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ANO XXXIII - Nº 234 - SETEMBRO/OUTUBRO - 2010 A revista da Eletrobras Eletronorte A eficiência energética na indústria brasileira correntecontínua

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A revista da Eletrobras Eletronorte

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Ano XXXIII - nº 234 - Setembro/outubro - 2010 A revista da eletrobras eletronorte

A eficiência energéticana indústria brasileira

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SCN - Quadra 6 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

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AMAZÔNIA E NÓSPágina 41

CORREIO CONTÍNUOPágina 46

FOTOLEGENDAPágina 47

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Sum

ário RESPONSABILIDADE SOCIAL

Eficiência energética traz ganhos ambientais, financeiros e sociais para a indústria brasileiraPágina 3

CIRCUITO INTERNOUma homenagem a Jorge PalmeiraPágina 24

ENTREvISTAArmando Casado de AraújoPágina 29

ENERGIA ATIvAAs energias superalternativasPágina 10

hISTÓRIASFragmentos históricos do BrasilPágina 18

TECNOLOGIAA energia da inovaçãoPágina 32

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Érica Neiva

O Programa Nacional de Conservação de Energia - Procel Indústria está estruturado para atingir todo o segmento industrial por meio da inserção da eficiência energética em seus pro-cessos. O trabalho é feito em parceria com a Confederação Nacional da Indústria – CNI e as federações estaduais de indústria. A Eletrobras funciona como agente articulador e divulgador do conhecimento entre as federações estadu-ais, e também faz diagnósticos em empresas como a TBM (foto acima). (ver box).

Há 32 anos na Eletrobras, e à frente do Pro-cel desde 1999, o chefe do Departamento de Projetos de Eficiência Energética, Fernando Dias Perrone, declara: “O nosso trabalho não tem nenhuma contraindicação, traz somente benefícios. É um programa onde todos ganham, a sociedade, o consumidor, o governo e os fa-bricantes. Temos o papel de incutir a cultura da conservação de energia e eficiência energética. Digo para minha equipe que é um trabalho de formiguinha e, ao mesmo tempo, de missioná-

rio, pois temos que trabalhar convencendo as pessoas, demonstrando por meio da boa práti-ca que isso é um bom negócio”.

O primeiro convênio foi firmado com a Fede-ração das Indústrias do Estado do Ceará – Fiec e o Instituto Euvaldo Lodi - IEL/CE. A atuação do Programa começa pela Região Nordeste, e segue pela Região Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. “Sempre foi alega-do que, em termos de política pú-blica, se começa pelas áreas mais desenvolvidas economicamente, a exemplo das regiões Sul e Sudes-te. Resolvemos, então, começar pelas regiões menos industrializa-das”, esclarece Perrone (ao lado).

Ao longo de seis anos de atua-ção, foram firmados convênios de cooperação técnica com 14 federações indus-triais. Há dois anos, a CNI e Eletrobras estabe-leceram dois convênios de cooperação técnica, visando a expandir para outros estados e desen-volver novas ações setoriais, em indústrias de

Eficiência energética traz ganhos ambientais, financeiros e sociais para a indústria brasileira

Foto: Jorge Coelho

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grande e médio porte. O papel da Eletrobras foi treinar os multiplicadores que são profissionais das universidades, ou mesmo consultores ca-pacitados com curso de especialização que não existe no mercado. “É um curso inovador e único, para formar multiplicadores que têm como mis-são a transferência do conhecimento adquirido de eficiência energética aplicada aos processos industriais, com o foco de redução de perdas nos sistemas motrizes”, esclarece Perrone.

O foco de redução de perdas é verificado nos sistemas motrizes - ventiladores, exausto-

res industriais, compressores, correias trans-portadoras presentes no setor metalúrgico e de mineração, pois esses sistemas representam mais de 64% do consumo industrial, que por sua vez representa 46% do consumo nacio-nal de energia elétrica. As indústrias aderem voluntariamente ao programa. A partir daí, li-beram os seus técnicos para receberem capa-citação e treinamento que ajudem a levantar na sua área de trabalho as oportunidades de economia de energia na planta industrial. Fo-ram envolvidas mais de 500 indústrias nesse

No dia 13 de setembro de 2010, na Sede da Eletrobras, a Têxtil Bezerra de Menezes - TBM recebeu certificação de caso de sucesso na implantação do Procel Indústria, onde foi feita uma medição física dos ganhos auferidos com a imple-mentação de medidas de eficiência energética em sua planta. É um trabalho pioneiro, baseado num diagnóstico feito em conjunto com Eletrobras, a Federação das Indústrias do Es-tado do Ceará - Fiec e a TBM, para verificar o potencial ener-gético de conservação de economia de energia em todo setor produtivo da fábrica têxtil.

Segundo o engenheiro eletricista e coordenador de Ma-nutenção Elétrica na TBM, Kleber Anastácio, “o certificado representa o reconhecimento e um grande incentivo para os membros da empresa que trabalham direta e indireta-mente no projeto. A TBM tem alguns objetivos muito im-portantes quanto à eficiência energética, entre eles esten-der o Procel para outros sistemas ainda não contemplados e contribuir para a disseminação do conhecimento e das experiências obtidas”.

A parceria entre a TBM e o Procel Indústria ocorre há três anos. “Desde então, a indústria assumiu a postura de investir no combate ao desperdício de energia, bem como numa nova política de aquisição de sistemas, sempre bus-cando o menor custo de aquisição e operacional. O trabalho de eficiência teve início com a criação de um grupo dedicado a validar os ganhos indicados pelo relatório da Eletrobras, e também estender o projeto para outras unidades”, explica Kleber Anastácio.

Os recursos necessários para o investimento foram prove-nientes da própria TBM que, em menos de dois anos, teve o retorno financeiro e o aumento da produção. Para a imple-mentação das ações necessárias foi orçada uma verba es-pecífica, priorizando as iniciativas que apresentavam melhor pay back. As ações de combate ao desperdício não ficaram limitadas apenas às unidades fabris onde foi feita a auditoria

da Eletrobras, mas também às outras plantas do grupo. Os dados do relatório de medição e verificação apontam uma redução de 14% e 28% no consumo de energia elétrica, entre 2007 e 2010.

Segundo Kleber, “além dos ganhos financeiros, obtive-mos outro ganho importante que foi a melhoria da esta-bilidade dos sistemas associados, o que contribuiu dire-tamente para a melhoria da produtividade. Vale ressaltar que a qualidade do sistema de climatização e do sistema de ar comprimido interfere diretamente na eficiência do processo produtivo de uma indústria têxtil como a TBM. Podemos enumerar a utilização do conceito de eficiência energética em todas as áreas do projeto da nossa nova planta fabril, que está sendo construída em Rondonópolis, no Estado de Mato Grosso”.

Ainda existem vários sistemas que podem ser melho-rados como o de iluminação, que deverá passar por um processo de substituição das lâmpadas e luminárias por outras mais eficientes; sistemas motrizes em que serão trocados motores por outros de maior rendimento; e cen-trais de ar que precisam ser reformadas.

Federação – A TBM é membro da Federação das Indústrias do Estado do Ceará – Fiec, entidade que tam-bém trabalha as questões ligadas à energia por meio de comitês específicos. “Tivemos a oportunidade de fechar o convênio com a Eletrobras num momento em que a preocupação com a questão energética é muito grande. A importância do programa é trabalhar a questão da eficiência por meio da redução de desperdício, identi-ficando como as indústrias podem atuar de uma forma mais eficiente, no sentido de diminuir custos, e também com um ganho para a sociedade”, afirma a superinten-dente do Instituto Euvaldo Lodi - IEL/CE, Vera Ilka Meire-les Sales.

Indicadores qualitativos e quantitativos da indústria têxtil são beneficiados com o Procel Indústria

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KleberAnastácio:“além dos ganhos financeiros, obtivemos outro ganho importante que foi a melhoria da estabilidade dos sistemas associados, o que contribuiu diretamente para a melhoria da produtividade”

processo e capacitados quase 2,5 mil agentes da indústria. Em mais de 200 casos as ações tiveram resultados efetivos.

Para Perrone, do ponto de vista qualitativo há a incorporação da questão da eficiência energética não somente em relação à diminui-ção da conta de energia elétrica pela indústria, mas, a partir dessa avaliação, pode-se ter uma visão sistêmica. “Até na questão da aquisição de equipamentos e projeto de sistema, passa-se a trabalhar com outras concepções, além de impactar diretamente na política de opera-

ção e manutenção da planta. Passa-se a ter um processo mais eficiente, maior produtivi-dade, com redução de custos não apenas de energia. Em relação aos dados quantitativos, não temos uma mensuração dessa redução do consumo atestada e certificada. A razão da demora decorre do fato do Brasil, ao contrário de vários países, não ter uma cultura de dados e informações. Estamos em fase de elaboração para divulgar para a sociedade os indicadores quantitativos de economia de energia em kWh daqui a um ano”.

O trabalho começa com o Procel capacitando consul-tores, profissionais com um perfil estabelecido pela Ele-trobras, que acompanham os diagnósticos nas empre-sas e treinam os agentes de eficiência energética de sis-temas motrizes industriais. O primeiro passo é definir os setores da indústria que im-

plementarão as ações. No Estado do Ceará, formou-se um grupo de 20 consultores que, posteriormente, for-maram 120 agentes. “Além de se treinar pessoal para as empresas, para que possam avaliar todo o seu pro-

cesso e venham a produzir de uma forma competitiva, há também o impacto da modernização da planta”, explica Vera Ilka (à esquerda).

Após a fase de capacitação de pessoal é feito o autodiag-nóstico, que verifica os ganhos em termos de redução de energia, de desperdício e o lucro financeiro para a indús-tria, implicando diretamente na sua competitividade. “É comprovado que todas as indústrias passam a ter o retorno do investimento feito em correções e, em pouco tempo, passam a obter lucro. As empresas têm muito interesse, pois sabem do ganho que vão ter. No caso de uma indús-tria têxtil, ocorre uma redução imediata de 8,2% de energia em relação ao consumo anual da fábrica. Em 16 meses eles têm o retorno dos investimentos feitos na eficiência energética”, afirma Vera Ilka.

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Antes do Procel não existia o conceito de eficiência energética na grande indústria brasi-leira. “A eficiência energética não é o principal negócio de nenhum setor da economia. É um meio, não é um fim, pois estão voltados para a produção. A questão mais difícil é a cultural ligada aos hábitos do brasileiro. O País sempre foi, desde a década de 1970, um abundante produtor de energia para vários setores. Apesar de, por pessoa, o brasileiro consumir muito me-nos que o europeu e o americano, ele ainda é perdulário no seu consumo de energia e água, recursos presentes em abundância no País”, diz Perrone.

Parceiros - A Confederação Nacional de Indústria – CNI tem programas de eficiência energética e projetos em parceria com o Pro-cel. Segundo o coordenador do Programa de Eficiência Energética da CNI, Rodrigo Sarmento

Garcia (abaixo), “o Procel Indús-tria é um aliado fundamental para começarmos a desenvolver o pro-grama de eficiência energética na CNI. Antes da nossa experiência com o Procel víamos que esse assunto era pouco discutido na indústria. Depois que divulgamos nossos estudos e resultados esse assunto ganhou uma evidência que ainda não existia”.

A CNI tem discutido com o Go-verno Federal, os órgãos de finan-ciamento e as indústrias as opor-

tunidades das ações de eficiência energética. “Dialogamos com a indústria para começar a se preparar melhor por meio da qualificação de pessoal; o governo para que tenha uma política agressiva, com metas definidas, para o desen-volvimento de ações de eficiência na indústria, pois os nossos estudos mostram que o setor industrial vem sendo preterido em função do setor público ou residencial. Em relação ao fi-nanciamento, chamamos atenção para o fato de que economizar energia é bem mais barato do que gerar uma energia nova”, fala Rodrigo Sarmento.

A Associação Brasileira de Grandes Con-sumidores Industriais de Energia e de Consu-midores Livres – Abrace, constituída por 47 grupos industriais de 15 diferentes segmentos, criou uma força de trabalho que está discutin-do mecanismos que viabilizem recursos e con-dições para o desenvolvimento da eficiência energética na indústria. Também existe uma parceria com a CNI para contribuições à ela-

boração do Plano Nacional de Eficiência Ener-gética - PNEf, que deverá ser publicado pelo governo em breve.

Segundo o assessor de Energia Elétrica da Abrace, Fernando Umbria (abaixo), embora não exista nenhum convênio entre a Eletrobras e a Associação, os associados veem com muito otimis-mo os esforços do Procel Indústria em favor do au-mento da eficiência ener-gética. “A Abrace tem co-nhecimento de trabalhos feitos em parceria com a CNI, cujos resultados têm servido como base para diversos pleitos quanto aos potenciais de redução de consumo por meio da eficiência energética”.

Para Umbria, o maior problema das in-dústrias quanto à eficiência energética se refere à captação de recursos para financiar os projetos. “Na maioria das vezes, como os projetos internos competem com outros proje-tos do core business das empresas, voltados ao aumento de produtividade, eles acabam nem saindo do papel. Além disso, as linhas de financiamento disponíveis são um grande problema, pois os bancos têm dificuldades em avaliar o risco de crédito por motivos téc-nicos. Algumas linhas de financiamento, por exemplo, cobrem apenas equipamentos pro-duzidos no Brasil. Para que esse quadro seja revertido, o governo precisa dar incentivos, como isenção de impostos e encargos para que os projetos se tornem economicamente viáveis. Também é necessário que as linhas de crédito sejam mais aderentes às reais ne-cessidades da indústria”.

A avaliação do crescimento do consumo de energia elétrica na indústria, observada em 2010, segundo Fernando Umbria, tem que ser feita à luz dos efeitos da crise eco-nômica mundial, que teve início ao final de 2008 e se estendeu por 2009 com alguns reflexos ainda em 2010. “Se observarmos o consumo de energia elétrica no segmento in-dustrial entre os meses de janeiro e julho dos anos de 2008 (104.039 GWh), 2009 (92.413 GWh) e 2010 (105.573 GWh), é possível ve-rificar que o consumo no referido período de 2009 em relação a 2008 representou uma queda de 11,2%. O significativo crescimento do consumo verificado entre 2010 e 2009 é decorrente, em grande parte, da retomada da

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Foto: Gustavo Gracindo

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produção industrial pós-crise. Nesse sentido, é importante compararmos o consumo de 2010 em relação a 2008, o que representa um aumento de apenas 1,5%. Assim, em ter-mos de consumo energético, houve um forte aumento entre 2009 e 2010, porém esse au-mento não representa um crescimento signi-ficativo da indústria no período, mas uma re-tomada da produção fortemente afetada pela crise econômica”.

Indústria paraense - No Estado do Pará está sendo feito o diagnóstico e gestão de efi-ciência energética em 41 indústrias. O proje-to é uma parceria da Eletrobras Eletronorte, Fundação de Ciência e Tecnologia do Pará - Fapespa, e mediação da Secretaria de Esta-do de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia - Sedect. A fase de diagnóstico compreende 22 indústrias (oito em Ananindeua, cinco em Barcarena, seis em Icoaraci e três em Mara-bá). Todo o processo deve ser concluído em 24 meses.

Inicialmente será feito o levantamento das instituições do segmento industrial pela Fun-dação Guamá. Em seguida, a Eletrobras Ele-tronorte promove a capacitação das Comissões Internas de Conservação de Energia - Cices e o desenvolvimento de software para a Gestão do Consumo de Energia das Indústrias, subsidian-do os profissionais com informações que serão necessárias para uma avaliação do consumo de energia. As comissões serão compostas por empregados de turnos, gerente da manuten-ção, de compras, administrativo, de produção, líderes de processos, presidente da empresa ou gerente geral.

A capacitação leva em conta a gestão do con-sumo de energia, o treinamento do software de acompanhamento por característica de indús-tria, a orientação sobre a manutenção voltada à redução do desperdício de energia, a sensibili-zação sobre o uso final de equipamento para as indústrias - iluminação, condicionadores de ar, motores elétricos, ar comprimido e grupo gera-dor -, e a elaboração do masterplan de combate ao desperdício de energia.

