Corrente Contínua 229

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ANO XXXII - Nº 229- NOVEMBRO/DEZEMBRO -2009 A REVISTA DA ELETRONORTE Eletronorte corrente contínua corrente contínua Castanheira: Brasil não aproveita adequadamente uma de suas maiores riquezas florestais

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A revista da Eletrobras Eletronorte

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Ano XXXII - nº 229- novembro/Dezembro -2009 A revISTA DA eLeTronorTe

Eletronorte

corrente contínuacorrente contínua

Castanheira:brasil não aproveita adequadamenteuma de suas maiores riquezas florestais

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SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

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Prêmios 1998/2001/2003

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Sum

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Diretoria executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e En-genharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso - Coordenação de Comunicação empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298- RS) - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Estagiárias: Camila Marques e Márcia Alvarenga - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Fran-cisco - Rony Ramos - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - revisão: Cleide Passos - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Arte da contracapa: Alexandre Velloso - Im-pressão: Brasília Artes Gráficas - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral

A segurança da infraestrutura e do conhecimento

GerAÇÃoA segurança da infraestrutura e do conhecimentoPágina 3

reSPonSAbILIDADe SoCIALEletronorte e Breu Branco:18 anos juntas na energia, na educação, na saúde e na históriaPágina 9

TrAnSmISSÃoViagem para o sistema de transmissão do Madeira Novidades nos cabos condutores de aluminio de grande bitolaPágina 18

TeCnoLoGIAII Seci: gerações se unem na inovação Página 26

CorrenTe ALTernADAXX SNPTEE reúne a inteligênciado Setor Elétrico brasileiroPágina 44

CorreIo ConTÍnuoPágina 58

FoToLeGenDAPágina 59

GerA

ÇÃo

César Fechine

Nos últimos anos, os serviços de inteligência dos maiores países do mundo têm sido orien-tados a desenvolverem planos de proteção aos serviços de infraestrutura crítica, bem como

ao conhecimento sensível, que pode ser definido como ‘informação estratégica’. “O que nos torna diferenciados e competitivos é o que devemos proteger, além das nossas ins-talações. Toda a informação que obtivemos com trabalho e inteligência, que tivemos que dominar no tempo, despender custos, capacidades, esforço, isso tem valor. Nós estamos falando disso, de valor, da in-

formação como elemento competitivo”, afirma Mário Dias Miranda (foto acima), coordenador de Relações Institucionais da Eletronorte.

Todo plano de segurança institucional deve começar pela proteção da infraestrutura crítica - instalações, serviços, bens e sistemas -, que, se forem interrompidos ou destruídos, provo-cam sério impacto social, econômico, político ou à segurança do Estado e da sociedade. “A Eletronorte criou o Comitê de Monitoramento de Informações Institucionais visando à im-plantação de um gabinete de crise para, em situações excepcionais, assessorar a Diretoria na tomada de decisões frente a qualquer ad-versidade que possa atingir as nossas instala-ções”, explica Miranda.

Mas, antes que surja a necessidade de ins-talação desse gabinete, a Eletronorte trabalha na análise e no planejamento de informações para antecipar e evitar possíveis crises. Para isso, foi firmado um acordo de cooperação téc-nica com a Agência Brasileira de Inteligência – Abin, que prevê a execução de uma série de ações para proteger as instalações e os conhe-cimentos sensíveis, manuseados ou mantidos

meIo AmbIenTe

AmAzÔnIA e nÓSBravo povo acrianoPágina 50

Tucuruí sofreu invasão em maio de 2007

Castanheira, fundamental para a manutenção da biodiversidadePágina 34

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na instituição. A Abin possui a competência legal de planejar e executar a proteção do co-nhecimento que, por sua importância estraté-gica para o Estado e para a sociedade, neces-sitam de medidas especiais de salvaguarda.

Proteger as suas instalações é um dever da Eletronorte. Como concessionária do serviço público de geração e transmissão de ener-gia elétrica, a Empresa é respon-sável, contratualmente, pelas ins-talações que opera e por assegurar a produção de energia com quali-dade, continuidade e segurança. “Esses são elementos intrínsecos do contrato de concessão. Se al-gum intruso invadir as instalações e paralisar a produção de energia

nós vamos responder e seremos penalizados. Se um terceiro invadir as instalações, sofrer um acidente ou levar um choque, nós podemos ser responsabilizados civilmente perante a Justiça e pagar indenização”, acrescenta Miranda.

Tucuruí - A Eletronorte é o primeiro órgão da administração indireta a firmar um acordo com

a Abin visando à implantação de um sistema de planejamento de informações para proteger tanto a parte de infraestrutura física quanto de conhecimento sensível, por meio do Progra-ma Nacional de Proteção ao Conhecimento – PNPC. Pelo acordo, a Empresa recebe infor-mações da Agência de como proteger as suas instalações, fornecendo, em contrapartida, da-dos sobre o funcionamento do sistema elétrico e suas peculiaridades.

Para divulgar as ações de proteção ao co-nhecimento sensível, um treinamento foi rea-lizado recentemente com os empregados da Eletronorte, com o objetivo de evitar ameaças e perdas das informações estratégicas. “A Ele-tronorte possui conhecimentos extremamente importantes não apenas para a Empresa, mas também para o Brasil, e é função da Abin apoiar esse arcabouço gerador de potencial competiti-vo e relevante para a defesa dos interesses na-cionais”, declara José Renato de Oliveira (foto à esquerda), oficial de Inteligência da Abin.

A parceria com a Agência começou pela Usi-na Hidrelétrica Tucuruí, devido à sua importân-cia não apenas para o sistema elétrico, mas tam-bém por ser a responsável principal pela receita

da Eletronorte. Está sendo feita a avaliação da segurança física da Usina, ou seja, a capacidade de adequação frente a ameaças e riscos.

Mas como a instituição deve se proteger? São consideradas como possíveis ameaças externas pelo serviço de contrainteligência os grupos terroristas, organizações crimino-sas, grupos de protesto, outras corporações ou de inteligência adversa. Já as ameaças internas podem ser funcionários insatisfeitos, grupos antagônicos, por interesses ou ideo-logia, ou que envolvam questões financeiras. E como proteger? Dificultando o acesso não-autorizado, físico e lógico, e melhorando a capacidade de percepção de ameaças por meio da análise do perímetro. Os objetivos do trabalho de análise de riscos são fornecer uma base para a tomada de decisão e pla-nejamento, identificar ameaças e possibilitar a gestão pró-ativa e eficiente na alocação e uso de recursos.

“Esse trabalho compreende três aspectos principais, começando pela proteção física da Usina, considerando-se o perímetro e a prote-ção em profundidade. O segundo é a gestão de pessoas, que envolve a seleção dos recur-sos humanos, comportamento e ética. E o ter-ceiro é a proteção dos sistemas eletrônicos e de automação”, explica Állison Raposo, coor-

denador-geral de Proteção ao Conhecimento Sensível da Abin.

A preocupação com a proteção dos servi-ços essenciais envolve também o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República -GSI. A infraestrutura crítica do País foi dividida em oito grandes grupos: segurança públi-ca, energia, finanças, transportes, água, saúde, telecomunicações e alimentos. “No caso da tecnologia da informação, a integridade dos dados e a proteção dos ativos são prioridade. Em automação, a se-gurança da planta é o mais impor-tante”, informa Állison.

Os pontos críticos estão sendo mapeados para a elaboração dos planos de segurança. A metodo-logia utilizada compreende o estabelecimen-to do contexto, a caracterização da fonte de ameaça, a avaliação dos sistemas de proteção, estimativa da efetividade e do impacto, e de-terminação do risco. “Vamos sugerir melhorias do sistema de proteção para cada vulnerabili-dade identificada. A tendência para todo o Se-tor Elétrico é criar um plano para acionamento automático em caso de crise”, acrescenta Álli-son (foto acima).

Exemplo de conceito de proteção em profundidade

Sala de operação de Tucuruí: mais segurança e dificuldade de acesso

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O fator segurança é prioridade quando se trata de usina nuclear. No Brasil, as usinas nucleares de Angra 1 e 2 (foto na página ao lado) geram dois mil MW e trabalham com o urânio-238, que possui capacidade térmica muito grande. Uma úni-ca pastilha de urânio, por exemplo, gera mais calor do que o equivalente a um vagão de trem de carvão.

A geração de energia nuclear começa com a fissão dos áto-mos de urânio dentro do núcleo do reator. Essa fissão gera calor e aquece a água do sistema primário. No gerador de va-por, essa água aquece a água do sistema secundário, transfor-mando-a em vapor. Após movimentar a turbina, o vapor passa pelo condensador, onde é resfriado pela água do mar (sistema terciário) e reinicia o processo retornando ao gerador de vapor. O gerador elétrico acoplado ao eixo da turbina produz a eletri-cidade que abastece a rede de energia elétrica.

Um dos principais critérios no aspecto de segurança dos projetos nucleares é a defesa em profundidade. “Nós temos diversas proteções físicas, que são concêntricas em relação ao reator. Os envoltórios de contenção das usinas são prédios cilíndricos compostos por uma estrutura de aço revestida por um prédio de concreto armado, com 60 cm de espessura”, explica José Manuel Diaz Francisco (foto à direita), superin-tendente de Comunicação e Segurança da Eletronuclear.

As usinas também possuem sistemas de segurança redun-dantes, independentes e fisicamente separados, em condi-ções de prevenir acidentes e, também, de resfriar o núcleo do reator e os geradores de vapor em situações normais ou de emergência. Além disso, há a proteção não-física, que é a qualificação do pessoal. Para operar os reatores nucleares é exigido um treinamento que pode chegar a sete anos, culmi-nando com o licenciamento pela Comissão Nacional de Ener-gia Nuclear - CNEN.

O Plano de Emergência de Angra prevê a evacuação da população em caso de acidentes graves. Para atender aos re-quisitos de licenciamento da Usina Nuclear Angra 1, foi elabo-

volve a segurança da informação e do direito autoral, numa perspectiva do desenvolvimento de novas tecnologias e que é uma segurança estratégica”, afirma José Manuel.

Para o superintendente, trata-se, enfim de empreender uma cultura de segurança. “Hoje, a nossa prioridade é esta-belecer uma cultura de segurança. A segurança do trabalho e industrial, da informação e do meio ambiente, a proteção ra-diológica, todas precisam estar integradas. É preciso proteger o homem que está trabalhando, o que está do lado de fora da usina, além do meio ambiente.”

“Por uma cultura de segurança”rada, em 1978, a primeira ver-são do Plano de Emergência Externo. Desde então, o plano sofreu diversas alterações de formatação e responsabilida-des pela sua execução, sendo que, em 1994, sob a coorde-nação da Secretaria de Defesa Civil do Estado do Rio de Ja-neiro e já intitulado Plano de Emergência Externo do Estado do Rio de Janeiro.

Esse plano passou a con-siderar, de forma plena, a atuação de órgãos sediados efetivamente na região de An-gra dos Reis, principalmente a Defesa Civil do município. Nele constam ações específicas a serem implementadas nas Zonas de Planejamento de Emergência, que são áreas vizinhas, delimitadas por círculos, com raios, respectiva-mente, de três, cinco, dez e 15 quilômetros, centrados no Edifício do Reator de Angra 1.

As ações envolvem, também, a participação das se-guintes organizações: Exército, Marinha, Aeronáutica, Agência Brasileira de Inteligência - Abin, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Defesa Civil de Angra dos Reis, Defesa Civil de Paraty, empresa de eletricidade e empresa de transporte urbano da região, além de outras secretarias estaduais e municipais.

Visando manter o plano sempre em condições de acio-namento, são realizados, anualmente, nos anos pares os exercícios de emergência parcial, quando são testadas a eficácia da cadeia de comunicações e a eficiência da ativação dos centros de emergência. E nos anos ímpares

os exercícios de emergência geral, quando são colocadas em prática e testadas todas as ações revistas no plano, inclusive a capacidade de mobilização de meios em pes-soal e material; a disseminação de informações ao público e à imprensa; a ativação de alguns abrigos e até mesmo a evacuação de voluntários residentes nas proximidades, embora, na realidade, a possibilidade de a população ter que ser removida seja uma hipótese remota.

E a proteção do conhecimento sensível garante a inte-gridade da Empresa. “Este aspecto do conhecimento en-

Matriz detalhada - A avaliação da segurança orgânica de Tucuruí envolve todos os aspectos relativos ao acesso de visitantes e à tramitação de informações digital e documental. O enge-nheiro de planejamento, Orlando Correa, tra-balha no projeto que está sendo desenvolvido com a Abin e detém uma série de treinamentos na área de inteligência e especialização em pla-nejamento estratégico e segurança. Ele explica que os especialistas da Agência já fizeram três viagens a Tucuruí e participaram de várias reu-niões com os técnicos da Empresa.

A Eletronorte e a Abin estão construindo uma matriz detalhada com o objetivo de listar as possíveis situações de risco e de ameaça à Empresa. “Nos Estados Unidos, esse trabalho

é feito pela CIA, que cuida da parte de inteli-gência, e pelo FBI, na contrainteligência. Nós vamos terminar até o final de 2009 o relatório contendo a matriz da análise de riscos e amea-ças às quais a Eletronorte está exposta”, afirma Orlando Correa (abaixo).

São questões, por exemplo, como o controle nas barreiras para acesso à Usina. Na guarita de Tucuruí ficam seguran-ças da Eletronorte e da construtora contratada. “Como se dá a decisão para entrar na Usina? Até que ponto existe uma pro-

teção para possíveis situações de emergência? O único sinalizador para a pessoa entrar é um emblema no pára-brisa do carro. Nós listamos esses aspectos para ver até que ponto isso pode provocar uma vulnerabilidade”, detalha Correa. Outros pontos relativos aos recursos humanos são os cuidados com a contratação de pessoal para trabalhar na segurança da Usina, como acontece o treinamento e o acompanhamento desses profissionais.

Quanto ao perímetro, são analisadas formas de dificultar a ameaça de chegar ao alvo, no caso a Usina, e o grau de dificuldade de aces-so, com a colocação de proteção e obstáculos. A dificuldade deve ser crescente à medida que se aproxima do controle operacional da Hidre-

létrica. A avaliação dessas questões conta tam-bém com a participação do Exército Brasileiro, por meio do Esquadrão de Cavalaria Mecaniza-da de Tucuruí.

Amazônia - A experiência do acordo en-tre Eletronorte, Abin e GSI é considerada um marco por unir órgãos de inteligência e uma empresa energética. “Não existe no mundo uma experiência em nível de profundidade tão grande quanto esta, que envolve segurança e conhecimento sensível, e que deverá servir de referência no futuro”, opina Orlando Correa.

E o trabalho está apenas começando. O próximo passo é fazer a análise das condições de segurança das linhas de transmissão que

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partem de Tucuruí. Posteriormente, será feito o levantamento das condições de segurança do Sistema Norte-Nordeste, responsável pelo intercâmbio de energia com os sistemas Sul e Sudeste, bem como de todas as instalações da Eletronorte no Pará, Maranhão, Tocantins e, em seguida, nos outros estados.

“Hoje, preocupa-nos muito, por exemplo, o fato de a linha de transmissão caminhar em pa-ralelo com a ferrovia da Vale, no Maranhão, que tem sido alvo de manifestações de etnias indíge-nas”, lembra Mário Miranda. “Nós pretendemos levar esse trabalho também para Itaipu, Paulo Afonso, Ilha Solteira e para todos os grandes sis-temas de transmissão”, completa Állison.

Em um ambiente de intensa competitividade em escala mundial, a sobrevivência das pró-prias empresas está cada vez mais associada à gestão e à proteção do conhecimento. Prin-cipalmente quando se trata da Amazônia, onde estão os grandes potenciais hidrelétricos, re-corda Mário Miranda. “O nosso conhecimento de Amazônia, os levantamentos, os registros e os dados cultivados em 36 anos têm um valor imensurável. Isto é informação estratégica.”

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Bruna Maria Netto

Breu Branco, município brasileiro do Es-tado do Pará, localizado a cerca de 350 km de Belém, conta com uma população de 47.069 habitantes e em nada lembra aquela Vila de Breu Branco de anos atrás. No início dos anos 1970 a população não passava de 200 pessoas. Em 1983, a cidade começou a transformar-se, culminando no ano de 1991, na sua municipalização. A emancipação do lugar, antes ligado ao município de Tucuruí, surgiu justamente em consequência da Usi-na Hidrelétrica Tucuruí e da formação do seu lago, cuja construção resultou no reassenta-mento da população local para uma nova vila, com água, saneamento básico e energia de qualidade. Com ajuda da Eletronorte, Breu Branco, que em 2009 completa 18 anos, ga-

nha não apenas a maioridade, mas também demonstra a força de um povo que soube crescer e se manter a partir de uma grande oportunidade.

A história da parceria da Eletronorte com Breu Branco começou bem antes de sua mu-nicipalização, com a região ganhando novos ares já em 1983. Naquela época, os estudos mostraram que a área que deveria ser inunda-da para a construção do lago de Tucuruí atin-giria uma vila, a de Breu Branco, localizada à margem esquerda do Rio Tocantins, a 43 km de Tucuruí. Seu nome está vinculado à grande quantidade de árvores da espécie denomina-da breu branco. É macia, de odor agradável e fresco, e produz uma resina utilizada na fabri-cação do breu. Breu é um betume artificial ob-tido a partir de secreções resinosas de várias plantas, especialmente das coníferas, utilizado

eletronorte e breu branco: 18 anos juntas na energia, na educação, na saúde e na história

As atuais barreiras de

acesso à visita podem

ser pontos vulneráveis

Qualidade de vida em Breu Branco é referência

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pelos calafates para dar acabamento e cobrir as costuras do tabuado do navio

No assentamento, aproximadamente 127 pessoas viviam da caça, pesca, do cultivo da castanha-do-pará, extração de madeira e de lavoura. Com a construção da Estrada de Fer-ro Tocantins, houve um deslocamento da po-

pulação para as proximidades da ferrovia, objetivando a melhoria de condições de transportes de pessoas e de carga. Um desses moradores é a agricultora Maria Madalena Basílio (ao lado).

Breu Velho - Dona Madalena

tem “26 anos de Breu”, como ela mesma diz. “Trouxe um filho com nove meses para cá, e ele já tem 26 anos”, completa. A agricultora, depois de casada, se mudou para o ‘Breu Velho’, como a Vila era co-

nhecida,: “Nasci no município de Mocajuba, mas fui criada em um lugar chamado Reman-são, à beira do Rio do Tocantins, que passa por debaixo do Jatobal (pequena cidade a 83 km de Tucuruí)”. De acordo com Madalena, “nos demos muito bem com o povo que já estava lá. Passamos muitos anos vivendo naquela comu-nidade, da caça e do plantio na roça. O peixe que comíamos no almoço era pescado pouco antes da nossa refeição, e tínhamos nossos plantios no fundo dos quintais, que eram bem grandes. Vivemos lá por volta de dez anos”.

