Contribuicao para uma Metodologia Pesquisa Em Artes

17
SIQUEIRA; Adilson - Contribuição para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected] CONTRIBUIÇÃO PARA UMA METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTES I Prof. Dr. Adilson Siqueira 1. - Apresentação O presente texto se propõe a apresentar um resumo e alguns comentários da bibliografia básica sobre método e metodologia de modo a auxiliar àqueles que estão se propondo a seguir uma carreira de pesquisadores. Trata-se de informações básicas que sugiro sejam necessariamente complementadas pela leitura dos muitos pesquisadores que já se debruçaram sobre o tema, os quais certamente abordam o assunto de maneira mais aprofundada e menos esquemática do que este manuscrito. Sobretudo, é preciso dizer que se trata de um texto que possui duas partes, a primeira, esta que o leitor tem em mãos, discorre sobre as origens e os procedimentos metodológicos para a realização de uma pesquisa e tem por objetivo orientar o leitor sobre conceitos e termos básicos da pesquisa acadêmico-científica. Segue-se a ele outros dois textos, um primeiro no qual faço uma compilação das normas básicas para a elaboração de trabalhos escolares e a citação de fontes, elaborado a partir de material organizado pelas Faculdades Integradas Rui Barbosa e um segundo no qual faço a proposição do que considero ser um método apropriado para a pesquisa em artes. A leitura dos três textos são complementares de modo que é altamente indicada 2. - MÉTODO: Das origens aos usos contemporâneos Existe muita confusão entre método e metodologia. Para uns método é estatística elementar, para outros, se confunde com técnica de pesquisa e com epistemologia. Toda essa confusão se deve à natureza dicotômica do método e, para se refletir sobre essa duplicidade, é preciso voltar o olhar para as origens de ambos os termos. Antes porém, devemos ter claro que falar em método implica em estarmos de acordo de que se está falando sobre a ciência, a qual definimos aqui como o conhecimento rigoroso e racional de qualquer assunto, como o corpo 1

description

presente texto se propõe a apresentar um resumo e alguns comentáriosda bibliografia básica sobre método e metodologia de modo a auxiliar àqueles queestão se propondo a seguir uma carreira de pesquisadores. Trata-se deinformações básicas que sugiro sejam necessariamente complementadas pelaleitura dos muitos pesquisadores que já se debruçaram sobre o tema, os quaiscertamente abordam o assunto de maneira mais aprofundada e menosesquemática do que este manuscrito. Sobretudo, é preciso dizer que se trata deum texto que possui duas partes, a primeira, esta que o leitor tem em mãos,discorre sobre as origens e os procedimentos metodológicos para a realização deuma pesquisa e tem por objetivo orientar o leitor sobre conceitos e termos básicosda pesquisa acadêmico-científica. Segue-se a ele outros dois textos, um primeirono qual faço uma compilação das normas básicas para a elaboração de trabalhosescolares e a citação de fontes, elaborado a partir de material organizado pelasFaculdades Integradas Rui Barbosa e um segundo no qual faço a proposição doque considero ser um método apropriado para a pesquisa em artes. A leitura dostrês textos são complementares de modo que é altamente indicada

Transcript of Contribuicao para uma Metodologia Pesquisa Em Artes

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    CONTRIBUIO PARA UMA METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTES I

    Prof. Dr. Adilson Siqueira

    1. - Apresentao O presente texto se prope a apresentar um resumo e alguns comentrios

    da bibliografia bsica sobre mtodo e metodologia de modo a auxiliar queles que esto se propondo a seguir uma carreira de pesquisadores. Trata-se de informaes bsicas que sugiro sejam necessariamente complementadas pela leitura dos muitos pesquisadores que j se debruaram sobre o tema, os quais certamente abordam o assunto de maneira mais aprofundada e menos esquemtica do que este manuscrito. Sobretudo, preciso dizer que se trata de um texto que possui duas partes, a primeira, esta que o leitor tem em mos, discorre sobre as origens e os procedimentos metodolgicos para a realizao de uma pesquisa e tem por objetivo orientar o leitor sobre conceitos e termos bsicos da pesquisa acadmico-cientfica. Segue-se a ele outros dois textos, um primeiro no qual fao uma compilao das normas bsicas para a elaborao de trabalhos escolares e a citao de fontes, elaborado a partir de material organizado pelas Faculdades Integradas Rui Barbosa e um segundo no qual fao a proposio do que considero ser um mtodo apropriado para a pesquisa em artes. A leitura dos trs textos so complementares de modo que altamente indicada