No diagnóstico das instalações industriais serão verificados todos os circuitos elétricos - análise de bitolas de condutores elétricos, eletrodutos, quadro de distribuição, quadro geral de baixa tensão, subestações, sistema de aterramento elétrico e sistema de proteção contra descarga atmosférica. Também será fei-ta a análise do dimensionamento de máquinas motrizes e o diagnóstico sobre a qualidade da

energia e gestão energética (como modalida-de de contratos de fornecimento de energia). A fase final das ações será contemplada com campanhas educativas promovidas pela Ele-trobras Eletronorte no sentido de sensibilizar a força de trabalho.

Entre as vantagens da eficiência energéti-ca nas indústrias paraenses estão a redução do desperdício de energia elétrica, promoção de equipamentos mais eficientes, aumento da competitividade, benefício ao meio ambiente e melhoria nos processos industriais e no relacio-namento com a comunidade. A expectativa é de que o potencial de redução do consumo no setor industrial atinja 38%.

A ideia de se trabalhar com eficiência ener-gética nas indústrias do Pará teve início com o Fórum Paraense de Competitividade. “No encontro foram identificadas necessidades es-pecíficas de aumento da competitividade do nosso parque industrial. Uma delas diz respei-to à existência de uso ineficiente de energia devido a problemas variados como instalações elétricas super ou subutilizadas, hábitos de ineficiência, contrato de fornecimento inadequado com a concessionária, enfim, desper-dícios que se refletem em custo de produção e acabam incorpo-rados nos preços dos produtos, reduzindo a competitividade da indústria. As ações de eficiência energética vão aumentar a com-petitividade da indústria paraen-se, com aumento e consolidação do mercado, e crescimento no número de empregos. Existe, também, um ganho cultural. Ou seja, do executivo ao operário da fábrica, todos devem pensar e vi-ver diariamente o uso eficiente da energia”, afirma o secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tec-nologia do Pará, Maurílio Montei-ro (acima).

Para a superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tec-nológico e Eficiência Energética da Eletrobras Eletronorte, Neusa Lobato (ao lado), todos ganham com ações como esta. “Ganha o País, com a questão do meio ambiente, evitando o des-perdício de energia. Ganha a Eletrobras Ele-tronorte, pois, quanto mais ela fizer as pesso-as economizarem, posterga os investimentos em gerar e transmitir, incentivando a respon-

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Foto: Eunice Pinto

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sabilidade social em relação ao seu produto, para que seja gasto com consciência. Essa responsabilidade social ocorre na medida em que as indústrias, por meio da oportunidade do aumento de produção, podem gerar mais empregos. Ganham os municípios e o Estado do Pará por meio dos impostos que podem ser aumentados proporcionalmente à produ-ção dessas indústrias, que por sua vez po-derão vender mais e com melhor qualidade. Ganham as pessoas da fábrica porque po-derão replicar esses conceitos de eficiência energética em suas casas”.

Ceamazon – O diagnóstico e gestão de efi-ciência energética nas 41 indústrias do Pará conta com a participação do Centro de Exce-lência em Eficiência Energética da Amazônia – Ceamazon, localizada no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, em Belém. O Centro irá verificar as oportunidades de eficiência energé-

tica que cada indústria possui em termos de instalações elétricas, contrato de energia, em suas cargas mecânicas, no uso primário de energia e a possibilidade de aproveitamento al-ternativo de energia.

A implantação do Ceamazon, em 2006, é fruto da parceria entre a Eletrobras, a Univer-sidade Federal do Pará e Governo do Estado. A instituição propõe o uso racional de energia e conta com pesquisadores das áreas de enge-nharia elétrica, mecânica, química, arquitetura e urbanismo. Sua missão é contribuir para o desenvolvimento regional, buscando a eficiên-cia energética por meio de desenvolvimento tecnológico e colaborando com subsídios para a regulamentação do mercado de eficiência energética na região.

A coordenadora do Ceamazon, Maria Emília Tostes, diz que o Centro atua visan-do à eficiência energética na Amazônia, por meio da execução de projetos de Pesquisa

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Foto: Alexandre Moraes

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e Desenvolvimento (P&D), consultorias, au-las, palestras e demonstrações. “Os principais programas ou projetos implementados são o Procel-Eletrobras e o Compet, da Petrobras. As ações desenvolvidas provocam a eficiên-cia nas indústrias, e, além da ação direta nas empresas, existe a divulgação para sociedade como um todo”.

O Ceamazon possui dois projetos voltados à eficiência energética industrial. Um deles refere-se à participação na Rede de Pesquisa em Energias Renováveis e Eficiência Energé-tica, responsável por um inventário energético de alguns segmentos da indústria paraense,

financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Pará - Fapespa. Outro projeto consiste na realização de diagnósticos energéticos do setor oleiro e de panificação.

Para Maria Emília (ao lado), os maiores problemas encon-trados nas indústrias estão relacionados à falta de infor-mação, uma vez que muitas oportunidades de redução do consumo de energia elétrica podem ser solucionadas com pequenos ajustes, sem neces-

sidade de investimentos em equipamentos. “A falta de informação leva à aquisição de equi-pamentos ineficientes com alto consumo de energia, ou até mesmo com elevado número de reparos, o que os torna ineficientes. Como a energia elétrica é considerado como mais um insumo de um processo produtivo, com a re-dução do seu desperdício, pode-se reduzir o custo do produto final, aumentar o poder com-petitivo da empresa e o número de empregos. Fora os ganhos econômicos, existe a redução de carbono enviado à atmosfera”.

Premiação - A Eletrobras Eletronorte pos-sui como clientes grandes consumidores in-dustriais, a exemplo da Alumar, Albras, Vale e Alunorte, entre outros. Situada em Barca-rena, no Pará, a refinaria Alunorte foi uma das quatro empresas premiadas no Energy Efficiency Award 2010. O evento, patrocina-do pelo governo alemão, ocorreu em abril de 2010, na cidade de Hannover, e reconhece o desempenho das empresas na redução do consumo de energia em suas instalações.

Mais de 90 empresas foram inscritas e um júri independente, que incluiu líderes da políti-

ca, negócios, ciência e meios de comunicação, determinou os finalistas e os quatro vencedores. À Alunorte foi oferecido o prêmio de reconhe-cimento especial (menção honrosa) pelo pro-cesso de melhoria em seus calcinadores, que melhorou a transferência de calor e reduziu a perda de pressão, resultando em uma econo-mia significativa de energia e em uma operação mais estável.

A iniciativa premiou uma nova ação desen-volvida em parceria com a empresa Outotec na área de calcinação de alumina. O processo otimizou a separação entre partículas e gás usando ciclones, resultando em uma econo-mia de energia de 6%. Melhorias como essa têm ajudado a Alunorte a reduzir o consumo de energia durante o processo de calcinação de alumina, de 3.000 kJ/kg para 2.790 kJ/kg. Em termos de produção anual, traduz-se numa economia de energia de cerca de 56 milhões de kWh.

Segundo o diretor Industrial da Alunorte, Daryush Khoshneviss (abaixo), “a Empresa mostrou preocupação com sua eficiência energética por meio da correta utilização de fontes de energia de forma sustentável, que tem impactos significativos na redução de emissões para o meio ambiente. Além dos benefícios ambientais, o projeto gerou tam-bém ganhos financeiros, por meio da redu-ção do uso de combustível e do aumento da produtividade”.

De acordo com a Agência Alemã de Energia - Dena, a seleção dos vencedores é baseada em um conjunto de critérios bastante rigoro-sos. Não é apenas a economia real de energia que é importante, mas também a relevância geral da solução aplicada no que diz respei-to às alterações climáticas, à capacidade de aplicar a solução para outros clientes, à viabi-lidade econômica e à inovação do projeto.

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Foto: Paulo Santos

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Aquele não era o caminho usual de Vilma vir da escola, era um atalho! E ele a levou até uma praça onde viu um rapaz falante e muita gen-te à sua volta. “O que se passa?” – perguntou. “Aquele moço ali está fazendo gasolina de plás-tico!” – disseram uns descrentes. E lá estava ele como se fosse um “Mister M”, a desvendar os sortilégios energéticos: “Hanran... O que temos aqui? Óleo diesel feito de pneu velho!!!”. Incluía ainda nas suas demonstrações acender uma lâmpada com a energia extraída de um pedaço de carne podre. Truques? Que nada, tratava-se de fato de tecnologia de ponta sendo lançada precocemente. O jovem era o cientista pionei-ro em energias alternativas, Camilo Machado. Vilma, ao fazer aquele novo caminho, encon-trou o seu futuro marido, e o Brasil achou em inventores como ele o atalho para chegar a so-luções superalternativas 60 anos antes do resto do mundo. E o resultado está aí: hoje somos o País que explora a maior diversidade de opções energéticas renováveis.

A história de Camilo Machado já foi descri-ta na edição 219 desta revista (março/abril de 2008). Ela ilustra bem como as fontes superal-ternativas são percebidas por mentes que acre-ditam ser possível extrair energia até do último grão de areia da terra. E elas estão certas: esta-mos cercados de boas energias, é só percebê-las para tê-las. Como por exemplo, a tal bateria de micro-organismos: a partir da observação daquele pedacinho de carne mal cheiroso, a investigação virou descoberta e ultrapassou as expectativas do próprio autor, e, hoje, é propos-ta por centros de pesquisas como uma das so-luções para os lixões das cidades.

O artefato mostrou que o suco de carnes apodrecidas, além da intensa atividade bacte-riológica, gerava uma diferença de potencial de 1,8 Volt e, assim, acendia uma lâmpada. Trata-

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Camilo Machado:gasolina de plástico

e diesel de pneu

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se de uma reação química de óxido-redução, na qual elétrons são extraídos de um dado meio orgânico. E agora, com as novas tecnologias, extraem-se muita energia em campos putre-fatos. O mundo gera mil toneladas de lixo por segundo. Algo tem que ser feito com urgência.

A Eletrobras Eletronorte investe em fon-tes superalternativas, que também chama de ‘desrruptivas’, pois, para pesquisá-las, deve-se romper com os parâmetros científicos usuais. O Plano Diretor de Inovações Tecnológicas da Empresa tem como um dos temas a energia al-ternativa, e como subtemas a energia eólica, a fotosolar, a biomassa e outras fontes possíveis. Paralelamente, a Diretoria de Tecnologia da Eletrobras analisa também os gargalos tecnoló-gicos, ou seja, lacunas de conhecimento cien-tífico. Na biomassa, por exemplo, os gargalos estão no aproveitamento da palha, na gaseifi-cação, na pirólise (gaseificação a calor). Já nos painéis solares fotovoltaicos, os gargalos estão no processo de purificação do silício, na solda-gem das células fotovoltaicas, nas baterias.

A energia solar - A geração por meio de célu-las fotovoltaicas é um processo que vem sendo usado em comunidades rurais distantes para o abastecimento doméstico, irrigações, piscicul-tura, iluminação de escolas, postos de saúde e telefônicos, centros comunitários, sem impac-tos ambientais. A menção da energia eólica so-lar entre as fontes superalternativas deve-se ao fato de ela ainda ser uma tecnologia carente de pesquisas, até que as células fotovoltaicas este-jam inseridas nas vidraças dos edifícios, em pa-redes, em tijolos, em telhas e até objetos do dia a dia das pessoas. Até o momento, essa fonte

energética ainda tem suas limitações: precisa de áreas livres para instalação de painéis, as placas de sílica são caras, e as baterias armaze-nam pouca eletricidade para suprir o consumo nos períodos em que as nuvens e as noites in-terrompem a geração.

A Eletrobras Eletronorte dedica atenção, também, ao processo pelo qual os raios solares são convergidos para um só ponto e deles se extrai o calor. Trata-se de um conjunto de es-pelhos, que acompanham as posições do sol, canalizando a luz para a geração de vapor, que, por sua vez, move turbinas e estas acionam os geradores de eletricidade. Mas essa fonte tam-bém tem seus gargalos: nos concentradores, nas metodologias, nos tanques térmicos de armazenagem. Há outras tecnologias classifi-cadas como temas estratégicos de P&D+I (pes-quisa e desenvolvimento mais inovação), cujo desenvolvimento conta com o apoio da Univer-sidade Federal de Campinas - Unicamp, como o uso da vinhaça, um substrato da produção do álcool e açúcar tido como altamente poluidor. A Empresa está apoiando um projeto em Presi-dente Prudente (SP), cujo processo extrai o gás metano da vinhaça. Uma vez purificado o gás irá alimentar motores a combustão, que geram eletricidade. Depois que a vinhaça passa pelo biodigestor, perde a sua nocividade e torna-se um insumo rico para se fazer adubo.

Hidrogênio – Por meio da eletrólise separa-se a água em duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio. Ao introduzir hidrogênio com reagentes químicos nas células de combustí-veis se obtêm a eletricidade. Essa tecnologia ainda é muito cara, embora o hidrogênio seja

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abundante na natureza. Segundo o gerente dos Programas de Pesquisa e Desenvolvimento e Inovações da Eletrobras Eletronorte, Álvaro Rai-neri Lima (abaixo), a Empresa apóia três pro-jetos nessa área, sendo que o mais avançado

está sendo desenvolvido na locali-dade de Pico do Amor, a 50 quilô-metros de Cuiabá (MT).

“Por meio de um aparelho de-nominado reformador de etanol, o álcool é transformado em hidro-gênio, com pureza de 98%. Mas para uso em grande escala seria indicado se construir um sistema novo de transmissão, o ‘hidroge-duto’. Nesse sistema, numa pon-ta se alimenta com eletricidade a célula combustível e se obtém o hidrogênio, e ele segue até a outra

ponta, onde é convertido em eletricidade no-vamente por outra célula combustível. O siste-ma de bombeamento do hidrogênio é parecido com o do gás GLP”.

A Empresa já produz hidrogênio e oxigênio numa unidade em Belém, mas o hidrogênio é usado para abastecer os sistemas de refrigera-ção dos compensadores síncronos de subes-tações. “A Eletronorte avançou muito tecnolo-gicamente e extrapolou o seu perfil industrial. Precisamos mapear todas as nossas potencia-lidades. O oxigênio purificado e com controle de qualidade, por exemplo, ao invés de ser li-berado no ar poderia ser doado aos hospitais. Os nossos estatutos já nos permitem vender

as sobras de capacidade de transmissão de telecomunicações, via cabo para-raios com fi-bra óptica, e arrecadaremos R$ 20 milhões só neste ano. Para comercializar o hidrogênio e o oxigênio seria necessário fazer uma modifica-ção semelhante”, observa Álvaro.

Higroenergia - O gerente de Controle de Qualidade de Obras, da Eletrobras Furnas, um especialista em gestão estratégica da inovação tecnológica, Ricardo André Marques, diz que o desafio das alternativas energéticas é viabilizá-las economicamente. Como exemplo cita o fato de que no último leilão de hidroenergia o me-gawatt.hora foi negociado a R$ 103,00, para Colider, em Mato Grosso. “Os leilões de eólicas também estão baixando as tarifas, já há contra-tações de até R$ 140,00 o megawatt.hora, mas ainda são preços altos. Outras fontes como o hidrogênio chegam até R$ 300,00 o megawatt.hora, o que torna a sua exploração economi-camente inviável agora, pois o valor da energia afeta os custos industriais. Nos Estados Unidos, Alemanha, Dinamarca e Espanha a energia eó-lica já está sendo usada em larga escala. Aqui a deficiência da indústria eólica leva-nos a impor-tar equipamentos. Algumas fontes só se tornam realidade em 20 anos, quando as tecnologias minimizam os custos de fabricação de equipa-mentos e de sua aplicação”, ensina.

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Segundo Ricardo, o Brasil tem diversas fon-tes de energia de baixo custo em exploração e ainda por explorar. Só usamos 50% do nosso potencial hidrelétrico. Milhões de toneladas de biomassa oriunda dos canaviais estão à dis-posição há anos e só agora vieram os leilões desse insumo para fins de geração elétrica. Temos também um enorme potencial de raios, demonstrando que há muita energia na nos-sa atmosfera. “É a chamada higroenergia (ver box). São alternativas que nos deixam esperan-çosos quanto ao futuro da energia no Brasil. Tomamos a direção correta ambientalmente. Muitos países, como Índia, China e Rússia es-tão se desenvolvendo com a queima de carvão e óleo diesel e de outros insumos poluidores, em matrizes térmicas sujas”, enfatiza.

