Correio Fraterno 452

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Ano 45 • Nº 452 • Julho - Agosto 2013 CORREIO FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA ISSN 2176-2104 FÍSICA QUÂNTICA O que ela tem a ver com o espiritismo? Belmiro Toneto Nas lembranças de um dos pioneiros do Lar da Criança Emmanuel, as conquistas, os desafios e o valor do trabalho voluntário. Página 7. E m entrevista ao Correio Fraterno, o doutor e professor de física da Faculdade de Ciências da UNESP, Alexandre Fontes da Fonseca, faz um alerta. A invigilância e a falta de conhecimen- to sobre o que é ciência e como ela progride têm favorecido brechas no movimento espírita para que teorias e doutrinas pseudocien- tíficas encantem pessoas, fazendo-as acreditar que têm validade científica. E o pior, essas teorias são consideradas confirmações do espiritismo. O movimento espírita deve se precaver contra isso. Se estudar a fundo o que é ciência, o que é física e, o mais importante, o que é o espiritismo, muitas dessas confusões vão deixar de existir. Não deixe de ler, nas páginas 4 e 5. Papa Francisco no Brasil Em texto exclusivo ao Correio Fraterno, o dou- torando em psicologia social, Yuri Elias Gaspar, analisa a visita do papa ao Brasil, num momen- to de manifestação social. Leia na página 3. Despede-se Herminio Miranda Aos 93 anos desencarna o pesquisador e escritor, que deixa uma obra memorável e a marca de sua experiência nas relações com o mundo espiritual. Páginas 8 e 9. Adquira o seu exemplar com desconto! Pelo espírito L’lino, por Michell Paciletti, 344 páginas www.correiofraterno.com.br

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Correio Fraterno, um dos mais conceituados veículos de informação espírita do Brasil.

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A n o 4 5 • N º 4 5 2 • J u l h o - A g o s t o 2 0 1 3

CORREIOFRATERNO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

ISSN

217

6-21

04

FÍSICA QUÂNTICAO que ela tem a ver com

o espiritismo?

Belmiro TonetoNas lembranças de um dos pioneiros do Lar da

Criança Emmanuel, as conquistas, os desafi os e o valor do trabalho voluntário.

Página 7.

Em entrevista ao Correio Fraterno, o doutor e professor de física da Faculdade de Ciências da UNESP, Alexandre Fontes da Fonseca, faz um alerta. A invigilância e a falta de conhecimen-

to sobre o que é ciência e como ela progride têm favorecido brechas no movimento espírita para que teorias e doutrinas pseudocien-tífi cas encantem pessoas, fazendo-as acreditar que têm validade científi ca. E o pior, essas teorias são consideradas confi rmações do espiritismo. O movimento espírita deve se precaver contra isso. Se estudar a fundo o que é ciência, o que é física e, o mais importante, o que é o espiritismo, muitas dessas confusões vão deixar de existir. Não deixe de ler, nas páginas 4 e 5.

Papa Francisco no BrasilEm texto exclusivo ao Correio Fraterno, o dou-torando em psicologia social, Yuri Elias Gaspar, analisa a visita do papa ao Brasil, num momen-

to de manifestação social. Leia na página 3.

Despede-se Herminio Miranda

Aos 93 anos desencarna o pesquisador e escritor, que deixa uma obra memorável

e a marca de sua experiência nas relações com o mundo

espiritual. Páginas 8 e 9.

Adquira o seu exemplar com desconto!

Pelo espírito L’lino, por Michell Paciletti,344 páginas

www.correiofraterno.com.br

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Despede-se Herminio Miranda

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2 CORREIO FRATERNO JulHo - AGosto 2013

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eDitoriAl

Esta edição traz uma pequena mostra de assuntos que estão palpitando en-tre espíritas e não espíritas, sugerindo

refl exão. A física quântica tem ocupado alvoro-

çado espaço em conversas informais e nos diversos meios de comunicação, como se a ciência tivesse descoberto o espírito. Isso é verdade? Foi o que buscamos entender na entrevista com o físico Alexandre Fontes da Fonseca. Também a necessidade do diálogo inter-religioso simultâneo à explosão dos protestos no Brasil não foram esquecidos, merecendo a análise do pesquisador Yuri Elias Gaspar. Muito menos o genial escri-tor Herminio C. Miranda, que desencar-nou em 8 de julho, aos 93 anos, deixando saudades. Das suas mais de 40 obras publi-cadas, algumas são da Editora Correio Fra-

terno, que também presta sua homenagem ao ‘velho escriba’, como ele mesmo gostava de se identifi car.

São assuntos que contextualizam mais um momento importante por que passa-mos: o impulso do despertar. Despertar do Brasil, despertar da religiosidade, despertar do espírito, enfi m, em seu processo de evo-lução individual e coletivo, como bem des-taca Léon Denis ao afi rmar que o estado social nada mais é do que o resultado dos valores individuais, o que nos pede empe-nho contra interesses egoístas.

Em tempos de manifestações sociais e ainda dos ares de convite à ação, deixados aos jovens pelo papa Francisco em sua re-cente visita ao Brasil, importante perceber-mos a observação de Denis sobre a atitude ideal de todos nós: “Enquanto não tiver-

CORREIO DO CORREIO Memória, ciência e atualidadeAchei interessante, na edição anterior (n. 451), o encontro de Allan Kardec com a escritora francesa George Sand (Baú de Memórias). Também me surpreendeu a pequena por-centagem de lucro com que as distribuidoras de livros espíritas fi cam no fi nal das vendas numa feira, segundo o livreiro Miguel de Je-sus: apenas 10%, e tirar disso todas as outras despesas (Entrevista). Igualmente é muito

interessante a matéria sobre materializações. Gostaria muito de frequentar uma reunião dessas. (Destaque).

Adriano, por e-mail

A questão dos romances espíritas O romance espírita (edição 451, Entrevista) não está sendo escrito somente para os espí-ritas, mas também para os leigos. Devemos observar que, como espíritas, não fazemos

Envio de artigosEncaminhar por e-mail: [email protected] Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfi ca e pequena apresentação do autor.

CORREIOFRATERNO

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Uma ética para a imprensa escrita

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Cor-reio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

• Discussão, porém não disputa. As in-conveniências de linguagem jamais ti-veram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

• A história da doutrina espírita, de al-guma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos forneceráuma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.

• os princípios da doutrina são os de-correntes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

• não responderemos aos ataques diri-gidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que po-dem degenerar em personalismo. Discu-tiremos os princípios que professamos.

• confessaremos nossa insufi ciência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicita-mos. serão um meio de esclarecimento.

• se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi-dual que não pretenderemos impor aninguém. nós a entregaremos à discus-são e estaremos prontos para renunciá--la, se nosso erro for demonstrado.

esta publicação tem como fi nalidade ofe-recer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que com-preendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envie seus comentários para [email protected]. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

ISSN 2176-2104

o impulso do

proselitismo, mas isso o romance vem fazendo para a doutrina, muito bem feito, aliás. Sem sectarismos, sem cobranças, sem ferir susceti-bilidades, e de maneira bastante light. O leitor não percebe que está sendo informado sobre novos conceitos. Tudo isso certamente sobre a coordenação dos espíritos superiores. Acho que este tema deve permanecer em evi-dência, notadamente nos jornais espíritas, que são os maiores divulgadores da doutrina. Os espíritas precisam ser despertados para os no-vos horizontes que se vislumbram para a hu-manidade toda.

Almir Palácio, por e-mail.

mos vencido o ódio, a inveja, a ignorância, não se poderá estabelecer a paz, a fraterni-dade, a justiça entre os homens; e a solução dos problemas sociais permanecerá incerta e precária”.

Cabe a cada um dar a sua contribuição. Boa leitura!

despertar

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JULHO - AGOSTO 2013 CORREIO FRATERNO 3

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olítica e religião não se discu-tem”. Esse é um ditado popu-lar que vem sendo colocado em

xeque nos últimos dias da história brasilei-ra. As manifestações realizadas durante a Copa das Confederações e a vinda do papa ao Brasil para participar da Jornada Mun-dial da Juventude são grandes eventos que, como a ponta de um iceberg, explicitam uma realidade mais profunda e complexa que constitui o nosso tecido social.

Política e religião não se discutem? Esta é a questão. Para muitos, especialmente em meados do século 20, isso nem faria mais sentido, uma vez que a religião tenderia a se extinguir com o avanço da civilização. De modo simplista, a fórmula seria: quanto mais ciência, menos religião. E é verdade que no mundo moderno a Igreja (seja qual for) perdeu espaço, especialmente político. O ateísmo cresce a cada dia e alguns cien-tistas se mobilizam para provar a inexistên-cia de Deus.

