Coordenação de Projetos de Edifícios_Cap03_livro_vfinal

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Coordenação de Projetos de Edifícios Integração concepção - projeto - execução de obras 39 COORDENAÇÃO DE PROJETOS DE EDIFÍCIOS Janayna Aquino, Silvio Melhado, Márcio Fabricio, Monserrat Peña, Ana Rocha e Luiz Sérgio Franco Objetivos deste Capítulo ! Mostrar a importância da interface projeto-obra para o desempenho da produção e para a qualidade do produto. ! Apresentar a evolução no processo de projeto relativa à introdução do projeto simultâneo na construção de edifícios. ! Mostrar os principais benefícios da utilização de projetos para produção visando à integração entre o projeto e a obra, bem como discutir suas dificuldades de implementação. A importância da interface projeto-execução de obras A atividade de construção foi considerada por muito tempo uma atividade artesanal, na qual o construtor era o próprio projetista e também era aquele que escolhia os materiais e os recebia na obra, além de dominar as técnicas construtivas que utilizava. Com o crescimento da indústria da construção civil, vinculada principalmente ao desenvolvimento de novos materiais e equipamentos em meados do século 20, essas funções cada vez mais passaram a ser exercidas por diferentes pessoas sem que houvesse entre elas uma interação. Isso proporcionou um distanciamento entre a atividade de concepção e projeto da atividade de produzir. Outros setores industriais não concebem a fabricação dos seus produtos sem que haja uma direção clara de como fabricá-los. A construção civil, notadamente a construção de edifícios, talvez seja a única indústria que exerce essa prática de fabricar o seu produto (edifício) sem uma definição clara de como produzi-lo. Em decorrência disso, além do comprometimento para o desempenho da própria fase de execução, gerando desperdícios, o desempenho do produto edifício pode ser comprometido, o que traz custos adicionais durante e após essa fase, no período de uso, operação e manutenção. Especialmente no segmento de obras privadas, as discussões sobre a importância do projeto para diminuição de custos e retrabalhos e a necessidade de interação entre as fases de concepção- projeto e a execução de obras marcaram um período de transformações no processo de projeto, nos últimos anos. O processo de projeto tradicional, caracterizado principalmente pela falta de interação entre os diversos agentes do processo, passou a ser questionado a partir do momento em que a qualidade de produtos e processos ganhou maior ênfase. Esse período caracterizou-se por um novo posicionamento das empresas construtoras em relação à gestão do projeto e à necessidade de integrar os seus agentes.

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    COORDENAO DE PROJETOS DE EDIFCIOS

    Janayna Aquino, Silvio Melhado, Mrcio Fabricio, Monserrat Pea, Ana Rocha e Luiz Srgio Franco

    Objetivos deste Captulo

    ! Mostrar a importncia da interface projeto-obra para o desempenho da produo e para a qualidade do produto.

    ! Apresentar a evoluo no processo de projeto relativa introduo do projeto simultneo na construo de edifcios.

    ! Mostrar os principais benefcios da utilizao de projetos para produo visando integrao entre o projeto e a obra, bem como discutir suas dificuldades de implementao.

    A importncia da interface projeto-execuo de obras

    A atividade de construo foi considerada por muito tempo uma atividade artesanal, na qual o construtor era o prprio projetista e tambm era aquele que escolhia os materiais e os recebia na obra, alm de dominar as tcnicas construtivas que utilizava. Com o crescimento da indstria da construo civil, vinculada principalmente ao desenvolvimento de novos materiais e equipamentos em meados do sculo 20, essas funes cada vez mais passaram a ser exercidas por diferentes pessoas sem que houvesse entre elas uma interao. Isso proporcionou um distanciamento entre a atividade de concepo e projeto da atividade de produzir.

    Outros setores industriais no concebem a fabricao dos seus produtos sem que haja uma direo clara de como fabric-los. A construo civil, notadamente a construo de edifcios, talvez seja a nica indstria que exerce essa prtica de fabricar o seu produto (edifcio) sem uma definio clara de como produzi-lo. Em decorrncia disso, alm do comprometimento para o desempenho da prpria fase de execuo, gerando desperdcios, o desempenho do produto edifcio pode ser comprometido, o que traz custos adicionais durante e aps essa fase, no perodo de uso, operao e manuteno.

    Especialmente no segmento de obras privadas, as discusses sobre a importncia do projeto para diminuio de custos e retrabalhos e a necessidade de interao entre as fases de concepo-projeto e a execuo de obras marcaram um perodo de transformaes no processo de projeto, nos ltimos anos. O processo de projeto tradicional, caracterizado principalmente pela falta de interao entre os diversos agentes do processo, passou a ser questionado a partir do momento em que a qualidade de produtos e processos ganhou maior nfase. Esse perodo caracterizou-se por um novo posicionamento das empresas construtoras em relao gesto do projeto e necessidade de integrar os seus agentes.

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    indiscutvel a importncia do projeto para a qualidade final do empreendimento, pelo papel natural que ele apresenta na adoo de solues que promovam a melhoria contnua do processo de produo de edifcios na construo civil.

    A caracterizao da produo conjuntamente com o desenvolvimento do produto tem como uma de suas funes permitir uma melhor traduo das caractersticas e especificaes do produto em procedimentos e seqncias de produo, minimizando a possibilidade de execuo inadequada ou incompleta dessas especificaes. Os projetos para produo, cujo principal objetivo integrar o projeto obra, apresentando solues adequadas para melhorar o processo de execuo de um determinado subsistema do edifcio, tm sido adotados por diversas empresas construtoras na busca da reduo sistemtica desses problemas.

    Neste captulo, sero discutidas as mudanas no enfoque do projeto, que se iniciaram em outros setores e posteriormente foram introduzidas na construo de edifcios, e o uso de projetos para produo nesse mesmo segmento, bem como as principais dificuldades para o seu desenvolvimento e implementao e a proposta de diretrizes para garantir o sucesso das suas aplicaes.

    Processo de Projeto Tradicional x Nova Filosofia de Projetar

    A construo civil no foi a primeira indstria a perceber a importncia do projeto e da sua relao com a produo. Tambm na indstria seriada havia uma cultura disseminada de que os engenheiros responsveis pelo projeto do produto eram treinados apenas nos aspectos tcnicos de suas especialidades, e no no que concerne aos mtodos e custos empregados na fabricao de um produto.