Madalena descreve o lugar com a precisão de quem conhece Breu Velho como se vivesse no local ainda hoje: “Lá onde morávamos havia apenas a rua principal, com um campo de fu-tebol no meio da rua. A igreja de São Sebastião ficava ao lado do campo; o colégio se chama-va Gonçalo Oliveira, e tinha um pequeno pos-

to médico também. Veio gente de Castanhal, Maranhão, Bahia, de todos os locais. Quando chegavam a Breu Velho gostavam muito de lá e não queriam voltar para suas terras. Nós vi-vemos uma vida maravilhosa por lá”.

Apesar da vida pacata, a Vila de Breu Velho não oferecia condições de higiene e de infra-estrutura aos moradores. A educação funcio-nava precariamente, com apenas duas salas de aula, uma mantida pela Estrada de Ferro Tocantins - em construção na época - e outra pela Igreja Católica, onde se estudava até a 2ª série do ensino fundamental. A Secretaria de Saúde fornecia os medicamentos necessários ao atendimento da saúde da população, reali-zado em um pequeno posto por uma auxiliar de enfermagem, também remunerada pela Estada de Ferro Tocantins. O fornecimento de água era extremamente precário (foto à esquerda), forçando os moradores a se abas-tecerem nos igarapés. A energia era forneci-da via motor e distribuída apenas das 19h às 22h. O lazer, limitado à praia local, ao futebol no campinho de chão batido e às igrejas. Dona Madalena é testemunha: “Nossa casa era sem cobertinha, de tabuinha. A gente tinha ener-gia elétrica somente até as 22h, trazida pelo motor. Buscávamos água na cabeça, lá do iga-rapé, mas vivíamos muito unidos. Éramos um povo muito unido”.

Assim como dona Madalena, muitos vie-ram a Breu Branco por conta da implantação dos grandes projetos federais na Amazônia no século XX, a exemplo da Estrada de Ferro To-cantins, da Rodovia Transamazônica e, poste-riormente, pela construção da Usina Hidrelé-trica Tucuruí. O gaúcho Valdemar Dagnoluzzo (abaixo) também foi para Breu Branco, mas com outra função: técnico em edificações,

coordenou a construção das obras para a realo-cação dos breuenses: “A vila de Breu Branco, conhecida como Breu Velho, era uma passa-gem para quem vinha do Sul, sendo a única via de acesso existente para a Transamazônica no sen-tido Tucuruí. Eram 75 km de estrada de terra, e essa vila ficava no meio do caminho. Era uma

localidade muito antiga, quase uma estação ferroviária da Estrada de Ferro Tocantins. Nos anos 70, depois da abertura da Transama-zônica, é que houve essa ligação da estrada que passava dentro da vila”. Como gerente de uma empresa contratada pela Eletronorte para construção de canteiros e vilas, frutos

da implantação da obra de Tucuruí, Valdemar percorreu todas as localidades relacionadas ao empreendimento. Foi então que passou a atuar na Eletronorte, estando ainda hoje na área de obras.

Quem relembra a situação da-quela época é Humberto Gama (à direita), gerente de Obras de Geração da Eletronorte, à época engenheiro residente de Tucuruí, que tinha entre outros encargos o de refazer as cidades que se-riam inundadas. “Breu Branco era um amontoado de casas, Não chegava a ser um municí-pio, mas dava suporte à estrada de ferro antiga. Mas, como seria inundada, houve a decisão de realocar os moradores da vila, e por decisão da própria população do Breu foi escolhido o local onde montamos a nova cidade. E foi, em minha opinião, um lugar muito bem es-colhido”.

Breu Novo - A partir da intervenção das equipes da Eletronorte, o Breu Velho passou a ser chamado de Breu Novo, e a nova vila trouxe benefícios a cerca de 250 pessoas, in-cluindo dona Madalena e sua família. “Nós fizemos a mudança num caminhão, e nele

A cidade nasce... ...a cidade cresce

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Com o Pirtuc, novas obras

vão surgindo, como o ginásio

esportivo

vinham de quatro a cinco famílias juntas. A mudança foi boa, não tenho nada a reclamar. Até hoje, todos aqueles que se mudaram es-tão em Breu Novo”.

Valdemar conta que a transferência do Breu Velho para o que hoje é conhecido como Breu Novo foi rápida. “Numa primei-ra fase a Eletronorte indenizou as famílias e,

em seguida, realocou aqueles que quiseram ficar. Foi um processo rápido, com duração de menos de um ano, iniciado em 1983. Em fins de 1984 as comportas foram fechadas e o lago encheu. Foi um pouco complicado, porque o pessoal realocado teve reações di-ferentes, pois tinham um meio de vida numa vila pequena, em que todos se conheciam e de onde tiravam seu sustento, e quando chegaram numa cidade planejada ficaram ressabiados”.

Um terreno de 660 mil m² foi prepara-do e limpo para o Breu Novo. A obra custou, na época, algo em torno de US$ 8 milhões. Segundo Humberto Gama, “a obra demorou cerca de um ano e meio, desde preparar a terra até pintar a última casa, pois tínhamos um prazo para realocar a população e formar o lago. Trabalhávamos 12 horas por dia”.

A construção da vila pela Eletronorte fez com que cada morador previamente cadastrado ga-nhasse uma casa própria, escriturada, com

água encanada e energia elétrica 24 horas por dia. Ela era composta por três quartos, sala, cozinha e banheiro, além de toda a infraestru-tura urbanística. “Nós fizemos a coisa arruma-dinha, mas com um “projeto de engenheiro”, composto por quadras quadradas e retangula-res, sem a mão do artista do arquiteto”, afirma Humberto. Valdemar enumera o que foi realiza-do: “Foi construída toda a infraestrutura inicial que, na realidade, não existia em Breu Velho, por se tratar de uma pequena vila no interior da Amazônia sem qualquer base ou apoio. O que havia na verdade eram pequenos barracos construídos em madeira, pau-a-pique e barro. A Eletronorte construiu as casas e também os prédios públicos do município, como igrejas, postos de saúde, escolas, rodoviária, delegacia e o sistema de água e esgotos”.

Humberto destaca que as obras de esgo-to na região renderam inclusive uma matéria para a Rede Globo. “Uma vez um repórter foi fazer uma matéria com o visível intuito de falar

mal das obras. Eu o levei e falei ‘vem ver o que estamos fazendo aqui’. Quando viu a escola e as demais construções em fase avançada, o que mais lhe chamou atenção foi um bu-raco no meio da rua. Ao perguntar o que era, expliquei que tratava-se do esgoto, e, quando contei que anteriormente na cidade não havia esgoto tratado, ele levou um susto”.

As obras realizadas em Breu Branco e nas demais localidades vizinhas à Usina Hidrelétrica Tucuruí são, desde 2002, também assistidas pelo Plano de Inserção Regional da Usina Hidrelétrica Tucuruí – Pirtuc. Desde então, foram realizadas diversas obras, incluindo a construção de escolas, delegacias, posto de saúde, quadra de esportes, urbanização de áreas e asfaltamento de estradas. O gerente da Divisão de Meio Ambiente da Gerência de Obras de Tucuruí, que coordena o Pirtuc em Breu Branco, Crisogno Frazão (foto), conta nesta entrevista as atividades relacionadas ao convênio.

Quando surgiu o projeto em Breu Branco?Apesar de a Eletronorte ser parceira do município de Breu

Branco bem antes de 1991, data de sua emancipação, em 2002 a parceria foi ampliada, com o Pirtuc. O Plano foi ini-ciado em Breu Branco por meio de convênios, com ações voltadas a diversas áreas, especialmente, as de saúde, edu-cação, esporte e lazer, infraestrutura e saneamento básico.

É importante registrar que a Empresa iniciou em 2000 as ações socioambientais compensatórias no município, com a implantação do Programa de Apoio aos Municípios do Entorno do Reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí, criado para atender às questões sociais emergentes.

Quais foram as motivações que fizeram a Eletronorte investir em Breu Branco?As principais foram a visão da Empresa de que teria

que enfrentar os problemas sociais do município, a au-sência do Estado e o compromisso com a compensação socioambiental.

Quais são as principais atividades e construções realizadas pela Eletronorte por meio do Pirtuc?Considero a construção de escolas; de postos de saú-

de; de prédios públicos; de áreas de lazer; implantação de microssistemas de abastecimento de água; melhoria do sistema de tratamento de esgoto; urbanização da orla; recuperação de estradas vicinais e de vias públicas urba-nas; apoio à atenção básica à saúde; e a implantação do Programa de Educação em Saúde e Apoio à Vigilância Epidemiológica, executado pelo Núcleo de Vigilância Epi-demiológica - Nuve.

Quantas pessoas já foram beneficiadas pelo Pirtuc em Breu Branco?Entendo que fazer referência a pessoas beneficiadas

com as ações do Pirtuc seria reduzir a magnitude e ampli-tude desse plano, reconhecido como referência na região

pelas ações que realiza, onde parte delas se restringe a alguns segmentos da sociedade, mas a maioria é direcio-nada à sociedade em geral. Assim, diante da importância que representa para o conjunto da sociedade e de sua inestimável contribuição para o processo de desenvolvi-mento sustentável da região, posso afirmar que o Pirtuc, ao longo desses anos, vem beneficiando toda a popula-ção do município de Breu Branco, atualmente estimada em 47 mil pessoas.

Quais os principais impactos do Pirtuc na população de Breu Branco?Destaco a elevação da oferta de vagas escolares nas mo-

dalidades de ensino infantil, fundamental e médio; amplia-ção do número de atendimentos na área da saúde; melho-ria do escoamento da produção agrícola; da estrutura física

de prestação de serviços públicos; da saúde e das atividades de esporte, lazer e cultura da população.

Qual é o seu sentimento, como ambientalista e empregado da Eletronorte, em ajudar toda uma população?Inicialmente gostaria de registrar que eu e minha equipe

sentimo-nos honrados e gratificados pela responsabilidade de tocar o Pirtuc em Breu Branco e nos outros municípios do entorno de Tucuruí. Sendo natural da região e conhecedor da carência e das necessidades do povo paraense, sobretu-do dos municípios dessa área de influência, igualmente me sinto feliz em poder contribuir para o resgate da dignidade da população, trabalhando da melhor forma possível, tendo sempre em vista que ela constitui nossa clientela principal, com direito aos serviços públicos necessários ao bem-estar e à elevação da qualidade de vida.

Pirtuc inaugura um novo tempo

Ruas asfaltadas até nos bairros mais distantes

Opções de lazer e esporte Nova delegacia de polícia

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Dona Madalena se recorda do ganho da qualidade de vida em consequência da casa nova, onde criou cinco dos seus nove filhos: “Eu gostei muito do Breu Novo, é como se o tivesse fundado, e onde ficarei até o resto da vida. Cheguei aqui e me deram uma casa com três quartos, onde criei meus filhos. Ainda hoje duas filhas moram comigo; outra mora em

A maioridade também atinge os breuensesAlguns dos jovens breuenses nasceram na época da

municipalização da Vila de Breu Branco, em 1991. Eles são a nova geração que hoje comemora a maioridade jun-tamente com o município onde cresceram e viram evoluir. Um desses jovens é Lucileno Costa (foto), conhecido como ‘Barqueiro’, que aos 18 anos tem sonhos como qualquer rapaz de sua idade para melhorar de vida. Lucileno co-nheceu a Usina Hidrelétrica Tucuruí apenas uma vez, em um passeio da escola. Mas é consciente de que do cam-pinho onde joga futebol, até as ruas asfaltadas, tudo tem a interferência da Eletronorte.

O apelido de ‘Barqueiro’ dado a Lucileno não veio sem uma explicação. Morador da região amazônica, a vida de Lucileno, assim como de seus conterrâneos, é intimamente relacionada com as águas do Norte, que à época lhe serviu de maternidade. “A gente sempre morou perto da água, no lago da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Quando minha mãe começou a sentir as dores do parto, ela foi levada ao hos-pital de barco, mas eu nasci antes de chegar lá. Ela conta que foi muito rápido, não deu tempo (entre risos). Hoje me chamam de Barqueiro só porque nasci no barco”.

A mãe de Lucileno veio do Estado de Goiás, enquanto seu pai saiu de Tucuruí procurando em Breu Branco uma

Velho. No entanto, em uma das escolhas hou-ve disputa: a da casa com a cor mais bonita. Pintadas com cores que remetem à riqueza da fauna amazonense, as novas habitações em nada lembram aquelas construídas nos reas-sentamentos de programas habitacionais.

Humberto explica: “O que se imaginava era que todas as casas seriam de cor branca, seguindo o padrão das casas populares da época. Porém, não se tratava de casas popu-lares e sim de moradores reassentados. Na fase de acabamento das casas, o empreiteiro me procurou e fez uma proposta: ‘Eu tenho tintas novas, excedentes de outras obras, se puder usar essas tintas de cores variadas, co-bro a metade do serviço de pintura’. Daí eu topei e, para não ficar um negócio muito pa-dronizado, determinei o seguinte: ‘Você pinta uma casa de uma cor com as portas e janelas de outra, e a casa seguinte com as cores in-vertidas’. Eu digo que ficou exótico, mas ficou muito bonito também. Meus colegas brincam dizendo que eu fiz o ‘projeto arara’, por conta das cores da tinta. Mas na hora da escolha das casas as mais procuradas foram as de cores mais exóticas”.

Maioridade – Após a criação da nova vila, a comunidade breuense, com base no artigo 83 da Constituição do Estado do Pará, de 5 de outubro de 1989, organizou-se em comissão e planejou a caminhada rumo à emancipação da Vila de Breu Branco para Município de Breu Branco. Em 1989, reuniu-se no centro comu-nitário da igreja a Comissão de Emancipação de Breu Branco. O plebiscito ocorreu no dia 28 de abril de 1991. Na ocasião, aproximada-mente 90% dos eleitores que compareceram às urnas votaram sim à emancipação, quando a Vila de Breu Branco foi elevada à categoria de município pela Lei estadual nº 5.703, de 13 de dezembro de 1991.

“Por vezes há dificuldades, porque o custo com manutenção das escolas e pos-tos de saúde, por exemplo, é alto”, ressalta Valdemar. “Hoje é uma cidade muito bonita, com todas as ruas asfaltadas, saneamento, escolas, igrejas e esses prédios públicos que acredito, com raras exceções, foram quase em sua totalidade construídos por meio dos convênios com a Eletronorte. A cidade já cresceu muito. Viajo ainda hoje pelo interior, nos municípios a jusante, e a diferença de

Palmas e os outros dois moram em Jacundá. A saúde aqui é um pouco atrasada, pois há apenas um hospital, mas é difícil em qualquer lugar. A cidade está bem maior, na época da criação havia apenas 300 famílias. Agora te-mos água tratada e luz elétrica”.

Valdemar se lembra da dificuldade de al-guns moradores na adaptação às novas casas providas de certas comodidades: “No início o pessoal ficou até desorientado, porque eles moravam naquelas casinhas sem infraestrutu-ra. As instalações sanitárias, por exemplo, eram feitas de fossa no padrão da Funasa (Funda-ção Nacional de Saúde) e, ao receberem uma casinha toda diferente, com sistema de água e de esgoto, o pessoal ficou até sem saber como usar tudo aquilo. Parece mentira, mas os mo-radores ficaram um pouco perdidos ao chegar aos novos lares. Ruas largas e sistema de água e de esgoto acabaram criando impacto”.

‘Projeto Arara’ - A construção das casas deu-se de forma padronizada e os lotes foram sorteados entre os antigos moradores de Breu

vida melhor, com mais oportunidades de emprego. A presença de parentes na região incentivou a vinda para a cidade que surgia e onde Lucileno continua ainda hoje trabalhando no Programa Na-cional de Inclusão de Jovens – o Projovem. “Aqui faço todo tipo de artesanato com a minha turma. Em épocas de festas como, no mês do Natal, fazemos árvores, guirlandas e muitos enfeites na-talinos com material reciclado. Além disso, participo das oficinas de dança, faço aula de hip hop e gosto de dançar”.

Lucileno observa as mudanças em Breu Branco, mas per-cebe que o município pode melhorar ainda mais para a nova geração como a dele: “Eu acho que a cidade melhorou bastante, pois está com a infraestrutura bem melhor. Gosto do campo de futebol, jogo bola quase toda semana. Uma coisa que não está muito legal é que os jovens daqui não praticam esporte por falta de incentivo. Aqui também não tem uma faculdade, há pouco emprego. Precisamos de mais oportunidades para os jovens”.

Troca de cores no lugar

do branco: “projeto arara”

Sistemas de água e

esgoto vem melhorando

ao longo dos anos

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poder aquisitivo e da estrutura das cidades, em relação ao Breu, é quase de terceiro para Primeiro Mundo”.

Com a ajuda dos royalties gerados pela Usina Hidrelétrica Tucuruí – apenas em 2009 foram R$ 4,3 milhões -, Breu Branco conta com boa saúde financeira. Além disso, a Ele-tronorte, com projetos como o Plano de In-serção Regional da Usina Hidrelétrica Tucu-ruí – Pirtuc (ver box), continua levando mais benefícios à população breuense. A Empresa tem prestado relevante serviço não apenas

na construção de prédios públicos, mas tam-bém na capacitação de professores, doação de equipamentos, profissionalização de jo-vens, apoio a eventos de cunho cultural, de lazer e educativo. De acordo com a Prefeitura Municipal de Breu Branco, a Eletronorte está construindo um novo tempo, criando para o cidadão condições necessárias ao pleno exercício do seu potencial produtivo, permi-tindo que ele possa dar, com o seu trabalho, a melhor contribuição ao desenvolvimento econômico e social do município e do Pará.

No dia 12 de dezembro de 2009, os presidentes da Ele-trobrás, José Antonio Muniz, e da Eletronorte, Jorge Nassar Palmeira; e o diretor de Planejamento e Engenharia da Ele-tronorte, Adhemar Palocci, receberam homenagem da Pre-feitura do Município de Breu Branco, que comemorou 18 anos de sua criação. Em cerimônia ao ar livre, os diretores receberam a chave da cidade e a honraria de Cidadão de Breu Branco. A comemoração também serviu de palco para a assinatura de convênios entre os municípios que formam o Consórcio dos Municípios Paraenses Alagados pelo Rio To-cantins – Compart, e a Eletronorte.

A Eletronorte, por meio do Plano de Inserção Regional da Usina Hidrelétrica Tucuruí – Pirtuc, assinou oito convênios com as prefeituras, com vistas ao incremento da infraestru-tura regional, totalizando cerca de R$ 23,5 milhões de in-vestimentos. Entre eles, a construção do complexo adminis-trativo e do terminal rodoviário de Breu Branco, somando R$ 5,5 milhões. Em Goianésia serão construídos o ginásio poliesportivo e a rodoviária, com R$ 8,3 milhões. Já no mu-nicípio de Jacundá serão construídos o terminal rodoviário e a pavimentação asfáltica, ao custo de R$ 9,0 milhões. Em Nova Ipixuna a Eletronorte participará da pavimentação das vias urbanas e da coleta de lixo, investindo R$ 629 mil.