A luz no fim do túnel - Já que pintou sujeira, falemos do esgoto das cidades, pois, se limpar-mos os milhares de túneis subterrâneos encon-traremos boas reservas energéticas. A Compa-nhia de Saneamento de Minas Gerais – Copasa se prepara para tornar a Estação de Tratamen-to de Esgotos Arrudas, em Caetano Furquim, em Belo Horizonte, apta para a produção de eletricidade. Ela economizará R$ 2,7 milhões por ano tornando o tratamento de esgoto da cidade autossuficiente em eletricidade, o bas-tante para abastecer as casas de pelo menos 15 mil habitantes. Segundo o superintendente de Gestão de Energia da Copasa, Marcelo Mo-nachesi Gaio, no tratamento do esgoto pode-se extrair o biogás, composto de 68% de metano, nocivo à camada de ozônio. “Antes queimáva-mos o metano, que gerava gás carbônico, me-nos prejudicial que o metano, mas ainda assim nocivo à at mosfera. Com a cogeração, os gases são limpos, depois alimentam as microturbinas, que geram energia. O projeto custou R$ 65 mi-lhões, portanto, uma energia ainda cara”.

Até nas fossas tenebrosas, depósitos de imensas quantidades de excrementos huma-

nos, há potencial energético a ser explorado. ‘A energia do cocô’ como os cientistas gostam de chamá-la, também será realidade. A Com-panhia Estadual de Águas e Esgotos - Cedae, do Rio de Janeiro, em parceria com a Coppe, esta montando a primeira fábrica de biodiesel de fezes humanas, no Caju, na Estação de Tra-tamento de Esgoto Alegria. Esta será a primeira usina de biodiesel movida a fezes. Ela foi de-senvolvida pela Coppe/UFRJ em 2003, custará R$ 5 milhões e será feita em parceria com a Usina Termelétrica Termório.

Segundo o presidente da Cedae, Wagner Vic-ter, ela deverá fornecer biodiesel a preços próxi-mos ao dos postos de combustíveis. “Buscare-mos apoio da iniciativa privada para a produção em escala industrial. As fezes são coletadas no decantador primário, formado pelos sobrenadan-tes, que contêm 10% de gordura. A unidade-piloto produzirá seis mil litros de biodiesel/mês, quantidade que servirá como aditivo de 120 mil litros de diesel/mês. A mistura do insumo com a urina não compromete a qualidade do produ-to. Se ela fosse segregada na fonte teríamos um aproveitamento maior quantitativamente. Já foi instalado um sistema para aproveitamento ener-gético do biogás e do lodo, com usina de filtra-ção do gás e dois geradores elétricos, além de uma planta de pirólise de lodo, que gera bio-óleo e biocarvão, a serem queimados numa caldeira associada à turbina a vapor”.

Biomassa - Matérias orgânicas vegetais ou animais podem se transformar em energia atra-vés da combustão em fornos e caldeiras. O bio-diesel, por sua vez, pode ser obtido também a partir de óleos vegetais e tem sido usado em projetos experimentais na Amazônia. Há olea-ginosas muito boas para se fazer o biodiesel, como a andiroba, o murumuru, a carnaúba, o jaci, o amendoim-cavalo, dendê, buriti, copaí-ba, babaçu, andiroba, a ucuúbae e também os resíduos de madeiras e o bagaço de cana, que têm ganhado espaço no Brasil.

A Usina Termelétrica Barra Bioenergia, em Barra Bonita (SP), recentemente inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é inte-grante do Grupo Cosan, do setor sucroenergéti-co, e sua unidade termelétrica de biomassa de-verá produzir energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar para 1,2 um milhão de ha-bitantes quando concluída. A Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel autorizou, em julho de 2010, o início das operações comerciais da termelétrica, que instalou, numa primeira fase, dois turbogeradores de 33 MW cada um.

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Raspas e restos nos interessam – Fora do Brasil outras boas experiências são destaques. A Empresa de Bioenergia inglesa GENeco gera gás para automóveis a partir do aproveitamento dos fluidos dos esgotos de residências e já estu-da um processo parecido para extrair combus-tível a partir de restos de comida. A companhia captou resíduos em 70 casas e gerou gás sufi-ciente para abastecer um carro para rodar 17 mil quilômetros. Segundo Mohammed Saddiq, diretor da GENeco, o carro tem bom desem-penho. “Quem o dirige nem percebe que ele é abastecido com biogás. Na Suécia 11.500 veículos já rodam com biogás de restos de co-mida. A ideia é unir a produção de biogás com o sistema de tratamento de esgoto tornando o produto comercial no Reino Unido”.

O tratamento anaeróbico de esgoto gera gás, sem a presença de oxigênio livre, como o me-tano, o gás sulfídrico e outros. A GENeco, de fato, não inventou o processo de tratamento de esgoto, apenas adaptou o veículo para usar esse tipo de gás. Um projeto semelhante foi desenvolvido, há 20 anos, pela Universidade de Brasília e Caesb, através de um pressurizador dos gases (principalmente o CFC), que quando lançado sem tratamento na natureza prejudica a camada de ozônio. Mas, infelizmente, o pro-jeto brasileiro de se extrair gás do esgoto não foi adiante.

Marés e uísque - A maior turbina movida a energia de marés do mundo será testada na Es-cócia. Criada pela Atlantis Resources, a turbina AK-1000 será instalada no Centro Europeu de

Energia Marinha em Orkney. Segundo a empre-sa, a turbina subaquática suportará a pressão das fortes correntes marinhas. Com hélices de 18 m de diâmetro, mais de 22 m de altura e 1,3 mil toneladas, ela pode gerar até um MW de ele-tricidade, o suficiente para abastecer mil casas. A empresa afirma que, por causa de sua baixa velocidade, a turbina não causará danos à vida marinha, mas essa energia superalternativa ain-da está em fase de testes. O oceano é sempre surpreendente, então não vamos fazer muita onda por enquanto, veremos se a ideia vinga.

E esta agora vai ser sem gelo. Feito de sub-produtos da destilação de uísque, ele é desen-volvido por cientistas da Universidade Napier, em Edimburgo, usa sobras de um setor que movimenta R$ 11 bilhões/ano. Os pesquisa-dores dizem que o biobutanol gera 30% mais energia que o etanol. Eles receberam amostras de subprodutos da destilação de uísque na destilaria Glenkinchie, que faz o uísque Edin-burgh Malt, em East Lothian. O projeto custou U$ 260 mil. O sistema utiliza os subprodutos da destilação de uísque - pot ale -, o líquido que resta nos alambiques de cobre; e os grãos esgotados – draff -, como base para produzir o butanol combustível. Com 1,6 bilhão de litros de pot ale e 187 mil toneladas de draff produ-zidos anualmente pelas destilarias de uísque de malte, os cientistas preconizam a venda desse biocombustível em postos de gasolina, que, ao contrário do etanol, substitui a gasolina tradicio-nal, sem precisar fazer adequação nos carros.

Avião e capim – Quem poderia imaginar que o poste de luz gerasse a própria energia. Pois é verdade. O pesquisador Fernando Xime-nes criou um aviãozinho híbrido, que gera, ao mesmo tempo, energia eólica e solar. Quando posicionado no poste, o aviãozinho, por meio de um bloco de células solares instaladas nas asas, gera energia solar; e através da hélice frontal, gera energia eólica. As energias são armazenadas numa bateria capaz de manter acesa uma lâmpada do tipo LED por 70 horas ou seis noites. “O invento está sendo adquirido, principalmente, para a iluminação de rodovias e praças. O kit completo: um poste galvanizado de 24 metros, o aviãozinho, o gerador e a ba-teria podem fornecer energia para outros seis postes de iluminação. Nós fabricamos, instala-mos e colocamos para funcionar todo o siste-ma”, comentou Ximenes.

Pioneira no Brasil e a maior do mundo no ramo, a usina Sykué Bioenergya, instalada na zona rural de São Desidério, a 860 km de Salva-

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dor (BA), produzirá energia com a incineração de capim-elefante triturado, gerando 30 MW, o suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil habitantes. A usina é a primeira das quatro projetadas pelo grupo para o município, que foi escolhido pela disponibilidade e fertilidade das terras, clima, e pela facilidade de conexão com a linha receptora da Coelba, que distribuirá a energia vendida no mercado livre.

A produção anual para a primeira etapa do projeto, iniciado há três anos, para os quais foram plantados 4.600 hectares de capim-elefante, irrigado com a água do Rio Grande, será suficiente para movimentar a primeira usi-na durante todo o ano. Usinas iguais a essa só existem duas de pequeno porte na Inglaterra e nos Estados Unidos. O capim-elefante produz até 20 anos com cortes anuais. O projeto custou R$ 100 milhões e foi desenvolvido pelo sociólo-go Paulo Puterman, em parceria com os sócios Ana Maria Diniz e Luiz Felipe D’Ávila. Segundo o diretor-geral da Sykué, Norbertino Morais, o projeto foi implantado numa área de 11 mil ha, com mais de cinco mil ha de pastagens aban-donadas. “Não precisamos derrubar o cerrado, apenas recuperamos o já degradado”, afirmam os idealizadores do projeto.

Serragem e dança - A Celpa, do grupo Rede Energia, inaugurou um projeto-piloto de energia alternativa no âmbito do Luz para Todos, cuja primeira unidade será implantada em Santo Antonio, no município de Breves, na Ilha de Marajó (PA), com a utilização de uma térmica a biomassa e sistemas fotovoltaicos individu-ais. O sistema atenderá a 43 consumidores de uma das margens do Rio Amazonas. A planta produzirá energia a partir da queima direta de resíduos produzidos pela serraria da comuni-dade. O sistema tem 50 kW de potência insta-lada e funciona 24 horas por dia. Os sistemas fotovoltaicos atenderão a seis famílias da outra margem do rio.

Segundo a coordenadora da área de Pes-quisa e Desenvolvimento e de Eficiência Ener-gética da Celpa, Giorgiana Pinheiro, os proje-tos de energia alternativa, em parceria com a UFPA, foram uma saída para levar o serviço às comunidades onde a extensão da rede é inviá-vel, pelas necessidades de travessias de rios, e pela dispersão dos consumidores.

Longe dos rios, casas noturnas gastam mui-ta eletricidade com iluminação, aparelhagens de som e luz, e ar condicionado. Pensando nisso, Andrew Charalambous, dono do Bar Surya, em Londres, revestiu a pista de dança

de seu estabelecimento com placas que, ao se-rem pressionadas pelos passos de uma dança, produzem uma corrente elétrica que é usada para atender a 60% do consumo de energia da casa. A atitude revela uma tendência: em breve iremos vender a nossa energia gasta em exercí-cios repetitivos.

Aliás, isto já começou a acontecer. No Crow Plaza Hotel, em Copenhague, Dinamarca, o hóspede pode economizar nas suas despesas ao vender a sua energia corporal, exercitando-se em bicicletas ligadas a um gerador de ele-tricidade. Os voluntários devem produzir pelo menos dez watts.hora ou 15 minutos de peda-ladas normais. Após o exercício eles recebem um vale-refeição de 26 euros, ou R$ 60,00. Há quem considere o preço baixo pelas gor-durinhas fritadas em exercícios repetitivos. As clínicas de lipoaspiração, por exemplo, não nos dão um centavo de desconto nas cirurgias de retirada de gordura de corpos humanos.

Nossas gorduras podem se transformar em biodiesel, glicerina, óleos, sabão para lavar ca-chorros, cosméticos, insumos industriais, lu-brificantes, dinamites; enfim, são pneuzinhos que não devem ser queimados em vão. Um dia eles valerão muito dinheiro e os gordinhos serão mais respeitados, pois serão vistos como importantes reservas de energias superalterna-tivas. Quem viver verá!

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Como veio a conclusão que se poderia captar a energia do ar?Os nossos experimentos mostravam que metais isolados ad-

quirem cargas elétricas quando expostos a uma atmosfera úmi-da. Há anos estudo superfícies dos materiais, principalmente os plásticos, usando novas técnicas de microscopia e outras novi-dades. Percebi que as superfícies tinham gradientes de poten-cial elétrico; ou seja, quando se olha um ponto da superfície, medindo-se o potencial elétrico, se obtêm um valor; medem-se mais outros e veremos outros valores, o que evidencia variações de potencial nas superfícies, algo para mim inesperado. Passei a trabalhar com propriedades eletrostáticas em isolantes, testando resultados. Fiz o experimento chamado de ‘Copo de Faraday’, que mede cargas elétricas em sólidos, verificando as cargas elé-tricas dos metais quando expostos a umidade.

E o que o senhor verificou?Por exemplo, o alumínio fica negativo, o aço inox fica positivo

e o cobre fica pouco negativo. A superfície dos metais é coberta por uma camada fina de óxidos. Sobre o alumínio há uma pelícu-la fina de óxido de alumínio; por cima do aço inox há a camada fina de óxido de cromo e assim por diante. Estes óxidos têm o ca-ráter de ácido e o caráter de básico. Isso mostra que a molécula de água se divide uma parte num íon H+ e a outra parte em íon OH-. Quando a molécula de água encontra a superfície do alu-mínio ela pode se separar, o íon OH- liga-se no óxido de alumínio e o íon H+ fica próximo ao centro. Como íon H- é carga negativa, ele torna o alumínio negativo. No caso do aço inox acontece o contrário. Isso mostra que a energia, mesmo vinda da atmosfera, pode ser captada pelos metais.

Como é o seu protótipo e qual a semelhança com os painéis fotovoltaicos?As células fotovoltaicas dos painéis solares captam fótons

de luz, ou seja, um pulso de luz. O meu protótipo é diferen-te: coleta a eletricidade do ar. Ele é parecido com um san-duíche de cinco camadas: uma externa de papel; a outra, uma folha de alumínio; a outra é um filme de papel; mais uma folha de aço inox sensível; e a última camada é outra folha de papel. É um capacitor que permite que o alumínio e o inox sejam expostos a uma atmosfera rica em umidade e gera cerca de 0,7 Volts. Se colocarmos vários desses artefa-tos em série, teremos voltagens consideráveis.

A energia está no arO químico Fernando Galembeck (foto) e sua equipe surpreenderam os cientistas durante

a reunião da American Chemical Society, em Boston, Estados Unidos, em 25 de agosto de 2010, ao relatar a sua experiência com a hidroenergia, uma vertente das energias supe-ralternativas que permite coletar a eletricidade da umidade do ar. A tese responde a uma

questão que tem intrigado os estudiosos do assunto: como a eletricidade se forma e é descarregada abruptamente na atmosfera, não obstante ela também esteja em am-

bientes serenos, quando o vapor se junta a partículas microscópicas no ar? O processo é idêntico ao da formação das nuvens, que na sequência

dão início aos relâmpagos. Esse novo avanço sobre a questão só foi possível depois que estes cientistas brasileiros

descobriram o pulo do gato: como a atmosfe-ra ficava carregada e como captar a sua

energia. Confira a entrevista com Fernando Galembeck.

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Aqui e abaixo, peças aparentemente simples do invento de Galembeck

Como se forma a eletricidade na atmosfera?Supõem-se que a eletricidade da atmosfera se forme

devido a dois fatores principais. O primeiro, o fato de que quando os vapores d’água se condensam, formando go-tículas, eles o fazem de uma forma em que as gotas não ficam neutras, todas têm uma carga. O segundo fator é que estando na terra ou na atmosfera nós sempre esta-mos sujeitos ao campo elétrico. E é um campo estático que não é desprezível, tem 100 Volts por metro. Os cam-pos elétricos afetam o que está na atmosfera, inclusive as gotinhas d água.

