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CONTRIBUIÇÕES GERADAS PELA
CONSTRUÇÃO DA ESTRADA
“INTEROCEANICA SUR”
INTERLIGANDO PERU-BRASIL:
ESTUDO DE CASO
Fernando Silva
(LATEC/UFF)
Resumo Este artigo faz uma análise dos principais aspectos que marcaram a
construção da Estrada Interoceanica Sur interligando o Peru ao
Brasil, executada pela empresa Intersur Concesiones S/A, consórcio
constituído pelas três maiores empresas braasileiras de engenharia:
Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Queiroz Galvão, apresentando
os benefícios gerados; as dificuldades enfrentadas no decorrer da
obra; as ações praticadas em relação à política ambiental e social; e
as características gerais do empreendimento.
Palavras-chaves: Estrada Interoceanica Sur, Política ambiental e
social, Obra.
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
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1. INTRODUÇÃO
A administração para o desempenho da excelência e da vantagem competitiva
constitui o foco das organizações modernas. O alcance de objetivos de qualidade em todos os
níveis organizacionais e aspectos das operações estão sendo considerado como os critérios
universais do desempenho organizacional. As demandas competitivas de uma economia
globalizada constituem uma importante força na corrida para a chamada qualidade total.
A norma internacional ISO 9000 constitui um selo de aprovação e garantia e, é hoje
uma necessidade para ingressar nos negócios internacionais, uma vez que todas as
organizações do mundo o exigem como condição preliminar. As normas ISO 9000
representam um plano de qualidade e um manual apropriado para o nível de sistema de
qualidade exigido.
Da mesma forma, verifica-se que as pressões ambientais atuam sobre os
administradores para que eles ajudem suas organizações a alcançar produtividade e padrões
elevados de qualidade ao consumidor. De acordo com Moller (1999), colocar as pessoas em
primeiro lugar e qualidade pessoal representa uma revolução no campo do desenvolvimento
da qualidade. Essa revolução na conscientização de qualidade não substitui as ideias
tradicionais a respeito do assunto. O novo modo de pensar completa e amplia os antigos,
acrescentando novas dimensões à ideia de desenvolvimento da qualidade: melhorar as
relações humanas, fortalecer a comunicação, formar espírito de equipe e manter padrões
éticos elevados.
Nesse sentido, este artigo faz uma abordagem analítica da construção da Estrada
Interoceanica Sur, ligando o Peru-Brasil, executada pela empresa Intersur Concesiones S/A,
consórcio constituído pelas três maiores empresas brasileiras de engenharia: Andrade
Gutierrez, Camargo Correa e Queiroz Galvão. Assim, os objetivos são apresentar os
benefícios gerados pela obra para ambos os países e a política de gestão ambiental e social
adotada pela empresa Intersur Concesiones S/A.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 As políticas de qualidade nas empresas
A adoção dos critérios de excelência serve como importante instrumento de auto-
avaliação das organizações e contribui fortemente para o vigoroso salto de qualidade
transcorrido nos últimos anos, especialmente por aquelas que utilizam as avaliações para a
implementação de melhorias e como referencial para o seu planejamento estratégico. O
estabelecimento de objetivos assegura a manutenção de iniciativas visando à qualidade. As
metas devem se específicas e integradas tanto ao ciclo de planejamento anual quanto à
avaliação de desempenho anual de cada indivíduo.
A Fundação Nacional da Qualidade – FNQ (2007) entende as organizações como
sistemas vivos, integrantes de ecossistemas complexos, com os quais interagem e dos quais
dependem. A excelência em uma organização depende fundamentalmente de sua capacidade
de perseguir seus propósitos em completa harmonia com seu ecossistema.