    2. - MTODO: Das origens aos usos contemporneos

    Existe muita confuso entre mtodo e metodologia. Para uns mtodo estatstica elementar, para outros, se confunde com tcnica de pesquisa e com epistemologia. Toda essa confuso se deve natureza dicotmica do mtodo e, para se refletir sobre essa duplicidade, preciso voltar o olhar para as origens de ambos os termos. Antes porm, devemos ter claro que falar em mtodo implica em estarmos de acordo de que se est falando sobre a cincia, a qual definimos aqui como o conhecimento rigoroso e racional de qualquer assunto, como o corpo

    1

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    de conhecimentos sobre um determinado tema, obtido mediante um mtodo prprio e que caracteriza o domnio organizado do saber organizado com base em relaes objetivas verificveis e dotados de valor universal..

    A palavra mtodo vem do latim methdus ou methodos que por sua vez procede do grego. mthodos,ou pesquisa, busca e, por extenso: estudo metdico de um tema da cincia (de acordo com Plato) ou, tratado metdico, obra de cincia (conforme Aristteles)1. formada pelos radicais met atrs, em seguida, atravs e hods caminho. J a palavra portuguesa metodologia procede da palavra francesa mthodologie que formada pela palavra mtodo, conforme acima referida, mais o pospositivo -logia, (composto do radical logo mais o sufixo ia) e indicativo de cincia, arte, tratado, exposio cabal, tratamento sistemtico de um tema. Portanto, mtodo se refere a um caminho atravs do qual se realiza uma pesquisa, uma busca, um estudo metdico ou um tratado, ao passo que a Metodologia uma palavra sua derivada que refere-se ao tratamento sistemtico que se d a um tema, o que nos permite dizer de maneira simplificada que mtodo um caminho para se chegar a um fim e que metodologia o estudo desse caminho mas, como se pode perceber, a prpria acepo de metodologia est contida no mtodo e justamente por isso que no podemos nos furtar, mesmo com a simplificao feita acima, de lidar com e/ou pensar na dimenso dicotmica do mtodo.

    De acordo com CLAUDIO DE MOURA CASTRO (1977) o mtodo deve ser considerado como uma dupla dimenso que interage e se complementa. A primeira, chamada dimenso positiva (p. 34), refere-se ao conjunto de regras e tcnicas sobre como proceder no curso de uma investigao (a metodologia propriamente dita) e, a segunda, chamada dimenso negativa (Ibid), se refere ao conjunto de elementos que nos dizem sobre o que no devemos e sobre o que devemos fazer para no nos desviarmos do mtodo propriamente dito.Ou seja: no h como se falar em mtodo sem se falar em metodologia ou, se considerar mtodo separado de metodologia e vice-versa. Ambas concorrem para sustentar e 1 Cf. HOUAISS e VILLAR, 2001.

    2

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    suportar o mtodo: uma indicando os procedimentos utilizados na investigao, a outra fornecendo as armas que protegem a cincia do erro da precipitao.

    A dimenso positiva do mtodo diz respeito metodologia, que como muito bem definiu GERALDO INCIO FILHO, (1995p.71), refere-se ao como fazer, aos procedimentos, s tcnicas que o pesquisador utilizar para realizar a sua anlise e investigao (p.71). J a dimenso negativa refere-se ao tipo de abordagem, trajetria terica da pesquisa, sua fundamentao terica (ibid) de modo a no permitir que faamos o que no podemos fazer e deixemos de fazer o que somos obrigados a fazer para afirmar que nossa pesquisa pertence a esse ou quele mtodo. dimenso negativa do mtodo que devemos os elementos que podem ser utilizados como mecanismos de proteo ao erro e precipitao por parte do pesquisador, e o positivismo foi a corrente do pensamento que ofereceu os principais elementos de comprovao para que uma determinada afirmao pudesse ser admitida como cientfica.

