CONTROLE AUTOMATIZADO DO PROCESSO DE BRASSAGEM NA PRODUÇÃO ... · NA PRODUÇÃO DE CERVEJA...
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CONTROLE AUTOMATIZADO DO PROCESSO DE BRASSAGEM
NA PRODUÇÃO DE CERVEJA ARTESANAL.
Antonio Azeredo¹
Caio Cesar Alvarez Lindstron Preto¹
Prof. Grad. Laerte Edson Nunes²
ABSTRACT - In Brazil craft beer sales increased by 79% between 2008 and 2011. This
context motivated the development of this work, using automation resources, with the goal of improving the control of the craft beer production process. The methodology used is the experimental research, resulting in the development of a prototype able to simplify the complex artisan process of beer production, with many variables, without however impose the product manufacturing characteristics. The prototype uses sensors to monitor and control the process that should be done by a micro controller, enabling remote supervision by software, making use of a standard serial RS 232 communication interface. It intends that in the end of this process to create a differential quality product by precise control of process variables, increase production and reducing costs. This project aims to simplify the craftsman work compatible with their chances cost.
Keywords: Beer Craft, Automation, Prototype , Production.
RESUMO - As vendas de cerveja artesanal no Brasil aumentaram em 79 % entre 2008
e 2011. Esse contexto motivou o desenvolvimento desse trabalho, utilizando os recursos da automação, com o objetivo de melhorar o controle do processo de produção de cerveja artesanal. A metodologia utilizada é a pesquisa experimental, culminando no desenvolvimento de um protótipo capaz de simplificar o complexo processo artesanal de produção de cerveja, com inúmeras variáveis, sem, contudo impor ao produto características fabris. O protótipo utilizará sensores para monitorar o processo e o controle deverá ser efetuado por um micro controlador, possibilitando a supervisão remota, por um software, valendo-se de uma interface de comunicação serial padrão RS 232. Pretende-se ao final, criar um produto de qualidade diferenciada pelo preciso controle das variáveis do processo, aumentar a produção e reduzir os custos. Esse projeto pretende simplificar o trabalho do artesão a um custo compatível com suas possibilidades.
Palavras-Chave – Cerveja Artesanal, automação, protótipo , produção.
¹ Alunos do curso de Tecnologia em Mecatronica Industrial.Faculdade de Tecnologia de Garça.
² Docente da Faculdade de Tecnologia de Garça.
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1 – INTRODUÇÃO
No Brasil atualmente, existem duas grandes vertentes de produção de
cerveja que são as grandes empresas, que produzem uma enorme quantidade de
cerveja a um custo baixo e que moldam a preferência da bebida pelo monopólio
comercial, oferecendo um produto de qualidade extremamente inferior ao produzido
pelas cervejarias tradicionais, e as pequenas empresas que atendem a um nicho de
mercado visando consumidores que procuram cervejas de alta qualidade, bem como
variedades de estilos como as representadas por algumas marcas mundialmente
consagradas como a Guines (Irlanda) a Hoegarden (Bélgica) ou a Paulanner
(Alemanha) entre outras. E as que atuam em mercados regionais e que são mais
conhecidas popularmente como cervejarias artesanais ou microcervejarias.
Ambas possuem grande importância econômica para o Brasil, os grandes
conglomerados demonstrando ao mundo seu potencial comercial como é o caso da
AMBEV atuando em todo o continente americano e as pequenas, que atuam em um
mercado mais restrito, gerando empregos e aquecendo a economia em âmbito
regional.
A vantagem da industrialização, certamente não está na obtenção de um
produto final com qualidade superior, mas sim na capacidade de se produzir grandes
quantidades de um produto que mesmo produzido com ingredientes alternativos,
ainda chega ao copo do consumidor em condições de ser apreciado. A legislação
brasileira estabelece que a cevada, principal ingrediente das cervejas maltadas,
pode ser substituída em até 45% por qualquer grão que seja fonte de amido
fermentável. Dentre os ingredientes de substituição adotados, o milho transgênico é
sem dúvida o mais utilizado pelas cervejarias. Além de conferir leveza à bebida, o
grão diminui os custos de produção. O problema é que, quanto mais adjuntos de
substituição, menor é a qualidade da cerveja. A cerveja artesanal pelo contrário,
além de todo o cuidado e dedicação exclusiva do cervejeiro e o uso de 100% de
malte de cevada, salvos raros estilos, ainda tem a expressiva vantagem de não
precisar ser à prova de obstáculos, como o armazenamento e o transporte, pois é
consumida onde é produzida, ou seja, na própria região, sem aditivos ou
conservantes químicos.
