Cor e Infográfico: O Design da Informação no livro didático

| Revista Brasileira de Design da Informao/Brazilian Journal of Information Design So Paulo | v. 10 | n. 3 [2013], p. 323 341 | ISSN 1808-5377

Artigo | ArtIcle

Cor e Infogrfico: O Design da Informao no livro didtico

Color and Infographic: The Information Design in schoolbook

Milena Quattrer, Anna Paula Silva Gouveia

cor,

infogrfico,

livro didtico

Este artigo parte da pesquisa de Mestrado em Artes Visuais, que teve como

objetivo compreender o quanto a relao entre a cor e os outros elementos

do infogrfico interfere no processo de transmisso da informao e como os

infogrficos, publicados em jornais e revistas, contribuem para o aprimoramento

daqueles destinados aos livros didticos. Objetiva-se, neste artigo, apresentar

as reflexes geradas a partir de: iniciativas de projetos realizados com os alunos

do Ensino Fundamental; anlises de infogrficos publicados em livros didticos

e daqueles publicados em jornais e revistas e premiados no Malofiej; entrevistas

realizadas com professores do Ensino Fundamental e membro do jri do Malofiej. Tais

reflexes forneceram apontamentos importantes sobre o que pode ser aproveitado

dos infogrficos premiados para o aprimoramento dos que so destinados aos

livros didticos, em especial no uso da cor, e demonstraram como importante

proporcionar situaes de ensino-aprendizagem, nas quais o aluno tenha a

oportunidade de se apropriar dos cdigos visuais e, consequentemente, ampliar sua

cultura visual.

color,

infographic,

schoolbook

This article is part of the Research Master in Visual Arts, which aimed to understand

how the relationship between color and other elements of the infographics interfere with

the process of information transmission, and how infographics published in newspapers

and magazines can contribute to improve the ones used in Schoolbooks. The ideas

presented in this article were generated from: two project initiatives undertaken with

elementary school students; analysis of the infographics published in schoolbooks and

those published in newspapers and magazines and awarded at Malofiej; interviews

with elementary school teachers and a member of the jury of Malofiej. Such reflections

provide important notes about what can be availed from the awarded infographics in

order to improve the infographics made for the schoolbooks, especially in regards of

the use of color, and demonstrated how important it is to provide teaching-learning

situations in which the students have the opportunity to appropriate the visual codes

hence their visual culture.

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Quattrer, M. & Gouveia, A. P. S. | Cor e Infogrfico: O Design da Informao no livro didtico

1 Introduo

A cor uma valiosa ferramenta para a comunicao visual, por seu potencial em contribuir na organizao e hierarquizao dos dados. E, como j demonstrado em pesquisas anteriores1 , a cor pode atribuir, ou a ela podem ser atribudos, sentidos e valores de acordo com o contexto em que aplicada ou com o acorde cromtico em que est inserida. O infogrfico2, por sua vez, um importante instrumento capaz de tornar a informao interessante, dinmica e atrativa, permitindo que a ideia principal do que est sendo transmitido seja captada em poucos minutos. A dissertao de Mestrado, da qual este artigo fruto, se preocupa em discutir e analisar como a cor estrutura e otimiza a transmisso da informao nos infogrficos, publicados em livros didticos. Desse modo, optei por selecionar infogrficos publicados em livros didticos adotados atravs do Programa Nacional do Livro Didtico3, nas disciplinas de Geografia, Histria e Cincias, e compar-los aos infogrficos publicados em mdia impressa e premiados nas edies 18, 19 e 20 dos Premios Internacionales Malofiej de Infografa4, com o objetivo de compreender o quanto a relao entre a cor e os outros elementos do infogrfico pode interferir no processo de transmisso da informao e, tambm, como os infogrficos premiados podem contribuir para o aprimoramento dos infogrficos destinados aos livros didticos, dando, assim, continuidade s discusses suscitadas pela pesquisa de Iniciao Cientfica.