Participaram do evento os prefeitos de Breu Branco, Goia-nésia do Pará, Tucuruí, Jacundá, Nova Ipixuna, Itupiranga e Baião. Estiveram presentes também os deputados estaduais Parsifal Pontes (PMDB - PA) e Deley Santos (PV-PA), além do secretário de Estado de Transporte, Valdir Ganzer. Egon Kolling, prefeito de Breu Branco, salientou a importância da parceria entre prefeituras, sociedade civil organizada, estado e a Eletronorte na viabilização do desenvolvimento dos mu-nicípios da região do lago de Tucuruí: “Sabemos o quanto precisamos da Eletronorte e da Eletrobrás, mas, mais do que isso, tenho que dizer o quanto somos gratos pelos investi-mentos que se somam para o crescimento dessa região”.

Investimentos – José Antonio Muniz Lopes lembrou

que há nove anos luta para garantir investimentos para os municípios da região, principalmente para Tucuruí e Breu Branco, maiores detentores do empreendimento da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Ele afirmou que a Eletro-norte tem uma dívida histórica com o povo dos sete mu-nicípios da região e que tem procurado ajudar a todos de maneira igualitária. Muniz Lopes disse ainda que a Eletrobrás, por intermédio da Eletronorte, tem firmado parcerias importantes para garantir o desenvolvimento, gerando inclusão social e renda para a população. “Es-ses convênios são importantes, pois garantem o pão das crianças de Breu Branco e dos outros municípios da re-gião da barragem. Esse é o nosso compromisso”, frisou o presidente da Eletrobrás.

Adhemar Palocci foi agraciado com o título de Cida-dão Breuense. Segundo ele, “a Eletronorte tem se es-forçado para que os investimentos sejam aplicados no desenvolvimento socioeconômico da região. Sabemos

Fala Valdemar: “Me sinto muito gratificado por esses 25 anos de trabalho, fazendo obras voltadas para a população carente. Vejo o trabalho feito ali refletido no cotidiano das pessoas. Ele não é passageiro, ficará ali per-manentemente. Vejo boas escolas, as crian-ças saudáveis brincando e estudando, o que me faz feliz em saber que há um pedacinho nosso lá dentro”.

Fala Humberto: “Enfrentamos dificulda-des. Com pouca energia e sem televisão, pegávamos os videotapes que vinham de

Belém e tínhamos de ver tudo repetido. Era um tal de ver o Incrível Hulk tantas vezes que a imagem ficava cor-de-rosa! Chega-mos a ter 31 mil empregados nas obras de Tucuruí. Do engenheiro ao médico, pas-sando pelo peão, levávamos tudo. Apesar disso, foi uma experiência ótima. Até hoje me emociono ao relembrar que participei daquilo tudo desde o começo. Eu sou um grãozinho de areia que ficou plantado ali e, somando os outros grãozinhos, fez-se todo aquele colosso”.

Eletronorte assina convêniosque somam R$ 23,5 milhões

que ainda falta muito, mas estamos no caminho certo para consolidar o crescimento sustentável no entorno do lago de Tucuruí ”.

Representando o diretor-presidente da Eletronorte, o gerente da Regional de Produção de Tucuruí, Antonio Augusto Bechara Pardauil, ressalta que “a Eletronorte tem considerado as características, demandas e poten-ciais de cada município, e os investimentos realizados ao longo dos anos têm ajudado na construção de um cenário promissor, baseado na participação social, na integração das ações públicas e na promoção de ativi-dades sustentáveis”.

José Antonio Muniz Lopes

População satisfeita com as benfeitorias

Adhemar Palocci

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Uma das definições para a palavra ‘viagem’ no dicionário é: ato de transportar-se de um ponto ao outro distante. É o que vai ocorrer com os 6.300 MW das duas linhas do Com-plexo do Madeira ao percorrerem 2.375 km, de Porto Velho (RO) até Araraquara (SP), no maior sistema de transmissão do mundo. A Eletronorte, como líder do Consórcio Integra-

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viagem para o sistema de transmissão do madeiranovidades nos cabos condutores de alumínio de grande bitola

ção Norte Brasil, está interessada em obter novos conhecimentos para atender à grandio-sidade do empreendimento. Para construir a linha dessa grande viagem de energia, a Em-presa também viajou. O gerente Marcos César de Araújo e o engenheiro Ricardo Vasconcelos, da Gerência de Projeto e Linhas de Transmis-são da Eletronorte, foram para Oakland (EUA)

para visita uma técnica à empresa Pacific, Gas and Electric (PG&E), no mês de novembro de 2009. Na PG&E os engenheiros adquiriram conhecimentos e informações sobre a experi-ência com a implantação de linhas de trans-missão com cabos condutores de alumínio de grande bitola e níveis de tracionamento mecâ-nico diferenciado.

O interesse pelo assunto parte das especifi-cidades do projeto e do conhecimento, quase que pioneiro da PG&E, com esse tipo de cabo. A principal novidade é que a transmissão será em corrente contínua, com cabos feitos so-mente com fios de alumínio, que terão secção transversal grande e serão esticados com alto nível de carga.

“Em Itaipu já é utilizada a tecnologia de corrente contínua, mas a que será usada no sistema do Madeira possui características diferentes. A principal delas é o cabo condu-

tor utilizado. Em Itaipu, e em todo o mundo, o cabo mais comumente usado é o de alu-mínio com alma de aço (fio de aço no cen-tro, que agrega mais resistência ao cabo). No sistema de transmissão do Madeira será utilizado um cabo todo composto de fios de alumínio, sem a alma de aço. O alumí-nio é um material de alta condutividade, ou seja, é ótimo para a transmissão de energia, mas ele não tem tanta resistência mecânica como um cabo com alma de aço”, explica Marcos César.

Foi para superar obstáculos, como a me-nor resistência mecânica desse cabo, que a empresa norte-americana foi procurada. “A PG&E é uma das poucas no mundo que tem experiência com esse tipo de cabo. Além disso, a experiência é longa: são mais de 40 anos”, acrescenta Marcos sobre a credibilidade das informações obtidas.

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Novidades - As inovações nesse empreen-dimento são necessárias devido ao fato de as linhas de transmissão precisarem atravessar obstáculos de longas distâncias, transmitindo grande quantidade de energia com agilidade e segurança. Uma delas é o tamanho da bitola do cabo. Marcos César explica essa caracte-rística que determina a quantidade de energia que o cabo vai transmitir. “A bitola é uma ca-racterística do cabo, que numa unidade pró-pria exprime a secção transversal dele. Logo, o cabo pode ser determinado pelo diâmetro, pela área ou pela bitola. O mais comum é cha-

mar o cabo pela bitola. O cabo que será usado no sistema do Madeira vai ter uma bitola de aproximadamente 2.300 MCM (Mil Circular Mil). Isso é quase o dobro da bitola usada no sistema de Itaipu”.

O uso da corrente contínua para transmi-tir a energia também é algo novo. Essa tec-nologia é apropriada para sistemas que não tenham necessidade de subestações e preci-sam atravessar longas distâncias. “O principal benefício do uso da corrente contínua frente à corrente alternada é a redução das perdas elétricas ao longo da linha”, afirma Marcos.

A novidade que está demandando mais investimento em pesquisa e inovação é o material do cabo condutor de energia e foi um dos fatores que motivaram a viagem até à PG&E. No Brasil o cabo feito de alumínio nunca foi usado para uma linha desse tama-nho e exige a superação do conceito que de-termina a carga com a qual o cabo pode ser esticado sem romper.

Constituem o sistema de transmissão do Madeira duas linhas de transmissão em cor-rente contínua, cada uma com capacidade de 1.300 MW: o bipolo 1 é composto pelas em-

presas Furnas, Chesf e Cetef, e o bipolo 2 é formado pela Eletronorte, Abengoa e Eletrosul. Para a viagem aos EUA foram representantes das empresas e da Marte Engenharia, respon-sável pelo projeto básico dos dois grupos.

O estudo econômico feito pela Marte En-genharia mostrou que para o sistema em cor-rente contínua, e para percorrer uma grande distância, o cabo de fios de alumínio é uma opção mais econômica do que o cabo com alma de aço, por conduzir melhor a energia. Porém, o cabo de alumínio não é tão resistente quanto aquele com alma de aço. Por isso as vantagens do cabo de alumínio só podem ser aproveitadas se alguns conhecimentos forem superados.

EDS - Marcos César explica: “A nova meto-dologia para tracionamento de cabos evoluiu. Hoje está bem mais consolidada, e nos leva para o crescimento sobre um critério antigo, baseado em uma característica chamada EDS (Every Day Stress), que é a força média que o cabo fica diariamente esticado, ao longo de sua vida útil. No passado, só trabalhávamos

A PG&E recebeu a comitiva brasileira (abaixo) para a troca de experiências

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com EDS na ordem de 18%, ninguém ousava ir além desse limite porque quanto mais o cabo é esticado, mais problemas ele pode ter com a vibração provocada pelo vento, por exemplo. O cabo de alumínio, em relação ao cabo com a alma de aço quando esticado com o mesmo EDS produz uma maior flecha (curvatura que aproxima o cabo da terra). Dessa forma, para respeitar a distância de segurança do solo, as torres que sustentam o cabo de alumínio de-vem ser mais altas, o que aumenta o custo da obra. Por isso o cabo de alumínio só se torna

competitivo com o cabo com interior de aço quando pode ser mais esticado, para diminuir a flecha e reduzir a altura das torres. É nisso que estamos investindo agora, na evolução da metodologia do EDS”.

Nessas condições, o cabo de alumínio é vantajoso e incentiva a pesquisa para que seja utilizado, pois economiza também em material, em comparação ao cabo com aço. O alumínio é melhor condutor de energia que o aço, por isso o cabo com alma de aço preci-sa compensar a parte ocupada pelo aço com mais fios de alumínio para conduzir a mesma quantidade de energia que o cabo só de alu-mínio. O cabo com alma de aço sempre terá um diâmetro maior que o de alumínio e será usado mais material.

A viagem técnica para a PG&E ofereceu uma prévia de como será o trabalho com o cabo de alumínio. O engenheiro Ricardo Vasconcelos conta: “Eu acho que esses intercâmbios de informação são sempre bons, porque aprimo-ram o conhecimento e oferecem subsídio. Em relação ao tamanho da linha de transmissão do Madeira, é inexistente a utilização desse cabo e a PG&E conseguiu nos tranquilizar, por ter uma longa experiência. Uma das dúvidas que levamos foi a respeito do tipo de emenda que será utilizada e eles nos adiantaram como é a experiência deles”.

A preocupação com o tipo de emenda sur-giu devido ao fato de que para transportar a

grande quantidade de energia produzida nas usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, o cabo será muito mais grosso que o usual, ou seja, o tamanho da bitola tornou-se uma novi-dade para os engenheiros. Como a fabricação do cabo é feita em lances durante a construção das linhas, existem duas opções para se fazer as emendas. Uma é a compressão, com um tubo metálico que une as pontas dos lances e é comprimido com uma espécie de prensa; e a outra com uma emenda pré-formada, na qual as pontas do cabo são passadas de forma helicoidal para unir uma parte à outra.

“Eu considero fundamental esse item por-que vai ditar o desenvolvimento da obra. Se tiver muito problema de emenda a obra vai

demorar mais para ser realizada. A informa-ção que recebemos da PG&E é que eles usam a emenda à compressão, o que tem atendido ao sistema deles”, esclarece Ricardo. As duas possibilidades de emenda ainda estão sendo consideradas e ambas são desenvolvidas no Brasil. Ainda que os fabricantes dos dois tipos não tenham o produto pronto para um cabo com uma bitola deste tamanho, por ser uma novidade. De qualquer forma o relato da expe-riência da PG&E é útil, pois antecipa o que os engenheiros podem esperar com a utilização desse material.

O engenheiro Marcos César relata sobre ou-tras duas recomendações que a PG&E fez em relação à utilização da armadura de vergalhões Os testes

nos cabos de alumínio estão sendo

feitos nos laboratórios

da UnB

Equipe no campo confere a aplicabilidade de equipamentos como os isoladores poliméricos

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Da mesma forma que a PG&E fornece informações pertinentes ao comportamento do cabo e deu dicas para sua utilização, uma pesquisa da Universidade de Brasília - UnB contribui subsidiando o uso de percentu-ais maiores de EDS. Ou seja, tão importante como o co-nhecimento das características do cabo, é o desenvolvi-mento de pesquisas que superam as informações e os critérios existentes. O benefício é que o aprendizado vai servir tanto para um bom desempenho da linha do Rio Madeira, quanto para que a Eletronorte se engaje em novos empreendimentos.

A Lei nº. 9.991, de 24 de julho de 2000, estabelece que as empresas do Setor Elétrico devem investir parte da receita operacional em pesquisa, desenvolvimento e em eficiência energética. Com base nessa regulamen-tação, e por meio de parceira, desde 2006, o Departa-mento de Engenharia Mecânica da UnB e a Eletronorte desenvolvem um projeto de pesquisa & desenvolvi-mento (P&D) que testa a fadiga de cabos condutores de energia em níveis de tensões elevados, ou seja, o EDS suportado pelo cabo.

O projeto é intitulado Resistência Dinâmica e Ava-liação da Utilização da Fórmula de Poffenberger-Swart para Sistemas Cabo/Grampo Operando com Altos Ní-veis de Tensão de Trabalho e é anterior aos estudos sobre o Madeira. “Quando esse projeto começou, nós vislumbrávamos que a Região Norte, pelo tamanho, iria exigir futuramente que as linhas de transmissão fos-sem esticadas com maior força para, como exemplo, atravessar rios largos por onde passam embarcações”, explica José Alexander Araújo, coordenador do labo-ratório do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB (foto acima).

Sobre a relevância do projeto José Alexander acres-centa: “Um cálculo de empresas do Setor Elétrico mos-tra que para atravessar uma extensão de dois quilôme-tros de rio com a carga de EDS padrão é necessário ter torres com mais de 300 m de altura, para respeitar a altura mínima da passagem de embarcações. Isso tornariam mais difícil a manutenção e a logística de construção dessas torres. Por isso é importante a pos-sibilidade de esticar com segurança o cabo com cargas elevadas”.

José Alexander conta que, por tradição, os enge-nheiros no Brasil não ultrapassam a carga de 20% para esticar os cabos e no laboratório da UnB os ensaios são feitos com carga de até 30% para prosseguir com

a inovação do conhecimento sobre o EDS. Isso permite progressos na área, como ele explica: “Se conseguir-mos montar metodologias e teorias que permitam calcu-lar quanto tempo o cabo vai durar, conseguimos enviar equipes de manutenção aos locais mais críticos da linha com a antecedência devida para fazer uma manutenção preventiva. Ou seja, refinar o processo de manutenção e acompanhamento dessa linha ao longo dos anos”.

Laboratório - O laboratório, formalmente chamado de Laboratório de Fadiga e Integridade Estrutural de Cabos Condutores de Energia, por suas inovações tecnológicas é destaque no hemisfério sul. Nele são realizados os testes do projeto da parceria entre a Eletronorte e UnB, que José Alexander considera proveitosa. “É uma troca de conhe-cimentos. A Eletronorte traz o investimento e o conheci-mento técnico e a UnB tenta retornar esse conhecimento com mais profundidade para a Empresa”.

Nesse laboratório são feitos ensaios acelerados nas condições pretendidas de desenvolvimento do sistema de transmissão do Madeira para promover o aprofundamen-to dos estudos e oferecer informações mais precisas, que podem permitir que a Eletronorte interfira na linha antes

que um dano mecânico aconteça. Ao entrar no laboratório, além dos dois longos cabos que vibram com ajuda de equi-pamento, o frio chama a atenção.

A professora de engenharia mecânica Aida Fadel, que também participa do projeto, dá a explicação científica: “Nos testes, a temperatura e a frequência do movimento, que re-presenta o balanço provocado pelo vento, são controladas com ajuda de equipamentos e do amortecedor. Em proce-dimentos científicos, quando existem três variáveis é preciso manter duas constantes para se descobrir a outra”.

Segundo a professora Aida, o que iria demorar anos para ocorrer no campo, no laboratório é feito em ensaio acelerado. “Nós criamos uma forma de saber o que acontece dentro do cabo, uma alternativa mais barata que um aparelho de raio x. Sabemos que na estrutura do cabo os fios de alumínio são enrolados no formato helicoidal e as camadas seguintes são enroladas em sentido contrário e, assim como uma corda quando é cortada gira, o cabo também. Aproveitamos isso e fixamos uma estrutura parecida com uma régua ao cabo, de forma vertical, e paralelamente a essa estrutura estão fixados dois sensores com laser, cada um apontando para o centro do cruzamento de dois traços desenhados nas duas extremi-dades da régua. Isto indica a posição inicial do cabo. Logo, quando o laser deixa de apontar para o centro do desenho significa que alguns dos fios do cabo estão quebrados”.

A dissertação de doutorado da professora Aida Fadel, resultado da parceria entre a UnB e Eletronorte, chama-se Análise da Resistência Dinâmica e Avaliação da Fórmula de Poffenberger-Swart para Sistemas Cabo-Grampo Operando com Elevados Níveis de Carga de Esticamento. Apesar do nome complicado o que o trabalho pretende é avaliar a in-fluência da variação da carga na qual é esticado o cabo so-bre sua vida útil, e as limitações das metodologias existentes para mensurar o efeito das vibrações em cabos condutores – entre elas a fórmula de poffenberger-swart. Nesse sentido os capítulos do trabalho detalham cada elemento que inter-fere no desempenho do cabo em campo e também realizam ensaios acelerados no laboratório da UnB.

Aida (ao lado) considera que o crescimento do País está ligado à confiabilidade e melhoria dos processos do Setor Elétrico. Dessa forma, a professora acredita que essas pes-quisas podem contribuir para o desenvolvimento nacional à medida que atendam novas demandas de instalações com torres mais distantes e cabos esticados com maior carga. A professora considera que é preciso dois cuidados básicos no Setor Elétrico: gerar mais energia e transmiti-la com se-gurança. “Para nós, quanto mais o cabo durar, melhor será, pois trata-se de um investimento enorme, que pesa no bolso do consumidor. O sucesso de uma pesquisa desse tipo tem grande impacto sobre o valor final da conta de luz e nos juros pagos aos bancos, pois com mais desenvolvimento o País passa a receber mais investimento. Até o preço do pãozinho que compramos pode ser alterado pelo fato de se ter mais segurança na energia fornecida”.

e o material dos isoladores. “No Brasil temos a prática de aplicar uma proteção em cima do cabo quando ele passa no grampo, chamada armadura de vergalhões. Na PG&E eles não utilizam essa proteção e nunca tiveram proble-mas. O mesmo foi confirmado quando consul-tamos os fabricantes nacionais, que recomen-daram a aplicação do cabo sem essa armadura para não encarecer a obra. Outra questão é sobre uma tecnologia que tem sido proposta para nós, o uso de isolador polimérico (feito de borracha). Segundo a PG&E, esse tipo de iso-lador tem um histórico de falhas e já substituiu quase todos por outros de material diferente”.

