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Covenant 2

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Sinopse… Existe a necessidade. E depois existe o Destino...

Estar destinada a se tornar algum tipo de tomada elétrica sobrenatural não é exatamente impressionante - especialmente quando a 'outra metade' de Alexandria está em todo o lado que ela vai. Seth está em sua sala de treinamento, fora das suas aulas, e continua a aparecer em seu quarto - isso não é legal. A conexão entre eles tem alguns benefícios, como afastar os pesadelos do confronto trágico com a mãe dela, mas não tem efeito sobre o que Alex sente pelo proibido Aiden puro-sangue. Ou sobre o que ele fará - e sacrificará - por ela.

Quando daimons se infiltram nos Covenants e atacam estudantes, os deuses enviam fúrias - deuses menores determinados a erradicar qualquer ameaça aos Covenants e aos deuses, e isso inclui o Apollyon... e Alex. E se isso e hordas de monstros sugadores de éter não for ruim o suficiente, uma ameaça misteriosa parece disposta a qualquer coisa para neutralizar Seth, mesmo que isso signifique forçar Alex na servidão... ou matá-la.

Quando os deuses estão envolvidos, algumas decisões nunca podem ser desfeitas.

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Guia de

pronunciação

para Pure

Daimon: DEE-mun

Aether: EE-ther

Hematoi: HEM-a-toy

Apollyon: a-POL-ee-on

Agapi: ah-GAH-pee

Akasha: ah-KAH-sha

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Um

Eu encarei o teto do ginásio, algumas pequenas manchas dançando na minha frente.

Cara, minha bunda doía. Isso não era nenhuma surpresa, eu já caíra no tatame umas

cinquenta vezes até agora. A única coisa que não estava queimando de dor era meu

rosto; estava em fogo por uma razão totalmente diferente.

Minha aula de luta Gutter1 não estava indo bem.

1 Gutter: É uma modalidade de luta de rua, onde o praticante de gutter aprende a se defender, evitar

golpes e a terminar uma briga, mas nunca começar o combate.

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Esse estilo de combate mano-a-mano não era exatamente uma segunda natureza.

Meus músculos reclamaram enquanto eu me levantava do tatame e encarava nosso

Instrutor.

Correndo uma mão por seu cabelo ralo, o Instrutor Romvi parecia dececionado com

toda a classe.

— Se ele fosse um daimon, você estaria morta agora. Você entende? Morta, não viva,

Senhorita Andros.

Como se houvesse alguma outra definição para “morta” que eu não conhecesse. Eu

cerrei os dentes e consegui assentir.

Romvi atirou em mim outro olhar mordaz.

— É difícil acreditar que tenha qualquer quantidade de éter em você, senhorita

Andros. A essência dos deuses é desperdiçada em você. Pela maneira como luta, você

poderia muito bem ser um mortal.

Eu já não tinha matado três daimons sugadores de éter? Isso não significava nada?

— Prepare-se. Mantenha seus olhos atentos sob o movimento muscular. Você sabe o

que fazer. — Ele instruiu.

Eu me virei para Jackson Manos, o arrasa corações do Covenant e meu atual

oponente. Com sua aparência morena e aqueles olhos escuros e sensuais, ele poderia ser

distração o bastante para mim.

Jackson piscou para mim.

Apertei os olhos para ele. Não nos era permitido conversar durante o treino. O

Instrutor Romvi achava que isso tirava a autenticidade da luta. Sério, mesmo em toda

sua glória, Jackson não era a razão pela qual eu continuava perdendo seus chutes de

calcanhar e os giros.

A fonte do meu fracasso absoluto se encostava contra a parede da sala. Ondas

escuras caíam sobre a testa, terminando em olhos cinzentos da cor do metal.

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Alguns diriam que Aiden St. Delphi precisava de um corte de cabelo, mas eu amava

a aparência selvagem que ele estava usando recentemente.

Um instante depois, nossos olhares se trancaram. Aiden voltou para a posição que eu

estava muito familiarizada – braços bem definidos cruzados contra o peito, pernas

separadas. Observando, sempre observando. Agora ele se comunicava com um olhar que

dizia que eu deveria estar prestando atenção ao Jackson e não nele.

Espirais apertadas surgiram dentro de mim – outra coisa que eu estava acostumada.

Acontecia sempre que eu colocava os olhos nele. Não era tanto pelas curvas quase

perfeitas das maçãs de seu rosto ou pela forma como seu sorriso insinuava um conjunto

de covinhas. Ou aquele corpo impossivelmente definido…

Eu mandei meu devaneio para longe bem a tempo. Bloqueei o joelho de Jackson com

um golpe brutal do meu braço e então eu o ataquei na garganta. Jackson o evitou

facilmente. Nós nos circulamos, desferindo golpes e esquivando deles. Ele recuou,

deixando cair as mãos para os lados. Eu vi minha abertura e fui para ela. Girando,

apontei meu joelho para o meio de seu corpo. Jackson correu para o lado, mas não rápido

o suficiente. Eu o peguei duro no estômago.

Surpreendentemente, Instrutor Romvi aplaudiu.

— Bom…

— Oh merda. — Caleb Nicolo, meu melhor amigo e parceiro nas confusões, gemeu

de onde estava junto a um grupo de alunos, em pé contra a parede.

A coisa sobre chutes de defesa – uma vez que fazemos contato com nossos oponentes

nós precisamos ou ir para um tiro certeiro ou nos afastar. Eu não tinha feito nenhum dos

dois. Jackson dobrou meu joelho e desceu, me levando junto para o passeio. Nós batemos

no tatame, de alguma forma – e eu duvido seriamente que foi por acidente – Jackson

acabou esparramado em cima de mim. Seu peso bateu a minha cabeça para trás e o ar

saiu dos meus pulmões. O Instrutor Romvi gritou, usando um idioma diferente –

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Romeno talvez ou algo assim. De qualquer forma, o que quer que ele tenha dito, soou

suspeitosamente como uma maldição.

Jackson levantou a cabeça, o cabelo na altura do ombro protegendo seu sorriso da

classe.

— Sempre de costas no chão, huh?

— Sim, isso é mais como a sua namorada. Sai de cima. — Eu o empurrei nos ombros.

Rindo, Jackson rolou e se levantou. Desde todo aquele incidente “minha mãe assassinou

os pais da sua namorada”, Jackson e eu não vínhamos nos dando bem. Na verdade,

cortesia da minha mãe daimon morta, eu tampouco estava me dando bem com a maioria

dos outros alunos. Vai entender.

Corando de vergonha, eu me levantei e roubei um rápido olhar para Aiden. Sua

expressão poderia até estar inalterada, mas eu sabia que ele já havia feito uma lista

mental de todas as coisas que eu errei e arquivado para depois. Mas ele não era minha

preocupação imediata.

O Instrutor Romvi caminhou através do tatame, parando na frente de Jackson e eu.

— Isso foi absolutamente inaceitável! Você se afasta ou elimina o oponente.

Para provar seu argumento, ele jogou o braço para fora, me batendo em cheio no

meio do peito. Eu tropecei para trás uma polegada e cerrei minha mandíbula. Cada

célula do meu corpo pedia que eu fizesse o mesmo em retorno.

— Você não espera! E você, — Romvi vibrou em Jackson — você planeja deitar em

daimons por diversão? Deixe-me saber como isso funciona para você.

Jackson corou, mas não respondeu. Nós não retrucávamos na aula de Romvi.

— Fora do tatame agora - não você, Srta. Andros!

Eu parei, olhando Caleb e Olivia sem esperança. Eles me encararam de volta, suas

expressões refletindo a minha.

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Resignada com o que eu sabia que iria acontecer em seguida, porque tinha

acontecido em cada aula com Romvi, eu me virei para o Instrutor e esperei pela épica

lição de moral.

— Muitos de vocês não estão prontos para a graduação. — Romvi vagava pela borda

do tatame. — Muitos de vocês morrerão na primeira semana no trabalho, mas você, Srta.

Andros? Você é uma vergonha para o Covenant.

Romvi era uma vergonha para a raça masculina, mas ele não me ouviu reclamando.

Ele me circulou lentamente.

— Estou chocado que você enfrentou daimons e ainda está em pé na minha frente.

Alguns podem achar que você tem potencial, Srta. Andros. Eu ainda tenho que vê-lo.

Com o canto do olho, eu vi Aiden. Ele endureceu, estreitando o olhar sobre nós.

Também sabia o que estava por vir, e não havia nada que pudesse fazer mesmo se

quisesse.

— Prove para mim que você pertence aqui, — Romvi disse. — Prove para mim que

você ganhou a reentrada no Covenant baseado no mérito e não nos laços familiares.

O Instrutor Romvi era mais imbecil do que a maioria dos Instrutores. Ele era um dos

puros que escolheram se tornar um Sentinela ao invés de beirar a vida vivendo de

dinheiro herdado. Como Aiden, puros que escolhiam esse tipo de vida eram uma raça

rara, mas era aí que a semelhança entre os dois terminava. Romvi tinha me odiado desde

o primeiro dia de aula, e eu gostava de acreditar que Aiden sentia o contrário.

Romvi atacou.

Para alguém tão velho, ele com certeza podia se mover com rapidez. Eu andei para

trás pelo tatame, tentando me lembrar de tudo o que Aiden tinha me ensinado durante o

verão.

Romvi virou-se, seu calcanhar apontando para a minha barriga. Eu varri sua perna

para longe e dei um soco que eu realmente, realmente queria. Ele bloqueou. Uma e outra

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vez nós fomos trocando e recebendo golpes. Ele estava me acertando mais,

continuamente me empurrando em direção à borda do tatame.

Com cada balanço e cada chute, os golpes de Romvi se tornaram mais brutais. Era

como lutar contra um daimon, porque eu acreditava seriamente que Romvi queria me

fazer um dano real. Eu estava me aguentando até que meu tênis escorregou na borda do

tatame. Eu cometi um erro tático.

Permiti-me ser distraída.

Romvi pegou isso. Esticando a mão e agarrando um punhado do meu rabo de

cavalo, ele me puxou para frente.

— Você deveria estar menos preocupada com a sua vaidade, — ele disse, me

torcendo para que eu ficasse de costas para a porta. — E corte o seu cabelo.

Eu golpeei, pegando Romvi no estômago, mas isso não o perturbou. Usando meu

próprio impulso – e meu cabelo – ele me bateu sobre o tatame. Eu rolei na queda, meio

agradecida que tinha acabado. Eu nem sequer me importava que ele tinha chutado meu

traseiro na frente da sala toda. Contanto que acabas…

Romvi agarrou meu braço e me puxou para cima, me colocando de joelhos. — Me

ouçam, mestiços. Morrer em batalha não é mais o seu pior pesadelo.

Meus olhos se arregalaram. Oh, não. Não, não, não. Ele não ousaria...

Ele empurrou a manga da minha camisa para cima até que minha pele estava

exposta até o cotovelo.

— Isso é o que acontece com vocês. Dêem uma boa e longa olhada ao que acontece

quando vocês falham. Eles vão transformá-los em um monstro.

Fogo correu pelas minhas bochechas e meu cérebro meio que esvaziou. Eu tentei,

realmente tentei manter as cicatrizes escondidas dos meus colegas de classe. Foquei em

qualquer outra coisa além dos rostos dos alunos enquanto ele continuava a mostrar ao

mundo as minhas marcas. Meu olhar caiu sobre sua mão velha e áspera, e então seu

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próprio braço cheio de cicatrizes de batalhas. A manga da sua camisa tinha caído para

trás, revelando uma tatuagem de uma tocha virada para baixo. O Instrutor Romvi não

me parecia do tipo que gosta de tatuagens.

Ele então largou o meu braço, me permitindo puxar a manga para baixo. Esperava

que ele fosse comido por daimons famintos. Eu poderia parecer uma aberração cheia de

cicatrizes, mas não tinha falhado em uma maldita coisa. Havia finalmente matado o

daimon responsável por me deixar desse jeito – minha mãe.

— Nenhum de vocês está pronto para se tornar Sentinela, para encarar um daimon

meio-sangue treinado exatamente como vocês. — A voz de Romvi ecoou pela sala. — Eu

não espero que a maioria de vocês mostre alguma melhora até amanhã. A aula acabou.

Lutei contra a urgência de pular nas costas de Romvi como um macaco e arrancar

seu pescoço. Isso não me ganharia nenhum fã, mas a sensação doentia de satisfação

quase faria valer a pena.

Em seu caminho para fora, Jackson esbarrou em mim. — Seu braço parece um

tabuleiro de xadrez. Isso é realmente quente.

— É, isso é o que sua namorada disse sobre seu pa…

A mão do Instrutor Romvi estalou para fora, pegando meu queixo.

— Sua boca, Srta. Andros, poderia também ter uma melhoria.

— Mas Jackson...

— Eu não me importo. — Ele deixou cair a mão, olhando para mim. — Eu não vou

tolerar tais palavrões em minha aula. Esse é seu último aviso. Da próxima vez você vai se

encontrar no escritório do Reitor.

Malditamente inacreditável. Eu observei Romvi sair da sala. Caleb se aproximou de

mim, entregando a Olivia sua bolsa de ginásio. Seus olhos, a cor do céu mais claro,

brilhavam com simpatia.

— Ele é um idiota, Alex.

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Balancei a mão com desdém, sem ter certeza se ele estava falando de Romvi ou

Jackson. Ambos eram idiotas em meu livro.

— Qualquer dia desses, você vai estalar e vai matá-lo. — Luke arrastou os dedos pelo

cabelo cor de bronze.

— Qual deles? — perguntei.

— Ambos. — Luke sorriu enquanto batia no meu braço. — Só espero que eu esteja

aqui para ver isso.

— Eu também. — Olivia envolveu seu braço no de Caleb. Eles fingiam que, seja lá o

que estava rolando entre eles, era uma coisa casual, mas eu sabia mais. Sempre que

Olivia tocava Caleb, o que era frequentemente, ele esquecia completamente sobre o que

quer que fosse que estava acontecendo e ficava com esse sorriso estúpido no rosto.

Então novamente, muitos garotos mestiços ficavam com esse olhar em seus rostos ao

redor dela. Olivia era deslumbrante. Sua pele da cor caramelo era invejada pela maioria

das mestiças. Assim como seu armário. Eu mataria para colocar as mãos nas roupas dela.

Uma sombra caiu sobre o nosso pequeno grupo, rapidamente dispersando-o. Eu não

tinha que olhar para cima para saber que era Aiden. Só ele tinha o tipo de poder para

enviar simplesmente qualquer um correndo na direção oposta.

Respeito e medo faziam isso.

— Vejo você depois, — Caleb gritou.

Eu assenti vagamente, olhando para o tênis de Aiden. Vergonha pela exibiçãozinha

de Romvi fez ser difícil olhar para ele. Trabalhei duro pelo respeito de Aiden, para

provar que eu tinha o potencial que ele e Leon acreditavam que eu tinha no dia que

Marcus tentou me atirar para fora do Covenant.

Engraçado como uma pessoa podia arruinar isso em questão de segundos.

— Alex, olhe para mim.

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Contra a minha vontade, eu obedeci. Quando ele falava daquele jeito, eu não podia

me controlar. Ele parou na minha frente, seu corpo longo e tonificado. Atualmente

estávamos fingindo que eu não tinha tentado entregar a minha virgindade para ele na

noite que descobri que serei a segunda vinda do Apollyon. Aiden parecia estar indo

muito bem nisso. Eu, por outro lado, não conseguia parar de ficar obcecada por isso.

— Você não falhou.

Dei de ombros. — Não parece isso, não é?

— Os Instrutores estão mais duros com você por causa do tempo que você perdeu e

porque seu tio é o Reitor. As pessoas olham para o que você faz. Eles prestam atenção.

— E meu padastro é o Ministro do Conselho. Eu entendo, Aiden. Olha, vamos acabar

com isso. — Minha voz estava um pouco mais afiada do que eu pretendia, mas Aiden

tinha visto o quão humilhante essa aula tinha se tornado. Não era como se eu precisasse

discutir isso com ele.

Aiden pegou meu braço e empurrou a manga da minha camisa. Teve um efeito

totalmente diferente em mim. Uma vibração formou em meu peito, espalhando uma

onda quente por mim. Puros-sangues estavam fora dos limites para nós mestiços, o que

significava que o que tinha acontecido entre nós era o mesmo que ter um sentimento pelo

Papa ou oferecer a Gandhi um sanduíche de carne assada.

— Você não deveria nunca ter vergonha dessas cicatrizes, Alex. Nunca. — Aiden

soltou meu braço e apontou para o chão. — Vamos começar e então você pode descansar.

Eu segui atrás dele. — E quanto ao seu descanso? Você não tem uma patrulha hoje à

noite? — Aiden estava puxando um dever em dobro entre me treinar e seus deveres de

Sentinela.

Aiden era especial. Ele tinha escolhido ser um Sentinela, e havia também escolhido

trabalhar comigo então eu não estaria tão para trás dos outros alunos. Ele não tinha que

fazer nenhuma dessas coisas, mas um senso de justiça o levou a se tornar um Sentinela.

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Nós partilhávamos aquele desejo. O que o fez querer me ajudar? Eu gostava de pensar

que ele estava inegavelmente atraído por mim – como eu estava por ele.

Ele me circulou, parando para posicionar meus braços na altura do peito. — Você

está segurando seus braços de forma errada. É por isso que as batidas de Jackson

continuaram a passar.

— E quanto ao seu descanso? — persisti.

— Não se preocupe comigo. — Ele deu um passo atrás, apontando para minha

direção com uma mão. — Se preocupe mais consigo mesma, Alex. Esse será um ano

difícil para você, está fazendo um horário triplo no treinamento.

— Eu teria mais tempo livre se não tivesse que praticar com Seth.

Aiden balançou para frente tão rápido que eu mal bloqueei seu golpe. — Alex, nós já

discutimos isso.

— Eu sei. — Eu o cortei. Eu alternava dias entre Aiden e Seth, assim como um fim de

semana e outro. Era como se eles compartilhassem minha custódia conjunta, mas eu

ainda não tinha visto a minha outra metade hoje. Estranho – ele geralmente estava por

perto.

— Alex. — Aiden saiu da postura ofensiva, me estudando de perto.

— O que? — derrubei meus braços.

Ele abriu a boca, parecendo repensar suas palavras. — Você tem parecido um pouco

cansada ultimamente. Está descansando o suficiente?

Eu senti minhas bochechas queimarem com cor. — Deuses, eu pareço tão ruim ou

algo assim?

Ele respirou fundo e soltou a respiração lentamente. Suavidade rastejou através das

suas feições. — Alex, você não parece ruim absolutamente. É só que... você passou por

muita coisa e parece cansada.

— Estou bem.

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Aiden colocou a mão no meu ombro. — Alex?

Meu coração trovejou em resposta a seu toque. – Estou bem.

— Você continua dizendo isso. — Seu olhar cintilou em meu rosto. — Você sempre

diz isso.

— Eu digo isso porque não há nada de errado comigo! — eu golpeei sua mão, mas

ele largou a outra no meu ombro, efetivamente me prendendo na frente dele. — Não há

nada errado comigo, — disse novamente, mas muito mais silenciosa. — Estou bem.

Completamente cem por cento bem com tudo.

Aiden abriu a boca, provavelmente para dizer alguma coisa ridicula de apoio, mas

não disse nada. Apenas me encarou e então seu aperto em meus ombros ficou mais forte.

Ele sabia que eu estava mentindo.

Nada estava bem.

Pesadelos daquelas horas horríveis em Gatlinburg me mantinham acordada a noite.

Quase todo mundo na escola me odiava, acreditando que eu tinha sido a razão pelo

ataque daimon em Lake Lure durante o verão. A perseguição constante de Seth apenas

adicionava a suas suspeitas. De todos os mestiços, apenas Caleb sabia que eu estava

predestinada a ser o segundo Apollyon – e predestinada a completar Seth em sua

sobrenatural super carga ou alguma coisa. Suas atenções contínuas não me faziam

ganhar nenhuma fã entre as garotas mestiças. Todas queriam Seth, enquanto eu só queria

me livrar dele.

Mas quando Aiden me olhava como fazia agora, eu esquecia sobre o mundo. Não

conseguia ler muito a partir da expressão dele, mas seus olhos... Bem, seus olhos me

diziam que ele não estava indo tão bem com toda a charada de fingir-que-nós-não-

tínhamos-quase-transado. Aiden ainda pensava sobre isso; inferno, ele estava pensando

sobre isso bem agora. Talvez imaginasse o que teria acontecido se Leon não tivesse

interrompido – talvez tanto quanto eu imaginava. Talvez ficasse acordado, lembrando

como nossos corpos tinham se sentido juntos.

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Eu sei que eu ficava.

A tensão acumulou vários graus e meu corpo esquentou deliciosamente. Este era o

tipo de momentos pelo o qual eu vivia. Fiquei imaginando o que ele faria se eu desse um

passo a frente e fechasse a distância entre nós. Não levaria muito para fazer isso. Ele

pensaria que eu só queria conforto? Porque me confortaria – ele era esse tipo de cara. E

então, se eu derrubasse a cabeça para trás, ele me beijaria? Porque parecia como se ele

quisesse fazer ambos. Me segurar, me beijar e fazer todos os tipos de coisas maravilhosas

e proibidas.

Dei um passo à frente.

As mãos dele sacudiram contra meus ombros, indecisão se arrastou pelas suas

feições. Por um segundo – apenas um segundo – eu acho que ele considerou isso

seriamente. Então suas mãos se armaram como uma barreira, que pretendia me manter

para trás.

As portas se abriram atrás de nós e Aiden deixou cair as mãos. Eu me girei, querendo

socar quem quer que fosse na cara. Eu estava perto de conseguir o que eu queria.

A massa volumosa de Leon encheu a porta, vestido em seu traje todo-preto típico de

Sentinela. — Sinto muito interromper, mas isto não pode esperar.

Leon sempre tinha alguma coisa importante para dizer a Aiden. Da última vez que

ele tinha nos interrompido, tinha sido dois segundos após eu ter dado a Aiden o sinal

verde para ir por todo o caminho.

Ele tinha o pior timing de todos os tempos.

Claro, da última vez que tinha interrompido, as coisas tinham sido bem sérias.

Haviam encontrado Kain vivo. Uma vez como um Sentinela meio-sangue, Kain tinha

ajudado Aiden a me treinar. Uma viagem de fim de semana para as proximidades de

Lake Lure provou ser fatal para todos os envolvidos. Ele tinha sobrevivido ao ataque

daimon, mas voltou para o Covenant como uma coisa que pensamos ser impossível —

um daimon mestiço.

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Agora Kain estava morto e eu tinha visto isso acontecer. Gostava e sentia saudades

de Kain, mesmo depois que ele matou um punhado de puros e me jogou pela sala.

Aquele não era o Kain que eu conhecia. Como mamãe, ele se transformou em uma

versão terrível de quem realmente tinha sido.

Leon moveu seu corpo enorme para a frente, parecendo como um garoto

propaganda de esteroides. — Houve um ataque daimon.

Aiden ficou tenso. — Onde?

— Aqui no Covenant.

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Dois

O treino estava oficialmente cancelado.

— Vá direto para o seu dormitório, Alex, e fique lá, — Aiden disse antes de

deixar a arena de treinamento.

Ao invés de cumprir a ordem, fui para o refeitório.

De maneira nenhuma eu iria ficar fazendo nada no meu quarto enquanto havia

um daimon correndo solto. Considerei seguir os dois por um momento, mas minhas

habilidades de invisibilidade ninja estavam abaixo da média.

Enquanto eu atravessava a quadra, o céu escureceu e virou ameaçador. Eu

peguei o meu ritmo, porque quando o céu estava dessa forma era preciso prestar

atenção. Setembro era a temporada de furacão nesse lugar. Ou poderia apenas

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significar que Seth estava puto em algum lugar próximo dali; o seu mau humor tinha

um efeito surpreendente sobre o clima.

No refeitório, todos se amontoavam em pequenos grupos, seus rostos

animados. Eu agarrei uma maçã e uma soda, notando que não havia um único puro-

sangue no refeitório. Sentei-me ao lado de Caleb.

Ele olhou para cima, os olhos brilhando. — Você ouviu?

— Sim, eu estava praticando quando Leon veio para pegar o Aiden. — Eu olhei

para Olivia. — Você sabe de algum detalhe?

— Tudo o que ouvi foi que uma das alunas mais novas, Melissa Callao, não

apareceu nas aulas hoje. Suas amigas estavam preocupadas e checaram seu

dormitório. Ela foi encontrada na cama e a janela estava aberta.

Eu sentei para trás, esmagando o mal estar deslocando por mim. — Ela está

viva?

Olivia esfaqueou um garfo na pizza dela. Sua mãe pura trabalhava de forma

próxima ao Conselho. Sorte a nossa, ela mantinha sua filha bem informada. — Ela foi

praticamente drenada, mas está viva. Eu não sei como a sua colega de quarto não

sabia ou porque ela não foi atacada também.

— Como em Hades um daimon está correndo por aqui? — Luke levantou a

mão fazendo uma careta de perplexidade no rosto. — Como um poderia ter passado

pelos Guardas?

— Tem que ter sido um mestiço, — Elena disse mais abaixo na mesa. Ela

parecia como aquela fada, a Sininho, extraordinariamente alta com seu cabelo curto e

olhos grandes e verdes.

Até esse verão, nós acreditávamos que mestiços não poderiam ser

transformados em daimons. Um puro era repleto de éter. Um daimon poderia

mastigar, roer e matar para chegar naquela essência como um psicótico viciado em

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drogas. Uma vez drenado seu éter, o daimon podia deixar o puro morrer ou o

transformar, adicionando-o a horda de daimons. Ninguém pensou que meios-

sangues possuiam éter suficiente dentro de si para fazer a troca para o lado escuro,

mas para um daimon paciente mais interessado em construir um exército do que

conseguir uma refeição, nós éramos tão bons quanto os puros.

Era um droga que o único lugar em que éramos iguais aos puros, era em um

destino pior do que a morte.

— Os mestiços que foram transformados não mudam como os puros. — Olivia

balançou o garfo entre os dedos longos.

— Eles são imunes a titânio, certo? — O olhar dela aterrizou em mim.

Eu assenti. — Sim, tem que cortar a cabeça deles fora. Droga, eu sei. — Ou Seth

poderia usar seu encanto Apollyon. Ele eletrocutou Kain com akasha – o quinto e

último elemento – e isso tinha feito o trabalho.

Caleb esfregou um ponto em seu braço onde eu sabia que ele tinha sido

mordido. Ele parou quando seus olhos pegaram os meus. Forcei um sorriso.

— Se é um mestiço, poderia ser qualquer um. — Luke recostou-se cruzando os

braços. — Quero dizer, pense nisso. Eles não precisam de mágica Elemental para

esconder o que eles realmente se parecem. Poderia ser qualquer um.

Quando os puros se viravam para o mal, eles eram perceptíveis aos mestiços –

como, realmente perceptíveis. Olhos negros vazios, pele pálida e bocas cheias de

dentes afiados não fazem uma aparência que se mistura com a multidão. Os mestiços

possuiam a capacidade estranha de ver através da magia Elemental que os daimons

puro-sangue usaram, mas daimons mestiços apenas pareciam os mesmos depois que

eram transformados. Pelo menos Kain.

— Bem, teria que ser um meio-sangue que foi atacado por um daimon, — uma

voz rouca se intrometeu. — Humm, me pergunto quem poderia ser? Não é como se

eles crescessem em árvores por aqui.

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Levantando a minha cabeça encontrei Lea Samos e Jackson. Era meio de

setembro e a garota ainda mostrava um super bronzeado – ainda tão bonito que eu

queria esfaqueá-la no olho com um garfo de plástico.

— Sim, isso faria sentido. – Eu mantive a minha voz nivelada.

Aqueles olhos ametistas repousaram em mim. — Quantos mestiços nós

conhecemos que foram atacados recentemente?

Eu a encarei, presa entre a descrença e querendo jogar alguma coisa. — Pare

com isso Lea. Eu não quero ouvir as suas merdas hoje.

Ela puxou aqueles lábios cheios em um sorriso cruel. — Eu sei de dois.

Caleb disparou em pé, derrubando sua cadeira. — O que você está dizendo,

Lea?

Os dois guardas na porta deram passos para a frente, olhando a situação com

interesse. Olivia agarrou a mão de Caleb, mas ele a ignorou. — Vamos lá, Lea. Só

diga isso.

Ela jogou uma juba de cabelos acobreados por cima do ombro. — Relaxa, Caleb.

Você foi mordido quantas vezes? Duas? Três? Leva um inferno muito maior que isso

para transformar um mestiço. — Ela me olhou incisivamente. — Não é isso? Foi o

que ouvi os Guardas conversando. Que os meios-sangues têm que ser drenados

lentamente, e então o daimon lhes dá o beijo da morte.

Eu respirei fundo. Lea e eu éramos inimigas. Houve um tempo, em que meu

coração tinha meio que sangrado por ela, depois que seus pais foram assassinados,

mas aquilo parecia como éras atrás.

— Eu não sou uma daimon, sua vadia.

Lea inclinou a cabeça para o lado. — Se parece com um daimon, então...

— Lea, vá transar com alguém e pegar um bronzeado, em qualquer que seja a

ordem. – Caleb se sentou. – Ninguém quer ouvir suas merdas. E isso é a coisa

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engraçada sobre você, Lea. Você acha que todos se preocupam com o que tem a

dizer, quando tudo o que eles se preocupam é o quão fácil é conseguir dormir com

você.

— Ou como os Instrutores encontraram uma garrafa de Brew no seu quarto na

semana passada, — Olivia adicionou, seus lábios se curvando em um meio sorriso.

— Não sabia que você mexia com essas loucuras, ou talvez seja assim que você

consegue os caras.

Eu bufei. Não tinha ouvido isso. — Uau. Drogando os caras para dormir com

você? Legal. Eu acho que é por isso que Jackson praticamente surtou com as minhas

pernas na aula hoje.

As bochechas de Lea inflamaram em um tom estranho de vermelho com

marrom. — Sua estúpida, vadia amante de daimon, você é a razão do porque meu

pai está morto! Você deveria ter…

Várias pessoas se moveram ao mesmo tempo. Olivia e Caleb dispararam por

cima da mesa, tentando me segurar, mas eu era rápida quando queria ser.

Eu não pensei; apenas lancei minha maçã vermelha brilhante na cara dela. Um

lance daqueles vindo de um meio-sangue transformava uma maçã em uma arma

séria. Atingiu o alvo com um estalo alto.

Lea cambaleou para trás, apertando a frente do seu rosto. Sangue jorrou entre

seus dedos, combinando com a cor das suas unhas. — Você queboru meu nariz!

Todos no refeitório silenciaram. Mesmo os servos mestiços de aparência

monótona pararam de limpar as mesas para observar. Ninguém gritou ou pareceu

francamente assustado. Afinal, nós éramos meios-sangues – um bando violento. Os

servos estavam geralmente muito dopados para se preocupar.

De alguma forma eu tinha esquecido sobre os Guardas quando fui para Lea. Eu

guinchei quando um deles colocou um braço ao redor da minha cintura e me

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arrastou sobre a mesa. Bebidas foram derramadas; comida caíu no chão, e carne

misteriosa lambuzou toda a minha calça de ginástica.

— Pare com isso, agora!

— Ela quebrou meu nariz de novo! — Lea baixou as mãos do rosto. — Você não

pode deixá-la escapar disso!

— Oh, cala a boca. Os médicos vão consertar isso. Metade da sua cara é de

plástico, de qualquer forma. — Lutei contra o Guarda até que ele torceu meu braço

para trás tão longe que qualquer movimento fazia meu ombro gritar.

— Ela queria pegar o meu éter. — Lea apontou uma mão manchada de sangue

para mim. — A mãe dela matou meus pais e agora ela quer me matar!

Eu ri. — Oh, pelo amor…

— Cale-se, – o Guarda sibilou em meu ouvido. — Cala a boca antes que eu faça

você calar.

Ameaças feitas por um Guarda meio-sangue não eram para ser tomadas

levemente. Eu me acalmei quando o outro Guarda agarrou a Lea. Sangue martelava

em meus ouvidos e meu peito ainda arfava com fúria, mas eu percebi que tinha

exagerado um pouquinho.

Eu ia ter grandes problemas.

Mestiços lutando entre si não era uma grande coisa. A agressão e violência

controlada algumas vezes rolavam para fora das salas de treinamento, para lugares

como o refeitório. Sempre que os mestiços estavam encrencados por brigar, eles

terminavam com um dos Instrutores que cuidavam das questões disciplinares.

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Cada andar do dormitório tinha um atribuído. Meu andar tinha a Instrutora

Gaia Telis, uma garota bem legal que não era muito rigorosa ou chata. Mas eu não

acabei com a Instrutora Telis. Cinco minutos depois de quebrar o nariz da Lea pela

segunda vez, eu acabei no escritório do Reitor Andros. Esse era apenas um dos

muitos incovenientes do meu tio ser o Reitor.

Eu encarei o peixe vibrante ampliado através do aquário e mexi com a corda da

minha calça enquanto esperava por Marcus. Algumas vezes eu me sentia como um

daqueles peixes — presa por paredes invisíveis.

As portas balançando abertas atrás de mim me fizeram estremecer. Isso ia ser

sangrento.

— Se você descobrir qualquer outra coisa, me notifique imediatamente. Isso é

tudo. — A voz profunda de Marcus encheu a sala. Os Guardas decoravam as portas

do lado de fora do escritório dele como estátuas de guerreiros gregos. Então ele bateu

a porta fechada.

Eu pulei.

Marcus andou através da sala, vestido como se tivesse passado a maior parte do

seu dia em um campo de golf. Esperei que ele sentasse atrás da sua mesa como um

Reitor deveria, então quando ele veio diretamente na minha frente, agarrando os

braços da minha cadeira, eu fiquei um pouco chocada.

— Tenho certeza que você está ciente do que aconteceu hoje. — O tom da voz

de Marcus estava frio e distintamente culto. A maioria dos puros soava daquele jeito

- elegante, refinado. — Um puro foi atacado em algum momento na noite passada.

Eu me forcei para trás tanto quanto eu poderia ir, focando no aquário. — Sim…

— Não olhe para longe de mim, Alexandria.

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Olhei para ele sugando meu lábio inferior, seus olhos eram os mesmos que os

da minha mãe tinham sido antes dela se transformar em uma daimon — um tom

vibrante de verde, como esmeraldas brilhantes. — Sim, eu ouvi.

— Então você entende com o que estou lidando agora. — Marcus abaixou a

cabeça e nossos olhares ficaram no mesmo nível — Eu tenho um daimon meio-

sangue em meu campus, caçando meus alunos.

— Então é um mestiço que foi transformado?

— Eu acho que já sabe disso, Alexandria. Você é muitas coisas, impulsiva,

irresponsável e mal educada, mas estúpida não é uma delas.

Eu queria ouvir mais sobre esse daimon mestiço do que minhas falhas de

caráter. — Quem era o mestiço? Você o pegou, certo?

Marcus ignorou minha pergunta. — Agora, estou fora de uma investigação que

fará ou destruirá a minha carreira aqui, tudo porque minha sobrinha mestiça

quebrou o nariz de uma garota no refeitório... com uma maçã, de todas as coisas.

– Ela me acusou de ser um daimon!

– Então sua reação natural é jogar uma maçã no rosto dela com força o

suficiente para quebrar um osso? — Sua voz baixou em um tom enganosamente

suave. Marcus era Chuck Norris em uma camisa pólo rosa. Eu tinha aprendido a não

subestimá-lo.

— Ela disse que eu era a razão de seus pais terem sido mortos.

— Eu vou perguntar a você só mais uma vez: então decidiu jogar uma maçã

com força suficiente para quebrar um osso?

Me mexi desconfortavelmente. — Sim, eu acho que sim.

Ele exalou lentamente. — Isso é tudo o que você tem a dizer?

Olhei ao redor da sala esvaziando meu cérebro. Eu disse a primeira coisa que

veio na minha mente, — Eu não achei que a maçã quebraria o nariz dela.

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Empurrando-se para fora da cadeira, ele se elevou sobre mim. — Esperava mais

de você. Não porque é minha sobrinha, Alexandria. Nem mesmo porque tem mais

experiência com daimons do que qualquer outro estudante aqui.

Eu esfreguei minha testa.

— Todo mundo vai estar te observando - todo mundo de importância. Você

dará a Seth poder sem precendentes. Nós não podemos permitir qualquer

comportamento equivocado seu Alexandria. Nem de Seth.

Irritação queimou fundo dentro de mim. Com dezoito anos, alguma coisa

chamada palingênese bateria em mim como algum tipo de puberdade sobrenatural

instantânea. Eu Despertaria e meu poder mudaria para Seth. Que poder, não tinha

ideia, mas ele se tornaria o Assassino de Deus. Todos se preocupavam com Seth, mas

comigo? Não pareciam se preocupar com o que aconteceria comigo.

— As pessoas esperam mais de você, te observarão por causa do que se tornará,

Alexandria.

Eu discordava. Eles observavam porque temiam que a história se repetisse. A

única vez que já houve dois Apollyons na mesma geração, o Primeiro tinha se

voltado contra o Conselho. Ambos os Apollyons tinham sido executados. Dois

Apollyons ao mesmo tempo era considerado perigoso pelo Conselho e os deuses. Foi

por isso que mamãe tinha me levado do Covenant três anos atrás. Ela achou que

poderia me manter em segurança, me escondendo entre os mortais.

— Você não pode se comportar assim no Conselho. Não pode sair por aí

começando brigas e discutindo com as pessoas — ele continuou. — Há regras da

nossa sociedade que você deve seguir! Eles não pensarão duas vezes em te jogar para

servidão e não importará com quem está relacionada. Você entende?

Exalando lentamente, eu levantei a cabeça e encontrei Marcus perto do aquário.

Suas costas estavam para mim. — Sim, eu entendo.

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Ele correu uma mão sobre a cabeça. — Você deixará seu dormitório para ir a

escola, treinamento, e jantar — jantar na hora marcada — e isso é tudo. Por agora,

você não tem amigos.

Meu olhar se estreitou nas costas dele. — Estou, tipo, de castigo ou algo assim?

Ele olhou sobre o ombro para mim, lábios apertados. — Até segunda ordem e

nem sequer pense em discutir comigo. Você não pode sair impune por isso.

— Mas como você pode me deixar de castigo?

Marcus se virou ao redor lentamente. — Você quebrou o nariz de uma garota

com uma maçã.

De repente, eu não queria discutir. Estava me livrando fácil. Ser castigada

também não significava nada. Não era como se meu calendário social estivesse cheio.

— Tudo bem, mas vai me dizer se encontraram o daimon?

Ele me encarou um momento mais longo. — Não. Nós não encontramos o

daimon ainda.

Eu agarrei a cadeira. — Então... Ainda está por aqui?

— Sim. — Marcus fez sinal e eu o segui até a porta. Ele se dirigiu para um dos

Guardas.

— Clive, escolte a Srta. Andros de volta ao dormitório dela.

Eu gemi interiormente. Clive era um dos Guardas que eu suspeitava seriamente

de andar com Lea. Cada conversa dita dentro do escritório de Marcus de alguma

forma voltava para Lea. Considerando que ele tinha uma coisa por garotas novas que

usavam sapatos Prada falsos, era o suspeito mais provável.

— Sim, senhor. — Clive se curvou.

— Se lembre da nossa conversa, — Marcus disse.

— Mas e quanto…

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Marcus bateu a porta.

Que parte eu deveria me lembrar? O fato de que eu era uma desgraça para ele

ou o fato de que havia um daimon solto? Clive agarrou meu braço, os dedos

apertando fundo. Eu estremeci, tentando me soltar, mas ele aumentou a pressão. As

mordidas do daimon ainda estavam estranhamente sensíveis.

— Eu acho que você está apreciando isso. — Travei a mandíbula.

— Esse seria um bom palpite. — Clive empurrou para a escada. Os puros eram

ricos, e eu quero dizer mais dinheiro do que qualquer um poderia compreender.

Ainda não havia um único elevador no campus todo.

— Acha que consegue se livrar de qualquer coisa, não é? Você é a sobrinha do

Reitor, a enteada do Ministro e a próxima Apollyon. Tão malditamente especial, não

é?

Havia uma chance muito boa de que eu poderia bater nele, mas com meu

punho ao invés de uma maçã. Puxei meu braço e livrei-o.

— Sim, eu sou malditamente especial.

— Apenas se lembre que você ainda é uma meio-sangue, Alex.

— Apenas se lembre de que eu sou a sobrinha do reitor, a enteada do Ministro e

a próxima Apollyon.

Clive parou, seu nariz quase tocando o meu. — Você está me ameaçando?

Me recusei a dar um passo para trás. — Não. Estou apenas lembrando a você o

quão especial eu realmente sou.

Ele me olhou por um momento, então deu uma risada curta e áspera. — Talvez

nós todos tenhamos sorte e você será um lanche de daimon no caminho de volta ao

seu dormitório sozinha. Tenha uma boa noite.

Eu ri tão alto quanto pude e fui recompensada com a porta batendo fechada.

Descendo apressadamente os degraus, eu esqueci sobre Clive. Havia um daimon no

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campus e tinha realmente atacado um puro, quase a matando. Quem sabia quanto

tempo levaria antes que um daimon mestiço precisasse de sua próxima refeição?

Mamãe tinha dito que um puro manteria um daimon normal por dias, mas era o

mesmo para um daimon mestiço?

Ela não havia dito nada sobre isso, mas falou muito sobre os planos deles para

derrubar o Conselho e os puros enquanto eu estava prisioneira em Gatlinburg.

Mamãe e Eric, o único daimon sobrevivente de Gatlinburg, tinham planejado

transformar os mestiços primeiro e então enviá-los de volta para se infiltrar nos

Covenants. Soava como se já estivesse bem encaminhado... Ou isso poderia ser

apenas um ataque aleatório?

Sim, eu duvidava disso.

O que aprendi em Gatlinburg era a razão porque eu estaria atendendo a sessão

de Conselho em novembro, mas meu testemunho parecia sem sentido agora.

Eu percorri o nível do segundo andar e paralizei abruptamente. A apreensão

me deixou gelada dos dedos até minha espinha, acordando o senso estranho que nós,

mestiços, carregávamos em nosso sangue. Olhei sobre meu ombro, praticamente

esperando um meio-sangue assassino em série estar em pé atrás de mim... Ou ao

menos Clive perto de me empurrar escada abaixo.

Mas não havia nada.

Treinada para não ignorar o sexto sentido bizarro que nos alertava para todos

os tipos de coisas fodidas, eu admiti que talvez não deveria ter irritado Clive. Depois

de tudo, havia um daimon perambulando ao redor. Tomei os degraus de dois em

dois e abri a porta para o nível principal.

Pavor ainda trilhava por mim, enrolando ao redor dos meus dedos. Não

ajudava que o longo corredor estivesse iluminado apenas por luzes piscando acima,

adicionando a sensação assustadora. Onde estavam todos os Instrutores e Guardas?

Estava quieto como túmulo.

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— Clive? — Meus olhos devoraram cada pedaço vazio do corredor. — Se você

está me zuando, eu vou seriamente quebrar o seu nariz.

O silêncio foi minha resposta.

Os pêlos do meu corpo ficaram em pé em aviso. À frente, as estátuas das musas

lançavam duras sombras sobre o saguão da frente. Escaneando cada canto e fissura

por uma possível ameaça, eu fiz meu caminho pelo corredor. Meu passos ecoavam

loucamente, quase como se o som estivesse rindo de mim. Minha boca caiu aberta

enquanto olhava uma nova adição ao saguão da Academia, uma que não tinha

estado lá quando eu tinha sido escoltada ao escritório do Marcus.

Três estátuas novas de mármore tinham sido erguidas no centro do saguão. As

mulheres angelicais e lindas agrupadas perto uma da outra, seus braços dobrados

perto de seus corpos e suas asas arqueadas altas acima de suas cabeças inclinadas.

Oh, meus deuses.

Haviam fúrias no Covenant.

Sepultadas por agora, a chegada delas era um sinal de alguns deuses muito

infelizes. Eu andei ao redor delas lentamente, como se fossem quebrar livres de suas

conchas e me rasgar membro a membro a qualquer momento. Imaginei que elas

estavam esperando, afiando as garras que apareceriam em suas formas verdadeiras.

As fúrias eram deusas antigas horríveis uma vez usadas para capturar aqueles

que tinham cometido o mal, mas não tinham sido punidos. Agora elas apareciam

sempre quando havia uma ameaça aos puros como um todo... Ou a humanidade em

geral.

Alguma coisa estava para cair, ou já tinha caído.

Separando meus olhos das suas expressões serenas, eu empurrei para abrir as

portas pesadas. Uma mão apertou abaixo em meu braço. Meu suspiro de surpresa

saiu como um guincho enquanto me inclinei para trás e trouxe minha perna para

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cima para entregar um chute perverso. Meus olhos voaram para cima um instante

antes que fizesse contato.

— Porra! — eu gritei.

Aiden bloqueou meu joelho, a sobrancelha levantada. — Bem, seus reflexos

estão definitivamente melhorando.

Coração correndo, fechei meus olhos. — Oh, meus deuses, você me assustou

como o inferno.

— Posso dizer. — Ele soltou meu braço, seus olhos caindo para minhas calças.

— Então é verdade.

—O que é verdade? — Eu ainda não podia controlar meu coração. Pelo amor

dos deuses, tinha pensado que ele era um daimon prestes a morder o que sobrou do

meu braço.

— Você esteve em uma briga com Lea Samos e quebrou o nariz dela.

— Oh. — Eu me endireitei, franzindo os lábios. — Ela me chamou de amante de

daimon…

— Palavras, Alex, apenas palavras. — Aiden inclinou a cabeça dele para o lado.

— Nós já não tivemos essa conversa antes?

— Você não conhece a Lea. Não sabe como ela é.

— E importa como ela é? Não pode brigar com todos que dizem alguma coisa

negativa sobre você. Se eu abordasse as pessoas da forma como você faz, estaria

brigando todo o tempo.

Eu rolei meus olhos. — As pessoas não falam coisas ruins sobre você, Aiden.

Todos te respeitam. Você é perfeito. Eles não acham que você é um daimon. De

qualquer forma, há uma nova família feliz sepultada no saguão lá atrás.

Ele franziu a testa.

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—Há fúrias no saguão, estátuas delas.

Aiden passou a mão sobre a cabeça, suspirando. — Nós tínhamos medo que

pudesse acontecer.

— Porque elas estão aqui?

— O Covenant foi violado, o que era algo que o Coselho assegurou que nunca

aconteceria. Foi parte do acordo com os deuses anos atrás, quando o primeiro

Covenant foi estabelecido. Os deuses veem essa brecha como se o Conselho não fosse

capaz de lidar com o problema dos daimons.

Meu estômago baqueou. — E o que isso significa, exatamente?

Ele fez uma careta. — Quer dizer, se os deuses acreditam que os puros

perderam o controle, eles vão liberar as fúrias. Não é algo que alguém queira. Elas

vão atrás de qualquer coisa que percebam como uma ameaça – daimon, meio-

sangue, ou...

— Apollyon? — Eu sussurrei. Aiden não respondeu, o que confirmou que

estava correta. Eu gemi. — Incrível. Bem, espero que não aconteça.

— Concordo.

Me mexi desconfortavelmente, meu cérebro incapaz de realmente processar a

nova ameaça. — O que você está fazendo aqui, de qualquer forma?

Aiden me prendeu com um olhar sombrio. — Eu estava indo ver Marcus. O que

você está fazendo perambulando por aí sozinha?

— Clive deveria me escoltar de volta para o dormitório, mas meio que caiu por

aí.

Seus olhos se estreitaram e então ele suspirou. Inclinando a cabeça em direção

aos dormitórios, ele enfiou as mãos nos bolsos da sua calça cargo escura. — Vamos,

eu vou levar você de volta. Não deveria estar aqui fora sozinha.

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Me empurrei para longe das portas. —Porque ainda há um daimon no campus?

E fúrias prontas para atacar?

Ele olhou para baixo para mim, franzindo a testa. — Eu sei que sua atitude

irreverente é uma atuação. É provavelmente o que faz com que transforme uma maçã

em uma arma mortal. Você de todas as pessoas sabe o quão sério é isso.

Minhas bochechas coraram com a sua repreensão. Culpa torceu meu estômago

em nós. Eu encarei as marcas do pavimento.

— Me desculpe.

— Eu não sou a pessoa com a qual você deveria estar se desculpando.

— Bem, esteja certo como o inferno que eu não vou me desculpar com Lea.

Então pode esquecer isso.

Aiden balançou a cabeça. — Sei que o que a Lea disse te chateou. Posso até...

Entender sua reação, mas você tem que tomar cuidado. As pessoas estão…

— Sim, eu sei. As pessoas estão me observando, blá e mais blá. — Eu olhei para

as sombras dos Guardas patrulhando. Era hora entre o crepúsculo e o anoitecer, mas

as lâmpadas ainda não haviam sido ligadas. Os prédios largos – aqueles que

abrigavam a escola, as instalações de treinamento, e os dormitórios – formavam

sombras escuras sobre o pavimento. — De qualquer forma, vocês têm alguma ideia

de onde o daimon poderia estar?

— Não. Nós temos procurado em todos os lugares e ainda estamos procurando.

Bem agora estamos focados em manter os alunos em segurança.

Nós paramos na parte inferior dos degraus do meu dormitório. A varanda

estava vazia, um sinal do mal-estar de todos. As garotas geralmente andavam por

aqui, esperando ter um tempo com algum cara aqui dentro. — A Melissa viu o

daimon? Ela foi capaz de dar algum tipo de descrição?

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Aiden correu uma mão sobre a testa. — Ela mal se lembra de alguma coisa do

ataque agora. Os médicos... Bem, eles acham que é o trauma. Uma forma de se

proteger, eu acho.

Olhei para longe, grata por estar escuro aqui fora. Porque eu não pude esquecer

o que aconteceu em Gatlinburg?

— Provavelmente é mais do que isso. Ela é um puro. Onde um de nós seria

treinado para prestar atenção aos detalhes, para guardar quanta informação for

possível, ela não foi. Ela é apenas como uma... garota normal. E se o ataque aconteceu

de noite, ela provavelmente pensou que foi um pesadelo. Acordar para algo como

isso? Eu não poderia sequer imaginar. — Parei.

Ele estava me encarando de forma estranha.

— O que?

—É só que você está pensando no caminho certo.

Eu não podia manter o sorrisso bobo fora do meu rosto. — Eu sou tão

impressionante. Eu sei.

Seus lábios tremeram como se ele quisesse sorrir. — Então, quão encrencada

você está?

— Estou de castigo basicamente, mas acho que me livrei fácil. — Ainda estava

sorrindo como uma idiota.

— Sim, você se livrou. — Ele pareceu aliviado. — Tente ficar fora de problemas

e, por favor, não se esgueire por aí. Duvido que o daimon ainda esteja aqui, mas

nunca se sabe.

Respirando profundamente, cruzei meus braços sobre o peito. — Aiden?

— Hum?

Eu encarei as botas do Aiden. Elas estavam brilhantes, nunca sujas. — Está

começando, não é?

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— Você está falando sobre o que sua mãe disse a você, não é?

— Ela disse que isso era o que eles fariam. E o Eric ainda está lá fora. E se ele

estiver por trás disso e…?

— Alex. — Ele se inclinou na minha direção. Nós estávamos perto, mas não tão

perto quanto tínhamos estado no ginásio. — Não importa se é o Eric ou não. Nós

vamos garantir que isso não aconteça de novo. Você não tem nada com o que se

preocupar.

— Não estou com medo.

Aiden estendeu a mão, roçando os dedos sobre os meus. Foi um toque breve, no

entanto, meu corpo formigava. — Eu não disse que você estava com medo. Sobre

todas as coisas, você é muito corajosa.

Nossos olhares se encontraram. — Tudo está mudando.

— Tudo já mudou.

Mais tarde naquela noite, eu virava na cama. Minha mente não calava a boca. O

ataque daimon, a agressão com a maçã, as fúrias vadias, a sessão eminente do

Conselho e tudo o mais continuava girando em um ciclo gigante sem fim. Cada vez

que me virava, ficava mais irritada com a perspectiva de outra noite sem dormir.

O problema do sono tinha começado cerca de uma semana depois de voltar de

Gatlinburg. Eu tinha caído no sono por uma hora mais ou menos antes que um

pesadelo penetrasse meus sonhos. Mamãe geralmente estava naqueles pesadelos.

Algumas vezes eu revivia a luta com ela na floresta; algumas vezes eu não a matava,

e outras vezes era apenas eu e Daniel, o daimon com as mãos muito amigáveis.

Então havia os sonhos onde eu queria ser transformada em um daimon.

Eu me virei de barriga para baixo e empurrei o rosto no travesseiro quando

senti uma estranha sensação na boca do meu estômago – como as borboletas bem

antes do primeiro beijo, só que muito, muito mais forte.

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Olhei para o relógio. Uma da manhã e eu me sentia totalmente desperta. E

quente – realmente quente. Pensando que o controle da temperatura devia ter ficado

maluco novamente, me levantei e abri a janela da cama. Ar frio e úmido rolava vindo

do mar, proporcionando um certo alívio. Não era uma sensação insuportável, mas

ainda queimava – em todo o lado. Corri minhas mãos sobre meu rosto, doendo de

uma forma que me lembrava do tempo que eu tinha passado com Aiden. Não as

nossas sessões de treinamento, oh não – mas a noite antes de eu ter encontrado Kain,

a noite em que eu tinha deitado nua na cama de Aiden.

Mas eu me lembrava de mais do que a coisa física. Palavras que eu nunca,

jamais esqueceria em um trilhão de anos – ‘você entrou em mim, se tornou uma parte

de mim’. —Ninguém nunca tinha dito qualquer coisa como aquilo para mim –

ninguém.

Eu olhei para o relógio de novo, suspirando. Quinze minutos tinham se

passado, então vinte minutos, e então meia hora. Finalmente, eu parei de prestar

atenção ao tempo.

Meu coração batia forte até que apertei meus olhos fechados. Eu podia quase

ver Aiden agora, sentir o suave roçar de seus dedos e ouvir aquelas palavras de

novo. Então, sem nenhum aviso, a sensação desapareceu. O ar frio vindo da janela de

repente parecia brutal.

— Que diabos? — Deitei de costas. — Recordações quentes? Realmente?

Foi um tempo muito longo antes que eu caísse no sono.

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Três

Tudo mudou no dia seguinte.

Olivia e eu compartilhamos um livro de trigonometria em sala de aula, tentando

descobrir a diferença entre seno e cosseno. Considerando que iriamos passar a maior parte

de nossas vidas adultas caçando e matando daimons, aprender trigonometria parecia

bastante inútil, então não nos aplicávamos realmente àquilo.

Eu desenhei um par de peitos humanos no espaço livre acima da fórmula e os rotulei

de "Olivia." Ela imediatamente riscou o nome dela e escreveu "Alex".

Eu bufei, olhando para cima mesmo a tempo de ver a Sra. Kateris, uma puro-sangue

com diplomas suficientes para ser docente na Universidade de Yale, virar e franzir a testa

para nós.

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— Ótimo — murmurou Olivia de trás de mim. — Se ela pega esse livro e pergunta o

que estamos fazendo de novo, eu vou morrer. Sério.

Eu bocejei alto. — Que seja.

Sra. Kateris colocou o giz para baixo e bateu palmas. — Srta. Panagopoulos e Srta.

Andros. — Ela fez uma pausa longa o suficiente para que toda a frente da classe pudesse

torcer em torno de seus assentos e olhar para nós. — Vocês gostariam de compartilhar?

— Eu gosto de como ela diz o seu último nome —, murmurei para Olivia no exato

momento em que a porta da sala se abriu e uma pequena frota de quatro Guardas entrou.

— Que diabos? — Olivia endireitou-se.

A Sra. Kateris recuou, alisando com as mãos a parte dianteira de sua saia.

O Guarda inclinou em sua direção, o costume ao abordar puros de status, que em

nosso mundo eram todos os puros. — Pedimos desculpas por interromper a sua aula, Sra.

Kateris, — Disse o primeiro guarda. Eu quase não o reconheci. Ele era o guarda da ponte,

aquele que tinha me seguido à ilha - Crede Linard. Bem, ele deve ter sido promovido.

A Sra. Kateris deu-lhe um sorriso desconfortável. — Não precisa se desculpar. Como

podemos ajudá-lo?

— O Reitor Andros deseja a presença dos mestiços. Estamos aqui para escoltá-los.

Os mestiços da classe olharam ao redor da sala, com confusão e desconfiança no

rosto. Houve outro ataque?

Voltando atrás, a Sra. Kateris apertou suas mãos. O guarda Linard enfrentou a classe,

sua expressão impressionantemente em branco. — Por favor, sigam-nos.

Olivia agarrou o livro fechado, seu rosto perdendo a cor. — O que está acontecendo?

Peguei minha mochila do chão, pensando nas fúrias. Todo mundo estava falando

sobre elas esta manhã, pensando que pareciam muito legais. A verdade é que ninguém

conseguia entender o que estava por trás daquilo. — Não sei.

Vários mestiços começaram a fazer perguntas à medida que saíam da sala de aula,

mas o Guarda Linard franziu a testa para eles.

— Sem conversas.

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A mesma coisa estava acontecendo nas outras classes. Portas se abriram com

Guardas levando os mestiços em uma única fila para o corredor. No andar de cima, o som

de passos seguiu o nosso grupo. Olhei para trás, para ver Caleb e Lucas. Voltando a olhar

para a frente, respirei superficialmente. Isto era algo sério e todos nós sabíamos. Tensão

percorria o ar e nossa pele coçava à medida que chegávamos até o primeiro andar. Descer

a escada levou uma quantidade absurda de tempo. Mais uma vez, eu senti o desejo de

mencionar o fato de que precisávamos de elevadores.

Acabámos sendo conduzidos pelo saguão da escola, além dos escritórios

administrativos, em seguida, para o meio do Covenant - o coliseu interior. Era o único

lugar suficientemente grande para conter todos nós.

Uma vez dentro da sala, nós estudantes referíamos a ele simplesmente como o

"ginásio", fomos obrigados a tomar nossos assentos e ficar com nossos colegas. Olivia e eu

acabamos na terceira fila. Caleb e Lucas foram para a décima primeira fila. Eu prefiria

estar sentada perto de Caleb quando caísse a bomba que eles estavam prestes a despejar

sobre nós e sabia que Olivia se sentia assim também.

Balancei meu joelho, carrancuda. Os bancos aqui eram feitos de algum tipo de

arenito e eram as coisas mais desconfortáveis para sentar. Olivia se contorcia. — Você...

Do chão do ginásio, abaixo de nós, o Guarda Linard virou. — Sem conversas.

As sobrancelhas de Olivia subiram e eu me perguntei, se Linard estava aqui, quem

estava guardando a ponte? Exalei alto e fiz a varredura do mar de mestiços em roupas de

treinamento verdes. Um grupo de Guardas uniformizados de azul nos vigiava. Mas eu

não via muitas pessoas com o uniforme preto dos Sentinelas, os caçadores de daimons.

Então, meu olhar pousou em um loiro alto encostado na parede, e eu reconheci os

braços musculosos e quadris estreitos. Ele tinha uma longa perna dobrada no joelho, a

bota plantada em um mosaico de um Zeus seminu.

Seth.

Seu cabelo estava preso em um laço de couro, mas, como sempre, fios mais curtos se

soltaram e enrolavam em torno de seu queixo. Ele tinha essa tez dourada exclusivamente

sua e um rosto perfeitamente moldado, com aqueles olhos ímpares cor de âmbar em uma

curvatura exótica. Às vezes eu me perguntava se os deuses tinham especialmente criado

aquelas maçãs do rosto e lábios com aspecto presunçoso, a fraca fenda em seu queixo e

mandíbula esculpida em granito. Ninguém mais parecia com ele.

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Ele era, afinal, o Primeiro Apollyon de nossa geração. De acordo com o meu

padrasto, Seth e eu estávamos fadados a estar juntos em uma estranha forma de

transferência de energia. Segundo a minha opinião, Seth era uma dor no meu…

Seth inclinou a cabeça em minha direção e piscou. Eu me inclinei para trás e foquei

nos Guardas abaixo. Seth e eu não estávamos nos dando bem no momento.

Em nossa última sessão de treino, ele "acidentalmente" me bateu com uma explosão

de energia pura e eu "acidentalmente" joguei uma pedra em sua cabeça.

Talvez eu tenha um problema com atirar coisas.

Depois do que pareceu uma eternidade, Marcus entrou no ginásio e todo o conjunto

de estudantes se deslocou para a frente. Cerca de duzentos de nós sentávamos juntos,

variando de sete a dezoito anos de idade. Os pequeninos se sentaram no chão sobre os

joelhos. Eles provavelmente não tinham ideia do que estava acontecendo.

Marcus não estava sozinho. Guardas do Conselho vestidos de branco seguiam atrás

dele. O Conselho se assemelhava ao Tribunal Olímpico, oito puros e dois ministros, um

homem e uma mulher. Apenas os Covenants realizavam reuniões do Conselho, - aqui na

Carolina do Norte, estado de Nova Iorque, Dakota do Sul e nos desertos do Tennessee. O

Conselho agia como um governo, estabelecendo leis e realizando punições. Os Ministros

eram os únicos que se comunicavam com os deuses, mas se o que Lucian tinha dito

durante o verão fosse verdade, os deuses não falavam com eles há anos.

Isto era demasiada pompa por apenas um Ministro. Não era como se todo o

Conselho estivesse enchendo o ginásio. Era apenas Lucian e seu cabelo preto incrível, que

fluía até a cintura, fino como um alfinete. Resumindo, seu cabelo era a única coisa

realmente boa que eu poderia dizer sobre o meu padrasto. Bem, isso e o fato dele me

mandar muito dinheiro.

Os Guardas se curvaram, endireitando-se lentamente. Notei que Seth não se moveu

um centímetro. Lucian avançou, apertando as mãos. Ele estava vestindo um tipo de túnica

toda branca. Na minha opinião ele parecia ridículo.

— Um ataque daimon ocorreu dentro dos muros do Covenant ontem. — A voz clara

de Lucian ecoou pela sala silenciosa. — Este tipo de ataque é sem precedentes e deve ser

tratado rapidamente. Neste momento, acreditamos que não haverá mais… violações de

segurança.

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Sim, ele deve ter visto as fúrias. Aposto que ele desejava que não houvesse mais

violações.

— Mas, — continuou ele, — Temos que seguir em frente e focar na prevenção.

Como uma maré violenta rolando a partir do oceano, apreensão varreu através de

nós. Prendi a respiração.

— O Conselho e o Covenant concordaram que devem ser tomadas medidas para

assegurar que outro ataque não ocorra.

Marcus avançou então, sorrindo de uma forma que causou arrepios em meus braços.

— Várias coisas vão acontecer ao longo da próxima semana. Novas regras estão sendo

colocadas no lugar e essas regras serão incondicionais e com efeito imediato.

E aqui começa, pensei com raiva. Um meio-sangue virou para o lado do mal, então

todos os mestiços serão punidos. Eu reconhecia a gravidade do problema, mas não o

tornava mais fácil de engolir.

Marcus esquadrinhou a multidão, encontrando os olhares dos mestiços. Seus olhos

firmes me encararam por um momento, então deslizou por mim. — Um toque de recolher

às sete horas da tarde começará hoje à noite para todos os mestiços… — suspiros podiam

ser ouvidos ecoando pelo ginásio. Meu queixo caiu no chão. — A menos que o meio-

sangue esteja acompanhado por um Guarda e esteja participando de uma atividade

relacionada ao trabalho escolar. Não haverá outras exceções. Em nenhum momento,

mestiços serão permitidos nas salas de puros se não acompanhados de um Instrutor ou

Guarda. Os mestiços não poderão deixar a ilha do Covenant sem autorização e ainda

precisão ser acompanhados por um Guarda ou Sentinela.

— Oh, meus deuses, — Olivia murmurou, esfregando as palmas das mãos sobre as

coxas. — Eles podem fazer isso?

Eu não respondi. Os puros poderiam fazer o que quisessem. E eu ainda tinha a

sensação de que estava prestes a ficar muito pior.

— Os Sentinelas serão colocados fora dos dormitórios, juntamente com a Guarda do

Covenant. Além dessas medidas, todos os mestiços serão obrigados a se submeter a um

exame físico. Esses… — Seu olhar duro passeou pelo nível superior onde várias maldições

abafadas soaram. — Esses exames serão obrigatórios. Depois que cada meio-sangue for

examinado, os exames continuarão a acontecer a cada vez que seja necessário.

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O gelo correu pelas minhas veias, estabelecendo-se na boca do meu estômago. É

claro que haveria exames físicos. Como mais eles poderiam dizer se qualquer mestiço

tinha sido transformado? Seus corpos, assim como o meu, mostrariam as evidências de

marcas feitas por daimons. É o único sinal de que um meio-sangue está sendo

transformado. Eu queria vomitar.

— Os exames começarão amanhã e serão feitos por ordem alfabética. — Marcus

recuou, permitindo que Lucian tomasse o centro do palco mais uma vez.

— Nenhum de nós gosta da ideia de limitar as suas liberdades ou da imposição de

situações potencialmente incômodas sobre vocês. — Lucian espalmou as mãos abertas na

frente dele. — Preocupamo-nos com nossos mestiços e isso é tanto para o seu benefício

como para o dos alunos puros-sangues.

Eu cobri minha boca, com medo de dizer alguma coisa. Nos beneficiar? Restringindo

nossas idas e vindas, forçando-nos a ser submetidos a exames físicos? Não havia diferença

entre nós e os mestiços que os serviam - exceto que não teríamos o prazer de ser dopados

sem saber o que estava acontecendo.

Eu desviei o olhar de Lucian e avistei Seth novamente. Cada linha de seu rosto tinha

endurecido em desaprovação e seus olhos brilhavam como o sol. Podia sentir sua raiva,

como se fosse a minha.

Depois de dizer mais um par de regras sobre onde seríamos autorizados a entrar e

algo sobre verificações aleatórias nos dormitórios, a assembleia chegou ao fim. Eu tive

dificuldade em me concentrar no que Marcus e Lucian estavam falando. Minha própria

raiva agitava dentro de mim e a tempestade crescente contra a parede manteve minha

atenção.

Nós fomos obrigados a sair do ginásio da mesma forma que entramos: em silêncio,

uma fila única de mestiços. Por um momento tive um vislumbre do rosto de Caleb.

Descrença e raiva guerreavam em suas feições de menino, fazendo-o parecer muito mais

velho. Ninguém sabia o que isso poderia significar para Caleb e eu. Eles poderiam

encontrar evidências dos recentes ataques daimon sobre nós dois. Então o que? Enfiariam

um puro sangrando na nossa cara e veriam se atacávamos? Olhei por cima do ombro, à

procura de Seth. Ele estava com Lucian, longe dos Guardas vestidos de branco e eles

pareciam estar... Discutindo.

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No almoço, seguimos as novas regras calmamente. Havia mais Guardas do que o

normal girando em torno do perímetro do refeitório e até mesmo alguns Sentinelas a

pouca distância, limitando o que poderíamos dizer. Gostaria de saber o que esses

Sentinelas mestiços pensavam, sabendo que eles estariam sujeitos aos exames também.

Puros normalmente misturavam-se com os mestiços durante o almoço, mas hoje foi

diferente. Os mestiços assumiram um lado do refeitório enquanto os puros sentaram-se

nas mesas mais distantes possíveis. Meu olhar caiu sobre Cody Hale e seus comparsas.

Cody saía com mestiços, às vezes, como quando ele não tinha nada melhor para fazer. Eu

quis bater nele muitas vezes durante o verão, mas bater em um puro significava expulsão,

ou seja, eu ia para a servidão.

Agora seu grupo inteiro tinha as cabeças baixas em conjunto. De vez em quando,

Cody corria a mão sobre os ordenadamente cortados cabelos castanhos, olhava para a

nossa mesa e ria.

E eu não fui a única que percebeu isso.

A raiva silenciosa de Caleb pairava em torno de nossa mesa. Desde o incidente em

Gatlinburg, eu não o tinha visto muito. Meu tempo livre consistia em sessões de formação,

enquanto o seu girava em torno de Olivia. Olhando para trás, eu meio que queria ter feito

tempo para ele. Talvez, então, teria percebido as mudanças sutis nele, a sombra da

escuridão que parecia envolvê-lo, a rapidez com que ele reagia à raiva.

— Basta ignorá-los, amor. — Olivia acenou para a mesa de Cody, forçando um

sorriso causal. — Cody é um idiota.

— Não é apenas Cody. — Ele deu uma risada apertada. — Você não viu como os

outros puros ficam olhando para nós? Como se estivessemos prestes a saltar sobre eles?

— Eles estão com medo. — Olivia apertou sua mão. — Não tome isso pessoalmente.

— Caleb está certo. — Luke se inclinou para a frente e baixou a voz. — Hoje na sala

de aula, um puro que eu conheço há anos solicitou que seu assento fosse alterado. Sam

não quer sentar-se ao meu lado, ou de qualquer mestiço, parecia que ele não queria estar

na mesma sala que nós.

Esfreguei meus dedos sobre as minhas têmporas, meu apetite desapareceu. — Eles

estão todos com medo. Nunca houve um daimon no campus antes.

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— Isso não é nossa culpa. — Os olhos de Luke encontraram os meus. — E o que eles

têm que ter medo? A forma como o Ministro falou hoje, parecia que o daimon não estava

mais aqui.

— Ninguém realmente sabe com certeza.

Peguei meu refrigerante, assistindo Caleb. Ele não falou pelo resto do almoço. À

medida que saíamos da lanchonete, puxei-o de lado. — Você está bem?

Ele acenou com a cabeça. — Sim, eu estou bem.

Envolvi meu braço em volta dele, ignorando a maneira como se enrijeceu. — Você

não parece. Eu entendo…

— Você entende que nós estamos no topo dos suspeitos, Alex? — Caleb se afastou. —

Isso é certo ou justo? Eu não os quero te despindo, ou a Olivia, à procura de algum sinal

de que estamos mastigando puros durante nosso tempo livre. E com você... — Ele fez uma

pausa, olhando em torno do corredor do lado de fora da lanchonete. Luke e Olivia

continuaram, mas dois Guardas olharam para nós, os mesmos dois de ontem. — Lea

estava sendo uma cadela, mas as pessoas...

— As pessoas estão falando? Caleb, as pessoas têm falado sobre mim desde que

descobriram que minha mãe era um daimon. Então, o que? Quem se importa? — Eu

apertei sua mão, assim como Olivia havia feito. — Por que você não se esgueira até o

dormitório hoje à noite e trás um filme?

Caleb se afastou novamente, balançando a cabeça. — Eu tenho coisas que preciso

fazer.

— Como Olivia? — Eu brinquei.

Isso trouxe o começo de um sorriso. — Vamos lá, vai se atrasar para a aula. Você tem

prática com Seth…

Eu gemi alto. — Por favor, não diga o seu nome. Ele atira bolas de energia em minha

cabeça como se fosse algum tipo de jogo.

— Ele parecia muito chateado durante a assembleia.

— Sim, ele parecia. — Eu pensei sobre ele discutindo com Lucian. Só os deuses

sabem sobre o que. — De qualquer forma, você não quer vir?

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— Não estou em um momento para filmes hoje. Além disso, esquivar-se dos Guardas

normais é ruim o suficiente, mas o dobro? Mesmo eu posso ter problemas com isso.

Eu fiz beicinho, mas cedi à medida que nos separávamos. O resto da tarde arrastou-

se, mas me animei quando vi Aiden entrar no ginásio para o fim da aula de luta Gutter. Eu

tentei e não consegui conter a minha emoção.

— Onde está o Seth? — Eu perguntei a Aiden.

Seus olhos brilharam com diversão. — Ele está com o ministro. Você prefere ele?

— Não! — Eu disse de forma demasiado entusiasta. — O que ele está fazendo com

Lucian?

Encolhendo os ombros Aiden me levou para o centro das esteiras. — Não pergunte.

Você está pronta?

Concordei, e Aiden entregou-me as lâminas fictícias. Ele permitiu-me treinar com as

reais uma semana atrás. Infelizmente, a emoção de finalmente começar a praticar com elas

acabou ofuscada pelo fato de eu já as tinha usado de verdade. Eu conhecia o delgado peso

das adagas em minhas mãos, a sensação delas cortando a carne daimon. Usá-las na batalha

matou o apelo ingênuo.

Aiden treinou-me através de várias técnicas que tinhamos aprendido na formação

Silat. Separamos-nos quando ele tirou os bonecos para que eu esfaqueasse. Eu girei as

adagas de plástico como se fossem bastões. — Você sabe das novas regras que eles criaram

e estão querendo que a gente engula? Os exames físicos e buscas nos dormitórios?

Aiden estendeu a mão, cuidadosamente colocando uma mecha do meu cabelo para

trás da minha orelha. Ele estava sempre fazendo coisas pequenas como essa, coisas que ele

não deveria estar fazendo. — Eu não concordo com todas elas, mas algo tem de ser feito.

Não podemos continuar como se nada tivesse acontecido.

— Eu sei que não podemos continuar como se nada tivesse acontecido, mas isso não

significa que os puros têm o direito de punir cada meio-sangue.

— Nós não estamos punindo os mestiços. Estas regras foram postas em prática para

proteger os mestiços também.

— Para nos proteger? — Eu olhei boquiaberta. — Porque tudo o que eu ouvi hoje

eram regras que limitam o que podemos fazer. Eu não ouvi nada sobre os puros tendo que

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se submeter a exames constrangedores ou sendo dito que não poderiam até mesmo visitar

a ilha principal.

— Você não estava na assembleia quando se estabeleceram as novas regras para os

puros, estava? — Um pouco de frustração começou a vazar, franzindo as suas

sobrancelhas escuras.

— Bem, não, mas eu não ouvi nenhum puro reclamar sobre qualquer coisa.

Aiden respirou fundo. — Então você não tem ouvido bem. Eles não estão

autorizados a ir a qualquer lugar, a menos que estejam em grupos. Não podem sair da

ilha, a menos que estejam com um guarda ou um Sentinela…

— Whoa. — Eu ri asperamente. — Os pobres puros têm que ter babás? Pelo menos

eles não precisam de permissão para sair. Nós nem sequer temos essa opção.

— Você não está impedida de fazer essas coisas de qualquer maneira por estar de

castigo? E prevenir os mestiços de sair da ilha é para mantê-los seguros.

Eu apertei o punhal, apertando-o com tanta força que pensei que iria quebrar. — As

novas regras não são justas, Aiden. Você tem que ver isso. Sei que você é um puro, mas

pode falar a verdade ao pé de mim. Não tem que dizer que concorda com esse ato porque

isso é o esperado de você.

— Este não é um ato, Alex. E isso não tem nada a ver com ser um puro. Concordo

que medidas drásticas precisam ser tomadas. Se os mestiços tiverem que sacrificar um par

de semanas de festas e trocas de dormitório para garantir...

— Sacrificar um par de semanas de festa? Você está falando sério? Acha que é por

isso que estou chateada?

Aiden caminhou para mim. — Você está chateada porque está sendo irracional e

teimosa, deixando sua emoção governar a sua lógica, Alex. Se parasse e pensasse por cinco

segundos, veria que essas regras precisam acontecer.

Eu recuei um passo, incapaz de me lembrar da última vez que ele tinha falado

comigo daquele jeito. Um sentimento ruim começou no meu peito e se espalhou.

— Então me deixe entender isso direito. — Minha voz tremeu. — Você acha que está

certo eles restringirem onde podemos ir e o que podemos fazer? Que podem entrar

fazendo buscas nos nossos quartos a qualquer momento? Acha que é aceitável para eles

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nos sujeitar a exames físicos completos? E que está certo começarem uma caça às bruxas

no momento em que acharem que há outro daimon?

— Ninguém está começando uma caça às bruxas, Alex! Concordo que algumas

medidas têm de ser tomadas, mas eu não concordo com tudo.

Raiva bateu no meu sangue. Eu joguei a lâmina de prática para o chão. — Meus

deuses, você é apenas mais puro, Aiden! Você não é diferente do resto deles. Como foi

irracional da minha parte pensar o contrário.

Aiden se encolheu como se eu tivesse batido nele. — Eu não sou diferente do resto?

Você ouve a si mesma?

— Que seja. Quem se importa, certo? Eu sou apenas uma meio-sangue. — Passei por

ele antes que fizesse algo irracional, como chorar na frente dele. Acontece que não fui

muito longe, esqueci o quão rápido Aiden podia se mover.

Ele me bloqueou, os olhos brilhando selvagemente. — Como você pode dizer que eu

sou como os outros puros? Responda-me, Alex.

— Porque... Porque você deve saber que essas regras não são justas para nós!

— Isto não é sobre as malditas regras, Alex. Eu sou como os outros puros? — Ele deu

uma risada baixa acentuada. — Você realmente acredita nisso?

— Mas você pensa...

Aiden agarrou meu braço, me puxando direto contra seu peito. O contato inesperado

fritou meu cérebro. — Se eu fosse como todos os outros puros, já teria tido você por esta

altura, sem sequer pensar sobre as consequências. Cada dia é uma luta para não ser como

eles.

Eu olhei para ele, chocada ao ouvi-lo dizer isso sem rodeios. As palavras me

escaparam totalmente e eu sempre tinha palavras. Já teria tido você nesse momento. Eu tinha

certeza que sabia o que ele queria dizer.

— Portanto, não me diga que eu sou como os outros puros.

— Aiden, eu...

— Esqueça. — Ele me soltou, uma máscara tomou conta de seu rosto. — A aula

acabou.

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Aiden saiu da sala e eu fiquei ali por alguns minutos. Nunca havia discutido com ele

antes. Não gostei disso. Claro, nós discordávamos sobre coisas o tempo todo, como

programas de TV favoritos. Ele gostava da antiga época do ouro - tipo em preto e branco.

Eu odiava. Nós chegámos perto de bater um no outro sobre isso, mas nunca discutimos

sobre quem éramos.

Para adicionar insulto à injúria, os Guardas estavam examinando meu quarto

quando eu voltei. Não sei o que eles estavam procurando. Se escondia um daimon em

minha gaveta de meias, ou provas escondidas em minhas calcinhas de que eu estava indo

dar o bote na próxima pura e sugar seu éter? Estava impotente para detê-los e quando eles

terminaram, minhas coisas estavam uma bagunça. Levei a maior parte da noite para

limpar meu quarto.

Depois que eu tomei banho e vesti meu pijama, andei pelo quarto. Me mantive

revivendo a adorável conversa que eu tive com Aiden e meu estômago torceu de novo.

Precisava pedir desculpas, porque tinha ultrapassado os limites. E ouvi-lo dizer o que ele

tinha dito? Que, se ele fosse como os outros puros, ele teria me tido?

Presa em meus próprios pensamentos eu bati a parte sensível do meu cotovelo no

batente da porta. Amaldiçoei e curvei-me ofegante. Ali de pé, com uma dor aguda

disparando através do meu braço, pensei em mamãe. Sobre se ela tinha ou não um olhar

aliviado no instante antes de simplesmente desaparecer. Ou se eu achava que havia esse

brilho somente porque queria muito vê-lo? Por que eu realmente queria acreditar que

tinha feito a coisa certa ao matá-la?

Aiden acreditava que foi a coisa certa. E... Bem, eu não tinha mais tanta certeza.

Uma batida suave soou, e então de novo. Não havia como negar que alguém batia na

janela do meu quarto.

Caleb? Talvez tenha mudado de ideia e trouxe alguns filmes. Emocionada com a

perspectiva de passar um tempo com ele, fui até a janela e subi o vidro.

— Merda. — Eu reconheci a parte de trás da cabeça loira. — Seth.

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Quatro

Seth girou, apontando para a tranca da janela. — Abra—, ele murmurou.

Eu plantei minhas mãos em meus quadris. — Por quê?

Seu olhar se tornou perigoso. — Agora.

Contra o meu melhor julgamento, abri a janela e empurrei-a para cima. Eu tinha

cerca de um segundo para voltar atrás antes dele pular pela janela como um gato de rua

maldito. Meu quarto estava escuro, mas eu podia ver o brilho estranho em seus olhos.

— O que você quer? Hey! Não feche a janela. Você não vai ficar.

— Quer que eu a deixe aberta para o próximo Guarda que fizer a ronda olhar para cá

e me ver no seu quarto? — Ele fechou a janela e puxou a corda das cortinas. Elas bateram

contra o parapeito da janela.

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— Vou dizer-lhes que você entrou aqui a força. — Fui até a lâmpada e liguei-a.

Permanecer em um quarto escuro com Seth não estava na minha lista de coisas a fazer no

momento.

Ele sorriu. — Eu queria pedir desculpas por não estar no treino de hoje.

Assisti-o com uma sensação geral de cautela. Ele afastou alguns fios soltos de seus

olhos enquanto me observava com quase o mesmo olhar.

— Desculpas aceitas. Agora pode sair.

— O que aconteceu com seu braço?

— Hein?

Ele se inclinou, roçando os dedos sobre o cotovelo que eu tinha acabado de bater. —

Isto.

O local estava levemente vermelho. — Como no mundo você pode ver isso? Eu bati-

o na porta há alguns minutos atrás.

Um sorriso deslizou sobre os lábios de Seth. — Você é tão incrivelmente graciosa.

Devo dar um beijo para te fazer sentir melhor?

Eu poderia dizer que ele estava brincando, apenas em parte. Sua presença em torno

do Covenant tinha criado grande agitação. Então, tinham suas... Atividades

extracurriculares. Se pular camas fosse um esporte, Seth seria um profissional. Eu pisei em

torno dele.

— Obrigada, eu passo essa.

Ele me seguiu em torno da borda da cama. — Ouvi dizer que meus lábios podem

fazer uma garota esquecer qualquer coisa. Você deveria experimentá-los.

Franzi o nariz. — De qualquer forma, por que você estava com Lucian, em vez de na

prática?

— Alex, isso não é da sua conta.

De alguma forma me encurralei entre a parede e a cama. — Ele é meu padrasto. É da

minha conta.

— Que lógica maluca que você tem.

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Minhas mãos se fecharam em punhos. — Olha, você pode sair agora. Já desculpou.

Tchau.

Seu sorriso aumentou quando olhou em volta do meu quarto. — Acho que vou ficar.

Eu meio que gosto de estar aqui.

— O que? — Gaguejei. — Você não pode ficar. É contra as regras.

Seth riu profundamente. — Desde quando você se importa com regras?

— Sou uma pessoa diferente.

— Quando você mudou? Agora? Porque eu ouvi sobre seu incidente no refeitório

ontem. — Um sorriso travesso surgiu em seus lábios. — Alias aquilo foi o máximo.

— Sério? Ninguém mais acha que foi o máximo. Eles disseram que eu estava sendo...

Irracional. — Me afastei da parede e caí sobre a cama. — Você acha que eu sou irracional?

Seth sentou-se ao meu lado, sua perna esquerda pressionando contra a minha. — Isso

é uma pegadinha?

Deslizei para a parte de cima da cama. — Então, eu sou irracional?

Ele girou o corpo e estendeu-se a meu lado. — Você é um pouco louca. Joga maçãs

no rosto das pessoas quando está com raiva. Apronta na metade do tempo. Isso me diverte

sem tamanho. Então, se é irracional, espero que continue assim. Eu amo isso.

Eu fiz uma careta. — Tudo isso soa muito bem. Obrigada.

— Racional é mundano e desinteressante. Por que quer ser assim? — Ele estendeu a

mão, puxando levemente o botão da minha calça de pijama. — Não tem nada disso em

você.

— Tem o que em mim? — Empurrei a mão dele. É claro que Seth seria atraído pela

parte instável da minha personalidade. Ele era um pouco louco mesmo. Não tinha certeza

se era o éter nele que o fazia assim ou se ele era simplesmente maluco.

— Você é muito selvagem para ser equilibrada e normal. Ou lógica. — Acrescentou

como uma reflexão tardia.

— Eu sou completamente lógica - totalmente. Você não sabe do que está falando.

Ele enviou-me um olhar antes de rolar de costas. — Eu acho que vou ficar aqui esta

noite.

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— O que? — Fiquei de joelhos. — Absolutamente não, Seth. Você não vai ficar aqui.

Ele riu, apoiando as mãos em seu estômago plano. — Não tenho dormido bem. E

você?

— Eu tenho dormido muito bem. — Empurrei seus ombros, mas ele não se mexeu. —

Seth, você não vai ficar aqui por isso não mude de assunto.

Ele rolou um pouco, pegando minhas mãos nas suas. — Olha, nós não tivemos o

treinamento hoje. Estou em dívida de uma hora de seu tempo.

Tentei soltar meus braços. — Isso é ridículo.

Seth sentou-se em um movimento limpo. — E isso começa agora.

— O que? — Meus dedos estavam impotentes. — É tarde. Eu tenho aula amanhã.

Ele sorriu, soltando meus braços. — Você ainda estaria acordada, mesmo se eu não

estivesse aqui.

Lançando-me para trás mais uma vez, eu o chutei na coxa. — Você é uma dor no

meu...

— Acho que nós vamos trabalhar sobre a forma de controlar a sua raiva.

Me movi para chutá-lo novamente, mas ele pegou minha perna. — Me. Solta.

Seth se inclinou, voz baixa. — Não me chute de novo.

Nossos olhos se encontraram. — Me. Solta.

Lentamente, ele soltou e se sentou. — Quero toda a sua atenção por um momento. —

Fez uma pausa, baixando as sobrancelhas. — Isto é, se você for capaz.

— Que seja.

— O que pensa sobre o ataque daimon?

Eu o olhei. Tudo sobre ele tinha mudado em um instante. — Honestamente? Eu acho

que é apenas o começo. Quero dizer, pelo que sabemos, isto poderia ter estado

acontecendo há muito tempo.

Seth girou e sentou-se ao meu lado. Quando estava acomodado, acenou com a cabeça

em aprovação. — Há algo que você não sabe, mas eu não acho que faria mal se soubesse.

Inclinei-me para frente. — O que é?

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— O Conselho tem acompanhado incidentes que parecem ataques de daimons

mestiços. Eles têm prestado atenção nas últimas três semanas, descobrindo 2-3 ataques por

semana. E está acontecendo em todo lado.

— Mas... Eles não disseram nada. — Principalmente, Aiden não tinha dito nada e eu

pensei que ele me contasse tudo. — Como você sabe sobre isso?

— Tenho os meus meios. Os Ministros não querem que os puros ou mestiços saibam

por agora. Eles têm medo que isso cause pânico.

— Então é por isso que você estava com Lucian? Ele está te dando essa informação?

Seth apenas levantou as sobrancelhas.

Eu caí para trás contra a cabeceira, suspirando. — Mas não saber é estúpido. As

pessoas precisam saber o que está acontecendo. Lembra o que minha mãe me disse. Está

acontecendo.

— Eu sei. — Ele derrubou o queixo em direção a mim, mas cílios pesados escondiam

seus olhos. — E não acho que o Conselho quer acreditar nisso.

— Isso é tão estúpido, Seth. Eles precisam se focar, em vez de tentar controlar-nos.

— Concordo. Essas regras estão erradas. — Ele ergueu os olhos, encontrando os

meus. — Mas você não terá que se submeter a elas.

— Uh... Não soa como se eu tivesse uma escolha.

— Os mestiços não têm escolha, mas você é diferente.

Olhei para ele com espanto. — Eu não sou diferente, Seth.

Ele segurou o meu olhar. — Sim, você é. Vai se tornar um Apollyon, o que te faz

muito diferente dos outros mestiços. Você não vai se submeter a estes exames.

— É isso que você e Lucian estavam discutindo após a assembléia?

Seu olhar era intenso, calculista. — Entre outras coisas, mas não é nada para se

preocupar.

— Não é? Foi bastante ousado você discutir com o Ministro sobre isso, Seth.

O olhar em seu rosto desapareceu, substituído mais uma vez por diversão

presunçosa. — Lucian me prometeu... Você não vai ser procurada.

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Fui para o lado, olhando-o desconfiado. — Eu não sabia que você tinha o tipo de

influência para fazer Lucian prometer qualquer coisa.

— Não precisa se preocupar com os exames. Então para de pensar nisso.

— E os outros mestiços? Não deveriam ter que passar por isso.

Ele olhou para longe, deixando escapar um suspiro suave. — Posso lhe fazer uma

pergunta, uma séria?

— Claro. — Olhei para as minhas mãos arranhadas. Duvidava que Lucian se

importasse o suficiente para honrar essa promessa.

— Por que você quer se tornar uma Sentinela? É um sentimento de obrigação ou...?

Essa pergunta me levou alguns minutos para responder. — Não é sobre proteger

puros, se é aonde você quer chegar. É para isso que servem os Guardas.

— Claro que você não iria se contentar em ser uma Guarda, — disse Seth

principalmente para si próprio.

— Daimons matam sem motivo algum. Que tipo de criatura só mata para se divertir?

De qualquer forma, prefiro fazer algo sobre isso do que sentar e esperar por eles atacarem.

— E se você tivesse uma escolha diferente?

— Servidão? — Olhei para ele. — Está falando sério?

Ele revirou os olhos. — Quero dizer, se tivesse outras opções não dadas aos

mestiços? Viver uma vida normal?

— Já fiz isso, — lembrei-o, — Por três anos.

— Faria isso de novo?

Por que ele estava perguntando isso? — E você?

Seth bufou. — Eu não iria desistir de ser um Sentinela pelo mundo. Ou de ser o

Apollyon. Eu arraso.

Revirei os olhos rindo. — Uau. Você é tão humilde.

— Por que deveria ser humilde? Eu sou brilhante.

Não me incomodei em responder, porque me sentia confiante de que ele estava

falando sério. Ficamos em silêncio por um tempo. Sabia que ele percebeu que eu não tinha

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respondido sua pergunta, mas como era tão típico de Seth, ele não me pressionou. — Você

viu as fúrias no lobby?

Ele acenou com a cabeça.

