#contramaonasruas: News Diamond como estratégia de cobertura de manifestações em Belo Horizonte
-
Upload
jorge-rocha -
Category
Education
-
view
264 -
download
0
description
Transcript of #contramaonasruas: News Diamond como estratégia de cobertura de manifestações em Belo Horizonte
1
IV SIMPÓSIO DE CIBERJORNALISMO UFMS
#contramaonasruas: News Diamond como estratégia de
cobertura de manifestações em Belo Horizonte
Jorge Rocha
Reinaldo Maximiano Pereira1
Resumo: Junho de 2013 será lembrado como um período em que a população brasileira
saiu às ruas de várias capitais do país para protestar inicialmente contra os aumentos dos
preços das passagens de ônibus. Em cada uma dessas cidades, a cobertura das
manifestações realizada por veículos alternativos à grande mídia compuseram um
grande destaque, demonstrando formas narrativas e abordagens mais incisivas e
multimídia, com um alcance e propagação em rede ainda difícil de mensurar. Este
trabalho apresenta e pormenoriza a cobertura feita pelo Contramão Online – site-
laboratório do Núcleo de Convergência de Mídias (NUC), do Centro Universitário
UNA das manifestações realizadas em Belo Horizonte neste período. A cobertura foi
realizada seguindo os princípios do News Diamond, modelo estratégico para redação
jornalística definido por Paul Bradshaw (2006), que contempla unidades de informações
compartimentadas e interligadas, focadas nos eixos informacionais de velocidade,
profundidade e colaboração.
Palavras-chaves: News Diamond; Jornalismo Multimídia; Rotina produtiva; Mídias
Convergentes
1 Jorge Rocha é professor de Jornalismo Online, Produção e Edição Multimídia, Mídias Digitais e Reportagem Multimídia do curso de Jornalismo com ênfase em Multimídia do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte. Mestre em Cognição e Linguagem pela UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense). Reinaldo Maximiano Pereira é professor de Processos e Técnicas de Jornalismo, Redação em Jornalismo e Reportagem Impressa do curso de Jornalismo com ênfase em Multimídia do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte. Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC/Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) Ambos coordenam o Núcleo de Convergência de Mídias (NuC), responsável pelo jornal impresso Contramão e site Contramão Online –contramao.una.br
2
Convergência de mídias e jornalismo hiperlocal
Este artigo tem por objetivo situar a experiência do Núcleo de Convergência de
Mídias (NuC) e seus produtos, no cenário contemporâneo caracterizado por profundas
transformações que tensionam o lugar do Jornalismo, enquanto prática comunicacional
cujos preceitos técnicos nasceram no auge da Modernidade. Especificamente, busca-se
refletir sobre a prática de reportagem empreendida pelo Contramão Online na cobertura
das manifestações em Junho de 2013, em Belo Horizonte (MG), durante a Copa das
Confederações da FIFA.
O que se convencionou chamar de Pós-Modernidade tem por característica a
pluralidade de sentidos, torna-ndo inviável a delimitação das práticas de reportagem de
forma compartimentada em que as competências textuais, técnicas de edição de vídeos,
áudios e composição de peças gráficas não dialogam. Nesse contexto, há que se pensar
que o jornalismo, hoje, exige, em termos de sua prática e de seu discurso uma
perspectiva abrangente, isto é, que ultrapasse a técnica da pirâmide invertida.
O mediador social há que buscar "a ampliação de sua cosmovisão", ou, para usar
a expressão de Cremilda Medina, “desbloquear os portões fechados da percepção”
(MEDINA, 1996, p.221). Nesse sentido, demanda-se do jornalista uma consciência de
planejamento, produção e edição de forma convergente, superando, assim, a perspectiva
tradicional que separa as áreas da reportagem (Impresso, Rádio, TV, Web) como
práticas isoladas e pouco interagentes. Exige-se, ainda, habilidadse na produção de
narrativas jornalísticas que proporcionem ao leitor um mergulho de fôlego na realidade
cotidiana.