2 Procedimentos metodolgicos

Para alcanar os objetivos propostos, foram realizados o levantamento dos infogrficos impressos, premiados nas edies 18, 19 e 20 dos Premios Internacionales Malofiej de Infografa, bem como dos infogrficos impressos publicados nos livros didticos adotados, atravs do Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) - 2011, pelos professores responsveis pelas disciplinas de Cincias, Geografia e Histria do ciclo IV5 do Ensino Fundamental da EMEF CAIC Prof

1 O uso das cores em infogrficos de divulgao cientfica, 2010. Iniciao Cientfica realizada sob orientao da Profa Dra

Anna Paula Silva Gouveia, no Departamento de Artes Plsticas do Instituto de Artes Unicamp e apoiada pelo Programa

Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica (PIBIC Unicamp)

2 Para a pesquisa, da qual este artigo fruto, infogrfico se refere nica e exclusivamente representao esquemtica da

informao atravs da integrao entre elementos grfico-visuais ilustraes, fotografias, grficos, tabelas, cronologias,

fluxogramas, organogramas, mapas, diagramas e textos que devem ser, sobretudo, sintticos.

3 O Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) um programa do governo federal brasileiro de distribuio de livros

didticos aos alunos de educao bsica da rede pblica.

4 Os Premios Internacionales Malofiej de Infografa mais conhecidos como Malofiej so promovidos anualmente em

Pamplona, na Espanha, pela Society for News Design (SND-E).

5 O ciclo IV corresponde aos 8 e 9 anos do Ensino Fundamental.

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Zeferino Vaz6, localizada no municpio de Campinas/SP. A partir desse levantamento, os infogrficos foram selecionados e agrupados para anlises, de acordo com a proximidade no assunto, forma de abordagem e, principalmente, no uso da cor.

importante salientar que a cor o elemento de destaque nas comparaes e anlises realizadas, por seu potencial de contribuir na organizao e hierarquizao dos dados, auxiliando na transmisso da informao e incorporando significados a ela. Para tanto, buscou-se em Edward R. Tufte (2011a) e Luciano Guimares (2004) respaldo terico para se discutir cor e informao.

Segundo Tufte, no design da informao, a cor fundamentalmente aplicada para (...) rotular ou legendar (cor como um substantivo), medir (cor como quantidade), representar ou imitar a realidade (cor como representao) e para animar ou decorar (cor como beleza). (Tufte, 2011a:81)7

Sobre o conceito de cor-informao de Luciano Guimares (2003):

(...) Considera-se a cor como informao todas as vezes em que sua

aplicao desempenhar uma dessas funes responsveis por organizar

e hierarquizar informaes ou lhes atribuir significado, seja sua atuao

individual e autnoma ou integrada e dependente de outros elementos do

texto visual em que foi aplicada (formas, figuras, texturas, textos, ou at

mesmo sons e movimentos, como em produtos multimdia). (Guimares,

2003:31).

A partir das afirmaes de Tufte e Guimares, optou-se por selecionar, comparar e analisar os infogrficos em que a cor esteja aplicada para: (i) rotular/legendar, ou seja, diferenciar um item de outro; e (ii) medir, ou seja, indicar quantidade, profundidade etc. A escolha se deve ao fato de que, durante o levantamento nos livros didticos adotados, verificou-se que rotular/legendar e medir eram pontos importantes nos infogrficos aplicados no processo de ensino-aprendizagem, e as entrevistas com os professores confirmam isso.

A seguir, esto apresentados os infogrficos selecionados para comparao e anlises, organizados em pares, a partir da proximidade no assunto, forma de abordagem e aplicao da cor.

6 Optou-se pela EMEF CAIC Prof Zeferino Vaz, pelo fato da pesquisadora ser docente efetiva do quadro de funcionrios dessa

unidade escolar e, principalmente, por desenvolver, desde o ano letivo de 2011, o projeto Infografia o Design da Informao

na imprensa e no ambiente escolar com alunos regularmente matriculados nos ciclos III e IV nessa unidade escolar.