    Trata-se do mtodo experimental ou cientfico, que conforme explica ANTONIO CHIZZOTTI (1991), consiste em submeter um fato experimentao de tal modo controlada, que se pode apreci-lo coerentemente, com critrios de rigor que permitem mensurar a constncia de suas incidncias e excees de maneira que os conhecimentos adquiridos deste controle, legitimados pela experimentao e comprovados pela mensurao podem ser assim, considerados cientficos. Por exemplo, depois de se constatar diversas vezes, atravs da experincia (da constatao de um fato particular, portanto), que a gua ferve a 100 graus centgrados no nvel do mar, etc. indutivamente concluir-se-ia (em razo da regularidade dos fatos) que sempre, nas mesmas condies, a gua ferveria a 100 graus centgrados (e este seria um conceito universal expresso pela linguagem-teoria). Ou seja, os enunciados da cincia teriam o seu fundamento ltimo nos fatos, no dado da experincia.

    3

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    Essa concepo foi ampliada por volta de 1920 pelo Circulo de Viena (Wiener Kreis)2, passando a ser conhecido como Empirismo Lgico, Positivismo Lgico ou ainda Neopositivismo. A acepo fundamental do Empirismo Lgico, de acordo com MAURO LCIO LEITO COND o principio da verificabilidade, o que significa que para eles:

    verificar tomar um enunciado significativo e reduzi-lo a um conjunto de dados empricos imediatos a fim de verificar se esses ocorrem, ou no, na realidade. A sua ocorrncia confere veracidade ao enunciado, e a sua no ocorrncia, falsidade. Com isso, o Empirismo Lgico questionou as teses da filosofia tradicional

    (leia-se metafsica), criticando-as severamente medida que constatava nelas diversos enunciados sem ocorrncia na realidade, ou seja, sem correspondncia na dimenso emprica (Ibid) e com isso, o conjunto proposies, tcnicas e instrumentos tornou-se o padro daquilo que convencionou-se denominar simplesmente de mtodo cientfico no qual somente as proposies tautolgicas e as factuais pertenciam ao discurso cientfico, no havendo possibilidade fora delas. Todo o resto seria metafsica e o objetivo primeiro da cincia seria livrar-se da metafsica.

    Contudo, essa concepo tambm problemtica posto que o primado da razo e da lgica no que se refere maneira de conhecer o mundo pode consistir de mera especulao. A principal crtica aos Neopositivistas foi feita entre outros, por KARL POPPER (1980) que escreveu:

    ... de um ponto de vista lgico, est longe de ser bvio que estejamos justificados ao inferir enunciados universais a partir dos singulares, por mais elevado que seja o nmero destes ltimos, pois qualquer concluso obtida desta maneira pode sempre acabar sendo falsa: no importa quantas instncias de cisnes brancos possamos ter observado, isto no justifica a concluso de que todos os cisnes so brancos (p.263)

    2 Formado inicialmente por Otto Neurath, Hans Hahn e Richard von Mise e a partir de 1922 o grupo passar a contar com o filsofo alemo Moritz Schilick. Em 1924, Olga Neurath Hahn, F. Kaufmann, V. Kraft, K. Reidemeister entram para o grupo e em 1926 junta-se a eles aquele que viria a ser uma de suas principais figuras, isto , Rudolf Carnap

    4

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    Isso porque no h observao do mundo real que nos prove que a metafsica seja indesejvel, pelo simples fato de que, se tudo que no pode ser verificado pelo teste da realidade, pelo confronto com os fatos, no pode ser aceito, parece ento fracassar a primeira proposio dos neopositivistas que afirma a necessidade de banir a metafsica (Castro, 1977-p.41). Ora, para banir a metafsica seria necessrio admiti-la o que criava uma contradio na base do seu pensamento e, especialmente a partir de THOMAS KHUN (1994), o mtodo cientfico passar a conceder que, nas palavras de Conde, de um modo no totalmente racional, tendo seu desenvolvimento uma influncia de mltiplos fatores, sociais, econmicos, religiosos, ideolgicos, etc.