No contexto das matrizes curriculares dos cursos de Jornalismo, no Brasil,
observa-se a dificuldade de integrar as tecnologias digitais aos currículos e estimular os
professores e os alunos ao exercício consciente de um jornalismo multimídia, ou seja, as
inovações tecnológicas abrem um cenário de forte potencial interativo com dois
desafios: um modelo de produção ajustado às novas plataformas digitais e a qualidade
da informação. Os currículos tradicionais ainda se esteiam nas habilidades e
competências de tradicionais como o impresso, o rádio e a TV e pouca ênfase nas
potencialidades de uma produção convergente no ambiente web. Para muitos cursos do
país, pensar uma prática laboratorial que tente integrar as habilidades e competências
3
dos diferentes meios ainda é um desafio e quando da homologação das Diretrizes
Curriculares para o Curso de Jornalismo, pelo ministro da Educação, esse desafio será
uma realidade formalizada no âmbito das Instituições de Ensino Superior2.
O NuC, especificamente, foi criado em 2009, no curso de Jornalismo com ênfase
em Multimídia, do Centro Universitário UNA, como um espaço de estudo,
planejamento e produção convergente, de forma experimental. O Contramão Online3 é o
jornal que trabalha com dois conceitos contemporâneos para a prática da reportagem
que são a abordagem multimídia das pautas e o recorte hiperlocal da cobertura noticiosa
para web. A experiência do jornal visa contemplar o diálogo entre diferentes formatos
para informação dentro do Núcleo de Convergência de Mídias (NuC). O Núcleo conta
com 10 estagiários provenientes dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda,
Relações Públicas e Cinema. Cada estagiário agrega ao laboratório diferentes aportes,
provenientes de suas áreas de formação, de forma a se pensar estratégias de
planejamento de cobertura e interação nas redes sociais.
A produção diária de conteúdo do jornal tem como princípio a convergência das
mídias, caracterizando-se assim como um espaço de experimentação da prática da
reportagem conciliando, de forma complementar, textos, produção audiovisual (vídeos,
podcast, paisagem sonora), fotografias, infografias e mapas em um gerenciador de
conteúdos de fácil acesso e manuseio, o blog. Esta produção é planejada ainda
respeitando princípios éticos e legais que norteiam a prática do Jornalismo no Brasil e
em consonância com o projeto do curso de Jornalismo Multimídia, que preconiza que
“o aluno deverá estar sempre pronto a reorganizar conceitos e utilizá-los da forma mais
criativa possível, incluindo aí as ações que, cada vez mais, dependem da mediação de
tecnologias sempre em evolução (UNA, 2009).”.
2 Presidida pelo professor José Marques de Melo, uma comissão de especialistas que criou uma proposta, em 2009, que reorienta a forma como as matrizes curriculares dos cursos de Jornalismo são pensadas, tais como: a instituição do estágio curricular obrigatório; e a definição de seis eixos de formação a partir dos quais a matriz curricular deverá ser montada, observando-se inclusive a necessidade de garantir a equidade entre as cargas horárias destinadas a cada um dos eixos. Documento disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/documento_final_cursos_jornalismo.pdf
3 O Núcleo de Convergência de Mídias que abriga o Contramão Online está localizado no Campus Liberdade 2, do centro Universitário UNA, a rua da Bahia, 1723, a um quarteirão da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte (MG).
4
A adequação da linguagem é outro desafio com a qual a equipe deve lidar na
produção da webnotícia:
Se, para o jornalista, a introdução de diferentes elementos multimédia altera todo o processo de produção noticiosa, para o leitor é a forma de ler que muda radicalmente. Perante um obstáculo evidente, o hábito de uma prática de uma leitura linear, o jornalista tem de encontrar a melhor forma de levar o leitor a quebrar as regras de recepção que lhe foram impostas pelos meios existentes (CANAVILHAS, José Messias, p.2).