Nesse sentido, FNQ (2007) afirma em síntese, que a qualidade pode ser definida como
um conjunto de procedimentos que se iniciam com o conhecimento das necessidades e
expectativas do cliente, influenciando na confecção original (projeto) de um produto ou
serviço, bem como na sua confecção final, com objetivo de cativar, manter e satisfazer o
consumidor. Assim, observa-se que a implantação da gestão pela qualidade é um processo
educacional, que extravasa as fronteiras das organizações, em que o primeiro passo é
desenvolver meios e métodos para conquistar e conservar o cliente.
A introdução de políticas de qualidade nas empresas mostrou a importância de uma
forte adesão para o sucesso da implantação de uma determinada política empresarial.
Abordagem e determinação semelhantes são necessárias para que sejam atingidos os objetivos
do processo de gerenciamento da qualidade, conforme mencionado anteriormente. O aumento
da competitividade evidencia que uma mesma abordagem em relação às várias políticas pode
ser altamente eficiente para as empresas.
As auditorias internas e externas da qualidade são consideradas importantes
ferramentas de avaliação da Gestão pela Qualidade Total. Alguns benefícios podem ser
destacados, como por exemplo: melhoria das medições; garantia da satisfação do cliente
externo e do cliente interno; monitoração da melhoria contínua; medição e relato da eficiência
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e da eficácia do processo; melhoria do desempenho financeiro; monitoração da eficiência do
pessoal; identificação das áreas passíveis de ações corretivas; entre outras (KAPLAN &
NORTON, 1997).
Promover uma atitude natural de prevenção de erros sob a égide do gerenciamento da
qualidade será um grande avanço no sentido de se evitar os sérios efeitos negativos. A
melhoria da qualidade só terá seu caminho desobstruído através de uma constante vigilância e
uma percepção aguçada das barreiras. É preciso também neutralizá-la antes que elas adquiram
maior importância no processo.
Tudo o que possa ser dito será insuficiente para enfatizar a necessidade de um
envolvimento contínuo da alta administração no processo de melhoria da qualidade. Esse
envolvimento vai desde a definição inicial de uma política e uma estratégia até o
monitoramento da implementação do processo.
2.2 Aspectos de desenvolvimento sustentável
A organização deve buscar o desenvolvimento sustentável; identificar os impactos na
sociedade e executar ações preventivas para eliminar ou minimizar os impactos em todo o
ciclo de vida das instalações, produtos e serviços. Adicionalmente, busca-se preservar os
ecossistemas naturais, conservar os recursos não-renováveis e racionalizar o uso dos recursos
renováveis. Além do atendimento e superação dos requisitos legais e regulamentares
associados aos seus produtos, serviços, processos e instalações (FNQ, 2007).
O exercício de cidadania pressupõe o apoio a ações de interesse social e pode incluir: a
educação e a assistência comunitária; a promoção da cultura, do esporte e do lazer, e a
participação no desenvolvimento nacional, regional ou setorial. A liderança da cidadania
implica influenciar outras organizações, públicas ou privadas, a se tornarem parceiras nestes
propósitos e, também estimular as pessoas a se engajarem em atividades sociais (FNQ, 2007).
Nessa linha, executivos das maiores e das mais diversas corporações mundiais
desenvolvem políticas de sustentabilidade que incluem projetos de responsabilidade
socioambiental, que virou a nova lei de sobrevivência no mercado, pois o tema
sustentabilidade é comum a todos.
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2.3 Aspectos de sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional
As diretrizes sobre sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho emitidas pela
Organização Internacional do Trabalho – OIT representam um grande avanço na abordagem
que vem sendo dada nesse segmento.
Os sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional – SSO, junto com os sistemas
de gestão da qualidade e gestão ambiental, significam iniciativas voluntárias das organizações
para a melhoria contínua da qualidade dos produtos/serviços, do meio ambiente e dos
ambientes organizacionais e para superar as limitações do modelo de comando-controle
tradicional. Eles não objetivam substituir a estrutura legal, porque a implementação dos
mesmos tem como requisito básico a conformidade com a legislação nacional vigente
(FUNDACENTRO, 2005).