Sejam elas grandes ou pequenas, o fato é que as microcervejarias, foco
deste trabalho, além de terem sua importância socioeconômica e cultural no que
tange a preservação histórica da produção da bebida, têm se mostrado uma
excelente opção de negócio no atual cenário econômico brasileiro, e apesar de
representarem uma fatia de mercado relativamente pequena quando comparado às
grandes líderes, o setor de cervejas artesanais vem crescendo mais do que as
grandes produtoras, refletindo a inclusão cada vez maior de consumidores com
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acesso a um produto diferenciado com características e estilos diversificados
inclusive ganhando adeptos ao conceito de harmonizar o produto com a gastronomia
como é tradicionalmente feito com os vinhos.
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe 2013) estima que existam hoje,
cerca de 200 microcervejarias em atividade, e que elas representam apenas 0,15%
do setor cervejeiro nacional, dominado pelas grandes empresas. Segundo o
Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, o Brasil está entre os três maiores
fabricantes de cerveja do mundo, com um volume anual de cerca de 13,4 bilhões de
litros. As vendas do setor cresceram 54% entre as cervejas comuns e 79% entre as
artesanais de 2008 a 2011. Apesar do crescimento expressivo, o objetivo das
microcervejarias não é se popularizar ou competir com as grandes marcas e sim
oferecer aos seus consumidores, produtos de alta qualidade, fiéis aos vários estilos
e preservando suas características, independente dos custos de produção, que são
em sua grande maioria bem superiores aos que uma produção em larga escala
apresenta.
Corroborando com essa filosofia, e para o bem da cultura cervejeira, na
Europa e Estados Unidos, berço dos grandes conglomerados industriais do
segmento, há mais de 30 anos, iniciou-se o movimento denominado por The Craft
Beer Renaissance (“O Renascimento da Cerveja Artesanal”), que culminou com o
resgate de estilos de cervejas há muito esquecidos, como a barley wine, rauchbier,
doppelbock, porter, pale ale, entre outros, por exemplo. Assim iniciou-se o resgate
da qualidade da cerveja e valorização de quem as produz, o artesão, com o
compartilhamento amplo de conhecimentos e experiências. Hoje, apenas nos
Estados Unidos, conta-se com mais de 30 mil “cervejeiros de panela” como são
conhecidos e quase 2 mil microcervejarias, que quebrando diversos paradigmas,
vêm impressionando o mundo com a qualidade de seus produtos, ensinando aos
seus consumidores a melhor forma apreciar e o que esperar de cada estilo de
cerveja.
Como é observado na maioria dos casos, o apreciador da bebida e sua
cultura, inicia sua produção de maneira tímida, com equipamentos rudimentares e
para seu próprio consumo. A tendência natural é que haja a necessidade de
aumentar a sua capacidade produtiva devido ao compartilhamento do produto com
amigos e familiares, que por sua vez o fazem a outros amigos e familiares criando
assim uma demanda, o que justifica tal necessidade.
Por entender que a cerveja artesanal é um produto de qualidade
diferenciada e tendo em vista que a aceitação e procura pela bebida vem
aumentando, surge então, a possibilidade da produção como uma fonte de renda,
aumentando a capacidade de fabricação utilizando-se dos recursos da mecatrônica
para automação do método produtivo, sem contudo impor ao produto características
fabris, preservando a sua essência de produto artesanal.
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A produção de cerveja artesanal tem a característica de ser do ponto de
vista do processo, uma atividade puramente mecânica. Isso é realmente
comprovado porque nessa atividade aquece-se água em um container por meio de
um fogareiro e é feita uma infusão com os grãos de cevada moídos, sendo
necessário o controle da temperatura utilizando-se um termômetro e a observância
do tempo de preparo por meio de um cronometro, além da necessidade de misturar
o conteúdo de maneira quase ininterrupta, despendendo total atenção e empenho
do produtor. Esse processo é chamado de brassagem no meio cervejeiro.