— Aiden disse que elas estão aqui porque os deuses sentem que o Conselho não está

fazendo um trabalho adequado. — Brinquei com a barra da minha camisa. — Acha que...

Temos que nos preocupar com elas?

— Ah... Se ficarem soltas, então elas poderiam ser um... Problema em potencial.

— Oh. — Não sei o que me fez dizer a próxima coisa que saiu da minha boca. —

Gritei com Aiden no treinamento.

Seth cutucou meu braço com o ombro. — Tenho medo de perguntar.

— Ele concorda com as novas regras. — Bocejei. — Então gritei com ele.

— E ele disse que você estava sendo irracional, huh?

— Sim, então gritei um pouco mais. Disse que ele era como todos os outros puros.

— Bem, ele é como os outros puros.

Mudei de posição, tentando aliviar a dor no meu peito. — Não é verdade.

Seth franziu a testa para mim. — Alex, ele é um puro-sangue. Só porque escolheu se

tornar um Sentinela não o faz diferente. Em última análise, Aiden sempre está do lado dos

deuses. Não do nosso.

— Você quer dizer os puros, não os deuses. — Cansada, coloquei minha cabeça no

travesseiro e fechei os olhos. Nossa hora estava quase esgotada. Talvez conseguisse dormir

esta noite. — Você não o conhece, Seth.

— Não preciso conhecê-lo para saber o que ele é capaz de fazer.

Minhas sobrancelhas se levantaram, mas eu ignorei isso. — Preciso me desculpar

com ele.

— Você não precisa se desculpar. — Ele abaixou-se, escovando meu cabelo do meu

rosto. — Estou falando sério. Você vai ser a próxima Apollyon, Alex. Não vai pedir

desculpas a ele, a qualquer puro ou mesmo a um deus.

Depois de alguns momentos de silêncio, eu disse: — Você sabe que tem que ir

embora, certo? Mesmo se eu cair no sono, você vai embora?

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— É claro. — Eu não podia vê-lo, mas ouvi o sorriso em sua voz. Seth continuou

falando, bombardeando-me com perguntas, mas eu desisti de responder-lhe quando o

sono me atacou. O tipo de sono que eu tinha quase certeza de que não iria acordar em uma

hora ou duas. Finalmente me entreguei para ele, confiante de que quando acordasse de

manhã, Seth teria ido.

Parecia que alguém tinha me prendido de bruços sobre a cama. Eu pensei que estava

tendo uma daquelas coisas de sonho com paralisia que li uma vez, mas depois percebi que

o que me prendia à cama era um braço.

E esse braço pertencia a Seth.

Ele não havia partido, e, aparentemente, Seth era um “abraçador”.

Seu braço enrolava em torno de minhas costas, os dedos enrolados no edredom. Sua

respiração constante soprava no meu pescoço, quase como se tivesse tirado meu cabelo

para fora do caminho. Sob uma circunstância diferente eu teria gostado da sensação de ter

alguém ao meu redor, tão perto. Porque o calor que Seth exalava era bom, muito bom. Era

Seth, porém, por um momento, - um momento muito pequeno - fechei os olhos e aceitei o

calor.

Então escapei debaixo dele, bati-o no peito até que acordasse e gritei com ele por ter

ficado. Tudo isso me atrasou para a minha primeira aula e todo o episódio me deixou com

um sentimento estranho, que não foi ajudado quando passei por Lea no corredor.

Mesmo com o olho roxo e o nariz enfaixado, Lea parecia bem. Ninguém poderia

zombar dela. Eu a ignorei na maior parte do tempo, me sentindo ambivalente para fazer

isso.

Em “Verdade e Lendas Técnicas”, que era um cruzamento entre História e Inglês, eu

geralmente me sentava ao lado de Thea, uma pura calma que eu conheci durante o verão,

mas hoje Deacon St. Delphi deslizou para o assento ao meu lado.

Eu gostava de Deacon por uma série de razões - nenhuma delas era o fato de que ele

era o irmão mais novo de Aiden. Ele tendia a beber um pouco demais, mas era muito

divertido estar com ele.

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— Ei você aí. — Deacon deixou cair seu livro sobre a mesa.

— Por que Thea não está sentada aqui?

Ele deu de ombros e vários cachos loiros caíram em seus olhos cinzentos, a única

característica física que ele e seu irmão compartilhavam. — Alguns dos puros estão com

medo de você. Thea sabe que nós somos amigos. Ela pediu para trocar.

— Thea tem medo de mim? Desde quando? O que eu fiz para ela?

— Não é você, pessoalmente. Muitos de nós estamos assustados agora.

— Isso é bom saber. — Eu me concentrei no quadro-negro. O nosso professor não

tinha aparecido ainda.

— Você perguntou.

— É verdade.

— Além disso, você devia ser legal comigo.

Dei um meio sorriso para ele. — Eu sou sempre legal para você, Deacon.

— Sim, mas você precisa ser mais legal. Eu estou perdendo um monte de pontos por

ser visto falando com você.

Olhei para ele.

Deacon sorriu. Uma covinha na bochecha direita apareceu. — Não apenas você, mas

qualquer mestiço neste momento. Nós, puros, não confiamos em nenhum de vocês. Cada

mestiço é suspeito. Estamos apenas esperando por um de vocês dar o bote em nós e sugar

nosso éter.

— Então por que está falando comigo?

— Eu alguma vez liguei para o que os outros puros pensam? — Sua voz foi alta o

suficiente para que vários dos puros sentados em torno de nós ouvissem. Encolhi-me por

dentro. — De qualquer forma, meu irmão acha que eu preciso de uma babá enquanto ele

vai para o Conselho. Provavelmente pensa que eu vou ter uma overdose ou algo sem ele

estar na minha bunda.

— Isso não é o que ele pensa. Provavelmente está preocupado que alguém vai sugar

todo o seu éter.

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Deacon arqueou uma sobrancelha para mim. — Defensiva, não é, quando se trata de

meu irmão?

Desviando o olhar, senti minhas bochechas corarem. — Não. Você lhe dá um

momento difícil quando tudo o que ele faz é cuidar de você.

— Eu não sei. Ele só acha que sou um merda bêbado, o que eu sou. — Sorriu, mas

soou falso. — De qualquer forma, seu aniversário está chegando. Ele vai fazer 21, mas age

como se tivesse 30.

— Porque 30 é muito velho, — eu disse. É claro que eu não tinha esquecido o

aniversário de Aiden. Era um dia antes do Halloween e uma semana antes de irmos para o

Conselho.

— De qualquer forma, pensei em fazer-lhe uma festa. Você devia vir.

Balancei a cabeça, sorrindo. — Deacon, não estou autorizada a ir a qualquer lugar.

Nenhum dos mestiços está. — Também duvidava que Aiden se animaria com uma festa,

mas não disse isso. Acho que Deacon estava falando sério em querer fazer algo por Aiden

e eu não queria ferir seus sentimentos.

— Então você está animada sobre ir ao Conselho? Ouvi dizer que eles sabem como

fazer uma festa lá em cima.

Nervosismo virou minha barriga de cabeça para baixo. — Animada não é a palavra

que eu usaria.

Nosso professor finalmente apareceu e se lançou em uma enfadonha palestra sobre

arquétipos e a criação do primeiro Conselho. Para além de querer bater a cabeça contra a

mesa, a aula foi maravilhosa. Assim foi o resto da manhã, uma vez que me acostumei com

os olhares desconfiados. Eles não eram dirigidos apenas a mim, mas a todo e qualquer

meio-sangue.

Os puros eram um bando paranóico.

No meio do treinamento Silat, vários guardas entraram na sala, levando todos a um

impasse. Enviei a Caleb e Luke um olhar nervoso quando o primeiro guarda começou a ler

os nomes em um tom sem emoção. Meu nome estava entre os 10 chamados.

Meu estômago virou enquanto eu pegava o meu saco e seguia os outros mestiços

para fora. Seus rostos estavam pálidos, olhos afiados com desconfiança. Silenciosamente,

me arrastei atrás dos três guardas para o centro médico. O sentimento doentio expandiu

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quando vi que estávamos indo para a mesma sala em que Kain fora mantido. Isso foi

suficiente para me fazer querer fugir.

Um dos enfermeiros, um puro com cabelo sal e pimenta2, ficou diante do nosso

grupo. Parte de mim esperava que Lucian realmente tivesse prometido à Seth que eu não

teria que passar pelos exames, mas deveria ter sabido melhor. Não havia vínculo entre

nós, nada para fazer com que ele se preocupasse comigo.

O puro sorriu, mostrando uma fileira de dentes retos. Algo sobre o seu sorriso

apertou meus pulmões. Havia três mestiças no grupo, e sua boca torceu em um sorriso

gorduroso. Náusea subiu em mim.

— Vamos levá-los um de cada vez. Nós vamos fazer isso o mais rápido possível para

vocês —, disse o puro. — Alguma pergunta?

Levantei minha mão, o coração caindo sobre mim.

— Sim? — Ele pareceu surpreso.

— E se eu não concordar com isso?

O olhar do puro disparou para os guardas atrás de mim e depois saltou de volta para

mim. — Não há nada para se preocupar. Será rápido.

Eu balancei a cabeça devagar, sentindo os olhos dos outros mestiços sobre mim e os

Guardas se mexendo desconfortavelmente. — Sim, eu não estou bem com isso.

— Mas... Você não tem escolha, — disse ele lentamente.

— Mas eu tenho e estou escolhendo não. E se você não gosta disso, então gostaria de

ver você tentar me obrigar a fazê-lo.

Foi nessa altura que os Guardas atrás de mim decidiram que iam tentar me obrigar a

fazer isso. E foi nessa altura que eu decidi que ia bater em alguém novamente.

2 Cabelo marrom com alguns cabelos brancos.

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Cinco

Dei uma cotovelada no estômago do primeiro guarda. A segunda Guarda tentou

forçar-me em um canto, mas o meu chute lhe enviou voando em uma maca. O terceiro e

último Guarda deu um soco em mim, e não tenho certeza do que aconteceu, mas sei que

eu meio que me perdi.

Uma raiva profunda e terrível fluiu através de mim. O tempo acelerou incrivelmente

rápido. Eu peguei a mão do Guarda e torci seu braço para trás, girando em torno dele.

Plantando meu pé em suas costas, bati-o em uma mesa. O primeiro Guarda veio para mim

novamente. Ele se esquivou do meu chute, mas girei antes que pudesse antecipar o

próximo passo e meu pé conectou com seu queixo. O impacto o enviou cambaleando para

trás.

A mestiça correu até mim. Eu pulei da mesa de luvas médicas e cotonetes com graça

surpreendente. Houve um segundo quando reconheci que não deveria ter sido capaz de

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fazer isso. Não devia ser capaz de ultrapassar uma tabela de um metro e meio de altura

com um salto. Especialmente quando eu não tinha sequer olhado para trás de mim, mas

depois o salto do meu sapato se chocou com o carro, batendo no peito da mulher. Os três

Guardas lutaram no chão em vários níveis de dor. As paredes brancas do escritório de

medicina giraram quando eu me virei de frente para o puro encolhido.

— Continuo não tendo uma escolha?

Ele ficou junto à parede, com o rosto tão branco quanto seu casaco, mãos estendidas

na frente dele como se isso pudesse me parar. Dei um passo em direção a ele por malícia.

Não é como se eu realmente fosse atingir um puro... De novo. Ele correu para a porta

gritando: — Guardas! Guardas!

Vários dos mestiços pareciam chocados, como se eles também não pudessem

acreditar no que eu tinha acabado de fazer. Dois deles pareciam querer entrar para o corpo

a corpo.

— Não têm que fazer isso, — eu disse com sinceridade. — Eles não podem obrigar se

vocês não... — Minhas palavras foram cortadas pelo primeiro Guarda.

Recuperando, ele ficou de pé. — Srta. Andros, você fez uma decisão muito

imprudente. Ninguém ia te machucar.

Olhei ao redor. Eles não viriam para mim um de cada vez agora. Um pouco da raiva

diminuiu quando tropecei para trás. O tempo parou de se mover tão rápido. Os três

correram para mim de uma só vez. Consegui derrubar um dos Guardas para o lado, mas

outro agarrou meu braço. Eu o teria acertado também, juro, mas o enxame de Guardas que

entrou no quarto me distraiu. Foi então que dois mestiços bloquearam suas entradas,

oferecendo uma luta decente. Eu quase sorri, mas um segundo depois, estava presa ao

azulejo frio. Dois dos Guardas masculinos seguraram meus braços para baixo e a mestiça

feminina literalmente sentou-se em cima de mim. Eu resisti, tentando libertar-me.

— Pare. — Ela agarrou os dois lados de minha cabeça e forçou-a para trás. Escorria

sangue de seu nariz. — Pare de lutar contra nós. Ninguém quer te machucar.

Eu podia ouvir a briga do outro lado da porta. — Você está me machucando agora.

— Ofeguei. — Você está esmagando meu baço.

A comoção causada pelo conflito parou rapidamente, e por um momento, tudo que

eu podia ouvir era o som do meu coração batendo contra minhas costelas dolorosamente.

— Tudo bem. Eu já acabei.

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Ela olhou para mim. — Nós vamos decidir quando estará acabado.

— Não. Eu vou decidir quando está acabado. E você já acabou com ela. — Veio uma

nova voz, uma voz tão fria e forte como estranhamente musical.

O peso no meu peito de repente desapareceu, junto com a Guarda. Ela voou pela sala

de medicina, batendo em um dos muitos carrinhos alinhados às paredes. Rolei de joelhos,

ofegando por ar.

Seth deu um passo para a sala, com os olhos fervendo de raiva. — Você. Ajude-a a

levantar agora.

— Mas... Temos nossas ordens. Ela se recusou a cumprir. — Disse o Guarda.

— Você não deve ter prestado muita atenção. O Ministro deu ordens para que todos

os mestiços fossem examinados, mas não sua enteada. Eu duvido que tenha prazer de

saber que vocês três o desobedeceram. — O olhar de Seth caiu sobre mim. — Por que não

a ajudou a levantar ainda?

O Guarda que tinha falado correu para a frente e gentilmente colocou-me de pé.

— Peça desculpa a ela. Todos vocês.

Surpresa, eu olhei para Seth. Ele estava falando sério. Realmente queria que se

desculpassem por fazer seus trabalhos. E a maneira como olhou, bem, parecia que queria

fazê-los sentir isso fisicamente. Havia algo instável em seus olhos. — Seth, isso não é...

— Fique quieta, Alex. Quero ouvi-los pedir desculpas.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Desculpa...

— Sinto muito Srta. Andros. — O Guarda interrompeu pálido como um daimon. —

Eu imploro seu perdão. — Seth olhou intensamente para os outros guardas. A Guarda

mancou para a frente, desculpando-se profusamente. Quando eu assenti com a cabeça,

eles saíram da sala deixando-me sozinha com Seth por alguns momentos.

— Não tinha que fazê-los pedir desculpas, Seth. Estavam apenas fazendo seu

trabalho. Você não...

Ele estava em frente a mim, movendo-se tão rápido que eu não tinha sequer

registrado. Pegou a ponta do meu queixo com as pontas de seus dedos, me olhando.

Minha bochecha doía um pouco, mas eu duvidava que fosse formar uma contusão. — Um

'obrigado' seria bom. Eu os parei, você sabe.

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Mexi-me desconfortavelmente. — Obrigado.

Seth arqueou uma sobrancelha enquanto inclinava a cabeça para trás. — Você

também pode soar como se quisesse dizer isso.

— Eu quero dizer isso, mas você os envergonhou.

Ele deixou cair meu queixo, parecendo satisfeito que não estraguei o meu rosto. —

Você bateu nos Guardas até quando eles estavam apenas fazendo seu trabalho. Acho que

estamos quites.

Caramba. Seth tinha um ponto. Eu suspirei. — Será que... Lucian realmente ordenou-

lhes para não me revistar?

— Sim, mas aparentemente não foi claro o suficiente.

— Mas o que acontece com os outros mestiços? Eles não deveriam ter que passar por

isso. — Em vez de responder, ele estendeu a mão e ajeitou a gola da minha camisa. Devia

ter descido durante a minha luta, expondo as marcas que cobriam meu pescoço. — E sobre

eles, Seth?

Deixando cair sua mão, ele deu de ombros. — Eu não sei. Só tenho espaço suficiente

na minha cabeça para me preocupar por mim e por você.

Eu ri. — Estou surpresa que tenha algum espaço para pensar em qualquer um que

não seja você mesmo.

O sorriso maroto estava de volta. — Eu também. Acho que não gosto disso, na

verdade. — Ele deixou cair um braço sobre meus ombros e me guiou em direção à saída,

passando os mestiços que esperavam lá fora e os frios olhares de raiva dos puros.

Aiden terminou a prática cedo naquela noite. Nós não nos falamos muito, mas eu

poderia dizer que ele tinha ouvido falar sobre o que aconteceu mais cedo. O único ponto

luminoso da noite foi quando acabei ficando para jantar com Caleb. A notícia já tinha

chegado até ele e provavelmente para o resto do Covenant.

— Em quantos problemas você se meteu? — Caleb perguntou.

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Dei de ombros e mergulhei uma batata frita em um pote de molho Mayo3. —

Nenhum, na verdade. Lucian ordenou-lhes para não me procurar.

Caleb se encolheu quando eu voltei a colocar uma batata coberta de Mayo na minha

boca. — Você foi tocada pelos deuses. Eu juro.

— Tocada de diversas maneiras — respondi. — Onde está Olivia?

— Você pode mergulhar a batata frita em algo normal, como ketchup?

Eu passei minhas fritas no molho alegremente. — E onde está Olivia?

Caleb inclinou a cadeira para trás sobre duas pernas, suspirando. — Ela está louca

comigo por ontem. Nós começamos a discutir esta manhã.

— Ah. Vocês, brigando?

— Acho que sim. É estúpido. De qualquer forma, alguma notícia sobre o daimon?

Eu disse a ele o que Seth havia dito sobre mais mestiços sendo atacados e

transformados. Caleb teve a mesma reação que eu: descrença e raiva.

Às vezes, eu realmente, verdadeiramente, acreditava que o Conselho correria melhor

se mestiços tivessem o controle. Nós parecíamos ter mais habilidades de pensamento

crítico e um bom senso melhorado.

Depois de alguns momentos, Caleb falou. — Sabe, eu acho que o que você fez foi

muito legal.

Dei de ombros, pensando em como os Guardas pareciam envergonhados. —

Obrigado. Mas não parece muito legal agora.

Caleb ergueu as sobrancelhas. — Bem, fez com que todos falassem e pensassem.

Nenhum de nós quer passar por isso. Achamos que foi corajoso.

— Não foi corajoso. Estúpido talvez, mas não corajoso.

— Não, — ele insistiu. — Foi corajoso.

— Caleb, você sabe que os puros vão enlouquecer se começarmos realmente a

pressioná-los. Um mestiço recusando um exame com strip é uma coisa, mas dezenas? Isso

é traição para eles. Você sabe o que eles fazem quando alguém se torna suspeito de traição.

3 É muito usado em churrascos, contém basicamente maionese, alho, cenoura, cebola e limão.

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O olhar determinado deu a seus olhos azuis uma ferocidade desconhecida. — Como

eu disse, acho que as coisas têm que mudar por aqui.

Inclinei-me para a frente. — Caleb, não se meta em problemas.

— Por que você está discutindo sobre isso comigo, Alex? Você os enfrentou hoje,

mas soa como se nenhum de nós devesse fazê-lo também. Por quê? Só você tem

permissão para isso e o resto de nós deveria ir adiante com tudo que eles querem?

— Não. Isso não é nada do que eu estou dizendo. É que isto é sério, Caleb. Não é

sobre tentar entrar em quartos ou deixar a ilha. As pessoas poderiam ser expulsas ou pior.

— Você não foi.

— Sim, bem... Eu sou diferente. E também não estou dizendo que ser como eu é

super legal. A única razão para que não esteja em problemas é porque Lucian entrou em

cena, o porquê, eu não sei. Mas vocês vão ter problemas.

Incrédulo, ele ergueu as mãos, balançando a cabeça. — Você está sendo muito...

— Muito, o quê?

Caleb franziu a testa. — Eu não sei, racional demais sobre isso ou algo assim.

Por um momento, não fiz nada senão olhar para ele e então eu me peguei sorrindo.

— Você sabe que é a única pessoa que me acusa de ser muito racional?

Um sorriso estourou em seu rosto, lembrando-me do Caleb mais jovem e

despreocupado - o Caleb que não ficava animado sobre tomar uma posição contra o

Conselho de puros. — Bem, acho que há uma primeira vez para tudo.

Nós sorrimos um para o outro, mas depois o meu sorriso desapareceu. — Caleb, você

mudou.

Seu sorriso desapareceu. — O que quer dizer?

— Eu não sei. Você é apenas diferente agora. — Eu não achava que ele realmente ia

responder a isso, especialmente quando se levantou. Ele caminhou ao redor da mesa para

se sentar ao meu lado e os seus lábios franziram por um momento de reflexão.

— Eu estou diferente.

— Eu sei — Sussurrei.

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Um breve sorriso apareceu. — Sabe, fico pensando sobre quando estávamos na

cabana... E eu não podia fazer nada para ajudar você. Não sei como pensei que seria

enfrentar um daimon. Acho que eu realmente não tinha idéia.

Um músculo saltou ao longo de sua mandíbula enquanto ele esfregava os dedos

sobre um ponto raspado na mesa. — Tudo o que fico pensando é que tem que haver

alguma coisa que eu pudesse ter feito para fazê-los parar de machucar você. Deveria ter

lutado apesar da dor ou algo assim.

— Caleb, não. — Peguei suas mãos frias. — Não havia nada que você pudesse fazer.

E toda aquela situação de merda, foi minha culpa.

Ele me encarou, os lábios torcendo em um sorriso cínico. — Eu nunca me senti mais...

impotente na minha vida. Não quero me sentir assim de novo.

— Você não é impotente. Nunca foi. — Eu deslizei para mais perto e passei meus

braços ao redor de seus ombros rígidos. Caleb respondeu um pouco sem jeito no começo,

mas então apoiou o queixo no topo da minha cabeça. Ficamos assim por um tempo.

— Você tem Mayo em seu cabelo. — Ele murmurou.

Rindo, eu me afastei. — Onde?

Ele apontou. — Você é uma comedora bagunçada. —Depois que tirei o Mayo do meu

cabelo, ele estudou-me.

— O quê? Tenho mais molho no meu cabelo?

— Não. — Ele olhou ao redor da lanchonete vazia. — Como estão as coisas entre...

você e Aiden?

Deixei cair o guardanapo. Normalmente, Caleb percebia que Aiden não era algo que

eu queria falar. — Não sei. Está tudo a mesma coisa, eu acho.

Ele apoiou o queixo no meu ombro. As bordas do seu cabelo macio fizeram cócegas

na minha bochecha. — Ele está zangado sobre essa coisa da Guarda?

— Não disse nada sobre isso, mas eu diria que sim.

— Vocês já, sabe... fizeram?

— Não! — Eu o empurrei para trás, acertando seu braço levemente.

Caleb me lançou um olhar compreensivo.

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— Nada pode acontecer entre nós, você sabe disso. Então pare de me olhar assim.

— Como se ‘não ser permitido’ alguma vez te impediu antes, Alex. Apenas... tenha

cuidado. Não vou te dar palestras sobre isso…

— Bom.

Ele abriu um sorriso. — Mas, se alguém descobrir sobre o que quase aconteceu entre

vocês dois...

— Eu sei. — Olhei furiosa para o restante das minhas batatas fritas. — Não é nada

para se preocupar, certo?

O tópico felizmente mudou para assuntos menos sérios. Muito cedo, tivemos que

voltar para nossos dormitórios, e eu estava me sentindo um pouco melhor sobre as coisas

na hora de tomar banho. Mas ainda estava preocupada com Caleb, temia que os eventos

em Gatlinburg o houvessem danificado.

Depois de ter me trocado, fui atingida novamente por essa sensação de

formigamento estranho. O calor rastejou sobre a minha pele logo antes da dor intensa

começar em minha barriga. Realmente, tentei ignorá-la. Até peguei meu livro de

trigonometria, mas não conseguia me concentrar. Liguei a televisão, mas a força do que

quer que fosse que estava me afetando, tornou quase impossível pensar em outra coisa

que não ter um namorado. Talvez seja esta a forma do meu corpo me dizer que eu

precisava encontrar alguém - alguém que estava realmente disponível e que não fosse um

puro-sangue.

Quando o sentimento finalmente aliviou, caí em um sono agitado, que durou apenas

algumas horas antes que eu pulasse para cima na cama, o coração acelerado. Examinei o

quarto escuro, tentando desesperadamente livrar a imagem do rosto de Daniel da minha

mente, seu toque de minhas memórias.

Virei e olhei para a janela. Um segundo passou antes que meu cérebro processasse a

sombra escura por trás das cortinas. Meu coração pulou na minha garganta. Sacudindo,

joguei as cobertas e me arrastei até a janela. A sombra ainda estava lá, provocando

arrepios em mim. Era Seth tentando dar uma espiada em minha janela? Se assim fosse, eu

ia bater-lhe na cabeça. Ou podia ser o daimon - uma vez que não tinha sido apanhado

ainda. Inferno, se fosse, não ia esgueirar-se para o meu quarto.

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Eu atirei as persianas para cima e saltei para trás. Uma pálida face — claramente não

a de Seth — me encarou de volta. Na pálida luz da lua, eu quase pensei que era um

maldito daimon.

Mas era uma Sentinela. Acho que a loira glacial era chamada de Sandra. Ainda

assim, o que estava fazendo olhando para janela do meu quarto? Algo sobre isso me

assustou para caramba. Sem mais delongas, destranquei a janela e a abri. — Está tudo

bem?

Os olhos de Sandra caíram para as marcas em meus braços nus, antes de arrastá-los

de volta para o meu rosto. — Pensei ter ouvido gritos vindos do quarto.

Corei quando percebi que deve ter sido um sonho com gritos. — Sinto muito. Tudo

está bem.

— Certifique-se que esta janela está bloqueada. — Ela sorriu. — Boa noite.

Assentindo, fechei a janela e a tranquei. Minhas bochechas ainda estavam vermelhas

brilhantes quando voltei para a cama e puxei as cobertas sobre minha cabeça.

Apesar de que meus gritos infantis trouxeram uma Sentinela e não um daimon para

o meu quarto, o sentimento assustador permaneceu toda a noite.

Deparei-me com o dia, sentindo-me desligada e doente. Não do tipo vomitando, mas

nervosamente doente. Cochilei ao lado de Deacon na sala de aula. Ele me acordou antes

que o professor me visse dormindo. Minhas mãos tremiam quando peguei meu

refrigerante no almoço, o que me rendeu uma série de perguntas interessadas de Caleb e

Olivia.

Talvez estivesse realmente ficando doente com alguma coisa. Ou talvez fossem os

pesadelos que eu tive as duas últimas noites. Realmente não sei, mas tudo o que eu queria

fazer era rastejar de volta para a cama e dormir.

Na aula de luta Gutter, era difícil seguir os movimentos do meu parceiro de treino.

Luke pegou leve comigo, apenas me derrubou para o chão algumas vezes. E o meu dia

não estava nem perto de acabar.

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A prática com Aiden foi imediatamente em seguida e eu fui uma droga nessa

também.

Me desviei para a esquerda, mas senti meus movimentos espasmódicos e muito

lentos. A perna de Aiden veio violentamente batendo-me na panturrilha. O impacto me

jogou para frente, de cara para as esteiras. Derrubando lâminas de verdade, caí de forma

estranha. Todo o meu peso caiu sobre meus pulsos e deixei escapar um ofego agudo.

— Alex! Você está bem? — Aiden veio para o meu lado e estendeu a mão.

Ignorando a dor, empurrei-me para cima. — Estou bem.

O braço de Aiden ainda estava estendido, como se ele tivesse se esquecido de ter

feito tal movimento. Apenas ficou lá, olhando para mim. — O que há com você hoje? Vai

acabar quebrando o pescoço nesse ritmo.

Fogo queimou meu rosto enquanto pegava as lâminas dos tatames. — Eu estou bem.

Queria pedir desculpas por acusá-lo de ser como os outros puros enquanto tinhamos

alguns momentos de folga, mas as palavras "Sinto muito" simplesmente não passaram

pelos meus lábios, e então Aiden estava recuando em uma posição de ataque.

Ele girou as lâminas nas mãos. — De novo.

Eu ataquei. Aiden trouxe suas lâminas para baixo sobre as minhaa, o som de metal

colidindo ressoou através da sala de treinamento. Ele me empurrou para trás, apontando

uma lâmina em minha barriga. Peguei o braço dele com o meu antebraço, me tirando de

seu alvo.

— Bom — Disse ele. — Mantenha-se movendo. Nunca fique parada.

Corri debaixo de seu braço, ficando fora de seu alcance enquanto estudava seus

movimentos. Havia sempre alguma coisa que entregava o seu movimento, sua técnica. Às

vezes era apenas o fino tremor de um músculo ou o movimento dos olhos, mas sempre

estava lá.

Aiden apontou, mas era um truque. Eu vi isso um instante antes que ele descesse,

indo para as minhas pernas com um chute baixo. Pulei para fora do caminho e depois tive

minha chance de ‘atirar para matar’. Esta jogada teria sido o suficiente para um mestiço

destreinado, ser pego no tatame assim.

Mas Aiden não era inexperiente e foi incrivelmente rápido. Ele ficou de pé em um

movimento veloz, ao mesmo tempo colocando ambas as lâminas em uma das mãos.

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Eu pulei, trazendo as lâminas para baixo. Aiden me encontrou em pleno vôo,

pegando meu braço. Dentro de um segundo, ele tinha minhas costas presas contra ele e

dois punhais apontados para a minha garganta.

Ele abaixou a cabeça, a respiração dançando sobre minha bochecha. — O que você

fez de errado?

Senti seu coração batendo contra o peito. Estávamos tão perto. — Hum...?

— Você me viu mover as lâminas para uma das mãos como uma jogada vulnerável.

Deveria ter ido para a mão que segurava as lâminas. Um golpe limpo e teria me

desarmado.

Meditando sobre aquilo, vi que estava certo. — Bem, sinos do inferno.

Ele encostou a cabeça ainda mais para baixo, os fios mais longos de seu cabelo

roçando minha bochecha. Nenhum de nós se moveu. Deixei meus olhos cairem fechados

enquanto seu calor me rodeava. Acho que eu poderia ter dormido em pé contra ele.

— Agora você sabe. — Ele me soltou. — Vá novamente.

E eu fiz. Novamente e novamente nós nos enfrentamos. Bloqueei uma série de seus

socos e ele bloqueou todos os meus. Depois de algumas rodadas, eu estava escorregadia

de suor frio e exausta. Tudo o que queria fazer era sentar-me.

Aiden correu até mim e eu empurrei-o de volta. Com a distância entre nós, lancei-me

para a direita, os dedos espasmódicos ao redor do punho da lâmina.

Chute. Use um chute, pedi a mim mesma. Aiden esquivou meu soco, mas não o meu

chute. Ele perdeu o controle de uma das lâminas e ela caiu no tapete. Surpresa e orgulho

correram pelo seu rosto antes que investisse em mim com sua outra lâmina. Bloqueei seu

ataque, os braços tremendo. Ele desceu, movendo-se em posição para varrer minhas

pernas debaixo de mim. Eu vi isso vindo de uma milha de distância.

Eu só não fiz - não consegui mover minhas pernas rápido o suficiente.

Tudo abrandou, garantindo que a imperfeição do que estava prestes a ocorrer, seria

impecavelmente capturada. Sacudi de volta em direção à borda do tapete. Sua perna longa

varreu, pegando minhas duas pernas. Perdi meu domínio sobre as lâminas e cai para trás.

Um segundo depois minha cabeça bateu no chão. Fiquei ainda atordoada e enjoada.

O rosto de Aiden apareceu na minha visão, mas seus traços eram um pouco

confusos. — Alex, você está bem?

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Pisquei lentamente. Minha cabeça palpitava tanto que meus dentes doíam. — Eu

acho que sim...

— Pode sentar-se?

Cada parte de mim protestou o movimento, mas sentei-se. Aiden imediatamente

verificou a parte de trás da minha cabeça por danos com dedos rápidos e suaves.

— Isso... Foi uma mancada minha.

— Não é um grande negócio. Estava indo muito bem. Você até me desarmou —

Sentou-se. Colocou suas mãos em concha segurando meu rosto e inclinou minha cabeça

para trás. Sorriu. — Não acho que há qualquer dano permanente.

Tentei sorrir, mas não consegui. — Sinto muito.

Uma carranca deixou sua testa enrrugada. — Alex, não se desculpe. Acontece. Você

não pode sempre ser a mais rápida…

— Eu vi o seu movimento, Aiden. Tinha tempo mais que suficiente para sair do

caminho. — Baixei os olhos. — Só estou tão malditamente cansada.

Aiden deslizou para a frente, os joelhos pressionando contra a minha coxa. — Alex,

olhe para mim. — Suspirando, levantei meus olhos. Ele alisou o meu cabelo para trás com

um pequeno sorriso. — As práticas são demais?

— Não…

— Alex, seja honesta comigo. Você está treinando o tempo todo. É muito?

Se ele apenas continuasse tocando meu cabelo eu admitiria qualquer coisa. — Não é

muito, Aiden. Realmente, não é. Eu sou... só não tenho dormido muito.

Ele mudou de posição, de modo que estava bem ao meu lado, sua outra mão caindo

para o meu ombro. Inalei seu cheiro único de mar e folhas queimando. Com ele tão

próximo, com uma mão curvando sobre meu ombro e a outra continuamente alisando

meu cabelo, eu era massinha em suas mãos. Acho que ele sabia disso.

— Por que você não está dormindo, Alex? — Perguntou, a voz baixa e suave.

As palavras meio que se derramaram através de mim. — Eu tenho pesadelos - todas

as noites e durante toda a noite.

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— Pesadelos? — Ele repetiu. Não soava como se achasse engraçado, apenas que não

tinha entendido.

Fechei os olhos, tomando uma respiração superficial. — Você não sabe como foram

todas aquelas horas... em Gatlinburg, sendo incapaz de realmente fazer alguma coisa. E

todas essas marcas, parecia que eles estavam quebrando pedaços de mim. Você não sabe o

que eu teria feito para fazê-los parar, - apenas fazê-los parar.

Aiden endureceu, seus dedos enrolando ao redor da minha nuca. — Está certa, Alex.

Eu não sei, mas queria saber.

— Você não quer dizer isso. — Sussurrei.

— Eu quero. — Ele voltou a mover os dedos pelo meu cabelo. — Então talvez eu

fosse capaz de ajudá-la de alguma forma. É sobre isso que você está tendo pesadelos?

— Às vezes, é sobre mamãe e em outras é sobre os dois, Eric e Daniel. Eles são tão

reais, sabe? Como se estivesse acontecendo novamente. — Pressionei meus lábios,

impedindo a bola de emoção de passar pela minha garganta. Falar sobre aquela noite,

sobre o que tinham feito, fez meu estômago parecer como leite azedo. — Então, sim, eu

não consigo dormir muito.

— Quanto... Por quanto tempo isso está acontecendo?

Dei de ombros. — Desde uma semana depois que tudo aconteceu.

— Por que você não disse nada? Isso é muito tempo para lidar com isso sozinha,

Alex.

— O que devo dizer? É muito, muito infantil estar tendo terrores noturnos…

— Eles não são terrores noturnos. É o stress, Alex. Aquilo com que você teve que

lidar... — Olhou para longe, fazendo um trabalho muscular em sua mandíbula. — Não é à

toa que está tendo pesadelos. Ela era um daimon, Alex, mas também era sua mãe.

Afastei-me, olhando para seu rosto. Preocupação marcava o rosto de Aiden,

deslocando a cor de seus olhos para um cinza estrondoso. — Eu sei.

Ele balançou a cabeça. — E então você tem funcionado sem parar. Não teve um

momento para apenas... desligar de tudo isso. O ataque daimon provavelmente iniciou

isso. Não sei por que não pensei nisso antes, por que ninguém fez. Isso tudo é demais.

Temos que...

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— Por favor, não diga a Marcus. Por favor. — Comecei a subir para os meus pés, mas

ele me manteve na esteira. — Se ele achar que tem algo errado comigo, vai me tirar do

Covenant. — Se Marcus pensasse que eu estava danificada, entraria para a servidão.

Mestiços não vão para o aconselhamento. Não entendiam o que era estresse pós-

traumático. Eles apenas lidavam com as coisas. Não perdiam o sono e estragavam as aulas.

— Oh, deuses, Marcus vai me expulsar.

Aiden pegou meu queixo novamente. — Isso não é o que eu ia dizer. Você se

preocupa demais, Agapi. Não vou dizer nada a ninguém. Nem uma única palavra, mas

não significa que vou esquecer.

— O que significa isso?

Ele sorriu, mas parecia desligado e um pouco triste. — Bem, você precisa descansar

um pouco e de tempo para apenas relaxar. Eu não sei. Vou pensar em alguma coisa.

Cobri sua mão com a minha. De uma vez, ele soltou meu queixo e enfiou os dedos

pelos meus. Meu pequeno coração sentiu todos tipos de felicidades. — O que Agapi quer

dizer?

Aiden sugou o ar. — O que?

— Você me chamou de Agapi... Um par de vezes. Parece bonito.

— Ah. Eu... Eu não sabia que tinha feito. — Ele puxou sua mão livre. — É a velha

linguagem. Isso realmente não significa nada.

Isso foi meio decepcionante. Relutantemente, subi para os meus pés. Respirei

profundamente e assisti Aiden ficar em pé. — Eu me sinto bem…

As portas do ginásio se abriram, batendo contra a parede. Seth caminhou para dentro

como se ele fosse o dono do lugar. — O que está acontecendo?

Olhei para ele. — O que lhe parece?

Aiden tirou as lâminas para fora das esteiras. — Eu realmente preciso encontrar uma

maneira de barrar as portas.

Seth disparou uma olhada à Aiden — Eu realmente gostaria de ver você tentar.

Aiden baixou os braços, os dedos avançando sobre o punho das lâminas. — Não tem

algo que você deve fazer? Não posso acreditar que o seu único propósito de estar aqui é

para ajudar Alex alguns dias por semana e espreitar os corredores do dormitório feminino.

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— Na verdade, esse é o meu único objetivo. Você não sabia? Eu estou aqui…

— Uh, a aula acabou, Aiden? — Eu cortei antes de os dois estrangularem ou baterem

um no outro.

— Sim. — Seus olhos ficaram em Seth.

Senti que havia uma boa chance de ele dar uma facada em Seth. Havia também uma

boa possibilidade de Seth jogar akasha em Aiden. — Tudo bem. Obrigada pela aula... E

tudo mais.

Seth sorriu e ergueu as sobrancelhas para Aiden.

— Não há problema. — Respondeu Aiden.

Gemendo interiormente, corri para a minha mochila. Na saída, peguei um punhado

da camisa de Seth. — Vamos.

— O que? — Seth protestou. — Acho que Aiden quer passar algum tempo comigo.

— Seth!

— Tudo bem. — Ele virou-se, ajeitando a camisa.

Não olhei para trás. Uma vez fora do prédio, me atrevi a olhar para Seth. — Você

precisa de algo?

Ele sorriu. — Não.

— Então, você interrompeu meu treinamento, sem razão aparente? Acho isso uma

tremenda besteira.

Seth deixou cair o braço sobre meu ombro. — Você pode achar o que quiser. Vamos

pegar algo para comer. Você ainda pode fazer isso, certo? Ou está proibida de mostrar sua

cara no refeitório?

— Eu supostamente não devo sair com os meus amigos.

— Então acho que é uma coisa boa que você e eu não somos amigos de verdade.

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Seis

Após mais um longo e chato dia de aulas, esperei a minha vez com Seth, rezando

para que eu não quebrasse a cabeça novamente. Ontem tinha conseguido dormir mais

uma noite decente depois que Seth havia aparecido com um DVD. Estava me sentindo

muito rejuvenescida.

Já que estava sozinha por alguns momentos antes do treino, aproximei-me da parede

de destruição em massa. Estava prestes a pegar o punhal de Aiden, quando percebi que

algo estava estranho com a parede.

As armas estavam penduradas em pequenos ganchos pretos, e agora havia vários

pontos vazios. Em todo o tempo que pratiquei nesta sala, nunca tinha visto nenhum lugar

vago. Punhais e lâminas eram mantidos nesta sala apenas para fins de treinamento. Cada

lâmina requeria uma técnica de manipulação diferente e eram utilizadas em momentos

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diferentes durante o dia. Será que eles removeram as lâminas para a limpeza? Não era

como se reunissem muita poeira nesta sala.

— Pronta, minha pequena Apollyon em treinamento?

Deixei minha bolsa e me virei. Seth atravessou as esteiras, um sorriso arrogante

manchado em seu rosto. Chuva escorria de seu cabelo e corria pelo pescoço, dando-lhe um

aspeto selvagem. Esqueci-me das lâminas em falta à vista do olhar perverso em seu rosto.

Estava tramando algo.

— Não realmente.

Seth estalou os dedos. — Como está chovendo, achei que podiamos trabalhar em

suas habilidades de luta, uma vez que elas são terríveis. Eu sei, eu sei, - você está

devastada por não ser capaz de praticar com os elementos hoje, mas veja pelo lado bom.

Nós podemos rolar nas esteiras. Juntos.

Arqueei uma sobrancelha. — Parece divertido.

Ele parou atrás de mim e colocou as mãos sobre meus ombros. — Está animada para

isso?

Afastei suas mãos com um encolher de ombros e tirei o elastico para o cabelo do

pulso. — Sim, não estou danificada.

— Não disse que estava.

— Podemos fazer isso sem que você fique falando?

Seth fez beicinho. — Mas eu tenho algo que você pode querer saber.

— Duvido.

— Deixe-me fazer-lhe uma pergunta: Você se sente mal por ter incitado os mestiços a

se recusar submeter aos exames? Vi mais cinco mestiços machucados hoje.

Caleb não estava brincando quando disse que vários mestiços vinham planejando

recusar os exames. Podia entendê-los facilmente. Embora não tenha havido um sinal

indicando que o daimon ainda estava no campus, os puros mantiveram as regras e

exames. Acho que tinha algo a ver com o fato de que ninguém sabia quanto tempo um

daimon mestiço poderia ficar sem éter.

— Não os obriguei a nada, — eu resmunguei.

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— Eles estão seguindo a sua liderança, e se bem me lembro, não foi você quem disse

a eles que não tinham que fazer isso?

Minhas bochechas coraram de frustração. — Que seja. Cale a boca.

— Então, vamos nos divertir, Alex.

Ele considerava lutar como "diversão" apenas porque realmente envolvia muitos

rolamentos... E às vezes, puxões de cabelo. E acho que Seth usou isso como desculpa para

me apalpar. Como agora. Eu bati em sua mão, expulsando-a da minha bunda. — Você é

tão cachorro.

— E suas habilidades de luta continuam uma merda. — Prendeu-me pela terceira

vez. A maioria de seu cabelo tinha se soltado, pendurando sobre o rosto. — A maioria das

fêmeas é uma droga. É basicamente por causa do peso do corpo. Os machos têm mais

massa. Então, você precisa permanecer em seus pés.

Revirando meus quadris, consegui tirar Seth de cima de mim. Subi de volta a pé. —

Sim, acho que eu já percebi isso.

Descansando, ele inclinou a cabeça para trás. — Então, você dormiu como um

pequeno bebê Apollyon a noite passada. Eu me pergunto por quê.

Olhei-o. Seth tinha ficado a noite novamente. — Detesto você.

Ele riu. — Você, relutantemente, gosta de mim.

— Que seja. Então, vai me dizer por que está sempre com Lucian? Ele é uma parte de

seu pequeno fã clube agora?

— Meus fãs gostam de ouvir minhas histórias de guerra. — Ele ficou de pé,

balançando para mim. — São obcecados por mim. O que posso dizer? Sou assim legal. E

eu não estou sempre com Lucian.

Agarrei o braço dele, torcendo para trás e deixando-o preso. — Duvido disso.

Seth parou. — Você sabe uma coisa, Alex?

Endireitando-me, relaxei minha pressão em seu braço. — O quê?

Ele olhou por cima do ombro para mim. — Você realmente precisa começar a

descansar mais. A falta de sono está nublando seu julgamento. Eu sou legal sim, e você

acabou de cometer um erro fatal.

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— Hein?

— Nunca deve relaxar o seu aperto. — Então se livrou de mim, golpeando-me no

ombro. Bati no tapete com um grunhido alto. — Ah, você acabou de cair?

— Não. — Rolei de costas, estremecendo. — Eu ataquei o chão.

Ele caiu plantando uma perna de cada lado do meu corpo. Pegou meu queixo. — O

que você e Aiden estavam fazendo no treino de ontem?

Agarrei seu pulso com a intenção de quebrá-lo. Seth pareceu adivinhar minhas

intenções, porque seus olhos se estreitaram em fendas finas antes de deslizar as mãos

longe do meu queixo. — Nós estávamos treinando, e por que precisa se sentar em cima de

mim para falar comigo?

— Porque eu posso e gosto disso.

Queria bater nele. — Bem, eu não gosto. Então saia de mim.

Inclinou-se para a frente em vez disso, seu rosto só a centímetros do meu. — Não

gosto de suas práticas com Aiden. Então, não, eu não vou sair.

Minha garganta estava seca. — Você apenas não gosta de Aiden.

— Está certa. Eu não gosto dele. Não gosto do jeito que olha para você e realmente

não gosto do jeito que ele olha para mim.

Tentei manter minha expressão vazia, mas senti meu rosto queimar. — Aiden não me

olha estranho. E ele olha para você desse jeito porque você é estranho.

Ele riu. — Yeah, não acho que seja isso.

Seth poderia estar captando meus sentimentos por Aiden como ele pegou meu medo

quando eu estava em Gatlinburg? Se assim for, isso seria muito, muito ruim.

— Onde está querendo chegar?

Seth saiu e sentou-se de pernas cruzadas ao meu lado. — Eu não estou querendo

chegar a lugar nenhum. Aliás, tenho que te contar uma coisa.

Enquanto eu vivesse, nunca me acostumaria com a maneira com que Seth mudava de

assuntos tão frequentemente. Fazia o meu cérebro doer. — O quê?

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— Houve um ataque no Covenant de Tennessee na noite passada. Outro mestiço

transformado. Cortou um puro, drenou todo seu éter e o jogou fora de uma janela do

sétimo andar do dormitório.

Horrorizada, eu o enfrentei. — Oh, meus deuses! Por que não me disse logo no início

do treino?

Olhou para mim. — Lembro-me claramente de dizer que tinha algo que você estaria

interessada em saber e me respondeu que era duvidoso.

— Bem, você poderia ter explicado um pouco melhor. — Eu caí para trás contra as

esteiras. — Caramba, o que eles estão fazendo sobre isso?

— A mesma coisa que estão fazendo aqui, mas pegaram o daimon. Havia sido um

Guarda e como o puro morreu, estão levando mais medidas extremas.

— Como o quê?

— Há conversas de separar os puros dos mestiços.

— O quê? — Eu gritei.

Seth vacilou e fugiu para longe. — Ai. Porra, Alex, eu só posso imaginar como você

grita no auge do...

— Está falando sério? — Sentei de novo, dobrando as pernas debaixo de mim. —

Como eles podem fazer isso? Compartilhamos os dormitórios com os puros. E aulas. É o

mesmo em todos os lugares!

— Pelo que ouvi, vão colocar todos os puros em um dormitório e todos os mestiços

em outro. E alterar os horários de aula.

Revirei os olhos. — Ah, então vão fazer os dormitórios unissexo? Sim, isso vai acabar

de ótima maneira. Todo mundo vai ter sexo.

— Parece o meu tipo de lugar. — Seth sorriu. — Talvez eu possa conseguir uma

transferência.

— Nunca leva nada a sério? — Empurrei-o com os meus pés.

Seth saltou em pé, elevando-se sobre mim. — Eu levo você a sério.

Olhando para ele, dei um passo para trás. — Isso é sério, Seth. E se fizerem algo

assim aqui? E se este é o começo de uma mudança?

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A mistura sempre presente e irritante de presunção e diversão desapareceu de seus

assustadores olhos dourados, revelando um nível de gravidade que não pensei que Seth

era capaz. — Alex, tudo já mudou. Não vê isso?

Engoli e cruzei os braços em volta de mim, mas isso não impediu que a frieza súbita

lavasse o meu corpo, como se tivesse entrado em um processo de congelamento.

Aiden tinha dito a mesma coisa.

— Há dois de nós, — Seth disse calmamente. — Tudo mudou no momento em que

você nasceu.

Bati meu dedo ao longo da borda do teclado. Estava tendo uma daquelas noites em

que questionava tudo que aconteceu, e eu estava ficando irritada comigo mesma.

Culpava Seth.

Tudo mudou no momento em que você nasceu.

Tentei não pensar sobre como todo o negócio Apollyon funcionava na maior parte do

tempo. Normalmente fingia que não era um grande negócio. Mas isso não significava que

não estava lidando com isso, eu só sabia que não havia nada que pudesse fazer. É como

não chorar sobre vodka e suco de amora derramado ou qualquer outra coisa. Mas havia

momentos, como anteriormente com Seth, quando a idéia de se tornar essa coisa que as

pessoas esperavam, algo milagroso, e também ficarem morrendo de medo, me

aterrorizava.

Olhei para a tela do computador, forçando a parar de me preocupar com as coisas de

Apollyon e o que estava acontecendo nos Convenants. Então, joguei cerca de uma dúzia

de rodadas de campo minado e solitário. Qualquer coisa para manter o meu cérebro muito

bem em branco. Funcionou lindamente por um tempo curto.

Outra questão surgiu em mim. Por que Lucian interveio em meu nome? E por que

Lucian entregava tanta informação para Seth? Sim, ele era o Apollyon, mas Lucian era o

ministro e Seth era apenas um meio-sangue. Por que Lucian permitia a Seth ficar a par de

tais informações?

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Em seguida, havia o negócio com o Conselho. Eu tinha essa sensação de que não

tinha muitos fãs no Conselho e meu tempo com eles ia ser uma droga.

Tudo isso fazia meu cérebro doer.

Gemendo de frustração, deixei a cabeça cair sobre o teclado. Um imediato e

estridente zumbido encheu o quarto que estava tranquilo, mas o ignorei até que tive uma

ideia brilhante. E não tinha nada a ver com o Apollyon, o Covenant, ou Lucian.

Tinha a ver com Aiden.

Levantei a cabeça, mordi meu lábio e abri uma página na internet. Durante a última

semana, eu estava vasculhando a internet em busca do presente perfeito para o aniversário

de Aiden. Não apenas um presente de aniversário, mas uma oferta de paz, também. Achei

que poderia achar algo, eu não sei... Especial. Estava acabando de mãos vazias na maior

parte dos dias, mas esta noite, tive uma ideia.

Tinha a ver com o que tinha visto em sua casa de campo naquela noite, um número

ridículo de livros, quadrinhos, e uma variedade de palhetas coloridas. Pensei que era uma

coisa estranha para se colecionar, mas pelo menos não era algo nojento como pedaços de

corpos. De qualquer forma, sabia que havia uma cor que ele não tinha. Preta. Mas eu não

queria que fosse alguma merda de plástico. Queria - e precisava - de algo especial.

Uma hora mais tarde, me deparei com uma loja online dedicada a palhetas raras e eu

sabia que tinha encontrado o presente perfeito.

Eles tinham uma feita de pedra ônix, e, aparentemente, era uma super-extraordinária

palheta. Não tinha idéia do motivo. Comprar a coisa seria difícil, no entanto. Não havia

sido confiada a ter uma conta bancária, por algum motivo.

No dia seguinte, encurralei Deacon antes da aula começar. — Você pode fazer uma

coisa para mim?

— Qualquer coisa para a minha mesticinha favorita. — Me deu um pequeno aceno

com a cabeça, enquanto olhava Luke, que estava gesticulando na frente da classe.

— Mesticinha? Não importa. Esqueça. Você tem cartões de crédito, certo?

Balançou um cacho rebelde que tampava seus olhos e sorriu. — Uma grande

quantidade deles.

Enfiei um pedaço de papel em seu rosto. Rabisquei o nome do site e o código de

estoque da palheta sobre ele. — Pode pedir isso para mim? Vou dar-lhe o dinheiro.

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Deacon olhou para o papel e, em seguida, levantou a cabeça, olhando para mim. —

Vou quer saber?

— Não.

— É para o meu irmão, não é?

Senti meu rosto corar. — Pensei que não queria saber.

Ele dobrou o papel e colocou-o no bolso, balançando a cabeça. — Não. Vou pedir

hoje à noite.

— Obrigada, — murmurei, sentindo-me superexposta.

Olhando para frente da sala de aula, enquanto realmente não via nada do que o

professor escrevia no quadro, torci para que Aiden gostasse da palheta, que amasse. Meus

músculos ficaram tensos com a ideia de amor e Aiden na mesma frase.

Só porque eu estava comprando-lhe uma estúpida palheta de guitarra não significa

nada. E só porque queria pular em seus ossos não significa que eu amava... Ele. Mestiços

não amavam puros. Então, de onde vinha esse pensamento?

Ignorei Deacon o resto da aula e caí em um humor estranho que durou todo o dia.

Nem mesmo as brigas hilariantes de Caleb e Olivia na hora do almoço me tiraram dele.

Nem mesmo quando Lea tropeçou no corredor. O treino com Aiden não conseguia afastar-

me do mau humor.

O olhar tenso e preocupado de Aiden seguiu cada um dos meus movimentos.

Imaginei que ele estava esperando que eu adormecesse e rachasse minha cabeça ou algo

do tipo.

Mas não o fiz.

Ao final da prática, um pouco da tensão havia diminuído de seu rosto e um sorriso

torto apareceu enquanto pegava minha bolsa de ginástica. — Quero fazer algo diferente

amanhã.

— Vai me deixar sem meu treinamento de sábado? — Estava meio brincando. A

ideia de me estender na cama o dia todo soava muito bem.

— Não. Isso não é o que eu estava pensando. Não realmente.

Estendi a mão para a minha mochila, mas ele segurou-a longe de mim. Sorri. — No

que estava pensando?

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— É uma espécie de surpresa.

— Ah. — Eu me animei — O que é?

Aiden riu. — Não seria uma surpresa se dissesse a você, Alex.

— Posso fingir estar surpresa amanhã.

— Não. — Ele riu de novo. — Isso meio que arruinaria tudo.

— Tudo bem, mas é melhor que seja bom. — Estendi a mão para a mochila de novo,

mas Aiden pegou minha mão. Seus dedos em volta dos meus. Nossas mãos se encaixaram

perfeitamente em conjunto. Bem, pelo menos eu pensava assim. Um enxame de borboletas

agitou meu estômago. Meus olhos se moveram para cima, e eu fiquei imediatamente

cativada por ele. Poderia sempre dizer em que Aiden estava pensando pela cor de seus

olhos.

Geralmente, eram de um pálido tom de cinza, mas quando mudavam para um prata

intenso, sabia que ele estava à beira de fazer algo, algo que provavelmente não deveria,

mas algo que eu realmente queria que ele fizesse. Como agora quando estavam aquecidos

em um mercúrio brilhante.

— Vai ser bom. — O olhar de Aiden caiu em meus lábios. — Eu prometo.

— Ok — sussurrei.

— Use algo para te manter aquecida amanhã, mas sem roupa de treino.

— Não há roupa de treino? — Ecoei pelo silêncio.

— Encontre-me aqui às nove. — Cuidadosamente colocou a alça da minha bolsa em

meu ombro. Seus dedos demoraram tempo suficiente para dificultar minha respiração.

Minha pele ainda formigava pelo breve e maravilhoso contato muito tempo depois

que ele saiu da sala.

Depois de pegar um pouco de comida do refeitório, Olivia e eu caminhávamos de

volta para o nosso dormitório. Nenhuma de nós tinha chegado a tempo de comer lá

mesmo. Aparentemente, ela e Caleb tiveram outra briga.

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— Não sei mais o que fazer. — Ela segurava uma lata de refrigerante na mão com

tanta força que pensei que ia esmagá-la a qualquer momento — Num minuto ele é quente

e no outro é frio.

Eu não sabia o quanto Caleb tinha dito à Olivia sobre o que lhe aconteceu em

Gatlinburg, então estava bastante limitada sobre o que poderia dizer a ela. — Sei que ele

realmente gosta de você. — decidi que era a melhor tática. — Durante o verão ele ficou

totalmente obcecado por você.

Uma leve brisa brincava com seus cachos, jogando-os em seu rosto. — Sei que ele

gosta de mim, mas tem sido tão... Eu não sei, meio desligado ultimamente. Tudo o que se

preocupa é com o que Seth está fazendo. Deuses, é como se o amasse.

Concentrei-me no modo como o horizonte e o céu faziam uma mistura perfeita

juntos, tentando não rir. — Infelizmente, acho que Caleb admira Seth.

Olivia parou de andar. — Não entendo por que todo mundo está tão encantado com

Seth.

— Eu não etsou.

— Então, nós somos as únicas mestiças do mundo que não o acham incrível. — De

repente, ela gritou, assustando várias gaivotas. — Eu só não entendo! Seth é arrogante,

rude e acha que é melhor do que todos os outros!

Olhei para ela, rapidamente compreendendo que eu não era muito boa em ter uma

conversa de garotas. Não tinha idéia de como nós saltamos de Caleb para Seth. —Caleb

está com ele agora?

Um pouco da raiva desapareceu de seu rosto. Olivia suspirou, balançando a cabeça.

— Não. Estávamos saindo na sala de recreação antes do jantar e eu perguntei-lhe se havia

pensado sobre onde assumiria o posto de Sentinela. Você sabe, não é uma pergunta tão

séria, mas uma muito importante.

Assentindo, mudei meu refrigerante para a outra mão, tentando e não conseguindo

fazer meu cabelo sair do meu rosto.

— Quero dizer, sei que dizemos que não é nada sério entre nós, mas eu acho que é.

— Ela começou a andar novamente. — De qualquer forma, estamos nos formando na

primavera e eles nos dão opções. Estava esperando que Caleb e eu pudéssemos escolher o

mesmo lugar ou próximos para que continuássemos nos vendo.

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— Ok... Então o que aconteceu?

— Ele me disse que não tinha pensado nisso e eu pensei, 'Que diabos?' Se eu fosse

importante para ele, então teria pensado sobre isso. Certo? Então disse-lhe isso. — A pele

do seu rosto escureceu. — E você sabe o que me respondeu? ‘Qual é o ponto de escolher

um lugar? No final, o Conselho vai analisar e determinar para onde vamos.’ Bem, duh,

obrigada pelo furo de reportagem, idiota. Esse não é o ponto. O ponto é que podemos

torcer para que ficassemos juntos, certo?

— Olivia, acho que não tem nada a ver com você. Agora... — mudei, de repente me

sentindo quente, mesmo que este fosse um dia nublado e frio. — Ele disse a você sobre...

Não conseguindo ignorar o calor que me rodeava, parei e dei uma respiração

superficial. Meu corpo inteiro ficou dolorosamente tenso.

— Alex? — Olivia se aproximou. — Você está bem? Parece realmente corada.

Não. Ah. Não. Não podia estar acontecendo durante o dia e na frente de Olivia. Isso

era tão injusto. Acima de tudo, eu estava perdendo meu…

Risadinhas encantadas vieram do jardim. Em seguida, uma risada muito masculina e

satisfeita foi ouvida. Houve mais sons, sons indicando que ou alguém estava com muita

dor ou tendo muita diversão.

— Estão de brincadeira comigo? — Olivia empurrou sua comida em minhas mãos

moles. — Pelo amor dos deuses, há salas de aula vazias e camas para esse tipo de coisa.

Antes que pudesse impedi-la, abriu a porta para o jardim. Acho que estava pensando

que se ela mesma não estava se dando bem, ninguém mais poderia. — Olivia...

— Hey! — Ela gritou, invadindo a frente. — Ei! Vocês, seus pequenos pervertidos,

vão arrumar um quarto!

Olivia desapareceu por trás de uma roseira. Revirando os olhos, me arrastei atrás

dela. Andar dentro do jardim era como estar em um mundo diferente.

A mistura selvagem de flores e plantas, tudo doce e picante, misturado com a

amargura das ervas agrediu os meus sentidos. Havia também algo único sobre as plantas

aqui. Vem o verão ou o inverno, a folhagem nunca morre. Intervenção divina, eu deduzia.

Estátuas gregas forravam a passarela, servindo como um lembrete de que os deuses

estavam sempre observando. Runas estavam gravadas no caminho junto com vários

símbolos que representavam os deuses. Quem quer que tenha feito os desenhos poderia

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seriamente ter sido beneficiado com aulas de arte. Mas o lugar era uma espécie de Jardim

de Éden.

E alguém estava participando de seu fruto proibido.

— Vocês precisam de -oh.

Olivia parou de forma tão inesperada que quase colidi com ela. Estava ao lado da

moura, a planta que o oráculo havia comparado com ‘beijos daqueles que andam no meio

dos deuses’ ou algo louco assim. Não sei por que eu notei a cor roxa das pétalas em

primeiro lugar. Talvez fosse algum tipo de instinto de preservação natural.

Mas então eu vi Elena.

Nunca a tinha visto tão despida antes, no entanto. Sua saia estava erguida, a camisa

escancarada, e... Isso foi praticamente tudo que eu quis ver. Então, meu olhar caiu sobre

seu parceiro.

— Oh. Meus. Deuses! — Eu gritei, desejando que minhas mãos estivessem vazias

para que eu pudesse cobrir meus olhos, ou arrancá-los.

Olhos dourados cheios de diversão encontraram os meus. — Existe algo em que eu

poderia ajudar as duas? — Seth perguntou, claramente não se incomodando com a

intrusão.

Eu virei, apertando os olhos fechados. Meu rosto parecia ter mil tons de vermelho.

— Não. Nada. — Olivia respondeu. — Desculpe interromper.

— Você tem certeza? Há sempre espaço para uma ou duas mais.

— Seth! — Elena gritou, não parecendo totalmente desanimada com a perspectiva.

Voltei para o caminho, tendo Olivia no meu calcanhar. A risada profunda de Seth

nos seguiu por todo o caminho para fora do jardim. Nós não falamos de novo até que

estávamos na frente do nosso dormitório. O choque deve ter amortecido o estranho calor,

era como se não existisse mais. Por uma série de razões, senti-me grata.

— Bem, — disse Olivia um pouco insegura.

— Sim...

Seus lábios franziram. — Eu odeio Seth. Acho que ele é um idiota, mas tem um

traseiro muito bom.

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— Sim...

Os olhos de Olivia estavam arregalados. — Você sabe o que? Acho que estou indo

ver Caleb. Agora.

Eu ri. — Sim, faça isso.

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Sete

Não surpreendentemente, Seth bateu na janela do meu quarto naquela noite.

Honestamente, a coisa do toque de recolher era uma droga - estar confinada em meu

quarto e não ser capaz de realmente dormir, me deixava com um caso louco de tédio -

então eu meio que gostava de suas visitinhas. Especialmente quando ele apenas queria ver

um filme e eu adormecer.

Mas hoje foi diferente.

Ainda não tinha decidido o que vestir amanhã e isso era algo importante. Aiden só

me viu com roupas de ginástica chatas. Precisava de algo bonito, um pouco sexy, mas que

não parecesse que eu estava tentando muito. Meu armário inteiro estava na minha cama.

E, claro, tinha acabado de ver algumas... Uh, partes mais íntimas do Seth. Eu meio que não

queria ver seu rosto esta noite.

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A batida veio novamente, mais urgente. Gemendo, fui até a janela e abri. Felizmente

ele estava completamente vestido. — O quê?

Seth ficou sob o parapeito da janela, convidando-se para entrar. — Pijama legal.

— Cale a boca. — Peguei um casaco de cima da cama e coloquei-o, desejando que

tivesse colocado um pijama longo em vez de um short e blusinha fina.

— Sabe, eu não me importo com suas marcas. Te faz parecer perigosa e

extremamente quente.

— Não são as marcas que eu estou cobrindo e você sabe disso.

— Em parte verdade e em parte uma mentira. As cicatrizes te envergonham, porque

é incrivelmente vaidosa para uma garota que quer ser uma Sentinela. E também está

desconfortável por estar seminua na minha frente.

— Não estou seminua! E não estou desconfortável. E eu não sou vaidosa.

— Você é uma péssima mentirosa. — Ele se sentou na minha cama.

Okay. Eu estava mentindo. Vaidade não era o pior pecado do mundo e sim, Seth me

deixava desconfortável para uma série de razões, mas esse não era o ponto. — Por que está

aqui?

— Queria ver você.

Minhas sobrancelhas franziram. — Por quê?

Seus olhos vaguearam ao redor do quarto, parando sobre as roupas espalhadas. —

Não está encontrando o que vestir?

— Uh... Estava apenas arrumando meu armário.

— Estou vendo.

Suspirei, esfregando minha testa, cansada. — O que você quer? Como pode ver,

estou meio ocupada.

Levantou uma sobrancelha. — Eu sei. Que vida excitante você tem, arrumando seu

armário em uma noite de sexta-feira.

— Sim, todos nós não temos a vida emocionante que você tem, Seth.

Seus lábios se abriram em um sorriso satisfeito. — Eu sabia.

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— Sabia o quê?

— Está zangada comigo.

Olhei para ele e levantei os braços à espera de uma explicação melhor.

— Está chateada com esta tarde. — Ele empurrou de lado várias escolhas possíveis

para amanhã quando se inclinou para trás. — Você estava com ciúmes, Alex?

Meu queixo quase caiu no chão. Levei um momento para responder. — Estou

confusa do motivo de você achar que eu estaria com ciúmes.

Seth me deu um olhar astuto. — Talvez esteja com ciúmes de Elena?

— O quê? — Peguei um suéter fofo que tinha comprado antes de entrar em

confinamento. — Eu, com ciúmes de Elena e seu cabelo de Sininho... Acho que não.

Ele se esticou e puxou o suéter da minha mão. — Ah. Está um pouco rancorosa, não?

— Nem um pouco. Se eu soubesse sobre o seu complexo de Peter Pan, teria

apresentado os dois mais cedo. — Estendi a mão para o suéter, mas enrolou-a em uma

bola e atirou-a longe. — Ugh! Você é tão chato!

— Só admita que está com ciúmes. Esse é o primeiro passo, e o segundo passo é fazer

algo sobre isso.

Olhei para Seth. — Eu não poderia me importar menos com o que ou quem, você faz

no seu tempo livre. — Então, alguma coisa me atingiu. — Espere. Você sabe o que? Isso

está confuso.

— Fale sobre isso.

— Todo mundo vem até mim dizendo como cada uma de minhas ações reflete em

você, mas você está fazendo com as pessoas no jardim! Como é que isso está bem?

— Você faz parecer tão desagradável. — Ele sorriu muito parecido com um gato. —

Não cuspa até que tenha provado. Oh. Espera. Você não provou nada, não é minha

pequena Apollyon virgem?

Balancei-me até ele tão rápida quanto eu podia. Antecipando minha reação, Seth

pegou minha mão. Seus olhos brilharam perigosamente quando me puxou. Meu próprio

impulso me fez tropeçar. Acabei caindo para frente.

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Seth girou para o lado e circulou seus braços em volta de mim. — Sempre batendo,

— disse ele alegremente. — Acho que nós devemos trabalhar em suas maneiras.

Meu rosto estava esmagado nos morros de blusas que tinham ido para o morro do

‘talvez’. — Oh, fala sério. Você está amassando todas as minhas roupas, idiota.

— Suas roupas estão muito bem. Quero conversar.

Tentei socar meu cotovelo nele, mas seus braços apertaram para baixo. — Sério, quer

conversar neste momento?

Ele se contorceu mais perto. — Sim.

— E nós temos que estar deitados assim por qual razão?

— Não sei. Apenas me faz sentir bem. Eu sei que isso faz você se sentir bem. E não

estou falando nesse sentido que tenho certeza que está pensando. — Fez uma pausa, e eu

podia sentir seu peito subir e descer nas minhas costas. — Nossos corpos relaxam quando

estão próximos.

Franzi o rosto e não comprei a explicação dele. — Podemos falar de outra coisa?

— Claro. — Eu podia ouvir o sorriso em sua voz. — Vamos falar sobre o fato de não

estar conseguindo dormir.

— O quê? — Consegui contorcer-me o suficiente para ter um dos meus braços soltos

e virei-me de costas. — Eu... Eu durmo bem.

— Dorme por algumas horas. Então acorda. Pesadelos, hein?

Olhei para ele. — Por que você sempre tem que ser tão assustador?

Seus lábios se contraíram. Um lampejo de diversão, então sua expressão voltou a

uma máscara habitual presunçosa. — Sempre que você está chateada me puxa para dentro

disso. Me acorda todas as noites e agora eu não estou conseguindo dormir a menos que

fique com você.

Deslizei para longe, mas seu braço me pegou. — Bem, eu sindo muito. Não sei como

pará-lo. Se eu soubesse, não iria interromper o seu precioso sono de beleza.

Seth riu baixo em sua garganta. — Acho que é porque a conexão entre nós está

ficando mais forte, já que estamos passando mais tempo juntos. Com você sendo um

desastre emocional esses dias, passo metade do meu tempo querendo um Valium.

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A vontade de chutá-lo para fora da cama foi forte. — Eu não sou um desastre

emocional.

Ele não se incomodou em responder. — Não lhe parece estranho que as únicas vezes

que dorme durante toda a noite é quando eu fico com você?

Pareceu-me estranho e irritante. — E daí?

Seth se inclinou. — Seu corpo relaxa em torno de mim e você pode descansar. Tudo

graças a sua coisa favorita, a conexão que compartilhamos. Se você ficar muito chateada,

só precisa de mim. Isso vai funcionar em ambos os sentidos, uma vez que você Despertar.

Fui para tão longe dele quanto eu podia e ainda não era o bastante. — Oh, pelo amor

dos deuses, você tem que estar brincando comigo.

— Alex, eu estou falando tão sério quanto um ataque daimon.

E eu sabia que estava falando sério. Só não queria admitir aquilo. A ideia de ele sentir

minhas emoções me fez querer ter algo para arremessar. Se quisesse chorar, ele saberia. O

mesmo aconteceria para uma necessidade de socar alguém, ou se estivesse no meio de um

amasso, ele saberia e…

Meus olhos se arregalaram em compreensão e uma sensação estranha desenrolou na

boca do meu estômago. — Espere. Espere um segundo, Seth. Se pode sentir minhas

emoções ou o que quer que eu faça, então eu deveria ser capaz de sentir a sua.

— Certo, mas não...

Me movi tão rápido que consegui livrar-me de seu abraço e ficar sob os meus pés. Ele

ficou na cama, meio reclinado. — Oh. Meus. Deuses. Eu senti você.

As sobrancelhas de Seth levantaram-se lentamente. — De jeito nenhum, sei como me

proteger então não estou transmitindo todos os meus desejos e emoções como você.

— Ah. Não. Você está tão errado. — Minhas bochechas queimaram só de pensar

nisso. As noites que me senti toda quente e formigante, também quando o flagrei com

Elena, não eram apenas meus hormônios hiperativos. — Ah, isso é uma merda.

O interesse despertou em seus olhos e ele se sentou, apoiando as mãos nos joelhos. —

Do que você está falando?

— Eu senti isso um par de vezes, à noite. Como quando você está fazendo... A sua

coisa.

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Deu uma risada curta e então pareceu entender. Sua boca caiu aberta. — Fazendo a

minha coisa?

— Sim, — disse, ficando frustrada. Vou ter que soletrar para ele? — Esqueça o que eu

disse.

— Não. Não é provável. O que você sentiu?

Isso era mesmo uma merda. Também humilhante, além de bizarro. — Sabe, quando

você está se divertindo por aí. Eu sinto... você, nessa altura.

Seth olhou para mim por muito tempo, pensei que havia perdido a capacidade de

falar. Então, quando eu estava começando a ficar preocupada, jogou a cabeça para trás e

gargalhou.

Muito alto e sem parar.

Olhei boquiaberta. — Não é engraçado!

— Oh, é provavelmente a coisa mais malditamente engraçada que ouvi em muito

tempo. — Parou tempo o suficiente para respirar profundamente. — Isso é ótimo.

— Não é ótimo. Que tipo de conexão é essa? Uma linha quente direta para ‘Vila da

Perversão’? — Dei um passo para a frente — É nojento, bizarro e... pare de rir, Seth!

— Eu não consigo, — ele engasgou. — De todas as vezes que poderia se conectar

comigo, tinha que ser logo nesses momentos? Droga Alex, eu não sabia que você era uma

voyeur.

Bati-lhe com força no braço. Não foi de brincadeira. Era para machucar. Eu queria

fazer mais, como chutá-lo na cabeça.

— Caramba. E tão violenta. Sabe o quão quente você...

Movi-me para ele novamente, mas desta vez Seth estava preparado. Esquivou-se de

meu punho e me pegou pela cintura. Antes que eu pudesse quebrar seu aperto, virou-me

de costas. Desta vez pairava sobre mim com os braços plantados em ambos os lados da

minha cabeça. Um belo e selvagem sorriso afastou um pouco da frieza de seus traços. Não

toda, mas alguma. — Isso não tem preço.

— Você é tão irritante.

Isso pareceu diverti-lo ainda mais. Riu tanto que pude sentir retumbando através de

mim. Não como a risada de Aiden normalmente fazia. A risada de Aiden me fazia sentir

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iluminada e palpitante. A de Seth me fez sentir estranha - corada e estranha. E uma parte

de mim queria ouvi-la novamente ou sentir isso de novo. O que estava errado, errado em

todas as maneiras, porque eu não penso nele dessa forma. Pelo menos não o meu cérebro.

Meu corpo, por outro lado, tinha um ponto de vista totalmente diferente sobre essas

coisas.

Meu corpo devia ser uma coisa triste e solitária.

— Sabe, — Seth sorriu, — Provavelmente não deveria ter me dito isso. Vou tirar

vantagem... Alex, o que você está fazendo?

Não entendi do que ele estava falando em primeiro lugar. Então meus olhos caíram e

vi minha mão pressionada contra o seu estômago, meus dedos enrolando em torno de sua

camisa. Como no mundo minha mão foi parar lá, porque com certeza, com certeza, eu não

fiz isso?

Seth parecia à beira de dizer algo ignorante, como sempre, mas ele se tornou muito,

muito imóvel. Acho que nem respirava. Lentamente, levantei meu olhar e encontrei o que

eu esperava. Glifos em movimento espalhados por todo o lado esquerdo de seu rosto. As

marcas intrincadas desciam por seu pescoço e desapareciam sob a bainha de sua camisa

preta, reaparecendo em seu braço esquerdo e vindo parar sobre sua mão.

E Seth, bem, Seth já não estava rindo. Aqueles olhos estranhos se prenderam nos

meus e sua cor mudou. Ele abaixou a cabeça, os fios soltos de cabelo escovando minhas

bochechas. Empurrei minha mão de volta, mas ainda estava perto, perto demais. Então eu

fiz a única coisa adequada em situações como estas. Enfiei meu joelho em seu estômago

rígido.

Ele rolou de cima de mim, de costas, rindo mais uma vez. — Merda, Alex, por que

fez isso? Realmente dói para caramba, sabe?

Saí da cama, colocando a maior distância entre nós quanto possível. — Eu te odeio.

— Não, você não odeia. — Ele inclinou a cabeça para trás, seu olhar encontrando o

meu. — Acho que isso estava destinado a acontecer. Quanto mais tempo passarmos

juntos, mais vamos começar a nos conectar. É a forma dos Apollyons.

— Basta ir a algum lugar, por que não o faz?

Seth virou sobre seu estômago e apoiou o queixo nas mãos. — Eu adoraria. Poderia ir

para o segundo round com Elena agora mesmo.

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Deixei escapar um gemido e revirei os olhos. — Ninguém está te impedindo.

— É verdade, mas então você ia cair no sono depois de passear de um lado para o

outro do quarto ou ler algum livro incrivelmente chato e teria outro pesadelo com a

mamãe, e então eu ia estar acordado toda a noite. — Ele arqueou uma sobrancelha loira

para mim. — Preciso do meu sono de beleza.

Olhei para ele. — Não vai ficar aqui de novo, Seth. Você tem uma cama, várias na

verdade. Vai.

— Você não se importou nas últimas vezes.

— Porque... bem, essas vezes foram diferentes, — eu gaguejei, passando a mão no

meu cabelo. Virando-me, comecei a pegar as roupas do chão. — Eu não sabia dos seus

motivos para ficar. Só estava ajudando a si mesmo.

Seth suspirou. — Você não gosta de nada disso, não é?

— Não. Eu não gosto de não estar no controle. Sabe disso. — Eu peguei outra camisa.

Também não gostava do fato de que o meu corpo reagia a ele, mesmo que o meu coração

não. — É sobre ter o controle... — Deixei as roupas e me endireitei. — Lembra-se do que

disse para mim durante o verão na noite em que esteve no meu quarto?

Ele parecia confuso. — Não totalmente.

Tomei uma respiração profunda, em busca da paciência que eu não tinha. — Você

me prometeu que sairia se as coisas saíssem do controle. Se lembra disso?

Seth franziu os lábios. — Sim, eu lembro.

— Ainda mantém isso? — Dei um passo à frente. — Mantém?

— Sim. Ainda mantenho isso. Fiz uma promessa. Eu cumpro minhas promessas. —

Estendeu a mão e agarrou a minha. Com um leve puxão me trouxe para baixo, ao lado

dele. Seja qual for o alívio que senti foi de curta duração. — Sabe o que eu acho

interessante?

Olhei para ele cansada. — O quê?

Ele virou a cabeça para mim. — Você nunca demonstrou qualquer interesse em me

conhecer melhor. Não sabe nada sobre mim.

— Isso não é verdade.

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Seus lábios se curvaram em um sorriso sarcástico enquanto soltava minha mão. —

Não sabe nem meu sobrenome, Alex.

Bem, ele não precisava de um sobrenome. Seth era apenas Seth para mim.

— Você nem sabe de onde eu sou, se a minha mãe era uma pura ou meu pai, — ele

continuou. — Aposto que nem sabe quantos anos eu tenho.

Comecei a protestar, mas Seth estava certo. Nós nos conhecemos há cerca de quatro

meses, uma semana a mais ou a menos e, eu não sabia nada sobre ele. Em todo o tempo

que passamos juntos, no treinamento ou quando ele aparecia no meu quarto, nunca

conversamos sobre nada pessoal. E eu nunca me preocupei em perguntar. Fiz uma careta.

Eu realmente era tão egocêntrica?

Seth suspirou. — Você tem essa coisa de pensar só seguindo um determinado

caminho4.

Olhei para ele bruscamente. — Não pode ler meus pensamentos, pode?

— Não. Mas não significa que algumas coisas não pareçam tão óbvias quanto ler seus

pensamentos. — Virou-se para mim. — Tudo o que você pensa, tudo o que sente, está

sempre transparente em seu rosto. Você é péssima em esconder suas emoções. Ou o que

está pensando. É como eu disse: apenas um caminho na sua mente. Seja por pensar em sua

volta ao Covenant, na luta com sua mãe, na luta com o destino ou naquela... pessoa especial

na sua vida.

— Eu não tenho uma pessoa especial na minha vida! — Senti meu rosto começar a

queimar novamente. — Não tenho ideia de onde você tira essas coisas.

Um lado de seus lábios curvou para cima, quando ele encontrou meu olhar. — Eu

tenho 19.

Pisquei. — Hein?

Os olhos de Seth reviraram. — Tenho 19 anos de idade.

— Oh. Oh. Apenas 19... Nossa. Pensei que era mais velho.

— Bem, não sei se eu deveria estar ofendido ou lisonjeado.

— Lisonjeado, eu acho.

4 Do original “one-track mind”, no sentido de se focar demasiado em uma só coisa.

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Alguns momentos se passaram antes que ele falasse de novo. — Sou de uma

pequena ilha perto da Grécia.

— Ah, isso explica o sotaque. Qual ilha?

Seth deu de ombros e não respondeu. O momento ‘compartilhar e cuidar’ parecia ter

acabado. Por que nunca pensei em tentar conhecer Seth melhor? Afinal, eu estaria presa a

ele por um tempo.

Mordi o lábio. — Você acha que eu sou egocêntrica?

Uma risada surpresa escapou dele. — Por que você está perguntando?

— Porque disse que tenho uma mente de um só caminho. E tudo o que você listou

tinha a ver comigo, como se eu não pensasse em nada ou qualquer outra pessoa além de

mim.

Seth soltou um som áspero e ficou em pé. — Você quer que eu seja sincero?

— Sim.

Vários segundos se passaram enquanto ele olhava para mim. — Às vezes, Alex, tem

mais de puro em você do que de mestiça.

Minha boca caiu aberta, chocada que ele pensasse isso sobre mim.

Ele passou a mão sobre sua cabeça. — Olha, tenho algumas coisas que preciso fazer.

Te vejo mais tarde.

Eu não disse nada quando ele subiu de volta para fora da janela. Sentei-me na cama,

a diversão de encontrar alguma coisa bonita para vestir amanhã tinha perdido a maior

parte da importância.

Você tem mais de puro de que de mestiça.

Era uma coisa terrível para se dizer a um meio-sangue, como se eu fosse uma

desgraça em que não se pudesse confiar, uma traidora, uma mentira, uma impostora.

Como se se eu tivesse que escolher entre um puro e um mestiço, escolheria o puro.

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Acho que alguma coisa se arrastou para o meu cabelo e fez um ninho durante a

noite, porque nenhuma das coisas que eu fiz — nem baby-liss, nem chapinha —

conseguiram deixa-lo como eu queria. Um lado queria permanecer ondulado, enquanto o

outro tava tão liso quanto um espaguete mole.

Talvez estivesse sendo excessivamente crítica de mim mesma, mas realmente

acreditava que as manchas escuras sob os olhos me faziam parecer como se eu estivesse na

primeira fase de uma infecção zumbi. Coloquei gloss demais, e então, esfreguei tanto

meus lábios para tirá-lo e reaplicar que ficaram vermelhos e inchados. A montanha de

corretivo que eu coloquei na minha têmpora para esconder uma espinha asquerosa, a fez

parecer ainda maior.

Finalmente me afastei do espelho do banheiro depois de passar o gloss novamente.

Optei por usar jeans justos, não do tipo de designer que Olivia usava, estava mais para

uma marca Target. Escolhi um suéter vermelho escuro, que proporcionava uma boa vista

na área do decote e esses saltos assassinos que roubei do armário de Olivia.

Mas antes de correr para o encontro com Aiden, fiquei congelada pela possibilidade

de isso poder ser uma ‘experiência de campo’. Definitivamente não era um encontro, então

o que eu estava fazendo?

E se fosse um treinamento, eu pareceria idiota com os meus saltos estúpidos e meus

seios pulando para fora. Apesar de que seria bem divertido para a maioria, de alguma

forma eu duvidava que Aiden apreciasse. Então, sem tempo de sobra, escorreguei em um

par de sapatos rasteiros e um top mais sensível, um suéter preto de malha.

Com tudo isso, acabei chegando atrasada, é claro.

— Desculpe, — disse logo que avistei a cabeça escura de Aiden na parede das facas,

sem fôlego por causa da corrida. — Eu... Tive que fazer... Uma coisa.

Todas as desculpas que eu tinha praticado no caminho sumiram da minha boca

assim que dei uma boa olhada em Aiden. Ele usava uma calça jeans desgastada, do tipo

que parecia tão confortável que você queria subir nelas. Também tinha esse suéter cinza, e

deuses, oh, deuses, caía tão bem nele, como se tivesse sido criado apenas para valorizar

aqueles seus ombros, peitos e braços fortes, e assim por diante.

Precisava me acalmar.

Eu sabia disso, mas é que raramente via Aiden em outra coisa senão roupas de

ginástica ou um uniforme. Ele estava usando algo diferente na noite em que eu tinha

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enviado aqueles espíritos para o mar, mas eu não estava prestando atenção. Minha mente

estava ocupada.

E tenho certeza de que também estava ocupada agora, mas de uma forma totalmente

diferente.

— Não tem nenhum problema, — disse ele. — Está pronta?

Assenti com a cabeça em um movimento espasmódico. De repente, me senti como

uma vaca em uma loja de porcelanas. — Então, o que vamos fazer? — Perguntei

humilhada em ouvir a minha voz quebrar no meio da questão.

Ou Aiden não tinha notado ou ele fingia que não. — É uma surpresa, Alex. —

Começou a andar. — Você vem, ou o quê?

Corri atrás dele, minhas suspeitas foram confirmadas quando me levou para o

caminho da saída. — Estamos saindo do Covenant, não estamos?

Ele empurrou o cabelo da testa, claramente tentando não sorrir. Aiden tirou a mão

do bolso e as chaves penderam na frente do meu rosto. — Sim.

— Experiência de campo! Eu sabia. — Silenciosamente, agradeci a todos os deuses

que me deram bom senso o suficiente para mudar os sapatos.

Aiden olhou para mim de forma estranha. — Acho que você pode considerar isso

como uma experiência de campo.

Segui-o até um dos Hummers negros, sentindo-me bastante presunçosa por

descobrir a sua surpresa. — Então, o que vamos fazer? Rastrear alguns daimons voltando

à toca? — Subi para o lado do passageiro e esperei até que ele ficasse atrás do volante. —

Tenho que admitir, não sou muito boa nessa coisa de perseguir. Eu sou mais...

— Eu sei. — Ligou o motor e levou o veículo tamanho de dinossauro para fora da

frota de carros. — Você é mais uma garota de ação, em vez de uma ‘senta-e-fica-quieta’.

Eu sorri, apesar do fato de duvidar que fosse um elogio. — Bem, minha habilidade

de ficar quieta-como-um-ninja poderia definitivamente melhorar.

Outro rápido sorriso apareceu. — Mas as outras habilidades? Não muito. Realmente

não acho que precisa de muito mais das práticas adicionais. Deveria definitivamente ter

mais tempo para si mesma, tempo para descansar.

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Agora eu realmente sorri... Por cerca de três segundos. Não ter práticas extras

também significava não ver Aiden. Meu sorriso desapareceu enquanto olhava para ele. De

repente, um gigante relógio apareceu entre nós, em contagem regressiva para quando não

haveria mais Aiden na minha vida.

Um pensamento deprimente.

— O quê?

Olhei para frente, engolindo o nó na garganta. — Nada.

Quando fomos parados pelo primeiro conjunto de Guardas, eu esperava que eles

exigissem saber o que Aiden estava fazendo com uma meio-sangue. Mas passamos sem

sequer um pedido de explicação. A mesma coisa aconteceu na segunda ponte, a que

conduzia fora da Deity Island e para Bald Head Island.

— Não posso acreditar que eles apenas deixaram você me levar para fora da ilha,

sem uma única pergunta, — disse enquanto Aiden navegava pelas ruas da ilha mortal. —

O que aconteceu com as regras?

— Eu sou um puro-sangue.

— E eu sou uma meio-sangue, uma meio-sangue que supostamente não deveria

colocar um pé fora do Covenant, que dirá da Deity Island. Não que esteja reclamando ou

nada. Só estou um pouco surpresa.

— Eles assumem que estamos fazendo um treinamento de campo.

Olhei para ele. — Nós não estamos?

Sorrindo, Aiden inclinou-se e ligou o rádio. Parou em uma estação de rock e eu olhei

para ele. Aquela presunção que senti mais cedo começou a ir embora. Ele não deu

qualquer explicação adicional quando perguntei novamente e, finalmente, decidi parar de

perguntar e começamos a conversar sobre coisas normais. Minhas aulas, o episódio de um

programa de TV chamado Sanford and Son, — que eu nunca tinha ouvido falar—, mas um

cara aparentemente fingia ter um ataque cardíaco a cada episódio e Aiden achava hilário.

Eu não estava convencida da hilaridade.

Nós conversamos sobre como eu quase ganhei dele nos treinos de ontem, e como ele

estava pensando em comprar uma motocicleta. Que eu estava fortemente contra, por que

realmente, o que poderia fazer Aiden ainda mais quente do que já era?

Uma motocicleta.

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— Que tipo de moto que você está procurando?

Ele ficou com esse olhar distante e sonhador em seu rosto, quase como o tipo de

olhar que eu tenho quando vejo chocolate... Ou ele.

— Uma Hayabusa. — Ele passou por um monte de carros sem o menor problema.

— Um foguete entre as pernas? — Peguei o rádio, mudando as estações. Aiden tinha

o mesmo pensamento em mente, porque seus dedos roçaram sobre os meus. Eu recuei,

corada.

Aiden limpou a garganta. — É mais do que um foguete entre as pernas. É, bem,

deixe-me colocar desta forma. Se acontecer de eu ter que escolher entre salvar uma

Hayabusa ou a um Ministro, seria uma decisão difícil.

Eu gargalhei. — Oh, meus deuses, não acredito que admitiu isso.

Ele começou a sorrir. — Bem.

— É incrível, — eu ofeguei rindo.

O sorriso cresceu, expondo as covinhas profundas no rosto dele. Por um momento,

parei de rir, parei de sorrir —inferno, eu parei de respirar. Então vi o sinal ao longo da

interestadual para Asheboro e eu realmente parei de respirar por alguns segundos.

Estávamos a 30 milhas de Asheboro. — Eu conheço Asheboro, — sussurrei.

— Eu sei.

Podia sentir seus olhos em mim, mas não conseguia puxar o meu olhar da janela. As

árvores ao longo da estrada formavam uma matriz de marrons, vermelhos e amarelos.

A última vez que eu tinha estado perto de Asheboro, era verão e as colinas estavam

verdes.

Sete anos atrás.

Esforcando-me para tirar meus olhos para longe da janela, olhei para Aiden. Ele se

concentrou na estrada. — Sei onde nós estamos indo.

— Sabe?

Excitação borbulhou em mim. E também a descrença. Saltei para a frente no meu

lugar. — Esta não é uma experiência de campo.

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Os lábios de Aiden tremeram. — Considere como uma experiência em tirar um dia

de folga, ser normal por um dia.

