relacionada ao filho e ao cocircnjuge entes queridos

para a idosa Vejamos o que diz (OLIVEIRA e LOPES 2008 p220) acerca deste

assunto

ldquoLidar com a morte eacute mais difiacutecil quando se conviveu com a pessoa

Imaginemos quatildeo mais intenso eacute o luto para aqueles que natildeo soacute conviveram com o

falecido mas tambeacutem foram seus progenitoresrdquo

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Teoricamente apontado como um dos fatores indispensaacuteveis a ser considerado

acerca das maacutegoas e ressentimentos vividos por D Anita o luto ldquoeacute um processo de

aperceber-se de tornar real o fato da perdardquo (Cf Parkes 1998 p199 Apud OLIVEIRA

e LOPES 2008 p218) Entatildeo o luto de uma forma geral quer por causa do filho

Jonga quer por causa do seu cocircnjuge fora e eacute um aacuterduo acontecimento para esta

senhora que cultivara o amor e respeito para com estes seres simbolicamente

importantes para ela

ldquoCasara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem respeitara e

() que lhe fizera filhos O tronco fora bomrdquo (P60)

ldquoTambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e respeitarardquo (P60)

O luto pode representar um processo de grande impacto noidoso pois este traz consigo perdas pessoais e sociaisdecorrentes de a velhice ser estigmatizada como fase dainvalidez ou da condescendecircncia () Devemos entatildeoconsiderar que cada um viveraacute essa morte do cocircnjuge ou do filhode acordo com o histoacuterico de convivecircncia entre esses ()(Brasil escola sd Apud OLIVEIRA e LOPES p 220-221)

As maacutegoas e ressentimentos da vida de D Anita parecem ser justificados pelas

perdas que passou ao longo de sua vida haja vista perder o filho que mais amava

assim como o cocircnjuge por quem tivera carinho e respeito em vida Aleacutem deste

agravante considera-se ainda o fato de os demais filhos natildeo estarem na festa para

homenageaacute-la eou demonstrar que a amam mas sim para vivenciar as aparecircncias

de uma relaccedilatildeo familiar amorosa-sentimental Joseacute sempre tenso em representar o

papel do filho mais velho as noras num jogo de futilidades fingem sempre suportar

a situaccedilatildeo delicada que foram ldquoobrigadasrdquo a passar A uacutenica filha Zilda natildeo esconde o

fato de que cuida e mora com a anciatilde porque natildeo haacute outro que o queira E nesse jogo

de aparecircncias percebe-se entatildeo que o idoso passa a ser um peso quando natildeo um

problema para aqueles seres que ocupados com suas vidas com o dinheiro e a atual

famiacutelia desprezam aqueles que lhes proporcionaram a vida E em meio a esta agitada

sociedade as atuais geraccedilotildees natildeo mais tecircm tempo para cuidar e se preocupar com

seus velhos O que se torna um problema gerado pela sociedade contemporacircnea e

individualista

A ocasiatildeo ldquocelebradardquo pelos filhos pelas noras e netos de DAnita natildeo parece

ser motivo de celebraccedilatildeo interior ou mesmo exterior para a anfitriatilde que tomada pelo

sentimento de abandono de sua prole para consigo sente-se insegura e passa a

perder o controle da situaccedilatildeo ambivalente na qual se encontra visto que estaacute diantede parentes que supotildee amaacute-la e se fazem presente em sua festa quer para

homenageaacute-la quer para demonstrar que estatildeo ali por falta de opccedilatildeo de estar em

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outro lugar quer ainda para demonstrar desprezo como faz a nora da Olaria ldquoVim

para natildeo deixar de virrdquo (p54)

Passados os momentos de enfrentar a hipocrisia inicial por parte das noras afalsidade e falta de afeiccedilatildeo dos filhos e os inutilizaacuteveis presentes trazidos por estes a

anciatilde cansada de tais acontecimentos repugna a presenccedila destes seres opacos fuacuteteis

e fracos em sua festa e enojada dos rostos ali presentes age instintivamente

ldquoE de suacutebito a velha pegou na faca E sem hesitaccedilatildeo como se hesitando um

momento ela toda caiacutesse para frente deu a primeira talhada com o punho de

assassinardquo (p59) ldquoVirou a cabeccedila e com forccedila insuspeita cuspiu no chatildeordquo (p61)

a raiva a sufocava como denuncia o narrador e mais ainda ao ver a famiacutelia que tem

ldquocorja de maricas cornos e vagabundasrdquo (P61)

Estes e outros momentos nada convencionais ou confortaacuteveis aos que assistem

e participam de atos instintivos e de hesitaccedilatildeo como estes satildeo seguramente

comentados por BAUMAN (2008 P 78)

Quando dizemos que coisas ou situaccedilotildees satildeo ambivalentes o quedesejamos dizer eacute que natildeo podemos estar certos do que vai acontecernem saber como nos comportar tampouco prever qual seraacute oresultado de nossas accedilotildees Instintivamente ou por haacutebito adquiridonatildeo gostamos e tememos a ambivalecircncia aquela inimiga da seguranccedilae da autoconfianccedila Estamos inclinados a acreditar que nos sentiriacuteamosmuito mais seguros e confortaacuteveis se as situaccedilotildees natildeo fossemambiacuteguas ndash se o que fazer fosse claro e o que viria a acontecer se ofizeacutessemos fosse sempre previsiacutevel

Os atos e falas de D Anita acima descritos compactuam de tal descriccedilatildeo

elaborada por Bauman no que diz respeito a perder o controle da situaccedilatildeo pois no

decorrer da ldquofestardquo a anciatilde surpreende a todos com suas atitudes nada convencionais

quando se fala em matildee e em aniversaacuterio haja vista natildeo fazerem parte destas

representativas simbologias Entretanto passamos a entender o modo como a mesma

se sente frente agraves adversidades do evento que fora de ser um normal desejado everdadeiro evento comemorativo eacute na verdade uma representaccedilatildeo uma encenaccedilatildeo

do ideaacuterio famiacutelia feliz Podemos entatildeo entender que a falta de seguranccedila e o temor

da situaccedilatildeo fez com que D Anita agisse de tal maneira ateacute mesmo porque natildeo se

pode haver seguranccedila e confianccedila numa situaccedilatildeo pouco convencional para qualquer

idoso

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As reflexotildees aqui apontadas neste artigo pautado no conto feliz aniversaacuterio de