A organização de conteúdos no webjornalismo também se configura de uma
maneira diferente a de veículos impresso. De acordo com Salaverria apud Canavilhas
(2005, 108), “a flexibilidade do meios online permite organizar as informações de
acordo com as diversas estruturas hipertextuais. Cada informação, de acordo com as
suas peculiaridades e os elementos multimédia disponíveis, exige uma estrutura
própria”.
A cobertura com recorte hiperlocal se ajusta à recente retomada da cobertura
circunscrita numa geolocalização. O chamado Jornalismo Hiperlocal, posto em prática
de forma pioneira nos Estados Unidos pelo jornal The New York Times em parceria com
a Escola Graduação em Jornalismo da City University of New York (CUNY), consiste
em determinar, no tecido metropolitano, as microrregiões para a cobertura jornalística.
No caso novaiorquino, esse traçado permitiu a criação de um projeto que implanta em
três comunidades de New Jersey e duas do Brooklyn um boletim informativo, em blog,
chamado The Local. A iniciativa possibilitou ao jornal explorar pautas e temas não
contemplados pelo modelo tradicional de cobertura que não considera as “realidades
específicas” e as “necessidades de indivíduos situados em territórios circunscritos”
(ZAGO, 2009). Para a CUNY, este projeto representou um braço extensor da
universidade com as comunidades que se encontram no extramuros do campus.
A experiência novaiorquina inspira Contramão Online na produção jornalística e
outros suportes - texto, fotografia, infográfico, mapa digital, vídeo e áudio - em um
mesmo espaço, com pautas mais factuais, ajustadas ao cotidiano local. Para distinguir o
Contramão Online do seu irmão impresso, foi definido o seguinte recorte:
1. Cobertura Hiperlocal de temas da região em volta da Praça da Liberdade, centro-sul de Belo Horizonte.
5
2. Pautas com abordagem multimídia que definem claramente a produção textual, audiovisual e gráfica (mapas, ilustrações e infografias).
3. Periodicidade de cobertura diária com atualização às quartas e sextas com chamadas no Twitter (@contramao_una) e na fanpageno Facebook (contramaojornal).
4. Criação de canais específicos para hospedagem de vídeos no YouTube; galerias de fotos no ISSUU e Picasa; e áudio no Radiotube.
5. Público-alvo: moradores e pessoas que trabalham e/ou estudam na região, além dos estudantes e funcionários da UNA.
Em um ambiente de redação, os estagiários organizam a seguinte rotina, em 20
horas semanais:
1. Pensar pautas e organizar a escala das rondas hiperlocais diárias com a designação dos formatos (texto, vídeo, fotos, áudio, mapas, infográficos, etc.) a serem publicados (controle quantitativo e qualitativo).
2. Apurar (recolher informações): pesquisa, observação, entrevista e documentação.
3. Organizar e hierarquizar a informações.
4. Escrever e editar (texto, vídeo, fotos, áudio, peças gráfica), além de editorar e diagramar o Contramão Impresso cujas pautas dialogam com o site.
No site www.contramao.una.br está a missão do jornal:
Realizar a cobertura jornalística hiperlocal na região que circunda a Praça da Liberdade e que se expande por mais alguns quarteirões do seu entorno, que estão localizados no bairro de Lourdes e parte da região central de Belo Horizonte. Nossa missão é viabilizar a publicação multimídia de informações sobre os grandes e pequenos eventos da região, sobretudo, as manifestações culturais, já que a localização geográfica da cobertura hiperlocal contempla importantes instituições culturais e artísticas da cidade. A missão também aborda os problemas cotidianos e urbanos da população local (CONTRAMÃO ON LINE).
