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    PS-MODERNO, MONSTROS, INUMANO:

    UM HOMEM QUE DORME, DE GEORGES PEREC

    KARIME AMARAL HAUAJI

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    PS-MODERNO, MONSTROS, INUMANO:

    UM HOMEM QUE DORME, DE GEORGES PEREC

    Karime Amaral Hauaji

    Dissertao apresentada ao programa de Ps!

    graduao em Letras" Instituto de #i$n%iasHumanas e Letras" Uni&ersidade 'ederal de Jui(de 'ora" )rea de %on%entrao *eoria daLiteratura" %omo re+uisito , o-teno do t.tulo deMestre em Letras ! *eoria da Literatura/0rientador Pro2/ Dr/ E&ando 3atista 4as%imento/

    Jui( de 'ora" 5667

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    U4I8ER9IDADE 'EDERAL DE JUI: DE '0RAPR0;RAMA DE P0 EM LE*RA9

    DEFESA DE DISSERTAO

    HAUAJI" Karime Amaral/ Ps-moderno, monstros, inumano: Um homem que dorme" de

    ;eorges Pere%. Dissertao de Mestrado em Letras ? *eoria da Literatura/ U'J'" 5667/

    Dissertao apro&ada em @@@@de @@@@@@@@@@ de 5667/

    3A4#A EAMI4AD0RA

    @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@Pro2/ Dr/ E&ando 3atista 4as%imentoB0rientadorC

    @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@Pro2/ Dr/ 8era #asa 4o&aBMem-ro *itularC

    @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@Pro2 Dr Jo&ita Maria ;ereim 4oronaBMem-ro *itularC

    @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@ Pro2 Dr Maria #lara #astellFes de 0li&eira BMem-ro 9uplenteC

    @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@ Pro2 Dr #Glia Pedrosa BMem-ro 9uplenteC

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    Ao meu pai e minha me, sinnimos de sabedoria, porsempre mostrarem o caminho.

    Ao Samir, porque Paris no triste... pare de pensar comoum homem que dorme!

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    AGRADECIMENTOS

    Uni&ersidade 'ederal de Jui( de 'ora" 2un%ion)rios"pro2essores e %olegas de mestrado ao 9enai" %olegas eamigos" pelo apoio e %on%essFes" indispens)&eis a esse

    momento/Aos amigos Ana #arolina" #e%.lia" 8anessa e Eri% por suasestimadas parti%ipaFes" +ue reanimaram mina solit)ria-atala/

    Jo&ita" respons)&el por meu ingresso na Literatura'ran%esa" por seu (elo nesse momento to melindroso/

    Meu re%one%imento espe%ial ao orientador E&ando4as%imento" por seu olar atento e suas &aliosas o-ser&aFeso-rigada por a%reditar ser poss.&el reali(ar este tra-alo/

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    RESUMO

    0 o-jeti&o deste estudo G desen&ol&er algumas dis%ussFes em torno do +ue se nomeia ps!

    moderno" %onsiderando alguns de seus aspe%tos prin%ipais" desde as mudanas o%orridas nas

    %on%epFes de tempo e espao" passando pelo redimensionamento do %on%eito de omem !

    atra&Gs da %ategoria do inumano ! atG a-ordar uma no&a &iso da monstruosidade/ 'inalmente"

    ;eorges Pere%" em espe%ial atra&Gs de sua o-ra Un homme qui dort" G o o-jeto prin%ipal de

    leituras -aseadas nos elementos teratolgi%os/

    N

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    ABSTRACT

    *e aim o2 tis studO is to ela-orate upon some dis%ussions a-out te so!%alled Post!modernitO"

    taing into a%%ount a 2eQ o2 its main 2eatures" going all te QaO 2rom te %anges te %on%epts o2

    time and spa%e a&e su22ered" alongside te re-uilding o2 te %on%eption o2 man troug te

    %ategorO o2 te inuman" to an approa% to a neQ &ieQ o2 te monstrous/ 'inallO" ;eorges

    Pere%" parti%ularlO -O means o2 is Un "omme qui #ort, is te main su-je%t o2 some readings

    2ounded on teratologi% elements/

    S

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    $i%ura a escre&er no espe'ho, de $rancis (acon )*+

    T

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    /uando e'e descobrir quem e'e ,o que poder0 conso'0-'o12...3 porque na 4erra,

    todos que &i&em, &i&em em um sonho.