Clarice Lispector apresentaram um tema de fundamental importacircncia que eacute osentimento de abandono na velhice no contexto familiar Nessa abordagem

entendemos que muitas situaccedilotildees que levam o idoso a se sentir abandonado satildeo

provocadas pela condiccedilatildeo de fragilidade nas relaccedilotildees afetivas e sociais pela

dependecircncia de outras pessoas natildeo raro os filhos que muitas vezes natildeo se dedicam

como deveriam propiciando uma distacircncia afetiva uma vez que o idoso quer o

acolhimento a presenccedila e o amor dos seus tambeacutem a perda de autonomia e da

independecircncia e principalmente pelo esfriamento desses viacutenculos afetivos ocasionado

por uma sociedade individualista na qual vivemos

Entendemos que a discussatildeo sobre o abandono na velhice natildeo se esgota nessa

anaacutelise mas consideramos que existem inuacutemeras maneiras para amenizar este

problema tais como o envolvimento da famiacutelia nas relaccedilotildees com seu idoso a

consciecircncia da sociedade para realizar accedilotildees sociais eficazes que sejam frutos de

poliacuteticas puacuteblicas e sociais para permitir que a pessoa velha seja tratada com

dignidade proteccedilatildeo e cuidado por parte da famiacutelia e da sociedade em geral

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BAUMAN Zygmunt Modernidade e clareza a histoacuteria de um romance fracassado

P78-94 In _________ A sociedade individualizada vidas contadas e

histoacuterias vividas Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008

Brasil Escola (sd) Um estudo teoacuterico da morte Recuperado em 16 de fevereiro de

2007 de httpwwwbrasilescolacompsicologiaestudo-teorico-morte2htm In

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa Revista

Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008

Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

FALCAtildeO Deusivacircnia Vieira da Silva e DIAS Cristina Maria de Souza Brito (Orgs)

Depressatildeo na maturidade feminina Benefiacutecios e desafios de uma intervenccedilatildeo grupal

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P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa RevistaPsicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

Page 3: Conto Feliz Aniversário

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pelos familiares Mesmo no auge dos seus cabelos brancos DAnita natildeo escondia o

desgosto para com os filhos e enteados e era talvez a uacutenica que natildeo estava

representando um papel uma farsa Permanecia moacuterbida furiosa e infeliz porque

sabia que na iacutentegra todos se aproveitaram do momento do aniversaacuterio para disfarccedilar

a falta de cuidado e de carinho por ela

Em algumas passagens do conto Feliz aniversaacuterio a autora Clarice Lispector

atraveacutes da teacutecnica de introspecccedilatildeo psicoloacutegica oferece ao leitor um quadro interior

psicoloacutegico das personagens Na passagem que se segue a anciatilde D Anita faz uma

reflexatildeo ou soliloacutequio sobre o tipo de personalidade dos filhos que ela teve

expressando um sutil desgosto por natildeo poder confiar ou mesmo se amparar naqueles

que formavam a sua prole ldquoOh o desprezo pela vida que falhava Como como tendosido tatildeo forte pudera dar agrave luz aqueles seres opacos com braccedilos moles e rostos

ansiososrdquo (P60) Na descriccedilatildeo supracitada acerca da ldquoimagemrdquo que a idosa fazia dos

filhos a triacuteade de adjetivos opacos moles ansiosos eacute muito importante para

entendermos como a matriarca pensava a respeito dos seus entes Ao citar ldquoseres

opacosrdquo a idosa parece natildeo conseguir ldquoverrdquo refletido naqueles que ela tinha gerado

um traccedilo uma heranccedila sequer da sua personalidade Pelo contraacuterio eles natildeo

transpareciam o que sentiam mas eram opacos como um vidro embaccedilado onde natildeo eacute

possiacutevel enxergar com nitidez o que estaacute do outro lado Tinham ldquobraccedilos molesrdquo

contrariando a ideacuteia de que braccedilos fortes conotam seguranccedila proteccedilatildeo e firmeza

Aqueles eram ldquomolesrdquo Em nenhum momento da festa ousaram direcionar um a-braccedilo

para a aniversariante Finalmente aqueles ldquorostos ansiososrdquo provavelmente pelo

teacutermino da festa para novamente voltarem agraves suas rotinas atividades e negoacutecios

habituaisrdquo

Em certos trechos do conto D Anita parece mais um robocirc uma pessoa estaacutetica

ou imoacutevel como uma boneca cuja expressatildeo facial e corporal natildeo demonstra graccedila ou

satisfaccedilatildeo diante daquele evento oferecido pelos seus filhos e respectivos netos enoras Veja-se neste fragmento a indiferenccedila estampada no semblante da idosa ldquoOs

muacutesculos do rosto da aniversariante natildeo interpretavam mais de modo que ningueacutem

podia saber se ela estava alegre (P56) Decerto natildeo estava feliz com aquele

momento visto que nem um sorriso conseguia manifestar Sabia que tudo fora

preparado meticulosamente natildeo com o intuito de confraternizarem os seus 89 anos de

idade mas para natildeo deixar tatildeo agraves claras a penumbra do abandono que nem mesmo

os adereccedilos coloridos conseguiam disfarccedilar a situaccedilatildeo dela Vale ressaltar que embora

os filhos natildeo demonstrem ldquonojordquo ou direcionem palavras agressivas agrave velha tambeacutemnatildeo mostram carinho sincero Ateacute aquele conjunto de palavras ldquofeliz aniversaacuteriordquo cujo