— Você está me levando para o zoológico! — Eu gritei, saltando novamente. O cinto

de segurança sufocou-me de volta para trás.

Ele não conseguia manter o sorriso longe. Tomou conta de seu rosto, encheu seus

olhos. — Sim, nós estamos indo para o zoológico.

— Mas, mas por quê? — Eu girei no banco, pressionando meu rosto contra a janela.

O sorriso no meu rosto era absurdamente enorme. — Eu não mereço isso.

Vários momentos passaram. — Sim, você merece. Acho que merece uma pausa de

tudo. Tem trabalhado tão duro, puxando duplo-triplo-dever. E você realmente não

reclama...

Virei-me de frente para ele. — Eu reclamo. Reclamo o tempo todo.

Balançando a cabeça, Aiden riu. — Eu estou corrigido.

O choque continuou empurrando declarações mais estúpidas da minha boca. — Mas

eu estive em tantos problemas. Joguei uma maçã no rosto de Lea. Lutei com Guardas.

Colei no meu exame de trigonometria.

Aiden olhou para mim, franzindo a testa. — Você colou no seu exame de

matemática?

— Uh, esqueça isso. De qualquer forma, uau, estou apenas surpresa.

— Alex, você precisa se afastar de tudo isso de vez em quando. Precisa de um

descanso, um verdadeiro. Assim como eu, — fez uma pausa, concentrando-se na estrada.

— Imaginei que pudéssemos fugir juntos.

Acho que meu coração poderia ter explodido ali mesmo. A importância do que ele

estava fazendo, a importância disso, não passava despercebida por mim. Isso era enorme,

enorme para nós. Puros e mestiços não fogem juntos para um dia relaxante. Podemos

conviver juntos, mas vivemos em mundos diferentes. Tinhamos que viver. Eram as regras,

a forma de nossa sociedade. Aiden arriscou muito ao fazer isso. Se por acaso fossemos

vistos, ele estaria em um monte de problemas. Talvez não tanto quanto eu mas, inferno, eu

não me importava.

Eu me importava que ele queria fazer isso por mim.

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Isso tinha que significar alguma coisa, algo realmente maravilhoso.

Aiden olhou para mim, com os olhos brilhando, - com o quê? Eu não sabia, mas

naquele instante, só conseguia pensar sobre o que eu sentia por Aiden. Até então, não

tinha estado disposta a admitir que fosse nada mais do que uma paixonite ou luxúria,

porque realmente, quem não sentiria luxúria por ele? Mas o que se expandiu em meu

peito, inchou meu coração até que eu tinha certeza de que ele iria estourar no meu peito,

aquilo não era uma paixonite. Não era apenas uma atração física.

Era amor.

Eu amava Aiden. Eu amava um puro.

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Oito

Olhei para ele, presa em minha realização. Eu amava Aiden. Eu o amava, amava de

verdade.

Oh, deuses, eu estava tão totalmente ferrada.

O rosto de Aiden ficou vermelho sob seu bronzeado natural.

— Quero dizer, todos nós precisamos de um dia de distância do nosso mundo.

Precisamos de momentos para tomar um fôlego e deixar isso tudo passar. — Ele olhou

para mim, um sorriso irônico substituindo o que eu jogaria praticamente qualquer pessoa

em frente a um daimon para ver. — De qualquer forma, hoje é um dia normal. Não

falaremos sobre o treinamento ou ataque daimon.

— Okay. — Tomei uma respiração profunda, calmamente e ordenei-me a ficar calma.

Então vi o sinal para o zoológico e eu plantei a cara na janela novamente.

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— Nós não podemos ficar por muito tempo, apenas um par de horas ou os guardas

irão suspeitar de algo. Também precisamos manter este segredo. Não podemos deixar

ninguém descobrir.

Eu assenti. — Claro. Não vou dizer uma única palavra. Simplesmente não posso

acreditar que você se lembrou disso.

Também não podia acreditar que estava apaixonada por um puro.

Ele fundiu em direção à rampa de saída, a expressão séria de repente. — Lembro-me

de tudo que você diz.

Tirei-me fora da janela. Era muito fácil recordar o dia em que eu tinha dito a ele sobre

o meu amor pelos animais e zoológicos. Tinha sido no pequeno escritório médico, quando

ele esfregou pomada sobre meus machucados. Mas eu não esperava que ele realmente se

lembrasse daquele dia, ou algum dia para que conste. E se ele realmente se lembrava de

tudo o que eu tinha dito, então...

Meus dedos se enroscaram no meu colo. Eu era uma grande idiota. Eu disse coisas

más. Um monte. Tomei uma respiração profunda. — Sinto muito.

Aiden olhou para mim rapidamente. — Pelo quê?

Olhei para minhas mãos, a culpa roendo no meu interior. Como eu poderia não ter

pedido desculpas mais cedo? — Sinto muito por dizer que você é como os outros puros.

Não deveria ter dito isso. Porque você não é nada como eles.

— Alex, não se desculpe. Você estava com raiva. E eu também. É passado. Acabou.

A culpa abrandou um pouco enquanto eu olhava pela janela, mas um anseio antigo

puxou meu coração. Mamãe adorava esse lugar. Os pontos turísticos trouxeram uma

mistura de tristeza e felicidade. Suspirei, querendo ser feliz, mas me sentindo mal com

isso.

Árvores pontilhavam a estrada sinuosa que levava à entrada. Mamãe sabia os nomes

das árvores. Eu não. Fora na distância, podia ver o topo do edifício principal.

— Te incomodou, no entanto, — eu disse quando Aiden estacionou o Hummer. O

lugar estava cheio para essa época do ano, mas o tempo ainda estava quente o suficiente.

O zoológico estaria lotado. Tirei o cinto de segurança e olhei para ele. — Eu sei que sim.

Aiden desligou o motor e puxou as chaves fora. Levantando o olhar de suas mãos,

seus olhos me penetraram. — Sim, incomodou.

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Mordi o lábio, querendo me desculpar novamente.

— Não quero que me veja assim. — Uma risada curta e dura escapou-lhe e ele se

concentrou no volante enquanto mantinha as chaves em um aperto. — O engraçado é que

o que você disse não deveria ter me incomodado. Eu sou um puro. Então deveria ser como

todos os outros. Realmente não deveria me importar se você me visse assim. Deveria me

importar como os outros puros-sangues me vêem.

— Tenho certeza que eles acham que você é maravilhoso, também. — Me arrependi

depois de dizer isso porque parecia estúpido. — De qualquer forma, dane-se o que alguém

pensa. Quem se importa, certo?

Sorrindo, ele olhou para mim e senti meu coração saltar uma batida. — Sim, quem se

importa? Nós estamos no jardim zoológico. Que se danem.

— Sim, que se danem.

Aiden inclinou a cabeça para trás, deixando escapar um suspiro aliviado. — O lugar

tem bolinhos?

— Acho que sim. Quero um hambúrguer e um cachorro-quente. — Fiz uma pausa.

— E sorvete em um desses cones de waffle. E quero ver os gatinhos grandes.

— Tão exigente, — ele murmurou, sorrindo. — Bem, é melhor começarmos, então.

A primeira parada foi em um homem corpulento e careca que tinha mais gordura

em sua camisa do que em sua panela. Ele fazia bolinhos. Aiden gostava muito deles.

Enquanto eu esperava na fila ao lado dele, vi um vendedor fritar hambúrgueres. Disparei

nessa direção, depois Aiden comentou que ele nunca tinha me visto correr tão rápido

antes.

Quando finalmente conseguimos passar a comida e seguir para o parque, eu estava

transbordando de alegria. A leve brisa carregava o cheiro estranhamente sedutor de

animais e pessoas. A luz do sol rompia da copa densa das árvores, lançando lascas de

calor quando nós fomos ver as atrações.

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Eu provavelmente parecia uma pateta com o salto extra no meu passo e com a

maneira que eu sorria para todos que passavam por nós. Estava tão feliz por estar fora de

novo - e com Aiden. E observar como os mortais reagiam a ele era muito divertido. Podia

ser a sua altura alarmante ou aparência divina que deixava mulheres e homens parados a

olhar. Ou podia ser o jeito que ele ria, inclinando a cabeça para trás e soltando um som rico

e profundo. De qualquer maneira, eu me emocionava em vê-lo fazer o seu melhor para

ignorá-los.

— Você não se mistura muito com os nativos, não é? — Eu perguntei quando

entramos na clareira da floresta e vimos um gorila sentado em uma pedra, apanhando

pulgas. Estimulante as coisas aqui.

Aiden riu. — É tão óbvio?

— Um pouco.

Ele se aproximou, baixando a voz. — Mortais me assustam.

— O quê? — Ri em descrença.

Sorrindo para a minha expressão, ele me cutucou com seu quadril. — Eles assustam.

São criaturas imprevisíveis. Você não sabe se estão indo para abraçá-lo ou esfaqueá-lo.

Eles são governados por emoções.

— E nós não somos?

Aiden pareceu considerar isso. — Não. Eles - quero dizer, nós somos ensinados a

controlar nossas emoções. Para não deixá-las ser o que norteia nossas decisões. Tudo em

nosso mundo – ambos os nossos mundos - é sobre a lógica e dar continuidade às nossas

raças. Você sabe disso.

Olhei para ele, percebendo a forma como as linhas orgulhosas de seu rosto estavam

relaxadas. Nesses momentos, ele parecia mais jovem e despreocupado. Eu gostava dele

dessa maneira com os olhos cheios de luz e de riso, sua boca expressiva curvada para

cima. Vendo-o agora, era quase difícil acreditar que ele era muito mais mortal do que

qualquer animal no parque.

— Mas você parece estar à vontade em torno de todos eles. — Ele acenou para um

grupo na outra ponta. Um pai e uma mãe estavam com dois filhos jovens. A menina

entregou ao irmão um sorvete de casquinha meio comido. — Tem mais experiência em

lidar com eles do que eu.

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Assenti, voltando para a jaula. Outro animal peludo fez o seu caminho para a rocha.

Talvez algo interessante aconteceria. — Eu me misturo, mas nunca me encaixo. Eles

podem sentir algo em nós. É por isso que ninguém se aproxima.

— Eu não posso imaginar você se misturando.

— Por quê? Acho que fiz um trabalho muito bom de passar despercebida por três

anos.

— Simplesmente não posso. Ninguém é como você, Alex.

Eu sorri. — Vou levar isso como um elogio.

— E é. — Ele me cutucou novamente e meu sorriso se transformou em outro ridículo

sorriso do tipo que Caleb dava à Olivia quando não estavam rasgando a cabeça um do

outro. — Você é incrivelmente inteligente, Alex. Engraçada e...

— Bonita? — Eu disse, apenas meio séria.

— Não, não bonita.

— Fofa?

— Não.

Eu fiz uma careta. — Bem, então.

O sorriso de Aiden causou arrepios através de mim. — Eu ia dizer ‘deslumbrante.’

Você é linda.

Prendi o ar bruscamente, minhas bochechas coraram. Derrubei minha cabeça para

trás e nossos olhares se encontraram. De alguma forma não sabia que estava tão perto. E

Aiden estava perto. Perto o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração quente

contra minha bochecha, acelerando o meu pulso.

— Oh, — sussurrei. Não era a mais eloquente das respostas, mas era a melhor que eu

tinha.

— Enfim, o que há com você e jardins zoológicos? — Aiden esticou os braços acima

da cabeça.

Um suspiro trêmulo escapou-me e o meu olhar foi à deriva sobre a família,

instalando-se na menina. Ela tinha lindas tranças e estava sorrindo para mim. Sorri de

volta.

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— Eu gosto de animais, — disse finalmente.

Aiden olhou para mim, os olhos cheios de... Bem, cheios de anseio. — É por isso que

você praticamente se sufocou no carro?

Eu me encolhi. — Você notou, hein? Minha mãe adorava animais, também. Ela disse

uma vez que éramos muito parecidos com os que estão nas gaiolas. Bem alimentados e

cuidados, mas enjaulados, no entanto. Nunca concordei com isso.

— Não?

— Não. Aqui os animais estão seguros. Em estado selvagem, eles estariam matando

uns aos outros ou sendo caçados. Sei que perderam sua liberdade, mas às vezes as coisas

têm de ser sacrificadas.

— Essa é uma perspectiva estranha para se ter.

— Você quer dizer que é uma perspectiva estranha para um meio-sangue ter. Eu sei.

Mas todos nós temos de sacrificar alguma coisa para ganhar outra coisa.

Aiden estendeu sua mão e agarrou a minha, me puxando para fora do caminho de

uma mulher em uma missão de empurrar um carrinho de bebê. Eu tinha estado tão

empenhada em olhar para ele que não tinha visto a mulher ou ouvido seu bebê gritando.

Olhei para baixo entre nós. Sua mão ainda estava acondicionada em torno da minha. O

gesto simples e inesperado enviou uma quantidade louca de calor através de mim.

Aiden guiou-me através da multidão cada vez maior de visitantes. Ele abriu caminho

na multidão, como o Mar Vermelho. As pessoas simplesmente saíam do caminho para que

nós passássemos.

— Posso lhe fazer uma pergunta? — Perguntei.

— Claro.

— Se você não fosse um puro, o que estaria fazendo agora? Tipo, o que quereria fazer

com sua vida?

Aiden olhou para as nossas mãos e depois jogou seu olhar para mim. — Neste exato

instante? Eu estaria fazendo um inferno muito maior do que o que estou autorizado a

fazer.

Calor infundiu em todo o meu corpo, meus pensamentos giraram em uma confusão

inebriante. Quase me convenci que eu totalmente tinha imaginado essa resposta e que a

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falta de sono havia finalmente me deixado louca. As alucinações auditivas eram uma

cadela.

Seus dedos apertaram os meus. — Mas tenho certeza que você estava querendo saber

mais do que isso. O que eu estaria fazendo se fosse apenas um mortal? Realmente não sei.

Não é algo que eu realmente penso.

Eu tive que mentalmente me chutar para encontrar a minha voz de novo. — Você

nunca pensou nisso? Sério?

Aiden evitou um casal tirando fotos, dando de ombros. — Eu nunca tive que fazer.

Quando era jovem, eu sabia que iria seguir os passos dos meus pais. O Covenant me

preparou para isso. Tomei todas as classes corretas: política, costumes, e negociações.

Basicamente, as classes mais chatas que você poderia imaginar. Em seguida, após o ataque

daimon, tudo mudou. Fui de querer seguir os meus pais a querer fazer algo para garantir

que outra família não passasse pelo que Deacon teve que passar.

— E o que você teve. — Adicionei em silêncio.

Ele balançou a cabeça. — Não sei o que eu faria se acordasse amanhã e tivesse uma

escolha. Bem, posso pensar em algumas coisas, mas uma carreira?

— Você tem uma escolha. Puros têm todas as escolhas.

Ele olhou para mim, franzindo a testa. — Não, não temos. Esse é o maior equívoco

entre nossas raças. Mestiços acham que temos todas as escolhas, mas estamos tão

limitados quanto vocês, mas de maneiras diferentes.

Eu realmente não acreditava nisso, mas não queria discutir e estragar o momento. —

Então... Realmente não sabe o que faria? — Ele balançou a cabeça, então ofereci uma

sugestão. — Um oficial de polícia.

As sobrancelhas de Aiden se levantaram. — Você acha que eu ia ser um policial?

Assenti. — Você quer ajudar as pessoas. Não acho que você é corruptível. Ser um

Sentinela ou um policial é mais ou menos a mesma coisa. Combater os maus, manter a

paz, e todas essas coisas boas.

— Acho que você está certa. — Ele sorriu. Uma garota mortal aproximadamente da

minha idade tropeçou quando passou por nós na trilha. Aiden parecia alheio a ela. — Ei,

eu pegaria um distintivo. Não tenho um desses agora.

— Eu quero um distintivo, também.

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Aiden se inclinou para o lado, rindo. — Claro que você quer um distintivo. Ei, olha o

que eu vejo — Apontou na curva.

— Gatos!

Sua mão apertou ainda mais ao redor da minha, quase como se uma parte

inconsciente dele estivesse respondendo para mim.

Vários metros de espaço vazio e uma grade separavam o leão dos visitantes. No

início eu não o vi e então ele vagou por trás de uma pedra, jogando a cabeleira de lado a

lado. Sua pelagem amarelo-alaranjada me lembrou dos olhos de Seth. Na verdade, a forma

como o leão parou na frente da multidão reunida e bocejou intermitente com uma fileira

de dentes afiados feito navalha, também me lembrou de Seth.

— Ele é lindo, — sussurrei, desejando que pudesse de alguma forma me aproximar.

Eu não era um daqueles malucos que subiriam na cova de um leão, mas também queria

tocá-lo - um que fosse domado e não arrancasse minha mão.

— Ele parece entediado.

Ficamos lá um tempo, observando o passeio do felino em torno da colina gramada

antes de subir no topo de uma pedra grande e deitar, o rabo balançando para trás e para a

frente. Finalmente, algumas das leoas decidiram aparecer. Eu disse a Aiden, relembrando

algo que ouvi no Animal Planet sobre as fêmeas serem realmente mais duronas do que os

machos. Dentro de alguns minutos, duas delas juntaram-se ao macho sobre a rocha.

Eu gemi quando elas se deitaram ao lado do macho. — Ah, vamos lá. Derrubem-no

da rocha.

Aiden riu. — Eu acho que ele tem duas namoradas.

— Cachorro, — murmurei.

Deixámos a zona australiana do zoo, vagando na seção norte-americana. Esta parte

parecia praticamente vazia em comparação com a outra. Acho que os mortais estavam

aborrecidos com os ursos e outros bichos familiares. Aiden parecia fascinado com eles e eu

vi um lince. Deixei Aiden de lado e subi para o muro exterior. Uma leve brisa passou. Nós

estávamos muito mais perto do que qualquer outro visitante. Perto o suficiente para que o

lince aparecesse para pegar o nosso cheiro.

Ele vinha perseguindo uma presa invisível até aquele momento. Ele parou, porém,

inclinando a cabeça em nossa direção. Um ou dois segundos se passaram e eu juro que

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nossos olhos se encontraram. Longos bigodes finos contraíram quando sentiu o cheiro do

ar.

— Você acha que ele sabe o que somos? — Perguntei.

Aiden apoiou-se contra a grade. — Não sei.

Nós não éramos autorizados a ter animais de estimação na ilha. Alguns puros

poderiam usar compulsão para controlar suas ações, o que significava que daimons

também poderiam. Era raro e precisava de um puro extremamente poderoso para fazê-lo,

mas era um risco que ninguém nunca correria. Eu sempre quis um animal, um gato.

— Minha mãe acreditava que eles sabem, — disse. — Ela dizia que os animais

podiam sentir que éramos diferentes dos mortais, especialmente os gatos.

Ele ficou em silêncio por alguns momentos e eu tinha certeza de que seu cérebro

estava em movimento. Juntando algum tipo de quebra-cabeça. — Será que sua mãe

gostava de gatos?

Dei de ombros. — Acho que tinha algo a ver com meu pai. Sempre que vínhamos

aqui, nós sempre acabávamos aqui antes de sairmos. — Olhei por meus ombros,

apontando. — Nós sentávamos lá e víamos os gatos.

Aiden se aproximou, mas não falou.

Voltei à grade, sorrindo. — Era a única altura em que minha mãe falava sobre meu

pai. Ela nunca disse muito sobre ele. Só que tinha os olhos castanhos mais quentes. Eu me

pergunto se tinha algo a ver com animais, sabe? — Enrolei meus dedos em torno da malha

de arame da cerca. — Enfim, a última vez que estivemos aqui foi quando ela me disse que

ele estava morto e disse-me o seu nome. Me deu o nome dele, você sabia disso? Eu acho

que é por isso que Lucian odiava quando minha mãe me chamava de Alex. Depois de um

tempo, ela começou a me chamar Lexie. O nome do meu pai era Alexander.

Passaram-se vários momentos em que nenhum de nós disse nada. Aiden falou

primeiro. — É por isso que você gosta tanto do zoológico.

— Yeah, você me pegou. — Eu ri autoconsciente.

— Não é nada que deve se envergonhar, querer estar perto de algo que faz você se

lembrar de seus entes queridos.

— Eu nem o conheci, Aiden.

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— Ainda assim, — disse ele. — Ele era seu pai.

Assisti o lince por mais alguns segundos. Ele vagava à beira de sua jaula, não mais

curioso sobre a nossa presença. Seus poderosos músculos flexionavam sob a pelagem

malhada. Havia algo incrivelmente gracioso sobre a maneira como ele se movia.

— Odeio fazer isso, mas precisamos voltar, Alex.

— Eu sei.

Começamos a caminhar de volta pelo parque. Aiden estava muito mais silencioso

desta vez, perdido em pensamentos. Não demorou quase nada para alcançar os portões da

frente. As árvores frondosas davam-lhe uma qualidade quase surreal enquanto

caminhávamos de volta para o Hummer.

Antes que eu percebesse, estava sentada no banco do passageiro e Aiden tinha

acabado de colocar as chaves na ignição, mas não tinha virado o carro. Ele girou em seu

lugar, ficando de frente para mim e a expressão no seu rosto fez meu coração vacilar no

meu peito.

— Eu sei como você é corajosa, Alex. Mas nem sempre tem que ser. É bom de vez em

quando deixar alguém ser corajoso por você. Não há perda de dignidade nisso. Não para

você. Já provou que tem mais dignidade do que mesmo um puro-sangue pode reunir.

Eu meio que queria saber onde isso tinha vindo. — Deve ter muito açúcar em você

ou algo assim.

Aiden riu. — Você só não vê o que vemos, Alex. Mesmo as vezes em que está sendo

ridícula sobre algo ou quando está parada, sem fazer nada, é difícil não notar. Como um

puro sangue, é a última coisa que eu devia ter notado. — Os olhos dele se fecharam,

longos cílios espalharam em suas bochechas antes de seus olhos reabrirem para revelar

um tom prateado intenso. — Eu não acho que você tem idéia.

O mundo fora do carro deixou de existir. — Sobre o que eu não tenho a menor idéia?

— Desde que eu te conheci, quis quebrar todas as regras. — Aiden virou-se, os

músculos se estirando em seu pescoço. Ele suspirou. — Você vai se tornar o centro do

mundo de alguém um dia. E ele vai ser o mais sortudo filho da puta nesta terra.

Suas palavras criaram uma louca corrida de emoções fortes. Eu estava com calor -

tanto calor. Realmente achava que o mundo tinha acabado ali mesmo. Aiden olhou para

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mim, seus lábios se separando. A intensidade em seu olhar, a fome em seus olhos me

deixou tonta. Seu peito subiu com intensidade.

— Obrigada. — Minha voz soou grossa. — Obrigada por fazer tudo isso por mim.

— Você não precisa me agradecer.

— Quando eu deveria agradecer a você?

— Quando fizer algo que realmente vale o agradecimento.

Aquelas palavras tiveram um eco profundo em mim e não soube quem avançou em

primeiro lugar. Quem se debruçou sobre o console central, quem foi o primeiro a cruzar a

linha invisível entre nós? Quem quebrou as regras em primeiro lugar? Aiden? Eu? Tudo o

que eu sabia era que nós dois nos movemos. As mãos de Aiden estavam em volta do meu

rosto e as minhas caíram para o seu peito, onde seu coração batia tão rápido quanto o

meu. Em um instante, nossos lábios se encontraram.

Esse beijo não era nada comparado com o primeiro que tínhamos compartilhado. Sua

crueza nos tirou o fôlego. Não houve um momento de hesitação ou indecisão. Não foi só

querer e precisar e milhares de outras poderosas coisas malucas. Seus lábios queimaram os

meus, suas mãos caíram para os meus ombros, deslizando por meus braços. Minha pele

queimava sob a minha camisola, mas oh, isso foi muito mais do que apenas um beijo. Foi a

maneira que ele tocou as partes mais profundas de mim. Meu coração e alma nunca mais

seriam os mesmos. Era quase esmagador perceber algo tão poderoso quanto isso e trouxe

um sentimento de urgência que me empurrou para o desconhecido.

Aiden recuou, apoiando a testa contra a minha. Ele estava respirando pesadamente.

O que saiu da minha boca a seguir não era algo que eu tinha planejado. As três palavras

apenas borbulharam da minha garganta, quase não audíveis.

— Eu te amo.

Aiden recuou, os olhos arregalados. — Não. Alex. Não diga isso. Você não pode...

você não pode me amar.

Comecei a me aproximar, mas em seguida puxei minhas mãos para longe de seu

peito. — Mas eu amo.

Seu rosto estava apertado, como se estivesse experimentando alguma dor terrível.

Então fechou os olhos e inclinou-se, pressionando os lábios contra a minha testa.

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Permaneceu ali alguns momentos antes de puxar para trás. Seu peito subia e descia

enquanto eu olhava para ele.

Aiden esfregou as palmas das mãos sobre os olhos e soltou outra respiração

irregular. — Alex...

— Oh, deuses, — sussurrei, voltada para a frente do carro. — Eu nunca deveria ter

dito isso.

— Está tudo bem. — Aiden limpou a garganta. — Está tudo bem.

Bem? Ele não parecia bem. E tudo bem e tudo certo não eram o que eu queria ouvir.

Eu queria que ele dissesse que me amava também. Não era isso que era dito após uma

declaração de amor? Não estava bem. Sabia que se importava comigo e me queria no

sentido físico, mas ele não estava dizendo essas três pequenas palavras.

E essas três palavras eram tão importantes. Elas mudariam tudo.

Eu queria que o meu coração parasse de doer. Talvez ele tenha ficado chocado em

silêncio. Talvez não sabia como dizê-lo. Talvez sentia isso, mas achava que não poderia

dizer isso.

Talvez eu deveria ter mantido minha grande boca fechada.

Caí no sono durante a viagem de volta, o que serviu a vários propósitos. Tirei um

baita de um cochilo e evitei o que provavelmente teria sido o passeio de carro mais

estranho da minha vida. Fingi ainda estar dormindo enquanto atravessamos as pontes.

Aiden manteve-se tranquilo, como se não tivesse me beijado e eu não tivesse

professado o meu eterno amor por ele. Ele até pulou para fora e abriu a porta para mim

antes de eu sequer tirar o cinto de segurança. Ele era um cavalheiro - ou estava apenas

muito ansioso para se livrar de mim.

Depois de um adeus meia-boca, eu voltei para meu dormitório. Cortei pelo pátio, na

esperança de evitar as áreas mais densamente povoadas do pátio. Continuei repetindo

tudo que Aiden tinha feito e dito.

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Esses beijos ainda enviavam ondas de choque através da minha barriga. A maneira

como ele tinha me beijado tinha que significar alguma coisa, porque as pessoas não beijam

assim. Ele queria sair comigo e planejou a coisa toda do zoológico. Tinha que sentir algo,

algo poderoso por mim.

Mas não tinha dito que me amava. Ele não tinha dito nada depois que eu disse isso.

Chutei uma pedra solta, enviando-a voando próximo a um arbusto lilás. Havia uma

boa chance de estar exagerando. Eu tendia a fazer muito isso. Ao somar tudo o que Aiden

tinha feito nas últimas horas, suas ações provavam que ele se importava e totalmente

superavam o fato de que ele não tinha dito que me amava.

Caminhei para a roseira e quebrei uma flor pela haste. De alguma forma, as rosas não

tinham espinhos por aqui. Eu não tinha idéia de como elas cresciam dessa forma, mas

inferno, eu não tinha a menor idéia sobre nada. Fechei os olhos, inalando o seu perfume

limpo. Mamãe adorava hibiscos, mas eu adorava rosas. Elas me faziam lembrar a

primavera e todas as coisas.

— Criança, essa rosa não vai aliviar seu coração. Seguir em frente? Deixar ir?

Permanecer no caminho que seu coração escolheu? Não é nada fácil quando o coração

decide tomar posse.

Meus olhos se abriram. — Você tem que estar brincando comigo.

A gargalhada seca e rouca que parecia que estava a um passo da morte confirmou

quem estava atrás de mim. Eu virei. Parada no meio do caminho, inclinando-se sobre uma

bengala, estava a Vovó Piperi – o oráculo. Seu cabelo parecia como da última vez que a

tinha visto, como se seu enorme peso a fosse curvar.

Ela sorriu, esticando a pele demasiado magra. Parecia um pouco grotesca e louca. —

Você sabe por que um coração reivindica? Sobrevivência. Esse coração põe sua pretensão

de garantir a sobrevivência de sua espécie.

Mais uma vez, eu estava de pé na frente do oráculo e ela estava dizendo a mais louca

porcaria que eu já tinha ouvido. — Por que você não me disse que a minha mãe era um

daimon? — Apertei o caule frágil da rosa no meu punho. — Por que não me disse a

verdade?

Piperi inclinou a cabeça para o lado. — Filha, eu só falo verdades. Eu lhe dei as

verdades.

— Você não me disse nada!

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— Não. Não. — Ela balançou a cabeça. — Eu lhe disse tudo.

Eu fiquei boquiaberta. — Você me disse um monte de porcaria louca que não fez

qualquer sentido! Você poderia ter apenas dito 'Ei, você é a segunda vinda do Apollyon.

Sua mãe é um daimon e ela vai tentar transformá-la. E oh, a propósito, ela vai tentar matar

o seu amigo’!

— Não foi isso que eu disse a você, criança?

— Não! — Gritei, jogando a rosa ao chão. — Isso não foi o que me disse.

Piperi estalou a língua. — Então não ouviu com os ouvidos. As pessoas nunca fazem.

Somente sempre ouvem o que querem ouvir.

— Oh. Meus. Deuses. Mulher, você é a razão da minha mãe ter partido daqui, em

primeiro lugar. Ela foi transformada em um maldito daimon. Se não tivesse contado a ela

sobre mim...

— Sua mãe queria poupá-la, salvá-la de seu destino. Se ela não tivesse feito isso, você

não seria nada, apenas uma memória e um medo há muito esquecido. Assim como todos

os que misturam as raças. O que querem para vocês dois, o que eles planejaram… —

Balançou a cabeça novamente e quando olhou para mim, tinha tristeza estampada em seu

rosto. — Eles temem você, temem o que vem de você. Eu te disse filha. Disse-lhe que seu

caminho estava cheio de coisas escuras que deveriam ser feitas.

Eu pisquei. — Uh... Ok.

Piperi mancou para a frente, parando em frente a mim. Ela só encostou em meus

ombros, mas me lembrei o quão forte era. Dei um passo para trás. Ela riu, mas desta vez o

riso terminou em um som chiado miserável. Deuses, eu esperava que ela não tombasse

aqui. Ela levantou a cabeça, me dando um grande sorriso desdentado. — Quer saber sobre

o amor, criança?

— Oh, vamos lá. — Gemi. — Você me faz querer me machucar.

— Mas o amor, criança, o amor é a raiz de tudo o que é bom, e a raiz de todas as

coisas que estão mal. O amor é a raiz do Apollyon.

Mudei para o meu outro pé. — Sim, eu acho que chegou a hora de dizer adeus.

Espero que você tenha uma boa viagem de volta a qualquer cabana que você more.

Sua mão livre serpenteou para fora, cobrindo a minha. Sua pele parecia papiro fino,

seco e tão grosseiro. Tentei idiotamente puxar minha mão para trás, mas ela a segurou.

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Sua força era sobrenatural. Os olhos fixos em mim. — Ouça-me, criança. O destino está em

andamento. As coisas não podem ser desfeitas. O destino olhou para o passado e para o

futuro. A história está se repetindo, mas esta é a hora de apertar o botão 'pare'. Para mudar

tudo.

— Eu não sei o que você está falando. Sinto muito. Não está fazendo...

— Ouça-me!

— Estou ouvindo! Mas poderia falar uma frase coerente, pelo menos uma vez?

Os dedos de Piperi deslizaram sobre os meus e depois soltaram. — Não digo nada

mais. Você deve ver o que eu mostrei. Ouça o que eu falei. Nada é o que parece. O mal se

esconde nas sombras, tramando seus planos enquanto você teme os daimons.

Fiz uma careta. — Eu não temo daimons.

Seus olhos negros me penetraram. — Deve temer aqueles que seguem os caminhos

antigos. Aqueles que não buscam a mudança e não podem permitir que as coisas

continuem como estão. E que caminho, que caminho os Poderes escolheram. O fim, o fim

está próximo. Ele, — olhou para o céu—, verá isso.

Revirei os olhos. — Oh, pelo amor dos deuses, isto não faz sentido.

Ela balançou a cabeça novamente. — Você não entendeu. Ouça-me. — Piperi me

cutucou no peito com um dedo ossudo. — Deve fazer uma escolha entre o que está

destinado e que é desconhecido.

— Ow! — Recuei. Ela espetou-me outra vez. — Hey! Pare com isso!

— Aceite o risco ou sofra as consequências! — Ela parou de repente, seus olhos se

arregalando quando o olhar dela correu em torno do jardim de outra forma silencioso. —

Você não deve aceitar presentes daqueles que buscam destruí-la.

— Ou doces, — eu murmurei.

Piperi ignorou meu sarcasmo. — Deve ficar longe de quem não traz nada, além de

mágoa e morte. Pode me ouvir? Ele não traz nada senão a morte. Sempre trás. Saiba a

diferença entre necessidade e amor, destino e futuro. Se você não fizer isso, tudo o que sua

mãe sacrificou será por nada.

Isso chamou a minha atenção, talvez porque era a coisa mais clara que ela já me

disse. — Quem é ele?

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— Ele não é o que parece. Engana a todos. Pobre criança não vê. Não vê e selou seu

destino. — Suspirou. — Ele joga em ambos os lados. Você não sabe, não saberia. Ele... —

Recuou, a bengala caiu de sua mão. A coisa bateu na calçada de mármore, quebrando em

uma dúzia de pequenas peças.

Eu a agarrei, temendo que ela caísse de cara no chão. Então, fiquei surpresa quando

não caiu... E totalmente chocada quando ela dobrou em si mesma, descamando até que

nada restou senão um monte de pó.

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Nove

— O oráculo morreu. — Lucian rodopiou, abordando cada um de nós. Ele parecia

ridículo quando as vestes brancas giraram em torno de seu corpo esbelto. — Outro

chegará ao poder.

Eu tinha uma dor de cabeça.

Aparentemente, a morte do oráculo não era um grande negócio. Vovó Piperi era

velha. Aconteceu de eu tropeçar nela em seu dia de morrer ou algo assim, sorte minha.

Woo.

Leon levantou um braço enorme e beliscou a ponta do nariz. Esta reunião

improvisada dos mentores não estava indo bem. Eu fui direto para Marcus após vovó

Piperi virar fumaça e, a partir daí, Marcus tinha chamado a todos para seu escritório.

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Infelizmente, Lucian tinha trazido um Seth muito contrariado. E pior ainda, Aiden já

estava no escritório de Marcus por qualquer motivo.

Marcus respirou fundo. — Alex, o que aconteceu exatamente?

— Já lhe disse tudo. Estava com ela no jardim. Estava falando em um segundo e no

outro ela meio que explodiu…

— Explodiu? — Seth riu. Ele descansava no canto, de braços cruzados sobre o peito e

aquele sorriso maldito espalhado em seu rosto. — Sério?

— Sim, ela explodiu. Estava lá num segundo e no seguinte ela era um monte de pó.

— Nós simplesmente não explodimos, Alex. Isso não acontece.

— Bem, ela fez. Cutucou-me no peito com os dedos ossudos e disse algumas coisas

malucas. Então ela explodiu!

As sobrancelhas de Seth levantaram e ele riu de novo. — O que você estava fazendo

hoje? Fumando alguma coisa?

Dirigindo-me a Marcus, joguei as minhas mãos no ar. Não tinha idéia de por que

Seth estava sendo um idiota comigo. Ele tinha começado no momento que entrou nessa

sala e agora eu queria matá-lo. — Será que ele tem que estar aqui?

— Ele está onde eu preciso que esteja, — respondeu Lucian. — E eu preciso dele

aqui.

— Será que poderia calar a boca pelo menos? — Tinha saudade da versão mais

charmosa de Seth. Esta versão era uma droga. — Não há a necessidade valiosa de

comentar sobre tudo o que sai da minha boca!

— Estou comentando sobre tudo, porque parece que você fumou algum tipo de

maconha, — Seth assinalou. — Onde você esteve durante todo o dia?

— Seth, — Aiden advertiu. Era a primeira vez que ele falava desde que a reunião

tinha começado. Havia colocado sua vestimenta de Sentinela e eu estava tendo um inferno

de dificuldade em não olhá-lo. — Pode ficar quieto por cinco segundos?

Os olhos amarelos de Seth atiraram fogo. — Será que ele tem que estar aqui? É

apenas um Sentinela.

— Estava aqui antes de qualquer um de vocês. — Marcus respondeu com um sorriso

apertado. — E Seth, por favor, tente conter os comentários.

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Seth se jogou contra a parede, erguendo as mãos em sinal de rendição. — Claro.

Claro. Vá em frente, Alexandria. Conte-nos como ela explodiu novamente.

— Eu já expliquei isso, — disse. — É muito fácil de entender. Mesmo para você. Ou

será que acordou do lado errado esta manhã?

— Alex, — Aiden suspirou. — Basta falar com Marcus.

Enrijeci. — Desculpe. Se ele disser mais uma palavra para mim, vou tomar esse

punhal fora da parede e enfiá-lo através de seu olho.

Seth se endireitou, cada célula do seu corpo subindo para a ocasião. — Bem, isso é

corajoso para uma Apollyon com pouco treinamento. Se você quiser experimentá-lo, eu

jogo.

— Seth! — Marcus gritou, batendo as palmas das mãos sobre a mesa. Vários livros

estremeceram.

Meu poder sobre meu temperamento esticou até o ponto de ruptura. — Você sabe o

que? Eu aposto que sua mãe quis afogá-lo logo depois que você nasceu.

— Alexandria— Marcus começou a caminhar em volta da mesa. — Será que vocês

dois...

— E há uma razão pela qual as mães se transformem em daimon e tentem matar suas

filhas.

Eu atravessei toda a sala, com o objetivo certo de alcançar a adaga atrás da mesa de

Marcus. Aiden me cortou. Considerei passar por ele, mas parecia que iria empregar todas

as medidas possíveis para me impedir de matar Seth.

— Não, — Aiden ordenou em voz baixa. — Basta ignorá-lo.

— Não me diga o que fazer, — eu fervia. — Quero o punhal para que possa cortá-lo.

— Cortar-me? — Seth riu. — O que você é - uma Apollyon vândala de rua pronta

para me atacar?

Lucian sentou-se em um dos bancos de couro. — Tanta paixão entre vocês dois, —

ele murmurou. — Pode-se esperar, eu imagino. São a mesma coisa. Deixe-os ir. Podemos

continuar esta conversa sem mais interrupções, por muito divertidas que sejam.

Eu parei. Assim fez Seth. Na verdade, todos na sala que não pareciam estar drogados

pararam e olharam para Lucian. — O quê?

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Sorrindo como se ele conhecesse algum grande segredo, jogou seu pulso elegante. —

Deixe-os ir. Alexandria já nos disse o que aconteceu. O oráculo morreu e outro chegará ao

poder. Deixe-os trabalhar com suas brigas de amantes ‘em particular’.

Até mesmo os olhos de Seth se arregalaram com isso. Eu tive uma resposta mais

vocal, que fez Marcus me dar um olhar como se quisesse enfiar-me num quarto escuro e

nunca mais me deixar sair novamente.

— Nós ainda não determinamos o que o oráculo disse a Alexandria, — Leon

interveio a partir do canto. Eu tinha quase esquecido que ele estava lá.

— Ela já nos disse o que podia. O que foi, querida? — Lucian sorria tolamente em

minha direção. Minha mão coçou para socar-lhe a cabeça. — Disse que o destino pode ser

mudado? Não são ótimas notícias? O oráculo estava se referindo aos nossos dois

Apollyons.

Fiz uma careta para ele. — Por que tudo na sua cabeça automaticamente volta ao

Apollyon?

Lucian acenou com a mão novamente. — Deixe-os ir.

O olhar duro de Aiden oscilava entre nós. — Eu não acho que isso é uma boa idéia

no momento. Um deles pode ferir gravemente o outro.

Gostaria de saber se ele realmente achava isso ou se a idéia de nós trabalharmos

nossas brigas de amantes ‘em particular’ o incomodava.

Marcus suspirou. — Acho que é uma excelente ideia, como não estamos chegando a

lugar nenhum com os dois na sal...

— Pensei que Lucian precisava de Seth aqui, — Aiden interrompeu, seus olhos como

lascas de gelo.

Algo ridiculamente estúpido arqueou vivo em meu peito. Aiden estava com ciúmes?

— Você sabe o quê? — Atirei a Aiden um olhar desafiador. — Vamos. Vamos lá, Seth.

Vamos continuar a nossa briga de amantes.

Desencostando-se da parede, Seth arqueou uma sobrancelha. — Sim, meu amor, isso

soa absolutamente fantástico. Não se esqueça de pegar um punhal para que você possa

arrancar meu olho fora. Oh, espere. — Ele fixou um olhar simpático no rosto. — Apenas

um Sentinela treinado pode transportar uma adaga.

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Atirei-lhe um sorriso de escárnio e então me virei e saí da sala. Minha cabeça latejava

loucamente e mesmo que tivesse aceitado sair, eu não queria continuar falando com Seth.

Na verdade, conseguimos chegar ao primeiro andar antes de as coisas piorarem.

Seth agarrou meu braço e me arrastou para um dos escritórios vazios, fechando a

porta atrás dele. — Você pirralha, o que diabos tem feito durante todo o dia?

Puxei meu braço livre e me movi para o outro lado do escritório. Seth foi atrás de

mim e pensei no leão de mais cedo. Tudo o que ele precisava era de uma cauda sibilante.

Ri, incapaz de não fazê-lo. A imagem de Seth com uma cauda era engraçada.

Seth parou, franzindo a testa. — O que há de tão engraçado?

Eu fiquei séria. — Puxa, nada.

— O que você fez durante todo o dia, Alex?

— O que você fez? — Eu contornei-o, colocando algum espaço entre nós. — E por

que não parece se importar que o oráculo morreu?

— Alex, ela era velha. Pelo menos uns duzentos anos de idade. Estava prestes a

acontecer. Lucian está certo. Outro chegará ao poder e blá, blá.

— Ela morreu na minha frente! Foi um pouco inquietante.

Seth inclinou a cabeça para o lado. — Quer que eu sinta pena de você? Tenho certeza

de que pode encontrar algumas pessoas que podem ajudá-la a lamentar.

— Deuses, ia te matar ser um pouquinho legal? Oh. Espere. Ia. Então me desculpe,

tenho coisas que preciso fazer. — Comecei a caminhar para a porta, mas Seth me pegou

pelo braço. Sua pele parecia fogo. — Seth, qual é. Eu tenho dor de cabeça e estou enlouq...

Seus olhos examinaram meu rosto. — O que você esteve fazendo hoje?

Comecei a ficar desconfortável. — Estive treinando. Que diabos mais eu poderia

estar fazendo?

— Treinando? — Seth riu asperamente. — Onde?

— Aqui, — eu disse imediatamente.

Os olhos de Seth se estreitaram. — Pequena mentirosa, procurei na sala de

treinamento por você. Não estava lá.

Oh, merda.

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Um sorriso de satisfação avançou em seu rosto. — Então, eu chequei todos os outros

centros de treinamento, bem como o ginásio e a praia e finalmente, o seu quarto. Você não

estava em nenhum deles.

Oh, merda dupla.

— Portanto, não minta para mim. — Ele me pressionou até eu bater na borda da

mesa. — Suas bochechas estão vermelhas como sangue, seu pulso disparou e você é uma

péssima mentirosa.

Apertei a borda da mesa. — Não tenho idéia do que está falando.

Seth se abaixou até o nível dos meus olhos. — Não tem?

— Não.

— Vou te perguntar mais uma vez, Alex. O que você esteve fazendo hoje?

— Ou o quê? — Exigi. — O que vai fazer? E por que você se importa?

— Porque as emoções que você estava sentindo hoje eram ultrajantes.

— Deuses, este dia nunca vai acabar, — murmurei. Têmporas latejantes à parte, tinha

certeza que eu tinha agressão suficiente em mim para espancar Seth neste momento. —

Quem se importa?

— Eu me importo, porque você deveria estar treinando com Aiden hoje e não há

nenhuma razão para estar sentindo esse tipo... — Os olhos de Seth se arregalaram. Eu juro,

nunca tinha visto suas pupilas tão dilatadas e para alguém que continuava se colando em

mim, ele com certeza me soltou terrivelmente depressa. — Oh. Não, não, não.

Apreensão floresceu em mim, transformando rapidamente meu interior em gelo. —

O quê?

— Você não faria isso. — Ele passou a mão pelo lado do rosto. — Espere. O que estou

dizendo? Claro que você faria algo tão incrivelmente estúpido.

Encostei-me contra a mesa. — Uh... Puxa, obrigada.

Seth se atirou para a frente, segurando os meus ombros. Eu vacilei, incapaz de

suprimir a resposta natural. — Por favor, me diga que estou errado. Diga-me que não está

brincando com um maldito puro-sangue. Pô, Alex. Ele? Meus deuses, isso explica muito.

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Tudo na minha cabeça meio que esvaziou. Meu cérebro tinha essa capacidade

maravilhosa de fazer isso quando eu realmente precisava pensar rápido.

Ele riu asperamente. — Agora eu sei por que ele me odeia, pelo menos. Por que ele

está sempre com você. Só pensei que era no sentido figurado e não literal. Que diabos você

está pensando? O que ele está pensando? Você vai jogar tudo fora! Seu futuro, meu futuro

e para quê? Para ter mais puro em você?

Tirando suas mãos dos meus ombros, pela enésima vez, eu escapei. — Você não tem

idéia do que está falando! Não estou brincando com Aiden.

— Não ouse mentir para mim sobre algo assim! — Ele enfiou o dedo na minha cara.

Eu tinha o desejo de quebrá-lo. — Você não pode fazer isso, Alex. Eu não vou permitir que

isso continue. — Seth se virou para a porta.

— Não. Não! Seth pare! Por favor. — Desta vez eu agarrei-o, puxando-o para trás da

porta. — Por favor, me escute. Não é o que você pensa!

Seus olhos praticamente brilhavam de tão irritado que estava. — Não é sobre o que

penso. É o que eu senti hoje!

— Por favor. Apenas me escute por um segundo. — Meus dedos cavaram em seus

braços. — Não pode dizer nada. Eles irão...

— Não vou dizer nada para o Conselho, sua pequena idiota. Eles lhe enviariam para

servidão num piscar de olhos. — Me empurrou, jurando sob sua respiração. — Sabe,

realmente pensei que ele poderia ser diferente dos outros puros, mas com certeza não age

diferente. Foda um mestiço; escravize um mestiço. Isso é o que dizem, Alex.

— O que está fazendo? Você não pode...

— Vou ter uma conversinha com Aiden.

Voei na frente dele, bloqueando a porta. — Você não vai falar com ele! Você vai

tentar lutar contra ele.

— Muito possivelmente. Agora saia do meu caminho.

— Não.

— Saia do caminho, Alex, — ele rosnou. Sinais das marcas do Apollyon começaram a

vincar sua pele.

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— Ok, — respirei, pressionando contra a porta. — Eu vou te dizer a verdade. Tudo

bem, só, por favor, não faça nada... Estúpido.

— Eu não acho que você deveria me dar um sermão sobre não fazer nada estúpido.

Contei até dez. Agora não era o momento para perder a minha paciência. — Não

aconteceu nada entre Aiden e eu. Ok? Eu me importo com ele, certo? Sei que é errado. —

Fechei os olhos, desejando que as palavras não doessem tanto quanto doeram. — Sei que é

estúpido, mas nada está acontecendo entre nós.

— O que senti entre vocês hoje não foi nada, Alex. Ainda está mentindo para mim.

— Okay. Nós nos beijámos, mas, pare! — Empurrei Seth de volta enquanto ele

tentava me arrancar da porta. — Ouça-me. Nós nos beijámos, mas não é nada. Foi

estúpido, um erro. Não há nada para se preocupar. Ok?

Ele olhou para mim, lábios pressionados com força. Então fechou os olhos. Um

enorme silêncio se estendeu entre nós. — Você... Você o ama, não é?

Olhei para ele, meu coração batendo alto. — Não. Não, claro que não.

Seth acenou com a cabeça, correndo a mão sobre o rosto novamente. — Alex... Alex,

você é louca.

Obviamente, ele não acreditou em mim. Eu precisava fazer Seth entender que nada

precisava ser feito sobre isso. Não havia nenhuma maneira que ele pudesse ir atrás de

Aiden. Só os deuses sabiam o que Seth faria ou o que Aiden faria. Eu podia vê-los agora,

brigando na praia. Uma coisa levaria a outra e o Conselho iria descobrir. Os puros me

drogariam até suprimir o Apollyon em mim e eu estaria esfregando o chão para o resto da

minha vida. Aiden nunca iria se perdoar. Eu não podia deixar isso acontecer. E então

havia o idiota na minha frente. Se Seth atacasse um puro, o que seria dele. O Conselho se

moveria contra Seth e mesmo que eu quisesse estrangulá-lo, eu não queria... Bem, não

queria que nada acontecesse com ele.

Chame isso de auto-preservação.

— Nada está acontecendo, — eu disse. — Só me prometa que não vai fazer nada.

Seth me encarou durante tanto tempo que o silêncio que nos envolvia começou a me

afetar. Em seguida, a tatuagem começou a afundar de volta para sua pele e ele parecia

surpreendentemente calmo.

— Você não vai fazer nada, certo?

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— Não. — Seth se aproximou de mim e arrancou a minha mão da maçaneta. — Eu

não vou dizer nada.

Alívio doce e belo, me atravessou. Soltei a minha respiração. — Obrigada.

— Não vai perguntar por quê?

— Não. — Eu balancei a cabeça. — Em cavalo dado não se olha os dentes.

— Você sabe mesmo o que isso significa?

— Não realmente, — disse, — mas soa bem.

Seth arqueou uma sobrancelha e então me puxou para longe da porta. — Vem,

vamos lá.

Dei uma breve olhada em nossas mãos unidas. — Aonde vamos?

— Nós vamos treinar, uma vez que, aparentemente, não fez nada disso hoje.

— Ela explodiu do nada? Porra, isso é loucura.

Olhei para Caleb, desejando que ele perguntasse isso. — Qual é o grande problema

de todos com a terminologia? Juro pelos deuses, se mais uma pessoa me perguntar isso

vou socá-lo.

— Poof, — Olivia sussurrou, sorrindo.

Atirei-lhe um olhar mortal. — Ha. Engraçado.

— Desculpe. — Ela passou o braço em torno de Caleb. Aparentemente, eles tinham

feito as pazes, mais uma vez. Isso me fez feliz. Gostava da maneira como eles olhavam um

para o outro, quando não estavam brigando. — Aposto que foi estranho, no entanto.

— Estranho nem sequer começa a descrever.

— Ela era velha como a sujeira, — disse Caleb, — mas ainda assim. A velha era meio

engraçada.

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‘Engraçada’ não era a palavra que eu usaria para descrever a Vovó Piperi. Inclinei-

me para trás na cadeira e deixei meus olhos fechados enquanto Olivia e Caleb começaram

a falar sobre a festa que haviam escapado para ir na noite passada. Senti uma centelha de

ciúme e amargura. Eu não tinha sido convidada. Talvez Caleb pensasse que eu era mais

pura do que mestiça, também. Blech.

Voltei a concentrar meus pensamentos em Piperi. Até mesmo alguns dias depois, eu

ainda estava tão envolvida com a quase exposição de Aiden e meu relacionamento

inexistente para dar muita atenção ao que ela havia dito antes de morrer.

A conversa que tive com ela não fazia muito sentido - nenhuma surpresa nisso. A

única coisa importante que eu entendi, era sobre o cara que não era quem parecia ser, que

tinha enganado a todos. Se ela não tivesse explodido em nada um segundo mais tarde,

talvez ela tivesse dito o nome dele, o que já ajudaria tremendamente. Eu não compartilhei

essa parte da conversa com ninguém. Parecia que quem quer que fosse não era um amigo

meu. Então, novamente, não podia ter certeza. Depois desse pensamento, devo ter

adormecido, porque eu pulei ao som do meu nome.

— Srta. Andros.

Eu abri meus olhos e encontrei Leon em pé na porta de entrada para a sala de

recreação. — Sim?

— Você não deveria estar aqui.

Estranho. Quando Leon tinha sido designado para ser minha babá? Só o via em torno

do campus quando tinha alguma notícia terrível e urgente para entregar. — Qual é. — eu

choraminguei.

Caleb olhou por cima do encosto do sofá. — Ela não está incomodando ninguém.

Leon nem sequer olhou para Caleb. — Levante-se.

Caleb olhou para mim. — Um dia desses, você será capaz de ficar fora e jogar. Então

tudo ficará bem em nosso mundo.

Puxando-me para fora da cadeira, revirei os olhos para Caleb. — Leon, posso ter um

tempinho com meus amigos? — Isso tirou uma risada de Olivia.

A expressão de Leon permaneceu branda. — Talvez você fosse permitida a ter um

tempinho se ficasse fora de problemas durante uma semana inteira.

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— Eu acho que é um não. — Caleb sorriu para mim. — Então agora sabe o que fazer.

Ficar fora de problemas durante uma semana inteira, Alex. Uma semana inteira.

Bati na nuca de Caleb quando passei por ele. Ele virou para me atacar, mas Olivia

ficou no caminho.

— Tchau! — Olivia disse já se aconchegando ao lado de Caleb.

Dei-lhes um pequeno aceno e segui Leon para fora do salão. Senti-me um pouco

desconfortável caminhando ao lado dele. O homem tinha quase dois metros de altura e

parecia que pertencia ao circuito de luta Greco-romana profissional. Já para não falar, eu

não sabia o quanto Leon sabia. Lembrei-me de como ele pareceu surpreso quando Marcus

tinha falado que eu era o Apollyon.

Procurei algo a dizer, mas só encontrei um vazio até que o meu olhar caiu sobre uma

estátua de Apollo. — Ei, você de certa forma é parecido com Apollo. Alguém já te disse

isso? Tudo que você precisa é de cabelos loiros e os hormônios em fúria. Talvez ele seja

seu tá-tá-tá-tará-avô ou algo assim.

O olhar de Leon caiu sobre a estátua de mármore. — Não. Ninguém jamais disse

isso.

— Huh. Engraçado. Porque você parece. Gostaria de saber se tem algo mais em

comum com Apollo.

— Como o quê?

— Você sabe. Apollo não tem uma queda por meninos bonitos? — Bufei. — Espere,

Apollo não tem uma queda por quase tudo o que anda? Até eles se transformarem em

árvores ou flores, ou o que.

— O quê? — Leon paralisou completamente, pasmado comigo. — Existem alguns

mitos que são verdadeiros, mas a maioria são exagerados.

Levantei minhas sobrancelhas intrigada. — Não percebi que você era um fã de

Apollo. Sinto muito.

— Eu não sou um fã.

— Ok. Não importa, então.

— Sabe o que eu acho interessante, Alexandria? — Ele perguntou depois de alguns

instantes.

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— Não. Não na verdade. — Eu tremia no ar que rapidamente esfriou.

— Como você encontrou o oráculo antes dela morrer.

Olhei ao redor do campus quase vazio, apenas manchado com Sentinelas e Guardas.

Não tinha percebido que já era tão tarde. — Não tenho idéia. Eu acho que tenho esse tipo

de sorte.

— Duas vezes?

Olhei para ele bruscamente. E havia outra coisa que eu não sabia que ele estava

ciente. — Acho que sim.

Leon assentiu, analisando com os olhos o caminho para o dormitório das meninas. —

Sabia que o oráculo só busca aqueles que ela quer? Que muitos, muitos puros passam suas

vidas inteiras sem sequer ver o oráculo uma vez?

— Não. — Passei meus braços em volta de mim, querendo saber onde tinha ido o

verão. Era quase o fim de outubro, mas geralmente não estava tão frio.

— Então ela deve ter tido algo muito importante para lhe dizer, — disse Leon. —

Suponho que seja algo mais do que apenas ser capaz de mudar a história.

Meus passos abrandaram quando as palavras do oráculo correram através de mim.

Ele não é o que parece. Tem enganado a todos. Ele joga em ambos os lados. Olhei para Leon, com

medo de onde essa conversa estava indo. Não havia nada que eu soubesse sobre Leon,

exceto sua maravilhosa capacidade de aparecer quando eu não o queria em volta e seu

amor por Apollo. — Isso é tudo o que ela disse.

Leon parou na frente da escada para o dormitório, dobrando os braços enormes

sobre o peito. — Parece muito vago.

— Piperi é, era, sempre vaga. Nada do que ela disse jamais fez muito sentido para

mim.

Ele inclinou a cabeça para o lado e um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. Acho

que foi a primeira vez que eu o vi sorrir. — Essa é a coisa sobre oráculos. Eles lhe dizem a

verdade, você só tem que realmente ouvi-la.

Minhas sobrancelhas avançaram até a minha testa. — Bem, acho que não a ouvi.

O olhar de Leon caiu sobre mim, pesado e duro. — Tenho certeza que em boa hora

você vai. — Então ele se virou e desapareceu no caminho.

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Fiquei ali mais alguns instantes, olhando para ele. Essa tinha sido a conversa mais

longa que eu já tive com o cara e ela estava na tabela de classificação junto com as

conversas que eu tinha tido com o oráculo. A tabela das conversas que não faziam sentido.

Também me encheu de uma quantidade razoável de desconforto. Havia sempre

alguma coisa sobre Leon que não parecia certa, uma espécie de traço que eu não conseguia

bem identificar. Mas ele poderia ser o homem misterioso que o oráculo havia falado?

Tremi e subi as escadas. Eu esperava que não. Não havia nenhuma maneira de nós

conseguirmos derrotar esse pedaço enorme de carne em uma batalha.

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Dez

Eu era uma confusão nervosa de preocupação.

Tinha a ver com a pequena caixa na minha bolsa de ginástica. Legal da parte de

Deacon embrulhar a palheta de guitarra para presente, mas me senti estúpida por dá-la a

Aiden, especialmente depois de tudo o que dera errado entre nós no zoológico.

Mas ela estava comigo e eu precisava entregá-la a ele. Se não o fizesse, havia a chance

de Deacon comentar alguma coisa com ele e então eu ficaria ainda mais mortificada. E era

só uma palheta de guitarra. Não era como se ela fosse gritar ‘eu te amo’ ou alguma coisa

parecida. Não que isso importasse, uma vez que eu já gaguejara aquilo.

Passei pelo treino com Aiden meio entorpecida e hiperconsciente. Perdi muitas

chances de dizer ‘Feliz aniversário’ e dar-lhe a bendita caixa. Só não conseguia forçar-me a

fazer isso.

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E se ele risse de mim? Se odiasse a palheta? Se olhasse para mim e perguntasse ‘Para

que serve isso?’ e então atirasse a caixa no tatame? E pisasse em cima dela?

Não conseguia parar de pensar em quantas maneiras isso podia dar errado. A reação

dele importava mesmo? Desde nossa ida ao zoológico e minha embaraçosa declaração de

amor, ele mantivera as coisas perfeitamente normais entre nós. Houve apenas algumas

vezes em que o peguei olhando para mim com aquele nível predatório de interesse.

Sempre imaginava o que se passava na mente dele nessas alturas.

Aiden me enviou outro olhar estranho e senti meu rosto ficar vermelho.

Nunca me odiei tanto.

Como não era de se surpreender, meu tempo acabou. Com o coração batendo forte

em meu peito, abaixei-me e peguei a caixinha em minha bolsa. Deacon pusera até mesmo

um laço preto. Não sabia que era tão habilidoso.

Segurando a caixa, levantei-me.

— Então, vai fazer alguma coisa, humm, especial esta noite?

Ele deixou cair o colchonete que estivera enrolando.

— Nada especial. Por quê?

Mudei de posição, desconfortável, mantendo a caixa escondida em minhas mãos.

— É seu aniversário. Não devia estar comemorando?

A surpresa cruzou seu rosto.

— Como sabia que era hoje? Espere. – ele deu um sorriso triste – Deacon contou a

você.

— Bem, seu aniversário é na véspera do Halloween. Meio difícil de esquecer.

Aiden fez um gesto com as mãos.

— Vamos sair com um pessoal, mas não será nada grande.

Sorri, chegando mais perto.

— Bem, já é alguma coisa.

— Pois é.

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Só entregue a estúpida caixa, Alex.

— Bem... Você não tem que trabalhar hoje à noite, certo?

Dê-lhe a maldita caixa, Alex, e cale a boca. Tipo, para sempre.

Aiden deu um rápido sorriso enquanto seu olhar pousava sobre mim.

— Não, tenho a noite de folga. Alex eu preciso dizer...

Dei um passo à frente, enfiando minhas mãos em seu peito. Bem, coloquei a caixa em

seu peito.

— Feliz aniversário! — Eu parecia e me sentia como o pior tipo de nerd.

Seu olhar espantado baixou, e então cintilou de volta ao meu. Ele pegou a caixinha.

— O que é isto?

— Nada de mais – disse eu, depressa – É pelo seu aniversário. Óbvio.

— Alex, não precisava mesmo fazer isso – ele virou a caixa, correndo seus dedos

graciosos por ela – Não precisava me dar nada.

— Eu sei, – tirei alguns fios de cabelo do rosto – Mas eu quis.

— Posso balançar a caixa?

— Claro, não vai quebrar.

Sorrindo, sacudiu a caixa. A palheta chocalhou nos lados. Ele me olhou uma vez

mais e então desfez o laço negro. Prendendo a respiração, observei-o atentamente

enquanto levantava a tampa e espiava em seu interior. Os olhos de Aiden se estreitaram e

seus lábios se entreabriram. Eu não sabia o que significava aquela expressão. Lentamente

ele retirou a palheta de dentro da caixa.

Aiden segurou a pedra preciosa em forma de palheta entre dois dedos longos, sua

expressão incrédula.

— É preta.

Dei uma olhada ao redor da sala.

— Sim, é. Hmmm, notei que você tinha palhetas de todas as cores, menos preta —

Ele continuava a olhar para a palheta com aquele ar de surpresa, sem saber o que dizer ou

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fazer. Cruzei os braços, subitamente com vontade de chorar. – Se não gostou, tenho

certeza de que pode devolver. Comprei em uma loja online. Eles...

— Não – Aiden ergueu os olhos e seu olhar encontrou o meu. Eles eram cinza

escuros, beirando o prateado.

— Não quero devolvê-la. – ele revirou a palheta entre os dedos, alisando-a com o

polegar – É perfeita.

Corei, ainda com vontade de chorar, mas de um jeito completamente bom agora. —

Você acha, mesmo?

Aiden deu um passo à frente, seus olhos como duas piscinas. Eles iluminaram seu

rosto, meu mundo inteiro. Eu não sabia o que aconteceria a seguir. Tudo o que sabia era

que estava irrevogavelmente apaixonada por ele.

— Aí estão vocês – Marcus estava parado à entrada da sala de treinamento – Procurei

por vocês em todos os lugares.

Havia certa graça no modo como Aiden deslizou tão rapidamente o presente para

dentro do bolso da calça e virou-se. Não podia ver seu rosto, mas sabia que estava

perfeitamente desprovido de qualquer emoção. Apenas seus olhos demonstrariam alguma

coisa, e Marcus jamais poderia adivinhar algo pela cor dos olhos dele, como eu podia.

Entretanto, eu também estava certa de que meu rosto entregaria tudo. Apressei-me a

apanhar minha sacola e fiquei fascinada com sua alça.

— O que posso fazer por você? – Aiden perguntou casualmente.

— O treino está demorando um pouco demais para vocês dois, não acha?

— Estávamos terminando.

— Alexandria, o que está fazendo aí? – perguntou Marcus.

Resmungando baixinho, pus minha bolsa no ombro e encarei meu tio. Ele vestia um

terno de três peças. Ninguém no campus vestia-se tão bem quanto ele.

— Nada. Apenas pegando minhas coisas.

Ele ergueu uma sobrancelha elegantemente.

— Estava se atrasando para suas aulas e retendo Aiden? Deveria ter mais respeito

pelo tempo dele.

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Lancei a meu tio um olhar maligno, mas consegui manter a boca fechada.

— Está tudo bem – respondeu Aiden prontamente – Ela não estava tão atrasada.

Marcus assentiu.

— Bem, estou satisfeito por ter encontrado os dois juntos.

Minhas sobrancelhas se ergueram e a vontade de rir me atingiu com força. Aiden

pareceu menos divertido.

— Pensei em seu pedido e concordo com sua sugestão, Aiden.

As linhas ao redor da boca de Aiden endureceram.

– Não tive tempo de discutir o assunto com Alex.

Marcus franziu a testa.

— Não se preocupe com isso. Você fez maravilhas por ela. Tenho que admitir, não

pensei que ela pudesse alcançar os outros, mas você estava certo. Podemos acabar com os

treinos adicionais.

Dei um passo à frente, mas não senti o chão sob meus tênis.

— Acabar com meus treinos?

— Aiden sente que você não requer mais esses treinos adicionais, e acontece que eu

concordo com ele. Ainda trabalhará com Seth, e isso lhe dará mais tempo livre e permitirá

a Aiden voltar completamente a seus deveres de Sentinela.

Olhei fixamente para Marcus, ouvindo-o, mas sem entendê-lo totalmente. Então

virei-me em direção a Aiden. Seu rosto estava totalmente sem expressão. Eu sabia que

deveria sentir-me bem com relação a isso, porque era um passo enorme na direção certa e

Marcus meio que me havia elogiado, mas não pude deixar de sentir o buraco se abrindo

em meu peito. Aiden e eu jamais nos veríamos novamente se não treinássemos juntos.

— Aiden, você falou sobre isso com Seth? – Marcus perguntou – Discutiram áreas de

potencial melhora?

— Sim, Seth já sabe de coisas em que ela pode melhorar. – A voz de Aiden soava

surpreendentemente vazia e inexpressiva.

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Ele já havia discutido o assunto com Seth? Inspirei fundo, mas o ar abandonou meus

pulmões. Meu peito se contorceu de um jeito estranho e meu cérebro tentou me dizer que

eu sabia que esse dia chegaria. Só não sabia que seria tão cedo.

— Bem, não quero prender você. Aproveite seu jantar hoje à noite. – Marcus fez uma

pausa, parecendo se lembrar de que ainda estava ali. Se voltou, sorrindo educadamente —

Boa noite, Alexandria.

Ele não esperou pela minha resposta, o que foi bom, porque eu não tinha nenhuma.

No momento em que senti que ele não poderia ouvir-nos, girei em direção a Aiden.

— Não vamos mais treinar?

Aiden ainda não olhava para mim.

— Eu ia falar. Acho que...

— Você ia falar comigo? Por que não falou comigo antes de ir até Marcus?

— Fui conversar com Marcus na semana passada, Alex.

— Depois... Que voltamos do zoológico? Era por isso que estava no escritório de

Marcus quando cheguei lá?

Aiden ainda não havia olhado para mim, desde que Marcus havia lançado a bomba.

— Sim.

— Eu... Eu não entendo. – Segurei com força a alça da bolsa como se ela fosse algum

tipo de linha vital – Por que você não quer mais me treinar?

— Alex, você não precisa mais que eu a treine. – Seu corpo começou a se retesar, a

fechar-se. – Já alcançou o nível dos outros alunos.

— Se isso é verdade, porque discutiu pontos a melhorar com Seth? Por que não pode

apenas trabalhar neles?

Aiden deu completamente as costas a mim, correndo uma das mãos pelos cabelos.

— Você precisa de tempo livre. Está exausta o tempo todo, e precisava desistir de

algo. Precisa trabalhar com Seth, mais do que comigo. Ele pode ajudá-la com os elementos,

prepará-la para seu Despertar.

Havia um estranho zumbido em meus ouvidos, acrescentando um elemento surreal a

tudo aquilo.

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— Não é verdade. Não preciso de Seth.

A cabeça de Aiden voltou-se rapidamente para mim.

— Não precisa de mim, Alex.

Foram necessárias várias tentativas para fazer com que as palavras passassem pelo

grande nó que se formou em minha garganta.

— Preciso. Não o verei mais se não treinarmos.

— Você me verá no Conselho, Alex, e me verá por aí. Não seja ridícula.

Ignorei a frieza em sua voz.

— Mas e depois disso? Eu não o verei.

Minha voz se quebrou. O som era igualmente humilhante e triste.

— Bem acho que... Será melhor assim.

Senti como se ele tivesse enfiado a mão dentro de meu peito e esmagado meus

pulmões até se transformarem em uma massa sem vida. Inspirei profundamente e tentei

me acalmar, mas havia essa mágoa crua dentro de mim. Doía, latejava de um jeito que

parecia tão real. Só conseguia olhar para ele.

— É… por causa do que eu disse no zoológico? Por isso você não quer mais me

treinar?

O corpo de Aiden pareceu se tensionar novamente, e um músculo saltou em seu

maxilar.

— Sim, tem algo a ver com aquilo.

Meu coração começou a se partir.

— Porque… porque eu disse que o amo?

Ele produziu um som profundo em sua garganta. — E porque eu não… — Fez uma

pausa, desviando o olhar — Não sinto o mesmo por você. Não posso. Está bem? Não

posso me permitir amar você. Se o fizesse, tiraria tudo de você – tudo. Não posso fazer isso

com você. Não farei isso com você.

— O quê? Isso não…

— Isso importa, Alex.

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Tentei tocar seu braço, mas Aiden se afastou de mim. Ferida, envolvi a mim mesma

com os braços.

— Você está dizendo isso…

— Apenas pare. — Ele correu a mão pelo cabelo outra vez.

A crueza de suas palavras cortou fundo. — Então por que me disse aquelas coisas no

zoológico? Por que disse que se importava comigo? Que queria quebrar as regras por

mim? Por que diria aquelas coisas?

Aiden voltou aqueles olhos cinza metálicos para mim, e dei um passo atrás. Não se

parecia em nada com o Aiden que eu conhecia. Aiden nunca olhou para mim tão

friamente, tão imparcialmente.

— Eu me importo com você, Alex. Eu... Não quero que nada de mal lhe aconteça, ou

vê-la ferida.

— Não. — balancei a cabeça — É mais do que isso. Você... segurou minha mão. — A

última parte saiu em um sussurro patético.

Ele se encolheu.

— Aquilo foi… um erro estúpido.

Desta vez eu me encolhi, e não consegui evitar que as palavras saíssem.

— Não. Você me deseja...

— É claro que desejo. — disse ele, asperamente — Sou um homem, e você é uma

garota bonita. Não posso evitar. Querer no sentido físico não tem nada a ver com o que

sinto por você.

Minha boca se abriu, mas nenhum som veio. Pisquei para não deixar que as lágrimas

quentes descessem.

As mãos de Aiden se fecharam em punhos.

— Você é uma meio-sangue, Alex. Não pode me amar, e puros não amam mestiços.

Vacilei, sentindo-me como se ele tivesse me dado um tapa. Estava tão envergonhada,

humilhada. Como pude confundir tanto o que ele sentia? Eu havia entendido tudo errado.

Deixando escapar um suspiro sofrido, dei as costas bem no momento em que Aiden

fechava os olhos e baixava a cabeça. Enjoada, caminhei de volta ao dormitório em

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completo aturdimento. A pior parte era a vergonha. Não podia ver ou pensar além dela.

Havia uma ardência em meus olhos contra a qual eu lutava desesperadamente. Chorar

não resolveria nada, mas droga, era tudo o que eu queria fazer. Meu peito parecia estar

aberto, o coração rasgado em dois.

Quando abri a porta de meu quarto, não fiquei inteiramente surpresa por encontrar

Seth sentado na poltrona. Não fiquei surpresa, mas zangada. Talvez devesse considerar

pôr uma barreira na janela do quarto.

Ele não ergueu os olhos.

— Hey.

— Por favor, vá embora. — Deixei a bolsa cair no chão.

Os lábios de Seth se franziram enquanto olhava para frente. —Não posso fazer isso.

Uma emoção feroz tomou conta de mim, crua e agonizante. Eu não podia - não ia -

perder o controle na frente dele.

— Não estou brincando. Saia.

Ele olhou para cima, os olhos da cor de um cálido pôr do sol.

— Sinto muito… Mas não posso ir embora.

Avancei, cerrando os punhos.

— Não me importa o que estou emitindo agora e como isso está afetando você. Por

favor, vá embora.

Seth levantou-se devagar.

— Não vou embora. Você poderia fazer bom uso da companhia.

Podia odiar a conexão entre minhas emoções e Seth mais do que qualquer coisa em

minha vida.

— Não me pressione, Seth. Vá embora, ou farei com que saia.

Ele estava à minha frente em um segundo. Segurando meus braços, baixou a cabeça

até que nossos olhos estivessem no mesmo nível. — Olhe, eu posso deixar este quarto.

Ótimo. Você ainda vai se sentir miserável, o que significa que eu também vou me sentir

miserável.

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Inspirei roucamente, incapaz de escapar dele. As lágrimas ardiam em meus olhos e

entupiam o fundo de minha garganta, ameaçando me sufocar.

Ele respirou fundo. — Sabia que estava mentindo quando disse que não... o amava.

Por que está fazendo isso a si mesma? Aiden é como qualquer puro-sangue, Alex. Certo,

pode ter momentos em que não age assim, mas é um puro-sangue.

Virei a cabeça para o outro lado, mordendo o lábio até sentir gosto de sangue. Há

uma hora eu jamais teria concordado com aquilo, mas Aiden dissera exatamente a mesma

coisa.

— E se ele a amasse, Alex? E então? Ficaria satisfeita em ser algo que teria que

esconder? Satisfeita em mentir para todos e vê-lo fingir que não se importa com você? E

então, quando você fosse pega, ficaria satisfeita em dar sua vida por ele?

Todas eram boas perguntas, as quais eu já me fizera vezes sem conta.

— Você é tão importante, tão especial para jogar tudo fora por um puro-sangue. —

Seth suspirou baixando suas mãos para as minhas. – Agora, eu trouxe um filme, aquele

com vampiros brilhantes. Pensei que você gostaria.

Estudei-o silenciosamente. Parecia o de sempre - uma estátua viva. Perfeição sem

qualquer humanidade, e ainda assim estava ali.

— Não entendo você.

Ele não respondeu enquanto me depositava na poltrona. Pôs o filme para rodar e

voltou para o sofá, segurando o controle remoto.

— Sou temperamental, – disse, finalmente, brincando com os comandos.

Olhei para ele e uma risada estrangulada me escapou. Temperamental? Estava mais

para um transtorno de personalidade limítrofe ou algo do gênero. Mas quem era eu para

julgar? Eu tinha que ser louca, não? Apaixonada por um puro-sangue. Aquilo estava no

topo da lista de sintomas de uma possível doença mental.

Pensar em Aiden me fez sentir uma pontada no peito. E me fez pensar que meu

coração estava em algum lugar do ginásio, sangrando no chão. Tentei me concentrar no

filme, mas meu cérebro não estava a fim. Imediatamente rebobinei minha conversa com

Aiden - todas elas, na verdade. Como ele podia passar do cara para quem eu podia contar

tudo - alguém em quem confiar e com quem contar, que podia fazer meu coração inchar

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com o mais ínfimo dos sorrisos ou elogio - para alguém tão frio como eu acreditava que

Seth seria?

E ainda assim, Seth estava sentado ao meu lado.

Talvez Seth não fosse tão frio quanto aparentava, e Aiden não fosse tão perfeito

quanto eu acreditava que fosse.

Talvez meu julgamento fosse tão pobre quanto meu gosto para homens.

Seth suspirou novamente, desta vez mais alto. Silenciosa e não tão casualmente, ele

esticou o braço e me pôs atravessada no sofá. Acabei com o rosto pressionado contra sua

coxa, seu braço pesado sobre a lateral do meu corpo.

— O que você está...?

— Shh, — Murmurou ele. — Estou assistindo o filme.

Tentei me sentar, mas não fui muito longe. Seu braço pesava uma tonelada. Várias

tentativas mal sucedidas depois, desisti.

— Então, você torce por Edward?

Ele bufou.

— Não. Torço por James ou pela van do Tyler5, mas parece que nenhum deles vai

conseguir. Ela ainda está viva.

— É, é o que parece.

Seth não disse nada depois disso, e finalmente meu corpo relaxou e um pouco da dor

se abrandou. Ainda estava lá, mas abafada pela presença quase esmagadora de Seth - a

conexão Apollyon fazendo seu efeito. Talvez tenha sido por isso que Seth se prontificara a

ficar. Ou talvez apenas quisesse testemunhar minha estupidez.

5 O carro que quase atingiu Bella no primeiro livro da saga Crepúsculo.

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Onze

A semana seguinte da minha vida foi uma droga.

Foi ruim de um modo ao qual eu não estava inteiramente acostumada. Tive paixões

antes, até mesmo uns casos de louca luxúria. Mas eu nunca tinha amado ninguém além da

minha mãe e Caleb, e esse era um tipo diferente de amor.

Este tipo de amor doía como o inferno.

Não ver Aiden depois da aula parecia errado, como se alguma coisa estivesse

desaparecida ou eu tivesse esquecido algo terrivelmente importante. Nos dias em que

deveria estar praticando com ele, tentei passar um tempo com Caleb e Olivia, mas

geralmente voltava para o meu quarto e ficava lá até Seth aparecer.

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Eu sentia falta de Aiden, sentia tanto a sua falta. A dor consumia cada segundo, me

tornando em uma dessas garotas cujo mundo acabava quando um cara as rejeitava. Eu

vivia nesse estado miserável de existência – miserável e obnóxio.

— Você vai sair dessa cama alguma hora? — Caleb sentou, suas costas contra a

cabeceira da minha cama. Um clássico livro repousava fechado em seu colo. Ele tinha

escutado minha humilhante história há alguns dias atrás. Assim como Seth, ele não havia

ficado surpreso pelo resultado. De qualquer modo, ficou bastante chateado por eu estar

contemplando a idéia de um relacionamento com Aiden durante todo esse tempo. E

apenas me senti mais estúpida.

Ele me empurrou com o joelho quando não respondi. — Alex, são quase sete horas e

você ainda não se moveu.

— Não tenho nada pra fazer.

— Pelo menos tomou banho? — Caleb perguntou

Rolei na cama, enfiando meu rosto no travesseiro. — Não.

— Isso é meio nojento.

— Uh-huh, — foi minha resposta abafada. Um segundo depois, seu celular fez

aquele som irritante agudo na mesa ao lado da minha cama, e o livro caiu no chão. Não

me movi. Caleb subiu em cima de mim, empurrando seu cotovelo nas minhas costas.

— Deuses! — Gritei no travesseiro. — Ai.

— Shh. — Caleb disse ainda deitado em cima de mim, com os cotovelos ossudos

cravando minhas costas enquanto virava seu telefone e checava suas mensagens.

Eu consegui girar minha cabeça para o lado, mas isso era tudo. — Jeez, você pesa

uma tonelada. Quem é? Olívia?

Caleb rolou para o lado, quebrando a parte inferior das minhas costas no processo.

Até que me senti bem. — Sim, quer saber que cheiro é esse irradiando para o quarto dela.

— Cala a boca.

— Sério, ela quer saber se já tomou banho. — Ele mudou para cima do estômago. —

Sabe, você é meio que confortável. Está ganhando peso, Alex.

— Não estou, seu idiota.

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Ele riu. — Olivia quer saber se queremos assistir um filme.

— Não sei.

— Como você pode não saber? É uma pergunta simples.

Eu consegui manobrar um encolher de ombros.

Caleb bufou. — Olha, eu sentei aqui o dia inteiro enquanto você olhava para o teto

como uma idiota. Vai sair dessa cama, tomar um banho, e nós vamos ter uma noite de

filmes no seu dormitório. Então Olívia e eu vamos sair e nos envolver num sexo animal

selvagem. Fim de discussão.

— Eca, essa é uma imagem que eu nunca quis ter na minha memória. Obrigada.

— Tanto faz. Então, o que acha? Está dentro?

Rolei meus olhos. — Está quase na hora do toque de recolher.

— Que diabos? — Ele largou o telefone perto da minha cabeça, e a próxima coisa que

eu soube, estava sentado nas minhas costas com as duas mãos plantadas nos meus

ombros. — Nós não temos feito nada divertido em tempos, Alex. E você precisa de

diversão.

— Você está me matando, — Engasguei. — Não posso... Respirar.

— Não é como se eu estivesse sugerindo sexo a três. Estou sugerindo nós irmos à

cafeteria, pegar algumas bebidas e comida, e então assistir um filme.

Levantei minha cabeça do travesseiro. — Droga, não está sugerindo sexo a três?

Minha vida acabou.

— Preste atenção aos pontos críticos do que eu estou dizendo. Com toda a porcaria

das regras e você estando confinada, — Caleb continuou enquanto o seu telefone zumbia

na minha orelha. — Além do mais, estará partindo na próxima semana para o Conselho e

vai ficar fora por semanas. Nós precisamos fazer isso. Você precisa fazer isso. É nosso

último hoorah6.

— Pode verificar seu telefone? É irritante.

Ele se inclinou para a frente, pressionando sua cabeça contra a minha. — Onde está a

velha Alex que conheço e amo, minha amiga selvagem e louca?

6 Grito de guerra.

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Eu grunhi, incapaz de empurrá-lo. — Caleb, por favor.

— Vamos lá, saia e divirta-se. O que mais você vai fazer?

O que mais? Ficar deitada no meu quarto a noite toda e sentir pena de mim mesma,

e... Isso era apenas estupidez. Sair com Caleb e Olívia me faria algum bem. Poderia

esquecer Aiden por um tempo, sobre quanto eu o amava e como ele havia me rejeitado.

Eu fechei meus olhos. — Você acha que... Estava sendo estúpida por, você sabe, a

coisa com o Aiden?

Caleb se inclinou para a frente, pressionando sua bochecha contra a minha. — Sim,

foi e é estúpido. Mas eu ainda te amo.

Eu ri. — Ok. Tudo bem.

Ele saiu de cima de mim, deitando do seu lado. — Está falando sério?

— Sim. — Eu sentei. — Mas preciso tomar banho primeiro.

— Graças aos deuses. Você fede.

Eu soquei seu braço e saí da cama. — Ainda cheiro melhor que você, mas eu te amo

mesmo assim.

Caleb caiu de volta. — Eu sei. Você estaria perdida sem mim.

Olivia jogou três pacotes de pipoca de microondas, sobrecarregadas com manteiga,

um pacote de Twizzlers, e um monte de chocolate na minha mesa.

— Você acumula comida ou o quê? — Peguei um dos doces.

Ela gargalhou enquanto alcançava o bolso do moletom e tirava sacos de Sour Patch

Kids7. — Eu gosto de estar bem abastecida. Agora tudo o que precisamos são algumas

bebidas.

— É aí que Alex e eu entramos. — Caleb envolveu seus braços ao redor da cintura de

Olivia.

7 http://media.tumblr.com/tumblr_l02ij7g9XP1qb7zbm.jpg

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Eu roía o meu Twizzler, olhando as barras de chocolate. Os deuses sabem que eu

havia assaltado a máquina de vendas na semana passada. Não precisava de mais

chocolate. — Nós precisamos de um saco. — Virei e voltei para o meu quarto. Cavando

perto do meu armário, encontrei uma sacola azul marinho que serviria. Segurando o doce

entre meus lábios, enrolei a sacola e voltei para a sala de estar.

Era como se Caleb tivesse caído na boca da Olivia; eles estavam se beijando

profundamente. Revirando meus olhos, arranquei o Twizzler da minha boca e joguei na

cabeça do Caleb. Ele girou, passando uma mão no cabelo. Olhando para baixo, ele viu o

doce no chão. — Nojento, — ele disse. — Isso foi muito nojento, Alex.

Rindo, Olivia se abaixou em torno de Caleb. — Você tinha um gosto azedo e doce,

baby.

— Oh, deuses. — Eu gemi, torcendo meu cabelo ainda úmido em um coque. — Isso

foi nojento.

Ela me mostrou o dedo quando pulou no sofá. Seu cabelo estava em uma trança

grossa esta noite, caindo sobre o ombro. Eu suspeitava que o jeans e o moletom cinza

tinham custado uma boa quantia. — Certo. A missão, se escolherem aceitá-la, é retornar

com um saco de bondade líquida enlatada. Será arriscado, mas ainda, lucrativo. Vocês

aceitam esta missão?

Olhei para Caleb, sorrindo. — Eu não sei. É perigoso. Vai haver Guardas e Sentinelas

espreitando nas sombras, nos impedindo de chegar perto da arca da soda. Estamos nessa,

Caleb?

Ele puxou uma faixa do seu pulso e amarrou os fios loiros na altura dos ombros em

um rabo de cavalo na nuca. — Nós devemos ser corajosos e fortes, astutos e rápidos. —

Pausou dramaticamente. — Não podemos falhar nesta missão.

— Oh, eu gosto quando você fica todo macho e sério. É sexy. — Olívia se inclinou,

pressionando um beijo na bochecha de Caleb, o que levou a uma sessão de pegação total.

Parada lá, desajeitada, tentei focar em qualquer coisa além deles. Não funcionou. —

Olivia, eu rezo aos deuses que você não tenha esquecido de se prevenir. Porque vocês

estão tão prestes a fazer bebês.

Caleb recuou, seu rosto inteiro ruborizando. — Tudo bem, algum pedido?

— Qualquer coisa com bastante cafeína, — Olivia respondeu, ajeitando sua blusa.

Seus olhos brilharam na luz. — Não demorem muito e não sejam pegos.

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Eu ri. — Nós sermos pegos? Pessoa de pouca fé.

Olivia acenou e sentou, mexendo com o controle remoto. Gesticulei para Caleb me

seguir de volta para o quarto. Abri a janela que Seth frequentemente usava e peguei o

saco. — Você está pronto?

Caleb assentiu, suas bochechas ainda com um tom bonito de rosa. — Depois de você.

Eu passei minhas pernas sobre o peitoril e fiquei lá por um momento, escaneando a

área. Encontrando-a vazia, desci o metro e meio até o chão, caindo agachada. Levantei. —

Tudo bem, meu bem.

Ele colocou sua cabeça para fora. — Isso rima.

— Sim, rima. Você é tão observador. — Dei um passo para trás enquanto Caleb saía

pela janela.

Parando ao meu lado, sacudiu os ombros. — Que caminho devemos tomar?

Virei, de frente para a traseira do dormitório. — Este. Muitas sombras e sem luzes.

Caleb assentiu, e nós rumamos à cafeteria. Ar frio grudava no meu cabelo úmido,

enviando arrepios pelo meu pescoço.

Permanecemos nas sombras, nos esgueirando ao longo edifício. Ambos sabíamos

melhor do que falar demais sendo que Guardas e Sentinelas tinham incríveis habilidades

auditivas quando se tratava de erradicar estudantes se esgueirado ao redor.

Na beira do dormitório das garotas, eu olhei ao redor. Era difícil enxergar qualquer

coisa na escuridão. Imaginava como os Guardas conseguiam até mesmo ver um daimon

rastejando em cima deles.

Caleb parou ao meu lado, fazendo um sinal com a mão que eu não pude decifrar.

Parecia com um guarda de trânsito. — O que isso significa? — Sussurrei, estupefata.

Ele sorriu. — Eu não sei. Apenas pareceu o momento certo para fazê-lo.

Revirei meus olhos, mas sorri. — Pronto?

— Sim.

Nós saímos, cruzando o espaço aberto entre o dormitório das garotas e as instalações

de treinamento.

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No meio do caminho, Caleb me empurrou em um arbusto espinhoso. Amaldiçoando

sob minha respiração, eu voei atrás dele. Caleb era rápido, alcançando segurança poucos

metros antes de mim. Ele encostou-se ao lado da arena de treinamento, rindo baixinho.

Eu o soquei no estômago. — Idiota. — Comecei a tirar as pequenas agulhas do

arbusto do meu jeans.

Depois disso, continuamos até a borda e corremos para o edifício médico. Era como

uma versão estranha de amarelinha. Em seguida, tinhamos que contornar o edifício onde

guardavam todas as armas e uniformes e, em seguida, estaríamos na parte de trás da

cafeteria e salas de descanso. De lá, Caleb sabia como entrar na cafeteria mesmo com a

entrada principal trancada. Tinha invadido o lugar muitas vezes.

Uma sombra passou à nossa frente, misturada com o céu noturno. Enquanto a forma

se aproximava, nos achatamos contra o edifício e esperamos até que o Guarda

desaparecesse no canto do edifício médico.

Quase ser pegos alimentou a emoção de fazer algo que não deveríamos. Eu poderia

dizer que Caleb também o sentiu. Seus olhos azuis pareciam brilhar e o sorriso diabólico

em seu rosto se espalhou.

Um som súbito – muito parecido com um suspiro abafado – quebrou o silêncio.

Entreolhamos-nos intrigados. O sorriso de Caleb escorregou um pouco quando seus olhos

encontraram os meus. Encolhendo os ombros, me esforcei para ouvir qualquer coisa, mas

havia apenas silêncio espesso. Lentamente, rastejei para o lado e tentei ver na escuridão.

— Parece bem, — sussurrei.

Nós corremos através do caminho, diminuindo a velocidade quando alcançamos os

fundos da sala de jantar, tendo cuidado com mais Guardas.

Eu respirei profundamente e imediatamente me arrependi. O cheiro de comida

apodrecendo preencheu minhas narinas. Sacos de lixo pretos jaziam onde várias latas de

lixo tinham caído.

— Deuses, aqui fede.

— Eu sei. — Caleb estava pressionado contra as minhas costas, olhando ao redor. —

Ou pode ser apenas você.

Enfiei meu cotovelo em seu estômago. Caleb se curvou, gemendo. Comecei a entrar

nas traseiras com o lixo e congelei. A pequena luz na porta dos fundos usada por

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funcionários cintilou, lançando luz amarela mórbida sobre as latas de lixo. Não estávamos

sozinhos no espaço apertado.

Outra sombra se moveu à frente, menor do que o Guarda que tínhamos visto antes.

