CONVERSÃO É GRAÇA DE DEUS

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3.1 As primeiras converses 2, 37-41 O testemunho de Pedro no seu discurso produz uma inquietao no meio dos ouvintes (v.37); o que devemos fazer, irmos1? Podemos dizer que esse o primeiro efeito da Palavra, fazer a pessoa se questionar sobre suas atitudes e seu estado de vida. Mostra uma certa disposio interior para aceitar entrar nessa nova comunidade (16, 30). Novamente aparece a figura de Pedro como aquele que indica o caminho a seguir. A resposta de Pedro segue um esquema tradicional: converso2 e batismo em nome do Senhor Jesus Cristo para o perdo dos pecados a fim de assim poder receber o Dom do Esprito Santo3. Ao mesmo tempo em que tem um embasamento tradicional, Pedro acrescenta a novidade do batismo crist, receber o Dom do Esprito Santo. Lembremos que Joo Batista proclamava um batismo de converso para o perdo dos pecados (Lc 3,3). E o mais interessante que esse dom para todos: judeus e gentios, os de perto e os distantes (v.39). Esse traz a expresso; para quantos o senhor, nosso Deus, chamar. Faz referncia ao profeta Joel (3,5c). J referido na primeira parte do discurso. Os sinais que esse Dom chegou para os distantes o batismo dos samaritanos (8, 15-17) e Cornlio, o centurio romano (10, 44-48). A aceitao Palavra conseqncia da proclamao do kerigma sob o impulso extraordinrio do Esprito Santo. Lucas faz questo de deixar claro que esse processo determinado pela fora da Palavra de Deus proclamada por Pedro, que traspassa o corao dos ouvintes, libertando-os interiormente e mostrando-lhe a beleza da vida segundo o evangelho e sua enorme diferena a respeito da existncia da gerao perversa qual pertencem e da qual so chamados a distanciar-se4.Esta adeso acontece de modo pessoal, cada um se apaixona por Cristo, visto que a mensagem ouvida lhes tocou o corao, sendo assim so capazes de acolher a proposta de converso.

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Essa mesma frase aparece nos lbios das multides, dos publicanos e dos soldados que assistem pregao de Joo Batista, no comeo do evangelho (Lc 3, 10.12.14). 2 Mesmo no texto grego trazendo o verbo metanoesate, no sentido de arrependimento das suas aes cometidas, onde esse verbo vai aparecer sete vezes nos Atos (2,38,;3,19;5,31;8,22;11,18;13,24;17,30;19,4;20,21;26,20). Ele traz outro verbo para falar de converso; epistrophein, tal verbo tem o sentido de voltar a traz, voltar, retornar. Esse verbo por sua vez aparece oito vezes em Atos (3,19;9,35;11,21;14,15;15,19;26,18.20;28,27). Percebemos que esse dois verbos andam muito juntos. E no sabemos colocar os verdadeiros limites entre arrepender-se (metanoesate) e converter-se (epistrephate). Podemos dizer que a f juntamente com o arrependimento constituem a converso. 3 Cf. RICHARD, Pablo, O movimeto de Jesus depois da ressurreio, 44 4 CASALEGNO, Alberto, Ler os Atos dos Apstolos, 121

Temos que considerar outro aspecto, nem todos os ouvintes da Palavra de Deus do uma resposta coerente a ela. Diante da Palavra se toma duas posies bem evidentes, ou aceitamos a Palavra e passamos pelo processo de adeso a mesma Aqueles, pois, que acolheram sua palavra, fizeram-se batizar (v.41) ou rejeitamos o anncio e formamos o grupo daqueles que passam a perseguir salvai-vos desta gerao perversa (v.40). Uma vez aceitando a autoridade da Palavra, formamos uma comunidade com alicerce no testemunho fraterno.