Com a possibilidade da automação do processo, o desenvolvimento de um
protótipo deverá comprovar a viabilidade do projeto, pois deixará de existir a
necessidade da supervisão por parte do produtor, incumbindo tal tarefa a um recurso
computacional, ou seja, um software supervisório, eliminando desvios dos
parâmetros desejados aumentando a eficiência do processo e consequentemente a
produtividade.
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2 - DESENVOLVIMENTO
A proposta de automatizar o processo de brassagem na produção de cerveja
artesanal, foco deste trabalho, foi motivado pela oportunidade de aumentar a
produtividade e tornar a tarefa um meio de geração de renda, além de melhorar a
qualidade do produto pela precisão no controle do meio e das grandezas nele
envolvidas. Para tanto foi preciso o aprofundamento teórico e o estudo da viabilidade
na utilização de microcontroladores e no desenvolvimento de um software
supervisório. Tais esforços foram direcionados de maneira a suprir as necessidades
de fundamentação para a construção de um protótipo ao qual pudesse confirmar tal
possibilidade.
Segundo Souza, (2008, pg. 1-266) a evolução da eletrônica possibilitou o
acesso a todos os técnicos, tecnólogos e engenheiros á tecnologia dos
microcontroladores, que por assim dizer, é definido como um componente eletrônico
dotado de uma “inteligência programável”, utilizada no controle de processos
lógicos. Dentro desse contexto devemos entender o controle de processos como o
acesso a periféricos tais como botões, interfaces homem máquina, resistências,
relês, servo motores, sensores diversos, eletro válvulas, sinalizadores entre outros.
São também chamados de controles lógicos, pois as operações do sistema são
baseadas em eventos e ações lógicas que ocorrem no decorrer do processo.
O microcontrolador e toda sua lógica de funcionamento e operação são
estruturados na forma de um programa, gravado dentro de si próprio, podendo ser
alterada a qualquer momento, ou seja, ele é programável e ganhou destaque por
sua miniaturização, pois em um único componente eletrônico também conhecido
como circuito integrado, encontramos todos os elementos necessários para o
controle de processos tais como, processador , unidade lógica aritmética, memória
de programa, memória de dados, acesso a entradas e saídas , temporizadores,
contadores, comunicação serial, reguladores de velocidade(PWM), conversores
analógico-digitais etc.
Os microcontroladores operam a uma freqüência muito baixa se comparados
com os microprocessadores atuais, no entanto são adequados para a maioria das
aplicações usuais como, por exemplo, controlar eletrodomésticos ou equipamentos
industriais. O seu consumo em geral é considerado muito baixo, e possuem a
funcionalidade de permanecer em modo de espera (Sleep ou Wait, quando
necessário, aguardando por uma interrupção ou evento externo, como por exemplo
o acionamento de uma tecla, ou um sinal que chega via uma interface de dados. O
consumo destes microcontroladores em modo de espera pode chegar na casa dos
nano watts, tornando-os ideais para aplicações onde a exigência de baixo consumo
de energia é um fator preponderante para a viabilidade do projeto.
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O conceito do uso dos microcontroladores se espalhou rapidamente e
atualmente existe uma grande variedade de produtos para solucionar as mais
diversas necessidades de controle e automação. O primeiro microcontrolador foi
lançado pela Intel em 1978 e recebeu a sigla 8048; que depois evoluiu, dando
origem à família 8051, em 1983. Hoje em dia, uma grande quantidade de fabricantes
de semicondutores oferecem microcontroladores. Dentre elas, citamos a Zilog com
sua família Z8, a National com o COP8, a Motorola com o 6811 e a Microchip com a
linha de microcontroladores PIC.
Para o desenvolvimento do nosso projeto, adotamos o microcontrolador PIC
16F877 A, fabricado pela Microchip Technology onde o número 16 significa que ele
faz parte da família "MID-RANGE", é um microcontrolador da linha de 8 bits, isto
significa que a sua unidade lógica aritmética (ULA) trabalha com palavras de no
máximo 8 bits. A letra F indica que a memória de programa deste microcontrolador é
do tipo "Flash", cada linha da memória é uma palavra de 14 bits. Os três últimos
números permitem identificar precisamente o componente, que neste caso é
um PIC do tipo 877. A referência 16F877 pode ter um sufixo do tipo "XX", que
representa a frequência máxima de operação ou “clock” que o PIC pode receber.