7 Traduo livre.

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2.1 Infogrficos selecionados para anlise8

2.1.1 Geografia

1. Os infogrficos agrupados no Quadro 1 abordam o assunto distribuio da gua nos continentes atravs do elemento grfico-visual mapa e aplicam a cor essencialmente para indicar quantidade, ou seja, medir e diferenciar um item de outro, rotular/legendar.

8 De acordo com a Lei n 9.610/98, Art. 46, inciso III, as reprodues dos infogrficos analisados, apresentadas neste artigo para

fins de estudo e crtica, no constituem ofensa aos direitos autorais.

Figura 1 Infogrfico Recursos hdricos renovveis internos, por pessoa, por

ano (2005) e projeo para 2050 em metros cbicos.

Quadro 1 Infogrficos analisados no Grupo 1 Geografia

Ttulo do infogrgico Autor Publicao Elemento grfico-visual principal

Aplicao da cor

Recursos hdricos renovveis internos, por pessoa, por ano (2005) e projeo para 2050 em metros cbicos (Figura 1)

Anderson de Andrade Pimentel

Projeto Ararib: Geografia Volume 4

Mapa Medir

World of rivers9 (Figura 2) Elaine Bradley, Jane Vassels, Christy Ullrich, Kaitlin Yarnall, Debbie Gibbons e Dianne Hunt.

National Geographic Magazine (EUA)

Mapa Medir

9 Ouro na categoria Reportagem e eleito o vencedor da categoria Best map/ Miguel Urabayen do Malofiej 19.

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2. Esto relacionados no Quadro 2 os infogrficos que apresentam em comum o assunto fome na frica, os elementos grfico-visuais mapa e grfico e aplicam a cor para rotular/legendar e medir.

Figura 2 World of rivers.

Quadro 2 Infogrficos analisados no Grupo 2 Geografia.

Ttulo do infogrfico Autor Publicao Elemento grfico-visual principal

Aplicao da cor

Fome e doenas: subprodutos da pobreza (Figura 3)

Alessandro Passos da Costa

Projeto Ararib: Geografia Volume 4

Mapa e grfico

Rotular/ legendar e medir

Fome no corno da frica uma tempestade perfeita em termos de crise humanitria10 (Figura 4)

Joaquim Guerreiro, Ctia Mendona, Clia Rodrigues e Jos Alves.

Pblico (Portugal)

Mapa, cronologia, diagrama e grfico


10 Prata na categoria Portflio do Malofiej 20.

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Figura 3 Pginas com o infogrfico Fome e doenas: subprodutos da pobreza.

Figura 4 Fome no corno da frica uma tempestade perfeita em termos de crise humanitria.

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2.1.2 Histria

No Quadro 3 esto agrupados os infogrficos que tm em comum a apresentao de dados estatsticos sobre o Brasil, essencialmente, atravs do elemento grfico-visual mapa e aplicam a cor para medir.

Quadro 3 Infogrficos analisados no Grupo de Histria.

Ttulo do Infogrfico Autor Publicao Elemento grfico-visual principal

Aplicao da cor

Incluso social no Brasil de acordo com o IDH (Figura 5)

No consta Histria em Projetos Volume 4

Mapa Medir

Geografia do Voto11 (Figura 6) Fabio Sales, Gabriela Allegro, Regina Elisabeth, Glauco Lara, Eduardo Asta, Rubens Paiva, Rodrigo Fortes, Gisela Oliveira e Carlos Lemos

O Estado de S. Paulo (Brasil)

Mapa, tabela e grfico

Medir e Rotular/ legendar

Figura 5 Pgina com o infogrfico Incluso social

no Brasil de acordo com o IDH.

11 Bronze na categoria Reportagem Bronze do Malofiej 19.

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2.1.3 Cincias

1. O Quadro 4 formado por infogrficos que apresentam o funcionamento do crebro, atravs do elemento grfico-visual diagrama e aplicam a cor para diferenciar um item de outro, ou seja, rotular/legendar.

Figura 6 Paginas com o infogrfico Geografia do voto.

Quadro 4 Infogrficos analisados no Grupo 1 Cincias.