São facetas de uma realidade verdadeira, mas parcial. Se muitos projetaram o fim da religião, ela ressurge com uma força surpre-endente. Atenhamo-nos, aqui, à realidade brasileira, onde a grande maioria da popu-lação crê em Deus, apresentando as mais variadas formas de manifestação religiosa. Percebe-se, inclusive, uma revitalização da adesão religiosa especialmente nos jovens, e até mesmo na política e na ciência essa questão tem sido destacada. A religião, afi-nal, não só formou o Brasil, mas continua a nos formar.

Queiramos ou não, o aspecto religio-so faz parte da realidade brasileira. E, aqui não há dúvida, o Brasil é um país plural, também no que se refere à religiosidade. Sincretismo é a marca do Brasil, segundo Pierre Sanchis, grande estudioso de nossa cultura. Sincretismo não necessariamente como mistura, mas como relacionamento

Acontece

na diferença. A vinda do papa ao

Brasil, portanto, não é um acontecimento apenas para católicos, mas um episódio que mexe com muito mais pessoas. Para sermos indiferentes, precisa-ríamos remar contra a maré, pois sua simples presença e proposta já bastam para estimular a reflexão sobre o desafio da convivência inter--religiosa.

Não se trata de um relacionamento fácil. Tensões, dominações, preconceitos, conflitos fazem parte do nosso ce-nário. Trata-se de situação bastante compli-cada, a ponto até de muitos pensarem que seria melhor que a religião não existisse, o que evitaria, aliás, as ‘guerras santas’. Mas este é apenas um lado da moeda. Abertu-ras, trocas, compartilhamentos e diálogos também se apresentam como fato enrique-cedor, uma pedra no sapato daqueles que defendem que religião é um mal a ser eli-minado.

Partindo-se da hipótese de que estamos em um deserto de incompreensão e intole-rância, as experiências desses encontros são como oásis que, embora pontuais, mos-tram uma possibilidade real de compre-ensão e fé que se torna horizonte daqueles que almejam encontrar vida na aridez.

Atualmente, percebo que essa busca por encontros transformadores tem sido cada vez maior nesse momento cultural em que vivemos, onde o desafio da convivên-cia inter-religiosa salutar impõe-se como um dever de todos, pela própria marca his-

tórica de diversidade no Brasil. No entan-to, enquanto muito se pensa sobre como deveria ser esse relacionamento, vejo que o ponto é outro. Em vez de enfocarmos naquilo que deveria ser, poderíamos perce-ber e valorizar os encontros inter-religiosos enriquecedores que já estão acontecendo. Essas relações, com seus dramas, poten-cialidades e conquistas, mostram uma re-alidade em que pessoas podem conviver e se tornar próximas, mesmo praticando religiões diferentes.

O relacionamento inter-religioso no Brasil: tensões e possibilidades

Por Yuri eliAs GAsPAr

Yuri Elias Gaspar é doutorando e mestre em psi-cologia social pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente tem como tema de pesquisa o encontro inter-religioso na realidade brasilei-ra. Sua dissertação de mestrado “Ser voluntário, ser realizado: uma investigação fenomenológica numa instituição espírita” será lançada como li-vro no 9º Enlihpe, pela coleção “Espiritismo na Universidade”, coordenada pelo CCDPE-ECM. Veja mais sobre o livro no site www.correiofrater-no.com.br

“P

A vinda do papa ao Brasilnão é um acontecimento apenas

para católicos”

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4 CORREIO FRATERNO JULHO - AGOSTO 2013

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O que a física quântica tem a ver com o espiritismo?

entreVistA

Por eliAnA HADDAD

O que é física quântica?Alexandre Fontes da Fonseca: Física quântica é o ramo da física que estuda e descreve o comportamento da matéria em escala microscópica (atômica e subatômi-ca). Ela se baseia no fato de que trocas de energia entre sistemas atômicos só podem ocorrer em múltiplos de um determinado valor que é, então, chamado de quantum, daí o adjetivo ‘quântico’. A energia do sistema não pode ter qualquer valor, mas apenas valores associados a determinados ‘estados físicos’. Podemos comparar esses ‘estados físicos’ a prateleiras de uma estan-te. Os livros só podem se situar em alturas dadas pelas prateleiras, mas nunca entre uma prateleira e outra. A física quântica, é preciso enfatizar, é uma teoria da matéria, isto é, desenvolvida para descrever o comportamento de objetos materiais.

O que a física quântica tem a ver com o espiritismo? Precisamos dela para compreendê-lo?Alexandre Fontes da Fonseca: Não tem nada a ver com o espiritismo. Ambas são teorias diferentes, desenvolvidas para descrição de ‘objetos’ de estudo distintos. Enquanto a física quântica é uma teoria

da matéria, o espiritismo é a ciência do espírito. Para apreender e compreender o espiritis-mo e seus pontos fundamentais, em nada precisamos da física quântica ou de outras teorias modernas da ciência.

Percebe-se um alvoroçado interes-se dos espíritas pela física quân-tica, muitas vezes para justificar a existência do espírito. Isso está correto?Alexandre Fontes da Fonseca: Apesar de a intenção ser boa, isso não está correto! Esse interesse decorre de algumas interpre-tações ‘estranhas’ da teoria quântica (isto é, que estão fora do senso comum) que fazem pensar que os fenômenos espíritas (tam-bém considerados fora do senso comum) devam ter relação direta com essas interpre-tações. Esse tipo de extrapolação ou relação superficial entre conceitos da física e do es-piritismo não é uma prática científica!

Como assim, interpretações estra-nhas? Pode dar um exemplo?Alexandre Fontes da Fonseca: Ao tentar entender o comportamento quântico das partículas em nível microscópico, surgem interpretações como: um objeto pode

Há pouco mais de um século, o físico Max Planck tentava compre-

ender o espectro da radiação térmica, calor que todos os corpos

emitem, e chegou a algumas conclusões que balançaram os princípios da

física clássica. nascia assim a física ou mecânica quântica, trazendo novos

conceitos, como a não localidade.

Mas o que a física quântica tem a ver com espiritualidade? em entrevista

ao Correio Fraterno, o doutor e professor de física no Departamento de

Física da Faculdade de ciências da unesP, em Bauru, Alexandre Fontes

da Fonseca, fala sobre o assunto e alerta para as conclusões apressadas e

indevidas ao se falar sobre o tema no meio espírita.

estar em mais de um lugar ao mesmo tempo; influência da consciência do ob-servador nas medidas experimentais; uma partícula pode se comportar como uma onda e vice-versa; a existência de univer-sos paralelos; ligação não local, etc. Essas interpretações são estranhas, pois decor-rem da tentativa de se perceber o com-portamento das partículas microscópicas com as impressões que temos do mundo macroscópico, através dos nossos cinco sentidos. Essa é apenas uma das razões para evitar que se façam relações superfi-ciais entre conceitos quânticos e conceitos espíritas.

Mas que problemas acarretariam a aceitação desse tipo de relação entre física quântica e espiritismo? Alexandre Fontes da Fonseca: A invigilân-cia e a falta de conhecimento sobre o que é ciência e como ela progride favorecem a abertura de brechas no movimento espíri-ta para a assimilação de teorias e doutrinas pseudocientíficas que, por usarem con-ceitos da física quântica na sua descrição, encantam as pessoas, fazendo-as achar que se trata de teorias e doutrinas científicas. Como Kardec, em A gênese, propõe que o espiritismo esteja sempre de acordo com

a ciência, alguns companheiros espíritas um pouco apressados e sem entendimento profissional do assunto adotam e propa-gam algumas teorias e práticas místicas, só porque elas se consideram científicas por usarem conceitos da física. Esquecem-se de que o espiritismo orienta que “é melhor repelir dez verdades do que admitir uma só falsidade” (Erasto, item 230 de O livro dos médiuns). A vigilância, portanto, com rela-ção a esse tipo de assunto deve ser mais que redobrada! E tem gente se aproveitando da ignorância do público leigo para ganhar dinheiro com venda de livros, dvds, semi-nários, documentários, cursos, congressos, etc., todos utilizando-se o adjetivo “quân-tico” sem ter respaldo formal e rigoroso da física. O movimento espírita deve se preca-ver contra isso. Se estudarem a fundo o que é ciência, o que é física e, o mais impor-tante, o que é o espiritismo, muitas dessas confusões vão deixar de existir.

Você teria exemplos de teorias e práticas baseadas na física quânti-ca que mesmo bem intencionadas carecem de bases científicas? Alexandre Fontes da Fonseca: Sim. Uma dessas teorias, que tem sido muito divulga-da no movimento espírita, como demons-

Alexandre Fonseca: “A física quântica é uma teoria da matéria e o espiristismo a ciência do espírito”

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JulHo - AGosto 2013 CORREIO FRATERNO 5

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LIVROS & CIA.