    Com isso, ao abandonar a caa s bruxas (a metafsica) e aceitar a possibilidade de um enunciado que no fosse factual, o mtodo cientfico passa, ento, a se empenhar para no deixar os diferentes enunciados, as diferentes proposies se contaminarem, e a considerar que o importante no banir, mas identificar a que categorias pertencem os enunciados e proposies encontrados num determinado discurso cientfico

    3. - Metodologia: as bases das cincias humanas e sociais a servio das artes

    neste ponto que convm nos ocuparmos da metodologia. Como se viu, Mtodo o caminho para chegar a um fim. (objetivo), um modo ordenado de proceder ou ainda, conjunto de procedimentos tcnicos e cientficos que na concepo contemporanea requer a identificao das categorias s quais pertencem os enunciados a que se chegam quando se envereda por ele. Com base nisso e retomando a dimenso dicotmica que lhe inerente, pode-se afirmar que metodologia o estudo do mtodo, ou seja, o estudo das concepes e proposies epistemolgicas que lhe so inerentes como, por exemplo, a metodologia cientfica jurdica, na qual se estuda o universo do direito para a elaborao de um trabalho cientfico nesta rea, de modo que os enunciados ali produzidos no incidam no erro da precipitao e sejam organizados numa sistemtica tal que possa ser verificado por seus pares. Foi com base nesse princpio que surgiu, eis mais um exemplo, a metodologia de pesquisa em cincias

    5

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    sociais e neste contexto que o presente texto se insere: no de se desenvolver os princpios de uma metodologia de pesquisa em artes.

    Retomando o tpico anterior - quando se falou em abandono da caa s bruxas, em esforo para no deixar que os diferentes enunciados e proposies se contaminem e em considerar que o importante no banir, mas identificar a quais categorias pertencem os enunciados e proposies encontrados num determinado discurso cientfico temos que, com base nesses pressupostos , pode-se dizer que na organizao e realizao de uma pesquisa, do ponto de vista metodolgico, o mtodo cientfico contemporneo usa o modelo experimental e suas anlises, fundamentos e concepo de realidade como padro para se encaminhar a anlise de um fenmeno delimitado, a respeito do qual se formula uma hiptese, estabelece-se os mtodos de verificao, submete-se experimentao em condies de controle com o objetivo de se obter leis, fazer generalizaes e elaborar teorias que expliquem o fenmeno observado.

    Esse modelo tem muitas variaes, mas, em geral, pode ser condensado na seguinte estrutura:

    1. hiptese de explicao de um fato observado. 2. Verificao da hiptese atravs de experimentao: Coleta e anlise

    dos dados. 3. Explicao das leis que regem o fenmeno e deduo para outros

    fenmenos aos quais as mesmas leis possam ser aplicadas. At a dcada de 70, esse modelo fez com que as pesquisas quantitativas

    dominassem as investigaes em cincias humanas e sociais. Esse padro, que j havia sido contestado no passado por Hume, Kant, Hegel e Bergson, foi definitivamente contestado nos anos 70 por Campbell, Ronald Fischer, Crombach, Stake e Habermas devido determinao destes em sistematizar um modelo qualitativo que apreendesse as condies histrico-filosficas, fenomenolgicas, ambientais que possibilitasse uma avaliao na qual os participantes atuassem levantando questes ou recebendo informaes sobre o contedo e a forma do programa, no qual a avaliao respondente (sic).

    6

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    Apesar das diferenas advindas do questionamento realizado pelos intelectuais e pesquisadores acima mencionados - atualmente, existem autores que defendem que pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa devem interagir sinergicamente, complementando-se mutuamente ao passo que outros no vem nenhuma possibilidade de contato entre as duas partes - do ponto de vista da metodologia, qual Incio Filho chama de mtodo de procedimento, os elementos esquemticos que compreendem a elaborao de um projeto de pesquisa, especialmente nas cincias humanas e nas artes (que falta de uma metodologia especfica empresta para suas pesquisas as metodologias ainda utilizadas pela primeira) so basicamente os seguintes:

    1. Delimitao do universo da pesquisa Refere-se ao todo que ser abrangido pela pesquisa

    2. Determinao e seleo da amostra Refere-se parte especfica do todo que a pesquisa abordar.

    3. Levantamento bibliogrfico Consiste em dizer se existe material (fontes primrias ou secundarias, bibliogrficas, anotaes pessoais, entrevistas) sobre o assunto da pesquisa. Deve-se esclarecer como esse material ser utilizado

    4. Tratamento com a bibliografia Dizer como os textos bibliogrficos sero analisados.

    5. Cronograma Serve para prever quando cada fase da pesquisa se dar.

    6. Previso de recursos humanos Mencionar nomes e funes dos participantes da pesquisa

    7. Previso de recursos materiais o levantamento de custos da pesquisa. recomendvel prever-se os custos do material de consumo e de uso permanente e a contrapartida que est sendo oferecido.