    Pedro 5a'dern de 'a (arca, A 6ida sonho

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    SUMRIO

    1- APRESENTAO p/ 15

    2- OS NOVOS TEMPOS p/ 1N

    5/1! Um 0lar so-re o Ps!Moderno p/ 1N

    5/5! 0 #i-erespao entre ritos e mitos p/ 5

    5/! A Vuesto da su-jeti&idade e o ps!moderno p/ T

    3- A REIVENO DO CORPO p/ 75

    /1! 0 Inumano p/ 7S

    /5! 4o&as 2rmulas para o %orpo o omem!animal" o omem!m)+uina/ p/ 6

    /! A Propsito do eri %otidiano p/ S

    /7! 0 ;rotes%o p/ N

    /! #lonagem o outro +ue G o mesmo sendo outro p/ NS

    /N! 0s Monstros p/ S6

    4- A DESSUBSTANCIAI!AO DO SU"EITO EM UM HOMEM QUE DORMEp/ S7

    7/1!A Possi-ilidade auto-iogr)2i%a p/ SN

    7.*.*- 8 9o%o: o 'aboratrio do teto e suas in;'usmo p/ T

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    7.*.?- A @scrita simb'ica em p/ TS

    7/5! 0 DWpli%e p/ 5 7.=.*- 8s Ps inchados do homem que dorme p/ 7

    7/! Um "omem que dorme p/ T

    7.?.*- 8 "omem de Perec e o o>moro nii'ista p/ 165

    7.?.=- Bo'em: homem de barro, homem que dorme p/ 16N

    7.?.?- Prip'os: o discurso do si'

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    1- APRESENTAO

    Vue milagre G o omemXVue sono" +ue som-raX

    Mas eYiste o omemX

    #arlos Drummond de Andrade"@specu'aCDes em torno da pa'a&ra homem

    Espe%ular so-re a signi2i%ao de um &o%)-ulo G admitir as 2alas geradas pela

    multipli%idade de suas e&o%aFes desse modo" +uando nos propomos in&estigar a pala&ra

    H0MEM" simultaneamente se des&elam as imper2eiFes de +ue o prprio omem se re&este/

    Ponto de partida deli%ado G mensurar seu &alor" %omo o assinala #arlos Drummond de Andrade"

    no poema Espe%ulaFes em torno da pala&ra omem B1S7" p/ 55NC/

    0 +ue o poeta -rasileiro 2a( ao passar a &ida a limpo" em %erto sentido" G o mesmo +ue

    tem proposto o pensamento 2ran%$s j) ) algumas dG%adas a re&iso dos %on%eitos de

    umanismo/ Em %onse+Z$n%ia disso" pensadores %omo Mi%el 'ou%ault" Ja%+ues Derrida e

    Roland 3artes re%e-eram a pe%a de anti!umanistas tendo apontado uma no&a %on%epo

    a%er%a da import[n%ia do omem" retirando!o do %entro" os no&os pensadores" %omo 2oi

    entendido" estariam rompendo %om a tradio" ao se -asear em pre%eitos %omo os de

    des%onstruo" de no!ideali(ao do humano/

    4esse sentido se 2a( mister %ompreender o apare%imento de apre%iaFes %omo inumano

    ou a'm-do-humano" as +uais atuaro junto ," a partir de" mas nem sempre em oposio ,

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    idGia de humano/Assim G +ue se pretende" a+ui" dis%utir esses no&os julgamentos" +ue" presentes

    na &ida %ontempor[nea" ganam e&id$n%ia/

    4o primeiro %ap.tulo" dis%utiremos algumas +uestFes em torno da ps!modernidade seuorganismo de 2un%ionamento" os elementos +ue a moti&am e os +ue" simultaneamente" so por ela

    moti&ados/ #onsideraremos" para isso" as no&as relaFes de tempo e de espao geradas"

    prin%ipalmente" pelo a&ano das tG%ni%as e da te%nologia o a-rolar do %i-erespao" as

    trans2ormaFes do sujeito" desde sua no&a %ondio no mundo" no intuito de &islum-rar se ou&e"

    de 2ato" uma ruptura entre a ps!modernidade e o per.odo +ue a ante%edeu" ou se" %omo sugeriu