Como coletar a energia do ar sem transformar o experimento num para-raios?Os experimentos feitos com os metais mostram que é

possível recolher íons da água da atmosfera, portanto re-colher eletricidade, mas não no momento em que o raio acontece, esta é uma situação de descarga extrema e da-nosa. A captação é feita num momento suave, que aconte-ce antes das precipitações dos raios. É evidente que onde há raios existe muita energia. A eletricidade dos raios deve ser jogada para a terra. E já ficamos muito satisfeitos que ela chegue aqui embaixo sem causar desastres. A energia da descarga elétrica dos raios não é muito alta, a corrente elétrica é que é muito intensa. Porém, a duração do raio é bastante curta. Então, embora a corrente seja intensa e como a duração é curta, a quantidade de energia não é grande, mas a potência é muito alta.

Um dia será possível captar a energia dos raios? No futuro será possível, mas até o momento não consegui-

mos captar a energia dos raios. Eu preconizo uma captação, mas antes que as descargas dos raios aconteçam. Muitos já se aci-dentaram ao tentar coletar a eletricidade deles. O famoso Ben-jamin Franklin, por exemplo, sobreviveu a um acidente elétrico, quando içava uma pipa num dia com incidência de descargas elétricas, porém outros não tiveram a mesma sorte. O raio é uma corrente muito grande em tempo muito curto, que descarrega uma potência enorme de uma forma muito destrutiva. Se eu te-nho uma corrente menor por um tempo maior, eu consigo usar essa energia sem destruir nada. Por isso fizemos os painéis de drenagem de energia do ar, como uma forma, inclusive, de usar parte da energia que na sequência iria formar os raios e assim evitar os seus efeitos danosos.

Quais os melhores lugares para se instalar o que o senhor chama de painéis de drenagem?Em lugares altos: topo dos edifícios, montanhas, torres. Um

dia eu estava no restaurante do terraço do Edifício Itália, em São Paulo, e havia formação de nuvens carregadas. Não cho-via ainda, e vi que quando as pessoas saiam da parte coberta para a área descoberta, o cabelo delas se espetava para cima, como se tivessem numa máquina eletrostática, evidenciando que elas estavam expostas à eletricidade. Ou seja, elas esta-vam sendo eletrizadas e ao interagir com as nuvens, a energia fluía da atmosfera para as pessoas. Se tivéssemos ali as placas, captaríamos a eletricidade no momento anterior à precipitação dos raios. Aliás, eles ocorrem porque há o acúmulo de cargas nas nuvens. Hoje tem vidros condutores, que podem ser co-bertos por camadas de material condutor. É possível se instalar neles mecanismos de captação. O desafio dessa tecnologia é desenvolvê-la com segurança para as pessoas. Creio que no futuro os prédios serão construídos já aptos a captações de ele-tricidade atmosférica.

Como o seu invento se integraria ao atual sistema de geração de energia?As hidrelétricas são feitas próximas das quedas da água onde

há muitos vapores e seus vertedouros também geram muito vapor. Seriam excelentes locais para instalar os nossos painéis. Assim teríamos uma energia complementar, com estoques ener-géticos talvez superiores as das reservas hídricas.

Como a comunidade científica mundial recebeu o seu invento?Uns dizem que sou louco, outros ficaram muito entusiasma-

dos. Tenho recebido mensagens de pesquisadores de vários países, alguns, inclusive, querem vir ao Brasil para interagir com a nossa equipe, pois eles também estão pesquisando no-vas fontes de energia.

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a Fragmentos históricos do Brasil

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Um país é constituído por histórias, mitos, crenças, passados de geração em geração. Antes de o navegador português Pedro Álvares Cabral desembarcar na Ilha de Vera Cruz, hoje o Brasil, povos antigos já habitavam em terras tupiniquins. Prova disso são os materiais ar-queológicos encontrados por pesquisadores da Eletrobras Eletronorte, antes e durante as cons-truções das usinas e as linhas de transmissão. Nos estados do Pará, Tocantins e Rondônia, por exemplo, foram encontrados materiais ar-queológicos de grande valia nacional e interna-cional. São artefatos cerâmicos (vasilhames), artes rupestres, líticos (machados e outros utensílios), que ilustram o contexto histórico de outras épocas.

A Empresa financia e apóia esses estudos com a colaboração e participação de institui-ções científicas renomadas, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan; o Núcleo Tocantinense de Arqueologia da Universidade Federal do Tocantins; o Institu-to Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa; e o Museu Paraense Emilio Goeldi, que há anos preservam e estudam a história dos nossos an-tepassados.

Pedra das Arraias (PA) - A rocha foi encon-trada em 1998 pelo empregado Paulo Edgar Dias Almeida, que exercia uma rotineira ope-ração na linha de transmissão conhecida como Tramo-Oeste, no trecho compreendido entre Tucuruí e Altamira. Do alto da torre de transmis-são ele avistou algo que chamou a sua atenção: uma pedra com alguns detalhes diferentes, coisa que nunca havia visto antes. O que Pau-lo não imaginava é que tinha encontrado um importante material arqueológico, a Pedra das Arraias (foto maior).

Atualmente, o Museu Emílio Goeldi é um dos responsáveis pela preservação da Pedra. Segundo pesquisa realizada pela arqueóloga do Museu, Edithe Pereira, a pedra possui ca-racterísticas estilísticas das gravuras rupestres. Além da Pedra, mais três sítios com gravuras foram encontrados na mesma região. “Entre

os animais representados destacam-se as re-presentações de arraias, o que é raro na arte rupestre da Amazônia. Cada um dos painéis se encontra em um bloco rochoso, com idade de no mínimo quatro mil anos. Desde a descober-ta, as pesquisas sobre o artefato não pararam”, ressalta Edithe Pereira (acima).

Com aproximadamente 48 m² de área e cin-co metros de altura, em forma de paralelepí-pedo, a Pedra das Arraias pesa cerca de mil toneladas. A rocha era utilizada pelos povos pri-mitivos daquela região como um templo, onde se reuniam e, pelos simbolismos das imagens gravadas, oravam pela fartura da caça e pela própria subsistência.

A partir das pesquisas já realizadas, Edithe Pereira enumera algumas recomendações para a preservação e divulgação da Pedra das Ar-raias, para que gerações futuras possam conhe-cer o artefato, como a proteção física do sítio, para que no futuro possa ser aberto à visitação pública sem colocar em risco a sua integridade; a limpeza e consolidação do suporte onde es-tão as gravuras; a divulgação dos resultados da pesquisa para o público especializado e leigo; a reprodução fiel das gravuras rupestres e um projeto de educação patrimonial para estudan-tes e turistas.

Prólogo – Continuando as comemorações dos 33 anos da revista Corrente Contínua, abordamos nesta edição o salvamento arqueológico feito nas áreas de construção de empreendimentos de geração e transmissão de energia elétrica. Atuando na Amazônia brasileira, a Eletrobras Eletronorte já descobriu vasto acervo histórico no Pará, Amazonas, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia e Acre, principalmente. A história demonstra a ocupação das terras no norte brasileiro pelo homem há mi-lhares de anos, e entre descobertas e análises, vem à tona um capítulo a parte da história do Brasil, recheado de boas notícias e também de polêmicas. É como diz o arqueólogo da Empresa, Eurico Miller: “Nenhuma ciência vem pronta, ela vai sendo aprimorada...”

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Artefatos culturais (TO) - O território do Es-tado do Tocantins é rico em sítios arqueológicos de diversas naturezas, que estão relacionados a grupos caçadores e coletores, e grupos cera-mistas, com cerca de 25 mil anos a.C.. Quando a Eletronorte Eletrobras construiu o primeiro trecho da linha de transmissão Norte-Sul, de Imperatriz, no Maranhão, até Colinas e Mira-cema, no Tocantins, realizou-se um convênio entre a Unitins Eletronorte e, desde então, as pesquisas não pararam.

O Nuta – Núcleo Tocantinense de Arqueo-logia – da Unitins – Fundação Universidade do Tocantins, é o responsável pelos estudos arque-ológicos na região desde 1998. As pesquisas realizadas de forma sistemática têm contribuí-do para o aprofundamento sobre as ocupações pré-coloniais nas margens do baixo ao médio curso do Rio Tocantins, de norte a sul e de leste a oeste do estado.

A coordenadora-geral do Nuta, Antônia Custódia Pedreira, afirma que as pesquisas permitem esboçar o panorama de 380 sítios arqueológicos registrados, de onde uma infini-dade de evidências materiais coletadas revelam modos e processos culturais vivenciados pelos grupos pré-históricos no processo de ocupação regional e na utilização dos recursos naturais. “Ainda hoje, há a identifi-cação de vários e diferen-tes tipos de sítios arqueo-lógicos que têm resultado na coleta de centenas de artefatos culturais, (fotos abaixo), produzidos e dei-xados pelas populações humanas que habitaram essa região em tempos pretéritos”, explica.

Ainda segundo a Co-ordenadora, “o pouco co-nhecimento levou os pesquisadores a se dedi-carem aos trabalhos de prospecções e resgates arqueológicos intensos, e os empreendimentos da Eletrobras Eletronorte possibilitaram condi-ções e visibilidade aos estudos no Tocantins. Mas, essencialmente, promoveram a memória dos sítios arqueológicos e, consequentemente, dos grupos pré-coloniais, motivados também pelo interesse em reforçar a própria identidade atual do povo tocantinense”, ressalta Antonia Custódia (acima).

Hidrelétricas – Nas áreas de influência de três usinas hidrelétricas construídas pela Eletrobras Eletronorte – Balbina, Samuel e Tucuruí – tam-bém foram desenvolvidos estudos e pesquisas arqueológicas noticiadas em nossas páginas.

Em, Balbina (AM), os trabalhos de campo foram realizados nos anos de 1987 e 1988, antes e durante a formação do lago formado pelo Rio Uatumã. Do potencial de sítios exis-tentes, 150 foram registrados in loco. A quase totalidade das coleções é de cerâmica oriunda principalmente de superfície, não sendo sufi-cientemente representativas as coleções de cortes estratigráficos. As coleções cerâmicas

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Descrições, coleções de superfícies, cortes estratigráficos e extensas trincheiras foram obtidas de vários sítios

somaram acima de 500 mil fragmentos e várias peças completas. Segundo as análises feitas à época, estão representadas três tradições. Os líticos somam vários milhares. Algumas amos-tras de carvão e dezenas de amostras de solo também coletadas.

Em Samuel (RO), os trabalhos de campo fo-ram realizados também em 1987 e 88. O Rio Jamari foi pesquisado ao longo de 260 km a montante e 70 km a jusante, em barcos a mo-tor e, pelas poucas trilhas e estradas existentes. Muitos sítios foram facilmente detectados de-vido à presença de terra preta, várias espécies de plantas úteis e outros indicadores arqueo-lógicos. Alguns desses sítios já eram conheci-dos, mas o tempo não permitiu verificar todos os indicados pelos habitantes do local. Embora 121 sítios fossem registrados, in loco, apenas um número reduzido de sítios foi escavado para amostragem.

Descrições, coleções de superfícies, cortes estratigráficos e extensas trincheiras foram obti-das de 101 sítios. Várias trincheiras foram aber-tas em alguns sítios, para o estudo da composi-ção arqueológica, como habitação e cemitério, e da formação de terra preta arqueológica e sua antropogênese, através da sucessão cultural das ocupações de pré-ceramistas e caçadores-coletores aos pré-ceramistas agricultores inci-pientes, aos ceramistas agrícolas, aos neobrasi-leiros e aos históricos.

Em Tucuruí (PA), os trabalhos de campo pa-trocinados pela Eletronorte foram executados por uma equipe do Museu Paraense Emílio Go-ledi, entre 1977 e 1978. As pesquisas se con-centraram no setor acima da cidade de Tucuruí a se represado pela barragem. Foram encontra-dos 28 sítios na região, um pouco jusante e a montante da cidade de Tucuruí até a corredeira de Itaboca, inclusive junto da antiga ferrovia Tucuruí-Jatobal e da estrada Tucuruí-Cametá.

O total de amostragem cerâmica é de cerca de 46 mil fragmentos, e os espécimes líticos ultra-passam 4,4 mil. As amostras de seis sítios foram

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muito pequenas ou muito erodidas para fornece-rem identificação confiável. Um sítio corresponde a uma aldeia Parakanã ocupada até 1920.

Arqueologia como ecologia - “Cada região é única e singular, podem se assemelhar, mas não se repetem: sucedem-se em ecótonos, ecótipos dos ecossistemas. E isso é válido do ponto de vista principalmente climático, que influencia o ambiente e por conseguinte o modo de ser de cada cultura humana”explica Eurico Miller.

Ele detalha o trabalho realizado nas hidrelé-tricas: “Em Tucuruí, conduzíamos a arqueologia como ecologia humana. Avaliando o resultado nos sítios pesquisados, sob esse ponto de vista, o dado mais significativo observado é o de que tanto os recursos aquáticos, quanto os de solo agricultável, estavam disponíveis e suficientes para a subsistência das aldeias. Esse fato corro-

bora para explicar a não-invasão territorial entre a cultura Tauá ao norte e a cultura Tucuruí ao sul, ao longo das corredeiras, durante toda a sua coexistência”.

“Em Balbina, dez anos depois, a arqueologia como ecologia humana, linha que praticamos, perscrutando a região, os acervos resgatados pelos arqueólogos, revelou que, apesar do solo ácido, com pouca produtividade agrícola, e das águas ácidas do Uatumã, foi justo aí que ocor-reu uma das maiores diversidades culturais de tradições ceramistas na Amazônia. Causa: os habitantes indígenas foram atraídos pelos inú-meros recursos aquáticos para a sua subsistên-cia, providos principalmente pela tartaruga, o pirarucu e o peixe-boi. A agricultura foi apenas complementar, contrariando o paradigma então vigente de que ‘o ambiente da tradição polícro-ma estaria restrito à várzea amazônica’, mais propícia para a agricultura”.

“Já em Samuel, ao tempo de Balbina, sob nossa coordenação, como ecologia humana, em campo e laboratório, os resultados revela-ram que também essa região guarda inúmeras surpresas sobre o modo de vida do homem

Eurico Miller, uma história de

dois mil sítios arqueológicos

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“Em Balbina, Samuel e Tucuruí, a arqueologia como ecologia humana”

Desde 1985, Eurico Miller (foto), arqueólogo da Eletro-bras Eletronorte participa das pesquisas e descobertas de sítios arqueológicos em áreas de construção de usinas hi-drelétricas e linhas de transmissão. “Comecei a fazer as pesquisas na Usina Hidrelétrica Samuel e, desde então, nunca mais parei. Durante esse período mais de dois mil sítios arqueológicos foram encontrados durante as minhas pesquisas, das mais diversas culturas. E toda essa história pode ser explicada nos fragmentos encontrados, onde está boa parte da cultura do nosso País”, conta.

Segundo Miller, “os sítios arqueológicos são, muitas ve-zes, as únicas fontes de acesso e pesquisa ao passado re-moto ou até mesmo o passado próximo. Infelizmente, com o passar dos anos, muitos dos fragmentos encontrados

foram perdidos, mas a maioria está guardada nos museus, universidades e institutos, que trabalham com a Empresa”.

Para Miller, o Brasil é um grande sítio arqueológico de di-ferentes períodos e com uma enorme variedade de vestígios materiais. Preservar os sítios arqueológicos é a única forma de conhecer a pré-história do País, a formação da identidade do povo brasileiro.

“Todas as peças arqueológicas têm a mesma importância, porque um fragmento pode dar uma série de informações. A cultura é uma colcha de retalhos. Um caco, por mais insig-nificante que seja, tem a sua importância. Nem uma ciência vem pronta, ela vai sendo aprimorada, e as informações obti-das com os salvamentos arqueológicos são essenciais para que conheçamos a nós mesmos”, conclui o arqueólogo.

autóctone. Segundo as evidências de pedra lascada desde seis metros de profundidade, os caçadores-coletores da cultura Itapipoca, nove mil anos atrás, já eram comuns. Os caçadores-coletores da cultura Massangana, na virada dos 5.200 anos atrás, surgem com a agricultura da mandioca, das terras pretas e das aldeias mais

antigas, até o presente, passando a ser caça-dores-agricultores, mas ainda sem cerâmica, a qual surge aos 2,6 mil anos atrás, com o nome de cultura Jamari”.