Levantei minha mão, silenciando os gemidos de Caleb.

Ele se endireitou e olhou por cima do meu ombro. — Merda, —murmurou.

A sombra estava se movendo em nossa direção. Eu recuei até Caleb, empurrando-o

contra a parede. Nos segundos antes da sombra nos alcançar, eu pude facilmente imaginar

o rosto de Marcus quando fosse arrastada para o seu escritório na manhã seguinte. Ou

ainda pior, eles poderiam notificá-lo agora. Oh, deuses, seria épico.

A respiração de Caleb serrava para dentro e para fora enquanto seus dedos

apertavam meus braços. Olhei ao redor desesperadamente por um esconderijo melhor.

Nossa única opção era entrar no lixo, e isso não aconteceria. Eu preferia enfrentar meu tio

furioso a isso.

A sombra apareceu ao redor da lata de lixo. Minha boca caiu aberta. — Lea?

Lea saltou para trás, deixando escapar um pequeno grito. Ela se recuperou

rapidamente, girando sobre nós. O cascalho solto rangia sob seus tênis. — Sério. — ela

assobiou. — Por que não estou surpresa em descobrir vocês dois juntos perto do lixo?

Caleb saiu de trás de mim. — Isso é muito original, Lea. Inventou essa sozinha?

— O que está fazendo aqui fora? — Me afastei do lixo e do cheiro horrível.

Seus lábios se curvaram nos cantos. — O que vocês estão fazendo?

— Ela provavelmente está voltando depois de transar com um dos Guardas. — Caleb

esticou o pescoço enquanto mantinha um olho atento à escuridão.

— Não estou! — Ela gritou, nos assustando. — Eu odeio quando vocês dizem

porcarias como essa! Eu não sou uma prostituta!

Levantei minhas sobrancelhas, — Bem, isso depende totalmente…

As mãos de Lea bateram no meu peito, me empurrando poucos metros para trás.

Recuperando-me antes que caísse nos sacos de lixo, derrubei a sacola no chão sujo, e então

me atirei nela. Meus dedos tocaram seus cabelos de seda exatamente quando Caleb passou

seu braço ao redor da minha cintura e me puxou de volta.

— Oh, deuses, vamos. — Caleb rangeu os dentes. — Não temos tempo para isso.

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— Você me empurrou? — Tentei alcançá-la novamente, minhas mãos voltando

vazias. — Eu vou arrancar todos os seus fios de cabelo!

Lea apertou os olhos enquanto jogava o cabelo sobre os ombros. — O que você vai

fazer sobre isso, sua pequena aberração? Quebrar meu nariz de novo? Tanto faz. Você

entra em outra briga, e está fora daqui.

Eu ri. — Você quer testar essa teoria?

Ela sorriu me dando o dedo médio. — Isso é provavelmente o que você quer. Assim

poderia sair com os seus amigos daimons.

— Você é uma vadia! — Eu considerei bater em Caleb apenas para ter minhas mãos

ao redor do seu pescoço magro e bronzeado. Ele deve ter suspeitado, porque apertou

mais. — Eu sinto muito sobre o que aconteceu com os seus pais, ok? Lamento que minha

mãe teve algo a ver com isso, mas você não tem de ser tão…

Passos na entrada do beco nos silenciaram. Virando nos braços de Caleb, meu

coração se afundou. Uma Sentinela estava lá, nos observando. Seu longo cabelo loiro

estava puxado para trás com força, dando ao seu rosto uma aparência afiada, angular. Na

luz fraca, seus olhos pareciam como dois buracos negros vazios. Um arrepio percorreu

minha espinha, aumentando meus sentidos.

Caleb gemeu, liberando-me. Arrumei minha camiseta enquanto atirava para Lea um

olhar desagradável. Eu a considerei cem porcento responsável por sermos pegos. Se ela

não estivesse aqui fora, se esgueirando por aí, então não teríamos sido capturados. Já

estaríamos dentro, enchendo minha sacola de soda.

— Eu sei que isso parece ruim, mas…

— Eles estavam totalmente se esgueirando ao redor, — Lea cortou Caleb, plantando

suas mãos nos quadris.

Olhei para ela, querendo esmagar a sua cabeça. — E o que diabos você está fazendo

aqui, exatamente?

A Sentinela inclinou a cabeça para o lado, seus lábios se espalhando em um sorriso

apertado que não mostrava dentes. Então eu a reconheci. Era Sandra, a Sentinela que tinha

vindo à minha janela na noite em que eu gritei quando dormia.

Lea olhou para nós, olhos arregalados. — Ok. Estranho. — Ela murmurou alto

suficiente apenas para nós ouvirmos. Cruzou os braços e inclinou a cabeça. — Aqui

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realmente fede, ok? — Disse na sua voz provavelmente mais esnobe. — Então, podemos

acabar com isso rápido?

Caleb se engasgou com seu riso.

A cabeça de Sandra virou-se para ele enquanto se abaixava, desenganchando o

punhal do Covenant. Seus dedos circulando o cabo da lâmina, seus olhos ainda fixos em

Caleb.

— Uh... — Caleb deu um passo para trás. Sua expressão me dizia que ele queria rir,

mas sabia melhor. — Não há necessidade de trazer um punhal para isso. Nós estávamos

apenas passeando.

— Sim, somos mestiços felizes, totalmente livres de daimons. — Lea me enviou um

olhar malicioso. — Bem, dois de nós somos.

— Eu realmente vou te machucar, — rebati, olhando em sua direção.

Lea revirou os olhos e voltou-se para a Sentinela. — Eu não tenho nada com – oh,

meus deuses!

— O quê? — Eu segui os olhos aterrorizados e a boca aberta de Lea. Sandra não

estava sozinha. Atrás dela estavam três daimons puros, seus rostos macabros arcados por

veias escuras e órbitas vazias.

Quase não acreditei no que estava vendo. Meu cérebro tentava me impulsionar a

mover. O suspiro assustado que escutamos antes e o comportamento estranho da

Sentinela fizeram sentido. Não havia marcas visíveis nela, mas eu sabia além de qualquer

dúvida que ela era um daimon – talvez até mesmo o daimon por trás do ataque da jovem

pura semanas atrás. Mas como ela não havia sido verificada? O mistério disso teria que

esperar.

— Oh, cara, — eu sussurrei.

— Nós escolhemos a noite errada para sair. — O corpo magro de Caleb ficou tenso e

pronto para ação.

Um dos daimons puros deu um passo para a frente, nem mesmo se preocupando em

usar a magia elemental para se esconder. O que era estranho para mim, mas então,

novamente, eu não era uma especialista em daimons. — Dois mestiços e... — Ele cheirou o

ar. — Algo mais. Oh, Sandra, excelente trabalho.

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Deuses, os piolhos de Apollyon de Seth estavam se esfregando em mim? Agora eles

podiam sentir o meu cheiro?

— Eles falam? — Lea engasgou, soando como se o conhecimento a horrorizasse. Ela

nunca tinha visto um daimon, muito menos falado com um.

— Bastante, — Caleb respondeu.

O daimon puro inclinou a cabeça para o lado. — Devemos matá-los?

Sandra, que ainda estava olhando para Caleb, levantou a adaga. — Eu realmente não

me importo. Esperei muito tempo, assim, um deles é todo meu.

A risada dele soou retorcida. — Você precisaria mais do que apenas um se quiser um

mestiço, Sandra. Eles não são nada como os puros, mas a garota é... diferente.

— Nós já matamos os Guardas na ponte. — Os olhos do outro daimon deslizaram

sobre Lea e eu, sua boca se espalhando no que parecia ser um sorriso. Tudo o que eu vi

foram dentes irregulares. — Você poderia ter pego algum éter nessa altura. Mate o garoto.

Vamos levar essas duas conosco.

Meu estômago virou em revulsão. Me fortaleci, forçando o terror quase esmagador

para baixo. Lutar contra daimons sem titânio? Louco e suicida, mas ainda devia haver

Guardas e Sentinelas patrulhando – tinha que haver. Eles nos ouviriam e viriam.

Isto é, se esses quatro ainda não tivessem matado todos. Mas não podia me permitir

acreditar nisso, porque eu sabia que Aiden e Seth estavam lá fora em algum lugar, e eles

não teriam ido abaixo em uma noite como essa – não uma noite quando Caleb e eu só

queriamos pegar soda e assistir filmes com Olivia.

Lea esbarrou em mim, seu peito subindo e descendo rapidamente. — Nós estamos

tão ferrados.

— Talvez. — Mergulhei para baixo e peguei a tampa de uma lata de lixo.

Endireitando-me, estendi a mão e apertei o braço dela. Ouvi sua respiração aguda, e

senti o seu corpo enrijecer. Sabia que ela estava fazendo a mesma coisa que eu, chamando

instinto e anos de treinamento. Larguei seu braço.

Caleb passou na minha frente, — Quando houver uma abertura, saiam correndo.

Não tirei meus olhos dos daimons. — Eu não vou te deixar.

Assim que essas palavras saíram da minha boca, os daimons puros voaram para nós.

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Doze

Quando disse que eles voaram, não estava brincando.

Mergulhei para baixo quando o daimon ia socar a minha cabeça. Estiquei o meu

braço debaixo do dele, batendo o punho em sua garganta, ouvindo o barulho doentio

quando a cartilagem cedeu. Ele caiu para trás de mim, apertando sua garganta e com a

respiração ofegante.

— Droga! — Ouvi Caleb gritar, e então um corpo bateu no chão. Em pânico, eu

analisei o beco e deixei escapar um suspiro de alívio quando vi Caleb de pé sobre um

daimon.

Lea girou nos calcanhares, atingindo o daimon no peito. Ele cambaleou para trás, e

ela o chutou novamente. Inferno, era rápida, de pé firme e malditamente boa. O daimon

com que lutava não tinha chance de se recuperar de seus golpes. Continuava atacando.

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Girando a tampa do caixote de lixo, eu assisti o daimon com a laringe esmagada se

levantar. Bati-lhe na cabeça com a tampa, e depois inspecionei a marca legal que seu

crânio havia deixado para trás. Nada mal. Peguei o daimon que não tinha falado na

cabeça. Era meio como jogar Whac-A-Mole8.

Exceto que o que estava calado revidou, apertando o meu ombro. Ele me empurrou

para frente. Tropeçando, deixei cair a tampa enquanto tentava me soltar. O daimon

apertou o meu outro braço e puxou com mais força, enviando dardos de dor através dos

meus ombros. Fiz força com os pés para não me mover, mas continuei avançando.

Atrás dele, Lea correu para frente e lançou-se no daimon. Envolvendo as pernas na

cintura dele, ela agarrou a sua cabeça e torceu. Ossos estalaram e partiram. O daimon

soltou-a e atingiu o chão, se contorcendo em um amontoado confuso.

— Porra, Buffy, — eu disse de olhos arregalados. Parte de mim não podia acreditar

que ela tinha intervindo - e salvado a minha vida. — Obrigado. Devo-lhe uma.

Lea me deu um sorriso selvagem. — Precisamos correr…

Uma forte corrente de ar bateu nela por trás, jogando-a contra a parede. Ela deslizou

para baixo, rolando para o lado e gemendo.

— Lea — Eu me dirigi a ela, mas o daimon Sentinela me cortou. Respirando

duramente, derrapei até parar. Caleb estava lutando com o que tinha jogado Lea, mas o

daimon mestiço consumiu o meu mundo. Lutar contra eles - especialmente um treinado

como Sentinela - não era nada como lutar contra daimons puros.

E esta daimon mestiça sabia disso.

Sorrindo friamente, ela se adiantou. — É hora de parar de jogar, menina. Você não

pode me bater.

Gelo encharcou minhas veias. Sua mão golpeou para fora, me pegando no peito. Eu

não vi nada a não ser uma luz branca brilhante quando atingi o chão. Cascalho afiado

cortou minhas mãos enquanto eu balançava para os meus pés, com tonturas e tropeçando.

Lea se levantou e correu para a daimon mestiça. Eu queria pressionar o botão stop e

apertar o botão rebobinar. Não podia me mover rápido o suficiente. Não poderia gritar alto

o suficiente. E talvez, se tivesse um refazer, eu poderia ter parado Lea. Mas tudo estava se

movendo e mudando com velocidade incrível.

8 Jogo de cabine que consiste em acertar marteladas nas carinhas que aparecerem nos buracos.

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Lea atacou a daimon mestiça, o punho dela batendo no queixo da mestiça. Isso fez a

cabeça da daimon mestiça ir para trás, mas isso foi tudo. Ela se virou lentamente para Lea,

pegando o segundo soco dela. Torceu o braço de Lea e o som de ossos sendo esmagados se

sobrepôs ao som do sangue pulsando em minhas têmporas. Me joguei para a frente, mas

não conseguia chegar até ela.

Tempo... Não havia tempo suficiente no mundo.

Lea empalideceu, mas não gritou. Nem um som, e eu sabia que tinha que estar com

dores. Ela nem caiu, nem sequer vacilou. Nem mesmo quando a daimon mestiça levantou

o braço, com o punhal do Covenant na mão.

Mas Caleb passou como um relâmpago correndo por mim, cheio de raiva e

propósito. Ele agarrou a cintura de Lea, quebrando o aperto da daimon e jogou-a para fora

do trajeto do punhal.

E o punhal encontrou um novo lar.

Um menino e uma menina, um com um futuro brilhante e curto...

— Não! — O grito rasgou vindo da minha garganta, da minha alma.

O punhal afundou no peito de Caleb, até o fim. Ele olhou para seu peito,

cambaleando para trás. A frente de sua camisa parecia que alguém tinha jogado tinta preta

sobre ela, ensopando-a.

Eu passei meus braços em volta da sua cintura, quando ele começou a cair. — Caleb!

Não. Não! Caleb, olhe para mim!

Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. O seu peso nos carregou para o chão

frio e sujo. Aqueles brilhantes olhos azuis cegos, fixados em algum ponto invisível.

— Não, — eu sussurrei, escovando mechas de cabelo úmidas de sua testa. — Não,

não, não. Isto não é suposto acontecer. Estávamos apenas indo buscar soda. Isso é tudo.

Por favor! Caleb, acorde.

Mas ele não acordou. Alguma parte do meu cérebro que ainda estava funcionando

disse-me que as pessoas que morriam não acordavam. Que nunca acordavam novamente.

E que Caleb estava morto. Ele tinha ido antes mesmo de atingir o chão. Dor - tão forte e tão

real - cortou através de mim, tirando um pedaço da minha alma.

O universo deixou de existir. Não havia daimons, não havia Lea. Havia apenas Caleb

- meu melhor amigo, meu parceiro na disfunção, a única pessoa que me entendia. Meus

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dedos trêmulos deslizaram sobre seu rosto de menino até ao pescoço, para onde seu pulso

já não batia. Um pedaço do meu mundo acabou nesse momento, se foi para sempre com

Caleb. Eu o puxei para o meu colo, pressionando meu rosto contra o dele. Pensei que

talvez, se o segurasse tempo suficiente e desejasse o bastante, tudo isso seria apenas outro

pesadelo. Que eu acordaria, segura na minha cama, e Caleb ainda estaria vivo.

Mãos mergulharam fundo no meu cabelo, arrancando-me para trás. Eu perdi o meu

agarre sobre Caleb e caí sobre minhas costas. Atordoada e muito vazia, eu olhei para a

daimon. Ela tinha sido uma meio-sangue - uma vez uma Sentinela – que tinha jurado

matar daimons. Não a sua própria espécie.

Segurou minha cabeça, batendo-a contra o concreto. Nem sequer senti. Raiva escura

me encheu. Ela percorreu o meu sistema, tão potente que eu caí sobre a borda. Ela

morreria, e ia doer.

Agarrando os lados de seu rosto, enfiei meus dedos em seus olhos. Ela me libertou

gritando, e puxando minhas mãos. Alguém estava gritando e gritando... E empurrei com

mais força. Lágrimas e sangue se misturavam, escorrendo pelo meu rosto. Não conseguia

parar. Tudo o que eu podia ver era ela empurrando a lâmina no peito de Caleb.

A dor era tudo. Eu não tinha ideia se era física ou mental. Ela me inundou em ondas

e ondas de mágoa. E então a daimon voou para trás e alguém caiu ao meu lado. Mãos

firmes e fortes pegaram meus pulsos em um aperto suave e me levantaram. Eu peguei o

cheiro familiar de mar e folhas queimadas.

— Alex, acalme-se. Eu tenho você, — disse Aiden. — Acalme-se.

Era eu quem estava gritando, e fazendo um som terrível que era tão final, tão

arrasador. E não conseguia parar. Aiden me virou, pressionando-me contra a parede

coberta de lama. Ele girou sobre os calcanhares, enfiando sua lâmina profundamente no

peito de um daimon.

Eu deslizei para baixo, virando para o lado. A daimon mestiça estava contra a mesma

parede.

Sangue corria pelo rosto dela a partir de seus olhos danificados, mas ela ainda me

podia sentir. Luz azul irrompeu, brevemente engolindo tudo em volta de mim. A daimon

mestiça voou para trás, batendo no chão ao lado de Caleb. Gritos enchiam o ar – e também

o cheiro de carne queimada.

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Então braços estavam em volta de mim, erguendo-me para os meus pés. No

momento em que suas mãos tocaram as minhas, eu sabia que era Seth. Ele me levou, meio-

arrastada e meio-carregada, desde o estreito beco atrás do refeitório até à escuridão do

edifício. Lutei contra ele durante todo o caminho, dando socos e arranhando. Sentinelas e

guardas passaram correndo por nós, mas eles estavam muito atrasados.

Eles estavam muito atrasados.

Quando Seth me soltou, eu tentei passar por ele, mas ele agarrou meus ombros. —

Eu não posso deixar Caleb assim! Me solta!

Seth balançou a cabeça, seus olhos cor de âmbar luminosos na escuridão. — Nós não

vamos deixá-lo lá, Alex. Nós não…

Dei um soco no estômago dele. Ele resmungou, mas pouco mais. — Então pegue-o!

Tire-o de lá!

— Eu não posso…

Bati nele novamente. Seth tinha tido o suficiente. Ele pegou meus pulsos em uma

mão e segurou-os entre nós.

— Não! Você tem que me deixar pegá-lo! Não entende! Por favor… — Minhas

palavras romperam em um soluço.

— Pare com isso, Alex. Nós não vamos deixar o corpo de Caleb atrás do refeitório.

Você precisa se acalmar. Preciso ter certeza de que está bem. — Quando não respondi, ele

xingou sob sua respiração. Senti seus dedos contra a parte de trás da minha cabeça. Eles

eram rápidos e suaves. — Sua cabeça está sangrando.

Eu não podia responder. Mesmo que meus olhos estivessem abertos e Seth estivesse

em frente a mim, tudo o que via era o choque no rosto de Caleb. Ele não esperava por

aquilo.

Nem eu.

— Alex? — Os braços de Seth aliviaram um pouco ao meu redor.

O mundo começou a desvendar um pouco mais. — Seth? — Eu sussurrei. — Caleb se

foi.

Ele murmurou alguma coisa enquanto acariciava o meu rosto, enxugando as

lágrimas que continuavam a cair. Eu não falei de novo, não por algum tempo.

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Seth me carregou para o centro médico. Os doutores me analisaram, determinando

que só precisava de ser limpa e ter algum “muito necessário” descanso. Alguém lavou o

sangue de minhas mãos, e olhares preocupados foram trocados.

Quando eles terminaram, fiquei onde me deixaram. As paredes brancas ficaram

turvas. Seth voltou exatamente enquanto eu me sentava. Olhei para ele, não sentindo nada

dentro de mim.

Ele veio para meu lado, fios de cabelo soltos em volta do rosto. — Aiden e o resto já

eliminaram os daimons. Havia apenas três deles, mais a mestiça, certo? — Fez uma pausa,

correndo a mão pelos cabelos. — Conseguiram matar dois dos guardas da ponte, e feriram

outros três sentinelas dentro do Covenant. Você teve... Sorte, Alex. Muita sorte.

Olhei para meus dedos. Ainda havia sangue em minhas unhas. Era meu, da daimon,

ou de Caleb? Seth agarrou a minha mão, levando-me até o corredor.

Parou por alguns instantes. — Eles têm o corpo de Caleb... Está sendo cuidado.

Mordi o meu lábio até que senti o gosto de sangue. Eu só queria sentar e ficar

sozinha.

Seth suspirou, seu aperto em minha mão aumentando quando saímos do centro

médico. Não perguntei para onde estávamos indo. Eu já sabia, mas Seth sentiu a

necessidade de ter a certeza que eu entendia.

— Você está em um monte de problemas. — Conduziu-me através do campus

escuro. Era perto da meia-noite, e os guardas estavam por toda parte. Alguns estavam

patrulhando, alguns amontoados em grupos. — Só para avisar, Marcus realmente jogou

alguma coisa. Lucian foi acordado, e os deuses sabem que ele não apreciou isso. Vão

querer saber por que estava fora de seu dormitório.

Dormência assentou em meu corpo. Talvez fosse por isso que eu não estava

preocupada com Marcus. Caminhei com dificuldade atrás de Seth, parando quando ele

abriu a portas da Academia e a estátua das três fúrias ficou visível. Por que elas não

haviam se libertado? O Covenant foi violado novamente.

Percebendo o que estava olhando, ele apertou a minha mão. — Nenhum puro foi

prejudicado, Alex. Eles... Eles não se importam.

Mas Caleb havia morrido.

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Seth puxou-me para longe das estátuas. Eu estava apenas ligeiramente consciente da

multidão reunida na porta de Marcus. No momento em que entrei na sala, Marcus se

soltou. Lucian permaneceu de pé, o que era novo para ele. Ambos gritaram comigo ao

mesmo tempo, e então eles se revezaram quando o outro pareceu ficar sem ar ou sem

palavras. O que eles disseram foi praticamente a mesma coisa de sempre: eu era

irresponsável, inconsequente, e fora de controle. Eu não os ignorei como faria

normalmente. Absorvi tudo o que eles disseram, porque era verdade.

Enquanto estava sentada lá olhando para o meu tio e vendo emoção verdadeira em

seu rosto pela primeira vez em muito tempo, embora fosse raiva, lembrei de outra

enigmático aviso que Vovó Piperi tinha me deixado.

Você vai matar as pessoas que ama.

Eu devia ter ficado no meu quarto como era suposto. Havia um motivo para um

toque de recolher ter sido imposto. O santuário do Covenant tinha sido violado uma vez.

Eu tinha esquecido isso, ou apenas não tinha pensado nisso - ou me importado.

Eu nunca parava para pensar.

— Não acho que nada disso está ajudando. — Seth estava atrás de mim enquanto eu

estava sentada na cadeira. — Não veem que ela está chateada? Talvez devessem deixá-la

descansar e fazer perguntas de amanhã.

Lucian virou-se. — Claro que nada disto está ajudando! Ela poderia ter morrido! Nós

- você - poderíamos ter perdido o Apollyon. Como o Primeiro, você devia ter tido

conhecimento do que ela estava fazendo. Ela é sua responsabilidade!

Senti Seth endurecer atrás de mim. — Eu entendo isso.

— E você? — Lucian rosnou para mim. — O que estava pensando? Sabia que já

houve um ataque daimon aqui. Não era seguro para você ou qualquer aluno estar lá fora à

noite!

Não havia nada a dizer. Será que eles não entendiam isso? Eu estava errada, muito

errada, e não havia absolutamente nada que pudesse fazer sobre isso agora.

Fechando os olhos, olhei para longe.

— Não olhe para longe de mim quando estou falando com você! Você é exatamente

como a sua…

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— Basta! — Seth deu a volta à cadeira, quase a derrubando no processo. — Você não

vê que não há nenhuma vantagem em falar com ela agora? Ela precisa de algum tempo

para lidar com a perda de seu amigo!

Vários Guardas do Conselho avançaram, prontos para intervir. Nenhum deles

parecia querer fazê-lo. Tenho certeza de que lembravam o que tinha acontecido aos

Guardas na casa de Lucian durante o verão.

As narinas de Lucian queimaram com raiva, mas ele recuou. Um momento de clareza

empurrou através da dor. Por que Lucian recuou? Apollyon ou não, Seth era apenas um

meio-sangue e Lucian era o Ministro. Era mais do que apenas estranho, mas antes que eu

pudesse realmente agarrar-me a essa realização, ela escapuliu quando outro pensamento

empurrou para a superfície.

Seth permaneceu onde estava, entre mim e todos os outros na sala. Era como um

muro de fúria, e ninguém se atrevia a dar um passo mais perto. Percebi então por que todo

mundo tinha medo que houvesse dois de nós. Seth sozinho era uma força a considerar.

Eles já estavam com medo dele. Mesmo Marcus parecia visivelmente afetado, mas Seth

depois que eu Despertar...?

— Tudo bem. — Marcus limpou a garganta. Caminhou para frente, mantendo o

olhar atento sobre Seth. — Essas questões podem esperar até um momento melhor.

— Soa como um plano para mim, — respondeu Seth casualmente o suficiente, mas

observou Marcus como uma ave de rapina.

Evitando Seth, Marcus parou e se agachou diante de mim. Eu olhei para ele. —

Agora você entende que tudo o que faz, cada decisão que toma, até mesmo a menor terá

grandes consequências?

Eu entendia, e também entendia que ele estava falando de mais do que apenas Caleb,

também sobre Seth. No entanto, Marcus tinha errado sobre uma coisa que disse na última

vez que me deu um sermão. Minhas ações não apenas se refletiam sobre Seth - elas eram

como um catalisador para a forma como Seth iria reagir.

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Treze

A dor não foi algo que foi embora quando eu abri os meus olhos e descobri que o

sol ainda surgia pela manhã. Nem mesmo quando o sol começou a cair e as estrelas se

alinharam no céu.

Eu tinha ficado muda e sem emoção até que voltei ao meu dormitório e vi os restos

da nossa festa de filmes. Alguém havia tirado Olivia do quarto, mas parada ali, olhando

para o Twizzler que eu tinha jogado na cabeça de Caleb horas antes, desmoronei. Tudo

que me lembrava era de Seth me pegando e carregando de volta para a cama.

Em algum momento da tarde, Seth saiu. Voltando antes do jantar, tentou me

convencer a comer. Mas eu havia atingido o abismo negro que seguia essas coisas.

Talvez eu nunca tenha lidado com a morte da mamãe e a perda de Caleb trouxe tudo

à superfície. Eu realmente não sabia, mas quando pensei sobre ela, pensei sobre Caleb e

nossos barcos do espírito.

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Tudo o que fiz foi dormir, e foi o sono profundo, onde os pesadelos da realidade

finalmente não poderiam me alcançar. Durante os momentos aleatórios onde eu estava

acordada e plenamente consciente do que estava acontecendo ao meu redor, eu ansiava

por Caleb – e pela minha mãe. Necessitava de um dos seus abraços. Precisava que ela me

dissesse que tudo ficaria bem, mas isso nunca poderia acontecer, e meu coração não podia

suportar a idéia de lamentar Caleb, também.

Seth permaneceu ao meu lado, tornando-se essa criatura protetora feroz que não

permitiria Marcus ou qualquer um dos Guardas no meu quarto. Ele me mantinha

atualizada, deixando-me saber o que estava acontecendo fora do meu quarto.

Os mestiços estavam sendo verificados novamente, mas eles acreditavam que Sandra

havia sido a culpada pelo ataque original. Ela tinha sido uma Sentinela, de modo que

havia estado dentro e fora da ilha muitas vezes – suficiente para que a falhassem quando

verificaram os Sentinelas e Guardas. Todo esse tempo, as suspeitas tinham sido sobre um

dos estudantes, e tinha sido um Sentinela.

Ele também tentou me dizer que o que aconteceu com Caleb não foi minha culpa.

Quando isso não funcionou, veio com toda a tática de ‘Caleb não iria querer isso’.

Então invocou a única coisa que geralmente mexia comigo – insultos e provocações

espirituosas. Acho que ele me disse que eu fedia no terceiro dia.

Finalmente, Seth pareceu não saber o que fazer. Ele se estendeu, passou o braço ao

meu redor, e esperou. Levou um tempo para que eu percebesse que a angústia que sentia

tinha se transferido para ele. Seth também não sabia como lidar com isso, e no início do

quarto dia, era como se ele também tivesse perdido seu melhor amigo. Então nós dois

permanecemos ali, silenciosos e despedaçados.

Como dois lados da mesma moeda.

Alguma hora, no meio da noite, Seth se inclinou sobre mim.

— Eu sei que você não está dormindo. — Alguns segundos depois, escovou os fios

frouxos de cabelo do meu rosto. — Alex, — disse suavemente. — Eles vão fazer o funeral

de Caleb amanhã ao meio dia.

— Por que... Por que eles não fazem ao amanhecer? — Eu perguntei com a voz rouca.

Seth se aproximou, seu hálito quente. — Os Guardas que foram mortos serão

enterrados ao amanhecer, mas Caleb era apenas um estudante meio-sangue.

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— Caleb... Merece um funeral ao amanhecer – ele merece essa tradição.

— Eu sei. Eu sei que ele merece. — Seth suspirou profundamente, tristemente. —

Tem que sair dessa cama, Alex. Você tem que ir.

Endureci contra a dor aguda, mas ela ainda me atravessava. — Não.

Sua cabeça caiu deitada ao lado da minha. — Não? Alex, não pode estar falando

sério. Você tem que ir.

— Simplesmente não posso. Eu não vou.

Seth continuou a insistir no assunto até que a frustação e a raiva tomaram conta. Ele

pulou da cama. Eu rolei sobre minhas costas e passei minhas mãos sobre meu rosto.

Minha pele parecia suja.

Parado ao pé da cama, Seth fez a mesma coisa com suas mãos. — Alex, sei que isso -

tudo isso - está te matando, mas você tem que fazer isso. Você deve isso a Caleb. Deve a si

mesma.

— Você não entende. Eu não posso ir.

— Está sendo ridícula! — ele gritou, não se importando se acordava todos no meu

andar. — Você sabe o quanto vai se arrepender disso? É mais uma coisa que você quer que

te destrua por dentro?

Havia uma linha tênue entre a raiva e a tristeza, uma em que eu cambaleava. Me

inclinei para ao lado da raiva desta vez. Levantei-me, subindo de joelhos. — Não quero vê-

los elevando o corpo dele no ar e queimando-o! O corpo dele – o corpo do Caleb! — Minha

voz falhou, junto com meu coração. — É o Caleb que eles vão queimar!

Só assim, a raiva desapareceu do rosto de Seth. Ele deu um passo à frente, — Alex...

— Não! — Levantei meu braço, ignorando a forma como ele tremeu. — Você não

entende, Seth. Ele não era seu amigo! Mal o conhecia! E sabe o quê? Quer saber a coisa

mais confusa sobre isso? Caleb te via como um exemplo. Ele te idolatrava, e você prestava

atenção? Claro, falava com ele de vez em quando, mas não o conhecia! Você não se

importava.

Seth coçou o queixo. — Eu não sabia. Se eu pensasse…

— Estava muito ocupado brincando com as garotas ou sendo um idiota arrogante. —

Depois que as palavras saíram da minha boca, eu imediatamente me arrependi delas.

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Voltei a sentar, o coração dolorosamente acelerado. — Você não pode fazer nada... sobre

isso.

— Estou tentando fazer algo sobre isso. — Aqueles olhos acenderam à vida,

brilhando âmbar. — Não sei mais o que fazer! Eu fiquei com você…

— Eu não te pedi para ficar comigo! — Gritei tão alto que a minha garganta doeu.

Precisava me acalmar. Guardas invadiriam esse quarto se eu continuasse. — Apenas saia.

Por favor. Apenas me deixe em paz.

Seth me encarou pelo que pareceu uma eternidade e então partiu, batendo a porta

atrás dele. Caí de volta na cama, esfregando minhas mãos sobre meus olhos.

Eu não deveria ter dito aquelas coisas.

Todo esse tempo eu tinha me preocupado com a falta de controle. Ironicamente,

desde o primeiro dia eu agia fora de controle. Não controlava minha raiva ou meus

impulsos para fazer o que queria. Como eu tinha me enganado este tempo todo?

Ter controle significava agir da maneira certa, pelo menos na maior parte do tempo.

Mas eu agi de forma selvagem – imprudente. Deixei meu coração decidir quando pensei

sobre contatar o Covenant depois que minha mãe e eu partimos. Não havia lógica por trás

disso. Meu coração tinha destruído qualquer amizade que eu tive com Aiden. E o meu

coração e meu egoísmo me levaram a esgueirar-me por aí com Caleb. Se nós apenas

tivéssemos ficado no meu quarto – ou se eu não tivesse lamentado por uma semana –

Caleb não teria achado necessário me animar. Nós não teríamos saído para pegar bebidas.

Ele não teria morrido.

Não sei por quanto tempo eu deitei enroscada nos cobertores. Minha mente percorria

minha infância com Caleb, os três longos anos sem ele, e cada momento que eu passei com

ele desde que voltei ao Covenant. Rolando, me enrolei em mim mesma. Eu sentia sua falta

– sentia falta da minha mãe. Ambas as mortes estavam conectadas a mim, às decisões que

eu fiz ou não fiz. Ação. Inação. As palavras de Marcus voltavam para me assombrar nessas

horas, de novo e de novo. Tudo o que você faz...

No quinto dia, o dia do funeral de Caleb, o sol se levantou cedo e brilhava mais do

que eu lembrava para uma manhã de Novembro. Em menos de quatro horas, os restos

mortais de Caleb estariam perdidos para sempre. Cinco dias desde que ele morreu, 120

horas desde a última vez que eu o havia tocado e o ouvido rir, mais de sete mil minutos de

lenta adaptação a um mundo que não o incluia.

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E somente algumas horas desde que percebi que nunca tive nenhum controle.

Sentei, joguei os cobertores para o lado e tirei minhas pernas da cama. Ficar de pé me

deixou tonta no começo, mas eu fui para o banheiro e encarei o meu reflexo.

Eu estava terrível.

Um dos daimons tinha deixado fracos hematomas arroxeados ao longo da minha

mandíbula e maçã do rosto. Meu cabelo caía em mechas grossas e desordenadas.

Vermelho tingia a borda dos meus olhos. Lentamente, cansada, arranquei as roupas

nojentas e deixei-as cair no chão. No chuveiro, encostei minha testa contra o azulejo frio,

deixando minha mente ficar alegremente em branco.

Água fria saltava da minha pele quando eu saí do chuveiro e me enrolei em uma

toalha grande e branca. Foi quando inconscientemente passei o pente através dos

emaranhados do meu cabelo que algo me ocorreu.

Na luz fraca, as cicatrizes cobrindo o meu pescoço pareciam brilhantes e irregulares.

Eu sempre mantinha meu cabelo para baixo e usava camisas de manga comprida para

esconder as marcas vermelhas em meus braços. Essas cicatrizes nunca pareceram se curar

como deveriam. Eu fazia tudo e qualquer coisa para escondê-las. Cicatrizes deixadas por

minhas próprias ações imprudentes e impensadas. Tão feio – as palavras do Instrutor

Romvi voltaram para mim. Você deveria estar menos preocupada com sua vaidade.

O pente de dentes grandes escorregou dos meus dedos. Correndo do banheiro, eu fui

para a pequena área de cozinha e direto para a cesta de vime ao lado do microondas.

Vasculhei entre os guardanapos, clips, e outras coisas que nunca usava. Entre eles, eu

encontrei um par de tesouras de cabo laranja. Pegando-as, duvidava que cortassem muita

coisa, mas elas serviriam.

Voltei para o banheiro e segurei meu cabelo. Puxando-o envolta do ombro. Meus

próprios olhos grandes e castanhos olhavam para mim. O cabelo molhado e espesso

grudava em meu peito. Sem pensar duas vezes, posicionei a tesoura sobre meu ombro nu.

Uma mão apareceu, tirando a tesoura do meu aperto. Tão rápido – tão inesperado –

que eu gritei e pulei para trás. Seth estava lá, todo vestido de preto. Segurei a parte da

frente da minha toalha e o encarei.

— O que você está fazendo? — Seth segurava a tesoura como se fosse uma serpente

pronta para enfiar as presas em sua pele.

— Eu... eu sou vaidosa.

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— Então ia cortar o seu cabelo? — Ele soou incrédulo.

— É, esse era o plano.

Ele parecia como se quisesse se aprofundar no assunto, mas girou e largou a tesoura

na penteadeira. — Vista-se. Agora. Você vai para o funeral do Caleb.

Meu aperto na toalha aumentou. — Eu não vou.

Ignorando-me, Seth foi para o meu quarto. — Não vou mais discutir. Você vai para

esse funeral, mesmo que eu tenha que te arrastar.

Eu não acreditava nisso realmente. Então fiquei chocada quando tentei fechar e

trancar a porta do banheiro, e Seth virou. Ele puxou a minha mão da porta e me puxou

para fora do banheiro.

Exaustão e fome me deixaram lenta, e eu tinha um aperto mortal em minha toalha.

Essas foram as razões para que acabasse presa contra seu peito, ambos no chão em frente à

cama. Eu podia sentir seu coração batendo contra meu ombro e sua respiração em minha

bochecha.

As mãos de Seth apertavam meus braços, evitando que acertasse seu rosto com o

cotovelo. — Por que... por que você sempre age assim? Por quê? Por que você faz isso

consigo mesma? Tudo isso poderia ter sido evitado.

Um aperto repentino em minha garganta me alertou que o vazio ainda estava lá,

prolongando-se. — Eu sei. Por favor... por favor, não fique com raiva de mim.

— Eu não estou com raiva de você, Alex. Ok, talvez um pouco. — Moveu-se um

pouco, pressionando sua cabeça contra a minha. Passou-se um longo tempo antes que

falasse de novo. — Como pôde fazer isso consigo mesma? Você – você de todas as pessoas

deveria saber melhor.

Senti as lágrimas começarem a brotar novamente. — Eu sinto muito. Nós não…

— Você podia ter morrido lá fora, Alex. Ou pior. — Seth soltou uma respiração

áspera, seu dedos apertando meus antebraços. — Sabe o que eu pensei quando senti seu

pânico?

— Eu sinto muito…

— Sinto muito não teria feito merda nenhuma se eu tivesse perdido você, e pelo quê?

— Ele agarrou os lados do meu rosto, virando-o para que não tivesse outra escolha a não

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ser encará-lo. Seus olhos procuraram os meus. — Por quê? É pelo que aconteceu com

Aiden?

— Não. — Lágrimas rolaram pelo meu rosto. — Eu fiz porque estava sendo estúpida.

Nós apenas queríamos pegar umas bebidas. Eu não pensei que nada fosse acontecer. Se eu

pudesse mudar isso, eu mudaria. Eu faria qualquer coisa.

— Alex. — Seth fechou seus olhos.

— Eu falo sério. Faria qualquer coisa para mudar o que aconteceu! Caleb – ele não

merecia aquilo. Eu sabia melhor. Se tivesse ficado no meu quarto, ele ainda estaria vivo.

Eu sei disso.

— Alex, por favor.

— Sei que fui estúpida. — Minha voz quebrou. — Se pudesse voltar, eu iria. Trocaria

de lugar com ele. Eu iria…

— Pare, — ele sussurrou, seus polegares limpando minhas lágrimas. — Por favor,

pare de chorar.

Tudo dentro de mim parecia tencionar e torcer em um grande nó. — Eu sinto tanto.

Quero pegar tudo de volta. Quero voltar no tempo e fazer tudo de novo, porque eu não

posso passar por isso de novo.

Ele fez um som estrangulado enquanto me puxava para seu peito, me segurando até

que meu coração desacelerasse e as lágrimas diminuíssem. — Você tem que fazer de novo

e não pode voltar no tempo, Alex. Nenhum de nós pode. Pode apenas seguir com sua vida

a partir daqui e o primeiro passo é ir para o funeral.

Respirei fundo. — Eu sei.

Seth pegou meu queixo com a ponta do seu dedo, levantando-o para trás. Acho que

foi quando ele percebeu que eu usava nada mais que uma toalha. Seus olhos cintilaram

por um momento e então seu corpo inteiro pareceu endurecer. Pode ter sido todas as

emoções extremas rolando entre nós, ou a conexão que compartilhávamos, mas cada parte

do meu corpo de repente se sentiu quente.

Era estranho como o corpo parecia esquecer todas essas coisas terríveis tão

rapidamente. Ou talvez fosse a alma que funcionasse assim, procurando por calor e toque,

precisando provar que ainda estávamos no mundo dos vivos. Inclinei-me, descansando

minha bochecha contra seu ombro. Fechei meus olhos.

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— Você está tremendo. — Seth murmurou.

— Estou com frio.

Suas mãos deslizaram sobre meus ombros. — Realmente precisa se vestir. Não

deveria estar assim.

— Você que entrou. Não é culpa minha.

— Ainda assim. Você precisa colocar suas roupas.

Eu mordi meu lábio e recuei. Seth olhou para mim, seus olhos estranhamente

brilhantes. — Ok. Mas você tem que me soltar primeiro.

Suas mãos tencionaram em minhas costas, e por um segundo… Bem, parecia como se

ele não fosse me deixar ir. Eu não tinha certeza de como me sentia sobre isso. Seth me

largou, mas se inclinou, descansando sua testa contra a minha. — Você cheira melhor

agora. Acho que estamos progredindo.

Meus lábios contraíram. — Obrigada.

Um pouco da tensão em seu corpo pareceu evaporar. — Está pronta?

Eu respirei profundamente, e senti como se fosse a primeira vez em dias. — Sim.

Quando era pequena, minha mãe uma vez me disse que apenas na morte, um puro e

um mestiço poderiam ser vistos como iguais. Ambos ficariam de pé diante do Rio Styx,

esperando por suas almas serem carregadas para o além.

Todos já preenchiam o cemitério quando Seth e eu chegamos lá. Os puros ficavam na

frente, antes dos mestiços, o que não fazia sentido para mim. Caleb tinha sido um de nós,

não deles. Então por que eles deviam ficar mais perto dele? Aiden diria que era tradição.

Ainda era errado.

Vaguei pela borda externa dos grupos com Seth, desviando dos olhares curiosos e até

mesmo olhares de condenação. Tentei me convencer de que não estava procurando por

um certo puro de cabelo preto enquanto meu olhar continuava retornando para o grupo

na frente. Aiden era a última pessoa que eu queria ver.

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Seth finalmente parou, e eu também. Ele não tinha falado desde que saímos do meu

quarto, mas continuava olhando para mim. Acho que ele se preocupava que eu pirasse de

novo. Colocando meu cabelo ainda molhado nas costas, olhei para ele, mordendo meu

lábio.

— Você vai me agradecer, não vai? — Seth soou divertido.

— Bem... eu ia. Não tenho certeza agora.

— Vamos lá. Quero ouvi-la dizer. Provavelmente será sua primeira e última vez.

Fechei um pouco os olhos contra o reflexo do sol. Ao longe, podia ver a pira, o corpo

envolto em linho branco. — Obrigada por ficar comigo. E desculpa por ser uma vadia com

você.

Seth descruzou os braços, me empurrando com o cotovelo. — Você acabou de se

chamar de…

— Sim, eu chamei, porque sou uma. — Suspirei alto. — Você não merecia que eu

gritasse com você... sobre Caleb.

Ele se aproximou quando Lucian se moveu para a pilha. Enquanto Ministro, ele daria

o discurso de partida, vida eterna e tudo mais. — Eu mereço um monte de coisas, — Seth

disse.

— Não aquilo. — Tirei meus olhos da cena diante de mim. Foquei em um arbusto de

jacinto próximo. O único ponto denso com flores era um vermelho brilhante, as flores em

forma de pequenas estrelas. Elas assinalavam dor e luto e estavam em todo o lugar no

cemitério, lembrando-nos da tragédia do amor de Apolo pela bela Hyacinth. Antigamente,

quando os deuses viviam livremente pela terra, pessoas que sofriam mortes trágicas

tornavam-se flores se fossem jovens e belos, homem ou mulher, e se tivessem ganho o

favor de um deus.

Retorcido.

Seth se moveu mais perto, seu braço roçando o meu. — Você sabe, a conexão entre

nós dois não me deixou escolha.

Rolei meus olhos. — Bem, obrigada, de qualquer forma.

Lucian começou o discurso memorial, falando sobre o espírito e força de Caleb. A

dor em meu peito cresceu e o ar adocicado parecia fresco contra minha bochecha molhada.

Quando a pilha foi acesa, meu interior se contorceu e eu não pude evitar o tremor que

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continuava a percorrer meu corpo. Eu virei a meio caminho, pressionando contra o calor

enquanto o ar era preenchido por sons de madeira crepitando e soluços silenciosos.

Não sei o que machucava mais: o fato de que eu nunca mais o veria ou que nunca

mais ouviria sua risada contagiante. Cada realização enviou uma dor aguda por mim.

Não foi até que a multidão começou a se dispersar que eu entendi que o calor que me

agarrava, na verdade, pertencia a um corpo – e esse corpo pertencia a Seth. Com as

bochechas corando, saí de seu abraço. Eu tinha chorado nele o suficiente para uma vida

inteira. — Preciso...

— Eu entendo. — Seth recuou. — Vou esperar por você lá fora.

Agradecida que ele tenha entendido sem que eu tivesse que dizer mais nada, assisti-o

voltar para os portões do cemitério. Limpei meus olhos de novo e virei.

Eu congelei.

Olivia estava parada na minha frente, usando calças pretas e um suéter. Sua pele

estava um tom mais claro; seus olhos, geralmente tão calorosos e abertos, agora estavam

frios e furiosos. Lágrimas descontroladas percorriam seu rosto.

Dei um passo em sua direção, querendo confortá-la. — Olivia, eu sinto…

— Por que não fez alguma coisa? — Sua voz quebrou. — Você era a melhor amiga

dele. Podia ter feito alguma coisa! — Ela se moveu para frente, seu braço tremendo

enquanto apontava para mim.

Luke alcançou-a e envolveu um braço ao redor dos seus ombros. — Pare. Não é

culpa da Alex…

— Você é o Apollyon! — Olivia chorou, suas palavras terminando em um soluço

quebrado. — Sim, eu sei! Caleb me contou o que você é, e já te vi lutar! — Ela virou para

Luke, com os olhos implorando. — Você já viu o quão rápido ela pode se mover. Por que

ela não fez alguma coisa?

Eu sabia - sabia que não havia nada que pudesse ter feito fisicamente. Não era o

Apollyon – ainda não – mas ouvi-la dizer aquilo? Bem, era como ouvir a voz de Marcus

em minha cabeça. As pessoas esperam mais de você, pelo que você vai se tornar.

— Eu sinto muito, Olivia. Eu sint…

— Não diga que sente muito! Isso não trará Caleb de volta!

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Encolhi-me. — Eu sei.

— Olivia, vamos lá. Vamos voltar para o seu quarto. — Luke me enviou um olhar de

‘desculpa’ quando ele começou a movê-la.

Elena se aproximou, pegando a mão de Olivia. — Está tudo bem. Vai ficar tudo bem.

Olivia se encostou contra Luke, sua cabeça caindo em seu peito. O total peso da sua

perda era visível para todos nós.

A dor arranhou seu caminho pelo meu corpo. Eu virei para longe, sentindo uma

onda de lágrimas quentes. Cegamente, tropecei para longe deles, indo mais fundo no

território memorial. Só olhei para cima quando me choquei contra alguém, enxugando as

lágrimas sob meus olhos. — Oh, me desculpe…

Parei, no meio da desculpa.

Não tinha esbarrado em uma pessoa, mas em uma estátua. Uma pequena risada

rastejou pela minha garganta enquanto eu encarava o impressionante, mas ainda

lamentável rosto esculpido na pedra. A escultura havia sido feita de modo que se

inclinava levemente, uma mão estendida em direção a algo, palma aberta em um aceno.

Meu olhar se desviou para a base em baixo, onde o nome Thanatos estava escrito.

Abaixo do nome estava um símbolo – uma tocha virada para baixo.

Eu já tinha visto isso antes... No braço do instrutor Romvi.

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Catorze

Suspirando em frustração, coloquei minhas mãos nos bolsos do meu casaco e

chequei o céu noturno. Estrelas quebravam a escuridão, algumas brilhando mais do que

outras. A última vez que eu tinha visto o céu escuro tinha mais de uma semana. Estava

nos fundos da sala de jantar, segurando o corpo frio de Caleb.

Caleb.

Reprimi o nó crescente de tristeza e pesar antes que isso me consumisse novamente,

focando em algo que havia estado me incomodando desde o seu funeral. Por que raios

Romvi teria o símbolo do deus da Morte Pacífica tatuado em seu braço? E ele não era o

mesmo deus que o livro antigo clamou como responsável por matar Solaris e o Primeiro

Apollyon? Eu não tinha certeza se isso realmente importava, mas a imagem continuava

voltando para mim.

— Você está bem?

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Cada músculo do meu corpo travou. Eu lembrei a mim mesma que levaria apenas

onze horas para chegar a Catskills – onze horas presa em um carro com o cara que eu

amava, o cara que praticamente implorei para me amar de volta. Talvez não em tantas

palavras, mas foi como eu senti. Isso ia ser fácil. Sim, muito fácil.

— Alex?

Eu virei. Aiden estava colocando a minha mala na traseira do Hummer, me

observando por cima do ombro. Meu olhar se desviou, incapaz de realmente,

verdadeiramente olhar para ele. — Sim, eu só estava pensando.

— Isso é tudo o que você vai levar?

Acenando, chutei a ponta do meu sapato pelo asfalto. Precisava agir normalmente ou

esta seria a viagem mais longa da minha vida. — Como... como está Deacon?

Poucos segundos se passaram antes que ele respondesse. — Ele está bem. — Fechou

a porta traseira. — Ele queria que eu te dissesse que realmente sente muito sobre... o que

aconteceu.

Olhei para ele, mantendo meus olhos treinados no seu ombro – que era um ombro

muito bom – quando avistei um cordão de prata ao redor do seu pescoço. Ele desaparecia

em seu suéter. Estranho… Aiden nunca usava jóias.

— Diga a ele que eu agradeço.

Aiden assentiu enquanto seguia em direção ao seu lado do veículo, mas então parou

tão inesperadamente que eu bati contra suas costas. Ele virou e pegou meu braço, me

equilibrando. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo, e então largou

meu braço.

Ele deu um passo para trás. — Eu não sei o que você estava pensando. — Soltou,

lançando um olhar na direção de Leon, que esperava sob a tenda do Covenant.

— Nós apenas queríamos pegar umas bebidas da cafeteria. — Engoli, mas o nó na

minha garganta não ia embora. — Nós íamos assistir filmes.

— Estamos prontos? — chamou Leon. — Nós devíamos partir agora se quisermos

chegar a Catskills ao meio-dia.

— Sim. — Aiden virou, mas então me encarou novamente. — Alex?

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Lentamente, elevei meus olhos aos dele. Aquilo acabou sendo um erro de proporções

épicas. Um tipo diferente de dor se abriu em meu peito.

Seu olhar vagou pelo meu rosto. — Eu sinto... tanto por Caleb. Sei o quanto ele

importava para você.

Eu não podia olhar para longe, não podia dizer nada.

Ele olhou por cima do ombro e quando voltou para mim, seus olhos brilharam como

prata na penumbra. — Nunca... nunca mais faça nada como aquilo de novo. Por favor.

Prometa-me.

Queria perguntar por que ele se importaria se me jogasse na frente de um daimon,

mas as palavras não vieram. Outra coisa veio. — Eu prometo.

Aiden me olhou por mais um momento, então saiu. Depois, nós subimos no

Hummer. Eu peguei o assento de trás enquanto Aiden foi para o da minha frente. Leon

dirigiu e o outro Guarda pegou o assento ao meu lado.

Encostando minha cabeça contra o banco, fechei meus olhos e pensei em como acabei

em um carro enquanto Seth ficou com o jato privado com Lucian, Marcus e os membros

do Conselho. Eles haviam partido nesta manhã. Mestiços – até mesmo Sentinelas –

geralmente não conseguiam lugares nos aviões, mas uma exceção tinha sido feita para

Seth.

Viagens de carro geralmente me transformavam em uma criança de cinco anos,

especialmente as astronomicamente longas, mas eu estava muito cansada para realmente

pensar sobre isso. Com tudo o que eu havia dormido ultimamente, provavelmente deveria

ficar acordada por dias, mas adormeci rapidamente.

Acordei cerca de duas horas depois quando paramos para abastecer no Meio-do-

Nada, Virginia. Leon e o Guarda entraram na cabana do posto de gasolina, e eu saí para

esticar as pernas. Estava tão escuro aqui, tudo cercado por árvores e fazendas. Os únicos

sons eram das vacas mugindo na distância. Caminhei ao redor da traseira do Hummer e

encontrei Aiden encostado no pára-choques. Ele olhou para cima quando parei ao lado

dele. Seus olhos eram quase da mesma cor do luar.

— Se quiser alguma coisa para comer, Leon ou o Guarda vão buscá-la para você. —

Aiden rolou uma garrafa de água nas mãos.

— Não estou com fome. — Passei por ele, mantendo as costas para ele.

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— Nós não queremos parar a menos que seja necessário.

— Estou bem. — Pulei na calçada e segui colocando um pé na frente do outro.

Na metade do passo, olhei para a loja de conveniência - se você considerasse aquele

lugar como uma. Parecia como uma antiga pizzaria e no sinal vermelho piscando na frente

lia-se ‘ABERT’. Leon estava no balcão. — Então... Marcus confirmou que a Sentinela foi

responsável pelo primeiro ataque?

— Não há como realmente confirmar isso, Alex. Nós acreditamos que sim. Outra

rodada de verificações está sendo conduzida para… — Pausou quando eu endureci, — …

ter certeza de que era ela.

Alcancei o final do meio-fio. — Acho que agora entendo porque verificações eram

tão importantes. Eles a falharam e... olha o que aconteceu. Os Guardas na ponte

provavelmente não esperavam por nada quando ela apareceu.

— Não. E os daimons estão obviamente ficando mais espertos. Ela entrava e saía

bastante do campus, fazendo-a uma ótima candidata. E suas marcas não eram visíveis.

Agachei-me, estiquei minhas mãos e caí perfeitamente na calçada estreita. Poderia ter

sido uma ginasta em uma vida diferente. Virando para olhá-lo, encontrei Aiden olhando

para mim.

Ele olhou para longe enquanto um estranho, quase triste olhar se arrastou pelo seu

rosto. Empurrando o pára-choque do carro, ele enfiou as mãos nos bolsos dos seus jeans.

— Você e Seth parecem estar se dando muito bem.

Eu franzi a testa pela mudança de assunto. — É, acho que sim.

Aiden parou na minha frente. — Isso é um grande avanço entre querer esfaqueá-lo

no olho.

Mesmo que eu estivesse no meio-fio, Aiden continuava mais alto. Inclinei minha

cabeça para trás, encontrando seu olhar pálido. — Por que você se importa?

Suas sobrancelhas levantaram levemente. — É apenas uma afirmação, Alex. Não tem

nada a ver com eu me importando ou não.

Senti minhas bochechas queimando enquanto acenava duramente. — Sim, acho que

percebi todo o tópico sobre se importar ou não. — Saí do meio-fio e avancei em torno das

bombas de combustível.

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Aiden seguiu atrás de mim. — Eu vi vocês dois no funeral. Ele estava lá por você.

Acho que isso é bom. Não apenas para você, mas para ele. Acho que é a única pessoa com

quem Seth se importa além dele mesmo.

Eu parei, querendo rir, mas me senti... embaraçada. Como se tivesse sido pega

fazendo algo errado, mas não tinha. Confusa por onde Aiden queria chegar, comecei a

caminhar de novo. — Seth se preocupa consigo mesmo. É só isso.

— Não. — Aiden seguiu meus movimentos, me encontrando na beira das bombas. —

Ele raramente saiu do seu lado. Seth não permitiu ninguém, nem mesmo eu, se aproximar

de você.

Girei surpresa. — Você passou para me ver?

Aiden acenou. — Várias vezes na verdade, mas Seth estava determinado que você

precisava de tempo para assimilar tudo. Isso não soa como alguém que se preocupa

apenas consigo mesmo.

— Por que você iria me ver? — Dei um passo na sua direção, esperança e excitação

surgindo dentro de mim. — Você me disse que não se importava comigo.

Ele deu um passo para trás, cerrando a sua mandíbula. — Nunca disse que não me

importava com você, Alex. Disse que não poderia amá-la.

Encolhi-me, amaldiçoando a mim mesma pela estúpida janela de esperança que

permiti se abrir. Sorrindo duramente, voltei para o Hummer e bati a porta fechada atrás de

mim. Infelizmente, Aiden me seguiu.

Ele pegou o assento na minha frente e virou. — Não estou tentando brigar com você,

Alex.

Meu temperamento e sentimentos feridos tomaram conta. — Então talvez devesse

tentar não falar comigo. Especialmente quando soa como se estivesse tentando me

empurrar para outro cara.

Os olhos de Aiden estalaram vivos, queimando na escuridão. — Não estou tentando

te empurrar para alguém. Você nunca foi minha para isso.

Inclinei-me para frente, meus dedos cravando minhas coxas enquanto falava em um

sussurro pesado com dor. — Nunca fui sua? Você deveria ter pensado nisso quando me

despia no seu quarto!

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Ele sugou o ar afiadamente, então seus olhos se fecharam para um cinza opaco. —

Aquilo foi uma perda temporária de sanidade.

— Oh. — Eu dei uma risada dura. — A sua perda de sanidade dura muitos meses?

Fez você me dizer todas aquelas coisas no zoológico? Fez…

— O que quer que eu diga, Alex? Que sinto muito... por conduzir você? — Ele

pausou, visivelmente tentando conter sua raiva e frustração. — Eu sinto. Ok? Sinto muito.

— Não queria que você dissesse isso, — sussurrei com o estômago apertado.

Aiden fechou seus olhos e sacudiu a cabeça. — Olha, você não precisa disso agora.

Não depois de tudo com Caleb e a gente indo para o Conselho. Então, apenas pare.

— Mas…

— Eu não vou fazer isso com você, Alex. Não agora. Nem nunca.

Antes que eu pudesse responder, Leon e o Guarda retornaram, colocando um fim

nisso. Atirei-me contra o assento e encarei a parte de trás da cabeça de Aiden. Eu sabia que

ele podia me sentir criando buracos na sua nuca, porque estava sentado rigidamente com

os olhos forçados para frente.

Eventualmente fiquei entediada daquilo e inclinei as costas do meu assento para

aproveitar meu music player. Tentei voltar a dormir, mas minha mente estava muito

ocupada pensando sobre Caleb, a discussão com Aiden e se Seth era ou não tão

egocêntrico quanto eu sempre pensei que fosse.

Depois de mais nove horas de inferno, viramos para uma estrada sinuosa alinhada

com pinheiros altíssimos e abetos tão grossos que me lembravam de uma fazenda de

árvores de Natal. Nós estávamos em Catskills — terra de ninguém. Cerca de uma milha

adentro, uma cerca indefinida apareceu, em torno do que assumi que era o perímetro do

Covenant de Nova Iorque.

Bufei. — Bela segurança.

Aiden virou um pouco. — Você ainda não viu nada.

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Ignorei-o e me inclinei para frente, vendo nada mais que uma cerca de arame e

árvores. Talvez fosse uma daquelas cercas que eletrocutavam pessoas, porque eu

realmente esperava mais que isso.

Então vi os Guardas parados em frente da cerca de lamentável aparência, armados

com o que pareciam armas semi-automáticas. Meus olhos se arregalaram enquanto eles

apontavam as armas para o nosso veículo. Leon diminuiu a velocidade enquanto os

quatro Guardas se aproximavam de nós cuidadosamente.

— Alex, solte o seu cabelo, — Aiden disse quietamente.

Não entendi porque, mas a seriedade em seu tom me disse para não perder tempo.

Desfiz o coque bagunçado, deixando-o cair ao redor do meu rosto. Leon abaixou todas as

janelas e, de uma vez só, os Guardas olharam dentro do veículo, procurando em cada um

de nós... por marcas visíveis.

Encolhi-me, mas encontrei o olhar do Guarda de pele escura enquanto ele olhava

para mim uma vez, então duas. As marcas pareciam estar queimando sob a pesada massa

de cabelo. Eu não tinha certeza do que eles fariam se vissem as cicatrizes. Atirar em mim?

Não rápido o suficiente, eles gesticularam para o Guarda que permaneceu voltar. O

portão alto estremeceu e rangeu aberto. Soltei uma respiração que nem sabia que estava

segurando. — Eu devo usar meu cabelo solto todo o tempo em que estiver aqui?

Aiden olhou para mim, seus lábios formando uma dura, fina linha. — Não. Mas eu

preferiria se você não provocasse um Guarda no gatilho.

Eu podia entender isso, pensei.

Nós passamos pelo portão e fomos mais meia milha pela estrada até que as árvores

começaram a diminuir. Me encostei contra o assento de Aiden enquanto o Covenant de

Nova Iorque finalmente surgiu à vista.

Bem, as paredes de mais de seis metros feitas de mármore branco surgiram à vista.

Depois de passarmos por outro grupo de Guardas armados, finalmente adentramos

o terreno. Não parecia muito diferente do nosso em Carolina. Havia estátuas de deuses

em todos os lugares, exceto que os nossos ficavam entre a areia, os deles se elevavam da

grama mais verde que eu já tinha visto.

O primeiro prédio que vi era uma mansão – o tipo que eu não esperava ver no meio

de Catskills. Tinha ouvido uma vez que os Rockefellers possuíam uma casa por essas

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partes, mas nada comparado a essa coisa monstruosa. Contei seis andares, várias salas de

vidro, e possivelmente uma sala de baile com uma cúpula clarabóia no momento em que o

carro parou em frente à mansão de arenito. Comecei a segui-los, mas Aiden me parou.

— Alex, espere um segundo.

Meus dedos congelaram na maçaneta. — O quê?

Aiden tinha se virado completamente e aqueles olhos... Deuses, aqueles olhos sempre

me chamavam, sempre me enchiam de tanto calor que eu podia quase sentir seus lábios

nos meus. Que pena que suas palavras meio que arruinaram o momento.

— Não faça nada aqui para chamar atenção indesejada.

Meus dedos apertaram a maçaneta da porta. — Não planejo isso.

— Estou falando sério, Alex. — Seus olhos penetraram nos meus. — Ninguém aqui

será tão misericordioso quanto seu tio ou padrasto. Eu posso imaginar que eles não serão

fáceis com você quando tiver sua sessão. Alguns do Conselho... Bem, eles não são seus fãs.

Uma dor pulsou no meu peito em resposta ao seu tom frio e profissional. Eu não

tinha idéia de onde o afetuoso Aiden tinha ido, aquele que jurou sempre estar lá por mim,

aquele que gentilmente me trouxe de volta da borda quando eu surtei no treinamento.

Deuses, haviam tantos momentos, mas todos eles tinham desaparecido.

Aiden tinha ido embora. Como Caleb, mas de um modo diferente. Eu tinha perdido

os dois. Muita da raiva vazou de mim então. Olhei pela janela, suspirando. — Não

esperava que eles fossem. Vou me comportar. Não tem que se preocupar comigo. —

Comecei a abrir a porta novamente.

— Alex?

Lentamente, me virei para ele. Aiden não estava tão contido naquele instante, e uma

profunda e desconcertante dor estava refletida em seu olhar. Havia mais – quase como

uma incerteza. Mas ele se recompôs, como se colocando uma máscara de indiferença,

fechando quaisquer e todas emoções.

— Apenas tenha cuidado. — Sua voz estava estranhamente vazia.

Queria dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas a onda de atividade fora do carro fez

isso impossível. Servos – uma massa de servos mestiços – vieram para o Hummer.

Abrindo portas e pegando bagagens. Minha boca caiu aberta quando um garoto de cabelo

curto da minha idade, humildemente abriu a minha porta do carro. Um círculo preto

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atravessado por uma linha tinha sido tatuado em sua testa. Olhei para Aiden e vi seu olhar

ainda fixado em mim. Ele me deu um sorriso tenso antes de sair. Não podia deixar de

pensar se a dúvida que tinha visto em seu rosto tinha algo a ver comigo.

Ganhei um quarto no quinto andar, um que conectava ao quarto de Marcus. Ou pelo

menos foi o que o porteiro meio-sangue dentro da mansão disse antes de voltar às

sombras. Eu realmente não tinha idéia, então apenas segui o garoto loiro. Não vi para

onde Aiden e Leon foram levados, mas aposto que pegaram quartos nos andares inferiores

– grandes, e incríveis quartos.

Nós cruzamos o grandioso lobby e entramos em uma passarela de vidro fechado. À

nossa direita estava a entrada do que parecia ser o salão de baile, mas as luzes piscantes

não seguraram minha atenção. Bem no meio da passarela estava a mesma estátua que

ficava no lobby do Covenant na Carolina do Norte.

Fúrias.

Suspirando afiadamente, me apressei ao redor das estátuas para alcançar o servo

mestiço. A sua presença pesada permaneceu depois que saí da passarela, importunando o

fundo dos meus pensamentos. Subimos alguns degraus e eu já não podia mais lidar com o

silêncio.

— Então... Hum, você gosta daqui? — Perguntei quando nós entramos em um

corredor estreito adornado com pinturas a óleo.

O garoto manteve seus olhos fixos no carpete oriental.

Ok... Havia algum tipo de regra ‘sem conversa’? Olhei para as pinturas, listando

mentalmente os deuses enquanto passávamos por eles: Zeus, Hera, Artemis, Hades,

Apollo, Demeter, Thanatos, Ares – espere. Thanatos? Eu parei para olhar mais de perto

sua pintura.

Ele tinha asas e uma espada. Thanatos parecia ser um anjo muito fodão, na verdade.

Mas compartilhava o mesmo olhar aflito que o Thanatos no cemitério tinha em seu rosto

enquanto olhava para cima. Sua mão esquerda segurava uma tocha flamejante virada para

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baixo. Por que Thanatos, que não era um dos principais deuses Olimpianos, teria sua

pintura aqui entre eles?

Uma porta abrindo tirou minha atenção da pintura. Olhei por cima do ombro. O

servo meio-sangue segurava a porta aberta com os olhos baixos.

Apertei meus lábios, checando as quatro paredes brancas dentro dele. Um armário

teria sido muito legal para descrever esta... esta coisa considerada um quarto. Entrei

enquanto o servo colocava minha bagagem dentro da porta.

Havia uma cama — uma cama de solteiro coberta com um cobertor marrom que

aparentava coceira e um travesseiro plano. Uma pequena mesa de cabeceira oferecia uma

lâmpada enferrujada que tinha visto dias melhores. Levou dois segundos para atravessar

o quarto e dar uma olhada no banheiro.

Era do tamanho de um caixão.

Meus olhos caíram sobre os azulejos arranhados, espelho sujo e ferrugem em torno

do ralo do chuveiro. — Você deve estar de brincadeira, — eu murmurei.

— Eles esperam que você durma neste quarto – naquela cama?

Pulando ao som inesperado da voz de Seth, meu quadril bateu contra a pia. — Ai! —

Massageei meu quadril enquanto girava.

Seth estava parado aos pés da cama, sua sempre presente expressão presunçosa

manchada com desdém. Tinha se passado apenas um dia desde que eu o tinha visto, mas

estranhamente, parecia mais tempo que isso. Seu cabelo estava baixo, curvando-se em

torno de seu queixo. E usava jeans e um suéter preto – uma raridade.

Estava meio que contente em vê-lo.

— É, esse quarto é uma droga. — Saí do banheiro.

Seth caminhou até uma porta do outro lado da cama. Ele alcançou a fechadura e

girou.

— Acho que não é um closet.

— Não, é a porta para o quarto do Marcus.

Ele levantou uma sobrancelha. — Te deram um quarto de servo?

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— Legal. — Olhei ao redor, descobrindo que nem mesmo havia um closet no quarto

– ou uma cômoda. Eu estaria vivendo de uma mala por toda minha estadia. Yippee. — Por

que você trancou?

Seth me lançou um sorriso malicioso. — Não posso ter Marcus nos atrapalhando. E

se eu quiser me aconchegar nessas noites frias de Nova Iorque?

Minha carranca aumentou. — Nós não nos aconchegamos.

Ele jogou seu braço sobre meu ombro, e a essência de menta e algo selvagem fez

cócegas no meu nariz. — E quanto a abraçar?

— Nós também não fazemos isso.

— Mas você é meu coelhinho de afago. Minha pequena Apollyon de carinho…

Eu o soquei no lado.

Rindo, Seth me empurrou em direção à porta. — Venha, quero te mostrar uma coisa.

— O quê?

Ele removeu seu braço e capturou minha mão. — O Conselho está iniciando sua

primeira sessão a uma hora hoje. Acho que deveríamos assistir.

— Isso soa entediante. — Eu deixei-o me arrastar do quarto, apesar disso. Não era

como se tivesse qualquer coisa para fazer.

— Nós sempre poderíamos praticar? — Seth me puxou para a escada, dando vários

passos de uma vez. — Estou me sentindo meio frouxo, não joguei bolas de fogo na cabeça

de ninguém ultimamente.

— Isso soa mais interessante que assistir um monte de puros postularem quão ótimos

eles e suas leis são.

— Postularem? — Seth olhou para mim sob seu ombro, sorrindo. — Não posso

acreditar que você usou a palavra 'postular'.

— O quê? — Fiz uma careta. — É uma palavra real.

Seth ergueu uma sobrancelha para mim e então continuou a descer os degraus. Na

escadaria nós passamos por vários servos em roupas monótonas. Cada um deles olhou

para baixo. Eu os assisti levantar as cabeças uma vez que passávamos.

Seth puxou minha mão. — Vamos lá. Não podemos chegar tarde.

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Do lado de fora, o vento penetrante cortou contra meu suéter e enviou arrepios por

mim. Por uma vez, eu estava grata pela mão de Seth. Parecia incrivelmente quente na

minha.

— De qualquer forma, a sessão do Conselho deve ser interessante. É uma audiência.

— Pensei que a minha fosse a única audiência?

— Não. — Seth me guiou em torno da ala oeste da mansão. — Há várias audições.

Você é uma de muitas.

Comecei a responder, mas nós demos uma volta por trás e meus lábios fecharam. Um

labirinto de paredes de mármore na altura da cintura nos separava do coliseu estilo Grego.

Flores brilhantes, todas em plena floração, saíam das vinhas que as cobriam. Cordas

grossas de uma planta rasteira subiam as estátuas e bancos, cobrindo tudo à nossa frente

em uma massa de vermelho vibrante e verde. — Uau.

Seth riu. — Se você seguir nesse caminho, leva direto para o Conselho.

Olhei para os vários caminhos que ramificava do principal. — Isso é realmente um

labirinto?

— Sim. Mas eu ainda não o chequei.

— Parece divertido, não acha? — Olhei para ele. — Eu nunca estive em um labirinto

antes.

Um sorriso de verdade substituiu o convencido. — Talvez se você for boazinha – eu

digo, realmente boazinha – nós podemos vir brincar no labirinto.

Rolei meus olhos. — Gee, sério?

Ele acenou. — Você também tem que comer seu jantar.

Nem mesmo me importei em responder aquilo. Meio que me perdi no cenário por

um tempo. Como no mundo os puros conseguiam manter estas frágeis flores vivas

durante o ano todo? Tinha que ser magia – magia antiga. Quanto mais adentrávamos o

caminho, mais grossas as videiras se tornavam e quando nos aproximamos do final, Seth

diminuiu a velocidade.

— Nós temos que nos esgueirar,— ele disse. — Não deveríamos estar escutando o

Conselho, na verdade.

— E se formos pegos?

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— Não vamos.

Confiar em Seth era estranho, principalmente porque eu... confiava nele. Não do

mesmo modo que eu colocaria minha vida nas mãos de Aiden, mas quase isso. Quase.

Atrás das numerosas colunas grossas feitas de pedra, Themis, a Deusa da Justiça

Divina, estava na entrada do coliseu. Ela estava bem formidável com aquela espada em

uma mão de bronze e uma balança equilibrada erguida na outra, mas sua presença parecia

meio irônica para mim – os puros não sabiam nada de justiça equilibrada.

O prédio era algo tirado da antiga Grécia. Escondido como o Covenant de Nova

Iorque estava, eles podiam sair com designs não normalmente encontrados na vizinhança

ostentando Wall-Marts e redes de fast food. A coisa mais próxima que tínhamos era o

anfiteatro onde o Covenant de Carolina tinha suas sessões.

Segui Seth e nos esgueiramos pela entrada dos servos. A maioria dos mestiços que

passamos mantiveram seus olhos no chão enquanto carregavam taças e pratos com

pequenos aperitivos. Tive dificuldade em olhar para eles, mais do que pensei que tivesse.

Em casa, nós raramente víamos tantos. Eles eram mantidos separados de nós, como se o

Covenant de Carolina não quisesse que nós víssemos como o outro lado realmente era.

O que os servos pensavam quando me viam – ou qualquer mestiço que não está na

servidão? Eles eram capazes de pensar? Se eu fosse um deles e tivesse algum modo crítico

de pensar, seria hostil em relação aos mestiços ‘livres’.

O sentimento de nojo no fundo do meu estômago era difícil de reconhecer, então eu

comecei a tagarelar enquanto Seth me guiava por várias portas pequenas. — Escadas. Mais

escadas? Mataria se tivesse a droga de um elevador em um desses prédios?

Seth começou a subí-las. — Talvez eles pensem que os deuses ficariam infelizes com

elevadores.

— Isso é estúpido. — A longa viagem de carro tinha feito minhas pernas parecerem

gelatina.

— Nós apenas temos que subir mais oito andares. Eu prometo.

— Oito? — Olhei para mais dois servos descendo as escadas, mãos vazias. Uma era

uma mulher de meia idade em um vestido cinza plano. Ela usava sapatos de solado fino

sem meias. A pele ao redor dos seus tornozelos aparentava estar machucada e vermelha,

como se tivesse sido esfregada. Me encolhendo, olhei para o homem servo atrás dela.

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Um frio repentino se arrastou pela minha pele.

O homem mestiço mais velho possuía cabelo castanho escuro que se curvava ao

redor de um queixo forte e bochechas intemperizadas pelo sol. Linhas finas se projetavam

dos cantos dos seus gentis olhos castanhos... Que estavam olhando diretamente para mim.

Seus olhos não eram os olhos vidrados de um servo. Eles eram aguçados, inteligentes

– observadores. Havia algo de familiar sobre ele, algo que eu devia saber.

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Quinze

— Vamos – urgiu seth, puxando minha mão. — Vamos perder isso.

Com um esforço surpreendente, concentrei-me novamente nas costas de Seth e

recomecei a subir as escadas. A linha dos ombros de Seth parecia estranhamente tensa. No

patamar do quarto andar, parei por um segundo para olhar por sobre meu ombro.

O servo meio-sangue estava parado abaixo, olhando para nós. Nossos olhos se

encontraram por um segundo, e o mestiço deu um passo atrás, suas mãos fechando-se em

punhos. Então ele deu meia volta, desaparecendo escadaria abaixo.

— Isso foi estranho, — murmurei.

— Hã?

Ele não notou como o servo estivera alerta? Seth me encarou como se eu acabasse de

me agarrar com um daimon. Acho que não.

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— Nada.

Seth abriu uma fresta em uma porta.

— Pronta?

— Acho que sim. — Ainda estava pensando naquele servo.

— Temos que ficar no fundo, mas acho que poderemos ver tudo daqui. – Ele me

conduziu para dentro.

Entrei no que se revelou uma galeria, com vista do Conselho lá embaixo. Comecei a

me adiantar, mas Seth me puxou de volta.

— Não. — Sua respiração alvoroçou o cabelo em volta de minha orelha — Temos que

ficar encostados na parede.

— Me desculpe. – Livrei-me com um movimento – Posso me sentar?

Ele sorriu bravamente. — É claro.

Deslizei ao longo da parede e estiquei minhas pernas doloridas. Seth fez o mesmo,

dando um jeito de ficar o mais perto possível. Empurrei-o com o meu cotovelo, mas ele

apenas sorriu.

— Então, o que há de tão importante?

— Você não está nem um pouco interessada na audiência do Conselho?

Olhei para o Conselho abaixo, brincando com o cadarço de meu capuz. ‘Interessada’

não foi a palavra que me veio à mente, ‘apavorada’ teria sido mais correto.

Esse puros podiam fazer ou destruir um mestiço. Inclinando-me para a frente,

examinei atentamente a multidão pelas frestas da grade da varanda onde nos

encontrávamos.

Um mar de vermelho, azul, verde e branco movia-se, tomando seus lugares com

outros que vestiam túnicas da mesma cor. Olhei para as túnicas brancas e vi uma ruiva

movendo-se com a graça de uma bailarina através da multidão de puros.

— Dawn Samos, – sussurrei. Ela fazia lençóis brancos parecerem bonitos.

Seth inclinou-se para frente.

— Você a conhece?

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— Lea é irmã dela. Acha que ela veio com Dawn? – Fiz uma pausa, lembrando-me de

como Lea havia lutado ao meu lado. – Eu... gostaria de falar com ela.

— Ela não veio, mas passou por seu quarto depois... de tudo.

— Ela fez isso? – surpresa, observei a multidão de puros. — Isso é surpreendente.

Ela... parecia bem?

— Seu braço estava quebrado e tinha alguns hematomas, mas vai ficar bem.

Assenti, vendo Dawn sentar-se a alisar a túnica ao seu redor. Ela continuava a olhar

ao redor – procurando alguém. Antes que eu pudesse realmente estudar qualquer outro

dos puros, percebei que não-membros do Conselho também estavam presentes. No fundo

da sala estavam Marcus e uma beleza de cabelos negros que eu apenas vira uma vez.

— Laadan, a mulher com Marcus é Laadan. Ela foi a pura que teve a ideia do acordo

que me daria a chance de permanecer no Covenant. — Empurrei meu cabelo para trás. —

Esqueci que ela estava aqui.

Seth tocou minha perna com a dele.

— Ouvi falar dela. Não parece muito ruim.

Uma cabeça escura e familiar deslizou para o assento ao lado de Laadan. Aiden havia

se vestido com uma calça branca e camisa também branca com as mangas enroladas até o

cotovelo, exibindo seus poderosos antebraços. As pontas de seu cabelo se enroscavam em

volta da gola, dando-lhe um visual meio indomado. Observei enquanto ele se virava para

Laadan e dizia algo. Ela sorriu e bateu levemente em seu braço, enquanto Marcus

balançava a cabeça.

Uma coisa me atingiu. Marcus estava vestido como sempre – calças escuras e blazer –

parecendo-se mais com um corretor de Wall Street do que com um semideus. Laadan

usava um vestido de veludo vermelho escuro. Examinei a multidão ao fundo, notando que

alguns vestiam roupas combinando com a cor das túnicas.

— Por que Aiden está vestido de branco?

— Por que ele tem direito a um lugar no Conselho.

Olhei bruscamente para Seth.

— O que isso significa?

Seth arqueou uma sobrancelha.

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— Uma vez que o lugar do pai dele ainda está vago e permanecerá assim, ele tem

direito a um lugar no Conselho.

— E daí? Ele não quer esse lugar.

— Isso não importa. Aiden ainda precisa mostrar seu respeito pelos atuais membros

do Conselho. É por isso que está todo vestido de branco. As outras pessoas vestidas desse

jeito? São os próximos na linha de sucessão ou aqueles que disputarão um lugar quando

outros ficarem vagos.

Olhei de volta para Aiden. Ele se inclinava para trás, um braço jogado sobre a cadeira

vazia a seu lado.

— Ele nunca me contou isso.

— Você não deveria saber?

— Não presto muita atenção às aulas de civismo.

Seth riu dissimuladamente.

— Ele provavelmente tomará seu lugar algum dia, quando se estabelecer. Todos os

puros fazem isso.

Passei os braços em volta da minha cintura.

— O que quer dizer com ‘se estabelecer’?

O olhar intenso de Seth caiu sobre mim. — Não quis dizer nada.

Mas ele queria. Suas palavras não ditas pairavam entre nós. A maioria dos puros

achava que caçar e matar daimons estava abaixo deles, mas as mulheres puras achavam

perigoso e emocionante – sexy. Minhas entranhas se retorceram em nós apertados. A ideia

de ele estar com outra pessoa me fez querer chutar algo – ou alguém.

Um súbito silêncio caiu sobre a multidão quando os Ministros de todos os quatro

Covenants entraram. Reconheci Lucian e a Ministra Nadia Callao, uma mulher alta que eu

vira apenas algumas vezes na Carolina. Eles tomaram seus assentos juntos, assim como o

resto dos Ministros. Um deles – um homem alto com as têmporas grisalhas, rosto cheio e

penetrantes olhos azuis – adiantou-se para o centro do palanque, sua túnica verde muito

enfeitada com fios de ouro. Uma coroa de louro assentava sobre sua cabeça.

— Quem é esse? — perguntei.

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— Ministro Gavril Telly. A casa onde você está hospedada é dele. A mulher de verde

é Diana Elders – a outra Ministra de Nova York – mas Telly é o líder dos Ministros. Está

no comando.

Telly começou a sessão de abertura com uma oração em grego antigo. Eu não tinha

ideia do que ele estava dizendo. A linguagem era bonita, quase musical, mas foi tão longa

que me inclinei para trás e bocejei.

Seth sorriu.

— Não dorma sobre mim.

— Não garanto.

Mas não adormeci. O Ministro Telly finalmente começou a falar à multidão em inglês

com forte sotaque. Não consegui identificar de onde era, mas sua voz possuía a mesma

cadência que a de Seth, só que com muito mais autoridade.

— Temos vários problemas urgentes a serem discutidos nesta sessão do Conselho, —

sua voz ressoava por todo o edifício — Mas principalmente, estamos aqui para discutir a...

situação desagradável que surgiu neste verão.

— Eles vão falar sobre Kain, não vão? — Fiquei animada, ansiando por saber como

os puros lidariam com aquilo.

Seth deu de ombros.

— Existem várias coisas sobre as quais poderiam falar.

Telly caminhou por todo o comprimento do estrado, a longa túnica verde formando

uma trilha atrás dele. Erguendo o braço, fez um sinal para a sessão do auditório abaixo de

nós. Estiquei-me para ver, mas Seth segurou meu suéter e me manteve parada. Finalmente

dois Guardas ficaram à vista, escoltando uma mulher vestida com uma túnica cinza que

lhe chegava apenas até os joelhos. Ela nem mesmo calçava sapatos. Eles a conduziram até

que ficasse parada abaixo do centro do estrado e então a forçaram a ajoelhar-se.

Apreensão brotou no fundo de meu estomago. A mulher de pele escura não era uma

daimon, pelo que pude ver. Parecia uma mestiça normal – talvez uma Guarda ou

Sentinela. Suas pernas eram suficientemente bronzeadas para serem de alguém que

passou anos treinando e lutando.

Ela ergueu desafiadoramente a cabeça, e um murmúrio abafado correu pela multidão

de puros.

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— Kelia Lothos — O lábio superior de Telly se retorceu. — Você foi acusada de

quebrar a Ordem da Raça por manter contato inapropriado com um puro-sangue.

Meus olhos se arregalaram. Caleb havia me contado sobre ela e seu namorado puro-

sangue, Hector. Voltei-me bruscamente para Seth.

— Sério? O problema mais importante deles é uma mestiça fazer sexo com um puro?

O olhar âmbar de Seth encontrou o meu.

— Parece que sim.

Balançando a cabeça em descrença, voltei ao drama que se desenrolava no andar de

baixo. — Malditos Hematoi.

— Como você se declara? — Exigiu Telly.

Kelia começou a se levantar, mas os Guardas forçaram-na a permanecer como estava.

— E interessa como eu me declaro? Vocês já me declararam culpada.

— Você tem o direito de contar o seu lado da história. — A Ministra Elders ergueu-

se, aproximado-se lentamente do meio do estrado. Bondade marcava abertamente suas

feições, suavizando a linha de seus lábios — Se acha que não...

— Não é culpa dela! — Bradou uma voz no meio da multidão enquanto um puro de

túnica verde se levantava. Sua pele era morena, como a de Jackson — Ela não fez nada

errado. Se alguém tem culpa, esse alguém sou eu.

— E assim começa. — Murmurou Seth.

Ignorei-o, fascinada por esse puro vir em defesa de Kelia. Isso era melhor que a

novela da tarde.

Telly caminhou para a esquerda do estrado.

— Hector, ninguém aqui o considera culpado. Mestiças podem ser tão bonitas

quanto as puras... E tão manipuladoras quanto qualquer daimon.

Hector - o amante puro-sangue de Kelia - abriu caminho pelo corredor.

— Sim, ela é bonita. Mas manipuladora? Nunca. Eu a amo, Ministro Telly, e isso não

é culpa dela.

Telly caçoou enquanto se aproximava da borda do estrado.

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— Uma meio-sangue e um puro-sangue não podem se apaixonar um pelo outro. Essa

ideia é um absurdo e é nojenta. Ela violou a lei. Talvez devesse ter pensado nisso antes de

agir como uma prostituta vulgar.

— Não fale assim dela! — O rosto de Hector corou de raiva.

— Como você se atreve a falar comigo desse jeito? — Telly empertigou-se. — Proceda

com cuidado ou a sua próxima ação pode ser confundida com traição.

Kelia se virou. A preocupação e o medo lhe encheram os olhos, e também o amor.

Meu coração se apertou por ela - por eles.

— Hector, por favor, não. Vá embora.

Os olhos escuros de Hector pousaram sobre Kelia, espelhando as mesmas emoções

estampadas no rosto dela.

— Não. Não posso deixar isso acontecer. Você não fez nada de errado. Eu jamais

deveria...

— Hector, por favor, vá embora. — Implorou ela. – Não quero que você... me veja

assim. Por favor!

— Não vou embora, — disse Hector — Você não é culpada de nada!

— Sou culpada de amar você! — Ela se livrou dos Guardas. Eles pareciam demasiado

chocados com o derramamento explícito de emoção para fazer qualquer coisa. — Não faça

isso! Você prometeu que não faria!

Prometeu o quê? O que Hector estava fazendo era heróico, romântico, e faria qualquer

mocinha desmaiar. Como ela poderia não querer que o homem que ela amava enfrentasse

o Conselho inteiro por ela?

Hector apressou-se pelo corredor principal, e os Guardas finalmente agiram.

Posicionaram-se entre a mestiça e o puro.

Hector estacou, suas mãos cerradas. — Saiam!

— Vai permitir que isso continue, Ministro? — perguntou Lucian, falando pela

primeira vez desde que a sessão começou.

Telly soltou lentamente a respiração.

— Kelia Lothos, como você se declara?

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A multidão de puros assistia, excitada e horrorizada, ansiosa por ver como Kelia

responderia. Mas foi Hector quem o fez.

— Ela se declara inocente.

Uma Ministra idosa se levantou. A túnica vermelha engolia seu corpo frágil. Ela me

lembrava a Guardiã da Cripta que eu enfrentei quando tinha sete anos.

— Basta. Sentencie a mestiça à servidão e retirem esse puro da sessão!

O estrondo de um trovão dentro do edifício fez com que eu me afastasse da grade e

voltasse para perto de Seth. Acima de nós, o ar começou a se adensar e escurecer. Por

incível que parecesse, nuvens ameaçadoras começaram a se formar – e elas vinham de

Hector. Ele estava usando o elemento da terra, a eletricidade criando uma tempestade

dentro da sala.

Hector encontrou o olhar atônito de Telly.

— Não vou permitir que a leve.

O caos se desencadeou no andar de baixo. Hector avançou, e a nuvem acima de nós

brilhou com raios, enchendo o ar de carga elétrica.

Os Ministros se levantaram, tomados de choque e ira.

— Por favor! Podemos discutir isso civilizadamente! — gritou Diana — Não

podemos...

Outro trovão abafou suas palavras. Pressionei o rosto no vão entre as grades para ver

melhor o que acontecia lá embaixo. Não causou surpresa o fato de os Guardas que haviam

segurado Kelia não parecerem dispostos a atacar um puro. Éramos treinados desde o

nascimento para não fazê-lo, nem mesmo em casos extremos como esse. Eles recuaram

cautelosamente quando Hector agarrou Kelia, puxando-a contra seu peito.

— A mestiça foi considerada culpada! — gritou Telly – Prendam a mestiça e

entreguem-na aos Mestres! Retirem o...

Hector empurrou Kelia para trás de si quando a nuvem estalou, disparando raios por

toda a sala. Os puros se atiraram para fora dos bancos, empurrando uns aos outros

enquanto se apressavam a sair do caminho. Preocupada com Aiden, procurei por ele em

meio àquela loucura. Estava de pé ao lado de Laadan, sua expressão era uma máscara de

aço.

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— Matarei qualquer um que se atreva a tocá-la. — A voz de Hector era baixa e firme.

— Ficaria contra sua própria raça... por uma meio-sangue? — O rosto de Telly estava

pálido de raiva.

Hector não hesitou.

— Sim. Faria isso pela mulher que amo.

Telly recuou.

— Você selou seu destino.

Não compreendi aquelas palavras. Os puros nunca eram punidos por andar com

mestiços. A única coisa pela qual eles eram punidos era usar a compulsão ou outros

poderes elementais contra outros puros, mas...

A nuvem continuava a escurecer, e Seth puxou meu braço, mas me agarrei às grades

do balcão.

— Guardas! — Ordenou Telly, e Guardas de todos os cantos desceram em uma

enxurrada de branco. Todos eram mestiços, exceto um.

O Guarda puro-sangue tinha olhos da cor do solo fértil. Ele encarou Telly, seus dedos

em volta de uma adaga Covenant. Os outros Guardas alcançaram os dois amantes,

conseguindo tirar Kelia do abraço de Hector. Ela gritou e lutou contra eles, libertando-se

uma vez apenas para ser dominada e segura contra o chão.

Acima, a nuvem escurecia cada vez mais. Um raio atingiu o chão perto de Telly.

— Derrubem-no! — disse Telly.

— Não! — gritou Kelia — Pare com isso, Hector! Por favor!

