Cortesia Blog do QUEMEL -  · auxilia o atirador de elite), é um dos primeiros a deixar o seu...

12
Batismo de fogo Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

Transcript of Cortesia Blog do QUEMEL -  · auxilia o atirador de elite), é um dos primeiros a deixar o seu...

Batismo de fogo

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

21

A madrugada é de tensão na Base General Bacellar, insta-

lada em uma universidade desativada de Porto Príncipe que

abriga parte do contingente brasileiro na Missão das Nações

Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). Os vinte

homens que integram o Destacamento de Operações de Paz

(DOPaz), a tropa de elite do Exército do Brasil, não conseguem

dormir às vésperas da primeira grande operação preparada

para desarticular uma importante gangue de Cité Soleil, a

região mais violenta do país.

Preocupações com logística — como testar os aparelhos

de comunicação, armazenar a munição reserva e decorar

posições — impedem que o sono venha. Alguns militares

vestem o colete à prova de balas, enquanto outros ajeitam o

radiotransmissor no capacete azul ou acoplam a lanterna ao

fuzil de assalto M-4. Versão moderna do fuzil M-16, utilizado

desde a Guerra do Vietnã pelos melhores exércitos do mundo,

a arma foi desenvolvida especialmente para o conflito urbano

com o objetivo de minimizar os efeitos colaterais — como são

denominados os civis mortos e feridos em confrontos.

Formado exclusivamente por soldados dos tipos Coman-

dos e Forças Especiais (os FE), unidades preparadas para a

guerra nos mais diversos ambientes, o DOPaz é coordenado

por quatro capitães, e a eles estão subordinados 16 praças

— seis sargentos e dez cabos e soldados, especialistas em de-

molições, comunicação, tiro técnico e armamento. O grupo,

oriundo da Brigada de Operações Especiais, sediada em Goiâ-

nia, foi criado no início de 2006 para atuar com liberdade tática

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

22

total, respondendo de forma rápida e autônoma a ameaças e

problemas que viessem a surgir durante a missão de paz. No

Haiti, o DOPaz é sempre o primeiro a agir nas operações de

combate pesado contra os grupos armados e tem como lema

cumprir “qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora

e de qualquer maneira”.

O destacamento teoricamente não existe na estrutura or-

ganizacional do batalhão brasileiro no Haiti e nunca é citado

em documentos oficiais do Exército e da ONU. O grupo só

aparece em relatórios sigilosos sobre as operações e de forma

genérica. Poucos sabem da existência do DOPaz ou conhecem

a identidade de seus integrantes.

São três horas da madrugada do dia 22 de dezembro de

2006. Os militares aguardam a ordem para o início da Ope-

ração Natal Pacífico, que tem como objetivo prender Pierre

Belony Emalise, líder criminoso de 27 anos que domina Bois

Neuf e Drouillard, duas das 34 regiões de Cité Soleil. Ambas

são consideradas pela imprensa indústrias de cativeiros em

série.

Como a ação é de alta periculosidade, o coronel Kid Bleu,

comandante do 6o contingente brasileiro na Minustah, deter-

mina que o Destacamento de Operações Sociais e Psicológicas

de Paz (DOSPaz), chefiado pelo capitão Mancha Negra e for-

mado por mais sete militares Comandos e Forças Especiais,

passe a integrar o DOPaz.

Com o cronograma da operação em mãos, o capitão Kid

Preto, comandante do DOPaz, reúne todos para acertar os úl-

timos detalhes: os relógios são sincronizados, senhas e códigos

combinados e, pela última vez, a ação é ensaiada. Uma hora

depois, os Urutus — veículos blindados brasileiros — deixam

a Base General Bacellar com os 28 militares a bordo. No Haiti,

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

23

os veículos trocam a camuflagem pela pintura branca. Na late-

ral, em preto, destaca-se a insígnia UN (ONU em inglês). Para

não fazer barulho, eles se locomovem lentamente pelas vielas

imundas e escuras. Na entrada da rua Impasse Chavanne, no

coração da favela Drouillard, encontram a equipe de Coman-

dos Anfíbios, tropa especializada da Marinha brasileira que

os apoiará no confronto.