A história não terminará aí, e ficará muito mais intrigante se nos reportarmos ao levanta-mento arqueológico do aproveitamento hidrelé-trico Ji-Paraná. Lá, em 1986, a Eletronorte aju-dou a descobrir uma nova cultura, batizada em 2009 de Proto-Tupiguarani. Detalhe: a cerâmica pintada e corrugada Proto-Tupiguarani foi data-da pelo carbono-14 em 5.100 anos. Por essa época as pirâmides do Egito e do Perú (Caral) estavam sendo construídas, mas ainda não ti-nham cerâmica pintada.

É, o tempo não para, ele corre atrás da gente e a gente corre atrás dele. Sempre.

Colaborou Higor Sousa Silva

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César Fechine

A frase era dita num tom de brincadeira com o sotaque dos ascendentes libaneses, trocando o gênero do artigo: “a gente tem que fazer ‘o’ lojinha dar lucro”. Era assim, brincando, que Jorge Nassar Palmeira prevenia os colegas so-bre a necessidade de melhorar os processos produtivos, operacionais e financeiros da Ele-trobras Eletronorte para que a Empresa alcan-

çasse resultados positivos.A Eletrobras Eletronorte já foi

considerada uma Empresa de desenvolvimento regional, de fo-mento governamental, mas nos últimos anos a busca pelo resul-tado econômico-financeiro po-sitivo passou a ser fundamental no mapa estratégico empresarial. Quando assumiu a presidência da Empresa, em maio de 2008, Jorge Palmeira estabeleceu como uma das metas principais a busca do ‘azul contábil’.

Os resultados apareceriam dois anos depois. “Nós estávamos sempre no vermelho. A Eletro-norte, desde que foi criada, nunca deu lucro. Só no ano passado, pela primeira vez, a Em-

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presa apresentou lucro, sob a batuta de Jorge Palmeira”, declara o engenheiro Eduardo Celso Carramaschi (à esquerda), que conheceu Pal-meira no fim dos anos 1980, quando se co-meçou a difundir na Empresa os conceitos de produtividade e qualidade total.

Para alcançar o lucro, várias ações foram implantadas para resolver os problemas estru-turais da Eletrobras Eletronorte, tais como a ca-pitalização para o pagamento da dívida junto à Eletrobras; a transferência de ativos de transmissão abaixo de 230 kV, conforme prevê a legislação; a renegociação de contratos deficitários; a busca de novas fontes de financia-mentos e a diminuição dos custos operacionais.

Foi devido às gestões de Jorge Palmeira junto à Eletro-bras que a Empresa pôde al-cançar o lucro que ainda não se registrara na sua história, confirma Francisco Antônio Al-mendra (ao lado), que foi chefe do gabinete da Presidência na gestão de Palmeira. “Nos meus despachos diários, eu levava uma pasta com documentos para que ele assinasse. Quando a

Jorge Nassar Palmeira

Uma homenagem a

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Amigos e família:com eles Jorge cozinhava e cantava

pasta estava com poucos documentos, eu di-zia: “‘o’ lojinha hoje não faturou quase nada”. E ele respondia: “então se esforce para ‘o’ lojinha faturar algo mais”, recorda.

Engenharia - Nascido em Belém (PA), em 23 de março de 1957, Jorge Palmeira buscava desde criança entender a engenharia das coi-sas, ora desmontando os brinquedos da irmã, Nadgela, para saber como funcionavam, ora montando e soltando foguetes com os amigos do chamado Clube de Ciências. Os brinquedos da irmã nem sempre eram remontados correta-mente, o que a deixava brava, mas os foguetes subiam e desciam intactos.

Precoce, ingressou aos 16 anos na Uni-versidade Federal do Pará no curso de enge-nharia elétrica, época em que também aju-dava os pais, Geraldo e Ivanir, nos negócios familiares. Logo depois, montou sua própria empresa de projetos de sistemas eletrônicos e de telecomunicações. A colação de grau como engenheiro ocorreu em 1978, quando, numa comemoração familiar, conheceu Shir-ley, com quem viria a se casar no dia 23 de dezembro de 1980.

Três meses depois, começaria também o ca-samento, digamos, profissional. “Ele começou a trabalhar na Eletronorte no dia 10 de março de 1981, que é o dia do meu aniversário. Eu costumo dizer que foram quase 30 anos de ca-samento com o Jorge e de casamento com a Empresa”, declara a médica Shirley Josefa da Silva Palmeira.

Os frutos do casamento de Jorge e Shirley são Geraldo Manso Palmeira Neto, 24 anos, es-tudante de engenharia mecatrônica, e Mônica da Silva Nassar Palmeira, 21 anos, estudante de arquitetura.

Metodologias e melhorias - Jorge Palmeira

começou trabalhando na manutenção dos sis-temas de proteção e controle elétricos, tendo participado de todos os comissionamentos dos sistemas de transmissão da Usina Hidrelétri-ca Tucuruí. Apenas seis meses depois de ser contratado, assumiu a gerência do laboratório eletroeletrônico.

Entre os novos colegas de Empresa, fez ami-zades que se perpetuariam por toda a vida, como Joaquim Alves dos Santos e Waldomiro Machado. “Ele sempre se destacou na área operacional, nos treinamentos e no comando das equipes de campo”, lembra Joaquim.

Em 1988, Palmeira foi indicado para a coor-denação da Divisão Técnica e, no mesmo ano,

promovido à gerência da Regional do Pará. Al-gum tempo depois, em 1991, concluiria o mes-trado em engenharia elétrica.

O grande salto na carreira viria em 1995, com a indicação para o cargo de diretor de Produção e Comercialização. Em pouco tempo, Jorge Palmeira detectou a necessi-dade de diminuir os índices de falhas nos equipamentos, desligamentos e custos de manutenção e instituiu um grupo de traba-lho composto por engenheiros especialistas de todas as unidades da Empresa para estu-dar os problemas.

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Em 1997, após a realização de uma série de pesquisas, reuniões de trabalho, visitas téc-nicas a diversas empresas e participações em simpósios e seminários, decidiu-se pela ado-ção da metodologia de Manutenção Produtiva Total – TPM, efetivada pela Diretoria da Em-presa em 1998. É na gestão de Jorge Palmeira que a Empresa obtém a primeira premiação do Instituto Japonês de Manutenção da Planta

– JIPM (sigla em inglês). O Insti-tuto é a organização detentora da marca e quem faz as auditorias relativas à metodologia nas em-presas em todo o mundo.

De lá para cá, os resultados não param de aparecer, com a Empresa tendo obtido sete pre-miações, além da identificação e implementação de milhares de melhorias. “Todo esse trabalho começou sob a liderança dele que, como gerente da Regional do Pará, ficou responsável pela

Secretaria de Controle da Qualidade Total, quando começou a formação dos multiplica-dores”, relembra o assistente da Presidência, Antônio Carlos Faria de Paiva (acima). Ele co-menta que, por ter começado a trabalhar na produção, no ‘chão de fábrica’, Jorge Palmei-ra evoluiu conhecendo todas as instalações da Empresa.

Quando chegava à noite em casa, Jorge pe-gava livros para estudar ou ia fazer pesquisas no computador. “Ele era muito preocupado com o saber, buscava o conhecimento da cau-sa”, relata Shirley.

“O Jorge sempre teve uma competência extraordinária, era um homem extremamente motivado e motivador. E tinha determinação para melhorar os processos e as condições

de trabalho. Ele prestou excelentes serviços à Empresa, principalmente com relação ao TPM, e fez com que a Eletronorte fosse a primeira empresa no mundo a ter uma plan-ta de geração de energia elétrica a ganhar o Prêmio Excelência do JIPM”, acrescenta Almendra.

“A competência administrativa de Jorge Palmeira trouxe uma contribuição significativa para o crescimento da Eletronorte e estou cer-to de que a sua filosofia será transmitida para todos os empregados. Jorge Palmeira trouxe uma grande contribuição não só para a Eletro-norte, mas para todo o Setor Elétrico brasileiro. Eu penso que os seus esforços serão reconhe-cidos para sempre”, diz o professor Suzuki, au-ditor do JIPM (à esquer-da, com Jorge).

A aplicação da meto-dologia do TPM foi reto-mada em todas as uni-dades da Empresa após a posse, em 2008, de Palmeira como diretor-presidente. Ele também é coautor do livro Flexi-bilização Organizacional: aplicação de um modelo de produtividade total. Até o fim de 2010, a Usina Hidrelétrica Tucuruí deve participar de auditoria do JIPM e pode ser aprovada como a primeira unidade do setor elétrico mundial a conquistar o Prêmio Especial em TPM.

Honestidade - Zenon Pereira Leitão (acima) foi assistente de Jorge Palmeira na Diretoria de Produção e Comercialização. Ele revela que a determinação, competência e honestidade eram as principais características do então di-retor, que não recebia nenhum fornecedor ou interlocutor externo em audiência, visita ou al-moço sem contar com a presença de um dos seus assistentes. “Com isso, ele demonstrava que não basta ser honesto, é preciso mostrar que é honesto. E não dava margem para qual-quer tipo de assédio ou ilação. Um ponto mar-cante do Jorge foi sempre o cuidado e o zelo com o bem público”, afirma.

Palmeira era obstinado em evitar perdas, desperdício, e isso fazia parte do seu dia a dia. “Ele trouxe isso de família, das suas ori-gens. Quando íamos a um restaurante, por exemplo, ele não achava adequado desperdi-çar comida. E na Empresa, da mesma forma, combatia a sobra de material, a sujeira, era

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fascinado por instalações limpas, sinalizadas, com as máquinas funcionando direito”, re-memora Zenon.

Com o tempo, os empregados também sairiam ganhando ao trabalhar nestas condições. “Prova disso foram os ganhos obtidos com a implanta-ção do TPM, que tanto bem fez à Empresa e aos trabalhadores, que tiveram as suas habilidades e competências ampliadas”, opina Zenon.

Apesar de parecer duro, Palmeira era sensível no íntimo, quando as decisões en-volviam pessoas. “Ele dizia: ‘Zenon, eu estou sofrendo e tenho que tomar esta decisão logo, senão o coração vai falar mais alto’”. Entre as decisões difíceis, houve a demissão de em-pregado de uma Regional, que havia levado um poste da Empresa para a sua chácara particular. “Após rigorosa apuração, o colega foi demitido por justa causa. O Jorge não fazia concessões quanto à honestidade. Só quem o conhecia sabia o quanto lhe doía tomar este tipo de decisão. Eram princípios que ele trazia de berço, dos quais não abria mão. Eu apren-di muito com o Jorge, de quem me tornei um grande amigo.”

Para a secretária-executiva da Presidência da Eletrobras Eletronorte, Lucimar Viscovini (abaixo), Jorge Palmeira era um exemplo, tanto profissional, quanto pessoal, e uma de suas ca-racterísticas mais marcantes era o entusiasmo pela vida, pelo trabalho, pela família, pelos ami-gos e colegas. “Ele me ensinou que o significa-do da palavra entusiasmo é ‘ter o divino dentro de si’. E aprendi isso na prática, vendo o seu entusiasmo, persistência, obstinação.”

Numa viagem com a família, Jorge aca-bou pregando uma peça num guarda ro-doviário, mal-intencionado, ao parar numa blitz. Ele dirigia um veículo Besta (acima, à direita), mas não sabia que precisava de ha-bilitação especial. Depois de muita conversa, o guarda disse: “o senhor vai ali ao banhei-

ro, deixa alguma coisa para gente”. “E ele, honesto, achava um horror corromper, foi ao banheiro, pegou uma nota de um real, enro-lou e deixou, dizendo que era para o guarda aprender. E fomos embora. Quando chegou a Brasília, ele tirou a habilitação para dirigir aquele tipo de veículo”, conta Shirley.

Outro aspecto essencial da personalidade de Jorge Palmeira citado por quem o conhecia no íntimo era a fé que possuía em Nossa Senhora das Graças, também conhecida como Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. “Ele era uma pessoa espiritualizada, tinha muita fé em Nos-sa Senhora e nunca faltou ao Círio de Nazaré”, comenta Shirley (abaixo, com Jorge).

Família - Por força de suas obrigações, Jorge Palmeira viajava constantemente, mas dedicava especial atenção e carinho para com a família. “Não importava se ele passa-

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va a semana inteira trabalhando ou viajando, no sábado ele tinha que estar em casa com a família. Mesmo que no domingo precisasse viajar”, recorda Shirley.

Em casa, brincava com os filhos e os au-xiliava nas tarefas escolares. É claro que os brinquedos favoritos eram os elétricos e de circuitos eletrônicos. “Ele me dava aulas de física e matemática, era muito bom nisso. E dominava o inglês, francês e espanhol”, conta o filho Geraldo.

“Meu pai sempre foi meio meninão, gostava de jogar com a gente, de tocar violão e cantar. Quando éramos criança, íamos para a Disney

e esse era um dos seus programas favoritos”, lembra Mônica.

Cozinheiro de mão cheia, Jorge Palmeira preparava receitas de comida árabe, como quibe, charuto, homus, terrine. Fazia churras-co, bacalhau ao forno e uma receita especial que a filha adorava: pernil de porco ao molho de amoras.

Foi o pai quem ensinou os primeiros acordes de violão aos filhos, depois que eles compraram as cordas para o instrumento que vivia encosta-do num canto da casa. E depois que aprende-ram, não pararam mais, tocavam horas juntos.

O inseparável amigo Joaquim (à esquerda, com Jorge ao violão) sempre participava da cantoria. “Fale um autor, um cantor, ou uma canção, não importa, o que vier a gente canta”, lembra Joaquim, completando que Palmeira gostava de samba, MPB e entre os composito-res favoritos estava Ataulfo Alves.

“Os prazeres dele eram trabalhar, comer e cantar. Ele gostava muito de cozinhar, de reu-nir a família, os amigos, enfim, de animação. E isso fazia com que ficássemos juntos, era muito prazeroso”, lembra Shirley.

Doente de câncer, Jorge Palmeira trabalhou até o último dia. Faleceu em 10 de agosto de 2010, em Brasília. Ocupou múltiplas funções e teve uma vida intensa, assim como as canções de que tanto gostava, como a indefectível com-posição de Ataulfo: “leva meu samba... meu mensageiro... este recado... para o meu amor primeiro...”

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Na galeria dos Presidentes da Eletrobras Eletronorte

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A Eletrobras está estudando a entrada em novos negócios de geração e transmissão em parceria com os países vizinhos da América do Sul e buscando oportunidades de cresci-mento no mercado energético nacional, ao mesmo tempo em que trabalha a sustentabi-lidade empresarial. Uma dessas ações prevê a capitalização da Eletrobras Eletronorte em R$ 1,2 bilhão para investimentos em novos empreendimentos, informa Armando Casado de Araújo (acima, em apresentação na Api-mec), diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Eletrobras, que participou re-centemente de uma série de apresentações para entidades representativas do mercado de capitais. Confira este e outros assuntos nesta entrevista de Armando Casado, que é empre-gado de carreira da Empresa desde 1977.

Quanto a Eletrobras está investindo hoje na expansão dos sistemas elétricos?Na geração, os investimentos feitos hoje

pelas companhias controladas somam R$ 13 bilhões, que vão possibilitar a agregação ao sis-tema de 2.385 MW. Em parcerias, os investi-mentos em novos negócios passam de R$ 30,4 bilhões, que vão representar um aumento de 8.409 MW na capacidade instalada. Na trans-missão, os investimentos passam de R$ 10 bi-lhões e vão possibilitar a expansão de linhas em mais de oito mil quilômetros.

A empresa está satisfeita com os resultados da sua participação nos leilões de geração e transmissão? A Eletrobras está no mercado em igualda-

de de condições de disputar, ganhar, montar e operar novos negócios, quer seja corporati-vamente, quer seja em parceria. Nós temos a obrigação de cobrir o custo de capital próprio, que vai dar aos acionistas os dividendos reque-ridos. Na parte de governança, estamos pro-curando adotar um padrão de excelência para melhorar as questões estratégicas e operacio-nais da companhia. Nós estamos trabalhando para que sejamos a maior empresa produtora de energia elétrica limpa do Brasil até 2020.