O puro alcançou Hector antes que ele pudesse lançar outro raio. Um grito

horrorizado brotou em minha garganta, abafado pela mão de Seth. O Guarda puro-sangue

- o único entre eles que poderia atacar outro puro - enfiou a lâmina de titânio nas costas de

Hector e girou-a. Um som de sucção correu pelo edifício e a nuvem ameaçadora se

extinguiu.

Seth me arrancou da grade.

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— Você não pode gritar, certo? Duvido que eles fiquem felizes de nos encontrarem

aqui. Prometa que não vai gritar. — Ele me largou depois que assenti. — Precisamos sair

daqui.

Eu mal ouvia Seth. Horror e raiva faziam meu coração bater mais forte e meus dedos

se afundaram no braço dele. Os gritos de Kelia enchiam o ar até que foram abruptamente

interrompidos. Tudo isso era impossível, cruel e horripilante.

Seth deu um suspiro cansado.

— Acho que foi bom Aiden ter caído em si.

Gelo penetrou em minhas veias, roubando o próprio ar de meus pulmões. Voltei-me

bruscamente, encarando-o.

— Você sabia que isso ia acontecer. Trouxe-me aqui de propósito.

A tonalidade amarelada de seus olhos brilhou.

— Eu não sabia que chegaria tão longe.

— Não acredito em você. — Empurrei seu peito, sentindo-me enjoada. — Sabia o

que eles iam fazer!

Seth desviou o olhar, o vazio de suas bochechas corando.

— Eu sabia apenas o que o futuro de Aiden traria se continuassem com aquela

insanidade.

Empurrei novamente, e desta vez, Seth me soltou.

Passei o resto de meu primeiro dia em Nova York enfurnada no quarto sombrio. Não

queria estar ali – ou em qualquer lugar próximo. Nós apertados se formavam em meu

estômago e eu estava furiosa com Seth.

Mas também estava furiosa comigo mesma.

Joguei-me no colchão duro. Só sabia o que o futuro de Aiden traria se vocês continuassem

com aquela insanidade.

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Por mais que eu odiasse admitir, Seth estava certo.

Aiden era o tipo de homem que faria exatamente o mesmo que Hector havia feito. Se

Aiden me amasse e eu estivesse na posição de Kelia, ele teria lutado contra um exército de

Guardas e recebido uma adaga nas costas.

Baixei a cabeça e soltei um suspiro estrangulado. Meu coração ansiava por Aiden

como se ele fosse o próprio ar que eu respirava, mas ao mesmo tempo compreendia –

realmente compreendia – que mesmo se Aiden retribuísse meu amor, nós nunca poderíamos

ficar juntos.

O que ele me disse naquele dia no ginásio? Que se me amasse tiraria tudo de mim. O

que vi, provava que eu poderia tirar tudo dele – até mesmo a vida.

Uma batida na porta me arrancou de meus pensamentos conturbados. Cruzei o

espaço até a porta e abri-a.

Seth estava ali com os braços cruzados sobre o peito.

— Alex...

Fechei a porta e tranquei-a. Seth podia estar certo, mas eu ainda não queria vê-lo. Se

tivesse que lidar com seu rosto exultante, poderia socá-lo. Sentei-me novamente na cama e

fiz uma careta para a porta.

Um minuto se passou, e então a maçaneta girou, primeiro para a esquerda e depois

para a direita. Apertando os olhos, inclinei-me para frente.

Lá estava o inconfundível som da porta sendo destrancada.

— Que diabos...? — Pulei de pé.

A porta se abriu. Seth entrou no pequeno quarto.

— Derreti sua fechadura.

Meu queixo caiu.

— Seu filho da mãe arrogante...

— Psiu. — Ele fechou a porta atrás de si e estudou o quarto com outro olhar enojado

— Ainda não consigo acreditar que a enfiaram neste buraco. Terei que falar com Lucian

sobre isso.

— Por que Lucian se importaria?

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Passou por mim e curvou-se, pressionando a palma da mão contra o colchão.

— Lucian se importa mais do que você pensa.

Ele se endireitou e sorriu.

— Deveria vir para o meu quarto. Você gostaria de lá.

Revirei os olhos.

— Nem pensar.

Seth pareceu desapontado, e então seu olhos caíram sobre meu banheiro repugnante.

— Tenho uma banheira de hidromassagem em meu banheiro.

— Sério?

— É.

A ideia de um longo e delicioso banho me tentou. Sacudi a cabeça, dispersando o

sonho.

— Seth, eu realmente não quero falar com você agora.

Ele se jogou na cama e fez uma careta.

— Bem, precisamos conversar.

Joguei a cabeça para trás, gemendo.

— O que eu quero tem alguma importância para você?

— O que você quer sempre importa para mim. — Seu rosto estava sério. — A

propósito, gostei do pijama que usou na outra noite. Os pijamas térmicos e as camisas de

flanela não eram muito atraentes, mas os shortinhos eram legais.

Meus olhos se estreitaram em direção a ele.

— Está um gelo aqui e isso, — marchei até a cama e peguei o cobertor áspero — Não

vai me tocar. Provavelmente tem pulgas. — Voltei-me para ele. — O que você quer, Seth?

Ele baixou os olhos.

— Sinto muito que tenha visto aquilo hoje.

Não era o que eu esperava.

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— Mas você precisava ver, — continuou ele, erguendo o olhar e encontrando o meu.

— Sei que você... o ama. Não negue, Alex, sei que ama. E sei também que não interessa o

que Aiden lhe diga, ele ainda se importa com você mais do que deveria.

Abri a boca para negar aquilo, porque Aiden me dissera de muitas maneiras que não

me amava, mas parei. Tinha importância se Aiden realmente gostava de mim? Sentei-me

ao lado de Seth.

— Acho que você sabe disso, Alex, — disse ele, suavemente. — Eu já disse isso antes.

No fim vocês seriam pegos. Ninguém, nem mesmo eu, seria capaz de impedir o Conselho.

Você sabe o que Aiden teria feito.

— Eu sei. — Esfreguei a palma da mão em minha coxa — Ele teria feito a mesma

coisa que Hector fez. Só não pensei que eles fariam isso a alguém de sua própria raça.

— Este lugar é um mundo à parte. Já estive aqui algumas vezes. É totalmente Velha

Guarda. Não é preciso muito para insultar o Ministro Telly e ele não é fã de mestiços...

mesmo o Apollyon.

Ergui a cabeça e olhei para ele.

— O que você quer dizer?

Os lábios de Seth formaram uma linha fina.

— Não é nada que tenham me dito, é apenas uma sensação que tenho.

— Ele é quem vai me inquirir durante meu testemunho?

— Não sei, — Seth sorriu então. — Não se preocupe com ele.

Eu não acreditava muito nele, mas estava muito cansada para revidar.

— Odeio este lugar.

Ele se inclinou, afastando o cabelo de meu pescoço, expondo minhas cicatrizes.

— Você só está aqui há um dia, Alex.

— Não preciso de mais do um dia para saber. — Virei a cabeça, espantada por ver

que nossos rostos estavam a apenas centímetros de distância. — Você... gosta daqui?

As pálpebras de Seth baixaram, abanando seu rosto com os longos cílios.

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— Não é o pior lugar, — ele ficou quieto por alguns momentos e então seus olhos se

ergueram para os meus. — Você percebeu mesmo que Aiden é uma causa perdida, não é?

Pisquei com força e virei o rosto. Subitamente queria chorar, porque era verdade.

— Acho que isso lhe preenche com algum tipo satisfação perversa, não?

— Não sou uma pessoa terrível, Alex.

Seu tom cortante me levou de volta a ele.

— Eu não disse que é uma pessoa terrível.

Seth sorriu tensamente.

— Então por que pensaria que eu gostaria de vê-la magoada? E sei que você está

sofrendo.

Agora me sentia culpada.

— Olhe, me desculpe. Não é nada disso.

Ele relaxou.

— É a segunda vez que você me pede desculpas. Uau.

— Será a última.

— Talvez. — Ele se aproximou depressa, deitando-se de lado. Deu um tapinha no

pouco espaço que sobrou. — Esta cama é mesmo uma droga. Tem certeza de que não quer

uma melhoria?

Suspirei.

— Seth, você não pode ficar aqui.

Deu de ombros.

— Não vejo porque não.

— Meu tio está no quarto ao lado.

— E daí? — Ele bateu na cama outra vez. — Ele nem mesmo está em seu quarto. Está

lá embaixo com o resto dos puros. Estão tendo sua festa de abertura do festival.

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— Não importa. — Passei por sobre suas pernas e sentei-me ao lado dele. — Esse

negócio de dividir a cama tem que parar.

Ele olhou para mim, seu rosto o retrato da inocência.

— Por quê? Afasta os pesadelos, não afasta?

Uma réplica morreu em meus lábios. Maldito.

— Há muito tempo que você não tem nenhum. O que eu disse sobre precisar...?

— Oh, cale a boca.

Seth deu uma risadinha, e então passou a me contar sobre sua primeira visita ao

Covenant de Nova York. Contei a ele sobre as cidades onde eu e minha mãe vivemos.

Depois de um tempo, os olhos dele se fecharam e não houve mais histórias. Observei-o

por alguns momentos. O que eu deveria fazer com ele?

Deitei-me de lado, cuidando para que não acordasse. Fiquei olhando para a parede

suja pelo que pareceram horas. Minha mente não tinha descanso, o que era estranho. A

presença de Seth geralmente me fazia adormecer facilmente.

Esta noite era diferente. Eu sentia falta de Caleb, odiava o lugar onde estava, e

desejava mais que qualquer coisa que as coisas fossem diferentes entre Aiden e eu.

Esta noite me sentia mais sozinha do que jamais me sentira antes. Talvez tudo

parecesse mais real aqui, muito mais frio e austero. Ver Hector ser assassinado destruiu

qualquer sementinha de esperança que eu ainda carregava dentro de mim de que esse belo

e selvagem conto de fadas poderia ter um final feliz quando se tratava de Aiden.

Ao meu lado, a respiração de Seth diminuiu para um ritmo profundo e estável.

Deitei-me de costas e olhei para ele.

Seth me encarava, definitivamente acordado. Parecia curioso e até mesmo um pouco

confuso. Naquela cama minúscula, estar deitada de costas lhe dava muito pouco espaço.

Ele já usava um dos braços como travesseiro e o outro estava encolhido contra seu corpo.

Mordi o lábio inferior e sentei-me. Procurando atrás de mim, encontrei o travesseiro e o

ofereci. Ele o pegou, estreitando os olhos com curiosidade. Olhamos-nos, e então ele

pareceu entender. Esperei que dissesse algo vaidoso ou sujo.

Mas não disse nada. Silenciosamente, ergueu-se e colocou o travesseiro sob a cabeça.

Então se deitou e esticou o braço direito. Seu peito erguia-se rapidamente enquanto

esperava. Passei a mão pelo rosto e fechei os olhos com força. O que eu estava fazendo?

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Eu não sabia realmente. Estava cansada e odiava aquele lugar. O quarto era frio, o

cobertor grosseiro estava jogado no chão, eu queria Aiden... e parei de inventar desculpas.

Deitei, descansando a cabeça no espaço entre seu ombro e peito. Meu coração batia

estranhamente forte.

Seth permaneceu imóvel por um minuto, talvez dois. Então baixou o braço,

envolvendo minha cintura, puxando-me para mais perto. Meu corpo se encaixou no dele,

minha mão descansando em seu peito. Sob a palma de minha mão, o coração dele

martelava tão selvagemente quanto o meu.

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Dezesseis

— Você não está se sentindo bem?

— Hein? — Ergui o olhar do meu prato intocado.

Marcus me olhava curiosamente. — Você não comeu nada do seu café da manhã.

Olhei para o Aiden. Ele também me observava. E Seth também. Os olhos de Laadan

estavam em mim, também, exceto que ela meio que tinha esse olhar nostálgico nela, como

se não estivesse realmente me vendo.

Esse café da manhã estava bem desconfortável.

Meu olhar ficou no Aiden e eu não conseguia parar a imagem do Guarda puro-

sangue esfaqueando Aiden nas costas de passar pela minha mente. Senti o sangue deslizar

do meu rosto.

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Aiden abaixou seu copo de suco de laranja. — Alex?

— Sim... Eu apenas não dormi muito ontem à noite. — Podia sentir os olhos de Seth

me perfurando. — Por causa de estar em um lugar novo e tal.

— Não está gostando do seu quarto? — perguntou Marcus.

— Você viu o meu quarto? — Eu debati enquanto enfiava uma garfada de ovo na

minha boca, mas a maneira como Aiden me estudava por cima da borda de seu copo, isso

não soava uma boa idéia. — Se você pode considerar aquela caixa um quarto.

Marcus recostou-se na cadeira, cruzando uma perna sobre o joelho. — Eu não vi o

seu quarto, mas tenho certeza que não é...

— Marcus, a que horas as sessões começam essa manhã? — perguntou Laadan.

Distraído, ele olhou para o relógio. — Devem começar logo.

Enviei um sorriso de gratidão para Laadan, e ela piscou para mim enquanto girava

sua taça de champanhe. Beber champanhe a essa hora da manhã parecia sofisticado e legal

para mim, como também o incrível vestido verde que ela usava. Era discreto, com

pequenas mangas.

O arranhar da cadeira de Seth do outro lado da mesa de mármore soou áspero. —

Alex, é hora do treino.

Aiden olhou por cima do ombro para Seth. — Ela não comeu nada.

— Então pelo menos comerá o almoço, — Seth respondeu.

Uma dureza rastejou para o rosto de Aiden. — Ou você poderia dar-lhe alguns

minutos para comer seu café da manhã antes de começar o treino.

— Humm... Estou tendo uma estranha sensação de déjà vu, exceto que você estava

me dizendo para ficar de fora dos esquemas de treino, e eu te disse o quão estranho...

— Isso é engraçado. — Os lábios de Aiden se retorceram em um sorriso de escárnio.

— Estou tendo a mesma sensação, exceto que eu disse que você deveria...

— Ah, pelo amor dos bebês daimons por aí, estou pronta para começar o treino. —

Me empurrei da cadeira.

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Aiden se virou, seus olhos se estreitando em fendas estreitas. Eu agarrei o meu copo

de suco e dei um gole generoso enquanto Laadan assistia com um interesse divertido. —

Feliz?

— Fazem isso com freqüência? — ela perguntou, dando um gole de sua taça de

cristal.

Marcus limpou a garganta. — Você tem mesmo que perguntar?

— O quê? — Seth fez uma careta, tornando sua beleza ainda mais gelada. — O que

nós...

— Reitor Andros, estive procurando por você. Há algumas coisas que gostaria de

conversar com você... Oh, essa é a infame Alexandria?

Fiquei tensa, reconhecendo a voz. Ministro Telly. Encontrei o olhar de Seth por um

instante e então forcei o meu corpo a se virar. Vê-lo depois que ordenou a morte de Hector

fez o meu estômago azedar. Eu sorri... Provavelmente parecendo mais com uma careta...

Mas tentei.

O olhar de Telly passou por mim de uma maneira totalmente condenatória. — Então

é sobre isso todo esse alarido?

Isso atingiu o nervo errado. — Acho que sim.

Ele sorriu de leve. — Bem, tem havido muito barulho em torno do que você realizou.

Muitos boatos se espalharam, afirmando que já matou daimons. Estou curioso para saber

se isso é verdade. Quantos daimons você matou?

Vagamente, senti Seth se movendo ao redor da mesa. Estranho eu saber onde ele

estava na sala. — Matei três.

— Oh. — As sobrancelhas de Telly se ergueram. — Impressionante. E quantas

pessoas inocentes já colocou em perigo? Ou mortas?

O sangue voltou para o meu rosto. O sorriso de Telly aumentou, se tornando

genuíno. Estava gostando de me ver desconfortável.

— Seth? Não é hora do treino da Alex? — perguntou Aiden.

Se Seth gostou da mudança súbita de Aiden, ele não demonstrou. — Claro, sim. Com

licença, Ministro Telly, mas nós devemos...

Eu encontrei o olhar do Telly. — Um.

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— Um o quê, querida?

Todo mundo atrás de mim provavelmente parou de respirar. — Fiz uma pessoa

inocente ser morta, e eu não sei quantos coloquei em perigo... Talvez dezenas.

Seth xingou baixinho.

Os olhos de Telly se alargaram por um segundo cheios de choque. — Isso é verdade?

Surpreendentemente, foi Marcus que veio ao meu resgate. Ele deslizou na minha

frente, bloqueando o olhar hostil do Ministro. — Ministro Telly, há algumas coisas que

gostaria de discutir com o senhor também. Se te agrada, agora seria uma boa hora?

Sem esperar a resposta de Telly, Seth pegou o meu braço e me puxou para longe da

mesa. Esperou até estarmos a um passo das portas. — Deuses, você não consegue ficar

com a boca fechada.

— Que seja. — Puxei meu braço livre e saí. A blusa térmica e moletom que eu vestia

não eram proteção contra o vento cortante.

Seth parecia não se incomodar com o ar frio. Ergueu a mão enquanto caminhávamos

em direção ao labirinto, uma pequena bola de energia azul se formou em sua palma da

mão aberta. — Ele não é alguém que você queira como inimigo.

A pequena bola subiu, e então desceu, e então subiu em sua mão. Meu cachorro

interior não conseguia desviar o olhar. — Eu acho que ele não gostava de mim desde o

início.

— Mesmo assim, você não precisa tornar as coisas piores.

Seu tom me irritou. — Sabe de uma coisa, precisa ficar longe do meu quarto. Você

tem o seu.

Ele sorriu. — Sei que tenho. Eu o vejo com bastante frequência. Apenas prefiro a sua

cama. Cheira melhor.

Fiz uma careta. — Cheira melhor? Qual o cheiro da sua cama? Arrependimento e

mau gosto?

Seth riu. — Qualquer lugar que você dorme, tem o seu cheiro.

— Deuses, isso tem que ser a coisa mais apavorante que já ouvi em um longo tempo.

E isso é... Isso é dizer algo, Seth.

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— Você tem o cheiro de verão e rosas. — Ele jogou a bola um pouco mais alta. — Eu

gosto.

Engasguei. — Eu cheiro como o verão. Sério? Verão?

— Sim, sabe. Quente. Você sempre tem um cheiro quente.

Dois puros passaram por nós, olhando por cima de seus ombros para a pequena

demonstração de poder do Seth. Comecei a sorrir dos seus olhares compartilhados de

choque, mas lembrei que deveria estar brava. — Não me importo se você gosta do meu

cheiro, seu louco.

— Não é como se o Marcus fosse nos pegar. — A bola ficou maior, encobrindo sua

mão. — É por isso que tranco a porta. Ele não pode interromper a nossa festa do sono.

— Não é esse o ponto, e guarde isso! — eu vociferei.

Seth ficou em silêncio por um minuto inteiro. Um novo recorde para ele. — Não se

preocupe; será capaz de fazer isso um dia. E você irá sentir minha falta se eu não dormir

abraçadinho contigo.

— Isso não é verdade.

Lançou-me um olhar de soslaio que dizia que se lembrava de eu abraçando-o para

dormir a noite passada. Gemi, querendo bater nele com cada fibra do meu ser. Mas ele

guardou a bola de energia quando nós saímos do labirinto e o anfiteatro se tornou visível.

Um arrepio percorreu-me e não tinha nada a ver com a temperatura. — Onde nós estamos

indo?

— Não lá.

— Bem, já tinha percebido isso. — Eu o segui ao redor do prédio, me recusando a

olhá-lo. Igual aos servos que se recusaram a nos olhar quando nós passamos.

Atrás do prédio do Conselho, pude finalmente ver o Covenant de verdade. Uma

cerca de ferro forjado rodeava o campus. Enquanto nossa escola parecia como algo saído

direto da Grécia em um dia bom, o deles parecia como uma fortaleza medieval, com torres

menores assustadoras e torres maiores que se erguiam até a névoa. Atrás da enorme

estrutura, podia ver os topos dos prédios cinza que eu presumi serem os dormitórios.

Notei os desenhos na cerca quando nos aproximamos. — O que é aquele negócio de

tocha?

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— Hein?

— Estas tochas de cabeça para baixo. — Apontei para uma das cercas. — Estão em

todos os lugares aqui.

— Sim, notei isso. São o símbolo de Thanatos.

— Um dos meus instrutores no Covenant tem uma tatuagem disso no braço dele.

Seus lábios se espremeram. — Ministro Telly tem um no braço também.

— Como diabos você saberia disso? — Cortamos por uma passarela que passava

pelo gramado coberto de geada que se conectava com os prédios menores. — Já foi

sorrateiramente para o quarto dele e o abraçou também?

— Não fique com ciúmes. Você é o meu único coelhinho do aconchego. Mas para

responder a sua pergunta, quando cheguei aqui com o Lucian, Telly estava acenando o seu

braço enquanto gritava com os servos. A manga de sua túnica escorregou e eu vi a

tatuagem.

— Eu me pergunto se eles pertencem a alguma sociedade secreta ou algo.

— Uma sociedade secreta de idiotas, talvez.

Dei uma risadinha. — Parece certo.

Nós passamos por dois mestiços que estavam indo para aula e eles pararam

repentinamente. Olhos arregalados, eles olharam embasbacados para nós. Um garoto

acotovelou o outro. — É ele! E essa tem que ser ela - a outra.

A boca do outro garoto se escancarou. — Então é verdade! Realmente há dois

Apollyons.

— Pelos deuses, — o companheiro dele correu uma mão pelo peito, — Isso é tão

legal.

Seth se inclinou para eles. — Bem legal.

Revirando os olhos, eu o empurrei para o lado. Todo o negócio de sentir o Seth

estava me deixando irritada. — Onde nós estamos indo?

— Já que está congelando aqui de manhã, imaginei que nós podíamos fazer a nossa

primeira sessão na sala de treinamento. E então irmos para fora.

Meus ombros caíram. — Tenho que praticar com você o dia todo?

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Seth se virou na minha frente, o sorriso perpetuamente arrogante em seu rosto. —

Você tem que passar o dia inteiro comigo. Pelo tempo que nós estivermos aqui.

Eu o encarei.

Ele bateu as mãos, deixando um grito agudo escapar antes de pegar a minha mão. —

Oh, nós vamos nos divertir tanto! Não vamos? Diversão, Alex... Nós vamos nos divertir.

Nós não estávamos nos divertindo.

Eu me virei, bloqueando o chute dele e então seu soco. O suor escorria em mim e os

meus músculos doíam do ataque interminável do Seth.

Então de novo, preferia estas sessões da manhã ao invés das sessões da tarde. Ao

passar os três dias, comecei a abominar as sessões externas. O clima não esquentou muito

até então, e o chão congelado era implacável, mesmo com a grama verde magicamente

nascendo dele.

Seth me jogou uma garrafa de água. — Cinco minutos.

Eu me recuei para a beirada das esteiras e dei um longo gole. Seth, que nunca parecia

ter sede, decidiu entreter a multidão cada vez maior de curiosos. Entre as mudanças de

aula, metade dos estudantes haviam começado a se reunir nas portas. Seth deixava-as

abertas já que esse tipo de coisa acariciava o seu ego. Todos os mestiços eram bem legais,

no entanto, e eles não me tratavam como as pessoas faziam no meu Covenant. De alguma

forma - e eu culpo o Seth totalmente - descobriram que já fiz algumas matanças, o que

aumentou o meu fator legal neste território inexplorado. Nós tínhamos estudantes e

Instrutores assistindo-nos tentando arrancar a cabeça um do outro.

Isso, de uma forma, era o que nós realmente queríamos fazer.

Parecia que a única hora em que nós não brigávamos era quando dormíamos. Não

houve uma repetição da noite que usei Seth como um travesseiro e acho que isso o irritou.

Caminhei pelas esteiras, pegando o final do que o Seth estava dizendo para a mestiça

bonitinha com quilômetros de cabelo ruivo e um peito que me fazia sentir como se

estivesse usando um sutiã esportivo.

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— Talvez depois do treino eu te mostre as minhas bolas de...

Joguei a garrafa de água na cabeça do Seth. Ele se virou e a pegou antes que o

atingisse. Arfando, a menina deu um passo para trás e olhou para mim. Tive a sensação

que se eu fosse qualquer outra pessoa, ela puxaria os meus cabelos.

— Não é legal. — Seth jogou a garrafa no chão.

— Os cinco minutos acabaram. — Pulei alguns passos para trás, sorrindo.

Cross, um mestiço que havia se tornado um regular na porta, cutucou o seu amigo.

— Cem dólares que eles vão lutar até a morte até o final da semana.

— Quem você acha que ganharia? — Will, outro agora familiar rosto, sorriu.

— Eu colocaria minhas apostas naquela ali. — Cross apontou sua cabeça para mim.

Joguei minha cabeça para trás, sorrindo para o Seth. — Eu. — Balbuciei.

Seth parecia entediado.

Peitos parou de torceu seu cabelo por cinco segundos. — Ah não, eu diria que o

Primeiro iria sair no topo.

Meu sorriso sumiu, e decidi ignorá-los. Virei-me para Seth. — Pronto, querido?

Ele se moveu para ficar na minha frente, suas costas para os seus – nossos - tietes. —

Sempre estou pronto para você, coelhinha do abraço.

Minha mão deslizou e passou o seu bloqueio, batendo com força no seu plexo solar.

Ele cambaleou para trás, grunhindo. — Um pouco lento aí, Apollyon?

Para não fazer feio na frente da crescente base de fãs na porta de testemunhas, ele

aproveitou seus elementos. Idiota, pensei. A primeira rajada de vento não me acertou por

um centímetro, mas a segunda foi tão longe que eu tive que parar para rir. A terceira me

acertou certeiramente no peito. Atingi as esteiras com força, mas rolei e fiquei de pé antes

que ele pudesse me prender no chão. Nós lutamos até pararmos para o almoço. Seth

gostava de comer com os estudantes. Isso garantia mais chances para a cabeça dele ficar

ainda maior.

Cross e Will nos convidaram para uma festa que estavam dando sábado à noite. —

Será incrível se puderem ir, — disse Cross. — Os puros estarão fazendo suas coisas, então

ninguém vai nos checar.

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Os puros estavam fazendo suas coisas todas as noites. Até mesmo a cinco andares

acima, eu podia ouvir suas risadas escandalosas nas altas horas da madrugada. Pensar

sobre isso azedava o meu humor. Perguntei-me se ele era um dos puros fazendo festa.

Seth pensou que a festa soava como uma ótima idéia. E a Peitos também. Eu não

tinha tanta certeza, porque os calorões de segunda mão do Seth que eu recebia já eram

ruins a distância. Eu realmente não queria experimentá-los no mesmo lugar. No final do

nosso treino da tarde, Seth pegou minha mão antes que eu pudesse sair sem ele.

— O quê? — eu desesperadamente queria um banho longo e quente.

Sem se importar com a lama gelada cobrindo cada centímetro das minhas roupas,

puxou-me para ele. — Você tem que vir a festa comigo.

Arqueei uma sobrancelha para ele. — Eu não falei que não iria.

— Não disse que ia, e você esteve de mau humor a tarde inteira.

— É porque estou presa contigo, dia e noite.

— Eu não acredito nisso. — O olhar do Seth foi para cima e atrás de mim, e então se

aproximou mais. Eu me preparei, colocando minha mão em seu ombro, mas ele sorriu

para mim — um tipo diferente de sorriso, um que normalmente reservava para garotas

como a Peitos e a Elena. Uma desconfiança súbita se deslocou através de mim, se

intensificando até o décimo grau, quando ele estendeu a sua mão livre e a colocou no meu

queixo.

Minha pulsação foi para as alturas. — O que você...

Seth passou o seu polegar pelo meu lábio inferior, enviando uma mistura estranha de

arrepios por mim. Seu olhar se prendeu no meu, e o amarelo de seus olhos flamejou. —

Você tem lama no lábio.

— Oh. — Limpei minha boca com a mão, me contorcendo para fora do seu abraço. —

Eu tenho...

Aiden estava parado sob uma estátua do Apollo, parecendo tão imóvel e feroz como

o deus. Tive que me esforçar um pouco para não virar e socar o rosto do Seth.

— E aí. — Seth me contornou. — Checando nossos treinamentos, não é? Não tema;

eu estive cuidando muito bem dela.

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Decidi naquele momento: a primeira coisa que eu iria fazer quando Despertasse seria

dar um choque no Seth.

— Claro que sim, — A voz do Aiden era fria.

Seth passou pelo Aiden, dando um tapinha no ombro dele. — Como as sessões do

Conselho estão indo? Mudando o mundo?

O olhar de Aiden foi para a mão de Seth e então lentamente subiu para o seu rosto.

Seja o que for que Seth tenha visto em seus olhos deve ter dito a ele para remover sua mão

o mais rápido possível. Rindo como se estivesse divertido, Seth olhou de volta para mim.

— Te vejo depois, coelhinha do abraço.

O que saiu da minha boca fez os olhos do Aiden se arregalarem, mas somente fez o

Seth rir mais ainda enquanto caminhava na direção do campus.

— Ei, — eu disse, grata que a lama cobria metade do meu rosto em chamas.

Aiden enfiou as mãos na sua calça branca. — Posso ver que o treino com ele está indo

como esperado.

— Eu o odeio, sério mesmo.

— ‘Ódio’ é uma palavra tão forte.

Meu queixo se ergueu. — Você entenderia se passasse cinco segundos com ele.

Seus olhos cinzentos se firmaram no meu rosto, e então meus lábios... Lábios que ele

viu o Seth tocar. — Acho que sim.

— Então por que está aqui? — Eu soei grossa, mas estava eriçada pela frieza em seus

olhos e ainda lambendo as feridas emocionais que Aiden havia aberto.

— Não te vejo há alguns dias então realmente estava checando você.

Eu me senti quente apesar do ar frio e me odiei por isso. — Por quê?

Ele deu de ombros. — Não posso?

Secretamente, meu coração estava pulando de felicidade com a idéia do Aiden me

procurando. Meu cérebro, por outro lado, brutalmente me ordenou para dar o fora. Eu

fiquei. — Acho que sim.

— Vamos voltar?

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— É permitido... Quer dizer, ninguém se importará com um puro andando com uma

mestiça? Não vejo muitos deles fazendo isso aqui. — Pausei, fazendo uma careta. — Na

verdade, nunca vi nenhum puro falando com mestiços aqui.

— O Ministro Telly é um pouco arcaico na maneira como o Conselho e o Covenant

são governados aqui. Quer que as coisas sejam como se séculos de mudança não tivessem

ocorrido... Uma completa separação de raças e espécies.

Nós começamos a voltar na direção da casa principal, juntos. — Então é por isso que

eu nunca vejo mortais por aqui.

Aiden assentiu. — Acho que se pudesse o Ministro Telly voltaria para como as coisas

eram antigamente, para uma época quando a nossa raça devotava cada aspecto das nossas

vidas para os deuses. Ele nem sequer acredita que nós deveríamos ter contato com os

mortais, nem mesmo através de compulsão.

— Bem, como ele espera montar o seu exército de mestiços matadores de daimons?

— Ele me deu um olhar direto. Eu percebi. — Ele não acha que deveriam existir mestiços,

não é?

— Acha que os puros deveriam ser capazes de se abster das atividades carnais que

levam aos pequenos mestiços serem feitos, e que nós deveríamos ser capazes de nos

defender contra os daimons.

Tirei do rosto um fio de lama envolto no cabelo. — Então o que vocês fariam quanto

aos servos? Cuidariam realmente de si mesmos?

Ele encarou o céu nublado. — Há mestiços suficientes no mundo agora para cuidar

dos puros por diversas gerações. Depois disso, eu não sei o que Telly faria.

— Então ele quer ver todos os mestiços escravizados? Legal. Eu sabia que havia uma

razão para ter achado ele um tremendo panaca. O meu julgamento não está tão ruim como

pensei que estava.

Aiden olhou para mim, uma expressão curiosa em seu lindo rosto. — Porque

pensaria que o seu julgamento está ruim?

Olhei para ele incisivamente.

Ele apertou os lábios e assentiu tensamente. — Entendi.

Nós continuamos em silêncio por alguns minutos. — Então... O que está achando

daqui?

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Molhei os meus lábios, pensando sobre Hector. — Eu sinto falta... de casa.

Aiden continuou encarando o céu acima. — Sinto falta também.

Eu me aproximei dele quando nós chegamos perto do prédio do Conselho. Disse

para mim mesma que isso era normal. O Aiden era o meu amigo, meu único amigo. —

Este lugar inteiro me deixa desconfortável. Apenas queria terminar logo a minha

audiência e acabar com isso. É idiota que eu estive aqui todo este tempo, quando a minha

audiência nem mesmo está marcada até o final da sessão. De qualquer forma, como as

audiências estão indo?

— Longas. Os Conselhos passam mais tempo discutindo do que qualquer outra

coisa.

Isso não me surpreendeu. — Já falaram sobre os mestiços sendo transformados?

Sua expressão repentinamente ficou vazia. — Essa discussão provoca a maior parte

das discussões, mas de qualquer forma, o que está planejando fazer com a sua noite?

— O que estou planejando fazer? — Inclinei minha cabeça para cima e suspirei. —

Banho.

Aiden riu, enviando um turbilhão de sensações quentes e de borboletas voando no

meu estômago. Parecia que anos haviam se passado desde a última vez que eu o ouvi rir.

— Você está uma bagunça agora.

Suspirei lamentavelmente. — Eu sei. Acho que tenho lama na boca.

— Bem, posso ter algo que faça você se sentir melhor. — Ele colocou a mão no bolso

e puxou um tubo fino preto com cerca de oito centímetros de comprimento.

— O que é isso?

Aiden sorriu enquanto o afastava do seu corpo. — Estão trabalhando com novas

armas desde a descoberta dos mestiços sendo transformados. Isso é o que eles inventaram.

— Um tubo preto? Uau.

O sorriso dele se transformou em um sorriso irônico. — Só observe. — Seus dedos se

moveram até o final do tubo, pressionando um botão pequeno. Lâminas de titânio

surgiram em cada lado. Aiden balançou o pulso e a lâmina do lado direito se entendeu e

se curvou.

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Meus olhos se arregalaram. — Uau. Eu gosto.

Ele riu. — Eu sei o quanto você gosta de coisas que perfuram. Aqui. — Ele me

entregou a lâmina. — Mas tenha cuidado. As pontas estão perversamente afiadas.

Peguei a arma, segurando-a com reverência. Era mais pesada do que esperava, mas

mesmo assim manejável. Meus dedos se curvaram no objeto frio no centro. Uma

extremidade terminava em uma ponta afiada, enquanto a outra me lembrava uma foice.

Por que tinham feito a lâmina dessa forma?

Então me senti estúpida por não perceber logo de cara. Me encolhendo, apontei para

o fim da foice. — Isso é para arrancar cabeças, não é?

— Sim, nem todos podemos criar akasha como o Seth. E nem mesmo ele consegue

dar choque em daimons mestiços. Usar akasha suga toda a energia também, então apenas

pode usar quando ele realmente precisa.

— Oh. — Fiz um movimento aberto de varredura, sorrindo, apesar do negócio sujo

que ele representava. — Eu me pergunto como será quando eu Despertar. Se ele será

capaz de usar akasha com mais facilidade.

— Não sei. — Aiden olhou a lâmina cautelosamente. — Provavelmente é algo que

você deve perguntar a Seth.

Lembrei-me do que Lucian havia dito sobre Seth retirar poder de mim quando eu

fosse Despertada. — Ele vai me secar, provavelmente.

No momento que estas palavras saíram da minha boca, congelei. Mamãe havia dito

isso. Era o que aconteceria?

Aiden notou a minha repentina imobilidade. — Você está bem?

Pisquei. — Sim, estou ótima. — Pressionei o pequeno botão no final do tubo de

metal. A foice se endireitou antes das suas extremidades voltarem para dentro do tubo. Eu

o entreguei de volta para Aiden, forçando um sorriso despreocupado. — Obrigada por me

deixar vê-lo.

— Sem problemas. — Nós andamos um pouco em silêncio antes de ele falar

novamente. — Você tem certeza que está bem?

— Sim, — Disse, prometendo a mim mesma que Seth e eu teríamos uma conversa

logo.

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Aiden ficou de frente para mim, abrindo a porta para a casa principal. Dentro, nós

ficamos nas áreas menos habitadas enquanto fazíamos o caminho até a escadaria. Nós

passamos por outra daquelas malditas pinturas com a tocha, mas esta tinha algo escrito

em grego antigo.

— Ei, você lê grego antigo, certo?

Aiden parou na minha frente e se virou. — Sim.

Apontei um dedo sujo para a pintura. — O que isso diz?

Ele se aproximou. — Se lê ‘Ordem de Thanatos’.

— Conheço isso de algum lugar. — Cruzei os braços. — O que é todo esse negócio de

Thanatos aqui?

Ele tirou alguns cachos bagunçados de sua testa. — Realmente não sei qual é a

fascinação, mas a Ordem era um grupo místico que existiu séculos atrás. Está no livro de

Mitos e Lendas que te dei.

— Bem, ele está no momento sendo usado como peso de porta no meu dormitório.

Aiden sorriu com isso, e percebi que nós não havíamos discutido ou dito nada ruim

um para o outro. Isso era progresso. — O grupo acabou há séculos atrás. Não me lembro

sobre eles, mas eram bem extremos sobre tradição e os costumes antigos.

Pensei sobre as tatuagens que o Instrutor Romvi e Telly dividiam. — O que acha que

significa se alguém tem uma tatuagem do símbolo de Thanatos?

— Nada provavelmente, já que muitos de nós possuímos tatuagens de vários

símbolos.

— Você não tem. — Logo que as palavras saíram da minha boca, me arrependi delas.

Seus olhos foram de cinza para prateado em uma batida do coração. Imaginei que ele

estava se lembrando de como eu saberia se tinha uma tatuagem escondida em algum

lugar.

— Desculpa, — sussurrei.

— Está tudo bem. — Aiden deu um passo para trás, seus olhos caindo para os meus

lábios de novo, e então de volta para cima.

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O que se passou entre nós naqueles tensos momentos poderia ter botado fogo no

maldito prédio inteiro. Um desejo - profundo e poderoso - ficou vivo. Meus dedos

cavaram na minha própria pele, mas isso não ajudou em nada para diminuir o desejo de

estar perto dele, de estar em seus braços. Pensei ter visto o mesmo olhar em seu rosto.

Apertei meus olhos fechando-os, deixando o desejo louco causar estragos no meu

coração. Aiden havia ido embora quando os abri novamente. Pressionando meus lábios

juntos, dirigi-me até a escada usada pelos servos já que tinha certeza que o Aiden havia

pegado a principal, e ficar presa com ele numa escada... Bem, minha imaginação

superaquecida fornecia possíveis cenários que nunca aconteceriam. Terminei o quinto

lance, quase acertando um servo vindo pela porta do meu andar.

— Sinto muito! Eu deveria...

O mestiço do primeiro dia aqui - o servo com olhos que pareciam tão familiares, me

encarava, incrivelmente alerta. Um segundo se passou antes de ele abaixar o queixo e se

apressar por mim. Eu me virei, agarrando o corrimão. — Ei!

Ele parou.

Desci um degrau. — Eu te conheço de algum lugar?

Sem resposta.

— Sei que você pode falar... você especialmente. — Aproximei-me mais um degrau.

— Não parece com o resto. — Ele se virou tão rápido que me inclinei para trás. Seus olhos

procuravam algo em meu rosto, mas ainda não disse nada. Respirei fundo. — Seus olhos

não estão vidrados como... como a maioria dos servos aqui.

Ele inclinou a cabeça para o lado e subiu um degrau.

Ergui minhas mãos, meu coração batendo forte. — Não vou dizer nada. Sou

totalmente do time Mestiço. Há outros como você, outros que não estão dopados?

Provavelmente não a melhor escolha de palavras, mas ele assentiu.

Refleti sobre isso, estudando suas feições. Poderia ter sido bonito antes da vida de

servo ter chegado a ele, mas continuei voltando para os seus olhos. Eram de um castanho

tão quente. — Por que não fala comigo? — fiz uma careta. — Por que nenhum de vocês

fala comigo?

Sua mão se apertou no corrimão, as juntas se embranquecendo.

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— Ok. De qualquer forma. — Engoli nervosamente. Os servos aqui eram instáveis?

— Você parece familiar para mim.

Isso pareceu ser a coisa errada a se dizer, porque se afastou.

— Espera... Só um segundo. — Mais uma vez, ele parou e me observou, seus lábios

se estreitando em uma fina linha. — Qual é o seu nome?

A porta se abriu e a voz de Marcus soou. — Alex, é você aí nas escadas?

Os olhos do servo se estreitaram e ele desapareceu descendo as escadas. Gemendo de

frustração, me puxei pelos últimos dois degraus. — Sim, sou eu.

— Com quem você está falando?

Balancei a cabeça, passando por ele. — Ninguém.

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Dezessete

Carne vermelha e política não combinavam uma com a outra.

— Marcus, as coisas mudaram, mas em alguns aspectos, não mudaram. — Lucian

girou a taça de vinho entre os seus elegantes dedos. — A posição do Ministro Telly sobre

separação versus integração está ganhando terreno.

— Somente porque ele acredita que os deuses estão entre nós. — Marcus se inclinou

para frente, com voz baixa. — O Telly é um fanático... Sempre foi.

Lucian tomou seu vinho. — Concordo com você, mas infelizmente, a maioria não.

— Gostaria de acreditar que a maioria vê que a maneira que ele pensa é errada. —

Laadan estava sentada a minha frente, seu cabelo puxado em um coque elaborado. O

vestido azul claro de seda que ela estava usando era lindo. — Nós estamos à beira da

mudança. A Ordem da Raça também deve mudar.

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Perfurei meu bife, vendo os líquidos saírem dele. Era horrível sentar aqui e não

poder falar nada. Eu apenas podia imaginar as palavras saindo da boca do Seth se

estivesse aqui, mas ele não estava em nenhum lugar para ser visto.

Eu meio que sentia falta dele.

Um prato de tiramisu deslizou na minha frente. Com a política esquecida, olhei para

o puro de olhos cinza sentado ao meu lado. Quem tinha desenhado o mapa de assentos

precisava ser morto. — Obrigada, — eu murmurei.

Aiden assentiu e voltou a seguir a conversa. Enfiei minha colher na tigela e tentei não

ler muita coisa em seu gesto.

— Nadia e eu faremos de tudo para garantir que a Ordem da Raça seja mudada, —

disse Lucian, — Mas receio que há muitos que conspiram contra isso, e não vão parar por

nada para garantir que as coisas permaneçam iguais.

Engasguei com a minha sobremesa e todo mundo parou para me olhar. — Desculpa,

— eu ofeguei, acenando minha mão na frente do rosto.

Lucian franziu a testa. — Você está bem, querida?

— Você... Você quer ver a Ordem da Raça mudada?

— Claro, — ele respondeu. — Já é hora para os mestiços terem representação no

Conselho. Apenas algumas horas atrás eu estava falando para o Seth que com vocês dois,

nós estamos mais próximos dessa mudança do que nunca. Não seremos nós, puros-

sangues, que traremos tais coisas maravilhosas. Será você e o Seth.

Minhas sobrancelhas subiram na minha testa.

Lucian deu um tapinha na minha mão. — Puros como Telly acreditam que os deuses

prefeririam voltar como era antigamente.

Encarei a mão pálida de Lucian, incapaz de largar da suspeita inata que eu sentia em

relação a ele. Ele deu outro tapinha na minha mão e sorriu. — Querida, você já pensou

sobre o que estará usando no baile da próxima semana?

— O quê? — eu não tinha idéia do que ele estava falando.

— O Baile Anual de Outono? Você está convidada, o que é uma grande honra para

você e Seth. Os dois serão os primeiros mestiços a comparecerem. Deve achar algo decente

para usar. — Ele olhou o outro lado da mesa. — Laadan, você a ajudaria?

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Ela assentiu. — Claro.

Baile, que baile? Olhei ao redor da mesa, aturdida. Aiden parecia levemente

entretido com a idéia que eu vá participar do baile deles. Fiz uma careta.

— Então está acertado. — Lucian se virou novamente para o Marcus, já se

esquecendo de mim. — Você recebeu alguma notícia do Reitor de Dakota do Sul?

Marcus balançou a cabeça. — Foi um estudante que foi transformado... um mestiço.

O puro não foi morto.

Como no mundo eles podiam pular de política, para um baile, e agora para ataques

de daimons? E eu que pensava que tinha a capacidade de concentração de uma formiga

que tomou energético.

Aiden se inclinou para frente. — Então cada Covenant teve um ataque, mas o

Conselho acredita que nenhum desses eventos estão relacionados?

Peguei minha colher, fingindo não escutar.

Lucian se encostou novamente em sua cadeira, estudando o Aiden. — Nós não

somos tão tolos para acreditar que os daimons não tem algo na manga, mas o quê? Eles

não podem realmente acreditar que podem tomar os Covenants?

Os dedos de Aiden ficam tensos em volta de sua taça. — Eles já não tentaram,

Ministro? As únicas coisas que eu ouvi o Conselho discutir foram quais bebidas serão

servidas no Baile, se um novo Covenant deveria ser aberto no Meio-Oeste, e outros

assuntos insignificantes.

Lucian o observou por cima da borda da taça. — Para alguém que não demonstra

nenhum interesse em um assento no Conselho, você tem muitas opiniões sobre como as

sessões estão sendo procedidas.

Dois pontos brilhantes apareceram nas bochechas de Aiden. Senti a necessidade

imediata de defendê-lo. — Ele tem razão, sabia. — Quatro pares de olhos se viraram para

mim. Merda. — Veja o que aconteceu em casa. Eles passaram pelos nossos Guardas e... e

mataram pessoas. Eles estão planejando algo... Algo grande. O Conselho não deveria estar

preocupado com isso ao invés de um baile estúpido?

Marcus me olhou feio. — Se você já terminou o seu jantar, pode se levantar.

Eu bati minha colher na mesa. — Se você não quer minha opinião então talvez não

devesse falar sobre estas coisas na minha frente.

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— Entendido. — Marcus encontrou o meu olhar furioso. — Boa noite, Alexandria.

Envergonhada por ser dispensada dessa forma, me levantei. Nenhum dos puros

sentados no elaborado salão de jantar olhou quando passei por eles, e nem os servos que

estavam removendo as bandejas e repondo as bebidas. Procurei no salão, mas o servo que

eu tinha interesse em encontrar não estava servindo as mesas.

Não havia nada para mim a não ser voltar para o meu quarto, e eu preferia enfiar

minha cabeça em um forno do que voltar lá. Vaguei pelos corredores sem destino, tão

despercebida quanto os mestiços que estavam nesse buraco infernal.

Senti mais falta ainda da Carolina do Norte... E de Caleb. Deuses, eu queria poder

ficar online e conversar com ele como nós havíamos planejado. Pestanejei para dissolver as

lágrimas quentes e entrei em uma grande sala com cheiro de mofo - uma biblioteca.

Estranho eu me encontrar em uma biblioteca, já que ler realmente não era uma coisa

favorita minha. Algumas cadeiras solitárias estavam acomodadas ao lado de alguns

abajures antigos, mas elas pareciam estar cobertas de pó. Fui até as pilhas, trilhando meus

dedos por cima das brochuras dos livros. Talvez encontre um daqueles livros de romance

histórico - do tipo que mamãe costumava ler.

Pouco provável.

Nada no cômodo parecia ter sido tocado há anos. Eu nem mesmo conseguia começar

a decifrar a maioria dos títulos. Mas continei, qualquer coisa para evitar a dor que os

pensamentos sobre Caleb sempre traziam. Tentei pronunciar os títulos, mas desisti depois

do quinto. Suspirando, coloquei meu cabelo para trás e me agachei.

— Impronunciável. Impronunciável. Impronunciável. — Inclinei minha cabeça para

o lado. — Realmente impronunciável. Isso aqui nem deve ser uma palavra de verdade.

Ah, vamos lá... — Meus dedos pararam em um livro grosso preto com letras douradas.

Não tinha idéia quais palavras eram, mas reconheci o símbolo na brochura. — Tocha de

cabeça para baixo... — Peguei o livro.

Um leve arrepio percorreu o meu corpo. Minha cabeça saltou para cima e dei uma

olhada na biblioteca. Não havia como confundir a sensação de estar sendo observada.

— Alexandria, você está aqui?

Larguei o livro e me endireitei. — Laadan?

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Ela apareceu na beirada das pilhas. Na luz difusa e com o vestido claro, ela parecia

quase etérea. Um sorriso hesitante puxou seus lábios carnudos. — Não estou

interrompendo nada, estou?

— Não. Estou apenas procurando algo para ler, mas tudo está em grego antigo.

Seus olhos cinzentos cairam para os livros. — Não sei porque Telly estoca a

biblioteca com livros que a maioria de nós não consegue ler.

Eu me aproximei, mas mantive uma distância decente entre nós. — Pensei que todos

os puros conseguiam ler na língua antiga.

Laadan sorri suavemente. — Todos nós somos ensinados na escola, mas eu

rapidamente esqueci. A maioria de nós não consegue.

Exceto Aiden, pensei. Pensar nele me lembrava da primeira vez que eu vi Laadan,

parada ao lado de Leon e negociando com Marcus para permitir que eu ficasse. — Nunca

tive uma chance de te agradecer.

— Pelo quê?

— Você convenceu o Marcus a me dar uma chance. Se você não estivesse lá, não acho

que ele teria permitido que eu voltasse ao Covenant. — Mordi meu lábio inferior e dei

outro passo na direção do final das fileiras. — Por que você me defendeu? Você sabia...

Quem eu era?

Ela alisou as mãos na frente de seu vestido enquanto olhava para a porta. — Se eu

sabia que ia se tornar uma Apollyon? Não, mas de uma forma, eu conhecia você sim.

Mais do que apenas curiosa, eu saí por entre as prateleiras.

— Quando tinha sua idade, eu frequentei o Covenant da Carolina do Norte. Sua mãe

e eu éramos próximas. Até hoje, queria que nós não tivéssemos nos afastado, que eu

tivesse ficado na Carolina do Norte. Talvez as coisas teriam sido diferentes.

Surpresa me deixou sem palavras. Laadan sorriu de novo. Pela primeira vez, os

olhares nostálgicos que ela tinha quando me olhava fizeram sentido.

Ela assentiu. — Você parece tanto com a Rachelle quando ela tinha sua idade. É um

pouco mais selvagem, mas acho que isso é seu pai em você.

Meu peito se apertou. — Você... você conheceu o meu pai?

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— Sim. — Ela se aproximou, abaixando a voz. — Uma escolha muito melhor para

Rachelle do que o Lucian, mas sua mãe realmente não tinha escolha. Muitas pessoas irão

te dizer que ela conheceu o seu pai depois de ter casado com Lucian, mas isso não é

verdade. Ela conheceu o seu pai primeiro... Amou o seu pai bem antes que Lucian entrasse

em cena.

— Mas... Eu não entendo. Ela casou com Lucian quando era jovem e demorou pelo

menos cinco anos até eu nascer.

Havia uma expressão distante em seus olhos enquanto ela se lembrava de um

passado do qual eu não era familiar. — Então pode imaginar o escândalo quando você

nasceu, mas não deixe que isso manche o que os seus pais tiveram. O amor deles era do

tipo escrito naqueles livros bobos que sua mãe costumava ler. Ela e Alexander começaram

apenas como amigos - nós três na verdade - mas com o passar dos anos a amizade deles

cresceu em algo muito mais profundo.

Escutar o nome do meu pai falado parecia estranho, porém estranhamente

maravilhoso... como se ele fosse uma pessoa de verdade que existiu uma vez.

— Rachelle tentou fazer a coisa certa. Ela ficou longe do seu pai tanto quanto

conseguia depois que se casou com o Lucian... Casar com Lucian era o que era esperado

dela. Estava determinada a seguir as regras da nossa sociedade, mas amor como o deles

não poderia ser negado por muito tempo, não importa o quão errado fosse. — Ela pausou,

olhos arregalando. — Alexandria, você está bem?

— Sim. — Eu balancei a cabeça. — Desculpa. É que a mamãe nunca falava dele. Tipo

nunca. Eu não tinha idéia que isso era algum tipo de amor épico.

Ela pressionou seus lábios juntos e se virou. Andando na direção de um dos abajures

com vidros manchados de verde e dourado, ela balançou a cabeça. — Acho que era muito

difícil para sua mãe falar sobre ele depois de tudo.

Eu a segui. — Como ele era?

— Alexander? — Laadan olhou por cima do ombro com um sorriso triste. — Um

bom homem, leal até ao fim, muito bonito, e Rachelle era o mundo inteiro dele. — Ela se

virou, cruzando os braços na cintura. — Você parece tanto com ela, mas tem a

personalidade dele. Quando Marcus leu os seus arquivos no escritório dele aquele dia,

tudo o que eu podia pensar era no Alexander. Ele tem uma baita força de vontade, um

pouco imprudente e selvagem.

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A maneira como ela falava sobre o Alexander, como se ele ainda estivesse aqui, fez

eu me perguntar se ela sentia alguma coisa por ele. — Me pergunto o que ele pensaria de

mim. — Ri de mim mesma. — Isso soou tão estúpido.

— Não, nem um pouco. Ele ficaria orgulhoso de você, Alexandria. Espero que você

saiba disso.

— Bem, eu sou uma Apollyon.

Ela esticou a mão, dando um tapinha no meu braço. — Não por causa do que você se

tornará, mas por causa de quem você já é.

O ardor das lágrimas atingiu os meus olhos, o que pareceu ser tão fraco. Eu me

afastei, mexendo na corrente do abajur. — Não sei sobre isso. Deveria ter feito algo

quando mamãe deixou o Covenant. E eu realmente não deveria ter ido atrás dela quando

foi transformada, ou pelo menos, quando Caleb apareceu, deveria ter voltado para o

Covenant, mas não. Quer dizer, o que eu estava pensando?

— Você fez o que acreditou ser certo. — Ela caminhou até o meu lado, descansando

suas mãos sobre a velha mesa arranhada onde o abajur estava. — Rachelle provavelmente

teria te dado umas palmadas por ter feito algo tão incrivelmente perigoso, mas você se

certificou que ela tivesse paz.

— Você acha?

— Sim.

Um pouco de peso foi erguido dos meus ombros, mas minha respiração ainda estava

saindo entrecortada. — Cometi erros, bem feios, muitas vezes. — Apertei a corrente entre

os meus dedos. — Eu não acho que ele ficaria muito orgulhoso.

Laadan colocou a mão sobre a minha. — Ele ficaria orgulhoso. Você seguiu o seu

coração quando se tratou da Rachelle, e sim, algumas decisões que tomou podem não ter

sido as certas, mas você sabe disso. Aprendeu com elas. E assumindo perante Telly o seu

papel no que aconteceu com o seu amigo? Isso foi corajoso e maduro.

Eu olhei para ela... Uma puro-sangue. Isso tudo parecia estranho para mim. Demorei

uns dois minutos para fazer sentido dos meus próprios pensamentos e emoções

bagunçados sobre o que ela havia me dito sobre a minha mãe e o meu pai. — Como ela o

conheceu... Meu pai? Não havia muitos mortais espalhados pelos Covenants. Ele

trabalhava em Bald Head?

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O sorriso da Laadan pareceu estranho, quase nervoso. Ela se afastou da mesa,

percorrendo as mãos por cima dos braços. — Ela o conheceu na Carolina do Norte.

Havia mais do que isso, o que me encheu de mais curiosidade ainda. Então mamãe

havia amado um mortal por muitas luas. Eles não foram os primeiros ou últimos, eu

imaginei. — O que ele estava fazendo lá? Como ele morreu?

Um estrondo nos fez pular. Virei para os lados, esperando ver uma tonelada de

livros no chão.

Laadan riu nervosamente. — Eu esqueço que há coisas aqui que se movem

despercebidas.

Olhei para ela afiadamente. — O que você quer dizer? Espíritos?

Ela piscou e riu de novo. — Sim, espíritos. Eu sou um pouco supersticiosa. Essa

biblioteca não ajuda, arrepiante como ela é. Eu acho que uma das prateleiras caiu na pilha.

— Laadan veio para o meu lado, observando as fileiras rapidamente e um pouco ansiosa.

— Acontece de tempos em tempos. De qualquer forma, se você for igual à Rachelle, você

ama sorvete e torta.

Eu me virei de volta para ela. — Baunilha...

— E torta de abóbora, — ela terminou, sorrindo. — Sei onde nós podemos arrumar

um pouco. Interessada?

Minha boca se encheu de água. — Estou sempre interessada em qualquer coisa

relacionada à comida.

Na porta, estremeci e olhei por cima do ombro. A sensação de olhos me perfurando

nas minhas costas era sinistra, mas ninguém estava lá... Ninguém que eu podia ver.

Meu pai ficaria orgulhoso de mim, mesmo com todas as coisas estúpidas que eu fiz -

e provavelmente ainda faria? Parecia difícil de acreditar, mas Laadan o havia conhecido e

ela não tinha motivo para mentir para mim.

— Alex, você está prestando atenção em mim?

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— Hein? — Pestanejei, erguendo os meus olhos da pedra. Nós estávamos em uma

área florestada fora do labirinto, já praticando há algumas horas. — Sim, eu te ouvi.

Desvie. Corra. Coisas.

Seth cruzou os braços.

— O quê? — Fiquei de pé e limpei o meu traseiro.

— Acho que você acabou de dormir. Isso machucaria os meus sentimentos... Se eu

tivesse algum.

— Desculpa. Você está me entediando um pouco.

— Bem, ok então. Vamos trabalhar. — Seth ergueu a mão, como se fosse jogar uma

bola de beisebol. Uma bola azul de chamas se formou na sua palma aberta. Ele liberou a

pequena bola, lançando-a diretamente na minha cabeça.

Eu me abaixei facilmente. — Chato.

Seth soltou outra bola, mas desta vez ele a mandou para os meus pés. Eu pulei na

pedra e bocejei alto. Um sorriso malicioso puxou seus lábios enquanto ele lentamente se

aproximava de mim. Meu pé pegou o ombro dele logo que ele ficou próximo ao meu

alcance. Ele retaliou ao mandar duas bolas de fogo - uma na minha cabeça e outra nas

minhas pernas. Eu tive que fazer uma boa manobra com as pernas para evitá-las, mas tive

sucesso e ainda consegui ficar no topo da rocha.

Mostrei minha língua. — Você pode fazer melhor que isso.

Ele jogou suas mãos para cima e uma rajada de vento me atingiu bem no peito. Não

havia nada que eu pudesse fazer para bloquear algo assim.

— Lembre-se de abaixar e rolar, — Seth avisou, riso em sua voz.

Se eu não estivesse voando no ar, teria mostrado o dedo do meio para ele. No

entanto, eu me lembrava sim do ‘abaixar e rolar’. Atingi o pedaço de grama fresca com os

ombros primeiro. Não dei uma chance para o meu corpo reconhecer o impacto. Ficando de

pé, suspeitava que Seth estivesse pronto para a sua jogada.

Eu estava certa.

Uma bola de fogo roçou minha cabeça enquanto eu me lançava para o lado. Nós

ficamos nessa até que ele me atingiu com o elemento de ar, me derrubando, e não soltou.

Presa no chão sujo, olhei feio para ele.

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— Levante-se, — ele ordenou, ficando de pé sobre mim.

— Eu não consigo me levantar. E você sabe disso.

Seth inclinou sua cabeça para o lado e suspirou. — Isso está ficando velho, Alex.

Você é bem sucedida em todos os aspectos de luta... Não tão boa quanto eu, mas quem

estou enganando? Ninguém é melhor do que eu.

Revirei meus olhos. — Você gosta de se ouvir falar, não é?

— Sim. Sim, eu gosto.

— É por isso que você não tem amigos.

— E da última vez que chequei, eu sou o seu único amigo.

Minha mandíbula se apertou. Ponto para Seth.

— Mas esse não é o tópico da conversa. Nós estamos discutindo que você não pode

quebrar o elemento do ar, e é o elemento mais comum que os puros e daimons podem

lançar. Esse é o problema.

— Meu Deus, sério mesmo?

Ele aumentou a pressão até que parecia que alguém estava sentando no meu peito.

Eu me contorci, mas foi só isso. — O que te falei sobre os elementos, Alex?

— Algo sobre... a mágica estar... toda na cabeça, — eu ofeguei.

— Não. Os elementos são bem reais, obviamente. Você tem que se forçar para passá-

los, Alex. Empurre.

Eu ainda não entendia o que ele queria dizer com empurre, mas ele continuou me

dizendo para fazer isso toda vez que isso acontecesse.

— Se você não conseguir passar por isso irá se tornar lanchinho de daimon de novo,

Alex. Eles irão sentir o cheiro do seu éter e ficarão loucos. Você tem certeza que quer ser

uma Sentinela?

Agora ele estava apenas me irritando. — Cala a boca, Seth.

Ele deu um passo em cima de mim, plantando suas pernas em cada lado do meu

corpo contorcido. Se abaixando, trouxe o seu rosto próximo ao meu. — Lembre-se, você

não é um lanche para eles; você é como o melhor bife deste lado do continente.

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— Você diz isso... como se fosse uma coisa boa.

Seth sorriu como se ele soubesse algum tipo de piada particular. — Concentre-se.

Você precisa se concentrar em se mover para frente. Imagine-se sentando, Alex.

Eu o encarei.

Ele suspirou, revirando os olhos. — Feche seus olhos e imagine-se sentando.

Xingando baixinho, fiz o que ele pediu. Fechei os meus olhos e me imaginei

sentando. — Ok.

— Concentre-se nessa imagem. A segure em sua mente. Concentre-se.

Fiz o que ele pediu, mas tudo o que consegui foi fazer uma perna se dobrar. E isso

me exauriu. — Isso é ridículo. Um daimon já me teria matado a essa altura.

— Um daimon já teria mordido a sua pele agora. — Seus olhos voaram para os meus,

se recusando a desistir. — Mas você sabe disso, não é?

Uma respiração irregular vazou de meus lábios firmemente pressionados. Minha

pele praticamente queimando por causa da lembrança, e Seth sabia disso.

— Quantas vezes você foi marcada, Alex?

Seth esticou a mão e tirou o cabelo do meu pescoço. — Posso contar pelo menos três

deste lado do seu pescoço.

— Pára, — eu sibilei.

Os dedos dele se moveram para as cicatrizes do outro lado. — Eu vejo três mais,

Alex. — Então seus dedos mergulharam sob a gola da minha blusa térmica, acariciando

mais cicatrizes. — Quantas aqui? Duas ou três... Ou até mais do que isso? Quer acrescentar

mais algumas? Não? Então sente-se.

Eu tentei, porque realmente queria bater na cabeça dele. Cada músculo no meu corpo

ficou tenso, mas ainda não conseguia quebrar o aperto. — Pare agora!

Frustração incendiou seus olhos. — Quantas aí nos seus braços?

— Pare! — Algo se moveu dentro de mim, uma sensação profunda de consciência.

De repente, tudo ao meu redor parecia aguçado e vívido. O céu nublado estava ainda mais

nublado, o grasnar dos corvos parecia mais próximo, e o tom dourado da pele do Seth

havia tomado um brilho perolado.

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— Então sente-se! Quebre o aperto, Alex!

Duas coisas aconteceram em seguida.

Eu senti a raiva estourar dentro do meu ser... Uma bola bem enrolada de energia se

desvendando. Era tão forte, tão vibrante, que pensei que parecia a corda que eu havia

visto se enrolar ao redor do Seth e eu na primeira vez que nos tocamos.

Seth se inclinou para frente, indo pegar os meus braços dessa vez. Muito perto, ele

estava muito perto. A bola se levantou, meu coração parou, e algo - a pedra onde nós

estávamos - explodiu.

A rocha se quebrou assustando Seth o bastante para ele parar com o vento sufocante.

Cada músculo no meu corpo estava se esforçando para se levantar. Então quando ele

soltou, eu voei para cima tão rápido que bati bem nele. O impacto do meu corpo derrubou

Seth de costas. Seus braços imediatamente foram ao meu redor.

Eu não tinha certeza o que isso tinha a ver com o treinamento.

Nós permanecemos desse jeito por um segundo, os dois lutando para respirar. Eu

não conseguia processar isso ou nem mesmo começar a entender o que tinha acontecido.

— Alex...?

Empurrei o peito dele e o encarei. As marcas do Apollyon se mexiam na pele dele

muito rapidamente. Nunca vi elas se mexendo desse jeito antes. — Humm...

Os olhos de Seth estavam loucos, praticamente brilhando. — Eu não fiz isso.

— Eu também não.

— Papo furado. — A expressão dele era de total espanto.

Engoli. — Ok. Talvez tenha feito.

— Como você se sentiu por dentro, quando isso aconteceu?

— Eu não sei, meio como uma bola estourando no meu estômago.

Os lábios dele se abriram, trabalhando lentamente. — Isso não pode ser possível, mas

é. Você já está Despertando. Eu não acredito, mas isso explica como você foi capaz de

sentir minhas emoções.

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— O quê? — Comecei a me sentar, mas as mãos dele caíram para os meus quadris,

segurando-me no lugar. — O que você quer dizer com estou Despertando? Estou tipo,

adiantada ou algo assim?

Seth tentou rir, mas saiu mais como um suspiro. — Não. Eu não sei. Quer dizer,

quem sabe? Certo? Os outros dois Apollyons nunca estiveram próximos um do outro

antes de Solaris Despertar. Ele apenas sentiu Solaris depois que ela Despertou. Talvez...

talvez seja isso que aconteça. Algo assim já aconteceu antes?

— Sim, eu explodo rochas no meu tempo livre. Cara. Não. — Comecei a me mexer de

novo. — Seth, você pode me soltar.

Ele sorriu o tipo de sorriso que aquecia sua expressão. — Não acho que estou pronto.

E tire esse olhar do seu rosto. Isso não é uma coisa ruim, Alex. Não... nem um pouco. Isso é

bom. Nós podemos começar a trabalhar nos seus poderes e...

Eu desliguei para o que ele estava falando. O olhar assustado no meu rosto não tinha

nada a ver com explodir rochas. Há muito eu havia chegado a termos com o fato de que eu

seria algum tipo de arma de destruição em massa um dia. O olhar veio do fato de que

nossos corpos estavam se tocando em todos os locais estratégicos que os corpos gostavam

de se tocar.

— Alex, você está me ouvindo?

— Sim. — Encarei as runas brilhando em seu pescoço. Quando elas alcançavam o seu

pulso, palpitavam. Eu me mexi. Uma dor crua me atingiu com força. Queria tocá-las...

Precisava tocá-las. Algo, eu estava certa, iria acontecer se eu as tocasse.

— Você não está prestando atenção em mim. — Seth suspirou. O movimento nos

deixou mais próximos. — Sabe, — Seth estava dizendo, — isso abre tantas possibilidades.

Nós...

Estendi a mão direita e toquei a runa em seu pescoço, onde seu pulso martelava, com

apenas a ponta do dedo. Uma explosão de luz crepitante azul aconteceu. A luz se dividiu,

uma ponta passando pela ponta dos meus dedos, a outra pulsando no pescoço dele.

Alfinetadas de dor estouraram na minha mão, pungente e intensa.

As costas de Seth se arquearam enquanto os dedos dele se afundaram em mim.

Embaixo da minha mão esquerda, seu peito subia e caía rapidamente. Seus olhos se

abriram, arregalados e cegos. Os glifos no rosto dele mudaram de forma e cor, se tornando

um tom de azul que espelhava o céu segundos antes do anoitecer.

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O ar estalou e crepitou enquanto a luz azul se derramava no chão, e daquela luz azul,

outra brilhou com muito mais força, mais intensa. Um cordão âmbar radiava do glifo em

seu pescoço rapidamente, se retorcendo ao redor do meu dedo, se retorcendo sobre a

minha mão, subindo o meu pulso... Tentando nos conectar mais uma vez.

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Dezoito

Eu puxei minha mão de volta e isso me seguiu, uma linha âmbar arqueando pelo

espaço entre nós. Eu precisava levantar – me afastar, e colocar a maior distância possível

entre nós, porque isso era estranho como o inferno. — Eu...

A corda âmbar desapareceu, assim como a luz azul. Seth caiu de costas no chão,

deixando escapar um suspiro irregular.

— Seth? Você está bem? — Apertei minha mão que latejava contra meu peito. Seth

não estava se movendo, não estava falando. Medo floresceu em meu peito. E se eu tivesse

matado Seth? Sei que disse que queria matá-lo - muitas vezes - mas não era o que eu

queria. Não de verdade. — Seth, por favor, diga alguma coisa.

Uma eternidade passou antes de ele abrir os olhos. — Isso... Foi maravilhoso.

Uma súbita onda de tontura colidiu em mim e meu estômago caiu.

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A cabeça de Seth se inclinou para o lado, seu sorriso preguiçoso e fraco. — Tenho

certeza que eu poderia parar um caminhão com minha mão agora.

— Okay... — Tomei uma respiração rasa. — Isso não me diz nada. E eu realmente

quero saber o que aconteceu quando toquei suas marcas…

Seth se torceu, rolando em minhas costas em um movimento fluido. Pairando acima

de mim, ele usou um braço para se sustentar. Apenas nossas pernas se tocavam, mas ainda

parecia como... Bem, como se toda parte de nós ainda estivesse se tocando. — Anjo, aquilo

é como preliminares de Apollyon.

— De verdade?

— De verdade. — Ele estendeu a mão, e tirou uma mecha de cabelo da minha

bochecha.

Engoli em seco. — Eu não sabia disso. Erro meu, mas aquilo é meio estranho.

Normalmente demora mais com a maioria dos garotos. — Não fazia ideia do porque tinha

dito aquilo.

Os dedos de Seth passearam em minha bochecha, até meu queixo. — Demora, Anjo?

Bem, quanto tempo isso leva?

Essa provavelmente era uma conversa que não deveria ter com Seth, especialmente

quando estava praticamente deitado em cima de mim. — Acho que de todas as pessoas,

você devia saber.

Sua mão escorregou para o meu pescoço. — Tenho um segredo para te contar. Não é

preliminar de Apollyon, estou apenas brincando com você. Não faço idéia do que era.

— Deuses, eu te odeio. — Corada de vergonha, tirei sua mão de mim.

Seth pegou minha mão e se sentou, me puxando junto dele. — Como você se sente?

— Bem. Estou apenas um pouco tonta.

Ele acenou. — Eu vou te dizer, minha pele ainda está formigando. Cara, essa foi uma

corrida dos infernos. Nunca senti nada como isso. — Ele virou minha mão, com a palma

para cima. — Nós deveríamos tentar… o que diabos? — Seus dedos deslizaram sobre a

minha palma enquanto ele a estudava, depois seus olhos se arregalaram. — Oh. Wow.

— O que?

Ele segurou minha mão entre nós. — Olhe.

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Cerrei os olhos na minha mão. — Não vejo nada.

Suspirando, ele virou minha mão, e meu queixo caiu no chão. Uma linha tênue azul

marcava o centro da minha palma com uma pequena linha através dela. Teria parecido

com uma cruz, se não fosse a linha horizontal inclinada.

— Oh. Meus. Deuses. — Puxei minha mão, recuando. — Eu tenho uma runa na

minha mão. É uma runa de Apollyon, não é?

Seth descansou as mãos sobre os joelhos. — Acho que sim. Eu tenho uma assim.

— Mas porque ainda está ali? Porque está ali em primeiro lugar? — Eu lancei minha

mão varias vezes, balançando-a, mas a tatuagem azul clara ainda estava lá. — Você

consegue ver, certo? Agora mesmo, você consegue ver?

— Sim. Ela não desvaneceu. — Seth se inclinou para frente, pegando minha mão. —

Pare de balançá-la como se fosse um maldito ioiô. Isso não as faz desaparecer.

Encontrei seus olhos com meus próprios amplos. — O que as faz desaparecer? As

suas foram embora. Elas não ficam ali o tempo inteiro. Eu não Despertei, não é? Espere - e

se eu tiver despertado? Precise ou queira algo, e eu vou ver se também quero. Vá em

frente. Tente.

Suas sobrancelhas levantaram. — Whoa. Alex, acalme-se. Respire fundo. Falo sério.

Pegue uma respiração agradável, longa e profunda.

Eu inalei e liberei o ar lentamente. — Isso não ajuda.

Ele parecia como se quisesse rir. — Alex, pare de surtar. Você não Despertou. Eu

saberia, e enquanto eu me sinto um pouco diferente…

— Como você se sente diferente?

— Eu me sinto... Mais carregado, mas você não Despertou.

Exalei rudemente. — Então o que aconteceu?

O rosto de Seth suavizou e todos os traços de presunção e frieza desapareceram,

revelando uma qualidade jovem, sincera que eu nunca tinha visto antes. — Acho... que é

apenas mais um produto da conexão entre nós. Minutos antes, você usou o elemento da

terra - terra, Alex. Esse é um dos elementos mais poderosos. E eu não sei como você fez

aquilo, mas acho que provavelmente está se alimentando de mim. Isso faz sentido.

— Faz?

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Ele acenou. — Acho que sim. Eu também acho que isso é o que aconteceu quando

você me tocou - a propósito, por que você me tocou?

Olhei para a minha marca, corando. — Eu... não sei.

— Você realmente não sabe por quê?

Fiz uma careta. — Não.

— Tanto faz. — Seth não soou como se acreditasse em mim. — Tudo bem, isso não é

motivo para surtar, certo?

— Certo.

— Nada mudou, de verdade, e está tudo bem. Você me entendeu? Tudo está bem.

Nós estamos juntos nessa.

Nesse instante, ele me lembrou de Aiden - quando eu descobri sobre ser um

Apollyon e como Aiden tinha me ajudado. Levantei. Minhas pernas pareciam de borracha.

— Terminamos com a prática?

Ele ficou de joelhos, erguendo a cabeça. — Sim.

Eu assenti e me afastei, mas Seth me chamou. — Alex, eu não acho que deveríamos

contar a alguém sobre isso, tudo bem?

— Okay. — Eu podia concordar com isso. Comecei a voltar para a casa principal,

com a mente em um turbilhão. Olhei para a minha mão. Eu já tinha uma marca de

Apollyon.

Uma que não parecia desaparecer.

Durante o jantar, desculpei-me após o primeiro prato. Eles faziam as refeições de

quatro pratos e eu geralmente ficava para a sobremesa, mas essa noite foi diferente. Minha

mente estava em minha mão formigante.

Aiden olhou para mim com curiosidade, mas não comentou sobre minha falta de

apetite. No entanto, senti Seth levantar e me seguir para fora da sala de jantar.

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— Você está se sentindo bem? — perguntou Seth.

Meu olhar fitou os olhos dele. Eles pareciam anormalmente brilhantes, como dois

pequenos Sóis queimando. — Sim, só não estou com fome.

Ele me deu um olhar de reconhecimento quando se abaixou e pegou minha mão

direita. Ele a virou. — Ainda está aqui.

Eu assenti. — Tentei lavá-la mais cedo.

Seth deu uma risada surpresa. — Oh, Alex, você não pode lavá-la!

Minhas bochechas coraram. — Sim, eu sei disso agora.

Ele passou o polegar sobre a linha reta da runa, provocando um forte suspiro em

mim. Senti o toque da borboleta por todo o caminho dos pequenos ossos de meus dedos.

Puxei minha mão livre e me afastei.

Seus olhos se estreitaram em mim. — O que você sente?

Enrolei minha mão, cobrindo a runa. — Só me sinto estranha.

Seth procurou por minha mão novamente, mas eu me esquivei dele. Ele atirou-me

um olhar irritado. — O que você está planejando fazer agora?

Pensei em dizer que isso não era problema dele. — Estou me sentindo um pouco

tensa. Acho que vou trabalhar nisso ou algo assim.

Ele sorriu. — Quer que eu vá com você?

— Não. — Balancei a cabeça. — Preciso de um tempo sozinha.

Surpreendentemente, Seth deixou o assunto e voltou para a sala de jantar. Corri

pelos degraus e agarrei meu moletom, então parti para a arena de treinamento.

Não demorou muito para eu ficar agitada, balançando e chutando um manequim.

Seth preferia não trabalhar com eles. Ele preferia toda a coisa de contacto.

Vai entender.

Não sei quanto tempo passou enquanto eu batia na droga do manequim, mas

quando parei, estava ofegante e coberta de suor. Descansei minhas mãos em meus joelhos.

O boneco balançou na minha frente. Lutar não tinha feito nada para me livrar da

frustração geral de... Tudo.

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Eu me ajeitei e virei minha mão direita.

A runa azul estava fraca, mas estava lá. Fui para onde tinha deixado meu moletom, e

coloquei-o.

Um fino arrepio rastejou sobre mim. Virando-me, dei uma olhada na sala de

treinamento, vazia. Era o mesmo sentimento da noite em que deixei o escritório de

Marcus. Como um aviso, me dizendo que não estava sozinha. Eu não ia ignorar isso.

As luzes no teto piscaram uma vez e depois pararam, mergulhando a sala na

escuridão. Gostaria de ter uma super-visão ou algo assim, porque não conseguia ver nada.

Nem ao menos onde a porta estava, e eu realmente queria sair dessa sala. Todos meus

sentidos estavam gritando para eu ir embora. Algo estava errado, algo não estava…

O ar agitou atrás de mim, levantando o cabelo úmido na base do meu pescoço,

acariciando a pele com um toque de um amante. Eu chicoteei ao redor, atacando nada

além do ar.

Minha respiração saiu áspera, minha voz numa alta frequência. — Quem está aí?

Nada... Então eu ouvi: — Alexandria, me ouça.

As palavras – oh, deuses, as palavras suavizaram minha pele como a mais rica seda.

Meus braços caíram para os lados enquanto meus olhos se fechavam. Uma pequena parte

do meu cérebro que ainda estava trabalhando reconheceu a compulsão, mas o pensamento

se apagou.

Senti o ar agitado novamente. Uma mão deslizou em torno da minha nuca, uma voz

suave sussurrou em meu ouvido. Meus pensamentos lampejaram até que estivessem

desprovidos de qualquer significado. Em seguida, eles foram preenchidos com as

instruções que a parte consciente de mim não podia reconhecer, mas eu seguiria mesmo

assim.

— Okay. — Eu me ouvi dizendo nessa voz de sonho.

Vagamente, estava ciente do ar acalmando ao meu redor e das luzes voltando.

Flutuei para fora da sala de treinamento. Do lado de fora, na temperatura congelante,

talvez eu continuasse flutuando para o céu da noite.

Acho que gostaria disso.

Eu me encontrei na boca do labirinto escuro. Era suposto eu estar aqui. Meu corpo

sabia disso. Me abaixei lentamente e desamarrei meus cadarços. Meus dedos deslizaram

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sobre os nós algumas vezes, mas finalmente consegui e tirei minhas meias. Coloquei-as

lado a lado no chão congelado. Tirei minha camisola e a guardei organizadamente. Eu a

coloquei em cima de meus sapatos.

Então entrei no labirinto, sorrindo enquanto o ar frio tomava conta de meus braços

nus, ainda lisos de suor. Eu vagava sem rumo, não tendo nenhum objetivo claro além de

continuar andando até que estivesse cansada demais para isso. Isso é o que eu deveria

fazer - colocar um pé na frente do outro.

Começou a nevar.

Flocos grandes e bonitos caíam do céu, aterrando em meus braços. Cada pedaço

parecia que pertencia ali - como se eu pertencesse ali. A grama rangia sob meus pés

enquanto eu entrava mais no labirinto. Neve revestia meu cabelo, aderindo à minha pele

fria. Minha respiração soprou em bolhas de vapor, eventualmente desacelerando.

Horas deviam ter passado, porque cada passo tornava-se mais difícil do que o

anterior. Tropecei, batendo no chão duro com meus joelhos e palmas da mão. Minha pele

parecia estranha ao lado do terreno coberto de neve. Azul? Não inteiramente azul, mas

como se as veias sob a minha pele estivessem vazando, tingindo a minha carne com uma

tonalidade violeta de desmaio.

Era tão bonito.

Eu me empurrei para meus pés e perdi o equilíbrio. Estava cansada, mas podia

conseguir um pouco mais. Continuei andando. Bem, realmente tropeçando. Não

conseguia sentir meus dedos e minha pele parecia agradavelmente dormente. Tropeçando

novamente, desta vez em uma estatua de gelo-frio, deslizei pelo mármore, sentindo as

arestas mais ásperas puxando a minha pele. Isso devia ter doído, mas quando sentei lá, eu

percebi que não sentia nada.

De algum jeito, eu estava de costas, olhando para a estátua alada. Ele olhou para

mim, braço estendido, palma da mão aberta. Tentei erguer o meu braço, mas não se

levantou. Meu olhar se dirigiu para além da estátua quando puxei uma respiração rasa

que não pareceu encher meus pulmões. O céu estava pontilhado com pequenos flocos que

acabavam por vir para mim. Minhas pálpebras ficaram muito pesadas para ficarem

abertas, e isso aconteceu apenas segundos antes da neve endurecer meus cílios. Eu pensei

ter ouvido um grito desolado em uma língua bonita, mas não havia nada.

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Dezenove

— O que ela estava fazendo lá fora?

— Não sei. Acho difícil acreditar que de alguma forma ela confundiu a neve com

verão! Porque ela ainda não acordou?

As vozes soavam familiares para mim. Minha palma direita queimava. Tudo

queimava, na verdade - realmente queimava.

Alguém moveu algo quente e pesado sobre mim. Isso fez minha pele gritar.

— Ela vai ficar bem, — uma mulher disse. — Precisa apenas descansar.

— Precisa descansar? — Aquele soava como Seth, mas não soava certo pra mim. Sua

voz musical tinha o tom errado. — Ela estava azul quando Leon a trouxe.

Leon me trouxe? De onde? Porque fiquei azul? Azul não parecia algo bom.

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— A garota tem sorte. Alguns minutos a mais e ela teria perdido um ou quatro

dedos, mas ela está bem. — A mulher disse novamente, lançando irritação em suas

palavras. — Não há mais nada a fazer.

Espera? O que diabos? Perder dedos?

Ouvi uma porta bater e então a cama afundou ao meu lado. Alguém escovava meu

cabelo para trás do meu rosto. Seth. Tentei abrir os olhos, mas eles pareciam irritantemente

pesados.

— Para onde ela disse que estava indo quando saiu do jantar?

Meu coração acelerou, reconhecendo a voz de Aiden. Porque eu não podia abrir os

olhos? E porque estava tão terrivelmente cansada?

— Ela disse que estava indo praticar. — Respondeu Seth.

— E você a deixou ir sozinha? — Esse era meu tio falando. Só ele poderia soar tão

friamente desagradável e ainda culto.

— Não sou a babá dela. — Retrucou Seth. — Ela não queria que eu fosse.

— Alex não devia perambular por aqui sozinha. — Raiva encheu a voz de Aiden. —

Droga, ela sabe melhor do que isso.

Seth bufou.

— Mesmo que Alex seja inclinada para o comportamento idiota, duvido seriamente

que ela seja responsável por isso. — Disse Aiden.

Puxa, obrigada, pensei sonolenta. Eu meio que queria que eles se calassem para que

pudesse voltar a dormir. Minha pele não queimava enquanto eu dormia.

— Ela não pularia para um labirinto vestida como se estivesse verão para quase

morrer de hipotermia. — Aiden continuou. — Alguém fez isso com ela.

— Está sugerindo uma compulsão? — A voz de Seth abaixou. — Você sabe que

puros são proibidos de usar compulsões em mestiços que não são contratados. Alguém se

atreveria?

— O que você acha? — perguntou Aiden.

— Acho que vou matar alguém.— respondeu Seth casualmente.

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Marcus suspirou. — A primeira coisa que eu vou fazer de manhã é falar com o

Ministro Telly. Ele me garantiu que não haveria nenhum problema aqui.

Eles continuaram por alguns minutos, suas vozes à deriva mais longe enquanto eu

caía de volta para o esquecimento feliz onde minha pele se sentia normal. Acordei um

pouco depois, tremendo incontrolavelmente. A sala estava em silêncio e escura quando eu

abri os olhos.

Queria levantar e pegar um térmico, mas meus músculos não queriam cooperar.

Choramingando, caí de volta para o colchão duro e imaginei um bom cobertor pesado

aparecendo no ar. Pena que eu não tinha nenhum poder assim.

De repente, a cama se moveu e uma sombra escura se inclinou sobre mim. Se não

fossem os olhos amarelos, eu teria gritado. — Como você está se sentindo?

— Estou com f-frio. — Eu ofeguei.

— Eles trouxeram cobertores extras. Você ainda está com frio?

— Uh-uhum. — Meus dentes bateram. Eu ouvi o suspiro de Seth, e então senti suas

mãos deslizando por debaixo de mim, me rolando para o lado. — O-o que está fazendo?

— Te deixando quente, uma vez que nós já temos todos os cobertores conhecidos

pela humanidade nessa droga de cama. — Ele me puxou de volta contra seu peito e

passou os braços em minha volta. — Wow, você está fria. Como um pequeno picolé.

Apertei meus olhos fechados. — Eu não estava s-sugerindo isso.

Ele descansou o queixo contra o topo da minha cabeça. — Você tem alguma sugestão

melhor?

— Sim, i-ir pegar mais cobertores?

— Não seria tão divertido quanto isso.

Eu não respondi, porque sinceramente, Seth estava realmente quente. Quente de um

jeito totalmente platônico e corpo aquecido. Então sua perna escorregou entre a minha, e

meus olhos se abriram. — S-Seth!

— Apenas para ter certeza que você está se aquecendo. Está funcionando? — Seth

passou os braços por baixo do cobertor, com uma mão encontrando a curva do meu

quadril.

Mordi meu lábio. Sim, eu estava me aquecendo.

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— Alex?

— Sim? — Eu me mexi desconfortavelmente, e parei quando as mãos de Seth

apertaram meu quadril.

— O que você estava fazendo no labirinto hoje à noite sem metade das suas roupas?

— O que? — Eu rangi.

— Você... não se lembra? — Seth deslizou a mão sob a barra da minha camisa. — Seu

estômago está frio como gelo.

E sua mão estava realmente quente. Eu disse a mim mesma que esse era o motivo

pelo qual não tinha quebrado seu braço. — N-não, eu não s-sei do que está falando.

— Okay. Você se lembra de falar comigo depois do jantar?

Que pergunta estúpida. — Sim.

— Foi para a sala de treinamento?

— Sim

— O que aconteceu depois disso, Alex?

— Eu trabalhei com o manequim por um tempo e depois... — Fiz uma careta. Depois

o que? Eu me lembrava de andar pelo canto e de colocar meu moletom. — As luzes se

apagaram.

— Na sala de treinamento?

Acenei ainda concentrada. Minhas lembranças flutuavam para fora de alcance, como

uma palavra perdida na ponta da língua. — Eu não sei.

Seth enrijeceu. — Você não se lembra de mais nada?

Havia uma grande mancha branca onde existia nada. Rolei sobre minhas costas, só

para encarar seus olhos na escuridão. — Você pode me contar o que aconteceu?

— Eu estava esperando que você fosse capaz de fazer isso, Alex. Nós não sabemos o

que aconteceu. Leon encontrou seus sapatos e camisola no começo do labirinto.

Obviamente, isso o preocupou muito. Ele te encontrou lá, meio congelada.

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— O quê? Eu não fiz isso. — Alcancei a sua mão e parei-a com a minha. Estava se

movendo demasiado para o norte. — Bem, eu não me lembro de ter feito isso e soa

realmente estúpido.

Os dedos de Seth se enrolaram debaixo da minha costela. — Você se lembra de ter

falado com algum puro?

— Não. Não me lembro de nada depois das luzes apagarem. — Pausei, me sentindo

um pouco enjoada quando entendi as suspeitas de Seth. — Você... você acha que um puro

usou uma compulsão em mim?

Ele não respondeu imediatamente. — Sim.

— Mas isso não faz nenhum sentido. Por que um puro me obrigaria a andar pelo

labirinto? De todas as coisas que eles poderiam me obrigar a fazer, e eles... — Fechei

minha boca. Eu não fazia idéia do que o puro me obrigara a fazer. Andar pelo labirinto

podia ser apenas uma parte disso. Qualquer coisa poderia ter acontecido. Eu não fazia

ideia, e isso me deixava doente. Compulsão era uma violação, pura e simples. É despojar

uma pessoa do seu livre árbitro e sua capacidade de dizer não.

Era uma violação da mente.

Mas porque eu não conseguia lembrar o que tinha acontecido? Só tinha sido

compelida uma vez e tinha sido quando Aiden me fez dormir, na noite em que eles me

encontraram no armazém. Eu lembrava tudo o que tinha acontecido.

— Alex? — Seth moveu a mão para fora dos cobertores e segurou meu rosto. Meu

estômago meio que sentiu falta de sua mão. — Você está se lembrando de algo?

— Você acha que fui obrigada a esquecer da compulsão? Isso é ao menos possível?

— É possível. Uma compulsão é ilimitada.

Engoli em seco. — Eu estava com roupas, certo? Apenas meus sapatos e moletom

estavam faltando?

— Sim. — Sua voz soou tensa. — Acho que é melhor você não ir a lugar algum sem

alguém com você, Alex. Eu sei que você odeia essa ideia…

— Eles me mandaram congelar até a morte. — Eu disse, atordoada pela realização. —

Teria morrido se Leon não tivesse me encontrado.

— Como eu disse, acho que é melhor não ir a lugar algum sem alguém com você.

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Eu queria socar alguém. Também queria chorar. Não gostava desse sentimento de

impotência, de não saber. Puxei uma respiração e a deixei sair lentamente. — Eu quero

saber quem fez isso.

— Bem, nós vamos descobrir. Acredite em mim nisso. Mas você precisa descansar

agora.

Dormir não parecia ser uma opção, mas Seth rolou em suas costas, me trazendo

junto. Eu estava demasiado presa em meus próprios pensamentos para protestar contra

sua possessividade. Minha cabeça descansou contra seu peito, enquanto olhava para a

escuridão.

Apesar de tão silencioso que estava, eu sabia que Seth não dormiu naquela noite

também.

Um dia depois, após poucas horas de treino suave, a Guarda do Conselho chegou e

afirmou que o Ministro Telly queria me ver. Claramente apenas minha presença tinha sido

requerida, mas Seth recusou me deixar.

