Contraponto Nº 92

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes – PUC-SP ANO 14 N 0 92 Maio 2014

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Maio 2014

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes – PUC-SP

ANO 14 N0 92 Maio 2014

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CONTRAPONTO2 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

PUC

PUCEXPEDIENTE

Pontifícia Universidade católica de sÃo PaUlo

PUc-sP

reitor

vice-reitor

Pró-reitora de Graduação

Pró-reitor comunitário

facUldade de filosofia,comUnicaçÃo, letras e artes

faficla

diretormárcio alves da fonseca

diretora adjuntaregiane miranda nakagawa

chefe do departamento de Jornalismovaldir mengardo

suplentelaís Guaraldo

coordenador do Jornalismomilton Pelegrini

vice-coordenador do Jornalismofrancisco chagas câmelo

c o n t r a Ponto

conselho editorialHamilton octavio de souza, José arbex Jr.,

marcos cripa e Pollyana ferrari

comitê laboratorialluiz carlos ramos, rachel Balsalobre, salomon cytrynowicz, Wladyr nader

editorJosé arbex Jr.

ombudsmananna feldmann

secretária de redaçãolu sudré

secretária de produçãoBia avila

editor(a) de fotografiaBruna Bravo e leonardo m. macedo

E D I T O R I A L

SUMÁRIO

capa: Júlia dolcevietnã

política Mensalão e mensalinho: quando os interesses políticos .......... pág. 3

ditadura País vive falsa democracia, 50 anos após o golpe ............. pág. 4

ditadura Resquícios prejudicam o sistema educacional ............................... pág. 6

cláudiaSilvaFerreira Truculência policial faz mais uma vítima ........................................... pág. 8

Sobrevivência Um futuro sem perspectivas para refugiados ................................ pág. 10

enSaioFotográFico Desconhecendo o Vietnã ...................................................................... pág. 12

debate Rumos do jornalismo ............................................................................... pág. 14

igreja É Jesus um superstar? ............................................................................. pág. 18

múSica Inovações no Lollapalooza não alteram sua essência .................. pág. 20

eSporte Pole Dance: os desafios e a verdade além dos cabarés .............. pág. 21

reSenha O jornalista e o assassino: Uma reflexão sobre a ética ............. pág. 22

crônica O tio ............................................................................................................. pág. 22

antena Polícia reconstitui caso de Cláudia...................................................... pág. 23

mundo Ucrânia até onde Ucrânia ,,, ....................................................... pág. 24

simetria design Gráfico – projeto/editoraçãoWladimir senise – fone: 2309.6321

contraPonto é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da PUc-sP.

rua monte alegre 984 – PerdizesceP 05.014-901 – são Paulo – sP

fone: 3670.8205

número 92 – maio de 2014

Wt Gráficafone: 993.583.533

Fale com a genteenvie suas sugestões, críticas, comentários: [email protected]

Os brilhantes colunistas da grande mídiaMuitos jornais e revistas contam com colunistas de currículos invejáveis. Entre eles, Luiz Felipe

Pondé, Marco Antônio Villa e Reinaldo Azevedo. Todos formados em faculdades de renome, com pós-graduação e afins. Entretanto, toda essa carga técnica e cultural não se revela em seus textos.

Uma rápida avaliação das argumentações utilizadas nos textos de tais colunistas revela em si mesma sua fragilidade. Pondé, por exemplo, afirma no texto “Por uma direita festiva” que uma mulher feminista, que luta contra o machismo e pela autonomia pelo seu próprio corpo, se esforça para ser feia. Além de afirmar que para “pegar mulher” (termo altamente objetificante), os homens liberais precisam adotar certas características de homens esquerdistas, que, segundo ele, são festivos, conversam sobre política e oferecem às mulheres vinho barato. O escritor afirma ainda que mulheres se preocupam apenas com a alegria da vida, não se interessando, por exemplo, por economia, ou por debates políticos profundos. Já Reinaldo Azevedo, no texto “1964 já era! Viva 2064!”, chama organizações guerrilheiras de esquerda que existiam no período do regime civil-militar brasileiro de “homicidas” e afirma que o pedido de revogação da anistia dada aos militares criminosos, feito por muitos militantes e familiares de militantes mortos e desaparecidos no período, é inconstitucional e vai contra os “pactos sobre os quais se firmaram a pacificação política do país”.

Para além de argumentações sem fundamento algum, a ideologia desses colunistas é clara-mente conservadora e, aliada a isso, preconceituosa. Ou seja, sua escrita denigre a imagem de classes sociais, minorias, movimentos sociais e causas pelas quais grande parte da população luta, como por exemplo a reforma agrária e o movimento LGBT*.

Dois fatores são preocupantes ao observarmos publicações como essas. Em primeiro lugar, tais textos são divulgados em grandes meios midiáticos, como os maiores jornais ou revistas do país. Visto que o histórico dos grandes meios de comunicação brasileiros é o de possuir um caráter messiânico, ou seja, de doutrinação da população, a ridicularizarão de determinadas causas é difundida em uma sociedade já conservadora, reforçando inúmeros preconceitos e agravando tensões sociais.

Em segundo lugar, os meios responsáveis pelas publicações não manifestam nenhuma reação ao que está ali escrito. O espaço utilizado por tais colunistas é cedido pelo jornal ou revista, que os contrata. Diante disso, o jornal/revista é responsável pelo conteúdo de suas páginas (físicas ou virtuais), pois a partir do momento em que permitem que este tipo de conteúdo atinja a população, estão dando subsídios para que cresça o ódio, o preconceito, a vontade de fazer justiça com as próprias mãos, o machismo, o assédio sexual e muitos outros problemas que já são latentes na sociedade brasileira. Não é o Blog do Pondé, ou o Folheto do Villa, é a Folha de S. Paulo, o Estadão e a Veja que estão publicando esses textos, meios de comunicação que ainda são muito respeitados no Brasil.

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�CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Por luisa moraleida, marina campos, nadine nascimento, Guilherme

almeida e talitha arruda

PolíticaCONTRAPONTO

Mensalão” é a denominação dada pela mí-dia à série de escândalos de corrupção no

governo brasileiro, que ocorreram entre 2005 e 2006, durante o mandato petista do então pre-sidente Luís Inácio Lula da Silva. Até hoje, estes desvios de dinheiro público promovidos para a compra de votos do Parlamento, no Congresso Nacional do Brasil, por parte de integrantes do Partido dos Trabalhadores e de outros partidos não foram totalmente solucionados e devida-mente punidos. Este caso foi muito divulgado e condenado pela grande mídia em geral, sendo até considerado “o maior escândalo de corrup-ção da história do país”.

Em 2009, um novo caso de desvio de di-nheiro foi denunciado mas, dessa vez, feito por um político do PSDB, o ex-deputado Eduardo Azeredo. As irregularidades ocorreram nas elei-ções de 1998, quando Azeredo era governador do Estado de Minas Gerais e tentava se reeleger. As investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal comprovaram o desvio dos cofres mineiros de 3,5 milhões de reais na época, o equivalente a 9,3 milhões em valores de hoje, para a campanha de reeleição. Esse fato passou a ser conhecido como o ‘mensalinho mineiro”.

Em relação aos dois fatos é questionável se não houve uma certa arbitrariedade no trata-mento da mídia e do Supremo Tribunal Federal. No primeiro caso, observa-se um grande alarde da imprensa, que logo se prontificou a condenar em suas matérias e reportagens os supostos envolvidos do Mensalão, com um enfoque especial nos políticos do Partido dos Trabalha-dores. Além disso, o sistema judicial brasileiro também não se demorou para iniciar o julga-mento e, coincidentemente ou não, justamente em ano de eleições. O segundo caso, por outro lado, não teve a mesma repercussão, visto que muitos jornais preferiram nem ao menos trazer o escândalo à tona, assim como os políticos envolvidos também não foram julgados pelo Supremo Tribunal Federal até hoje, mesmo com tantas provas públicas de que o caso realmente aconteceu. O que houve foi apenas a condena-ção do publicitário Marcos Valério, envolvido tando no primeiro caso, quanto no segundo. Enquanto se arrasta o processo, o tempo passa e com isso a possibilidade de haver uma conde-nação e punição devida diminui, pois o crime já prescreve no segundo semestre de 2014.

Diante de tal situação, a neutralidade da mídia e dos órgãos governamentais passa a ser questionada pela população brasileira. Case-miro Reis, 55, presidente do PT de Campinas, acredita não só que não houve Mensalão, mas que o escândalo não passa de uma invenção da mídia e de alguns setores conservadores da sociedade que têm interesse em incriminar o Partido dos Trabalhadores. “O que houve foi o

cia da sociedade e acabou sendo extremamente injusto no episódio do mensalão. “Um sistema judiciário que não dá a mesma atenção a todas as classes sociais, não pode ser um sistema justo.”

Para Casemiro Reis, a ação da mídia de atacar o Partido dos Trabalhadores é nítida. Segundo ele, se o escândalo do Mensalão en-volvesse nomes de políticos de outros partidos, a cober-tura seria completamente diferente, e o destaque dado ao escândalo seria muito menor. “O PT tem propostas que rompem com a tradicio-nal política nacional, que é extremamente elitista, e que sempre manteve um grupo muito grande da população isentos dos seus direitos de cidadania. A partir do momento que o PT começa

a ter políticas populares e de inclusão social e cria programas como o PROUNI, o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e afins, determinados interesses são interferidos, e a reação desses agentes conservadores acaba sendo muito mais violenta contra o Partido dos Trabalhadores do que seria contra qualquer outro partido”, disse ele. “Os conservadores mais puros, enquanto não tem os seus interesses contrariados, po-sam de defensores da democracia. Porém, no momento em que os seus interesses são mini-mamente ameaçados, eles reagem”.

Ainda que os dois escândalos sejam igual-mente crimes contra a população, o tratamento a eles dirigidos foi um tanto tendencioso, de tal forma que acabou prejudicando um partido (PT) em benefício do outro (PSDB). Essa atitude da mídia fere a democracia, pois a população, que se mantém informada pelos jornais e a partir deles forma sua opinião, acaba tendo conhecimento de informações fragmentadas e manipuladas. Isso faz com que o cidadão brasi-leiro não consiga exercer os seus direitos como eleitor de forma plena, uma vez que não toma conhecimento de todas as ações políticas de seu candidato. A imprensa acaba possuindo uma influência fundamental, de forma prejudicial, nas decisões do povo.

Para a construção da matéria, o político Eduardo Azeredo, o juiz Bandeira de Melo e a professora Vera Chaia foram procurados, mas todos encontravam-se indisponíveis.

Mensalão e Mensalinho: quando os interesses políticos ultrapassaM a ética

Parcialidade dos principais veículos do país, questionada há muito, piora em ano eleitoral

uso do dinheiro de caixa dois para saldar dívidas de campanhas”, disse ele. O petista acredita também que esses escândalos de corrupção influenciam muito nas eleições, principalmente pela forma que são abordados pela mídia. “O escândalo do PSDB é tido como ‘mensalinho mi-neiro’, enquanto o do PT é tido como ‘mensalão do PT’. O ‘mensalinho’, no diminutivo, tenta dar uma dimensão de menor gravidade. Tudo isso para tentar atingir o PT, que é quem está no poder hoje em dia e que tem maior expectativa de ganhar a próxima eleição”.

Outro órgão político também fortemente influenciado por esses escândalos, segundo Ca-semiro, é o sistema judicial brasileiro. Para ele, o judiciário não está imune à politicagem e isso tem ficado cada vez mais claro, principalmente com o recém anúncio de Joaquim Barbosa de se candidatar às eleições. “Ele não está julgando de acordo com a lei, e sim de acordo com os inte-resses políticos de se promover”. O presidente do PT campineiro acredita ainda que o sistema judiciário brasileiro se deixou levar pela influên-

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Um sistema jUdiciário qUe não dá a

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(casemiro reis - presidente do pt de campinas)

Em entrevista, Casemiro Reis, presidente do PT de Campinas, afirma acreditar que o Mensalão petista não passa de uma invenção da mídia

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CONTRAPONTO4 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Por marina saran, marcela reis e vinícius lima

país vive falsa deMocracia, 50 anos após o golpe

CONTRAPONTO

Há 50 anos, no chamado ‘’dia dos tolos’’, um golpe de Estado instaurou uma dita-

dura civil-militar no Brasil, que perdurou até 15 de março de 1985. Esse período censurador e autoritário, que começou em 1º de abril de 1964, deixou marcas em todas as áreas do país: na cultura, na comunicação, na educação, nas pessoas, na segurança. Erradicou do Brasil tudo que é vinculado à democracia. A ditadura foi um atraso na história brasileira e nós, como filhos da ditadura e netos da escravidão, sofremos até hoje com os legados que o golpe de 64 deixou. Censura, repressão, tortura e medo são algumas palavras que resumem bem o que esse regime significou e ainda significa para o país.

No dia 19 de março deste ano, ocorreu na PUC-SP um debate organizado pelos professo-res Elias Novellino, Hamilton Octávio de Souza e Marcos Cripa sobre as heranças da ditadura militar, com os jornalistas Rose Nogueira e Alípio Freire. Foram tratados assuntos como o golpe de 64, a resistência de estudantes e trabalhado-res à ditadura, o papel da mídia da época e as heranças desse período. Não se tem mais uma ditadura militar como em 64, uma prova disso foi esse evento que ocorreu na universidade, um acontecimento como esse certamente seria censurado. Mas será que, hoje, o Brasil não vive a poeira da ditadura? Quais são suas heranças? O que ela deixou nos tempos de hoje? Um pe-ríodo tão caótico como foi o que o país viveu entre 1964 e 1985 não poderia desaparecer sem deixar vestígios.

A primeira herança deixada pela ditadura que se pode observar nos tempos de hoje é no sentido da reinstauração da democracia, que veio, supostamente, apenas na política. Hoje, no Brasil, é possível discutir política, as pessoas podem escolher seus partidos e votarem nos seus candidatos. Mas não houve uma redemo-cratização social ou econômica. A concentração de terras, as grandes indústrias e o oligopolío da midia, a distinção no tratamento entres as raças e sexualidades, as privatizações no campo da educação e da saúde, o sistema de segurança pública e a impunidade dos torturadores resis-tem como as maiores heranças da ditadura.

Educação – A escravidão nos deixou com um enorme índice de analfabetismo. O Brasil, ao ser colonizado pelos portugueses, nunca se preocupou em ter uma cultura le-trada no país. Os católicos de Portugal não ti-nham essa intenção, não precisavam saber ler ou escrever para chicotear. Na ditadura, veio um outro tipo de analfabetismo, o funcional. Por mais que os jovens brasileiros soubessem

Ditadura

A ditadura civil-militar brasileira deixou inúmeros resquícios, ainda enraizados na sociedade, nas instituições e no Estado

escrever, eles não eram induzidos a pensar, nem a compreender um texto ou situação. Matérias como Filosofia, Sociologia e Litera-tura Estrangeira, que exigiam reflexão, foram tiradas das grades curriculares das escolas. E mesmo matérias como História, Geografia, Literatura Nacional, são estudadas apenas com uma perspectiva técnica sobre o assunto. O objetivo dos ditadores era moldar a juven-tude da época aos seus costumes e criar uma geração que não fosse crítica, para que assim eles passassem impunes.