Além disso, Marcos César explica que a in-dústria nacional não vai ter prejuízos por falta de procura de seus produtos, pois grande par-te dos materiais utilizados é fabricada no País. “Embora não utilizemos o cabo de alumínio em grande escala no Brasil, ele é usado em subes-tações e em linhas de menor capacidade de distribuição. Os fabricantes nacionais estão ha-bilitados para produzir torres, isoladores e fer-ragens. Apenas nas subestações conversoras e nas inversoras alguns equipamentos serão importados, porque são tecnologias restritas a praticamente dois fabricantes no mundo”.

Marcos César também acredita na prospe-ridade e nos bons resultados a prazo longo. “Toda inovação no conhecimento, nas nossas práticas de projeto e na implantação de linhas de transmissão sempre trazem ganho para o futuro. Nós temos ainda grandes sistemas a serem construídos no Brasil, um deles associa-do ao Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte, que pode cogitar usar linhas em corrente con-tínua. Logo, essa tecnologia que vamos aplicar no sistema do Madeira com certeza vai servir para empreendimentos futuros”.

Colaborou Márcia Alvarenga

Parceria com a UnB aprimora conhecimento sobre EDS

Marcos César e Ricardo

Vasconcelos: toda inovação

traz ganho para o futuro

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Byron de Quevedo

A capital do Maranhão, São Luís, recebeu a II Semana Eletronorte do Conhecimento e Ino-vação Tecnológica – Seci, evento integrador das práticas de gestão do conhecimento e de inovações tecnológicas, visando à produção e compartilhamento do conhecimento, que este ano congregou também o XIV Painel Integra-do da Qualidade – PIQ, a IV Feira de Inovação Tecnológica, o I Seminário de Tecnologia da Informação e o IV Prêmio Muiraquitã de Ino-vação Tecnológica.

“Existe uma barreira entre a ideia e a sua formatação para apre-sentação ao público. Precisamos vencer essa dificuldade. Os nossos inventores têm algo novo a apresentar, mas até chegarem a traduzir os dados técnicos numa re-alidade patenteável, há dificuldades. Foros como a Seci são importantes, pois é uma oportunidade para essas pessoas se apresentarem. Quando um inventor desiste de

II Seci: gerações se unem na inovação

suas ideias renovadoras, a sociedade também perde”. Foi o que afirmou, oportunamente, o anfitrião do evento e gerente da Regional de Transmissão do Maranhão, Mauro Luiz Aquino dos Santos (foto abaixo, à esquerda).

A II SECI trouxe à luz inovadores do corpo técnico da Empresa e suas inovações sobre melhoria de processos, criação de produtos, serviços, redução de custos, programas de proteção à propriedade intelectual, operações de sistemas elétricos, equipamentos e linhas de transmissão, preservação e mitigação de impactos socioambientais, entre outros.

“Já o PIQ, evento que deu origem aos de-mais, é fruto de quase duas décadas de in-vestimentos em conhecimento e inovações, deixando evidente que as diretorias passam, mas a perseverança dos empregados aos pro-cessos é que faz a diferença”, afirmou José Benjamim do Carmo, assistente da Presidên-cia e representante do diretor-presidente da Eletronorte, Jorge Palmeira.

O PIQ tem 245 trabalhos apresentados, 94 deles premiados nos últimos 13 anos. E a Empresa também vem acumulando prêmios e reconhecimento público. Este ano o público presente na Seci foi brindado com depoimen-tos que dão a exata dimensão do encontro en-tre almas criativas.

Como o de Dimitri Ramos (acima), premia-do na modalidade Trabalho Consolidado, ca-tegoria Processo de Apoio, com o seu projeto ‘Reestruturação da rede de computadores da Eletronorte’, que reformulou a comunicação via rede na Sede, em Brasília.

“Nosso trabalho é de equipe, mas ajudou-me a clarear a mente e, assim, consegui ven-cer barreiras pessoais de relacionamento. Hoje estou aqui feliz e representando a minha área. O pessoal da Região Norte reconhece o valor da Eletronorte. Talvez pessoas de outras regi-ões não tenham a dimensão exata do que ela representa para o Norte e para o País. Nasci na região, conheço o sofrimento e a fibra do nosso povo, também merecedor de desenvolvimento e apoio. Minha admiração pela Empresa vem desde criança. Quando a conheci, fiquei fasci-nado e jurei que um dia ainda trabalharia nes-sa instituição grandiosa. E, graças a Deus, tive a oportunidade de fazer parte do seu quadro de empregados e, hoje, da sua história”.

Blecaute sem pânico - No momento em que aconteceu o último grande blecaute no Brasil, o XIV PIQ, premiou na modalidade Trabalho Inédito, categoria Processo Finalísti-co, mais uma luz em matéria de segurança. Trata-se do projeto para facilitar a compre-ensão do Automatismo do Serviço Auxiliar nas Subestações, dos técnicos Jonir da Silva Costa, da Divisão de Transmissão do Tocan-

tins e Windsor Oliveira (abaixo, à esquerda), técnico de Segurança do Trabalho, também lotado na Regional de Transmissão do Tocan-tins. Eles aplicaram-se numa invenção prediti-va. É apenas uma planilha, mas muito útil em ambientes automatizados. E para justificá-la Jonir constrói um pequeno caos imaginário: “As portas DJ1, DJ3, DJ5 funcionaram bem, porém DJ4 não fechou. Mas deveria estar fe-chada e por que não está? Localizem os dese-nhos. Mas são centenas de desenhos! Traga o específico, aquele que tem a porta DJ4”. Essa planilha, por meio de uma interface amigável e intuitiva, ajuda a eliminar perdas por erros operacionais. Ou seja, é possível compreender quais são as pré-condições necessárias num momento em que uma máquina apaga ou o automatismo falha.

“Nesse caso passamos para o plano B, com ênfase no ser humano. A nossa pretensão é tornar compreensível a operação, num mo-mento de emergência, mostrando quais são os procedimentos que o técnico deve tomar para fechar o equipamento ou mudá-lo de posição. E ao mesmo tempo, permitir a ele visualizar as chaves certas e saber qual o painel em que se encontra aquela chave. Fornecemos a localização do painel, o tipo de chave e o local onde ela está instalada. Vivemos 11 anos sem apagão. Isto nos deixou meio sossegados. Deveríamos recordar mais quais são as atitu-des a tomar, quando houver disparo de equi-pamentos. Há treinamentos constantes, mas os procedimentos das rotinas pouco usadas acabam caindo no esquecimento. O operador também faz parte das ações do serviço auxiliar de restauração do sistema. Podemos também utilizar essa ferramenta para a função simu-ladora. O técnico pode simular, sem provocar efeitos reais nos equipamentos e no campo

Unidade mais inovadora – o gerente da Re-gional de Planejamento e Engenharia do Ma-ranhão e Tocantins, Omar Barroso Maia Junior (abaixo), fez a entrega do troféu de Unidade

Da esquerda para a direita:

Francisco, Adolfo, Omar,

Benjamin,Mauro,

Charone e Eder

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Mais Inovadora da II Seci aos colaboradores do Centro de Tecnologia. Omar enfatizou que gerir o conhecimento é gestar uma grande empre-sa: “Somos a melhor do Setor Elétrico devido a essa preocupação com a aquisição do saber e com a melhora da gestão do conhecimento. Esse é o marco a ser atingido”.

Para a superintendente de Pesquisa e De-senvolvimento Tecnológico, e Eficiência Ener-gética, Neusa Maria Lobato (acima, premiando Enedilson Santos Reis), esse troféu significa o conjunto das demais pontuações. “Fico mui-to feliz pelo número de pesquisadores e in-ventores jovens presentes na II Seci. Todos aprendem a todo instante, só que os jovens

não têm a percepção de filtrar. E muitas vezes, até por influência de amigos, se metem por cami-nhos que os levam a experiências danosas às suas vidas. Os mais idosos têm seus filtros e os jovens também deveriam tê-los. Vamos ajudá-los nessa missão de com-preender melhor a vida, pois eles são nossas estrelas”.

A psicopedagoga do Sebrae, Rosanira Leite Dias (ao lado), convidada para compor a Banca Examinadora, disse que foi uma

grande experiência ver trabalhos inovadores com a participação de muitos jovens. “É im-portante a Empresa ouvir seus empregados, premiá-los e aproveitar as sua ideias, contri-buindo para sua autoestima e suas valoriza-ção. É uma soma de experiências muito positi-vas. As empresas não devem trabalhar apenas os processos mecânicos, têm que valorizar também o lado biológico, as pessoas. Essas homenagens estimulam aqueles que criam algo, a criar mais”.

Feira de Inovação Tecnológica - A II Seci revelou-se integradora de gerações, uma vez

que a Eletronorte admitiu muitos jovens em recente concurso público, que foram vence-dores em várias categorias nos diversos prê-mios, em parceria com empregados antigos. Por sua vez a IV Feira de Inovação Tecnológica apresentou inovações geradoras do diferencial competitivo, que fazem a Eletronorte figurar entre as empresas mais inovadoras do País.

A II Seci, e notadamente a IV Feira, tiveram uma característica especial: surgiram por lá inventos não para promover a grande revolu-ção tecnológica do século XXI, mas criações específicas para o Setor Elétrico, baratas, funcionais e de aplicabilidade imediata pelos recursos que geram ou que evitam serem gas-tos. Esse é o caso das invenções da equipe composta pelo engenheiro mecânico Moisés Antônio Soares (abaixo) e pelos técnicos em eletromecânica, Jessé Lima de Assunção, An-tônio Paulo Souza do Nascimento e Rui Braga, todos trabalhadores da Divisão de Engenharia e Qualidade da Regional de Transmissão do Maranhão.

Veja algumas invenções dessa turma incrível:Kit de ferramentas para montagem e des-

montagem dos anéis coletores e máquinas rotativas dos compensadores síncronos, que são os estabilizadores das variações na trans-missão de energia, absorvendo as oscilações de tensões e garantindo a estabilidade do sistema. Os anéis coletores, dentro dos com-pensadores instalados nas subestações, são componentes rotativos que se desgastam com o tempo. Segundo Moisés, antes se contratava o fabricante dos disjuntores para fazer a troca dos anéis e a operação demorava até 12 horas. Hoje esse tempo caiu para duas horas e é feita por técnicos da Eletronorte. Custo do invento: R$ 1,5 mil. Custo evitado, por compensador síncrono retificado: R$ 428,5 mil. Tempo de duração do anel coletor retificado: 15 anos. Economia total gerada com todos os compen-sadores recuperados: R$ 2,5 milhões.

Kit de ferramenta para desmontagem de acumu-ladores de disjuntores de 500 kV e 230 kV, que re-tifica esse complexo com-ponente dos disjuntores, submetido a altas pres-sões. Antes, a desmon-tagem era feita pelo fabri-cante, em uma hora de serviço. O kit reduziu esse tempo para dois minutos.

Custo evitado na montagem feita com técnicos da casa, aproveitando peças descartadas, mais o tempo de indisponibilidade do equipamento e compra de peças novas: R$ 630 mil, para recuperação de 108 acumuladores, agora já em uso. Custo de fabricação do kit: R$ 100,00.

Há ainda dois mil acumuladores a serem re-cuperados na Eletronorte. Custo evitado para o Sistema Eletrobrás: alguns milhões de reais. Custo evitado projetando-se a demanda repri-mida mundial neste nicho de mercado: chame o matemático Oswald de Souza.

Dispositivo hidráulico para desmontagem e montagem das caixas de molas dos disjun-tores. A desmontagem era feita com tirantes, algo perigoso, pois as molas robustas ficam sob pressão. Eram necessárias três pessoas para a troca da peça, num trabalho difícil e sob risco de vida. O invento baixou o tempo de desmontagem e montagem da caixa de 30 minutos para três minutos, e com apenas uma pessoa trabalhando, em segurança. Cada disjuntor de 500 kV possui seis caixas de mo-las e um de 230 kV, três caixas. O custo evi-tado por caixa de mola: R$ 7,8 mil. Custo do equipamento de desmonte, usando material reciclado: R$ 480,00. Custo evitado com 56 caixas de molas: R$ 436 mil.

Jesse Lima de Assunção

Francisco Roberto França recebe prêmio de Unidade mais Inovadora

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Banca examinadora

Inventores, a nova

produção da Eletronorte

Kit corretor para retirar o anel elástico de válvula de abertura e fechamento dos disjun-tores de 500 kV e 230 kV e os cilindros de verdadeira imagem. Antes não se fazia manu-tenção nessas válvulas, importavam-se novas peças e as antigas eram descartadas. Custo de cada uma, mais o cilindro de verdadeira imagem: R$ 35 mil. Com esse kit o tempo de retirada da válvula caiu de 20 minutos para 20 segundos, evitando ainda longos processos de aquisição de peças. Custo do kit: R$ 100,00. Custo evitado: R$ 630 mil para a recuperação de 36 disjuntores.

Bicicleta de quatro roldanas (abaixo). É uma invenção do especialista em manutenção elétrica, Ademir Ferreira da Silva, que traba-lha com linha viva. Ele comenta que antes era usada uma bicicleta de duas roldanas, para se trabalhar com um cabo, o que dificultava o serviço de troca dos espaçadores e lâmpa-das de balizadores (sinalização noturna). “A nossa bicicleta de quatro roldanas, uma gaiola de alumínio que entra na mesma tensão da linha para igualar o potencial, trabalha apoia-da em dois cabos de 250 V. Antes era pre-ciso desligar a energia e levavam-se de oito a 14 horas para trocar balizadores, luvas de reparos, esferas de sinalização diurna e espa-çadores. Atualmente, trabalhando de forma bem mais confortável, gastamos de três a dez horas para trocar esses sobressalentes com a linha ligada, o que gerou uma economia de R$ 7,0 milhões. Custo da bicicleta: R$ 12 mil. A vantagem do nosso equipamento é que ele passa por cima dos espaçadores, antes era necessário tirá-los para a bicicleta chegar até à peça a ser trocada”.

Segundo Moisés, hoje os empregados po-dem fazer a sua carreira profissional e, pa-

mação nas organizações: dilemas, paradoxos e desafios”, ressaltou a importância da segu-rança dos dados, muitas vezes negligenciada. Mencionou o fato de muitas pessoas deixarem as telas dos computadores abertas, com in-formações pessoais ou da própria instituição. “Para vários arquivos o computador pergunta se queremos gravar, e sem pensar teclamos ‘sim’, e as informações ficam arquivadas. A cada dia 35 mil tipos de novos vírus surgem na internet. Quem abre qualquer e-mail pode vir a ter, um dia, a sua conta no banco zerada. Há de se ter cuidado também com senhas ób-vias. Nesses casos, o sistema da Eletronorte solicita a troca de senha. Estamos conectados com o mundo e isto nos dá acesso ao legal e ao ilegal a qualquer instante. Aí surgem as questões de ética quanto ao uso do que é pes-soal ou do que é corporativo. Às vezes infor-mações sigilosas vazam, pois inadvertidamen-te as deixamos disponíveis sem compreender a sua importância estratégica. Determinadas palavras acionam o sistema de segurança da Eletronorte e surge na tela a advertência de se ter infringido a IN-01. Há ainda pessoas que guardam tudo, o que exige uma caixa de e-mail maior, como não dá, vai-se para a pasta particular e quando o HD fica cheio, cria-se uma pasta no servidor. Muitos arquivos, cer-tamente, não deveriam estar a superlotar os sistemas da Empresa”.

Adolfo Conceição também fez a entrega do certificado de primeiro lugar na modalidade Tra-balhos Inéditos, na categoria Processo Finalís-tico, para o trabalho Monitoramento de Caixas Separadoras de Óleo na UHE Tucuruí, apresen-tado por Markle Fernandes Vieira (foto acima).

Markle e sua equipe revelaram-se invento-res promissores. O seu simples sensor pode

ralelamente, ter uma carreira como inventor, ainda mais interessante financeiramente e como realização pessoal. “Está aí a corrente contínua no sistema de transmissão do Ma-deira (ver matéria na página 18). É um novo mundo, desafiador e carente de soluções, uma tecnologia dominada por poucos. Já sabemos muito sobre a corrente alternada, mesmo assim há muitos desafios nela tam-bém, pois é uma tecnologia importada. Mui-tos fabricantes já inseriram nossas ideias nos seus equipamentos e depois vendem para a Eletronorte máquinas e equipamentos com as melhorias criadas por nós. Daí a importância das patentes, que rompe esse ciclo vicioso. Hoje, os nossos inventos estão sendo paten-teados”, observou.

Segurança - José Adolfo Ramos da Concei-ção, assistente do Diretor de Gestão Corporati-va, em sua palestra sobre “Tecnologia da infor-

evitar catástrofes ecológicas, dando sinais de vazamentos de óleo para o meio ambiente. A invenção poderá ser usada em lixões, postos de gasolina, fábricas e usinas de tratamento de combustíveis. “O invento é para garantir a segurança do óleo contido nas caixas, nas subestações. Quando criamos esse sensor jamais imaginávamos que ele pudesse ser usado para tantas coisas, em tantos lugares”, declarou Markle.

Colhendo os frutos - Segundo o coordena-dor da II Seci e gerente de Gestão de Conhe-cimento, Francisco Fernandes Neto (abaixo, ao centro, ladeado por Jessé e Gerivan) “foi bom verificar que neste evento já surgiram os trabalhos, inclusive premiados, da nova geração. Os veteranos continuam a fazer as coisas acontecerem, mas a nova geração já coloca vários incrementos, ao falar de suas realizações com empolgação e emoção. Ouvi-

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“Estamos migrando da era industrial para a era do co-nhecimento, onde se destaca a sociedade em rede. Surge aí a cultura aberta, compartilhada, de reutilização, de com-binação das culturas, nos possibilitando ferramentas pos-santes de compartilhamento. E para quem se sente descon-fortável com a abundância de informação, vou dar uma má notícia: a coisa deverá aumentar absurdamente. E tudo isto e muito mais está na internet, gratuitamente”. A afirmação é do diretor do Polo SP da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento- SBGC, André Saito (foto à direita), que participou da II Seci. Entretanto, ao mesmo tempo em que o ser humano se depara com a vasta gama de informações, por outro lado estão os direitos dos inventores e gerado-res de cultura, nunca antes tão violados. Nesta entrevista o professor Saito nos ajuda a compreender esse momento em que a comunicação de massa toma nova direção.

O compartilhamento nos levará ao despojamento total do saber individual em prol do conhecimento coletivo? Há um cenário de colaboração em rede, informação dis-

tribuída do conhecimento coletivo. O despojamento é impor-tante porque parte da constatação de que há um conheci-mento e nós precisamos sabê-lo para recombinar as coisas e ter as nossas próprias ideias. Por isto é que precisamos cedê-lo. Agora, esse despojamento não é total, pois vivemos numa economia de mercado, onde ainda é importante a explora-ção econômica do capital intelectual. O segredo está no meio termo. Daí vem a importância da gestão do conhecimento or-ganizacional. É a organização agindo de forma coletiva e em colaboração com os contribuintes do saber e clientes. Abrir mão desse saber, sim, mas até certo ponto. O mais valioso é o conhecimento tácito. É como usar as informações. A ques-tão chave é como fazer a comunidade empresarial abrir mão

mos histórias de jovens que um dia sonharam em trabalhar na Empresa e hoje já participam de um encontro como esse, evidenciando o reconhecimento daqueles que se esforçam e querem crescer”.

