Covid-19: acesso à Covid-19: acesso à informação...
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Em meio a uma crise de escala global
decorrente da pandemia do novo
coronavírus, ganha destaque o papel da
transparência e do acesso à informação
para o controle social das ações que têm
sido tomadas pelas diferentes esferas de
governo.
O Projeto “Covid-19: acesso à informação
pública” é uma iniciativa que visa
contribuir para essa questão
fundamental: monitorar e analisar os
pedidos de informação dirigidos ao
governo federal, bem como as respostas
referentes à pandemia.
É também um esforço dos pesquisadores
de tornar mais inteligível a complexidade
dos canais digitais de interação entre
cidadão e governo. Aqui, isto ocorre por
meio do sistema utilizado pela
Controladoria-Geral da União (CGU) para
gestão do uso da Lei de Acesso à
Informação - LAI (Lei nº 12.527/2011), no
governo federal.
Neste primeiro comunicado são
apresentados resultados acumulados de
janeiro a março de 2020. É traçado um
panorama geral dos pedidos de acesso
feitos durante o período e são analisados
aqueles cujas perguntas fazem menção
ao novo coronavírus e/ou à Covid-19 ou
que foram classificados pelo órgão que
recebeu o pedido como referentes a este
tema.
A partir do próximo número, os
resultados serão mensais, permitindo
acompanhamento de como tem sido a
garantia do direito constitucional de
acesso às informações em tempos de
pandemia. Acompanhe!
C ov i d- 19 : a c e s s o à i n f or ma ç ã o p ú bl i c a | A br i l , 20 20
Covid-19: acesso à informação pública
Panorama geral da LAI (jan-mar/2020) P.2
Em relação à Covid-19, o que analisamos deste universo? P.3
Pedidos de acesso à informação relacionados à Covid-19 P.3
Análise das respostas aos pedidos de informação P.8
Pedidos x resposta: cruzamentos e conclusões P.10
Notas explicativas P.12
Quem Somos P.13
O Projeto “Covid-19: acesso à informação pública” é desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) UFRJ-IBICT.
Coordenação
Ana Maria Barcellos Malin (PPGCI/UFRJ-IBICT)
Equipe de discentes e egressos do PPGCI/UFRJ-IBICT
Bianca Lopes Lívia Machado Marcia Quintslr Thiara Alves Assessoria de Tecnologia da Informação
Diogo Moreira Josir Gomes O projeto pretende monitorar pedidos de informação sobre políticas e procedimentos relacionados ao novo coronavírus dirigidos ao governo federal e suas respostas, por meio da Lei de Acesso à Informação.
1
Covid-19: acesso à informação pública
Entre janeiro e março de 2020, os órgãos e entidades da Administração Pública Federal receberam 35.307 pedidos de
acesso à informação, o que representa um aumento de 15% em relação ao mesmo período do ano passado.
O acesso foi formalmente negado apenas a 2.570 pedidos, o que representa 7% do total. O percentual é igual ao dos
três primeiros meses de 2019, quando também 7% do total de pedidos feitos foram negados.
As informações foram extraídas dos relatórios1 estatísticos disponíveis no site do Sistema Eletrônico do Serviço de
Informação ao Cidadão (e-SIC) no dia 1º de abril de 2020.
Comparativo de dados gerais da LAI de janeiro a março em 2019 e 2020
Fonte: Autoria própria (2020).
É importante ressaltar que o total de pedidos feitos pela sociedade brasileira tem aumentado ano a ano, desde que a lei
entrou em vigor. Se forem observados os números referentes aos anos completos, (vê-se que de um ano para o seguinte
o incremento mínimo foi de 4% (entre 2013 e 2014) e o máximo de 14% (entre 2014 e 2015).
Fonte: Autoria própria (2020).
1 Disponível em: https://esic.cgu.gov.br/sistema/Relatorios/Anual/RelatorioAnualPedidos.aspx. Acesso em 24 abr. 2020.
86.66190.167
102.423
111.669
121.536
129.309135.339
80.000
90.000
100.000
110.000
120.000
130.000
140.000
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Pedidos de acesso à informação por ano
Descrição Período de janeiro a março/ano
2019 2020
Quantidade de pedidos 30.632 35.307
Média mensal de pedidos 10.211 11.769
Respondidos 30.632 33.874
Total de perguntas 42.218 52.487
Total de solicitantes 17.053 17.787
2
Todos os pedidos de acesso à informação feitos via LAI são categorizados em grandes temas pelos órgãos que os
recebem. A categoria “Governo e Política – Administração Pública” foi a que teve maior número de pedidos nos dois
anos. De acordo com os próprios relatórios do e-SIC, em 2019, ela representou 13% do total de pedidos de informação
e em 2020 passou para 15%.
A partir do dia 11 de março, observamos o surgimento da categoria “Coronavirus (COVID-19)” para abarcar pedidos
sobre o tema feitos para as mais diversas áreas. Essa é a mesma data em que a Organização Mundial de Saúde (OMS)
elevou o estado de contaminação pelo novo coronavírus como uma pandemia. Desde então, e até o dia 30 de março,
foram 72 pedidos categorizados desta maneira. Vale acompanhar os desdobramentos que ocorrem a partir de então.
O processo de trabalho mostrou-se mais complexo do que se imaginava. Encontramos divergências numéricas no
número de pedidos recuperados para um mesmo período (no caso, janeiro a março de 2020), dependendo do canal de
consulta à CGU. As razões estão sendo pesquisadas, como pode ser visto nas notas explicativas no final do trabalho.
Usamos na pesquisa a base de dados em formato aberto da CGU2 (total de 24.256 itens de pedidos/respostas para o
trimestre janeiro/março de 2020) onde os descritores de busca “corona” e/ou “covid” recuperaram o total de 489 itens
(2% do total) em três campos: (a) no texto da pergunta (resumo ou detalhamento da solicitação), (b) na classificação
dada pelo órgão receptor, (c) no texto da resposta enviada. A extração dos dados foi feita no dia 1º de abril de 2020.
Destes 489 itens recuperados, 343 continham os descritores de busca “corona” e/ou “covid” no texto da pergunta e/ou
na classificação temática feita pelo órgão ou entidade que recebeu a solicitação.
Interessante notar que o primeiro pedido relativo ao tema foi feito ainda em janeiro de 2020. A quantidade, como
se pode imaginar, aumenta vertiginosamente em março, que concentra 85% das solicitações sobre Covid-19 do
trimestre.
2 Disponível em: <http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/_layouts/15/DownloadPedidos/DownloadDados.aspx>. Acesso em 24 abr. 2020.
Em relação à Covid-19, o que analisamos deste universo?
Pedidos de acesso à informação relacionados à Covid-19
3
Quais as medidas de prevenção para o coronavírus que a EBSERH está adotando nos mais de 40 Hospitais conveniados? Terá a publicação de uma nota informativa para os profissionais de saúde e população? Quais medidas para proteção dos empregados da EBSERH nos Hospitais? Vão esperar ter o primeiro caso pra depois tomar alguma conduta, quando já terá se alastrado entre os empregados e suas famílias? Vão continuar adotando pontos eletrônicos digitais, em que todos funcionários tem que sujar o dedo naquilo e passando vírus uns pros outros?
Fonte: Autoria própria (2020).
O primeiro pedido foi realizado no dia 27/01/2020, já mostrando preocupação com a proteção dos servidores de saúde.
A solicitação foi feita à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e a resposta obtida foi o encaminhamento
para o e-Ouv (Sistema de Ouvidorias do Poder Executivo Federal):
Para perceber a natureza das demandas e preocupações da sociedade manifestadas nos pedidos de acesso foi feito um
trabalho exaustivo de leitura do conteúdo de todos os 343 pedidos, simultaneamente, por três pesquisadoras. Aplicando
a metodologia de análise de conteúdo e interpretando a finalidade da pergunta, foram identificados três fortes tônicas de
categorias para os pedidos vindos da sociedade: solicitar esclarecimentos, cobrar explicações e providências e pedir
proteção econômica.
As solicitações de esclarecimento foram desdobradas em (a) funcionamento de serviços e atividades; (b)
combate/prevenção; (c) viagens. Foi ainda criado um grupo complementar, com assuntos diversos (Outros pedidos).
965
415
0
100
200
300
400
500
JAN/20 FEV/20 MAR/20
Pedidos recuperados no período por mês
4
Fonte: Autoria própria (2020).
30%
31%
23%
16%
Pedidos filtrados por categoria
Solicitar esclarecimentosPedir proteção econômicaCobrar explicações e providênciasOutros pedidos
Combate/prevenção
Funcionamento de serviços/atividades
Viagens
19%
67%
13%
As duas principais categorias – “Solicitar esclarecimentos” e “Pedir proteção econômica” – representam 61% dos pedidos,
revelando a necessidade de orientação e proteção da sociedade pelo Estado, nesta altura ainda inicial da pandemia.
Trazemos abaixo alguns exemplos das solicitações de esclarecimento, entre elas, aflições do cidadão relativas à proteção
de viajantes, como proceder para não perder benefícios, como evitar a disseminação da doença em território nacional e
como lidar com necessidades de viagem.
5
COMBATE/PREVENÇÃO
“Prezado senhor Vice Presidente, peço pare que olhe com cuidado, para o novo surto do coronavírus, o carnaval está
chegando, e infelizmente o governo não adotou nenhuma medida especial, para voos vindo do território chinês, seria coerente afim de proteger seus cidadãos, tomar alguma medida similar a dos EUA, proibindo a entrada de
qualquer pessoa, que esteja vindo ou esteve na China, nos últimos 14 dias, a fim de evitar que essa terrível epidemia,
se espalhe pelo nosso querido território NACIONAL. (Não acredito, que seja um comportamento ético, esperar algo
grave acontecer, para tomar uma atitude/decisão.)” – 04/02/2020 para Vice-Presidência da República.
FUNCIONAMENTO DE SERVIÇOS/ATIVIDADES
“Boa tarde! Gostaria de informações sobre como poderei atualizar a informações do CadÚnico sobre a minha família,
se os CRAS estão fechadas, mediante a situação do coronavírus. Eu teria que atualizar nesse final do mês de março, porém não há viabilidade. E gostaria de saber se eu perderei meus benefícios por isso?” – 25/03/2020 para
Ministério da Cidadania.
VIAGENS
“Prezados Senhores, gostaria de questionar se a DPF está impondo alguma restrição a entrada de estrangeiros, provenientes de vôos internacionais, por motivo da disseminação do Corona Vírus. Meu questionamento se deve ao
fato que esperamos uma pessoa vinda da Espanha para fazer uma doação de órgãos (transplante de medula). Existe
alguma situação atípica neste sentido? Deveria ser providenciado algum tipo de carta/documento justificando o
ingresso desta pessoa em território brasileiro?” – 13/03/2020 para Departamento de Polícia Federal.
SOLICITAR ESCLARECIMENTOS
Os pedidos de informação voltados para a proteção econômica vão desde orientações acerca de procedimentos para
receber o auxílio do governo até verdadeiros apelos por sobrevivência.
Quanto à cobrança de explicações e providências destacam-se fatos políticos de grande relevância como o pedido de
acesso aos resultados dos testes de Covid-19 do presidente da República, assim como medidas tomadas para proteção
dos povos indígenas.
“ESTOU DESENPREGADO PRECISO DE UM ALCILIO DEVIDO O CORONA VIRUS ESTOU SEM GANHA DINHEIRO EU E
MINHA FAMILIA VAI MORRE DE FOME MEUS BOUÇA FAMILIO NÃO VAI DAR PARA SOBREVIVER” – 20/03/2020
para Vice-Presidência da República.
“Sou autônomo e na atual situação que o Pais esta passando, estou sem trabalhar, com dividas a pagar e sem
condições de comprar alimentos do dia a dia, devido essa Pandemia-coronaviru. Desta forma, solicito o auxilio, para
poder manter a minha família” – 27/03/2020 para Ministério da Economia.
“bom dia, gostaria saber como as pessoas deve cadastrar para este programa social no qual a midia estar noticiando que foi aprovado no Congresso Nacional , um ajuda mensal para as pessoas desempregadas, autonomos e Mei, logico as pessoas que se enquandra nos requisitos e tem direito a receber, e qual site deve se escrever ou qual orgão deve procurar?” – 27/03/2020 para Ministério da Economia
“Gostaria de saber maiores informações sobre o auxilio emergencial de R$ 600,00 nesse periodo de pandemia, onde sera feito esse cadastro? Será aqui mesmo no site ou portal da cidadania?” – 27/03/2020 para Ministério da
Economia.