    Portanto, os engenheiros que concebiam o produto faziam-no sem levar em considerao os custos incorridos no processo de fabricao e as vantagens e inconvenientes de uma determinada proposta de projeto quanto ao modo como produzi-lo. Da mesma forma, os gerentes de produo ignoravam algumas potenciais exigncias funcionais do produto, atendendo s especificaes estritamente necessrias, que no comprometessem o andamento do processo de fabricao. O resultado era a baixa qualidade do produto final com altos custos de produo.

    Essa lacuna entre os que projetam o produto e os que concebem a produo uma das caractersticas do processo de projeto tradicional. Alguns autores o denominam de forma seqencial de projetar. Muitas empresas adotaram por muito tempo esse modo de pensar o processo de projeto, no qual, uma etapa do processo s iniciada aps o trmino da outra, desencadeando um seqenciamento das atividades e a falta de interao entre os agentes conforme mostra a Figura 16.

    Na Figura 16, representa-se a ausncia de inter-relacionamento entre os agentes do processo no s pela falha na comunicao, mas tambm pela ausncia de mecanismos de coordenao eficiente entre as atividades.

    O foco dessa filosofia de projeto quase inteiramente nas caractersticas funcionais do produto, com pouca nfase em como o produto ser fabricado. Nesse processo, so observados comumente erros de projeto, falta de detalhes relativos ao processo de produo, retrabalhos, desperdcios, demora para lanamento de novos produtos, alto custo de produo e baixa qualidade dos produtos finais.

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    Figura 16 O processo de projeto tradicional desencadeando o seqenciamento das atividades e as barreiras entre os agentes do processo. (RUSSEL; TAYLOR, 1995)

    A indstria seriada, ento, desde a metade do sculo 20, percebendo a necessidade de aumentar a produtividade, diminuir custos de produo e melhorar a qualidade do produto final face competitividade instalada no mercado, empreendeu algumas iniciativas para estreitar a relao entre os que pensavam o projeto do produto e os que pensavam o projeto do processo. Dentre as principais iniciativas, destacam-se:

    O treinamento dos projetistas com relao aos processamentos e custos bsicos de manufatura;

    O envolvimento dos gerentes de produo no momento de tomada de decises crticas com os projetistas;

    A contratao de um grupo para desenvolver o projeto da produo com base nos projetos do produto.

    As iniciativas empreendidas pela indstria seriada para derrubar essas barreiras do processo tradicional de projeto deram origem a uma nova filosofia de projetar, que se caracteriza pelo projeto simultneo do produto e do processo de produo e pela introduo de projetos voltados produo.

    Enfoque do Projeto Simultneo

    Principalmente em mercados cada vez mais competitivos, as empresas tm necessidade de diferenciao e inovao; os clientes so cada vez mais importantes na definio das caractersticas do produto; os fornecedores so fundamentais para a manuteno da qualidade dos materiais e servios fornecidos; e os investidores so importantes para suprir os recursos exigidos. O projeto simultneo valoriza a integrao entre os agentes de um processo para que ao final o produto atenda s expectativas do cliente, partindo do pressuposto de que essa falta de integrao gera incertezas no processo e comprometimento da qualidade do produto final.

    Tambm denominado de engenharia simultnea, o enfoque do projeto simultneo , portanto, integrar o desenvolvimento do produto (que tem nfase nas necessidades e expectativas dos clientes) ao desenvolvimento dos demais processos envolvidos, por meio de cooperao entre os diversos agentes. Assim, a departamentalizao imposta pelo processo de projeto tradicional, no qual os trabalhos eram realizados seqencialmente, substituda por trabalho paralelo das equipes, o que objetiva um melhor desempenho do processo, com a remoo das fronteiras que as separavam (ver Figura 17).

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    Figura 17 As barreiras da departamentalizao so substitudas por equipes multidisciplinares. (RUSSEL; TAYLOR, 1995)

    O projeto simultneo pressupe que haja trabalho em equipe, comunicao sistemtica, treinamento de recursos humanos e parcerias. Representantes de todos os principais agentes do processo devem participar dessas equipes de projeto com o objetivo de levar as suas necessidades e expectativas a todo o processo. Na filosofia do projeto simultneo, engenheiros de produo so deslocados para trabalhar com os engenheiros de projeto, em equipes multidisciplinares, propiciando melhor desempenho e menores prazos na elaborao do projeto. Dessa forma, cada integrante da equipe pode contribuir com a sua experincia e conhecimento da rea especfica para diminuir falhas potenciais, tanto do produto quanto do processo de produo.

    A Figura 18 apresenta, de forma esquemtica, uma equipe multidisciplinar genrica de projeto simultneo, seus principais participantes e as interaes entre eles e a coordenao.

    Figura 18 Equipe multidisciplinar de projeto simultneo (FABRICIO; MELHADO, 2004).

    Repres. da Produo Coordenador

    Projetistas do Produto

    Projetistas do Processo

    Clientes e Usurios

    Marketing & Vendas

    Gesto da Qualidade

    Pessoas da Ass. Tcnica

    Fornecedores

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    Os principais benefcios que se objetiva obter ao se adotar o projeto simultneo so:

    Maior integrao entre os diversos agentes do processo, pela formao de equipes multidisciplinares;

    Reduo do tempo de elaborao dos projetos;

    Melhoria de desempenho do produto e do processo;

    Diminuio de custos.

    No entanto, a simples colocao de especialistas em uma mesma equipe no deve ser entendida como garantia de sucesso na obteno de tais benefcios; os resultados para o produto e para o processo dependero do desempenho da coordenao de projetos.

    A Figura 19 ilustra, de forma satrica, as distores que um projeto pode apresentar sob a tica de diferentes participantes e envolvidos no processo.

    Figura 19 A falta de integrao entre os diversos agentes do processo. (SCHROEDER, 1993)

    Para a construo de edifcios, com base em estudos de caso direcionados a diversos segmentos de construo, Fabricio (2002) prope o desenvolvimento do projeto simultneo por meio da

    Proposta do departamento de marketing

    Como o produto foi especificado

    Projeto final do produto

    Como foi feito na fbrica O que o cliente queria Como foi usado pelo cliente

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    integrao entre as principais interfaces envolvidas. A representao dessas interfaces reproduzida na Figura 20.

    i1: interface com o mercado (programa); i2: interface entre os projetos do produto; i3: interface projeto do produto produo (projeto para produo); i4: retroalimentao execuo projeto; i5: interface cliente (retroalimentao de desempenho).