O Prêmio Muiraquitã é outra ferramenta de gestão que reconhece a inventividade dos tra-balhadores da Eletronorte. Entre 2006 e 2008 foram 60 inovações apresentadas, com 32 projetos premiados. O valor total da premia-ção foi R$ 409 mil. Com o resultado dessas inovações deixou-se de gastar R$ 48 milhões. Houve ainda o significativo aumento de regis-tros da propriedade intelectual. “Está evidente a importância de se investir no conhecimento,

dos seus conhecimentos, discutir, comentar, colaborar de forma produtiva e dar os feedbacks.

A propriedade intelectual implica direitos restritos. Qual a vantagem de se produzir conhecimento num cenário aberto?Antes só se tinha duas opções ao produzir proprieda-

des intelectuais: ou se protegia ou tornava disponível, não havia o meio termo. A propriedade intelectual é protegida por até 50 anos. O que de certa forma impedia a inova-ção. O domínio público total também não é interessan-te, pois o invento é fruto de pesquisa, investimentos e os criadores precisam ganhar algo. Então surgiu a educação aberta, com a universidade viabilizando aulas pela inter-net, gratuitamente, muito bom para uma pós-graduação ou MBA. Há também iniciativas semelhantes na área de saúde, com grupos desenvolvendo registros médicos, buscando eficiência. A Eletronorte, é um bom exemplo na área de inovações tecnológicas, propiciando-as inter-namente, mas em parceria com universidades, fornece-dores, clientes e entidades de pesquisas. Outro exemplo é o Google e indústrias parceiras, com o seu sistema operacional para celulares, no mesmo estilo do Linux. Há prêmios para pessoas físicas, desenvolvedores comuns, contribuindo para este sistema com suas visões. A Proc-tor & Gamble, está em colaboração com governos, forne-cedores, institutos de pesquisa, onde todos podem propor inovações, inclusive usando patentes dela. A Dell tem um site para as inovações dos produtos. Ou seja, há todo um envolvimento da comunidade, fornecedores, público em geral no processo de inovação e há outros exemplos de colaboração em rede com a liberação distribuída.

Isto também vem acontecendo em relação à comunicação?O processo de comunicação muda. Começamos com

o telefone, correios, telégrafos, carta. Aí veio o fax, agili-zando a aprovação de documentos, contratos, compro-vantes e propostas. Com o e-mail, messenger, chats, vie-ram outras mudanças. Antes tínhamos a comunicação de um para muitos: rádio, TV, jornais, revistas. Então surgem os multimídias, vídeos, blogs, redes sociais. Com essas novas ferramentas, os veículos e pessoas já conseguem interagir com seus públicos, com mensagem organizada em ordem cronológica, e com a possibilidade de se co-mentar os assuntos, por meio de ferramentas de comu-nicação distribuída, de forma assíncrona. Ou seja, sem depender de estarmos todos juntos, ao mesmo tempo. É

inovações e nos espíritos criativos dos cola-boradores. Os prêmios não são o mais impor-tante. O compartilhamento das ideias é o fator que permite às pessoas entenderem a dimen-são do que elas representam no mundo. Em 2005, tínhamos um único pedido de patente fruto de inovação. Hoje temos 42, com ganhos enormes de tempo e dinheiro. De 2002 a 2009 concluímos 139 projetos de P&D. Estamos apresentando soluções patenteáveis, inclusive remunerando os inventores. Talvez até per-camos alguns talentos para outras empresas que desejam tê-los, mas não se pode deixar de investir em P&D, por causa disto”, decla-rou o diretor de Produção e Comercialização,

Wady Charone Júnior (na foto à esquerda, em palestra).

Francisco Neto enfatizou: “Vínhamos traba-lhando com o PIQ, até 2006, com uma média de 30 a 40 trabalhos. O número de iniciativas, neste ano, foi de 123 trabalhos, chegando-se aos 32 finalistas. Para o Prêmio Muiraquitã foram apresentados 72 trabalhos na primeira fase, e 50, na final, totalizando 125 projetos, um número muito significativo. O Maranhão está de parabéns, por ter sido o anfitrião de um belo encontro, onde uma grande equipe teve que se envolver. Nossa missão foi cumprida”.

Os trabalhos apresentados na II Seci estão disponíveis na intranet da Eletronorte.

A era do conhecimentoa comunicação de muitos para muitos. Há pouco tempo só se trabalhava juntos num só local. Agora temos ambientes de co-laboração, com redes sociais, com vários textos, vários links. Todos a inserir as mudanças, com espaço de debates e troca de ideias. Conclusão: há uma plataforma onde todos podem colaborar, deixando as suas marcas.

Ou seja, todos se tornam criativos ou exploradores de uma criatividade que estava latente. Sim. Estamos saindo de um

mundo onde a tecnologia e a informação eram o principal, para outro onde o importante é a interação entre as pesso-as. Devemos criar a cultura

da inovação, aquela que é fruto do trabalho coletivo árduo de pesquisa do dia a dia. Ela vem em milhares de detalhes que vão se afunilando até gerar o novo, o diferente; o que já passou pela pesquisa, geração de ideias, seleção, validação, implementação e comercialização. É um processo que de-pende de tentativas e erros. Não é suficiente se fazer o me-lhor, tem que se fazer diferente. A criação do novo depende de mentes diversas, visões diferentes, pois os o talentos se somam. Na inovação há um processo político de negociação das mudanças. Nem sempre tudo é bom para todos. Uma ideia pode ser fantástica, mas para vingar ela tem que ser bem vendida e acordada entre as partes.

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“Marabá, cidade do sudeste do Pará, já foi a maior produtora mundial de castanha-do-pará. Passamos de maior produtor mundial entre as décadas de 1930 e 1970, à produção zero. Hoje encontramos poucas quantidades, apenas para consumo. Vi tudo isso acontecer com a maior tristeza, pois a castanheira é um árvore maravilhosa, de até 60 m de altura por quatro metros de diâmetro na base do tron-co. É triste ver uma espécie que vive até 800 anos ter sido destruída”. O biólogo e presi-dente da Fundação Casa da Cultura de Mara-bá, Noé Von Atzingen, descreve o sentimento de quem acompanhou o auge e declínio da espécie em Marabá.

Nóe nasceu em São Paulo e há 33 anos mora em Marabá. Para ele, a importância da castanheira na região foi além da questão

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Te Castanheira, fundamental para a manutenção da biodiversidadeBrasil não aproveita bem essa riqueza e está atrás da Bolívia em produtividade

econômica, alcançando a cultura, a política e o povoamento. “O brasão de armas do mu-nicípio tem no seu centro uma castanheira. O projeto urbanístico foi inspirado na árvo-re, onde o centro da cidade é o tronco e os bairros as folhas. O ciclo da castanha atraiu enorme contingente, principalmente de nor-destinos. Esses deslocamentos populacionais fomentaram a criação de cidades como Ja-cundá, Nova Ipixuna e São João do Araguaia. Por sua vez, as concessões dos castanhais eram feitas a grandes fazendeiros ligados à política local”, conta Noé.

De acordo com os primeiros registros, a ex-ploração da castanheira-do-pará, Bertholletia excelsa, na região de Marabá começou em 1913, período que coincide com o início da de-cadência do caucho - árvore que produz o lá-

Érica Neiva

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tex usado para fabricação de borracha - devido à expansão dos seringais no sudeste asiático. Em 1923 se colhiam 62 mil hectolitros (medi-da que equivale a 100 litros) de castanhas. Em 1979, houve uma produção recorde, 300 mil

hectolitros; em 1982, 200 mil; em 1983, 100 mil. A partir da déca-da de 1990 é praticamente zero a coleta da castanha, hoje conhe-cida e comercializada no exterior como ‘castanha-do-brasil’

Milhares de castanheiras cen-tenárias desapareceram nos últi-mos 30 anos no sudeste do Pará, região que abrange 38 municí-pios, sendo Marabá o mais im-portante em termos econômicos. Com cerca de 200 mil habitantes, hoje as principais atividades eco-

nômicas da cidade são a criação de gado e a siderurgia. Os diferentes ciclos econômicos que predominaram na cidade trouxeram pes-soas de diferentes partes do Brasil. O biólogo Noé (foto acima) veio para ficar apenas um ano, mas decidiu permanecer. “A minha rela-ção com Marabá é uma relação de amor. Vim para ficar um ano no campus da Universidade de São Paulo - USP que existia aqui, no en-tanto, nunca mais voltei. Marabá tem muitas coisas para serem resolvidas, mas é uma terra de oportunidades. Com boa vontade e inteli-gência os propósitos dão certo aqui”.

Causas da decadência - O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-

Embrapa e doutor em economia rural, Alfredo Homma (foto abaixo), responsável por traba-lhos sobre a Amazônia, economia de recur-sos naturais e extrativismo vegetal, relata que a extração da castanha-do-pará tornou-se a principal atividade econômica do sudeste do Pará durante 60 anos, sustentando milhares de extrativistas e uma oligarquia decorrente dessa riqueza. O sudeste paraense sofreu forte devastação com a abertura de rodovias e fer-rovias na década de 1960, deslocamento de migrantes, obras de infraestrutura, criação de novos municípios, a expansão da pecuária e a extração madeireira.

Segundo o pesquisador, “a abertura de estradas (foto abaixo) provocou a perda de controle no comércio de castanha, antes feita por via fluvial, e a destruição das castanheiras decorrente da expansão da fronteira agrícola

terminou enfraquecendo as famílias que con-trolavam as áreas de castanheiras e o seu co-mércio. A partir do final dos anos 60, porém, o governo começou a apoiar a agropecuária, por entender que renderia mais que a mata em pé. Com isso, posseiros, colonos e fazendei-ros avançaram sobre a floresta, substituindo-a aos poucos por culturas anuais e pastos. A extração de madeira começou com o mogno e depois atingiu outras espécies, inclusive a castanheira. Em consequência, até 1997, cer-ca de 70% das áreas de castanhais já haviam sido desmatadas no sudeste paraense” desta-ca Homma.

Alfredo Homma diz que as famílias não se sustentam somente com o extrativismo, o que leva à agricultura de subsistência, com risco para a sustentabilidade ecológica e econômi-ca. Ele afirma que os assentamentos fundiá-rios e as invasões de propriedades são outras causas da derrubada de castanheiras. “Nas frentes pioneiras, a agricultura familiar se ins-tala acompanhando as estradas de extração de madeira, derrubando e queimando o que resta da floresta. Madeireiros e agricultores familiares são os principais atores nas frentes pioneiras da Amazônia. Os primeiros extraem de maneira predatória o maior número possí-vel de árvores com madeiras de maior valor e, assim que elas se esgotam, avançam na fron-teira, abrindo caminho para a instalação dos segundos. Reduzir a destruição da floresta, portanto, exige um esforço hercúleo: além de coibir a extração ilegal de madeira e contro-lar derrubadas e queimadas, será necessário conscientizar a população quanto a esse erro conceitual”.

Outro problema apontado pelo pesquisador é que, na Amazônia, com o aumento popu-lacional e a urbanização, os preços relativos das culturas anuais, em especial alimentos, subiram ao longo do tempo, e por isso muitos dos que viviam da coleta de produtos florestais mudaram para a agricultura. “A destruição das castanheiras, apesar da proteção legal e do mercado definido, decorre ainda da perda de competitividade da castanha-do-brasil. O açai-zeiro, por exemplo, já é conservado pelos cole-tores em função da valorização dos frutos. No caso das castanheiras, porém, é mais lucrativo vender as árvores, fazer carvão, ou substituir a mata por culturas agrícolas ou pastos. O tama-nho dos lotes não garante a sobrevivência ape-nas com a extração da castanha, feita apenas na época chuvosa. A preservação desses re-cursos deve ser feita com uma visão mais am-

pla, pois talvez os produtos extrativistas nunca atinjam um valor que os torne economicamen-te atraentes. A importância do extrativismo, envolvendo certas circunstâncias, locais e pro-dutos, está em ganhar tempo até que surjam alternativas econômicas”, frisa Alfredo.

Importância ambiental - A castanheira tem a sua área de distribuição nas partes amazô-nicas do Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Vene-zuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. No Brasil destacam-se na extração da casta-nha os estados do Acre, Amazonas, Pará e Rondônia. Ela tem por habitat a mata virgem alta de terra firme, em agrupamentos mais ou menos extensos, tradicionalmente conhecidos como castanhais, sempre associados a outras espécies florestais de grande porte. É a árvore que se destaca das outras pela altura da copa, o que a faz ser chamada também de ‘rainha da floresta’.

A castanheira é importante do ponto de vista ecológico, pois é fundamental para a

No passado, embarque de castanhas no porto de Marabá

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manutenção da biodiversidade. Suas flores, folhas e frutos são excelentes alimentos. O analista ambiental da Eletronorte, Rubens Ghilardi (acima), explica que os animais con-tribuem para a manutenção da castanheira. “Na época em que a castanheira está florindo os guaribas, espécie de macacos, ficam o dia inteiro comendo flores e folhas novas que são altamente nutritivas. Além do vento, as araras também derrubam o fruto que por ser muito duro é aberto por poucos animais, a exemplo da paca. Animais como a cutia, esquilo, antas e veados alimentam-se dos restos deixados pela paca. A cutia é uma excelente dispersora de sementes, pois come algumas castanhas e enterra o restante com o objetivo de reservar alimento. Muitas dessas sementes não são lo-calizadas depois e acabam brotando”.

Existem leis municipais e estaduais no Bra-sil que proíbem o corte das castanheiras, fun-damentadas na Lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 que instituiu o Código Flo-restal. No Estado do Pará existe a Lei nº 6.895, de 1º de agosto de 2006, que declara a pre-servação permanente, de interesse comum e imune ao corte da castanheira. De acordo com a lei, a supressão total ou parcial da castanhei-ra só é admitida mediante prévia e expressa autorização do órgão ambiental competen-te e do proprietário ou possuidor do imóvel,

quando necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública, de relevante interesse social, bem como em caso de iminente perigo público, ou outro motivo de inte-resse público.

Mesmo com a proibição expres-sa do corte, o engenheiro florestal da Eletronorte, João Marcelo de Rezende (ao lado), explica que as castanheiras continuam morrendo devido às modificações causadas

no ecossistema pelas queimadas e desmata-mento para a instalação de atividades agrope-cuárias. “As pessoas continuam pegando gle-bas de terra, desmatando, fazendo queimadas e deixam apenas as castanheiras. Elas sozi-nhas não sobrevivem por diversos fatores: mu-danças no microclima da floresta com variação da temperatura e umidade, com a devastação

a floresta fica exposta à insolação, aos ventos, o solo fica desprotegido, tornando-se suscetível à erosão e à perda de nutrientes. Além disso, a castanheira é uma planta alógama, ou seja, ne-cessita de polinização cruzada para que ocorra a frutificação e a produção. Assim, os desma-tamentos e as queimadas, ao destruir o habitat do agente polinizador (Hymenoptero do gênero

Bombus spp.), têm contribuído para a redução da produção. As leis não se mostram tão efi-cazes, pois apesar de poupada, a castanheira acaba ficando estéril e morrendo”.

Luta - Durante seus diferentes ciclos econô-

micos a região amazônica recebeu brasileiros de todas as regiões, mas o maior número foi de

A castanha-do-pará também foi um produto de des-taque na economia de Tucuruí, cidade no sudeste do Pará. Prova disso foi a construção da Estrada de Ferro Tucuruí, em 1905, na margem esquerda do Rio Tocan-tins. Mas a estrada pouco contribuiu para o escoamen-to da castanha, devido à irregularidade da via férrea, dos descarrilamentos, da falta de força da locomotiva na subida, da dificuldade de transbordo e do armaze-namento nos dois extremos da ferrovia, além de ata-ques de índios Assurini.

Com a expansão da atividade agropecuária na região, o número de castanheiras hoje é pouco significativo. Boa parte das matrizes que restam dessas árvores foram preservadas devido às ações do Banco de Germoplas-ma, criado pela Eletronorte na década de 1980, com a formação do reservatório de Tucuruí, promovendo o re-florestamento e a conservação de material genético das espécies e contribuindo para a manutenção das reser-vas naturais. Diversas espécies de sementes e mudas foram resgatadas em vários pontos do antigo leito do Rio Tocantins e plantadas na Ilha de Germoplasma, que pos-sui cerca de 54,36 hectares, onde existem 2.449 matrizes, das quais 56 são de casta-nheiras. Há também as áreas nativas com 1.896 matrizes, das quais 171 são castanhei-ras centenárias.

A engenheira agrônoma da Eletronorte, Sandra Morei-ra do Nascimento (ao lado), explica: “A castanha-do-pará foi uma espécie resgatada como recurso genético da região e mantida na Ilha. Faze-mos a manutenção das matrizes plantadas, dos acessos e a coleta. Temos a área de coleta de sementes onde as matrizes nativas são inventariadas, marcadas e identifi-cadas. Parte das sementes e mudas coletadas de várias espécies, inclusive as castanheiras, são doadas para instituições de pesquisas, comunidade e campanhas de sensibilização ambiental, para incentivar a recomposição

da espécie. Considero muito importante o trabalho da Ele-tronorte, pois permite que o material genético coletado se multiplique na forma de sementes, mudas e doações para a sociedade. Qualquer trabalho que se faça para a manu-tenção das matrizes é importante”.

Comunidade – Em 2009, a Eletronorte iniciou um tra-

balho em parceria com a Embrapa que visa a treinar as populações tradicionais, geralmente ribeirinhos, e aquelas em áreas rurais, para que conheçam suas reservas, façam pequenos inventários florestais e saibam a importância econômica de cada espécie. “A partir do momento em que o agricultor conhece o recurso dele, começa a valo-rizar melhor a sua matéria-prima, transformando-a numa renda a mais para sua família e não permitindo a entrada de madeireiros na sua área para cortar a madeira e levar

Tucuruí já exportou castanha. Hoje produz mudas e matrizes

embora. Isso é uma forma de contribuirmos com a manutenção da espécie. Priorizamos as espécies ameaçadas com potencial de renda interessante, como andiroba e copaíba”, afirma a agrô-noma Sandra.

Em setembro de 2009 houve um treinamento com cerca de sessenta índios das aldeias Kateté e Djudjekô, da Terra Indíge-na dos Povos Xikrin, nos municípios de Ourilândia do Norte e Água Azul do Norte, com as instalação de bases para a produ-ção das mudas e identificação de áreas rentáveis para coleta de sementes como forma de fomentar as iniciativas de recu-peração de áreas alteradas na Amazônia contidas na política florestal do Pará. Durante o treinamento, trilhas com potenciais áreas de coletas de sementes foram identificadas e as árvores registradas e demarcadas como matrizes fornecedoras das se-mentes com maior qualidade. Dessa forma, os povos indígenas poderão utilizar as trilhas para a prática de coleta de sementes. “Estamos cada vez mais conscientes de que é um caminho in-teressante. Não que a doação de mudas não seja, mas o fato de capacitarmos as pessoas para que elas valorizem as reservas e não vendam suas riquezas por qualquer trocado. Sua matriz pode sair da sua reserva legal e ele pode perdê-la como fonte de renda permanente”, destaca Sandra.