Instituto LachâtreTel.: (11) 4063-5354www.lachatre.com.br

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Diálogo com o invisívelde Ubiratan Machado184 páginas16x23 cm

Ser voluntário, ser realizado (Espiritismo na Universidade – volume 5)de Yuri Elias Gaspar224 páginas16x23cm

Allan Kardec em Paris (e-book)de Galuco Adams187 páginas

Tem espíritos embaixo da cama?de Tatiana Benites104 páginas14x21 cm

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tração científi ca de conceitos como Deus, alma, reencarnação e mediunidade, está contida na obra Física da alma, de Amit Goswami. Segundo ele, a alma após o de-sencarne permanece num estado perma-nente de sono, que perdura até a próxima encarnação. Para Goswami, o mundo es-piritual não tem graça, por permanecerem os espíritos inconscientes. Nosso Lar e An-dré Luiz não existem no mundo espiritual de Goswami. Vê-se que não precisa saber de física quântica para perceber o absurdo doutrinário de suas teorias! Outra teoria que tem atraído alguns com-panheiros espíritas é a chamada apometria. Ela surgiu como uma técnica de desdobra-mento destinada a ajudar pessoas com pro-blemas espirituais e de saúde. Suas obras básicas são apresentadas como totalmente baseadas em conceitos e equações da física. Porém, a teoria usa de maneira equivocada os conceitos da física, faz extrapolações no campo da pesquisa de maneira inapropria-da e defi ne equações sem nenhuma coe-rência interna ou com relação à física, não satisfazendo os rigores mínimos de desen-volvimento nessa área.Há também uma teoria baseada na físi-ca conhecida e respeitada no movimento espírita. O autor dedicou muitos anos à pesquisa de fenômenos espíritas e foi muito idealista, além de pessoa fraterna e inteligente, deixando inúmeros amigos e seguidores. Trata-se da teoria corpuscular do espírito ou, mais recente, teoria do psi quântico, de Hernani G. Andrade. Her-nani propôs uma teoria para a matéria psi similar à teoria quântica da matéria, pro-pondo que o espírito fosse composto por essa matéria. A ideia é interessante, porém a forma como as partículas da matéria psi foram propostas não seguiram metodolo-gia e rigores que se empregam na pesquisa e desenvolvimento de novas teorias na fí-sica. A teoria de Hernani contém erros de física, além de extrapolar conceitos sem o devido rigor formal usado na física. Apesar de valer a leitura pelas informações e pela criatividade, o psi quântico não pode ser considerado uma teoria científi ca legítima.

Para o espiritismo, temos na base de tudo Deus, espírito e matéria. Onde a física quântica se encai-xaria?Alexandre Fontes da Fonseca: A física

quântica nada mais é do que uma criação humana para tentar descrever alguns fenô-menos naturais em escala microscópica. É uma tentativa de entender, utilizando-se uma sofi sticada linguagem matemática, al-gumas leis naturais válidas para a matéria.

Afi nal, existe uma ‘nova física’ que possibilitaria outras vias de acesso ao conhecimento, além dos méto-dos da ciência atual? Que novida-de é essa?Alexandre Fontes da Fonseca: Não exis-te ‘nova física’ que possibilite outra via de acesso ao conhecimento! “Para coisas no-vas precisamos de palavras novas”, já dizia Kardec! Quando uma nova via de acesso

ao conhecimento surgir, será preciso dar um nome novo para distinguí-la das vias de acesso conhecidas. Precisará também ser testada e verifi cada como, de fato, uma “via de acesso ao conhecimento”. Os defensores de uma nova física apenas estão pretenden-do valorizar conceitos místicos, usando o status que a física tem na sociedade. Isso é uma forma moderna de enganar o público leigo que não conhece física e não sabe ava-liar cientifi camente a ‘novidade’. É preciso tomar muito cuidado, lembrando que Kar-dec sempre apoiou a ciência formal e não movimentos pseudocientífi cos. Na sua visão, a física quântica vai identifi car a existência do espírito, como inteligência, independente da matéria?Alexandre Fontes da Fonseca: Não! Não é a física quântica a origem da inteligência no espírito! O espírito se revela pelo conteúdo de suas mensagens! E foi assim que o espiri-tismo identifi cou e comprovou a existência da alma, sua sobrevivência e a possibilidade de comunicação com os encarnados. No máximo, a física um dia irá contribuir no entendimento de como ocorre a interação entre fl uidos espirituais (perispírito, por exemplo) e matéria (corpo físico). Devemos combater a tentação de obter mérito sem o devido aprofundamento no estudo. Espiritismo é uma doutrina ao mesmo tempo simples e robusta. Simples nos seus propósitos de regeneração da hu-manidade através da regeneração de cada um de nós; e robusta nas suas bases que não são somente científi cas, mas também divinas. O espiritismo é a única doutrina conhecida na humanidade que tem um duplo caráter de uma revelação: o caráter divino e o científi co (Kardec, item 13 do cap. I de A gênese). Portanto, saibamos va-lorizar o espiritismo na forma como foi re-velado pelos bons espíritos, pois temos um compromisso de estudá-lo e compreendê--lo, para então poder ajudá-lo a se desen-volver dentro dos parâmetros de qualidade e seriedade que o tornarão conhecido e res-peitado por todos.

Alexandre Fontes da Fonseca participa no Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru, SP, e da Liga de Pesquisa-dores do Espiritismo. É fundador do Jornal de Estudos Es-píritas (JEE), publicação online com artigos de pesquisa espírita. (https://sites.google.com/site/jeespiritas/).Veja entrevista na íntegra no site www.correiofraterno.com.br

Os defensores de uma nova física apenas estão pretendendo valorizar conceitos místicos, usando o status que a física tem na sociedade. Isso é uma forma

moderna de enganar o público leigo que não conhece física e não sabe avaliar cientifi camente a

‘novidade’”

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6 CORREIO FRATERNO JulHo - AGosto 2013

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As crianças estavam aprendendo sobre o início do espiritismo e

a professora começou a explicar que as pessoas se reuniam nas ca-sas para conversar com os espíritos, através de batidas nas paredes e me-sas que giravam. ela explicou que tudo parecia um espetáculo. Alguns faziam perguntas e os espíritos res-pondiam através de batidas, e deu um exemplo:– Quando queriam que o espírito respondesse sim ou não eles combi-navam. “se a resposta for sim, bata duas vezes, se a resposta for não, bata uma vez.” e assim, eles conse-guiam se comunicar. – Mas os espíritos não passam pela parede sem fazer barulho? – per-guntou caio.– Ah, sim, mas quando querem tam-bém agem sobre a matéria, provo-

cando ruído. e naquela época, que-riam chamar a atenção para provar que eles existiam.– nossa! isso é bem legal.– É sim, mas hoje já não fazemos mais isso, porque temos médiuns que já aprenderam que podem se comunicar com os espíritos de for-ma mais fácil.os alunos saíram da sala muito em-polgados com tudo o que ouviram. uns diziam ter medo, outros de-monstravam já conhecer a história. laurinha estava muito entretida com seu estojo novo e quase não prestou atenção a tudo o que foi dito.chegou em casa e seu pai pergun-tou o que ela havia aprendido na aula, ao que laurinha respondeu:– um negócio de roda gigante.– roda gigante?– É.

– Que roda gigante?– Aquela que, quando começou o espiritismo, todo mundo fazia um espetáculo.– não estou entendendo, fi lha.– Pai, eu não prestei muita atenção nessa aula, mas vou te contar tudo: “Quando o espiritismo começou os espíritos fi zeram uma roda gigante que falava. As pessoas perguntavam e se ela rodava pra um lado era sim, se rodava pra outro era não. então as rodas gigantes falavam com os homens. entendeu?”– são MesAs GirAntes e não roDAs GiGAntes!– É??? Ah, pai é quase igual. sabia que elas também dançavam?e foi logo falando com voz grossa “a dança das rodas gigantes”... quer dizer “das rodas girantes”. “ops, das mesas girantes”. Que confusão

devia ser, já pensou no tamanho do salão?

Nos livros tem espíritos no banheiro? e tem espíritos embaixo da cama?, de autoria de Tatiana Benites, você encontra inúmeras aventuras de Laurinha. Ed. Correio Fraterno.

coisAs De lAurinHA Por tAtiAnA Benites

A dança das rodas gigantes

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JULHO - AGOSTO 2013 CORREIO FRATERNO 7

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: [email protected]. BAÚ De MeMÓriAs

Quem convive no Lar da Criança Emmanuel, como nós da editora espírita Correio Fraterno, sabe do

reconhecimento e do carinho de todos pela história da instituição e pelos pioneiros, que encararam de frente o ideal de levantar um lar para acolher crianças órfãs. Muitas delas vinham de famílias sem recursos, que chegavam na cidade de São Bernardo do Campo, no início da década de 1960, com o sonho da prosperidade e do progresso que os ventos das indústrias automobilís-ticas traziam.

No último dia 27 do mês de junho, aos 78 anos, um dos queridos trabalhadores da casa desencarnou por problemas car-diovasculares. Belmiro Toneto recebeu de todos nós, em forma de prece e carinho, justa homenagem por sua dedicação e pelo importante trabalho realizado. Fazia parte do conselho administrativo do Lar Emma-nuel e chegou a ser, por dois mandatos, o presidente da instituição.