“Sou autônomo, lavo carros para ter um ganho e com esse corona vírus ninguém está saindo de casa e o não estou tendo ganho, já estamos ficando sem alimento não sabemos de onde vamos tirar nosso sustento por esses dias que
estão por vir, minha mulher tem problema na coluna e não pode trabalhar a situação tá difícil por favor nós ajudem”
– 29/03/2020 para Ministério da Economia.
PEDIR PROTEÇÃO ECONÔMICA
6
Finalmente, exemplos da categoria “Outros pedidos” mostram usos variados – por vezes quase anedóticos – dos
mecanismos de solicitação de informações.
Em um olhar abrangente para os pedidos de informação, nota-se o despreparo do cidadão comum para entender os
múltiplos e diversos canais de comunicação com o governo e o papel dos órgãos e entidades públicas. Por exemplo,
percebe-se grande dificuldade em diferenciar o que são demandas de Ouvidoria e pedidos de acesso à informação, ou
qual é o papel de uma agência reguladora e de uma Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon).
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“À luz do art. 5º, XXXIII, da Constituição Federal, e da Lei n° 12.527, de 18 de novembro de 2011, solicito acesso aos testes de Covid-19 realizados pelo presidente da República Jair Messias Bolsonaro. Uma vez que a saúde do chefe
de Estado do Brasil é assunto de interesse público e tais exames médicos foram custeados com recursos públicos, e
não de forma privada, requisito cópia do resultado final de todos os testes.” – 24/03/2020 para Hospital das Forças
Armadas.
“Quais as medidas adotadas pela Fundação Nacional do Índio para proteger os direitos dos povos indígenas no que
se refere à pandemia do Corona Vírus-COVID-19? Quais as medidas e orientações adotadas pela Funai, no
enfrentamento à pandemia de Corona Vírus, quanto à atuação das Coordenações Regionais e Coordenações Técnicas Locais, que lidam diretamente com atendimento ao público, que têm contato direto com indígenas?” – 18/03/2020
para Fundação Nacional do Índio.
“Aqui em casa nos tínhamos vinte galinhas todos morem de repente por uma doença que deixa o animal sem ar e
hoje estamos todos com gripe ..exame de sangue nada consta tem algo haver com o corona vírus?” – 31/01/2020
para Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
“Bom dia Gostaria de saber se o corona virus tem origem do espaço. Tendo chegado a terra por via de vida extra terrena, meteoros, ou se é de algum tipo de manipulacao de engenharia genetica ? Obrigado” – 27/03/2020 para
Agência Espacial Brasileira.
COBRAR EXPLICAÇÕES E PROVIDÊNCIAS
OUTROS PEDIDOS
A análise das respostas foi realizada de duas formas: pela categoria de tipo de resposta oficialmente informada na base
de dados abertos da CGU (como acesso concedido, negado), e pelo estudo dos textos das respostas.
Pela categoria de tipo de resposta, os números indicam que dos 343 pedidos de informação analisados, 44% tiveram
acesso concedido e outros 34% foram encaminhados para o Sistema de Ouvidorias do Poder Executivo Federal (e-
Ouv).
Esses percentuais mostram o esforço dos servidores públicos federais em dar encaminhamento para as demandas da
sociedade, prestar contas apesar da situação de pandemia que já se instalava. Os tipos de resposta fornecidos podem
ser vistos no quadro abaixo:
Tipos de resposta aos pedidos de informação
Tipo de resposta Quantidade % total Acesso concedido 150 44% Acesso negado 14 4% Acesso parcialmente concedido 3 1% Encaminhado para o e-Ouv 116 34% Informação inexistente 15 4% Não se trata de solicitação de informação 26 8% Órgão não tem competência para responder sobre o assunto 8 2%
Orientação sobre como encontrar a informação solicitada na Internet ou em publicações existentes
1 0%
Pergunta duplicada/repetida 8 2% Sem classificação 2 1% Total 343 100%
Fonte: Autoria própria (2020).
Para os casos que tiveram negativa de acesso (4%), as justificativas mais comuns foram “Dados pessoais” e “Pedido
desproporcional ou desarrazoado” como pode ser percebido abaixo:
Quantidade de pedidos com acesso negado por tipo de classificação
Classificação dos pedidos negados Quantidade Dados pessoais 4 Informação sigilosa classificada conforme a LAI 2 Informação sigilosa de acordo com legislação específica 1 Pedido desproporcional ou desarrazoado 4 Pedido genérico 3
Fonte: Autoria própria (2020).
8
Análise das respostas aos pedidos de informação
Para ilustrar, trazemos alguns exemplos de pedidos que tiveram acesso negado e a justificativa apresentada para
negativa.
O acesso foi negado pelo Comando da Aeronáutica, alegando que custos operacionais das missões em aeronaves da
Força Aérea Brasileira encontram-se classificados no grau de sigilo “Reservado”, por se tratar de tema de acesso restrito
para os planos e operações estratégicos das Forças Armadas.
Neste caso, o Ministério da Saúde negou o acesso referenciando as normativas que permitem não atender pedidos
desproporcionais ou que exijam trabalhos adicionais de análise, mas reforçou que, em um cenário de emergência pública,
todos os esforços estão voltados para ações de prevenção e contenção do novo coronavírus, o que inviabiliza o
levantamento de centenas de processos no SEI. Este é um exemplo que mostra como é fundamental conhecer a lei e
“saber pedir” acesso a informações, o que nem sempre é claro para o cidadão comum.
O último exemplo traz, novamente, o pedido de acesso aos resultados dos testes de Covid-19 do presidente da República.
Enquanto o demandante argumenta se tratar de um assunto de interesse público, o Hospital das Forças Armadas alega
que o prontuário médico poderá ser fornecido somente ao próprio paciente, por se tratar de uma informação pessoal.
Vale ressaltar que o resultado dos exames ainda não foi mostrado à população, mas a Câmara dos Deputados deu 30
dias, a partir de 13 de abril de 2020, para que a Presidência da República envie os resultados ao parlamento.
“Prezados, gostaríamos de acesso ao detalhamento de custos da operação que resgatou brasileiros na China por conta do coronavírus. Por favor, gostaríamos do detalhamento dos custos de cada aeronave da FAB utilizada e a
especificação dos demais custos. Obrigada.” – 07/02/2020 para Comando da Aeronáutica – Justificativa:
informação sigilosa.
“Solicito o inteiro teor de todos processos SEI relacionados ao tema coronavírus datados de 23.02.2020 à 27.02.2020.”
– 27/02/2020 para Ministério da Saúde – Justificativa: pedido desproporcional ou desarrazoado.
À luz do art. 5º, XXXIII, da Constituição Federal, e da Lei n° 12.527, de 18 de novembro de 2011, solicito acesso aos
testes de Covid-19 realizados pelo presidente da República Jair Messias Bolsonaro. Uma vez que a saúde do chefe de Estado do Brasil é assunto de interesse público e tais exames médicos foram custeados com recursos públicos, e
não de forma privada, requisito cópia do resultado final de todos os testes.” – 24/03/2020 para Hospital das Forças
Armadas – Justificativa: dados pessoais.
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Adicionalmente, cumpre dizer que ao olhar para pedidos que têm os termos “covid” e/ou “corona” somente na resposta
– e que, portanto, estão fora de nosso universo principal de análise – é possível concluir que parte deles gerou “falsos
positivos” no que diz respeito à concessão de acesso à informação.
Essa situação é exemplificada abaixo – apesar da resposta ter sido classificada como “acesso concedido”, o cidadão
efetivamente não obteve a informação que desejava da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Ao cruzarmos as categorias das perguntas analisadas com o tipo de resposta dado, temos o quadro abaixo, que permite
algumas conclusões:
Cruzamento de categorias das perguntas com o tipo de resposta
Categorias Acesso concedido
Acesso parcialmente
concedido
Acesso negado
Encaminhado para o E-Ouv
Outros Total
Cobrar explicações e providências 54% 1% 17% 1% 27% 100%
Solicitar esclarecimentos 68% 1% 0% 19% 12% 100%
Pedir proteção econômica 15% 0% 0% 75% 9% 100%
Outros pedidos 38% 2% 2% 27% 31% 100%
Fonte: Autoria própria (2020).
Pedidos x respostas: cruzamentos e conclusões
“[...] Considerando a presente situação de emergência sanitária e calamidade pública instaurada pela pandemia do novo
coronavírus (COVID-19), bem como os decretos nº 509 e nº 515, de 17 de março de 2020, do Governo do Estado de Santa
Catarina, os quais restringem as atividades públicas e privadas no Estado e suspendem as aulas em todo o território
catarinense, informamos que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) suspendeu pelo prazo inicial de 7 (sete) dias
o expediente presencial nas atividades técnico-administrativas em todas as suas unidades, exceto nos setores de saúde, de
segurança, e nas situações de caráter inadiável e essencial. Diante do presente cenário estadual e nacional, a
Administração Superior da UFSC tem, neste momento, concentrado suas ações no sentido de manter os serviços essenciais
em funcionamento, de ajustar as rotinas de trabalhos de seus servidores docentes e técnico-administrativos e,
principalmente, de cuidar da saúde e da segurança de sua comunidade, evitando o risco de propagação do vírus – uma vez
que o Estado de Santa Catarina já identificou a transmissão comunitária da doença. Nesse sentido – e devido a
impossibilidade de tramitação interna das demandas e cumprimento dos prazos legais -, estamos cancelando
temporariamente o atendimento dos pedidos de acesso à informação. Os usuários do SIC/UFSC devem aguardar o
reestabelecimento do atendimento, que será informado por meio desta página eletrônica, quando poderão reenviar suas
demandas mediante a realização de novos pedidos. Ressaltamos que, tão logo a segurança sanitária seja notificada pelas
autoridades governamentais e as atividades presenciais retornem a sua normalidade, estaremos normalizando nossas
atividades. Agradecemos a compreensão. SIC/UFSC”.
10
A categoria trabalhada pela pesquisa “Cobrar explicações e providências” respondeu por 93% dos acessos negados,
apontando para possíveis dilemas políticos na concessão de acesso à informação, uma vez que nessa categoria
concentram-se a maior parte dos pedidos com alta sensibilidade política.
Por outro lado, “Solicitar esclarecimentos” e “Pedir proteção econômica” que expressam demandas básicas e
horizontais da população brasileira, não tiveram nenhum acesso negado. No entanto, muitos solicitantes ainda vão
esperar para ter a resposta efetiva. Isso porque 75% dos pedidos de proteção econômica e 19% das solicitações de
esclarecimento foram encaminhados para as Ouvidorias. Isto também pode indicar tanto dificuldades de funcionamento
da administração pública nesta situação de pandemia quanto pode demonstrar que o cidadão não tem clareza de qual
é o meio (e-SIC ou e-Ouv, por exemplo) pelo qual ele deve se comunicar com o governo, ficando de imediato sem a
informação necessitada.
Cabe observar se no próximo mês será mantida a alta incidência de encaminhamentos para a Ouvidoria nos pedidos de
proteção econômica ou se ela irá diminuir, uma vez que os procedimentos para estes pedidos já estarão mais bem
definidos e divulgados pela imprensa.
Destacamos, ainda, algumas observações importantes:
Os primeiros dois pedidos categorizados como “Solicitar proteção econômica pelo Estado” foram feitos no dia
17/03/2020 e, a partir de então, foram cada vez mais frequentes. De 26 de março de 2020, quando a Câmara aprovou
o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 a pessoas de baixa renda, até o dia 31 de março, foram feitos 80
pedidos dessa natureza.
Entre os pedidos de solicitação de esclarecimento, os mais comuns são aqueles relacionados ao funcionamento de
serviços e atividades durante o período da pandemia do novo coronavírus. Vale observar se eles continuarão
predominantes nos próximos meses, quando as pessoas já estarão convivendo há mais tempo com as mudanças
implementadas para prevenir o contágio.
Uma quantidade significativa de respostas que usavam a Covid-19 como justificativa para não atendimento ou
atendimento parcial da demanda veio de universidades, institutos federais e fundações ligadas ao Ministério da
Educação. A impressão é que houve uma orientação central, em razão da Medida Provisória 928/2020, que depois
teve seus efeitos suspensos pelo STF. Importante ressaltar, no entanto, que houve respostas nessa linha mesmo
antes da MP nº 928/2020.
Vale ressaltar um esforço de alguns órgãos em responder independentemente de limitações do sistema. Um bom
exemplo são casos em que a administração disse enviar a resposta por e-mail, para driblar alguma dificuldade com
o sistema.
11
O alto percentual de pedidos com acesso concedido e os esforços em dar respostas efetivas às demandas da
sociedade mostram amadurecimento na cultura de prestação pública de contas da burocracia pública federal, assim
como um relativamente elevado grau de autonomia e institucionalidade na garantia do direito à transparência e
acesso à informação, frente a orientações políticas.