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migrantes nordestinos. Entre estes Luiz Targino de Oliveira (abaixo), que trabalhou no extrativis-mo da borracha e da castanha-do-pará: “Nasci em 3 de fevereiro de 1933. Vim do Ceará para o Acre, em 1953, na época com 19 anos. Pri-meiro cortei seringa na Bolívia por três anos,

depois voltei para o Brasil, onde trabalhei 37 anos no seringal da Cachoeira, hoje chamado reserva Chico Mendes. Trabalhei 41 anos na castanha. Casei com 25 anos, tive nove filhos. Todos eles estuda-ram, quatro deles têm formatura e duas filhas trabalham no seringal”, descreve o extrativista.

Targino hoje mora em Xapu-ri, próximo à Fundação Chico Mendes. Mas as coincidências com o seringalista Chico Men-des, assassinado em 1988, não

ficam apenas na proximidade de suas resi-dências, elas são mais profundas e envolvem uma vida de amizade e luta. “Acompanhei a luta do sindicato até assassinarem o Chi-co Mendes. Conheci o Chico quando ele ti-nha 13 anos, morando no seringal. Éramos amigos de jogar bola e baralho, andávamos em festas juntos. Todos gostavam dele. Era uma pessoa humilde, não tinha ambição de poder. Em 1977, fundamos o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri com outros companheiros seringueiros. Resolvemos en-trar na luta para que a terra não fosse de-vastada, pois é dela que os pobres tiram o sustento dos seus filhos. Hoje tudo está dife-

rente, houve muito desmatamento, a luta foi ardente. O Chico perdeu a vida no seringal. A borracha não tem mais preço, é difícil retirá-la, pois o seringueiro não dispõe de transpor-te para pegá-la e gasta-se muito com frete”.

Targino explica que nas áreas dos seringais havia castanhais que chegavam a render entre mil e três mil latas de castanha. A colheita é uma atividade sazonal, feita principalmente no período das chuvas quando caem os frutos das castanhas, chamados ouriços, entre os meses de dezembro e março. “Cada seringueiro que-bra a sua castanha no mato, faz um paiol com palha e guarda a castanha para ser transpor-tada. Na época da colheita, acordava às 3h da madrugada, fazia o café, comia uma farofa e esperava o dia amanhecer. Levava um pouco de comida para o mato. Começava a quebrar castanha 7h da manhã e só voltava no escuro, com o vagalume acendendo. A castanha só dá uma vez por ano, ao contrário da seringa que se pode cortar por dez anos sem parar. A única coisa que atrapalha são as chuvas. O seringueiro começa a quebrar em novembro e no final de fevereiro a colheita termina. A cas-tanheira é muito alta, não tem como ninguém subir ou balançar. Ela cai pela própria nature-za. A época de colheita é muito perigosa, vá-rios seringueiros já morreram ou ficaram com deficiências físicas com a queda do ouriço, que pode pesar mais de dois quilos”.

Beneficiamento – Informações especiali-zadas indicam que um castanheiro treinado pode juntar, diariamente, de 700 a 800 ouri-

ços, produzindo dois hectolitros. Os ouriços são transportados nas costas, em jamaxins (cestos adaptados para transporte). O casta-nheiro apanha os ouriços do chão com uma vara de três pontas ou com a ponta do terça-do. Os frutos são amontoados em determinado ponto estratégico da floresta, onde é efetuado o corte para a retirada das amêndoas e o seu transporte. Um ouriço pode pesar de 0,5 kg a 2,50 kg, com diâmetro de 8 cm a 15 cm, con-tendo de 12 a 25 castanhas. De acordo com o local, o número de castanheiras varia de 33 a 107 unidades em 50 hectares, apresentando grande variação, pois nem todas produzem no mesmo ano.

O armazenamento e o transporte das casta-nhas podem prejudicar o produto e aumentar o risco de contaminação. Assim, ao chegar à usina de beneficiamento, elas são submetidas ao processo de limpeza, passando por uma pe-

neira vibratória, na qual se procura separar o pó que acompanha os talos centrais do interior do ouriço (umbigo) e castanhas ocas, que repre-senta aproximadamente 3% da massa inicial.

Alfredo Homma esclarece que a escolha das castanhas adquiridas, a maneira como foi efetuado o armazenamento na floresta e nas comunidades, se as amêndoas foram lavadas, o grau de umidade, a contaminação com óleo diesel ou peixe salgado durante o transporte nas embarcações, precisam ser observados, pois refletem na qualidade do produto final. Outro problema é a exigência de capital de giro para adquirir a castanha, efetuar o armazena-mento para conseguir um estoque que permi-ta o funcionamento da fábrica por um período mais longo e a manutenção dos trabalhadores por mais tempo.

“O fracasso das tentativas de beneficiamen-to de castanha nos estados do Acre e Amapá decorrem da complexidade da cadeia produ-tiva e de beneficiamento, composta e geren-ciada por mão de obra sem a qualificação necessária para gestar uma empresa, além da falta de pessoal técnico especializado e com capacidade gerencial. Observa-se que a eco-nomia regional está incorrendo em grandes perdas, estimada em mais de US$ 14 milhões anuais, decorrente da exportação de castanha em casca. Em longo prazo, a sustentabilida-de da indústria de beneficiamento depende da implantação de plantios racionais de cas-tanheiras para garantir uma oferta confiável e da formação de estoques adequado em áreas mais próximas e acessíveis dos locais de be-neficiamento, além do correto manejo pelas populações nativas, permitindo a regeneração da espécie e a manutenção da fauna depen-dentes dos frutos da castanheira” analisa o pesquisador.

O beneficiamento é uma das etapas que precisam ser aprimoradas pelo Brasil

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Pecuária e agricultura passaram a

ser inimigas naturais da castanheira

Bolo de castanha-do-paráA castanha-do-pará é uma fonte rica de selênio, mi-

neral necessário para a produção de serotonina, hor-mônio que promove bem-estar. O selênio também é um excelente antioxidante, impedindo a degeneração celular, pois envolve a membrana da célula e protege o sistema imunológico. A castanha é muito utilizada na indústria de cosméticos, o seu ouriço é matéria-prima do artesanato, mas é no preparo de carnes, biscoitos, cremes, sorvetes e bolos que ela conquista o paladar dos brasileiros. Como nesta receita do bolo de castanha-do-pará:

Ingredientes:Massa:1 xícara (200 g) de manteiga1 xícara de açúcar3 ovos1 e 1/2 xícara de farinha de trigo peneirada1 colher (chá) de baunilha1 colher (chá) de fermento em pó1 xícara de castanhas-do-pará moídas1 xícara de leitelicor de sua preferência (facultativo)Recheio:1 lata de leite condensado1 xícara de castanhas-do-pará moídas1 colher (sopa) de manteigaPré-aqueça o forno médio (180°). Unte uma forma

redonda de aro removível com manteiga e polvilhe com farinha de trigo. Na batedeira, bata a manteiga e o açúcar. Depois vá acrescentando um ovo de cada vez, batendo a cada adição, até obter um creme claro. Junte a farinha, a baunilha e o fermento. Misture as castanhas e o leite. Espalhe a massa na forma e asse por 40 minutos. Deixe esfriar. Desenforme e corte o bolo em duas ou três cama-das Umedeça-as com licor e reserve.

Para o recheio, misture o leite condensado, as casta-nhas e a manteiga em uma panela e leve ao fogo médio, mexendo até que o creme se desprenda do fundo. Re-cheie as camadas do bolo, colocando uma sobre a outra.

Decore o bolo com castanhas moídas ou em lâminas.Fonte: O Grande Livro de Receitas de Claudia (2006), p. 215.

Cooperativa - No Brasil, de acordo com dados do IBGE, em 2008, foram produzidas 30.815 toneladas de castanha. Desse to-tal, cerca de 98% foram extraídas na Região Norte, onde o Acre é o maior produtor, com 11.521 toneladas. De acordo com o Ministé-rio do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, em 2008 a exportação de castanhas representou um saldo de US$ 4,08 milhões para o País, que exporta principalmente para os Estados Unidos, Austrália, Holanda, Itália, Hong Kong, Bolívia e China.

A região do Acre que mais produz castanha é Xapuri. Com 16 mil habitantes, o extrativismo da castanha é o carro-chefe da cidade durante

os quatro meses de produção. Na época da colheita, cerca de 70% das pessoas da zona rural estão envolvidas na atividade A extração da seringa e as fábricas de beneficiamento de castanhas, preservativos e piso também em-pregam muitas pessoas. O período de 2006 a 2009 foi o que mais se produziu castanhas, cerca de dois milhões de quilos.

A Cooperativa Agroextrativista de Xapuri tem sido uma alternativa importante para garantir o preço do produto e maior lucro para os cas-tanheiros, conforme explica o seu presidente, Luiz Iris de Carvalho, que atua na cooperativa há 20 anos. “Começamos com a comercializa-ção das castanhas, em 1989. Na época tínha-mos 50 associados. Hoje são mais de 260. A nossa fábrica foi a primeira a exportar para os Estados Unidos, em 1992. Em 2000, o governo fez uma fábrica em Xapuri e outra em Brasiléia com beneficiamento de 200 mil latas por ano. Os nossos associados produzem anualmente mais de 100 mil latas, das quais cerca de 60 mil são comercializadas pela cooperativa. Re-cebemos a produção e fazemos o processo de beneficiamento tipo exportação”.

As caixas com 20 kg de castanhas custam em média R$ 250,00. Ao ser beneficiada, cer-ca de dez quilos caem para três. O produto é levado para a cooperativa que realiza a pesa-gem e o beneficiamento – secagem, descasca-mento, embalagem a vácuo e a classificação. A castanha empacotada a vácuo dura dois anos e a in natura em média seis meses. Para Luiz Iris a cooperativa melhorou a vida de seus associados. “Hoje estamos resgatando o papel da cooperativa e do associado com as duas fábricas. O melhor preço é pago pela coopera-tiva. Costumamos dizer que a castanha é ouro branco em Xapuri. Não há outro produto que

se iguale a ela. É um produto que não planta-mos, recebemos da natureza. É fundamental mantermos a tradição da colheita, o beneficia-mento e a venda do produto”.

Bolívia x Brasil - A extração de castanha no

Brasil vem declinando a partir da década de 1990, passando à Bolívia a posição de maior produtor mundial. De acordo com o econo-mista Salo Vinocur Coslovsky, hoje 58% do valor da produção mundial vêm da Bolívia e apenas 32% do Brasil. “Ao contrário do que alguns poderiam imaginar, a Bolívia domina o mercado da castanha não só em quantidade exportada, mas também em tecnologia, níveis sanitários e, principalmente, valor agregado. A Bolívia controla 71% do mercado de casta-nha processada, enquanto o Brasil é respon-sável por apenas 18% desse nicho. Entre as principais razões, destaca-se a desarticulação do setor industrial da castanha no Estado do Pará, enquanto os bolivianos de Riberalta e Cobija procuraram formar um cluster com financiamento europeu, mão de obra barata sem direitos trabalhistas, administração pro-fissional das 30 indústrias localizadas e troca de experiências. A presença de modernas indústrias de beneficiamento em Riberalta e Cobija fizeram com que 56,41% da castanha com casca brasileira fosse drenada para a Bo-lívia, grande parte sem controle fiscal, atraves-sando a fronteira seca entre os dois países”

Alfredo Homma explica que as dificulda-des do processo de beneficiamento, a falta de capacidade administrativa de dirigentes egressos de movimentos sindicais, disputas de lideranças e falta de conhecimento técnico, levaram muitas dessas iniciativas ao fracasso. “Outro problema foi causado pela destruição das castanheiras e a pressão excessiva na ex-ploração da castanha, causando a redução da oferta da amêndoa para alimentar a fauna e a própria regeneração da espécie. Cenários que indicam um problema de sustentabilidade am-biental em longo prazo dessa espécie vegetal. A predominância de uma forma de mercado com poucos compradores a qual os extratores são submetidos e o oligopólio na venda do pro-duto beneficiado, no qual muitas vezes estão conectados, tem dominado o mercado desse produto na Amazônia, por várias décadas. A capilaridade e a infraestrutura necessária para coletar e concentrar a produção, além da com-plexidade da indústria de beneficiamento e de comercialização sempre dificultarem a entra-da de novos concorrentes nesse mercado”.

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Com a participação recorde de mais de 2.200 profissionais e a apresentação de 480 informes técnicos em 15 grupos de traba-lho, o XX Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica – SNPTEE, foi realizado entre os dias 22 e 25 de novembro de 2009, em Recife (PE), patrocinado pelo Ci-gré-Brasil e coordenado pela Chesf. Segundo o coordenador da Comissão Técnica, Antonio Simões Pires (à ditreita), “os trabalhos apre-sentados pelos técnicos do Setor Elétrico brasi-leiro foram de altíssima qualidade, superando as expectativas. Os debates foram de elevado nível técnico, contribuindo para elevar ainda mais a imagem dos profissionais do setor”.

O SNPTEE é o maior evento do Setor Elétrico e reúne a inteligência maior que o Brasil possui nessa área. Abordando temas que vão dos estu-dos de geração hidráulica e térmica; de fontes não convencionais; de sistemas de transmissão; controle e automação; comercialização e regula-

ção; até impactos ambientais e eficiência ener-gética e pesquisa e desenvolvimento, o SNPTEE reúne e compartilha informações de excelência.

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, não teve como fugir de um tema de interesse de todos, o apagão do dia 10 de novembro de 2009, que desligou boa parte do sistema elétrico brasileiro. Assim, como outros dirigen-tes presentes à mesa de abertura do evento, Chipp destacou a importân-cia de valorizar os técnicos do setor elétrico que reúne o melhor da engenhaira nacio-nal: “Ao vivenciarmos o novo modelo do Setor Elétrico, temos nos dedicado a seg-mentos importantes, como a comercialização, a participa-ção nos leilões, a expansão da geração e da transmissão, mas temos nos esquecido de

dedicarmos parte do nosso tempo à valoriza-ção efetiva da parte técnica, que está sendo relativizada por nós, dirigentes. Está na hora, e o XX SNPTEE é uma boa oportunidade, de revisitarmos a valorização técnica dos nossos especialistas, em todos os sentidos”.

Hermes Chipp disse que um grupo de 70 técnicos especialistas estava trabalhando nas causas do apagão, mas sinalizou um dos tra-balhos apresentados como uma explicação para as possíveis causas do desligamento (ver box), relacionado a defeitos em isoladores pro-vocados por chuvas intensas.

O coordenador do Cigré-Brasil e do Comi-tê de Gestão Administrativa do SNPTEE, José Henrique Machado Fernandes (à direita), disse que “o Seminário proporcionou um ambiente propício ao debate e ao contato com o que há de mais moderno na indústria de energia elé-trica, não só por meio das apresentações dos artigos técnicos, como também pela exposição bastante diversificada, composta por estandes de empresas que atuam no Setor Elétrico”.

Acompanhando o pensamento do Diretor-Geral do ONS, José Henrique deixou um recado aos técnicos mais jovens: “O nosso ramo de atuação nos oferece uma janela aberta para o mundo e nos conecta à grande

teia do conhecimento adquirido pela huma-nidade. Devemos pensar que, certamente, os nossos problemas não são únicos e temos que levar sempre em consideração a expe-riência dos outros, para não só evitarmos repetir erros, como adotarmos as melhores práticas e soluções para cada caso e assim gerar-mos economia para nossas em-presas e nossos países. Da mes-ma forma, devemos pensar que nossas experiências poderão ser úteis a outros e que divulgá-las e compartilhá-las sempre serão atividades gratificantes, que nos engrandecerão espiritualmente e profissionalmente, e nos com-pletarão como seres humanos”.

A Eletronorte se fez presente ao evento com a participação de 35 artigos, 34 autores, quatro relatores e o coordenador-geral. A Empresa teve dois trabalhos premiados (ver boxes), sendo um no Grupo de Geração Hidráulica e outro no Grupo de Estudo de Efi-ciência Energética e Gestão da Tecnologia, da Inovação e da Educação. O XXI SNPTEE será coordenado pela Eletrosul e realizado em 2011 na cidade de Florianópolis (SC).

XX SnPTee reúne a inteligênciado Setor elétrico brasileiro

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Os técnicos Rogério Magalhães de Azevedo (foto), Fran-cisco M. S. Carvalho e Orsino Oliveira Filho, do Cepel, e Wal-denir A. S. Cruz e Sylvia G. Carvalho, de Furnas, fizeram a apresentação mais concorrida do XX SNPTEE, uma vez que os estudos apresentados podem se relacionar com as possí-veis causas do apagão do dia 10 de novembro de 2009.

Denominado Estudo de Coordenação do Isolamento ba-seado em Sobretensões Provoca-das por Aplicação e Eliminação de Defeitos, e sua Relação com Chuvas Intensas, o trabalho ana-lisou distúrbios que ocorreram na Subestação Itaberá (SP), que opera na tensão 765 kV. Por meio de simulações, investigaram o desempenho dos para-raios e concluíram que os curtos-circui-tos ocorreram por uma relação entre a intensidade da chuva e a redução da suportabilidade dielé-trica dos isoladores. Essa relação foi comprovada em ensaios de tensão alternada sob chuva, rea-lizados nos laboratórios do Cepel em isoladores retirados da subes-tação.

Tudo começou em fevereiro de 2007, quando a Subesta-ção Itaberá, integrante do sistema de transmissão em 765 kV de Furnas, foi atingida por um forte temporal com incidência de muita chuva e descargas atmosféricas, provocando curtos-circuitos e, consequentemente, o desligamento de linhas de transmissão e de um dos barramentos de 765 kV da subesta-ção. Outras ocorrências com as mesmas características acon-teceram no mesmo local em 2003 e 1989.

As simulações mostraram que os curtos-circuitos ocorre-ram para valores relativamente baixos de sobretensões, in-dicando que, ou as sobretensões não atingiram o nível de proteção dos para-raios, ou eles atuaram devidamente. Além disso, como parte da investigação de possíveis causas para os defeitos, alguns para-raios foram ensaiados nos laboratórios do Cepel. Uma possível relação entre a intensidade da chuva e a redução da suportabilidade dielétrica dos isoladores da subestação é apresentada, baseada em dados históricos de precipitação pluviométrica na região de Itaberá e em traba-lhos publicados na literatura. Posteriormente, essa relação foi comprovada em ensaios de tensão alternada sob chuva, reali-zados nos isoladores de pedestal retirados da subestação.