    LOotard B1SC" a modernidade sempre este&e gr)&ida da ps!modernidade/

    4ossa inteno no G 2a(er &asta an)lise dos termos ps!modernismo ou modernismo

    ! em-ora sejam termos utili(ados por alguns dos autores a partir dos +uais nos propusemos a

    reali(ar -re&e leitura ! uma &e( +ue estes so %onsiderados mo&imentos %ulturais o o-jeti&o"

    antes" G interrogar" ou &eri2i%ar a posio de uma so%iedade ainda em 2ase de transmutao"

    nomeada ipotGti%a e liminarmente %omo ps!moderna/

    Para tanto" ser!nos!) ne%ess)rio eYaminar +ual a par%ela de&ida ao omem" desde o

    momento em +ue o pensamento Iluminista G +uestionado" a&aliando as %onse+Z$n%ias a%arretadas

    pela Morte de Deus" a Morte do omem" ou mesmo pela Morte do autor/

    4o segundo %ap.tulo nossos olares &oltar!se!o para esse no&o omem/ 9e alteraFes

    o%orreram" elas esto atreladas ao nas%imento dos organismos desorgani(ados" %uja

    des%end$n%ia patGti%a se 2a(" muitas &e(es" pelos prolongamentos tG%ni%os aos +uais t$m a%esso

    tais organismos/ 0 grotes%o" o -i(arro e o monstruoso 2orne%ero" ainda" su-s.dios para

    apreendermos a respeito da nature(a desse no&o omem/

    0 inumano" ou o alGm!do!umano" nas%ido no s das mudanas te%nolgi%as" mas"

    so-retudo" de no&as per%epFes 2ilos2i%as" guiar) o nosso olar/ Entendemos +ue o inumano

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    a%eita uma %ompreenso tanto positi&a" +uanto negati&a/ A primeira" %on%ernente ,+uilo +ue no

    omem ultrapassa o prprio umano" ou" na %on%epo niet(s%iana" +ue &ai alGm do umano"

    pode ser entendida %omo uma 2orma de redimensionar o omem" sem" ne%essariamente" neg)!lo"mas arti%ulando os no&os &alores da. depreendidos/ A segunda &iso %ompreende o inumano

    %omo uma 2orma destruti&a" um modo de ani+uilar o prprio omem/ 0 pro-lema do inumano"

    seja em um sentido positi&o ou negati&o" G +ue ele nos impele a no mais a%eitar o +ue se

    %ompreendeu" atG a+ui" %omo umano/

    \ nesse mesmo espao" do inumano" do monstro" da 2ronteira" do omem em seu habitat

    ps!moderno" +ue surgir) tam-Gm Bimpli%ado" atG" pela %lonagemC o duplo/ Essa dupli%ao di(

    respeito tanto aos desdo-ramentos 2.si%os" +uanto aos psi%olgi%os isto G" dupli%ao gerada"

    muitas &e(es" por espelos mais ou menos sat[ni%os e +ue permitem ao omem &islum-rar a si

    mesmo/

    Por isso G +ue" no ter%eiro %ap.tulo" nos &oltaremos para um desses %asos de e2eito do

    dWpli%e na literatura uni&ersal/ ;eorges Pere%" autor 2ran%$s do sG%ulo " ser) o nosso o-jeto

    para" atra&Gs da o-ra Un homme qui dort"pu-li%ada na dG%ada de N6" atingir essas +uestFes +ue

    permeiam o prprio omem/

    Ainda +ue no teYto de ;eorges Pere% no sejam en%ontrados" eYpli%itamente" um

    'raneinstein" um &ampiro ou +ual+uer outra deidade a&ernal" o Homem de Pere% %uidar) de

    ser ele mesmo esse monstro/ Analisaremos a o-ra a partir de A cu'tura dos monstrossete teses

    B#0HE4" 5666C" -us%ando %ompreender o +u$ ou +uem G o monstro" ente lim.tro2e" a +ue

    rela%ionaremos o personagem/

    *am-Gm ser) %onsiderada a +uesto do juda.smo" intr.nse%a , %ondio do autor"

    mani2estada de 2orma %ons%iente ou no seus teYtos/ Por isso" es%olemos o ;olem

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    Bespe%i2i%amente o des%rito por MeOrinC %omo uma 2orma de assinalar tais nuan%es da %ultura

    e-rai%a" presentes tam-Gm em outras o-ras de Pere%" %omo ou Ees sou&enirs dF en;ance/

    Ressaltamos ainda +ue o teYto por ns es%olido %ompete ! em termos de periodi(aodos mo&imentos liter)rios ! ao 2inal do Modernismo" o +ue nos in%ita ainda mais a +uerer