Para o panorama geral da LAI, as informações que constam neste comunicado foram extraídas do “Relatório
de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes”, disponível no site do Sistema Eletrônico do Serviço de
Informação ao Cidadão (e-SIC). Para a análise de conteúdo, no entanto, foi necessário consultar a base de
dados em formato aberto, que contém o resumo e detalhamento da solicitação feita pelo cidadão, a categoria
em que a solicitação foi enquadrada pelo órgão ou entidade que a recebeu e a resposta dada pela
administração pública.
É importante ressaltar que encontramos divergências entre o número de pedidos extraídos na base de dados
em formato aberto e o totalizado no relatório, em consultas feitas na mesma data (01/04/2020), em relação
ao mesmo período (janeiro a março de 2020):
Comparativo mensal de total de pedidos nas bases de dados
jan/20 fev/20 mar/20 Total
Base de dados abertos da CGU 9.101 9.316 5.839 24.256
Relatório anual de pedidos (e-SIC) 12.079 11.991 11.237 35.307
Fonte: Autoria própria (2020).
Foi encaminhado à CGU, via LAI, um pedido de esclarecimento sobre a metodologia utilizada em cada um
deles. Aguardamos resposta.
Elegemos dois descritores de busca para pesquisarmos sua recuperação nos 24.256 pedidos. Os descritores
foram “corona” e “covid”. Ambos foram escolhidos por referirem-se ao vírus e à doença e abrangerem
diferentes formas de escrita que os demandantes pudessem utilizar. O termo “corona” recupera, por exemplo,
“coronavírus”, “coronavirus”, “corona vírus”, “corona-vírus” e o termo “covid” recupera, por exemplo, “covid-
19”; “covid19”; “covid 19”.
12
Notas explicativas
Bianca da Costa Maia Lopes Diogo Luiz de Jesus Moreira
Lívia Neto Machado Marcia Maria Melo Quintslr
13
Quem somos
Ana Maria Barcellos Malin
Mestre em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade de Vassouras. Tecnologista em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). E-mail: [email protected]
Doutorando em Ciência da Informação no PPGCI/UFRJ-IBICT. Possui mestrado em Administração pelo Ibmec/RJ e graduação em Processamento de Dados. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Desenvolvimento de Sistemas de Informação. E-mail: [email protected]
Doutoranda e mestra em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduada em Matemática pela UFRJ. Tecnologista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), onde atuou como Diretora de Pesquisas e coordenou estatísticas sobre condições de vida, consumo, trabalho e preços. Preside o Comitê Executivo do Instituto Interamericano de Estatística (IASI). E-mail: [email protected]
Thiara dos Santos Alves
Josir Cardoso Gomes
Mestra em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduada em Comunicação Social/ Jornalismo e Relações Públicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Analista Executiva no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). E-mail: [email protected]
Doutoranda pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graduada em História e em Arquivologia pela UFMG. Arquivista no Arquivo Nacional. E-mail: [email protected]
Professora Associada UFRJ, Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação UFRJ/IBICT, Membro da Associação Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ANCIB) e da Associação Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo das Públicas (ANEPCP), Coordenadora do Observatório de Gestão Pública da Informação (obgi.org).
Doutoranda e mestra em Ciência da Informação pelo PPGCI/ UFRJ-IBICT. Graduada em Comunicação Social pela UFRJ e Arquivologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Assessora na Secretaria de Estado de Fazenda do Rio de Janeiro (SEFAZ-RJ). E-mail: [email protected]
A pesquisa “Covid-19: acesso à
informação pública” é uma iniciativa que
visa contribuir para monitorar e analisar
os pedidos de informação dirigidos ao
governo federal, bem como as respostas
referentes à pandemia, em um momento
no qual ganha destaque o papel da
transparência para o controle social.
Neste segundo comunicado do projeto,
observamos que mais da metade dos
pedidos de acesso à informação
relacionados ao novo coronavírus em
abril de 2020 foram destinados ao
Ministério da Cidadania, órgão
responsável pelo pagamento do auxílio
emergencial de R$ 600 aos cidadãos mais
vulneráveis. São solicitações vindas
sobretudo de cidadãos que apelam por
proteção econômica e reclamam sobre o
prolongado período de análise até que
recebam o dinheiro. Apesar de ter sido
notada uma tentativa de respondê-los, o
Ministério não os considerou, em sua
maioria pedidos de informação
alcançados pela Lei de Acesso à
Informação – LAI (Lei nº 12.527/2011).
Entre os destaques foram notados o
crescimento significativo dos pedidos
encaminhados para o sistema de
Ouvidorias (e-Ouv), a proeminência dos
pedidos classificados pela própria
administração como “Coronavirus
(Covid-19)” e a queda percentual da
categoria “Governo e Política”, que
liderava nos três primeiros meses do ano.
Acesse o Observatório de Gestão Pública
da Informação e siga acompanhando!
A pesquisa “Covid-19: acesso à informação pública” é desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) UFRJ-IBICT.
Coordenação
Ana Maria Barcellos Malin (PPGCI/UFRJ-IBICT)
Equipe de discentes e egressos do PPGCI/UFRJ-IBICT
Bianca Lopes Diogo Moreira Josir Gomes Lívia Machado Marcia Quintslr Thiara Alves Colaboração
Marcus Vinicius Morais Fernandes A pesquisa monitora pedidos de informação sobre políticas e procedimentos relacionados ao novo coronavírus dirigidos ao governo federal e suas respostas, por meio da Lei de Acesso à Informação.
1
Covid-19 : acesso à in formação públ ica | Maio , 2020
Covid-19: acesso à informação pública
Introdução
Panorama geral da LAI (abril/2020)
Covid-19: pedidos de acesso
Análise das respostas aos pedidos de informação
Ministério da Cidadania em destaque
Pedidos x resposta: cruzamentos e conclusões
Quem somos
Notas explicativas
Covid-19: acesso à informação pública
P.2
P.2
P.5
P.8
P.9
P.10
P.12
P.13
O monitoramento no sistema de acesso às informações do governo federal baseado na LAI, realizado pelos
pesquisadores durante esta fase de pandemia, tem levado à melhor compreensão de seu funcionamento, para além das
questões relacionadas especificamente à Covid-19.
Um primeiro ponto está na diferença entre o número de pedidos de informação recuperados, na mesma data, no
“Relatório de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes” e na base de dados em formato aberto, ambos da
Corregedoria-Geral da União (CGU). Como informamos no primeiro comunicado da pesquisa, fizemos uma consulta por
meio da própria LAI ao órgão. Obtivemos uma resposta detalhada, dentro do prazo, conforme pode ser comprovado na
nota explicativa 1 ao final do trabalho.
Neste comunicado, o “Relatório de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes” foi utilizado para a primeira parte,
que traz um panorama geral da LAI, com dados comparativos entre abril de 2019 e abril de 2020.
Na parte específica das questões relacionadas ao novo coronavírus, que inclui análise de conteúdo das perguntas e
respostas dadas, foram avaliados os pedidos extraídos da base de dados em formato aberto, porque ela apresenta o
detalhamento da solicitação feita pelo cidadão, a categoria em que o pedido foi enquadrado pelo órgão ou entidade
que o recebeu e a resposta dada pela administração pública.
Nesta base, foram selecionados os pedidos que a administração pública classificou como “Coronavirus (COVID-19)” e
aqueles que continham os descritores de busca “corona” e/ou “covid” na pergunta, totalizando 1.061 solicitações. Optou-
se, por selecionar uma amostra de 214 pedidos, com confiabilidade de 95% e margem de erro de 6%, conforme nota
explicativa 2.
Em abril de 2020, os órgãos e entidades da Administração Pública Federal receberam 13.892 pedidos de acesso à
informação, o que representa um aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano passado.
O aumento não é algo que fuja ao padrão dos últimos anos. Se for avaliada a quantidade de pedidos feitos nos meses
de abril, entre 2013 e 2020, em somente dois momentos houve redução, como pode ser visto no gráfico a seguir.
Introdução
2
Fonte: Autoria própria (2020).
Do total de pedidos recebidos em abril de 2020, a administração pública já havia respondido 8.873 no dia 1º maio, data
em que foram extraídos os dados do “Relatório de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes”. Destes, 4.059 tiveram
acesso concedido, o que representa 46% do total. Em abril de 2019, 68% dos pedidos respondidos tiveram acesso
concedido.
A proporção de pedidos com acesso negado, no entanto, permaneceu a mesma: 6% do total. O que explica a diferença
foi o aumento significativo em dois tipos de resposta: “Encaminhado para o e-Ouv” (Sistema de Ouvidorias do Poder
Executivo Federal) e “Não se trata de solicitação de informação”.
Em abril de 2020, cada uma dessas categorias foi responsável por 18% das respostas. No mesmo mês do ano passado,
somente 4% dos pedidos foram encaminhados para o e-Ouv e 7% foram categorizados como se não se tratasse de
solicitação de informação. Um comparativo dos tipos de resposta fornecidos no mês de abril desses dois anos pode ser
visto no quadro seguinte:
Comparativo de dados gerais da LAI de abril em 2019 e 2020
Fonte: Autoria própria (2020).
8.0567.697
9.651
10.67310.300
12.50012.797
13.892
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
11.000
12.000
13.000
14.000
15.000
ABR/13 ABR/14 ABR/15 ABR/16 ABR/17 ABR/18 ABR/19 ABR/20
Pedidos realizados no mês de abril por ano
Descrição Mês de abril/ano
2019 2020
Quantidade de pedidos 12.797 13.892
Respondidos 12.796 8.873
Acesso concedido 69% 46%
Acesso negado 6% 6%
Encaminhamento para o e-Ouv 4% 18%
Não se trata de informação 7% 18%
Outros tipos de resposta 14% 12%
3
Essa alta incidência de encaminhamentos para a Ouvidoria já havia sido observada no Comunicado 1 desta pesquisa,
sobretudo nos pedidos de proteção econômica ocorridos no contexto da pandemia, indicando a necessidade de tornar
mais claro para o cidadão quais são os canais específicos que ele deve utilizar para se comunicar com o governo federal,
a depender de suas demandas.
A repetição deste cenário nesta análise motivou a equipe de pesquisadores a enviar um pedido de informação à CGU
para compreender se os pedidos recebidos pela administração pública pelo e-Ouv contam com uma governança tão
sólida quanto aqueles que são encaminhados pelo cidadão via e-SIC, respaldados pela Lei de Acesso à Informação.
Recebemos uma resposta detalhada, dentro do prazo, apresentada na nota explicativa 3.
Em linhas gerais, de acordo com a CGU, quando o órgão ou entidade considera que o pedido se trata de uma
manifestação de Ouvidoria e não de um pedido de informação, a solicitação é encaminhada automaticamente do e-SIC
para o e-Ouv, mantendo o mesmo número de protocolo, e o cidadão é avisado por e-mail.
O prazo para respostas das manifestações de Ouvidoria é de 30 dias, prorrogável por mais 30 – mais extenso, portanto,
do que o prazo previsto pela Lei de Acesso à Informação (20 dias prorrogável por mais 10). Por fim, assim como acontece
com a LAI, compete à CGU monitorar a atuação das Ouvidorias dos órgãos e entidades federais. Alguns indicadores
podem ser acompanhados pelo Painel Resolveu?.
Também observamos a frequência dos temas mais demandados durante o período analisado. Todos os pedidos de
acesso à informação feitos via LAI são categorizados em grandes temas pelos órgãos que os recebem. A partir do dia 11
de março, foi observado pela equipe de pesquisadores o surgimento da categoria “Coronavirus (COVID-19)” para
abarcar pedidos sobre o tema feitos para as mais diversas áreas.
Essa nova categoria foi a que teve o maior número de pedidos em abril de 2020: 10% do total. Ela foi seguida pela
categoria/ assunto “Ciência, Informação e Comunicação – Informação – Gestão, preservação e acesso”, que respondeu
por 7% das solicitações.
A categoria “Governo e Política – Administração Pública”, que liderou os pedidos entre janeiro e março de 2020 (15%) e
também teve mais solicitações em abril de 2019 (14%) caiu para a terceira posição em 2020, representando somente 6%
do total. É o menor percentual para o mês de abril desde o surgimento da LAI.
Fonte: Autoria própria (2020).
12%11%
12%
9%
11% 12%
14%
6%
5%
6%
7%
8%
9%
10%
11%
12%
13%
14%
15%
ABR/13 ABR/14 ABR/15 ABR/16 ABR/17 ABR/18 ABR/19 ABR/20
Governo e política (% de pedidos)
4
A redução dos pedidos classificados pela administração pública como “Governo e política” é bastante representativa da
época de crise, em que o senso de urgência e o imediatismo das necessidades podem impactar no tipo de demanda que
os cidadãos levam ao poder público.