O PIC 16F877 A, tem como suas principais características a arquitetura
RISC (Reduced Instruction Set Computer) ou computador com conjunto de
Instruções Reduzido, neste tipo de arquitetura, o microcontrolador faz tudo usando
poucas instruções básicas que são combinadas de acordo com o que se deseja que
ele faça. O uso de poucas instruções numa arquitetura RISC torna o
microcontrolador muito rápido, pois cada uma delas pode ser executada tipicamente
em apenas um ciclo do clock. Seu conjunto de instruções RISC se compõe de 35
instruções. Sua frequência de operação vai até 20MHz, resultando em uma
velocidade de processamento de cinco milhões de instruções por segundo.
Possui memória flash de programa com 8192 palavras de 14 bits, memória
RAM com 368 bytes e memória EEPROM com 256 bytes.Pode funcionar com
alimentação de 2V a 5,5V. Sua pinagem DIP tem 40 pinos.
A versão mais recente do PIC16F877A contém um módulo de 2
comparadores analógicos (CMCON) e um módulo gerador de tensão de referência
(VRCON).
Como periféricos ele possui, cinco conjuntos de portas de entrada e saída
(total de 33 portas), conversor analógico-digital de dez bits de resolução e oito
canais de entrada, periférico de comunicação paralela e serial (USART e MSSP),
dois Módulos CCP (Comparação, Captura e PWM), três Timers (1 de 16 bits e 2 de
8 bits) e o Watchdog timer que é um temporizador que dispara um reset ao sistema
devido a alguma condição de erro.
O microcontrolador PIC 16F877A é largamente usado em sistemas de
automação com grande número de aplicações devido ao seu número de pinos ele é
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muito versátil para projetos que envolvem um grande poder de processamento, por
exemplo, o controle em comunicação visual como Placares eletrônicos, painéis de
mensagem, controle de display de LCD ou LED, painel de senha, relógios de hora e
temperatura em vias públicas .
O MPLAB é um software de desenvolvimento (Integrated Development
Environment) IDE, fornecido gratuitamente pela empresa Microchip Technology
integrando diversos ambientes de trabalho para programação, simulação e gravação
de microcontroladores. O MPLAB foi projetado para trabalhar com os vários modelos
da Microchip e conta com a flexibilidade para uso de ferramentas de linguagem de
programação de terceiros. Estas ferramentas de programação podem ser usadas
para projetos escritos em linguagem de programação como o assembly, C ou
linguagem BASIC, compilados em linguagem hexadecimal o código executável pode
ser gravado no dispositivo em uma memória flash ou epron. Para programação dos
microprocessadores, o MPLAB possui interface de programação possibilitando a
programação diretamente do MPLAB para a memoria flash do micro controlador
através da porta serial ou usb pela interface MPLAB ICD2 , MPLAB ICE 2000 e
PICKIT 2. O MPLab possui arquitetura de 32-bits e roda em ambiente MS Windows
e Linux com a versão MPLAB X. Encontra-se nessa IDE vários programas na
categoria de software livre.
No desenvolvimento de sistemas controlados existe a necessidade da
elaboração de uma interface amigável ao usuário e é fundamental que ela atenda a
alguns requisitos operacionais, ou seja, a interface faz parte do sistema
computacional e determina como as pessoas operam e controlam o sistema.
Quando uma interface é bem projetada, ela é compreensível, agradável e
controlável. É o canal de comunicação entre o homem e a Máquina, onde ocorrem
todas as interações necessárias para assim atingir um objetivo comum. Os usuários
se sentem confortáveis e seguros ao operar o sistema. Os objetivos da interface
homem máquina (IHM) são os de produzir sistemas seguros, usáveis e funcionais,
nesse contexto, o termo sistemas se refere não somente ao hardware e software,
mas a todo o ambiente que usa ou é afetado pelo uso da tecnologia computacional.
Durante o projeto de interface é necessário que se faça uma análise detalhada do
sistema para que ela possa oferecer ao usuário uma visão global do processo, os
elementos que se interagem e os produtos dessa interação.