Em 1964, juntamente com seus irmãos – Oripes, Pedrinho e Luzia – e também a esposa, Aparecida Montoro Toneto, ele ingressou nos trabalhos voluntários do Lar poucos meses antes de ser estreado o primeiro bercinho, com a chegada de Ro-berto, o bebê que de tão grande recebera o apelido de ‘Xerife’.

Em 2008, ao serem colhidos diversos depoimentos no Lar Emmanuel para a comemoração dos seus 50 anos de fun-dação, Belmiro contou-nos detalhes desta história de amor, base do trabalho que continua fazendo a diferença para pelo menos 300 crianças e jovens da Vila Alves Dias e região, em São Bernar-do do Campo.

Junto aos depoimentos inéditos de Belmiro, que publicamos ao lado, segue o carinho de todos os companheiros do Lar da Criança Emmanuel e da Editora Correio Fraterno.

A chegada no Lar da Criança Em-manuel

“No início da década de 60, o Ray-mundo Espelho [um dos fundadores do Lar] passou em casa entregando um aviso da campanha da sucata para auxílio do Lar. Lá dizia que se juntassem vidros e papéis, um grupo de pessoas passaria no domingo seguinte. Juntamos muita coisa e , uma se-mana depois, eu já estava no Lar. O prédio estava levantado e com data marcada para a inauguração.

A reciclagem 50 anos atrás“Para o Lar, vinham doadas rebarbas de

espumas de bancos dos automóveis das in-dústrias e junto também pedaços de flanelas usadas para limpeza de peças. Daí surgiram os primeiros colchõezinhos e os primeiros pijaminhas, feitos pelas mulheres, que sepa-ravam e alvejavam todo o tecido.

As crianças começam a chegar “Antes mesmo de ficarem prontos os col-

chões e o Lar abrir suas portas, as crianças já es-tavam chegando. Seis delas vieram antecipadas e foram acolhidas nas casas dos diretores. Além do Roberto, João e Marcos chegaram a seguir. O pai era motorista e carregava os meninos no ônibus, por não ter com quem deixá-los enquanto trabalhava. Wilma e Osmarzinho foram crianças acolhidas em seguida. Sem a mãe, o pai não tinha condições de cuidar. To-dos ali viviam situações difíceis mesmo!

A verdadeira saúde“Tia Ruthi [Manzini] foi a mãe que

todos precisavam. Ela veio para o Lar com recomendações dos médicos para trabalhar com crianças, em serviços mais leves, sem descer e subir escadas, pois estava com pro-blemas no coração. Envolveu-se tanto com as crianças que nunca mais se lembrou do cora-ção. Trabalhou no Lar por décadas e quando desencarnou, não foi por conta do coração.

O churrasco“O que mais a gen-

te sentia era a união dos diretores, todos com os mesmos objetivos. Quan-to mais trabalho, mais fe-liz a gente ficava. Fizemos por muito tempo o almo-ço beneficente. Quando o Lar começou a funcio-nar, o dinheiro era cur-to. O churrasco era feito numa parte do galpão construído para separar as sucatas. Era tudo muito simples, em cima de quatro tijolos e uma grelha. Mas vinha gente de longe!

O incêndio“Numa noite, eis que chega um

telefonema fatídico, dizendo que o Lar havia pegado fogo. Na verdade, o fogo foi no barracão que abriga-va o material de reciclagem, com prensa para enfardar, mais dois ca-minhões. Ficou tudo queimado. Foi muito triste... Mas, no momento em que os jornais noticiaram, a ins-tituição ficou conhecida na cidade e muita gente passou a ajudar. Levantamos um novo barracão e começamos a fazer o churrasco todo mês, para trezentas pessoas, por treze anos seguidos.

O trabalho“É gratificante ver o resultado do traba-

lho. Não só a alimentação, o espaço, mas a formação de todas essas crianças. O bairro cresceu, melhorou, as necessidades são ou-tras, e grande parte das vezes a carência é no campo moral, afetivo. Minha participação aqui no Lar foi a coisa mais gratificante que pôde acontecer em minha vida!”

Saiba mais sobre o Lar em www.laremmanuel.org.br

Lembranças de um bom trabalho

Por iZABel Vitusso

Belmito Toneto: dedicação em mais de 50 anos ao Lar Emmanuel

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8 CORREIO FRATERNO

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HoMenAGeM

Herminio Miranda: a genialidade de

um escriba

O mundo físico se despediu de uma de suas mais queridas e notáveis personalidades encarnadas. No

dia 8 de julho, aos 93 anos, desligou-se de-fi nitivamente a poderosa máquina corporal do escritor Herminio Miranda.

Conhecido por toda parte como Pro-fessor Herminio [sem acento], foi ele um grande estudioso e divulgador da doutrina espírita, autor de mais de 40 títulos publi-cados. Debruçou-se sobre estudos da men-te, do psiquismo, de doenças da alma e da mediunidade através dos séculos, sempre embasado em extensa pesquisa – que inva-riavelmente ultrapassava limites e bibliote-cas do território nacional.

Vasta também é a produção de contos e romances, que incluem desde os bem ela-borados casos pinçados da vivência de anos à frente de uma mesa mediúnica, como doutrinador, até a trabalhosíssima tradu-ção de A história triste, baseada em extenso romance psicografado na primeira metade do século 20, porém redigido em inglês arcaico e fora de uso, em estilo shakespea-riano, e que precisou ser arduamente buri-lado pelas mãos hábeis, porém já trêmulas de mestre Herminio, na época beirando os 80 anos de idade, para poder ser publicado em nossa língua, dentro das exigências da ortografi a e da gramática atuais.

Foi justamente quando o conheci, passeando pelas alamedas do Parque das Águas de Caxambu, MG, ainda meditan-do se deveria ou não mergulhar em “tão perigosa empreitada”.

– Se o senhor não fi zer isto, ninguém mais poderá fazer! As gerações futuras fi ca-rão privadas desta história tão maravilhosa que só o senhor teria o conhecimento para traduzir e adaptar! – argumentei, admirada

Por lYGiA BArBiÉre AMArAl

como alguém dotado de tanta genialidade poderia se expressar de maneira tão sincera, tão humana e humilde com uma escritora novata, escorregando ainda nos primeiros passos da literatura, como era o meu caso.

Com muito carinho, Herminio então olhou para o bebê que eu empurrava no carrinho – por coincidência uma menina que nascera no mesmo dia em que ele fazia aniversário; depois olhou para minha fi lha mais velha, na época com dois anos, que ia catando folhas ao longo do caminho, e disse:

– É, talvez você tenha razão... Ao longo desses quase 15 anos de

convivência, fomos nos tornando cada vez mais próximos. Uma proximida-de respeitosa, diga-se de passagem. Herminio era pessoa sistemática, de horários rígidos e hábitos in-gleses. Inês [sua esposa] sabia compreen-der isso melhor do que ninguém. Todos os dias, ele tinha hora de acordar, hora de escrever, hora de descansar, entre tantas outras. Às 19 horas em ponto, fechava-se em seu quarto para suas preces noturnas e durante 60 minutos não gostava de ser in-comodado sob nenhuma hipótese. De ma-neira geral, era uma pessoa fechada. Não apreciava muito receber visitas com fre-

Herminio Miranda: a genialidade de

como alguém dotado de tanta genialidade poderia se expressar de maneira tão sincera, tão humana e humilde com uma escritora novata, escorregando ainda nos primeiros passos da literatura, como era o meu caso.

Com muito carinho, Herminio então olhou para o bebê que eu empurrava no carrinho – por coincidência uma menina que nascera no mesmo dia em que ele fazia aniversário; depois olhou para minha fi lha mais velha, na época com dois anos, que ia catando folhas ao longo do caminho, e

Ao longo desses quase 15 anos de convivência, fomos nos tornando cada

quência, mas abria lá suas exceções. Só era preciso avisar antes, se possível com relativa antecedência, já que o mestre não gostava de ser pego de surpresa.

Todo o seu rigor, porém, jamais im-pediu que recebesse as pessoas de coração aberto quando se fazia a ocasião. Pesso-almente, visitei-os poucas vezes. Apenas quando algum de nossos amigos editores esteve na cidade, quando então Herminio

nos recebia contente, em sua cadeira de balanço, entre quadros pintados pela es-posa, nos sofás aconchegantes de muitas almofadas. Perdíamos a noção do tempo, enquanto ele nos narrava toda uma sequên-cia de peripécias a respeito de seus anos no espiritismo, seus livros, suas emoções mais genuínas... Eram tardes sem fi m pela in-tensidade do momento ali vivenciado; tar-des cor-de-rosa no horizonte azul tingido de sol...