A política de gestão em segurança e saúde no trabalho a ser observada pela
organização pertence à competência exclusiva da alta administração, devendo considerar a
segurança e saúde no trabalho como parte integrante do negócio, e como responsabilidade
primeira de todos os níveis gerenciais (FUNDACENTRO, 2005). A alocação de recursos
financeiros, materiais e humanos apropriados à implementação da política, a publicidade
interna e externa dos objetivos da segurança e saúde no trabalho, assegurando-se do seu
entendimento, implementação e desenvolvimento em todos os escalões da empresa, bem
como o treinamento de todos os trabalhadores devem ser objeto de auditoria e análise crítica
periódicas para verificação do nível de conformidade com a política implementada.
Portanto, a conscientização de todos para a implantação do sistema de segurança deve
ser estimulada com esse objetivo e alguns instrumentos já existentes nas empresas podem ser
usados propiciando a participação dos trabalhadores, um exemplo disso, é a utilização da
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA e do Serviço Especializado em
Medicina e Segurança do Trabalho – SESMT, nas empresas onde for exigida sua formação.
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3. INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA REGIONAL SUL AMÉRICA
– IIRSA
Na reunião de cúpula, La Cumbra das Americas1, com chefes de estado e governo de
doze países da América do Sul realizada na capital federal, em Brasília, no ano de 2000, com
o apoio de três agências multilaterais da região: CAF, BID e FONPLATA, foi assinado um
acordo estabelecendo ações para o desenvolvimento regional sulamericano, que se denominou
Integração da Infraestrutura Regional Sul América – IIRSA.
Este sistema IIRSA é importante, porque favorece a todos os países da América do Sul
com a implantação de redes de infraestrutura viária, de energia e de telecomunicações até
2016. Nos projetos de infraestrutura de transporte se identifica 10 pontos centrais de
integração e desenvolvimento, dentre eles, encontra-se o eixo Peru- Brasil, que liga Brasil,
Bolívia e Peru.
3.1 Benefícios da IIRSA
Os benefícios apontados pela IIRSA em relação à economia, infraestrutura,
microeconomia e empresas locais do Peru são relacionados a seguir:
Economia
a) Saída pelo Atlântico com menos custos e tempo.
b) Abertura do mercado brasileiro a produtos e serviços peruanos.
c) Oportunidades de intercâmbio comercial com o Brasil para o desenvolvimento
socioeconômico local.
d) Oportunidade de incrementar o turismo vindo do Brasil.
Infraestrutura
1 La Cumbre das Americas é uma reunião de chefes de estado e de governo da América, proporcionada pela
Organização dos Estados Americanos – OEA, e celebrada em alguma cidade do continente com o objetivo de
formar uma estratégia comum para resolver os problemas do continente. Participam do evento 34 nações
americanas com exceção de Cuba, a qual foi excluída em 1962, devido ao não reconhecimento do governo
revolucionário por parte desta organização, somente em 2009 foi reconhecida e reincorporada ao organismo
regional. O processo de participação é essencialmente formal e se abordam múltiplos temas. Anos atrás as
discussões se concentraram na formação de uma área de livre comércio das Américas (ALCA) que devia ter
entrado em vigor em janeiro de 2005, porém não aconteceu.
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a) Melhora da infraestrutura do transporte (melhora das estradas).
b) Integração com toda a zona sul do país.
c) Oportunidade de intercâmbio comercial com o Brasil para o desenvolvimento
socioeconômico local.
d) Melhores serviços (hotéis, restaurantes, comércios locais).
Microeconomia e empresas locais
a) Integração da economia com outros mercados.
b) Criação de novos mercados de produção de consumo.
c) Desenvolvimento do processo produtivo (cadeias de valor e de produção).
d) Maior competitividade.
e) Acesso a novos mercados (maior vitalidade).
f) Diminuição do custo do transporte.
g) Aumento do turismo interno e externo.
h) Desenvolvimento de novos centros de povoados.
i) Aumento do valor dos prédios perto da estrada.
j) Melhora nos acessos aos povoados perto da estrada.
k) Maior fiscalização do Estado relativo à mineração e a devastação florestal ilegal.