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uso jaacute se tornou um clichecirc ou bordatildeo para saudar aniversariantes natildeo

representavam sinceridade na narrativa em questatildeo

10 Perdas abandono e aparecircncias

Pensar nas diversas possibilidades de encarar eou culpar algo ou algueacutem pelas

tristezas e maacutegoas sentidas por D Anita seria entatildeo enfatizar que o luto eacute tambeacutem

um dos responsaacuteveis por acarretar tais sentimentos na anciatilde Aleacutem eacute claro dos

demais fatores contribuintes para elevaccedilatildeo do estado emocional da mesma como por

exemplo a falta de atenccedilatildeo de carinho enfim de sentimentos verdadeiros dos filhos

e parentes A partir de trechos do conto vejamos entatildeo o que se justifica acerca desta

temaacutetica

No momento de despedir-se da anciatilde em festas anteriores Jonga - o filho

mais velho- sempre estava em sua casa para proferir as palavras de carinho e afeiccedilatildeo

para com a Matildee Entretanto natildeo era mais o que acontecia desde sua morte Observe

(p65)

ldquoJoseacute esperando de si mesmo com perseveranccedila e confianccedila a

proacutexima frase do discurso Que natildeo vinha Que natildeo vinha Que natildeo

vinha Como Jonga fazia falta nessas horas [] Como Jonga fazia faltanessas horas Tambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e

respeitara [] E quando ele morrera a velha nunca mais falara nele

pondo um muro entre sua morte e os outrosrdquo

Aleacutem da falta de sentimentos verdadeiros expressos nesta ocasiatildeo de

despedida por parte dos filhos que diferentemente de Jonga nada representavam

para esta senhora ldquovaziardquo e ldquoimpotenterdquo de sentimentos haacute tambeacutem o fato de que

para a anciatilde assim como para os demais filhos Jonga fazia falta nessas horas e datas

especiais pelo fato de ser o uacutenico a natildeo ter dificuldade de falar sobre a matildee e para a

matildee de modo especial e verdadeiro para tal estado emocional justifica-se entatildeo ofato de que D Anita passou por perdas consideraacuteveis ao longo de sua vida

Principalmente se esta perda for relacionada ao filho e ao cocircnjuge entes queridos

para a idosa Vejamos o que diz (OLIVEIRA e LOPES 2008 p220) acerca deste

assunto

ldquoLidar com a morte eacute mais difiacutecil quando se conviveu com a pessoa

Imaginemos quatildeo mais intenso eacute o luto para aqueles que natildeo soacute conviveram com o

falecido mas tambeacutem foram seus progenitoresrdquo

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Teoricamente apontado como um dos fatores indispensaacuteveis a ser considerado

acerca das maacutegoas e ressentimentos vividos por D Anita o luto ldquoeacute um processo de

aperceber-se de tornar real o fato da perdardquo (Cf Parkes 1998 p199 Apud OLIVEIRA

e LOPES 2008 p218) Entatildeo o luto de uma forma geral quer por causa do filho

Jonga quer por causa do seu cocircnjuge fora e eacute um aacuterduo acontecimento para esta

senhora que cultivara o amor e respeito para com estes seres simbolicamente

importantes para ela

ldquoCasara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem respeitara e

() que lhe fizera filhos O tronco fora bomrdquo (P60)

ldquoTambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e respeitarardquo (P60)

O luto pode representar um processo de grande impacto noidoso pois este traz consigo perdas pessoais e sociaisdecorrentes de a velhice ser estigmatizada como fase dainvalidez ou da condescendecircncia () Devemos entatildeoconsiderar que cada um viveraacute essa morte do cocircnjuge ou do filhode acordo com o histoacuterico de convivecircncia entre esses ()(Brasil escola sd Apud OLIVEIRA e LOPES p 220-221)

As maacutegoas e ressentimentos da vida de D Anita parecem ser justificados pelas

perdas que passou ao longo de sua vida haja vista perder o filho que mais amava

assim como o cocircnjuge por quem tivera carinho e respeito em vida Aleacutem deste

agravante considera-se ainda o fato de os demais filhos natildeo estarem na festa para

homenageaacute-la eou demonstrar que a amam mas sim para vivenciar as aparecircncias

de uma relaccedilatildeo familiar amorosa-sentimental Joseacute sempre tenso em representar o

papel do filho mais velho as noras num jogo de futilidades fingem sempre suportar

a situaccedilatildeo delicada que foram ldquoobrigadasrdquo a passar A uacutenica filha Zilda natildeo esconde o

fato de que cuida e mora com a anciatilde porque natildeo haacute outro que o queira E nesse jogo

de aparecircncias percebe-se entatildeo que o idoso passa a ser um peso quando natildeo um

problema para aqueles seres que ocupados com suas vidas com o dinheiro e a atual

famiacutelia desprezam aqueles que lhes proporcionaram a vida E em meio a esta agitada

sociedade as atuais geraccedilotildees natildeo mais tecircm tempo para cuidar e se preocupar com

seus velhos O que se torna um problema gerado pela sociedade contemporacircnea e

individualista

A ocasiatildeo ldquocelebradardquo pelos filhos pelas noras e netos de DAnita natildeo parece

ser motivo de celebraccedilatildeo interior ou mesmo exterior para a anfitriatilde que tomada pelo

sentimento de abandono de sua prole para consigo sente-se insegura e passa a

perder o controle da situaccedilatildeo ambivalente na qual se encontra visto que estaacute diantede parentes que supotildee amaacute-la e se fazem presente em sua festa quer para

homenageaacute-la quer para demonstrar que estatildeo ali por falta de opccedilatildeo de estar em

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outro lugar quer ainda para demonstrar desprezo como faz a nora da Olaria ldquoVim

para natildeo deixar de virrdquo (p54)

Passados os momentos de enfrentar a hipocrisia inicial por parte das noras afalsidade e falta de afeiccedilatildeo dos filhos e os inutilizaacuteveis presentes trazidos por estes a

anciatilde cansada de tais acontecimentos repugna a presenccedila destes seres opacos fuacuteteis

e fracos em sua festa e enojada dos rostos ali presentes age instintivamente

ldquoE de suacutebito a velha pegou na faca E sem hesitaccedilatildeo como se hesitando um

momento ela toda caiacutesse para frente deu a primeira talhada com o punho de

assassinardquo (p59) ldquoVirou a cabeccedila e com forccedila insuspeita cuspiu no chatildeordquo (p61)

a raiva a sufocava como denuncia o narrador e mais ainda ao ver a famiacutelia que tem

ldquocorja de maricas cornos e vagabundasrdquo (P61)