Ciente do poderio bélico dos bandidos e de que é ques-

tão de honra o resgate de um veículo de combate uruguaio

que fora capturado na noite anterior pela gangue de Pierre

Belony, o coronel Kid Bleu autoriza o emprego de armas de

alta destruição contra edificações ocupadas pelos crimino-

sos. A missão deve ser cumprida antes do Natal, segundo

ordem emitida pelo representante da ONU no Haiti, o em-

baixador guatemalteco Edmond Mulet. E a qualquer preço.

A decisão tem fundo político. A comunidade internacional,

que em 2004 acordara o envio da força de paz quando uma

onda de protestos provocou a queda do então presidente

Jean-Bertrand Aristide, exige uma ação contundente contra

a insegurança crônica em Cité Soleil, considerado um reduto

do crime.

Depois de um período de relativa tranquilidade, que se

seguiu à volta ao poder de René Préval cerca de um ano antes

da operação, o terror voltou à rotina haitiana e a imprensa

local apelida os capacetes azuis de “turistas”, considerando-

-os fracos e inativos diante do caos que se reinstalara no país.

Comércio, bancos e embaixadas fecham as portas às 16 horas,

para que funcionários possam chegar em casa antes do pôr

do sol. As aulas são suspensas temporariamente. Crianças e

adolescentes são encontrados mortos junto a montanhas de

lixo e dutos de esgoto, pois os familiares não têm dinheiro

para pagar o resgate exigido pelos sequestradores.

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

24

Afirmando ter aberto mão da soberania do país ao acei-

tar uma intervenção internacional, parlamentares haitianos

exigem da ONU uma demonstração de força frente aos atos

de terror perpetuados pelos grupos armados. É necessário

mostrar quem controla a situação. Algo tem de ser feito com

urgência.

“Kid Preto, aqui é Kid Bleu. Ordem concedida para avançar

e tomar as casas dominadas pelos bandidos. A missão deve ser

cumprida, custe o que custar, e sem baixas”, informa o coronel

brasileiro, pelo rádio, ao comandante do DOPaz, utilizando

seus codinomes.

Todos os militares brasileiros que integram a missão de

paz possuem codinomes, espécie de siglas ou apelidos usados

individualmente para que não sejam identificados no rádio

por seus nomes verdadeiros, colocando em risco a vida e o

sigilo das operações.

“Missão dada é missão cumprida!”, responde Kid Pre-

to, dentro de um blindado que já está no interior da favela,

pronto para iniciar a operação. Kid Preto é tradicionalmente

o codinome utilizado pelo militar Forças Especiais de maior

comando nas operações do Exército brasileiro.

“Bodão e Mancha Negra. Aqui é Kid Preto falando. Avan-

çar!”, ordena ele ao subcomandante do DOPaz e ao colega do

DOSPaz, que estão em outros blindados coordenando subgru-

pos de combate. Às 5h10, em uma encruzilhada na entrada

do bairro de Bois Neuf, próximo à casa do líder criminoso

Pierre Belony, alguns militares começam a atirar em alvos

previamente estabelecidos: construções nas quais os bandidos

se refugiam e de onde sempre atacam os brasileiros.

Com a ordem de Kid Preto, o primeiro Urutu liga o

motor e o capitão Mancha Negra faz o sinal da cruz. Como

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

25

não há outros operadores de metralhadora MAG disponíveis

no seu veículo, ele assume a função. De fabricação belga, as

MAG de calibre 7.62mm são pesadas e possuem cadência

de até mil tiros por minuto. O oficial é o primeiro na linha

de frente e deve responder rapidamente caso os brasileiros

sejam alvejados.

“Podem mandar bala!”, avisam Bodão e Mancha Negra,

pelo rádio, aos comandados. Com uma espécie de bazuca,

começam a ser disparadas as AT-4 — bombas usadas contra

tanques e construções —, a uma velocidade de 285 metros por

segundo, atingindo imediatamente alvos a até 2 quilômetros

de distância. A gangue de Pierre Belony revida com tiros de

fuzis e metralhadoras. O confronto é intenso.