3.2 Estrada Interoceanica Sul
A Estrada Interoceanica Sul está sendo construída pelo consórcio Intersur Concesiones
S.A, formado pelas três maiores empresas brasileiras de engenharia: Andrade Gutierrez,
Camargo Correa e Queiroz Galvão. A Intersur é responsável pela construção, manutenção e
operação do trecho 4, que vai da Ponte Inambari até Azangaro, do corredor Peru-Brasil, que
corresponde a 306 km de rodovia. O prazo de concessão é de 25 anos, a obra ficou em US$
539.5 milhões, e foi financiada pela Associação Pública Privada – APP. O término da obra
principal está prevista para 22 de junho de 2011.
As principais obras são de reabilitação e construção de pavimento dos 306 km;
melhoramento e construção de bermas; construção, reconstrução e reabilitação de sistemas de
drenagem; estabilização e proteção de taludes; defensas riberenhas; construção e reconstrução
de pontes e alcantarilhas; sinalização e elementos de segurança viária; construção de novos
postos de pedágio e pesagem; instalação de postos policiais; e incrementacão de
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equipamentos necessários para prestação de serviços dos usuários. Cabe ressaltar que todos
estes trabalhos se realizam com altos níveis de segurança do trabalho.
O numero de trabalhadores envolvidos alcançou um total de 1.200 pessoas, sendo que
100% da mão-de-obra não qualificada era composta de mão de obra local. O número de
equipamentos utilizados para execução da obra foi de 480 máquinas no pico máximo de
trabalho, ou seja: tratores, escavadoras, niveladoras, caminhões, rolos compactadores e etc.
3.2.1 Características da obra
A obra da Estrada Interoceanica Sul interliga os dois países Brasil e Peru. O seu
traçado foi desenvolvido em regiões distintas, teve início no Altiplano peruano até alcançar a
região de selva alta, também no Peru. Na figura abaixo se pode observar os setores segundo o
relevo da região onde se construiu a estrada.
As principais cidades que foram beneficiadas com a construção desta estrada estão
situadas em território peruano. O TRAMO 4 foi construído pelo consórcio das empresas
brasileiras: Queiroz Galvão, Camargo Correia e Andrade Gutierrez. O trecho seguinte foi
construído por outra empresa também brasileira, alcançando território brasileiro.
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O TRAMO 4, objeto deste artigo, começa na cidade de Azángaro, com uma
população de costumes característicos do Altiplano, onde se percebe uma ideologia de vida
bem definida por seus habitantes. O idioma predominante da população nativa é o “quechua”,
sendo que a nova geração fala também espanhol. Quanto ao clima, se caracteriza por
condições extremas de temperatura, por causa da altitude de 4.873 m acima do nível do mar e,
o seja, entre -12ºC e +34ºC, dependendo do horário e da época do ano, com ocorrências de
fortes precipitações além de granizadas frequentes em épocas de chuvas.
Altiplano Peruano
O primeiro trecho da estrada esta localizada entre o povoado de Azángaro e Macusani.
Em Azángaro ela passa por uma „via de evitamento‟ (variante fora do perímetro urbano), além
disso, ela cruza a cidade de Asíllio, a cidade de Progresso, a cidade de San Anton, a cidade de
Antauta e por ultimo a cidade de Macusani. Cabe ressaltar que este trecho esta situado no
altiplano peruano.
Os impactos positivos, produto da execução deste trecho, foram a integração entre
Azángaro e os outros povoados, o desenvolvimento do comercio local etc.
Azángaro e Macusani são os povoados com maior número de habitantes, onde foi
desenvolvido o traçado no Altiplano, passando pelo ponto mais alto denominado, Oquepuño a
4.873m acima do nível do mar.
