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Objetos do cotidiano ganham vida e alma humana no palco do teatro Festival Internacional de Teatro do Objeto traz a Brasília companhias que dão "vida" a coisas simples do cotidiano. No sábado, o performático Tom Zé faz o show Yale Gontijo Publicação: 16/12/2010 08:00 Atualização: Chegou o dia em que um sal de frutas amargurado decide extinguir a própria vida saltando para um mergulho fatal dentro dum copo d’água. Destino ingrato também teve um palito de fósforo que entra em combustão para exorcizar um mal de amor. De hoje a domingo, histórias de objetos do cotidiano ganham vida e alma humana e serão apresentados no Festival Internacional de Teatro do Objeto (Fito) com apresentações gratuitas, a partir das 16h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A modalidade existe há pelo menos 30 anos na Europa, mas ainda engatinha no Brasil. “Grupos europeus têm uma linha para teatralizar os objetos em que propõe uma simbologia do inconsciente deles. O que não pode é o objeto ser um acessório. Eles têm de ter importância fundamental para a construção dos espetáculos”, conceitua Lina Rosa, idealizadora e curadora do festival. Companhias do Brasil, França, Israel, Canadá, Argentina, Espanha, Bélgica e Holanda dão a chance de adultos se lembrarem da infância e das crianças apurarem o olhar para as infinitas possibilidades do cotidiano em 85 performances. “Naturalmente, a gente faz essas coisas, mas esquece. Se você pensar bem, verá que uma criança costuma brincar com objetos dessa maneira. Eu fazia com caixas de fósforos”, relembra Lina. Em tempos em que a virtualidade começa a substituir a realidade, os espetáculos do Fito dão uma lição. “Nós não temos preconceito contra espetáculos que usem a tecnologia. Só temos preconceito com trabalhos que não têm qualidade. As duas coisas podem ser interessantes. Mas existe a carga do objeto físico. Uma provocação estética e de conteúdo. Isso faz lembrar que o simples pode ser interessante e inteligente”, analisa a curadora. Para a primeira edição em Brasília, artistas locais ajudam a compor a programação. Os veteranos do Circo Teatro Udi Grudi apresentarão o espetáculo Udi Grudi em conSerto em que os músicos/atores extraem sons de instrumentos feitos com materiais inusitados, como canos PVC, garrafas pet e latas. O músico Fernando Córbal descobriu um tesouro dentro de casa. A cristaleira da avó estava na família há 80 anos e abrigava um conjunto de taças ideal para fazer um instrumento chamado glass harmônica. Para ser tocado é preciso que o instrumentista friccione os dedos nas bordas das taças cheias d’água até emitirem algum som. “Meu repertório vai do erudito ao popular, com muita música brasileira. O som é bem etéreo, celestial”, classifica Córbal. Mosca na sopa Há tempos o cantor, compositor, instrumentista e baiano de Irará, Tom Zé tira som de objetos em suas composições musicais. Esmeril, martelos, capacetes de construção civil, jornais e até os integrantes da banda que o acompanham podem servir como fontes de ruído. “Na verdade, como eu sempre trabalhei no limite entre o som e o ruído. Eu transformo a banda e os objetos em som. Eu faço eles (os instrumentistas) trabalharem de cabeça para baixo. Foi isso que me salvou na primeira vez que me apresentei no exterior. Essa mudança de funções também gera uma alegria nas plateias estrangeiras. Daquele momento em diante, eu percebi que o mundo me pertencia”, relembra o cantor. A música de todas essas coisas e pessoas poderá ser ouvida no show que o cantor fará no sábado, às 21h30, dentro da programação do Fito. “Estou no maior entusiasmo porque estou com saudades de Brasília. Quero que os meus amigos compositores que moram aí apareçam no show. Não posso citar nomes senão vou causar um ciúmes danado”, manda um recado afetivo. Tom Zé, que já nasceu batucando utensílios do cotidiano, acredita que essa linguagem possa trazer renovação para o cenário cultural brasileiro. “Eu toda a vida, mexi com isso. Tenho uma adequação natural para esse tipo de compartimento. Mas o que é interessante é ver como as pessoas ficam instigadas com a possibilidade de que outros materiais possam subir ao palco. Naturalmente, os jovens artistas que têm respirado os gases envenenados de Apolo (que vem de outros tempos da Terra) quando recebem uma luz como essa se tornam talvez capazes de fazer um progresso da arte brasileira. Uma vez que se abre uma janela, outras podem ser abertas. O meu show colabora com isso. É a mosca na sopa”, instiga o cantor, à sua maneira, sobre as possibilidades infinitas do uso de objetos como linguagem. O que assistir Histórias de meia-sola Mais que enfeitar e proteger os pés dos humanos, os sapatos ganham personalidade. Na visão do argentino Fernán Cardama, eles podem ser grandes, pequenos, valentes, apaixonados, otimistas ou solidários. Hoje, sábado e domingo, às 17h. Amanhã, às 18h10. Classificação indicativa livre. Pequenos suicídios É considerado o primeiro espetáculo de Teatro de Objetos do mundo. Criado por Gyula Molnár da companhia Rocamora da Espanha faz sucesso desde os anos 1980. Nele, os objetos ganham sentimentos e 16/12/2010 Correio Braziliense - Diversão e Arte -… correiobraziliense.com.br/…/objetos-… 1/2