Como explicado, a análise de conteúdo das perguntas e das respostas dadas foi feita em cima da base de dados em
formato aberto. Considerando os pedidos que a administração pública classificou como “Coronavirus (COVID-19)” e os
que continham os termos “corona” e/ou “covid” na pergunta, chegou-se a um universo de 1.061 solicitações, do qual foi
extraída a amostra de 214 pedidos e respostas.
Para perceber a natureza das demandas e preocupações da sociedade manifestadas nos pedidos de acesso, foi aplicada
a metodologia de análise de conteúdo. Interpretando a finalidade da pergunta, viu-se que as categorias definidas para
avaliação dos pedidos no Comunicado 1 (janeiro a março) mostraram-se adequadas para avaliação dos pedidos feitos
em abril. São elas: “Pedir proteção econômica”; “Cobrar explicações e providências”; “Solicitar esclarecimentos”. Há, ainda,
um grupo complementar “Outros pedidos”, com assuntos diversos.
Em abril, os pedidos de proteção econômica predominaram fortemente (59%), seguidos de cobrança de explicações e
providências (21%) e solicitação de esclarecimentos (14%).
Fonte: Autoria própria (2020).
A análise do texto das respostas mostra que apesar de não serem considerados um pedido de informação propriamente
dito, no bojo da LAI, houve um esforço de profissionais do órgão em fornecer esclarecimentos, adotando o padrão inicial
de resposta abaixo:
59%
14%
21%
6%
Pedidos por categoria em abril/2020
Pedir proteção econômica Solicitar esclarecimentos
Cobrar explicações e providências Outros pedidos
5
Covid-19: pedidos de acesso
Fonte: Autoria própria (2020).
Trazemos alguns exemplos enquadrados em cada uma dessas categorias:
Nesta categoria são observados três tipos principais de solicitação por pessoas físicas: o pedido de proteção econômica
propriamente dito; dúvidas sobre documentação e modo de obtenção do auxílio emergencial e reclamação sobre o
prolongado período de análise do pedido de auxílio frente às dificuldades financeiras enfrentadas. Também foram
observadas demandas de ajuda por empresas.
0% 20% 40% 60% 80% 100%
JAN-MAR
ABRIL
31%
59%
23%
21%
30%
14%
16%
6%
Comparativo dos pedidos por categoria entre períodos de 2020
Pedir proteção econômica Cobrar explicações e providências
Solicitar esclarecimentos Outros pedidos
“Boa tarde, Gostaria de saber Informações de como conseguir o beneficio da Medida provisória 936, pois tenho
interesse de aderir com urgência para minha empresa. Afim de que não tenha que optar pelo desligamento das
minhas colaboradoras” – 03/04/2020 para Ministério da Economia.
“Bom dia! Porque meu auxilio emergencial esta em análise ainda? Eu preciso muito desse dinheiro pois tenho 2 filhos
para sustentar e ja esta me faltando as coisas em casa... Preciso de resposta pois estou desesperada ??” – 19/04/2020
para Ministério da Cidadania.
“me chamo [...] e gostaria de saber quando poderei ter acesso a possível contestação de informação que levou meu
auxilio a ser negado pelo governo federal. para que assim eu possa (corrigir) se necessário for” – 21/04/2020 para
Ministério da Cidadania.
“Oi bom dia recebo bolsa família e não consegui receber o auxílio emergencial já liguei tudo em quanter números
que a caixa econômica Federal me deu e nada e ligo no 121 diz que não existe quero saber porque não recebeu
pois eu preciso sou mãe solteira tenho 4 filhos e moro de aluguel estou passando necessidades por favor me ajudem
a receber esse dinheiro. O que devo fazer pois já tentei fazer o cadastro no site mais fala que eu estou no cad único”
– 30/04/2020 para Ministério da Cidadania.
PEDIR PROTEÇÃO ECONÔMICA
6
As cobranças de explicações e providências parecem ter vindo de cidadãos que conhecem melhor a vocação da Lei de
Acesso à Informação. Entre esses pedidos, ainda aparecem aqueles referentes aos resultados dos testes de Covid-19 do
presidente da República, divulgados somente no dia 13 de maio após o jornal Estadão entrar com uma ação no Supremo
Tribunal Federal (STF). Os exames apresentados deram negativo.
Esta categoria foi utilizada, proporcionalmente, em menos casos do que no primeiro comunicado, o que indica a
adequação das categorias de análise estabelecidas pela equipe de pesquisadores.
SOLICITAR ESCLARECIMENTOS
COBRAR EXPLICAÇÕES E PROVIDÊNCIAS
“1) Qual é o efetivo de Policial Militar da Ativa em cada UF? 2) Quantos policiais do efetivo acima estão internados
por suspeita de Covid-19, por UF? 3) Quantos policiais do efetivo ativo foram confirmados como infectados por
Covid-19, por UF? 4) Quantos policiais do efetivo ativo apresentaram sintomas de Covid-19, por UF?” – 03/04/2020
para Ministério da Justiça e Segurança Pública.
“Qual a atual taxa de ocupação dos leitos de UTI dos hospitais da rede pública de saúde? Dos leitos ocupados, qual
a porcentagem daqueles destinados ao tratamento de pacientes diagnosticados com Covid-19? – 07/04/2020 para
Ministério da Saúde.
“O povo brasileiro quer saber o resultado do exame do presidente, como manda a lei de informação e transparência
e decisão recente do ministro do STF Alexandre de Morais” – 14/04/2020 para Secretaria de Comunicação Social
da Presidência da República.
“Quero pedir por gentileza o cancelamento que fiz no auxilio Emergencial. Fiz e vi que não mim enquadro por
gentileza podem cancelar o cadastro”– 24/04/2020 para Ministério da Cidadania.
“Com o objetivo de conter grande volume de recursos federais que seriam necessários para as eleições 2022 e por
conta do COVID-19, sugiro PRORROGAÇÃO do mandato atual de todos os prefeitos e vereadores da nação brasileira
uniformizando as eleições para 2022 com a disputa para cargos eletivos de prefeito, vereador, deputado, senador,
presidente e governador. Também como 2a.sugestão que no decorrer de 2020 ainda seja votado que nas eleições
gerais de 2022 o mandato não seja mais de 4 anos e sim de 5 ou 6 anos para prefeitos, vereadores, deputados,
senadores, governadores e o presidente. Esta unificação das eleições para 2022 vislumbraria ainda um novo horizonte
para as ações politicas pois com um mandato de 5 ou 6 anos haveria folga mais do que suficiente para várias ações
implantadas serem aprimoradas pelos gestores públicos” – 29/04/2020 para Secretaria de Governo da Presidência
da República.
OUTROS PEDIDOS
7
Ao analisarmos a amostra de pedidos relacionados à Covid-19, vemos que quase 65% tiveram respostas classificadas
pela administração pública como “Não se trata de solicitação de informação” e “Encaminhado para o e-Ouv”. São
percentuais muito mais altos do que aqueles encontrados no Panorama Geral da LAI (18% em cada uma dessas
categorias).
Tipos de resposta aos pedidos de informação
Tipo de resposta % total Acesso concedido 26% Acesso negado 6% Encaminhado para o e-Ouv 23% Não se trata de solicitação de informação 41% Outros tipos de resposta 4%
Total 100% Fonte: Autoria própria (2020).
Como exemplos considerados como “Não se trata de solicitação de informação” e “Encaminhado para o e-Ouv” trazemos:
Para os casos que tiveram acesso negado, as justificativas mais comuns foram “Pedido desproporcional ou desarrazoado”
e “Informação sigilosa de acordo com legislação específica”. Para ilustrar, trazemos alguns desses pedidos:
Análise das respostas aos pedidos de informação
Boa tarde...Meu tio tem 82 anos e recebe um auxilio pelo bolsa de R$ 170,00 ele irá ser incluido nessa nova portaria
de março de 2020 ele pode contar em receber os 600,00 conforme noticiário – 01/04/2020 para Ministério da
Cidadania – Tipo de resposta: Não se trata de solicitação de informação.
“Por favor, me chamo [...], e atualmente me encontro desempregado, sobrevivendo a base da ajuda de familiares e
alguns amigos, porque os bicos que eu havia fazendo não estão mais existindo por causa dessa doença que assola
o nosso mundo. Pelo amor de Deus, preciso de alguma informação sobre a liberação do auxilio emergencial. Estou
desesperado, sem saber o que fazer! Fiz meu cadastro direitinho, informei todos os dados necessários, não tenho
pendências no cpf, e no entanto não recebo nenhuma informação que possa amenizar essa angustia. Só preciso
saber se terei ou não direito a esse auxilio. ME AJUDEM POR FAVOR!” – 16/04/2020 para Ministério da Cidadania
– Tipo de resposta: Encaminhado para o e-Ouv.
“Olá. Solicito todos os telegramas enviados ou recebidos pelo Brasil no mês de janeiro de 2020 que mencione as
palavras "coronavírus", "covid-19" (ou qualquer outra grafia deste nome) ou "Sars-CoV-2". Se houverem partes
sigilosas, solicito grifo de tais partes e envio do restante do telegrama. Grato.” – 09/04/2020 para Ministério das
Relações Exteriores – Justificativa: Pedido desproporcional ou desarrazoado.
8
Neste caso, o Ministério das Relações Exteriores esclareceu que, em levantamento preliminar, cerca de 130 documentos
atendiam aos parâmetros indicados na solicitação, o que equivaleria a aproximadamente 390 páginas a serem revistas a
fim de proteger dados pessoais e outros sigilos legais. O ministério apontou que funcionários deixariam de executar
atividades institucionais para atender uma demanda individual. Mencionou, também, a situação de emergência de saúde
pública para explicar a redução da força de trabalho nas unidades do Itamaraty e para indicar que, na atual situação,
prevaleceria o interesse público sobre o privado.
Em resposta, o Ministério da Saúde alegou que as informações solicitadas são utilizadas como fundamento para tomada
de decisão e não estão disponíveis de forma anonimizada. Mencionando a Lei nº 13.709/2018, que dispõe sobre a
proteção dos dados pessoais, o ministério se resguardou no direito de sigilo do banco de dados abertos por conter
dados pessoais sensíveis.
O Ministério da Cidadania foi destinatário de mais de 50% dos pedidos de acesso à informação relacionados ao novo
coronavírus em abril de 20201. O motivo é bastante claro: este é o órgão responsável pelo pagamento do auxílio
emergencial de R$ 600 para garantir uma renda mínima aos cidadãos mais vulneráveis. A consequência é que 95% das
solicitações encaminhadas a este Ministério foram categorizados, nesta pesquisa, como pedidos de proteção econômica.
Do total de pedidos que recebeu, o Ministério da Cidadania classificou o tipo de resposta dada a quase 75% dos casos
como “Não se trata de solicitação da informação”. Outros 23% foram encaminhados para o e-Ouv e somente 3% foram
categorizados como acesso concedido.
1 Os demais pedidos de informação foram pulverizados por diversos órgãos, sendo o Ministério da Economia o segundo mais demandado, com aproximadamente 10% das solicitações recebidas.
Ministério da Cidadania em destaque
“Olá, pessoal, atuo como Cientista de Dados e estou desenvolvendo uma pesquisa pessoal sobre o COVID-19, hoje
as informações detalhadas abertas através do portal "https://covid.saude.gov.br/" são insuficientes para completar
essa pesquisa. Além das informações já disponibilizadas, precisaria dos dados abertos: - Faixa etária casos
confirmados - Faixa etária óbitos com caso confirmados - Gravidade dos casos confirmados (última posição diária) -
Casos recuperados por dia. É de extrema importancia disponibiliza-las ou no portal, via API ou através de arquivo
.csv para consumo imediato. Segundo informações da Prevent Senior: Dos 1100 pacientes com testes positivos de
covid-19 (média acima de 70 anos), 200 pacientes já tiveram alta com regressão completa após terapêutica hospitalar
com hidroxicloroquina. Fico no aguardo do retorno.” – 06/04/2020 para Ministério da Saúde – Justificativa:
Informação sigilosa de acordo com legislação específica.
9
Fonte: Autoria própria (2020).