    %ompreender de +ue modo ele pode ser aproYimado , ps!modernidade" permitindo uma 2orma

    de leitura de um omem +ue tende ao inumano" ao monstruoso" e" %onse+Zentemente" a uma

    interpretao de ns mesmos/

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    2-OS NOVOS TEMPOS

    E +uando" ao %a-o do Wltimo mil$nio"A umanidade &ai pesar seu g$nio

    En%ontra o mundo" +ue ela en%eu" &a(io]

    Augusto dos Anjos" 8 ;im das 5oisas

    5/1!Um 0lar so-re o Ps!Moderno

    Espao e tempo" j) no se pode senti!los da mesma maneira &$m se reorgani(ando"

    a2etados pela %on%epo o%idental de +ue o mundo de&e ser &isto de uma maneira glo-al/ E G a

    partir dessa no&a %ompreenso" seja ela so%ial" e%on^mi%a" ou mesmo %ultural +ue" em geral" se

    %ara%teri(a o +ue entendemos por ps!modernidade/

    De 2ato" a so%iedade se trans2orma" seus .%ones se multipli%am/ Assumimos uma postura

    digitali(ada ante o +ue %onsumimos" permitindo" assim" +ue o sistema -in)rio 6_1 %ontrole muitos

    de nossos m.nimos gestos/ Predomina muitas &e(es a entrega ao pra(er" ao %onsumo e ao

    indi&idualismo/ Aos pou%os" apaga!se a di2erena entre o real e o imagin)rio 2a-ri%a!se o iper!

    real" o %ulto ao simula%ro/

    4este am-iente" 2iYam!se" entre o omem e o uni&erso leg.timo" os meios te%nolgi%os

    de %omuni%ao" ou seja" de simulao/ As dist[n%ias so en%urtadas e o mundo torna!se um

    grande espet)%ulo/ #on%eitos %omo o de prolet)rio ou o de re&oluo" %omuns ao am-iente da

    modernidade" %edem lugar aos chips" ao niilismo" , simulao/

    1N

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    Aos no&os pro%essos mimGti%os ad&indos da te%nologia" soma!se uma %olossal %rise do

    indi&.duo" +ue passa a ser entendido %omo um sujeito sem espao ou" so- uma ti%a mais

    pessimista" sujeito ineYistente a%res%ente!se a isso uma %rise do naciona',su-stitu.do em partepelo%'oba',pelos no&os re2eren%iais de tempo e espao" alGm de uma mani2esta %rise da arte e da

    literatura" &istas so- a perspe%ti&a do %^mi%o ou da -anali(ao" numa no&a so%iedade ps!

    industrial" +ue trans2orma em arte o-jetos do dia!a!dia" dando %ontinuidade ao pro%esso de

    desesteti(ao do %otidiano e , esteti(ao generali(ada" ini%iada nos primrdios do sG%ulo "

    pelos mo&imentos de &anguarda/

    0 ps!moderno" a prin%.pio" se presta , tG%ni%a" ou , te%nologia" e pode perder a sua

    2uno %at)rti%a" passando a eYistir" su-sistir" ou mesmo a &oltar!se %ontra o omem/ 9e" por

    um lado" as tG%ni%as %ontri-uem para o a&ano do omem" por outro" sua m) utili(ao 2a( gerar

    o ris%o de destituio de um o-jeti&o Bte'osC" su-stituindo a sua inten%ionalidade/ AlGm disso"

    atra&Gs das distorFes das mitopoiesis,pode!se pro&o%ar um dese+uil.-rio Gti%o" so%ial e ra%ial"

    +ue relega a tG%ni%a , unsGi';u'ness.

    Pro%esso tam-Gm sus%et.&el de o%orr$n%ia" a ;etichiHaCo da tG%ni%a pode rei2i%ar o

    omem" eliminando!o de sua %ondio de motor da so%iedade/ A%onte%e +ue" segundo ;illo

    Dor2les" em Io&os ritos, no&os mitos B1S6C" en+uanto os instrumentos" as 2erramentas" so

    %on%e-idos %omo prolongamentos dos mem-ros 2.si%os e ps.+ui%os" isso pare%e algo l.%ito" mas

    +uando essas in&enFes in%idem so-re o ego umano" instaura!se o perigo/ A eYtino do te'os G