A ditadura, através dos sistemas de en-sino, colonizou o cérebro dos jovens brasileiros e hoje temos uma juventude não pensante que absorve tudo o que os professores falam sem nenhuma contestação. Graças à ditadura, a escola não é mais um espaço de formação do pensamento crítico; cabe então aos jovens desenvolverem a reflexão em outros espaços de agrupamento, como as redes sociais, as ONG’s, os movimentos populares e sociais ou partidos políticos.

Antes da ditadura, as escolas públicas eram as verdadeiras escolas, lugar para quem queria es-tudar; mal se falava em escolas particulares. Com a ditadura militar no Brasil, as verbas que antes eram direcionadas à educação passaram ser destinadas para outros propostitos. Com isso, durante essa época, houve um processo de privatização do en-sino basico e desvalorização estrutural, pedagógica e ideológica da escola pública.

Distinção de tratamento sobre sexo e raça – Uma das maiores heranças deixadas pela ditadura militar é o preconceito racial e sexual. O Brasil nunca foi tão racista como é hoje. En-tre os grupos alvos desse preconceito deixado pelo período ditatorial, um deles é o grupo das mulheres. Durante a ditadura, grande parte da resistência era composta por homens, pois as mulheres eram secundarizadas nessa luta. Desse modo, grande parte delas não ocupou cargos mais diretos na resistência, mas exerceram pa-peis (que foram de extrema importância) como acolher militantes em suas casas, fazer a pri-

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Assembléia sobre as heranças da ditadura na PUC-SP com

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�CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

meira abordagem com os militares, conviver em ambiente militar como espiãs e etc. Entretanto, diversas mulheres lutaram diretamente contra a ditadura assim como os homens, sofrendo com o machismo dentro das prisões.

Devido aos riscos que elas corriam em suas funções, muitas das mulheres da esquerda da época foram presas. A prisão no período da ditadura é um dos lugares onde se formou a ideia machista que o Brasil tem hoje sobre a mulher. Na cadeia, as mulheres eram tratadas como meros produtos de prazer. Elas eram estupradas, abusadas, e desrespeitadas por militares. A mulher, na cadeia era apenas a princesa de um reino de tortura e opressão que foi a ditadura.

Hoje, o Brasil ainda é extremamente ma-chista. Em pesquisa feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) este ano, consta-tou-se que 26% dos brasileiros acham que as mu-lheres merecem ser estupradas apenas pela roupa que vestem. Outro reflexo que a ditadura reforçou em relação à mulher é a banalização da imagem feminina. O país está às vésperas de uma copa do mundo e uma das únicas que os estrangeiros têm sobre o Brasil são das mulheres. É uma imagem machista, na qual a mulher é vista como produto sexual para a satisfação do homem.

O que dizer então da desigualdade pro-fissional? Na ditadura era imposta a ideia norte americana de que a mulher tem que cuidar de casa e dos filhos. Numa sociedade patriarcal, a mulher não tinha e hoje tem muito pouco es-paço numa carreira profissional. Para a mulher só restavam os trabalhos manuais de pouca força, como costurar, cozinhar, ou lavar roupa. E mesmo hoje, essa desigualdade sobrevive e as mulheres ainda lutam por igualdade profissio-nal. A sociedade machista e patriarcal em que vivemos é, de certo, uma das maiores heranças deixadas pela ditadura, que só reforçou toda estrutura de opressão histórica de gênero.

Grandes Indústrias midiáticas – Hoje, o

domínio do jornalismo brasileiro está nas mãos de algumas pequenas famílias, entre elas, Ma-rinho, Civita, Frias e Saad. Estas que não enxer-gam limites para aumentar a sua influência na mídia e seu poder de controle. Fora isso, essas empresas de comunicação não comandam ape-nas um meio de informação, quase todas elas têm um canal no rádio, na televisão e um jornal impresso. Isso apenas aumenta a participação delas numa sociedade de controle como a que o mundo vive hoje.

Mas qual é a relação disso com a ditadura militar? A Globo, que foi criada em 26 de abril de 1965 (em plena ditadura militar), hoje é assistida por mais de 150 milhões de pessoas e consegue quase todos os direitos de imagem dos grandes eventos do mundo. Todo o poder de comuni-cação que a Globo tem hoje é resultado de um forte investimento militar na época da ditadura. A Rede Globo é a opressão com a máscara da informação. Os sentimentos da ditadura ainda percorrem os corredores das redações da Globo: ela omitiu grande parte do movimento Diretas Já em sua cobertura e, no fim dos anos 80, houve um debate na emissora em que Fernando Collor de Mello foi favorecido. Ainda na ditadura, fa-voreceu o regime militar fazendo alusão contra o governo de João Goulart.

Em 1984, no final do período, o presi-dente da Globo, Roberto Marinho publicou um

editorial em que exaltava a ditadura e alegava a participação da empresa de comunicação no movimento. Neste editorial, Marinho afirma ser fiel ao objetivo da ditadura e a relaciona com um período de avanço social no Brasil, enquanto ela foi o maior atraso do país.

Concentração de Terras – O Gini, censo agropecuário do IBGE que mede o índice de concentração de terras, apurou em seu ultimo resultado 0.856. Quanto mais próximo do nu-mero um, maior o nível de concentração. Tal resultado está diretamente ligado à maneira que nosso país foi colonizado.

Em 1850, criou- se a Lei de Terras, que orienta até hoje o sistema fundiário nacional: quem quisesse ter direito à terra, teria que re-gularizar a mesma como propriedade privada, e aquelas que ainda não estavam ocupadas eram do governo e poderiam ser adquiridas através da compra nos leilões, mediante pagamento à vista. Em 1961, com a posse do presidente João Goulart, veio a principal bandeira de seu governo, que eram as reformas de base que visavam varias mudanças. Entre as mudanças pretendidas pelo projeto de reforma apresenta-do, estava em primeiro lugar a reforma agrária. O objetivo era reduzir os combates por terras e possibilitar que milhares de trabalhadores tivessem acesso às mesmas.

Porém, com a derrubada do presidente em 1964 e a instauração do golpe militar, a ideia de uma reforma agrária que visasse à igualdade social foi totalmente afastada. Logo no início do golpe, foi criado o Estatuto da Terra, que foi estrategicamente usado para apaziguar os camponeses e tranquilizar os grandes lati-fundiários. O estatuto tinha como principais metas a e execução de uma reforma agrária e o desenvolvimento da terra. No entanto, só o segundo objetivo foi executado. O que se viu durante o governo ditatorial foi a criação de assentamentos para fixar mão-de-obra barata perto de grandes fazendas, incentivos fiscais e empréstimos para estimularem a ocupação das chamadas fronteiras agrícolas e das regiões

“sem habitantes”, para construir hidrelétricas, desapropriando indígenas e pessoas que habi-tavam aquelas terras.

Com a ‘’redemocratização’’ não se ob-servou nenhuma mudança signficativa nesse quadro. Atualmente grande parte do território destinanado à agricultura continua sob o domí-nio dos grandes latifundiários, através da cultura do agronegócio.

Impunidade dos torturadores e o sistema atual de segurança pública – A lei de Anistia foi promulgada em 28 de agosto de 1979 e tem como principal declaração: “Art.1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre dois de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes po-líticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares. Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política.”

Tal lei gera polêmica devido à interpreta-ção que prega a tortura como um crime politico, porém famílias que tiveram indivíduos tortura-dos ou desaparecidos, acreditam que deve haver uma revisão com outra interpretação, onde a tortura seja vista não como um crime de origem política, mas como um crime que atenta contra a humanidade.

A impunidade dos militares em relação aos crimes de tortura, assassinatos, violência sexual e desaparecimentos forçados de militan-tes políticos, tem sido um incentivo para burlar instituições democráticas, desvalorizando os direitos humanos e incentivando atrocidades contra a população. A impunidade dos tortu-radores se manifesta com clareza nas atuais instituições de segurança publica nacional.

‘‘Durante o regime ditatorial, o governo promoveu claramente o uso da força policial como forma de controle político e com a (ilu-sória) transição para a democracia, no final da década de 80, houve tentativas de mudanças nessa politica de segurança pública violenta, no entanto, apesar desta ter diminuído teo-ricamente, a polícia agora serve como instru-mento de controle social das camadas sociais menos abastadas economicamente no Brasil. O Massacre da Candelária e o Massacre da Maré são bons exemplos da face truculenta da PM (Polícia Militar), que enxerga o povo como ini-migo e combate negros pobres das periferias’’, pontua o pesquisador Paulo Mesquita Neto no artigo ‘’Violência policial no Brasil: abordagens teóricas e práticas de controle’’. Ele diz também que “ainda que a transição para a democracia tenha contribuído para a diminuição do grau de violência policial no Brasil, as próprias defici-ências da democracia brasileira , o alto grau de desigualdade social e econômico, a persistência de uma cultura da violência, além dos efeitos perversos da globalização econômica, criam condições extremamente desfavoráveis para o sucesso de qualquer estratégia de controle da violência policial’’.

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CONTRAPONTO� Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Por andré neves sampaio

DitaduraCONTRAPONTO

Para sua estabilidade e crescimento, no início dos anos de 1960 o modelo capitalista brasi-

leiro precisou do apoio das Forças Armadas e dos tecnocratas para exercer funções de controle, no plano social, e modernizadoras, no plano administrativo. Assim, em 1964, o movimento militar, vitorioso, legitimava-se como restaurador da ordem e da economia.

A suspensão de direitos e garantias consti-tucionais, a cassação, prisão e tortura de políticos e lideranças sindicalistas, estudantis e culturais foram a base autoritária para a política de segu-rança, que era a face mais dura do modelo de desenvolvimento imposto pelo novo governo. E o Brasil cresceu, graças ao enorme endividamen-to externo, à acentuação da má distribuição de renda, concentração da propriedade de terra e da riqueza, em geral, nas mãos de pouquíssimos, com a ausência de liberdade e de participação dos cidadãos nas decisões principais sobre os rumos da sociedade. “Crescia o bolo”, como era apregoado pelos economistas, mas a distribuição desse bolo era cada vez mais desigual. O modelo econômico, que em 20 anos espalhou automóveis, tevês e aparelhos eletrodomésticos no país, teve um custo social pesado.

Na educação também era preciso crescer. Os números atestaram enorme expansão da edu-cação em todos os níveis, até a pós-graduação. Com base na constituição de 1969, a lei 5692/71, esclarecia que o ensino de primeiro grau, de 8 anos de duração, se tornava obrigatório para todos, dobrando o tempo de escolaridade obrigatória garantida pelo Estado até então. O ensino médio ou de segundo grau deveria oferecer formação técnica para atender as necessidade exigidas pelo crescimento do país, diminuindo também a procu-ra pelo ensino superior. O plano era escolarizar a população e satisfazer a necessidade de emprego qualificado, diminuindo a pressão sobre o ensino superior. O ensino superior teve expansão maior nas redes privadas, pois o investimento público foi mais dirigido para a educação básica.

Tudo isso foi imposto e experimentado no ambiente de censura, controle, afastamento e prisões de intelectuais e professores, e também com restrição de recursos para a educação. Novas escolas e instalações surgiam, então, à custa do arrocho salarial dos professores, assim como de muitas categorias de servidores públicos. Mas o que se apregoava e se via era crescimento – de escolas, de matrículas, de professores.

Escolas precárias – O que se ensinava? Não se pode afirmar que os livros didáticos só apresentassem conteúdos de interesse do re-gime, a questão é mais complexa. As escolas eram precárias antes e pioraram com o aumento de alu-nos, pois não se adaptaram para atuar como seria necessário. Entretanto os conteúdos do currículo eram os mesmos, os conhecidos e aperfeiçoados conteúdos de Português, Matemática etc. A or-ganização dos conteúdos por atividades, áreas de estudo e disciplinas propunha um currículo interessante. O buraco era mais fundo – claro que

resquícios prejudicaM o sisteMa educacional

O modelo que visa quantidade e não qualidade, não investe no professor nem no ensino público prevalece até hoje

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os livros eram censurados, e a disciplina obrigatória de Educação Moral e Cívica deveria incentivar o ufanismo, o patriotismo. Também a História de-veria ser simplificada e controlada. Não se pode esquecer que tantos professores novos chegavam, sem preparo adequado, sem a formação devida, sem incentivos salariais.

Maria das Mercês Ferreira Sampaio, profes-sora doutora em Educação Pública, aposentada pela PUC-SP, avalia que “a ilusão do crescimento e a censura sobre as notícias escondiam o que esse modelo estava custando de aumento da pobreza, de falta de atendimento às necessidades básicas da população, de perseguição e sofrimento daqueles que não concordavam. Escondiam que o cresci-mento quantitativo na educação se fazia às custas do descuido com a qualidade do atendimento, com o salário e a formação dos professores. En-

fatizo esses pontos, porque é preciso pensar nos mecanismos que teciam a base do convencimento, da concordância, da apatia diante dos fatos.”

O que ajudava a manter a maioria das pes-soas caladas e aparentemente satisfeitas estava na sociedade como um todo – anestesiada por futebol e festivais, por enriquecimento de alguns, pela esperança de ascensão social e de consumo, pela ilusão da ordem. E com professores mal preparados, dada a profusão de faculdades meio improvisadas, a escola se esvaziou de conteúdos e de crítica, de conhecimento e de reflexão. Isso foi um golpe decisivo no coração dos projetos sérios que os educadores alimentavam para a melhoria do trabalho da escola pública

“Esse período da nossa história serviu mesmo para reforçar as forças conservadoras, o enriquecimento dos mais ricos, a preservação da

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�CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Desigualdade – Nas faculdades a situação também é grave, pois todas são elitizadas, inde-pendente de serem públicas ou federais, pois um aluno que cursa o ensino médio na rede pública não tem condições de participar de igual pra igual em um processo seletivo com alunos de instituições privadas. Para tentar maquiar o problema o governo federal criou as Cotas para Negros e alunos de es-cola pública, o que comprava a péssima qualidade do ensino público e a desigualdade racial.

“Acredito, contudo, que são medidas ini-ciais, que são um caminho ou brecha que se abre para reparar injustiças e defender uma sociedade mais igualitária. Se temos uma dívida de séculos nos quais a crueldade foi a política em relação aos negros, como ser contrário a um início de reconhecimento e de justiça? Claro que as cotas em seu desdobramento podem causar desconforto a quem está instalado, que a entrada de alunos

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ordem mais preconceituosa e desigual, sobrou um espaço enorme para a iniciativa privada, principal-mente nas áreas de saúde e educação”, completa Maria.

Depois da ditadura vieram às tentativas de mudanças com as promessas de igualdade e com o retorno das esperanças na educação. Porém as promessas não se concretizaram e o ensino de boa qualidade continua elitizado, a rede publica oferece péssimas estruturas para seus alunos, tanto acadêmica, quanto física. O número de analfabetos no país é inaceitável. De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em setembro de 2013, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 8,7%, o que corresponde a 13,2 milhões de analfabetos no país.

menos preparados pode assustar a clientela de elite que se sente dona das vagas das universidades públicas, que os docentes preferem não enfrentar essa nova demanda de formar os que estão che-gando mais fracos. Claro que as cotas também podem servir de bandeira vazia, de anúncio do que não se realiza nunca – por isso é preciso acompa-nhar o seu desdobramento, para ter uma avaliação mais consistente”, afirma a professora.