    Figura 20 Principais interfaces no processo de projeto. (FABRICIO, 2002)

    A Figura 20 mostra as trs interfaces principais no processo de projeto em que se podem estabelecer prticas de cooperao simultnea. Estas interfaces esto representadas como i1, i2 e i3. A tais interfaces acrescentou-se a retroalimentao das fases de execuo (i4 interface com a obra) e de uso (i5 interface com o desempenho do produto em uso pelo cliente), de modo a retratar as principais interaes que ocorrem no processo de projeto. Essa figura tambm faz referncia NBR ISO 9001 (Associao Brasileira de Normas Tcnicas, 2000): o processo de projeto se inicia a partir de um cliente, visto pela tica das suas necessidades e expectativas, e termina no cliente-usurio, com o desempenho do produto ou servio que deve atender s necessidades e expectativas inicialmente formuladas.

    Introduo de projetos voltados produo

    Em 1968 j se falava em projetos voltados produo, principalmente nas indstrias automobilsticas da Europa e do Japo, reconhecendo-se os benefcios da sua utilizao em tempos de grande competitividade tecnolgica. Em 1970, na Frana, foi criado um dos primeiros grupos de trabalho do CIRP (College Internationale de Recherches Pour la Production), para desenvolver uma maior integrao entre os diversos agentes na engenharia de produo atravs de pesquisas sistemticas sobre o projeto para produo.

    Vrias indstrias americanas e europias atriburam a reduo substancial de custos e melhoria da qualidade dos seus produtos devido utilizao de projetos voltados produo. Portanto, o projeto voltado produo o resultado do esforo consciente e integrado dos diversos agentes do

    Prep

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    EXEC

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    i1 i3PROGRAMA PROJETO PARA PRODUO

    Concepo e projeto do empreendimento

    PROJETO

    DO PRODUTO

    i2

    CLIENTE

    Necessidades e Expectativas

    USURIODesempenho

    i4i5

    arquitetura

    engenharia

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    processo que, na tentativa de minimizar custos, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade final do produto e facilitar a produo discutem e optam por alternativas de projeto que considerem esses aspectos. O projeto voltado produo ganhava uma dimenso de elemento de integrao capaz de diminuir custos e aumentar a qualidade do produto final. Criava-se uma nova anlise importante para as decises de projeto, a de facilidade de fabricao (ou manufaturabilidade).

    Existem vrias terminologias para designar o que se entende por um projeto voltado produo. Alguns autores, referindo-se a indstria seriada, o denominam de Design for production (projeto para produo) ou Designing for production (projetando para produo). Em ambos os casos, o que est por trs do conceito que o produto deve ser projetado pensando-se na sua produo desde o primeiro momento (right-first-time for production), ou seja, problemas potenciais de produo causados pelo projeto devem ser solucionados ainda nas primeiras fases do projeto e no durante a produo.

    Outra terminologia encontrada Design for manufacture (projeto para a fabricao), reafirmando a necessidade de interao entre o projeto do produto e o projeto de fabricao na tentativa de otimizao do produto e do processo quanto ao custo, qualidade e produtividade. Esse conceito considera que o projeto o primeiro passo para a produo e que todas as decises de projeto devem ser consideradas cuidadosamente para no implicarem em custos extras e perda de produtividade, devendo o projeto do produto envolver todos os agentes do processo, integrando-os.

    Na construo de edifcios, o projeto voltado produo deveria ser denominado projeto para produo, embora muitos profissionais dem a esse tipo de projeto o nome de projeto de (ou da) produo 1. As discusses sobre a sua importncia e insero no mercado tiveram incio a partir de pesquisas e convnios realizados entre a Escola Politcnica da Universidade de So Paulo e a Construtora ENCOL, bem como com outras empresas incorporadoras e construtoras do setor na cidade de So Paulo desde o final da dcada de 80, que resultaram em inovaes nas prticas de projeto. A partir da, outras empresas construtoras passaram a incorporar as mesmas prticas, e desenvolveu-se um mercado para projetistas especializados nesse tipo de projeto.

    A integrao entre os diversos agentes do processo de projeto recebeu um maior impulso na dcada de 90, principalmente com a introduo de Sistemas de Gesto da Qualidade em empresas incorporadoras e construtoras que permitiram maiores discusses sobre a importncia do projeto e as mudanas necessrias para melhorar o seu desenvolvimento. O trabalho conjunto dos diversos especialistas de projeto tornou-se fundamental para a compatibilizao e coordenao do processo de projeto.

    No princpio, esse processo comeou de forma tmida com a compatibilizao dos projetos pelas empresas construtoras aps eles estarem prontos, sem que houvesse grandes contribuies para melhoria de solues. Os projetos eram sobrepostos e eventuais distores eram corrigidas. Apesar do avano, comparativamente ao processo de projeto tradicional, era necessrio integrar os agentes desde a concepo do projeto e no aps o seu trmino, para propor melhorias que resultassem em um processo melhor e projetos mais compatveis com a realidade da obra.

    Um dos objetivos do projeto deve ser fornecer subsdios para a produo, e no deixar, exclusivamente nas mos de quem produz, as decises sobre como executar o que foi projetado. Basicamente a proposta do projeto para produo na construo a mesma verificada na indstria seriada: permitir que os aspectos da produo sejam discutidos desde a concepo do projeto, 1 A expresso projeto de (ou da) produo considerada inadequada para a construo de edifcios atual, pois, no estgio de industrializao em que ela se encontra, no se projeta a produo como um todo; na realidade, em geral, so desenvolvidos projetos que apenas definem alguns aspectos importantes da produo, para alguns subsistemas do edifcio.

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    juntamente com outros aspectos, possibilitando uma maior integrao e a busca de melhores solues para a obra ou parte dela.

    Apesar da sua utilizao crescente, a introduo desse tipo de projeto na construo de edifcios no aconteceu, porm, da mesma forma que na indstria seriada. Verifica-se que a indstria seriada apresenta nfase no processo, enquanto a indstria da construo apresenta nfase no produto. Esse aspecto particulariza cada uma dessas indstrias acentuando as diferenas entre elas. O fato que a indstria seriada tem uma preocupao muito mais profunda com o processo, pois qualquer falha pode se repetir para uma grande quantidade de produtos fabricados e que sero lanados no mercado consumidor. Por isso, o projeto voltado produo sempre teve a sua importncia reconhecida por essa indstria, sem, contudo, descartar o papel do projeto de novos produtos como elemento fundamental para o seu desenvolvimento. Esses aspectos repercutem sobre a atividade de projeto determinando a maior ou menor nfase sobre o produto ou processo.