Aplicao da cor

Esquema da atuao de algumas partes do encfalo humano (Figura 7)

Paulo Manzi Cincias Naturais Aprendendo com o Cotidiano Volume 3

Diagrama Rotular/ legendar

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Quadro 4 Infogrficos analisados no Grupo 1 Cincias.


Aplicao da cor

The brain in slumber12 (Figura 8) Juan Velasco e equipe

National Geographic Magazine (EUA)

Diagrama e grfico


12 Prata na categoria Portflio do Malofiej 19

Figura 7 Pginas com o infogrfico Esquema da atuao de algumas partes do

encfalo humano.

Figura 8 The brain in slumber.

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2. Por fim, no Quadro 5 esto agrupados os infogrficos que apresentam sistema reprodutor masculino e feminino, atravs do elemento grfico-visual diagrama e aplicam a cor para rotular/legendar.

Quadro 5 Infogrficos analisados no Grupo 2- Cincias.


Aplicao da cor

O sistema genital masculino e O sistema genital feminino (Figura 9)

Ceclia Iwashita Cincias Naturais Aprendendo com o Cotidiano Volume 4


As idades do sexo13 (Figura 10) Sofia Miguel Rosa Expresso (Portugal)


Figura 9 O sistema genital masculino e O sistema genital feminino.

13 Prata na categoria Reportagem do Malofiej 18.

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2.2 Parmetros para anlise da estrutura cromtica dos infogrficos selecionados

Para a anlise da estrutura cromtica dos infogrficos selecionados, os parmetros de definio da cor matiz, luminosidade e saturao foram adotados. Segundo Guimares,

Os trs parmetros para definio das cores so praticamente universais.

Um primeiro para determinar a exata posio da cor no espectro

eletromagntico; um segundo para determinar as atenuaes ascendentes

(clareamento) e descendentes (escurecimento) da cor; e um terceiro para

determinar a proximidade da cor espectral com a sua correspondente em

uma escala de tons de cinza. (2004:54-55)

Sendo assim, para a presente pesquisa, matiz corresponde posio da cor no espectro eletromagntico, luminosidade se refere variao de clareamento e escurecimento da cor, e saturao variao da cor em uma escala que parte da sua cor espectral (matiz) ao seu tom de cinza correspondente.

2.3 Entrevistas

Para este trabalho, optou-se pelo mtodo de entrevista estruturada atravs de dois tipos de questionrios: aberto e semiaberto. O questionrio aberto foi aplicado na entrevista com a ex-editora de arte da revista Superinteressante e membro do jri da 16 edio do Malofiej, Renata Steffen, a fim de possibilitar o entendimento das particularidades do processo de elaborao do infogrfico no ambiente da imprensa e, tambm, da estrutura e organizao do Malofiej. O questionrio semiaberto foi aplicado nas entrevistas com os professores do ensino fundamental da Rede Municipal de Campinas, com o intuito de verificar e compreender de que modo os infogrficos publicados em livros didticos participam e contribuem no processo de ensino-aprendizagem em especial a cor-informao e como as

Figura 10 As idades do sexo.

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solues propostas pelos infogrficos premiados no Malofiej podem colaborar nesse processo.

Professores entrevistados: Eliane Maria Rodrigues Quinalha, Geografia; Murillo Scaranari Antunes, Geografia; Clia Garcia, Histria; Teresinha Cristina Bianco, Histria; e Frederico T. Magalhes, Cincias. Os professores foram entrevistados individualmente nas dependncias da EMEF CAIC Professor Zeferino Vaz em agosto de 2013. Durante as entrevistas, os professores tiveram em mos o livro didtico de sua disciplina, no qual o infogrfico selecionado havia sido publicado, bem como a reproduo fotogrfica do infogrfico selecionado, premiado no Malofiej.

3 Reflexes geradas a partir das anlises dos infogrficos e das entrevistas

As anlises dos infogrficos e das entrevistas com os professores possibilitaram o levantamento de pontos importantes sobre o que pode ser aproveitado dos infogrficos premiados no Malofiej para o aprimoramento dos infogrficos destinados aos livros didticos. So eles: (i) problemas e solues de aplicao da cor; (ii) tamanho e disposio na pgina; (iii) combinao entre elementos grfico-visuais.