50 anos após o golpe militar, os interesses econômicos do país continuam sendo priorizados acima de qualquer outro setor. O Brasil é o 8º país com o maior número de analfabetos no mundo e ao mesmo tempo é a 6º maior economia. Difícil entender? Não. A história do país comprova que a educação nunca foi priorizada, a riqueza do país está concentrada nas mãos da elite, composta por pouquíssimas pessoas, os interesses econômicos sempre estiveram acima de qualquer meta.

No início dos anos de 1980, o ex dirigente sindical Luis Inácio da Silva, o Lula, presidente do nascente PT declarava que nesse período o país cresceu apenas para fazer a política dos grandes grupos econômicos, principalmente da indústria automobilística. Em seu discurso, Lula anunciava a necessidade de mobilizar a população para se ter um povo produtivo, dentro de condições mais humanas, de lutar pela suspensão do pagamento da dívida externa, de apurar o que foi feito do dinheiro para a saúde, educação, transporte e demais benefícios sociais.

Em 2002, quando Lula assumiu a presidên-cia do país, durante seus 8 anos de mandato, o nível de analfabetos e a desigualdade social caiu, porém está longe de acabar. Nesse país monopo-lizado, ninguém consegue passar por cima dos interesses da classe dominante, são eles que ditam o ritmo do país.

“Estamos longe de sair desse estrago – ain-da lutamos por recursos, por melhor formação dos professores, por um a escola de qualidade, por um currículo consistente, para que , como dizia Paulo Freire, a escola sirva na sociedade para denúncia e anúncio – para formar os que sabem, compreendem o que acontece e tenham condição de vislumbrar saídas, de criar alternativas”, finaliza a professora.

No Brasil, as principais montadoras – Volkswagen, Fiat e Chevrolet – estão sendo pressionadas para produzir veículos mais eficien-tes, como já fazem em outros mercados como o europeu, e para que invistam em carros elétricos. Com o lançamento do ano, um carro da Idade da Pedra, o Greenpeace desafia as empresas a ado-tarem tecnologia mais moderna em seus carros, para que eles consumam menos combustível e emitam menos gases de efeito estufa.

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CONTRAPONTO� Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

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Por andressa vilela, thiago munhoz e victoria azevedo

Ao arrastar um corpo por 250 metros, a Polícia Militar demonstra a face mais violenta do Estado

CONTRAPONTO

truculência policial faz Mais uMa vítiMa

Cláudia Silva Ferreira

Na manhã do dia 15 de março de 2014, um sábado, uma viatura do 9º Batalhão da PM

(Rocha Miranda) foi vista arrastando um corpo que estava pendurado no pára-choque do veí-culo. Era Cláudia Silva Ferreira, mulher negra de 38 anos, auxiliar de limpeza, mãe e esposa. De acordo com testemunhas ouvidas pelo Jornal Ex-tra, o corpo batia contra o asfalto e contra carros que passavam perto da viatura. Elas afirmaram ainda que os policiais foram alertados sobre o que acontecia, mas não pararam o carro. A cena foi filmada por um cinegrafista amador e, em pouco tempo, tornou-se a principal notícia do dia nos meios de comunicação.

Segundo os policiais militares que es-tavam na viatura, Cláudia havia sido baleada durante troca de tiros entre policiais e traficantes do Morro da Congonha, em Madureira. Em depoimento, acrescentaram que a vítima foi socorrida com vida e levada para o hospital e lá, não resistiu. A Secretaria Estadual de Saúde, no entanto, desmente essa versão e afirma que a auxiliar de limpeza teria chegado morta no hospital.

Em meio ao contexto dos 50 anos do gol-pe militar no Brasil, a morte de Cláudia mostra como ainda é possível perceber heranças dos anos de chumbo na sociedade brasileira. O autoritarismo da polícia militar é um dos mais evidentes. A instituição, além de marcada pela truculência e métodos que violam os direitos humanos, perpetua os preconceitos latentes no país – tendo como alvo principal, a população pobre, negra e que mora na periferia. Segundo a pesquisa “Desigualdade racial e segurança pública”, realizada pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), só em São Paulo, nos anos de 2010 e 2011, 58% das vítimas de mor-tes cometidas por policiais eram negras. Diante disso, fica claro que casos como o de Cláudia Ferreira acontecem todos os dias, mas a maio-ria deles permanece oculto devido à postura omissa da mídia sobre o assunto, deixando como cúmplices da violência do Estado apenas os familiares das vítimas.

Cobertura da imprensa – O caso acima relatado, porém, teve um caminho diferente: foi repercurtido em larga escala pelos meios de comunicação brasileiros, inclusive pela grande mídia. O jornalista André Caramente acredita que isso aconteceu apenas porque alguém filmou a cena e divulgou, já que, segundo ele, a mídia se comporta, por si só, como uma ins-tituição preconceituosa. “Na minha maneira de ver, a mídia discrimina de acordo com o CEP onde a notícia aconteceu. Tem muito mais chefes de redação preocupados com casos que acontecem em lugares mais privilegiados da cidade do que com aqueles que acontecem nos lugares mais pobres”, afirma o repórter,

que precisou sair do país com a sua família por conta de ameaças de morte. Caramante, que então trabalhava no jornal Folha de S. Paulo, era conhecido por denunciar os crimes cometidos pela Polícia Militar contra a população das áreas mais periféricas da cidade, principalmente sob o comando da ROTA – conhecida por suas práticas extremamente violentas. Um de seus principais embates se deu com o Coronel Telhada, hoje vereador da cidade de São Paulo.

O professor de Ciência Política da PUC-SP e membro do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (NEAMP), Rafael Araújo, compartilha da ideia de que o grande diferencial desse caso é o vídeo. Segundo ele, a violência das imagens falou mais alto que o fato e, portanto, uma vez espalhado pela internet, o vídeo obrigou os grandes veículos a tomarem o ocorrido como pauta. “O corpo da mulher sendo arrastado em si, independentemente dos policiais terem visto ou não, dá materialidade a algo que é sempre debatido nos jornais e senso comum: o descaso da polícia em relação a população”, afirma. Rafael pontua ainda que a cobertura da mídia, nesse caso, não trouxe nada de novo, apenas reforçou a lógica de que a estrutura midiática enfatiza àquilo que dá audiência. Essa lógica, para ele, é uma forma de reforçar as mesmas pautas de sempre e então conservar leitores e espectadores e suas formas de pensar.

Desfecho – Quatro dias depois do ocorrido, os três policiais envolvidos na morte de Cláudia já haviam conseguido liberdade provisória. A juíza Ana Paula Pena Barros foi favorável ao pedido do Ministério Público do

estado e afirmou, em sua decisão, que “não é possível verificar de onde partiram os tiros que atingiram Cláudia (...) assim sendo, por mais fortes e chocantes, e até mesmo revoltantes que sejam as imagens de Cláudia Silva Ferreira, já baleada, sendo arrastada no asfalto, presa ao reboque da viatura, não é possível afirmar que os PMs conheciam tal fato e o ignoraram. Ao contrário, o que mostram as imagens é que a viatura parou e dois policiais desceram e a colocaram de volta na viatura”.

Os policiais envolvidos alegaram que a tranca da caçamba apresentava problemas e teria aberto sozinha, um laudo da perícia, po-rém, desmentiu a tese, afirmando que não havia qualquer problema com o objeto. Além disso, dois dos três presentes na viatura, já haviam res-pondido processo por homicídio, mas ambos os casos foram arquivados. Ainda assim, a Justiça, mais uma vez, foi omissa aos casos de violência policial que afetam populações marginalizadas. “A sensação é que no morro, na favela, só mora bandido, marginal. Insegurança, somos tratados como animais”, disse um amigo de Cláudia, em entrevista ao G1.

O jornalista André Caramante acredita que uma solução para barrar ações violentas da polícia seria a criação de um órgão isento para apurar e investigar as mortes cometidas por agentes do Estado, sem que tal órgão seja liga-do às polícias. “Eu cansei de fazer reportagens mostrando que muitas vezes essas justificativas que os PMs usam, servem para legitimar uma execução. A justificativa ‘resistência seguida de morte’ é conversa”, afirma.

A fim de retratar Cláudia de maneira humanizada e não sensacionalista, o site Think Olga lançou o projeto “100 vezes Cláudia”, composto por ilustrações de diversas pessoas

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9CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

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A repercussão foi tanta, que foi criada uma segunda página para postar os desenhos: Mais 100 vezes Cláudia, que já possui 200 imagens

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O blog Think Olga, conhecido pela campanha Chega de Fiu-Fiu, que

combate assédio sexual às mulheres nas ruas, tomou as páginas da internet mais uma vez. A fim de retratar Cláudia de uma maneira mais sensível, criou o projeto ‘100 vezes Cláudia’, que convidou qualquer pessoa a enviar uma arte em sua homenagem.

“A mulher arrastada pela Polícia Militar tinha nome - Cláudia Silva Ferreira. Cláudia tinha também família. E sonhos, coragem, dores e medos como qualquer ser humano. As denúncias da barbárie ocorrida são importantes e elas não devem cessar. Mas fugir do sensacionalismo e humanizar esse momento também é. Por isso, nos dispusemos a tratar Cláudia com mais cari-nho do que o visto nos últimos dias”, diz a explicação do blog.

Em menos de 24 horas, o projeto con-seguiu as 100 imagens desejadas e então, criou uma outra página para expor os tra-balhos: “Mais 100 vezes Cláudia”. Abaixo, algumas das criações.

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CONTRAPONTO10 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Por lu sudré, manoella smith e victoria azevedo

uM futuro seM perspectivas para refugiados

CONTRAPONTO

Imigrantes em busca de acolhimento sofrem com a falta de políticas públicas brasileiras para a reconstrução de suas vidas

Nos últimos anos, o Brasil tem recebido gran-de fluxo de imigrantes que solicitam refúgio

ao país. Estima-se que, atualmente, existem aproximadamente 5000 refugiados legalmen-te registrados, de mais de 70 nacionalidades diferentes, que se concentram nos grandes centros urbanos. De acordo com a Convenção de Refugiados de 1951, refugiado é o indivíduo que teme ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, e se encontra fora do país de sua nacio-nalidade. Não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país. Desse modo, os refugiados constituem um grupo que se desloca para preservar sua liberdade, ao fugir de uma perseguição racial, religiosa ou política em seu país de origem.

A partir da solicitação de refúgio, o indi-víduo dispõe da proteção do governo brasileiro e pode obter documentos, trabalhar, estudar e exercer os mesmos direitos que qualquer cidadão estrangeiro legalizado. A legislação brasileira sobre refúgio (Lei 9.474 de 22 de julho de 1997) também reconhece como refugiadas as pessoas que foram obrigadas a sair de seus países devido a conflitos armados, violência e violação generalizada de direitos humanos. Não podem se beneficiar da condição de refugiado as pessoas que cometeram crimes de guerra, contra a humanidade, contra a paz, crimes he-diondos ou que participaram de atos terroristas ou do tráfico de drogas.

A ausência de políticas públicas sociais eficientes sempre foi uma constante na história brasileira. Tal fato não é diferente na questão mi-gratória. Durante a ditadura civil-militar, o país se posicionou minimamente em relação à acolhida de refugiados e passou a permitir que o território brasileiro fosse apenas um “território de transi-ção”, ou seja, os refugiados eram aceitos so-mente para reassentamento em outro país. Em 1982, o Brasil reconheceu oficialmente o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) como uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) e única organização com o mandato de agir como uma rede de proteção para os indivíduos nessa situação.

Mas, somente a partir de 1997 o Brasil desenvolve uma lei específica sobre a questão do refúgio, estabelecendo regime jurídico nacional para o tratamento do tema e institucionalizando funções, órgãos e procedimentos específicos para a acolhida dos refugiados. Então, após a re-democratização, o país assume o compromisso internacional de fornecer proteção a refugiados que buscam sua integração e sustento, como qualquer cidadão brasileiro. Para que uma pes-soa seja registrada como refugiada, ela deve, ao chegar em território nacional, procurar as autori-dades federias e apresentar o pedido do refúgio - que é enviado para o Comitê Nacional para

os refugiados (CONARE), órgão vinculado ao Ministério da Justiça. Isso irá gerar um protocolo que permitirá, temporariamente, a permanência do solicitante no país, garantindo-lhe o direito ao trabalho e o acesso aos serviços públicos de saúde e educação.

Para o professor doutor Manuel Furriela, Presidente da Comissão do Refugiado, Asilado e da Proteção Internacional da OAB/SP, o Brasil tem sido escolhido por esses refugiados, pois é visto como um Estado onde há maior tolerância com relação às diferenças religiosas, políticas, étnicas dentre outras – onde não há uma política orquestrada de perseguição a certos grupos. Além disso, segundo o professor, o Brasil tem apresentado uma maior inserção internacional e um crescimento econômico, o que o torna-se uma opção interessante para um refugiado.

Acontece que o destino dos solicitantes de refúgio, na maioria das vezes, não é uma escolha. Muitos passam por processos traumá-ticos de viagens clandestinas em navios durante meses, sem saber seu destino. Em situações de guerra civil entre países do continente Africano,

Sobrevivência

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por exemplo, a escolha é entre ser recrutado para o exército a força, morrer, ou fugir e so-breviver, mesmo em situação de precariedade. A necessidade de acolhimento e de assistência do governo para os refugiados e solicitantes de refúgio não podem ser reduzidas ao senso comum do “Brasil que acolhe a todos”. É uma questão política e social, que não recebe a de-vida atenção dos órgãos do governo.

Se o pedido de refúgio for negado, a pessoa ficará ao amparo da legislação de estrangeiros no Brasil e, se for o caso, pode-rá buscar sua regularização migratória com base na legislação brasileira vigente sobre migrações e trabalho. Caso o pedido seja deferido, o refugiado pode permanecer no território nacional, continuar sua vida e trazer os seus familiares, proporcionando o que é chamado da integração familiar. Depois de quatro anos residindo de forma regularizada no país, o refugiado poderá solicitar um visto de residência permanente no Brasil, sendo que esse não lhe tira a proteção a que tem direito como refugiado.

Refugiados muçulmanos

encerram o jejum do Ramadã com

um jantar gratuito oferecido pela Liga da Juventude Islâmica, na Mesquita do Pari,

em São Paulo

Curso de português oferecido aos refugiados e

solicitantes em Brasília, que aborda necessidades práticas

de comunicação e inserção no mercado

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11CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

O professor ressalta que, apesar da le-gislação brasileira ser considerada moderna, “as políticas públicas para o atendimento aos refugiados são escassas e falhas”. Seria neces-sário a criação de um atendimento eficaz, que forneça as necessidades imediatas, como mora-dia, alimentação, saúde e educação e também as de integração e de continuidade da estada do refugiado no país. Para Furriela, o país precisa abandonar a passividade em relação à causa. “Deve ser implementada uma política por meio da qual o Brasil seja mais ativo, buscando refu-giados em zona de conflito para, em razão de questão humanitária, trazê-los e não somente atender aos que chegam no território nacional e fazem o pedido de reconhecimento.”

Após a concessão de refugio pelo go-verno brasileiro, o processo de emissão de documentos funciona razoavelmente bem, contudo, outros itens essencias como auxílio financeiro, integração (ensino do idioma por-tuguês) e moradia apresentam grandes falhas. O Alto Comissário da ONU para Refugiados (CONARE), em conjunto com o Poder Público e o setor privado, atua para assegurar os direitos e o bem-estar do refugiado, mas possui poucos recursos financeiros e não garante a eficácia desejada pelo regime internacional.