“Alvorada, bando de vagabundo!”, grita Assombroso, que

é o mais experiente atirador de elite do DOPaz.

No mesmo blindado de Assombroso está o capitão Bra-

gaia, o terceiro na hierarquia de comando do DOPaz, atrás

de Kid Preto e Bodão. O oficial usa um fuzil Barret .50 que,

com balas traçantes, é capaz de acertar um alvo a até 1.500

metros. O capitão sabe do poder que tem em mãos e é caute-

loso: com a arma é possível derrubar um helicóptero ou até

mesmo um avião de pequeno porte. Durante o lançamento, as

chamas dos disparos queimam o braço de Bragaia. O barulho

é ensurdecedor.

Ao som dos estopins de tiros colidindo contra os Urutus, os

militares desembarcam. Antes de dividirem-se para invadir as

casas dos bandidos, gritam: “Comandos!” É o grito de guerra

do curso de Comandos do Exército, cujo lema é “o máximo

de confusão, morte e destruição nas retaguardas profundas

do inimigo”.

“Me dá cobertura!”, grita Bragaia para um atirador que

está em um blindado entrincheirado logo atrás, para que

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

26

ele use a metralhadora MAG enquanto os componentes da

tropa de elite do Exército e da Marinha saiam dos carros

com segurança.

Na sequência, cada grupo corre na direção da construção

que lhe cabe invadir: quando um soldado avança entre 5 e 10

metros, outros dão cobertura. A mira do fuzil acompanha o

olhar. Neste momento, qualquer deslize pode custar uma vida.

“Só se atira no que se vê, seguindo as regras de engajamento”,

lembra Kid Preto pelo rádio.

Com outros sete homens, os capitães Mancha Negra, Bo-

dão e Bragaia invadem uma casa azul de dois andares, onde

funcionava uma escola adventista. Em meio à troca de tiros,

um repórter de uma agência internacional, usando colete à

prova de balas e com o microfone em mãos, tenta entrevistar

o comandante do DOSPaz.

“Ô rapaz... Sai daí agora! Quer morrer?”, se exalta Mancha

Negra.

Minutos depois, uma rajada de tiros passa raspando pela

cabeça do oficial, despedaçando tijolos de uma mureta de

concreto a seu lado. Procurando a procedência dos disparos,

ele olha por meio de paredes quebradas ao seu redor e vê, pelas

frestas, dezenas de criminosos correndo. Alguns usam toucas

ninjas, outros têm o rosto pintado com tinta preta sobreposta

por listras brancas.

“Tem um cara ali naquele beco. Olho nele, olho nele!”,

alerta Mancha Negra para Bodão.

O subcomandante do DOPaz faz a mira no bandido,

mas desvia o olhar ao ouvir um barulho ao seu lado. Bragaia

também se assusta. Na tentativa de se abrigar do tiroteio, o

sargento Tatu cai em uma fossa, não percebendo o buraco

enquanto corria. Apesar da tensão do momento, os militares

dão algumas risadas.

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

27

“Avança, Tatu! Avança! Rápido, pode ir até aquela laje que

te dou cobertura”, grita Mancha Negra, preocupado com o

companheiro. Atolado no bueiro, coberto de sujeira e fezes,

Tatu é resgatado pelos colegas.

Do outro lado da rua, cabe ao subgrupo de Kid Preto a

tarefa de conquistar uma casa amarela de dois andares. Para

não deixar o DOPaz sem comando, Kid Preto e Bodão nunca

estão no mesmo lugar: se um vier a morrer, o outro assume

o destacamento. O cabo Biscuit, um spotter (observador que

auxilia o atirador de elite), é um dos primeiros a deixar o seu

blindado com a missão de fixar uma carga de explosivos na

porta da construção. A dobradiça está enferrujada e ele de-

mora mais de cinco minutos para colar os detonadores com

fita adesiva.

“Vamos, Biscuit, arma logo esta merda! Ou você quer

voltar no saco preto para o Brasil?”, grita Kid Preto.