Quanto aos aspectos de engenharia, pode ser citado no trecho correspondente ao
Altiplano, a presença de obras como pontes, pavimentação e cortes bem pronunciados em
alguns setores, além das obras de artes menores.
Durante a execução das obras envolvidas na construção deste trecho, foi adotado um
modelo de gestão de forma a obter um resultado planejado e considerando o grau de
dificuldade moderado, com exceção das condições climáticas muito adversas na região do
Altiplano.
O ponto mais difícil foi a região de Oquepuño onde a altitude ultrapassava os 4.873
metros acima do nível do mar, com grande rarefação do oxigênio que, afetava não somente as
condições humanas como também os rendimentos dos equipamentos em operação como se
pode observar nas fotos apresentadas adiante.
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PISTA EM SENTIDO PROGRESO
PONTO MAIS ALTO DA ESTRADA - OQUEPUÑO
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Outro fator importante a ser considerado foi o relacionamento com a comunidade, que
por várias vezes reivindicaram a contratação de mão-de-obra local não qualificada, isso
interferiu no andamento da obra. Por esse motivo se adotou um sistema de contratação
temporária rotativa por um período de três meses, dessa forma, conseguiu atender um maior
número de famílias com um trabalho digno, muito escasso na região.
FOTO LOGO APÓS REUNIÃO COM A COMUNIDADE
FOTO DURANTE A REUNIÃO COM A COMUNIDADE
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Quanto às condições específicas da obra, tais como a fabricação do concreto utilizado
nas estruturas, o processo do mesmo foi característico para a região onde houve a necessidade
de aquecer a água da massa para atender as condições adequadas para o concreto conforme
fotos a seguir.
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Na região do Altiplano, a obra em si, teve uma presença marcante nas principais
comunidades durante e depois da construção.
Os impactos negativos foram insignificantes tais como a elevação dos níveis de ruído,
mas foram compensados com a oportunidade pela contratação de mão-de-obra local direta e
indireta; e após a construção os tempos menores de acesso entre as comunidades e também
aos centros maiores como Juliaca e Puno que são de grande expressão na comunidade Andina
Peruana. As fotos apresentadas adiante mostram as condições antes e depois da construção.
Vista de San Anton, antes da pavimentação e execução da via dupla
Vista de San Anton, depois da pavimentação e execução da via dupla
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Cordilheira dos Andes
O trecho entre a cidade de Macusani e o povoado de San Gabán está situado em
grande parte nas Cordilheiras dos Andes, onde foi possível notar o maior grau de dificuldade
encontrado na obra. O traçado da estrada nesse trecho foi desenvolvido em meia ladeira,
sendo muito sinuoso com curvas de concordâncias pequenas e declividades na ordem de 12%
em alguns trechos. Do altiplano com elevações na ordem de 4.873 metros de altitude chega-se
em San Gabán com 640 metros acima do nível do mar.
Esse trecho com uma extensão de 122 km e um desnível na ordem de 4.233 metros tem as
piores condições geológicas resultando em cortes altos com grande risco de acidentes.
LIMPEZA DE CORTE PRONUNCIADO DEPOIS DA DETONAÇÃO
Grande parte desse trecho teve ocorrência de cortes em rochas, que forçou a utilização
de escavação por explosivos, resultando em uma árdua e difícil execução dos cortes para a
implantação da rodovia. Por outro lado o regime hidrológico desse setor provocou grandes
enxurradas com transporte de materiais provocando em vários pontos o fenômeno que se
chama de huaycos, que é o desprendimento por avalanche de rochas soltas devido ao
escoamento superficial em talvegues com declividades muito fortes. Em vários setores a
ocorrência desse fenômeno provocou uma mudança no traçado ou uma alternativa de
engenharia distinta a que foi projetada anteriormente. Nesse trecho também se verificou a
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ocorrência de restos arqueológicos, o que levou a modificar o traçado durante a execução da
obra.