3.1 Problemas e solues de aplicao da cor

No primeiro ponto, destacam-se problemas e solues de aplicao da cor, apresentados nos infogrficos publicados em livros didticos e nos infogrficos premiados no Malofiej. As anlises demonstraram que as escalas de valores e matizes podem ser grandes aliadas na transmisso da informao, em infogrficos que apresentam dados numricos, ao indicar quantidade ou profundidade (medir), bem como naqueles que demonstram o funcionamento de partes do corpo humano ao diferenciar um item de outro (rotular/legendar). Todavia, de acordo com o acorde cromtico aplicado ou as variaes de luminosidade e saturao nas escalas, o que antes era um aliado pode se tornar um vilo: escalas de matizes podem transformar infogrficos em enigmas visuais14 e comprometer o entendimento da informao. o caso da escala de matizes aplicada em Incluso social no Brasil de acordo com o IDH (Figura 5). Para a professora Garcia, as cores poderiam ser mais contrastantes, de modo a facilitar a compreenso dos dados nas reas em que predominam o violeta luminoso e o amarelo. J na opinio da professora Bianco, substituir o violeta-luminoso por outra cor mais saturada ou, nas palavras da professora, chocante, poderia comprometer a informao e prejudicar o contraste entre o vermelho

14 Tufte, 2011b:153.

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e o verde, que representam dois extremos importantes para o estudo do IDH.

Porque a ideia direcionar o seu olhar justamente para o vermelho e

depois voc comparar com o verde. (...) as reas onde tem mais problema

com o IDH o vermelho que te chama mais a ateno, contrastando com

o verde, onde o IDH mais elevado, mas so pequenas as reas. Ento,

eu tambm preciso de uma cor que me chame, que me leve para l, para

eu perceber. E o suave, a suavidade das outras cores para mostrar onde a

coisa mais ou menos. (Teresinha Cristina Bianco)

Em todo caso, apesar do contraste entre os extremos dos dados representados em vermelho e verde se mostrar adequado, a legibilidade fica comprometida nas reas onde so aplicados o violeta luminoso e o amarelo. O que j no ocorre no acorde cromtico utilizado no infogrfico premiado Geografia do voto (Figura 6). De acordo com as anlises, o contraste principal entre as escalas de luminosidade e saturao do vermelho e azul aplicado no infogrfico antecipa o assunto (imediatamente o leitor informado sobre o tema abordado: eleies), e contribui na hierarquia visual e organizao das informaes apresentadas (distribuio e porcentagem de votos de cada candidato). Segundo Guimares (2004:110), a utilizao da informao cromtica pela cultura pode determinar sistemas de agrupamento, identificao, armazenamento e transmisso diferentes.

A ao positiva da cor de antecipar o assunto e o enfoque dado pelo infogrfico ocorre, tambm, nos casos em que o vermelho aplicado em reas que representam dados alarmantes, como em Recursos hdricos renovveis internos, por pessoa, por ano (2005) e projeo para 2050 em metros cbicos (Figura 1) e no premiado Fome no corno da frica uma tempestade perfeita em termos de crise humanitria (Figura 4). Nesses casos, o vermelho atrai a ateno do leitor para reas problemticas, assim como o laranja luminoso e pouco saturado, aplicado para representar os rios intermitentes no premiado World of rivers (Figura 2) que, em contraste com o azul ciano e o branco, destaca as reas com escassez de gua. Sobre World of rivers, possvel afirmar ainda que o azul ciano aplicado em linhas e formas, que representam no mapa, respectivamente, rios e lagos, exerce a ao positiva de antecipao15, pois nesse contexto, imediatamente, o leitor associa azul ciano agua. A relao entre cor e significado no arbitrria ou acidental, ao contrrio, parte de um contexto cultural que, segundo Heller (2004), pode ser compreendido a partir da tradio histrica e do simbolismo psicolgico. Nas convenes cartogrficas, o azul e suas variaes de luminosidade esto tradicionalmente ligados representao da gua. No entanto, os autores de World of rivers, Fome no corno da frica uma

15 Guimares, 2003:91.

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tempestade perfeita em termos de crise humanitria e Geografia do voto optam por aplicar o branco nas reas que representam os mares e oceanos, o que, segundo as anlises, no compromete o entendimento da informao e possibilita o uso dessas reas para acrescentar outras informaes importantes sobre o assunto abordado pelos infogrficos.