Armando Casado de Araújo

Diretor Financeiro e de Relaçõescom Investidores da Eletrobras

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Recentemente, o governo criou novas regras para dar maior mobilidade e possibilitar a expansão da Eletrobras. Que resultados a empresa já alcançou?O processo de mudança do mercado foi fun-

damentado em quatro pressupostos básicos: instalação de um ambiente de competição, desverticalização das empresas elétricas, livre acesso às linhas de transmissão e a entrada da iniciativa privada nas atividades de geração, transmissão e distribuição, tendo como um dos principais objetivos obter recursos financeiros necessários para o aumento da produção. É nesse contexto que nós, do Sistema Eletrobras, nos inserimos, buscando em pé de igualdade ganhar em leilões negócios de geração e trans-missão. Temos tido êxito na busca de novos empreendimentos.

Como está o processo de capitalização da Eletrobrás? Quando, como e por que a capitalização será feita?Na prática, o processo de capitalização

já produziu os seus efeitos nas empresas, na medida em que converteu dívidas das compa-nhias em adiantamento para o futuro aumento de capital. Isto fez com que a Eletrobras Eletro-norte, por exemplo, que foi capitalizada em R$ 4,1 bilhões, passasse a dar lucro, uma vez que reduziu drasticamente as despesas financeiras de empréstimos e financiamentos. Outro im-pacto positivo para a Empresa decorrente des-sa capitalização, e, consequentemente, para a Eletrobras, foi o aproveitamento dos créditos tributários constituídos durante todo o período de prejuízos acumulados.

Que outros fatores possibilitam o lucro da Eletrobras pela primeira vez? Um conjunto de fatores possibilitou esse

resultado. Podemos citar, por exemplo, a re-pactuação de toda a dívida remanescente com a Eletrobras; o saneamento dos déficits sistemáticos que a Empresa vinha sofrendo com os sistemas isolados; a Lei 12.111, que corrigiu um déficit estrutural pelo qual a Em-presa não tinha gestão; a transferência dos ativos abaixo de 230 kV para as distribuidoras e a própria capitalização.

A participação em SPEs ajuda nesse resultado positivo? Quais os próximos passos?Quando os projetos das SPEs entrarem em

operação comercial irão aumentar os lucros da Eletrobras Eletronorte, fazendo com que os

dividendos pagos cheguem aos acionistas da Eletrobras. Daí emerge um círculo vicioso de re-sultados positivos, fazendo com que a holding possa alavancar recursos, tanto no mercado de dívidas, quanto no mercado de capitais, visan-do dar condições a novas expansões e contri-buindo de forma significativa para a agregação física do sistema elétrico brasileiro. Ainda resta resolver o problema do Amapá e a transferência da Eletrobras Distribuição Roraima, mas os pró-ximos passos agora vão ao caminho da melhoria da gestão. Para tanto, a Eletrobras concluiu em conjunto com suas empresas o Planejamento Estratégico do Sistema Eletrobras, para que possamos atuar de forma competitiva, rentável e integrada.

Explique um pouco mais as melhorias de gestão.Está em curso a elaboração do Plano de Ne-

gócio de cada empresa, focando a gestão de seus negócios de geração, transmissão e distri-buição, permeando os aspectos administrativo, econômico-financeiro, técnico e operacional. Outro instrumento de gestão relevante é o Contrato de Metas de Desem-penho Empresa-rial, que contém um conjunto de indicadores econômico-f i-nanceiros, ope-racionais e de sustentabilidade empresarial, com visão de cinco anos. Por fim, o or-çamento empresarial tão importante para o controle gerencial das contas da empresa.

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Em relação ao processo de internacionalização da Eletrobras, quanto a Empresa pretende investir fora do País? Como rebate as críticas de que o Brasil necessita de investimentos antes de a Eletrobras investir lá fora? A Eletrobras tem acompanhado o panorama

mundial da internacionalização das empre-sas do setor elétrico e seus reflexos no Brasil. Muitas outras empresas de outros países estão investindo no Brasil e em outras partes do mun-do, como AES, ISA, Iberdrola, E-ON, EDP, GDF Suez, Endesa, EDF. Nosso objetivo é entrar em negócios de geração e transmissão, prefe-rencialmente na América do Sul, Central e do Norte, com rentabilidade compatível com com-petidores internacionais versus oportunidade no mercado nacional, bem como construir no exterior uma plataforma sustentável de cresci-mento, com agregação de conhecimento e de-senvolvimento de competências. Dessa forma, os investimentos no exterior, quando vierem a ocorrer, não serão competitivos com os investi-mentos no Brasil. São operações complemen-tares que visam ao crescimento do Sistema Ele-trobras com o aumento da sua rentabilidade.

As distribuidoras de energia elétrica ainda são muito deficitárias. Quais os planos para recuperar estas empresas?Aqui também algumas medidas estruturais

estão em curso, como as interligações do Acre-Rondônia e Tucuruí- Macapá-Manaus, interli-gando as distribuidoras desses estados ao Sis-tema Interligado Nacional – SIN. Além disso, a Lei 12.111 irá reparar os mesmos problemas que a Eletrobras Eletronorte vinha sofrendo. No campo da gestão, medidas estão sendo imple-mentadas para melhorar o desempenho eco-nômico financeiro, visando alcançar os níveis

regulatórios exigidos pela Aneel. E estamos finalizando uma cap-

tação de US$ 500 milhões de dólares para implementação de tecnologias para melhoria da eficiência operacional e qualidade dos serviços.

O senhor é empregado de carreira da Eletrobras Eletronorte e hoje está à frente de uma das diretorias da Eletrobras. Que mensagem deixa aos nossos empregados? O Sistema Eletrobras conta com 27 mil em-

pregados. É uma força de trabalho e tanto. Se cada um fizer a sua parte, ou até mesmo algo mais, podemos pensar grande. Nessa entrevis-ta tive a oportunidade de deixar algumas men-sagens nas quais acredito. A Eletrobras é uma empresa que tem suas ações negociadas em todo o mundo via Bolsa de Valores de São Pau-lo, de Nova York e de Madrid. Além disso, tem investidores de títulos de dívidas em todas as praças de negociação do mundo. Todos estes acionistas e investidores conhecem nossas em-presas e cobram resultados. A transparência de nossas informações, a clareza dos nossos negócios, a rentabilidade de nossos investi-mentos, enfim, a governança corporativa e a sustentabilidade empresarial são fundamentais para a perpetuidade de nossas empresas, per-petuidade esta somente possível com a partici-pação de todos os colaboradores que compõe o Sistema Eletrobras.

E para os colegas da Eletrobras Eletronorte? Não posso perder a oportunidade de falar um

pouco da nossa Empresa, da qual sou emprega-do desde 1977. Durante muitos anos operamos no prejuízo em prol do desenvolvimento do Nor-te do País. Fomos gigantes diante dos desafios que nos deram. Assumimos parques térmicos em condições precárias, construímos Tucuruí e renegociamos os contratos com os consumido-res eletrointensivos. Contribuímos também para diminuir o racionamento de energia de 2001, bem como para o equacionamento dos proble-mas estruturais existentes nos sistemas isola-dos. Estudamos Belo Monte, que hoje é uma realidade. São apenas algumas lembranças. Na Eletrobras Eletronorte tenho muitos amigos dos quais partilho minha vida social. Digo tudo isto porque sei da capacidade da Empresa de enfrentar desafios. E temos um novo caminho pela frente, que é estar presente no mercado de energia em igualdade de condições com outros concorrentes, estatais e privados. Porém, dife-rentemente dos problemas enfrentados no pas-sado, o sucesso empresarial depende da adoção de boas práticas de governança, aumentando sua capacidade de geração e transmissão em negócios rentáveis. Um grande abraço a todos que fazem parte dessa grande Empresa.

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A energia da inovaçãoBrasil marca território em P&De recebe investimentos de multinacionais

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Michele Silveira

Multinacionais como a IBM e GE estão con-tratando centenas de engenheiros brasileiros para montagem de centros de pesquisa e tec-nologia em território brasileiro. Há alguns anos, boa parte dos brasileiros leria essa notícia como um provável cenário de ficção. Pois o futuro chegou. O ‘Brasil criança’ virou gente grande e estampa para o mundo sua capacidade da chamada P&D (pesquisa e desenvolvimento). Cerca de US$ 600 milhões serão investidos nos próximos três anos por empresas multinacio-nais que, de olho no pré-sal e no desenvolvi-mento econômico do País, começam a investir pesado na capacidade de pesquisa e inovação dos profissionais brasileiros.

Atualmente com oito centros de pesquisa no mundo, a IBM deve investir cerca de U$ 250 milhões no centro brasileiro que estará interli-gado com os demais laboratórios da empresa. O Brasil disputava a implantação do centro com o Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e com a Austrália. Cerca de 100 cientistas farão parte da equipe da IBM, que reúne hoje três mil cien-

tistas e engenheiros em seis países, incluindo pelo menos cinco prêmios Nobel.

Outra gigante que aposta na capacidade dos brasileiros é a GE. Em janeiro de 2010, o presidente mundial da General Electric, Je-ffrey Immelt, anunciou que sua empresa es-colheu o Brasil para a instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento. Com quatro unidades de pesquisa no mundo - Estados Unidos, Alemanha, China e Índia – a GE vai in-vestir US$ 150 milhões no centro brasileiro. A unidade será a primeira da empresa na Amé-rica Latina. Instalada no Brasil desde 1919, a GE tem hoje cerca de 2.500 pesquisadores que atuam nas áreas de saúde, tecnologia de geração de energia, motores de aeronaves e iluminação.

Além da IBM e GE, outras multinacionais como a Dow – do ramo de extração de petróleo e gás, construção civil e pesquisa de novos pro-dutos de higiene e limpeza; e a Schulumberger, gigante que atua com petróleo em 88 países, empregando quase 80 mil pessoas – também trazem ao Brasil seus novos centros de tecno-logia e pesquisa.

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Equipe comemora a inclusão entre as 20 empresas mais inovadoras do Brasil

Mas os investimentos em centros de tecnolo-gia no Brasil não vêm apenas da iniciativa priva-da. A Câmara dos Deputados analisa o projeto de Lei 7437/10, de autoria do Poder Executivo, que cria três órgãos na estrutura do Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT: o Centro de Tec-nologias Estratégicas do Nordeste, o Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal e o Instituto Nacional de Água. A proposta também transfe-re o Museu de Biologia Professor Mello Leitão do Instituto Brasileiro de Museus - Ibram para o MCT e altera sua denominação para Instituto Nacional da Mata Atlântica.

De acordo com o MCT, o Centro de Tecno-logias Estratégicas do Nordeste deverá realizar ações em áreas estratégicas para o desenvolvi-mento econômico e social da região. A proposta é que o centro atue como facilitador da forma-ção de redes temáticas de pesquisa a partir da identificação de oportunidades e necessidades locais, regionais e nacionais. Já o Instituto Na-cional de Pesquisa do Pantanal permitirá a instalação de infraestrutura que dará suporte a pesquisas no biossistema. O Instituto Nacio-nal de Águas terá a finalidade de implementar ações inovadoras na área de meio ambiente, com foco na preservação, geração de conhe-cimento e de novas tecnologias na utilização racional dos recursos hídricos.

Para o secretário de Desenvolvimento Tec-nológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Mota, a política de incen-

tivo à inovação do Ministério parte do fato que ela tem se constituído em fator decisivo para a competitividade das empresas e para garantia de um crescimento sustentável do País. Na li-nha defendida por Mota, “inovação compreen-de um produto ou processo novo, bem como a introdução de uma qualidade ou funcionalida-de inédita de um produto já existente”.

Mota explica que a inovação pode contribuir para o desenvolvimento social e econômico do País a partir do momento que viabiliza em-presas competitivas, gerando mais empregos e mais impostos de forma sustentável. “Não há perspectiva de desenvolvimento susten-tável sem a presença forte da inovação como elemento-chave nas empresas e na sociedade como um todo”, afirma.

A superintendente de Pesquisa e Desen-volvimento da Eletrobras Eletronorte, Neusa Maria Lobato Rodrigues, explica que para os economistas, a produção da riqueza de uma sociedade depende de inúmeros fatores. Para as teorias mais tradicionais da economia, a tec-nologia estabelece como esses fatores poderão ser combinados para a produção de bens e serviços.

“Para os modelos mais conhecidos de de-senvolvimento econômico, a tecnologia é um fator exógeno ao desenvolvimento, estando relacionado à simples e natural evolução dos mercados, que respondem ao crescimento da poupança e do investimento”, afirma Neu-

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sa, que defende o pensamento dos autores ‘schumpeterianos’, uma referência ao econo-mista austríaco Joseph Schumpeter, que dei-xou um grande legado de contribuições à eco-nomia no início do século XX. “Para a escola de pensamento schumpeteriana, tecnologia é a principal arma dos empresários e do próprio governo para a promoção de competitividade e progresso social. Nesse contexto, tem-se clara-mente a condição imperativa da inovação tec-nológica sustentável”, explica.

Prêmio - Mas não apenas as multinacionais apostam no mercado de P&D no País. Brasilei-ra desde sempre, a Eletrobras Eletronorte não perde tempo nem espaço quando o assunto é inovação. Ao lado de grandes grupos inter-nacionais, a Empresa figura pelo segundo ano consecutivo entre as 20 empresas mais inova-doras no Brasil, premiadas pela revista Época Negócios, em parceria com a consultoria A.T. Kearney, que promove o prêmio Best Innovator em 15 países europeus e nos Estados Unidos.

Ciência e tecnologia recebem atu-almente cerca de 1,3% do Produto Interno Bruto – PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil. Os dados são do Ministério da Ciência e Tecnologia e mostra o País respon-dendo por 2,7% da produção cien-tífica mundial, ocupando a 13ª posi-ção no ranking internacional.

De acordo com Ronaldo Mota (foto), secretário de Desenvolvimen-to Tecnológico e Inovação do MCT, com a Lei de Inovação, de 2004, e da Lei do Bem, de 2005, as empresas passaram a contar com instrumentos mais amplos e efetivos. “A subvenção econômica viabilizou a concessão de mais de R$ 2 bilhões não-reembol-sáveis para empresas realizarem inovação. Esse valor foi complementado por outros investimentos reembolsáveis da Financiadora de Estudos e Projetos - Finep e do Banco Na-cional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES a juros muito baixos”, explica.

Outra forma de financiamento é o Programa de Apoio à Pesquisa a Micro e Pequenas Empresas – Pappe-Sub-venção, que aporta recursos para empresas em opera-ção com parceiros estaduais. Existem hoje mais de trinta fundos de capital de risco com mais de R$ 3 bilhões para investir.

Ainda segundo Mota, em 2009, o Programa Primeira Empresa Inovadora – Prime concedeu subvenção econô-mica para 1.381 empresas por meio de parcerias com 17 incubadoras. Além disso, o Programa RHAE-Pesquisador na Empresa, por meio do Conselho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico - CNPq, concede bolsas para mestres e doutores atuarem nas empresas. Em 2008 e 2009 foram contempladas mais de 300 empresas, pos-sibilitando a inserção de 507 mestres e doutores, além de 550 técnicos para as equipes de trabalho.

Quem financia a inovação Já a Lei do Bem concede incentivos fiscais

para empresas que realizem atividades de ino-vação. Em 2006, 130 empresas declararam in-vestimentos de R$ 2,2 bilhões. Três anos depois, em 2009, 635 empresas investiram mais de R$ 9,1 bilhões. “O mais recente estímulo para ino-vação vem da Medida Provisória 495/2010 que altera a Lei 8.666 (licitações públicas), ao con-ceder a margem de preferência de até 25% nas licitações estatais às empresas que investem em inovação”, afirma Ronaldo Mota.

Mas ainda há muitos desafios. De acordo com um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, quase 80% das empre-sas brasileiras desconhecem os mecanismos de financiamento para apoio à inovação tecno-lógica ou as leis de incentivo fiscal para quem investe no setor, como é o caso das leis do Bem

e da Inovação. No Brasil, a maior parte dos investimentos no setor ainda é de recursos públicos. Segundo o IBGE, em 2008, o investimento nacional em pesquisa e desenvolvimento foi de R$ 32,7 bilhões, sendo 54% de recursos públicos.