Neste momento, dezenas de tiros alvejam as paredes da

casa, atingindo tijolos a menos de 5 centímetros das mãos

que carregam a carga de explosivos. Kid Preto percebe uma

pequena lâmpada acesa bem em frente à residência e acima

da cabeça de Biscuit. A luz expõe o spotter, deixando-o ner-

voso e dificultando a conclusão da tarefa. Kid Preto atira na

lâmpada. A porta explode e o DOPaz avança rapidamente.

Estrategicamente posicionados, os militares começam a atirar

na gangue de Pierre Belony, que, por sua vez, busca alvejar os

capacetes azuis.

Um atirador de elite brasileiro, previamente posicionado

sobre a laje de uma casa localizada em frente à favela, avista

um haitiano que se prepara para disparar. Antecipando-se,

acerta-o primeiro. Desde a criação da Minustah, em todas

as operações, o Exército posiciona os atiradores de elite —

chamados de “caçadores” — nos locais mais altos. Com uma

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

28

visão privilegiada, eles podem advertir os companheiros que

se encontram no chão ou eliminar inimigos. A tática já salvou

a vida de muitos soldados no Haiti e nenhum comandante

dá-se ao luxo de abrir mão dela.

Ao ver o fuzil do criminoso no chão, uma mulher mu-

lata corre em direção à arma. Soltos, os cabelos cacheados

balançam conforme seus passos, despertando a atenção do

atirador, que a segue com a mira. Temeroso e buscando evitar

que a jovem alcance o fuzil, o sargento dispara próximo a ela.

Assustada, ela para. Observa ao redor, tentando descobrir a

procedência do disparo. Joga-se no chão e continua a enga-

tinhar em direção ao fuzil, estendendo o braço direito para

pegá-lo. Atento à ação, o atirador dispara mais uma vez, acer-

tando a mão da haitiana, que mesmo assim não recua e tenta

novamente agarrar a arma. Um último tiro elimina a ameaça.

O caçador está cumprindo as regras de engajamento, que

determinam o emprego da força na missão de paz e autorizam

os militares a atirar sempre que funcionários da ONU ou a

população estejam em “situações de risco, ameaça ou intenção

de ato hostil”. Segundo o documento confidencial que define

a conduta das tropas da Minustah, “o emprego da força deve

ser pautado pela proporcionalidade”, mas pode ser aplicado

“contra pessoas ou grupos que limitem a liberdade de movi-

mento” de civis ou militares.

Na verdade, o texto que determina as regras de engaja-

mento explicita que a tropa possui carta branca para disparar

também quando não há risco iminente, durante operações,

como a Natal Pacífico, destinadas a conquistar áreas domina-

das pelos criminosos e matando, se preciso for. A Minustah

está embasada no Capítulo VII da Carta da ONU, o que a

define como uma missão de “imposição da paz”.

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

29

O termo “regras de engajamento” surgiu quando a Força

Tigre — unidade de elite formada por Forças Especiais do Exér-

cito dos Estados Unidos — atuou na Guerra do Vietnã, entre

1959 e 1975. Historiadores relatam, porém, que as normas que

proibiam, entre outros atos, o assassinato de civis desarmados,

tiveram aplicação relativizada no campo de batalha. Os soldados

alegavam que desconheciam o terreno e o inimigo e que, por

isso, usavam a força mesmo quando, em tese, não era necessário.

Em frente à casa amarela conquistada por Kid Preto, em

uma igreja cujas paredes agora estão perfuradas por balas,

atiradores de elite do DOPaz posicionam-se em lugares pre-

viamente determinados. Assombroso é um deles. Caçador há

vinte anos — um dos melhores do Exército —, ele considera

a profissão uma “vocação”.

Com olhar clínico, Assombroso avista um grupo de 15

criminosos que, armados e disparando, correm em direção à

igreja onde ele está. Coloca o dedo no gatilho e percebe que

sua posição não é nada boa.

“Bodão, eu não fico neste lugar, não. Vou morrer aqui!”,

diz, já sob tiros.