    Na construo de edifcios, pode-se caracterizar o projeto para produo como um conjunto de elementos de projeto elaborados de forma simultnea ao detalhamento do produto e que traz essencialmente elementos da atividade de produo como disposio e seqncia das atividades, frentes de servio, arranjo e evoluo do canteiro de obras. Diferentemente dos chamados projetos de produto, que mostram o aspecto do produto final, indicando o que entregar, os projetos para produo objetivam responder a como fazer, de modo a aproximar o projeto do produto das necessidades da produo.

    Ilustram-se as diferenas entre projetos do produto e projetos para produo na Tabela 6, com os seus respectivos objetivos e escopos.

    Tabela 6 Definio e escopo do projeto do produto e do projeto para produo.

    Projeto do produto (nvel conceptivo)

    Projeto para produo (nvel produtivo)

    Objetivo Objetiva definir caractersticas e dimenses do produto concebido, na forma de um

    registro grfico-descritivo das especificaes tcnicas a serem atendidas pelos produtos

    entregues

    Objetiva definir como e com quais recursos dever ser produzido o produto. Constitui-se em

    uma ferramenta organizacional de carter essencial

    Escopo Especificaes do produto: Especificaes para aquisio e

    entrega do produto;

    Parmetros de desempenho;

    Definio dos padres de qualidade;

    Tolerncias admissveis para a qualidade.

    Definio dos materiais e componentes a serem empregados; Definies relacionadas ao planejamento e execuo, tais como:

    Tcnicas e mtodos construtivos; Solues para as interfaces; Equipamentos utilizados; Seqncias de execuo; Logstica de produo.

    Definio dos parmetros para a gesto e controle do processo de produo.

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    Aplicaes do projeto para produo na construo de edifcios

    Os primeiros projetos para produo introduzidos no mercado na construo de edifcios foram os projetos de frmas e de vedaes verticais. O projeto para produo de frmas comeou a ser praticado na dcada de 60, sem muita base terica, mas apenas para melhorar a produtividade da mo-de-obra e a qualidade do servio de frmas. J naquela poca esse tipo de projeto se propunha a melhorar os aspectos da produo. A concepo atual desse projeto est sendo praticada desde a dcada de 80 e vem sofrendo evolues. Quanto ao projeto de vedaes, ele comeou a ser praticado no final dos anos 80 e com maior intensidade na dcada de 90; em muitos casos, ele envolve tambm as vedaes horizontais e, pouco a pouco, vai assumindo um papel fundamental na compatibilizao de projetos. Outros projetos para produo como os de impermeabilizao, de revestimentos de fachada e de esquadrias vm sendo praticados h menos tempo e ou com menor freqncia.

    A Tabela 7 exemplifica, para alguns tipos de projetos para produo, os objetivos e escopos que podem ser adotados em cada projeto.

    Tabela 7 Exemplos de projetos para produo na construo de edifcios

    Projeto Objetivos Escopo Projeto para Produo das Frmas

    Desenvolver solues e definir detalhes operacionais que permitam racionalizar a execuo, desde a montagem e desmontagem, transporte, conferncias, at a definio das condies necessrias para as concretagens, garantir a segurana, custos adequados e o mximo desempenho das estruturas de concreto, com baixa incidncia de falhas e problemas patolgicos.

    formas de estoque e processamento dos materiais e componentes, equipamentos de transporte;

    desenhos de fabricao das frmas; detalhes de fabricao e montagem;

    as condies para o incio da execuo das frmas (anlise dos servios anteriores);

    transferncia e locao dos eixos e dos pilares; frentes de trabalho; equipamentos e ferramentas para execuo e

    controle; lista de pontos de verificao; elementos de escoramento e travamento; escoras

    permanentes; procedimentos de execuo e controle; intervalos mnimos de tempo que devem ser

    respeitados entre os servios.

    Projeto para Produo de Vedaes Verticais

    Desenvolver solues e definir detalhes operacionais que permitam racionalizar a execuo, obter bom alinhamento e prumo da vedao vertical, consideradas as interferncias na sua execuo, evitar retrabalho e necessidade de regularizaes de paredes, garantir custos adequados e o mximo desempenho das vedaes, com baixa incidncia de falhas e problemas patolgicos.

    formas de estoque e processamento dos materiais e componentes, equipamentos de transporte;

    condies para o incio da execuo das paredes; frentes de trabalho; seqncia de preparo da estrutura, envolvendo

    elementos de fixao das paredes, onde tiverem sido previstos;

    seqncia de demarcao, de elevao e de fixao das paredes;

    vistas em elevao das paredes, considerando interfaces com as instalaes e as esquadrias;

    quantificao de materiais e componentes;

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    procedimentos de execuo e controle; equipamentos e ferramentas para execuo e

    controle; intervalos mnimos de tempo que devem ser

    respeitados entre os servios.

    Projeto para Produo de Vedaes Horizontais

    Desenvolver solues e definir detalhes operacionais que permitam racionalizar a execuo, obter bom nivelamento e planeza da vedao horizontal, consideradas as interferncias na sua execuo, evitar retrabalho e necessidade de regularizaes de piso, garantir custos adequados e o mximo desempenho das vedaes, com baixa incidncia de falhas e problemas patolgicos.

    equipamentos de transporte; condies para o incio da execuo das lajes

    (anlise das frmas, das armaduras e das instalaes embutidas);

    frentes de trabalho; seqncia de demarcao e de fixao de

    referncias de nvel, de caixas de passagem e de gabaritos para rebaixo;

    procedimentos de execuo e controle; equipamentos e ferramentas para execuo e

    controle; especificaes, espessuras e desnveis dos

    revestimentos; fixaes de esquadrias no piso; detalhes de soleiras ou filetes ressaltados.

    Projeto para Produo de Revestimentos

    Desenvolver solues e definir detalhes operacionais que permitam racionalizar a execuo, obter boa qualidade dos acabamentos, consideradas as interfaces da sua execuo, evitar espessuras excessivas e retrabalho, garantir custos adequados e o mximo desempenho dos revestimentos, com baixa incidncia de falhas e problemas patolgicos.

    formas de estoque e processamento dos materiais e componentes, equipamentos de transporte;

    condies para o incio da execuo dos revestimentos (anlise das bases ou substratos);

    seqncia de execuo dos revestimentos; intervalos mnimos de tempo que devem ser respeitados entre os servios; seqncia de execuo das atividades por pavimento;

    frentes de trabalho; procedimentos de execuo e controle; equipamentos e ferramentas para execuo e

    controle.