Estes e outros momentos nada convencionais ou confortaacuteveis aos que assistem

e participam de atos instintivos e de hesitaccedilatildeo como estes satildeo seguramente

comentados por BAUMAN (2008 P 78)

Quando dizemos que coisas ou situaccedilotildees satildeo ambivalentes o quedesejamos dizer eacute que natildeo podemos estar certos do que vai acontecernem saber como nos comportar tampouco prever qual seraacute oresultado de nossas accedilotildees Instintivamente ou por haacutebito adquiridonatildeo gostamos e tememos a ambivalecircncia aquela inimiga da seguranccedilae da autoconfianccedila Estamos inclinados a acreditar que nos sentiriacuteamosmuito mais seguros e confortaacuteveis se as situaccedilotildees natildeo fossemambiacuteguas ndash se o que fazer fosse claro e o que viria a acontecer se ofizeacutessemos fosse sempre previsiacutevel

Os atos e falas de D Anita acima descritos compactuam de tal descriccedilatildeo

elaborada por Bauman no que diz respeito a perder o controle da situaccedilatildeo pois no

decorrer da ldquofestardquo a anciatilde surpreende a todos com suas atitudes nada convencionais

quando se fala em matildee e em aniversaacuterio haja vista natildeo fazerem parte destas

representativas simbologias Entretanto passamos a entender o modo como a mesma

se sente frente agraves adversidades do evento que fora de ser um normal desejado everdadeiro evento comemorativo eacute na verdade uma representaccedilatildeo uma encenaccedilatildeo

do ideaacuterio famiacutelia feliz Podemos entatildeo entender que a falta de seguranccedila e o temor

da situaccedilatildeo fez com que D Anita agisse de tal maneira ateacute mesmo porque natildeo se

pode haver seguranccedila e confianccedila numa situaccedilatildeo pouco convencional para qualquer

idoso

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As reflexotildees aqui apontadas neste artigo pautado no conto feliz aniversaacuterio de

Clarice Lispector apresentaram um tema de fundamental importacircncia que eacute osentimento de abandono na velhice no contexto familiar Nessa abordagem

entendemos que muitas situaccedilotildees que levam o idoso a se sentir abandonado satildeo

provocadas pela condiccedilatildeo de fragilidade nas relaccedilotildees afetivas e sociais pela

dependecircncia de outras pessoas natildeo raro os filhos que muitas vezes natildeo se dedicam

como deveriam propiciando uma distacircncia afetiva uma vez que o idoso quer o

acolhimento a presenccedila e o amor dos seus tambeacutem a perda de autonomia e da

independecircncia e principalmente pelo esfriamento desses viacutenculos afetivos ocasionado

por uma sociedade individualista na qual vivemos

Entendemos que a discussatildeo sobre o abandono na velhice natildeo se esgota nessa

anaacutelise mas consideramos que existem inuacutemeras maneiras para amenizar este

problema tais como o envolvimento da famiacutelia nas relaccedilotildees com seu idoso a

consciecircncia da sociedade para realizar accedilotildees sociais eficazes que sejam frutos de

poliacuteticas puacuteblicas e sociais para permitir que a pessoa velha seja tratada com

dignidade proteccedilatildeo e cuidado por parte da famiacutelia e da sociedade em geral

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BAUMAN Zygmunt Modernidade e clareza a histoacuteria de um romance fracassado

P78-94 In _________ A sociedade individualizada vidas contadas e

histoacuterias vividas Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008

Brasil Escola (sd) Um estudo teoacuterico da morte Recuperado em 16 de fevereiro de

2007 de httpwwwbrasilescolacompsicologiaestudo-teorico-morte2htm In

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa Revista

Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008

Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

FALCAtildeO Deusivacircnia Vieira da Silva e DIAS Cristina Maria de Souza Brito (Orgs)

Depressatildeo na maturidade feminina Benefiacutecios e desafios de uma intervenccedilatildeo grupal

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22 23 e 24 de setembro de 2009

Campina Grande Editora EDUEPB 2009 ndash ISSN 2176-5901 983096

P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa RevistaPsicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

Page 4: Conto Feliz Aniversário

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uso jaacute se tornou um clichecirc ou bordatildeo para saudar aniversariantes natildeo

representavam sinceridade na narrativa em questatildeo

10 Perdas abandono e aparecircncias

Pensar nas diversas possibilidades de encarar eou culpar algo ou algueacutem pelas

tristezas e maacutegoas sentidas por D Anita seria entatildeo enfatizar que o luto eacute tambeacutem

um dos responsaacuteveis por acarretar tais sentimentos na anciatilde Aleacutem eacute claro dos

demais fatores contribuintes para elevaccedilatildeo do estado emocional da mesma como por

exemplo a falta de atenccedilatildeo de carinho enfim de sentimentos verdadeiros dos filhos

e parentes A partir de trechos do conto vejamos entatildeo o que se justifica acerca desta

temaacutetica

No momento de despedir-se da anciatilde em festas anteriores Jonga - o filho

mais velho- sempre estava em sua casa para proferir as palavras de carinho e afeiccedilatildeo

para com a Matildee Entretanto natildeo era mais o que acontecia desde sua morte Observe

(p65)

ldquoJoseacute esperando de si mesmo com perseveranccedila e confianccedila a

proacutexima frase do discurso Que natildeo vinha Que natildeo vinha Que natildeo

vinha Como Jonga fazia falta nessas horas [] Como Jonga fazia faltanessas horas Tambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e

respeitara [] E quando ele morrera a velha nunca mais falara nele

pondo um muro entre sua morte e os outrosrdquo

Aleacutem da falta de sentimentos verdadeiros expressos nesta ocasiatildeo de

despedida por parte dos filhos que diferentemente de Jonga nada representavam

para esta senhora ldquovaziardquo e ldquoimpotenterdquo de sentimentos haacute tambeacutem o fato de que

para a anciatilde assim como para os demais filhos Jonga fazia falta nessas horas e datas

especiais pelo fato de ser o uacutenico a natildeo ter dificuldade de falar sobre a matildee e para a

matildee de modo especial e verdadeiro para tal estado emocional justifica-se entatildeo ofato de que D Anita passou por perdas consideraacuteveis ao longo de sua vida