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O que assistir Histórias de meia-sola Mais que enfeitar e proteger os pés dos humanos, os sapatos ganham personalidade. Na visão do argentino Fernán Cardama, eles podem ser grandes, pequenos, valentes, apaixonados, otimistas ou solidários. Hoje, sábado e domingo, às 17h. Amanhã, às 18h10. Classificação indicativa livre.

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Objetos do cotidiano ganham vida e almahumana no palco do teatroFestival Internacional de Teatro do Objeto traz a Brasília companhias que dão"vida" a coisas simples do cotidiano. No sábado, o performático Tom Zé faz oshow

Yale Gontijo

Publicação: 16/12/2010 08:00 Atualização:

Chegou o dia em que um sal de frutas amargurado decide extinguir a própria vida saltando para ummergulho fatal dentro dum copo d’água. Destino ingrato também teve um palito de fósforo que entra emcombustão para exorcizar um mal de amor. De hoje a domingo, histórias de objetos do cotidiano ganhamvida e alma humana e serão apresentados no Festival Internacional de Teatro do Objeto (Fito) comapresentações gratuitas, a partir das 16h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

A modalidade existe há pelo menos 30 anos na Europa, mas ainda engatinha no Brasil. “Grupos europeustêm uma linha para teatralizar os objetos em que propõe uma simbologia do inconsciente deles. O quenão pode é o objeto ser um acessório. Eles têm de ter importância fundamental para a construção dosespetáculos”, conceitua Lina Rosa, idealizadora e curadora do festival.

Companhias do Brasil, França, Israel, Canadá, Argentina, Espanha, Bélgica e Holanda dão a chance deadultos se lembrarem da infância e das crianças apurarem o olhar para as infinitas possibilidades docotidiano em 85 performances. “Naturalmente, a gente faz essas coisas, mas esquece. Se você pensarbem, verá que uma criança costuma brincar com objetos dessa maneira. Eu fazia com caixas defósforos”, relembra Lina.

Em tempos em que a virtualidade começa a substituir a realidade, os espetáculos do Fito dão uma lição.“Nós não temos preconceito contra espetáculos que usem a tecnologia. Só temos preconceito comtrabalhos que não têm qualidade. As duas coisas podem ser interessantes. Mas existe a carga do objetofísico. Uma provocação estética e de conteúdo. Isso faz lembrar que o simples pode ser interessante einteligente”, analisa a curadora.

Para a primeira edição em Brasília, artistas locais ajudam a compor a programação. Os veteranos doCirco Teatro Udi Grudi apresentarão o espetáculo Udi Grudi em conSerto em que os músicos/atoresextraem sons de instrumentos feitos com materiais inusitados, como canos PVC, garrafas pet e latas. Omúsico Fernando Córbal descobriu um tesouro dentro de casa. A cristaleira da avó estava na família há 80anos e abrigava um conjunto de taças ideal para fazer um instrumento chamado glass harmônica. Para sertocado é preciso que o instrumentista friccione os dedos nas bordas das taças cheias d’água até emitiremalgum som. “Meu repertório vai do erudito ao popular, com muita música brasileira. O som é bem etéreo,celestial”, classifica Córbal.