A advogada Larissa Leite, responsável pelo setor de relações externas da Cáritas Ar-quidiocesana de São Paulo, entidade de atua-ção social que trabalha na defesa dos direitos humanos e tem um programa de apoio aos

refugiados, diz que as políticas para o primeiro recebimento dos refugiados são praticamente nulas. “A questão da primeira moradia, primeiro local de acolhida efetiva, é um grande proble-ma. A Cáritas não tem recurso para uma casa de acolhida. Temos a alternativa de mandar as pessoas para albergues públicos e abrigos para menores, mas conhecemos a situação dos alber-gues e além da situação precária pra qualquer pessoa, são albergues que não são preparados para atender os estrangeiros.”

A Cáritas tem parcerias muito importan-tes que auxiliam na questão da moradia, após as primeiras noites em albergues: A Casa do Imigrante e o Centro Nossa Senhora Aparecida. Apesar de todo apoio, Larissa pontua que ainda não é o ideal. “São casas em que não há espaço para a diversidade cultural”. A advogada com-plementa que a situação fica ainda mais delicada devido aos albergues públicos serem separados por gêneros e idades, o que dificulta que uma família refugiada permaneça unida.

De acordo com Larissa, a situação é cada vez mais complexa e delicada. “Há quatro anos, o número de solicitantes aumentou sig-nificativamente. Em 2010 chegaram 310, em 2011, 661. Em 2012 foram cerca de 1800 e em 2013, cerca de 2809. A situação de primeiro acolhimento se tornou muito mais urgente do que já era. Mês passado recebemos uma família de paquistaneses e não conseguimos vagas no sistema de albergamento público”, reforçando que comunidades específicas como mesquitas

Miriam Diallo (centro), sua filha (à esq.) e sua avó são refugiadas malineses no campo de Mentão, em Burkina Faso. O par de brincos que Miriam segura é a coisa mais importante que trouxe de Mali e simboliza liberdade

O campo de refugiados de Kiziba, na Ruanda, abriga congoleneses desde

a eclosão da guerra civil da Rep. Democrática do Congo, em 1996

CáritasHá mais de trinta anos, a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) atua em prol de estrangeiros refu-

giados. A rede é uma organização não governamental e tem ocupado um espaço de destaque na sugestão e controle de políticas públicas para solicitantes de refúgio e refugiados. O trabalho é uma continuação do que era feito por Dom Paulo Evaristo Arns, por meio Comissão de Justiça e Verdade na época da ditadura, cuja intenção era acompanhar o caso de desaparecidos refugiados das ditaduras latino-americanas.

Segundo a advogada Larissa Leite, responsável pelo setor de relações externas da CASP, as maiores difi-culdades que os refugiados passam são relacionadas ao acolhimento primário, primeira moradia, integração e aprendizagem de português, além do escasso recurso destinado a entidade. “Temos feito um trabalho de levar essas demandas aos órgãos públicos, para pressionar. Participamos de comitês e estamos com um trabalho na Secretaria de Direitos Humanos. Além disso, existem alguns projetos para se criar uma Casa de Acolhida da Cáritas”, afirma a advogada.

A Cáritas possui quatro programas para auxiliar os refugiados: 1 – assistência social, responsável pelos primeiros cuidados; 2 – integração, em que a Cáritas proporciona cursos de português e profissionalizantes aos refugiados por meio de parcerias; 3 – programa de proteção, composto por advogados para acompanhar o processo de solicitação de refúgio e fazer atendimento jurídico geral em relação a exploração de diversas ordens e 4 – saúde mental, com o apoio de psiquiatras e psicólogos voluntários.

Para realizar o seu trabalho, a Cáritas depende da ajuda de voluntários, tanto em termos de alimentos, produtos de higiene e de primeira necessidade, quanto em termos de serviços (por exemplo, profissionais que deem aulas de português). Interessados podem entrar em contato pelo site: www.caritas.org.br

e a Igreja Ortodoxa Síria tem cumprido um papel muito importante no auxílio de primeiro acolhimento dos refugiados.

A advogada ainda expõe que o processo para a solicitação de refúgio, que garantirá o protocolo ao refugiado, é muito difícil. Além da burocracia, existe certa insuficiência no trabalho da Polícia Federal. “Em São Paulo, a Polícia Fe-deral recebe quatro pessoas por dia, enquanto o número de pessoas que chegam na Cáritas é de dez pessoas. As pessoas enfrentam filas de meses e isso significa que ela permanecerá sem o documento básico (protocolo) que deveria ter imediatamente, segundo a lei.”

As mulheres refugiadas – No Brasil, as mulheres constitutem cerca de 30% do número total de refugiados. O ACNUR, que tem como uma de suas prioridades o enfrentamento à violência de gênero, lançou, ano passado, uma campanha chamada “Amplifique suas Vozes”. O projeto interativo, que teve início no Dia Inter-nacional da Mulher, busca dar voz às mulheres refugiadas vítimas de violência física, sexual ou psicológica, além da conscientização do proble-ma. O site www.amplifiquesuasvozes.com.br vei-cula 12 depoimentos de refugiadas na América Latina, que relatam sua história de abuso.

As mulheres que buscam refúgio, muitas vezes sofrem violência sexual, sendo estupra-das no seu país de origem. As entidades que agem como redes para proteger os refugiados, costumam promover diversas atividades de sen-sibilização sobre a violência contra as mulheres - por exemplo, o ACNUR e a UNAIDS realiza-ram atividades sobre a violência sexual e de gênero na região da Amazônia, nos municípios de Tabatinga e em Manaus, para conscientizar autoridades e refugiados.

Com o apoio da Cáritas Arquiciocesana de Manaus, cerca de 50 refugiados e refugiadas que vivem nessa cidade participaram de duas atividades, sendo uma exclusiva para os homens e outra exclusiva para as mulheres, nas quais foram esclarecidos os diferentes conceitos sobre a violência sexual e também debatidos temas como o machismo, papeis sociais dos gêneros masculino e feminino, a vulnerabilidade da doença HIV, entre outros.

O ACNUR e suas ONGs parceiras têm difi-culdade em obter relatos sobre violência contra as mulheres, que, no Brasil, se beneficiam da Lei Maria da Penha e podem denunciar abusos sofridos. É estimado que, entre as mulheres refugiadas que vivem no país, cerca de 20 re-lataram ter sofrido algum tipo de violência de gênero após sua chegada. Além disso, outras 20 disseram ter sofrido abuso em seu país de origem, e 15 mulheres afirmaram ter sofrido abusos durante o caminho entre seu país de origem e o Brasil - mais uma ressalva para as condições precárias nas quais os refugiados e, principalmente, as refugiadas sofrem para che-gar ao país de escolha para o refúgio.

Os traumas da violência dificultam a integração dos refugiados no país e reduzem a auto-estima dos indivíduos, homens, mulheres e crianças. Dessa forma, é imprescindível oferecer mecanismos de prevenção e que enfrentem essa violência, de forma a possibilitar uma perspec-tiva de vida para essas pessoas, que em busca de uma melhor qualidade de vida, migram para outros países.

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CONTRAPONTO12 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

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CONTRAPONTO

ensaiofotográfico

DesconhecenDo o Vietnã

CONTRAPONTO

ensaio fotográfico

Por Júlia dolce

Mesmo tentando me inteirar sobre a história e cultura do

país, cheguei ao Vietnã em busca dos mesmos chapéus cônicos per-tencentes ao meu inventário de lu-gares comuns, assim como campos de plantação de arroz alagados, túneis de guerra antigamente per-corridos por vietcongs e várias das características que uma pessoa de esquerda acreditaria encontrar em uma República Socialista. Porém, meu incômodo se deu ao encon-trar muito mais do que isso: uma sociedade complexa e contraditória. A definição uníssona que facilitava meu entendimento do Vietnã se ramificou em milhares de outras de-finições, milhares de outros países. Quebrar a solidez dos arquétipos que resumem nosso conhecimento do mundo, ampliando-os e emba-ralhando-os, é o que torna uma viagem fascinante. Saí do Vietnã desconhecendo-o mais ainda.

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1�CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

DesconhecenDo o Vietnã

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CONTRAPONTO14 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Por andressa vilela, Giovanna fabbri

e lu sudré

Contraponto pergunta aos professores José Salvador Faro, Hamilton Octavio de Souza, Milton Pellegrini e Rachel Balsalobre sobre os

caminhos do curso e da profissão

CONTRAPONTO

ruMos do jornalisMo

Debate

Contraponto – 1 – Qual sua análise sobre as Novas Diretrizes Curriculares aprovadas pelo MEC?Faro – Pela primeira vez, acontece uma sistema-tização consistente sobre parte importante das dimensões que deve ter a formação do futuro profissional e me parece que a comissão que as elaborou conseguiu estabelecer um razoável patamar teórico e conceitual sobre o qual um curso deve funcionar. Nesse caso, minha aten-ção volta-se para os seis “eixos de formação” que devem organizar o projeto pedagógico: em termos de abrangência, o elenco de con-teúdos dispostos em cada um deles consegue apreender parcialmente as competências das habilidades profissionais com as quais o estu-dante deve estar em contato enquanto cursa a universidade, mas apenas parcialmente. Reside nesse aspecto o avanço que as diretrizes apro-vadas agora representam em relação às normas que vigoravam até o ano passado: uma maior precisão de conteúdos que emergem de uma identidade exclusiva que um curso deve ter com as características da sua área de formação profissional. A dispersão que existia antes ten-de a diminuir. No entanto, a mesma ênfase na especificidade do Jornalismo que a comissão colocou na elaboração das novas diretrizes pode levar ao empobrecimento do ensino justamente porque esse excesso de particularismo tira o futuro profissional da abrangência acadêmica que um curso deve lhe oferecer durante sua formação universitária. O Jornalismo é um fe-nômeno cultural de larga abrangência e que sua definição no terreno da operação noticiosa está muito longe de esgotar a sua complexidade. Ao contrário: quanto mais verticalizamos sua natu-reza específica mais o empobrecemos enquanto campo de relação com outras áreas do conhe-cimento com as quais o profissional trabalha. Temo que um curso que adote uma perspectiva radicalmente funcionalista e operacional em seu projeto pedagógico, isto é, o predominio das práticas e das reflexões que tem nessas mesmas práticas o foco quase único de observa-ção, estará formando um profissional de pouca densidade crítica e analítica, mal preparado para contextualizar o universo dos problemas que se constituem na matéria-prima do noticiário e, por conta disso, mais bem preparado para fazer o jogo da grande mídia: a mistura da notícia com o espetáculo de massa. Dois outros aspectos polêmicos me parecem fra-gilizar as diretrizes que foram aprovadas agora: em primeiro, um certo descaso pela realidade comunicacional construída com o advento das tecnologias digitais. O Jornalismo já não é o mesmo depois da emergência das redes sociais e da interatividade permitida pela internet.O outro aspecto é consequência dessas fragilida-des: apregoando uma purificação do Jornalismo

através da ortodoxia com que ele é entendido como campo profissional, percebo a emergên-cia de um anti-intelectualismo obscuro que se confunde com a crítica infundada a campos do conhecimento que trazem enormes e extraor-dinárias contribuições para que o fenômeno jornalístico seja compreendido. Na universidade esse anti-intelectualismo se confunde com uma aversão à teoria, à abstração do pensamento e, portanto, uma aversão à própria natureza da Universidade. Uma concepção dessas cer-tamente vai agravar a crise geral pela qual o campo profissional passa em todos os níveis e vai contribuir para que os jovens jornalistas que chegam ao mundo do trabalho tenham sobre a realidade uma visão simplista e grosseira.

Hamilton – De tempos em tempos o Ministério da Educação define orientações curriculares para centenas de cursos de Jornalismo espalha-dos pelo Brasil. Fez isso em 1965 ou 1966, em 1983 e agora em 2013 – depois de passar um longo período sob o vaivém intelectual das mais diferentes e extravagantes correntes acadêmi-cas. As diretrizes podem servir de referência para a organização dos cursos, especialmente para aqueles cursos desprovidos de qualquer história e isolados de vivência universitária. Mas não po-dem ser camisa de força para tolher a liberdade, a criatividade e a autonomia das instituições. No caso do curso de Jornalismo da PUC-SP, que foi criado em 1978 e passou por três reformas curri-culares em 35 anos de funcionamento, as novas diretrizes do MEC têm pouco a acrescentar, ou quando muito reforçam aspectos existentes na última reforma que fizemos, quando incorpo-ramos ao projeto pedagógico do curso alguns

avanços determinados pela experiência e pela prática, após análise crítica do conteúdo sobre o que não estava mais contribuindo e o que esta-va faltando para a formação de jornalistas. Por exemplo: combinamos melhor a articulação de algumas disciplinas expositivas e laboratoriais, acrescentamos disciplinas novas e excluímos outras disciplinas anacrônicas; introduzimos e organizamos o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC); incorporamos o Jornal Laboratório e cria-mos a Agência Online de Jornalismo; definimos as Atividades Complementares; mantivemos o espaço das Optativas para complementação e atualização conforme as exigências do campo jornalístico; enfim, muito daquilo que está hoje nas diretrizes do MEC de 2013 o curso de Jornalismo da PUC-SP já havia contemplado na reforma implantada a partir de 2007. É claro que temos várias mudanças a fazer agora, já com visão crítica sobre o que não funcionou adequadamente na última reforma curricular e o que precisa ser alterado num futuro próximo. É o caso da sequência de Tutoria, nas três séries, que não conseguiu vingar um programa consis-tente e ficou ao sabor aleatório da dedicação de cada professor.

Milton – As NDC’s foram homologadas no final do ano passado e ainda carecem de muita dis-cussão. Não restam dúvidas sobre a necessidade de se instituir uma normatização em nível fede-ral para os cursos, sobretudo porque ainda há muita discrepância entre Projetos Pedagógicos de Curso que são utilizados nas diversas Insti-tuições de Ensino Superior do País (nas públicas, nas privadas, nas comunitárias). Adequações são necessárias e ajudam a fortalecer a ideia

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1�CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

de arejamento para a formação profissional do jornalista, sobretudo em tempos de mudanças radicais que observamos no cotidiano da pro-fissão. Entretanto, no texto aprovado há muitas questões polêmicas, como a obrigatoriedade de 200 horas de estágio supervisionado, os novos conteúdos capazes de suprir competências cognitivas, pragmáticas e comportamentais no exercício da profissão ou mesmo da reformata-ção dos critérios para as Atividades Complemen-tares da Graduação que, por sinal, já estamos adequados com o Regulamento implantado no início deste semestre. Como todo momento de transição será uma excelente oportunidade para rediscutirmos eventuais ajustes para o nosso Projeto Pedagógico do Curso, sobretudo pelo contexto de transformação e de obsolescência das dinâmicas de produção jornalística expe-rimentado pelo mercado da informação, mas também, por esse motivo, um bom momento de reflexão para fazer a distinção entre as práticas do mercado editorial e as necessidades para a formação profissional do jornalista.