    +ue le&a ,;etichiHaCoda tG%ni%a/ A antropomor2i(ao dos o-jetos G %onse+Z$n%ia da relao

    %ontempor[nea doentia entre o omem e suas m)+uinas e ao ini-ir determinados 2atores"

    so-ressaem!se aspe%tos m)gi%o!m.ti%os +ue tornam o omem es%ra&o de suas prprias in&enFes/

    Assim" as tG%ni%as a%a-am por 2i%ar ainda mais misteriosas guardando um poder de atrao/

    1S

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    Pierre LG&O pondera +ue as tG%ni%as %arregam %onsigo projetos" es+uemas imagin)rios"

    impli%aFes so%iais e %ulturais -astante &ariados B1" p/ 5C/ 9e" no passado" as m)+uinas

    ser&iam para es%ra&i(ar um oper)rio Bre%ordemos 4empos Jodernos" de #arles #aplin" a%l)ssi%a %ena do omem" em sua no!ao" passeando por entre engrenagens" ou das meta2ri%as

    o&elas atropelando!se" prontas , tos+uiaC se a automati(ao sempre 2oi o gigante a engolir uma

    gerao inteira prestes a se tornar massa desempregada" na imin$n%ia de su%um-ir , tG%ni%a

    somada de te%nologia" o %omputador G" por outro lado" o grande milagre %apa( de &ia-ili(ar

    uma rede mundial de %omuni%ao/

    'oi dito +ue a 2uno essen%ial da tG%ni%a G %ausar uma %onstante metamor2ose no modo

    natural" aja &ista a passagem do omem tri-al ao omem dos grandes pal)%ios ! poss.&el graas

    , utili(ao da tG%ni%a/ 0 +ue assistimos" porGm" muitas &e(es" G a %iso de algumas tG%ni%as" o

    +ue in%orre na autonomia de suas 2unFes espe%.2i%as

    *oda a des%o-erta %ient.2i%a" toda a in&eno tG%ni%a Be te%nolgi%aC e art.sti%atem a-itualmente" de in.%io" uma 2uno %at)rti%a li-erta o omem da sujeioa uma situao de es%ra&ido" de su-misso" +ue pode ser 2.si%a Bser&os dagle-aC" ps.+ui%a" so%ial B%lasses" %astas" et%/C BD0R'LE9" 1S6" p/ 57C/

    Assim" en+uanto Dor2les dis%ursa %om %erta apreenso a%er%a do momento ento &i&ido"

    Pierre LG&O" +uase tr$s dG%adas depois" aponta para o lugar de oje" onde a umanidade se

    desen&ol&e o %i-erespao/

    J) Ro-erto #ardoso 0li&eira B1" p/ 5SC" em uma &iso antropolgi%a" a&alia +ue a

    %ondio ps!moderna a%onte%e a partir do interior das so%iedades in2ormati(adas" ps!

    industriais" o +ue 2a( a2etar a pes+uisa e a transmisso de %one%imento/

    1T

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    A2irmao semelante 2a( 4i%olau 9e&%eno" no artigo 0 enigma ps!moderno" +uando

    pFe em rele&o a +uesto do tempo" ainda +ue no omog$neo e linear" di2i%ultando o re%orte

    simplista +ue muitas &e(es somos tentados a 2a(er/ Assim de2ine o ps!moderno

    *rata!se antes de uma atitude nas%ida do espanto" do desen%anto" da amarguraa2liti&a" +ue pro%ura se re%onstruir em seguida %omo alternati&a par%ialdesprendida do sono de arrog[n%ia" de unidade e poder" de %ujo nau2r)gioparti%ipou" mas de%idiu sal&ar!se a tempo" le&ando %onsigo o +ue pode resgatarda esperana B9E8#E4K0" 1" p/ 7C/

    Para 9e&%eno" a sal&ao re2ere!se ao mal do progresso" , an)lise pi%tri%a ela-orada

    por 3enjamim a partir da o-ra de Paul Klee" Angelus 4o&us B156C/ 4o +uadro" o anjo

    retratado permane%e est)ti%o" em-ora eYpresse %lara inteno de mo&er!se sua atitude pare%e

    representar a re-eldia impotente %omum ,+uele +ue" ao assistir , %ondenao do mundo"

    &islum-ra" %omo Janus 1" o passado e o presente simultaneamente G o anjo da prpria Histria/

    4o entanto" apesar de denominado 4o&us" o anjo de Klee B2ig/61C G impotente e de%a.do seu