Era incrível como o simples falar com ele, estar perto dele, fazia com que a gente se sentisse iluminada pela sua amorosidade. Herminio era assim. Tanto com os encar-nados, quanto com os desencarnados. A principal virtude de um doutrinador tem de ser o amor. Se não tiver amor, nada fun-ciona, me ensinou no Diálogo com as som-bras. “Trabalho de doutrinação, chamado tão apropriadamente de trabalho de resgate

Era incrível como o simples falar com ele, estar perto dele, fazia com

que a gente se sentisse como que iluminada pela sua amorosidade”

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JulHo - AGosto 2013 CORREIO FRATERNO 9

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Da reDAÇÃoHerminio Miranda escreveu artigos sobre temas

diversos, especialmente publicações relacionadas à imortalidade da alma, reencarnação e mediunidade, dentre as quais o imperdível Diálogo com as som-bras, livro que mostra suas recomendações e expe-riências com o atendimento aos espíritos desencar-nados nas reuniões de desobsessão.

Deixou obras fantásticas, revelando o âmago dos problemas humanos nas relações espirituais, em experiências colhidas principalmente como diri-gente de reuniões mediúnicas. Grande parte desse conteúdo foi reunida pela editora Correio Fraterno na série ”Histórias que os espíritos contaram”, que inclui os títulos A dama da noite, O exilado, A irmã do vizir e As mãos de minha irmã. Ainda presenteou a editora com dois livros surpreendentes, da “série começar”: O que é o fenômeno mediúnico? e – o último livro por ele publicado – O que é fenômeno anímico?, lançado em 2012.

com mais de noventa anos, a equipe do Correio fi cava encantada com os emails enviados por ele. numa linguagem equilibrada, gentil, mas sem ex-cessos, de uma forma agradável e fraterna, Hermi-nio retratava nas entrelinhas a inevitável difi culdade que enfrentava com os limites do corpo físico versus sua incrível lucidez da alma. e ele expressava todos os assuntos com uma especial característica: pare-cia estar à nossa frente, num bate-papo informal, mas com direito a todas as vírgulas e concordâncias. conversava, assim, numa escrita perfeita, prazerosa de se ler, referindo-se vez ou outra ao: “sou apenas um velho escriba”.

era sempre uma grande alegria um contato dele. em cada um, uma lição de força, trabalho, sereni-dade, sabedoria e muito carinho. também escrevia para sugerir atitudes, como o fez solicitando-nos publicar uma das histórias que o espíritos contaram

sobre a questão da responsabilidade e dos efeitos perturbadores do aborto (edição 446).

recentemente, estávamos com ele reeditando uma de suas obras, que nos reaviva a importância de se falar do espiritismo de uma forma simples, inclusive para não espíritas, mas com todo o cui-dado que seus temas merecem. A preocupação de Herminio era a de “dar uma escovada” e não tinha ele o menor receio de compartilhar conosco o de-safi o de mais um trabalho. “Queria escrever muito mais... mas Deus sabe de mim!”, disse ao telefone com difi culdade há questão de poucos meses. Foi nosso último contato, que nos deixou felizes por ouvi-lo e, ao mesmo tempo, com uma pontinha de saudades dos tempos de seu vigor editorial. ima-ginávamos o quanto somos egoístas ainda e nos deparamos com desejos infantis de que pessoas como Herminio deveriam viver muito, muito mais entre nós, sem nos darmos conta do presente que já havíamos recebido com sua presença na terra por mais de nove décadas, com um trabalho tão produtivo e exemplar no Bem.

Herminio c. Miranda, como gostava de assinar, querido no coração de toda a equipe Correio Frater-no, deixou artigos e livros, muitos livros. Debruçou--se sobre os mais diversos assuntos que envolviam a mente, em sua relação espírito-corpo, relacionou e confrontou bibliografi as em vários idiomas para bus-car fatos sobre a existência da espiritualidade, como se a provar que contra esses, realmente, não havia argumentos e que a Humanidade precisava romper os dogmas religiosos e científi cos e despertar para uma realidade muito mais abrangente que exigia mudanças de paradigmas. Herminio foi mesmo um pesquisador incansável, independente, “um divul-gador do cristo”, como tão bem nos defi niu sua fi lha Ana-Maria, logo após a sua desencarnação.

seus escritos trazem nas entrelinhas lições pro-fundas de conhecimento e de amor. lembramo-nos certa vez da sua maior receita para as reuniões de desobsessão. conversando com os espíritos, confor-me relatado em seus livros, percebe-se sua sabedo-ria, uma cultura que lhe possibilitava o diálogo sobre várias realidades no tempo e na história. Mas, muito mais que isso, nota-se sua atitude de acolhimento. Muito mais um bom ouvinte, de coração aberto, do que alguém disposto apenas a explicar e “esclare-cer” em situações de tanta dor. “Meu irmão, não quero te convencer de nada. Queria apenas tocar seu coração...”, disse em uma de suas conversas a um espírito mais desafi ador.

Herminio foi um sábio. Deixa saudades. Mas como já disseram que saudades é o amor que fi ca, resta-nos agradecer a Deus por tê-lo conhecido, na certeza da boa lembrança de sua presença amorosa entre nós e de que ele continuará a nos estimular com seus estudos e pesquisas. com seu amor.

Até breve, grande Herminio. De nossa parte, continuaremos cuidando de manter acesa essa grande chama de amor, carinho, trabalho, amizade e esperança que você acendeu em nós. sempre bus-cando o melhor, como você também sempre quis e buscou. também dando nossas escovadas: no jor-nal, no site, nos livros, na vida.

Muita paz e luz pra você!

...mas Deus sabe de mim

em inglês, rescue work, só é possível em cli-ma de total doação, de empatia, de profun-do e sincero amor fraterno”, está escrito no livro. Diria que mestre Herminio dedicou não apenas as horas de mesa mediúnica, mas sua vida inteira ao trabalho amoroso, atemporal e constante de resgatar almas, as mais variadas; semear, instruir, doar-se aonde quer que fosse. Ainda que represen-tado apenas pelas palavras impressas de um livro, que reverberavam sinceras de seus pe-quenos atos do dia a dia.

Herminio e eu nos encontramos fi si-

camente pela última vez há pouco mais de um mês, antes de sua viagem para o Rio. Eu estava fazendo as unhas, com os pés de molho numa bacia de manicure, quando o vi, de repente, descer do car-ro do fi lho, na calçada em frente. Não tive dúvidas. Literalmente pulei da ba-cia e, sem sapatos mesmo, corri ao seu encontro, no meio da rua. Depois de um, dois, três abraços apertados, ele me explicou que o fi lho o estava levando ao dentista:

– Fiquei tão feliz em encontrar você!

Que Deus te abençoe, minha fi lha! – ele se despediu, como sempre fazia.

Naquele momento eu ainda não con-seguia defi nir racionalmente o porquê, mas voltei para o salão com lágrimas nos olhos, sentindo um estranho arrepio nos braços, no coração... Sei dizer que hoje, se eu o encontrasse agora, só teria uma coisa a falar:

– Que Deus para sempre o abençoe, meu amigo querido! E muito obrigada pelo privilégio,

pela oportunidade de estar em meu cami-nho no dia em que eu tão distraidamente estava apenas passando...

Escritora e roteirista, autora de romances espíritas, dentre eles A luz que vem de dentro, O silêncio do domingos, O sono dos hibiscos, pela Correio Fra-terno.

Fotos: Wilson GArciA

1989: Herminio autografando em São Paulo

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Por GuArAci De liMA silVeirA

O passo seguinte da HumanidadeAnÁlise

fonte do bem e da felicidade. É pelo pro-gresso moral e pela prática das leis de Deus que o homem atrairá para a Terra os bons espíritos e afastará os maus”.

Este cometimento está na pauta de Je-sus. Ele está transformando gradativamente a Humanidade. É bom pensarmos assim e agirmos em consonância com ele, a partir da nossa perfeita adequação ao seu Evangelho e às propostas nele contidas. Sejamos obrei-ros do bem e o bem nos levará ao mestre superior, que nos guia desde o princípio das eras. Muitos ainda se encontram em suas eternas ‘zonas de conforto mental’, alarde-ando que a natureza não dá saltos. Que é necessário seguir com vagar. Sim, de fato a natureza não dá saltos. Contudo, ela cum-pre rigorosamente seu papel na Criação. Ela caminha enquanto muitos assentam em poltronas de luxo, paralisados, aguardando não se sabe o quê. Assim, os tempos pas-

sam e mentes inefi cazes não acompanham o percurso natural dos eventos.

É necessário sair da ‘caverna de Platão’ e ver como estamos, perante os tempos atuais e as propostas que a doutrina espí-rita nos oferece; doutrina dinâmica e que avança de acordo com os avanços tecno-lógicos e científi cos, oportunizando-nos novas premissas da religiosidade a partir de aprofundamentos fi losófi cos que nos con-fortem nesta contemporaneidade. É bom que façamos uma revisão em nossas gavetas mentais, adequando-as para as constantes mudanças que se nos apresentam a partir de estudos e práticas ligadas à espirituali-zação e à serenidade do ser. Já rompemos a primeira década deste novo século. Cer-tamente as décadas seguintes haverão de modifi car sobremodo as práticas sociais a partir dos espíritos renascentes. É bom ob-servarmos tudo isto, projetarmo-nos um tanto mais, indicando-nos opções novas e nos propondo a conquistá-las.