Segundo o site automação industrial, entre das décadas de 70 e 80, com o
avanço da eletrônica e o surgimento dos microprocessadores, o computador se
tornou uma peça chave nos diversos setores industriais. Surgiram também os
primeiros sistemas supervisórios. Basicamente, um sistema supervisório destina-se
a capturar e armazenar em um banco de dados, informações sobre um processo de
produção. As informações são obtidas através de sensores que capturam dados
específicos dos processos, que depois de processados armazena essas
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informações em um banco de dados e em seguida mostra o resultado em telas
customizadas no computador do usuário. Os sistemas supervisórios são conhecidos
como SCADA (Sistema de Supervisão e Aquisição de Dados).
Os primeiros sistemas SCADA, que eram basicamente telemétricos,
permitiam simplesmente informar periodicamente o estado corrente do processo
industrial, monitorando sinais representativos de medidas e estados de dispositivos
através de um painel de lâmpadas e indicadores, sem que houvesse qualquer
interface interativa com o operador. Atualmente, os sistemas de automação
industrial utilizam tecnologias de computação e comunicação para automatizar a
monitoração e controle dos processos industriais, efetuando coleta de dados em
ambientes complexos, eventualmente dispersos geograficamente, e a respectiva
apresentação de modo amigável para o operador, com recursos gráficos elaborados
(IHM) e conteúdo multimídia.
Dentre os principais sistemas supervisórios em destaque no mercado
podemos citar o Elipse da Elipse Software, o FactoryTalk View SE da Rockwell
Automation, o iFIX da General Electric, o InduSoft Web Studio da InduSoft, o
ProcessView da SMAR, o ScadaBR (open source) da MCA Sistemas, o SIMATIC
Wincc da Siemens, o Vijeo Citect da Schneider Electric e o Wondeware inTouch da
Invensys.
Para um processo de produção industrial, podem-se citar as seguintes
vantagens quando se utiliza um sistema supervisório: Análise de
tendências, baseado no histórico das informações do banco de dados, possibilidade
de tomar ações proativas para maximizar a produção da planta. Alarmes para
sinalizar em tempo real alguma falha no processo e registrar essa falha no banco de
dados para consultas futuras. Operação remota para permitir a intervenção no
processo a partir da sala de controle. Geração de relatórios e gráficos sobre os
alarmes e tendências e aumentar a disponibilidade da planta a partir das
informações geradas em tempo real, identificar falhas e consequentemente otimizar
as tomadas de decisão para manter a planta em operação (rodar o maior tempo
possível sem paradas).
A inquietação é com certeza o propulsor da pesquisa e dentro dessa
concepção, surgiu a proposta em desenvolver um sistema supervisório customizado
para o projeto, o que torna em termos de aplicabilidade do aprendizado uma tarefa
desafiadora mesmo com poucas variáveis monitoradas e baixa a complexidade do
processo, diferente de um ambiente industrial, onde se justifica a implantação de
um sistema SCADA como os citados acima.
Para tal tarefa foi adotada a linguagem de programação Microsoft C #( Le-se
C Sharp) que segundo Sharp (2008, pg. 19) é uma linguagem poderosa que
contrasta com sua simplicidade, principalmente voltada a desenvolvedores que
utilizam a plataforma Microsoft .Net Framework. A linguagem herda grande parte dos
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recursos do C, C++, Java e Visual Basic e muito pouco de suas inconsistências o
que a torna uma linguagem mais lógica e limpa no ponto de vista da sintaxe.
A linguagem C# foi criada junto com a arquitetura .Net , existem varias
outras linguagens que suportam essa tecnologia como por exemplo o VB.NET o C++
o J# , a criação da linguagem, embora tenha sido feita por vários desenvolvedores é
atribuída principalmente a Anders Hejlsberg que é hoje um Distinguished Engineer
na Microsoft. Anders atuou como desenvolvedor de compiladores na Borland e aus
criações mais conhecidas estão o Turbo Pascal e o Delphi.
Para a engenharia de software, a prototipação é um método de pesquiza
que se baseia na visão evolutiva para o desenvolvimento de sistemas e que afeta o
processo como um todo. Possibilita produzir versões iniciais de um sistema com o
objetivo de realizar verificações e experimentos para avaliar algumas de suas
características antes que o sistema venha realmente a ser construído, de forma
definitiva.