O Contramão Online está hospedado no Wordpress e é composto por uma
manchete e quatro chamadas com as notícias que dentro da hierarquia de importância e
data de publicação. O site é dividido em sete abas, dispostas na parte superior, na
seguinte ordem: Home; Hiperlocal, com notícias com este recorte da região; Cultura;
Cotidiano; Edições Impressas do Jornal Contramão impresso em visualização digital;
6
Galerias (ensaios fotográficos); Especiais (coberturas eventuais fora da rotina ou fora do
hiperlocalidade). A foto do template muda a cada início da Primavera, que marca o
período de surgimento do Contramão Online. Ainda no template, à esquerda, a
logomarca do site e, à direita, ferramenta de busca que possibilita ao leitor pesquisar
publicações de maneira mais rápida e o RSS das notícias. Nas laterais, estão: à
esquerda, o texto de apresentação do site, o expediente, link para versão impressa e para
as demais categorias do site; à direita, o link para o programa esportivo em webradio
Projeto E!, o texto da missão, o horário de funcionamento da redação, endereço e email,
os links de RSS e o Twitter, além dos links de acesso do administrador.
Segundo Pereira e Lemos (2011, p.3), “o jornal-laboratório Contramão Online
propõe-se como um espaço de experimentação das ferramentas tecnológicas que
auxiliam na produção de notícias para a internet. Busca-se, portanto, que o futuro
profissional esteja apto para atuar no contexto multimídia”.
News Diamond
O cenário comunicacional que se reafirma com a cobertura descentralizada de
vários canais no meio digital, como foi observado recentemente com as manifestações
de junho em diversas capitais do Brasil, sugere uma busca mais acentuada por
capacitação relativa à rotina de produção webjornalística. Um modelo viável para esta
produção encontra-se na teoria do News Diamond, criada por Paul Bradshaw (2006),
que estabelece camadas de informação divididas entre velocidade e profundidade,
utilizando, de modo integrado, recursos hipermidiáticos de apuração e produção.
Esse modelo teórico, que visa ao aproveitamento de várias ferramentas
hipermidiáticas entrecruzadas, vem juntar-se aos três planos conceituais e práticos das
mídias, categorizando assim mudanças estratégicas que apontam para um paradigma
digital. No primeiro plano, consideramos que as mídias tradicionais recorrem às
técnicas que não priorizam a comunicação interpessoal – a televisão sendo apontada
como o veículo que melhor se encaixa nessa definição. O segundo plano compreende a
telefonia e todos os serviços que têm por objeto a transmissão de mensagens, enquanto
o terceiro é organizado tendo como centro a informática como técnica de tratamento da
informação.
7
A evolução desses três pontos conceituais e paradigmáticos, em um processo
que alia tecnologia às mudanças socioculturais já abordadas acima, acabaram por
acentuar uma revisão de processos no jornalismo, e as formas como recursos
hipermidiáticos podem ser utilizados de modo a contribuir para estabelecer uma
linguagem webjornalística.
Para Manovich (2001, p.26), a nova mídia não deve ser compreendida através de
uma lógica de transposição de uma forma cultural existente, ou no sentido da metáfora –
projetar um novo modelo remetendo-o a modelos anteriores. Pelo contrário, deve operar
no sentido de migração ou de deslocamento, como forma de ampliação dos atuais
modelos narrativos, o que configura também modelos diferenciados de moderação em
ambientes digitais. Nesse ponto, cabe também remeter a Burns (2005), que defende a
ideia de que a liberação do pólo emissor reconfigurou as zonas de filtragem do fluxo
informacional resultando em um fenômeno paralelo ao gatekeeping; o gatewatching.
Se o gatekeeping é pessoal e unidirecional, o gatewatching é uma filtragem colaborativa
e atende aos interesses de uma comunidade para qual é reverberada.
A utilização do modelo conhecido como News Diamond em redações
jornalísticas integradas diz respeito também ao que consideramos como uma mudança
de status: passamos de uma “estrutura monopolista”, própria dos meios de comunicação
de massa, para processos de coenunciação, que devem constituir um meio digital. A
chave para a compreensão do ecossistema das novas mídias, ambiente onde opera o
modelo News Diamond, encontra-se baseada nas tecnologias em rede que utilizam
estratégias P2P (peer-to-peer) e comunicação interpessoal.