Com relação às obras de artes especiais foram construídas um total de 17 pontes, onde
foram aplicadas diferentes técnicas no projeto das pontes, sendo em alguns casos adotado no
cálculo como ponte integral, uma técnica possível de ser executada nos casos de grandes
ocorrências sísmicas, onde logra com sucesso a implantação de pontes estáveis
estruturalmente.
O acampamento de obras para esse setor ficou localizado a 1,5 km do povoado de San
Gabán contando com uma infraestrutura de alojamento para os operários técnicos e
engenheiros; cozinha (café da manhã, almoço e jantar); refeitório onde eram servidas as
refeições e também com área de lazer como: sala de jogos, quadra de futebol,
quadra de tênis; posto médico; módulo principal com escritórios; e área destinada a
manutenção de mecânica.
Selva alta
Este setor de selva alta começa em San Gabán e termina na Ponte Inambari, se
caracteriza por selva peruana, localizada entre 640 e 420 metros de altitude, com ocorrências
de chuvas intensas e com afetações em alguns povoados como Puerto Manoa, onde por
questões de espaço não foi possível passar com a rodovia dentro do povoado o que resultou
em uma variante a meia ladeira ao lado esquerda do povoado.
O pavimento foi projetado em asfalto com 7,5 de espessura sobre base e sub-base com
uma largura de 6,60 m. As principais dificuldades encontradas durante a execução desse
trecho foi à ocorrência de vários pontos com transporte de sólidos durante as chuvas intensas
que se denomina “huayco”. Nesses pontos a solução de engenharia encontrada foi a
implantação de passes molhados, em espanhol “baden” por se tratar de um trecho que permite
a passagem da água e dos materiais sólidos transportados. Durante as horas que ocorre o
fenômeno de “huayco” o trânsito permanece paralisado, logo que passa a chuva o material é
retirado da pista, e o trânsito passa a circular. Esse tipo de estrutura tem seu perfil de forma
que conduz as águas sobre um pavimento de concreto devidamente dimensionado para resistir
aos impactos do material que rola sobre a pista.
Entre San Gában e Ponte Inambari também teve a ocorrência de grandes cortes em
rocha acarretando alguns atrasos da obra pelo grau de dificuldade desse tipo de escavação
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por fogo. O relacionamento com a comunidade também foi característico da região por contar
com a presença da “ronda campesina”, que é a união dos camponeses em forma
de uma polícia local representada pela própria comunidade, haja visto a falta da presença da
polícia nacional nesta região. Portanto, o avanço da obra só foi possível com acordos com a
ronda campesina, quanto à contratação de mão-de-obra local temporária e a execução de
alguns benefícios para a comunidade.
Uma das comunidades mais beneficiadas foi a comunidade de San Gabán que recebeu
a construção de uma via dupla o que facilitou muito seu comércio, considerando que todo
tráfego que vem de Porto Maldonado ou até mesmo do Brasil tem como ponto de descanso
esta comunidade, pois daí em diante o tráfego segue em sentido ao Altiplano, e tem que
transitar por os trechos anteriormente comentados (Los Andes), onde o trajeto além de
perigoso por se tratar de grandes altitudes, encontra condições adversas em relação a
rarefação do ar. Por este motivo a cidade de San Gabán se tornou um ponto de parada
obrigatória ao tráfego. Neste trecho foram construídas 29 pontes além de bueiros e canaletas
de drenagem, por se tratar de um trecho propício a grandes precipitações pluviométricas.
O fim do trecho é o encontro com a estrada que vem de Cusco em sentido a Porto
Maldonado, e por sua vez até Assis Brasil, no estado de Rondônia, Brasil.
Se ressalta no final do nosso trecho a arquitetura exuberante das pontes Colgantes que cruza o
rio Inambari nos dos sentidos, sendo a ultima denominada ponte Inambari, ambas com a
mesma arquitetura, (obras realizadas durante o primeiro governo do presidente Fujimory no
Peru).