A próxima etapa foi a construção de um protótipo, onde sua metodologia
será descrita em seus pormenores no próximo tópico.
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3 - Metodologia do protótipo.
Desde o inicio, a primeira preocupação foi em idealizar um chassi que
comportasse todo o equipamento de maneira segura, já que a intenção é trabalhar
com liquido quente e por conta disso o quesito segurança tornou-se imprescindível,
para tanto, foram utilizadas cantoneiras de ferro de ¾”(Polegadas) o que garantiu
robustez e estabilidade à estrutura.
Para a experimentação foram adquiridos três caldeirões de alumínio, em
substituição aos de aço inox 304 ou 316 L, que segundo a norma americana AISI
são mais adequados à atividade , porém com custo mais elevado. Nestes foram
instalados aquecedores elétricos e assim preparar a infusão com os grãos de malte,
visando fazer a conversão do amido neles contidos em sacarose, processo que
como já foi citado, é conhecido como brassagem e necessário para a obtenção de
um composto rico em açucares fermentáveis capaz de servirem como alimento ás
leveduras que ao final do processo transformarão o preparado acima citado na
cerveja propriamente dita.
Figura 1 – Conjunto montado.
Fonte: Próprio Autor
Em cada caldeirão ocorrerá uma parte especifica do processo, por isso
vamos distingui-los por letras .
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O caldeirão “A” é responsável por aquecer a água a 78 º Celsius, para a
lavagem dos grãos.
O caldeirão “B” é o local onde os grãos de cevada moídos são adicionados
à água quente, mais precisamente a 65° Celsius para essa receita. Essa infusão é
necessária para que haja a conversão do amido em sacarose que será o alimento
da levedura responsável pela fermentação do preparado e posteriormente a cerveja
propriamente dita. O caldeirão “B” é também dotado de um misturador movido por
um motor elétrico que fará a homogeneização da mistura no reservatório, que após
um tempo nessa condição deverá ser recirculado , para tanto uma moto bomba
instalada no equipamento realiza essa tarefa, para fins de filtragem do líquido
diminuindo a turbidez e assim promover a clarificação da cerveja.
O caldeirão “C” recebe os conteúdos dos tanques A e B e é onde se realiza
a fervura do liquido o que proporciona sua esterilização e também é onde são
adicionados os adjuntos necessários para conferir aromas e sabores á cerveja.
O controle da temperatura ocorre nos caldeirões, pois nestes, foram
instalados poços termométricos com sensores térmicos ou termistores , que variam
sua resistência de acordo com a variação da temperatura do meio controlado e que
informam o microcontrolador sobre essa variação através de um conversor analógico
digital, ou seja, fica a cargo do microcontrolador fazer o acionamento ou o
desligamento dos aquecedores de acordo com os parâmetros programados.
O acionamento dos aquecedores ocorrem por meio de contatores
eletromagnéticos , o que de maneira geral são equipamentos adequados para esse
fim, pois possibilitam a comutação de cargas com correntes elevadas ,como as
observadas nesse caso, de maneira indireta proporcionando segurança ao
equipamento.
Para automatizar a transferência do liquido de um reservatório para o outro,
a solução adotada foi instalar nos caldeirões eletro-válvulas, para permitir o
escoamento pela ação da gravidade .
Todo o aparato de proteção, acionamento e alimentação do protótipo, foi
acondicionado em um painel, de forma a garantir a proteção dos circuitos da ação
da umidade e garantir a integridade do conjunto. Também foram instalados
sinalizadores luminosos que indicam o estado dos atuadores, contribuindo para a
visualização do estado dos atuadores.
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Figura 2 - Painel de controle.
Fonte: Próprio Autor.
Para a possibilitar da automação do processo, que é o principal objetivo do
projeto foi adquirida uma placa de uso geral para controle de processos que possui
14 entradas digitais NPN, 2 entradas analógicas 0-10V ou 0-5V (configuráveis por
jumpers), 8 saídas digitais a relê até 250V, comunicação RS485, RS232 ou serial
TTL, saída para display LCD serial, relógio RTC, memória externa opcional, bateria
para armazenamento do relógio RTC, gravação ICSP, e alimentação 12V ou 24V e
que tem como componente central um microcontrolador da linha PIC mod 16F877A
da empresa Microchip.