    Projeto do Canteiro de Obras

    Desenvolver solues e definir detalhes operacionais que permitam racionalizar a produo no canteiro de obras, de modo a proporcionar a mxima produtividade no uso dos recursos fsicos, e garantir a segurana e a sade no trabalho, com custos adequados.

    leiaute geral de produo no canteiro, com a locao dos equipamentos, reas de estocagem, reas para manuteno, sistemas para transporte de materiais e componentes, vias para circulao de pessoas e de equipamentos;

    organizao da produo e de seus fluxos; condies de trabalho e servio e mapeamento de

    riscos; condies de segurana e higiene do trabalho;

    reas destinadas administrao; reas de vivncia destinadas ao pessoal da obra;

    procedimentos de execuo e controle dos principais servios;

    equipamentos de proteo coletiva; meios de comunicao, sinalizao, quadros de

    aviso e aparelhos sonoros.

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    No desenvolvimento dos projetos para produo, uma das principais vantagens auferidas est no tratamento das interfaces entre servios de execuo; assim, por exemplo, na interface entre vedaes e instalaes, tem-se aspectos importantes a serem considerados, tais como:

    a definio das cotas de marcao das passagens e furaes necessrias s instalaes, considerando as interferncias com a execuo da estrutura;

    a definio das formas de passagem, marcao e gabaritos, e sua seqncia de execuo;

    as condies para o incio da execuo dos ramais das instalaes;

    a seqncia das atividades de execuo das instalaes, considerando as interferncias com as vedaes.

    A importncia da elaborao de diversos projetos para produo est em garantir ao mximo a definio prvia dos principais servios que afetam ao processo de produo, bem como garantir um nvel de racionalizao construtiva compatvel entre subsistemas que se sucedem na execuo das obras de edifcios, como estrutura, vedaes, instalaes, revestimentos, etc. E, para o projeto do canteiro de obras, convergem todas as definies de produo de cada um dos subsistemas e outros aspectos gerais, como a segurana e a sade no trabalho, a estocagem dos materiais e o uso de equipamentos de transporte.

    A seguir, discutem-se quais elementos so necessrios para que o projeto para produo seja implementado adequadamente e atinja seus objetivos quanto integrao entre projeto e execuo de obras.

    Implementao e avaliao de projetos para produo

    O conceito dinmico de projeto caracteriza-o como um processo com entradas e sadas, mas que no acaba com a finalizao do prprio processo de projeto, mas visualiza outros processos paralelos, integrando-os. Sob a tica do conceito dinmico do projeto que se prope enfocar o projeto para produo, de modo a destacar a sua insero dentro do processo de projeto, a sua interao com outras especialidades de projeto e a sua interao com a obra.

    A implementao adequada de projetos para produo na construo de edifcios no deve ser caracterizada apenas pela contratao de um projetista e utilizao de um conjunto de plantas ou desenhos referentes a um determinado subsistema ou parte de um edifcio. Os projetos para produo apresentam uma interface muito grande com outros projetos (alguns mais do que outros) necessitando de muitas informaes. Alm disso, as definies sobre a produo so reflexo das especificaes do produto concebidas por outros projetos, o que s vezes pode determinar que a soluo adotada no seja a melhor para a produo. Portanto, se no houver cuidado com essas interfaces entre os projetos e uma discusso sobre as alternativas e solues envolvidas, o projeto para produo no trar os resultados esperados.

    Por isso, o adequado envolvimento dos responsveis pelos projetos para produo desde as primeiras etapas do processo de projeto fundamental para o seu desenvolvimento. H uma tendncia clara de se envolver esses especialistas cada vez mais cedo no processo de projeto, o que no ocorria na grande maioria dos casos, quando esse tipo de projeto comeou a ser utilizado. Por vezes, esses projetistas eram (ou so) envolvidos no processo de projeto aps os projetos executivos estarem

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    concludos ou, at mesmo, s vsperas da execuo na obra do subsistema a ser projetado, e eventualmente tendo j iniciada a sua construo.

    Alm dos parmetros relacionados ao processo de projeto, outros processos explicaro o maior ou menor grau de sucesso obtido na integrao entre projeto e execuo das obras. No apenas o desenvolvimento dos projetos para produo deve ser cuidado; tambm a sua compreenso adequada pelas equipes de execuo das obras, sua materializao enquanto informao, que alimenta engenheiros-residentes, tcnicos de planejamento, mestres-de-obras, encarregados e operrios, deve ser garantida.

    O ganho real com esses projetos s alcanado quando existe discusso das solues adotadas e envolvimento no processo, no s de projetistas de projeto para produo, mas tambm de projetistas de outras especialidades, de coordenadores de obras e de engenheiros-residentes. Essa situao tem ainda que estar vinculada a uma coordenao de projetos muito eficiente; caso contrrio, o processo no fluir ou se tornar extremamente difcil para todos os projetistas envolvidos. Sabe-se que existe um longo caminho a ser percorrido para que realmente se alcance esse estgio de projeto, mas certamente trata-se de uma tendncia irreversvel.

    Nesse sentido, na construo francesa, se inclui uma fase entre o projeto e a execuo, denominada preparao da execuo de obras. Tal fase visa minimizar as lacunas entre o projeto e a execuo analisando antecipadamente como fazer no canteiro o que foi projetado. No Brasil, no h uma fase de preparao de obras propriamente, Souza (2001) prope algumas aes que devem ser planejadas com o objetivo de melhorar essa interao como a coordenao de projetos e a utilizao de projetos voltados produo.

    O comprometimento dos clientes e de gestores de alto nvel decisrio, que devem apoiar e disponibilizar os recursos necessrios; o envolvimento dos fornecedores e suas garantias com relao a qualidade, entrega no prazo e capacidade de entrega; a capacitao das equipes de obra, tanto da mo-de-obra de execuo quanto de engenheiros-residentes e estagirios, sero ainda fatores fundamentais a se considerar.

    Por ltimo, os resultados obtidos com o uso de projetos para produo devem ser avaliados durante o seu desenvolvimento, durante a sua implementao e aps a execuo do subsistema projetado.

    A avaliao durante o desenvolvimento do projeto para produo deve contemplar os seguintes aspectos:

    Soluo das interferncias com os projetos que possuem interface com o projeto para produo analisado;

    Participao do projetista de projeto para produo desde as primeiras etapas do processo de projeto, contribuindo para a coordenao eficiente entre os diversos projetos.