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VISTA DA PONTE INAMBARE
3.2.2 Dificuldades enfrentadas no decorrer da obra
As maiores dificuldades identificadas foram a geologia local, topografia acidentada e
fenômenos naturais tipo huayco.
3.2.3 Benefícios
Os muitos benefícios alcançados com a construção da Estrada Interoceanica Sul são os
seguintes:
a) Ocupação plena do território peruano, integrando os povos aos espaços regionais.
b) Acesso a exploração dos recursos e potencialidades incorporando as economias
regionais e os recursos naturais exploráveis da área de influência.
c) Vinculação do sul do Peru com o oeste brasileiro e a vinculação do Brasil com a
Ásia através dos portos peruanos.
d) Maior valorização da terra no percurso da estrada.
e) Melhora a relação comercial entre os dois países.
f) Vinculação terrestre entre o Mercosul e Atlântico com o Pacifico.
g) Dinamiza a atividade econômica e a utilização das tarifas preferencial do Peru com
terceiros, produtos do TLC com USA beneficiando o Brasil.
h) Transporte de passageiros e cargas:
Diminui custos
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Maior volume e fluxo de tráfico.
Maior segurança para o trânsito.
Economia de tempo.
Melhora nos serviços para usuarios.
i) Outros
Impulso ao desenvolvimento turístico.
Novos projetos de infraestrutura turística.
Desenvolvimento socioeconômico dos centros povoados e dos produtores
localizado em torno da estrada.
Incremento da exportação.
Maior uso da capacidade portuária no porto de Ilo e no porto de Matarini.
3.2.4 Responsabilidade social
O plano de responsabilidade social está dividido em três dimensões: social, econômica
e ambiental como ilustra o quadro 1.
Dimensão social Dimensão econômica Dimensão ambiental
Campanhas médicas Estudo do potencial turístico Campanha de limpeza e
dedetização
Doação de medicamentos a
centros de saúde
Reabilitação do pátio frontal da igreja
colonial de Asillo
Desenho e implementação de
aterro sanitário
Orientação vocacional Limpeza e arranjo das águas térmicas
Quilca - San Antón
Concursos escolares de
reciclagem
Entrega de bolsas de estudos Capacitação em confecção de
artesanatos
Palestras do meio ambiente a
população em geral
Construção de quadras desportivas Criadouro de truta
Qualificação a docentes,
transportistas, líderes, etc.
Consulta e participação do cidadão
Apoio a publicações e projetos
escolares
Quanto à dimensão social, é dado apoio a saúde e a educação. São realizadas
campanhas médicas com consultas nas especialidades de odontologia, ginecologia, pediatria e
clinica geral.
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Em relação à dimensão econômica, a Intersur Concesiones S.A favorece o
desenvolvimento do turismo e artesanatos locais, e apóia as iniciativas de produção
comunitárias como o criadouro de trutas, na comunidade camponesa de Pacaje. Vale ressaltar
que existem locais de capacitação para a confecção de artesanatos próprios da região, como,
por exemplo, trabalhos com lã de alpaca e ovelha, e de couro.
Quanto à dimensão ambiental é fornecido apoio comunitário, trabalha-se na
conscientização ambiental junto à população. Para isso são realizadas campanhas de
reciclagem; caminhadas de conscientização; concursos de desenhos; realização de palestras e
capacitação em centros educativos. É também dado suporte aos municípios para a instalação
de aterro sanitário nas cidades de San Antón, Ollachea e San Gában, além de promover
campanhas de limpeza em San Antón, Macusani e San Gában.