Outra soluo, apontada em um dos infogrficos premiados e valorizada pelos professores entrevistados, foi o aumento da espessura da linha branca de diviso dos Estados, para delimitar as regies do Brasil nos mapas apresentados em Geografia do voto (Figura 6). A aplicao do branco nas linhas que indicam as divises polticas entre Estados e pases, entre outras coisas, contribui para evitar as imprecises de leitura provocadas pelo contraste simultneo entre os matizes. Esse recurso tambm aplicado no infogrfico Recursos hdricos renovveis internos, por pessoa, por ano (2005) e projeo para 2050 em metros cbicos (Figura 1) e nos mapas de Fome, doenas e conflitos na frica (Figura 3).

Nos casos de representao do corpo humano, os infogrficos premiados apontaram solues funcionais, mas tambm exemplificaram alguns problemas importantes e que devem ser levados em conta no processo de construo do infogrfico. No premiado As idades do sexo (Figura 10), a aplicao do cinza nos diagramas (com constncia de desenho16) associada aos detalhes coloridos (a partir de uma escala de matiz) contribuiu para identificar as estruturas e relacion-las aos textos aos quais se referem. De acordo com as anlises, acordes cromticos de carter artificial ao corpo humano contribuem para o entendimento da informao, ao serem aplicados para destacar os elementos importantes em diagramas anatmicos, como os apresentados em As idades do sexo e Esquema da atuao de algumas partes do encfalo humano (Figura 7), este ltimo publicado em livro didtico. Todavia, segundo a pesquisa de iniciao Cientfica, nos infogrficos em que a figura do corpo humano evidente, acordes cromticos artificiais podem agregar carter inumano s imagens.

3.2 Tamanho e disposio na pgina

O segundo ponto diz respeito ao tamanho dos infogrficos e disposio na pgina. No caso dos infogrficos publicados em livros didticos, tanto naqueles que apresentam dados numricos, atravs de mapas, quanto nos que demonstram o funcionamento de partes do corpo humano, o tamanho foi um dos problemas apontados pelos entrevistados. Segundo o professor Antunes, a ampliao do infogrfico Recursos hdricos renovveis internos, por pessoa, por ano (2005) e projeo para 2050 em metros cbicos (Figura 1)

16 Tufte, 2011a:67

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possibilitaria ao professor, entre tantas coisas, perguntar aos alunos questes mais especficas.

Para torn-lo mais que adequado, poderia ser em um tamanho ampliado,

porque a voc conseguiria, por exemplo, perguntar coisas mais

especficas. Como um mapa-mndi e, lgico, um mapa muito ampliado

voc vai poder trabalhar para extrair mais informaes. (Murillo

Scaranari Antunes)

Ainda sobre o tamanho do infogrfico e, tambm, a disposio na pgina, a professora Quinalha afirma:

Ento, se ele fosse maior, ele poderia estar em destaque. S ele. (...) Voc

v que na mesma pgina, a gente tem aqui outro desenho, outra imagem.

Ento, na hora que o aluno est fazendo a leitura, ele vai olhar aqui, mas

ao mesmo tempo ali... Porque a imagem chama a ateno. Ento, eu acho

que poderia ser s ele na pgina e maior. Ou ele e o texto, ou ele e outra

informao. (Eliane Maria Rodrigues Quinalha)

O infogrfico analisado est publicado na mesma pgina em que um infogrfico sobre o aquecimento global apresenta ilustraes de animais, residncias, indstrias etc. Para a professora Quinalha, isso problemtico, pois um infogrfico como esse ltimo muito mais agradvel de se olhar e atrai mais a ateno do aluno do que o infogrfico selecionado, o que pode interferir no entendimento do tema, por parte do aluno. Ainda segundo a professora Quinalha, uma soluo para o problema apresentado seria dar prosseguimento aos assuntos discutidos no texto e no infogrfico selecionado, com informaes sobre os aquferos, por exemplo.