A análise do texto das respostas mostra, no entanto, que apesar de não serem considerados um pedido de informação
propriamente dito, no bojo da LAI, houve um esforço de profissionais do órgão em fornecer esclarecimentos, a fim de
atender as necessidades da sociedade neste momento de crise. O Ministério da Cidadania adotou um padrão inicial de
respostas para esses casos:
Ao cruzarmos o tipo de resposta dado pela administração pública com as categorias das perguntas analisadas temos o
quadro seguinte, que permite algumas observações relevantes:
75%
22%
3%
Pedidos destinados ao Ministério da Cidadania
Não se trata de solicitação de informação
Encaminhado para o e-Ouv
Acesso concedido
Pedidos x respostas: cruzamentos e conclusões
10
“Prezado(a) Senhor(a), Sua manifestação foi analisada e classificada como uma solicitação, que deveria ser encaminhada
para o Fala.br
(https://sistema.ouvidorias.gov.br/publico/Manifestacao/SelecionarTipoManifestacao.aspx?ReturnUrl=%2f), sistema
apropriado para o cadastrado desse tipo de manifestação, que estabelece o prazo de até 30 dias para o oferecimento
de resposta. No entanto, tendo em vista a situação causada com a pandemia pelo COVID-19, a Coordenação-Geral da
Transparência e Acesso à Informação apresenta, em caráter excepcional, os seguintes esclarecimentos: [...]”.
Cruzamento de categorias das perguntas com o tipo de resposta
Categorias Acesso concedido
Acesso negado
Encaminhado para o e-Ouv
Não se trata de solicitação de
informação
Outros tipos
Pedir proteção econômica 22% 8% 62% 93% 0%
Cobrar explicações e providências 51% 92% 4% 0% 37%
Solicitar esclarecimentos 20% 0% 20% 6% 38%
Outros pedidos 7% 0% 14% 1% 25%
Total 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: Autoria própria (2020).
Dentre os pedidos que tiveram o tipo de resposta “Não se trata de solicitação de informação”, 93% foram categorizados
pela equipe de pesquisadores como “Pedir proteção econômica”. Como já dito, a maior parte desses pedidos foi
direcionada ao Ministério da Cidadania.
Os pedidos de proteção econômica também são responsáveis pela maior parte (62%) dos encaminhamentos para o e-
Ouv.
O acesso foi negado a somente 6% do total pedidos. Retomando os dados que foram apresentados na primeira parte
deste comunicado – panorama geral da LAI – é interessante notar que os pedidos relativos ao novo coronavírus têm o
mesmo percentual de negativas de acesso do total de pedidos recebidos pela administração pública no período.
Vale ressaltar que as negativas estão quase integralmente concentradas na categoria “Cobrar explicações e providências”,
que tem uma proporção de pedidos com acesso negado de 27%, bem acima do observado quando se considera o total
da amostra. O resultado não chega a ser surpreendente, já que é essa a categoria que concentra pedidos de maior
sensibilidade política.
Por fim, importa reforçar algumas observações importantes:
Os resultados obtidos no Comunicado 2 confirmam o que já havia sido detectado no primeiro comunicado: devido
à grande visibilidade que é dada à Lei de Acesso à Informação e à fácil localização do e-SIC nos sites governamentais,
a lei tem se mostrado um elo entre o poder público e os cidadãos – que podem até não ter clareza do que é
exatamente um pedido de informação, mas reconhecem sua existência e ampliam sua utilização ano a ano.
Os dois questionamentos feitos pela equipe de pesquisadores e enviados à CGU foram respondidos de forma clara
e completa, dentro do prazo legal, mostrando um bom funcionamento da dimensão passiva da Lei de Acesso à
Informação neste órgão, responsável por promover e monitorar as ações de transparência na administração federal.
A Lei de Acesso à Informação é um elemento estruturante da política de transparência, que tem sido usada pelos
cidadãos no contexto de emergência de saúde pública em que nos encontramos.
11
Bianca da Costa Maia Lopes Diogo Luiz de Jesus Moreira
Lívia Neto Machado Marcia Maria Melo Quintslr
Ana Maria Barcellos Malin
Mestre em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade de Vassouras. Tecnologista em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). E-mail: [email protected]
Doutorando em Ciência da Informação no PPGCI/UFRJ-IBICT. Possui mestrado em Administração pelo Ibmec/RJ e graduação em Processamento de Dados. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Desenvolvimento de Sistemas de Informação. E-mail: [email protected]
Doutoranda e mestra em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduada em Matemática pela UFRJ. Tecnologista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), onde atuou como Diretora de Pesquisas e coordenou estatísticas sobre condições de vida, consumo, trabalho e preços. Preside o Comitê Executivo do Instituto Interamericano de Estatística (IASI). E-mail: [email protected]
Thiara dos Santos Alves
Josir Cardoso Gomes
Mestra em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduada em Comunicação Social/ Jornalismo e Relações Públicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Analista Executiva no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). E-mail: [email protected]
Doutoranda pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graduada em História e em Arquivologia pela UFMG. Arquivista no Arquivo Nacional. E-mail: [email protected]
12
Quem somos
Professora Associada UFRJ, Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação UFRJ/IBICT, Membro da Associação Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ANCIB) e da Associação Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo das Públicas (ANEPCP), Coordenadora do Observatório de Gestão Pública da Informação (obgi.org).
Doutoranda e mestra em Ciência da Informação pelo PPGCI/ UFRJ-IBICT. Graduada em Comunicação Social pela UFRJ e Arquivologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Assessora na Secretaria de Estado de Fazenda do Rio de Janeiro (SEFAZ-RJ). E-mail: [email protected]
Resposta fornecida pela Controladoria-Geral da União no dia 07/05/2020 sobre a divergência numérica
observada entre o “Relatório de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes” e a base de dados em
formado aberto:
Prezado(a) Senhor(a),
Em atenção ao seu pedido de acesso à informação, registrado sob o NUP 00075.000603/2020-90, informamos que:
1) Quais são os motivos que explicam a divergência numérica observada entre o “Relatório de Pedidos de Acesso à
Informação e Solicitantes” e os dados abertos de pedidos/respostas
( http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/_layouts/15/DownloadPedidos/ DownloadDados.aspx )?
A divergência entre as duas consultas ocorre pois o "Relatório de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes" traz
informações de todos os pedidos registrados no sistema e-SIC no período consultado, enquanto a consulta "Busca de
Pedidos/Respostas - Download de Dados" disponibiliza apenas os pedidos que foram cadastrados no e-SIC a partir de 1º de
julho de 2015, com exceção dos pedidos que contenham informações restritas, como informações restritas (pessoais ou
sigilosas). Elucidamos que, como a marcação do campo sobre informações restritas é realizada pelo SIC destinatário do pedido
ao respondê-lo, apenas os pedidos respondidos e com a marcação de que não possuem informações restritas, estão disponíveis
na consulta "Busca de Pedidos/Respostas Download de Dados".
2) Quais são os critérios de atualização da base de dados abertos de pedidos/respostas que explicam a divergência
numérica da pesquisa realizada nos dias 01 e 09/04/2020?
A atualização da base é diária. A divergência numérica se dá pois a "Busca de Pedidos/Respostas - Download de Dados"
apresenta apenas os pedidos respondidos que não possuem informações restritas (conforme marcação do SIC do órgão que
respondeu o pedido). Assim, a consulta apresentou uma quantidade maior de pedidos no dia 9/4/2020, pois mais pedidos
haviam sido respondidos até essa data.
3) Considerando a divergência numérica da pesquisa dos dias 01 e 09/04/2020, na base de dados abertos de
pedidos/respostas, pergunto: há uma data limite em cada mês para inserção de pedidos na base de dados (por exemplo,
os pedidos realizados em março serão inseridos na base até uma data específica)?
Não, a atualização da consulta é diária.
Informo que hoje, 18/04/2020, a base de dados abertos de pedidos/respostas permite buscas apenas para os anos 2016
e 2017. Assim: 4) Qual é o motivo da indisponibilidade dos dados referentes aos anos de 2018 a 2020? 5) A base voltará
a disponibilizar os dados dos anos de 2018 a 2020? Se sim, qual é o dia do retorno da disponibilização dos dados?
A indisponibilidade dos dados referentes aos anos de 2018 a 2020 ocorreu devido a um erro na consulta. Este erro foi corrigido
e a consulta voltou a disponibilizar os dados referentes aos anos de 2018, 2019 e 2020. Agradecemos seu contato e sugerimos
que também acompanhe os dados sobre os pedidos de acesso à informação por meio do Painel da LAI, disponível em
http://paineis.cgu.gov.br/lai/index.htm (http://paineis.cgu.gov.br/lai/index.htm).
Atenciosamente,
1
13
Notas explicativas
Nota sobre amostragem
Para viabilizar as análises de conteúdo de pedidos e respostas foi definida uma amostra selecionada a partir da população
constituída pelos 1061 pedidos resultantes da busca pelos termos “corona e/ou covid” nos campos de resumo e
detalhamento dos pedidos e, no campo categorização, por “coronavirus – COVID 19”.
As pesquisadoras consideraram viável trabalhar com amostra de tamanho em torno de 200. Assim, foi definido o tamanho
de amostra 213 que propicia estimar proporção de 50%, com confiabilidade de 95% e margem de erro de 6%, segundo
a metodologia de amostras aleatórias simples.
A elaboração do Comunicado 1, bem como a análise flutuante dos pedidos de abril relacionados à COVID propiciou a
percepção de que os acontecimentos dentro de cada um desses períodos geram diferentes mobilizações para as
consultas à LAI, assim como afetam de modo diverso as respostas.
O curto espaço de tempo de evolução da pandemia abarca, por exemplo, momentos em que são predominantes as
perguntas sobre procedimentos e controles relacionados à prevenção e os momentos em que surgem perguntas sobre
o suporte econômico que, num primeiro momento, geraram consultas à LAI sobre o apoio a empresas de pequeno e
médio porte. Em seguida, o auxílio emergencial direcionado a micro empreendedores individuais e a pessoas físicas
domina a cena. Os pedidos através do e-Sic sobre tais auxílios, por sua vez, evoluíram temporalmente, inicialmente como
busca por compreender os critérios para a concessão do auxílio emergencial, seguidos de predomínio de demandas por
esclarecimentos sobre a documentação necessária e os procedimentos de inscrição e, por fim, surgem consultas sob a
forma de cobrança, tendo em vista a demora no pagamento do auxílio.
Decorre desse comportamento que os percentuais, por exemplo, de pedidos relacionados às categorias de pedidos
definidas pelas pesquisadoras e percentuais de órgãos mais demandados variam com o tempo.
As respostas também variam com o decorrer do tempo, pois à medida em que a pandemia evolui, definições sobre
serviços, atendimentos e procedimentos tornam-se mais claros e orientações se cristalizam.
Assim foi identificada vantagem na adoção de desenho amostral que levasse em conta essa maior homogeneidade entre
os pedidos e entre as respostas observadas, nos intervalos de tempo sequenciais contidos no período de estudo. O
método de seleção correspondeu à amostragem estratificada proporcional aos tamanhos dos estratos. Foram definidas
como estratos as quatro semanas do mês.
A esse tamanho de amostra pré-definido em 213 corresponde uma fração amostral de 1/5, que foi aplicada
proporcionalmente a cada estrato. A seleção dos pedidos foi feita de maneira sistemática, ou seja, dentro de cada semana,
foi selecionado um pedido, como início aleatório e, a partir dele, foi selecionado o quinto pedido, com repetição desse
procedimento até o retorno ao primeiro pedido selecionado. Desse modo a soma de elementos selecionados nos quatro
estratos resultou em 214, tendo em vista aproximações numéricas. Foram os seguintes os tamanhos dos quatro estratos:
67, 59, 37 e 51.
Marcus Vinicius Morais Fernandes, mestre em Estatística pela UFRJ e graduado em Estatística pela UERJ. Atualmente
atua como gerente de Metodologia Estatística do IBGE.
14
2
Resposta fornecida pela Controladoria-Geral da União no dia 20/05/2020 sobre diferenças entre pedidos de
informação e manifestações de Ouvidoria:
Prezada cidadã,
Em atenção ao seu pedido de acesso à informação n.º 00075.000771/2020-85 , inicialmente esclarecemos que:
Ao receber um pedido de informação no e-SIC, o gestor do SIC terá 5 dias úteis para verificar se realmente se trata de uma
solicitação de informação. Caso se constate que o “pedido” é, na verdade, uma manifestação de ouvidoria, é possível enviá-lo
para o eOuv, clicando no botão “Enviar para o e-Ouv”.
O solicitante recebe uma notificação por e-mail alertando-o sobre encaminhamento da manifestação. Caso o cidadão não
concorde com a operação, ele poderá apresentar um pedido de reconsideração à CGU, em até 10 dias, a contar da notificação.
A reconsideração será julgada pela CGU em até 5 dias. Se for julgada improcedente, a manifestação será definitivamente
enviada ao sistema e-Ouv (Plataforma Fala.BR), no qual se iniciará o prazo de 30 dias que o órgão possui para respondê-la.