Efeito da chuva - As condições para a disrupção (ruptura) nos isoladores submetidos a uma sobreten-são temporária é dependente, entre outros fatores, da intensidade da chuva. A maior influência nesse sentido é o gotejamento ou o próprio escoamento da água en-tre as saias do isolador. Numa condição extrema, sob chuva intensa, pode-se formar até mesmo uma cas-cata, paralela ao comprimento da cadeia. A simulação mostra a curva do fator de correção da tensão crítica de frequência fundamental de uma cadeia de isolado-res vertical em função da intensidade da chuva. Nessa curva, pode-se notar que uma chuva extremamente intensa pode causar uma redução da suportabilidade dielétrica da cadeia em cerca de 30% ou mais.

Entretanto, deve-se ressaltar que os ensaios sob chuva para determinação das tensões crí-ticas ou suportáveis, não podem ser repetidos de forma confiável. Outros fatores que também devem ser levados em conta nessa redução são a contaminação e o envelhecimento dos isoladores. Baseado nos resultados anterio-res, o conhecimento do valor de intensidade da chuva (por exemplo, taxa de precipitação a cada cinco minutos) no momento dos defeitos na subestação, seria um dado importante para o esclarecimento das causas do distúrbio.

Um exemplo de registro pluviométrico indi-ca uma chuva com intensidade de 4,2 mm/m no posto de Itararé em 1981. Porém, esses re-gistros pluviométricos foram coletados somente até 1999. A partir daí, somente estão disponí-veis dados horários ou diários de precipitação.

Conclusão - O trabalho apresentado, sobre coor-denação do isolamento, baseado nas simulações de aplicação e eliminação de defeitos, permite que sejam feitos os seguintes comentários:

- A comparação dos resultados das simulações com os oscilogramas obtidos mostrou que houve atuação dos para-raios, que limitaram as sobretensões na su-bestação em níveis compatíveis com seu nível de pro-teção sem, contudo, evitar os defeitos nos isoladores de pedestal;

- A diminuição da suportabilidade dielétrica dos iso-ladores de pedestal pode estar associada à intensidade da chuva. Entretanto, não estão disponíveis dados me-teorológicos para fundamentar uma análise conclusiva em relação a essa possibilidade;

- Os operadores da subestação deram um impor-tante relato de quanto intensa era a chuva no momen-to das ocorrências. Além disso, um estudo realizado pelo DAEE-SP e USP, em 1999, mostra a possibilidade de chuvas com intensidade acima de 3,0 mm/m para um período de retorno igual a dez anos.

Uma possível causa do apagão de novembro de 2009

Neusa Maria Lobato Rodrigues (foto), superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e Eficiência Energética da Eletronorte, apresentou um dos trabalhos premiados no XX SNPTEE. Segundo ela, “essa premiação é uma forma de reconhecimento pelo trabalho que vem sendo desenvolvido pela Eletronorte no que se refere à inovação. Apresentamos as sete regras que uma empresa deve seguir para inovar. Seguimos as regras, e o resultado não poderia deixar de ser o reconhecimento entre as qua-tro empresas mais inovadoras do Brasil. Questionamos sobre o desafio de inovar ou perecer? Inovamos e conti-nuaremos a inovar para jamais perecer!”

A Eletronorte, por meio do Prêmio Muiraquitã de Ino-vação Tecnológica, vem seguindo as sete regras de ino-vação propostas pelos professores de Wharton. O Prêmio foi criado para incentivar os empregados a desenvolve-rem novas tecnologias para a Empresa, contribuindo para melhoria de seus produtos e processos, alcançando uma dimensão econômica capaz de trazer algum retorno fi-nanceiro, e fortalecendo sua imagem perante o mercado como empresa inovadora (veja matéria na página 26).

Inovação, desenvolvimento tecnológico, propriedade intelectual, patente, rede de inovação, todas são palavras-chave em que muitas empresas acreditam, enquanto ou-tras continuam achando que inovação é questão de sor-te, ao mesmo tempo em que nem fazem idéia de como se implementa. Outras ainda buscam inovar de alguma maneira, mas se esquecem de quais são as regras que devem seguir.

A pergunta é: existe regra para inovar? A resposta é: existe sim, e isso pode ser constatado com o trabalho que vem sendo desenvolvido na Eletronorte. Inovação é a ca-pacidade que a organização tem de crescer, sobreviver e, até mesmo, influenciar nos rumos do setor a que perten-ce. É real e é possível ser inserida de forma sistemática, bastando seguir algumas regras como as propostas pe-los professores de Wharton, no livro”Making Innovation Work: How to Manage It, Measure It, and Profit From It”. As regras são sete: liderança, cultura, alinhamento, ba-lanceamento entre criatividade versus captação de valor, anticorpos organizacionais, rede de inovação e indicado-res de desempenho.

Tais regras podem e devem ser utilizadas para qual-quer tipo de organização, mesmo uma unidade governa-mental. Hoje, uma empresa que não dá espaço para seus colaboradores melhorarem ou inovarem seus produtos ou processos está fadada ao fracasso. Aos poucos as empre-sas estão aprendendo a liberar seus colaboradores para que eles empreendam.

O empreendedorismo deve ser aplicado também em ativida-des internas e não apenas na criação de novos produtos. O re-conhecimento de uma propriedade intelectual significa divisas para um país, já que todos os que se aproveitam de alguma for-ma da invenção são obrigados a pagar pelo uso da ideia. Além do crescimento das receitas geradas no exterior, mediante o pagamento dos royalties, a venda de produtos com alto valor agregado se faz relacionada com a propriedade intelectual.

Setor Elétrico - O Setor Elétrico não tem a cultura da proprie-dade intelectual. O número de processos de patentes (pedido de depósito mais cartas de patentes vigentes) entre os períodos de 1999 a 2004 conforme fonte do Instituto Nacional de Pro-priedade Industrial – Inpi são de 157, dos quais a Eletronorte possuía um único processo de pedido de patente. É importante ressaltar que esse número representa menos da metade do nú-mero de patentes da Usiminas, por exemplo.

A falta de cultura de propriedade intelectual resulta na perda de ativos intangíveis e isso se deve em princípio, aos seguintes fatores: inexistência de cultura de proteção, de conhecimento do processo de patenteabilidade, de competitividade entre as

empresas, de proteção para os resultados das pesquisas e de estímulo para pesqui-sas, bem como regras claras de inovação que as empresas devem seguir.

Na Eletronorte, por meio de programas corporativos, o capital intelectual vem sendo trabalhado continuamente em vários ciclos, já apresen-tando resultados relevantes. Por exemplo, o Programa Ele-tronorte de Propriedade Inte-lectual, criado em 2004 com o objetivo de criar a cultura da propriedade intelectual.

A cultura da propriedade intelectual traz benefícios

como o direcionamento das pesquisas para um determinado problema técnico, identificando rotas tecnológicas e evitando duplicidade de esforços. Para exemplificar, o continente euro-peu desperdiça em média, por ano, 15 bilhões de euros em pesquisas já realizadas, e quase 30% da pesquisa européia é duplicada.

Muiraquitã - Outro grande benefício é o aumento da receita com a comercialização da propriedade intelectual, cujo recurso

Inovar ou perecer, um grande desafio para a sobrevivência das empresas

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é revertido em novas pesquisas. Em 2005, a Eletronorte criou o Prêmio Muiraquitã de Inovação para incentivar os colaborado-res para melhorias e inovações de seus produtos e processos, alcançando uma dimensão econômica capaz de trazer algum retorno financeiro para a Empresa.

Os empregados que desenvolvem melhorias em processos e produtos são premiados de forma pecuniária não incorporável ao salário. É um valor correspondente a 20% das vantagens au-feridas pela comercialização do produto pela Eletronorte, com a exploração da patente ou direito autoral científico durante a vigência do contrato.

O Prêmio Muiraquitã é de grande importância para a Empre-sa em virtude dos seus impactos como qualidade do produto, redução de custos e ganhos de capacidade e flexibilidade ope-rativa, bem como outros aspectos ligados à segurança, padro-nização e impacto ambiental.

Hoje, a Eletronorte, por meio do Prêmio Muiraquitã, vem se-guindo exatamente as sete regras propostas pelos professores de Wharton, da seguinte forma: (liderança), os lideres dos pro-cessos indicam os caminhos e decidem sobre o que precisa sobre a inovação; (cultura), integra a inovação à mentalidade do negócio; (alinhamento), a estratégia da inovação segue no mesmo compasso que a estratégia da Empresa; (balanceamen-to entre criatividade versus captação de valor), o gestor calibra as doses de criatividade e as doses de captação de valor; (an-ticorpos organizacionais), preparam as ações que surgem blo-queando os processos de inovação; (rede de inovação), criação de uma rede composta por um representante de cada unidade regional; (indicadores de desempenho), mede-se a inovação, pois só é possível gerenciar aquilo que é medido.

Conclusão - A análise dos resultados obtidos após implan-tação do Prêmio demonstrou que essa é uma das formas de incentivar os grandes inovadores a desenvolverem inovações e melhorias em seus produtos e processos. Percebe-se que ati-tudes de natureza inventiva entre as pessoas com essa carac-terística não está relacionada a nenhuma pretensão de ganhos financeiros, pois o fazem por possuírem veia inventiva.

Entretanto, é evidente a satisfação que demonstram por se-rem reconhecidos e, acima de tudo, por tornar público algo que foi fruto de um resultado que buscaram por assim acreditarem. Das 60 inovações premiadas apenas quatro foram desenvolvi-das por colaboradores de nível superior ou mestrado. Os de-mais foram por pessoas que costumamos chamar de “chão de fábrica”, ou seja, os que trabalham diretamente com operação e manutenção.

Hoje a Eletronorte possui 52 pedidos de patentes junto ao Inpi, um aumento de 5.200% em relação a 1999. Sem dúvida, programas que estimulam a criatividade de empregados são de extrema importância em uma empresa. Todos ganham: o em-pregado, por ver sua competência reconhecida e pelo retorno financeiro; a empresa, por meio do custo evitado resultante das inovações e melhorias nos seus produtos e processos, e ainda por motivar outros colaboradores a inovarem e desenvolverem suas atividades com maior comprometimento; e ganha o País e toda a sociedade brasileira.

O gerente de Projetos Eletromecânicos de Hidre-létricas da Eletronorte, Carmo Gonçalves (foto), em conjunto com Antonio Brasil C. Pinho Junior, da Uni-versidade de Brasília – UnB, apresentou outro traba-lho premiado no XX SNPTEE, sobre a utilização das unidades hidrocinéticas, contendo os procedimentos básicos para facilitar a gestão e a implantação desse sistema de geração e transmissão de energia elétrica para comunidades isoladas ribeirinhas, principalmente na região amazônica. Segundo ele, “foi uma satisfação ter tido a oportunidade de participar do Seminário. Recebemos a premiação com muita alegria e como uma forma de consolidação externa dos trabalhos que estamos desenvolvendo na Eletronorte, principalmen-te na área de pesquisa e desenvolvimento”.

As crescentes exigências ambientais para a expan-são do potencial hidroenergético brasileiro, os eleva-dos índices de poluição ambiental e o alto custo da geração térmica a diesel, têm levado à busca de fon-tes alternativas, mesmo para pequenas comunidades isoladas. Dessas destacam-se as ribeirinhas da Ama-zônia, que normalmente têm como fonte de recursos a floresta e o rio, e vivem a contradição de um precá-rio abastecimento de energia elétrica, ou às escuras, o que promove um estado degradante de pobreza e baixo desenvolvimento, contribuindo para a migração dos seus habitantes para as sedes dos municípios e capitais.

O consumo de combustíveis fósseis, as dificulda-des da manutenção dos motores de combustão inter-na e do transporte, o alto custo de painéis fotovoltaicos associado ao baixo fator de capacidade, as dificulda-des do uso da biomassa, até situações como linhas de transmissão de alta tensão passando nas proximi-dades dos vilarejos sem poder atendê-los, são fatores que estão contribuindo para que a Eletronorte se in-teresse pelas turbinas hidrocinéticas, especialmente as que estão sendo desenvolvidas em parceria com o Departamento de Engenharia Mecânica da UnB .

A turbina hidrocinética, que converte a energia cinética dos rios em hidroeletricidade, não requer a

construção de barragens, e tão pouco emite qualquer tipo de poluente. Entretanto, a sua implantação requer alguns requisitos básicos e avaliações preliminares, que são tra-tados nesse trabalho.

A turbina - A região amazônica, grande extensão ter-ritorial com baixa densidade demográfica, é dotada de enorme potencial hidráulico a ser explorado para a gera-ção de energia elétrica limpa. Ali, cerca de 300 mil famí-lias vivem em comunidades isoladas, sem acesso a ener-gia elétrica até a chegada do programa Luz para Todos, do Governo Federal.

O problema de abastecimento de energia elétrica tam-bém atinge as grandes e médias comunidades isoladas, aonde o custo de geração termelétrica a óleo diesel chega a atingir R$ 827,61/MWh gerado, o que torna essa gera-ção totalmente inviável sem o subsídio do governo.

Para as comunidades isoladas, principalmente as ribei-rinhas, a turbina hidrocinética se destaca pelos seguintes motivos: tecnologia totalmente nacional, fácil fabricação, robustez e durabilidade, facilidades de manutenção, operação, transporte e instalação (permite instalação na margem do rio ou sobre um flutuador estaiado que ad-mite variações de níveis de água sem danificar a turbina e sem a necessidade de obras civis ou desvio do rio, ou seja, sem impacto ambiental); além do custo competitivo quando comparado com alternativas de fontes de energia renováveis.

Ressalta-se que as turbinas hidrocinéticas devem ser instaladas próximas aos centros de consumo e a profun-didade do rio deve permitir a sua submersão total. A Ele-tronorte e a UnB desenvolveram o modelo e o protótipo

da turbina hidrocinética de geração III, com o propósito de ser mais compacta, mais leve, de fácil transporte, dotada de gerador elétrico submerso do tipo bulbo.

Dentre os parâmetros e necessidades destinados à im-plantação das turbinas hidrocinéticas, destacam-se: avalia-ção das condições existentes na comunidade isolada, tais como posicionamento geográfico, recursos naturais, neces-sidade energética, nível de formação escolar dos seus habi-tantes, previsões de desenvolvimento e crescimento local; as principais características e o comportamento do rio, tais como variação de nível ao longo do ano, principais cheias históricas ocorridas, velocidade do fluxo de água, profun-didades nos períodos seco e úmido, o potencial hidrociné-tico, as condições das suas margens e a distância do rio à comunidade isolada; definição dos critérios e técnicas de montagem, testes, manutenção e operação das unidades hidrocinéticas e do sistema de transmissão associado.

O modelo de implantação de turbinas hidrocinéticas apre-sentado é dinâmico e recomenda-se a sua atualização, com as experiências advindas de projetos e instalações realiza-das e poderá ser aplicado em outras regiões do Brasil e no exterior, inclusive com sistemas híbridos. Uma continuidade importante para esse trabalho é o levantamento das comuni-dades isoladas na Amazônia e em todo o Brasil, passíveis de utilização do sistema hidrocinético para geração de energia elétrica, e os locais potenciais para a implantação de fábricas desses equipamentos com os seus sistemas associados.

Conclusão - A geração de energia elétrica por intermédio de sistemas hidrocinéticos mostrou-se competitiva quando comparada com outras fontes alternativas, tais como micro-centrais a diesel, sistema solar, biomassa e sistema eólico; a avaliação econômica da hidrocinética com precisão é com-plexa, pois o levantamento dos custos para a sua implanta-ção exige uma retroalimentação de informações precisas do local de instalação; as características e o comportamento do rio são fundamentais para o estabelecimento das definições e recomendações para a implantação da hidrocinética, pois baixas velocidades implicam em menor energia gerada, tur-binas maiores e aumento dos custos envolvidos.

A distância do rio à comunidade é importante, em virtude das perdas de transmissão. Grandes distâncias implicam na necessidade de se inserir transformadores elevadores e abaixadores de tensão no projeto, o que implica em custos adicionais de aquisição, montagem, manutenção e mais pontos de possíveis falhas no sistema.

O modelo desenvolvido, um guia metodológico, tem o conteúdo e o propósito de preencher uma lacuna identi-ficada nesse segmento e facilitar a gestão da implantação das turbinas hidrocinéticas, melhorar os custos envolvidos aproveitando ao máximo os recursos naturais das comuni-dades, e contribuir para difundir a cultura da turbina hidro-cinética no Brasil.

Metodologias para a implantação de turbinas hidrocinéticas na Amazônia

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Ao contrário dos adjetivos relacionados ao gênero acre nos dicionários, o Estado do Acre possui uma história saborosa para se contar, uma história contada em poesia, versos e me-lodias. O nome Acre é originado da palavra indígena ‘aquiri’, que significa ‘rio dos jacarés’ na língua nativa dos índios Apurinã, habitan-tes originais da região banhada pelo rio que empresta o nome ao estado. Os exploradores da região transcreveram o nome do dialeto in-dígena, dando origem ao nome Acre.

Até 1877, os primeiros habitantes da região eram os índios, quando, então, os imigrantes nordestinos corajosamente arregimentados por seringalistas para trabalhar na extração do látex iniciaram a abertura de seringais para iniciar a atividade econômica que, na época, se mostrava extremamente lucrativa, pois a re-gião era a única fornecedora da matéria-prima utilizada nos processo de industrialização no final do século XIX.

A coragem desse povo vem de berço. Esse pedacinho do Brasil chegou a ser até uma na-ção conhecida como Estado Independente do Acre, tendo como presidente o espanhol Luiz

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bravo povo acriano6 de Agosto(Areal Souto)

Onde é que este homem vai pelas margens distantesDo rio solitário... É o titã do nordesteQue vem oferecer os seus braços possantesAo Acre verde e rico. Em vão contra ele investeDa natureza hostil a trágica revolta.

E este homem não para! ... e este homem não volta! ...E vai subindo mais, e sobe... e sobe até...Onde ele já não sabe a terra de quem é.E correndo a rechã, amansando o cacique,Pondo a broca na mata e a seringueira em pique,Um dia descansou. Era a posse tranquilaDa terra que vencera e devia possuí-la.

Mas, quando de uma vez, um audaz invasorQuis lhe tomar o lar; quis arrancar-lhe o amor,Ele, o conquistador dos caboclos bravios,Ele, o dominador dos paludes doentios,Ele, o desbravador da terra abandonada,Põe balas no bornal, corta a volta da estrada,E tomando do rifle a mira contra o rostoComeçou a lutar... e fez o 6 de agosto.

Galvez Rodrigues de Arias. Depois, no dia 6 de agosto, liderados pelo gaúcho Coronel Plácido de Castro, os heróis da revolução acriana bri-garam bravamente para anexar o Acre ao Bra-sil, sendo resolvido o litígio diplomaticamente pelo Tratado de Petrópolis em novembro de 1903. Em 1962 o território do Acre foi elevado à categoria de estado após manifestações do Movimento dos Autonomistas. Exemplo de co-ragem seguido também pelo seringalista Chico Mendes. Conhecido mundialmente, esse líder seringueiro defendia a preservação da floresta para manter o modo de vida das comunidades tradicionais e o uso sustentável dos recursos naturais.