De modo geral, nos livros didticos analisados, encontram-se infogrficos comprimidos entre o texto principal e outras imagens. Os casos crticos envolvem infogrficos que concentram um grande volume de informaes e que deveriam estar impressos em escala maior, como ocorre em Recursos hdricos renovveis internos, por pessoa, por ano (2005), em que quase impossvel distinguir as variaes de tamanho do smbolo aplicado no infogrfico, ou mesmo os pases aos quais determinados dados se referem.

Outro problema apontado pela professora Quinalha se refere aos dados no disponveis apresentados em cinza, que se referem, justamente, s reas polares. Nesse caso, ao analisarem o infogrfico, os alunos costumam questionar por que no h dados disponveis, se sabido que h gua nos polos? Cabe, ento, ao professor explicar que h, sim, gua nos polos, mas est congelada.

A legenda tem que explicar o que voc no entende olhando o mapa. E,

para o professor, esse mapa chato de analisar, ento voc imagina para

o aluno... A legenda, ela tem isso, ela tem que explicar as cores e smbolos

do mapa e no deixar dvida. E o grfico o texto exibido de outra

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forma. (...) Ento, eu acredito que, quando voc vai elaborar um grfico

ou um mapa, voc tem que pensar nisso: ele vai olhar e, atravs desses

desenhos e cores, ele vai ter que entender o que eu quero. (Eliane Maria

Rodrigues Quinalha)

J em jornais e revistas, os infogrficos premiados, que condensam muita informao ou exigem do leitor um olhar mais atento, so comumente impressos em dimenses maiores, s vezes, usando o recurso de pgina dupla, tripla ou, em casos especiais, papis de maior escala, como em World of rivers (Figura 2), o que garante a sua legibilidade. Como podemos observar no infogrfico, as dimenses de World of rivers possibilitaram a apresentao de informaes sobre o assunto tratado, em textos organizados em blocos sobre as reas no mapa que representam os oceanos.

3.3 Combinao entre elementos grfico-visuais

Por fim, o terceiro ponto se refere combinao entre os elementos grfico-visuais nos infogrficos. Em casos como Incluso social no Brasil de acordo com o IDH (Figura 5), que apresenta dados numricos, professores apontaram a necessidade de associar o mapa apresentado no infogrfico a outros tipos de grficos, como os circulares ou em barra, por exemplo, que permitissem a comparao e anlise percentual dos dados, de modo a auxiliar na discusso sobre o tema. O infogrfico premiado Geografia do voto (Figura 6) exemplifica esse tipo de soluo ao combinar mapas do Brasil, mapa-mndi, grficos de barra e tabelas para apresentar os dados. E vai alm, ao apresentar e comparar os dados sobre as eleies presidenciais brasileiras, atravs do recurso da constncia de desenho, ou seja, da repetio do mapa do Brasil com variaes de cor e tamanho, que criam uma hierarquia visual e possibilitam ao leitor explorar os dados fornecidos, atravs de associaes e confrontos entre os mapas. A aplicao da constncia de desenho enfatiza as mudanas de dados17, facilitando a visualizao e a comparao tambm entre as estruturas, como foi possvel observar no infogrfico premiado As idades do sexo (Figura 09). Nesse caso, a escala dos diagramas, representados em cinza, se mantm a mesma, o que varia a aplicao da cor em pequenas reas, que indicam a estrutura qual o texto se refere. Para o professor Magalhes, o recurso de repetir a ilustrao, ou a constncia de desenho, destacando em cor uma estrutura por vez, pode auxiliar e muito a compreenso da informao. Nas palavras de Tufte (2011a:65) informao consiste em diferenas que fazem a diferena18.