Após a montagem do conjunto e feitos os devidos testes da eficiência dos
aquecedores e acionamentos, iniciamos então a modelagem do software
supervisório. Para isso foi feito o download da versão para avaliação da IDE do C
Sharp disponibilizada pela Microsoft em seu site. Depois da criação da interface
gráfica e julga-la satisfatória no que tange o seu principal objetivo que é mostrar ao
usuário o andamento do processo em tempo real, o desafio foi implementar a lógica
de programação para a comunicação entre o microcontrolador e o computador.
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Figura 3 - Tela do software supervisório.
Fonte: Próprio Autor
Como apresentado no Apêndice, todo o processo foi resumido em um
fluxograma para auxiliar sua visualização e assim permitir a estruturação do
algoritmo e a lógica de programação necessária para a implementação do
supervisório que informa ao operador em tempo real os eventos e os parâmetros de
temperatura e tempo de aquecimento em cada caldeirão. Para tanto a interface
gráfica conta com botões de inicio e parada , sinalizadores que mudam de cor e
rótulo de acordo com estado dos atuadores, termômetros analógicos que mostram a
variação da temperatura em cada tanque e gráficos que mostram a elevação da
temperatura com relação ao tempo despendido em cada etapa e ainda um espaço
reservado a mostrar mensagens escritas que somadas aos recursos visuais
garantem a total supervisão do processo
Em virtude de haver a necessidade de algumas intervenções manuais no
decorrer do processo como, por exemplo, testar quimicamente a eficiência da
conversão de amido em sacarose ou a adição do lúpulo que é feita no momento da
fervura, o supervisório emite alarmes visuais e sonoros, para chamar a atenção do
operador para tais eventos.
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4 - CONSIDERAÇOES FINAIS
A proposta de automatizar a produção de cerveja artesanal foi o tema deste
trabalho, e seu desenvolvimento serviu para avaliar a viabilidade do projeto e
também verificar a possibilidade de obter com a atividade uma fonte de renda, pois
aumentou de maneira considerável a produtividade e a qualidade do produto além
de tornar a tarefa menos laboriosa graças a automação, sem contudo, subtrair a sua
essência de produto artesanal.
Os primeiros testes mostraram as dificuldades em se utilizar termistores para
o controle preciso da temperatura pois os que foram utilizados não variavam sua
resistividade de maneira linear dentro da faixa de aquecimento adequada para a
produção de cerveja, o que dificultou a conversão analógico-digital feita pelo
algoritmo implementado no software supervisório. Isso foi contornado substituindo
esses componentes pelo circuito integrado LM35 que varia a tensão de saída
linearmente de acordo com a variação da temperatura. Outra inconsistência
encontrada foi a atuação dos contatores que as vezes provocava o desligamento
do microcontrolador interrompendo o processo de maneira abrupta, para corrigir
essa anomalia foram instalados em paralelo com os reles de saída da placa filtros
capacitivos.
Em comparação com o processo manual a maior vantagem observada foi o
controle da temperatura e a recirculação do liquido feita pela motobomba o que
proporcionou níveis de eficiência e clarificação dificilmente alcançada no modo
tradicional o que refletiu ganhos de qualidade no produto final.
Quanto á evolução do projeto, tanto o protótipo quanto o software
supervisório permitirão melhorias futuras. No protótipo poderão ser adicionados
sensores de nível nos caldeirões para melhorar o controle do volume e também um
sistema de refrigeração para resfriar o liquido após a fervura, no supervisório
algumas mudanças poderão ser implementadas de modo que o produtor tenha a
opção de selecionar as receitas ou até mesmo gravar em um banco de dados uma
por ele desenvolvida.
Quanto aos custos, a ideia foi desenvolver um protótipo funcional que
comprovou a viabilidade do projeto e produzir cerveja artesanal que poderá ser
comercializada e amortizar o valor do investimento em um curto prazo.
O trabalho apresentado procurou desde o inicio estruturar-se nos pilares da
mecatrônica e contempla tanto elementos da mecânica quanto da eletro-eletrônica e
da ciência da computação, com foco na intersecção dessas três grandes áreas do
conhecimento o que o torna multidisciplinar.
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REFERÊNCIAS
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