O passo seguinte da Humanidade será a busca constante dos voos espirituais. O homem está cansado da mesmice de todos os dias e das falas repetidas daqueles que muito encantam enquanto muito enga-nam. E com qual alimento nos nutrimos? A mídia deve ser vista com os cuidados dos sábios. Atualmente ela é forte na constru-ção de objetivos. E o é porque permitimos. Há que se pensar na vida após a morte e no retorno ao plano físico. Temos que romper os muros e desvendar os véus, fazendo do agora uma construção efi ciente. A doutrina espírita é o nosso bastão de arrimo e nossas consciências a real condutora das nossas vontades. Segundo Léon Denis “É pela vontade que dirigimos nossos pensamen-tos para um alvo determinado”. Que ela seja determinante em nossos avanços no posto que ocupamos neste Universo gran-dioso e de ganhos permanentes.

1O evangelho segundo o espiritismo, cap. 15, item 8.

Guaraci Silveira reside em Juiz de Fora, MG. Escritor e pales-trante, autor do livro O refúgio de Laila, do Correio Fraterno

Sempre é tempo de repensarmos a vida e nela as nossas ações. Estamos num período de grandes mudanças.

Daqui a pouco, o processo de espiritua-lização da Humanidade começará a ser percebido. Numa rápida vista d’olhos na história vemos que o caminho vem sendo preparado de século a século. As socieda-des se modifi caram. O Renascimento teve como principal objetivo romper com ve-lhas tradições, dando ao homem a opção de modifi car-se, modifi cando seu habitat, seu estado mental. As grandes navegações promoveram descobertas de terras e povos e a integração entre eles. A industrialização. A consolidação da ciência. O Iluminismo, que oportunizou ao homem o estudo da razão e sua conduta perante ela.

Max Sheller, fi lósofo alemão, nascido em Munique em agosto de 1874 e desen-carnado em Frankfurt, em 1928, deixou--nos em seu legado uma frase de grande signifi cado: “O homem ocupa um posto no Universo.” Fácil concluir que aquele que ocupa um posto o faz para uma ação constante e progressiva. Este o escopo hu-mano. Sempre ocupando um posto e sem-pre progredindo por isso. A proposta de Sheller nos indica deveres para com a Cria-ção, enquanto vivemos e nos expandimos. Kardec nos propõe a máxima de que “Fora da caridade não há salvação”. E caridade no sentido de solidariedade. Segundo ele, “Fora da caridade não há salvação é a con-sequência do princípio de igualdade peran-te Deus e da liberdade de consciência”.1

Assim, ocupamos um posto no Univer-so laborando, enquanto libertamos nossas consciências a partir de um projeto soli-dário, onde quem sabe mais ensina quem sabe menos. André Luiz, no livro Evolução em dois mundos, discorrendo sobre a vida social dos desencarnados, nos indica que um terço dos desencarnados é composto de “espíritos relativamente enobrecidos que se transformam em condutores da marcha as-censional dos companheiros, pelos méritos com que se fazem segura instrumentação das esferas superiores”.

Os outros dois terços permanecem, de alguma forma, jungidos aos interesses ter-renos, aglutinando-se em cidades e vilare-jos “edifi cando largos empreendimentos de educação e progresso, em favor de si mes-mas e a benefício dos outros”.

Vê-se que estamos em intenso labor de aprimoramento. Espíritos superiores nos guiam e com a doutrina espírita tudo se nos torna claro. O passo seguinte da huma-nidade será, sem dúvida, o perfeito conhe-cimento destas verdades e a justaposição a elas. Façamos a nossa parte. Tanto a nosso favor quanto daqueles que a Providência nos indicar. Em O livro dos espíritos, Kar-dec pergunta, na questão 1018, se o reino do bem poderá um dia realizar-se na Ter-ra. A espiritualidade responde que sim, e isso quando o bem reinar aqui a partir da superação dos bons sobre os maus. “Então eles farão reinar o amor e a justiça, que são

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9º Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo

Tema: Espiritismo e Ciência Dias 24 e 25 de agosto, em São Paulo.

Local: Alameda dos Guaiases, 16 - Planalto Paulista. Cen-tro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro. Alguns dos trabalhos apresentados serão: Uma investigação estilística sobre uma peça musical atribuída ao espírito Wolfgang Amadeus Mozart (Érico Bonfi m), Anália Franco e a “obra” espírita: o nascimento dos primeiros abrigos espíritas para a infância no Brasil (Alexandre R. Azevedo), Terceiro setor e fundamentos da doutrina espírita (Daniella Leite), Espi-ritismo e métodos de pesquisa em ciências hermenêuticas e fenomenológicas (Jáder Sampaio), Geografi a(s) do mundo espiritual (Chrystiann Lavarini), dentre outros. Além de palestras de convidados (Sílvio Chibeni e Ademir Xavier), haverá lançamentos de livros e exposição de pôsteres. www.ccdpe.org.br. Fone: (11) 5072- 2211.

Simpósio Paulista de Comunicação So-cial Espírita

As Associações de Divulgadores do Espiritis-mo, de São Paulo e Campinas, realizarão

no dia 7 de setembro o 8º Simpósio Paulista de Comu-nicação Social Espírita, quando será abordado o tema “O espiritismo para todos”. O evento propõe refl exões sobre ideias que facilitem e estimulem a transmissão dos funda-mentos espíritas para a sociedade em geral. O evento ocor-re na cidade de Campinas. Inscrições e informações: www.adecampinas.org.br/simposio.

V Simpósio de Saúde e EspiritualidadeTema: Vida sustentável e espiritualidade. De 27

a 29 de setembro, no Teatro Marcos Linden-berg, da Universidade Federal de São Paulo.

Rua Botucatu, 862, Vila Clementino, São Paulo. Realiza-ção: Departamento de Neurologia e Neurocirurgia e Nú-cleo Universitário de Saúde e Espiritualidade. Inscrição: http://dpdphp.epm.br/acad/siex/index.htm. Informações: [email protected]

7º Congresso Espírita do Rio Grande do Sul De 4 a 6 de outubro, com o tema “O evangelho

no mundo e nos corações”. Local: Serra Park Centro de Eventos. Viação Férrea, 100 Três Pi-

nheiros, Gramado, RS. Com participação de Alberto Almei-da, André Trigueiro, Divaldo Pereira Franco, Sandra Borba Pereira, Sergio Lopes e Haroldo Dutra Realização: Federação Espírita do Rio Grande do Sul. www.espiritismors.org.br.

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fi que atualizado sobre o que

acontece no meio espírita. Participe.www.correiofraterno.com.br

qualquer hora, em qualquer lugar

ENIGMA

Quem é o autor da frase: “O amor

cobre uma multidão de pecados”?

CARTA ENIGMÁTICA DO CORREIO

Resposta do Enigma:

Solução da Carta Enigmática

Veja em:www.correiofraterno.com.br

Pedro, em sua primeira epístola.

Mas, sobretudo, tende ar-dente amor uns para com os

outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.

(I Pedro, 4:8.)Leia mais no site:

www.correiofraterno.com.br

Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

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Simpósio Paulista de Comunicação So-cial Espírita

no dia 7 de setembro o 8º Simpósio Paulista de Comu-

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V Simpósio de Saúde e EspiritualidadeTema: Vida sustentável e espiritualidade. De 27

Rua Botucatu, 862, Vila Clementino, São Paulo. Realiza-

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9º Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo

Local: Alameda dos Guaiases, 16 - Planalto Paulista. Cen-

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7º Congresso Espírita do Rio Grande do SulDe 4 a 6 de outubro, com o tema “O evangelho

nheiros, Gramado, RS. Com participação de Alberto Almei-

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Do livro Justiça divina, FEB

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QueM PerGuntA Quer sABer

No livro Evolução em dois mundos, explica o espírito André Luiz, através da psicografia de Francisco

Cândido Xavier, que há espíritos nos mais variados níveis de compromisso em pro-cesso de evolução, onde as trocas e sinto-nias envolvem o instinto sexual.

Ele descreve que tudo começou quan-do, livres para escolherem o próprio cami-nho, as criaturas humanas desencarnadas começaram a oprimir os companheiros encarnados, disputando afeições e rique-zas ou tentando empreitadas de vingança e delinquência, quando desencarnavam em circunstâncias delituosas. Por outro lado, as criaturas foram-se utilizando do instinto se-xual de forma atabalhoada, considerando-o apenas como agente de reprodução e pra-zer, esquecendo-se de que é, acima de tudo, instrumento que permite a reconstituição de forças espirituais entre as criaturas.