    8. Bibliografia Relacionar a bibliografia que encontrou sobre o assunto, mesmo que ainda no tenha sido lida e fichada, etc.

    7

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    Os Principais Tipos De Pesquisa (Em Uso Nas Artes)

    Como vimos os tipos de pesquisa so decorrncias da inter-relao bidimensional entre mtodo e metodologia; que levaram ao desenvolvimento de um modelo inicialmente experimental e a seguir ao desenvolvimento de um modelo qualitativo. Pesquisa Experimental ou Cientfica3

    A experimentao cientfica porque os conhecimentos dela resultantes foram comprovados por padres mensurveis ou seja, os fatos e acontecimentos so obtidos a partir de normas constantes e podem, por essa razo, ser observados de modo sistemtico.

    preciso frisar que pesquisa experimental no pesquisa emprica. Esta ltima se funda na observao e no estudo de fatos particulares, cujos resultados obtidos podem, ento, ser generalizados. Tipos de pesquisa experimental:

    Obviamente, estes tipos no so totalmente puros. Podem aparecer muitas vezes interligados.

    Terica ou fundamental: verifica uma teoria sem se preocupar com a aplicao imediata dos seus conhecimentos

    Aplicada: aplica na prtica os conhecimentos produzidos ou verificados. Descritiva: Descreve os fatos Analtica: analisa dados e tira concluses Quantitativa; utiliza-se de medidas e clculos mensurveis Qualitativa: ressalta os significados por trs dos atos e prticas. Nomotticas: Visa criar leis sobre a regularidade e a recorrncia dos fatos Clnica: visa um diagnstico com o objetivo de uma teraputica saneadora

    Pesquisa Qualitativa4 O determinismo mecanicista de Laplace e Newton e o esprito do

    positivismo levaram a acreditar que havia uma estrutura permanente e invarivel 3 Cf : CHIZZOTTI, Antonio. Op. Cit pp.77-85 4 Ibid

    8

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    das leis naturais do universo e que, ao se conhecer os impulsos e as posies dos corpos e partculas, se poderia, pelo clculo, estabelecer conceitos infalveis e extrair leis mecnicas da evoluo anterior e futura. Com o desenvolvimento da fsica atmica, da teoria da relatividade, da termodinmica e da cosmologia constatou-se que os fenmenos so imprevisveis e de grande complexidade e que os eventos naturais tm um carter mutvel, instvel e fluente. Juntamente com a matemtica moderna, em particular a teoria dos conjuntos e a geometria no-euclidiana , puseram em cheque as certezas do cientificismo e questionaram a tal infalibilidade das cincias e demonstraram o quanto invivel se fazer previses absolutas, recuperando com isso, a validade da interpretao dos fenmenos

    No caso das cincias humanas e sociais, aquelas pesquisas que enfatizavam a busca da estabilidade constante dos fenmenos, a estrutura fixa das relaes e a ordem permanente dos vnculos sociais, foram questionadas por outras que mostravam a complexidade, as contradies de fenmenos singulares, a imprevisibilidade e a originalidade criadora das relaes interpessoais e sociais. Tais pesquisas, partindo de fatos simples e singulares, valorizaram as caractersticas qualitativas dos fenmenos de modo a mostrar a complexidade da vida humana, trazendo tona, aspectos antes ignorados da vida social.

    Partilhar da abordagem qualitativa numa pesquisa pressupe a no aceitao de um padro nico, conduzido pelo paradigma5 das cincias da natureza de que se deve legitimar o conhecimento atravs de processos quantificveis, tornados leis e explicaes gerais atravs do uso de tcnicas de mensurao. Significa acreditar que as cincias humanas tem suas especificidades, uma vez que se dedica ao estudo do comportamento humano e social, e necessita portanto, de uma metodologia prpria, com um modelo que seja diferente do experimental.