Em outubro de 2010, a Finep lançou o primeiro Manual de Subvenção Econômica à Inovação, um normativo que contém informações sobre a visão geral do Programa, orientações ao cliente, diretrizes gerais e glossário. O público-alvo são empresá-rios com interesse em saber como funciona a subvenção e quais são as regras aplicáveis caso se tornem clientes.

Mota explica que, para fomentar a interação universidade-em-presa, o Governo Federal implantou o Sistema Brasileiro de Tec-nologia - Sibratec, formado por 56 redes de núcleos de pesquisa e desenvolvimento, sendo 14 redes de centros de inovação, 20 de serviços tecnológicos e 22 de extensão organizadas por es-tados. “Ainda há um longo caminho, mas passos importantes têm sido dados na direção correta. As empresas já incorporam a inovação em seus processos produtivos, tornando-se mais com-petitivas, lucrativas e em condições de conquistar novos merca-dos. O País começa a formar uma nova geração de empresários empreendedores em tecnologia”, comemora o Secretário.

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“Esse Prêmio é uma das formas de reco-nhecimento à nossa equipe que atua na área de pesquisa, desenvolvimento e inovação, que tem trabalhado com muita responsabilidade para aproximar a Empresa com indústrias, uni-versidades e outras entidades”, comemora o diretor de Produção e Comercialização da Em-presa, Wady Charone Junior. Segundo ele, essa equipe motiva a busca por soluções inovadoras na Empresa. “Acaba sendo uma verdadeira fonte acolhedora de sonhos que motivam todos a exporem ideias que, muitas vezes, precisam de um simples empurrão para serem colocadas em prática”, analisa.

Entregue durante uma cerimônia em setem-bro último, em São Paulo, o Prêmio reuniu as 20 selecionadas entre 120 companhias inscri-tas. Foram atribuídos destaques de excelência em relação aos pilares pesquisados: estratégia de inovação; organização e cultura; suporte à inovação; processos de inovação; resultados da inovação; e sustentabilidade. Os quesitos estra-tégia, organização e cultura e resultados da ino-vação tiveram pesos diferenciados no cálculo final, devido ao maior grau de relevância. Junto à Eletrobras Eletronorte estão na lista Whirlpool, Basf, Embraco, GVT, O Boticário, Vale, Rhodia, Dow, Even, Brasilata, White Martins, Totvs, Kim-berly-Clark , Procter & Gamble, IBM, Tecnisa, Telefônica, WEG e Ticket.

Uma das constatações dos jurados é que as companhias com as melhores práticas de inova-ção costumam envolver o quadro de funcionários para selecionar líderes dos projetos inovadores. Aqui, ponto novamente para a Eletrobras Eletro-norte. Desde 2002, a Empresa já investiu cerca de R$ 140 milhões em projetos de P&D, chegan-do a ultrapassar, em alguns anos, o limite mínimo de 1% da Receita Operacional Líquida estipula-do em Lei. Em 2006, por exemplo, o montante investido chegou a 1,7% (veja quadro).

Para Neusa Lobato, o envolvimento das equipes é um dos diferenciais da Empresa para a conquista do Prêmio. “Apostar nas equipes e no potencial de cada empregado é uma das ferramentas de um processo que inclui a deter-minação da Empresa de criar o Plano Diretor de Inovação Tecnológica e de manifestar no seu credo o compromisso com a inovação”, afirma a Superintendente. O credo empresarial da Ele-trobras Eletronorte traz nos Valores o compro-misso com “resultados, empreendedorismo e inovação, valorização e comprometimento das pessoas, ética e transparência”.

A Superintendente explica ainda que ou-tro dos diferenciais da Empresa está no fato

Dos processos de gestão à educação corporativa, a inovação não tem fronteiras na Eletrobras Eletronorte, premiada também pela Associação Nacional de Inova-ção, Trabalho e Educação Corporativa – Anitec, que sele-cionou projetos inovadores de educação corporativa du-rante a realização do I Congresso Nacional de Inovação, Trabalho e Educação Corporativa - Conitec, realizado em agosto de 2010.

A Empresa obteve o 1º lugar na categoria Inovação em Educação Corporativa. O trabalho inovador, inscrito pela Universidade Corporativa Eletronorte – Ucel, é fru-to de um projeto de P&D desenvolvido pela Diretoria de Comercialização e Produção em parceria com a Univer-sidade Federal do Pará – UFPA, denominado “Utilização de Realidade Virtual em Treinamento de Operadores e

Mantenedores na Usina Hidrelétrica Tucuruí”. O produto transforma as Ins-truções Técnicas de Ope-ração (ITO) e Manutenção (ITM) em Instruções Téc-nicas Virtuais.

A superintendente de Desenvolvimento e Educa-ção, Éden Brasília Damas-ceno (foto), explica que o ambiente de aprendiza-gem a distância está em constante evolução, para

atender às necessidades empresariais. “É o caso do tra-balho vencedor do Prêmio, que está em fase final e será disseminado a outras unidades da Empresa, demons-trando, mais uma vez, o avanço de nossa organização na utilização de tecnologias e metodologias em relação a outras organizações do setor”, explica.

Segundo Eden, a Empresa conta com uma exce-lente estrutura tecnológica que propicia um sistema multimídia de suporte às ações educacionais, tanto presenciais quanto a distância. “Essa estrutura envolve um moderno Centro de Desenvolvimento e Educação em Brasília, unidades descentralizadas com estrutura própria, além de uma rede de internet e intranet, um sistema de videoconferência, com espaço específico para sua utilização, além de cursos em uma TV Educa-tiva digital”, explica.

Educação corporativa também aposta na inovação

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de investir na cadeia completa de inovação tecnológica. “Não basta a ideia, é preciso também conhecer o processo, a perspecti-va de resultados, a aceitação do mercado”. A opinião de Neusa é referendada por Wady Charone: “Um dos fatores que levam à Eletro-bras Eletronorte a uma posição de destaque em inovação é a construção de processos. Não construímos uma cultura de inovação de um dia para outro. Hoje estamos construindo os processos que vão determinar a inovação como prática e, posteriormente, consolidar a chamada cultura da inovação entre a força de trabalho”.

Muiraquitã - Além dos investimentos em inovação tecnológica, outro grande diferencial da Empresa são os incentivos aos empregados

que desenvolvem produtos ou ações que pos-sibilitam a redução e a eliminação de custos. O Prêmio Muiraquitã é a menina dos olhos desse processo. Amuleto que guarda lendas e sorte na Amazônia, o muiraquitã na Eletronorte representa uma conquista para os chamados ‘inventores da Casa’. O objetivo do Prêmio Mui-raquitã de Inovação Tecnológica da Eletrobras Eletronorte é incentivar os colaboradores a re-alizarem melhorias e inovações nos seus pro-dutos e processos, alcançando uma dimensão econômica capaz de trazer retornos financeiros para a empresa. O resultado do Prêmio vem por meio da melhoria da qualidade dos produ-tos, redução de custos e ganhos de capacida-de e flexibilidade operativa, bem como outros aspectos ligados à segurança, padronização e impacto ambiental.

Reconhecida pelos méritos conquistados no programa TPM - Manutenção Produtiva Total, a Eletrobras Eletronorte começa a protagonizar um novo processo no prêmio con-cedido pelo Japan Institute of Plant Maintenance – JIPM, entidade responsável pela disseminação da metodologia adotada, há mais de dez anos pela Empresa, como princi-pal ferramenta de auxílio à gestão empresarial.

Especialista no assunto, o diretor de Comercialização e Produção da Eletrobras Eletronorte, Wady Charone Junior (foto), foi buscar na experiência cotidiana do TPM a iden-tificação de uma melhoria. Era preciso incluir os fatores de perspectiva futura da Empresa, e não apenas cenários pontuais. “Introduzi uma equação financeira dinâmica. Hoje trabalhamos com quanto temos de receita, quanto temos de despesa e o que fazer para melhorar o líqui-do. Para isso podemos estabelecer vários mecanismos para aumentar a receita ou reduzir despesas, num dado desejo daquele momento. Estabeleci a análise de como estaremos – com essa receita e essa despesa – daqui a seis anos. É um conceito dinâmico que vai impedir que decisões pontuais acabem prejudicando a Empresa”, ex-plica o diretor.

Entre os consultores a opinião foi a de que “a Eletrobras Eletronorte está lançando o TPM do Século XXI”. Outro fa-tor diferencial foi a inclusão da Sede da Empresa no rateio das despesas e receitas, já que era incluída apenas no ra-teio de custo. “Assim, temos uma única regra do jogo para todos”, afirma Charone.

É a inovação que gera inovação. Conceitualmente a ino-vação não se restringe apenas a um protótipo. E é aí que en-tra a inovação da gestão. Charone fala sobre o processo de transferência de conhecimento na Empresa: “Temos um pro-jeto antigo que agora está sendo concluído, que vai permitir a transferência de conhecimento aos empregados. Quando fazemos um treinamento, há situações que não podem ser simuladas além do papel. Pois agora poderão. Desenvolve-mos uma espécie de simulador que vai dar aos empregados em treinamento a possibilidade de simular as ações que deve realizar diante das situações de emergência e risco”, explica.

Segundo ele, a Empresa tem todas as condições para criar uma cultura de inovação porque está investindo no processo que pode consolidar essas práticas. “Não é um processo fá-cil, trabalhamos com pessoas das mais diversas áreas, com faixas etárias muito distintas, com sonhos e ideais diferentes. Daí a importância da criação de uma metodologia de gestão sistematizada. A Eletrobras Eletronorte tem muitas pessoas competentes que vestiram a camisa da inovação e que estão motivando outras. Nosso grande desafio é manter essa siste-mática que vai consolidar a nossa nova cultura de inovação”.

“Estamos lançando a metodologiaTPM do Século XXI”

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Engenheiros civis e

eletricistas: os engenheiros

da Amazônia

Depois de cinco anos de curso, Tucuruí recebeu os pri-meiros formandos de engenharia elétrica e engenharia civil da Universidade Federal do Pará – UFPA - Campus Tucuruí. Ao todo, 39 novos profissionais entram no mercado de tra-balho, graças à parceria firmada entra a UFPA e a Eletrobras Eletronorte, responsável pelos recursos e infraestrutura para a manutenção da instituição em Tucuruí.

A formatura contou com as presenças do presidente da Ele-trobras e patrono das turmas, José Antonio Muniz Lopes, do

Em Tucuruí, os primeiros formandos dos cursos de engenharia da UFPA

diretor-presidente da Eletrobras Eletronorte, Josias Matos de Araujo, e do reitor da UFPA, Carlos Edilson de Almeida Ma-neschy. Também prestigiaram o evento, os diretores Wady Charone Junior (Produção e Comercialização), Tito Cardoso (Gestão Corporativa) e Antonio Barra (Econômico-Finan-ceiro); o superintendente de Produção Hidráulica, Antonio Augusto Bechara Pardauil, como paraninfo da turma de en-genharia elétrica, e o prefeito de Tucuruí, Sancler Ferreira, como paraninfo dos formandos em engenharia civil.

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O Prêmio Muiraquitã abrange as categorias Produto (inovação nos bens e serviços produ-zidos) e Processo (inovação na forma como esses bens e serviços são produzidos). A cada edição podem ser inscritos projetos em duas modalidades: Inovações dos Colaboradores, em que são contempladas as inovações e me-lhorias realizadas por empregados do quadro efetivo da Empresa; e Projetos de P&D, da qual participam todos os gerentes de projetos de P&D do quadro efetivo. Todos os participantes do Prêmio Muiraquitã recebem troféus. Os con-templados nas faixas Ouro, Prata e Bronze das categorias Produto e Processo recebem, além dos respectivos troféus, uma bonificação finan-ceira. Até agora já foram premiadas 90 inova-ções, 45 projetos de P&D e 254 pessoas.

No Prêmio das 20 empresas mais inovado-ras o Prêmio Muiraquitã foi o diferencial es-colhido pela redação da Revista Época como destaque da Empresa. E não foi por acaso. “O Prêmio Muiraquitã simboliza todo o processo que estamos vivendo na Empresa. Ele revela os talentos, motiva novos projetos, reconhece a capacidade de pessoas de todas as áreas da Empresa, enfim, resume e revela o que há de melhor na nossa busca permanente pela inova-ção”, vibra Neusa.

Mesmo com um cenário crítico da ciência e tecnologia na Amazônia, região onde tem seus principais empreendimentos, a Eletrobras Ele-tronorte tem superado os desafios. Trocou a justificativa da falta de cursos pela realização de parcerias para implantar novos campi, como é o caso da UFPA em Tucuruí, que já formou a primeira turma de engenheiros (ver box). Outro desafio: número pequeno de alunos em mes-trado e doutorado devido à escassez de bolsas. Mais uma vez a Empresa aposta na inovação e na parceria com universidades e centros de pesquisa. Hoje são 700 pesquisadores envolvi-dos, instituições contratadas em 20 Estados, 54 laboratórios na Rede de Laboratórios do Sistema Eletrobras, além dos centros de treinamento.

Tudo isso faz a Eletrobras Eletronorte assumir, cada vez mais, a posição estratégica de única empresa do Setor Elétrico brasileiro entre as 20 mais inovadoras no Brasil. Em 1999, o cená-rio da Eletronorte era o seguinte: um pedido de depósito de patente, duas marcas arquivadas e um contrato de transferência. Cenário atual: 94 projetos concluídos, 111 produtos, 31 soluções de P&D; 90 inovações de colaboradores nas plantas e, em seis anos, o número de patentes passou de um para 39, deixando a Eletrobras Eletronorte como a segunda empresa energéti-

Dos 39 novos engenheiros, oito já são empregados da Empresa e trabalham em Tucuruí. Em seu dis-curso, Muniz Lopes anunciou a contratação de todos os outros formandos para trabalhar na construção de Usina Hidrelétrica Belo Monte, na SPE Norte Energia SA. “Essa é uma data histórica para vocês e para o Setor Elétrico brasileiro, pois estamos formando no-vos engenheiros que já sairão daqui contratados para trabalhar num dos maiores projetos dos próximos anos”, afirmou.

Investimentos - Além de formar menos da metade dos engenheiros de que precisa a cada ano, o Brasil tem de enfrentar ainda a disparidade entre a qualifi-cação obtida nas universidades e as necessidades das empresas que procuram um profissional. O meio de resolver o problema é o trabalho conjunto de universi-dades, empresas e governos.

Com essa visão, a Eletrobras Eletronorte já investiu cerca de R$ 5 milhões para garantir estudo de quali-dade e a formação de bons profissionais. Desde 2005, quando a Universidade se instalou em Tucuruí, o con-vênio firmado com a instituição no início do curso prevê investimentos da ordem de R$ 10 milhões até 2014.

Os recursos investidos contribuem para a manuten-ção do campus avançado no município; a contratação de professores para a complementação do quadro de docentes; compras de equipamentos para a montagem dos laboratórios técnicos; doação de livros para a for-mação da biblioteca e a reforma de alojamentos para alunos.

Somados a esses investimentos, a Empresa colo-cou à disposição dos alunos toda a sua infraestrutura tecnológica e de suporte educacional para a formação dos universitários. São visitas monitoradas nas áreas da hidrelétrica e cursos realizados no centro de treinamen-to. Também foi firmado um acordo para que os alunos possam cumprir as horas obrigatórias de estágio nas dependências da Empresa.

Atualmente, a Universidade está com 390 alunos frequentando regularmente os cursos de engenharia elétrica, civil e mecânica. Dentre eles, 45 são empre-gados da Eletrobras Eletronorte, que no dia a dia são beneficiados com a flexibilidade no horário de trabalho, como forma de apoio no estudo e desenvolvimento pro-fissional.

A estratégia adotada pela Empresa ainda incentiva a permanência dos profissionais na cidade, contribuindo para a manutenção da renda de muitas famílias, geran-do maior conhecimento científico e técnico, além de contribuir para a formação da cultura na comunidade.