A sessão do Conselho tinha pausado para o almoço, e nós fomos levados a um

escritório elaborado dentro do prédio do Conselho. Eu nunca tinha visto tantas coisas

banhadas a ouro na minha vida. O que restou da minha família estava presente: Marcus e

Lucian. Eles estavam sentados em cadeiras luxuosas de couro. Eu decidi ficar em pé, o que

significa que Seth estava diretamente atrás de mim.

Telly olhava por uma janela circular com um copo de vinho escuro na mão. Ele se

virou, seu olhar pálido piscando para mim e estreitando em Seth. — Senhorita Andros,

peço desculpas por interromper seu treinamento, mas eu queria expressar o meu sincero

alívio ao ver que você não está permanentemente ferida devido a tal infortuno

acontecimento.

Ele não pareceu sincero. — Alguém usou uma compulsão em mim. — Eu disse. —

Não consideraria isso um infortuno acontecimento.

— Tenho que concordar, — Lucian disse. — Minha enteada não é dada a vôos de

fantasia.

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Telly se afastou da janela, seus olhos se estabelecendo em meu padrasto. — Espero

que não, mas posso garantir que não há ninguém aqui que seria tão audacioso a ponto de

usar uma compulsão contra um convidado meu.

— Então o que está sugerindo, Ministro? — perguntou Marcus. Hoje, ele estava

vestido em um terno azul-marinho. Eu mataria para vê-lo com jeans.

— Estou tão curioso quanto você para descobrir como a Srta. Andros acabou nessa

situação, — Telly disse. — Tenho meus melhores Guardas investigando o assunto. Talvez

eles vão descobrir o que realmente aconteceu.

— Você fala como se eu fosse de alguma forma responsável pelo que aconteceu, —

eu disse, o que me rendeu um olhar brando de Telly.

— Sei que nós somos negligentes por aqui no quesito de bebida. — Telly tomou um

gole vagaroso de seu vinho. — Você bebeu algo com seu jantar?

Minha boca se abriu. — Eu não estava bêbada!

— Alexandria. — A cabeça de Marcus estalou em minha direção. Voltando ao

Ministro, ele sorriu educadamente. — Eu posso atestar que Alexandria não bebeu no

jantar.

— Hmm? E mais tarde? — perguntou Telly.

— Eu falei com ela depois e ela foi direto para a arena de treinamento. — A irritação

de Seth com toda a coisa irradiava nele.

As sobrancelhas de Telly subiram. — Você cobriria por ela, não cobriria? Desde que

ela é sua e seus destinos estão intrinsecamente ligados?

— Eu não…

— Você está me chamando de mentiroso? — Seth me cortou, sua irritação virando

fúria.

Lucian se levantou, alisando suas vestes. — Ministro Telly, eu confio que você levará

esse caso a sério. Se não, não posso concordar em manter Alexandria aqui.

— Ela deve dar seu depoimento no Conselho.

— Ela também deve ser mantida segura e essa é a prioridade. — replicou Lucian. —

Não seu depoimento.

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Telly tomou outro gole da bebida, seu olhar pálido voltando para Seth e eu. — É

claro que levo a segurança dela muito a sério. Afinal, é como uma raridade, e nós não

queremos que nada aconteça com a preciosa Apollyon do Conselho.

— Preciosa Apollyon do Conselho, — cuspi, atacando mais rapidamente do que

provavelmente deveria. Não tinham sido palavras de Seth, mas ele era o único alvo que eu

tinha. Ele mal se esquivou de mim. — Essa ‘preciosa Apollyon’ vai enfiar o pé no seu…

Seth pegou meu punho. — Alex, se você não relaxar, nós vamos parar. Não sei por

que concordei em treinar com você quando estava nesse tipo de humor.

Dando um passo para trás, limpei meu antebraço na testa. — Eu odeio a maneira

como ele fala, a maneira como olha para nós, como se desejasse poder nos jogar no

esquecimento.

— E você não devia estar praticando tão duramente, — Seth continuou como se não

tivesse me ouvido. — Você estava um cubo de gelo há pouco tempo. Precisa levar isso

com calma.

— Pare de me mimar. Eu me sinto ótima. — Isso não era uma mentira, mesmo que o

ar frio da clareira me fizesse sentir um pouco enjoada.

Seth suspirou. Ele estava ficando muito bom em suspirar. Esse suspiro dizia Eu não

sei o que fazer com você às vezes.

— E ele odeia mestiços. Sabia disso?— Eu continuei, atacando com um pontapé feroz

que Seth desviou. — Aiden me disse isso. Você também sabia que ele gostaria de ver todos

os mestiços escravizados? Mesmo Lucian acha que ele gostaria de ver as coisas voltando

ao modo antigo. Se manda, estúpido filho da…

Seth pegou meus ombros, balançando-me um pouco. — Okay. Eu entendi. Você

odeia Telly. Adivinhe, todos odeiam, mas ele controla todo o Conselho, Alex.

Eu estava respirando pesadamente, sugando o ar frio. — Eu sei disso!

Ele sorriu. — Com ele controlando o Conselho, nada vai mudar. A Ordem da Raça

vai permanecer sendo a mesma. Se qualquer coisa, a vida dos mestiços só vai piorar.

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— Oh, bem, isso me faz sentir muito melhor. Obrigada.

— Mas… mas me escute, Alex.— Um olhar de ânsia rastejou sobre seu rosto. —

Quando você Despertar, nós poderemos mudar o Conselho. Nós temos apoiadores, Alex.

Pessoas que te surpreenderiam. — Ele tirou uma mecha de cabelo para fora de minha

bochecha.

Golpeei sua mão. — Não me toque. Não preciso que mais runas-mágicas-que-nunca-

somem apareçam.

Seth deixou as mãos caírem, sorrindo. — Ainda não desapareceu?

Enfiei minha mão em seu rosto. — Ainda está?

— Sim.

— Você não tem que soar tão feliz com isso. — Mergulhei para o contornar, parando.

Nós tínhamos companhia.

Cross, Will e Peitos estavam à beira do campo. Will segurava um pequeno

refrigerador em sua mão. — Nós achamos que vocês poderiam pegar algumas bebidas já

que perderam a festa.

Seth caiu num gracejo fácil com eles enquanto eu brincava com a corda na minha

calça. “Bebidas” consistiam em coolers de vinho barato dos quais Caleb teria rido, mas eu

estava com tanta sede que não estava reclamando. Uma vez que Seth se calou tempo

suficiente para permitir que alguém falasse, Will começou a me questionar sobre as

batalhas daimons em que eu tinha participado. Cross assistiu com esse tipo de olhar

admirador heróico em seu rosto, que era tão diferente dos outros que eu recebia em

Carolina do Norte. Nenhum deles sabia a história inteira que cercava a minha ascensão à

fama - ou os acidentes que causei no caminho. Eu queria manter isso longe.

Eventualmente relaxei, bebericando minha bebida enquanto respondia suas perguntas.

— Então quantas vezes você foi marcada?— perguntou Cross, dois refrigeradores de

vinho em sua mão.

Will se virou para seu amigo, lentamente. — Cara, isso não é uma pergunta a se fazer

a alguém. Idiota.

Congelei. Sem querer, tinha exposto meu pescoço, ao lançar meu cabelo para trás.

Rapidamente, virei minha cabeça, então meu cabelo caiu para frente em uma cortina

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pesada. Seth, que estava em uma profunda conversa com Peitos - provavelmente sobre ele

mesmo - puxou a cabeça de sabe os deuses onde e se virou para nós.

Cross fez uma careta. — Me desculpe. Eu não queria... ofender você. É só que acho

impressionante ter lutado com daimons e sobrevivido. Não que você foi marcada, é claro.

Isso não é bom. Isso é muito ruim.

Will revirou os olhos, gemendo. — Apenas cale a boca, Cross.

— Não. Está tudo bem. — Limpei a garganta, decidindo que se eu não fizesse um

grande negócio sobre isso, então nenhum deles faria. — Não sei quantas vezes. Duas, eu

acho.

Cross pareceu aliviado, mas então Seth levantou-se e Cross se deslocou ainda mais

para trás. Eu o assisti caminhando entre nós e parar, bloqueando tanto Cross quanto Will

quando ele me encarou. Não fazia idéia do que ele estava fazendo, mas o que veio de sua

boca nem sequer estava na lista de possibilidades.

— Dança comigo.

Eu o encarei. — O quê?

Seth se curvou graciosamente, estendendo um braço para mim. — Dança comigo, por

favor?

— Por que quer que eu dance no meio do campo, Seth?

— Porque não?— Ele mexeu os dedos. — Dance comigo, por favor.

— Com açúcar no topo. — Will acrescentou, rindo.

O sorriso de Seth cresceu em proporções épicas. — Dança comigo, Alexandria.

Por cima de seu ombro, encontrei o olhar mal-humorado e desagradável de Peitos

assistindo a coisa toda. Não sei se isso me fez pegar a mão de Seth ou se foi o fato de ele

estar me constrangendo. Seth puxou-me para meus pés, mantendo meu braço estendido

enquanto colocava o outro nas suas costas.

Então começou a dançar ao redor do campo - sem música.

Isso era tão ridículo que eu tive que rir. Nós rondamos um pedregulho, tropeçando

no chão irregular. Seth sabia como dançar - realmente dançar - como as pessoas faziam nos

salões. Com um braço, ele me girou para fora dele.

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Eu ri. — Você aprendeu isso assistindo Dançando com as Estrelas?

— Você zomba de mim, — Seth me girou, então minhas costas estavam contra seu

peito. — Machuca minhas sensibilidades quando estou só tentando te ajudar.

— Me ajudar com o que?

Seth girou em torno de mim. — Você precisa saber dançar sem ser poli dance se vai ao

baile.

Eu lhe bati no peito. — Eu não danço como uma stripper e não vou para aquele baile

estúpido.

Ele não respondeu. Sorrindo, deslizou a mão nas minhas costas e me fez cair em seus

braços. Eu ri e deixei minha cabeça cair para trás. Podia ver Peitos em sua pedra. Muito

lentamente, naquele nanossegundo em que ele tinha me jogado para trás, quando ela tinha

certeza que tinha a atenção de Seth, ela lambeu os lábios.

Seth me deixou cair.

Muito mais tarde, depois que o sol tinha sumido e nós estávamos cobertos de lama,

Seth e eu passamos perto da sala de jantar. Tentando não chamar muita atenção, nos

movemos o mais silenciosamente possível.

Esfreguei meu traseiro dolorido e peguei Seth me observando. — Culpa sua. —

sussurrei.

— Nunca vai me deixar esquecer isso, vai?

— Você me deixou cair de bunda.

Ele inclinou a cabeça pra trás, rindo baixinho. — Eu culpo os refrigeradores de vinho.

— Eu culpo Peitos.

Sorrindo loucamente, Seth agarrou minha mão e correu comigo pelo corredor. Nós

passamos por várias salas silenciosas, e então escutamos Marcus, alto e claro. — Eu não

faço ideia se Lucian está planejando algo!

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Nós paramos e nos encaramos.

— Você não é próximo dele?— ouvi Telly perguntar.

— Lucian mantém vários segredos, assim como cada um de vocês faz. — Marcus

respondeu com raiva.

Seth me puxou sob a virada ao lado da sala que Marcus e Telly ocupavam, me

pressionando contra a parede. Ele não precisava chegar tão perto. — Qual é, Seth. Vai

para…

— Shh. — Ele inclinou a cabeça em direção a minha, fios de seu cabelo bateram

contra minha bochecha. — Isso parece impróprio.

Dei a ele um olhar sujo.

— Sei que ele está tramando algo! — disse Telly. — Ele acha que pode controlá-lo,

mas é um tolo por acreditar nisso.

Seth se endireitou um centímetro, um pequeno franzido puxando seus lábios.

— Mesmo Lucian não é tolo assim. — Marcus respondeu.

Telly fez um som de nojo. — É meu trabalho como Ministro protegê-los - meu dever!

Se você sabe de algo…

— Eu não sei de nada do tipo! — Marcus bateu em alguma coisa. — Você está sendo

paranóico, Ministro.

— Chama isso de ser paranóico e eu chamo de planejamento para o futuro. Existem

algumas precauções que podemos tomar - para o caso de acontecer algo. Formas de

garantir que eles nunca sejam ameaçados.

Eu me perguntei sobre o que eles estavam conversando. Seth também tinha um olhar

confuso em seu rosto, que quase me fez rir. Talvez os coolers de vinho ainda estivessem

em meu sistema. Ele deve ter sentido o riso borbulhando em mim, porque me encarou e

sorriu.

— O que está sugerindo, Ministro?

— Há formas de eliminar a ameaça - formas em que ninguém será prejudicado.

Alguns membros do Conselho concordam que pode ser o melhor a fazer.

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Quando Marcus falou em seguida, suas palavras eram frias e vazias. — O Conselho

já atuou sobre isso?

Telly zombou. — O que você está insinuando, Marcus?

Houve um estreito silêncio. — E como você eliminaria a ameaça, ora diga?

A tensão que seguiu a questão de Marcus era tão espessa que eu podia sentir. — Nós

já temos um aqui, — respondeu Telly. — Por que não manter ambos aqui?

Houve um estreito silêncio. — Isso está fora de questão. Sinto muito, mas não posso

concordar com isso.

— Talvez você apenas precise de tempo e motivação. Você quer muito aquele lugar

no Conselho. Eu poderia fazer isso acontecer.

Seth abaixou a cabeça, seu hálito quente no meu pescoço. Eu tentei me mover para

trás, mas não havia lugar para ir. — Você sabe do que eles estão falando? — ele sussurrou.

Por um segundo tive que pensar no que ele estava perguntando. Eu me sentia um

pouco tonta. — Não faço idéia.

— Não acredito que meu pensamento vá mudar, — Marcus finalmente respondeu.

— Está tarde, Ministro. E essa conversa está encerrada.

Os lábios de Seth roçaram meu pescoço, logo abaixo da minha orelha. Eu pulei pelo

toque inesperado e depois o soquei no estômago. Ele riu suavemente.

Telly riu, sem alegria. — Minha oferta permanece até o final das sessões.

— Boa noite, Ministro Telly.

Nós nos abaixamos para a sala vizinha, fechando a porta na hora certa. Telly saiu

segundos mais tarde, seguido por Marcus. Seth e eu nos encaramos. Havia algo em seus

olhos, travessura definitivamente, mas algo mais. Ele vagou em minha direção, sorrindo.

Levantei minha mão, achatando-a contra seu peito. Meu pulso acelerou. — A hora da

brincadeira acabou, Seth.

Ele colocou a mão sobre a minha. — Soa como um pouco de suborno acontecendo.

— Isso não me surpreende. — Eu dei um breve olhar para a sala. Nós estávamos em

outra sala de estar. Quantas dessas haviam lá? — Estou um pouco surpresa pelo quanto

Marcus não gosta de Telly.

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Dando de ombros, Seth foi até a porta e olhou para fora. — Tudo limpo. — ele

pausou, olhando por cima do ombro. — A menos que você queira ficar aqui mais um

pouco. Aquele sofá parece confortável.

Eu o empurrei. — Você não consegue pensar em mais nada?

Ele me seguiu para fora. — Não. Realmente não.

— Wow. Você é tão multi-dimensional, Seth.

Rindo, ele se esgueirou para o meu lado e deixou o braço cair sobre meus ombros. —

E você é tão estraga-prazeres.

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Vinte

Durante os dois dias seguintes, Seth consumiu a maior parte do meu tempo. Vi

Aiden e Marcus muito pouco. Uma vez, quando Seth não estava anexado ao meu quadril,

saí com Laadan enquanto ela tinha uma manicure e uma pedicure para o baile. Eu optei

por passar essa indulgência.

Pessoas tocando meu pé me assustavam.

Seth e eu escapámos para uma das salas de treinamento entre as práticas e lutamos

com alguns dos mestiços no outro dia. Acho que causamos mais confusão do que qualquer

outra coisa, mas eu gostava de lutar com outras pessoas além de Seth. Essas lutas

aliviaram um pouco da frustração reprimida de estar nesse lugar e do desconforto

crescente que me ocupava a cada dia mais próximo da minha sessão no Conselho.

Mas o tempo com Seth não tinha sido apenas diversão e brincadeiras. Nós passamos

a maior parte das nossas sessões de treinamento trabalhando em evitar o uso de elementos

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no campo. Jogar bolas de fogo realmente não era um esporte para interiores, então nós

éramos forçados a sair.

Nós também discutiamos. Muito.

Ele ficou irritado porque alegou que estive observando Aiden quando ele apareceu

um dia durante nossa prática e trabalhou conosco. Seth também alegou que eu tinha

babado.

Não é verdade.

Corando com vergonha e raiva, eu saí como uma tempestade e o deixei parado no

meio do campo onde tínhamos praticado. Poucas horas depois, Seth reapareceu com

hambúrgueres e batatas fritas - meu favorito - e eu meio que o perdoei. Ele tinha

hambúrgueres; o que mais eu poderia ter feito?

Ainda não me lembrava de como acabei no labirinto. Não saber o que tinha

acontecido - ou porque um puro faria aquilo - me incomodava. E a conversa que nós

tinhamos ouvido entre Marcus e Lucian também. Não conseguia afastar o sentimento de

que esses dois eventos estavam conectados.

Mas isso poderia ser apenas paranóia minha.

A prática de hoje tinha durado menos tempo, pois Seth tinha algo importante a

discutir com Lucian. Quando perguntei o que era, ele me falou para não preocupar minha

pequena bunda gostosa com isso e para ir sair com Laadan.

Odeio garotos.

E não consegui encontrar Laadan em lugar nenhum.

Mesmo que irritasse ninguém me deixar vaguear sozinha, eu não queria terminar na

compulsão de um puro novamente. Pensar nisso me encheu de raiva suficiente que eu

poderia enfiar meu pulso através da parede. Depois de verificar um milhão de salas de

estar, desisti da minha procura por Laadan. Outra noite longa e chata olhando para as

paredes brancas do meu quarto me esperava.

Com irritação mal contida, virei a esquina e parei.

Mais a frente, uma criada tremia em seus joelhos. Ela tinha deixado cair uma pilha de

pratos no tapete. O homem que se elevava sobre ela, usava o inconfundível - e assustador -

traje de Mestre. Só tinha visto isso uma vez antes e foi quando mamãe me trouxe ao

Conselho, quando eu tinha sete anos.

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Nunca esqueci a túnica vermelho-sangue ou como eles raspavam suas cabeças e todo

o cabelo facial.

O Mestre chutou um dos pratos vazios, estilhaçando-o. — Você é descuidada, meio-

sangue estúpida. Carregar pratos é muito complicado para você?

Ela se encolheu, abaixando a cabeça e apertando os joelhos. Não falou, mas pude

ouvir seu choro suave.

— Levante-se. — Nojo pingava da voz do Mestre. A garota não se moveu rápido o

suficiente para seu gosto. Ele se abaixou e pegou um punhado de seu cabelo emaranhado,

puxando-a para seus pés. Seu arquejo de surpresa e dor trouxe um riso cruel ao Mestre, e

algo muito pior. Ele levantou a mão livre para bater nela.

Eu nem mesmo pensei.

Raiva me impulsionou a agir. Eu alcancei-o, pegando o punho do Mestre antes de ele

lançar o golpe. O Mestre se virou. A falta de sobrancelhas deu a sua expressão de espanto

um aspecto quase cômico. Ele se recuperou rapidamente e tentou puxar a mão livre.

Eu o agarrei. — A sua mãe não te ensinou a não bater em senhoras?

Raiva e desprezo encheram seus olhos, aguçando-os. — Você se atreve a me tocar e

interferir em uma situação que não lhe diz respeito? Tem desejo pelo elixir, mestiça?

Sorri, apertando mais até que senti os ossos em sua mão se esfregarem. Seus lábios se

estreitaram com dor, me enchendo com uma satisfação doentia. — Oh, eu não sou só uma

mestiça.

— Eu sei o que você é. — Ele libertou a mão, franzindo os lábios com desgosto. —

Acha que isso vai te salvar? Se qualquer coisa, isso garante que um dia você vai estar sob o

controle dos Mestres... Ou pior.

Suas palavras deveriam ter me assustado, mas só me deixaram puta. — Vai se ferrar,

sua aberração sem sobrancelha!

O mestre riu enquanto se torcia de volta para a garota silenciosa, mas então ele se

virou tão rápido que eu não tive a chance de levantar minhas mãos em defesa. O golpe

destinado à criada acabou acertando bem na minha mandíbula.

Dor feroz explodiu em meu rosto quando tropecei de volta para a parede. Meus

olhos imediatamente se encheram de lágrimas, o latejar enviou dados de tontura através

de mim. Segurei meu queixo, com quase certeza que ele o tinha quebrado. E então Seth

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estava parado na minha frente, um elevado inferno de fúria. Eu nem sei de onde ele veio

ou como chegou aqui tão rapidamente.

— Essa será a última coisa que você fez. — Seth rosnou. Ele jogou suas mãos para

trás. Não para bater no puro, mas para matar o puro.

Muitas vezes, na prática, eu tinha visto akasha começar a surgir na sua mão, mas

sempre como apenas uma pequena bola de energia. Quando ele tinha descido em Kain,

Aiden tinha bloqueado a maior parte, mas agora isso era tudo o que eu podia ver. A

energia azul tirada de algum lugar sob a manga de sua camisa, enchendo sua mão,

estalando e rompendo em fogo azul.

Esquecendo a dor, me empurrei da parede e agarrei o outro braço de Seth. — Não!

Não!

— Se afaste, Alex, agora.

Fui para frente dele, bloqueando o Mestre. A marca de Apollyon se destacava em

contraste contra seu rosto pálido. — Você não pode fazer isso, Seth! Precisa se acalmar.

— Faça isso. — insistiu o Mestre. — Sele o seu destino, Apollyon. Como o destino da

sua vadia foi selado.

Os olhos de Seth brilharam, seus lábios puxados pra trás em um rosnado. Akasha se

espalhou, cuspindo chamas.

— Ignore-o. — Pousei minhas mãos na frente de sua camisa. — Por favor! Você não

pode fazer isso! — Não estava funcionando. Ele não estava me ouvindo. Seu braço foi para

trás, preparando-se para liberar o elemento mais poderoso conhecido pelo homem. Eu me

torci. — Saia daqui! Agora!

A criada saiu, mas o Mestre permaneceu, desafiando Seth com seu sorriso como se

ele não tivesse qualquer senso de auto-preservação. Então isso me atingiu - ele queria que

Seth fizesse isso sabendo que, para um mestiço, matar um puro em qualquer situação,

significava morte.

Possivelmente até mesmo para o Apollyon.

Virei de volta para Seth com as mãos tremendo. Pressionei-me contra seu peito como

se pudesse de alguma forma cavar meu caminho nele e fazê-lo entender que a penalidade

por me bater não era uma punição capital. Eu podia sentir o medo no fundo da minha

garganta; pânico ofuscando a dor física.

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Seth estremeceu e então seus braços se curvaram em volta de mim. Eu quase chorei

de alívio. A risada cruel do Mestre ecoou em torno de nós, parecendo flutuar no ar por

muito mais tempo depois de ele ter deixado o corredor.

Ele me encarou, ainda furioso. — Eu quero matá-lo.

— Eu sei. — Sussurrei, piscando as lágrimas.

— Não, você não sabe. Ainda quero.

— Mas não pode. Isso foi minha culpa. Ele estava prestes a bater em uma criada e eu

o parei. Ele…

— Culpa sua? — ele disse, os olhos arregalados com descrença agora. Estendeu a

mão e pegou meu queixo, virando minha cabeça para o lado. — Não. Isso não foi culpa

sua.

Engoli, fechando meus olhos. Crise evitada... Por enquanto. — Vai ficar com marca?

— Com certeza.

— Acho que... vou ficar em apuros. — Recuei, encarando o chão. Esse Seth - esse Seth

duro e letal - era assustador. — Você vai ficar em apuros também.

— Sim. — Soou como se não se importasse com isso.

Toquei o lado esquerdo do meu rosto e fiz uma careta. — Oh, droga.

Seth puxou minha mão para longe do meu rosto. — Acho que se nós passarmos pelo

jantar sem ninguém dizer nada, então vamos estar salvos.

— Você acha?

Seth sorriu, mas tudo nele ainda parecia à beira de destruir algo. — Sim.

Nós não chegamos até o jantar.

Cerca de vinte minutos depois, Marcus e companhia invadiram a sala de estar onde

Seth e eu estávamos meio que escondidos. Aiden estava com eles, seus olhos

imediatamente me encontrando. Seu olhar deslizou sobre meu rosto, parando no que eu

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sabia que era uma contusão com aparência desagradável. Ele deu uma parada completa e

inalou bruscamente. Raiva potente rolou dele em ondas, quase tão esmagadora quanto o

que ainda estava radiando do outro ao meu lado.

— O que você estava pensando, Alexandria?— exigiu Marcus.

Tirei meus olhos de Aiden, mas não olhei para Marcus. Ao invés disso, observei Seth.

Seu rosto ainda era um quadro de linhas duras e beleza arrepiante. — Eu sei que não devia

ter parado o Mestre, mas ele ia bater em uma garota por ter derrubado pratos. Eu tinha

que fazer…

A porta se abriu, revelando Ministro Telly e vários da Guarda do Conselho.

Endureci, mas Seth se levantou. — O que é isso? — Ele exigiu, com as mãos cerradas em

punhos.

— O que é isso? — Ministro Telly repetiu, caminhando pela sala, alto e elegante, suas

vestes verdes fluindo. Ele parou atrás de Marcus e Lucian. — O que é isso que ouvimos

sobre Alexandria atacar um Mestre nessa tarde?

— Atacar? — gaguejei. — Eu não ataquei ninguém. Eu parei…

— Ela interferiu com um Mestre, mas não atacou o homem. — Marcus cortou,

enviando-me um olhar perigoso. — No entanto, ele atacou Alexandria.

Telly me deu um breve olhar. — Mestiços sabem que não podem interferir com os

Mestres e seus tratamentos com criados. Fazer isso é uma violação da Ordem da Raça!

Minha boca abriu. Se eu tinha esperado estar em apuros? Sim. Mas não ser acusada

de quebrar a Ordem.

— Está falando sério? — Seth avançou, estreitando os olhos em fendas finas.

— Controle seu Apollyon nesse instante, Lucian. — Telly cuspiu. — Ou meus

Guardas vão.

Lucian se virou para Seth, mas eu sabia que não havia nada que ele pudesse dizer ou

fazer. Agarrei o braço de Seth e o puxei fortemente. — Senta. — Sussurrei.

Ele olhou por cima do ombro para mim com as sobrancelhas levantadas. — Prefiro

ficar de pé.

Deuses, ele não estava ajudando no assunto. Não que isso fosse pará-lo, mas segurei

seu braço.

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— Ministro Telly, eu entendo que Alexandria não devia ter interferido, mas acusá-la

de quebrar a lei? — Marcus balançou a cabeça. — Acho que isso é um pouco extremo.

— Essa meio-sangue é extrema. — Telly respondeu. — Nenhum de vocês tem

qualquer controle sobre ela. Está ameaçando Mestres agora? O que vai fazer como uma

Apollyon? Massacrá-los em seus sonhos?

Eu ri. Todos me olharam. — Me desculpe, mas isso é ridículo. Tudo o que eu fiz foi

pará-lo de bater em uma garota. Só isso! Não bati nele, mas ele me bateu. — Apontei para

a minha mandíbula. — E eu não iria massacrar pessoas em seus sonhos.

Telly se virou, totalmente de frente para mim. — Você, pequena garota, não mostrou

nenhum respeito pela lei ou pelas regras desde o momento em que pôde respirar. Oh sim,

eu vi seus arquivos.

Será que todos tinham visto meus arquivos? Gah. Eu me sentia exposta.

— Você é incontrolável e um constante problema para o Conselho. — Telly

continuou, se voltando para Lucian. — Ela pertence aqui, onde o Conselho pode controlá-

la, uma vez que nenhum de vocês tem sido capaz de incutir um senso de respeito na

garota.

Medo me congelou. — O quê?

— Isso não vai acontecer. — Seth disse tão baixo que eu não tinha certeza de mais

alguém tê-lo ouvido. Mas então todos na sala congelaram.

— Você está me ameaçando, Apollyon? Ameaçando o Conselho? — Telly exigiu. Eu

jurava que ele parecia feliz com isso, mas isso seria loucura, porque Seth o mataria.

Seth limparia o chão com o rosto de Telly.

Afastei meu olhar do Ministro e vi as marcas de Apollyon serpenteando pelo rosto de

Seth. Então percebi que Aiden tinha se movido, parando do meu outro lado. Agradeci aos

Deuses por todos estarem focados em Seth, temendo que ele estivesse prestes a pirar. O

olhar no rosto de Aiden dizia que ele estava a ponto de rasgar todos nessa sala.

Meu coração se afundou enquanto olhava entre os dois garotos. Isso não ia acabar

bem. Me levantei, meus joelhos tremendo. — Me desculpe.

— Não se desculpe. Você não fez nada errado. — Seth sibilou.

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— Mas eu fiz. Não devia ter interferido. — Encontrei os olhos de Telly e engoli meu

orgulho ao mesmo tempo. — Eu esqueci... esqueci o meu lugar.

Seth se virou para mim tão rapidamente que pensei que ele poderia na verdade me

atacar. Encontrei seu olhar furioso, desejando que ele apenas se sentasse e calasse a boca.

— Ministro, como você pode ver, Alexandria enxerga onde errou. — Lucian se

moveu na frente de Seth, as mãos juntas. — Ela é obstinada, até mesmo teimosa, mas não

quebrou nenhuma lei hoje. Como você sabe, se ela tivesse atacado o Mestre, eu duvido que

ele estaria bem o suficiente para espalhar tais exageros atrozes.

— Ela age sem pensar às vezes. — Marcus entrou na conversa. — É despreocupada,

mas nunca tem más intenções. Quanto a controlá-la, eu posso prometer que ela nem ao

menos vai falar por toda sua estadia aqui.

Eu abri a boca, mas a fechei.

Telly tomou outra respiração antes de se virar para Lucian. — Esse tipo de

comportamento que ela tem apresentado repetidamente é preocupante não só para mim,

mas para o Conselho. Mas isso é algo que você já está ciente, Lucian. — Ele pausou,

observando a sala. Seu olhar, cheio de condenação, caiu sobre mim. — Eu não vou me

esquecer disso. — Com isso, ele se virou e saiu da sala. Os Guardas o seguiram, duros e

silenciosos.

Eu caí no sofá, exausta. Mal escapei da forca com essa. Senti Seth sentar, mas não

olhei pra ele.

— Alexandria, o que eu te disse várias vezes? — perguntou Marcus.

— O suficiente. — Lucian disse — Isso está no passado agora. Está encerrado.

— Isso acabou de acontecer. — Marcus replicou — E esse aqui ameaçou o Mestre

com akasha, pelo amor de Deus! Tem sorte do Mestre não tê-lo reportado.

— O que você esperava? — Lucian respondeu em tom cansado — Ele vai defender o

que é dele.

Fitei meu padrasto mortalmente. — Eu não sou dele. Por favor, você pode parar de se

referir a mim como um objeto ao invés de uma pessoa?

Lucian sorriu. — De qualquer maneira, Seth não pode ser culpado por defendê-la.

Ou você preferiria que ele permitisse que o Mestre continuasse batendo em Alexandria?

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— Isso é absurdo, Lucian! — As mãos de Marcus cerraram em punhos.

Eles foram e vieram por algum tempo. Eventualmente, minha cabeça doía tanto

quanto minha mandíbula. Pelo lado positivo, Seth começou a relaxar e não parecia mais

que queria destruir uma aldeia inteira de puros. Uma vez que conclui que não estava mais

em tantos problemas, deslizei para fora da sala e respirei o ar revigorante.

Eu não vaguei para muito longe da sala, permanecendo perto do canto da sala de

estar. Fiquei pensando sobre o que o Mestre tinha dito. Meu destino já tinha sido selado?

Será que o Mestre sabia de algo ou ele estava apenas provocando Seth?

— Alex?

Eu me virei para o som da voz de Aiden. Seus olhos eram pedras de prata. — Hey. —

murmurei. — Eu sei que errei de novo e…

— Não estou aqui para gritar com você, Alex. Eu só queria ter certeza de que você

está bem.

— Oh. Desculpe, eu só estou acostumada com todos gritando comigo.

Ele inclinou a cabeça para o lado, os olhos num cinza escuro. — Entendo porque você

fez o que fez. Honestamente, não esperaria que fizesse algo diferente.

— Sério? — Olhei ao redor com ceticismo. — Você está drogado?

Aiden sorriu, mas então seus olhos cintilaram para minha mandíbula. O sorriso

desapareceu. — Dói?

— Não. — Eu menti.

Ele parecia saber melhor. Antes que eu soubesse o que ele estava fazendo, estendeu a

mão e passou os dedos ao redor da borda da ferida. — Está inchado. Você colocou gelo

sobre a ferida?

Na verdade eu tinha, mas tinha ficado entediada de segurar o saco de gelo que Seth

tinha colocado. Mas olhando agora para Aiden? Completamente esqueci o que ele tinha

me perguntado. Seus dedos ainda estavam contra a minha bochecha e essa era a única

coisa no mundo que importava.

— Você ainda mostra tanta força. — Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.

Então ele abaixou a mão, quebrando a breve conexão inebriante. — Nenhum outro meio-

sangue teria feito o que você fez.

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— Eu não sei por que você continua dizendo isso. — Me encostei contra a parede lisa

como se isso pudesse de alguma forma me trazer de volta à realidade.

— É a verdade, Alex. E não estou nem falando sobre o que você fez pela mestiça.

Estou falando do que fez lá. Eu sei muito bem o quanto custou para você se desculpar e

dizer o que disse. Custou força.

— Não foi força. Eu estava muito assustada, na verdade. Talvez um pouco irracional,

sabe?

Aiden olhou para longe, em direção ao labirinto. Daqui, tudo que eu conseguia ver

eram as pontas das estátuas cobertas de vinha. — Eu estava errado.

Minha respiração ficou presa na garganta. — Errado sobre o que?

Ele se voltou para mim, os olhos prateados. — Sobre várias coisas, mas sempre achei

que sua natureza irracional era uma falha. Não é. É o que faz de você tão forte.

Eu o encarei, meu coração fazendo todos os tipos de loucura em meu peito. —

Obrigada…

— Não agradeça…

— Eu sei. — Sorri, mesmo que fizesse minha mandíbula doer. — Não agradeça por

isso, mas eu agradeci.

Aiden assentiu. — É melhor eu voltar para lá. Não vagueie muito para fora, ok?

Assenti e o observei se virar. Ele chegou às portas francesas e parou. Virando-se, a

expressão em seu rosto era ilegível, mas suas palavras precisas.

— Parte de mim deseja que Seth tivesse matado o Mestre por tocar em você.

O jantar foi servido cedo na noite do baile e a agitação doida dos criados me levou

até meu quarto. Meus nervos estavam em alta pela minha sessão no Conselho que estava

cada vez mais próxima, meu encontro com o punho do Mestre, o poder de akasha

psicopata e matador de Seth e as palavras de despedida de Aiden.

Parte de mim deseja que Seth tivesse matado o Mestre por tocar em você.

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Dois dias depois e eu ainda não conseguia esquecer o que ele havia dito.

Isso tinha sido uma declaração séria, mas o que podia significar? Será que isso

importava? Não, disse a mim mesma. Mesmo se Aiden me amasse tanto quanto eu amava

bolo, isso não importava. Não havia futuro ali, somente morte e desespero.

Uma batida suave na porta me tirou de meus pensamentos. Como Seth nunca batia,

eu sabia que não podia ser ele. Deslizei para fora da cama e fui para a porta.

Laadan estava no corredor, num vestido lindo profundamente verde que se agarrava

a seus quadris antes de inchar ao seu redor num material macio e fino. Seu cabelo estava

feito em uma volta complexa, adornada por várias flores rosa frescas.

Olhei para minhas calças e camisa. Deuses, nunca me senti mais maçante e feia na

minha vida inteira. E eu que pensava que Lea era a única que conseguia evocar tais

sentimentos.

Laadan sorriu levemente. — Se você não estiver ocupada, o que eu posso ver que

você não está, quero te mostrar uma coisa.

Olhei para a minha cama e encolhi os ombros. Não era como se tivesse algo para

fazer. Nós passamos por vários criados no caminho para seu quarto no andar de cima e

Laadan sorriu graciosamente para cada um deles.

Uma vez dentro de seu quarto, ela circulou um braço em volta dos meus ombros e

me conduziu a uma cadeira estofadada perto de seu armário. Eu sentei e puxei minhas

pernas até meu peito. — Você... queria me mostrar a porta do seu armário?

A risada de Laadan era rouca e infecciosa. Eu me encontrei sorrindo para ela. — Você

é tão parecida com sua mãe. — Ela balançou a cabeça enquanto se inclinava contra as

portas. — As coisas que você fala, é como ouvir Rachelle falando.

Meu sorriso sumiu um pouco e eu passei meus braços em torno de meus joelhos. —

Minha mãe nunca falou metade das coisas estúpidas que saem da minha boca.

— Você ficaria surpresa. — Ela pausou quando um olhar comovente rastejou pela

sua feição — Sabe o que sua mãe mais amava nas sessões do Conselho?

— Não.

Laadan girou e abriu as portas de seu armário. Ela recuou e abriu os braços num

gesto largo. — Toda a dança e os lindos vestidos.

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Curiosa, eu me estiquei para dar uma olhada dentro do armário e quase caí da

cadeira. — Wow. É um monte de roupas.

Ela deu um sorriso atrevido por cima do ombro. — Uma garota nunca pode ter

demasiadas roupas. Vamos. Dê uma olhada.

Eu me puxei da cadeira. Os vestidos chamaram minha atenção. Como se estivesse

sob uma compulsão que me transformou em uma garota feminina em menos de dois

segundos, me aproximei e passei a mão sobre o material macio.

— Gosta deles? — Ela arrancou um vestido roxo em veludo.

Meus dedos permaneceram em um vestido de seda vermelho. Eu não conseguia ver

o corte dele, mas a cor era divina. — Esse é o tipo de vestidos pelos quais você abriria mão

da sua primeira filha.

Ela riu, deixando o vestido roxo cair e gentilmente desprendendo o vermelho. Ela o

ergueu entre nós. — Porque você está tão decididamente contra em ir ao baile?

Dei de ombros, olhando para o vestido sem mangas. Ele tinha recortes bordados em

torno do corpete, cintura alta, e uma saia aparada para se agarrar às pernas. — Eu nem

mesmo sei por que fui convidada tendo em conta que mestiços não foram convidados.

— Mas você é diferente. — Ela colocou o vestido na porta do armário e alisou a seda

— Ser uma Apollyon te diferencia do resto da sua espécie, Alex. Uma vez que você

Despertar, me disseram que você e Seth vão até mesmo ser capazes de assistir às sessões

do Conselho.

Eu não sabia disso, mas duvidava seriamente que com dezoito anos eu precisaria

estar nesse tipo de posição de poder. Maturidade não acontecia durante a noite. Meus

olhos e mente estavam fixos naquele vestido. — Não vai ter ninguém lá que eu conheça. E

sem ofensa, mas minha idéia de diversão não é passar uma noite com um bando de puros.

— Não me ofendi. — Laadan tirou a parte da saia. O tom do vermelho refletia a luz,

lançando um brilho tênue sobre o vestido. — Seth vai estar lá. Assim como Aiden.

Olhei bruscamente para ela. — Por que eu me importaria se Aiden vai estar lá? Ele é

um puro. Onde mais estaria nessa noite?

Laadan sorriu levemente. — Gostaria de experimentar?

— Não, obrigada.

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— Me faça esse favor, por que não? Sua mãe usou um vestido como esse uma vez, e

eu tenho pouco tempo antes de ser esperada no andar de baixo.

O desejo de experimentar o vestido era uma dor física, mas eu balancei a cabeça.

Laadan persistiu até que me vi de corpo inteiro na frente de um espelho com o vestido

vermelho de seda. Ela ficou atrás de mim, as mãos sobre meus ombros. — Você está linda.

O vestido era deslumbrante. Foi feito para caber em mim – ou ao menos alterado

para isso. A seda apertava de meus peitos aos meus quadris antes de deslizar em torno de

minhas coxas. Eu torci para o lado, sorrindo. A parte de trás parecia tão boa quanto a da

frente. Vermelho definitivamente era a minha cor. Por um momento, eu me deixei entrar

num sonho onde Aiden na verdade me via em algo como esse elegante e sexy vestido.

E se Seth me visse nele? Até mesmo a minha imaginação mais suja não pôde capturar

sua resposta com precisão.

— Eu devia provavelmente tirá-lo antes que o estrague.

Laadan me afastou do espelho e me sentou na frente de uma mesa pequena, cheia de

maquiagens e outras coisas de aparência suspeita. Comecei a me levantar, mas ela plantou

as mãos em meus ombros novamente. — Alex, não há motivo para você ficar num quarto

hoje à noite enquanto todos os outros estão apreciando o baile. Então, fique quieta e me

deixe fazer algo com esse seu cabelo.

— Eu não quero ir. — Virei ao redor e a encarei.

Ela virou-me de volta e pegou uma escova. — Por quê? Por você ter sua sessão

amanhã? Não seria esse mais um motivo para relaxar e desfrutar hoje à noite?

Fiz uma careta e tentei ignorar a maneira suave que a escova era movida através do

emaranhado do meu cabelo. — Não é por causa da sessão de amanhã. Eu só... Não quero

ir.

Ignorando-me, ela pegou um enrolador de cabelo e começou a torcer longas secções

com o barril. Eu me rendi enquanto ela me enfeitava rapidamente, ainda sem ter a real

intenção de ir ao baile. Era bom ter alguém para me fazer sentir bonita, mesmo que todo o

trabalho duro fosse ser perdido em meu travesseiro. Conversando sobre minha mãe, ela

mudou para a maquiagem e quando terminou, eu quase não reconheci a garota com os

olhos esfumaçados olhando pra mim.

Laadan havia se superado.

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Ela empilhou os cachos no alto da minha cabeça, mas puxou vários fios grossos para

cobrirem o pescoço e tocarem o corpete do vestido. As ondas pareciam estrategicamente

colocadas pois escondiam as cicatrizes.

— O que você acha? — Ela perguntou, com um pincel de pó na mão.

Eu não tinha idéia do que dizer. O blush acentuava minhas bochechas, fazendo-as

parecer maiores que o normal. Ela cobriu o machucado na minha mandíbula sem revestir

meu rosto com maquiagem. O rímel e sombra habilmente aplicados transformaram meus

olhos no chocolate mais quente, ao invés da cor de terra que eles normalmente favoreciam.

Batom vermelho baqueava meus lábios de uma forma que implorava para serem beijados.

— Wow. Meu nariz parece menor.

Laadan riu, abaixando o pincel. — Espere. A única coisa que está faltando em você

é... — Dirigindo-se à uma cômoda e abrindo uma caixa grande de veludo, ela procurou

por alguns momentos, e puxou uma corrente de prata com pedras pretas em torno de um

rubi.

O colar provavelmente valia mais do que a minha vida, mas ela o deixou cair ao

redor do meu pescoço e o fechou. — Aqui! Agora você vai ser a mais bela do baile.

Olhei para mim mesma, querendo uma foto desse momento. Eu não acho que

alguma vez pareceria tão... diferente de mim de novo. Se Caleb pudesse ver isso, acho que

ele poderia me elogiar.

Laadan olhou para um relógio banhado em ouro. — E nós terminamos bem a tempo.

O baile acabou de começar e você vai fazer uma elegante entrada atrasada.

Meu olhar caiu no espelho. — Eu não posso ir.

— Você está sendo boba. Vai ser mais bonita que qualquer puro-sangue naquela sala,

Alex. Você vai se encaixar.

Eu levantei, balançando minha cabeça. — Você não entende, Laadan. Aprecio tudo

isso e foi divertido, mas eu... não posso ir.

Ela franziu a testa. — Talvez não entenda. Você poderia me explicar?

Lentamente, me virei para o espelho. A garota olhando para mim estava linda, se

ninguém olhasse demasiado ou demasiado perto. Se alguém o fizesse, a foto da perfeição

começaria a desmoronar. Não havia um lindo vestido no armário de Laadan que

conseguiria concertar isso.

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— Alex?

— Olhe pra mim. — Eu disse baixinho. — Você não… as vê? Eu não posso ir lá e ter

todos olhando para mim.

O rosto preocupado de Laadan apareceu acima da minha cabeça no espelho. —

Querida, todos vão te olhar porque você está linda.

— Todos vão olhar para as minhas cicatrizes.

Ela piscou e deu um passo para trás. — Não. Eles não vão nem…

— Eu sei que vão. — Me virei, tocando a delicada corrente em volta do meu pescoço.

— Porque é o que eu noto primeiro em alguém. E olhe meus braços, elas são bem feias.

E eram. A pele nunca tinha voltado ao tom original. Elas empalideceram, como todas

as marcas dos daimons, mas as pequenas marcas de dentes deixadas para trás eram

desiguais e vermelhas, alinhando meus braços, começando logo acima do meu pulso e

terminando ao longo da pele macia do interior do meu cotovelo. A pele era tão irregular e

desigual como a do meu pescoço, mas pelo menos as cicatrizes em minha garganta haviam

desaparecido em uma cor brilhante, um tom ou dois mais leves do que a minha pele

normal. O decote que o vestido mostrava tirava a atenção das minhas cicatrizes no

pescoço, mas meus braços compensavam totalmente por isso.

Laadan de repente sorriu, o que eu achei muito inadequado, considerando que ela

devia estar se solidarizando sobre o quanto de aberração eu parecia. Ela se moveu para

seu armário e tirou uma grande caixa da prateleira superior. Levando-a para a cama, seu

sorriso ficou mais amplo. — Eu tenho a coisa perfeita.

Duvidosa, eu a segui até a cama.

Ela virou a tampa e tirou duas luvas que iam até o cotovelo, de seda preta. —

Problema resolvido.

Peguei as luvas cuidadosamente. — Eu vou parecer como Rogue do X-Men.

Seu nariz enrugou. — Quem? Não importa. Experimente-as. As luvas vão funcionar

agora. Se fosse no verão, elas seriam um pouquinho questionáveis.

Deslizei uma e ela cobriu as cicatrizes muito bem, mas luvas? De verdade? Quem as

usaria além de velhas avós? — Eu não sei.

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Laadan suspirou, balançando a cabeça. — É um baile formal, Alex. Você já foi a

algum antes?

— Hm, não.

— Acredite em mim quando eu digo que você não vai ser a única garota usando

luvas. Agora, vamos lá. Nós não temos muito mais tempo para ficar aqui e lamentar por

nós mesmas. Você está linda, Alex. Mais do que até mesmo sua mãe já esteve.

Eu mexi os dedos nas luvas de seda, sentindo um borbulhar de excitação pela

primeira vez. Mestiços não iam a grandes bailes, e eles tampouco tinham fadas madrinhas

puras. Então eu realmente nunca esperei comparecer a qualquer coisa como isso,

especialmente não nesse vestido matador.

Mas aqui estava eu.

Um sorriso lento rastejou sobre meu rosto. — Laadan?

— Sim? — Ela parou na porta.

— Obrigada.

Sua mão voou para o coração. — Querida, você não tem que me agradecer. Estou

feliz de poder fazer isso por você.

— Você tinha isso planejado desde que Lucian mencionou algo no café da manhã,

não é? É por isso que esse vestido cabe tão bem em mim.

Laadan deu um sorriso astucioso. — Bem, eu sempre pensei que vermelho seria sua

cor favorita.

O baile estava em pleno andamento pela hora em que Laadan e eu descemos pela

escada. O leve zumbido de uma orquestra enchia os corredores enquanto nos movíamos

para mais perto do salão de festas. Uma exibição de velas deslumbrante iluminava o

caminho.

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Minha excitação rapidamente se transformou em nervoso. Nunca usei nada como

isso antes, e participar de algo assim ia apenas contra tudo que um meio-sangue conhecia.

Além disso, orquestra musical não era minha praia.

Seria esperado que eu dançasse a valsa? A última vez - e única vez - tinha sido com

Seth e ele me derrubou. Eu não podia cair no chão nesse tipo de vestido - isso seria um

sacrilégio. E quem ao menos dançaria comigo? Eu ia ficar abraçada na parede a noite

inteira?

Foi quando comecei a suar.

Laadan segurou minha mão na dela e me levou para frente. — Você lutou contra

daimons e a idéia de ir ao baile te assusta?

— Sim. — Sussurrei.

Ela riu, o som me lembrou do toque de sinos. — Você vai fazer muito bem. Apenas

se lembre de que você vai pertencer entre eles. Mais do que qualquer um deles pode até

mesmo perceber.

Olhei para ela com cautela. — Você realmente ama mestiços, não é?

Suas bochechas coraram em um vermelho feroz. — Eu... eu só acredito que todos nós

somos iguais e devemos ser tratados dessa maneira.

Eu duvidava que essa fosse a razão principal, mas não pressionei. Ela me tirou das

sombras suaves do corredor, passando pelas fúrias congeladas e direto para o salão de

festas. Acho que podia ter um pequeno ataque cardíaco ao entrar ali.

A sala era enorme, as paredes inteiramente feitas de vidro. Vasos de cristal cheios de

rosas estavam em cada canto e em cada mesa, e vinhas de flores cobertas estavam

penduradas por lustres brilhantes em uma exibição deslumbrante de luz e escuridão

transmitida através do teto. No final da sala, estava uma pequena orquestra sentada –

músicos mortais. Mortais eram fáceis de reconhecer tanto para puros quanto mestiços.

Eram mais do que apenas atributos físicos que os distinguiam. Seus movimentos eram

bruscos e lentos, enquanto os puros deslizavam graciosamente ao redor deles. Comparado

aos puros, suas expressões eram de desinteresse. Eles provavelmente estavam sob

compulsão para tocar aqui e não reconhecer nada estranho.

Puros podiam começar a ficar um pouco estranhos após algumas bebidas.

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Por trás da orquestra, Thanatos erguia-se acima dos mortais a pairar sobre eles como

uma espécie de anjo da morte. Sua envergadura tinha de ter pelo menos 2 metros e meio e

a expressão triste sempre presente tinha sido esculpida em mármore. Alguém tinha

colocado uma coroa de rosas sobre a cabeça do deus.

Belo toque.

Dois criados apareceram na nossa frente. Um segurava uma bandeja com taças de

champanhe e o outro carregava um prato de salgadinhos que cheirava como peixe cru. Eu

tive um súbito desejo louco por bolinho de batata.

Laadan graciosamente aceitou dois copos de champanhe e me entregou um. Ela

pegou minha mão antes que eu pudesse deixar cair o vidro. — Cuidado. — Ela avisou

suavemente. — Esse não é como champanhe mortal. É muito mais forte.

Olhei para o líquido borbulhante. — Quanto mais forte?

Ela inclinou a cabeça para uma mesa onde uma garota pura ria histericamente

enquanto seus companheiros pareciam aborrecidos. Ela tinha um copo de champanhe na

mão. — Esse provavelmente deve ser o segundo dela. Você beberica esse champanhe.

— Conselho tomado.

Lucian derivou para fora da multidão de puros e agarrou a minha mão livre. Seus

olhos se dirigiram para mim numa mistura de choque e apreciação. — Laadan, você se

superou. Ela se parece exatamente como Rachelle estava quando participou desse baile.

Era oficial. Eu me sentia assustada em um nível totalmente novo.

— E você não consegue sequer ver as cicatrizes dela. — Lucian continuou. Havia um

brilho estranho em seus olhos e me perguntei se ele estava bêbado. — Trabalho totalmente

excelente, Laadan.

Esforçando-me, tentei manter um sorriso educado. — Uh... Obrigada.

Laadan parecia tão irritada quanto eu me sentia. Suavemente, envolveu o interesse

de Lucian. Procurei na sala por rostos amigos enquanto meus dedos apertavam o frágil

copo de vidro.

Todo mundo - todos os puros - pareciam magníficos em suas elegâncias. A maioria

das mulheres usava o tipo de vestido indecente que eu adoraria, mostrando extensões da

pele perfeitamente lisa e longa, pescoços graciosos. Eu não pertencia aqui. Não importa o

que Laadan dizia, eu não pertencia a este lugar.

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Respirando fundo, o meu olhar deslizou para a multidão. Além deles, reconheci a

Ministra Diana Elders. Ela usava um vestido branco diáfano que me lembrava algo que

uma deusa usaria. Ao lado dela, meu tio parecia extremamente interessado em tudo o que

ela estava dizendo. Em espanto, eu assisti enquanto ele realmente sorria e quando eles se

viraram para nós, aqueles olhos de esmeralda estavam brilhando como jóias.

Isso é, até ele me ver.

Marcus deu um passo para trás, piscando. Choque estampado em seu rosto. Ele

reagiu como se tivesse visto um fantasma. Recuperando lentamente, ele e a Ministra

Elders se aproximaram de nós. Ele acenou para Lucian e Laadan. — Alexandria, você

decidiu se juntar a nós, afinal.

Desconfortável, eu assenti e tomei um gole de meu champanhe.

Diana sorriu calorosamente o suficiente, mas ela pareceu nervosa quando se dirigiu a

mim. — Senhorita Andros, é um prazer conhecê-la.

— O mesmo aqui. — Eu murmurei silenciosamente. Nunca fui boa em trocar

formalidades, mas a coisa boa era que os puros que me cercavam gravitavam em direção

ao outro e eu fui capaz de desviar para o lado. Continuei procurando na multidão... Bem,

por Aiden, se eu estava sendo honesta comigo mesma. Sabia que ele poderia não falar

comigo, mas queria que ele... me visse. Idiota, sim, mas eu queria isso.

Vai entender, foi Seth quem eu vi primeiro.

Ou ele me viu primeiro. Não tenho certeza. De qualquer jeito, estava surpresa por

encontrar tanto Aiden quanto Seth com outro garoto puro que eu não reconhecia.

Várias puras bonitas tinham lotado eles, possivelmente fascinadas pelo fato de que

um Apollyon meio-sangue estava na mistura - ou elas estavam apenas atraídas pela

gostusora geral do grupo.

Dawn Samos era uma daquelas garotas bonitas. Seu vestido era uma bainha branca

que terminava acima dos joelhos. Ela permaneceu o mais próximo possível de Aiden, seu

fino braço bronzeado o roçando enquanto ele falava. Eu não a tinha visto desde o primeiro

dia das sessões e tinha esquecido dela, mas lá estava ela.

Seth estava na frente da entrada e de Aiden. Ele usava um smoking como o resto dos

puros, exceto que ele tinha conseguido encontrar um todo branco e ainda parecia ótimo

nele. Um sorriso puxou os meus lábios.

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Como se Seth precisasse de ajuda para se destacar.

Seu olhar se moveu ao redor do salão do baile e caiu sobre mim. A expressão em seu

rosto era quase cômica. Suas sobrancelhas avançaram até a testa, os olhos arregalados em

surpresa. Aparentemente, eu parecia horrível na maior parte do tempo. Estar em um

vestido devia ser um espetáculo para ser visto. Um capricho presunçoso nos seus lábios foi

rapidamente substituído pela expressão surpresa. Ele acenou para mim com aprovação.

Eu levantei meu copo para Seth.

Ele deve ter dito alguma coisa, porque os músculos de Aiden enrijeceram sob o seu

smoking preto. Então, lentamente, quase relutantemente, Aiden olhou por cima do ombro.

No momento em que nossos olhares se encontraram, me senti como Cinderela.

Os lábios de Aiden se separaram enquanto seu olhar deslizava por mim de um jeito

que fez o copo tremer entre meus dedos. Quando seus olhos fizeram sua lenta jornada de

volta para mim, todo o ar fugiu dos meus pulmões. A prata queimava tão ferozmente, tão

quente, que um rubor quente varreu a minha pele. Minha mão caiu para o lado, o copo

mal segurado de champanhe esquecido enquanto pendia de meus dedos.

Aiden virou totalmente, seu peito subindo e descendo drasticamente. Ele não sorria.

Parecia capaz apenas de observar. Assim como eu, porque ele parecia verdadeiramente

magnífico com o corte afiado do smoking preto, as ondas selvagens de cabelo caindo sobre

a testa, e aqueles lábios macios ainda separados em surpresa, os olhos ainda cheios de

fome.

Como se em um torpor, Aiden atravessou a pista de dança, seus olhos penetrantes

fixos em mim. Eu sabia que estava bonita, mas não tanto assim. Não tanto para todo

mundo parecer desvanecer e desaparecer, no caso de Aiden. Pensei no que ele tinha dito

do lado de fora da sala de estar, de como estava errado sobre várias coisas.

Acho que sabia de uma das coisas da qual ele estava errado.

Tão focada que estava em Aiden, não percebi que Seth tinha se movido, mas o senti

antes de ele colocar a mão em mim, seus dedos se curvando sobre o meu ombro nu. Raiva

brilhou sobre o rosto de Aiden. Ele parou, os olhos de prata caindo para o meu ombro. Eu

podia quase sentir no ar - o ciúme primordial, sua ânsia para remover fisicamente a mão

de Seth.

Seth se inclinou, seu hálito quente mexendo o cabelo na minha nuca. — As pessoas

estão começando a olhar.

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Elas estavam? Eu não podia dizer que realmente me importava, o que era errado,

mas Aiden estava me olhando - me olhando com tanta paixão, tanta vontade - e isso era a

única coisa na qual eu conseguia pensar.

E então Aiden se recompôs. Parando a meio passo, ele apertou a mandíbula. Aqueles

olhos ainda eram como mercúrio, ardendo na luz suave. Seu olhar se dirigiu por mim mais

uma vez. Tremendo pela intensidade, imaginei que ele estivesse enviando a imagem de

mim para longe.

A mão de Seth deslizou pelo meu braço, os dedos apertando-o. — Você sabe que ele

não é para você.

— Eu sei. — Sussurrei. Eu sabia disso, e talvez fosse por isso que me sentia tão vazia

por dentro.

Aiden então se afastou, sorrindo para algo que Dawn disse. Mas era um sorriso falso.

Conheço o sorriso de Aiden. Afinal, eu vivia por ele.

— Você quer dançar? — Seth sugeriu.

Vir para o baile tinha sido uma má idéia. Eu sentia o vazio se espalhar, deixando um

buraco. Não pertencia aqui, mas Aiden sim. Aiden pertencia aqui com puros como Dawn.

Não comigo, não com uma meio-sangue.

Afastei meu olhar de Aiden e olhei para Seth. — Eu não quero dançar.

O olhar âmbar de Seth se dirigiu para mim. — Você quer ficar aqui?

— Não sei.

Ele sorriu e se inclinou para frente. Quando falou, seus lábios roçaram meu ouvido.

— Nós não pertencemos a este lugar, Alex. Não com eles.

Queria perguntar exatamente onde nós pertencíamos, mas eu sabia qual poderia ser

a resposta de Seth. Ele diria que pertencíamos um ao outro. Não do jeito que eu queria

pertencer a Aiden, mas de um jeito diferente. Um jeito que ainda não tinha descoberto

qual era.

— Vamos. — Ele persuadiu novamente.

Eu podia ficar aqui e continuar fingindo que pertencia, ou podia sair com Seth. E

depois? Meus dedos tremiam quando coloquei o copo sobre a mesa mais próxima.

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Deixei Seth me levar para longe do baile. Um peso repentino caiu sobre mim. Eu me

sentia como se tivesse feito um tipo de escolha irrevogável.

E talvez eu tivesse feito.

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Vinte e Um

— Vamos fazer algo estúpido.

Virei-me para Seth, estranhamente nervosa. — Você quer fazer algo estúpido agora?

— Pode pensar em um melhor momento para fazer algo estúpido?

Considerei isso. Ele meio que tinha um bom ponto. — Okay. Estou dentro.

— Bom. — Ele começou a andar, puxando-me através do labirinto. Nós passamos

pelas câmaras do Conselho e nos dirigimos para o campus. Seth cortou em direção ao

prédio escuro e silencioso no qual passava a maior parte do tempo que estava acordada.

— Você quer treinar?

Ele balançou a cabeça, mandíbula apertada. — Não. Eu não quero treinar.

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Seth acelerou o passo. Eu não tinha idéia do que ele estava fazendo, mas aprendi há

algum tempo que era melhor apenas ir com ele. A porta para a arena estava destrancada.

Um largo sorriso irrompeu em seu rosto quando viu as portas duplas dentro do corredor

escuro.

— Você quer ir nadar? — Perguntei.

— Claro.

— Está uns quatro graus lá fora.

Seth empurrou a porta. O cheiro de cloro estava em todo lugar. — Então? Não está

quatro graus aqui, está? Mais para 15.

Eu me afastei dele e caminhei até a beira da piscina. Olhando por cima do meu

ombro, vi Seth tirar seus sapatos. Ele chamou minha atenção e piscou.

— Você é ridículo. — disse eu, lutando contra um sorriso.

— Então você também é. — Ele tirou o casaco, deixando-o cair sobre o cimento. —

Nós somos muito parecidos, Alex.

Comecei a negar, mas parei e realmente pensei sobre isso em vez de descartar. Havia

algo sobre Seth que despertava meu lado selvagem e, sim, o lado mais estúpido. Nós dois

éramos imprudentes, um pouco selvagens e agressivos, e nenhum de nós sabia quando

ficar quieto. Acho que havia dois tipos de pessoas no mundo, aquelas que estavam

sentados em torno de um fogo, olhando fixamente para as chamas e aquelas que

começaram o fogo.

Seth e eu começávamos o fogo e então nós dançávamos ao redor dele.

— Foi tão óbvio lá atrás? — Perguntei em voz baixa.

Seth estava puxando sua camisa branca para fora da calça, mas ele parou e olhou

para cima. Parecia estar escolhendo as palavras. — Eu não sei o que se passa na sua

cabeça, Alex. Não posso ler seus pensamentos. Só peguei suas emoções.

— É bom saber.

— Eu sou bom nisso. — Ele começou a desabotoar sua camisa. — Enfim, nem sequer

preciso ser capaz de sentir suas emoções para saber. Não acho que você quer saber o que

parecia.

Page 279: Covenant 2 - VISIONVOX · Alguns diriam que Aiden St. Delphi precisava de um corte de cabelo, mas eu amava a aparência selvagem que ele estava usando recentemente. Um instante depois,

— Não. Eu quero. — Troquei o meu peso para o meu outro pé. Estes saltos estavam

me matando.

Balançando a cabeça, Seth suspirou. — Você estava olhando para ele, como se fosse

uma garota feia olhando o último cara bonito no bar, quando eles fazem a última

chamada.

Engasguei com minha risada. — Oh. Uau. Obrigada.

Ele levantou as mãos num gesto impotente, que parecia tão estranho para ele. — Eu

disse a você.

— Sim. — Tirei uns fios de cabelo do meu pescoço. — Então, eu parecia uma idiota

para todos?

— Não, todo mundo viu uma bela mestiça. Isso é tudo que todo mundo viu. — Seth

desviou o olhar, um sorriso irônico no rosto. — Posso te dizer uma coisa?

Voltei para a piscina. — Claro.

— Prefiro você sem luvas. — Sua respiração agitou as mechas do meu cabelo contra o

pescoço. Eu não tinha idéia de como ele se moveu tão quietamente.

— Ah. — Eu disse, observando Seth quando ele se mudou para o meu lado.

Discretamente, ele retirou uma luva e depois a outra, jogando ambas longe da água. Seus

dedos deslizaram em torno das cicatrizes antes que ele largasse o meu braço, dando um

passo para trás. Minhas cicatrizes não pareciam incomodá-lo. Olhei para ele através de

meus cílios.

— Melhor?

— Muito.

Olhei para o lindo vestido. Laadan ficaria tão chateada se eu arruinasse o vestido.

Virei-me um pouco, pegando meu reflexo nas janelas da sala da piscina. Não se parecia

comigo. Eu parecia uma boneca, uma cópia da minha mãe. Tanto assim que, mesmo

Lucian me olhou de uma forma que me fez vomitar um pouco na minha boca. Teria sido

isso o que Laadan queria? Fazer de mim uma cópia de sua amiga há muito tempo

perdida?

— Dá para molhar seda? — Perguntei.

Seth fez um barulho engraçado atrás de mim. — Eu diria que provavelmente não.

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— Isso é uma pena. — Chutei os sapatos. Meus dedos imediatamente respiraram e

me agradeceram.

— Você realmente vai...

Eu mergulhei. A água não estava tão aquecida como eu pensava e foi um choque

para o meu sistema, mas depois de alguns segundos me acostumei com isso. Mantive-me

debaixo da água e nadei para o lado oposto da piscina.

A água imediatamente matou todo o trabalho duro de Laadan. Me virando, eu

encontrei Seth na borda da piscina. Diversão e satisfação estavam estampadas através de

seu rosto, o que o fez parecer meio normal.

— Tão infantil, Alex. Você arruinou o seu vestido.

A seda vermelha vibrante flutuava em torno de mim quando eu me movia pela água.

— Eu sei. Que má que eu sou.

— Muito má. — Ele parecia mais agradado do que indignado.

Sorrindo, eu afundei debaixo de água novamente e fechei os olhos. Sob a água, era

um mundo calmo, feliz. Eu não tinha que pensar ou me preocupar... ou amar.

Subi de volta e peguei Seth tirando sua camisa. Vi talvez um segundo de seu corpo

superior nu antes de eu apressadamente afundar na água. Não era ruim - todo pele

dourada e músculos rígidos.

Ver seu peito não era grande coisa, pelo amor de Deus.

Nas noites em que Seth ficou comigo, ele o fez totalmente vestido - graças aos deuses

- mas era apenas estranho. Seth era estranho - eu era estranha - e não podia ficar debaixo de

água a noite toda. Usando minhas pernas, me empurrei para fora do fundo da piscina.

Seth tinha se movido para o centro da sala. Sua cabeça estava inclinada para trás, os

braços esticados para o alto enquanto ele estava na ponta dos seus dedos do pé,

completamente à vontade. — Pare de encarar.

Flutuei para frente. — Eu não estou encarando.

Ele riu. — Como está a água?

— Boa.

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Seus braços caíram para os lados. — Você se lembra da última coisa que eu lhe disse

no treinamento?

Empurrei-me através da água, chegando até onde ele estava. — Você me diz um

monte de coisas no treinamento. Honestamente, eu não presto atenção.

Ele bufou. — Você faz maravilhas para minha auto-estima.

Revirando os olhos, desencostei da parede de cimento e flutuei de costas. O vestido

fluía em torno de mim enquanto a água deslizava sobre minha pele. — Eu me sinto como

uma sereia.

Seth ignorou isso. — Amanhã, quando lhe perguntarem sobre o que aconteceu em

Gatlinburg, só responda às suas perguntas.

Suspirei. — Eu sei. O que você acha que vou dizer? Que amo daimons?

— Só não elabore muito. Responda sim ou não e só.

— Não sou estúpida, Seth.

Seth arqueou uma sobrancelha. — Não disse que você era. Só sei que você tende... a

falar demais.

— Oh. Como se você...

Seth mergulhou, enviando uma onda de água em cima de mim e perdi o equilíbrio.

Afundei apenas para encontrá-lo nadando na minha direção. Reconhecendo o sorriso

selvagem estampado em seu rosto, empurrei de volta, mas ele pegou a ponta do meu

vestido. Eu bati em sua mão e ressurgi. Ele subiu a poucos metros de distância,

balançando a cabeça e enviando gotas de água.

Empurrei-o. — Você fala mais do que eu.

Ele flutuou para o lado e virou um braço sobre a borda. Apertando os olhos através

da água e do cabelo, fez uma careta para mim. — Você se parece com um macaco afogado.

— O quê? Não pareço nada. — Corri a mão pelo meu cabelo, então sob meus olhos.

Pensando sobre isso, provavelmente tinha brutais olhos de guaxinim agora. — Espere.

Pareço?

Seth concordou. — Honestamente, você parece uma bagunça. Esta foi uma má idéia.

O que eu estava pensando?

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— Cale-se. Você não parece tão quente também.

Isso não era inteiramente verdade. Seth parecia bastante agradável... encharcado. A

coisa toda sem camisa provavelmente ajudou. Um pouco. Não muito. Por alguma razão

bizarra, eu pensei sobre o dia em que a runa tinha aparecido.

Seus lábios se curvaram em uma espécie de sorriso louco quando ele colocou a mão

sobre a água. — Veja isso.

Tentei impedir que as bordas do meu vestido subissem. — Vejo o quê?

A água debaixo da sua mão girou, parecido com quando a água vai pelo ralo. Em

seguida, disparou em linha reta no ar, alcançando o teto. O cone de água torceu no ar,

arqueou e depois desceu.

Eu não poderia me mover com rapidez suficiente.

Água caiu em torno de mim, pulsando e abafando tudo. Em seguida, ela congelou.

Eu não conseguia ver além da parede de água parada. Inclinei a cabeça para trás e sorri.

Estar presa em um tufão feito por Seth era estranho, mas também legal. Timidamente,

estendi a mão e enfiei um dedo por ele. Movimento errado. Tudo desabou.

O peso da água empurrou-me para baixo e quando voltei para cima uma guerra de

água se seguiu. Nós dois estávamos agindo como duas crianças que tinham escapado de

seus pais, mas isso era divertido. Não importava que eu estivesse dolorosamente em

minoria no departamento de luta com água e Seth parecesse ter a intenção de me afogar.

Eu não estava pensando em Aiden ou no Conselho ou em qualquer coisa.

Rindo e cuspindo muita água, recuei enquanto Seth tirava um punhado de cabelo

loiro dos olhos. — Você parece uma menina, Seth. Precisamos fazer uma pausa?

— Você precisa desistir. — Ele recuou, enviando o seu braço contra a superfície da

água. — Você não pode me bater. Nunca. Em nada. Desista.

Nadei para trás, deslizei para baixo e ressurgi rapidamente. — Eu não desisto, Seth.

Ele se aproximou. — Bem, nós todos temos que aprender um dia. Menos eu. Sou

seguro de minhas habilidades.

— Está mais seguro em ser babaca.

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— Você é um caso perdido. — Ele se impulsionou através da água e me afundei. O

meu objetivo era atingir as pernas, pensando que se pudesse puxá-las, eu poderia derrubá-

lo.

Mas não foi completamente como o planejado.

Eu coloquei um braço em torno de uma perna e puxei. Seth retaliou descendo e

puxando-me de volta até a superfície. No momento em que minha cabeça quebrou através

da água, me esforcei e amaldiçoei. Sem surpresa, um vestido longo e molhado realmente

dificulta o uso das pernas de alguém.

— Isso é trapaça, Alex. — Seth plantou as duas mãos acima dos meus quadris. —

Você sabe o que acontece com os trapaceiros.

Tentei erguer os dedos dele de minha cintura. — Não se atreva!

Ele levantou-me até mais que metade do meu corpo estivesse fora da água. Fiquei

olhando para seu rosto. Seu sorriso estava enorme enquanto eu pendia sobre ele. — Frio ai

em cima, hein?

Sim, mais ou menos. — Estúpido aí em baixo, hein?

As sobrancelhas de Seth levantaram. — Para alguém em uma posição precária, com

certeza você não sabe como argumentar.

— Isso porque é difícil argumentar com idiotas. — Eu lhe dei um grande sorriso. —

Porquê se preocupar?

— Oh? É assim que é? Bem, minha pequena Apollyon em treinamento, tenha um

bom vôo.

— Seth! Eu juro que vou...

Usando o elemento ar, ele lançou-me para fora da água, cortando as minhas

palavras. Eu subi... e subi mais um pouco e voltei para baixo em uma confusão de braços e

pés e seda vermelha. Água entrou no meu nariz enquanto eu afundava na piscina.

Voltando para a superfície, imediatamente comecei a gritar coisas que só Seth

poderia realmente apreciar. Um monte de palavras de quatro letras que rimava com outras

palavras de quatro letras. Isto resultou em eu voltar a voar pelo ar novamente e

novamente.

— Okay. Okay. — Engasguei, pendurada acima dele. — Você é incrível.

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— E?

— E... você não é um idiota... todo o tempo - espera! — Eu parei quando meus

joelhos saíram da água. — Você é simplesmente uma ótima pessoa.

Seth fez uma careta. — Isso não soa muito sincero.

Minhas mãos escorregaram dele. — Okay. Você é o melhor Apollyon que existe.

Ele inclinou a cabeça para o lado e arqueou uma sobrancelha. — Eu sou o único

Apollyon que existe agora.

Eu sorri. — Você ainda é o melhor.

Ele suspirou, mas me abaixou. — Agora você realmente parece um macaco afogado.

— Obrigada. — Comecei a ir para a parte rasa da piscina, mas Seth nadou através da

água como um peixe. Ele circulou um braço em volta da minha cintura e me virou de

volta.

— Onde você pensa que está indo?

Fui para empurrar seu peito, mas lembrei de que havia literalmente nada entre as

minhas mãos e sua pele. Optei por seus ombros, que acabou por ser bastante inútil. — Não

me jogue de novo.

— Eu não vou jogá-la.

Considerei isso por um momento. — Então eu ganhei a guerra da água?

— Não.

— Bem, acho que você tem que ser melhor do que eu em alguma coisa. Parabéns.

— Sou sempre melhor do que você. Sou...

— Egoísta? — Forneci proveitosamente. — Narcisista?

Ele seguiu em frente e eu recuei para cima, tentando manter o espaço entre nós tanto

quanto possível. Não que isso fez algo de bom na água. Minhas pernas flutuavam para

todos os lugares que eu não queria que elas fossem - mais perto dele. — Eu tenho algumas

palavras para você, também. Como teimosa? Insolente? — Ele respondeu, empurrando

lentamente até eu bater brutamente na borda da piscina.

—'Insolente' foi sua escolha de palavra do dia?

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Ele colocou o dedo nos meus lábios. — Bem, sim. Eu poderia até usá-la em uma frase,

se quiser.

— Isso não será necessário.

Ele tirou o dedo e plantou suas mãos em ambos os lados de mim, efetivamente

prendendo-me. Olhei para cima e nossos olhos se encontraram. Um nível de consciência

imediata passou entre nós. Era poderoso, quase como a energia que tinha disparado

através de nós quando toquei a sua runa.

Algo que planejei nunca fazer novamente.

A atmosfera não era mais divertida ou leve e à medida que o silêncio crescia,

aumentava também o nervosismo na boca do meu estômago. Seth tinha aquele olhar em

seu rosto, cheio de intenções e propósitos, e era dirigido a mim. Ele gostava de flertar,

gostava de puxar a linha entre nós, mas isso - isso era diferente. Eu o senti dentro de mim,

acordando e ficando agitado.

De repente, pensei no peso que sentira quando fui embora do baile. — Eu acho que...

devemos voltar agora. Estou com frio e está ficando tarde.

Seth sorriu. — Não.

— Não?

— Eu não fiz nada idiota ainda. — Ele se inclinou até fios de seu cabelo molhado

escovarem minha testa. — Na verdade, ainda há um monte de coisas estúpidas em mim.

Dessa vez, coloquei minhas mãos em seu peito para detê-lo. Sua pele parecia

incrivelmente quente por estar acima da água. Abri minha boca para responder, mas me

encontrei perdida. Um nervosismo estranho me inundou. De alguma forma, ele conseguiu

se aproximar e eu... Eu não o afastei ou movi minhas mãos. Seth pareceu ler algo nisso,

porque suas mãos deslizaram para longe da borda e foram para a minha cintura.

— Você sabe o quê? — Sua respiração estava quente em minha bochecha. — Há um

monte de coisas estúpidas para fazer, mas eu realmente quero fazer a coisa mais estúpida

possível.

— Que é?

— Eu quero te beijar.

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Meu estômago despencou. — Isso é loucura. Não sou Elena... Ou qualquer outra

dessas meninas.

— Eu sei. Talvez seja por isso que quero.

Virei a cabeça em outra direção. Ou pelo menos pensei que tivesse feito. Isso foi o

que planejei, mas por alguma razão minha cabeça foi na direção que eu não queria que ela

fosse - em direção a ele e seu hálito quente. — Você não quer me beijar.

— Mas eu quero. — Seus lábios roçaram meu rosto, provocando arrepios que não

tinham nada a ver com o ar frio em cima de mim.

Minhas mãos escorregaram de seu peito e agarrei a borda da piscina. — Não, você

não quer.

Seth riu contra a minha bochecha. Ele passou os dedos pela minha espinha, curvando

sua mão ao redor da minha nuca. — Está discutindo comigo sobre o que eu quero?

— Você está discutindo comigo.

— Você é ridícula. — Eu senti-o sorrir quando seus lábios roçaram sobre a linha da

minha mandíbula, sobre a contusão. — É uma qualidade tão chata, mas estranhamente

cativante.

Meu coração estava batendo muito rápido. — Bem... você é chato, também.

Ele riu de novo e me puxou contra seu peito. Meus dedos perderam sua aderência

tênue de realidade e caíram na água. — Por que ainda estamos falando?

Descansei minha bochecha contra seu ombro e fechei os olhos. — Esta é a sua única

chance de falar sem eu te pedir para se calar, porque não vamos fazer... qualquer outra

coisa.

— Sabe o quanto te acho divertida? — Ele mudou de posição, pressionando as

minhas costas na borda da piscina. Sua mão esquerda saiu da minha cintura e alisou por

cima do meu quadril e coxa. Recuando, eu peguei a mão dele. Tarde demais, ele fisgou a

minha perna em torno dele.

— O que... você está fazendo? — Odiava como minha voz soava sem fôlego, confusa

com a necessidade que queimava através de mim.

— Sabe por que eu acho que você é tão divertida? — Ele deslizou a mão sobre minha

coxa.

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— Por quê?

— Porque sei o quanto você quer que eu te beije. — Seth segurou meu queixo,

inclinando a cabeça para trás com a outra mão.

— Isso não é verdade.

— Você é quem mente. Por quê? Eu não tenho ideia. — Ele apertou seus lábios contra

meu rosto, em seguida, contra a minha garganta, meu ombro. A mão na minha perna

escorregou entre minhas coxas. Meu sangue bateu, deixando meu coração em um frenesi.

— Posso sentir o que você está sentindo. E eu sei que você quer me beijar.

Segurei seus braços. — Não é...

— Não é o que?— Ele ergueu a cabeça, roçando o nariz contra o meu.

— Eu...

— Me deixa te beijar.

Deuses, eu precisava que ele me beijasse. Precisava que ele continuasse fazendo o

que estava fazendo com as mãos. Mas algo disso era sobre o coração... ou mesmo o corpo?

Ou era só o que existia entre nós dois? A ligação, o vínculo, seja ele qual fosse -

controlando o que queríamos. Isso cantava entre nós, apertando até que era tudo o que

existia. Mas o que eu sentia por Aiden não era um produto de uma conexão e não

desaparecia porque ele não retornava os meus sentimentos. Eu nem sequer questionava o

que era, mas isso? Tinha que questionar tudo.

Abri meus olhos. — Isso é real?

— Muito real. — Ele se inclinou para trás e tirou fios de cabelo molhado do meu

rosto.

Eu queria beijá-lo e também queria me enrolar em torno dele. O desejo das mãos dele

era muito difícil de negar, mas quando o olhei e vi as runas escorregando para baixo do

pescoço, chegando lentamente na direção de onde minhas mãos descansavam contra a sua

pele, não tinha ideia se poderia confiar no que eu queria. Havia algo entre a gente que

nenhum de nós compreendia totalmente. Não sabíamos o que a conexão realmente

controlava, o que poderia fazer-nos querer.

Sua respiração dançou sobre meu rosto, em seguida, meus lábios. — Anjo, deixe-me

te beijar.

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Com Aiden, com o que eu sentia por ele, não havia nada externo ou interno, me

puxando em direção a ele, exceto o que eu sentia por ele. Não importava que fosse

proibido ou que ele não me queria.

Seth deixou cair as mãos de repente. Bati na borda, estremecendo enquanto o

cimento raspou minha pele. A marca do Apollyon se deslocava sobre o seu peito, girando

e se movendo. — Você está pensando em Aiden.

Mordi o lábio. — Não da maneira que você pensa que estou.

Ele correu as duas mãos sobre sua cabeça. Então ele as empurrou para frente, de

repente, bem na minha cara. — Você sabe, eu não sei o que é pior. Que eu seja estúpido o

suficiente para querer beijá-la ou o fato de que ainda está presa a alguém que nem sequer

te quer.

Eu pisquei. — Uau. Isso é um pouco duro.

— É a verdade, Alex. Mesmo que ele te professasse o seu amor eterno, você não

poderia tê-lo.

Girei e arrastei-me para fora da piscina. Situando-me acima dele, a água correu pelo

vestido arruinado. — Só porque não posso ficar com ele não muda o que sinto.

Em um instante, ele estava fora da água. — Se você tem esse amor épico por Aiden,

por que quer me beijar tanto quanto quer?

Fiquei quente de fúria, só porque Seth fez um ponto que eu não podia discutir. — Eu

não te beijei, Seth! Isso deve responder sua pergunta!

— Você queria. Confie em mim, eu sei. — Ele sorriu aquele sorriso presunçoso. —

Realmente queria.

— Eu não sei o que quero! — Gritei, as minhas mãos fecharam em punhos do meu

lado. — Como você sabe, Seth? Como sabe que não é a conexão entre nós em vez de algo

real?

A raiva desapareceu dos olhos de Seth, substituída por surpresa. — Acha que é

apenas a conexão? Você realmente acha que é tudo o que eu sinto por você?

Ri asperamente. — Você diz isso o tempo todo! Quando faz algo de bom para mim,

diz que é a conexão forçando-o a fazê-lo.

— Alguma vez você pensou que eu estava brincando?

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— Não! Por que deveria? Você disse que a ligação iria crescer mais forte entre nós, —

disse eu — É por isso que você quer me beijar! Não é real.

— Eu sei por que quero te beijar, Alex, e não tem nada a ver com o fato de sermos

Apollyons. E aparentemente não tem nada a ver com o seu bom senso, também.

Apertei os olhos. — Oh, cale a boca. Estou falando...

— Eu sei exatamente o porquê. — Seth foi para a frente, apoiando-me até eu acertar a

parede de cimento atrás de mim e ele estar apenas a centímetros de distância. — Eu não

posso acreditar que vou mesmo ter que soletrar para você.

Tremendo no ar frio e úmido, eu achatei minhas mãos contra a parede. — Não

precisa.

— Você é a pessoa mais frustrante que eu conheço.

Revirei os olhos. — E isso faz com que queira me beijar? Você é retorcido.

Seus olhos queimavam como ouro líquido. — Você sente a conexão entre nós agora?

Eu fiz uma careta, procurando os sinais indicadores de que a ligação estava fazendo a

sua coisa. Não senti o calor inundando ou nervosismo, então eu estava sem nada. — Não

realmente, mas eu não sei o que se sente...

Seth agarrou os lados do meu rosto e trouxe minha boca para a dele. Eu congelei,

chocada por ele realmente estar me beijando depois de tudo isso, mas ele estava. Beijos

macios, hesitantes e questionadores, como se ele estivesse fazendo isso pela primeira vez,

e eu sabia que não era o caso.

Sabia que devia detê-lo, porque permitir que ele me beijasse derrotava totalmente os

argumentos que eu tinha acabado, mas encontrei-me fechando os olhos em vez disso. Sua

boca era tão quente e doce, realmente estonteante. Em seguida, ele se aprofundou,

roubando minha respiração e deixando meu coração disparado.

Beijar não era um grande negócio, de modo que este beijo não deveria ser diferente.

Mas pelos deuses, eu nunca tinha sido beijada assim antes.

Enrolei meus braços em volta do seu pescoço, emaranhando meus dedos em seu

cabelo e então eu estava beijando ele de volta. Beijava-o com o mesmo abandono selvagem

com que ele me beijava, e deuses, eu gostei de beijar Seth.

Ele era realmente bom nisso.

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Seth mordiscou meu lábio inferior quando se afastou apenas o suficiente para que eu

pudesse respirar. — Você não pode me dizer que não gostou disso. — Ele pressionou seus

lábios nos meus novamente, absorvendo a minha resposta. — E não se atreva a me dizer

que não me beijou.

Deixei as minhas mãos deslizaram para o seu peito. Sabia que se eu abrisse meus

olhos, veria as marcas. — Eu... não sei o que foi.

Ele riu e roçou os lábios em mim. — Você tem uma escolha, Alex.

Abri os olhos então. As marcas em seu rosto estavam fracas, mas eu ainda tinha o

desejo insano de correr meus dedos ao longo delas. Levou tudo em mim para que eu não o

fizesse. Encontrei seus olhos. — Que escolha?

Suas mãos caíram para os meus ombros, em seguida, fizeram o seu caminho para a

minha cintura. — Você pode escolher entre continuar definhando por algo que nunca

poderá ter.

Engoli em seco. — Ou?

Ele sorriu. — Pode escolher não o fazer.

— Seth, eu…

— Olha, sei que você não o superou, — disse ele como se fosse algum tipo de doença

venérea, — Mas eu sei que gosta de mim. Não estou sugerindo nada. Não estou pedindo

estúpidos rótulos ou promessas. Não há expectativas.

Eu tomei uma respiração superficial. — O que você sugere?

— Escolha ver o que acontece. — Seth soltou do meu vestido e recuou, passando as

mãos pelo cabelo molhado. — Entre nós… escolha-nos.

Nos escolher? Eu tremi e passei meus braços em volta de mim. Escolher entre o que?

Aiden estava completamente fora dos limites e Seth e eu - mesmo que estivéssemos presos

um ao outro, não podiamos passar um dia sem querer bater um na cabeça do outro. Esta

não parecia ser uma ótima escolha.

Seth sorriu levemente. — Pense nisso, pelo menos. — Ele se virou e voltou para onde

tinha deixado suas roupas.

Afundei contra a parede e suspirei. Seth tinha feito algumas coisas bem agradáveis

para mim. Ele ficou comigo depois da morte de Caleb, me defendeu contra o Mestre. Mas

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então havia Aiden e tudo o que eu sentia por ele e a maneira como olhou para mim esta

noite.

Mas escolher Aiden se tratava de escolher nada.

Escolher Seth significa submeter-me a um destino maluco.

Ou não?

Meu olhar caiu para minha mão. A runa na palma da minha mão brilhava um azul

iridescente, como se estivesse satisfeita com a sugestão de Seth. E sua sugestão não parecia

tão ruim. Não haveria rótulos. Sem expectativas. Sem sentimentos. O que era bom, porque

o meu coração... meu coração estava em outro lugar. Logo, eu estaria indo para casa na

Carolina do Norte, onde não haveria Caleb, nem mestiços que realmente queriam estar

perto de mim e não mais Aiden.

Mas haveria Seth.

Eu me afastei da parede. Seth estava de costas para mim, a cabeça inclinada em

concentração. O que eu estava fazendo?

Parei alguns metros atrás dele, o meu coração pulando na garganta. — Seth?

Ele se virou para o lado, os dedos fechando o último dos botões. — Alex?

— Eu... eu escolho você ou o que quer que seja que está dizendo. — Bufei. Deuses, eu

parecia estúpida. — Quero dizer, escolho o que...

A boca de Seth cortou minhas palavras. Seus braços enrolaram em volta de mim,

soltando algo quente e seco sobre meus ombros. Percebi que era seu paletó, mas então

estava pensando sobre o quão quente ele era. Antes que percebesse, estava segurando a

camisa dele, arqueando contra ele, absorvendo seu calor.

Então eu o senti acordando, como uma espécie de gigante adormecido, enviando

faíscas de eletricidade sobre a minha pele. A palma da minha mão coçava - queimava,

realmente. Engasguei contra seus lábios. O beijo não era suficiente. Deslizei minhas mãos

sob a sua camisa, sobre a extensão rígida do seu estômago.

Ele recuou, respirando pesado. Um fugaz olhar satisfeito apareceu em seu rosto -

mas desapareceu tão rápido que não podia ter certeza do que tinha visto. Então ele sorriu.

A transformação que ocorreu foi nada menos que incrível. — Você não estará dormindo

naquela cama - naquele terrível quarto - esta noite.

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Vinte e Dois

Eu dormi na minha cama, naquele quarto terrível.

E fiz isso sozinha.

Tinha tomado todo o meu auto-controle para convencer Seth de que dividir a mesma

cama não era uma boa ideia, o que foi difícil, principalmente porque o meu corpo tinha

pensado que era uma ideia incrível. Surpreendentemente, o meu cérebro tinha ganhado

aquela batalha.

Eu não sei por que tinha beijado Seth - uma vez, então duas. Inferno, eu nem sabia

por que eu concordei em ver o que aconteceria. A única coisa inteligente teria sido dar um

soco em Seth e fugir dele.

Mas eu nunca fazia a coisa inteligente.

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— Esse era um lindo vestido. — Laadan tinha uma leve e curiosa carranca. — Acho

que existem várias maneiras de se arruinar seda e suponho que um mergulho à meia-noite

seria uma das formas mais ousadas de fazê-lo.

Me encolhendo e ruborizando, corri minhas mãos para baixo no único par de calças

que eu tinha. Elas eram feitas de algum material fino e preto e engoliam meus pés, o que

era uma droga. Mesmo depois de eu ter destruído o vestido de Laadan, ela tinha me

emprestado um escarpim preto sensual que me fez sentir alta e inteligente.

— Eu realmente sinto muito sobre o vestido. — Olhei de volta para as portas duplas

adornadas com uma águia dourada. — Tenho algum dinheiro guardado. Posso pagar por

isso.

— Não. Não se preocupe com isso. — Ela bateu no meu ombro. — Embora esteja

curiosa para saber o que realmente fez você deixar o baile tão rápido e então ir nadar. Você

saiu com o seu Seth. Estou assumindo que foi nadar com ele?

Minhas bochechas ruborizaram com a menção de Seth. Se o meu Seth estivesse aqui

para ouvir isso, eu nunca ouviria o fim de tudo, mas ele não era autorizado no edifício do

Conselho. — Ele não é meu Seth.

Marcus e Lucian viraram a esquina antes que Laadan pudesse fazer mais do que dar-

me um sorriso. Estranhamente, me senti grata ao vê-los.