3.2 Projeto para uma vivncia fraterna em comunidade

A aceitao Palavra conseqncia da proclamao do kerigma sob o impulso extraordinrio do Esprito Santo. Esta adeso acontece de modo pessoal, cada um se apaixona por Cristo e capaz de dizer a ele um sim. Entretanto, como esse projeto revela-se comunitariamente vem da a formao das comunidades (2,42-47; 4, 32-37; 5, 12-16). Lucas usa estes trs sumarios para falar de forma resumida, mas real da experincia das primeiras comunidades. De forma que nos dois sumrios ltimos vemos uma retomada do tema, mas mediante a intercalaes com outros textos, com aplicao do tema abordado. A estrutura desses sumrios apresenta para ns uma ligao de sentido dos problemas tratados neles. Cada sumrio expressa uma concluso do contedo anterior.5 Por outro lado serve para fazer a ligao temtica que vem logo a seguir. O fim de cada sumrio traz o problema abordado na percope posterior.6 Podemos apresentar outras referncias bblicas as quais tm por objetivo apresentar um resumo de como viviam sua f as primeiras comunidades. (6,7; 9,31; 12,24; 16,5; 19, 20).7 Qual o cho da vivncia comunitria da f? Como deve ser a vida dos que se comprometem com a causa de Jesus? Estas perguntas foram pertinazes no passado e continuam a nos instigar a tomar uma deciso bem clara referente a elas. Pois o lugar teolgico por excelncia a comunidade8. nesta realidade eclesial que se encontra o sitz in leben lucano. Lucas faz sua teologia olhando sempre para esta forma comunitria de viver a f.

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Cf Revista Bblica Brasileira (RBB) p. 662 Cf. GOURGUES, Michel. Atos 1 12. p. 53 7 Cf. VV. AA. Uma leitura dos Atos dos apstolos. p. 49 8 Cf. STORNIOLI. Ivo. Como ler os Atos dos Apstolos. p. 41

O elemento fundamental e que qualifica a comunidade a perseverana ou a fidelidade nesse projeto assumido. O verbo escolhido por Lucas para expressar esta realidade o proskarterein, ser assduo, perseverante em alguma coisa, com ressonncia litrgica e cultural. Ressalta muito bem o comportamento e dedicao constante no comprometimento dos convertidos.9 A comunidade est sentindo o sabor do Esprito e quer viver perseverantemente sua f. No como simples fogo de palha, mas comprometida com o aprofundamento dos problemas e expanso das boas notcias vinda por causa do anncio dessa Palavra. Para uma perseverana ativa e atualizada encontramos quatro elementos imprescindveis que fortalecem a vivncia comunitria de nossa f; ensinamento dos apstolos, comunho fraterna, frao do po e as oraes em comum. Abordaremos estes quatro elementos, porm poderamos desses sumrios elencar outros elementos tratados durante todo o livro dos Atos. Aceitao da mensagem por parte do povo (2,43a. 47a). Sinais e prodgios que aconteciam na comunidade (2,43b). E por ltimo, aquele elemento bem prprio de Lucas, apresentar o crescimento numrico dos adeptos deste modo de viver a f (2,47c). O primeiro ponto sobre o ensinamento dos apstolos (2,42a). Na teologia lucana a presena dos apstolos fundamental. Desde do incio Lucas est ressaltando este elemento. Ele narra a eleio do substituto de Judas (1, 21-26). Tentando mostrar como para ele importante recompor o grupo dos doze. Em Lucas os apstolos so aqueles que compem o grupo dos doze, pois somente eles foram testemunhas ocular de Jesus Cristo (1, 21-22). Testemunhas no s de uma parte de sua vida, mas foram capazes de conviver com ele, a comear pelo batismo de Joo Batista at a ressurreio10. fundamental constatarmos que este ensinamento dos Apstolos (didach) no mais o primeiro anncio, kerigma, j uma fase posterior, pressupe um certo aprofundamento da f. Esta perseverana da comunidade, proskarterountes (1,14; 2,42.46; 6,4) exige que se faa um aprofundamento do kerigma. o que se chama de didaskalia. Podemos dizer que este um alimento mais slido. , sobretudo, um ensinamento catequtico, aplicando assim o fundamento da f crist. O contedo abrange a releitura de textos bblicos luz de Cristo, a evocao dos ensinamentos de Jesus, para guiar as9

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Cf. FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apstolos. 1991: p.76 Cf. CEBI. Evangelho de Lucas e Atos dos Apstolos. p. 103