3.2.5 Gestão ambiental e social
A Intersur Concesiones S.A estabeleceu uma política de gestão ambiental e social, que
reúne vários programas. Primeiramente são descritos os programas de gestão ambiental:
a) Programa de medidas preventivas, corretivas e compensatórias.
b) Programa de seguimento e monitoramento ambiental.
c) Programa de capacitação e educação ambiental.
d) Programa de segurança e saúde laboral.
e) Programa de contingência.
f) Programa de manejo de resíduos.
g) Programa de abandono de obra (ao concluir).
h) Programa de sinalização ambiental.
i) Programa de manejo de impactos sociais.
Foram identificados onze locais arqueológicos ao longo do caminho do trecho 4,
sendo os mais importantes: Chichacori localizado no km 223, e o Santuário do Largato, no km
294; e foram realizadas intervenções nesses locais com a finalidade de protegê-los.
Os programas de gestão social são relacionados a seguir:
a) Consulta aos grupos de interesses- são realizadas reuniões de coordenação com as
autoridades locais, associações populares, organizações de base e instituições
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educativas para programar as atividades informativas sobre o projeto viário e sua
implicação sócio-ambiental. Os temas que são tratados são referentes à
importância da estrada Interoceanica; educação viária; proteção dos recursos
naturais e conservação do meio ambiente; palestras sobre saúde; e temas de âmbito
social.
b) Contratação de mão-de-obra local – são criadas comissões mistas
em cada distrito, formada por prefeitos, camponeses, e representantes da sociedade
civil. Essas comissões têm a tarefa de entregar a lista de pessoal da região apto
para trabalhar na empresa com prévia avaliação.
c) Utilização de recursos próprios da região (produtos e serviços).
d) Verificação dos efeitos e das atividades do projeto e da infra-estrutura
complementar.
4. CONCLUSÃO
Conclui-se que a implantação desta estrada se tornou um marco histórico na relação entre os
dois países (BRASIL / PERU), principalmente por permitir um intercambio sócio-econimico-
cultural entre eles.
A de convir que a relação beneficio versus custo deste empreendimento será marcante pelos
próximos anos. Isto porque este meio de integração permitira uma crescente demanda de
exportação brasileira via PACIFICO, resultando no desenvolvimento dos portos peruanos,
uma melhora no nível de vida da população ribeirinha a estrada, trazendo o desenvolvimento
regional no aspecto sócio-economico.
Alem disto possibilitará aos departamentos (Divisão Política Peruana) de PUNO e
SANGABAN se comunicarem, mas rapidamente, e por tanto fomentar o turismo local com as
belezas naturais desta região, como e o caso do lago TITICACA, que apresenta uma forma
diferente de vida sobre as Ilhas Flutuantes deste lago mais alto do mundo.
Por outro lado as regiões do noroeste brasileiro, que vivem basicamente de agricultura e
criação de gado alem do minério de ferro de Carajás, poderão escoar suas produções por meio
do Oceano Pacifico e com isto competir no mercado estrangeiro devido à diminuição do preço
do frete.
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Quanto às pessoas que estavam envolvidas nesta obra, tiveram a grande oportunidade de se
especializarem em um tipo de obra como esta, em condições adversas e com um
relacionamento entre povos tão diferentes. Estas pessoas no meu modo de ver estão aptas a
grandes desafios como os que enfrentaram com a execução da obra.
Tantos os brasileiros quanto os peruanos e bolivianos envolvidos neste empreendimento estão
de parabéns pelo êxito alcançado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FUNDAÇÃO Nacional da Qualidade – FNQ. Conceitos fundamentais da excelência em
gestão. São Paulo: FNQ, 2007.
FUNDACENTRO. Ministério do Trabalho e Emprego. Diretrizes sobre sistemas de gestão
da segurança e saúde no trabalho. São Paulo: Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
Segurança e Medicina do Trabalho, 2005.
KAPLAN, R.; NORTON, D. A estratégia em ação – balanced scorecard. 10. ed. São Paulo:
Campus, 1997.
MOLLER, C. O lado humano da qualidade: maximizando a qualidade de produtos e
serviços através do desenvolvimento das pessoas. São Paulo: Pioneira, 1999.