Lucian flutuou até mim, apertando minha mão fria na sua. Ou talvez sua mão

estivesse tão quente que a minha parecia gelada até os ossos? — Querida, você está tão

nervosa. Não há nada para se preocupar. O Conselho irá fazer-lhe algumas perguntas e

isso é tudo.

Encontrei o olhar de Marcus por cima do ombro de Lucian. Ele olhou como se

houvesse algo para me preocupar. Libertando a minha mão, resisti ao impulso de limpá-la

em minhas calças. — Eu não estou nervosa.

Lucian bateu no meu ombro quando deslizou em torno de mim. — Tenho que entrar

e tomar o meu lugar. Isso está prestes a começar.

Isso era toda a razão de eu vir até aqui. Observando os Guardas do Conselho abrirem

as portas para Lucian, decidi que não estava nervosa. Eu só queria que acabasse logo.

Os lábios de Marcus se apertaram quando eu o encarei. Passando um olhar

significativo para Laadan, esperou até que ela concordasse com a cabeça e seguisse Lucian

para o Conselho antes de falar. — Alexandria, espero que você esteja em seu melhor

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comportamento lá dentro. Não se permita meter em quaisquer discussões. Só responda às

suas perguntas, nada mais. Você entendeu?

Meus olhos se estreitaram quando cruzei os braços. — O que esperam que eu faça?

Torne-me uma fanfarrona selvagem e comece a xingar as pessoas?

— Tudo é possível, realmente. Você é conhecida por seu temperamento, Alex.

Alguns provavelmente esperam que perca a calma. — disse uma voz profunda e familiar

atrás de mim.

Cada célula da minha pele reconheceu e ainda respondeu a essa voz. Não importava

que eu tivesse escolhido Seth na noite passada. Não era isso o que eu tinha feito? Meu

cérebro gritava para o meu corpo não virar, mas ele não quis ouvi-lo.

Aiden se parecia em cada polegada com um puro sangue. Uma mecha de seu

domesticado cabelo escuro continuava a cair para frente, roçando seus cílios. Vestido em

um traje branco de aspeto mafioso, ele parecia ainda mais intocável para mim.

Marcus limpou a garganta e percebi que eu estava encarando.

Ruborizando em vermelho vivo, me virei para Marcus. — Eu sei. Basta responder a

suas perguntas, blá, blá. Entendi.

Marcus olhou para mim. — Espero que sim.

Eu não sabia de que outra forma poderia provar para eles que não iria saltar para

fora da minha cadeira e espancar alguém.

Marcus olhou para o relógio. — Temos que entrar, Alexandria. O Guarda vai chamá-

la quando o Conselho estiver pronto.

— Não vou entrar com todos vocês? — perguntei.

Ele balançou a cabeça e desapareceu no Conselho, o que deixou Aiden e eu sozinhos

com os Guardas silenciosos. Ignorá-lo estava fora de questão. — Então... como tem estado?

Aiden olhou em algum lugar sobre a minha cabeça. — Bem. Você?

— Bem.

Ele acenou com a cabeça e depois olhou para as portas.

A estranheza de tudo isso me doeu. — Você pode entrar. Não tem que esperar aqui

fora.

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Seu olhar caiu sobre mim, finalmente. — Eu tenho que entrar.

Assenti, mordendo o interior da minha bochecha. — Eu sei.

Aiden começou a ir em direção à porta, mas depois parou. Segundos se passaram até

que ele girou de volta para mim. — Alex, você pode fazer isso. Sei que pode.

Nossos olhos se encontraram e eu prendi o ar. Sem palavras, fiquei lá enquanto seu

olhar deixou o meu e percorreu meu rosto. Não conseguia me lembrar se coloquei

qualquer maquiagem hoje. Talvez algum brilho labial? Meu cabelo estava sob controle

para que caísse em torno de meu rosto e cobrisse meu pescoço perfeitamente. Eu toquei

meus lábios, feliz ao descobrir que estavam brilhantes.

Seus olhos se concentraram em meus movimentos, antes que se afastasse passando a

mão sobre sua cabeça. Ele soltou um som áspero e quando falou, sua voz era tão baixa que

mal pude ouvi-lo. — Acho que... vou lembrar-me de como você estava à noite passada

pelo resto da minha vida. Deuses, estava tão bonita.

Fiquei estagnada.

A próxima coisa que soube era que ele tinha desaparecido para além das pesadas

portas do Conselho. Ele me deixou girando em confusão. Quente então frio, próximo e

então distante. Eu não entendia. Por que me dizer isso... e depois ir embora? Como no dia

em que disse que queria que Seth tivesse matado o Mestre por me bater. Por que admitir

isso?

Encostada à parede, deixei escapar um suspiro longo e cansado. Agora não era o

momento de ficar obcecada sobre as oscilações de humor maníacas de Aiden. Eu precisava

me concentrar no…

A porta à minha esquerda abriu, revelando um guarda do Conselho. — Senhorita

Andros, a sua presença foi solicitada.

Bem, isso veio mais cedo do que eu esperava. Empurrei a parede e segui o Guarda

para o Conselho. Parecia diferente do que me lembrava. Concedido, a única vez que eu

tinha visto era a partir da varanda superior, escondida dos puros abaixo. Titânio enfeitava

as bancadas que enchiam o piso térreo do coliseu. Os símbolos gravados nos azulejos

foram artisticamente feitos, nada como os rabiscos nos caminhos em casa. As coisas

tinham que ser maiores e melhores aqui.

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Os presentes giraram em seus assentos quando fiz meu caminho pelo corredor

central. Olhares curiosos abertamente encontraram o meu. Outros não eram tão curiosos,

mais como francamente hostis e desconfiados.

Preparando-me, eu me concentrei no estrado à frente em vez da violenta agitação no

meu estômago. Os Ministros sentavam como deuses prestes a fazer chover alguma grande

e terrível justiça divina. Eles assistiram o meu progresso, sabendo tudo sobre mim antes de

eu mesma chegar até eles. Apenas um não parecia incomodado por mim. Encostado em

um dos tronos menores, vestido com luxuosas vestes brancas, Lucian olhava para Telly.

Ou talvez estivesse olhando para o trono de Telly, imaginando-se no lugar que oferecia a

coisa mais próxima a poder absoluto no nosso mundo.

Uma cadeira estava colocada na frente dos Oito, diretamente entre os dois tronos

ocupados pelo ministro Telly e pela Anciã Diana. Eu olhei para a cadeira, sem saber se era

para eu esperar até que me fosse dado o ‘ok’ para sentar-me ou fazer-me em casa.

Sentei-me.

Um silêncio de desaprovação varreu a multidão de puros. Aparentemente, eu tinha

tomado a ação errada. Isto estava começando bem. Levantando os olhos, olhei para a

varanda e peguei uma sombra se escondendo para baixo do corrimão.

Seth.

Senti Telly levantar atrás de mim, mas não me atrevi a olhar. De alguma forma, sabia

que iria também dar origem a outro murmúrio de censura. Casualmente, descansei

minhas mãos sobre os braços da cadeira e olhei para a multidão em frente de mim.

Procurei Aiden imediatamente. Estava inclinado para frente em sua cadeira com os olhos

presos nos Ministros atrás de mim.

— Alexandria Andros. — O ministro Telly andou ao redor de minha cadeira. Ele

parou junto a mim, inclinando a cabeça para o lado. Com um aceno elegante para a

platéia, ele sorriu, fazendo-o parecer um querubim demente. — Devemos pedir que você

jure ao Conselho e aos deuses que vai responder a cada pergunta hoje com o máximo de

honestidade. Você entendeu?

Assenti, olhando para o Ministro Chefe. Era só eu ou o cinza em seu cabelo ao redor

da têmpora parecia estar se espalhando?

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— Quebrar esse juramento seria um ato de traição não apenas contra o Conselho,

mas também contra os deuses. Fazer isso resultará em sua eliminação do Covenant. Isso

também está entendido, eu presumo?

— Sim.

— Então você, Alexandria Andros, jura divulgar todas as informações a respeito dos

eventos que ocorreram em Gatlinburg?

Encontrei os olhos pálidos de Telly. — Sim.

Seu sorriso se tornou falso quando ele segurou meu olhar. — Ótimo. O que você

achou do seu alojamento aqui, Alexandria? Tem sido do seu agrado?— Telly perguntou

baixinho. — Olhe só para mim, Alexandria.

Os braços da cadeira gemeram quando os meus dedos escavaram na madeira. —

Tudo tem sido encantador.

Uma sobrancelha escura arqueou quando ele deslizou para o outro lado da minha

cadeira. — Isso me agrada ouvir. Alexandria, por que a sua mãe deixou o Covenant há três

anos?

Pisquei com força. — O que isso tem a ver com o que aconteceu em Gatlinburg?

— Foi feita a você uma pergunta - não, não olhe para a platéia. Por que a sua mãe

deixou o Covenant há três anos?

— Eu... eu não sei o porquê. — Mantive meus olhos em Telly desta vez. — Ela nunca

me disse.

Telly olhou para a platéia, enquanto esfregava o polegar e o dedo indicador juntos.

— Você não sabe?

— Não. — Eu me ouvi dizer, olhando para sua mão.

— Isso não é verdade, Alexandria. Você sabe por que sua mãe deixou o Covenant.

Afastando meus olhos de sua mão, eu balancei a cabeça. — Minha mãe nunca me

disse o porquê. Tudo o que sei é o que outras pessoas dizem.

— Quais foram os motivos?

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Onde ele estava indo com isso? Segui seus movimentos lentos e intencionais. Estava

circulando em minha volta. — Ela partiu porque o oráculo lhe disse que eu iria me tornar

o próximo Apollyon.

— Por que isso a teria feito partir?

Não poderia evitar. Meu olhar moveu-se para a varanda, para onde eu sabia que Seth

observava.

— Alexandria, não desvie o olhar! — Ele retrucou.

Agora entendi porque Marcus parecia tão preocupado. Meu corpo inteiro zumbia

com o desejo de plantar meu pé no intestino de Telly. Olhei para ele. — Ela queria me

proteger.

Um ministro diferente falou em seguida. A voz da mulher pura mais velha esfregou

como uma lixa sobre a minha pele. — De quem será que ela queria protegê-la?

Deveria continuar olhando Telly ou a Ministra? — Eu não sei. Talvez ela estivesse

preocupada que os deuses pudessem ficar chateados com o fato de haver dois de nós.

— Isso seria uma preocupação. — Ela respondeu. — Não deve haver dois de vocês

na mesma geração.

— Quais outras razões haveriam? — perguntou Telly.

Palavras saíram da minha boca. Não boas ou inteligentes. — Talvez ela estivesse com

medo do que o Conselho faria.

Telly enrijeceu. — Isso é um absurdo, Alexandria.

— É o que ela disse.

— Sério? — Suas sobrancelhas se levantaram. — Pensei que ela nunca lhe tivesse dito

o porquê de ter te tirado do Coveant?

Caramba. Eu podia imaginar a expressão no rosto de Aiden e Marcus. — Ela nunca

me disse o porquê antes de... antes de mudar.

— Mas disse depois que ela escolheu se tornar um daimon? — perguntou um

Ministro do sexo masculino.

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— Minha mãe não optou por se tornar um daimon! — Segurei os braços da cadeira

novamente, atraindo várias respirações profundas. — Ela foi forçada a se tornar um. E

sim, ela me disse que eu não teria vivido se tivesse ficado no Covenant.

— O que mais ela te disse sobre por que saiu? — perguntou Telly.

— Só isso.

— Por que nunca a denunciou durante os três anos que ficaram fora?

— Era minha mãe. Eu tinha medo de ela ser punida.

— De forma acertada. — disse o Ministro ancião. — O que ela fez foi imperdoável. A

partir do momento que foi dito a ela sua verdadeira natureza, era seu dever informar ao

Conselho.

— Isso é verdade, Ministro Mola. — Telly fez uma pausa, colocando a mão na parte

de trás da minha cadeira. — Como é que você não soube que sua mãe tinha sido

transformada?

Ar não poderia encher meus pulmões rápido o suficiente. — Eu a encontrei e pensei

que estava morta. Eu matei o daimon que... estava machucando-a.

— Então o que aconteceu? — Telly perguntou em voz tão baixa que tive certeza de

que ninguém mais pode ouvi-lo.

Minha garganta queimou. — Havia outro daimon, e eu... eu corri.

— Você correu? — Repetiu Telly, alto o bastante para todo o Conselho ouvir.

— Pensei que ela estava morta. — Engoli, meu olhar caindo no chão. — Estava

tentando voltar para o Covenant.

— Então, sua mãe teve que morrer para que você se lembrasse do seu dever para

com o Covenant? — Telly não esperou minha resposta, o que foi uma coisa boa. Eu não

tinha resposta para isso. — Você foi encontrada em Atlanta? Com quatro daimons, isso

está correto?

O que tudo isto tem a ver com o que aconteceu em Gatlinburg? — Estavam me

seguindo. Não era como se estivesse saindo com eles.

— Seu tom é um desrespeito. — Retrucou o Ministro mais velho. — Você faria bem

em se lembrar de sua posição, mestiça.

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Mordi meu lábio até que senti gosto de sangue.

Telly voltou-se para mim. — Você estava ciente do paradeiro de sua mãe depois que

voltou ao Covenant, Alexandria?

Um fio fino de suor escorreu pela minha espinha. — Não.

— Mas deixou o Covenant em agosto, para encontrá-la, não é? Depois que ela tomou

parte no massacre de Lake Lure? E você a encontrou? — Os lábios de Telly torceram-se

cruelmente.

Telly tinha me derrubado de novo. Fechei os olhos e inalei. — Eu não sabia onde ela

estava. Nem sabia que estava viva até que Lucian me disse.

— Ah, sim. — Ele olhou para trás para Lucian — O que você fez depois que

descobriu que ela estava viva?

Soquei e beijei um sangue puro, mas duvidava que ele quisesse saber. Na verdade,

ele adoraria saber disso, usaria para me mandar para os Mestres em uma hora. — Nada.

Telly estalou a língua. — Mas...

Raiva pulsou através de mim, batendo nas minhas têmporas. — O que têm essas

questões a ver com o que a minha mãe me disse que os daimons estavam planejando? Eles

querem dominar o Conselho. Transformar mestiços e enviá-los de volta para os Covenants

para matar. Não é isso o mais importante?

Surpreendentemente, Telly tratou minha perda temporária de sanidade bem. — Tem

tudo a ver com isso, Alexandria. O que levou você a deixar o Covenant em busca de sua

mãe?

A necessidade de mentir era quase muito grande. — Quando percebi que ela tinha

matado em Lake Lure, eu saí. Achei que ela ia encontrar-me e ela o fez. Senti-me como... se

ela fosse minha responsabilidade, meu problema.

— Interessante. — Telly vagueou para a beira do estrado. Olhando para a platéia,

falou mais alto. — É verdade que você não lutou com Rachelle quando a viu em Bald

Head?

Olhei para a parte de trás da cabeça de Telly. — Sim.

Ele inclinou a cabeça para o lado. — Por quê?

— Eu congelei. Ela era a minha mãe.

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— Mestiços vêm através da magia elementar. Nós não podemos. Como você pôde

ver algo para além do monstro em que ela se tornou? — Ele girou ao redor, sorrindo para

mim. — Isto é o que nós não entendemos, Alexandria. Você deixou a Flórida, alegando

que acreditava que ela estava morta. Voltou ao Covenant e sua mãe te seguiu, deixando

para trás um rastro de puros-sangues e Guardas abatidos.

— O quê? Foi só o ataque em Lake Lure. Ela não...

— Você foi tristemente enganada. — Seu sorriso ficou mais amplo, mais verdadeiro.

— Ela foi responsável por mais de vinte ataques em toda a costa sudeste. Nós fomos

capazes de acompanhar seu progresso direito aos degraus da porta do Covenant da

Carolina do Norte. Ela enviou um daimon meio-sangue de volta para o Covenant. Era o

que, para atraí-la para fora?

Vinte ataques? Ninguém tinha me dito isso. Nem Aiden, nem Marcus, nem mesmo

Seth. Eles tinham que ter sabido. Por que não me disseram isso?

— Funcionou. Você partiu um dia depois de Kain Poros ter retornado e assassinado

vários puros. — Telly atravessou o estrado. — Diga-me Alexandria, um meio-sangue

chamado Caleb Nicolo também foi com você para Gatlinburg?

Meu peito se apertou. — Sim.

Telly assentiu. — Ele tentou pará-la em Bald Head?

— Sim.

— É este o mesmo mestiço que morreu há algumas semanas? — perguntou um

Ministro do sexo feminino — Em um ataque daimon, enquanto estava com ela?

— Eu acredito que sim. — respondeu Telly.

— Que conveniente. — disse o Ministro murmurando, mas parecia que ele tinha

gritado aquelas palavras. — Enquanto você estava em Gatlinburg com Rachelle, o que ela

lhe contou que os daimons haviam planejado fazer?

Um pouco mal do estômago, eu disse ao Conselho o que Mamãe tinha planejado.

Lembrando minhas instruções, não disse a eles que foi, na verdade, Eric, quem elaborou a

coisa toda. Nada atravessou o rosto de Telly enquanto ele me observava. Honestamente,

nem acho que ele se preocupava com o que eu estava dizendo.

— Eles planejam atacar o Conselho e nos derrubar? — O Ministro velho bufou. —

Isso é ridículo. Tudo isso.

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Telly riu em seguida. — É pensar que um bando de viciados poderá formar um

plano coeso.

— Viciados? Sim, eles são viciados em éter, mas são o tipo mais perigoso de viciado.

— disse a Ministra Diana Elders, falando pela primeira vez. — Não podemos ignorar do

que são capazes. Saber que podem transformar mestiços muda as coisas. E, obviamente, os

deuses estão questionando a nossa capacidade de controlar os daimons.

Isto iniciou uma batalha de vontades que durou os minutos seguintes. Alguns

ministros não gostavam da ideia de ignorar os planos dos Daimons, enquanto os outros

simplesmente não levavam a ameaça a sério. Sugestões foram jogadas ao redor, como o

aumento do número de sentinelas e enviá-los para atingir grandes infestações de

Daimons, mas a maioria dos ministros não viram qualquer razão para fazê-lo. As

conversas continuaram vindo de volta para mim.

Meu estômago ficou cheio de temor quando a compreensão me atingiu. Telly e

grande parte do Conselho absolutamente rejeitavam os planos dos Daimons. De repente,

sabia que o que minha mãe tinha me dito não era a razão pela qual eu tinha sido obrigada

a assistir a esta sessão. Marcus tinha sido tristemente enganado. Ou talvez ele soubesse o

tempo todo. Distraído pelos outros ministros, eu era capaz de olhar para a multidão sem

Telly reclamando.

Aiden sussurrava para Marcus, com as mãos apertadas e os nós dos dedos brancos

na parte de trás do banco em frente a ele. Eu olhei para a sacada. Só podia imaginar o que

Seth pensava de tudo isso.

Telly finalmente voltou sua atenção para mim. — Rachelle planejava transformá-la

em um daimon?

Eu queria dizer que era meio óbvio, mas decidi contra isso. — Sim.

Telly virou o nariz aquilino no ar. — Por quê?

Esfreguei minha mão sobre a testa. — Ela queria que eu me tornasse o Apollyon

como um daimon. Pensou que seria capaz de me controlar assim.

— Então, ela queria usar você? — perguntou Telly. — Para fazer o quê?

— Queria ter certeza que eu não viria atrás dela, eu acho.

— O que você faria por ela?

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Encontrei o olhar de Telly. De alguma forma, acho que ele já sabia esta parte. — Ela

queria que eu eliminasse o outro Apollyon... E queria que eu ajudasse os Daimons com os

seus planos.

— Ah, sim, os seus planos para derrubar o Conselho e escravizar os puros-sangues?

— Telly balançou a cabeça, sorrindo. — Quantas vezes você foi marcada, Alexandria?

Meu corpo inteiro ficou tenso. — Eu não sei. Um monte.

Ele pareceu considerar isso. — O suficiente para ser transformada, você acha?

Pesadelos dessas horas trancada com Daniel e Eric me assombravam ainda.

Lembrava-me da última marca - a que eu tinha certeza de que iria finalmente escurecer

minha alma, quebrá-la em nada. Mais uma marca e eu teria atravessado para o lado

escuro. Um brilho de suor frio apareceu na minha testa.

— Alexandria?

Pisquei, trazendo seu rosto novamente em foco. — Quase o suficiente.

— Você tentou detê-los? Treinada ou não, você já havia matado dois daimons até lá.

Descrença cobria o fundo da minha garganta.

— A marcação é muito dolorosa. — Telly continuou, parando ao meu lado pelo que

parecia ser a centésima vez. Seu rosto parecia mais cheio quando ele estava perto. —

Como você pode permitir que isso acontecesse repetidamente? Parece que um meio-

sangue faria tudo e qualquer coisa para evitar ser marcado.

— Eu não podia lutar contra eles.

Suas sobrancelhas escuras subiram em incredulidade. — Você não podia ou não

queria?

Fechei os olhos, lutando por paciência. — Prometi a ela que não o faria se ela não

matasse Caleb. Não tinha outra escolha.

— Há sempre escolhas, Alexandria. — Ele fez uma pausa, nojo curvando seu lábio

quando ele olhou para mim. — Permitir algo tão revoltante parece suspeito. Talvez você

quisesse ser transformada.

— Ministro chefe, — Lucian falou então. — Eu entendo que algumas dessas

perguntas são necessárias, mas Alexandria não se sujeitou a essas atrocidades de bom

grado. Até mesmo sugerir algo assim parece anormal e cruel.

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— É mesmo? — Telly zombou de mim.

— Espere um segundo, — eu disse, suas palavras finalmente afundando dentro de

mim. — Você está sugerindo que eu queria ser transformada em algo tão mal? Que eu

pedi isso?

Telly levantou as mãos com altivez. — Como achou que nós interpretaríamos?

Olhei para a platéia em seguida, rapidamente pegando um olhar triste no rosto de

Marcus. — Você sabe que isso soa como lema para um estuprador? Ela vestia uma saia

curta, por isso ela queria?

Vários ofegos podiam ser ouvidos da platéia. Parecia que a palavra "estrupador" era

inadequada. O olhar presunçoso lentamente saiu do rosto de Telly. — Alexandria, você

está fora de linha.

Meu cérebro desligou nesse ponto. O que Daniel tinha me dito antes de ter me

marcado encheu minha mente. Era como se Telly pensasse a mesma coisa. Que eu queria

ser marcada, que gostei. Me levantei. — Você está me dizendo que eu estou fora da linha?

— Ninguém te deu ordem para sair. — Telly se ergueu em toda sua estatura.

— Ah, eu não vou sair. — Todos os olhos estavam em mim. Abaixei-me e puxei

minha blusa para cima sobre a minha cabeça. Houve um momento em que ninguém

pareceu respirar. Eu encontrei os olhares de boca aberta; seria de pensar que eu não tinha

uma camiseta por baixo da blusa pelos olhares em seus rostos.

— O que no mundo você está fazendo, Alexandria? — Exigiu Lucian.

Ignorando-o, eu me afastei da cadeira e segurei meus braços na minha frente. — Isto

se parece com algo que eu queria ter? Que pedi?

Contra suas vontades, dezenas e dezenas de olhos fixaram-se nos meus braços.

Alguns engasgaram e estremeceram, desviando o olhar rapidamente. Outros não. Como

se não pudessem tirar os olhos da pele irregular vermelha e seu brilho não-natural. Meu

olhar cruzou o chão enquanto Telly me olhava como se estivesse tendo um ataque do

coração ao meu lado. Eu vi a inclinação de orgulho no queixo de Laadan. Algumas filas na

frente dela vi o olhar horrorizado de Dawn. Mais para trás, atrás dos membros do

Conselho, Marcus empalideceu. Ele nunca tinha visto minhas cicatrizes, apenas

vislumbres capturados no meu pescoço. Eu não acho que ele soubesse o quão ruim elas

eram. Senti um afrontamento rastejar até o meu pescoço, mas o olhar atônito de orgulho

no rosto de Aiden me deu a confiança para enfrentar os Ministros.

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Fiquei imaginando qual era a expressão de Seth. Ele provavelmente estava sorrindo.

Ele adorava quando eu era irracional e isto foi realmente irracional.

Virando, mostrei a eles meus braços. — Elas parecem ter doído, não é? Realmente

doeram. É o pior tipo de dor que podem imaginar.

— Alexandria, sente-se. Nós entendemos seu ponto. — Telly chegou para mim, mas

eu pisei de lado.

Um Guarda moveu-se, pegando a minha camiseta. Ele a segurou, os olhos

nervosamente saltando entre Telly e eu.

Olhei para os outros Guardas, esperando que eles não estivessem planejando me

derrubar. Todos menos um eram mestiços e nenhum deles parecia disposto a me parar.

Inclinando a cabeça para os Ministros, tentei manter o sorriso no meu rosto. — Então,

vocês realmente acham que eu fui junto com a minha mãe? Que queria isso?

Diana empalideceu e olhou para longe, balançando a cabeça tristemente. Os

ministros restantes reagiram bem como o público tinha. De qualquer forma, tenho certeza

que eu tinha conseguido o meu ponto de vista.

Uma sombra furiosa de vermelho cobriu as bochechas de Telly. — Você terminou,

Alexandria?

Encontrei sua carranca com a minha. Vagarosamente, voltei para a minha cadeira e

me sentei. — Acho que sim.

Telly arrancou a blusa da mão do Guarda. Eu poderia dizer que ele queria jogá-la

para mim, mas com incrível auto-controle, ele entregou. Eu não a coloquei de volta. —

Agora, onde estávamos?

— Nós estávamos no ponto em que você estava me acusando de querer me tornar

um daimon.

Vários Ministros inalaram bruscamente. Telly parecia a segundos de explodir.

Inclinando-se para que os nossos rostos estivessem a centímetros de distância, ele falou

baixo e rápido. — Você não é uma coisa natural, me entende? Um prenúncio de morte

para a nossa espécie e para os nossos deuses. Vocês dois.

Eu recuei, com os olhos arregalados. ‘Prenúncio de morte’ soava extremo e louco.

— Ministro Chefe, — chamou Lucian. — Nós não pudemos ouvir a sua pergunta.

Gostaria de falar de novo?

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Telly endireitou-se. — Perguntei-lhe se havia algo mais que gostaria de acrescentar.

Meu queixo caiu no chão.

Ele sorriu de maneira uniforme. — Há coisas, fora o evento em Gatlinburg, que me

preocupam muito, Alexandria. O seu comportamento antes de deixar o Covenant e as

brigas em que tomou parte após seu retorno, te deixaram em uma grande desvantagem,

temo eu. E como é que na noite em que o Covenant foi violado na Carolina do Norte, você

estava fora de seu dormitório depois do toque de recolher estipulado para mestiços?

Eu sabia aonde isso ia dar, portanto fui direto ao ponto. — Eu não deixei os daimons

entrarem, se é isso que está sugerindo.

O sorriso de Telly azedou. — Assim parece. Depois, há o seu comportamento desde

que chegou aqui. Acusou um puro-sangue de usar uma compulsão contra você, não foi?

— Ela fez o que? — Gritou a Ministra. — Acusar um puro-sangue de tal ato é

chocante. Havia qualquer prova, Ministro Telly?

— Meus guardas não puderam encontrar nada para apoiar a reivindicação. — Telly

fez uma pausa dramática. — E então você atacou um Mestre que estava disciplinando um

servo.

Vários Ministros perderam a calma então. Telly parou quando eles exigiram saber

exatamente o que ocorreu. Imaginei-me correndo através do tablado e chutando Telly na

virilha uma e outra vez.

Quando se acalmaram um pouco, Telly se dirigiu ao Conselho. Sua voz soou alto

através do coliseu. — Eu temo que nós tenhamos uma preocupação maior do que daimons

se reunindo e nos atacando em massa. O que vocês veem sentado diante de nós pode

parecer uma simples meio-sangue, mas sabemos que não é o caso. Em questão de alguns

meses, ela se tornará a segunda Apollyon. Se ela for sequer metade tão incontrolável como

é agora, o que vocês acham que vai acontecer quando Despertar?

Meu coração gaguejou, perdendo uma batida.

— Como Ministro Chefe, dói-me profundamente sugerir isso, mas temo que não

tenha outra escolha. Temos de proteger o futuro de nossos verdadeiros Mestres. Sugiro

remover Alexandria Andros do Covenant e colocá-la sob a supervisão dos Mestres.

Empurrei para frente cegamente. Eu não conseguia nem me mover quando a rajada

de medo revestiu minha boca e meu estômago se agitou em nós. Isso era o que Telly

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queria, toda a razão para eu estar aqui. Não tinha nada a ver com o que os daimons

planejavam.

De cima, senti uma tempestade se formando. Ela pairava sobre a minha pele,

elevando os minúsculos pêlos do meu corpo. Seth era uma tempestade prestes a explodir.

— Ministro Telly, minha enteada não cometeu nenhum crime que justifique servidão.

— Lucian objetou. — Ela tem de ser considerada culpada antes de expulsá-la do Covenant

e colocá-la em servidão.

— Como Ministro Chefe...

— Você tem uma grande quantidade de poder como Ministro Chefe. Pode expulsá-la

do Covenant, mas não pode sentenciá-la à servidão sem justa causa ou por votação do

Conselho. — disse Lucian. — Essas são as regras.

Olhei para cima, meus olhos encontrando Aiden. Este foi um dos raros momentos em

minha vida em que eu sabia exatamente o que Aiden estava pensando.

Virei-me na cadeira. Telly encarava Lucian, mas eu vi que Lucian estava certo. Telly

poderia me expulsar, mas não poderia me enviar à servidão por um capricho. Seria

necessário o Conselho fazê-lo e eu tinha a sensação de que se o Conselho concordasse seria

a última coisa que faziam.

— Então eu clamo por uma votação. — A voz de Telly era como gelo.

Calculei a distância de onde eu estava sentada até a porta à minha direita. Meus

músculos tencionaram quando soltei a cadeira e torci para o lado. Meu casaco caiu do meu

colo. Eu não queria ferir os Guardas mestiços, mas eu ia passar por eles.

Então o quê?

Correria como o inferno.

— Como você vota? — perguntou Telly.

O primeiro "sim" enviou um tremor através de mim, o segundo fez o ar ondular com

eletricidade. O público mudou quando o terceiro "sim" disparou a tensão. Eu queria olhar

para Aiden uma última vez, mas não conseguia tirar os olhos da porta. Seria minha única

chance.

Três dos ministros disseram "não" e Telly caminhou para o fim do tablado. O

próximo disse "sim" e meu estômago caiu. Queria gritar, mas o medo prendendo minha

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garganta me impediu. Enfrentar daimons era uma coisa, mas uma vida de servidão era

meu maior medo.

— Ministra Chefe Elders, você é a última a votar. — Eu podia ouvir o sorriso na voz

de Telly.

O silêncio encheu a sala, segurando os puros paralisados e esticando meus nervos em

linhas tensas. Era isso... Era isso... Fechei meus olhos, dando uma respiração profunda.

— Ela provou ser... um problema. — disse Diana, sua voz tão clara como Telly. — Há

muitas áreas que me preocupam muito, mas eu tenho que votar 'não'. Ela tem que quebrar

a Ordem da raça para ser colocada em servidão e não o fez, Ministro Telly. Tudo o que foi

fornecido foi circunstancial.

Desfaleci contra a cadeira, o ar saindo dos meus pulmões. Uma energia violenta

soltou-se de mim, deslizando da minha pele enquanto voltava para o seu dono.

Telly não encarou isso muito bem, mas não havia nada que pudesse fazer. Ele voltou

para o meu lado, encarando. Eu não queria nada mais do que cortar-lhe o pescoço.

— Então Srta. Andros, você deve continuar como está, por agora. — Telly sorriu

firmemente. — Mais um erro, Alexandria, mais uma vez, e será isso. Você será colocada

em servidão.

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Vinte e Três

Depois do conselho, Marcus me escoltou até o meu quarto com instruções

explícitas. — Não saia do seu quarto a menos que alguém esteja com você.

Ele já viu este quarto? Passar aqui o resto de qualquer que fosse o tempo para

Seth aparecer ou Laadan sentir pena de mim, parecia castigo. Eu não tinha feito nada

de errado. Não era minha culpa que Telly era um lunático determinado a me

subjugar em servidão.

Mas passei o resto do dia e a melhor parte da tarde no meu quarto, imaginando

o olhar no rosto de Telly depois que eu Despertasse e o queimasse com suficiente

suco de Apollyon para eliminá-lo. E todos esses Puros que me olharam com nojo? Eu

lhes daria algo para ter um ataque. Ok. Talvez estivesse exagerando um pouquinho,

mas a atitude antagônica de Telly me irritou. Precisava sair, fazer alguma coisa.

O que eu realmente precisava era bater em algo.

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Finalmente quando estava prestes a enlouquecer, houve uma batida suave na

minha porta. Correndo em direção a ela, eu a abri bruscamente. Laadan estava

parada na entrada, dois copos de cristal em sua mão. Suas bochechas estavam

coradas, olhos brilhando.

Por favor, esteja aqui para me deixar sair deste quarto.

Seus olhos não estavam realmente focados em mim quando ela sorriu. — Achei

que poderia esticar suas pernas. — Ela deu um passo para trás. — Vem?

Obrigada, deuses. Eu segui sua forma graciosa pelo corredor e degraus. Lá

embaixo, os puros estavam em modo de celebração total. A julgar pelos sons vindos

do salão de dança e recepção eles já estavam bêbados. Ninguém estaria prestando

atenção em mim. Estavam muito ocupados festejando. A atitude indiferente deles em

relação a tudo era irritante e frustrante.

— Achei que você poderia usar um pouco de companhia. — Ela disse

lentamente, falando pela primeira vez desde que apareceu na minha porta.

Nós paramos do lado de fora da sala de recepção lotada. Laadan estava parada

embaixo de uma pintura da Deusa Hera. A semelhança entre as duas era

impressionante. Ela me ofereceu um copo do luminoso líquido vermelho. — Aqui,

você merece isso depois do dia que teve.

O copo estava quente na minha mão. — O que é isso?

Ela sorriu enquanto seu olhar se afastava. — É algo especial para uma garota

especial. Você vai amar.

— Está bêbada?— Dei uma risadinha.

Laadan suspirou sonhadoramente. — A noite está linda, Alex. Como está sua

bebida?

Levantei o copo e dei uma fungada cautelosa. Cheirava magnífico - como

orquídeas selvagens, e uma pitada de mel e gergelim. Olhando para cima, vi Laadan

flutuar para dentro do salão de recepção. Eu me arrastei atrás dela, meu olhar

deslizando através da multidão enquanto levantei o copo até meus lábios. Eu vi

Marcus e Diana parados muito próximos. Mais uma vez, o sorriso no rosto de

Marcus me confundiu. Ele nunca sorria assim, especialmente não quando eu estava

por perto.

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Risadas irromperam pela sala, chamando minha atenção. Jovens garotas puras

cercavam um homem de boa aparência, brigando umas com as outras para estarem

mais próximas a ele. Vários Guardas estavam de pé atrás do grupinho feliz,

parecendo igualmente entediados e distantes. Entre eles estava o Guarda puro-

sangue a quem Telly recorreu durante a primeira sessão. Eu estremeci, segurando o

copo mais apertado. Então meus olhos giraram mais um pouco pelo salão e

repousaram em Aiden.

Dawn estava ao seu lado, deslumbrantemente linda e olhando-o com grandes

olhos de cor ametista. Vê-los juntos não trouxe uma sensação agradável. Ele nunca

mostrou um pingo de interesse nela que não fosse amigável, mas era o tipo de garota

que Aiden teria permissão - deveria namorar.

Talvez ele se cassasse com ela algum dia - ou alguma outra pura igual à Dawn.

Ele se acomodaria e se comprometeria. Pare, eu ordenei a mim mesma. Aquilo não

importava - nem mesmo se ele tivesse uma dúzia de bebês puro-sangue. Eu havia

aceitado que não podia estar com ele. Além disso, eu meio que escolhi Seth. Mas a

dor se alastrou profundamente no meu peito, criando raízes ao redor do meu

coração. Merecia um chute na bunda por ficar parada aqui, olhando para ele como

um tipo de perseguidora.

— Sua bebida, querida, você não vai prová-la?

— Oh. — Eu olhei para baixo. Ainda maravilhosamente quente na minha mão,

a bebida queimou meus lábios e a ponta da minha língua, mas desceu com

surpreendente facilidade. Na verdade, o gosto era de hortelã - gaultéria quente. —

Tem gosto de...

Laadan tinha ido embora.

Surpresa com seu ato de desaparecimento, olhei ao redor do salão, encontrando

Aiden ao invés de Laadan. Havia se movido, estando agora parado no fim do salão.

Sem Dawn, ele conversava com outro puro, mas parecia focado em mim.

Sua desaprovação se esticou além de onde estava e me acertou violentamente.

Era porque eu estava fora do meu quarto? Se fosse isso, aquilo me irritou. Outra coisa

que me irritou foi o tremular no meu peito.

Aiden se livrou do puro, dando um passo à frente e parecendo muito, muito

irritado. Meu coração pulou no meu peito. Ele estava vindo para mim - não Dawn,

não outra pura qualquer, mas sim eu. O tremular no meu peito aumentou.

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Qualquer tipo de atenção era bom.

De repente, eu odiava aquela ideia. Odiava o fato de que estaria satisfeita com

aquilo. Inclinei o copo novamente e tomei um longo gole. Era isso ou me jogar no

chão, chorando e me debatendo.

Tomei outro gole, esperando a queimação desta vez. O gosto era bom, muito

bom. Olhei para cima novamente e descobri que um puro alto e loiro bloqueava

Aiden parcialmente, mas seu olhar furioso ainda me encontrou. Levantei uma

sobrancelha para ele e trouxe o copo até os meus lábios, tomando outro gole.

Aiden deu a volta no puro e fez uma linha reta direta para mim.

Do nada, e eu digo do nada mesmo, Seth apareceu e arrancou a bebida da

minha mão, espirrando gotas vermelhas em todo o meu suéter.

— Nossa! — Passei mão sobre minha boca. — Isso era necessário?

Seth levou o copo até seu rosto e cheirou-o. Praguejando sob sua respiração, ele

o empurrou para Aiden. — Quem te deu isso? — Seth exigiu.

— Por que você se importa? É só uma bebida.

— Alex, quem te deu essa bebida? — A voz quieta de Aiden não me deixou

espaço para provocá-lo.

— Laadan me deu. Qual é o problema?

A boca de Seth caiu aberta, mas a reação de Aiden foi muito mais forte. —

Merda. Inacreditável.

— O quê? — Olhei de um para o outro. — O que está acontecendo?

— Malditos puros. — Seth cuspiu — Eu só posso começar a imaginar o que eles

esperavam conseguir com isto.

O copo parecia que ia quebrar na mão de Aiden. Fúria irradiava dele em ondas

e seus olhos queimavam, mas ele não olharia para mim agora. — Maldição. Esse era

o seu primeiro copo?

— Sim. — Eu dei um passo à frente. — Aiden, o que está acontecendo?

Seth expirou duramente. — Meio copo é mais do que suficiente.

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— De jeito nenhum Laadan daria isso para ela. — Aiden fez uma carranca. —

Ela sabe o que essa bebida faz.

— Laadan me deu a bebida. Não mentiria sobre isso. Diga-me o que diabos está

acontecendo.

Seth passeou as mãos por seus cabelos. — Acho que vou bater em alguém.

Olhei para Seth. Ele também não olharia para mim. Havia algo errado com o

meu rosto? Eu coloquei minhas mãos nas minhas bochechas e a única coisa que notei

foi que minha pele estava quente.

— Não posso ir embora agora. — Aiden falou com palavras nitidas e curtas —

Telly e os outros Ministros nos querem aqui. Ela não pode ser deixada sozinha, Seth.

Seth assentiu. — Vou manter um olho nela.

Aiden rosnou uma curta risada. — É, eu acho que não.

— Então o que sugere que a gente faça? — Seth exigiu. — Deixá-la andar por aí

sozinha?

Minha paciência se acabou. Estendi minhas mãos e agarrei os braços de Aiden -

uma coisa ruim para se fazer a um puro em público, mas eles estavam agindo como

se eu nem estivesse ali. — O que está acontecendo?

Aiden se virou e agarrou minha mão, me puxando entre eles dois. — De jeito

nenhum Laadan daria essa bebida para você livremente. Ela parecia estranha?

Agindo diferente em qualquer aspecto?

— Sim. — sussurrei. — Ela parecia bêbada.

Seus olhos se tornaram fogo. — Ela foi compelida a te dar essa bebida.

— De jeito nenhum, isso é impossível. Compelir um puro é completamente

ilegal. Você tem que…

— Alguém armou para você, Alex, e eles queriam isso o suficiente para quebrar

as regras. Todos os puros sabem o que essa bebida é apenas olhando para isso. Te

deram Infusão Afrodisíaca, Alex.

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— Infusão? Oh. Oh. Oh, meus deuses. — Eu me sentia quente e fria ao mesmo

tempo. Tinha acabado de beber o equivalente a um ‘Boa noite Cinderela’9. Descrença

me atingiu. — Você tem que estar errado. Um puro não compeliria outro puro e

Laadan nunca me daria algo desse tipo. Eu não ligo para o que você diz.

— Alex. — Aiden disse gentilmente. — Existem puros que sabem que você é

próxima da Laadan.

— Aiden, nós precisamos tirá-la daqui. Logo. — Seth interrompeu.

Olhei para ele. — Eu me sinto bem. Não devo ter bebido o suficiente.

Seth riu secamente. — É.

Aiden soltou a minha mão, olhando para Seth. — Eu não gosto de você - muito

menos confio em você.

Um músculo tremeu ao longo da mandíbula de Seth. — Não tem nenhuma

outra opção agora. Eu não vou deixar nada acontecer a ela, Aiden. E não iria... tomar

vantagem dela.

Mandei um olhar sujo em direção a Seth. — Ninguém tira vantagem de mim a

menos que eu queira.

Whoa, isso não saiu direito.

— Fora de questão. — Aiden disse de forma baixa e perigosa.

— Adivinha o quê? Eu também não gosto de você. Mas não há nenhuma outra

escolha. Ou você arrisca isto ou confia em mim o suficiente para saber que vou

manter um olho nela. — Seth pausou, seus olhos encontrando os de Aiden. — Eu

tenho tanto investido quanto você.

Cocei minha perna. — Investido no quê?

Eles me ignoraram.

Aiden meio que rosnou. — Se alguma coisa - qualquer coisa - acontecer a ela…

— Eu sei, — Seth respondeu. — Você me mata.

9 Termo original ‘Olympian roofie’ = roofie; Termo usado para Rohypnol, um sedativo feito no

começo dos anos 70 por Roche e costumava ser usado em hospitais apenas para sedação profunda.

Agora é bastante infame por ser uma droga usada em casos de estupros.

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— Farei pior. — Aiden rosnou. — Não a leve para o quarto dela. Nós não

precisamos que Marcus saiba sobre isso. Leve-a para... seu quarto. Assim que puder,

eu irei. — Ele se virou para mim e forçou um sorriso. Odiava aquele tipo de sorriso.

— Tudo vai ficar bem. Só, por favor, por favor, escute o Seth, e não importa o que

você faça não saia do quarto dele.

Olhei para Aiden. — Espera. Eu quero…

Aiden já havia se virado e desaparecido na multidão. Então, Seth pegou minha

mão, me guiando do salão. Eu realmente não sabia o que esperar. Tinha ouvido

rumores no Covenant sobre a Infusão, sabia que Lea supostamente possuia um

pouco, mas eu nunca tinha visto alguém sob sua influência.

Seth não disse nada enquanto nós navegamos os corredores e nos direcionamos

para cima. Vários lances de escadas depois, eu ainda me sentia bem. — Eu realmente

me sinto bem. Não tem nada errado comigo. Tenho certeza que posso ir para o meu

quarto. Não vou sair.

Seth puxou-me pelo corredor.

— Olha, por que você não fala comigo? Especialmente depois da noite

passada…

Ele me deu um olhar perigoso sobre seu ombro. — Isso agora não tem nada a

ver com a noite passada

Olhei de volta para ele mesmo embora eu achasse sua mão incrivelmente suave

ao redor da minha. — Você está com raiva de mim?

— Alex, não estou com raiva de você. Mas estou irritado agora. É melhor que

nós não falemos. Eu poderia acabar queimado esse prédio inteiro. — Largando a

minha mão, ele abriu a porta do seu quarto e gesticulou para eu entrar. — Entra.

Lancei-lhe um olhar altivo. Sério, eles estavam transformando isto em algo

maior que…

— O que diabos?

Seth chutou a porta fechando-a atrás dele. — O quê?

— Como é que você conseguiu esse quarto fantástico? — Eu me virei ao redor,

pasma com o teto de catedral, tapetes de pelúcia e uma televisão de tela grande que

tomava metade da parede. E a cama - era do tamanho de um barco. Minha situação

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atual estava temporariamente esquecida. — Eu tenho dormido em um armário. Isso

não é justo.

Ele largou suas chaves em uma cômoda. — Eu sou o Apollyon.

— E? Eu também sou e ganhei uma caixa de fósforos como quarto. Um caixão

teria sido maior.

— Você não é um Apollyon ainda.

Essa foi a extensão da nossa conversa por vários minutos. Eu o assisti rondar ao

redor do quarto e depois até a janela. Ali ele ficou.

— O que está fazendo?

Seth encostou-se no parapeito, sua atenção presa a qualquer coisa que ele viu lá

fora. Vários fios de cabelo tinham fugido do laço e escureciam a maior parte de sua

expressão. — Sirva-se do que você quiser na sala. Assista um pouco de TV ou vá

dormir.

Minha paciência se esticou e acabou. — Você é um idiota.

Ele não respondeu.

Eu me mexi desconfortavelmente, desejando que tivesse vestido uma camisa

debaixo do moletom encapuzado. O quarto parecia quente, quase insuportável. Fui

para cama para me sentar, mas parei. Uma estranha sensação rastejou pela minha

espinha. Era diferente -incrível. Como uma rajada incrível de felicidade. É. Como

uma onda de sol e tudo o que é bom.

De repente tudo parecia bem - maravilhoso, até.

Seth se virou da janela, seus olhos se estreitando em mim. — Alex?

Eu me girei lentamente. O quarto parecia mais claro, suave e lindo. Tudo

parecia lindo. Acho que talvez tenha suspirado.

— Oh, deuses. — Seth gemeu. — Está começando.

— O que está começando? — Eu mal reconhecia minha própria voz.

Seth me olhou enfaticamente. Achei que parecia engraçado, então eu ri, e foi

como se um interruptor tivesse sido ligado. Queria correr, dançar e cantar - e eu não

sabia cantar, mas queria - e eu queria... fazer coisas.

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Sua atitude descontraída desapareceu e sua expressão se tornou dura. — Vá se

sentar, Alex.

Joguei minha cabeça para trás. Bem, ela meio que caiu para trás e eu gostei do

peso do meu cabelo caindo no espaço vazio, ali pendurado. A sensação era boa no

meu pescoço.

— Sério, vá se sentar.

— Por quê? — Levantei minha cabeça, balançando um pouco. Minha pele

formigava, tipo, toda ela - formigava como choques elétricos - como quando Aiden

costumava me tocar ou quando eu beijei Seth noite passada. Gostei daquilo também,

mas eu preferia os beijos de Aiden. O toque de Seth invocava algo diferente. Deuses,

meu cérebro não calava a boca. Ele continuava falando e falando.

Ele se afastou da janela. — Você parece ridícula, Alex.

Parei de me mexer, sem nenhuma ideia de quando eu havia começado a me

balançar de trás para frente. — Voooocê parece maaaais ridículo, — eu cantei. — Está

se preocupando demais. Não combina com você.

Ele coçou o queixo e seu olhar me seguiu com a intensidade de um falcão

perseguindo sua presa. — Essa vai ser uma longa noite.

— Talvez. — Eu me aproximei dele, talvez porque quisesse estar mais perto de

algo, alguém. — Ei. Você sorriu.

Sua mão caiu. — Não.

Eu dei uma risadinha. — Não o quê?

— Não chegue mais perto, Alex.

— Você não tinha problema nenhum com ficar perto de mim na noite passada.

Por que está com medo de mim?

— Não estou.

— Então por que eu não posso chegar perto?

Divertimento piscou através de seu rosto por um segundo antes de desaparecer.

— Alex, você precisa se deitar.

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Eu me virei, repentinamente cheia de vontade de dançar. Quando nós havíamos

dançado valsa no campo - aquilo tinha sido divertido. Queria fazer de novo, e queria

que Seth me acompanhasse. Dançar sozinha era meio sem graça.

— Alex…

— Certo. Vou me sentar. — Então eu me joguei nele. Devo tê-lo pegado de

surpresa porque ele não se mexeu, e sério, Seth poderia ter se movido se quisesse.

Mas não fez.

Enrolei meus braços ao redor do peito dele como um polvo e não queria mais

dançar. — Eu gosto disso, — murmurei, esfregando minha bochecha contra a frente

de sua camisa.

Seth não reagiu de primeira e eu soube que ele gostava daquilo também. Então

agarrou meus braços e os desenrolou de seu peito. — Alex, vá se sentar, por favor.

— Eu não quero. — Tentei alcançar seu pescoço, mas ele deu um passo para

trás. Franzi as sobrancelhas. — Por que continua se afastando de mim? Você está com

medo de mim agora?

— Sim. Neste momento eu estou.

Joguei minha cabeça para trás, rindo. — O grande e malvado Apollyon está

com medo de mim? Estou com calor. Não pode abrir a janela?

Seth se virou e foi até a janela. — Por que eu sugeri isso?

— Por que vooocê gosta de mim, — cantei, girando e girando até que me senti

tonta — Você gosta muito, muito de mim. Deuses, eu tenho que beber dessa coisa

mais frequentemente. Eu me sinto maravilhosa.

Gemendo, ele procurou pela tranca da janela. — Mais tarde você não vai.

— Huh? Já bebeu isso antes? Você bebeu! Seu Apollyon sujo. — Me joguei na

cama. Era tão confortável. — Eu amo a sua cama. — Rolei de estomago, sorrindo. —

Eu a amo tanto que casaria com ela se pudesse.

Seth riu alto. — Casaria com a minha cama?

— Mmm. — Rolei de costas. Havia um mural pintado no teto de Seth. Anjos e

outras criaturas com asas pintadas em bonitos tons pastéis. — Eu casaria se nós

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pudéssemos, mas não podemos. Nem mesmo com objetos inanimados. Meio que

arruína a graça de se apaixonar.

— É? — murmurou Seth.

Eu me levantei da cama, incapaz de ficar sentada. Seth ainda estava na janela,

mas tinha esquecido a tranca. — Você alguma vez se apaixonou, Seth?

Ele piscou lentamente. — Eu acho que não. Amar a si mesmo conta?

Eu ri. — Não. Não conta. Mas boa tentativa. Seth?

— Sim?

— Está quente aqui.

Sacudindo sua cabeça, se virou de volta para a janela. — É, me deixe achar a

maldita tranca nessa coisa e vou consertar isso para você.

Estava muito quente. Quente demais e eu não conseguia mais aguentar o

áspero material contra minha pele. Seth estava demorando demais. Tirei o casaco

com capuz por cima da minha cabeça e o joguei no chão. Imediatamente me senti mil

vezes melhor.

Seth enrijeceu e soltou um som estrangulado. — Por favor, me diga que não

tirou sua roupa.

Dei uma risadinha. — Não.

Ele passou a mão sobre sua cabeça. Mais fios sedosos se infiltraram entre seus

dedos. — Eu vou me arrepender disso. Vou me arrepender disso absolutamente.

— Não estou pelada, seu idiota. — Puxei meu cabelo atrás do pescoço e comecei

a torcê-lo. — E você tem tentado me ver pelada desde que te conheci.

— Esse pode ser o caso, mas não assim.

— Pelada é pelada. — Eu argumentei.

Lentamente, Seth se virou e congelou. Seu peito subia e descia instavelmente. —

Oh, pelo amor dos deuses, Alex, onde está sua camisa?

Eu não entendi por que ele estava agindo como se aquilo fosse grande coisa.

Estava de sutiã. Não era como se... o pensamento evaporou. — Estou tão quente. Só

me dê uma camisa. Sua camisa deve funcionar.

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— Sim... Você está quente. Eu posso dizer. — A voz dele soou grossa e nervosa.

Eu ri e soltei meu cabelo, mas ainda estava com calor... E fora de controle. A

última vez que tinha me sentido desse jeito, eu tinha beijado Aiden. Isso é, depois

que bati na cara dele. Parei de me mexer, não gostando do tremular nervoso no meu

estomago. Olhei para baixo, esperando ver minha pele se movendo. Cutuquei minha

barriga uma vez, mas parecia que eu tinha enfiado meu dedo na pele mil vezes. Meu

coração pulou uma batida.

— O que você está fazendo? — Seth perguntou.

— Eu não sei. Meu estômago parece leve.

— É a bebida. Vai se sentir melhor se sentar. Vou pegar uma camisa para você.

Só espera um segundo.

Olhei para cima então. Seth havia se movido para a cômoda, remexendo as

gavetas. Ele estava de costas para mim - uma posição vulnerável - e parecia que

estava se concentrando terrivelmente em achar a camisa.

Uma nova, embora um pouco velha, ideia me consumiu. Eu não acho que já me

movi tão silenciosamente na minha vida. Descrição de um ninja. Seth não percebeu

até que fosse tarde demais. Ele disparou de pé e virou bruscamente, olhos largos.

— Alex, me deixe pegar uma camisa para você. Fique quieta. — Se moveu para

a esquerda.

Eu o segui, imitando seus movimentos muito parecidamente como fiz no

treinamento. Desistindo da camisa, disparou para longe da cômoda - longe de mim.

Mas fui mais rápida. Eu tinha meus braços ao redor dele mais uma vez. Então uma

ideia ainda melhor apareceu.

— Me beija? — Eu perguntei.

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Vinte e Quatro

Seth inclinou a cabeça para trás, suspirando alto. — Alex, você não quer isso. É a

bebida.

— Isso não é verdade. Não há nada de errado comigo. Você não quer me beijar?

— Não é sobre o que eu quero. — Ele apertou meus braços. — Não vou fazer isso

quando você está assim.

— Não estou bêbada. — disse indignada.

— Você estava dançando como uma ninfa da floresta há cinco minutos. Tirou sua

camisa e agora está presa em mim como um pequeno macaco. Assim não me diga que está

no controle completo de si mesma.

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Droga. Quando colocado dessa forma, tive que parar e pensar sobre o que estava

fazendo. O pensamento durou cinco segundos, talvez seis. Pensar era superestimado. —

Você quer me beijar e gostou de fazer isso na noite passada.

Seth fez um som baixo em sua garganta quando agarrou meus ombros, dando-me

uma pequena sacudida. — Sabe por que se sente assim agora? Não tem nada a ver comigo

ou com você. — Disse ele asperamente. — Alguém queria te arruinar, Alex. Queriam

pegá-la com algum puro, pois assim seria removida do Covenant e colocada em servidão.

Não entendeu? Isso - isso não é você.

— Não. Esta sou eu, realmente eu. Ou a conexão estranha, mas quem se importa?

Quero que você me beije de novo. Eu gosto de você, Seth. Realmente não sei o porquê. É

arrogante e rude, mas eu gosto. Você não gosta de mim?

— Alex. — Ele disse o meu nome como se estivesse em algum tipo de dor

requintada. — Estou tentando ser um bom rapaz agora, e você não está ajudando.

— Não quero que seja um bom rapaz.

Ele se engasgou com seu riso. — Está tornando isso muito difícil.

Me pressionei contra ele. — Você está tornando isso mais difícil.

Suas mãos deslizaram por meus braços novamente, enviando calafrios sobre mim.

Poderia ser possível estar tão quente e tão fria de uma só vez? — Alex.

— Seth.

— Há um monte de coisas que quero fazer com você agora, mas não seria certo.

Derrubei minha cabeça para trás e olhei-o nos olhos. Marcas fracas do Apollyon

começaram a rastejar em seu rosto. — Você não quer me beijar? — Aproximei-me,

correndo os dedos sobre os seus lábios entreabertos. — Sei que quer. Eu posso dizer.

O aperto de Seth ficou mais forte e seus olhos caíram fechados. Enfiei a mão sob a

bainha de sua camisa. Ele inalou e tentou dar um passo para trás, mas eu o segui... Um

pouco perto demais. Minha perna ficou enredada com a sua. Para alguém tão gracioso

normalmente, ele não estava bem. Ele caiu, metade em seu lado e metade em suas costas.

E eu, bem, eu estava exatamente onde queria estar. Rindo, pressionei minha boca

para seu pescoço. — Uhuu para mim. — murmurei contra sua pele.

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Seth sacudiu a cabeça para trás, mas suas mãos caíram para os meus quadris, os

dedos cavando através do denim. — Alex! Saia de…

Baixei a boca para a dele. Seth me empurrou, mas eu tinha um bom agarre nele e ele

também não forçou muito. E então parou de me empurrar e foi me puxando para mais

perto - tão perto que eu derreti. Contenção e boas intenções desapareceram quando meus

lábios roçaram sobre os dele. Esse beijo não era suave ou cheio de exploração

questionadora. As mãos de Seth se enroscaram em meu cabelo, e por um tempo, me perdi

naquele beijo, perdida em todas as loucas sensações. Em seguida, suas mãos estavam em

meus ombros, nas costas, e depois, no fecho do meu sutiã. Os lábios de Seth nunca

deixaram os meus, nem mesmo quando me rolou de costas.

As coisas meio que ficaram lindamente fora de controle. A camisa caiu. Meus jeans

acabaram limpando o chão da sala. Meus dedos encontraram o botão de seus jeans e assim

por diante. Tão louco quanto isso soa, Seth se conteve e eu puxei-o para mais perto, ele se

levantou de cima de mim e eu tentei me enrolar em torno dele. E apesar do meu corpo

queimar por mais - exigir, na verdade - uma vozinha irritante apareceu na minha mente,

fazendo perguntas que eu não queria responder. Lembrando que isso não era real. Ou era?

Não sabia mais. Sabia que deveria me importar, mas não me importava. Tudo passou a ser

sobre as sensações.

Os lábios de Seth passaram por toda a minha pele. Suas mãos seguraram em concha

no meu rosto antes de descerem. Minhas próprias mãos seguiram seu exemplo, imitando

tudo o que ele fazia até que as pontas dos meus dedos já não formigavam, pois estavam

sim entorpecidas.

Seth se afastou de novo, sua respiração pesada e irregular enquanto seus dedos

traçavam a curva do meu pescoço. — Eu não deveria fazer isso. Não quando você está

assim, mas não consigo parar. O que isso diz sobre mim?

Suas palavras confundiram o meu já confuso processo de pensamento, mas então ele

me beijou novamente. Foi um beijo do tipo poderoso - do tipo profundo em que eu tinha

pouca experiência. Só havia sido beijada assim uma vez.

Aiden.

Oh, meu Aiden. Meu coração, o próprio ar que eu respirava igualava Aiden. Mas seu

nome desapareceu na corrida louca do toque de Seth. Me mexi inquieta, necessitando estar

mais perto e pensava que tinha trocado de posição no início, mas eu não tinha me movido.

Tentei de novo, mas meu corpo não respondia.

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— Devemos parar aqui, Anjo. — Seth sussurrou contra meus lábios, mesmo quando

deslizou a mão sob meu quadril, erguendo-me, trazendo-me mais perto.

Perto. Não era isso o que eu queria durante todo aquele tempo? Eu ainda não queria?

Simplesmente não conseguia ficar perto o suficiente. Minhas mãos escorregaram de suas

costas e depois meus braços caíram inertes ao meu lado.

Seth levantou a cabeça e dois olhos brilhantes, quase iridescentes encheram minha

visão. Estavam nublados com paixão. Acho que ele franziu a testa, mas então seu rosto

desfocou.

— Alex? O quê...? Oh, o inferno.

Preocupação substituiu a luxúria - ou o que quer que ele tenha sentido. Sentou-se na

cama, suas calças deslizaram em seu quadril quando me puxou para seu colo. — Alex,

você está aí? — Ele tirou o cabelo do meu rosto.

— Eu estou... tão cansada. Desculpe...

Ele sorriu, mas pareceu falso. — Eu sei. Está tudo bem.

Eu tremia, incapaz de envolver meus braços em volta de mim. Onde foi parar todo

aquele calor que eu estava sentindo?

Seth colocou seu outro braço em volta de mim e se levantou, embalando-me como se

tivesse muita experiência em carregar garotas. A julgar por suas ações recentes, acho que

ele realmente tinha. Colocou-me na cama e pairou sobre mim. — Você ainda está aí?

Pisquei lentamente, seu rosto entrando e saindo de foco. — Estou... com sono.

— Ok. — Seth se inclinou e roçou os lábios na minha testa. Apertei meus olhos

fechados, meu estômago se contorcendo quando ele desapareceu.

Alguns segundos depois, ele voltou para o meu lado e me ajudou a entrar em uma

camisa que foi até meus joelhos. As coisas ficaram meio nebulosas depois disso. Sentia

meus ossos profundamente entorpecidos, comecei a acreditar que meus membros não

estavam mais todos interligados. Era incapaz de me mover ou de dizer mais do que

algumas palavras por algum tempo, simplesmente fiquei deitada lá tentando descobrir o

que estava acontecendo com o meu corpo.

A luxúria e todos aqueles outros sentimentos quentes maravilhosos tinham

desaparecido. Então se foi a dormência e em seu lugar veio um sentimento horrível na

boca do meu estômago. Apertei meus olhos novamente e tentei respirar apesar do forte

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aumento da náusea. Não ajudou em nada. Um movimento de torção e agitação passou por

mim. Oh, deuses, isto não ia ser bom. Eu ia vomitar. Podia sentir - prová-lo - e não

conseguia me mover. Um gemido suave escapou dos meus lábios.

A cama baixou ao meu lado e uma mão quente roçou na minha bochecha. — Você

esta conseguindo aguentar?

— Enjoo. — Ofeguei.

Seth pegou-me em um golpe e me levou para o banheiro. A parte do meu cérebro

que ainda funcionava no nível normal de Alex notou que seu banheiro era maior do que o

meu quarto inteiro e muito mais agradável. Super injusto. Mas então eu parei de pensar

completamente. O momento em que ele me segurou sobre o vaso sanitário, comecei a

arfar. Depois que comecei, eu não podia parar.

Realmente não sei quanto tempo permanecemos lá ou como diabos Seth tolerou

tudo, me segurando e mantendo meu cabelo fora do caminho.

Só quando meus flancos já doíam e meus olhos ficaram vazios, o que eu sentia

diminuiu.

— Melhor? — Seth alisou os fios úmidos da minha testa.

— Eu quero morrer. — Gemi lamentavelmente. — Acho que estou... morrendo.

— Não, está. — Seth balançou a cabeça. — A água vai ajudar. Apenas se segure na...

— Ele tentou manter-me de pé, mas eu escorreguei até o chão. — Ou apenas se deite. Isso

funciona, também.

Pressionei minha testa contra o azulejo frio. Ajudou com a sensação de calor, mas

minha cabeça latejava ferozmente. Gemendo, eu passei meus braços em volta da minha

cintura e me enrolei em uma bola.

Seth amaldiçoou sob sua respiração. Senti-o levantar e voltar para o quarto. Esperava

que ele me deixasse lá. Não queria me mover nunca mais. Eu poderia apodrecer lá

enquanto aquilo me martelava e o quarto parasse de girar.

Mas ele voltou alguns segundos depois e me obrigou a sentar. Ele trouxe uma

garrafa de água para mim. Lutei, batendo em suas mãos uma dúzia de vezes para afastá-

las. Seth estava prestes a me forçar a tomar uma segunda garrafa quando alguém bateu na

porta. A ouvimos abrindo.

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Seth praguejou novamente, colocou a garrafa de água para baixo e levou-me de volta

para o chão. Ah, o piso frio era meu amigo - amigo? Sentia a falta de Caleb. Sentia a sua

falta terrivelmente.

— Onde ela está? Seth? — A voz firme de Aiden chamou do quarto.

— Droga. — Seth resmungou, levantando. — Ela está bem. — respondeu. — Só

precisa de mais alguns minutos deitada no chão.

Eu queria bater nele.

Seth saiu do banheiro em seguida e o silêncio do outro quarto se estendeu, se

tornando cheio de tensão. Minha mente fabricou as imagens de como o quarto pareceria

para Aiden. E Seth sem camisa e com calça desabotoada. Sério - sério, Seth não podia ter

tirado cinco segundos para abotoar a calça?

Ouvi um suspiro de Seth. — Olha, eu sei que tudo isso parece muito ruim. Mas não é

o que você pensa.

— Isto não é o que parece? — Aiden rosnou e eu nunca tinha ouvido o som da sua

voz assim antes, tão dura e plana, mas com uma rispidez que tremia com a promessa de

violência. — Sério? Porque acho que isso pertence a Alex.

Me encolhi, desejando que pudesse afundar pelo chão e desaparecer. Uma massa de

confusão e mal-estar formou em meu já delicado estômago. Então Aiden estava na porta

do banheiro, e eu sabia que devia parecer uma bagunça. Cabelo úmido agarrado na minha

pele, o quarto cheirava a doença e eu estava vestida com a camisa de Seth e pouco mais.

— Aiden. — Eu disse fracamente. — Não é...

— Seth, confiei em você. — A voz de Aiden estava cheia de aço frio.

— Olha, eu sei. Isso não é...

O som de um punho conectando com carne veio do quarto ao lado. Um corpo bateu

em algo - uma cômoda? Algo pesado caiu no chão, quebrando. A TV realmente doce veio

à minha mente. Maldições explodiam de cada um deles.

Empurrei-me do chão do banheiro, em pé com as pernas bambas. As paredes brancas

e o espelho dourado giraram em círculos selvagens por um momento. Esforçando-me

através da tontura, cambaleei para fora do banheiro e no meio de uma batalha principal

entre um Sentinela altamente treinado e um Apollyon.

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— Gente, vamos lá... vocês dois estão sendo tão estúpidos. — Eu balançava para a

esquerda. Suor frio se agarrava a minha testa.

Eles não me ouviram ou não se importaram. Aiden, que parecia surpreendentemente

ileso, empurrou Seth para um canto. Ele investiu contra Seth, derrubando-o para o chão.

Rodaram, cada um deles trocando e recebendo golpes.

— Aiden! Pare com isso! — Avancei, praguejando quando meu estômago revirou

violentamente. — Seth - não o sufoque!

Seth ganhou uma vantagem rolando Aiden de costas. Ele recuou, jogando um braço

no ar. A luz azul brilhou ao redor de seu punho. Akasha. Entrei em pânico - o que talvez

não fosse a melhor coisa a se fazer considerando meus reflexos e até mesmo minhas

habilidades básicas para andar no momento. Tropecei em direção a eles, com a intenção de

puxar Seth de cima de Aiden e eu planejava bater nos dois.

Passei meus braços ao redor da cintura de Seth ao mesmo tempo em que Aiden deu

um murro em seu estômago. Quando Seth caiu para trás, me levou com ele. Meu ombro

bateu na borda da cama primeiro e depois o peso de Seth caiu em cima de mim. Bati

contra o chão pela segunda vez naquela noite.

Aiden apareceu a seus pés e agarrou Seth, lançando-o para o lado. Virei-me e lá

estava meu sutiã - deitado ali, rindo de mim. Fechei os olhos, totalmente mortificada.

— Que diabos? — Outra voz ecoou. Uma voz clara e distinta que eu sabia que

pertencia apenas a Leon. — Vocês todos perderam suas mentes, pelo amor dos deuses?

Seth rolou de joelhos, limpando a mão sobre o lábio sangrando. — Oh, nós estamos

apenas lutando.

Aiden lançou-lhe um olhar sombrio enquando saía. — Alex, você está bem? — Ele

deslizou as mãos sob meus braços e me ajudou a sentar. — Diga alguma coisa.

Olhei através da confusão de cabelo cobrindo meu rosto. — Eu estou... ótima.

Aiden afastou o meu cabelo do rosto. — Sinto muito. Eu nunca deveria ter…

— Aiden, sei que você está chateado…

— Chateado? Você se aproveitou dela, Seth. — Aiden se levantou. — Seu filho de

uma…

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— Parem com isso! — Leon ordenou. — Vocês dois estão quase trazendo cada

Guarda neste edifício para este quarto. Seth, saia daqui agora.

— Este é o meu quarto. — Seth protestou, subindo para seus pés. — E se este idiota

me der cinco…

Aiden rosnou baixo em sua garganta. — Vou matar você.

— Ah, é isso. — Seth se virou, os olhos queimando. — Deixe-me ver você tentar.

Cambaleei para os meus pés e peguei Aiden. O quarto balançava fora de ordem, mas

eu ignorei.

— Não faça isso. Por favor. Isto não é culpa de... Uau. — A parede girou de repente.

— Alex? — Aiden disse, mas parecia tão distante, o que era estranho, já que ele

estava ao meu lado. Estendi a mão para ele, mas então eu acho que tombei.

Quando acordei, me senti como se estivesse no inferno e não tinha sequer aberto os

olhos ainda. Um baterista vivia dentro da minha cabeça e minha boca era um deserto. Eu

gemi e tentei me virar, mas não podia me mover. Algo me parou. Lentamente, forcei os

olhos a abrirem e olhei para baixo.

Um braço musculoso estava na minha cintura - não meu braço.

Bem, isso era estranho.

Inclinei a cabeça para o lado, pisquei uma vez e depois duas vezes. Não poderia ser

ele... ondas de cabelo escuro caíam sobre sua testa e ao longo de sua bochecha. Era a

impecável face de Aiden a polegadas do meu rosto, mas uma versão mais jovem dele. Em

repouso, ele parecia vulnerável, pacífico. Meus dedos coçavam para traçar a linha de sua

mandíbula, para tocar seus lábios entreabertos e ver se ele era real. Tinha que ser um

sonho, algo que meu coração tinha produzido, porque ele não poderia estar aqui.

— Para de me encarar. — A voz de Aiden estava rouca com o sono.

Eu recuei um milímetro. Ok, talvez não um sonho. — Não estou encarando.

Ele abriu um olho cinza. — Sim, você está.

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Aceitando que esta era a realidade, olhei ao redor. Estávamos ainda no quarto de

Seth. — Onde está Seth?

— Eu não sei. Ele saiu um par de horas atrás. — Aiden pareceu perceber, então, que

seu braço estava ao meu redor. Parecendo confuso, ele se afastou e sentou. — Sentei-me

por um momento. Devo ter adormecido. Como está se sentindo?

Tudo parecia vago em primeiro lugar. Então, lentamente, as memórias se

encaixaram: Laadan me dando a bebida super sexy, Aiden me mandando embora com

Seth e então... tudo com Seth.

— Ah. Meus. Deuses. — Eu gemi. — Quero morrer. Tipo agora.

Aiden pairava ao meu lado. — Alex, está tudo bem.

Cobri o rosto com as mãos. Quando falei, minha voz estava abafada. — Não, não

está. Eu vou matar alguém.

— Acho que vai ter que entrar na fila para isso.

— Você já encontrou Laadan? — Perguntei. — Ela está bem?

— Sim, eu a encontrei em seu quarto pouco antes de... de verificar você. Ela está bem,

mas não se lembra de nada. É como a noite em que Leon a encontrou no labirinto.

Compelir alguém tão fortemente e fazê-la esquecer, é um inferno de uma compulsão. E

usá-la contra outro puro é inédito.

Murmurei incoerentemente contra as minhas mãos. Lenta como eu estava,

compreendi que Aiden tinha passado a noite comigo - em uma cama. E eu estava

desmaiada. Deuses isso era uma merda, mas não tão grande quanto se alguém descobrisse

sobre isso. — Por que ficou aqui? E se alguém...

—Só Seth e Leon sabem o que aconteceu. E Laadan. Ninguém sabe que estamos aqui.

— Ele puxou minhas mãos. — Não te deixaria sozinha. A droga ainda estava em seu

sistema e eu não te colocaria em risco, para outra coisa acontecer. Você ficou mal de novo

no meio da noite. Não se lembra disso?

— Não. — Sussurrei, tentando ignorar o calor que suas palavras protetoras

trouxeram. — Eu não me lembro disso.

— Provavelmente uma coisa boa, foi muito difícil.

— Ótimo. — Murmurei.

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Um breve sorriso apareceu. — Você estava... muito falante também.

— Isso só faz melhorar. O que eu disse?

— Você me disse que queria se casar com a cama de Seth, e então disse que se casaria

comigo se eu pedisse. Depois disso, começou a…

— É o suficiente. — Gemi, querendo me esconder debaixo dos cobertores.

Aiden riu. — Foi realmente bonitinho.

Mais envergonhada do que algum dia eu tinha estado, era difícil olhar para Aiden.

Seu rosto não mostrava qualquer sinal de sua luta com Seth. Talvez eu tenha imaginado

isso. — Você e Seth... lutaram?

Uma sobrancelha arqueou. — Sim, nós lutamos.

— Oh, deuses, Aiden, não foi culpa de Seth.

— Sinto muito. — disse ele. — Eu sinto muito que você teve que passar por tudo isso.

Você não tem nada do que se envergonhar. Não fez nada de errado, mas ele fez.

— Não se desculpe. Por favor. Nada disso é culpa sua. — Tomei uma respiração

profunda. — Não foi culpa de Seth, também. Aiden, ele tentou. Realmente, ele fez, mas

eu... — Não podia acreditar que ia dizer isso — Eu só ficava pressionando-o. Não

conseguia parar, mas eu sabia o que estava fazendo. Eu simplesmente não conseguia

parar.

— Isso não importa, Alex. Seth deveria ter se contido mais. Sabia que estava

vulnerável, que não importava com quem você estava. — Ele fez uma pausa e respirou

profundamente. — Alex, olhe para mim.

Levantei a cabeça devagar. Esperava que houvesse algum tipo de julgamento ou

decepção em seu olhar cinza, mas tudo o que vi foi infinita compreensão, que fez a bola de

emoções conflitantes que eu estava sentindo ficar muito pior. Os olhos fecharam-se por

um instante e quando reabriram, queimavam em um tom não-natural de prata. — Será

que ele... que vocês dois...?

— Não. Nós... não fizemos. Ele parou. — Achei que era melhor deixar de fora a razão

exata pela qual ele tinha parado.

Caímos em silêncio por um tempo. Minha mente trabalhava através dos

acontecimentos da noite passada, pelas implicações deles. Alguém queria que eu tivesse

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estragado tudo. E tomar uma atitude tão extrema - até mesmo a ideia me deixou enjoada.

E se Aiden e Seth não tivessem me visto?

— Você realmente acha que alguém estava esperando por mim? — Engoli o gosto de

bile, estremecendo. — Esperando para me pegar com um puro?

Aiden me olhou em frente. — Sim.

Era difícil envolver minha cabeça em torno desse tipo de tática. Estremeci

novamente. Aiden se abaixou e colocou o cobertor em torno de mim, mas depois eu me

ergui, arruinando seu trabalho duro.

— Está se sentindo enjoada de novo? — Ele se moveu como se fosse me levar para

fora da cama.

Eu não tinha certeza. Sentia que as paredes estavam se fechando em torno de mim,

mas não era um efeito da bebida. — Eu poderia ter perdido tudo.

Aiden não respondeu, por que, realmente, o que ele poderia dizer?

Minha mente correu. Havia tantas coisas que eu poderia fazer com o poder que teria.

Aprendi uma coisa no Conselho - que eu precisava ser capaz de fazer alguma coisa para

mudar a vida da minha espécie. Seth tinha razão: nós poderíamos fazer algo sobre isso,

contanto que eu fizesse 18 anos sem ser forçada à servidão. Se eu fosse colocada no exílio -

o que era a intenção de alguém ontem à noite ao me pegar com um puro - eu talvez nunca

Despertasse. Eu perderia essa grande oportunidade - a maior que algum mestiço jamais

teve.

E alguém tinha tentado tirar isso de mim, pelo menos três vezes no último par de

semanas: a compulsão, a sessão do Conselho, e agora isso?

Telly tinha me avisado, se eu errasse mais uma vez, estaria presa em Nova York.

Dormir com um puro, querendo ou não, teria se classificado como um erro.

— Alex, você está bem?

Meu olhar caiu para o seu. Não sei o que vi em seus olhos. Eu não podia decifrá-los

mais. — Acha que Telly fez isso?

Aiden piscou. — O Ministro Telly? Eu não sei, Alex. Ele é um monte de coisas, mas

fazer isso? E por quê?

— Ele não gosta de mim.

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— Não gostar de você é uma coisa, mas destruí-la? Tem que ser mais do que

antipatia, Alex. Tem que haver uma razão.

Aiden tinha um ponto. — Então, preciso descobrir o porquê.

— Nós vamos descobrir o porquê.

Concordei com a cabeça. — Agora, eu só... eu só quero sair daqui. Quero ir para casa.

Ele se inclinou para frente e colocou a mão sobre a minha, tirando meus dedos do

cobertor que eu estava segurando. — Há uma sessão no final da tarde e vamos partir

imediatamente depois.

Surpreendentemente, não me senti muito aliviada por isso. O lado positivo de tudo

era que eu aprendi a não aceitar drinks de... eu compreendi. E ri.

Aiden franziu as sobrancelhas com preocupação. — Alex?

Balancei a cabeça. — Estou bem. É que a maldita oráculo estava certa novamente. Ela

me avisou, você sabia? Me disse para não aceitar presentes de pessoas que queriam me

prejudicar. — Eu ri novamente. — É claro, não mencionou que seria um presente entregue

por uma segunda pessoa, que não queria me fazer mal. Deuses, se essa mulher ainda

estivesse viva, bateria nela. Sério.

Seus lábios se esticaram em um sorriso torto e sua mão apertou a minha. Uma dor

antiga e familiar surgiu viva com a visão de seu sorriso, me forçando a desviar o olhar.

Engoli em seco, querendo nada mais do que subir em seus braços. — Você sabe onde Seth

está?

— Não. Ele partiu quando percebeu que eu não estava partindo. Está por aí em

algum lugar.

Passei a mão no meu rosto. Fiquei surpresa e meio irritada por ele ter realmente me

deixado com Aiden, mas estava feliz que deixou. Por que isso me deu um tempo com

Aiden - um tempo na cama com Aiden. O que não fazia qualquer sentido. — Eu preciso

encontrá-lo.

A mão de Aiden deixou a minha. — Não deve se preocupar com ele agora. E eu não

quero você correrendo por aí procurando por ele. Não é seguro aqui.

— Sei que não é, mas tenho que vê-lo. Você não entende. As coisas…

— As coisas são o quê, Alex?

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Eu me virei para ele. Estava franzindo a testa, os olhos de um cinza profundo e

escuro. — Eu não sei. As coisas são diferentes com ele. — Isso era tudo que poderia dizer.

Aiden olhou para mim um momento, depois se endireitou. — Você dois estão...

juntos?

Minhas bochechas ficaram em vários tons de vermelho.

Seus olhos ficaram prata em um nanossegundo. — Eu pensei que você fosse contra

toda essa coisa do destino.

— E sou! Mas... não sei. As coisas mudaram e só... ele estava lá para mim. —

Terminei sem convicção.

Um músculo estava marcado ao longo de sua mandíbula. — E eu não estava. Então

decidiu ficar com Seth?

Olhei boquiaberta para ele, mas depois minha paciência foi pro espaço. — Não, você

não estava. Mas não é por isso que estou com Seth.

— Sério? — Ele saiu da cama. Em pé, passou a mão pelo cabelo. — Acho isso difícil

de acreditar já que você me disse a alguns dias que o odiava.

Eu corei, em parte porque ele estava certo e isso me irritou. — Por que se importa,

Aiden? Você não pode - e não me quer. E você mesmo disse que acredita que Seth se

importa comigo. Ou isso é uma daquelas frases tolas como ‘Eu não te quero, mas não

quero você com mais ninguém’? Porque isso não é legal.

Ele baixou a mão. — Não se trata disso, Alex. Eu só não quero ver você ficar

envolvida em algo assim... tão grave, pelas razões erradas.

Meu olhar acendeu-se, encontrando o seu. Seus olhos ardiam tão brilhantemente,

ocupando todo o seu rosto. — Você me disse que não podemos estar juntos e - e eu sei.

Entendi que não podemos, mas…

Aiden moveu-se rapidamente, inclinando-se para que os nossos rostos estivessem a

poucos centímetros um do outro. — Mas isso não significa que você deve se contentar com

Seth, Alex.

Esmaguei o cobertor em minhas mãos. — Eu não estou me contentando com o Seth!

Ele arqueou uma sobrancelha e segurou meu olhar com o seu.

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Então meu coração acelerou. — Isso não é sequer sobre Seth. Isso é sobre você! Não

quer me ver com ele ou qualquer outra pessoa! Porque ainda se importa comigo!

Aiden recuou, balançando a cabeça. — É claro que eu me importo com você.

Respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado. — Diga-me... diga-me que

sente o mesmo que eu sinto por você, por que se fizer...

Eu não poderia trazer aquilo à tona de novo. Se ele me dissesse que sentia o mesmo

por mim - que me amava - então para o inferno com tudo o resto. Para o inferno com tudo

porque eu não queria - não podia - andar para longe disso. Não importa o quanto estivesse

errado ou o quão perigoso isso fosse para nós dois. Eu simplesmente não podia.

Aiden inalou bruscamente. — Não vou.

— Ou você não pode?

Ele balançou a cabeça de novo, os olhos cintilando. Uma careta rápida puxou seus

lábios, e então ele me deu um olhar morto. — Eu não sinto.

Exalei duramente, de repente querendo me enrolar em uma bola e chorar. Mas não o

fiz. Manti isso em mim. — Ok.

— Alex, eu quero…

— Não. Não quero ouvir mais nada. — Levantei da cama — O que eu tenho com

Seth não é da sua…

Uma onda de tontura me fez tropeçar. Abaixei-me, agarrando a borda da cama como

apoio.

— Alex? — Aiden se moveu ao redor da cama, chegando para mim.

— Não! — Eu joguei a minha mão. — Não finja que você se importa. Isso leva a

idiotice a um nível totalmente novo.

Aiden parou, abriu e fechou as mãos. — Bom ponto.

A sala se endireitou e me senti segura para me mover novamente. Ignorando Aiden e

a necessidade de chorar como um bebê, comecei a busca humilhante pelas minhas roupas.

Juntei meus jeans e capuz, colocando-os debaixo do braço. Um muito importante item,

muito embaraçoso não tinha sido localizado. Vasculhei o piso desesperadamente.

— Acho que isso pertence a você.

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Xingando baixinho, eu me virei. Aiden pendia algo preto, pequeno e frágil em seus

dedos.

A cor explodiu em meu rosto. Agarrei-o para fora de sua mão. — Obrigada.

Aiden não sorriu. — O prazer é meu.

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Vinte e Cinco

Eu passei pela minha rotina matinal lentamente, ainda me sentindo um pouco

estranha. Parte de mim queria mergulhar embaixo das cobertas, outra parte queria

estrangular Aiden e eu ainda precisava encontrar o Seth.

Também precisava lidar com o fato de que alguém seriamente não queria que eu

fizesse dezoito anos. Engoli a bola de emoções conflitantes para lidar com elas outro dia...

O que eu tinha certeza que seria um dia próximo... E abri a porta. Aiden estava lá de pé,

esperando. Ele estava lá porque eu obviamente não tinha permissão para ir a lugar algum

sozinha, mas eu ainda queria dar um soco na cara dele.

A nossa caminhada pelas escadas foi embaraçosa.

Alguns Guardas que estiveram presentes durante a sessão do Conselho assentiram

respeitosamente enquanto eu passava por eles. Isso foi uma melhora ao invés de ser

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ignorada. Aiden me deixou quando parei nas mesas cobertas por toalhas de mesa de linho.

Acho que ele imaginou que eu estava segura onde ele podia me ver.

Olhei para o prato de croissants e roscas frescas, engolindo com dificuldade. Eu não

achava que poderia comer de novo alguma vez. Peguei uma garrafa de água e fui até onde

Aiden estava sentado ao lado de Marcus. Marcus não olhou para cima de seu jornal

quando eu me deixei cair na cadeira ao lado dele.

Eu podia sentir os olhos de Aiden em mim e queria bater minha cabeça na mesa. Ao

invés de fazer isso, me virei e encarei o refeitório onde fingi estar concentrada na parede

até eu notar os dois servos de pé em frente a ela.

Era ele... Aquele com olhos claros que eu havia visto no primeiro dia aqui e tentei

conversar na escadaria. Ele se inclinou na direção de outro mestiço, um garoto. Não

consegui evitar imaginar como os puros... Os Mestres... Não conseguiam ver como eram

alertos os olhos do Olhos Castanhos.

Olhos Castanhos deve ter me sentido observando, porque se virou e me olhou

diretamente nos olhos. Não era um olhar inteiramente hostil, talvez um pouco curioso. Ele

rapidamente se virou para o outro servo. Não sei por que eu os observei por tanto tempo.

Pode ter sido pela maneira como a conversa deles parecia estar tensa. Os servos mestiços

raramente discutiam, até mesmo entre eles. Normalmente estavam muito medicados para

até mesmo se ter uma conversa decente, mas estes dois eram diferentes.

— Onde você estava ontem à noite, Alexandria? Esta manhã, você não estava na sua

cama.

A pergunta de Marcus me fez virar. Eu disse a única coisa que Marcus não

questionaria e era meio que verdade. — Estava com o Seth. Nós estávamos conversando e

eu adormeci.

— Sério? — ele acenou para a porta dupla que levava para o pátio. Seth estava lá de

pé, de costas para nós. — Então foi você que deu a ele aquele olho roxo?

— Hum... — Eu já estava de pé. — Vejo vocês daqui a pouco.

Marcus fez um barulho que soou bastante como uma risada e voltou ao seu jornal.

Achei perturbador que ele achasse a idéia de violência doméstica tão divertida.

Respirando fundo, eu cortei entre as mesas vazias e segui o Seth lá fora, sem ousar

olhar para trás para ver a expressão de Aiden. Seth não se virou, mas eu sabia que ele me

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sentiu. Os ombros dele ficaram tensos enquanto se inclinava em uma das colunas grossas

de mármore.

Estremeci por causa do ar frio, me perguntando por que eu não havia trazido uma

jaqueta. Parei ao lado dele e olhei a propriedade. A parte superior da parede gigantesca

em torno do lugar aparecia por cima da linha das árvores. Eu esperava que ele dissesse

algo primeiro, mas os minutos passaram e Seth permaneceu em silêncio. Ele não iria

tornar isso fácil.

— Ei. — Eu disse, imediatamente me sentindo estúpida.

— Ei.

Revirei meus olhos e dei um passo à frente dele. Seth me encarou com frieza. De

perto, o anel roxo e azul ao redor de seu olho esquerdo parecia brutal.

— Isso dói?

— Não acha que isso é uma pergunta idiota?

— Você quer outro olho roxo? — rebati.

Ele arqueou uma sobrancelha. — Eu acho que prefiro a versão bêbada sua. Ela é

muito mais agradável.

Dei um passo pra trás. — Você sabe do que mais? Esquece.

Seth alcançou o meu braço. — Sobre o que você quer conversar? Como você tem nojo

de mim?

— Não, — olhei para ele surpresa. — Não era nada disso que eu iria dizer.

Uma parte da frieza saiu da expressão dele, mas ainda me observou severamente. —

Então por que você queria falar comigo?

— Queria falar sobre... ontem à noite. — Senti minhas bochechas queimarem. — Não

foi culpa sua.

As sobrancelhas dele subiram. — Não foi minha culpa?

— Não. — Olhei por cima do ombro dele, observando o Guarda puro-sangue do

Conselho que havia derrubado o Hector. Ele estava parado ao lado da porta de vidro que

dava para o pátio, tentando parecer como se não estivesse nos observando. — Nós

podemos ir para algum lugar privado?

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Seth olhou por cima do ombro. — Vamos.

Nós acabamos andando por algumas fileiras do labirinto. Estar aqui deixava um

gosto amargo na minha boca, mas não havia realmente outro lugar que era privado. Seth

se inclinou contra a parede de pedra e cruzou os braços. — Então, fale.

Engoli desconfortavelmente. Isso iria ser tão desconfortável. — Eu queria pedir

desculpa por... bem, por tudo que aconteceu ontem à noite.

— Você está pedindo desculpa para mim? — Ele soava atordoado.

Trocando de pé, eu assenti. — Sei que você tentou fazer eu me sentar e não fazer o

que estava fazendo. Você tentou...

— Não tentei o suficiente, Alex. — Ele se afastou da parede. — O Aiden está certo...

Deuses, eu nem consigo acreditar que estou dizendo isso, mas ele está. Eu sabia que você

não estava sendo você mesma. Então deveria ter parado isso.

Meu olhar o seguiu. Ele tirou uma rosa de um arbusto próximo a uma estátua cinza

sem braços de uma mulher usando uma toga grande demais. — Você parou, Seth.

Ele me lançou um olhar suave sobre seu ombro. — Eu e você sabemos porque eu

parei. Não foi por causa de cavalheirismo.

Não acreditava nisso... não inteiramente. — Seth, você não é o bandido nisso. Você

estava meio que drogado também... através da nossa conexão. E cuidou de mim depois.

Ele deu de ombros. — O que mais poderia fazer?

— Segurou meu cabelo enquanto eu vomitava. Não precisava fazer isso. Poderia ter

me deixado no banheiro. Aquilo foi bem pesado.

— Também foi nojento. Só para que você saiba. — Seth se virou, sem olhar para mim,

só olhando para a rosa em sua mão.

Irritação subiu a superfície. — Por que você está agindo assim? Estou tentando te

dizer que você não teve culpa por ontem à noite e você está sendo um idiota!

Fogo azul surgiu na sua mão, dobrando a rosa. Ela fez uma fumaça azul fina antes de

desaparecer.

Eu arrastei meus olhos da mão dele e me esforcei para ter paciência. Por que toda a

conversa hoje estava terminando em discussão?