Principalmente se esta perda for relacionada ao filho e ao cocircnjuge entes queridos

para a idosa Vejamos o que diz (OLIVEIRA e LOPES 2008 p220) acerca deste

assunto

ldquoLidar com a morte eacute mais difiacutecil quando se conviveu com a pessoa

Imaginemos quatildeo mais intenso eacute o luto para aqueles que natildeo soacute conviveram com o

falecido mas tambeacutem foram seus progenitoresrdquo

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Teoricamente apontado como um dos fatores indispensaacuteveis a ser considerado

acerca das maacutegoas e ressentimentos vividos por D Anita o luto ldquoeacute um processo de

aperceber-se de tornar real o fato da perdardquo (Cf Parkes 1998 p199 Apud OLIVEIRA

e LOPES 2008 p218) Entatildeo o luto de uma forma geral quer por causa do filho

Jonga quer por causa do seu cocircnjuge fora e eacute um aacuterduo acontecimento para esta

senhora que cultivara o amor e respeito para com estes seres simbolicamente

importantes para ela

ldquoCasara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem respeitara e

() que lhe fizera filhos O tronco fora bomrdquo (P60)

ldquoTambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e respeitarardquo (P60)

O luto pode representar um processo de grande impacto noidoso pois este traz consigo perdas pessoais e sociaisdecorrentes de a velhice ser estigmatizada como fase dainvalidez ou da condescendecircncia () Devemos entatildeoconsiderar que cada um viveraacute essa morte do cocircnjuge ou do filhode acordo com o histoacuterico de convivecircncia entre esses ()(Brasil escola sd Apud OLIVEIRA e LOPES p 220-221)

As maacutegoas e ressentimentos da vida de D Anita parecem ser justificados pelas

perdas que passou ao longo de sua vida haja vista perder o filho que mais amava

assim como o cocircnjuge por quem tivera carinho e respeito em vida Aleacutem deste

agravante considera-se ainda o fato de os demais filhos natildeo estarem na festa para

homenageaacute-la eou demonstrar que a amam mas sim para vivenciar as aparecircncias

de uma relaccedilatildeo familiar amorosa-sentimental Joseacute sempre tenso em representar o

papel do filho mais velho as noras num jogo de futilidades fingem sempre suportar

a situaccedilatildeo delicada que foram ldquoobrigadasrdquo a passar A uacutenica filha Zilda natildeo esconde o

fato de que cuida e mora com a anciatilde porque natildeo haacute outro que o queira E nesse jogo

de aparecircncias percebe-se entatildeo que o idoso passa a ser um peso quando natildeo um

problema para aqueles seres que ocupados com suas vidas com o dinheiro e a atual

famiacutelia desprezam aqueles que lhes proporcionaram a vida E em meio a esta agitada

sociedade as atuais geraccedilotildees natildeo mais tecircm tempo para cuidar e se preocupar com

seus velhos O que se torna um problema gerado pela sociedade contemporacircnea e

individualista

A ocasiatildeo ldquocelebradardquo pelos filhos pelas noras e netos de DAnita natildeo parece

ser motivo de celebraccedilatildeo interior ou mesmo exterior para a anfitriatilde que tomada pelo

sentimento de abandono de sua prole para consigo sente-se insegura e passa a

perder o controle da situaccedilatildeo ambivalente na qual se encontra visto que estaacute diantede parentes que supotildee amaacute-la e se fazem presente em sua festa quer para

homenageaacute-la quer para demonstrar que estatildeo ali por falta de opccedilatildeo de estar em

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outro lugar quer ainda para demonstrar desprezo como faz a nora da Olaria ldquoVim

para natildeo deixar de virrdquo (p54)

Passados os momentos de enfrentar a hipocrisia inicial por parte das noras afalsidade e falta de afeiccedilatildeo dos filhos e os inutilizaacuteveis presentes trazidos por estes a

anciatilde cansada de tais acontecimentos repugna a presenccedila destes seres opacos fuacuteteis

e fracos em sua festa e enojada dos rostos ali presentes age instintivamente

ldquoE de suacutebito a velha pegou na faca E sem hesitaccedilatildeo como se hesitando um

momento ela toda caiacutesse para frente deu a primeira talhada com o punho de

assassinardquo (p59) ldquoVirou a cabeccedila e com forccedila insuspeita cuspiu no chatildeordquo (p61)

a raiva a sufocava como denuncia o narrador e mais ainda ao ver a famiacutelia que tem

ldquocorja de maricas cornos e vagabundasrdquo (P61)

Estes e outros momentos nada convencionais ou confortaacuteveis aos que assistem

e participam de atos instintivos e de hesitaccedilatildeo como estes satildeo seguramente

comentados por BAUMAN (2008 P 78)

Quando dizemos que coisas ou situaccedilotildees satildeo ambivalentes o quedesejamos dizer eacute que natildeo podemos estar certos do que vai acontecernem saber como nos comportar tampouco prever qual seraacute oresultado de nossas accedilotildees Instintivamente ou por haacutebito adquiridonatildeo gostamos e tememos a ambivalecircncia aquela inimiga da seguranccedilae da autoconfianccedila Estamos inclinados a acreditar que nos sentiriacuteamosmuito mais seguros e confortaacuteveis se as situaccedilotildees natildeo fossemambiacuteguas ndash se o que fazer fosse claro e o que viria a acontecer se ofizeacutessemos fosse sempre previsiacutevel

Os atos e falas de D Anita acima descritos compactuam de tal descriccedilatildeo

elaborada por Bauman no que diz respeito a perder o controle da situaccedilatildeo pois no

decorrer da ldquofestardquo a anciatilde surpreende a todos com suas atitudes nada convencionais

quando se fala em matildee e em aniversaacuterio haja vista natildeo fazerem parte destas

representativas simbologias Entretanto passamos a entender o modo como a mesma

se sente frente agraves adversidades do evento que fora de ser um normal desejado everdadeiro evento comemorativo eacute na verdade uma representaccedilatildeo uma encenaccedilatildeo

do ideaacuterio famiacutelia feliz Podemos entatildeo entender que a falta de seguranccedila e o temor

da situaccedilatildeo fez com que D Anita agisse de tal maneira ateacute mesmo porque natildeo se

pode haver seguranccedila e confianccedila numa situaccedilatildeo pouco convencional para qualquer

idoso

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As reflexotildees aqui apontadas neste artigo pautado no conto feliz aniversaacuterio de