Tendo estes pontos em vistas, passamos a pormenorizar o modelo chamado
News Diamond, elaborado por Paul Bradshaw (2007), frisando que sua elaboração e
aplicação congregam os vetores velocidade, profundidade e participação da audiência
em relação à informação, no que diz respeito às rotinas de produção de um veículo
jornalístico (FIG. 1).
8
FIG. 1
Bradshaw (2007) especifica que Alert corresponde a postagem de notas sobre
determinado assunto, assim que se inicia a cobertura, podendo ser utilizada também em
uma cobertura em tempo real, via mídias sociais. Draft é a área, em uma publicação
webjornalística, onde é possível publicar uma série de links que podem complementar a
informação inicial e abrir uma discussão em rede. Os comentários podem ajudar
inclusive na indicação de pistas para a cobertura. Article conta com a seleção de
“melhores comentários” – em blogs da redação, Twitter, etc –, que podem gerar um
artigo.
Context pode ser associado a ideia de um “portal instantâneo”, com tags e links
para outras referências multimidiáticas sobre o tema. Já Analysis diz respeito à
“debates” entre especialistas sobre o tema em questão – no caso, selecionados a partir
da verificação em redes sociais, realizadas em outras áreas/etapas do News Diamond.
Este ponto contempla também peças opinativas redigidas por repórteres ou articulistas
que acompanham diretamente determinada questão ou pauta, auxiliando assim a
contextualização e debate. Interactivity pode ser entendido como o estabelecimento de
uma espécie de “portal multimídia”, reunindo informações em vários formatos, como
9
galeria de fotos e vídeos, podcasts e bate-papo por streaming. Customisation estabelece
que, a partir da criação da tag, gera-se um RSS sobre o assunto, que pode ser assinado
por qualquer interessando.
Consideramos que, no que diz respeito a planejar e produzir tendo como
referência este modelo, existem dois cenários distintos, estimulados pelo paradigma da
Comunicação Digital: o revolucionário e o evolucionário. Os revolucionários
consideram que o papel do jornalista como mediador tende a diminuir, atendo-se à
prestação de contas junto à audiência e à lógica colaborativa. Já os evolucionários não
descartam o papel dos jornalistas como mediadores, mas atentam à interação com a
audiência, embora não com um caráter de destaque.
Para pensar em modelo de atuação webjornalística baseada no News Diamond,
preferimos optar por um caminho intermediário. Este diz respeito a uma comunicação
sintética em rede, funcionando segundo uma lógica hipertextual, promovendo a
articulação entre o conceito clássico de texto, o conceito de fluxo e a comunicação
interpessoal. Consideramos, apoiados por autores como Bradshaw Cardoso e Benkler
que recombinação pode ser uma das palavras-chaves possíveis esta articulação, uma vez
que esta prática articula-se com os modelos já existentes, “produzindo novas formas de
comunicação, permitindo também novas formas de facilitação de empowerment
individual e consequentemente de autonomia comunicativa”. (CARDOSO, 2007, p.
133)4. Ao associarmos News Diamond com o conceito de comunicação sintética em
rede, estamos reforçando um modelo comunicacional que contemple peculiaridades de
dinâmica de produção, compartimentação e níveis de profundidade de informação, com
um foco específico para uma linguagem webjornalística.
Aplicação de News Diamond no site Contramão Online
A cobertura realizada pelo Contramão Online foi iniciada no dia 17 de junho,
quando ocorreu a primeira manifestação na capital mineira, tendo como principal
reivindicação a diminuição no preço das passagens de ônibus, mas contemplando ainda
4 Para Cardoso (2007, p. 133), empowerment individual relaciona-se com as formas como as tecnologias de informação e comunicação são utilizadas no sentido de “aumentar a capacidade de cada um agir sobre os detentores dos meios de informação e processos de decisão na sociedade”.
10
outros pontos, como gastos com a Copa das Confederações, saúde e educação. No total,
foram publicados 12 textos relativos às manifestações no site5, contemplando matérias
jornalísticas e artigos de opinião – produzidos pela equipe de repórteres estagiários do
Núcleo de Convergência de Mídias (NuC).