Se a reconsideração for julgada procedente, ela ficará no e-SIC como recurso de 1ª Instância, devendo ser respondida em 5
dias e seguindo os mesmos trâmites recursais dos pedidos de acesso à informação.
Veja o que é uma manifestação de ouvidoria:
Sugestão: proposição de ideia ou formulação de proposta de aprimoramento de políticas e serviços prestados pela
Administração Pública federal
Elogio: demonstração ou reconhecimento ou satisfação sobre o serviço oferecido ou atendimento recebido
Solicitação: requerimento de adoção de providência por parte da Administração
Reclamação: demonstração de insatisfação relativa a serviço público
Denúncia: comunicação de prática de ato ilícito cuja solução dependa da atuação de órgão de controle interno ou externo
Simplifique: Se você acha a prestação de um serviço público muito burocrática, poderá apresentar solicitação de simplificação,
por meio de formulário próprio, denominado Simplifique!
Os pedidos de acesso à informação são atendidos de acordo com os procedimentos estabelecidos na Lei n.º 12.527/11 (Lei de
Acesso à informação) e no Decreto n.º 7.724/12. Já as manifestações de ouvidoria são atendidas de acordo com a Lei n.º
13.460/2017 (Código de Defesa dos Direitos do Usuário dos Serviços Públicos) e nos Decretos nº 9.094/2017 e 9.492/2018.
Feitos esses esclarecimentos, apresentamos as seguintes respostas aos questionamentos apresentados:
1. Os cidadãos precisam entrar novamente com a solicitação ou ela é encaminhada diretamente do e-SIC para o e-Ouv?
Resposta: Não. A solicitação é encaminhada automaticamente pelo sistema mantendo o mesmo número de protocolo. Abaixo
segue o texto da resposta padrão que é encaminhada ao cidadão:
Prezado(a) Cidadão(ã) Sua manifestação foi analisada e classificada como uma (tipo de manifestação), definida pela Instrução
Normativa da Ouvidoria-Geral da União nº 05/2018, como um (descrição do tipo de manifestação)
Para dar o tratamento adequado à sua (tipo de manifestação), oferecendo uma resposta mais completa e rápida, ela foi
encaminhada ao e-OUV (Sistema de Ouvidorias do Poder Executivo Federal), responsável pelo registro e tratamento de
manifestações de ouvidoria.
Caso não concorde com o encaminhamento do pedido, é possível apresentar pedido de revisão à Ouvidoria-Geral da União
3
15
(OGU), em até 10 (dez) dias, clicando aqui. O pedido de revisão será julgado pela OGU em até 5 (cinco) dias.
Somente ao fim do prazo para apresentação do pedido de revisão, ou seja, após 10 dias, o andamento da sua solicitação poderá
ser acompanhado por meio do e-Ouv, disponível em http://falabr.cgu.gov.br/. Você pode fazer a consulta clicando em
"Consulte sua Manifestação" e informando seu número de protocolo e endereço de e-mail.
Para consultar a manifestação no e-Ouv basta acessar este link.
2. O e-Ouv tem um prazo para resposta estabelecido para todos os órgãos e entidades? Se sim, qual é ele e em qual
normativa ele está previsto?
Resposta. Sim. O prazo para resposta é de 30 (trinta) dias, prorrogável por mais 30 (trinta) dias, mediante justificativa, conforme
previsto no art. 18, do Decreto nº 9.492/2018.
3. A CGU acompanha o índice de atendimento das demandas recebidas via e-Ouv da mesma forma como faz com os
pedidos de acesso à informação recebidos via e-SIC?
Resposta: Sim. Conforme art. 11, do Decreto nº 9.492/2018, compete a CGU, como órgão central do Sistema de Ouvidoria do
Poder Executivo federal, monitorar a atuação das unidades setoriais do Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo federal no
tratamento das manifestações recebidas.
Pelo Painel Resolveu? é possível verificar vários indicadores sobre as manifestações de ouvidoria. Entre os dados disponíveis
estão: a quantidade e o tipo de manifestação; o local de origem; o ranking dos órgãos por nível de satisfação do usuário, tempo
de atendimento, serviços mais demandados e quantidade de demandas.
4. Há sanções para agentes públicos que não respondem pedidos de informação recebidos via e-Ouv? Se sim, quais são
elas?
Primeiro, é importante esclarecer que pedidos de acesso à informação devem ser tratados obrigatoriamente no sistema e-SIC,
conforme estabelece a Portaria Interministerial n.º 1.254, de 18 de maio de 2015. Portanto, caso um pedido de acesso a
informação seja registrado pelo cidadão no sistema e-OUV, a unidade de ouvidoria deverá responder a demanda orientando
o cidadão a registrar seu pedido no sistema e-SIC, que já não é possível enviar os pedidos de acesso à informação registrados
no e-OUV para o sistema e-SIC.
Em relação as manifestações que são encaminhadas do e-SIC para o eOUV, ressaltamos que se tratam de manifestações de
ouvidoria e não de pedidos de acesso à informações, portanto, seguem os procedimentos previstos na Lei n.º 13.460/2017 e
nos Decretos nº e 9.094/2017, 9.492/2018.
Nesse caso, as sanções previstas em caso de descumprimento do Decreto n.º 9.094/207 estão previstas no art. 16: Decreto n.º
9.094/2017 :
Art. 16. O servidor público ou o militar que descumprir o disposto neste Decreto estará sujeito às penalidades previstas,
respectivamente, na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 , e na Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980 .
Parágrafo único. Os usuários dos serviços públicos que tiverem os direitos garantidos neste Decreto desrespeitados poderão
representar à Controladoria-Geral da União. (Redação dada pelo Decreto nº 9.723, de 2019)
Art. 17. Cabe à Controladoria-Geral da União e aos órgãos integrantes do sistema de controle interno do Poder Executivo
federal zelar pelo cumprimento do disposto neste Decreto e adotar as providências para a responsabilização dos servidores
públicos e dos militares, e de seus superiores hierárquicos, que praticarem atos em desacordo com suas disposições.
Atenciosamente,
16
ma
No mês de maio, chama atenção o salto
de 35%, em comparação com abril de
2020, do número de pedidos de
informação dirigidos ao governo federal
via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Enquanto menos da metade da
população em idade de trabalhar (49,7%)
estava ocupada, nível inferior a todos
aqueles registrados desde 2012 pelo
IBGE1, a sociedade passa a usar a LAI para
cobrar explicações diante da negativa de
concessão do auxílio e para clamar por
providências para solucionar equívocos
nos cadastros e bases de dados do
governo. O Ministério da Cidadania
continua sendo o principal destinatário
dos pedidos relacionados ao novo
coronavírus, com 77% do total.
Dados desatualizados da Relação Anual
de Informações Sociais (RAIS), erros em
registros administrativos acerca de dados
pessoais ou vínculo empregatício e até
mesmo a indicação equivocada de óbito
fizeram com que pessoas que tinham
direito ao auxílio emergencial não
conseguissem recebê-lo, demonstrando
como a desarticulação informacional do
governo é um problema com implicações
concretas para os cidadãos.
Em 76% das solicitações relacionadas à
Covid-19, as respostas da administração
pública foram o encaminhamento para as
Ouvidorias ou o enquadramento dos
pedidos como “Não se trata de
solicitação de informação”. No mês de
abril, essas ocorrências haviam sido de
64% e, entre janeiro e março, 42%.
Para ver os comunicados anteriores da
pesquisa, acesse o Observatório de
Gestão Pública da Informação.
1 Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/27972-
pandemia-dificulta-acesso-de-28-6-milhoes-de-
pessoas-ao-mercado-de-trabalho-em-maio>.
Acesso em: 22 jun. 2020.
A pesquisa “Covid-19:
acesso à informação
pública” é
desenvolvida no
âmbito do Programa
de Pós-Graduação em
Ciência da Informação
(PPGCI) UFRJ-IBICT.
Coordenação
Ana Maria Barcellos Malin
(PPGCI/UFRJ-IBICT)
Equipe de discentes e
egressos do PPGCI/UFRJ-
IBICT
Bianca Lopes
Diogo Moreira
Josir Gomes
Lívia Machado
Marcia Quintslr
Thiara Alves
Assessoria de Metodologia
Estatística
Marcus Vinicius Morais
Fernandes
A pesquisa monitora
pedidos de informação
sobre políticas e
procedimentos
relacionados ao novo
coronavírus dirigidos ao
governo federal e suas
respostas, por meio da Lei
de Acesso à Informação.
1
Covid-19: acesso à
informação pública
Panorama geral da LAI (maio/2020)
Cov id-19 : pedidos de acesso
Análise das respostas aos pedidos de informação
Categor ias de perguntas e tipos de respostas: conclusões
Nota explicativa
Q uem somos
Covid-19: acesso à informação pública
P.2
P.4
P. 10
P. 11
P. 12
P. 13
Em maio de 2020, os órgãos e entidades da Administração Pública Federal receberam 18.782 pedidos de acesso à
informação, o que representa um aumento de 43% em relação ao mesmo mês do ano passado. É um incremento
recorde, bem acima do acréscimo que vinha sendo observado ao longo dos anos, como mostrado no gráfico abaixo.
Comparando com os meses anteriores de 2020, vê-se que o total de pedidos em maio foi o maior da série acompanhada
pela pesquisa, com um crescimento de 35% em relação a abril.
Fonte: Autoria própria (2020).
7.604 7.246
8.478
10.233
11.21411.864
13.149
18.782
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
11.000
12.000
13.000
14.000
15.000
16.000
17.000
18.000
19.000
20.000
MAI/13 MAI/14 MAI/15 MAI/16 MAI/17 MAI/18 MAI/19 MAI/20
Pedidos ano a ano no mês de maio
12.079 11.991
11.237
13.892
18.782
10.000
11.000
12.000
13.000
14.000
15.000
16.000
17.000
18.000
19.000
20.000
JAN FEV MAR ABR MAI
Pedidos de janeiro a maio de 2020
2
Do total de pedidos recebidos em maio de 2020, a administração pública já havia respondido 11.898 no dia 1º de junho,
data em que foi extraído o “Relatório de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes”. Ao compararmos com os dados
de abril, que constam no relatório anterior extraído em 1º de maio, reforçamos a observação feita pela pesquisa: redução
dos pedidos com acesso concedido e aumento daqueles cujas respostas foram “Encaminhado para o e-Ouv” (Sistema de
Ouvidorias do Poder Executivo Federal). O percentual de pedidos com acesso negado se manteve semelhante.
Comparativo de dados gerais da LAI entre abril e maio de 2020
Fonte: Autoria própria (2020).
Em relação aos temas mais demandados, a categoria “Coronavirus (COVID-19)” foi a que teve o maior número de pedidos
em maio de 2020: 14% do total (em abril, ela havia sido responsável por 10% das solicitações). Em segundo lugar, com
10%, ficou a categoria “Ciência, Informação e Comunicação – Informação – Gestão, preservação e acesso”.
A categoria “Governo e Política – Administração Pública”, que em maio de 2019 havia sido a mais demandada (14%), em
maio de 2020 tornou-se a terceira em número de pedidos, com 6% do total.
Temas mais demandados em maio
Fonte: Autoria própria (2020).
Descrição 2020
Abril Maio
Quantidade de pedidos 13.892 18.782
Respondidos 8.873 11.898
Acesso concedido 46% 41%
Acesso negado 6% 5%
Encaminhamento para o e-Ouv 18% 29%
Não se trata de informação 18% 15%
Outros tipos de resposta 12% 10%
3
Como tem sido feito desde o 1º Comunicado, a análise dos pedidos de acesso à informação relacionados ao novo
coronavírus e das respostas fornecidas pela administração pública foi feita a partir da base de dados em formato aberto
disponibilizada pela Controladoria-Geral da União (CGU), que contém o resumo e o detalhamento da solicitação feita
pelo cidadão, a categoria em que a solicitação foi enquadrada pelo órgão ou entidade que a recebeu e a resposta dada
pela administração pública.
Nesta base, foram selecionados os pedidos que a administração pública classificou como “Coronavirus (COVID-19)” e
aqueles que continham os descritores de busca “corona” e/ou “covid” na pergunta, totalizando 1.666 solicitações no dia
2 de junho de 20201, data em que foi realizada a pesquisa. Deste universo, para efeito de aprofundamento da análise, foi
selecionada uma amostra aleatória de 239 pedidos, estratificada proporcional, com confiabilidade de 95% e margem de
erro de 6% para estimar proporção igual a 0,5. O desenho da amostra e os procedimentos de seleção da amostra seguem
a mesma metodologia explicada no Comunicado 2.