    5 No presente texto, paradigma ser usado de acordo com a definio de Thomas Khun; ou seja, como sendo proposies suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de partidrios que se afastam de outras formas proposies que no lhe sejam relacionadas, ao mesmo tempo que so suficientemente abertas para deixar que todo tipo de problema possa ser resolvido por seus seguidores. (KUHN, 1994. p.30)

    9

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    No lugar do mtodo experimental usa-se o mtodo clnico; que consiste da descrio do homem em um dado momento, em uma dada cultura e o mtodo histrico-antropolgico; os quais permitem captar os aspectos fsicos dos dados e acontecimentos, no momento em que eles ocorrem.

    Entretanto, a principal diferena entre a pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa o modo como esta ltima legitima e apreende os conhecimentos. A abordagem qualitativa parte do princpio de que existe uma relao dinmica entre o mundo real e o sujeito, uma dependncia mtua entre o sujeito e o objeto, um elo indissolvel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito: o sujeito-observador parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenmenos, dando-lhes um significado ao passo que o objeto no inerte e neutro; est influenciado pelo significado que o sujeito cria a seu respeito e se relaciona com ele.

    Na base da pesquisa qualitativa esto a fenomenologia, que considera que preciso ir alm das manifestaes imediatas para captar o verdadeiro sentido da impresso imediata de um fenmeno; o interacionismo, que investiga o sentido que os atores sociais do aos objetos, pessoas e smbolos; com os quais constroem o seu mundo social e a maneira de se relacionar com este mundo, com os objetos, smbolos e pessoas com as quais se relaciona; a etnometodologia, que procura estudar as atividades prticas e triviais dos atores sociais e dessa maneira, compreender o sentido que estes atribuem aos fatos e acontecimentos do dia-a-dia e, a dialtica insiste na relao dinmica entre sujeito e objeto, valoriza a contradio dinmica do fator observado e a atividade criadora do observador.

    A pesquisa qualitativa tem alguns aspectos que lhe so caractersticos: O problema surge, principalmente, em funo de um processo indutivo

    que vai se definindo e se delimitando a partir do contexto social e ecolgico onde se realiza a pesquisa.

    A delimitao do problema no resultado de uma afirmao individual e previamente formulada pelo pesquisador, para a qual ele recolhe dados que a comprovem. Pelo contrrio: pressupe a imerso do

    10

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    pesquisador na vida e no contexto, no passado e nas circunstncias que condicionam o problema e a convivncia prtica com as experincias e percepes que as pessoas tm dele de modo a descobrir fenmenos que esto alm das aparncias imediatas. feita, portanto, num campo no qual a questo inicial colocada explicitamente, revista e reorientada em funo do contexto e das informaes proporcionadas pelas demais pessoas envolvidas com o problema.

    O pesquisador parte fundamental da pesquisa qualitativa. Ele precisa livrar-se de preconceitos, predisposies e assumir uma atitude aberta s manifestaes que observa, sem antecipar explicaes nem se deixar levar pelas aparncias imediatas. Precisa ter claro que o conhecimento uma obra coletiva, que todos os envolvidos na pesquisa podem identificar seus problemas e necessidades e encontrar alternativas e propor estratgias de ao. Segundo esses princpios, temos dois tipos de pesquisador: aquele que

    faz um pesquisa implicada na qual o pesquisador experincia o espao, o tempo vivido pelos investigados e partilha da experincia deles para reconstituir adequadamente o sentido que eles do a esta experincia. J o pesquisador que faz uma pesquisa militante procura se identificar organicamente com a vida e os interesses dos sujeitos pesquisados com o objetivo de form-los para a ao e para a atuao poltica em defesa dos seus interesses .

    Todos os participantes da pesquisa so considerados como sujeitos capazes de elaborar conhecimentos e produzir prticas apropriadas para intervir nos problemas que identificam ou seja, identificam os problemas, analisam-nos , discriminam as prioridades e prope solues de modo a possibilitar a criao de uma relao dinmica entre pesquisador e pesquisado que deve se manter durante toda a pesquisa, at seu resultado final.

    Os dados, so tratados como fenmenos que no esto restritos s percepes sensveis e aparentes. Ao contrrio, se manifestam atravs

    11

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    de uma complexidade de oposies, de revelaes e ocultamentos. Todos os fenmenos so importantes e preciosos, sejam a constncia com que se manifestam, sua ocasionalidade, freqncia e interrupo, fala ou silncio. Todos os sujeitos so igualmente dignos de estudo.

    As principais tcnicas utilizadas compreendem; observao participante, biografia, anlise de contedo, entrevista no diretiva. Tais tcnicas criam um corpus que segundo Habermas se baseiam na racionalidade comunicacional.