17 Ibidem.

18 Traduo livre

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No premiado The brain in slumber (Figura 8), a soluo, que poderia ser aproveitada para o uso nos infogrficos didticos analisados, foi a utilizao do recurso do zoom, para ampliar detalhes da anatomia do crebro e explicar o funcionamento de determinados processos. Esse tipo de recurso foi apontado pelos professores como uma soluo tambm para casos complicados, como Recursos hdricos renovveis internos, por pessoa, por ano (2005) (Figura 1), citado anteriormente, em que difcil compreender em quais pases os smbolos so aplicados, ou mesmo em Incluso social no Brasil de acordo com o IDH (Figura 5), de modo a possibilitar o estudo do IDH por reas especficas do mapa apresentado.

4 Consideraes finais

As anlises das entrevistas com os professores possibilitaram compreender o quanto a relao entre a cor e os outros elementos do infogrfico interfere no processo de transmisso da informao. E, tambm, como os infogrficos premiados no Malofiej podem contribuir para o aprimoramento dos infogrficos destinados aos livros didticos. A cor incorpora significados s informaes e, desse modo, o autor do infogrfico tem total responsabilidade por suas escolhas, uma vez que, hoje, a complicada tarefa de antever os efeitos que a cor produzir em determinada situao atenuada com o auxlio do computador. Criar e manipular os elementos visuais, atravs de softwares, tornou possvel comparar, alterar ou at mesmo descartar determinado elemento com poucos cliques do mouse.

Mais do que o aprimoramento dos infogrficos publicados em livros didticos, as anlises das entrevistas e as duas iniciativas de projetos realizados com os alunos do Ensino Fundamental, que no foram abordadas neste artigo, apontaram para a importncia de se proporcionar situaes em que o aluno estabelea grande familiaridade com os elementos visuais e, desse modo, se aproprie dos cdigos visuais em seu processo de aprendizagem, ampliando sua cultura visual. Apesar de ser atrado pelas imagens, o olhar do aluno de Ciclo IV ainda no est treinado o suficiente para colher as informaes oferecidas por elas de modo autnomo. preciso um acompanhamento de perto, do professor, para que o infogrfico seja explorado e as informaes oferecidas por ele sejam aproveitadas no processo de ensino-aprendizagem. Segundo Donis A. Dondis,

Tudo isso faz do alfabetismo visual uma preocupao prtica do educador.

Maior inteligncia visual significa compreenso mais fcil de todos os

significados assumidos pelas formas visuais. (2007:231)

Para os professores entrevistados, diminuir a complexidade dos infogrficos apresentados no livro no a soluo. Talvez, sim, acrescentar textos de apoio, outros tipos de grficos e mapas,

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que auxiliem a discusso, mas nunca facilitar ou, nas palavras da professora Bianco, mastigar a informao. preciso ampliar a cultura visual do aluno, proporcionar situaes para que ele possa apropriar-se das imagens, em especial, dos infogrficos, em seu processo de aprendizagem.

Referncias

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Sobre os autores

Milena Quattrer,

Graduada em Educao Artstica - Artes Plsticas pela UNICAMP. Atualmente aluna regular do curso de Mestrado em Artes Visuais (UNICAMP) e atua no grupo de pesquisa Design Criativo da Forma (UNICAMP). Professora de Artes na Rede Municipal de Ensino de Campinas e Supervisora bolsista do Subprojeto de Artes Visuais PIBID/UNICAMP.

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Anna Paula Silva Gouveia,

Arquiteta e Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP. Diretora Associada do Instituto de Artes da UNICAMP. Professora nos cursos de graduao em Artes Visuais e Arquitetura e Urbanismo. Pesquisa os temas: metodologia de projeto e ensino, desenho, cor e tipografia aplicada paisagem urbana, arte-joalheria.

Artigo recebido em 09 dez. 2013, aprovado em 28 dez. 2013.

Cor e Infográfico: O Design da Informação no livro didático

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