No dia 18, o site publicou três matérias e três artigos, de modo a informar,
contextualizar e aprofundar o tema tratado, seguindo os critérios do News Diamond.
Além de informações sobre a manifestação ocorrida no dia anterior, houve a publicação
de artigos dos repórteres João Vitor, João Alves e Ana Carolina Vitorino, relatando suas
experiências durante o primeiro dia de cobertura das manifestações (FIG. 2). Desse
modo, estas peças opinativas podem ser classificadas como Article, uma vez que
apresentam a visão da equipe de reportagem de Contramão Online durante sua atuação
profissional, auxiliando a contextualização da cobertura planejada, concatenando ainda
velocidade e profundidade de informação.
FIG. 2 – Artigo escrito pelo repórter estagiário João Alves.
5 No período de 18 a 30 de julho. Nas mídias sociais de Contramão Online, este período estendeu-se até 6 de agosto, com a cobertura das ocupações na Câmara e Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
11
Desde o primeiro dia, a cobertura realizada no perfil do Twitter (FIG. 3) e
fanfage do Facebook (FIG. 4) do Contramão Online6 utilizou as hashtags
#contramaonasruas e #protestobh, de modo a identificar e organizar a produção de
informações em tempo real nas mídias sociais. O uso de hashtags na produção de
informação corresponde ao ponto Customisation do News Diamond, relativo ao
estabelecimento de palavras-chaves que possam auxiliar a audiência a identificar e
acompanhar a produção de conteúdo relativa a um determinado tema. A primeira tag foi
definida pela coordenação do NuC para reunir informações produzidas pela equipe de
Contramão Online e colaboradores, enquanto a segunda foi estabelecida por pessoas que
estavam acompanhando, de maneira autônoma, as manifestações.
A utilização de #protestobh serviu ainda para que os repórteres estagiários
pudessem apurar outras informações e repassar – por meio de RTs – conteúdo
produzido por outros agentes, ampliando desse modo seu espectro de cobertura. As
postagens em tempo real no Twitter e Facebook, de informações constantemente
atualizadas, construindo assim um acompanhamento em tempo real das manifestações,
podem ser categorizadas como Draft. Essas atualizações compuseram um mosaico
informacional, oferecendo ainda subsídios para a redação das matérias acerca das
manifestações em Belo Horizonte. O uso de outras tags e links, indicados por outros
agentes nas mídias sociais, é relativo ao quesito Context, estabelecendo novas camadas
de informação e, consequentemente, maior profundidade.
6 Respectivamente www.twitter.com/contramaojornal e www.facebook.com/contramaojornal.
12
FIG. 3
FIG. 4
A fanpage de Contramão Online foi utilizada ainda para estabelecer o ponto
Interactivity. Cada passeata contou com um álbum fotográfico específico (FIG. 5),
apresentando e aprofundando informações contidas nas postagens diárias nas mídias
sociais do site. Os repórteres estagiários produziam ainda vídeos sobre as
manifestações, reunidos também na fanpage, com um conjunto de informações que
perpassaram também os quesitos Context e Draft.
13
FIG. 5
Complementando as informações postadas no site de Contramão Online, assim
como em suas mídias sociais, houve ainda a veiculação de um vídeo com o sociólogo
Rudá Ricci (FIG. 6), analisando a situação do país, que levou às pessoas a saírem às
ruas, reivindicando melhorias sociais. Esta veiculação enquadra-se no ponto Analisys,
uma vez que parte das informações publicadas no site, contextualizando-as e levando o
leitor a outro nível de esclarecimento, ao aprofundar-se nas questões sociológicas do
tema.
FIG. 6
14
Destacamos que o mosaico informacional produzido durante o período de
cobertura das manifestações em Belo Horizonte pela equipe de Contramão Online
apresenta um panorama bem definido acerca do tema tratado. Este panorama foi
construído obedecendo aos três vetores destacados pelo modelo de apuração e produção
denominado News Diamond: velocidade, profundidade e participação da audiência.