Com uma área de 152.581,388 km², o Acre corresponde a 1,92% do território nacio-nal. Tem uma população aproximada de 700 mil habitantes, distribuídos em 22 municípios. Está situado num planalto com altitude média de 200 m, localizado no sudoeste da Região Norte. Os limites são formados por fronteiras internacionais com Peru (O) e Bolívia (S) e por divisas estaduais com os estados do Amazo-nas (N) e Rondônia (L).

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Rio Branco concentra metade da população

do Acre

O Acre é o destino certo para quem dese-ja conhecer a cultura, dizeres e saberes dos povos tradicionais da floresta amazônica, onde vivem de forma harmoniosa 14 etnias indíge-nas, seringueiros e extrativistas. Nessa multi-plicidade sociocultural em convívio direto com o meio ambiente – o Acre possui 88% de sua floresta preservada – é possível apreciar o tem-po em que o homem era despojado de suas vaidades, mas que ainda utiliza os rios como o seu principal meio de transporte e a floresta como a sua principal fonte de alimentação.

Cachoeiras - Para quem realmente quer aven-tura na selva, que tal visitar o Parque Nacional Serra do Divisor? Desembarcando no aeroporto da cidade de Cruzeiro do Sul, segunda maior ci-dade do Estado do Acre, fundada por Gregório Thaumaturgo de Azevedo em 1904 e localizada no extremo oeste, segue-se até à cidade vizinha Mâncio Lima e de lá, por meio do Rio Moa, ini-cia-se a verdadeira odisseia da selva.

É impossível não se surpreender com as paisagens deslumbrantes de uma Amazônia semidesconhecida, quase que intocada pelo ser humano, composta por montanhas, rios, florestas, fauna, ribeirinhos e tribos indígenas nas barrancas do rio. No Parque destacam-se

as cachoeiras Formosa, Pirapora, Pedernal e Ar Condicionado, e o mirante da Jaquirana. Uma visão desse ponto vale todo o esforço da aven-tura, mas o que vale a pena mesmo é ter o pra-zer de conhecer o homem da floresta em seu habitat, no seu casebre e ouvir suas histórias.

No Acre também nasceu a doutrina conhe-cida internacionalmente como Santo Daime, que mistura valores espirituais das tradições indígena, negra e cristã, e faz uso de um chá sagrado que há milhares de anos diversos po-vos indígenas amazônicos utilizam, feito da mistura de um cipó (jagube) com as folhas de um arbusto (chacrona) da floresta. No Peru,a bebida é conhecida como ayahuasca, o ‘vinho das almas’, antes utilizada nos rituais pelos sa-cerdotes incas.

Culinária - A capital Rio Branco, com belos parques urbanos, concentra quase a metade da população do Acre e é uma cidade tradi-cional e moderna, acolhedora, efervescente, iluminada, limpa, organizada e segura. Quem vai a Rio Branco consegue logo observar a ca-racterística principal dos acrianos, a hospita-lidade. A capital emociona os visitantes pelo cuidado do povo com sua história, preservan-do as lutas e conquistas.

Rio Branco é a porta de entrada para as aventuras na floresta. A primeira forma de se ambientar é experimentar a culinária típica re-gional, com influências nordestina, indígena, boliviana, peruana e dos imigrantes sírios e li-baneses. A comida típica utiliza o pato e o pira-rucu, herdada dos índios; o bobó de camarão, vatapá e a carne de sol com macaxeira, trazi-dos do Nordeste; o charuto, prato da culinária libanesa, o tacacá de origem indígena e a sal-teña, salgado típico da Bolívia. Essas iguarias podem ser encontradas no Mercado Novo, no Mercado do Bosque, nos quiosques ao longo do Parque da Maternidade, nas lanchonetes e restaurantes.

O artesanato acriano reflete a grande bio-diversidade das florestas, manifestada na utilização de matéria-prima natural variada: sementes, fibras, raízes, cocos, madeiras, e cumpre ainda importante papel social junto a comunidades carentes. Desenvolve proces-sos de manejo e beneficiamento dos recursos disponíveis, visando à sustentabilidade da flo-resta e das comunidades que vivem de seus recursos. É da floresta que vem o material para a produção do artesanato acriano, como ces-tas indígenas, colares de contas vermelhas, sementes de açaí e jarina, miniaturas de pás-saros em látex natural e as distintas botas de borracha.

Arqueologia - Para quem gosta de pesqui-sar e apreciar a arqueologia, o Acre também é um bom destino. A 20 km de Rio Branco é possível avistar geoglifos (abaixo). São apro-

ximadamente 150 geoglifos catalogados. Geo-glifos são estruturas fascinantes, construídas com a movimentação de terras em formato geométrico (quadrado, retângulo, círculo, he-xágono e outros). Essas estruturas chegam a medir cerca de 500m de diâmetro, com valas de até quatro metros de profundidade por dez de largura. É um mistério a ser desvendado. Como foram construídos? Qual a finalidade? Foi construído antes ou depois da floresta? A que civilização pertenceu, aos incas, pré-incas ou extraterrestres? Até o momento ninguém chegou a uma resposta que fosse capaz de convencer a maioria, mas há quem diga que serviam de muralhas para proteção, outros di-zem que eram locais para rituais. O certo é que essas formas são únicas no mundo e vistas de cima despertam curiosidades intrigantes.

Atualmente, o Estado do Acre respira os ares da esperança do desenvolvimento e já se pode ver parte da realização desse sonho. Uma delas é a construção da rodovia no Peru que irá interligar a BR-364 ao Oceano Pacífi-co. Essa obra está programada para ser inau-gurada em 2010. Com a conclusão da Tran-soceânica, como está sendo chamada, servirá como alternativa mais barata que o Canal do Panamá para o escoamento de produtos bra-sileiros aos mercados da Ásia e da costa oeste dos Estados Unidos, pois será facilitada pela proximidade com o porto de Ilo, no Peru. Pela Transoceânica já é possível percorrer o Peru. Quem vem ao Acre pode aproveitar a rodovia e conhecer a famosa cidade do império inca, Machupicchu.

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Segundo Distrito/Gameleira - Data de 1882, quan-do ainda arbusto, onde acampou o desbravador Neu-tel Maia, fundador do Seringal Empreza, origem de Rio Branco. A gameleira é uma frondosa árvore com mais de 2,5 m de diâmetro no tronco, mais de 20 m de altura e, com o sol a pique, sua sombra tem por volta de 30 m de diâmetro. Foi testemunha de duas batalhas da revolução acriana. Com a construção do novo calçadão e a reurba-nização do sítio histórico do Segundo Distrito, a gameleira transformou-se em ponto de encontro, de entretenimento e de um bom papo.

Tentamen - A Sociedade Re-creativa Tentamen foi criada em 11 de abril de 1924 por um grupo liderado pelo Dr. Mário de Olivei-ra, com o objetivo de proporcio-nar lazer aos donos de seringais, autoridades, funcionários públi-cos e comerciantes. Construído em madeira, em estilo próprio da época, representando um marco na vida cultural acreana.

Praça da Revolução Cel. Plácido de Cas-tro - Até os anos 1920, essa praça não exis-tia. O local era apenas uma área de mata do antigo campo do seringal Empreza. Em 1930 a área de floresta teve que dar lugar a uma área aberta que denominou-se Praça Rodri-gues Alves. Em 1950 a Praça Rodrigues Alves foi verdadeiramente urbanizada, recebendo o seu traçado definitivo. Em 1964, com a refor-ma empreendida, a Praça Rodrigues Alves ga-nhou uma estátua do coronel gaúcho Plácido de Castro. Graças ao fato, o povo passou es-pontaneamente a chamá-la de Praça Plácido de Castro. Hoje, depois de uma existência de 80 anos, a velha praça, verdadeiro coração de Rio Branco, foi completamente reconstruída e modernizada, e construído um monumento de 12 m de altura em homenagem aos heróis anônimos da Revolução Acreana.

Memorial aos combates da Revolução Acreana - Mastro de 60 m de altura e a ban-deira gigante do Acre, foram inaugurados em 2003, em homenagem ao centenário da Re-volução Acreana, e pode ser avistado de vários pontos da cidade de Rio Branco. Duas vezes por ano há solenidade de troca da bandeira.

Museu da Borracha - Reúne acervo com documentos históricos do Acre, fotografias e peças de arqueologia e paleontologia. Possui mostra permanente de objetos e utensílios de extração do látex.

Principais atrativos - Mercado Velho: O pré-dio de 1929 foi restaurado e abriga alguns dos mais antigos comerciantes da cidade. O espa-ço reúne lojas de souvenires, artesanato, ervas medicinais e artigos religiosos, além de lan-chonetes que servem o típico café da manhã acriano: tapioca, mingaus, bolo de macaxeira e baixaria. Receita de baixaria: cuscuz com car-ne moída, ovo frito mexido e cheiro verde.

Memorial dos Autonomistas - O espaço cultural tem arquitetura moderna e foi erguido em homenagem aos heróis que lutaram pela autonomia política do Acre. No prédio funcio-na uma galeria de arte, o Theatro Hélio Melo e o Café do Theatro.

Parque Chico Mendes - Uma casa de ma-deira localizada na entrada do parque expõe fotos e painéis com um resumo da vida do am-bientalista Chico Mendes. Trilhas conduzem a um pequeno zoológico com espécies ama-zônicas, como a onça-pintada e a réplica de uma casa típica de seringueiro. Tem ciclovia e quiosques.

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Pirarucu em pérolas de tucupiEste prato foi premiado em 1º lugar no concurso nacional Brasil Sabor 2009. O prato é feito do lombo de pirarucu recheado com jambu e camarões secos, guarnecidos com farinha de tapioca em tucupi.

Ingredientes2,5 kg de lombo de pirarucu fresco10 g de sazon verde1 limão1 cebola ralada3 xícaras de jambu cozido250g de camarão tutoia limpo250g de farinha de tapioca2 litros de tucupi

Modo de Preparo- Lavar a peça inteira do lombo de pirarucu em água corrente e suco de limão- Escorrer e secar com papel toalha- Colocar na geladeira por uma hora para ficar firme- Processar o camarão lavado e reservar- Cobrir a tábua com filme plástico e colocar o lombo- Fazer um corte no sentido do comprimento de 1,5 cm de profundidade- Abrir com cuidado para não furar, até formar uma manta- Temperar os dois lados com sazon- Espalhar a cebola ralada na parte de cima- Cobrir com as folhas de jambu cozido- Espalhar o camarão processado- Enrolar o peixe como rocambole apertando bem- Untar com azeite de oliva- Enrolar o peixe com o filme que está sobre a tábua, apertar bem- Enrolar novamente com outra folha de filme- Torcer bem as extremidades e prender- Colocar o rocambole numa assadeira com uma xícara de água- Assar em forno médio (180ºC) por 30 minutos- Retirar do forno e da assadeira, deixar esfriar- Fatiar o peixe em 10 porções iguais- Deixar de molho em um recipiente a farinha de tapioca em um litro de tucupi durante 12h- Coar a farinha de tapioca- Ferver um litro de tucupi até reduzir a aproximadamente à metade. - Em seguida acrescentar a farinha de tapioca coada e ferver até as bolinhas da farinha de tapioca adquirirem uma consistência macia.- Fazer um leito de pérolas de tucupi e colocar duas fatias de peixe- Decorar com folhas de jambu embebidas em tucupi e pimentas vermelhas

Observações : A parte da emenda do peixe deve ficar para baixo na hora de assar e de servir. Não usar sal, pois tem no camarão. Rende dez porções.

Receita cedida gentilmente pela chef Denise de Melo Silva Borges.

Palácio Rio Branco - Construído em 1930 com projeto de Alberto O. Massler. Seu dese-nho arquitetônico foi inspirado na arquitetura grega seguindo o estilo grave e majestoso da ordem jônica, tendo sua fachada ornamenta-da por quatro imponentes colunas terminadas em capitéis de fino traçado. Foi recentemente revitalizado e parte do prédio ambientado com exposições que apresentam as fases históricas do povo acriano.

Parque da Maternidade - O maior parque de Rio Branco tem infraestrutura de ciclovias, áreas verdes, anfiteatro, quadras de esportes, bares e restaurantes. Abriga a Casa dos Po-vos da Floresta, a Biblioteca da Floresta e a Casa do Artesão.

Praça Povos da Floresta - Praça ornamen-tada por imponentes árvores, coretos adorna-dos com paxiúba e cipó e grandes pórticos. Foi instituída para homenagear o líder serin-gueiro Chico Mendes, sendo representado por uma estátua do líder conduzindo uma criança, confeccionada em argila e bronze em tamanho natural. Nela, encontra-se, ainda, o Centro de Atendimento ao Turista instalado no antigo Bar Municipal, edificado em 1945.

Caminhos de Chico Mendes – Dois muni-cípios próximos de Rio Branco, Senador Guio-mard (24 km) e Capixaba (62 km), têm co-munidades de seringueiros que mantêm seu modo de vida baseado no manejo sustentável dos recursos da floresta. A 188 km fica Xapu-ri, local onde nasceu Chico Mendes.

Caminhos da Revolução - Fundada por bolivianos no fim do Século XIX, Porto Acre é a mais importante cidade histórica do estado – foi cenário dos principais combates da revo-lução feita pelos seringueiros brasileiros para incorporar essas terras ao Brasil. O município de Plácido de Castro também integra os Cami-nhos da Revolução, com parque ecológico e pratos regionais.

Caminhos do Pacífico - A divisa com a Bolívia fica a 200 km de Rio Branco, nos mu-nicípios de Epitaciolândia e Brasiléia. Em Co-bija, na província boliviana de Pando, há uma zona franca. Mais 110 km na rodovia BR-317 e chega-se a Assis Brasil, na tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Peru. O Oceano Pacífico está a 1.900 km de distância de Rio Branco pela rota internacional Amazônia – Andes – Pacífico, ou Carretera Interoceânica como é conhecida no Peru. No meio do caminho, a 1.070 km, está a cidade de Cusco, que por sua vez fica a 80 km das místicas ruínas de Machupicchu.

Caminho das Aldeias e da Biodiversida-de - Segunda maior cidade do Acre, com 74 mil habitantes, Cruzeiro do Sul fica no Vale do Rio Juruá, que nasce no Peru, per-corre os estados do Acre e do Amazonas e deságua no Solimões. Os principais atrativos da região são a biodiversidade – a maior do planeta, segundo pesquisas científicas – e a cultura indígena.

Colaborou Leandro José Alves, da Regional de Produção do Acre

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Texto: Alexandre AcciolyFoto: Rony Ramos

“Senhor Presidente, tenho a honra de cumprimentá-lo e agradecer o envio da edição nº227, ano XXXII,do mês Julho/Agosto, da revista Corrente Contínua. Aproveitando o ensejo para elevarmos nossos protestos de alta estima e consideração”

Leandro Domingos Teixeira Pinto - Presidente da Fecomércio-AC – Rio Branco - AC

“Senhores e senhoras, parabenizamos a todos da equipe pelo excelente trabalho. As matérias estão de qualidade e bem diversificadas”.

Ediresa Garcia Ferreira - Assessoria de Gestão da Qualidade- Brasília – DF

“Prezado Alexandre, sabemos que é mais fácil recebermos críticas do que elogios pelos nossos trabalhos. Tenho recebido algumas observações sobre a Corrente Contínua, o que causa certo desconforto para o em-pregado que se vê na matéria com o nome ou foto trocados. Nessa última edição, 228, foram trocadas as fotos entre Jacqueline e Auriléia. Na edição 222, também trocaram o Martins pelo Hamilton”.

Arthur Quirino da Silva Neto - Assessoria de Comunicação da Eletronorte no Maranhão – São Luís – MA

N.R.: Aos leitores e colegas que tiveram o dissabor de verem suas fotos trocadas, nossas desculpas. Esta-mos alerta para não cometermos mais este tipo de falha.

“Caro César, muito obrigado pelo envio da revista Corrente Contínua. O secretário de Gestão, Marcelo Viana, solicitou que o link para a edição eletrônica fosse publicada no Portal do GesPública. Receba nosso abraço”.

Cesar Pereira Viana - Gerente do Prêmio Nacional da Gestão Pública - Departamento de Programas de Gestão - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – Brasília - DF “Trabalho na Cemig e sou engenheira eletricista, da área de pré-operação do sistema elétrico de distribui-

ção e transmissão até a tensão de 138 kV. Gostaria de verificar a possibilidade de disponibilizarem a assinatu-ra da revista Corrente Contínua para o nosso setor. Esta revista terá circulação para 58 pessoas, abrangendo também a área de coordenação de proteção. No aguardo de uma solução favorável desde já agradeço a atenção dispensada”.

Vanessa Aparecida Dias Coelho – Cemig – Belo Horizonte – MG

N.R.: a distribuição desta revista é gratuita, estando disponível também no site da Eletronorte (www.eletronorte.gov.br), em Imprensa.

“Prezado Oscar, li sua matéria. Parabéns! Está linda! Sou apaixonada pela coluna Amazônia e Nós. Ela nos proporciona conhecer e prestigiar mais ainda as belezas, os povos, a natureza entre outras riquezas do Norte. Vou tentar fazer por aqui a receita que você sugeriu (Caldeirada da Amazônia). Fiquei com ‘água na boca’ só de ver a foto do prato na revista”.

Terezinha Félix de Brito - Assessoria de Comunicação da Eletronorte em Rondônia – Porto Velho – RO

“Querido Arthur, acabei de receber a revista Corrente Continua e sem dúvida, a matéria ficou ótima. Ainda não tive a oportunidade de agradecer pelo carinho que você sempre tem demonstrado, mas dessa vez não poderia deixar passar. Parabéns e obrigada”.

Katiana Silva Santos – Divisão de Transmissão de Imperatriz - Imperatriz- MA

“Parabéns ao poeta Alexandre Accioly e ao fotógrafo Rony Ramos pela Fotolegenda do bimestre Setembro/Outubro, que me deixou extasiada. O texto é mais que um poema, porque emociona, toca na alma. Traduz ricos sentimentos de paz, solidariedade, fraternidade, solidão e beleza. Beleza típica dos povos da floresta. Gostei tanto que decorei a ‘poesia’”.

Bárbara Santana Fernandes – Gerência de Promoção da Qualidade de Vida – Brasília - DF

Sou pequeno, mas sou um timoneiro sérioOlho sempre à frente e dirijo meus pensamentos para além do rioOlho as pedras do caminho, me desvio das grandes, ignoro as pequenasOlho os galhos que seguem na água, se tem folhas, se tem frutosMas os troncos podem nos afundarRema forte, ordeno, rema junto, olha o banco de areia!Pego da corrente, agito no ar, bato no chão, chamo o vento!Veja a força dos meus braços, das minhas mãos que não trememSou assim, criado nas águas, cheirando brisa matutinaSou pequeno, mas sou sérioTenho certeza que vou chegarPorque sei aonde quero chegarOnde porei meus pés e deixarei a marca da minha passagemA minha marca, o meu sinal, a minha sina.

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