    %astigo G a imortalidade +ue o %ondena ao estado de paralisia e de mera eYpe%tao ele %uja

    misso pre%.pua G agir e sal&ar" `assiste , destruio do mundo e , degradao de si mesmo

    B9E8#E4K0" 1" p/ 6C/

    1 Janus era o respons)&el pela porta dos %Gus na mitologia romana/ #omo entidade guardi das portas" erageralmente apresentado %om duas %a-eas" pois todas as portas se &oltam para os dois lados B3UL'I4#H" s_d/ p/1C" justi2i%ando o por+u$ de ser sempre re2eren%iado %omo a+uele +ue tem a%esso ao dentro e ao 2ora" ao passado eao presente/

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    B2ig/61CAn%e'us Io&us,de Paul Klee B156C/

    0 teYto de 3enjamin e o +uadro de Paul Klee deiYam transpare%er %erto des%on2orto"

    per%ept.&el na+ueles +ue apostaram nas &anguardas modernistas" as +uais aponta&am para

    trans2ormao da so%iedade a partir da 2uso da arte" da tG%ni%a e da &ida/ Assim" Angelus

    4o&us representa" %on2orme 9e&%eno" o intele%tual" o artista aps a perda da ino%$n%ia do

    sono modernista/

    9e o mo&imento do moderno no 2oi omog$neo" o do ps!moderno eYpFe ainda mais essas

    am-igZidades/ Um momento &oltado para o des pro&o%a uma ruptura %om a+uilo +ue ainda

    esta&a inta%to no modernismo/ Em termos prin%ipalmente liter)rios" a interteYtualidade G a mar%a

    do ps!modernismo a su-jeti&idade a-re espao , intersu-jeti&idade a +ueda do roman%e

    tradi%ional d) lugar ,s meta2i%Fes" in2iltradas pelo -urles%o ! %omo em Eost in the ;unhouse

    B1NTC" de Jon 3art ! ou impregnadas de uma pl$iade real e 2i%%ional ! %omo eYplorou E/ L/

    Do%torroQ" emKa%time B1NC/

    56

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    9urge" ento" o +uestionamento o ps!moderno G tend$n%ia meramente art.sti%a ou pode ser

    ampliado , es2era so%ialX

    'oi o %r.ti%o Ia- Hassan" %ola-orador da re&ista boundarL =,+uem lanou a noo de ps!modernismo" ora radi%ali(ando" ora rejeitando as %ara%ter.sti%as do modernismo/ 0 primeiro a

    estender a apre%iao a todas as artes in%lui" em seu estudo so-re os no&os traos do ps!

    modernismo" nomes %omo os de Raus%en-erg" 'uller" #age e M%Luan/ Hassan apro&eita

    ultramodernismo" termo %riado por 0n.s" nos anos 6" ao de2ender tal eYist$n%ia `/// o ps!

    modernismo sugere um tipo di2erente de 2orma de a%omodao entre a arte e a so%iedade

    BHA99A4 apudA4DER904" 1" p/ 5NC/ Entretanto" mais tarde se &iu o-rigado a re%one%er

    +ue o prprio ps!modernismo mudou e a%a-ou por dar uma guinada errada" permane%endo preso

    em seu Gitsch.

    A ar+uitetura" por sua &e(" %omo nos reporta PerrO Anderson B1C" G uma das eYpressFes

    +ue ajudam a di&ulgar a teori(ao so-re o ps!moderno/ Desta%a!se" nesse sentido" um

    mani2esto pu-li%ado na dG%ada de S6" por Ro-ert 8enturi" Denise 9%ott 3roQn e 9te&en I(enour"

    Eearnin% ;rom Eas 6e%as/ Mas G #arles Jen%s o primeiro a es%re&er so-re o ps!moderno"

    %ompartilando %om Hassan a idGia do prolongamento da eYist$n%ia de um modernismo" ou

    melor" a eYist$n%ia de um ultramodernismo/

    Em 1T6" tam-Gm JZrgen Ha-ermas" o prin%ipal 2ilso2o europeu da Gpo%a" pu-li%a

    Jodernidade M Um proNeto incomp'eto, %onsiderado" erroneamente 5"%on2orme Anderson B1"

    p/ 7C" um ata+ue ao teYto pu-li%ado um ano antes por Jean!'ranois LOotard/ Ha-ermas 2oi o

    primeiro a de%larar +ue as &anguardas a&iam en&ele%ido e +ue o esp.rito no&o da modernidade"

    nas%ido %om 3audelaire" a&ia de%linado e a isso o ps!modernismo de&ia sua as%enso/

    50 e+u.&o%o teria se dado uma &e( +ue Ha-ermas no sa-ia so-re o teYto de LOotard/

    Em 1S" LOotard pu-li%aA condiCo ps-moderna.