    Essa avaliao deve constituir um elemento de retroalimentao para a equipe de projetos e o coordenador de projetos, ser o principal responsvel por analisar e distribuir as informaes.

    Durante a implementao dos projetos no canteiro de obras, a avaliao deve considerar principalmente a facilidade que o projeto oferece para a execuo do subsistema (construtibilidade) e o envolvimento do projetista durante a implementao do projeto para produo em obra:

    Qualidade do projeto considerando o seu grau de racionalizao, ou seja, o quanto as solues adotadas podem trazer benefcios em termos de custo, planejamento, prazo e

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    qualidade da execuo. Essa qualidade pode ser medida atravs de indicadores de qualidade que devem ser criados pela empresa construtora de acordo com as necessidades e exigncias de cada empreendimento;

    Envolvimento do projetista durante a implementao do projeto para produo em obra e etapas posteriores.

    Aps a execuo do subsistema projetado, os aspectos a avaliar quanto aos resultados do projeto para produo devem estar relacionados ao desempenho do produto, ou seja, se as solues projetadas so favorveis quanto s condies requeridas de funcionalidade, manuteno e durabilidade.

    Essas avaliaes tm um papel relevante na implementao dos projetos para produo, na medida em que indicam qual a eficcia desses projetos e do subsdio para que novos projetos sejam elaborados com base em uma retroalimentao j analisada.

    A meta a ser atingida deve ser a implementao do verdadeiro esprito do projeto simultneo, em que cada projetista se preocupa com o produto do seu trabalho compreendendo que ele ser entrada para um novo processo, e que h uma necessidade premente de estar interagindo com os demais projetistas.

    O projeto de vedaes verticais

    Dentre os projetos hoje utilizados em empreendimentos privados, o projeto de vedaes verticais ganhou um papel de destaque, principalmente a partir da segunda metade dos anos 90. Um dos motivos para isso o fato de que esse tipo de projeto incorpora uma sntese dos principais projetos do produto, por exigir que eles sejam compatibilizados, em decorrncia das vrias interfaces entre as vedaes verticais e outros elementos, como esquadrias, revestimentos, estrutura e sistemas prediais. O projeto de vedaes verticais tambm fornece elementos para a produo racionalizada das vedaes verticais, o que favorece a integrao entre equipe de projeto e equipe de execuo. Deve-se ainda levar em considerao que as vedaes verticais apresentam ndices elevados de desperdcio de materiais e mo-de-obra, e tambm, de manifestaes patolgicas, o que igualmente justifica o interesse em seu melhor detalhamento. Todos esses argumentos condicionaram a escolha desse projeto como o melhor exemplo de projeto voltado integrao entre projeto e execuo, que se poderia escolher para apresentar neste livro.

    Em termos histricos, pode-se afirmar que a introduo do projeto de vedaes verticais no processo de projeto foi gradativa e que ainda est evoluindo; no incio, ocorria na grande maioria das vezes na etapa de detalhamento; raramente o projeto de vedaes verticais era solicitado antes de concludo o anteprojeto. Mais recentemente, a maioria dos contratantes passou a solicitar o projeto de vedaes verticais no incio do desenvolvimento do anteprojeto, uma mudana de postura que se deve constatao do maior potencial de racionalizao construtiva nas etapas iniciais do desenvolvimento dos projetos. A adoo da coordenao dimensional na fase de projeto, por exemplo, permite ajustar as medidas de todos os componentes da vedao e dos subsistemas a ela relacionados, de modo a potencializar-se a racionalizao construtiva e diminurem-se as incompatibilidades e improvisaes na fase de execuo.

    Alguns projetistas, no caso das disciplinas de projeto mais tradicionais, ainda apresentam resistncia ao desenvolvimento simultneo dos projetos, mas essa postura parece se alterar pouco a pouco, com a evoluo das exigncias de mercado na construo de edifcios.

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    Hoje, em So Paulo, o desenvolvimento desses projetos de vedaes verticais, sejam elas projetadas em alvenaria ou em divisrias leves de gesso acartonado, geralmente feito por empresas de projeto especializadas que estabeleceram padres diversos, baseados na experincia de cada uma delas, porm, com contedos bsicos semelhantes. De acordo com o estudo realizado por Dueas Pea (2003) o escopo do projeto de vedaes verticais compreende atualmente as seguintes partes:

    anlise tcnica e conceitual;

    planta de conferncia; planta de locao dos eixos da vedao vertical; planta de marcao da vedao vertical; plantas das passagens de instalaes; caderno de elevaes de paredes; cadernos de detalhes, recomendaes e especificaes tcnicas.

    Uma das atividades mais significativas e representativas do projeto de vedaes verticais a anlise tcnica e conceitual, que deve ser realizada antes do desenvolvimento propriamente dito do projeto de vedaes verticais, de modo a dar suporte anlise crtica dos projetos que tm interface com as vedaes, ao apontar as eventuais deficincias e pontos crticos, assim contribuindo para a melhoria da qualidade tcnica dos projetos e do processo de projeto.

    A Tabela 8 mostra o desenvolvimento de projetos de vedaes verticais, descrevendo de forma sinttica as suas principais atividades e elementos.

    Tabela 8 Desenvolvimento de projetos de vedaes verticais (Adaptado de: DUEAS PEA, 2003)

    INFORMAES A SEREM COLETADAS NOS PROJETOS DO PRODUTO

    ARQUITETURA Implantao e orientao da edificao Dimenses das paredes e dos compartimentos Localizao e dimenses dos vos e instalaes Tipos de revestimentos Previso e tratamento de juntas Detalhes arquitetnicos (soleiras, rebaixos, peitoris, guarnies, etc.)