Assombroso corre para o canto esquerdo da igreja “man-

dando fogo”, como ele mesmo diz. O caçador foca-se em um

corredor que o grupo de Mancha Negra e Bodão acabou de

ocupar. Ele não se mexe, nem mesmo pisca. Na primeira vez

em que um suspeito coloca o rosto para fora de uma porta,

observando o movimento, o atirador posiciona o fuzil M-24

sobre uma mureta e prende a respiração. Silêncio. O olhar se

fixa. O vento forte joga terra em seu rosto. Sorte estar usando

os óculos de proteção, que permitem visão noturna.

Assombroso é paciente. Na segunda vez em que o haitiano,

armado, verifica se pode seguir adiante, o caçador tenta adivi-

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

30

nhar os pensamentos do criminoso. O momento é estressante.

Assombroso não relaxa um segundo sequer. Na terceira vez,

quando o bandido expõe a cabeça e começa a correr, é hora de

disparar. O tiro acerta o alvo, que cai logo em seguida, saindo

do campo de visão do caçador.

O fuzil do criminoso tomba. Mesmo sem vê-lo, Assom-

broso sabe que o homem está morto, pois, daquela distância,

cerca de 300 metros da vítima, costuma sempre acertar em

cheio o tórax e o crânio do alvo. A imagem do rosto do ho-

mem atingido, gravada antes do disparo, ficará para sempre

em sua memória.

Ao passar pelo local e ver o corpo no chão, uma mulher

grita. Com um cabo de aço, outro integrante da gangue de

Belony tenta puxar a arma caída. Como sabe que os brasileiros

não atiram em pessoas desarmadas, o criminoso larga o fuzil

que leva consigo e passa calmamente em frente ao atirador

para recolher o corpo do companheiro abatido.

Bodão fica andando entre os atiradores para conferir a

situação e, ao se esconder, acaba esbarrando nos soldados

entrincheirados.

“Porra, Bodão, se liga. Você já me fez perder dois!”, grita

Assombroso para o subcomandante do DOPaz, que se juntou

aos caçadores após a tentativa de invasão da casa.

“Pô, Assombroso, o que você quer que eu faça? Preciso

passar”, reage o capitão.

Observados pelo atirador a pelo menos 80 metros a sudoes-

te da casa azul, bandidos vestem toucas ninjas e coletes bege

similares ao da Polícia Nacional Haitiana (PNH), procurando

confundir os capacetes azuis. Em seguida, Assombroso vê

vários criminosos correndo à sua frente em um campo aberto.

Armados, eles atravessam rapidamente as vielas de Cité Soleil

e escondem-se entre as casas. O caçador não dispara por saber

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br

31

que a bala, de alto calibre, não iria parar tão cedo, perfurando

as finas paredes de zinco e madeira das habitações.

Assombroso posiciona novamente o M-24 e aguarda a

hora certa de agir. Se disparar no momento errado, colocará

em risco sua vida e a de outros militares. Mais um bandido é

eliminado naquele momento. Assombroso conta: é o sétimo na

operação. O atirador, pai de três filhos, lembra-se que seis me-

ses de trabalho na missão de paz ainda o esperam pela frente.

Ao perder mais um integrante da gangue, Pierre Belony

reage. Centenas de disparos começam a acertar ininterrup-

tamente as paredes das casas onde estão os brasileiros. Na

porta que dá acesso a um dos corredores da casa azul, um

cabo, também spotter, está deitado no chão quando rajadas

de metralhadora são ouvidas. Os tiros atravessam todo o se-

gundo andar da antiga escola e colidem contra um poste de

sustentação, passando de raspão pela cabeça do praça. O medo

da morte ronda os pensamentos de todos pela primeira vez.

“Filho da puta! Bodão, resolve logo essa porra, antes que

alguém seja atingido”, reage, preocupado, Assombroso.

Gritos invadem então a frequência do rádio do grupo.

“Louco está ferido! Louco está ferido! Louco está ferido!”

Cortesia Blog do QUEMEL - www.quemel.blog.br