Conforme define a imagem deste modelo, já apresentada anteriormente, os pontos Alert,
Draft e Article correspondem à velocidade de informação, Analisys, Context e
Interactivity evidenciam profundidade e Customisation trabalha a participação do leitor
ativo.
Conclusão
Embora o site Contramão Online não tenha sido originalmente criado para a
aplicação do modelo News Diamond, sua estruturação editorial calcada na cobertura
hiperlocal ofereceu um plano conceitual propício para o desenvolvimento desta
estratégia jornalística. Definir uma área de cobertura específica e uma abordagem mais
aprofundada das editorias escolhidas, assim como um prazo mais estendido para
apuração e publicação compartimentada, permitiu que este modelo editorial pudesse
compor na prática o mosaico informacional que defende.
A utilização das mídias sociais, notadamente nos pontos Context, Interactivity,
Customisation e Draft propiciaram diversas camadas de informações complementares
aos textos publicados no site, auxiliando tanto a velocidade quanto o aprofundamente de
informações. Cabe ainda ressaltar que a utilização de Customisation e Draft, por
exemplo, possibilitaram que os leitores pudessem colaborar com a produção de
informação, tanto em tempo real quanto em relação à construção de análises. Esta
interação nas mídias sociais ocorreu na repercussão de informações reunidas sobre tags
específicas, na interlocução entre agentes e validação de pontos que uma cobertura
ligada aos meios de comunicação de massa não poderia executar. Ressalte-se que esta
validação está intrinsecamente ligada ao alcance de cobertura colaborativa, que
fortalece os laços de produção no meio digital e ainda fornece maior acesso à
informações, de modo a abalizar ainda mais as matérias publicadas em Contramão
Online.
15
Podemos então classificar que as matérias publicadas no site, relativas às
manifestações de junho em Belo Horizonte, não foram um “fim” em si mesmas. Não
foram o produto final da apuração, mas sim uma das partes complementares de um
sistema de publicação mais completo e complexo. A experiência aqui relatada, além de
reforçar o caráter experimental de uma produção laboratorial bem-sucedida em sua
proposição – compartimentar e aprofundar informação, sem perder de vista a
emergência de publicação –, nos mostra ainda a viabilidade da aplicação do modelo
News Diamond à uma estratégia editorial focada no hiperlocal.
Referências Bibliográficas
1. BENKLER, Yochai. The wealth of networks – how social production transforms
markets and freedom. New Haven e Londres: Yale University Press, 2006.
2. BRADSHAW, Paul. A model for the 21th century newsroom: pt1 – the news
diamond. Online Journalism Blog. 17 set. 2007. Disponível em <
http://onlinejournalismblog.com/2007/09/17/a-model-for-the-21st-century-
newsroom-pt1-the-news-diamond/>. Acessado em 19 de março de 2010.
3. CANAVILHAS, João. Webjornalismo: Da pirâmide invertida à pirâmide
deitada. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação, 2006. Disponível em
<http://www.bocc.uff.br/pag/canavilhas-joao-webjornalismo-piramide-
invertida.pdf>. Acesso em 19 de março de 2010.
4. CARDOSO, Gustavo. A mídia na sociedade em rede. Rio de Janeiro: FGV
Editora, 2007
5. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
6. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA. Projeto Pedagógico do Curso de Jornalismo
com ênfase em Multimídia da U�A. Belo Horizonte: 2009/2. Não publicado.
7. LEMOS, Cândida Emília Borges e PEREIRA, Reinaldo Maximiano. Jornalismo
hiperlocal no contexto multimídia: um relato da experiência do jornal-
laboratório Contramão Online. In: Sociedade Brasileira de Estudos
16
Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação
na Região Sudeste – São Paulo - SP – 12 a 14 de maio de 2011.
8. MANOVICH, Lev. The language of new media. Cambridge: MIT, 2001.
9. MEDINA, Cremilda. Povo e personagem. Canoas: Ed. ULBRA, 1996.