André Luiz explica que as almas primi-tivas comumente gastam a força desse ins-tinto em excessos e isso lhes impõe duras lições. “Milhões de criaturas conscientes, viajando da rude animalidade para a Hu-manidade enobrecida, em muitas ocasiões se arrojam a experiências menos dignas... Se as forças sexuais não se encontram su-ficientemente controladas por valores mo-rais, surgem, frequentemente, longos pro-

Por que há tantos crimes ligados ao sexo?

cessos de desespero ou de delinquência”.Segundo o autor espiritual, há verda-

deiras enfermidades do instinto sexual, no sentido de que se essas cargas magnéticas acumuladas não forem canalizadas na dire-ção do bem, acabam por obliterar o discer-nimento. “Alheia ao bom senso, a criatura lesada em seu equilíbrio sexual costuma entregar-se à rebelião e à loucura em sín-dromes espirituais de ciúme ou despeito”. “À face das torturas genésicas a que se vê relegada, gera aflitivas contas cármicas a lhe vergastarem a alma no espaço e a lhe retar-darem o progresso no tempo. Daí nascem as psiconeuroses, os colapsos nervosos de correntes do trauma nas sinergias do corpo espiritual, as fobias numerosas, a angústia,

os ‘desvios da libido’, a neurose obsessiva, as psicoses e as fixações mentais diversas”.

Quando nos deparamos com crimes li-gados à sexualidade, é preciso lembrar que estamos mergulhados na lei universal do progresso, entre acertos e desacertos. Situ-ações trágicas no presente têm certamente origens remotas, onde não nos cabe o direi-to de julgar, uma vez que todos passamos pelas trilhas de enganos diversos.

É por isso que explica André Luiz que os problemas ligados à sexualidade ori-ginam na ciência de hoje as indagações e os conceitos da psicologia, da psicanálise. “Identificam-se as enfermidades ou desa-justes do instinto sexual sem oferecer-lhes medicação adequada, porque apenas o co-

Dificilmente, passa-se um dia sem uma notícia de violência ligada à

sexualidade. Abuso sexual, traição, ciúme, vingança, pedofilia... Por que

há tantos crimes ligados ao sexo? Valkíria Dias, Campo Grande, MT

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Da reDAÇÃo

nhecimento superior, gravado na própria alma, pode opor barreiras à extensão do conflito existente, traçando caminhos no-vos à energia criadora do sexo, quando em perigoso desequilíbrio”.

É no terreno da sexualidade, continua ele, que são contraídos múltiplos sofrimen-tos por nós todos, no decurso dos séculos, forjando inquietações e problemas nos outros... “O amor também está em evolu-ção”, relembra, explicando que à medida que nos afastamos da animalidade, o amor assume dimensões mais elevadas. Quando ainda mais animalizados, a descarga da energia sexual se efetua, indiscriminada-mente, através de contatos, quase sempre desregrados e infelizes, que desencandeiam a exaustão e o sofrimento como processos educativos.

Segundo analisa, dificuldade maior acontece nos casos de poligamia, quando o espírito traça largo roteiro de aprendi-zagem a que não escapará pela matemática do destino que criou.

O ciclo somente se rompe com o amor. Quanto mais se integra a alma no plano da responsabilidade moral para com a vida, mais apreende o impositivo da disciplina própria, a fim de estabelecer, com o dom natural de amar, os novos programas de trabalho que lhe facultem a transformação.

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Por AleXAnDre rocHA

Foi AssiM

A despedida de Herminio Miranda

Sonhei que fui procurado por umas senhoras de uma instituição espírita que fazia o trabalho de costura para

crianças recém-nascidas. Elas foram me procurar, porque queriam agradecer ao Herminio, pois o trabalho que realizavam era feito a partir dos direitos autorais que o autor doava para a instituição. Então, vendo que ele já estava velhinho, quise-ram fazer um pijaminha de flanela para presenteá-lo. E estavam lá para pedir que eu o entregasse e lhe agradecesse. Eu me comprometi a ir visitá-lo. E fui. Tudo em sonho...

Quando cheguei à casa dele, foi uma coisa muito estranha, porque me encontrei com dois Herminios ao mesmo tempo: um deitado na cama, já com dificuldade de movimentação, mas para quem eu con-tei o que estava fazendo lá, entregando o pacotinho. Ele ficou muito feliz... Muito agradecido... Mas ao mesmo tempo, eu conversava com o Herminio que parecia ter cerca de 40 anos, de pé, muito alegre, muito feliz, que começou a me falar sobre a importância da vida, da encarnação, que

ela costuma ser muito menosprezada por nós, que temos a oportunidade maravilho-sa de aprender, até entender a angelitude, mas que nós – ele faz uma comparação – acabamos cabulando aulas. Achei inte-

ressante, no sonho ele usar a palavra “ca-bular”, que é bem da época dele. E aí eu brinquei: “Ah, mas nós aqui, simples mor-tais, ainda estamos cabulando as aulinhas do primário, mas tem pessoas, como o se-

VocÊ sABiA?

Bezerra de Menezes começou na política aos 29 anos como vere-

ador e aos 36 chegou ao Parlamento Nacional como deputado. Seu con-ceito de política era uma verdadeira profissão de fé patriótica, uma ban-deira desfraldada em defesa dos al-tos interesses da nação:

“A política, eu a compreendo, não é uma especulação dos homens; é uma religião, a religião da pátria, tão sagrada e obrigatória, como o culto das verdades eternas que cons-titui a religião de Deus”, dizia.

Foram vários os discursos en-

tusiasmados que Bezerra proferiu como político atuante. Em 1867 diria:

(...) A pátria está principalmen-te em perigo quando princípios tão perniciosos se insinuam por todo o corpo social; pois eles corrompem--lhe o sangue, gangrenam-lhe todo o organismo, tiram-lhe toda a força de coesão necessária para resistir à exploração produzida pelo choque de interesses sórdidos que tais prin-cípios promovem, com ampla gene-rosidade. (...) Sinto ser obrigado a dizê-lo, mas eu devo toda a verdade

ao meu país: a sociedade brasileira está gravemente doente, as extremi-dades já estão frias e o coração não tarda.

Veja o discurso completo pro-ferido por Bezerra de Menezes na Câmara dos Deputados sobre sua conversão ao espiritismo em www.correiofraterno.com.br

BibliografiaMemórias de Bezerra de Menezes, de Eduar-do Carvalho Monteiro (Ed. Madras)

Perfis parlamentares, organizado por Freitas Nobre (Câmara dos Deputados)

Política sagrada e obrigatória

“Minha filha, acho que já estou me despedindo…”

WAsHinGton FernAnDes

nhor, que, se cabula, é aula da pós-gradua-ção. Aí ele riu e falou: “De jeito nenhum... Uma coisa que eu tenho muita segurança, que eu tenho muito para dizer, é que nunca cabulei aula na minha vida. A existência é uma coisa muito importante e sempre tive a preocupação de não perder esse tempo.” E na hora, no sonho, me invadiu um sen-timento muito forte de que eu estava me despedindo dele.

Sua filha, Ana-Maria, também nos contou que dias antes de sua partida, Her-minio teve uma espécie de crise. Sua espo-sa dizia que ele não estava falando coisa com coisa, mas a filha observou: “Ele está falando com muita segurança! Com mui-ta firmeza, como num idioma que a gen-te não conhece...” Foi um prenúncio de que ele já estava se desligando... Passada a ‘crise’, Herminio virou-se para a filha e disse “minha filha, acho que eu já estou me despedindo...”

Alexandre Rocha (Editora Lachâtre) é um dos princi-pais editores de Herminio Miranda, cuja amizade se estendeu por mais de trinta anos.

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JULHO - AGOSTO 2013 CORREIO FRATERNO 15

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DestAQue

Neste ensinamento claro e objetivo de Jesus, fica evidente que o traba-lho realizado com a ferramenta me-

diúnica não deve ser pago de forma algu-ma, tanto nos aspectos materiais, como nas aspirações pessoais que busquem destaque, privilégios e facilidades.

Não podemos aceitar a mediunidade como profissão. Mediunidade é recurso divino, possibilitando a atuação do alto para auxílio e orientação da humanidade. Todo profissional recebe remuneração pelo produto de seu trabalho, esforço e especia-lização. No processo mediúnico, porém, o médium apenas transmite a comunicação, seja ela falada, escrita, inspirada, etc., sendo o espírito comunicante o verdadeiro autor da informação.

Alguns companheiros acabam desvirtu-ando o compromisso assumido na carida-de mediúnica e procuram o favorecimento egoísta, explorando a fragilidade e desespe-ro de quem sofre. Sempre que nos desvia-mos do bem legítimo, nos desconectamos dos mentores e, por mudança de sintonia e afinidade, nos ligamos àqueles que se com-prazem deste comportamento.