Rachel – As NDCJ não têm a centralidade que a elas está sendo atribuída. Não querendo ser grosseira – e já sendo grosseira, ou até mesmo primária – as NDCJ são quase uma irrelevância. O fato é que as reverberações das NDCJ que efetivamente se abatem, se fazem sentir, se presentificam, nos tantos cursos de Jornalismo Brasil afora, são tão rarefeitas, que basta as NDCJ não serem uma aberração para que o efeito efetivo da aplicação das NDCJ nestes cursos sejam próximos do zero absoluto.Estas NDCJ que entrarão em vigor a partir do ano que vem não são uma aberração, muito longe disto. Acho até que, a despeito de o processo de elaboração delas não ter sido amplamente democrático. A verdade é que a inflexão fundamental em cada curso – aquela que vai formar, mesmo, o aluno, aquela que vai calar fundo no aluno, é o chão de fábrica de cada curso, é a atmosfera dominante, é a massa de conhecimento, teórico e prático, que aquele corpo docente efetivamente tem, é no que aquele corpo docente acredita, o que estuda e no que é experiente, e como reproduz isto no dia-a-dia do curso etc. E é também o entorno imediato disto, na unidade de ensino onde este curso está inserido. Todas as universidades vão cumprir a lei, todas vão implantar as NDCJ – nós também – e todas vão seguir sendo apenas o que são. A mudança que tiver que vir, só virá muito lentamente, articulando o que as NDCJ querem com variáveis imponderáveis, ou vaga-mente ponderáveis, internas e externas.

CP – 2– Qual avaliação faz do departamento de jornalismo da PUC-SP hoje?Faro – Fizemos há poucos anos uma reforma curricular que sintetizou um processo de discus-sões ocorrido no Depto de Jornalismo durante quase uma década e o resultado me parece reproduzir uma intensa reflexão dos professores que acumulava, além da experiência profissional de vários docentes, a vivência acadêmica da PUC, dos pesquisadores que se incorporaram ao curso ao longo dos anos e uma perspectiva filosófica que dava sustentação à essência do seu projeto pedagógico: o jornalismo crítico. Quem se der ao trabalho de ler o texto da reforma vai perceber que estabelecemos eixos de formação profissional mais completos que

os propostos pelas diretrizes de agora, além de preservarmos toda a natureza interdisciplinar das disciplinas e projetos (com o perdão da re-dundância). Criamos no curso - e eu não tenho notícia de que isso exista em algum outro - espa-ços de interseção concreta entre teoria e prática no campo do jornalismo político, do jornalismo econômico, do jornalismo alternativo, cultural. Eu considero a reforma do curso da PUC uma reforma de vanguarda e sua aprovação silenciou todos os setores conservadores da PUC que ima-ginavam uma reforma de conteúdo formalista e mercadológico.De um lado, a crise geral da PUC, chega a ser ofensiva ao bom senso. Precariedade de instala-ções, de laboratórios, de ambientes de estudo, demissões de professores, redução de carga horária, desestímulo à pesquisa… É muito difícil manter um bom curso numa universidade que padece de uma tal crise estrutural e para a qual seus dirigentes não voltam qualquer atenção prioritária. As sucessivas direções da Faficla, por exemplo, durante os anos de implantação do currículo, atuaram de forma provinciana e tímida, sequer se deram conta de que se tratava de um curso inserido na sua responsabilidade administrativa e pedagógica e que tinha alta procura entre os vestibulandos. Esses fatos reti-raram da implantação da reforma toda a energia e vigor que ela tinha na sua concepção e que precisava manter na sua implementação.O segundo motivo me parece ser de respon-sabilidade interna do Departamento e na coordenação do curso. A reforma teve pouca sustentação orgânica, faltou estudo sobre ela; faltou engajamento e acho que é difícil encontrar um momento em que o corpo docente tenha se dedicado à sua análise sistemática e profunda.Várias instâncias de coordenação do novo curso sequer foram implantadas e algumas inovações que eu considero revolucionárias não mereceram a atenção que deveriam ter merecido. O maior exemplo é o caso da Tutoria, transformada em “terra de ninguém”, já que apesar do esforço desarticulado dos vários professores que se responsabilizaram por ela, não obedecia a uma proposta que unificasse sua prática ao longo do curso. Se acrescentarmos a esse quadro a preca-riedade material que a PUC oferece aos projetos experimentais e laboratoriais, dá para perceber a dificuldade que a reforma enfrentou.

Hamilton – O Departamento de Jornalismo sofre com a crise que atinge o conjunto da PUC-SP e que se agravou de 2005 para cá com a intervenção da Fundação São Paulo na Univer-sidade, as demissões de 2006, a “maximização” dos contratos e o aumento da carga de trabalho dos professores, a invasão da Tropa de Choque da PM em 2007, a imposição de um Estatuto que reduziu a democracia interna, a imposição autoritária de uma Reitoria sem se respeitar a vontade majoritária da comunidade, a degra-dação e o esfacelamento do espaço físico do curso de Jornalismo, a ineficiente e desgastante burocracia e a crescente perda de alunos devido ao aumento absurdo das mensalidades. Além disso, o Departamento já foi e não é mais um núcleo ativo do debate sobre o Jornalismo e a sociedade, perdeu importante espaço de discus-são devido à quebra de privacidade na internet, ficou contaminado pela lógica econômica que é o modelo determinado pela Fundasp. Assim, o que importa no quadro atual não é mais o con-teúdo do curso, a contribuição intelectual dos professores, a riqueza do debate e da análise, a vinculação com o movimento social, a criativida-de e o empenho transformador do curso, mas o preenchimento dos contratos e as formalidades da burocracia. Existe um grande desalento em relação ao que acontece na Universidade e ao futuro do curso de Jornalismo.

Milton – Acho que o Departamento de Jorna-lismo tem um papel importantíssimo, seja do ponto de vista institucional, se considerarmos a organização estrutural da carreira do corpo do-cente ou da formalização dos contratos, seja do ponto de vista da organização didático-científi-ca, que é oferecida tanto no curso de Jornalismo quanto nos demais cursos da universidade. É o Departamento que estabelece as políticas de capacitação dos professores, garantindo uma avaliação contínua docente dentro dos planos de metas acadêmicas e na condução acadêmi-co-administrativa que resvalam nas questões laboratoriais e de infraestrutura que impactam diretamente na qualidade dos conteúdos apre-sentados em sala de aula para os alunos. Tam-bém avalio que o momento vivido pelo Curso de Jornalismo tem grande importância para ajustar os papéis na condução acadêmico-pedagógica tanto por parte do Departamento quanto pela

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Um núcleo ativo do debate sobre o

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CONTRAPONTO1� Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Coordenação de Curso. São estruturas distintas, com papéis distintos, mas complementares, daí as relevantes tarefas acadêmicas que o Depar-tamento assume na condução institucional para o curso de Jornalismo. A qualidade do curso passa pela qualidade docente que passa pela responsabilidade do Departamento de Jorna-lismo, daí sua significativa importância nesta dimensão que será avaliada pelo INEP/MEC e pelos estudantes.

Rachel – O curso de Jornalismo da PUC-SP tem uma história e um passado gloriosos, dos quais me orgulho profundamente. Costumo dizer – e pago os ônus por dizê-lo – que ao longo dos anos o curso expeliu tendências que represen-taram ameaças sérias à proposta de um Jorna-lismo engajado e politizado– por assim dizer. Uma delas foi a hegemonia semiótica – uma teoria lingüística, ou escola de pensamento como outra qualquer, e por isto merecedora de respeito, mas que na PUC virou seita, e das mais fanáticas. O outro pessoal foi o que cha-mamos de adoradores do mercado. Este pessoal perdeu a parada quando, em uma reunião de Departamento, um de seus expoentes esmurrou o professor mais antigo, mais respeitado e mais querido de todo o curso de Jornalismo, e que se opunha à adoração do mercado.Nada, neste curso, foi simples, foi fácil, foi homogêneo, aliás, igualzinho ao próprio Jor-nalismo, que não é fácil, nem simples, nem homogêneo. Não consigo me preocupar com as NDCJ, acho que elas, em si, chegam a ser até mesmo inó-cuas, mas me preocupo, enormemente, com o poder local, com a tecno-burocracia. Acho que, no momento, o grande risco que este curso corre chama-se exercício-arbitrário-do-poder-com-as-ferramentas-da-burocracia.A burocracia é um fato, faz parte de toda vida institucional; a exacerbação dela, e a sua uti-lização não como meio, mas como fim em si, isto é deformação, é o deletério burocratismo. Se os dois corpos, o docente e o discente, não entenderem isto e não se preocuparem com isto, aí sim estaremos seriamente ameaçados.Quanto ao mais – NDCJ, a atual fase de refluxo da demanda etc – tudo isto vai passar e o curso de Jornalismo da PUC-SP sairá melhor, sairá depurado e mais sólido disto tudo. É um curso muito singular, único no cenário nacional, e, por isto, sempre haverá lugar para ele neste cenário. Ocupa um lugar simbólico único no imaginário nacional.

CP – 3 – O que mudaria no curso de jornalismo da PUC-SP?Faro – Eu mudaria pouca coisa no curso, mas todas de grande impacto - menos pelo impacto, claro, mas em razão da importância estratégi-ca que essas mudanças teriam. A primeira diz respeito à refundação dos órgãos laboratoriais, tanto do ponto de vista de sua proposta quanto do ponto de vista da sua estrutura técnica e operacional. Os professores que dirigem esses órgãos precisam ser respeitados e prestigiados no atendimentos de suas necessidades materiais e de pessoal. Todos os alunos devem participar de todos os produtos experimentais, inclusive do jornal Contraponto, que deve ser incorporado ao currículo para que o aprendizado que ele permite seja universal.Além disso, acho que é preciso incrementar o

peso de disciplinas de formação humanística e cultural, em especial aquelas que permitem a desconstrução da realidade social e cultural do mundo contemporâneo. Sem dúvida, eu refor-çaria a presença da Tutoria no curso a partir de sua concepção original.Por último, acho que é preciso ampliar a presen-ça de profissionais do jornalismo nas atividades didático-pedagógicas do curso sem restrições de natureza acadêmica - como produção bibliográ-fica ou títulos.

Hamilton – Todo curso precisa de agilidade e dinamismo para acompanhar as mudanças políticas, culturais, econômicas e sociais que ocorrem na sociedade. Qualquer mudança no curso precisa levar em conta a sociedade em que vivemos, precisa fazer a crítica e a autocrítica do que existe no curso e definir um projeto sobre o que se pretende com o curso, qual a sua visão de mundo, qual o perfil do jornalista que o curso quer formar. Se o Jornalismo é ciências sociais aplicadas, se interfere na realidade, se é ação política direta, se busca a transformação, então é preciso compor a grade curricular, o conteúdo programático, a metodologia e o corpo docen-te do curso em conformidade e harmonia com tal objetivo e vocação. O curso de Jornalismo da PUC-SP foi estruturado originalmente para – através do diálogo permanente entre jorna-listas profissionais experientes e estudiosos do jornalismo – proporcionar uma formação quali-ficada, humanista, crítica e transformadora, de modo a contribuir com o avanço do Jornalismo e da sociedade. Esse modelo proporcionou uma marca própria ao curso, criou um diferencial em relação aos demais cursos de Jornalismo, e deu muito certo na inserção profissional dos jorna-listas formados pela PUC-SP. Esse projeto ficou bagunçado e precisa ser resgatado. O curso pre-cisa recuperar o espaço físico dentro da Universi-dade, precisa superar as carências laboratoriais, precisa restabelecer os contratos de trabalho dos professores nos moldes anteriores à “maximiza-ção”, precisa baixar o preço da mensalidade para

ser mais acessível às famílias de menor renda e precisa, sobretudo, remontar o diálogo original da formação em Jornalismo com total equidade, sem exclusões e sem privilégios. Se isso não for feito logo, o curso da PUC-SP perderá de vez o seu diferencial e o seu sentido existencial.

Milton – As demandas estruturais das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Jornalis-mo (que impõem mudanças no PPC) começam pela quantidade de horas mínimas que devem balizar o curso, a saber, 3 mil horas (hoje temos um pouco mais de 2,7 mil horas). Mas, muito mais do que isso é preciso pensar em estratégias de sobrevivência intelectual para uma prática mercantilista que vem sendo tornada banal e, muitas vezes, promíscua nos mercados hegemô-nicos da informação. Os colegiados docente e discente precisam debater novos conhecimentos que serão precisos implementar no curso, rees-truturar o foco de algumas disciplinas, organizar a produção laboratorial de modo que os diver-sos eixos se tornem visíveis na grade curricular, fazer ajustes necessários nestes componentes curriculares de modo integrar e complementar universos teórico-conceituais e práticas labo-ratoriais, enfim, temos muito trabalho coletivo a ser desenvolvido e a participação de todos é fundamental para que seja possível redesenhar no curso o que for preciso para continuarmos como uma das referências acadêmicas no Brasil em termos de Jornalismo.

Rachel – O curso de Jornalismo da PUC-SP tem um bom currículo, um currículo interessante, fora um ou outro acerto secundário que poderia ser feito. E não estou me referindo as Tuto-rias! Sou defensora convicta das Tutorias. Nós ainda estamos procurando uma embocadura, com elas, nós ainda as estamos testando, nós ainda as estamos experimentando, mas elas são fantásticos respiradouros para o curso, são uma potência ainda não utilizadas, são poços de petróleo não descobertos ainda. Mas nós estamos a caminho, nós vamos chegar lá.

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(milton pelleGrini)

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1�CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Bem, posso estar enganada, mas parece-me que há uma alta congruência entre o que as NDCJ mandam fazer, e aquilo que nós já estamos fazendo, com nosso currículo.Então, repito, o que nos ameaça é de outra natureza: se, em toda a nossa história, sempre cuidamos para que a gestão do curso e do De-partamento de Jornalismo fosse transparente, honesta, justa, não casuística, e que nossos compromissos fossem sempre com um Jorna-lismo que sirva à sociedade nas suas melhores causas, então é isto que pode estar em jogo, e não é pouca coisa. E não é pouca coisa por que é isto que garante uma atmosfera saudável para a formação do bom jornalista. Não é por outro motivo que, na Cásper, reino da tibieza ética, veteranos amarram calouros nos postes para se divertirem.

CP – 4 – Qual o futuro do jornalismo, no geral, enquanto profissão?Faro – Eu acho que esta pergunta já foi res-pondida na exposição que fiz sobre as diretrizes curriculares.

Hamilton – O Jornalismo – assim como outras atividades existentes na sociedade – passa por transformações provocadas pelos rearranjos do capitalismo, pelas mudanças nos modos de pro-dução, pelos novos movimentos que sacodem o mundo na busca de melhor qualidade de vida, pela rejeição das opressões e dos processos de degradação do ser humano. As novas tecnolo-gias possibilitam maior acesso aos sistemas de comunicação, interligam as pessoas nas redes sociais, massificam os papéis receptores, repro-dutores e emissores. Esse quadro é altamente favorável ao desenvolvimento do Jornalismo, na medida em que cresceu exponencialmente o público envolvido no acesso e consumo de informação. É justamente nesse ambiente que o Jornalismo ganha uma nova dimensão, com novas exigências, novas qualificações e novos papéis sociais. O fato de todo cidadão fazer uso da internet, dispor de imensos bancos de dados, palpitar no seu blog, twitter ou facebook, não o habilita para a atividade jornalística, nem reduz e nem elimina a importância do Jorna-lismo na sociedade. Ao contrário, por ser uma atividade que tem método próprio de apuração e organização da informação, compromisso ético pactuado com a sociedade, projeto polí-tico-ideológico identificado com o seu público, função social continuamente renovada pelo serviço público prestado, o Jornalismo precisa existir – fundamentalmente como intérprete de uma leitura organizada da realidade. O atual momento de mudanças está a exigir profissio-nais mais preparados intelectualmente – com esmerada qualificação para criar e sustentar projetos editoriais que conquistem públicos cada vez mais exigentes. O Jornalismo tem um longo futuro se insistir em agregar e organizar projetos para a transformação da sociedade. A história não acabou.