Mosca na sopaHá tempos o cantor, compositor, instrumentista e baiano de Irará, Tom Zé tira som de objetos em suascomposições musicais. Esmeril, martelos, capacetes de construção civil, jornais e até os integrantes dabanda que o acompanham podem servir como fontes de ruído. “Na verdade, como eu sempre trabalhei nolimite entre o som e o ruído. Eu transformo a banda e os objetos em som. Eu faço eles (osinstrumentistas) trabalharem de cabeça para baixo. Foi isso que me salvou na primeira vez que meapresentei no exterior. Essa mudança de funções também gera uma alegria nas plateias estrangeiras.Daquele momento em diante, eu percebi que o mundo me pertencia”, relembra o cantor.

A música de todas essas coisas e pessoas poderá ser ouvida no show que o cantor fará no sábado, às21h30, dentro da programação do Fito. “Estou no maior entusiasmo porque estou com saudades deBrasília. Quero que os meus amigos compositores que moram aí apareçam no show. Não posso citarnomes senão vou causar um ciúmes danado”, manda um recado afetivo.

Tom Zé, que já nasceu batucando utensílios do cotidiano, acredita que essa linguagem possa trazerrenovação para o cenário cultural brasileiro. “Eu toda a vida, mexi com isso. Tenho uma adequaçãonatural para esse tipo de compartimento. Mas o que é interessante é ver como as pessoas ficaminstigadas com a possibilidade de que outros materiais possam subir ao palco. Naturalmente, os jovensartistas que têm respirado os gases envenenados de Apolo (que vem de outros tempos da Terra) quandorecebem uma luz como essa se tornam talvez capazes de fazer um progresso da arte brasileira. Uma vezque se abre uma janela, outras podem ser abertas. O meu show colabora com isso. É a mosca na sopa”,instiga o cantor, à sua maneira, sobre as possibilidades infinitas do uso de objetos como linguagem.

O que assistirHistórias de meia-solaMais que enfeitar e proteger os pés dos humanos, os sapatos ganham personalidade. Na visão doargentino Fernán Cardama, eles podem ser grandes, pequenos, valentes, apaixonados, otimistas ousolidários. Hoje, sábado e domingo, às 17h. Amanhã, às 18h10. Classificação indicativa livre.

Pequenos suicídiosÉ considerado o primeiro espetáculo de Teatro de Objetos do mundo. Criado por Gyula Molnár dacompanhia Rocamora da Espanha faz sucesso desde os anos 1980. Nele, os objetos ganham sentimentos e

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desejos. Um sal de frutas comete suicídio e um palito de fósforos perde a cabeça num incêndio. De hoje adomingo, às 20h30. Não recomendado para menores de 18 anos.

Ubu, reiA companhia canadense La Pire Spece mostra que o teatro de objetos também pode ser feito comdramaturgia já existente. No caso, a obra do autor francês Alfred Jarry (1873-1907) é encenada com osmais desprezados utensílios de cozinha. Hoje e amanhã, às 17h. Sábado e domingo, às 18h10. Nãorecomendado para menores de 12 anos.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE OBJETOS (FITO)De hoje a domingo, apresentações de companhias nacionais e internacionais, das 16h às 21h, no Centrode Convenções Ulysses Guimarães (Setor de Divulgação Cultural, Eixo Monumental). Entrada franca.Haverá distribuição de senhas meia hora antes do início de cada espetáculo. As classificações variam delivre até não recomendado para menores de 18 anos. Acompanhe a programação diária e as classificaçõesindicativas de cada espetáculo no roteiro do Diversão & Arte.

TOM ZÉShow do cantor, músico e compositor no sábado, às 21h30, no Centro deConvenções Ulysses Guimarães. Não recomendado para menores de 18anos.

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