opes prticas dos crentes. O ponto de partida de uma comunidade crist a escuta da Palavra.11 Esta escuta da Palavra requer um deixar ser guiado pela boa notcia do Reino. Porm, essa Palavra precisa ser aprofundada. O sujeito desse aprofundamento a prpria comunidade, tendo como objeto esta Palavra revelada por Jesus. Uma Palavra que encontra nos primeiros arautos do Evangelho, os apstolos, uma autoridade para falar da revelao histrica de Deus.12 Logo, o ensinamento dos apstolos torna-se o testemunho fiel de tudo aquilo que Jesus ensinou (5,8). Que podemos chamar de paradosis, aquilo que eles receberam de Cristo, eles livrementes e fiis mensagem transmitem s comunidades. Fato esse que passou para nossa linguagem como Tradio autntica dos apstolos. Com isso percebemos que a Palavra de Jesus vai indicando como os membros da comunidade devem se comportar e agir.13 Outro elemento o qual sustenta a comunidade na perseverana a koinnonia, comunho fraterna. Lucas somente nesta passagem usa este termo (2, 42-47). Ele tem a preocupao de mostrar uma atitude solidria da comunidade para com os que no tm plena condio de vida material. H concretamente nesse gesto uma partilha dos bens materiais de quem tinha sobrando. De fato disso que se trata depois do primeiro sumrio, em 2, 44-45, assim como no segundo, em 4, 32.34-35, onde se encontra o adjetivo koinos, comum. Alm disso, o termo koinonia usado em outras passagens do Novo Testamento em relao partilha dos bens materiais (Cf. 2Cor 8,4; 9,13; Rm 15,26; Hb 13,16).14 Lucas mesmo que possa ter idealizado esse relato, temos a uma fonte inesgotvel de inspirao para nossa ao pastoral. Pois, temos uma clara proposta de uma vida comunitria com base bem clara em Jesus Cristo, e neste modo humano de Jesus se relacionar com as pessoas. Este ideal de uma vida partilhada uma tentativa desde do Antigo Testamento com o projeto tribal, que foi dizimado pela ganncia de alguns poucos. No o desejo de Deus que haja pobre entre o povo (Dt 15,4). J com Jesus nasce o propsito de todos aqueles que querem segui-lo devem partilhar seus bens com os mais necessitados (Mc 10,21). De forma que Lucas no est inventando nada, pelo contrrio viu uma experincia que no contraditrio com o projeto de Deus mesmo, fato este que possvel ser vivenciado pelos cristos.11 12

Cf. FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apstolos. 1991: p.76 Cf. Ibidem. 13 Cf. STORNIOLI. Ivo. Como ler os Atos dos Apstolos. p. 42 14 Cf. GOURGUES, Michel. Atos 1 12. p. 55

Essa experincia muito mais do que colocar os bens em comum. O ideal da comunho chegar a uma partilha no s dos bens, mas tambm dos sentimentos e da experincia de vida, a ponto de todos chegarem a ser um s corao e uma s alma (4, 32; 1,14; 2,46).15 Viver uma unidade to profunda que leva a comunidade a sentir-se responsvel pelo outro. Para Gourgues a comunho na f leva naturalmente partilha dos bens. O contato com o transcendente torna-nos cada vez mais encarnado numa realidade palpvel com suas contradies.16 A inteno que na comunidade aqueles que tinham mais pudessem, segundo aquilo que tinha fazer, uma generosa partilha. Fazer uma partilha no sem critrio, mas segundo a necessidade de cada um (2,45; 4,35). Portanto, nessa comunidade se denuncia a pobreza como um grande pecado. No deveria ter necessitados entre eles (4,34). Como tambm faz uma crtica ao acmulo de bem (4,32). Quando algum tem alm do necessrio na comunidade porque temos outros tantos mergulhados na pobreza. Essa pobreza sempre uma negao da comunidade ao amor do Pai.17 Com isso a comunidade se encontra diante de um grande desafio. Pois a converso, adeso ao projeto de Jesus mexe com a vida toda do convertido. Nossa paixo por Cristo no deve ser s pelo Cristo glorioso, mas, outrossim, por aquele que na cruz se revela salvando a humanidade com sua prpria vida. Esse projeto de koininia faz-se urgentssimo na vida crist atual. Deve ser esse o horizonte para o qual caminha toda vida crist. O terceiro aspecto a frao do po ou o partir do po. Foi um gesto muito significativo assumido pelas comunidades primitivas, esta partilha do po na comunidade. Era um momento singular par fazer memria de Jesus e da Ceia instituda por ele. Relembrando aos seguidores de Jesus que ele o Po da Vida Era uma refeio realizada em comum, expressava a unidade da f dos cristos, realizada em profundo clima de alegria e simplicidade de corao. Os cristos eram alegres por seguir a Jesus e participar desse Po da alegria. (8, 8-39; 13, 48.50; 16,34). Levando-se em conta tudo isso, pode-se que a expresso frao do po, em Atos, indica a refeio fraterna dos cristos que se uniam s refeies de Jesus com os discpulos e, de modo particular, a ultima Ceia, com a qual ele havia interpretado