Milton – Entendo que o Jornalismo é mais do que uma profissão. É, nas palavras de Perseu Abramo, o exercício diário do caráter, e por isso, a meu ver, todo “futuro” será bem-vindo se observarmos esta premissa, pois ela diz res-peito às temáticas mais urgentes da sociedade brasileira, como a cidadania e a construção de uma sociedade melhor, que são dimensões

atemporais. A questão de fundo, entretanto, é outra. Sob o ponto de vista profissional estamos falando de um mercado absurdo de obsoles-cências, seja do ponto de vista tecnológico, que imprime outras necessidades para a produção editorial jornalística, suas contaminações no produto informativo e suas reverberações nos jornalistas. Estamos assistindo uma produção de notícias em grande escala e com alto poder de propagação. São notícias que, quase sempre, foram produzidas para serem esquecidas, pois elas também se estruturam logicamente em sintonia com as necessidades de mercado de um consumo e um descarte rápidos. Há cerca de 40 anos, o jornalista produzia informação para ser conhecida no dia seguinte do seu “fe-chamento” nas redações. Embora o rádio e a televisão tivessem uma temporalidade próxima do “tempo real”, boa parte do agendamento do noticiário era feito com base no “setting” do tempo diferido do jornal impresso. Hoje, produzimos informação que tem com base o efêmero, e isso vem se tornando o que já se considera “normal” para a atividade profis-sional. Acho que o jornalista desse futuro que imaginamos mediará a informação em tempo real, mas para ser estruturada em uma base de dados capaz de voltar a oferecer o contexto da notícia que, hoje, foi descartado em nome da lógica mercantil da produção e do consumo informativos. Embora sejam só impressões iniciais, desenhar esse futuro para o Jornalismo implicará em mudanças radicais para a profissão e, consequentemente, para a formação profis-sional desse futuro jornalista. Precisamos estar atentos para esses novos tempos e conhecer os impactos e desdobramentos que podemos an-tever para a prática jornalística. É uma tarefa de todos os envolvidos, pesquisadores, professores

e estudantes, e estamos apenas vislumbrando o começo desse novo “futuro”.

Rachel – Pena que não estarei aqui para ver, mas será fascinante! Será sempre fascinante, como sempre foi, ou nós temos a ousadia de achar que o Gabriel Garcia Márquez estava errado quando falou que “O Jornalismo é a melhor profissão do mundo”?!É matematicamente impossível que o Jornalismo não se torne cada vez mais importante, cada vez melhor, que ele se depure, que ele amadureça, e que ele expurgue seus aleijões, suas aberra-ções, e que, aqui no Brasil, ele se reencontre consigo mesmo, depois de tanta espoliação, que ele reencontre sua verdadeira vocação, que, na academia, ele se reaproxime das Ciências Sociais, das Ciências Políticas e que se coloque na perspectiva de se tornar uma Ciência, como já vaticinava Otto Groth e outros.Como profissão, o Jornalismo vai, certamente, e em breve, retomar sua regulamentação – o diploma é fundamental. Ou alguém acha que o único caso que se conhece, onde uma profissão foi regulamentada e depois desregulamentada não é um subproduto da anexação? E que isto não tem que ser corrigido, por ser um esbulho flagrante?!Em breve, a tecnologia terá ido para seu lugar, e o deslumbramento com o fato de que ela, a tec-nologia, vai mudar o paradigma e a natureza do Jornalismo, este deslumbramento terá passado, já está passando. Internet e mídias em geral são apenas meios; o Jornalismo é algo infinitamente mais complexo do que elas.E pode acreditar no Gabo, ainda mais agora que ele foi pro céu: o Jornalismo é a melhor profissão do mundo.

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CONTRAPONTO1� Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Por Gabriel soares, isabela faggiani, leonardo sanchez, letícia Peixouto,

mariana Presqueliare

Igreja

CONTRAPONTO

é jesus cristo uM superstar?Espetáculo musical gera polêmica entre os conservadores

da Igreja Católica

qUem se manifestoU foi Um

peqUeno GrUpo de fanáticos

[...]. cada Um tem o direito de

expressar a sUa opinião

(jorGe takla, diretor do mUsical jesUs cristo sUperstar)

No dia 14 de março, São Paulo foi palco da estréia do espetáculo Jesus Cristo Supers-

tar, no Teatro do Complexo Ohtake Cultural. O musical, criado pelos britânicos Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, teve seu lançamento na Broadway em 1971, acumulando versões em mais de 30 países. A montagem brasileira é dirigida por Jorge Takla e tem produção da empresa Tickets For Fun, além do patrocínio do Ministério da Cultura.

Ao apresentar uma versão ópera-rock da Paixão de Cristo, período final da vida do líder espiritual, o musical é uma verdadeira coleção de desentendimentos com diversos grupos religiosos. Protagonizado por um Jesus Cristo humanizado e irreverente, sua montagem original foi alvo de críticas, sendo considerada ofensiva. Não somente a comunidade cristã condenou a peça, mas também grupos judeus que a classificaram como anti-semita.

A associação de Jesus Cristo com rock, assim como o conteúdo do roteiro - que não nega, mas também não afirma a origem divina da personagem, ausentando a ressurreição da trama - gerou inúmeras controvérsias. As críticas à abordagem informal de temas bíblicos pelo espetáculo, porém, não impediram que Jesus Cristo Superstar se tornasse um dos maiores sucessos do teatro musical.

A produção paulistana, assim como ou-tras montagens internacionais, também foi alvo de críticas. Na noite de estréia da peça, grupos católicos se reuniram na frente do Complexo Ohtake Cultural para protestar. Portando car-tazes nos quais se liam denúncias de blasfêmia, os cerca de 40 manifestantes atacavam o teor do musical em meio a orações. A produção do espetáculo preparou sua equipe de segurança a fim de impedir qualquer ato exaltado vindo dos religiosos. A precaução, porém, não foi necessária, visto que os protestos foram pací-ficos. A Sexta-Feira Santa (18.04) contou com manifestações de semelhante natureza, com cerca de 140 pessoas.

Atualmente há uma petição online, que até o fechamento desta matéria contava com cerca de 45 mil assinaturas, questionando o Ministério da Cultura sobre a captação de R$5,7 milhões da ópera-rock pela Lei Rouanet. “Blasfe-mar e agredir a Fé de milhões de brasileiros não é promover a Cultura”, diz a carta endereçada à ministra Marta Suplicy. Ainda na internet, a imagem de Jesus Cristo na peça foi até mesmo associada à homossexualidade.

Diversos terços públicos estão sendo incentivados pela Associação Apostolado do Sagrado Coração de Jesus, Associação Devotos de Fátima, Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, Liga do Santo Rosário e Brasil Pela Vida, orga-nizações opositoras à peça. Vídeos divulgados na internet chamam os fiéis aos protestos, não

somente atacando o ceticismo da peça, mas também associando seu gênero musical, o rock, ao satanismo.

Ao ser questionado sobre o assunto, Jorge Claudio Ribeiro, jornalista e professor de Introdução ao Pensamento Teológico da PUC-SP, afirmou ao Contraponto que Jesus Cristo Superstar é uma peça teatral na qual os fiéis não deveriam intervir. Na visão de Ribeiro, os protestos contra a obra ocorrem por conta da insegurança dos próprios religiosos. Ele afirma que “sempre houveram grupos mais conserva-dores, grupos mais inseguros, que se pegam em uma espécie de ortodoxia, de caminho reto”, e completa dizendo que “essas pessoas, talvez por uma certa infantilidade na sua fé, [...] não querem que as coisas mudem”.

Uma das insatisfações dos grupos que se juntaram contra a peça é o figurino da persona-gem Jesus Cristo, que, em determinadas partes da produção, aparece com o torso nu. Ribeiro rebate: “Há, seguramente, uma coisa que podia ser mais aceita com naturalidade: o corpo das pessoas”. De acordo com o professor, “ao longo da história, seu corpo sofredor e macerado foi muito mostrado”. Sobre o alegado romance com Maria Madalena, Ribeiro ressalta que a leitura moderna aceitaria uma relação de qualquer tipo que fosse com Jesus e uma pessoa que o amasse.

Do outro lado, Daniel Martins, assessor de imprensa da campanha contra a peça Jesus Cristo Superstar, define os protestos como resistência à

“cristianofobia”, uma suposta onda mundial de desdém e leviandade no tratamento de figuras cristãs. Tal tratamento irreverente, de acordo com ele, seria proibido e criticado se ocorresse contra a figura de Maomé ou dos homossexuais.

Ao ser questionado sobre as intenções da campanha, afirmou que “o objetivo é de-nunciar mais esse passo da cristianofobia no Brasil, para dificultar os próximos”. Para explicar a “cristianofobia” encontrada no espetáculo, Martins citou o “romance que se cria entre a personagem Jesus Cristo e Maria Madalena” e também as “danças frívolas e indecentes du-rante a crucificação, a projeção da imagem de Nosso Senhor como revolucionário, a exaltação da figura de Judas”. Tal caráter, em conjunto da alegada negação divina de Cristo, seria ca-racterizado como blasfêmia. De acordo com o 2162º capítulo do catecismo da Igreja Católica, “a blasfêmia consiste em usar o nome de Deus, de Jesus Cristo, da Virgem Maria e dos santos de modo injurioso”.

Em Blumenau (SC), foi aprovada uma moção de repúdio pelo do vereador Mário Hil-debrandt (PSD) endereçada à ministra da cultura Marta Suplicy, pelo incentivo financeiro dado à Jesus Cristo Superstar. Na sessão de aprova-ção, o vereador afirmou ser “uma verdadeira violência contra o cristianismo apresentar um musical que ofende a imagem de Cristo”. Os argumentos de seus opositores apoiaram-se no laicismo do Estado Brasileiro.

Cena final de Jesus Cristo Superstar: modo como a crucificação é apresentada é uma das controvérsias do musical

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19CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Vários protestos contra o musical já foram

registrados na frente do Complexo Ohtake

Cultural e também em outras regiões do país. Na foto, fiéis se

concentram na Sexta-Feira Santa (18/04)

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procUra deUs e a boa vontade divina,

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(papa francisco)

Daniel Martins também afirmou que justamente pelo Estado Brasileiro ser laico e democrático, o financiamento de peças que agrediriam a fé da maioria da população (mais de 85% dos brasileiros são cristãos, de acordo com o Censo 2010 sobre religião) deveria ser vetado. “Se o Estado é laico, a população é cristã”, contestou.

A equipe de Jesus Cristo Superstar re-bateu as críticas feitas à obra. O protagonista Igor Rickli afirmou considerar os manifestantes retrógrados e fundamentalistas. O ator, que não é religioso, ainda disse ser fã da persona-gem bíblica pela mensagem que passou e que perpetua até hoje. Negra Li, intérprete de Maria Madalena e evangélica, afirmou não considerar a peça blasfêmia. “Quem for assistir, saberá que estamos defendendo Jesus”, complementou. Jorge Takla, diretor da montagem brasileira, declarou ao Contraponto: “a Igreja Católica que representa a comunidade religiosa em São Paulo ama o espetáculo e nos apoia. Quem se manifestou foi um pequeno grupo de fanáticos [...]. Cada um tem o direito de expressar a sua opinião”.

Enquanto o espetáculo encena sua musicalidade no palco paulistano, instituições cristãs tentam, a todo custo, frear a peça. Os protestos, porém, não são capazes de atrair os holofotes: as luzes estão todas voltadas para a aclamação por parte de crítica e de público de Jesus Cristo Superstar, um verdadeiro sucesso do teatro musical.

365 dias de Francisco – São Francisco de Assis, santo cuja marca é a simplicidade e devoção aos pobres, foi a motivação do atual pontífice da Igreja Católica, papa Francisco, para a escolha de seu nome enquanto chefe da instituição. As suas atitudes no primeiro ano de papado, em suma muito surpreendentes e inovadoras, demonstram o quão ideal fora tal escolha. Desde que assumiu, o Santo Padre promoveu mudanças significativas na forma de abordar assuntos antes considerados tabus pela Igreja, como pedofilia e homossexualidade. Seu comportamento, desde a maneira de se vestir até o modo como trata a população, também chamou a atenção de todos.

A Igreja Católica não presenciava um mo-mento como o de fevereiro de 2013 há quase seis séculos: a última renúncia papal foi em 1415. Talvez esse acontecimento já anunciasse, de alguma maneira, que mudanças estavam a caminho. A escolha de seu sucessor foi o início delas: Francisco seria o primeiro papa nascido no continente americano em toda a história. Mais modificações se seguiram, pois sendo o primeiro papa de ordem Jesuíta, adotou uma abordagem diferente da fé, com pequenas ações que reve-lam que o pontífice é, certamente, uma exceção entre os papas. Seu antecessor renunciou ao cargo, algo que não acontecia há muito tempo. Andreas Englisch, autor Alemão, destaca isso na sua obra “O homem que não queria ser Papa”: “Acredito que a eleição de um papa que claramente nunca havia desejado ser papa foi definitivamente um risco. Eu tinha certeza de que seria um papado muito difícil no momento que Ratzinger descreveu sua eleição como sua ‘execução’». Afirma Englisch ao UOL.

Em seus 8 anos de papado, Bento tomou medidas polêmicas, como abafar casos de pe-dofilia na Igreja e defender um pontífice que negava o Holocausto. Uma reforma na fé se fez necessária no momento em que Ratzinger de-clinou. O escolhido para essa reforma foi Jorge Mario Bergoglio, que desde o começo se mos-trou diferente do seu percursor. O novo Papa se recusou a vestir a sofisticada roupa papalina,

costurada com fios de ouro e enriquecida com pedras preciosas, de igual maneira que também rejeitou os sapatos em tecido, preferindo em seu lugar as suas antigas botas ortopédicas, que normalmente usava em Buenos Aires. A substi-tuição do trono por um mais simples, a retirada do tapete vermelho e não usar as jóias e os ornamentos que o antecessor esbanjava, foram apenas as primeiras transformações promovidas. Além de uma reestruturação decorativa, Fran-cisco realizou algo muito mais interessante: a mudança de hábito na fé.

Com a missão de “salvar a Igreja”, o novo papa tem trazido abordagens muito mais liberais às mais polêmicas questões, como a homossexualidade. O Santo Padre declarou que não podia condenar ninguém por sua opção se-xual: “Se uma pessoa é homossexual e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la?”. Francisco destaca também o papel feminino na religião, dizendo ser impossível ima-ginar uma igreja sem mulheres ativas. Quanto às questões de pedofilia, o pontífice pediu des-culpas públicas pelos casos registrados: “Eu me sinto compelido a assumir pessoalmente todo o mal cometido por alguns padres, poucos em número, obviamente não comparáveis ao total de padres, e a pedir pessoalmente por perdão pelos danos que eles causaram por terem abusa-do sexualmente de crianças”. O teólogo italiano Vito Mancuso, classifica a fase da religião como uma “perestroika”, termo russo que significa reestruturação.