Se Jesus é modelo inspirador, bas-ta observar seu comportamento. Em momento algum buscou vantagens, re-conhecimento, elogios, deferências ou mesmo gratidão. Tudo o que realizou foi movido pelo mais puro amor e bondade. Deu ao rico e ao pobre as mesmas opor-

O valor da gratuidadeDa uMBerto FABBri

tunidades de ajuda e amparo.A faculdade mediúnica é alavanca de

progresso visando nosso adiantamento e oferece o benefício de exercitar a caridade. Dentro de mais um ensinamento do Cris-to, de que “a quem muito foi dado, mui-to será pedido”, encontramos a lógica do compromisso perante Deus e nossa própria consciência.

Tendo-se claro o objetivo mediúnico, como oportunidade do trabalho no bem, nosso esforço deverá ser o da atitude disci-

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plinada frente à realização desta causa.Mediunidade com Jesus é compromis-

so de trabalho voluntário e desinteressado, e merecerá todo o respeito e comprometi-mento daquele que se propõe a realizá-lo. Cabe ao trabalhador fiel que deseja sincera-mente servir, e não ser servido, longe de se sentir obrigado ou forçado, trabalhar com alegria e disciplina.

Se devemos ser responsáveis pelo nosso crescimento e evolução, pelas conquistas de caráter pessoal que requerem investi-

mentos constantes em nós mesmos, estu-dos continuados que nos especializem ao trabalho mais produtivo, que dizer então da responsabilidade do médium que se dis-põe a trabalhar nas trincheiras da dor?

A determinação deverá ser uma cons-tante em relação ao estudo e ao trabalho com a ferramenta do bem. Mediunidade gratuita exige conscientização do ser, que cansado do sofrimento, busca alçar voos mais altos, em busca da sua felicidade, sa-bendo que a encontrará na felicidade do próximo, no segundo mandamento máxi-mo do Cristo, que ensina que devemos nos esforçar no exercício do amor ao próximo e a nós mesmos.

Não podemos colocar preço no amor, não temos como mensurá-lo, e sendo a mediunidade ferramenta do amor, como lhe atribuir custo?

A conscientização do médium relati-va à questão da gratuidade, daquilo que não lhe é propriedade para comercializa-ção, é a conquista da criatura que se liga a Deus e a Jesus e tem com isso a satis-fação de encontrar no serviço em favor do semelhante a alegria da conquista de si mesmo, no processo do autoconheci-mento, passando ao gerenciamento efeti-vo nos padrões do Evangelho, de sua vida e de seu livre-arbítrio.

Profissional de marketing, é orador e escritor brasileiro, morando hoje na Flórida, EUA.

“Dai de graça o que de graça recebestes...” O evangelho segundo o espiritismo, cap. 26

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16 CORREIO FRATERNO JULHO - AGOSTO 2013

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leiturA

Quando fala o amor maior

O médium Michell Paciletti aca-ba de lançar pela Editora Correio Fraterno o livro Amor maior, obra

psicográfica que retrata uma emocionante história, onde não faltam suspense e bom entretenimento no entrelaçamento de vi-das, cuja origem se prende a um passado comprometedor. Michell também realiza significativo trabalho assistencial no Lar Espírita Irmão Max, no bairro da Lapa, em São Paulo, ligado à Pousada do Sol, em Embu-Guaçu, onde mantém cerca de 40 idosos. Vale conferir sua entrevista:

Sendo italiano e tendo sido edu-cado no catolicismo, como foi li-dar com a mediunidade desde a infância?Michell Paciletti: Cheguei a São Paulo com quatro anos. Numa tarde, olhando para o céu, vi uma intensa luz, que me causou espanto e temor. Pouco mais tarde, os efeitos mediúnicos se intensificaram, inicialmente através do desdobramento, o que muito me afligia quando se aproxi-mava a noite. Pedia a minha mãe que me ensinasse a orar o Pai Nosso, na tentativa de evitar aquele sofrimento. Com o tem-po, outras manifestações foram surgindo, como a premonição de situações familiares. A imediata reação de meus pais foi de tudo atribuir à imaginação infantil. Depois, pro-curaram ajuda psicológica de um especia-lista, julgando-me portador de algum dis-túrbio mental.

Como soube que se tratava de me-diunidade?Michell Paciletti: Aos oito anos, matricu-lado no Internato do Colégio Liceu Cora-ção de Jesus, meus pais acreditavam que a educação, respaldada pela liturgia católica, canalizaria os fenômenos da minha infân-cia e eu me transformaria numa ‘criança normal’. Enganaram-se, pois os episódios de desdobramento se acentuaram. Em certa ocasião, ao cantar um hino, Viva a Jesus, olhando para a cúpula da igreja, no-vamente tive aquela mesma visão inicial. Não resisti e desmaiei, causando preocu-pação a todos. Acabei saindo do Colégio, sendo reencaminhado a psicólogos. Mais tarde, em segredo, depois de buscar res-postas em alguns centros espíritas e não me satisfazer com elas, resolvi ir a Ubera-ba para falar com Chico Xavier. Temendo não ser recebido por ele, escrevi em um pequeno pedaço de papel a questão que me afligia desde a infância, deixando um pequeno espaço para que ele escrevesse. Queria saber quem era meu mentor espi-ritual. Chico recebeu o pequeno pedaço de papel, amassado por ficar longo tem-

po entre meus dedos, e escreveu ‘Bezerra de Menezes’.

E sobre sua sensibilidade mediúni-ca no campo da música, o que tem a contar?Michell Paciletti: Também desde criança sempre senti necessidade de tocar algum instrumento. Enchia garrafas com água e tocava melodias através delas; posterior-mente, em um pente envolto em papel ce-lofane, também tentava reproduzir as me-lodias que surgiam em meu cérebro, sem que eu compreendesse de onde vinham. Meu pai, vendo a minha inclinação para a música, comprou um piano e me matri-culou em um conservatório. Para decepção de toda a família, porém, frequentei ape-nas uma aula de solfejo e desisti do curso, sendo severamente repreendido pelos meus pais. Debruçava-me no piano para chorar e em minutos eu já estava com as mãos sobre o teclado, dedilhando acordes. Essas mani-festações também me trouxeram dúvidas e foi também Chico Xavier que me afirmou serem elas ‘autenticamente mediúnicas’. Comecei então a gravá-las, pois como não sou músico desconheço partituras. Hoje são mais de cem músicas, a maioria ao piano; algumas delas com letra também, permitindo-nos participar de festivais in-ternacionais de música mediúnica.

Com relação à mediunidade, o que mais lhe marcou nesses encontros com Chico Xavier? Michell Paciletti: Após ter-me confirma-do a mediunidade, retornei à Uberaba, para obter mais esclarecimentos sobre os fenômenos que se somavam a cada dia. Uma verdadeira multidão, previamente ca-dastrada, permanecia na fila para ser aten-dida pelo médium e eu, muito triste, por não conseguir uma ficha de cadastro, ten-tei em vão entrar no pequeno salão. Chico, porém, ao chegar, passando por mim e sem me olhar, disse: “Vamos à luta Michell.”

Duvidando que fosse comigo, sentei-me na soleira da porta, quando, para minha surpresa, a porta se abriu atrás de mim e o secretário do Chico disse-me: “Michell, vamos trabalhar. O Chico mandou lhe chamar para sentar à mesa!”.

E sobre o romance Amor maior, quando começaram as psicografias?Michell Paciletti: A psicografia, para mim, sempre esteve mais voltada a poesias. Este romance ficou na gaveta por quase dez anos. A princípio surgiu em minha men-te uma pequena história que eu intentava relatar na reunião do Lar Espírita, o qual dirijo há mais de quarenta anos. Certo dia, em meu local de trabalho, num período de descanso, resolvi escrever aquela pequena narrativa e o que parecia ser um pequeno conto foi se transformando em um com-plexo enredo, com inúmeras tramas simul-tâneas. Extasiado com a história, comecei a escrevê-la um pouco por dia, sempre atendendo ao que me era ditado pelo autor espiritual que se nomeou L’Lino. Houve momentos em que me vi inserido na histó-ria, compartilhando muito de perto os sen-timentos, dores e alegrias dos personagens.

O romance evidencia os conflitos nas relações familiares. Qual o pa-pel da reencarnação nesse enredo?Michell Paciletti: Observando as leis que regem todos os universos da vida, de ação e reação, de causas e efeitos, fica claro ob-servar que todos os vínculos e relações do presente têm estreitas relações com a his-tória pregressa de cada um. Geralmente as reencarnações se processam na árvore gene-alógica, sendo este o primeiro educandário, que possibilita a reparação dos desafetos familiares e das controvérsias do passado, somados posteriormente àqueles a quem tenhamos prejudicado no pretérito, quan-do partilhavam a mesma senda evolutiva de nossa vida. O enredo de Amor maior aborda exatamente essa questão.

Michell Paciletti: pela

psicografia, um enredo

que evidencia os conflitos

nas relações familiares