Clarice Lispector apresentaram um tema de fundamental importacircncia que eacute osentimento de abandono na velhice no contexto familiar Nessa abordagem

entendemos que muitas situaccedilotildees que levam o idoso a se sentir abandonado satildeo

provocadas pela condiccedilatildeo de fragilidade nas relaccedilotildees afetivas e sociais pela

dependecircncia de outras pessoas natildeo raro os filhos que muitas vezes natildeo se dedicam

como deveriam propiciando uma distacircncia afetiva uma vez que o idoso quer o

acolhimento a presenccedila e o amor dos seus tambeacutem a perda de autonomia e da

independecircncia e principalmente pelo esfriamento desses viacutenculos afetivos ocasionado

por uma sociedade individualista na qual vivemos

Entendemos que a discussatildeo sobre o abandono na velhice natildeo se esgota nessa

anaacutelise mas consideramos que existem inuacutemeras maneiras para amenizar este

problema tais como o envolvimento da famiacutelia nas relaccedilotildees com seu idoso a

consciecircncia da sociedade para realizar accedilotildees sociais eficazes que sejam frutos de

poliacuteticas puacuteblicas e sociais para permitir que a pessoa velha seja tratada com

dignidade proteccedilatildeo e cuidado por parte da famiacutelia e da sociedade em geral

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BAUMAN Zygmunt Modernidade e clareza a histoacuteria de um romance fracassado

P78-94 In _________ A sociedade individualizada vidas contadas e

histoacuterias vividas Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008

Brasil Escola (sd) Um estudo teoacuterico da morte Recuperado em 16 de fevereiro de

2007 de httpwwwbrasilescolacompsicologiaestudo-teorico-morte2htm In

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa Revista

Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008

Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

FALCAtildeO Deusivacircnia Vieira da Silva e DIAS Cristina Maria de Souza Brito (Orgs)

Depressatildeo na maturidade feminina Benefiacutecios e desafios de uma intervenccedilatildeo grupal

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P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa RevistaPsicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

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Teoricamente apontado como um dos fatores indispensaacuteveis a ser considerado

acerca das maacutegoas e ressentimentos vividos por D Anita o luto ldquoeacute um processo de

aperceber-se de tornar real o fato da perdardquo (Cf Parkes 1998 p199 Apud OLIVEIRA

e LOPES 2008 p218) Entatildeo o luto de uma forma geral quer por causa do filho

Jonga quer por causa do seu cocircnjuge fora e eacute um aacuterduo acontecimento para esta

senhora que cultivara o amor e respeito para com estes seres simbolicamente

importantes para ela

ldquoCasara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem respeitara e

() que lhe fizera filhos O tronco fora bomrdquo (P60)

ldquoTambeacutem fora o uacutenico a quem a velha sempre aprovara e respeitarardquo (P60)

O luto pode representar um processo de grande impacto noidoso pois este traz consigo perdas pessoais e sociaisdecorrentes de a velhice ser estigmatizada como fase dainvalidez ou da condescendecircncia () Devemos entatildeoconsiderar que cada um viveraacute essa morte do cocircnjuge ou do filhode acordo com o histoacuterico de convivecircncia entre esses ()(Brasil escola sd Apud OLIVEIRA e LOPES p 220-221)

As maacutegoas e ressentimentos da vida de D Anita parecem ser justificados pelas

perdas que passou ao longo de sua vida haja vista perder o filho que mais amava

assim como o cocircnjuge por quem tivera carinho e respeito em vida Aleacutem deste

agravante considera-se ainda o fato de os demais filhos natildeo estarem na festa para

homenageaacute-la eou demonstrar que a amam mas sim para vivenciar as aparecircncias

de uma relaccedilatildeo familiar amorosa-sentimental Joseacute sempre tenso em representar o

papel do filho mais velho as noras num jogo de futilidades fingem sempre suportar

a situaccedilatildeo delicada que foram ldquoobrigadasrdquo a passar A uacutenica filha Zilda natildeo esconde o

fato de que cuida e mora com a anciatilde porque natildeo haacute outro que o queira E nesse jogo

de aparecircncias percebe-se entatildeo que o idoso passa a ser um peso quando natildeo um

problema para aqueles seres que ocupados com suas vidas com o dinheiro e a atual

famiacutelia desprezam aqueles que lhes proporcionaram a vida E em meio a esta agitada

sociedade as atuais geraccedilotildees natildeo mais tecircm tempo para cuidar e se preocupar com

seus velhos O que se torna um problema gerado pela sociedade contemporacircnea e

individualista

A ocasiatildeo ldquocelebradardquo pelos filhos pelas noras e netos de DAnita natildeo parece

ser motivo de celebraccedilatildeo interior ou mesmo exterior para a anfitriatilde que tomada pelo

sentimento de abandono de sua prole para consigo sente-se insegura e passa a

perder o controle da situaccedilatildeo ambivalente na qual se encontra visto que estaacute diantede parentes que supotildee amaacute-la e se fazem presente em sua festa quer para

homenageaacute-la quer para demonstrar que estatildeo ali por falta de opccedilatildeo de estar em

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outro lugar quer ainda para demonstrar desprezo como faz a nora da Olaria ldquoVim

para natildeo deixar de virrdquo (p54)

Passados os momentos de enfrentar a hipocrisia inicial por parte das noras afalsidade e falta de afeiccedilatildeo dos filhos e os inutilizaacuteveis presentes trazidos por estes a

anciatilde cansada de tais acontecimentos repugna a presenccedila destes seres opacos fuacuteteis

e fracos em sua festa e enojada dos rostos ali presentes age instintivamente

ldquoE de suacutebito a velha pegou na faca E sem hesitaccedilatildeo como se hesitando um

momento ela toda caiacutesse para frente deu a primeira talhada com o punho de

assassinardquo (p59) ldquoVirou a cabeccedila e com forccedila insuspeita cuspiu no chatildeordquo (p61)

a raiva a sufocava como denuncia o narrador e mais ainda ao ver a famiacutelia que tem

ldquocorja de maricas cornos e vagabundasrdquo (P61)