Apesar de todo esse apelo positivo, alguns são céticos e dizem que a abertura promovida pelo pontífice abalará as estruturas da Igreja. Alguns acusam o Papa de ser contraditório e um falso liberal. O Sacerdote australiano Greg Reynolds, por exemplo, foi excomungado por ser militante para a ordenação de mulheres e gays a sacerdócio, algo que serve para contestar a fama de liberal do papa. Além disso, conser-vadores dizem que suas ideias econômicas e sociais contam com princípios básicos do comu-nismo. Em resposta, o papa negou a acusação e completou dizendo que “a ideologia marxista é errada, mas, na minha vida, conheci muitos marxistas que são boas pessoas, então não me sinto ofendido”.

Mesmo com as críticas, o papa segue com a fama de reformador, inclusive na mídia. A revista Times elegeu Francisco como “perso-nalidade do ano” e destacou que o pontífice “tirou o papado dos palácios e levou às ruas”. Já a Rolling Stone também deu destaque de capa a ele, destacando que o pontífice está desafiando a tradição milenar e em pouco mais de um ano ele se mostra, diferente de outros, um papa do povo. A revista também ressalta a posição de Francisco em relação a assuntos polêmicos.

Dessa forma, um Papa que na Páscoa distribui 50 euros para cada morador de rua de Roma ou liga diretamente para fiéis buscando resolver problemas, só poderia ser taxado de diferente. É até certo ponto liberal e busca com-bater o conservadorismo histórico, enquanto abre espaço para a discussão de novas formas de propagação da fé cristã, como em músicas, redes sociais e até no teatro. Resta saber se o Papa Francisco concordaria com a atitude toma-da pelo Vaticano em 1999, ano em que Jesus Cristo Superstar foi finalmente endossado pela Igreja Católica.

Page 20: Contraponto Nº 92

CONTRAPONTO20 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

o público é formado por pessoas com poder aqUisitivo

(joão Gabriel rodriGUes, prodUtor mUsical)

Por duda Gulman, marina campose thiago munhoz

inovações no lollapalooza não alteraM sua essência

CONTRAPONTO

Terceira edição brasileira do evento foi marcada pela elitização

O que era pra ser uma simples despedida virou um dos maiores festivais de música de todos

os tempos. Em 1991, o líder do Jane’s Addiction, Perry Farrel, organizou uma turnê especial com colaboração de outras bandas para marcar o fim do grupo. Farrel, já com o projeto encaminhado, precisava dar um nome ao festival. Resolveu, en-tão, abrir o dicionário em uma página aleatória, até que se deparou com a palavra “lollapalooza”, que significa uma incomum ou extraordinária coisa, pessoa ou evento; uma circunstância excepcional. O músico gostou tanto desse termo que nomeou o evento assim.

Devido ao grande sucesso da primeira edi-ção, o evento continuou sendo organizado até 1997, percorrendo inúmeras cidades da América do Norte e ajudando a divulgar várias bandas da época. Em 2003, voltou a ser realizado e só em 2010 veio para a América do Sul, em Santiago, capital do Chile. Dois anos depois, o Lollapalooza desembarcou no Jockey Clube de São Paulo, con-tando com shows de Foo Fighters, Arctic Monkeys, Joan Jett, dentre outros.

Este ano, juntamente com a mudança da organizadora, o Lolla aconteceu nos dias 5 e 6 de abril no Autódromo de Interlagos. “Havia um limite do público no local anterior que agora não existe mais”, declarou Perry durante a coletiva de imprensa. O evento contou com quatro palcos e um espaço recreativo para crianças, chegando a ter a distância de até 2,5km entre as locações. Apesar das pessoas andarem mais para irem de um palco a outro, a distância garantiu que não houvesse interferência sonora entre os shows.

Como a administração do festival delimitou apenas um caminho para circular entre as atrações, uma grande parcela do público ficou insatisfeita com o deslocamento durante os shows. Também ficaram descontentes por conta da mudança do local do festival, por ser distante do centro da ci-dade. Apesar da alteração, o site oficial do evento estimou a presença de 150 mil pessoas, somando os dois dias.

Comparando com as duas edições brasi-leiras anteriores do festival, esse ano contou com uma maior variedade de comes e bebes, mais espaços voltados para a recreação e lazer, como uma pista de patinação; além de terrenos menos lamacentos e áreas de circulação. Também marca-ram presença bares suspensos e serviço gratuito de taxi feito por bicicletas, ambas ações de marketing dos patrocinadores do festival.

Line up – Outro ponto a se discutir é quanto à line up – os shows que tiveram e seus horários. O Lollapalooza Brasil 2014 teve, como as demais edições no país, bandas internacionais como atrações principais, dentre elas Muse, Phoe-nix, Lorde e Imagine Dragons. O público encontrou um problema na escolha dos shows em que dese-java ir, já que muitos foram marcados no mesmo horário, ou, quando o tempo de deslocamento de um palco a outro já fazia o espectador perder parte das apresentações.

Com um contigente maior de pessoas devi-do a um espaço também maior, o ambiente, que deveria garantir mobilidade, estava lotado e, como consequência disso, resultou em filas gigantes e desorganizadas para compra de alimentos, junto com “engarrafamentos” na saída dos shows. Entretanto, aqueles que não conseguiram chegar perto dos palcos não encontraram problemas ao assistir aos espetáculos, pois eles estavam em um nível superior à platéia, permitindo uma boa visão dos artistas de qualquer local.

Estilo Lolla – Os estilos musicais pareciam sair dos palcos, estampados em camisetas com logos e nomes de bandas, além de em acessórios como coroas de flores e cocares. Concretizavam-se e uniam-se em uma grande síntese de gostos da juventude atual, que escuta o rock indie das bandas que marcaram presença. Este ano, como nas versões anteriores, muitas pessoas escolheram a dedo o que vestir.

Muitos blogs e portais, tanto femininos como masculinos, ao tratarem do festival sugeriam um “modo lollapalooza” de se vestir, geralmente algo que junta conforto com elegância e tendências. A página virtual Moda Para Homens, por exemplo, traçou três estilos para ir: o básico, o descolado e o ousado. De acordo com o site, não faltam motivos para se arrumar, tais como o fato de festivais não ocorrerem com muita frequência e juntar pessoas de vários lugares do país e do mundo.

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Com vestes chamativas, ou nem tanto, o público entrava em êxtase ao ver seus ídolos a sua frente se apresentando. Muitos, como em todos os grandes festivais de música, utilizaram de dro-gas psicotrópicas ou filmavam as apresentações na integra por acreditarem que iriam se envolver mais nos shows. Com ou sem esses artifícios, no começo de cada show tinha um mar de pessoas eufóricas por estarem lá.

Apesar de a maior parte do público ser composta por jovens, compareceram pessoas de todas as faixas etárias. Os mais velhos tiveram preferência por assistir bandas mais antigas, como New Order, enquanto que os mais novos por su-cessos atuais, tal como Lorde.

Em Woodstock não era assim – O perfil das pessoas que hoje participam desse tipo de evento distoa do público de festivais do século passado, como por exemplo o Woodstock. Para o produtor musical que criou o programa “Rock sem Dono da Rádio USP”, João Gabriel Rodrigues, isso se deve principalmente a uma elitização dos grandes eventos. “Um bom exemplo é o que está acontecendo atualmente no maior festival do mundo, o Glastonbury: os ingressos se esgo-tam em instantes, literalmente, mas a coisa mais comum é encontrar pessoas que pagaram pelo evento e sequer conhecem as bandas. Ou seja, têm dinheiro, então vão”, acredita Rodrigues.

Nessa linha de pensamento, o perfil atual parece não estar atrelado à politização ou ao desa-pego da tecnologia e aparência, como na década de 70. Pelo contrário, é um público preocupado com interesses privados - como vai vestido, mar-cando presença no evento a partir de aparelhos eletrônicos. “O público é formado por pessoas com poder aquisitivo”, afirma o produtor e ainda acrescenta que é nítido um processo de elitização nos festivais musicais impulsionada pela moda hipster que hoje se infiltrou na classe média.

Palco Skol lotado

no show principal, da banda Muse, no primeiro

dia do festival

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21CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

CONTRAPONTO

Esporte

Por luisa moraleida, mariana castro e talitha arruda

Homens e mulheres, juntos, quebram tabu acerca de prática pouco conhecida e muito criticada

pole dance: os desafios e a verdade aléM dos cabarés

Quando a expressão “pole dance” é men-cionada, a tendência é a de um imediato

espanto pela associação à casas noturnas. Entretanto, o termo vai muito além do estere-ótipo criado pela indústria hollywoodiana. O pole dance não é apenas um exercício sensual executado meramente pelo sexo feminino. Na verdade, trata-se de uma modalidade esportiva com diversas vertentes.

Sua origem é ligada à prática de um tipo de ioga em postes de madeira com cordas, originário da Índia e que recebe o nome de mallakhamb (homem de força). Esse tipo de ati-vidade existe desde o século XII, enquanto o pole dance sensual só começou a ser popularizado a partir da década de 20 nos Estados Unidos, com pequenos shows eróticos circenses. Antes disso, havia o estilo burlesque da Era Vitoriana, na Europa, ligado à Comédia dell’arte - um show artístico cômico do século XIX - que foi dissemi-nado principalmente devido ao Moulin Rouge, em Paris, que contribuiu para o desenvolvimento de performances artísticas sensuais. O estilo burlesque, contudo, só chegou aos bares e ao público geral em 1950, quando o pole dance passou a ser utilizado como instrumento de striptease e danças sensuais remuneradas pelos homens ricos da época. A modalidade fitness, que hoje é considerada um esporte, com com-petições mundiais, só começou a ganhar espaço nos anos 2000 e atrai mulheres e homens de todas as idades. Ainda assim, existe um grande desconhecimento da modalidade, o que gera preconceito e vulgarização do exercício que, em realidade, exige muita dedicação e disciplina para ser executado.

A campeã brasileira de pole dance de 2010 Duda Ribeiro, formada em dança pela PUC-SP, explica que para competições é ne-cessário um bom condicionamento físico mas que, como forma de exercício, todos são bem vindos. Além disso, a hoje professora da moda-lidade afirma que o esporte vai muito além de melhoras no equilíbrio, coordenação motora e musculatura. O desafio de superar dificuldades corporais ou limites de flexibilidade impulsiona os dançarinos também do lado de fora dos estúdios. Seus corpos e imunidade tornam-se mais resistentes e cresce o ânimo para atividades muitas vezes deixadas de lado pela preguiça. A característica mais forte, entretanto, é a influên-cia na auto estima das mulheres. Elas passam a se sentir mais bonitas e sensuais, fazendo com que o pole fitness deixe de ser um exercício e passe a ser uma paixão.

A atividade é muito recente no país, com aproximadamente 10 anos, mas Duda diz ser notável o avanço em relação ao conhecimento das pessoas sobre essa. A maioria das alunas busca o pole dance como atividade física, porém, infelizmente, ainda é forte o julgamento que as mulheres sofrem, não apenas ao praticar a dança

mas em todas as áreas. Há, portanto, uma luta constante e eterna contra a cultura patriarcal da qual o sexo feminino é vitima há gerações. “Esta luta vem desde as iniciantes até as mais avançadas, tentando mostrar que o pole é sim um esporte. Isso não elimina a existência do pole sensual, mas é diferente. Quem sou eu para falar que um é legal e o outro não?”. Tanto a profes-sora quanto sua aluna, Larissa, de 20 anos, dizem nunca ter sofrido preconceito verbalmente. O que é unanime é a surpresa quando se fala no assunto, já que é uma atividade tão diferente e que não ganhou o espaço que merece.

Larissa dançou ballet a vida toda e deu início à modalidade há aproximadamente 1 ano. A princípio entrou para a academia de Pole Dance com o intuito de praticar uma atividade semelhante à modalidade tecido. Ela diz que não conhecia o estilo fitness do pole dance e previamente só sabia a respeito mediante o que era apresentado pela mídia em revistas, novelas e filmes. “Eu não tinha preconceitos quanto ao pole, não achava que era coisa só de stripper mas, na minha cabeça, realmente era uma coisa sensual e meramente de coreografias burlescas. As pessoas que não conhecem têm uma visão muito periférica.”

Além disso, Larissa acredita que a dança, independente de sua finalidade- sensualizar, praticar esporte, melhorar a saúde ou até mes-mo “vender o próprio corpo” - deve ser uma escolha do próprio praticante. Seja homem ou mulher, cabe ao indivíduo determinar o que pretende fazer com seu corpo mas que não seja porque a mídia ou a sociedade patriarcal deter-minaram, e sim porque o dançarino decidiu que isso agrega valor a sua vida, estando inserido nos padrões socioculturais ou não. “Meu lema no

momento é que todas as mulheres e homens do mundo deveriam conhecer o pole dance. Você adquire força e um equilíbrio mental com o seu físico. Você equilibra seu corpo inteiro com essa modalidade.”, diz a aluna.

A dança e o sexo masculino – Ainda há uma maior procura entre mulheres, pois o tabu se mantém mais firme entre os membros do sexo masculino. A vergonha e brincadeiras por parte dos amigos são os maiores impasses que eles sofrem ao escolher a dança.

Renato Siqueira, campeão de pole dance em 2013, exemplifica tal quadro. O professor e atleta envolveu-se facilmente com o Pole Dance, pois o esporte une as artes circenses e a desen-voltura da dança com a qual tem intimidade. Ele diz ser alvo de preconceito e críticas por se destacar em uma atividade vinculada ao univer-so feminino. Mas é otimista e acredita que essa visão retrógrada a respeito dos profissionais de pole dance vem mudando, já que o esporte tem se disseminado pelo Brasil com a contribuição dos campeonatos e das federações estaduais. “O erro está quando nossa sociedade, ainda muito machista, juntamente com a mídia vul-gariza o corpo da mulher.”, diz o atleta.

O atleta acredita que a partir do momento que os praticantes encaram o tabu de frente, os preconceitos passam a ser quebrados. Muitas dançarinas e dançarinos ainda escondem ou sentem vergonha de praticar o esporte pela analogia ao sensual. Isto é um passo para trás na luta a favor da popularização do pole dance.O artista foi questionado pelos amigos e familiares quando optou pelo que amava, mas os resulta-dos obtidos pela sua persistência o deixam muito satisfeito. Acredita que, como artista homem pode mudar alguns conceitos pré-estabelecidos, contribuir para a evolução e democratização do esporte além de desmistificar a modalidade como um esporte somente feminino e sensual. “É muito difícil viver de arte e de esporte no nosso país, mas o meu amor pelo pole sempre foi mais forte do que minhas insanas vontades de desistir.”, desabafa Renato.

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CONTRAPONTO22 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Durante a noite o telefone tocou, por volta das 3 da manhã. Eu estava em um sono tão pesado que não consegui distinguir

se aquilo era sonho ou realidade. As 8:00 o meu celular tocou, dessa vez sabia que era real! Aquele som estridente percorreu meu canal auditivo inteiro, chegou no meu tímpano e conse-quentemente pulei da cama. Era minha mãe confirmando que eu não estava sonhando, o telefone da casa dos meus avós tinha tocado, e foi através dele que a família recebeu a notícia de que o “tio” tinha falecido.