    ESTRUTURAS Tipos e dimenses dos elementos estruturais Curvas de deformao

    INSTALAES Posio de shafts verticais Passagens de prumadas e de ramais de hidrulica Passagens de quadros, de prumadas e de ramais de eltrica, de telefone e de lgica Pontos de luz, tomadas e interruptores Instalaes de incndio, gs, telefnicas, especiais

    OUTRAS INFORMAES Material de vendas (no caso de empreendimentos imoblirios) Padres construtivos a serem adotados; equipamentos, fornecedores, materiais e mo-de-obra disponveis

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    ANLISE TCNICA E CONCEITUAL Devem ser definidas as solues tcnicas, os materiais a serem empregados, seqncia e procedimentos de execuo. Tais definies partem da anlise estrutural e dimensional, da anlise crtica dos projetos e da anlise das interfaces dos demais subsistemas com a vedao. Os pontos crticos do relacionamento entre a estrutura do edifcio e as vedaes verticais so analisados quanto a: tipos de ligao com a estrutura; necessidade de absorver deformaes; situaes de paredes com solicitaes especficas; juntas de trabalho e de separao; necessidade de reforos em revestimentos. A partir destas anlises so definidos conceitos de produo, tais como: famlia de blocos a ser utilizada; tipo de argamassa; tipos de amarrao entre vedaes, fixao da vedao estrutura, juntas, instalao das esquadrias, relao da vedao com instalaes, vergas e contravergas, utilizao de componentes pr-moldados, etc.

    DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE VEDAES VERTICAIS Elemento de projeto Descrio Escopo (informaes contidas)

    Planta de conferncia A anlise e compatibilizao dos projetos de arquitetura, de estrutura, de sistemas prediais, de interiores, material de vendas, etc. so o primeiro passo desse projeto e implicam quase sempre em ajustes que so registrados na planta de conferncia, para posteriormente serem discutidos com todos os projetistas e validados. Esta planta se apresenta como uma planta de arquitetura com medidas em osso.

    espessuras de paredes sem revestimento;

    cotas de conferncia internas e de vos dos caixilhos e portas (considerando folgas para instalao);

    cotas de piso (bruto e acabado); denominaes de ambientes; denominaes de pilares; denominaes de esquadrias; estrutura em projeo; indicao de enchimentos.

    Planta de locao de eixos Para a elaborao dos demais elementos do projeto de vedaes verticais necessria a definio dos eixos que sero utilizados para locar os blocos, pontos de eltrica, de hidrulica, vos, etc. Esses eixos normalmente so relacionados aos eixos de locao da estrutura ou pontos de referncia j definidos na obra. No caso de serem compatveis e favorveis locao da vedao, os mesmos pontos ou eixos so utilizados, evitando assim a criao de novos eixos para a equipe de execuo. Esta planta se caracteriza por uma planta de frma de estrutura com a locao dos eixos em relao a pontos especficos da estrutura.

    vigas em projeo; pilares; cotas de conferncia da estrutura; eixos ou pontos de referncia; eixos de locao das vedaes

    numerados e cotados em relao aos eixos ou pontos de referncia;

    vazios da estrutura.

    Planta de marcao

    Esta planta traz a compatibilizao dos projetos de arquitetura, estrutura, instalaes, impermeabilizao, esquadrias, etc., associada a uma distribuio horizontal dos componentes de vedao. A distribuio feita aps a elaborao da planta de conferncia, da anlise crtica do projeto de estrutura e, no caso de vedaes em alvenaria, aps a escolha do bloco a ser utilizado, sempre considerando padres construtivos para a execuo. Todas as cotas devem ser de medidas acumuladas em relao aos eixos.

    indicao de vazios, pilares e vigas; numerao das paredes; eixos de locao das paredes; marcao horizontal das paredes; tipo de amarrao entre paredes e

    a estrutura; passagens de eltrica/ hidrulica; cotas de vos de portas; reforos e detalhes especficos.

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    Elemento de projeto Descrio Escopo (informaes contidas)

    Planta de passagens de instalaes

    A planta de passagens contm a indicao e locao de todos os pontos de eltrica e de hidrulica que esto furando ou passando pela laje, bem como passagens, vazios, shafts, etc. a serem deixados na laje. A locao desses pontos est vinculada ao detalhamento das paredes de vedao, de forma que os eletrodutos ou tubos passem nos locais apropriados sem gerar quebras ou rasgos na vedao.

    indicao de vazios, pilares e vigas; eixos de locao das paredes; projeo das paredes; as cotas acumuladas de todos os

    pontos de instalaes em relao aos eixos;

    pontos de eltrica e a indicao de distribuio dos eletrodutos na laje;

    pontos de hidrulica e enchimentos.

    Caderno de elevaes de paredes

    Cada projeto apresenta particularidades e exige um detalhamento direcionado de acordo com o processo construtivo adotado e com as necessidades do cliente. A maioria dos projetos de vedaes verticais apresenta um caderno de elevaes de todas as paredes, em formato A3 ou A4, que facilita o seu manuseio no canteiro de obras. Em cada elevao devem constar as informaes listadas no campo direita.

    dimenses dos vos de estrutura; identificao da parede e sua

    espessura; tipo de ligao entre paredes, e das

    paredes com a estrutura; posicionamento dos componentes

    de vedao e de reforos; enchimentos de eltrica/hidrulica; eletrodutos; caixas eltricas; caixas

    hidrulicas; juntas de dilatao e de

    movimentao; vos e indicao dos tipos de

    esquadrias; dimenses e reforos para quadros

    eltricos/ hidrulicos; quantificao de materiais.

    Cadernos de detalhes, recomendaes e especificaes tcnicas

    Para desenvolver os elementos do projeto de vedaes verticais que constituam realmente um projeto para produo, necessrio que sejam definidos conceitos ligados a execuo, planejamento e controle da obra, tais como: tcnicas construtivas, seqncias de execuo, arranjos de canteiro, sistemticas de transporte, entre outros. Alguns desses itens podem ser definidos pela equipe de execuo da obra, ou supridos parcialmente pelos procedimentos padronizados de execuo, mas podem ser tambm parte do escopo do projeto de vedaes verticais. Em qualquer hiptese, essencial que esses elementos que caracterizam a produo sejam definidos de forma interativa com os conceitos de produto adotados, de modo a potencializar tanto a execuo quanto o desempenho das vedaes.

    detalhes construtivos padronizados; especificaes tcnicas dos

    materiais e componentes; orientao quanto aquisio; orientaes quanto execuo,

    principalmente nas interfaces com os demais subsistemas: impermeabilizao, instalaes, estrutura, revestimentos, etc.

    definio de tolerncias para controle;

    plantas de estocagem e distribuio de componentes;

    leiaute de produo inserido no canteiro de obras.

    A Figura 21 ilustra um fluxograma geral do desenvolvimento do projeto de vedaes verticais.