Ao se proceder à análise de conteúdo para interpretar a finalidade das perguntas feitas pelos cidadãos, vê-se que, pela
primeira vez desde que os pedidos de informação têm sido estudados pelos pesquisadores, a maior parte (66%) foi
categorizada como “Cobrar explicações e providências”. A categoria “Pedir proteção econômica”, que tinha sido
prevalente no mês anterior, correspondeu a 21% das solicitações, enquanto “Solicitar esclarecimentos” e “Outros
pedidos” responderam por 5% e 8% do total, respectivamente.
Fonte: Autoria própria (2020).
O aumento dos pedidos categorizados como “Cobrar explicações e providências” e a redução daqueles categorizados
como “Pedir proteção econômica” entre abril e maio de 2020 deve-se à mudança no tipo de solicitação referente ao
auxílio emergencial de R$ 600 oferecido pelo governo.
1 Sobre a data da pesquisa na referida base, consultar nota explicativa ao final do trabalho.
Covid-19 : pedidos de acesso
0% 20% 40% 60% 80% 100%
JAN-MAR
ABRIL
MAIO
31%
59%
21%
23%
21%
66%
30%
14%
5%
16%
6%
8%
Comparativo dos pedidos por categoria entre períodos de 2020
Pedir proteção econômica Cobrar explicações e providências
Solicitar esclarecimentos Outros pedidos
4
Em abril, eles foram quase totalmente categorizados como “Pedir proteção econômica”. Isso porque, em geral,
consistiam em: pedidos de proteção econômica propriamente ditos; dúvidas sobre documentação e modo de obtenção
do auxílio; reclamações sobre o período de análise do pedido de auxílio; demandas de ajuda por empresas.
Em maio, ainda que esse tipo de solicitação continue aparecendo, emerge uma nova tônica relacionada ao auxílio
emergencial: cobrança de explicações diante da negativa de concessão do auxílio emergencial (questionando os motivos
da negativa e como contestá-la, por exemplo) e demandas por providências no sentido de revisar o pedido de auxílio
negado e de solucionar equívocos nos cadastros e bases de dados do governo.
Entre os equívocos identificados pelos cidadãos, são mencionados, por exemplo, dados desatualizados da Relação Anual
de Informações Sociais (RAIS). Cidadãos alegam que os empregadores enviaram os dados atualizados da RAIS, mas eles
não foram devidamente processados pelo governo, configurando um impeditivo para o recebimento do auxílio
emergencial por pessoas que teriam direito a recebê-lo. Há, ainda, relatos de incorreções em relação a dados pessoais,
à indicação de que o cidadão teria emprego formal (vinculado ao RPPS) e/ou exerceria cargo eletivo e à indicação de
óbito de pessoa viva. Também há muitos pedidos de cidadãos que cobram explicações sobre o motivo do cancelamento
da segunda parcela do auxílio.
Dessa forma, a maior parte das solicitações referentes ao auxílio emergencial em maio enquadraram-se na categoria
“Cobrar explicações e providências”.
Trazemos abaixo alguns exemplos de pedidos de informação segundo as diferentes categorias estabelecidas pela
pesquisa.
Essa categoria abarca pedidos de proteção econômica propriamente ditos, dúvidas sobre o modo de obtenção do auxílio
emergencial, reclamações sobre o período de análise para que seja obtido o auxílio. Em maio, houve também um número
significativo de solicitações advindas de pessoas que julgaram que deveriam ter recebido R$1.2002 em vez de R$600.
2 O governo anunciou que o benefício no valor de R$600 seria pago para até duas pessoas da mesma família (totalizando R$1.200) e
que nas famílias em que a mulher fosse a única responsável pelas despesas da casa, o valor pago mensalmente seria de R$1.200 .
Informações disponíveis em: <https://auxilio.caixa.gov.br/#/inicio>. Acesso em: 9 jun. 2020.
“O maior castigo para o homem honesto e trabalhador é o desemprego. Isso faz com que sua dignidade, seu respeito
e sua credibilidade virem pó! É admirável quanto pânico um homem honesto pode espalhar em meio a uma multidão
de hipócritas [...] Moro em Sobradinho, auxílio emergencial continua em análise, faz tudo na honestidade [...] E uma
farra com dinheiro público, solteiro com carrão receberam primeiro que família, pois não houver critérios exemplo o
país funcionário público ganhar 10 mil reais, o filho com 18 anos viver no mesmo domicílio, mais ele faz o cadastro
individual recebeu, pois não e obrigatório pesquisa os membros da família, ele considerado empregado ou informal
porém a renda familiar e alta, na verdade mesmo eu sabendo um pouco de informática, não sei como mim cadastra...”
- 04/05/2020 para Ministério da Cidadania. Tipo de resposta: Encaminhado para o e-Ouv.
PEDIR PROTEÇÃO ECONÔMICA
5
No Comunicado 2, os pedidos desta categoria vieram de cidadãos que conheciam a vocação da Lei de Acesso à
Informação. Isso ainda é observado, havendo questionamentos sobre o número de mortes por Covid-19, proteção de
povos indígenas e de outros grupos populacionais portadores de vulnerabilidades socioeconômicas. Além disso, a partir
deste Comunicado 3, esta categoria traz predominantemente (82%) demandas pessoais relacionadas ao auxílio
emergencial.
SOLICITAR ESCLARECIMENTOS
COBRAR EXPLICAÇÕES E PROVIDÊNCIAS
“Olá, tive meu auxilio negado pelos seguintes motivos: Cidadão com emprego formal - Vinculado ao RPPS Cidadão
exerce mandato eletivo Gostaria de esclarecer que não trabalho de carteira assinada. Sou comerciante e estou com
as atividades paradas por conta da Pandemia do covid-19. Também não tenho mandato eletivo. Gostaria de saber
o que faço e também obter acesso aos meus dados que estão com vocês. Obrigado dede já!” – 01/05/2020 para
Ministério da Cidadania. Tipo de resposta: Encaminhado para o e-Ouv.
“BOM DIA MANDAMOS A RAIS 2019 DENTRO DO PRAZO LEGAL, POREM ATE A PRESENTE DATA ELA AINDA NÃO
FOI PROCESSADA, LIGAMOS NO NUMERO DA CENTRAL DE ATENDIMENTO DA RAIS E FOI INFORMADO QUE NÃO
A PREVISÃO PARA PROCESSAMENTO. ACONTECE QUE VÁRIOS FUNCIONÁRIOS SAÍRAM EM 2019 E TENTARAM SE
CADASTRAR NO AUXILIO EMERGENCIAL, POREM NÃO CONSEGUIRAM POIS CONSTA COMO ELES AINDA ESTÃO
VINCULADOS A ESTA PREFEITURA MUNICIPAL. (...) GOSTARIA DE UMA POSIÇÃO, POIS, VARIAS PESSOAS ENTÃO
SENDO PREJUDICADAS POR CONTA DISSO. NO AGUARDO” – 04/05/2020 para Ministério da Economia. Tipo de
resposta: Encaminhado para o e-Ouv.
“Bom dia venho por este meio suplicando ajuda. Eu e minha esposa preenchemos todos requisitos para receber o
auxilo emergencial e a dataprev junto da caixa economica vem nos enrolando. Fizemos cadastro dia 07 de abril
refizemos dia 23 de abril .. E ate nesse momento nao obtivemos nossa aprovaçao. Fazem 5 dia que nao conseguimos
dar cafe para nossa filha e nossa dispensa esta no fim. Nos ajude por favor ..obrigado” – 04/05/2020 para Ministério
da Cidadania. Tipo de resposta: Não se trata de solicitação de informação.
“Rever junto ao meu pedido ao auxílio emergencial,grande erro do dataprev.desenpregada passando necessidades.
Me ajudem” – 11/05/2020 para Ministério da Cidadania. Tipo de resposta: Encaminhado para o e-Ouv.
“Bom dia liguei para vcs para informar que o meu auxílio está no valor errado pois sou mãe solo não trabalho carteira
assinada por um erro do CRAS que na opção sexualidade ele botaram masculina (...) fui ao CRAS eles corrigiram o
erro e voltei a ligar para 121 e eles me e formaram que foi realmente corrigido mais o valor do auxílio emergencial
continua 600 e não 1200 o qual tenho direito...” – 13/05/2020 para Ministério da Cidadania. Tipo de resposta:
Encaminhado para o e-Ouv.
6
Nos exemplos acima, vê-se que muitas das cobranças de explicações e providências referem-se a problemas nos
cadastros e bases de dados do governo. Nenhuma delas foi efetivamente atendida pelo sistema da Lei de Acesso à
Informação e sim encaminhadas para o e-Ouv. Merece destaque o terceiro exemplo, em que o cidadão relata que enviou
um pedido anterior para a Dataprev, tendo sido encaminhado para a Ouvidoria do Ministério da Cidadania (o que o
demandante considerou “empurrar com a barriga”). A mesma pessoa fez, então, um pedido diretamente para o Ministério
da Cidadania via LAI, e novamente obteve como resposta “Encaminhado para o e-Ouv”.
Já os próximos exemplos, que trazem cobranças de explicações sobre outros temas, foram atendidos ou parcialmente
atendidos pelo e-SIC:
“Olá, solicito o numero de presos que estão com COVID-19 e número de óbitos por COVID-19. Atualizados, por favor.
Agradeço, [...].” – 07/05/2020 para Departamento Penitenciário Nacional. Tipo de resposta: Acesso concedido.
“Solicito documentação pertinente ao planejamento/gastos/ custo de infraestrutura no combate ao Covid 19 nos
assentamentos de responsabilidade legal do INCRA” – 12/05/2020 para Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária. Tipo de resposta: Acesso parcialmente concedido.
“Existe no momento alguma assistência ou política pública de enfrentamento a Covid-19 as comunidades
quilombolas Certificadas ou ainda em processo de certificação?” – 18/05/2020 para Fundação Cultural Palmares.
Tipo de resposta: Acesso concedido.
“Bom dia, eu encaminhei uma solicita para vocês já que o DATAPREV é o setor responsável pela informação a Caixa
Econômica pelo aptidão das pessoas para receber o Auxilio Emergencial e pra mim não é mais emergencial é
desespero! E você no lugar de resolver a calunia a mim imposta de que eu tenho emprego ou cargo público faca
empurrando com a barriga para a coisa se protelar mais ainda. Segue texto de encaminhamento enviado para meu
email no dia 07 de maio de 2020: Prezado(a) [...], Para melhor atende-lo, a sua manifestação foi encaminhada para
a ouvidoria de outro órgão ou entidade em 07/05/2020. [...].” – 08/05/2020 para Ministério da Cidadania. Tipo de
resposta: Encaminhado para o e-Ouv.
“fiz o cadastro emergencial e me foi negado com a seguinte mensagem CIDADAO COM REGISTRO DE OBITO,
gostaria que dessem informaçoes de onde tiraram essa afirmativa pois estou vivo. e se nao tivesse direito ao auxilio
nao teria pleiteado. solicito maiores informaçoes.” – 19/05/2020 para Ministério da Cidadania. Tipo de resposta:
Encaminhado para o e-Ouv.
7
Esta categoria, que no começo da pandemia trazia diversos pedidos relacionados a combate e prevenção, viagens e
funcionamento de serviços e atividades, teve sua incidência reduzida, indicando que muitos dessas orientações ou
procedimentos passaram a ser de domínio por público mais amplo ao longo do tempo.
Neste pedido feito ao Inmetro e classificado como “Não se trata de solicitação de informação” foi explicado ao cidadão
que demandas de cunho consultivo não são consideradas pedidos de informação no âmbito da LAI e que devem ser
encaminhadas à Ouvidoria do órgão. Mas, o encaminhamento não foi feito diretamente, ex igindo que próprio
demandante acesse um outro sistema do governo para fazer o registro.
Chamam atenção os pedidos de cancelamento do auxílio emergencial recebido indevidamente ou de informações sobre
como devolvê-lo. Vale ressaltar que milhares de servidores públicos e militares receberam auxílio indevidamente. No dia
13 de maio, o Tribunal de Contas da União determinou que mais de 73 mil militares que receberam o benefício o
devolvessem integralmente3.
3 Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/13/tcu-determina-que-militares-devolvam-auxilio-
emergencial.htm>. Acesso em: 21 jun. 2020.
OUTROS PEDIDOS
SOLICITAR ESCLARECIMENTOS
“Diante do ainda elevado número de pessoas contaminadas pelo novo coronavirus e pela necessidade de manter
medidas para evitar o aumento da contaminação, é possível a prorrogação do trabalho remoto nas atividades
possíveis das filiais dos hospitais universitários administrados pela EBSERH?” – 26/05/2020 para sede da Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares. Tipo de resposta: Acesso concedido.
“Gostaria de saber da eficácia da máscara semifacial filtrante da marca [...] na utilização em ambiente hospitalar para
proteção do usuário contra a covid19.” – 21/05/2020 para Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia. Tipo de resposta: Não se trata de solicitação de informação.