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Os olhos dele subiram, entrando os meus finalmente. — Aparentemente você foi bem

cuidada depois que fui embora. Não ficou emocionada que o Aiden ficou contigo? Tenho

certeza que você ficou.

Eu me senti ofendida e confusa pelo Seth. — Não quero discutir com você.

As chamas azuis lamberam a rosa entre os dedos dele bem mais lentamente dessa

vez. Nuvens de fumaça azul sopraram no ar. — Então provavelmente deveria parar de

falar comigo.

Dei um passo para trás, flexionado meus braços. — Por que você está sendo tão

estupidástico comigo?

Seth piscou e a chama azul evaporou-se, deixando a rosa inteira. — Eu não acho que

estupidástico seja uma palavra de verdade, Alex.

Esconder-me embaixo das cobertas pelo resto do dia começou a parecer ainda

melhor. — Tudo bem, certo, isso foi divertido. Eu te vejo por aí.

Seth se moveu então. Ele estendeu a mão e agarrou o meu braço de novo, a rosa

pendurada em sua outra mão. — Sinto muito.

Olhei para ele boquiaberta. Seth nunca se desculpa. Nunca.

O impossível aconteceu. A máscara que ele usa caiu de seu rosto. De repente, ele

parecia muito jovem e incerto. — Eu te senti esta manhã. Você estava envergonhada e

chateada, e então tão zangada. Sinto muito por te fazer passar por isso. Deveria ter... me

segurado.

Demorei alguns momentos para perceber sobre o que o Seth estava falando. —

Aquilo não teve nada a ver com você, Seth.

— Por que está tentando fazer eu me sentir melhor?

— Seth, eu estou envergonhada. Dancei no seu quarto e te molestei. Então sim, estou

um pouco envergonhada sobre isso. Mas as outras coisas que você sentiu? Aquilo foi por

causa de Aiden.

— Não é sempre sobre Aiden? — Ele largou o meu braço e se virou. — Ele

finalmente confessou o amor eterno dele por você?

Eu ri sem emoção. — Nem um pouco.

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Seth olhou por cima de seu ombro. — O meu globo ocular tem um pouco de

dificuldade em acreditar nisso.

— Ele ficou comigo porque adormeceu.

A cabeça dele caiu, e eu me perguntei o que ele estava fazendo. — E você acreditou

nisso?

Tentei segurar as lágrimas repentinas. Teria arriscado tudo naquela manhã se o

Aiden tivesse dito que me amava, mas ele não disse. — Isso importa?

Ele virou, me estudando como se estivesse tentando descobrir algo. — Importa?

Uma brisa passou, sacudindo as folhas e jogando o meu cabelo no rosto. Eu afastei o

cabelo do caminho, mas ele voltou. — Seth, você me pediu para fazer uma escolha naquela

noite. E eu fiz.

Seth olhou para a rosa antes de olhar para mim através de cílios grossos. — E essa

escolha ainda importa hoje?

Essa era uma boa pergunta. Como poderia importar, quando uma hora atrás eu teria

desistido de tudo pelo Aiden se ele tivesse me dito apenas uma vez que me amava. Mas

ele não disse. Desviei o olhar, mais uma vez me perguntando o que exatamente eu estava

fazendo. Isso era justo com Seth? Porque Aiden estava certo, eu meio que estava me

acomodando com ele. Mas Seth não havia dito que tinha sentimentos profundos por mim.

Nem havia me pedido para ser sua namorada. O que sugeriu era para nós vermos o que

aconteceria... Sem rótulos e sem expectativas. E se eu fosse honesta comigo mesma, eu

gostava de Seth. Muito.

Mordi meu lábio. — Eu te escolho. Isso ainda importa para você?

Ele riu de repente e então ficou em silêncio. Podia vê-lo tentando subir novamente os

seus escudos, mas falhando. Eu nunca havia visto ele tão vulnerável. Tentando dar espaço

a ele, voltei para perto da parede e observei-o.

— Sim, isso importa para mim.

Algo vibrou fracamente em meu peito. — Ok, então... Hum, onde isso nos deixa?

Silenciosamente, ele me entregou a rosa. Um pequeno choque percorreu a ponta dos

meus dedos. O caule estava quente ao toque e um leve rastro de azul ainda se agarrava ao

botão, transformando as pétalas vermelhas úmidas em violeta. Sem aviso, ele me ergueu

no muro. Colocou as mãos em cada lado das minhas pernas. — Alex.

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Eu olhei em volta, balançando as pernas. — Seth?

— Bem, tudo isso é estranho.

— Sim, especialmente agora.

— Está prestes a ficar mais estranho. Esteja preparada.

— Ótimo. — Eu girei a rosa com uma mão e toquei a minha coxa com a outra. — Mal

posso esperar.

Seth sorriu. — Eu posso notar que você está assustada.

Meus olhos se estreitam. — Está fazendo isso agora? Me lendo, não está? Como

diabos você faz isso?

Estava surpresa quando ele respondeu a pergunta. — Eu apenas abro a minha mente

para você, me sintonizo à sua conexão. É como um sinal de rádio de duas vias. Os seus

sentimentos vêm através de ondas, algumas vezes em alto som. Outras vezes, é apenas

uma pontada na beirada da minha mente. Você provavelmente poderia percebê-los agora,

se tentasse.

— Sempre será dessa forma? Quando eu Despertar, constantemente irei te sentir e

vice-versa?

— Você poderia encobrir os seus sentimentos.

Eu me inclinei para frente. — Como faço isso?

Seth riu suavemente. — Eu poderia te ensinar, trabalhar isso no seu treinamento se

você quiser.

— Nós podemos começar agora?

Um sorriso lento apareceu quando ele inclinou a cabeça. — Não é isso que quero

fazer agora.

Partes do meu corpo formigaram... Algumas partes mais do que outras. — Seth...

Seth me beijou. Não era como os beijos inebriantes e profundos da noite anterior.

Seus lábios eram doces, suaves. A mão dele acariciou a minha bochecha antes de deslizar

pela minha nuca e mergulhar no meu cabelo. Eu deixei meus olhos se fecharem,

absorvendo o calor estonteante de seus lábios. Pelo mais breve momento, não pensei sobre

nada. E isso era o que mais gostava sobre os beijos do Seth. Eu não pensava ou queria mais

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nada. Nos braços de Seth, com seus lábios trilhando beijos sobre os meus, sua presença

ofuscava a mágoa, aliviando-a.

O formigamento no meu corpo de repente se tornou mais forte, como se pequenas

faíscas dançassem sobre a minha pele. A palma da minha mão coçava, queimava. Eu

engoli em seco quando a boca dele caiu na minha garganta, onde o meu pulso havia

passado de agradável para latejante.

Seth pressionou os lábios lá, respirando fundo e se afastando, os dedos trilhando as

minhas bochechas coradas. — Interessante.

— Sim... Isso foi diferente, — eu disse sem fôlego.

Ele deu uma risadinha. — Não o beijo. Não me entenda mal, isso foi interessante

também, mas olha.

— Hein? — segui o olhar dele e dei um gritinho. A rosa na minha mão estava

pegando fogo novamente. Chamas azuis lambiam a haste, curvando-se ao redor das

pétalas frágeis, ardendo em mechas finas azuis. A rosa estremeceu uma vez e então caiu

em si, deixando um pó azul fino cobrindo minhas mãos.

— Akasha. — Seth explicou calmamente.

— Ok. — Eu deixei escapar um suspiro, relaxando pela primeira vez em dias -

semanas até. — Ok, eu não sei realmente o que isso significa, mas ok.

Ele subiu no muro ao meu lado. Nós sentamos lá por um tempo, pernas balançando

acima do chão. — O que quer fazer? Nós temos umas duas horas antes que você tenha que

ir.

— Você não está indo depois da sessão?

— Não. Lucian quer ir embora de manhã, então eu estou preso aqui outra noite.

Droga. Outra viagem de carro de onze horas com Aiden.

Seth empurrou o meu ombro. — O quê?

— Estava meio que esperando que pudesse convencer o Lucian a deixar eu voltar no

avião com vocês.

Ele pareceu surpreso. — Você odeia voar. Isso te assusta até a morte, sua pequena

covarde. Mas não pode ficar aqui outra noite. Você tem que ir embora esta noite com o

Aiden.

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— E com o Leon.

— Sim. — Suspirou e pulou do muro. — Quer ir nadar?

Eu ri. — Não.

— Droga. Estava esperando que você caísse nessa de novo.

Encarei o corredor coberto por musgo, empurrando meus calcanhares para longe do

muro. — Seth?

— Sim.

— Quem você acha que foi o responsável por me passar aquela bebida?

Sua expressão endureceu. — Eu não acho que foi uma escolha do Conselho.

— Então quem poderia ser se não foi o Conselho?

— Não falei que não foi um ou mais deles, mas eu sei que não foi algo aprovado pelo

Conselho. Lucian nunca permitiria que algo assim acontecesse.

Bufei. — Você dá muito crédito ao Lucian.

— Não me entenda mal, ele ainda é um bundão pomposo. — Seth mostrou um

sorriso. — Mas não permitiria que algo assim acontecesse contigo. Tenho certeza que

poderia ser um membro do Conselho, mas eles não têm o apoio oficial do Conselho.

— Sinto muito. Eu não confio no Lucian.

Seth se virou. — Você precisa confiar nele. Ele quer se certificar que você Desperte,

Alex. Não há uma maldita coisa que ele irá fazer para arriscar isso.

— E isso é outra coisa que eu não confio. Por que o Lucian quer dois Apollyons,

quando qualquer outro puro está morrendo de medo dessa idéia?

— Porque Lucian quer ver mudança - e nós somos o caminho para essa mudança.

Você quer mudar essa sociedade, torná-la melhor? Luciar quer isso, também.

— Desde quando Lucian se tornou amante dos mestiços?

— Você não conhece o seu padrasto, Alex. Nunca realmente tentou.

Balancei a cabeça. — Desculpa. Você não passou quatorze anos com ele. Lucian é

frio, manipulador e nunca foi fã de mestiços. Não vai me fazer acreditar em outra coisa.

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Seth suspirou. — Eu coloria minhas apostas no Telly, mas parece muito óbvio e ele é

muito das antigas. Mas é um ou mais deles.

Coloquei os braços ao meu redor, estremecendo quando pensei sobre o que poderia

ter acontecido. — Eles não tinham que fazer algo tão vil.

Ele estendeu a mão e me puxou para baixo para que a minha cabeça descansasse no

seu colo. Foi estranho no início, mas depois de alguns segundos, eu virei de costas e

encarei as nuvens cinzentas. — Nós descobriremos quando nós sairmos desse maldito

lugar. Lucian já está...

— Você contou para o Lucian?

— Ele precisava saber. — Tirou uma mecha de cabelo da minha testa. —

Desnecessário dizer, ele ficou puto.

Resmunguei e coloquei as mãos nos olhos. — Ele jogou alguma iguaria fina? Ele

normalmente joga algo pequeno e caro.

Seth riu. — Sim, na verdade ele jogou. Acredito que era um ovo Fabergé.

— Ah. Legal.

Ele pegou o meu dedo mindinho e olhou para mim. — Do quê você está se

escondendo?

Considerei isso. — Eu não sei. De tudo?

— Soa como um plano.

Abaixei minhas mãos até o estômago, mas Seth ainda continuou segurando o meu

mindinho. — Criancice, né?

Ele envolveu as mãos em torno da minha. — Está tudo bem. Você pode se esconder

um pouquinho mais, mas daí terá que enfrentar... Tudo.

— Eu sei.

Ele sorriu para mim. — Mas nesse momento, apenas relaxe.

Quando voltassemos para a Carolina do Norte, teriamos aulas e agora Olivia me

odiava, e nós ainda precisávamos descobrir quem armou para mim ontem à noite, e...

Merda, Instrutor Romvi. Fiz uma careta. — Nós podemos ficar... Aqui mais um

pouquinho?

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— Claro. — ele se abaixou, pressionando seus lábios sobre a minha testa. — Se é isso

que você quer.

Realmente não importava o que eu queria, mas fechei meus olhos e sorri da mesma

forma.

O sol se pôs no momento em que os servos levavam minha mala para baixo. Seth e

eu esperamos na passarela de vidro do lado de fora do salão. Tentei não encarar as fúrias,

mas meus olhos continuavam indo para elas.

— Acha que eu conseguirei ver Laadan antes de nós irmos? — perguntei.

Seth se inclinou na parede oposta de mim. — Acho que sim.

Deslizei no vidro e cruzei minhas pernas. — Eu apenas queria vê-la antes de ir.

Espero que ela não se sinta... — Parei, olhando ao redor antes de continuar. — Culpada ou

qualquer coisa assim.

— Compreensível. — Ele lançou um olhar irritado na direção do salão. — Quanto

tempo essa merda vai durar?

— Vai saber? — Eu resmunguei. Telly reuniu todos os puros, realizando algum tipo

de cerimônia de encerramento. Estiquei minhas pernas e observei o Seth. Ele estava

vestido com seu uniforme de Sentinela, com espadas e tudo. Apertando os olhos, notei a

nova espada presa à sua coxa. — Posso ver essa aí?

— Hum? — Ele olhou para baixo e desprendeu a espada. — Essa aqui?

Eu mexi os dedos. — Deixe-me ver.

Ele cruzou o caminho e a entregou para mim. — Tenha cuidado com ela, as duas

pontas são mortalmente afiadas quando soltas.

— Sim, eu sei. Aiden me mostrou uma mais cedo. — Fiquei de pé, imaginando cortar

uma cabeça de daimon pela metade com ela. — Sabe, usar esta coisa será realmente sujo.

Seth tentou pegar a arma, mas dei um passo para trás. Ele me deu um olhar

divertido. — Eu não usei ainda, mas tenho certeza de que não vai ser bonito.

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Chicoteei a foice no ar novamente e então me lembrei do que percebi quando o

Aiden me mostrou a lâmina. Olhei para Seth. — E depois que eu Despertar? Você terá

poderes de choque ilimitados, certo?

— Eu não sei. — Ele observava a lâmina com olhos desconfiados. — Imagino que

será diferente. Pode até ser diferente agora. Lembre-se, nós não sabemos todos os detalhes.

Olhei para Seth, mas ele ainda estava concentrado na lâmina. — O que acontecerá

comigo quando você tirar minha energia?

Os olhos do Seth foram para o meu rosto. — Eu não sei.

Meus dedos se apertaram ao redor da lâmina. — Não tenho certeza se acredito em

você.

Os olhos dele penetram nos meus. — Nunca menti para você antes.

Engoli em seco. Seth tinha razão, mas ele soubesse que algo ruim iria acontecer,

realmente me contaria?

Leon entrou no hall de entrada, parando completamente quando me viu segurando a

foice. — Pelo amor dos deuses, quem te deu isso?

Apontei a ponta afiada. — Seth.

Seth arqueou uma sobrancelha para mim. — Uau. Valeu.

— Por favor, devolva para ele antes que você cause algum estrago. — Leon franziu a

testa enquanto eu girava a foice — Vai cortar sua mão ou seu braço. A foice é de longe a

mais afiada.

Revirando meus olhos, eu parei de girá-la. Mas fiquei com ela. Eu gostei dela. — Eles

já estão acabando lá dentro? Porque estou ficando realmente...

Uma sirene soou à distância, começando com um tom baixo e se transformando em

um ciclo interminável com um ruído de estourar o tímpano. Eu pulei uns bons cinco

centímetros do chão. Nós três olhamos uns para os outros e parecíamos dividir a mesma

mente por um momento. Apesar de nunca ter tido a infelicidade de ouvir uma sirene do

Covenant, eu sabia que elas significam apenas uma coisa: uma violação de segurança.

Normalmente uma violação bem grande e bem ruim.

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Vinte e Seis

Virei-me para a parede de vidro que enfrentava o quintal.

Atrás de mim, vários guardas irromperam no salão e além deles, vozes excitadas

vieram do salão adjacente. Os Guardas passaram por nós, um deles gritando, — Tranque

os portões! Bloqueie a escola!

Em seguida, as sirenes cessaram o seu barulho estridente e um calafrio correu por

meus braços. — Falso alarme?

— Não tenho certeza. — Seth pegou a lâmina da minha mão. — Mas eu vou tomar

isso de volta agora. Obrigado.

Mal dei a ele alguma atenção. A luz dos postes espalhados no exterior começou a

escurecer e a piscar. Olhei para trás, encontrando Leon com uma lâmina em foice numa

mão e um punhal na outra.

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— Todo mundo se acalme! — Um Guarda gritou por cima das vozes em pânico. — A

sirene parou! Tudo está bem. Todo mundo só precisa se acalmar e ficar no corredor.

Marcus e Aiden afastaram alguns puros curiosos e assustados quando entraram no

espaço. Minha imaginação hiperativa disse que os olhos de Aiden vasculharam a multidão

até que me encontrou e houve um lampejo de alívio em seu rosto.

Aiden atravessou a sala com um punhal na mão. Deve ter mudado para o uniforme

antes da cerimônia de encerramento. Parou ao lado de Leon. — O que está acontecendo?

— Eu não sei. — Leon balançou a cabeça — Mas tenho um mau pressentimento sobre

isso.

Virei-me para a janela, apertando os olhos. Mais longe, perto da linha das árvores,

pareceu que algo se moveu - várias coisas, na verdade. Guardas e Sentinelas, eu pensei.

Marcus se juntou ao nosso pequeno grupo. — Telly está mantendo todos os puros no

salão de festas por precaução. — Fez uma pausa olhando para mim, com uma expressão

como se tivesse se esquecido de mim.

— Olá. — Eu mexi meus dedos desarmados.

Marcus franziu o cenho. — Alex, você vem comigo.

Fiz uma carranca. — Não vou me esconder em uma sala junto com um monte de

puros medrosos.

Aiden virou-se para mim, os olhos cinzentos. — Não seja ridícula.

Olhei de volta para ele. — Posso ser irracional em vez disso?

Parecia que Aiden queria me sacudir... ou pior.

— Alex, não discuta conosco. — Marcus retrucou. — Você vai para o salão.

Minha paciência estourou. — Eu posso lutar, se um de vocês me der uma dessas

lâminas.

Seth agarrou meu braço. — Tudo bem, pequena Apollyon - que não está

completamente treinada e que está prestes a se tornar irritante - vá com seu tio agora.

Puxando meu braço, girei sobre Seth. — Eu posso...

As luzes do lado de fora estremeceram e apagaram-se, deixando aquela área em

completa escuridão. Temporariamente esquecida, voltei-me para a janela. Apertando os

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olhos para ver através do reflexo do interior iluminado, vi as sombras dos Guardas

formando uma linha. Mas algo parecia estranho sobre a formação. Andavam para frente

em vez de para fora da casa.

— Uh, gente... — Eu comecei a recuar.

Leon se aproximou. — Srta. Andros, entra naquela sala. Agora.

Alguém agarrou meu braço, me puxando para trás. Olhei para cima, esperando

encontrar Seth, mas achando Aiden. Seus olhos treinados foram para a parede de vidro. —

Alex, uma vez na vida...

Um estalo alto chamou a nossa atenção de volta para o vidro. Minha boca ficou

aberta. O vidro tinha sido estilhaçado e fissurado pelo impacto de um corpo.

Eu recuei. — Puta merda!

O vidro explodiu, atirando pedaços grandes no ar quando vários corpos bateram no

chão de mármore. A cor de seus uniformes os fez inconfundíveis, embora sangue

manchasse suas camisas e calças brancas. Os Guardas do Conselho nem mesmo tinham

tido tempo para sacar suas armas. Todos tinham suas gargantas rasgadas, revelando o

tecido rosa e gelatinoso. Alguns ainda se contraíam antes de seus olhos ficarem nebulados.

Aiden me empurrou em direção a Marcus. — Vai!

Com um forte aperto no meu braço, Marcus me puxou para a porta da sala ao

mesmo tempo que Sentinelas entraram com suas armas - armas? Livrei-me de seu aperto e

corri para o sentido oposto.

— Alexandria! Não! — Gritou Marcus.

— Dê-me um segundo! — Derrapei ao longo de um dos corpos, tentando não olhar

muito de perto para ele. Estremecendo, consegui pegar uma foice e um punhal. De

maneira alguma eu ia ficar desarmada com um daimon solto por aí.

Um choro estridente, de parar o coração, rompeu toda a agitação abafando todo o

resto. Arrepios de pavor cavaram profundamente em meus músculos enquanto os uivos

sem alma atingiam um tom intenso. Passei minhas mãos em torno das lâminas e me

levantei. Sombras desceram, como uma onda de morte se movendo incrivelmente rápido.

Daimons - um monte de Daimons.

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A visão de tantas faces pálidas com veias negras pulsando sob a pele fina e branca e

os buracos vazios onde deveriam estar os olhos, me assustou como o inferno. Meus

pesadelos tinham se tornado realidade, surpreendemente vívidos. Havia pelo menos uma

dúzia deles, gritando com a boca cheia de navalhas em forma de dentes, mas entre eles

estavam rostos que não pareciam diferentes.

Daimons mestiços.

Os Sentinelas - incluindo Aiden e Seth - seguiram apressados para eles,

desaparecendo na multidão. Lâminas batiam e caiam no chão, gritos e ordens misturados

com o barulho de roupas e corpos rasgados.

— Alexandria! — Marcus gritou. — Me solta! Eu tenho que levá-la!

Virei-me. O Guarda do Conselho puxava Marcus para o salão da recepção - em

direção à fortaleza. Outro Guarda apareceu, ajudando a remover Marcus para a segurança.

Decolando com eles, eu os alcancei assim que empurrram Marcus para o corredor e

fecharam a porta de titânio. Marcus batia na porta, suas palavras abafadas pelo metal

grosso que nos separava.

— Esta porta não vai abrir novamente. — O Guarda me olhou diretamente nos olhos.

Ele era o Guarda puro, que tinha seguido as ordens de Telly.

— Obrigada. — Eu disse com os dentes cerrados. Então, tomando uma respiração

profunda, virei e encarei o inferno.

Era uma confusão sangrenta, literalmente. Naquele instante, eu soube que todos os

pequenos ataques aos Covenants nos últimos dois meses, foram realizados como treino.

Estavam testando como se infiltrar no Covenant, se preparando para um ataque em

grande escala no Conselho. Minha mãe tinha me avisado e eu adverti os puros - mas eles

não tinham dado importância.

Idiotas.

Avistei Seth enquanto ele lutava com um daimon meio-sangue. Ele jogou o mestiço

no chão com um golpe no meio de seu peito. Em uma impressionante exibição de

brutalidade e de graça, puxou a lâmina de foice pelo ar.

Depois havia Aiden e Leon de costas um para o outro enquanto quatro daimons

puros os cercavam. Parecia que estavam ferrados.

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Lutar estava no meu sangue, não fugir. Este era o lugar em que eu deveria estar e

essa não era definitivamente a minha primeira vez no rodeio. Atravessei a sala,

esquivando-me dos corpos dos bons, dos ruins e dos muitos ruins. Os daimons que

estavam cercando Leon e Aiden nem sequer me viram chegando. Empurrei uma adaga

profundamente nas costas do daimon mais próximo de Aiden.

Leon atacou um dos daimons, indo para golpe-a-golpe com ele. Aiden foi atrás dos

outros dois, tentando mantê-los focados nele.

— Alex, atrás de você!

Virei-me, segurando o punhal na mão direita. Uma daimon fêmea mergulhou em

mim, mas consegui sair de seu alcance. Balançando-me ao seu redor, imitei os movimentos

de Seth e a derrubei com um chute no peito. Ela caiu sobre um joelho e eu fui para frente,

espetando a lâmina em seu estômago. Olhando através da poeira de pó azul, sorri para

Aiden. — Este foi o segundo.

— Já estou no quinto. — Ele resmungou, afundando seu punhal na garganta de seu

daimon.

Virei o punhal — Bem, la-dee…

Mãos agarraram meus ombros, me jogando para trás. Bati na bagunça de vidros e

sangue, derrapando alguns metros para trás e perdendo o domínio da minha adaga.

Atordoada, me encontrei olhando para o rosto de uma daimon mestiça.

— Alex! — Aiden gritou, soando verdadeiramente em pânico.

Ela se inclinou sobre mim e cheirou. — Apollyon...

Eu poderia facilmente lembrar o que aconteceu da última vez que tentei lugar contra

um daimon mestiço. Não tinha ido bem. Empurrando essas memórias para longe, mexi-

me no chão. Alguns vidros cravaram nas palmas das minhas mãos, misturando o meu

sangue com o sangue dos que já estavam caídos. Minha mão roçou em algo molhado e

mole. Mil imagens nojentas passaram pela minha mente do que estava embaixo de mim.

A daimon mestiça - uma Sentinela treinada - abriu a boca e uivou. Ela saltou no ar,

balançando um punhal do Covenant bem na minha cabeça. Houve um estalo e depois ela

era uma bola de fogo caindo sobre mim. Rolei para fora do caminho quando ela bateu no

chão, gritando e debatendo-se.

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Sacudi na direção de Aiden. Ele acenou para mim, então abaixou a mão e atingiu

outro daimon. Olhando para trás, para a daimon no chão, eu estremeci. Ela estava subindo

a seus pés, era uma bagunça carbonizada e fedida de pele e tecido.

— Bons deuses. — Murmurei, querendo vomitar. — Nem sequer me toque.

Ela abriu a boca e, em seguida, a cabeça dela foi a uma direção e seu corpo em outra.

Leon estava atrás dela, a foice na mão. — Srta. Andros. — Ele disse educadamente. —

Acredito que você supostamente estava indo para a segurança?

— Sim, esse era o plano. — Olhei ao redor da sala. Havia um monte de corpos no

chão - alguns dos mestiços transformados e alguns que eram de nossa espécie. Seth tinha

dois daimons encurralados, lutando alegremente. Eu sorri, mesmo que fosse meio

retorcido.

Aiden seguiu meu olhar. — Leon, aquele ali contou como metade para mim. Então,

minha contagem é seis e meio. — Então girou ao redor, indo em direção a outro daimon

que tinha um Guarda preso no chão.

Leon encolheu os ombros. — Tudo bem. Minha marca é dez, perdedor.

Um uivo me fez virar. Dois daimons mestiços atacaram, indo diretamente para Leon.

Era como se eu não estivesse ali. — Está prestes a virar doze. — Leon disse casualmente.

— Onze. — Troquei a lâmina de foice para a mão direita.

Leon olhou para mim. — Tente não se matar.

Com isso, nós os encontramos na metade do caminho. Quando o macho finalmente

me notou, fez uma garra para o meu braço, mas eu fintei para a direita. Ele era muito

maior do que eu, talvez do tamanho de Aiden e eu sabia que não podia deixar este me

jogar no chão. Consegui lhe dar um bom chute, mas ele nem se moveu.

Isso não era bom.

Eu bloqueei seu soco, mas ainda assim conseguiu que eu desse alguns passos para

trás. Mantive meu equilíbrio, chicoteando a lâmina através do ar. Ele mergulhou

rapidamente, retaliando com um golpe vicioso com o objetivo de me derrubar. Senti o

vento da lâmina zunindo pela minha cabeça. Pulei para o lado, mas o mestiço se movia

malditamente rápido. Seu punho deu a volta, batendo em meu estômago. Cambaleei para

trás, ofegando por ar.

O daimon mestiço riu. — Pronta para morrer?

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— Não realmente. — Endireitei-me. — A aparência pálida e viciada não é muito

legal. Você parece estar com abstinência. Precisa de algum éter?

Ele inclinou a cabeça para o lado e sorriu. — Vou te estraçalhar, sua estúpida…

Mergulhando para baixo, varri as pernas debaixo dele. Ele caiu, deixando apenas um

instante para atacar. Dando um salto, eu trouxe a lâmina de foice para baixo em sua

garganta. Não encontrei resistência.

De olhos arregalados, levantei a lâmina. — Droga, isso é afiado. — Virei-me, a ponto

de apontar isso para Leon quando o daimon puro foi de repente no meu rosto.

Ele lambeu seus lábios. — Apollyon...

— Ah, qual é, vocês podem realmente cheirar isso? — Virei a foice e empurrei-a em

seu estômago.

— Você cheira a calor e verão. — Seth apareceu ao meu lado — Eu te disse, seu

cheiro é bom.

— Bem, você cheira como... como...

Seth esperou com as sobrancelhas levantadas.

Meus olhos se arregalaram. Por cima do ombro, vi pelo menos mais cinco daimons

puros vindo pelo corredor. — Daimons.

— Eu cheiro como um daimon? — Ele pareceu meio decepcionado.

— Não, seu idiota. Tem mais daimons vindo.

Seth olhou por cima do ombro. — Ah. Bem, caramba. Eles devem ter quebrado as

entradas.

— Isso não é bom.

Outro estalo abalou o salão, diferente do vidro quebrando. Isso me lembrou de um

artista desbastando mármore. Seth e eu nos viramos ao mesmo tempo, mas não sei quem

percebeu primeiro. Ambos demos um passo para trás.

Uma rede de fraturas começou a dividir o mármore branco que trancava as fúrias.

Pedaços de pedras se quebraram, caindo no chão. Um corpo rosa e luminoso apareceu

através das lacunas maiores no mármore. Uma corrente fina de eletricidade percorreu meu

corpo.

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— Oh, meu deuses. — Sussurrei.

O braço de Seth disparou, batendo com o punhal no peito de um daimon puro, sem

sequer tirar os olhos das estátuas em ruínas. — De fato.

Um suave tilintar de riso superou os sons de batalha, parando a cada um e tudo no

salão. Paralisada, assisti o resto do mármore ir embora, como uma cobra trocando de pele.

E lá estavam elas, as três pairando sobre o campo de batalha improvisado. E oh, meus

deuses, estavam brutalmente bonitas.

Os deuses tinham desencadeado as fúrias.

Seus diáfanos vestidos brancos eram um nítido contraste com o sangue e multilação

ao redor. Pálidas, loiras e perfeitas, as três lançaram seus olhos brancos sob toda a

carnificina que aconteceu antes de aparecerem. Elas se moveram pelo ar através de pálidas

asas transparentes de aparência delicada e silenciosa. As fúrias eram deusas menores, mas

suas presenças preencheram todo o salão.

Eu nunca tinha visto um deus antes, muito menos três deles, mas pareciam do jeito

que eu havia imaginado: atraentes e bonitas. Assustadoras. Mesmo assim, dei um passo

em direção a elas, mal percebendo que Seth fez o mesmo. Nenhum de nós pôde impedir.

Elas eram deusas - deusas tinham aparecido diante de nós. Nenhum dos puros ou

mestiços se moveu, pareciam atordoados demais para fazer qualquer coisa.

Ao redor da sala, os daimons recuaram de seus adversários, toda a atenção fixa nas

fúrias enquanto cheiravam o ar. Alguns começaram a lamentar, outros a rosnar. Era o éter

fluindo através das deusas, percebi. Se eu e Seth parecíamos como um bife, as fúrias

tinham que parecer como os mais suculentos pedaços de filé mignon.

Um dos daimons, um dos mestiços, soltou um grito baixo e avançou.

A fúria do meio abaixou para o chão, afundando os pés descalços em sangue e vidro.

Cachos loiros e grossos flutuavam ao redor de sua cabeça enquanto suas asas silenciosas

vibravam ao redor. Um brilho perolado irradiava de sua pele. Ela inclinou a cabeça para o

lado e sorriu. O daimon investiu contra e ela simplesmente levantou uma mão e congelou-

o no meio do ataque.

Seu sorriso era inocente, como de uma criança e ainda assim tinha uma ponta de

crueldade. Ela ergueu o outro braço e empurrou a mão vazia no peito do daimon.

Disparou em linha reta no ar, levando o daimon frenético com ela. Flutuando acima de

nós, ela rasgou o daimon em dois.

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Engoli em seco. — Puta...

— Merda. — Seth terminou.

Em um instante, as fúrias se transformaram, alterando seus belos corpos. As asas e a

pele viraram um tom cinza leitoso, os cabelos escureceram e se diluíram em cordas

fibrosas pretas que ficavam batendo no ar em torno delas. Cobras, não cordas, eu percebi.

Seus cabelos eram malditas cobras!

A do meio gritou, fazendo vários puros caírem de joelhos. Eu recuei, batendo em

Seth. Ele passou um braço em volta da minha cintura, trazendo-me para perto. Uma das

fúrias avançou, pegando um daimon e lançando-o no ar. Outra arqueou-se, pegou um

Sentinela com o pé em forma de garra e o cortou enquanto ele gritava. A terceira pousou

perto de uma safra de daimons, uma mecha de seu cabelo de cobra foi direto através do

olho de um Guarda enquanto ela matava um daimon puro.

Não importava quem estava no caminho - elas estavam destruindo todo mundo.

Avistei Leon abaixando-se sob uma asa cinza e puxando Aiden fora do alcance de

uma das fúrias. Uma expressão de espanto e horror marcava o rosto de Aiden enquanto

balançava a lâmina em um daimon que estava próximo, sem prestar atenção a ele.

Uma fúria varreu o teto, seus olhos todos brancos brilhando muito, como Seth fazia

quando estava chateado. Um segundo depois, ela se virou para nós, berrando

estridentemente. Olhou diretamente para nós, os braços estendidos e garras afiadas.

Seth agarrou a minha mão livre. — Vamos!

Eu deixei ele me puxar. — Mas e quanto a Aiden e Leon?

— Eles não têm uma fúria caçando seus traseiros. Agora, vamos!

Corremos em direção ao salão da recepção. O Guarda ainda segurava firmemente as

portas, protegendo os puros. Olhando para trás, meu coração caiu, a fúria estava vindo

atrás de nós.

— Seth!

— Eu sei, Alex. Eu... — Seth parou quando dobrou uma esquina.

Bati em suas costas. Olhando por cima do ombro, o horror tomou conta de mim. O

salão estava sufocado por daimons. Os mestiços servos estavam literalmente espalhados

pelo chão, com o pescoço quebrado ou rasgado. Como estavam sempre dopados, tinham

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estado completamente indefesos contra os daimons. Os Guardas lutavam com a

infestação, tentando segurá-los.

A fúria gritou, mergulhando para baixo. Seth girou, empurrando-me no chão e

jogando seu corpo sobre o meu. Pela graça dos deuses, eu não o esfaqueei acidentalmente

com a foice. Meu coração trovejou e o medo ficou preso em minha pele enquanto as asas

da fúria se agitavam no ar em nossa volta. Seth ficou tenso quando a fúria mergulhou

novamente, mas sentindo um deus lotado de éter em sua presença, os daimons avançaram

sobre a fúria.

Saltando para seus pés, Seth me puxou para cima e começamos a voltar pelo

corredor. Corremos por salas cheias de carnificina e desastre. No meio do caos, eu vi Olhos

Castanhos lutando contra os daimons juntamente com o mestiço mais jovem com quem

tinha falado na sala de jantar esta manhã. Ele se movia tão graciosamente como qualquer

Sentinela, derrubando um daimon com um candelabro de titânio.

Seth e eu chegamos ao salão quando uma súbita explosão de gritos aterrorizados fez

os Guardas mais próximos se virarem. Quando abriram a porta, um monte de puros

pisotearam os Guardas, empurrando e arranhando para fugir. Em seguida, o rebanho de

puros assustados veio para cima da gente, rompendo minha mão com a de Seth. A onda

de vestes vermelhas e brancas batia em mim de todos os lados. Tentando ficar de pé eu

gritei: — Seth!

Corpos me abalavam de todos os lados e fui derrubada no chão por um dos

Ministros. Uma dor aguda explodiu na minha cabeça. Tentei levantar-me, mas a multidão

histérica continuou empurrando-me para baixo. Soltando a lâmina, enrolei-me em uma

bola e protegi minha cabeça. Pisotearam todas as partes do meu corpo e também

chutaram. Isto era como eu iria morrer, não em batalha, e não por alguma armadilha de

algum membro do Conselho que teimava em me destruir, mas pisoteada até a morte por

um grupo de puros. De todas as maneiras de morrer.

Eu ia voltar para assombrar cada um deles.

Meus flancos latejavam e eu tinha certeza que tinha uma costela quebrada. Na

corrida louca, daimons estavam correndo e matando ao lado dos puros e eu não tinha

ideia de onde essas malditas fúrias estavam. Apertei meus olhos fechados, choramingando

enquanto cada pé calçado passava por cima de mim. Segundos depois, quando eu achava

que não poderia aguentar mais nada, a multidão diluiu o suficiente para eu abaixar

minhas mãos e agarrar a lâmina.

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Abalada e machucada, subi para os meus pés. Puros se amontoavam no salão, com

cheiro de fumaça, medo e suor. Eu não vi Seth em qualquer lugar. Tropeçando para o

salão de baile, fui contra a maré de puros. Marcus estava na sala, junto com Laadan e

Lucian.

Dentro do salão outrora grandioso, cambaleei através da destruição, examinando os

corpos espalhados no chão. Marcus e eu não nos aguentávamos por mais de cinco

segundos, mas ele era a única pessoa neste mundo que compartilhava o mesmo sangue

que eu. Não queria ver o seu corpo entre os que estavam no chão. Não sei o que faria. Só

não queria.

Várias portas laterais do salão de recepção tinham sido bloqueadas e alguns daimons

perseguiam os puros restantes como presas. Assisti um daimon atacar uma pura - uma

com cabelo acobreado, super bronzeada e bonita.

Dawn Samos.

Ele afundou os dentes em seu braço. Gritando, ela tentou desgraçadamente puxá-lo,

mas o daimon tinha um aperto de morte. Ela teve sorte, no entanto. Poderia ter ido para

sua garganta. Uma voz pequena na parte de trás da minha cabeça sussurrou deixe-a ir, ela

gosta de Aiden.

Mas isso era errado - super errado.

Puxando minha força restante, ignorei as dores e corri em sua direção. O único

daimon fácil de matar era o que estava com os dentes presos em algum desgraçado. Eu

não sabia? Meus olhos se encontraram com os de Dawn enquanto eu mergulhava a borda

afiada da lâmina nas costas do daimon. Ele explodiu em pó azul sobre o lindo manto

branco dela.

Dawn recuou, o rosto afiado com dor e terror. Dando-lhe pouca importância,

enfrentei a carnificina. Os daimons, tanto os puros quanto os mestiços, estavam tirando

todo o éter possível, alimentando-se dos caídos. Eu me dirigi a eles, mas um grito cru

parou meu coração.

Virei-me.

As três fúrias pairavam em frente da porta, os cabelos de cobra mordendo o espaço à

sua volta. Um Guarda infeliz ficou entre mim e as fúrias, mas não por muito tempo. A

mais feia delas, a do vestido manchado de sangue, quebrou seu pescoço com uma torção

do pulso.

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Raiva e medo passaram por mim, me entorpecendo da dor profunda em meus ossos.

Um sentimento de poder se expandiu no meu estômago e se espalhou por meus membros.

Um choque de energia atravessou minha mão, deixando minha mão em chamas. Isso

percorreu até o meu braço e então torceu até o meu coração, onde lambeu um músculo

nunca usado antes. Talvez fosse Akasha, talvez fosse algo muito estranho, muito mais

mortal, porque tudo brilhava como uma jóia dourada, como se alguém tivesse

mergulhado um pincel em âmbar e espalhado pela sala.

Avançando, meus dedos se contraíram sobre o centro da lâmina de foice. Uma das

fúrias riu. As outras duas também riram e ficaram muito feias. Atrás de mim, podia ouvir

os Guardas combatendo os daimos, mas me concentrei nas fúrias.

As duas se entreolharam e lamberam os lábios. Uma delas falou: — Pequenina

Apollyon, desviando energia do Primeiro, hã? Ou ele está colocando esse poder em você.

É melhor ele ter cuidado ao fazer isso.

— Não vai ser suficiente. — Disse a outra. — Você não pode nos matar.

— Eu posso tentar. — Apertei a lâmina.

A fúria riu. — Tente e morra.

Em seguida, elas voaram em direção a mim. Virei e corri em direção à parede. Lancei

meu corpo, chutando a parede e girando atrás de duas fúrias, trazendo a lâmina para

baixo num varrimento completo.

Caí de cócoras atrás delas, de braços abertos. As duas fúrias cambalearam para trás,

caindo para frente sem as cabeças. Fogo azul apareceu de seus pescoços, inundando e

consumindo seus corpos.

A fúria feia gargalhou e eu girei, de frente para ela. — Você não matou minhas irmãs,

mas Thanatos não vai ficar satisfeito após seus regressos.

— Lamento ouvir isso.

Ela sorriu, deslizando de volta para a forma que era tão bonita que quase doía olhar

para ela. — Você é uma ameaça e temos de lidar com a ameaça. Não é nada pessoal.

— Eu não sou ameaça para ninguém. Não sou o problema.

— Ainda não, mas vai ser. Nós sabemos o que vai fazer. — Ela alcançou a sua

lâmina, golpeando incrivelmente rápido.

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Eu ataquei, chutando-lhe o braço para trás. — O que vou fazer?

— Por que lutar contra mim? Mate-me e eu voltarei. — Ela pulou rápido, pegando a

frente da minha camisa. Escapei de suas garras. — Isso é o que fazemos. Vamos continuar

voltando, caçando-a até que a ameaça seja erradicada.

— Ótimo você é como herpes. O presente que sempre continuamos a receber.

Ela piscou. — O quê?

Girei em um chute tesoura, ignorando o aumento acentuado da dor quando suas

garras pegaram meu braço e me puxaram para frente. Tomando o impulso desse

movimento, bati contra ela. A fúria ficou debaixo de mim por um segundo, rosnando

enquanto eu ganhava a mão superior. Empurrei meu joelho para dentro dela, deleitando-

me com o seu olhar de surpresa.

Ela olhou para mim, uma imagem de beleza e inocência. — Que caminho, que

caminho que os Poderes escolheram. Você vai ser a ferramenta. É por isso que é uma

ameaça.

Eu congelei. — O oráculo disse que…

A fúria se transformou de novo, seu cabelo batendo em mim. Empurrei a foice em

seu pescoço e rolei de cima dela. Segundos depois, ela virou chamas azuis, mas sua risada

ainda persistia. Por um momento, fiquei deitada de costas olhando para o teto. Matar cada

fúria contava o triplo? Certamente seria o suficiente para derrubar Aiden e Leon da

competição?

Rolei para os meus pés e corri a manga da minha blusa por cima do meu rosto. Virei-

me, vendo tantas pilhas azuis de poeira e mestiços mortos que tinham sido transformados.

Apenas um Guarda permanecia no salão de recepção - o puro. De todas as pessoas para

sobreviver. Tinha que ser ele. Eu deveria me sentir mal falando isso. Mas não.

Suspirando, aproximei-me lentamente do Guarda do Conselho. Ele tinha uma

contusão fresca florescendo na mandíbula, mas estava ileso. — Isso foi uma loucura.

Ele girou o punhal na mão e virou-se para os dois puros restantes. Dawn estava

encolhida atrás de uma estátua de Themis, seu braço embalado em seu peito. Sangue

pingava sobre suas vestes brancas. Um macho puro várias décadas mais velho que ela

colocou seu braço ao redor dela, sussurrando algo. A garota parecia ter pirado. Eu não

podia culpá-la. Ela tinha estado muito perto de alcançar seu fim.

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Limpei minha mão debaixo do meu nariz, não me surpreendendo ao ver manchas de

sangue em toda a minha pele.

— Ela está bem? — O Guarda perguntou.

O macho levantou a cabeça. Uma mordida de aspeto raivoso sangrava no local em

que seu ombro e pescoço se encontravam. — Sim, acho que sim. Precisamos levá-la para

ser examinada. — Ele olhou para mim. — Você foi incrível. Nunca vi nada como isso.

— Eu fui mesmo, não é? — Murmurei, querendo me sentir bem sobre vencer a luta,

mas as palavras da fúria deixaram um eco na minha mente. Ela tinha me dado uma parte

adicional do quebra-cabeça, terminando o que o oráculo havia dito. Mas ainda fazia pouco

sentido. Quem eram os ‘Poderes’ e como eu iria me tornar em uma ferramenta?

O puro virou de volta para Dawn. — Acabou. — Ele a acalmou. — Está tudo acabado

agora.

Sim, mas eu ainda não estava disposta a abaixar a foice - só por precaução.

Continuava a ter visões de monstros de filmes de terror saltando para mim. Olhei para

fora da porta. Nada se movia, o que eu acreditava ser um bom sinal. Mas quando é que as

fúrias estariam de volta? Dali a cinco segundos? Daqui a um dia, uma semana ou um mês?

— Alexandria.

Virei-me. — O quê?

O Guarda apertou os lábios em um sorriso. — Você fez muito bem. Eu a vi. Pode ser

a primeira pessoa na história a enfrentar uma fúria e viver. E você enfrentou três delas?

Isso... isso foi incrível.

Um calor relutante passou através de mim. Isso significava algo vindo de um Guarda

puro-sangue do Conselho, mesmo se ele tivesse sido ordenado a matar Hector. Um sorriso

se abriu em meu rosto. — Obrigada.

Ele colocou a mão no meu ombro e apertou. — Eu realmente sinto muito por isso.

Meu sorriso começou a desaparecer. — Pelo quê?

— As fúrias estavam certas. Não pode haver dois de vocês. Você é um risco.

Um tremor de alerta subiu pela minha espinha. Recuei, mas o aperto do Guarda era

forte em meu ombro, me segurando no lugar. Olhei para cima, com amplos olhos e

encontrei os seus. Apenas duas palavras saíram. — Por favor.

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Não havia um pingo de arrependimento ou dúvida nos olhos do Guarda. — Temos

que proteger o futuro de nossa raça.

Então ele girou a lâmina em meu peito.

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Vinte e Sete

Ele vai me matar.

As palavras piscaram pela minha mente e eu reagi por instinto. No fundo da

minha mente, reconheci que o ato de empurrar a foice em seu peito era bem diferente

de empurrar uma no de um daimon ou até mesmo de uma fúria. A lâmina se fez

mais pesada na minha mão, o barulho de sucção que a pele fez quando perfurada

pelo metal afiado pareceu mais alto.

E a coisa que foi mais diferente? Guardas puros-sangues não desmoronavam

em si mesmos e se desvaneciam em nada além de um fino brilho de pó azul. O

Guarda continuou de pé, um olhar horrorizado em seu rosto. Acho que ele realmente

acreditava que poderia passar a perna em mim, que não havia uma lâmina enfiada

profundamente em seu peito.

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Gritei, arrancando a ponta afiada da foice. Então ele caiu. Primeiro de joelhos,

depois de cara no chão de mármore. Levantei a cabeça, a foice ensanguentada

apertada na minha mão trêmula. Eu nem sequer sabia o nome do Guarda... e o tinha

matado.

O macho puro deve ter ficado de pé em algum ponto. Ele me encarou,

igualmente horrorizado. Abriu sua boca, mas nada saiu.

— Tive que fazer isso, — supliquei. — Ele ia me matar. Tive que fazer isso.

Dawn choramingou de trás da figura de Themis. A estátua tinha sido

danificada durante a batalha. As balanças tinham se inclinado - não mais iguais.

Tantas regras governavam os mestiços. Realmente não conseguia memorizar

todas. Mas havia duas que sempre me lembrava: nunca se envolver com um puro-

sangue, e nunca matar um puro-sangue. Autodefesa não importava. A vida de um

puro era e sempre seria mais valorizada do que a minha. Ser uma Apollyon não me

deixava acima dessa lei. Quebrar uma regra parecera ruim o suficiente, mas ambas?

Bem, eu estava tão ferrada.

Passos trovejaram no salão de recepção, o único som que parecia maior do que

as batidas do meu coração. Inatamente, reconheci os dois. Como eles sabiam onde eu

estava? É claro, Seth saberia - sempre saberia - onde eu estava.

Aiden foi o primeiro a passar pela porta. Tanto ele quanto Seth pararam a

poucos metros de distância. Eu só podia imaginar o que eles viram - pilhas e pilhas

de pó azul, os corpos, as portas quebradas, e dois puros encolhidos sob a estátua.

Então eles me viram, de pé com uma foice ensanguentada na mão e um Guarda

do Conselho morto deitado aos meus pés.

— Alex, você está bem? — Aiden atravessou a sala. — Alex?

Ele contornou o Guarda caído e ficou na minha frente. Uma contusão se

escurecia sob seu olho direito e um arranhão cortava através de sua bochecha

esquerda. Sua camisa estava rasgada, mas a lâmina enganchada as suas calças não

tinha sangue nela.

— Alex, o que aconteceu? — Ele soava desesperado enquanto seus olhos

procuravam os meus.

Pisquei, mas continuei vendo o olhar no rosto do Guarda.

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Seth inspecionou a bagunça com um olhar frio, quase selvagem. — Alex. Conte-

nos o que aconteceu.

Tudo saiu em uma corrida nervosa. — Estava lutando com as fúrias e ele me

disse que fiz um bom trabalho, Aiden. Então ele se desculpou. Eu tive que fazer isso.

Ele disse que não podia haver dois de nós e que tinha que proteger sua raça. Ia me

matar. Eu - eu tive que fazer isso. Eu nem sequer sei o nome dele e o matei.

Dor e pânico brilharam nos olhos de Aiden e depois eles assumiram uma borda

dura, de aço. Resolução queimou neles enquanto uma fúria incandescente se

construía atrás dele. Seth mergulhou e rolou o Guarda.

— Okay. — Aiden estendeu a mão para arrancar meus dedos da adaga —

Deixe-me pegar a lâmina, Alex.

— Não. — Balancei a cabeça. — Tem minhas digitais nela. É minha.

— Você tem que me deixar pegá-la, Alex.

Balancei a cabeça, segurando a foice mais apertada. — Eu tive que fazer isso.

Aiden gentilmente arrancou a lâmina. — Eu sei, Alex. Eu sei. — Ele olhou por

cima do ombro antes de voltar para mim. — Não fale uma palavra sobre isto com

ninguém. Você entendeu?

— Mas…

— Alex. — Sua voz se elevou bruscamente. — Não fale sobre isto com ninguém.

Nunca. Você me entende?

— Sim. — Minha respiração estava saindo em arfadas pequenas e bruscas.

Ele girou em direção a Seth. — Tire-a daqui. Pegue o jato de Lucian para a

Carolina do Norte. Use compulsão se você precisar para fazê-los sair sem ele; eu não

me importo. Se alguém pará-los ou perguntar por que está saindo agora, diga a eles

que os daimons tinham planos de pegar o segundo Apollyon. Que o risco era grande

demais para ela permanecer aqui.

Seth assentiu, seus olhos brilhando. — E quanto a eles?

Aiden olhou para trás para os puros. — Eu vou lidar com eles. — Sua voz foi

baixa. — O que aconteceu aqui nunca vai sair desta sala. Pode confiar nisso.

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— Você tem certeza? — Seth franziu a testa. — Se você mudar de ideia está

tudo acabado para Alex. Nós poderíamos apenas cuidar…

— Nós não vamos matá-los, — Aiden assobiou. — Eu sei o que estou fazendo!

Os olhos de Seth se arregalaram. — Você é insano... tão insano quanto Alex. Se

alguém descobrir o que está prestes a fazer, você está...

— Eu sei. Vão... vão agora. Antes que alguém mais venha. Vou cuidar disto.

Aiden usaria compulsão em outro puro? Só isso já era outro ato proibido, outra

regra a ser quebrada. De que outra maneira ele os levaria a guardar este segredo?

Especialmente Dawn? Ela era um membro do Conselho, obrigada a relatar o que

realmente tinha acontecido.

Aiden compeliria os puros. Todo o resto iria se enxaixar. Os mestiços que

haviam sido transformados tinham todos usado adagas. Pessoas iriam encontrar o

Guarda e acreditar que um daimon mestiço tinha terminado a sua vida.

Mas se alguém descobrisse um dia a verdade, Aiden seria considerado um

traidor.

Ele seria morto por isso.

Disparei para frente. — Não. Não pode fazer isto. Eu não vou permitir isso.

Você não vai morrer…

Aiden virou-se e agarrou meus ombros. — Eu vou fazer isto e você vai permitir.

Por favor, só desta vez, não lute comigo. Apenas faça o que eu digo. — Seus olhos

encontraram os meus e quando ele falou de novo, ele o fez pouco acima de um

sussurro. — Por favor.

Fechei os olhos contra a súbita onda de lágrimas. — Não faça isto.

— Tenho que fazer. Eu te disse antes que nunca deixaria nada acontecer com

você. Estava falando sério. — Aiden virou-se em direção a Seth — Saiam agora.

Seth segurou minha mão em um aperto firme. Havia tanta coisa que eu queria

dizer a Aiden, mas não havia tempo, não com Seth me arrastando além dos corpos e

os puros em estado de choque. Consegui um último olhar, no entanto.

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Aiden já estava colocando seu plano em movimento. Ele se agachou na frente

de Dawn, falando baixo e rápido - da mesma maneira que tinha falado comigo

naquela noite no armazém.

Uma compulsão - ele estava realmente usando uma compulsão em outro puro.

Seth puxou minha mão. — Temos que nos apressar.

Nós dois corremos pelos corredores, evitando as áreas mais densamente

povoadas. Passamos por salas onde suaves choros enchiam o espaço entre nossas

pisadas, corredores onde os corpos de mestiços cobriam o chão. Quando Seth roubou

um conjunto de chaves de um Guarda morto, olhei dentro de uma câmara escura.

Servos mestiços cobriam o chão, todos eles mortos ou morrendo, e ninguém parecia

sequer se importar. Ninguém tratava deles. Havia apenas gemidos e pedidos de

misericórdia. Pedidos de ajuda - ajuda que nunca viria. Eu me dirigi a eles.

— Não temos tempo. Sinto muito, Anjo. Apenas não temos tempo. Temos que

ir. — Seth puxou-me para longe da sala.

Dormente - eu estava dormente por dentro. Tão dormente que realmente não

sentia as contusões que os golpes tinham deixado para trás, a dor que cada passo

produzia em mim. Encontrar um Hummer não foi duro, mas ignorar os sons de luta

em torno de nós foi difícil. Instinto exigia que me atirasse de volta para a briga, mas

eu duvidava que Seth apreciaria isso.

Examinei os terrenos escuros, aliviada ao ver que os Guardas ainda mantinham

uma linha ao redor da escola. Os daimons não tinham invadido. Pelo menos os

estudantes estavam a salvo.

Mas e quanto aos servos?

No caminho para o aeroporto, Seth cumpriu o plano de Aiden. Depois de várias

tentativas sem sucesso, ele foi capaz de chegar a Marcus. Olhei fixo pela janela, ainda

dormente com choque.

Seth falou exatamente o que Aiden tinha instruído, dizendo a Marcus que os

daimons tinham tentado me levar. — … e tirá-la daqui no avião de Lucian esta noite.

Soou como se Marcus concordasse com a ideia de me tirar de Nova York. —

Lucian está entre os sobreviventes. Eu vou transmitir a informação.

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Um pouco da tensão no meu corpo abrandou sabendo que Lucian e Marcus

estavam vivos, mas havia ainda muitos outros cujos destinos eram desconhecidos

nesta altura. Tinha havido tantos corpos, tantos daimons. E quanto a Laadan?

Seth e eu não conversamos até embarcarmos no jato de Lucian. Sentei-me ao

lado de uma janela enquanto Seth encorajava o piloto e os servos a decolar sem

Lucian.

Descansei minha cabeça contra a vidraça fresca, apertando meus olhos

fechados. Meu estômago se sentia oco. Em algum ponto depois que o avião decolou,

eu parei de pensar. Só sentei lá, existindo em um mundo onde eu poderia nem

sequer ter um futuro. Tantas coisas poderiam dar errado até este ponto. E se a

compulsão não funcionasse? Se assim fosse, os Guardas estariam esperando por nós

no momento em que o avião pousasse. E mesmo se Aiden fosse bem sucedido,

compulsões não tinham garantias de serem permanentes. Elas poderiam se desgastar

após o tempo.

Então o que? Aiden e eu perderíamos tudo.

Seth caiu no assento ao meu lado. Levantei a cabeça e dei uma olhada nele. Ele

segurava dois copos nas mãos, preenchidos com algo que parecia muito com licor. —

O que é isso?

— Não é Infusão. — Sua piada falhou completamente, mas sorri fracamente e o

tomei. — É só uísque escocês. Deve ajudar.

Bebi o copo e o entreguei de volta. — Obrigada.

— Você realmente parou as fúrias?

Assentindo, entreguei o copo de volta para ele. — Cortei suas cabeças. Elas

disseram que voltariam, no entanto.

— Só um deus pode verdadeiramente matar outro deus. — Ele pausou. — Ou

um assassino de deuses, mas se você cortou suas cabeças, posso imaginar que isso

iria colocá-las fora de combate por um tempo.

— Seth, elas disseram… Elas disseram que eu era a ameaça. — Mordi o lábio,

estremecendo. — Oh, deuses, matei um puro.

— Shh. Nunca diga isso de novo. Sabe o quanto Aiden está arriscando. Não

deixe tudo isso ser desperdiçado. — Seth inclinou-se, envolvendo seu braço ao redor

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dos meus ombros. Depois de alguns segundos, ele falou. — Ele realmente... não é

como os outros puros, Alex.

— Eu sei. — Sussurrei. Aiden não era como ninguém que eu conhecia, e não

havia nenhuma maneira que eu poderia aceitar que suas ações esta noite fossem um

senso de dever com esteroides.

Mas não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso agora.

Olhei pela minúscula janela, para a noite escura. Abaixo, luzes em forma de

diamante ficaram menores e menores, tornando-se insignificantes e se desvanecendo

corforme nos movíamos para nuvens sinistras. Chamei uma respiração profunda,

mas ficou presa na minha garganta. Eu tinha matado um puro-sangue e o homem

que eu amava estava lá embaixo, encobrindo isso, arriscando tudo por mim.

O que eu tinha feito?

Pensando de volta naqueles segundos quando tinha visto o puro levantar a

adaga, soube que tinha havido tempo para evitar o mergulho mortal da lâmina. Eu

era rápida. Poderia ter saído do caminho. Poderia ter corrido. Não precisava matá-lo.

O braço de Seth ao redor do meu ombro se apertou, como se pudesse ler minha

mente. — Você estava se defendendo, Alex.

— Estava?

— Sim. Eles declararam guerra contra nós. Não teve outra escolha.

— Há sempre escolhas. — Puxei o meu olhar da janela e olhei para Seth. Há

sempre escolhas. Eu apenas tinha este terrível hábito de fazer as erradas e agora tinha

que lidar com isso. Assim como Aiden. Assim como Seth.

Seth estendeu a mão lentamente, como se estivesse com medo de me assustar.

Ele pegou meu queixo com as pontas de seus dedos. Ele não disse nada. Não que

precisasse - a conexão entre nós estava lá, soltando faíscas.

Eu precisava disso agora - precisava de Seth.

Fechando meus olhos, eu o deixei guiar minha cabeça para seu ombro. E depois

que pude tomar a primeira respiração profunda de ar sem engasgar com ela - depois

que tinha feito a minha escolha - finalmente deixei a conexão entrar completamente.

A presença de Seth - seu calor - me rodeava. Ondas de conforto me inundaram,

aliviando os nós no meu estômago. Não preenchendo todas as rachaduras, não

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substituindo as que persistiam de Catskills, mas enchendo o suficiente para que eu

me sentisse um pouco melhor, um pouco mais sã.

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Cena Bônus do

Ponto de Vista de Seth

Eu assisti Dawn colocar a mão no braço de Aiden e mais uma vez senti uma onda de

gratidão por Alex ter decidido não vir a este baile. Se ela estivesse aqui assistindo isso,

poderia ter arrancado cada fio de cabelo acobreado da pura.

Imagens de Alex entrando em modo ‘luta de garotas’ encheram minha cabeça, e eu

ri.

Aiden ergueu as sobrancelhas para mim. — Tudo bem por aí?

Revirei os olhos, nem mesmo me preocupando em responder. Só porque eu estava de

pé ao lado dele - só porque ele era a opção menos indesejável no momento - não quer

dizer que eu ia falar com ele. Em um dia bom, os níveis de animosidade entre nós eram

geralmente um código ‘vermelho’. Em dias ruins eram um código ‘eu vou matar você’.

Tínhamos mais dias ruins do que dias bons.

Os olhos cinzentos do puro se estreitaram, antes que ele se voltasse para um dos

filhos de um Ministro, que atualmente estava descrevendo como iatismo em mar aberto

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era emocionante. Tédio ia me matar. O meu olhar deslizou para onde Lucian estava de pé,

ao redor dos Ministros. Mesmo ele parecia que seria uma companhia mais estimulante.

Aiden suspirou baixinho, alto o suficiente para que eu pudesse ouvi-lo, e eu quase ri

alto. Aparentemente, ele e eu tinhamos mais de uma coisa em comum: o nosso tédio atual

e um…

Um tremor de consciência rolou sobre a minha pele, e eu podia sentir as marcas

formigando, respondendo à presença dela. Alex.

Eu me virei lentamente, focalizando onde ela estava. Agora, o que no Hades ela

estava fazendo aqui embaixo... meu cérebro praticamente se esvaziou de todo o

pensamento racional.

Alex estava parada perto da entrada do salão, parecendo tão assustada como uma

ninfa da floresta que tinha recebido um favor de Apolo. Sua ansiedade cantarolava em

torno dela, mas eu não estava sentindo isso. Bem, eu estava sentindo alguma coisa.

Sempre houve essa certa beleza nela - que era áspera nas bordas, tornando-a única

para aqueles ao seu redor. Mas esta noite, usando um vestido vermelho que deveria ser

ilegal em seu corpo? Eu tinha visto Alex em roupas de ginástica, naquele pequeno pijama

sensual, e em roupas normais, mas caramba. Esse cabelo preso em um coque para cima... e

aqueles olhos...

Hoje à noite ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto.

Eu a vi se afastando de Laadan e Lucian, recuando para o lado. Ela não pertencia

àquele lugar. Hades, ela não pertencia aqui.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, seus olhos encontraram os meus.

Ela ergueu o copo, saudando-me em silêncio. Cada músculo do meu corpo ficou

congelado, e então eu percebi que estava olhando para ela como um imbecil.

— Puta merda, — murmurei.

Senti Aiden enrijecer ao meu lado e me perguntei se ele de alguma forma sabia que

ela estava aqui, se havia algum tipo de vínculo que corria entre os dois que era muito mais

poderoso do que o que Alex e eu compartilhávamos. Impossível... mas eu queria saber.

Então, ele olhou por cima do ombro, e deuses queridos, eu nunca vi um homem mais

surpreendido por uma garota em um vestido do que Aiden. Okay. Mentira. Eu tinha

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estado tão surpreso quanto, e se ele estava pensando metade do que eu estava pensando,

eu meio que queria bater nele mais do que o costume.

O olhar em ambos os seus rostos, na verdade, me fez querer bater - não, eletrocutar

algo. Bem aqui, em público, eles estavam transando com os olhos.

E estava prestes a piorar. Aiden realmente estava caminhando em direção a ela.

Apertando minha mandíbula até que tinha certeza de que meus dentes iam quebrar, eu

escorreguei para longe do grupo, passando por Lucian e Marcus. Quando estava passando

por Laadan, ela ergueu o olhar.

— Ela não é para você, — ela murmurou por cima da borda do copo. O seu sorriso

suave e conhecedor não desapareceu. Eu nem queria saber como ela sabia. — Um centavo

de sabedoria, Seth...

— E um quilo de cale a porra da boca.

Laadan arqueou uma sobrancelha, mas não disse mais nada, o que estava bom para

mim. De todos os puros que eu conhecia, ela era a mais estranha. Passei por ela em direção

a Alex e cheguei a considerar pegar um guardanapo em cima da mesa para ajudar com a

baba, mas duvidava que ela agradecesse a oferta.

Suspirando, eu deslizei por trás dela, colocando minha mão em seu ombro. Ela nem

sequer vacilou, mas eu fiz. Zeus poderia estar apalpando-a agora mesmo e ela não ia nem

sequer notar. Mas Aiden notou. Ele não fez nada para esconder o flash de raiva que

contorceu sua expressão geralmente em branco.

Meu lábio se arqueou em um lado.

Aiden parecia que ia me bater, e eu meio que esperava que ele o fizesse. Eu adoraria

nada mais do que enfiar meu pé em seu... mas Alex - isso não ia acabar bem para Alex.

Inclinando-me para ela, eu inalei o aroma de pêssegos e algo misterioso e

exclusivamente dela. — As pessoas estão começando a olhar.

E sabia que ela não poderia se importar menos, e isso me fez querer estrangulá-la,

mas Aiden, como sempre, exibiu algum senso comum. Ele parou, rangendo os dentes tão

fortemente como eu.

Enfiei minha mão pelo seu braço, intercalando meus dedos com os dela, e então eu

disse o mais irônico de tudo. — Você sabe que ele não é para você.

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— Eu sei, — ela sussurrou, e seu desespero e dor explodiram através de mim tão

fortemente que eu lutei para não me afogar neles enquanto Aiden se virava. Parte de mim

queria que ele voltasse para ela, só para acabar com o que ela estava sentindo.

Uma parte muito pequena que eu chutei rapidamente.

— Você quer dançar? — Perguntei.

Ela inclinou o queixo para trás, seus olhos de um castanho-mel. — Eu não quero

dançar.

Meu olhar a seguiu. — Você quer ficar aqui?

— Não sei.

Ah, indecisão, a melhor amiga do homem. Eu sorri e quando falei, meus lábios

roçaram sua orelha. — Nós não pertencemos aqui, Alex. Não com eles.

Seus olhos se afastaram dos meus e ela chupou em seu lábio inferior. Ela estava

confusa, o que geralmente trazia o lado menos tolerável de Alex, mas depois seus olhos

voltaram para os meus.

— Vamos, — eu persuadi.

Seus dedos tremiam quando ela pousou sua taça de vinho e nós fomos, embora eu

soubesse que sua cabeça não estava comigo. Seus pensamentos e seu coração nunca

estavam, sempre presos no lugar errado.

Só por agora, eu me lembrei, só por agora.

Levei-a ao redor do prédio, não realmente lhe dando muita escolha a não ser seguir.

Ela estremeceu no ar frio e permaneceu em silêncio o tempo todo, o que tinha que ser um

recorde para ela. Minha mão livre se enrolou em um punho. Sua angústia me corroía por

dentro como ácido, e ela não tinha ideia de quanto transmitia por meio de nossa ligação.

— Vamos fazer algo estúpido, — eu disse.

Ela olhou para mim. — Você quer fazer algo estúpido agora?

— Você pode pensar em um melhor momento para fazer algo estúpido?

Seus lábios se contraíram. — Tudo bem. Estou dentro.

— Bom. — Ótimo. Yay. Yippee. Eu a puxei pelo labirinto, lutando contra a raiva se

construindo em mim.

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— Você quer treinar?

Balançando a cabeça, peguei o ritmo. — Não. Não quero treinar.

As portas duplas não estavam trancadas, e eu sorri quando vi a piscina. Ambos

precisávamos de fazer algo idiota agora.

— Você quer ir nadar? — Ela perguntou, parecendo duvidosa.

— Claro.

— Estão 4 graus lá fora.

Abri a porta e o cheiro de cloro cumprimentou o meu nariz. — Então? Não estão 4

graus aqui, não é? Mais como 15.

Alex se afastou de mim e foi para a beira da piscina. É claro que eu a observei

enquanto tirava meus sapatos. Ela olhou para mim e eu pisquei.

— Você é ridículo, — disse ela.

— Você também. — Larguei meu casaco no cimento, observando-a, sempre

observando-a. Não era tanto eu, mas sim o que estava dentro de mim - dentro dela. Era

simplesmente do jeito que era, eu supunha.

— Nós somos muito parecidos, Alex.

Parecia que ela queria discutir isso, mas ficou com esse olhar em seu rosto que dizia

que ela estava pensando muito. Sobrancelhas próximas, nariz um pouco enrugado e os

lábios entreabertos. Adorável.

— Era tão óbvio lá atrás? — ela perguntou.

Levei um momento para perceber onde ela queria chegar e então xinguei

mentalmente usando tantas palavras de quatro letras quanto podia. Elas foram criativas.

— Eu não sei o que se passa na sua cabeça, Alex. Não posso ler seus pensamentos. Só

peguei suas emoções.

Ela franziu o cenho. — Bom saber.

— Concordo. — Eu comecei a desabotoar a camisa. — De qualquer forma, eu não

precisava sequer de ser capaz de sentir suas emoções para saber. Não acho que você

queira saber o que parecia.

— Não. Eu quero.

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Famosas últimas palavras, mas quem era eu para negar a ela? Suspirei. — Você

estava olhando para ele como uma garota feia olha o último cara bonito no bar quando ele

faz a última chamada.

Ela soltou um riso estrangulado. — Ah. Uau. Obrigado.

Droga. Levantei minhas mãos. — Eu te disse.

— É. Então, eu parecia uma idiota para todos?

Uma idiota? Quem me dera. — Não, todo mundo viu uma bela mestiça. Isso é tudo

que viram.

Olhei para longe, sabendo que era hora de mudar de assunto. — Posso dizer-lhe uma

coisa?

Ela se virou para a piscina novamente. — Claro.

Me aproximei dela, em parte porque tinha que o fazer e porque eu sabia que ela

odiava quando me movia muito rápido. — Prefiro você sem luvas.

— Ah. — Ela me olhou com cautela.

Eu tirei uma luva, surpreendido por ela me deixar, e depois a outra, jogando as duas

para longe da água. Dê uma polegada, e eu vou pegar uma milha. Deslizei meus dedos ao

redor das marcas em seus braços antes de recuar.

Ela baixou os cílios. — Melhor?

— Muito. — Eu cruzei os braços, olhando para ela. Alex sempre foi uma grande

curiosidade para mim. Ela não deveria ser, mas era. Talvez isso fosse o que a tornava um

mistério para mim. Mesmo que eu soubesse o que ela estava sentindo metade do tempo,

nunca sabia o que ela ia fazer a seguir.

— Dá para molhar seda? — Ela perguntou.

Ela ia seriamente saltar com esse vestido? Engasguei com o pensamento. — Eu diria

que provavelmente não.

Ela tirou os sapatos. — Isso é uma pena.

Meus olhos se arregalaram. — Você realmente vai…

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Alex mergulhou, e eu ri quando seu choque me percorreu, juntando-se ao meu.

Desloquei-me para a borda da piscina, sorrindo quando ela ressurgiu. — Tão infantil,

Alex. Você arruinou seu vestido.

— Eu sei. Que má que sou.

— Muito má, — eu murmurei, observando-a afundar sob a água novamente. Ela

ficou sob a água tanto tempo que comecei a me perguntar se ela tinha um pouco de

Poseidon nela.

Um tremor percorreu as marcas e me afastei da borda. Levantando meus braços, eu

fechei os olhos e me espreguicei, tentando aliviar a tensão se construindo dentro de mim,

tentando diminuir a maneira como as marcas vibravam e queimavam.

Eu abri um olho, encontrando Alex flutuando e me observando. — Pare de encarar.

— Eu não estou encarando.

Ri. — Como está a água?

— Boa.

As marcas ainda estavam me deixando louco. Poder estava se construindo nelas,

percorrendo toda a minha pele. Soltando meus braços, tomei uma respiração profunda de

ar. — Lembra-se da última coisa que eu disse a você no treinamento?

Ela nadou em direção à borda. — Você me diz um monte de coisas no treinamento.

Honestamente, eu não presto atenção.

Legal. Eu bufei. — Você faz maravilhas para a minha auto-estima.

Alex se empurrou para fora da parede de cimento e flutuou de costas. O vestido se

espalhava ao seu redor como se fosse uma espécie de ninfa das águas. — Eu me sinto

como uma sereia.

Eu sentia um monte de coisas. — Amanhã, quando lhe perguntarem sobre o que

aconteceu em Gatlinburg, só responda às suas perguntas.

Ela suspirou. — Eu sei. O que vocês acham que eu vou dizer? Que amo daimons?

Não seria surpresa para mim. — Só não elabore muito. Responda sim ou não e é só.

— Não sou estúpida, Seth.

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Eu arqueei uma sobrancelha. Estúpida? Não. Imprudente? Sim. — Não disse que

você era. Só sei que você tende… a falar demais.

— Oh. Como se você…

Eu mergulhei, indo diretamente para ela. Tentei pegar o vestido, mas ela afastou a

mão. Ressurgindo, balancei a cabeça, enviando água voando por toda parte.

Ela jogou água em mim. — Você fala mais do que eu.

Indo para o lado, balancei um braço sobre a borda e virei-me para ela. Bons deuses, a

água fazia bem a essa garota. — Você parece um macaco afogado.

— O quê? Não pareço nada. — Ela passou a mão pelo cabelo e então sobre seus

olhos. — Espere. Pareço?

Assenti, lutando contra o desejo quase arrebatador de me jogar para ela. —

Honestamente, você parece uma bagunça. Esta foi uma má ideia. O que eu estava

pensando?

— Cale-se. Você não parece tão quente também.

Havia um flash de interesse que não era meu traindo suas palavras. Eu sorri,

colocando a mão sobre a água. — Veja isso.

Ela lutou com as bordas de seu vestido. — Vejo o quê?

Usando o elemento água, deixei a água girar, em seguida, atirei-a, dirigindo o tufão

em direção a ela. Isso começou uma guerra de água, e mesmo que ela soubesse que não

era páreo para mim, Alex não desistiu. Nem mesmo quando o jogo se tornou mais físico, e

eu a suspendi no ar, acima de mim, chutando e guinchando como um pequeno demônio.

E, pela primeira vez, em muito tempo, eu estava realmente... me divertindo. Diversão

infantil e estúpida, mas diversão mesmo assim.

No fundo da minha mente, eu sabia por que a tinha trazido aqui, mas quando a

joguei um bom metro e meio no ar pela terceira vez, observando-a voltar para mim,

comecei a esquecer toda essa razão quando uma ideia nova e melhor surgiu.

Ela sorriu para mim. — Você ainda é o melhor.

Suspirando, baixei-a de volta para a água. — Agora você realmente parece um

macaco afogado.

— Obrigado. — Ela começou a nadar para longe.

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Eu apenas a deixei se afastar um pouco antes de colocar um braço em volta de sua

cintura e a virar para mim. — Onde você pensa que está indo? — Eu não tinha certeza do

que estava fazendo. Sim, eu flertava com ela e empurrava os limites, mas havia sempre

essa linha invisível entre nós. Ela tinha um nome - Aiden. Mas agora, essa linha tinha sido

afogada.

Ela colocou as mãos sobre os meus ombros, e eu cerrei os dentes. — Não me jogue de

novo.

— Eu não vou jogá-la.

— Então eu ganhei a guerra de água?

— Não, — eu disse, meu olhar caindo para a curva de seu pescoço. As marcas de

mordida eram quase impercetíveis.

— Droga. Bem, eu acho que você tem que ser melhor do que eu em alguma coisa.

Parabéns.

— Sou sempre melhor do que você. Sou…

— Egoísta, — ela interrompeu, seus olhos brilhando como uísque sob a luz fraca. —

Narcisista?

Inclinando meu queixo para baixo, empurrei-a até que ela atingiu a borda da piscina.

— Eu tenho algumas palavras para você, também. Que tal teimosa? Insolente?

Sua respiração ficou presa. — ‘Insolente’ foi sua escolha de palavra do dia?

Coloquei meu dedo sobre os seus lábios. — Bem, sim. Eu poderia até usá-la em uma

frase, se quiser.

— Isso não será necessário. — Seus olhos se estreitaram.

Plantando minhas mãos em cada lado dela, eu assisti seus cílios encharcados se

elevarem, seus olhos encontrarem os meus, e foi como ser socado no estômago.

Uma rajada de confusão, tingida com atração, queimou na parte de trás da minha

garganta.

Havia também uma grande dose de nervosismo irradiando dela, e por boas razões.

Ela engoliu em seco. — Eu acho que... devemos voltar agora. Estou com frio e está ficando

tarde.

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Eu sorri. — Não.

— Não?

— Eu não fiz nada idiota ainda. — Inclinei-me, tão perto que as bordas do meu

cabelo escovaram sua testa. — Na verdade, ainda há um monte de coisas estúpidas em

mim.

Porque isto era realmente estúpido.

Alex colocou as mãos no meu peito, e uma sacudida de energia elétrica passou por

mim. Incerteza marcou suas feições, mas ela não estava me afastando. Encarei isso como

um bom sinal. Minhas mãos encontraram sua cintura sem pensar muito, o material fino o

suficiente para que eu pudesse sentir sua pele quente. — Você sabe o quê? — Eu disse. —

Há um monte de coisas estúpidas para fazer, mas eu realmente quero fazer a coisa mais

estúpida possível.

— Que é?

Eu inalei-a, respirando o seu cheiro. — Eu quero te beijar.

Ela endureceu. — Isso é loucura. Eu não sou Elena... ou qualquer outra dessas

garotas.

— Eu sei. Talvez seja por isso que eu quero, — admiti. Alex era diferente. Nenhuma

das outras garotas deixava a minha pele formigando. Podia até nem ser ela, mas o que

descansava dentro dela. De qualquer forma, eu sabia que queria isso, porque era o que

aquilo que descansava dentro de mim queria.

Alex virou a cabeça em direção a minha. Outro sinal muito bom. — Você não quer

me beijar.

— Mas eu quero. — Meus lábios roçaram seu rosto suave.

Suas mãos escapuliram e agarraram a borda da piscina. — Não, você não quer.

Eu ri, deslizando meus dedos por sua coluna, curvando a mão ao redor da base de

seu pescoço.

— Você está discutindo comigo sobre o que eu quero?

— Você está discutindo comigo.

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— Você é ridícula. — Eu sorri por um momento antes de reconhecer que o meu toque

tinha entrado em contato com a contusão que o Mestre havia deixado para trás. Raiva

correu através de mim, aumentando a tensão. — É uma qualidade tão chata, mas

estranhamente cativante.

— Bem... você é chato, também.

Eu ri de novo, porque ela era engraçada. Sempre discutindo, sempre negando o que

estava bem na frente dela. — Por que ainda estamos falando?

Descansando sua bochecha contra meu ombro, eu senti os seus cílios estremecerem.

— Esta é a sua única chance de falar sem eu te pedir para se calar, porque não vamos

fazer... qualquer outra coisa.

— Sabe o quanto te acho divertida? — Eu me aproximei, correndo a mão sobre a

curva de seu quadril, descendo por sua coxa. Ela foi para me parar, não rápido o

suficiente, e eu sabia que Alex poderia ser malditamente rápida quando queria. Liguei-lhe

a perna em torno das minhas e contive um gemido.

— O que... você está fazendo? — Ela sussurrou.

— Sabe por que eu acho que você é tão divertida?

— Por quê?

— Porque eu sei o quanto você quer que eu te beije. — Peguei o seu queixo,

inclinando a cabeça dela para trás com a outra mão.

— Isso não é verdade.

Tão mentirosa - sua necessidade igualava a minha, obscurecendo cada um de nós. —

Você mente. Por quê? Eu não tenho nenhuma ideia. — Beijei seu rosto e, em seguida, sua

garganta, seu ombro, enquanto a minha mão na coxa dela escorregava mais para baixo.

Ela me empurrou e eu sorri. — Posso sentir o que você está sentindo. E eu sei que você

quer me beijar.

Suas unhas pequenas cavaram no meu braço. — Não é...

— Não é o quê? — Eu levantei minha cabeça, aproximando a minha boca da dela.

— Eu...

— Só me deixe te beijar.

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E eu sabia que ela queria que eu o fizesse - precisava que o fizesse. Sentia isso através

do vínculo, e senti as marcas sangrarem através da minha pele, queimando enquanto

deslizavam sobre mim.

Alex estava lutando contra isso, porque era o que sempre fazia. E depois havia a

outra questão, um sentimento de culpa que eu estava pegando dela.

Ela abriu os olhos. — Isso é real?

— Muito real. — Escovei os fios encharcados para fora de seu rosto, me perguntando

se estava mentindo ou não e se deveria me importar. — Anjo, deixe-me beijar-te.

Seus lábios não se separaram até mesmo uma polegada dos meus, e meu estômago se

apertou. Tão perto... e então senti a culpa crescendo, tornando-se mais poderosa do que a

necessidade. As marcas acalmaram na minha pele. Ela não estava pensando em mim agora

- filho da puta. Deixei-a, estremecendo quando ela bateu na borda da piscina. — Você está

pensando em Aiden.

Ela mordeu o lábio, mas a verdade estava em seus olhos. — Não da maneira que

você acha que estou.

Frustração chicoteou por mim, e eu sabia que precisava sair antes que fizesse ou

dissesse algo de que ia me arrepender, mas fui em frente, ficando bem no seu rosto. —

Você sabe, eu não sei o que é pior. Que eu seja estúpido o suficiente para querer beijá-la ou

o fato de que ainda está presa a alguém que nem sequer te quer.

Seus olhos brilharam. — Uau. Isso é um pouco duro.

Total movimento idiota, mas ela precisava entender. — É a verdade, Alex. Mesmo

que ele te professasse o seu amor eterno, você não poderia tê-lo.

Alex se afastou de mim e arrastou-se para fora da piscina. Água pingou do seu

vestido, formando pequenas poças ao redor de seus pés. — Só porque não posso ficar com

ele não muda o que sinto.

E isso acabou com o meu controle. Talvez em outra altura eu podia ter deixado isso

passar, mas não agora. Saí da água tão rápido que ela deu um passo instável para trás. —

Se você tem esse amor épico por Aiden, por que quer me beijar tanto quanto quer?

Vermelho manchou suas bochechas com fúria, se misturando com a minha. — Eu

não te beijei, Seth! Isso deve responder sua pergunta!

— Você queria. Confie em mim, eu sei. — Sorri. — Você realmente queria.

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Ela me olhou um momento, depois suas mãos se fecharam em punhos. — Como você

sabe, Seth? Como sabe que não é a conexão entre nós em vez de algo real?

E essa era a pergunta que valia milhões de bebês daimon. Eu não sabia, não

realmente, mas havia mais do que apenas a conexão. Como quando Caleb foi morto, parte

da razão por que eu fiquei com ela foi por causa da tristeza que a corroía, mas a outra

parte era porque eu queria estar lá. Tanto que eu até impedi Aiden de vê-la.

Sim, havia a conexão nos alimentando, mas era desse jeito que era suposto ser, como

nós dois tínhamos sido criados. Não havia nada errado com isso. Negá-lo não era natural.

Explicar isso para ela não ia levar a lugar nenhum, no entanto. Ela não entendia. Ainda

não.

— Você acha que é apenas a conexão? Realmente acha que isso é tudo o que eu sinto

por você?

Sua risada foi dura. — Você diz isso o tempo todo! Toda vez que você faz algo de

bom para mim, diz que é a conexão forçando-o a fazê-lo.

— Alguma vez você pensou que eu estava brincando?

— Não! Por que deveria? Você disse que a ligação iria crescer mais forte entre nós. É

por isso que você quer me beijar! Não é real.

Droga, às vezes eu literalmente queria sufocá-la. — Eu sei por que quero te beijar,

Alex, e não tem nada a ver com o fato de sermos Apollyons. E aparentemente não tem

nada a ver com o seu bom senso, também.

Agora ela parecia que queria me sufocar. — Ah, cala a boca. Estou falando…

— Eu sei exatamente o porquê. — Andei para a frente, apoiando-a até que ela atingiu

a parede de cimento atrás. — Eu não posso acreditar que vou mesmo ter que soletrar para

você.

Achatando as mãos contra a parede, ela tremeu. — Você não precisa fazer isso.

— Você é a pessoa mais frustrante que eu conheço.

Ela revirou os olhos. — E isso faz com que queira me beijar? Você é retorcido.

— Você sente a conexão entre nós agora? — Eu perguntei.

Alex franziu o cenho. — Não realmente, mas eu não sei o que se sente…

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Eu nem sei por que fiz isso. Raiva? Frustração? Necessidade? Ou talvez apenas para

provar que ela me queria mesmo amando alguém, o que, em minha mente, provava que o

amor era, provavelmente, uma das coisas mais instáveis e estúpidas que os deuses já

haviam criado.

Agarrando os lados de seu rosto, eu abaixei minha boca na dela. Ela congelou contra

mim, mas não lutou quando eu aprofundei o beijo, passando pela requintada sensação da

primeira vez, mergulhando de cabeça no beijo. Deuses, eu poderia comê-la. Ela estava

certa. Tinha muito a ver com a conexão entre nós alimentando o desejo, mas eu não me

importava. Havia um monte de coisas em jogo, um propósito para tudo isso, não que eu

conseguisse me lembrar ou pensar em uma maldita coisa que não fosse como seus lábios

eram suaves, como eu apostaria minha vida em como ambrosia sabia como ela.

E, finalmente, ela se moveu. Envolvendo os braços em volta do meu pescoço, ela

emaranhou seus dedos no meu cabelo, beijando-me como se não houvesse amanhã. Eu

amava isso – amava que quando Alex finalmente decidia fazer algo, ela jogava tudo de si

nisso, certo ou errado.

Frieza permaneceu na parte de trás da minha mente, no entanto. Conhecimento. Esta

era a minha chance, a única chance que eu sabia que ia conseguir.

Afastei-me, pegando o seu lábio inferior. O som que ela fez não foi sequer justo. —

Você não pode me dizer que não gostou disso. — Beijei-a de novo, incapaz de evitar após

tanto tempo. — E não se atreva a me dizer que não me beijou.

— Eu... não sei o que foi. — Disse ela.

Eu ri, movendo a minha boca contra a dela. — Você tem uma escolha, Alex.

Seus olhos se abriram então, e ela observou as marcas no meu rosto quase

obsessivamente. Elas cantarolaram com aprovação. — Que escolha?

Eu deslizei minhas mãos em sua cintura, segurando-a. — Você pode escolher entre

continuar definhando por algo que nunca poderá ter.

— Ou?

Huh, não houve uma recusa imediata. Eu sorri. — Você pode escolher não o fazer.

— Seth, eu…

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E aqui vamos nós. — Olha, sei que você não o superou, mas eu sei que gosta de mim.

Não estou sugerindo nada. Não estou pedindo estúpidos rótulos ou promessas. Não há

expectativas.

Ela deu uma respiração superficial. — O que você sugere?

— Escolha ver o que acontece. — Soltei-a, dei um passo para trás e corri minhas mãos

pelo meu cabelo, precisando de espaço. — Entre nós… escolha-nos.

Alex colocou os braços ao redor da cintura, parecendo incrivelmente pequena. Era

um risco, expor a situação assim, mas já passava da hora de fazê-lo. Como marcar uma

posição, eu imaginei.

Sorri levemente. — Pense nisso, pelo menos.

Então eu a deixei, dando-lhe alguns momentos para ponderar, que pensando melhor

podia não ter sido uma boa ideia. Alex tinha como hobby tomar as decisões erradas. Meus

movimentos eram espasmódicos quando agarrei a camisa descartada e a deslizei sobre

meus ombros. O material raspou contra as marcas agora sensíveis, mas eu estava me

acostumando a essa picada.

— Seth?

Virei um pouco, terminando o último dos botões. — Alex?

Um rubor rastejou pelo seu rosto — Eu... eu escolho você ou o que quer que seja que

está dizendo.

Ela fez uma pausa, seu nariz enrugando. — Quero dizer, escolho o que...

Minha boca cortou suas palavras, e eu envolvi meus braços em torno dela, deixando

cair o paletó sobre seus ombros frios, e então levantei-a contra mim. Fogo varreu nós dois,

e ela se moveu em meus braços, deliciosamente. As marcas explodiram contra a minha

pele, rodando para onde as suas mãos seguravam minha camisa, exigindo que fizesse

contato com ela, para marcar sua pele mais uma vez.

Em seguida, suas mãos deslizaram debaixo da camisa. Muito rápido. Eu recuei,

respirando pesado. Eu tinha ela, mas ainda assim, muito rápido. Meus lábios se

espalharam em um sorriso que atingiu todas as partes de mim. — Você não estará

dormindo naquela cama - naquele terrível quarto - esta noite.

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A série Covenant continua em…

"A história está se repetindo, e as coisas não correram bem da última vez."

Alexandria não tem certeza de que vai conseguir sobreviver até seu aniversário de dezoito

anos – até o seu Despertar. Uma ordem fanática há muito esquecida está tentando matá-la,

e se o Conselho alguma vez descobrir o que ela fez no Catskills, ela é um caso perdido... e

Aiden também.

Se isso não é ruim o suficiente, sempre que Alex e Seth passam tempo "treinando" - o que

realmente é apenas a palavra de código de Seth para algum tempo de contato próximo e

pessoal - ela acaba com outra marca de Apollyon, o que a traz um passo mais perto de

Despertar antes do previsto. Ótimo.

Mas à medida que o seu aniversário se aproxima, seu mundo inteiro quebra com uma

revelação surpreendente e ela fica presa entre o amor e o destino. Um vai fazer de tudo

para protegê-la. Um tem mentido para ela desde o início. Uma vez que os deuses se

revelarem, libertando sua ira, vidas serão irrevogavelmente mudadas... e destruídas.

Os que sobreviverem vão descobrir se o amor é realmente maior do que o destino...

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Jennifer L. Armentrout

Jennifer L. Armentrout vive em West

Virginia. Nenhum dos boatos que você

ouviu sobre o seu estado é verdadeiro. Bem,

quase nenhum. Quando ela não está

empenhada em seu trabalho como escritora,

ela passa seu tempo lendo, fazendo

exercício físico, vendo filmes de zombies e

fingindo escrever. Ela partilha sua casa com

seu marido, o parceiro K-9 dele chamado

Diesel, e seu hiperativo Jack Russel Loki.

Seus sonhos de se tornar uma autora

começaram na aula de álgebra, onde ela

passava o tempo escrevendo contos...

explicando, portanto, as suas tristes notas a

matemática. Jennifer escreve Fantasia

Urbana e Romance para Adultos e Jovens.

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Tradução

Kescia

Gaby

RedB.

Isamara

Gisele

Serena

Carol

Giulia

Dani

Aninha

Revisão Inicial Nathy

Revisão Final e Formatação

RedB.

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