    A Coleta de Dados na Pesquisa Qualitativa

    O objetivo da pesquisa qualitativa levar ao esclarecimento de uma situao com o objetivo de uma tomada de conscincia por parte dos pesquisados a respeito dos seus problemas, e das condies que os geram de modo a criar estratgias para solucion-los.

    Os dados so colhidos interativamente e compreendem uma Situao a Esclarecer, uma Conscincia a ser obtida e um Meio e uma estratgia para resolver

    As tcnicas bsicas so: Observao participante refere-se quela obtida atravs da realizao

    de trabalho prtico que permita o contato direto do pesquisador com o pesquisado no momento em que este esteja produzindo o fenmeno que se quer observar e analisar

    Entrevista no diretiva diz respeito a uma forma de colher informaes baseadas no discurso livre do entrevistado.

    Histria de vida um instrumento que privilegia a coleta de informaes que dizem respeito vida pessoal de um ou mais informantes. Pode ser autobiogrfica, psicobiogrfica

    Anlise de contedo refere-se coleta de dados presentes num documento, seja ele escrito, oral, gestual ou visual.. O objetivo compreender criticamente o sentido das comunicaes, sejam eles manifestos ou latentes, explcitos ou ocultos.

    12

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    Pesquisa-ao prope uma ao deliberada objetivando uma mudana na realidade que seja comprometida com um campo restrito, que faa parte de um projeto mais geral e que se submete a uma disciplina para alcanar 0os efeitos do conhecimento

    Estudo de caso, serve para designar pesquisas que coletam e registram dados a respeito de um caso particular ou de vrios casos, com a inteno de organizar um relatrio ordenado e crtico de uma experincia, avali-la analiticamente visando tomar decises a seu respeito ou propor uma ao transformadora. Tal relatrio pode ser representado de modo a apresentar mltiplos aspectos que envolvem um problema, situ-lo num contexto e indicar as possibilidades de ao para modific-lo.

    As premissas da pesquisa qualitativa seguem as seguintes proposies: O conhecimento leva a uma ao, e a pesquisa pode se constituir numa

    oportunidade para formar os pesquisados para que transformem os problemas que enfrentam.

    Os pesquisados devem possuir a capacidade potencial de identificar suas necessidades, formular seus problemas e organizar sua ao;

    A eficincia desse processo depende da participao ativa dos pesquisados na descoberta de suas necessidades e tambm da organizao dos meios que o auxiliem a modificar o que considerado insatisfatrio.

    sempre positivo estabelecer-se etapas de trabalho, o que facilita descobrir quais so as questes prioritrias e quais so as aes mais eficiente para transformar a realidade. Antes de mais nada ee importante definir se a pesquisa descritiva: que se limita a revelar um problema; avaliativa; que descreve o problema e trabalha os procedimentos necessrios para transformar ou se Interventiva; que objetiva organizar uma mudana intencional nas situaes indesejadas.

    As fases: 1 fase: Determinao da pesquisa.

    13

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    2 fase: Definio da pesquisa 3 fase: Estratgia de ao.

    4. Elementos para Elaborao do Trabalho Cientfico 6Em linhas gerais, para se planejar uma pesquisa, deve-se levar em considerao, alm do Mtodo; da Metodologia e do Tipo de pesquisa, os seguintes elementos

    Fontes de Informao A Pesquisa sobre um determinado problema depende das fontes de informao as quais podem provir de observaes, de reflexes pessoais, de pessoas que adquiriram informao pelo estudo ou que participaram de um determinado evento, do acervo de bibliotecas, centros de documentao ou de qualquer registro que contenha dados.

    Observao A observao o ncleo primeiro nas pesquisas que buscam concluses a partir da experimentao. Pode ser metdica e estruturada e precisa de tcnicas de controle e classificao do fatos, o que leva construo de grades de comportamentos observveis. Atualmente, tem crescido o uso da observao participante, na qual o observador se encontra envolvido no processo da observao e elabora as evidencias que so observadas, interagindo,com o objeto. Justificativa e Problema onde se expe a razo de ser da pesquisa. O mais importante numa pesquisa a existncia de um problema. Ento, deve-se esclarecer quem vai avaliar o projeto a respeito:

    1. da histria do problema (como surgiu? como foi percebido?), 2. do contexto e da rea em que o problema se insere (como andam as pesquisas, os debates e as diversas opinies a seu respeito)

    Para tanto, o problema deve ser Enunciado

    6 Cf. INCIO FILHO, Op. Cit. P. 49-77

    14

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    (Ex. A partir de estudos percebi que existe diferena e/ou semelhana entre tal e tal coisa)

    Delimitado Que consiste basicamente em situar temporal e geograficamente o problema.