Estes e outros momentos nada convencionais ou confortaacuteveis aos que assistem

e participam de atos instintivos e de hesitaccedilatildeo como estes satildeo seguramente

comentados por BAUMAN (2008 P 78)

Quando dizemos que coisas ou situaccedilotildees satildeo ambivalentes o quedesejamos dizer eacute que natildeo podemos estar certos do que vai acontecernem saber como nos comportar tampouco prever qual seraacute oresultado de nossas accedilotildees Instintivamente ou por haacutebito adquiridonatildeo gostamos e tememos a ambivalecircncia aquela inimiga da seguranccedilae da autoconfianccedila Estamos inclinados a acreditar que nos sentiriacuteamosmuito mais seguros e confortaacuteveis se as situaccedilotildees natildeo fossemambiacuteguas ndash se o que fazer fosse claro e o que viria a acontecer se ofizeacutessemos fosse sempre previsiacutevel

Os atos e falas de D Anita acima descritos compactuam de tal descriccedilatildeo

elaborada por Bauman no que diz respeito a perder o controle da situaccedilatildeo pois no

decorrer da ldquofestardquo a anciatilde surpreende a todos com suas atitudes nada convencionais

quando se fala em matildee e em aniversaacuterio haja vista natildeo fazerem parte destas

representativas simbologias Entretanto passamos a entender o modo como a mesma

se sente frente agraves adversidades do evento que fora de ser um normal desejado everdadeiro evento comemorativo eacute na verdade uma representaccedilatildeo uma encenaccedilatildeo

do ideaacuterio famiacutelia feliz Podemos entatildeo entender que a falta de seguranccedila e o temor

da situaccedilatildeo fez com que D Anita agisse de tal maneira ateacute mesmo porque natildeo se

pode haver seguranccedila e confianccedila numa situaccedilatildeo pouco convencional para qualquer

idoso

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As reflexotildees aqui apontadas neste artigo pautado no conto feliz aniversaacuterio de

Clarice Lispector apresentaram um tema de fundamental importacircncia que eacute osentimento de abandono na velhice no contexto familiar Nessa abordagem

entendemos que muitas situaccedilotildees que levam o idoso a se sentir abandonado satildeo

provocadas pela condiccedilatildeo de fragilidade nas relaccedilotildees afetivas e sociais pela

dependecircncia de outras pessoas natildeo raro os filhos que muitas vezes natildeo se dedicam

como deveriam propiciando uma distacircncia afetiva uma vez que o idoso quer o

acolhimento a presenccedila e o amor dos seus tambeacutem a perda de autonomia e da

independecircncia e principalmente pelo esfriamento desses viacutenculos afetivos ocasionado

por uma sociedade individualista na qual vivemos

Entendemos que a discussatildeo sobre o abandono na velhice natildeo se esgota nessa

anaacutelise mas consideramos que existem inuacutemeras maneiras para amenizar este

problema tais como o envolvimento da famiacutelia nas relaccedilotildees com seu idoso a

consciecircncia da sociedade para realizar accedilotildees sociais eficazes que sejam frutos de

poliacuteticas puacuteblicas e sociais para permitir que a pessoa velha seja tratada com

dignidade proteccedilatildeo e cuidado por parte da famiacutelia e da sociedade em geral

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BAUMAN Zygmunt Modernidade e clareza a histoacuteria de um romance fracassado

P78-94 In _________ A sociedade individualizada vidas contadas e

histoacuterias vividas Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008

Brasil Escola (sd) Um estudo teoacuterico da morte Recuperado em 16 de fevereiro de

2007 de httpwwwbrasilescolacompsicologiaestudo-teorico-morte2htm In

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa Revista

Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008

Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

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FALCAtildeO Deusivacircnia Vieira da Silva e DIAS Cristina Maria de Souza Brito (Orgs)

Depressatildeo na maturidade feminina Benefiacutecios e desafios de uma intervenccedilatildeo grupal

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P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa RevistaPsicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

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outro lugar quer ainda para demonstrar desprezo como faz a nora da Olaria ldquoVim

para natildeo deixar de virrdquo (p54)

Passados os momentos de enfrentar a hipocrisia inicial por parte das noras afalsidade e falta de afeiccedilatildeo dos filhos e os inutilizaacuteveis presentes trazidos por estes a

anciatilde cansada de tais acontecimentos repugna a presenccedila destes seres opacos fuacuteteis

e fracos em sua festa e enojada dos rostos ali presentes age instintivamente

ldquoE de suacutebito a velha pegou na faca E sem hesitaccedilatildeo como se hesitando um

momento ela toda caiacutesse para frente deu a primeira talhada com o punho de

assassinardquo (p59) ldquoVirou a cabeccedila e com forccedila insuspeita cuspiu no chatildeordquo (p61)

a raiva a sufocava como denuncia o narrador e mais ainda ao ver a famiacutelia que tem

ldquocorja de maricas cornos e vagabundasrdquo (P61)

Estes e outros momentos nada convencionais ou confortaacuteveis aos que assistem

e participam de atos instintivos e de hesitaccedilatildeo como estes satildeo seguramente

comentados por BAUMAN (2008 P 78)

Quando dizemos que coisas ou situaccedilotildees satildeo ambivalentes o quedesejamos dizer eacute que natildeo podemos estar certos do que vai acontecernem saber como nos comportar tampouco prever qual seraacute oresultado de nossas accedilotildees Instintivamente ou por haacutebito adquiridonatildeo gostamos e tememos a ambivalecircncia aquela inimiga da seguranccedilae da autoconfianccedila Estamos inclinados a acreditar que nos sentiriacuteamosmuito mais seguros e confortaacuteveis se as situaccedilotildees natildeo fossemambiacuteguas ndash se o que fazer fosse claro e o que viria a acontecer se ofizeacutessemos fosse sempre previsiacutevel