Levantei da cama e me dei conta que estava sozinho, meus avós estavam fora, re-solvendo os tradicionais problemas do funeral, que por sinal são muito caros. Por volta das 10 da manhã eles voltaram para se arrumar para o velório. Foi então que me deparei com meu avô. Não soube direito como reagir, dei um forte abraço e ele meio abatido e cansado me falou “É Dé... a vida é feita de momentos” e essa frase ficou me cu-tucando durante o dia todo.

Nunca tinha ido a um velório. A esposa os filhos e netos do

“tio” estavam chorando, muito tristes. Vi meu avô, um alemão de um metro e noventa, boêmio, que esta sempre feliz, abatido. Meu pai também estava muito chateado e isso me tocou muito, duas pessoas que sempre seguram a barra, estavam ali, quietos e cabisbaixos.

Em um momento sai para “conhecer” o cemitério e por lá vi túmulos dos mais modestos até os mais chiques e caros, com pedras caras, estátuas e outros artefatos. Parecia uma espécie de competição para ver quem tem o túmulo mais caro e mais bonito. No final, estão todos em baixo da terra, um do lado do outro, vai saber...

Após o fim da cerimônia, peguei um ônibus e fui para faculdade com 1001 pensamentos em minha cabeça.Querendo ou não, aquilo era inusi-tado, nunca tinha enfrentado uma situação dessa antes.

Já no começo da madrugada, voltando para casa depois de um dia exaustivo e atípico, tirei uma lição de toda aquela situação, depois de me virar do avesso. Mesmo no velório, quando as pes-soas falavam sobre o “tio”, abriam sorrisos, se emocionavam, uma leve brisa de felicidade refrescava o ambiente. Foi então que aquela frase do começo do dia veio a tona em minha cabeça. Ele tem razão: “ A vida é feita de momentos” e são eles que trazem aquela lembrança boa e feliz, mesmo nas piores situações.

McGinis é contratado por Jeffrey MacDonald para escrever um livro sobre o caso do assassinato e contar a história sob o ponto de vista do médico que foi conde-nado. O Jornalista ganha acesso à equipe de defesa como observador e passa a ter total acesso às informações do caso. Durante o julgamento, se convence de que McDo-nald é culpado pelos assassinatos, mas mesmo ele assim continua a ter uma relação amigável com o médico e de total respeito e simpatia.

Durante os quatro anos que se seguiram para a produção do livro, McGinis dava a ideia de que defendia o lado do médico e que eram “amigos”, nunca mudou seu comportamento em relação a ele e continuou a receber informações. Porém, em 1982, quando o livro, Fatal Vision (visão fatal), foi publicado, MacDonald era retratado como um frio psicopata assassino que matou num acesso de raiva.

Janet Malcoln descreve essa atitude como uma “traição”, pois, durante os anos em que McGinniss se correspondeu e falou com MacDonald, ele ocultou que o livro que preparava retratava o médico como um matador psicótico. Entre o jornalista e o assassino, Janet toma as dores do assassino. Mostra um escritor ambicioso e um

assassino inocenteA questão ética central do livro debate a atitude do jornalista e se é

certo mentir e deturpar para obter informações .“A linguagem é que torna humanas as pessoas e é o meio fundamental

que temos para saber quem são os outros”, afirma a autora.

Janet Malcolm, uma das mais importan-tes jornalistas americanas do século XX,

escreveu oito livros baseados em repor-tagens longas publicadas na revista The New Yorker. O Jornalista e o Assassino foi primeiramente publicado, quase que integralmente, na revista The New Yorker em 1989. Explorando a relação entre um homem condenado por assassinato e o jornalista que escreve um livro sobre o caso, Malcolm toca em pontos centrais da relação do escritor com as fontes.

O livro começa com a seguinte citação: ’’Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para per-ceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é uma espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas... Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pom-posos falam de liberdade de expressão e do direito do público a saber; os menos talen-tosos falam sobre a Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida.”

A autora narra a história de um médico, Jeffrey MacDo-nald, condenado pelo assassinato da esposa grávida e das duas filhas pequenas , em 1970, na Carolina do Norte e que moveu uma ação contra um jornalista, Joe McGinniss. Coloca em pauta a ética do jornalismo e a liberdade de imprensa.

o jornalista e o assassino: uMa reflexão sobre a ética

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Por Juliana tahamtani

Por andré sampaio

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O JOrnalista e O assassinO

Uma qUestãO de ética AutorA: JAnet MAlcoln

editorA: JornAlisMo literário - coMpAnhiA dAs letrAs, 2011, 176 páginAs

Page 23: Contraponto Nº 92

2�CONTRAPONTOJornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

Por Gabriel collet

■ Polícia reconstitui caso de Cláudia

Um dos casos de maior abuso dos direitos humanos no Brasil, agora tenta ser reconstruído. Policiais da 29ª Delegacia Policial (Madureira) iniciaram a reconstituição do caso Cláudia Silva Ferreira, morta e arrastada após operação no morro da Con-gonha, na zona norte do Rio. Participam da remontagem dos fatos peritos do Instituto de Criminalística, os cinco policiais militares envolvidos na operação de retirada de Cláudia da comunidade e testemunhas.

O delegado Carlos Henrique Machado, titular da 29 DP (Madurei-ra), disse que o principal objetivo da reprodução é saber de onde partiu o tiro que matou Claudia Silva Ferreira, baleada no dia 16 de março. Segundo advogados a previsão é que os trabalhos durem até 30 dias. Este é mais um dos famosos casos nos quais a Polícia Militar surpreende o Brasil, seja com casos de sequestro, morte, e agora arrastamentos. A morte de Cláudia, além de outros casos, está nos evidenciando às tendências práticas policias em locais de risco no Brasil.

■ O que você espera ao jogar uma banana a um jogador?

Em uma atitude que evidencia o racismo, durante uma partida de futebol entre o Barcelona e o Villarreal, no último domingo (27), o lateral da equipe catalã e da seleção brasileira, Daniel Alves, impressionou as câmeras e a plateia ao comer uma banana jogada a ele em cruzamento. Em entrevista, disse que é hipocrisia criticar a campanha #somostodosmacacos, iniciada nas redes sociais pelo atacante Neymar em defesa ao colega de equipe. A campanha repercutiu por todo Brasil.

Muitos são a favor da iniciativa “# somos todos macacos”, já outros afirmam que essa política não deve ser incentivada e sim a contrária “#ninguém aqui é macaco”, como forma de não disseminar uma das tendências mais racistas das existentes.

■ Mais um adeus das telas

O famoso ator, e uma das caras da TV GLOBO, José Wilker, faleceu no dia 5 de Abril na casa de sua namorada Claudia Montenegro, no Rio de Janeiro. O produtor de teatro Claudio Rangel confirma que ele não sofreu nada. José Wilker começou a carreira como locutor de rádio e se mudou para o Rio de Janeiro aos dezenove anos.

Seu primeiro filme foi em 1965, A Falecida, com uma participação não creditada. O filme ainda contava com Fernanda Montenegro como protagonista. Em 1979, esteve no elenco do filme Bye Bye Brasil e em 1985, no elenco de O Homem da Capa Preta.

Amante de cinema, possuía aproximadamente quatro mil fitas em casa. Mostrou ao público essa faceta assinando uma coluna semanal sobre o assunto no Jornal do Brasil e fazendo comentários de filmes nos canais de televisão por assinatura Telecine da Globosat. Era também comentarista oficial da transmis-são da premiação do Oscar da Rede Globo, além de apresentar o programa Palco & Platéia.

Na TV, sua primeira novela de Gabriela (1975), como Mundinho Falcão. Em 2012, interpretou o Coronel Jesuíno Mendonça no remake da novela e ficou marcado pelo bordão “vou lhe usar”.

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■ Menino é morto por madrasta

Bernardo Boldrini, de 11 anos, foi encontrado morto no dia 14, enterrado em um matagal em Frederico Westphalen, no noroeste do estado, a cerca de 80 km de Três Passos, onde morava com a família. Ele estava desaparecido desde 4 de abril.

A investigação da Polícia Civil aponta que a enfermeira Graciele Boldrini, madrasta do garoto, é suspeita de cometer o crime, junto com a assistente social Edelvania Wirganovicz e o pai do garoto, o médico Leandro Boldrini.

Em depoimento, Edelvania disse que Graciele aplicou uma injeção letal no meni-no. Caso o medicamento tenha sido o Midazolam, a aplicação desobedeceu pelo menos duas reco-mendações sobre o uso da substância, e a mesma pode levar a morte se mal orientada.

Segundo Menezes, não é recomendado que uma enfermeira aplique o me-dicamento. Além disso, ele deve ser usado em um local onde a respiração do paciente possa ser observada.

“Ele pode ser prescrito dire-tamente por um médico em uma unidade onde há a capacidade de fazer o monitoramento da respiração do paciente, como uma unidade de tratamento intensivo, uma sala de respiração ou uma unidade de centro cirúrgico”, afir-mou o médico. Os suspeitos se mantêm ainda como a madrasta, o pai, e uma suposta amiga da madrasta, pois novas investigações mostram que o garoto não era bem tratado dentro de casa.

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Cláudia foi arrastada por policiais

Daniel Alves é

vítima de racismo

no futebol

Morre José Wilker, um dos atores mais importantes da rede globo

Caso Bernardo

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CONTRAPONTO24 Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP Maio 2014

uma forma do país encontrar um dinamismo para o que chamam de direito de autodeterminação dos povos, uma que vez que limitam os poderes do presidente. Mas lembra que, no direito constitu-cional, o direito de autodeterminação dos povos, utilizado como muitos argumentos de países como Crimeia, não se justifica para a criação de um estado independente.

Na Crimeia, a ocupação de separatistas russos, fez com que o Parlamento convocasse um referendo para o que viria a consolidar esta anexação (96,77 % dos eleitores decidiram pela reunificação). Contudo as potências ociden-tais consideram-no inválido, inclusive a Assem-bleia-Geral da ONU, 100 países votaram confir-mando esse pensamento (EUA defende a “inte-gridade territorial” da Ucrânia), 11 foram contra e 58 se abstiveram (inclusive o Brasil).

Mesmo com a ameaça de sanções de EUA e UE, o país liderado por Putin, agora com a região da Crimeia anexada, está definitivamente contra o governo da Ucrânia, com o presidente interi-no Olexander Turchynov, aonde os confrontos entre separatistas russos e as forças de segurança ucranianas se acirram no leste e no sul.

CONTRAPONTO

ucrânia até onde ucrânia ...Mundo

Desde fevereiro, as manifestações e conflitos que iniciaram-se na Ucrânia contra a decisão

do governo de cancelar um acordo com a União Europeia se mantém até agora. O resultado está sendo acompanhado pela mídia, que noticia mor-tes, prisões e um cenário político cada vez mais instável que se repercute por toda Europa. O Con-traponto entrevista Luiz Guilherme Arcaro Conci, Professor de direito constitucional da PUC-SP e especialista no caso.

Por um lado, manifestantes exigem a re-núncia do presidente Viktor Yanukovych, apoiado pela Rússia e responsável por forte pressão eco-nômica para que o acordo com o bloco europeu não acontecesse. E do outro, os opositores ao governo, Arseni Yatseniuk, atual primeiro ministro e Yulia Tymoshenko, principal rival política do pre-sidente deposto. Yulia foi uma figura importante na Revolução Laranja (uma série de protestos contra fraude eleitoral direta durante a eleição pre-sidencial ucraniana de 2004). Já as eleições desse ano estão prevista para 25 de maio e 8 de junho eleições presidenciais com Petro Porochenko (ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros), nas eleições e Yulia Tymoshenko.

Em 21 de Março o primeiro ministro Ar-seni Iatseniouk assinou um acordo de associação do país ao bloco europeu que determina as bases políticas da relação bilateral e cria órgãos que irão monitorar a aproximação da Ucrânia com a União Europeia. Já os russos tem a Crimeia anexada ao seu país logo após a aprovação de um referendo feito pelos crimeanos. Luiz Guilherme cita que a saída da Crimeia pelo Estado Ucraniano foi realizada fora da constituição e é necessário um processo para que a mesma seja anexada. Ele também nos lembra o caso da Iugoslávia, na qual houve a quebra dos Estados.

Conflitos armados – Em 1 de março de 2013, o senado russo aprova a solicitação feita por Vladimir Putin de utilizar tropas militares na Ucrânia. Em sessão extraordinária, a decisão foi unânime e o principal discurso era o qual havia ameaças aos compatriotas devido à instabilidade política do momento, assim, Forças Armadas se-riam uma forma de garantir a estabilidade e nor-malização sociopolítica no país.

Dessa forma, as manifestações que perdu-ram no país até hoje, já resultaram em diversas opressões da polícia, assim como as manifestações de junho em 2013 no Brasil. A situação se agrava com a fuga de Yanukovich da Ucrânia em fevereiro , com um vídeo gravado por este dizendo não haver renunciado e que era vítima de um Golpe de Estado. Para o Dr. Luiz Guilherme, não houve um movimento organizado para fins de violação dos direitos humanos de forma organizada no país, embora toda a imagem que se é construída, e o controle da mídia. Para tanto nos recorda casos como de Kosov na qual houve grande violação aos direitos humanos.

Yatseniuk mediante a situação, dizia que iria promover soluções para a crise, com a convocação de eleições antecipadas, a volta da Constituição de 2004 e o aumento dos poderes do Parlamento . A volta da constituição para Luiz é

Por flávia Kassinoff , Gabriel collet e Gabriel schmidt i

O governo russo realizou um pedido à Ucrânia para que não intervissem mais militar-mente no leste e no sul, evitando uma possível guerra civil. Até mesmo a questão do armamento nuclear foi levantada. O primeiro-ministro interino da Ucrânia, Yatseniuk, que também não é reco-nhecido pelo governo russo, disse que a segurança mundial poderia ser afetada. Para Luiz, a questão bélica é bem delicada, mas a Rússia já mostrou seu poderio e a disputa dificilmente ultrapassaria da Ucrânia e Rússia.“ Só devemos ficar espertos com a China, que se mantém quieta“, diz.

Em comparação as manifestações de Junho de 2013 no Brasil, Luiz afirma novamente que, além de serem motivos diferentes, o que é claro, também não houve no Brasil um movimento organizado contra a violação em massa dos direi-tos humanos. Para o Dr.Guilherme, o Brasil visa reivindicar liberdade de expressão, enquanto a Ucrânia está presa a diversos motivos culturais da nação. Segundo o chanceler russo, Sergei Lavrov, o acordo também envolve a anistia aos manifes-tantes pró-Rússia, exceto para os condenados por homicídio. A desocupação dos locais públicos e o desarmamento dos grupos ilegais completam a negociação.

Por fim, para o Professor, os reflexos do conflito são principalmente o fortalecimento dos movimentos regionais, alguns até apagados, uma repactuação interna também pode ser considera-da, ou seja, os Estados tenderão a se descentralizar mais, e por fim, uma integração regional Russa aos Estados que se opõem a U.E, o que poderá levar a última uma instabilidade político-econômica, talvez necessitando do apoio dos EUA.

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Manifestações iniciadas no começo do ano ameaçam resultar em conflito militar no leste Europeu

nesse conflito, não há mUitas saídas sem sUportes jUdiciários

(lUiz GUilherme conci)

Protestos em Kiev

Divisão de línguas na Ucrânia