Colaborou Marcelo Leite, da Regional de Produção Hidráulica - Tucuruí

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ca em número de pedidos de patentes. Com o Prêmio Muiraquitã, a Empresa transformou um investimento de R$ 599.759,37 em premiações numa economia de R$ 84.190.764,10 em cus-to total evitado. São números impressionantes. É o resultado da Empresa que soma os prêmios de melhor lugar para se trabalhar com o de mais inovadora. Assim, a inovação tem a cara de cada trabalhador. E a Eletrobras Eletronorte fica com a marca da inovação.

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Segunda-Feira, 16 de agosto:10h - Saímos de Brasília de manhã com destino a Belém. A viagem ocorreu

sem muitas novidades. Chegamos à Região Norte por volta de 13h. Às 17h pega-mos um avião regional, que pousou na primeira cidade, Altamira. Depois foi para Santarém e, por último, aterrissou em Itaituba, o nosso destino final. Itaituba é uma cidade pequena, com quase todos os recursos que nós temos aqui, embora o acesso, o tráfego e a pavimentação ainda sejam um pouco problemáticos.

20h30 – Enfim, chegamos. Tomamos um banho rápido e já fizemos uma reu-nião sobre os procedimentos do dia seguinte, cujo objetivo é percorrer um trecho do Rio Tapajós, um dos rios mais bonitos do Brasil, onde nós tínhamos que fazer inspeções e verificar como estava o andamento dos trabalhos de campo.

Terça-Feira, 17 de agosto:6h - Partimos em comboio de Itaituba pela rodovia Transamazônica, que nessa

época, apesar de não estar chovendo, é muito perigosa mesmo de dia. O perigo se esconde nas curvas e nas estreitas pontes de madeira. A quantidade de poeira também atrapalha, porque dificulta a visualização do caminho.

Cabelos grisalhos, bigode sobre os lábios e olhos de quem já viu muito do mundo. Essa é a imagem vista por aqueles que se deparam com o engenheiro Habib Sallum. Pai de um casal de filhos e casado há 31 anos, Sallum trabalha na Eletrobras Eletronorte desde 1987, lugar que apren-deu a amar. E a prova desse amor está nas incontáveis vezes em que dei-xa a família para se aventurar pelos rios da Amazônia para realizar o seu trabalho. Formado em engenharia cartográfica, o carioca de Nova Fribur-go, criado no Rio de Janeiro, fez parte de praticamente todos os estudos de inventário e viabilidade do qual a Empresa participou, o que lhe enche de orgulho. Ao ser perguntado a respeito do que mais gosta na profissão que escolheu, pensa um pouco e logo responde: “Eu tenho uma grande satisfação em trabalhar nessa área justamente pela possibilidade de con-viver com profissionais das mais variadas especialidades. Isso enriqueceu e enriquece muito meu conhecimento”. Confira alguns momentos vividos por Habib durante viagem para os estudos de viabilidade de empreendi-mentos hidrelétricos no Rio Tapajós. Leia o texto, siga as fotos.

Diário de habib Sallum

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8h - Chegamos numa localidade do interior chamada Buburé. A partir dali podíamos navegar a montante do rio, ou seja, pra cima dele. Nessa localidade, as pessoas vivem fundamentalmente em função do próprio Tapajós. É por ali que se locomovem e tiram o próprio sustento, que em geral vem da pesca. Uma coisa curiosa que se observa é que boa parte das casas, que ainda não têm luz, são abastecidas por geradores à base de óleo ou gasolina e em praticamente todas elas, mesmo nas bem humildes, vemos uma antena parabólica e uma televisão. Normalmente não existe geladeira ou outros equipamentos dessa ordem, mas uma televisão para assistir à novela das oito não falta. No trecho em que preten-díamos seguir, que ia de Buburé até a cidade de Itaituba, existem muitas corre-deiras que impossibilitam a navegação. Saímos de Buburé em dois barcos. Está-vamos eu, um geólogo, um hidrólogo e mais uma equipe de campo da Empresa, responsável pela execução desses trabalhos. Fomos avaliando a localização de onde seriam executados os serviços durante o percurso. É sempre difícil pra nós explicar a construção de um empreendimento para a população ribeirinha. Então, tentamos ter sempre muito cuidado nessas situações. Mas é sempre difícil, mes-mo essa não sendo a minha área. Outra dificuldade estava no rio. O Tapajós estava meio baixo, com o afloramento de rochas em vários locais. Essa situação tornou a navegação, mesmo em barcos pequenos e velozes como o que estávamos, muito perigosa. Só barqueiros experientes e conhecedores da região sabem qual é o canal mais profundo. Então, havia horas em que a gente estava na margem esquerda do rio, um rio que até quatro quilômetros de largura, às vezes até mais, e sem mais nem menos o barqueiro virava pra outra margem, quase em perpen-dicular ao próprio leito do rio. E assim ele ia fazendo, seguindo um canal que pra gente era até curioso. Não enxergávamos nada, ninguém sabia o porquê daquilo, mas ele seguia. Ia fazendo dessa forma até chegar ao nosso destino, que era uma localidade chamada Jatobá, onde estamos fazendo estudos de viabilidade para a implantação de uma usina. Ao mesmo tempo em que era perigoso, o baixo nível do rio também proporcionava uma paisagem muito bonita, inclusive com muitas praias. Praias de rio... Mas o curioso é que não tinha ninguém. Viajamos dezenas e dezenas de quilômetros sem ver uma alma viva. O índice populacional dali é muito pequeno. No decorrer desse trajeto, percebemos que a região estava com uma bruma ocasionada pelas queimadas e que permitia a visão de no máximo um quilômetro do caminho à nossa frente. Ao longe, víamos tudo opaco. Quase não distinguíamos as margens com nitidez. Levávamos equipamento de GPS para localização e orientação do lugar onde estávamos e pra onde iríamos e por isso acreditávamos ter certa segurança.

13h - Após umas cinco horas de barco, cansativas, chegamos ao local previsto. Ali fizemos nossas sondagens, nossas avaliações das margens, do próprio rio, da

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profundidade. Enfim, vários estudos decorrentes da avaliação. Por causa dessa bruma, o sol não aparecia muito. Ele ficava como se fosse uma imagem borrada, mas era muito quente. Quer dizer, os raios a gente não via muito claros, mas o calor era muito intenso. Como nós sempre usamos colete salva-vidas, a coisa fi-cou ainda pior. Isso causou um transtorno muito grande nessa viagem. Mas como estamos acostumados, fomos adiante.

17h30 - Chegamos a um local que dava acesso para a estrada. As viaturas para nos levar de volta à cidade de Itaituba já nos aguardavam ali. Voltamos por uma estradinha no meio da mata. Muito sinuosa, também cheia de subidas e descidas. Acho que essa estrada originalmente foi feita para dar acesso ao rio. Para dar apoio aos garimpos de ouro que existiam na região. Muitas das comu-nidades de lá também são resquícios dos garimpos da década de 1980. Até hoje existem garimpeiros na região, mas em menor quantidade que antigamente. A estrada por onde passamos, em época de chuva, se torna intransitável. Mas a estrada estava boa. Nós pegamos o carro e prosseguimos em retorno para Itaitu-ba. Pegamos a Transamazônica já no escuro. Ela é perigosíssima naquele trecho devido às muitas curvas sinuosas e os aclives e declives. Depois de certo tempo senti que o motorista, um colega que estava conduzindo, demonstrava cansaço. Me ofereci para pegar a direção. E logo de cara, na primeira descida, eu vi assim muito de repente uma ponte pequena. Tive alguma dificuldade para controlar o carro e acessar a ponte. Era uma ponte de madeira e que só passava um carro. Nessa hora, felizmente, não havia trânsito nenhum. Só cruzamos com um ônibus em sentido contrário e ultrapassamos outro carro que estava andando bem len-tamente. Fui dirigindo bem devagar, mas mesmo assim era susto a toda hora. O

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problema não era só a estrada. Tinha a bruma e também a poeira. Ela começou a colar ali no para-brisas e, em dado momento, acabou a água do limpador. Só sobrou um pequeno espaço pelo qual a gente podia enxergar, com a cabeça meio torta, a estrada à frente.

22h30 - Apesar de tudo, conseguimos, muito cansados, chegar ao hotel. Foi uma viagem muito interessante, muito cansativa, mas que para o nosso trabalho foi extremamente importante. Mas o outro colega, o hidrólogo, prosseguiu. Não voltou conosco para o hotel. Teve que levar rede de selva para pernoitar na mata. Levou alguns mantimentos também, como sempre levamos. No dia seguinte, percorreu mais um trecho de barco até a cidade de Jacareacanga, verificando os locais onde seriam feitas as medições. Chegando em Jacareacanga, uma cidadezinha peque-na, que inicialmente serviu de base para pousos de aviões militares, tentou achar algum hotel ou pousada. Mas naquela semana estava tendo o encontro de umas ONGs e populações ribeirinhas e ele não conseguiu vaga. Como havia levado a rede de selva, deu um jeito lá e dormiu nela mesmo. Voltou no dia seguinte, de carro, num trajeto parecido ao que fizemos, só que bem mais longo. Sua única sorte foi ter vindo de dia. Chegamos todos bem. Apesar de tudo, gosto de fazer essas viagens. Eu, particularmente, acho a própria região diferente. Especialmente pra quem tá acostumado com horário marcado, com telefone, com cafezinho, com tudo certi-nho e organizado. Nessas viagens, nós não temos horário. E a paisagem da região amazônica é maravilhosa! O rio, o passeio, as pessoas... A cultura é completamente diferente da nossa. O povo é muito bom, muito acolhedor e esses contatos são mui-to interessantes pra mim, além de essenciais pra nós da Empresa. O contato com as pessoas da região é importante porque nós sempre precisamos de apoio da po-pulação local. Em geral, contratamos auxiliares, barqueiros, motoristas. E tudo isso é feito realmente com o pessoal da região. Não faz sentido levar alguém de fora para essas atividades. Nas regiões que visitamos também sempre existem controvérsias relacionadas à instalação de uma usina. Alguns moradores acabam sendo contra, muitos levados por líderes religiosos, políticos ou ONGs. Mas outros, sabendo da importância para o desenvolvimento da região, ou da possibilidade de geração de emprego, são a favor. Então, a gente sempre busca um entendimento, um escla-recimento, de forma a desenvolver o melhor trabalho possível. Viajar para a região amazônica sempre é uma novidade. Sempre é diferente. Eu sinto, quando vou a uma viagem dessas, apesar do cansaço, como se fosse uma viagem de férias. É um passeio, um relax. Me sinto cansado fisicamente, mas mentalmente é um paraíso.

Quarta-Feira, 18 de agosto: 10h - Não houve muitos contratempos na volta para casa. Pegamos um avião

em Itaituba e ele foi fazendo escala em Santarém, depois em Altamira e poste-

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riormente em Belém. De lá, fizemos o traslado para outro avião de carreira direto, com destino a Brasília. Nossas viagens para esses lugares sempre são assim: nós sabemos como começa, mas nunca como termina. Sempre tem algum impre-visto. Já passei por situações incríveis. Já fiquei no meio do Rio Araguari em um barco quebrado e só conseguimos voltar pra casa graças a um garimpeiro que encontramos e tinha um barco para nos emprestar; passei por sustos com aviões e helicópteros; ameaças de pessoas das regiões onde vamos fazer nosso trabalho; estradas perigosas e mal sinalizadas. Enfim, já até sofri um enfarto no meio dessas viagens, coisa que eu jamais imaginei que pudesse acontecer. Marabá, a cidade onde eu estava, não tinha recursos de UTI e contava com apenas cinco médicos cardiologistas que não conseguiam ser encontrados. Me deram os remédios de praxe e tive que esperar cerca de dez horas para ser atendido por um cardiologis-ta em uma clínica com poucos recursos. Ao fim da tarde, chegou um avião UTI providenciado pela Eletronorte e me trouxe para Brasília. Cheguei aqui de noite e, felizmente, não tive nenhuma sequela. Mas serviu como um divisor de águas na minha vida. Porque eu sempre fui muito estressado, muito preocupado e agora tento olhar a vida de outra forma. Hoje eu já não penso mais em fazer tantas des-sas aventuras, embora eu gostasse muito. A gente, gradativamente, vai passando isso para os novatos, que estão com mais fôlego. Mas não é só aventura e perigo. Têm também coisas bonitas. Uma vez eu estava novamente no Rio Araguari, no Amapá, e lá havia muitos beija-flores. Nós vínhamos com a voadeira ali pelo rio e à nossa frente estavam quatro ou cinco deles, como se fossem batedores. Uma das coisas mais bonitas que eu já vi em campo. Na Amazônia, é tudo muito especial.

Colaborou Camila Maia

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o “Prezados Alexandre e Isabel, nossos parabéns pela exce-lente edição da revista Corrente Contínua. Vocês conseguem o feito de se superarem a cada número e a revista fica cada vez melhor! Muito bem dosada, apresenta um pouco de nossa história, como é o caso da matéria intitulada ‘Poraquê, a usina flutuante’, e apresenta as atuais realizações da Empresa, como é o caso da re-portagem ‘Investimentos públicos e privados garantem a expansão do Setor Elétrico brasileiro’”.

Fernando José Martins Renno - Escritório de Representação de São Paulo - São Paulo - SP

“Obrigado à equipe da Corrente Contínua pela lembrança, o navio Poraquê também deixou para mim recordações, pois trabalhei nele durante uma semana, fazendo inventário das peças antes que ele fosse afundado em frente à cidade de Cametá. Éramos dois, o capitão Torres, de Brasília, e eu, de Belém. Foram sete longos dias dentro do navio, fazendo inventário de todas as peças existentes, porém, foi gratificante”.

Nilo do Nascimento Sena - Gerência de Obras do Pará/Amapá - Belém - PA

“Prezado Alexandre, meu nome é Frederico Cesarino e sou engenheiro da Eletro-bras Amazonas Energia. Desde 2007, em conjunto com a Eletronorte, trabalho na recuperação da Usina Termelétrica Electron, e desde 2009 gerencio a unidade, a qual já está em operação com 60 MW. Uma vez que a UTE Electron também serviu como usina bélica, tal qual a Poraquê, aliado ao fato de eu me interessar muito em história bélica, procurei levantar todos os registros possíveis sobre a Usina Electron para então poder fazer um pequeno relato histórico. Para tanto, tive a oportuni-dade de visitar o fabricante nos Estados Unidos, além de ter entrevistado muitos profissionais que trabalharam na unidade desde 1973. Mas, como verifiquei, algo semelhante foi publicado na última edição da revista Corrente Contínua, para deslumbre de muitos profissionais os quais serviram na Poraquê em Manaus. Gostaria, portanto, de saber se é de vosso interesse a realização de reportagem semelhante, relacionada à UTE Flutuante Electron. Com sinceridade, esperamos que sim”.

Frederico Cesarino - UTE Electron - Manaus - AM

“Parabéns pelos 33 anos da revista Corrente Contí-nua e pela ideia de releitura de temas já publicados. A reportagem do Byron de Quevedo sobre o ‘Poraquê’ está sensacional e, como ecologista de carteirinha, não poderia deixar de elogiar as reportagens ‘Educação ambiental sobre rodas’ e ‘Agenda ambiental A3P’, temas da edição 233”.

Wagner dos Santos Teixeira Brodinha - Gerência de Análise de Riscos - Brasília - DF

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“Barca de Mãe Joana...Minha alma está feliz, repletaTem nela cachorro, mala véia, peixe, cuia, bicicletaMulher, menino, marmanjo, velhoTarde, noite, manhã e suruanãLevo o povo a tagarelar destinos entre rios e cançõesSer gentil dá nisso: sempre cabe alguém bacanaMeu coração virou barca de Mãe JoanaRemar na contramão da ilusão tem condição?... Semanas nesse casco Mãe JoanaParando ali e acolá sou grato ao vê-los partir,Sou grato ao vê-los voltarPrefiro-os aqui que a solidão daquele caisTalvez trovões, raios, tempestade... Vendavais!Venha nos trazer, em plenas águas profundas, o escarcéuDeus quer, segue-se em paz, sem praguejarPra que brigar com as coisas lá do céu...”

Texto: Byron de QuevedoFoto: Rony Ramos

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