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Cf. CEBI. Evangelho de Lucas e Atos dos Apstolos. p. 104 Cf. Ibidem 17 Cf. Cf. MOSCONI, Lus. Atos dos Apstolos. 2oo1: p.123

profeticamente a sua morte e havia anunciado a esperana da comunho plena no Reino de Deus (Lc 22, 14-20; 24,30; At 20,7).18 Era uma refeio normal acontecida nas casas. Dia aps dia, unnimes, mostravam-se assduos no templo e partiam o po pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de corao (2, 42b). O princpio fundante a ao ser realizada numa comunho de almas tendo como meta o mesmo sonho, de partilha e de esperana no Reino. Quem presidia essas refeies era o senhor da casa, fazendo primeiro a grande Ao de Graas, eucharistesas, a bno da refeio, era a berakah dos judeus. Como tinha um carter de refeio era um momento de garantir aos mais pobres pelo menos uma refeio.19 Nessas celebraes os cristos tinham um espao de fortalecimento dos laos espirituais e afetivos. Os lares tornavam-se assim verdadeiros lugares de comunho na f (1Cor 14, 19; Rm 16, 3-5; Cl 4,15; Fm 2) Provavelmente essas casas eram de pessoas que tinha uma certa condio financeira. Isso refora ainda mais o ideal de comunho que deve existir entre os ricos e os pobres, unidos na mesma celebrao, buscando os mesmos ideais espirituais. Podemos comprovar que esta comunho se dava de modo pleno, pois procurava a partilha dos bens de forma que no encontrasse necessitados na comunidade.20 O quarto elemento que sustenta a perseverana dos seguidores do caminho, como eram conhecidos os primeiros cristos (9,2; 18, 25.26; 19, 9.23), a orao em comum. Os cristos eram assduos s oraes. Durante o dia tinham os seguidores do caminho momentos juntos para orar. Esses primeiros discpulos continuavam a observar as formas litrgicas dos Judeus. Iam durante o dia muitas vezes ao templo para orar (3,1).21 A grande novidade apresentada pelo grupo dos seguidores de Jesus ressuscitado invocar nas oraes o Nome de Jesus (14.21; 22, 16). Confiavam que este nome confessado com f na vida de cada um era garantia de salvao (4,12). Este novo ambiente que est nascendo com razes calcadas na f em Jesus Cristo exige dos fiis atitudes coerentes. Pois prprio do caminho encontrarmos dificuldades, por essa razo precisamos est constantemente tomando decises em nossa vida. E tais decises devem ser orientadas por Deus. Eram assim que faziam os primeiros Cristos, deixavam ser guiados pela ao de Deus nas suas vidas. muito18 19

Cf. FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apstolos. 1991: p.77 Cf. Ibidem 20 Cf. STORNIOLI. Ivo. Como ler os Atos dos Apstolos. p. 44 21 Cf. RUSSELL, Norman Champlim. O Novo Testamento Interpretado. p. 72

comum nos Atos antes de algum momento de deciso da comunidade encontrar as pessoas rezando para que a deciso seja contornada por Deus. o que vemos acontecer com a orao antes dos Pentecostes dos judeus (1,4), dos samaritanos (8,15), dos gentios (10,9; 11,5). Na hora de escolher algum para alguma misso especial (1,24; 6,6; 13,3 14,23). Nisso, a comunidade se comporta da mesma forma que o prprio Senhor, que o evangelho de Lucas mostra em orao em todos os momentos importantes da sua vida e do seu ministrio.22 Contudo olhando assim pensamos que na comunidade foi s concrdia e aceitao da Palavra. No coerente ter essa viso, visto que encontramos nesse cenrio de comunidade bastantes problemas. Um primeiro era construir ao longo do tempo a identidade do cristianismo, feito esse que o apstolo Paulo fez to bem. Esse modelo de comunidade causava insatisfao naqueles que estavam na comunidade, mas no tinham f na ressurreio. Portanto, eles encontraram oposio e rejeio, a ponto de serem at perseguidos. nesse sentido que a orao alimento dos discpulos para continuarem lutando pelos ideais cristos.

3.3 Oposio construo da comunidade. Podemos dizer que a experincia com Jesus leva-nos ao anncio do seu Nome, este anncio provoca converso, acolhida da mensagem refletida na formao das comunidades, contudo ela provoca rejeio e perseguio. Os sumrios oferecem um resumo teolgico das primeiras comunidades. Apresentam-nas como um acontecimento harmonioso. Nos cinco primeiros captulos nos apresentada uma convivncia passiva enquanto a aceitao da Palavra, como tambm daqueles que a anunciam.23 Entretanto, neste contexto j emergem alguns problemas dificultando um testemunho mais autntico dessa Palavra. Lembremos o episdio de Ananias e Safiras (5, 1-11). O comportamento desse casal, que de comum acordo mentia para comunidade, denuncia uma intromisso da mentira na comunidade, como tambm os dois no estavam querendo partilhar corretamente. Vemos outro caso que j denuncia esta perseguio, o comparecimento de Pedro e Joo ao Sindrio (4, 1-22). Nesse relato j temos os primeiros sinais de forte rejeio ao anncio do Nome de Jesus. A organizao poltica e religiosa estava incomodada com os prodgios acontecidos na22 23