Os atos e falas de D Anita acima descritos compactuam de tal descriccedilatildeo

elaborada por Bauman no que diz respeito a perder o controle da situaccedilatildeo pois no

decorrer da ldquofestardquo a anciatilde surpreende a todos com suas atitudes nada convencionais

quando se fala em matildee e em aniversaacuterio haja vista natildeo fazerem parte destas

representativas simbologias Entretanto passamos a entender o modo como a mesma

se sente frente agraves adversidades do evento que fora de ser um normal desejado everdadeiro evento comemorativo eacute na verdade uma representaccedilatildeo uma encenaccedilatildeo

do ideaacuterio famiacutelia feliz Podemos entatildeo entender que a falta de seguranccedila e o temor

da situaccedilatildeo fez com que D Anita agisse de tal maneira ateacute mesmo porque natildeo se

pode haver seguranccedila e confianccedila numa situaccedilatildeo pouco convencional para qualquer

idoso

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As reflexotildees aqui apontadas neste artigo pautado no conto feliz aniversaacuterio de

Clarice Lispector apresentaram um tema de fundamental importacircncia que eacute osentimento de abandono na velhice no contexto familiar Nessa abordagem

entendemos que muitas situaccedilotildees que levam o idoso a se sentir abandonado satildeo

provocadas pela condiccedilatildeo de fragilidade nas relaccedilotildees afetivas e sociais pela

dependecircncia de outras pessoas natildeo raro os filhos que muitas vezes natildeo se dedicam

como deveriam propiciando uma distacircncia afetiva uma vez que o idoso quer o

acolhimento a presenccedila e o amor dos seus tambeacutem a perda de autonomia e da

independecircncia e principalmente pelo esfriamento desses viacutenculos afetivos ocasionado

por uma sociedade individualista na qual vivemos

Entendemos que a discussatildeo sobre o abandono na velhice natildeo se esgota nessa

anaacutelise mas consideramos que existem inuacutemeras maneiras para amenizar este

problema tais como o envolvimento da famiacutelia nas relaccedilotildees com seu idoso a

consciecircncia da sociedade para realizar accedilotildees sociais eficazes que sejam frutos de

poliacuteticas puacuteblicas e sociais para permitir que a pessoa velha seja tratada com

dignidade proteccedilatildeo e cuidado por parte da famiacutelia e da sociedade em geral

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BAUMAN Zygmunt Modernidade e clareza a histoacuteria de um romance fracassado

P78-94 In _________ A sociedade individualizada vidas contadas e

histoacuterias vividas Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008

Brasil Escola (sd) Um estudo teoacuterico da morte Recuperado em 16 de fevereiro de

2007 de httpwwwbrasilescolacompsicologiaestudo-teorico-morte2htm In

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa Revista

Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008

Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

FALCAtildeO Deusivacircnia Vieira da Silva e DIAS Cristina Maria de Souza Brito (Orgs)

Depressatildeo na maturidade feminina Benefiacutecios e desafios de uma intervenccedilatildeo grupal

7212019 Conto Feliz Aniversaacuterio

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Anais do IV Coloacutequio Internacional Cidadania Cultural diaacutelogos de geraccedilotildees

22 23 e 24 de setembro de 2009

Campina Grande Editora EDUEPB 2009 ndash ISSN 2176-5901 983096

P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa RevistaPsicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As reflexotildees aqui apontadas neste artigo pautado no conto feliz aniversaacuterio de

Clarice Lispector apresentaram um tema de fundamental importacircncia que eacute osentimento de abandono na velhice no contexto familiar Nessa abordagem

entendemos que muitas situaccedilotildees que levam o idoso a se sentir abandonado satildeo

provocadas pela condiccedilatildeo de fragilidade nas relaccedilotildees afetivas e sociais pela

dependecircncia de outras pessoas natildeo raro os filhos que muitas vezes natildeo se dedicam

como deveriam propiciando uma distacircncia afetiva uma vez que o idoso quer o

acolhimento a presenccedila e o amor dos seus tambeacutem a perda de autonomia e da

independecircncia e principalmente pelo esfriamento desses viacutenculos afetivos ocasionado

por uma sociedade individualista na qual vivemos

Entendemos que a discussatildeo sobre o abandono na velhice natildeo se esgota nessa

anaacutelise mas consideramos que existem inuacutemeras maneiras para amenizar este

problema tais como o envolvimento da famiacutelia nas relaccedilotildees com seu idoso a

consciecircncia da sociedade para realizar accedilotildees sociais eficazes que sejam frutos de

poliacuteticas puacuteblicas e sociais para permitir que a pessoa velha seja tratada com

dignidade proteccedilatildeo e cuidado por parte da famiacutelia e da sociedade em geral

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BAUMAN Zygmunt Modernidade e clareza a histoacuteria de um romance fracassado

P78-94 In _________ A sociedade individualizada vidas contadas e

histoacuterias vividas Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008

Brasil Escola (sd) Um estudo teoacuterico da morte Recuperado em 16 de fevereiro de

2007 de httpwwwbrasilescolacompsicologiaestudo-teorico-morte2htm In

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa Revista

Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008

Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

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FALCAtildeO Deusivacircnia Vieira da Silva e DIAS Cristina Maria de Souza Brito (Orgs)

Depressatildeo na maturidade feminina Benefiacutecios e desafios de uma intervenccedilatildeo grupal

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22 23 e 24 de setembro de 2009

Campina Grande Editora EDUEPB 2009 ndash ISSN 2176-5901 983096

P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da Costa RevistaPsicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 de

httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf

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P249-268 IN Maturidade e velhice intervenccedilotildees psicoloacutegicas VolI Satildeo

Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

GIANNETTI EduardoA escolha intertemporal no ciclo da vida maturidade e velhiceP99-115 In O valor do amanhatildeensaio sobre a natureza dos juros Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2005

LISPECTOR Clarice Feliz aniversaacuterioP54-67 IN Laccedilos de famiacutelia Rio de JaneiroRocco1998

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httpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf Parkes C M (1998) Luto estudos sobre a perda na vida adulta Satildeo PauloSummus In OLIVEIRA Joatildeo Batista Alves de LOPES Ruth Gelehrter da CostaRevista Psicologia em Estudo Maringaacute v 13 n 2 p 217-221 abrjun 2008Recuperado em 02 de setembro de 2009 dehttpwwwscielobrpdfpev13n2a03v13n2pdf