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    Figura 21 Fluxograma do projeto de vedaes verticais - PVV. (Adaptado de: AQUINO, 2004)

    2a FASE interface com a produo

    1a FASE interface com as demais disciplinas de projeto

    Anlise crtica dos

    anteprojetos que tm

    interface com o PVV

    Compatibili-zao

    ANTEPROJETO

    Levantamento das

    interferncias e discusso de

    solues para PVV

    Anlise crtica do anteprojeto de vedaes

    Definio da modulao

    vertical e horizontal

    Anlise dos estudos preliminares

    Anlise e escolha do tipo de vedao

    com base em requisitos de desempenho

    Estudo de modulao vertical

    Conhecimento das alternativas para

    tecnologia de produo

    empregada para o tipo de vedao

    escolhida

    ESTUDO PRELIMINAR

    Detalhamento do anteprojeto de

    vedaes verticais

    Anlise crtica do detalhamento do

    projeto de vedaes

    EXECUTIVO

    Levantamento das condies do

    canteiro de obras, planejamento

    preliminar e prazos para execuo

    Levantamento dos aspectos

    preliminares da produo da

    estrutura, impermeabilizao,

    esquadrias e revestimento

    Levantamento de dados para o detalhamento

    Ajustes no detalhamento do

    PVV

    Determinao dos equipamentos de

    descarga e transporte

    DETALHAMENTO

    Determinao do local de

    armazenagem dos componentes das

    vedaes

    Definio da forma de produo no

    canteiro de obras

    Estabelecimento da seqncia de

    execuo com base no procedimento de

    execuo e controle e no planejamento

    IMPLEMENTAO E ACOMPANHAMENTO

    Estabelecimento das frentes de

    servio

    Prottipo e anlise crtica do PVV no

    primeiro pavimento

    Reprojeto

    Conferncia da estrutura

    Apresentao do PVV na obra

    Retroalimentao

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    Um dos maiores pontos crticos identificados no processo de projeto est relacionado entrega do projeto de vedaes verticais para a equipe de execuo. A entrega e apresentao do projeto de vedaes verticais para a equipe de execuo so de extrema importncia para eventuais esclarecimentos tcnicos pertinentes, assim como para ajustes, retroalimentao e futuras melhorias. Deve-se estabelecer ainda o acompanhamento da utilizao do projeto durante a execuo, essencial para a qualidade do servio de projeto e conseqentemente para a qualidade da prpria construo.

    Consideraes Finais do Captulo

    Pde-se constatar que a importncia do projeto voltado simultaneamente ao produto e execuo vem sendo bastante discutida e ressaltada no segmento da construo de edifcios. O projeto passa a ser apontado como um meio para a obteno de melhores resultados na produo, mas o seu processo de elaborao ainda precisa ser mais bem desenvolvido dentre as empresas construtoras, para que os resultados possam ser cada vez mais efetivos.

    Para reforar essa discusso, importante ressaltar que muitas empresas do setor mecnico ainda consideram aspectos de produo em etapas posteriores ao desenvolvimento do projeto do produto, postergando decises para a etapa de produo. Alm disso, no h, em muitas dessas empresas, um envolvimento dos engenheiros de produo nas etapas iniciais do projeto do produto e vice-versa (RIEDEL; PAWAR, 1997).

    Esse quadro atesta que, apesar da importncia reconhecida do projeto voltado produo, h ainda dificuldades para a sua introduo em alguns segmentos da indstria seriada, e no se poderia esperar que na construo de edifcios fosse diferente.

    Assim, fica clara a importncia do envolvimento dos especialistas em projetos para produo nas primeiras etapas do processo de projeto, e da sua interao com todos os agentes; torna-se necessria a criao de uma equipe multidisciplinar de projeto, integrada e coordenada, e uso de mtodos adequados de desenvolvimento dos projetos para produo, que levem elaborao de projetos com solues e nvel de detalhamento compatveis com o adequado desenvolvimento da fase de execuo.

    Questes para aprofundamento do tema Alguns projetos para produo podem ser considerados mais prximos a um escopo de projeto

    de produto, do que a um escopo de projeto para produo. Como melhorar esses projetos para que eles realmente atinjam o nvel da produo?

    Qual a relao entre os resultados obtidos com os projetos para produo e o conhecimento tecnolgico de quem os executa? Quais so as necessidades das empresas construtoras em termos de conhecer a tecnologia construtiva envolvida e os controles necessrios durante a execuo de um projeto?

    De que formas a coordenao de projetos tem influncia sobre o desenvolvimento e os resultados dos projetos para produo?

    Como definir o momento mais adequado para se finalizar o detalhamento de um projeto para produo? Com qual antecedncia em relao aos servios de execuo esse detalhamento deveria estar pronto? Essa definio deveria ser alterada de acordo com o contexto de cada empreendimento?

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    Bibliografia do Captulo AQUINO, J.P.A. 2004. Anlise do desenvolvimento e da utilizao de projetos para produo

    de vedaes verticais na construo de edifcios. Dissertao (Mestrado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo.

    DUEAS PEA, M. 2003. Mtodo para a elaborao de projetos para produo de vedaes verticais em alvenaria. Dissertao (Mestrado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo. 160p.

    FABRICIO, M.M. Projeto Simultneo na Construo de Edifcios. 2002. Tese (Doutorado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo. 329 p.

    FABRICIO, M.M.; MELHADO, S.B. Qualidade no processo de projeto. In: OLIVEIRA, O.J. (Org.) Gesto da qualidade: tpicos avanados. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

    MELHADO, S.B. 1994. Qualidade do projeto na construo de edifcios: aplicao ao caso das empresas de incorporao e construo. Tese (Doutorado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo. 294p.

    RIEDEL, J.C.K.H.; PAWAR, K.S. The consideration of productions aspects during product design stages. In: Integrated Manufacturing Systems. Emerald, 1997. v.8, n.4, p. 208-214.

    RUSSEL, R.S.; TAYLOR, B.W. Production and operations management: focusing on quality and competitiveness. Prentice Hall, 1995.

    SCHROEDER, R.G. Operations management: decision making in the operations function. 4.ed. McGraw-Hill, 1993.

    SOUZA, A.L.R.; MELHADO, S.B. Projeto e execuo de lajes racionalizadas de concreto armado. So Paulo: O Nome da Rosa, 2002. 116 p.

    SOUZA, A.L.R.; MELHADO, S.B. Preparao da execuo de obras. So Paulo: O Nome da Rosa, 2003. 144 p.

    SOUZA, A.L.R. 2001. Preparao e coordenao da execuo de obras: transposio da experincia francesa para a construo brasileira de edifcios. Tese (Doutorado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo. 440p.