Cf. GOURGUES, Michel. Atos 1 12. p. 63 Cf. Ibidem. p. 66

comunidade, por meio dos anunciadores da Palavra de salvao. Porm, quanto mais proibiam, mais os apstolos eram intrpidos em falar dos novos acontecimentos realizados na comunidade (4,19-22). Vemos que eles continuaram pregando, enquanto isso o Sindrio perseguia fortemente at colocar na priso os apstolos Pedro e Joo (5, 17-18). Mas temos claros sinais que a mo poderosa de Deus acompanha os apstolos. Foi com esse prodigioso acontecimento que eles foram liberados da priso. Essa ao miraculosa quer nos mostrar que Deus estava com eles. Podemos observar com isso que existiam tenses tanto no interior da comunidade, como vinda do exterior. Enquanto essa represso realizada por parte do Sindrio vem do exterior da comunidade, temos uma situao no interior da comunidade que est causando dificuldade.24 A problemtica que as vivas dos helenistas so desconsideradas na hora da distribuio diria dos alimentos. O problema que os hebreus, de observncia estrita das leis do judasmo, no comiam na mesa com os helenistas e proslitos, pois, segundo a lei, ficavam impuros. Freqentavam o Templo, onde os helenistas e proslitos no podiam entrar.25 A comunidade encontra-se diante de um problema para resolver. A forma como eles trataram esse problema um grande aprendizado para nossa organizao de comunidade hoje. Houve uma convocao para que em assemblia pudessem discutir a questo. Na assemblia observa-se uma flexibilidade tanto do grupo dos judeus-cristos, como do grupo dos convertidos ao cristianismo. De forma que a resoluo tomada do problema foi de comum acordo aos dois grupos. Ficou decidido que deveriam escolher sete homens entre os gregos que fossem de boa reputao, repleto do esprito e de sabedoria (6,3). Eles exerceriam a diakonia dando assistncia s mesas das vivas. Quando os problemas eram solucionados a Palavra encontrava um ambiente mais propcio ao seu avano (6, 7).26 Entre os Sete encontramos Estvo, cheio de graa e de poder. Ele passou a ser uma espcie de coordenador do grupo dos sete. Por intermdio de sua ao muitos sinais e prodgios foram realizados na comunidade. Sinais esses que acompanham aqueles que anunciam com vivacidade e amor no corao o nome santo de Jesus.27 Isso24 25

Cf. Ibidem. p. 66 Cf. STORNIOLI. Ivo. Como ler os Atos dos Apstolos. p. 69 26 As funes dos Sete se assemelham s dos doze, uma vez que opera milagres, ver tambm 8,6-7, anunciam a Palavra (8,4), batizam (8,38). (Cf. Bblia de Jerusalm nota). 27 Cf. FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apstolos. 1991: p. 133

foi o suficiente para se estabelecer uma perseguio fortssima ao cristianismo na pessoa de Estevo. Esta foi com certeza a maior perseguio do cristianismo apresentada nessa primeira seo dos Atos. Ela vai assumir as ltimas conseqncias, as quais ser a morte bem semelhante morte de Jesus. Passou para a histria como o primeiro mrtir cristo. (7, 55-60). Vemos acontecer com esse martrio um fenmeno muito interessante, enquanto mais faziam resistncia ao cristianismo e aos seus adeptos, quantos mais ele se expandia e encontrava pessoas que queriam aderir ao projeto de Jesus. Essa perseguio era na verdade uma injeo de nimo na caminhada. O sangue dos mrtires fortalecia o ideal dos novos cristos. Vamos constatar em Atos esta dimenso da perseguio Palavra, at mesmo entre os convertidos vai-se encontrar um que tanto perseguiu a este novo anncio, o caso de Paulo. Portanto, ser cristo era um grande desafio. Tinha que ter um sincero testemunho. Esta perseguio foi to presente na primeira seo do livro dos Atos que chega a ser concluda fazendo referncia a implacvel perseguio de Saulo aos cristos.Quanto a Saulo, devastava a igreja; entrando pelas casas, arrancava homens e mulheres e metia-os na priso (8,3