“Boa tarde! Gostaria de saber por que esta gerando MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DA DECLARAÇÃO MENSAL
DO SIMPLES NACIONAL sendo que foi prorrogado...” – 15/05/2020 para Ministério da Economia. Tipo de
resposta: Encaminhado para o e-Ouv.
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Quando se observa a resposta4 dada ao exemplo acima, lança-se dúvidas sobre o alto índice de atendimento da LAI pelo
governo federal. Apesar da resposta ter sido classificada como “Acesso concedido”, ela efetivamente não responde o que
foi perguntado. Qual tem sido, então, a qualidade das respostas fornecidas?
Os exemplos acima mostram que pedidos de cancelamento do auxílio emergencial feitos ao Ministério da Cidadania
receberam diferentes tipos de resposta, podendo ser um indicativo de que a depender do profissional que fez o
atendimento a demanda do cidadão foi contemplada ou não.
Este pedido, feito pelo prefeito de um município, demonstra como a Lei de Acesso à Informação e o sistema estabelecido
para atendê-la é usado pela própria administração pública.
4 Resposta do Ministério da Cidadania em 27/05/2020: “Prezado(a) Senhor(a), Sua manifestação foi analisada e verificou-se que se
trata de uma solicitação, que deveria ser encaminhada para o Fala.br [...] sistema apropr iado para o cadastrado desse tipo de
manifestação. No entanto, tendo em vista a situação causada com a pandemia pelo COVID -19, a Coordenação-Geral da Transparência
e Acesso à Informação apresenta, em caráter excepcional, os seguintes esclarecimentos: Após a finalização da solicitação pelo APP
CAIXA | Auxílio Emergencial ou Site da Caixa é necessário aguardar a verificação dos órgãos responsáveis pela concessão, não havendo
possibilidade, nessa fase, de cancelamento do cadastro. Caso seu cadastro não seja a provado para o recebimento do benefício, ou o
resultado seja dados inconclusivos, basta não contestar o resultado para que seu cadastro seja desconsiderado. Caso a solicit ação seja
aprovada, o cidadão deverá seguir as orientações em anexo, para realizar a devolução voluntária do recurso. Para mais informações
sobre o auxílio emergencial, acesse https://www.gov.br/cidadania/pt-br/servicos/auxilio-emergencial ou pelo endereço
http://www.caixa.gov.br/Paginas/home-caixa.aspx”.
“Boa tarde, Recebi o auxílio indevidamente e o valor já consta na minha conta da poupança social. Todavia, meu
cadastro no Cadúnico está desatualizado e eu gostaria de cancelar o benefício. Dessa forma, venho por meio dessa
mensagem registrar que desejo efetuar o cancelamento do meu nome no Cadúnico, por não preencher mais os
requisitos e efetuar o cancelamento do meu auxílio emergencial. Ademais, aguardo instruções de como efetuar a
devolução do valor de R$ 600,00 reais que já constam na minha poupança social cujo os dados são...” – 14/05/2020
para Ministério da Cidadania. Tipo de resposta: Acesso concedido.
“Gostaria de cancelar meu auxílio emergencial, fiz a solicitação erradamente, pois na verdade não tinha direito mas
fui aprovado, sou militar, gostaria de cancelar e devolver o dinheiro, o qual se encontra na minha conta desde o dia
do depósito.” – 15/05/2020 para Ministério da Cidadania. Tipo de resposta: Não se trata de solicitação de
informação
“Foi solicitado Auxílio Emergencial em meu CPF. O auxilio foi aprovado . Porém não fui eu que solicitei . Um
estelionatário usou meus dados.Preciso saber como parar este processo.Eu fiz um boletim de ocorrência. Voces
podem me ajudar? Por favor” – 16/05/2020 para Ministério da Cidadania. Tipo de resposta: Encaminhado para
o e-Ouv.
“MUNICÍPIO DE JACAREACANGA, [...], representado por Seu Prefeito, [...], vem respeitosamente á presença de Vossa
Excelência, informar que estão encaminhando recursos federais com base em uma população errada de apenas 8 mil
habitantes, sendo que o certo era 41.487 pessoas (...) Prefeito Municipal de Jacareacanga” – 07/05/2020 para
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tipo de resposta: Pergunta duplicada/repetida.
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Ao analisarmos a amostra de pedidos relacionados à Covid-19, vemos que 76% tiveram respostas classificadas pela
administração pública como “Não se trata de solicitação da informação” e “Encaminhado para o e-Ouv”. São percentuais
muito mais altos do que aqueles observados no panorama geral da LAI e consideravelmente superiores aos descritos no
Comunicado 2, quando 65% das respostas estavam nessas duas categorias.
Tipos de resposta aos pedidos de informação
Tipo de resposta % total
Acesso concedido 18%
Acesso negado 3%
Encaminhado para o e-Ouv 59%
Não se trata de solicitação de informação 17%
Outros tipos de resposta 3%
Total 100%
Fonte: Autoria própria (2020).
Como visto, vários dos pedidos de acesso trazidos neste Comunicado 3 para ilustrar as categorias de análise tiveram a
resposta classificada pela administração pública como “Não se trata de solicitação de informação” e “Encaminhado para
o e-Ouv”.
Em relação aos pedidos que tiveram acesso negado (3% em maio, contra 6% em abril), as justificativas foram variadas:
informação sigilosa de acordo com legislação específica; pedido desproporcional ou desarrazoado; pedido
incompreensível e pedido genérico.
Um desses pedidos que teve acesso negado foi encaminhado para o Comando da Marinha, como pode ser visto abaixo:
Este pedido recebeu a seguinte resposta, no dia 29/05/2020:
Análise das respostas aos
pedidos de informaç ão
“Solicito, por favor, acesso a esses dados, se possível dividido por cargo do servidor, com a atualização mais recente
possível de se enviar na data da resposta (favor indicar qual é a data dos dados na resposta): 1) Número de casos
suspeitos de coronavírus 2) Número de casos confirmados de coronavírus 3) Número de servidores afastados por
causa do coronavirus 4) Número de testes aplicados aos servidores” – 13/05/2020 para Comando da Marinha.
Tipo de resposta: Acesso negado. Justificativa: Informação sigilosa de acordo com legislação específica.
“Prezado (a) Senhor (a), Em relação ao seu pedido, este Serviço de Informações ao Cidadão disponibiliza, anexa, a
resposta elaborada pela Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha. Nos termos do art. 21 do Decreto nº 7.724/12,
eventual recurso sobre esta resposta será dirigido ao Chefe do Estado-Maior da Armada, no prazo de 10 dias.
Atenciosamente, Serviço de Informações ao Cidadão da Marinha do Brasil”.
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Este também é um bom exemplo de como o formato em que as informações são disponibilizadas impacta as
possibilidades de controle social. Uma vez que a resposta foi dada em um arquivo anexo, seu inteiro teor escapa à base
de dados em formato aberto disponibilizada pela CGU e, portanto, não fica suscetível ao escrutínio público.
Vale destacar ainda que o Ministério da Cidadania foi novamente o destinatário da maior parte dos pedidos de acesso à
informação relacionados ao novo coronavírus, correspondendo a 77% destes pedidos, em contraste com pouco mais de
50% no mês de abril.
Ao cruzarmos as categorias das perguntas analisadas com o tipo de resposta dado pela administração pública vemos
que mais de 80% dos pedidos de informação relativos à proteção econômica e às cobranças de explicações e
providências, categorias que abrangeram demandas diretamente relacionadas ao auxílio emergencial, tiveram suas
respostas classificadas como “Encaminhado para o e-Ouv” e “Não se trata de solicitação de informação”.
Cruzamento de categorias das perguntas com o tipo de resposta
Categorias Acesso
concedido
Acesso
negado
Encaminhado
para o e-Ouv
Não se trata de
solicitação de
informação
Outros
tipos
Total
Pedir proteção econômica 8% 6% 59% 25% 2% 100%
Cobrar explicações e
providências
15% 1% 66% 15% 3% 100%
Solicitar esclarecimentos 64% 0% 18% 18% 0% 100%
Outros pedidos 40% 10% 30% 10% 10% 100%
Fonte: Autoria própria (2020).
O acompanhamento sistemático de pedidos de acesso e respostas concedidas que tem sido feito pela pesquisa permite
observações sobre os sistemas estabelecidos para atendimento ao cidadão e sobre as dinâmicas que estão
implementadas:
Dentre os pedidos de informação sobre o novo coronavírus, a categoria que mais se destacou em maio foi “Cobrar
explicações e providências” (66%). Em abril de 2020 tinha sido “Pedir proteção econômica” (59%). Pode-se inferir
que, a partir dos pedidos de proteção econômica feitos em abril, o cidadão conseguiu proceder a solicitação para
concessão do auxílio, mas, como visto em maio, não recebeu o dinheiro e cobrou explicações e providências.
O uso intensivo do encaminhamento para Ouvidoria nos pedidos relacionados ao auxílio emergencial denotou a
falta de articulação entre órgãos do governo federal no atendimento à população em uma situação bastante
dramática e confirma a popularização da LAI como um canal de interação do cidadão com o governo.
Categorias de perguntas e tipos
de respostas : conclusões
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As cobranças relacionadas à concessão do auxílio emergencial estão claramente justificadas nos pedidos de acesso,
que indicam a inconsistência entre cadastros e bases de dados governamentais que embasam as políticas públicas
no país.
Em uma emergência de saúde pública, congelamento da economia e pauperização da população os sensos de
urgência e humanidade não deveriam levar o governo federal a priorizar ativamente a articulação entre órgão e
criar procedimentos para proporcionar o auxílio de imediato aos cidadãos mais vulneráveis?
Nos Comunicados 1 e 2, toda a análise foi feita a partir do “Relatório de Pedidos de Acesso à Informação e Solicitantes”
e da base de dados em formato aberto extraídos no dia 1º do mês subsequente ao analisado. Neste terceiro Comunicado,
os dados da base em formato aberto extraídos no dia 01/06/2020 correspondiam aos pedidos realizados até o dia
28/05/2020. Para analisar os dados do mês de maio sem desprezar as informações correspondentes aos três últimos dias
do mês de referência (29, 30 e 31), optou-se por extrair os dados no dia 02/06/2020. Desta extração, foram considerados
os pedidos realizados até o dia 31/05/2020 e respondidos até a véspera da extração.
Nota explicativa
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Bianca da Costa Maia Lopes Diogo Luiz de Jesus Moreira
Lívia Neto Machado Marcia Maria Melo Quintslr
Ana Maria Barcellos Malin
Mestre em Ciência da Informação
pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduado
em Sistemas de Informação pela
Universidade de Vassouras.
Tecnologista em Saúde Pública na
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
E-mail: [email protected]
Doutorando em Ciência da
Informação no PPGCI/UFRJ-
IBICT. Possui mestrado em
Administração pelo Ibmec/RJ e
graduação em Processamento
de Dados. Tem experiência na
área de Ciência da Computação,
com ênfase em Desenvolvimento
de Sistemas de Informação.
E-mail: [email protected]
Doutoranda e mestra em Ciência da
Informação pelo PPGCI/UFRJ-IBICT.
Graduada em Matemática pela UFRJ.
Tecnologista do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatistica (IBGE),
onde atuou como Diretora de
Pesquisas e coordenou estatísticas
sobre condições de vida, consumo,
trabalho e preços. Preside o Comitê
Executivo do Instituto Interamericano
de Estatística (IASI).
E-mail: [email protected]
Thiara dos Santos Alves
Josir Cardoso Gomes
Mestra em Ciência da Informação
pelo PPGCI/UFRJ-IBICT. Graduada
em Comunicação Social/
Jornalismo e Relações Públicas
pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Analista Executiva
no Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
E-mail: [email protected]
Doutoranda pelo PPGCI/UFRJ-
IBICT. Mestra em Ciência da
Informação pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Graduada em História e em
Arquivologia pela UFMG.
Arquivista no Arquivo Nacional.
E-mail: [email protected]
Professora Associada UFRJ, Pesquisadora do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação UFRJ/IBICT, Membro da Associação
Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ANCIB) e da Associação
Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo das Públicas (ANEPCP),
Coordenadora do Observatório de Gestão Pública da Informação
(obgi.org).
Doutoranda e mestra em Ciência
da Informação pelo PPGCI/
UFRJ-IBICT. Graduada em
Comunicação Social pela UFRJ e
Arquivologia pela Universidade
Federal do Estado do Rio de
Janeiro (Unirio). Assessora na
Secretaria de Estado de Fazenda
do Rio de Janeiro (SEFAZ-RJ).
E-mail: [email protected]
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