    Hiptese A hiptese direciona o problema que se pretende pesquisar. Trata-se da idia geral que se pretende demonstrar e que, tendo sido demonstrada, torna-se uma tese. Entretanto, ela no precisa ser, necessariamente, a soluo do problema pois do contrrio no haveria pesquisadores e sim adivinhos. prefervel uma hiptese a vria uma vez que a hiptese mostra a capacidade de sntese do pesquisador. Resultados esperados So as metas a serem atingidas no tocante realidade concreta aps os objetivos terem sido alcanados. Representam a possibilidade de interveno na realidade problemtica, com o objetivo de modific-la. Para saber quais so, pergunta-se: Que benefcios sociais pode trazer a realizao desta pesquisa. Em que medida a soluo desse problema permitir uma interveno na realidade concreta? De que maneira isto pode contribuir para a erradicao do problema real? Objetivos: Referem-se ao aspecto acadmico da pesquisa. So considerados em relao ao problema (Objetivos Intrnsecos: Ex. Este trabalho pretende demonstrar Para sua concretizao, pretendo evidenciar assim como) e em relao instituio que pede a investigao (Objetivos Extrnsecos ou institucionais: Ex. Este trabalho foi realizado para a obteno do ttulo de mestre).

    Constituem-se no ponto de chegada no que se refere ao teste da hiptese. So tambm chamados de Objetivos Gerais (que se relacionam com a obra. Equivalem aos intrnsecos) ou Objetivos Especficos (referem-se s subunidades ou captulos.

    15

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    Fundamentao terica: Consiste em apresentar os conceitos fundamentais, as categorias e os pressupostos tericos enfim, os paradigmas - que sero utilizados na anlise que se pretende realizar.

    Conceito todo processo que possibilita a descrio, a classificao e a previso dos objetos de conhecimento. Categorias so as leis fundamentais do pensamento. definida pelo objeto (Ex. Trabalho uma categoria econmica) ou pelo enfoque (Ex. A estrutura central no estruturalismo). Pressupostos so afirmaes a priori que se faz que ou no tm necessidade de demonstrao ou que ainda no so possveis serem demonstradas

    16

  • SIQUEIRA; Adilson - Contribuio para uma metodologia de pesquisa em artes I [email protected]

    5. - Bibliografia

    CASTRO, Claudio de Moura. A Prtica da Pesquisa.So Paulo: Mcgraw-Hill do Brasil, 1977 CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Cincias Humanas e Sociais. So Paulo: Cortez, 1991. CONDE, MAURO LCIO LEITO. O Crculo de Viena e o Empirismo Lgico in http://www.fafich.ufmg.br/~scientia/art_mauro2.htm#5 HOUAISS, Antonio e VILLAR, Mauro Salles. Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 INCIO FILHO, Geraldo. A Monografia na Universidade. Campinas: Papirus, 1995. KAPLAN, Abraham. A Conduta da Pesquisa. So Paulo: USP, 1969 KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revolues Cientficas. So Paulo: Perspectiva, 1994 LAKATOS, Eva Maria . MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Cientifica. So Paulo: Atlas, 1991. _____________________________ Fundamentos da Metodologia Cientifica. So Paulo: Atlas, 1991. POPPER, Karl. Lgica da Investigao Cientfica. So Paulo: Abril Cultural, 1980.

    17

    CONTRIBUIO PARA UMA METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTES I1. - Apresentao2. - MTODO: Das origens aos usos contemporneos3. - Metodologia: as bases das cincias humanas e sociais a servio das artesOs Principais Tipos De Pesquisa (Em Uso Nas Artes)Pesquisa Experimental ou Cientfica Tipos de pesquisa experimental:A Coleta de Dados na Pesquisa Qualitativa

    4. Elementos para Elaborao do Trabalho Cientfico 5. - Bibliografia