    51

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    9ua de2inio de modernidade tomada de be-er de modo %r.ti%o"essen%ialmente a redu(ia a mera di2eren%iao 2ormal de es2eras de &alor ! a +ueento a%res%entou" %omo uma aspirao ao Iluminismo" sua re%on2igurao%omo re%ursos inter%omuni%antes no mundo da &ida" `/// 0 +ue 2i%a -em %laro"no entanto" G +ue o cprojeto da modernidade %omo ele o traou G um am)lgama%ontraditrio de dois prin%.pios opostos espe%iali(ao e populari(aoBA4DER904" 1" p/ 7NC/

    #omo eYpli%ita PerrO Anderson B1" p/ 7C" o projeto Iluminista a&ia perdido seu rumo

    e o mundo urgia por uma 2G +ue o re2reasse/ 0 Iluminismo +ueria di2eren%iar %i$n%ias"

    moralidade e arte" estas go&ernadas" respe%ti&amente" pela &erdade" justia e -ele(a e" alGm disso"

    inten%iona&a +ue esses dom.nios ti&essem li&re %ir%ulao na &ida %otidiana" a 2im de enri+ue%$!

    la/ 4o entanto" ou&e uma 2alta de %ontrole" pois %ada uma ! &erdade" justia e -ele(a ! 2e%ou!se

    em seu mundo/ 0 projeto da modernidade de&eria ser reali(ado" mas +ue-rar as es2eras poderia

    representar o retro%esso trata&a!se de uma empreitada +uase imprati%)&el/ De um modo ou de

    outro" o ps!modernismo 2oi o +ue permitiu o i-ridismo de tais 2ronteiras/

    'oi Jean!'ranois LOotard" emA condiCo ps-moderna B5665C" entretanto" o primeiro a

    2a(er uma an)lise 2ilos2i%a so-re o +ue %amou de ps!modernidade ! termo emprestado de

    Hassan/ Para ele" a ps!modernidade liga&a!se , eYist$n%ia da so%iedade ps!industrial" %ujo

    %one%imento era a 2ora e%on^mi%a de produo e +ue gana %onotao de rede de

    %omuni%aFes lingZ.sti%as e de inter!relaFes/ LOotard %ompreende +ue o ps!moderno designa

    o estado da %ultura aps as trans2ormaFes +ue a2etaram as regras dos jogos da %i$n%ia" da

    literatura e das artes a partir do 2inal do sG%ulo I BL0*ARD" 5665" p/ Y&C/ 0 sa-er so2re

    uma alterao , proporo em +ue se entra na idade ps!industrial" modi2i%ando!se" por

    %onseguinte" as relaFes da so%iedade %i&il e o poder pW-li%o/ 0 %one%imento passa a ser

    entendido %omo +uantidade de in2ormao re%e-ida/ *anto o sa-er %ient.2i%o +uanto o tG%ni%o

    55

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    podem ser a%umulados no entanto" no G o %ient.2i%o o Wni%o tipo de sa-er ) tam-Gm o sa-er

    narrati&o +ue" em-ora no pre&alea so-re o primeiro" interage %om ele so-remaneira/

    LOotard %onsidera ainda as regras +ue regem o prprio dis%urso %ient.2i%o para +ue umenun%iado se torne %ient.2i%o" G pre%iso su-met$!lo a uma sGrie de %ondiFes/ Assim G poss.&el

    pers%rutar em LOotard a dis%usso so-re a legitimao e a deslegitimao a legitimao G o

    pro%esso pelo +ual um clegislador ao tratar do dis%urso %ient.2i%o G autori(ado a pres%re&er as

    %ondiFes esta-ele%idas `/// para +ue um enun%iado 2aa parte deste dis%urso e possa ser le&ado

    em %onsiderao pela %omunidade %ient.2i%a BL0*ARD" 5665" p/ 1C/

    Ele nos relem-ra o 2ato de +ue a legitimao en%ontra!se ligada , +uesto da legitimao

    do legislador desde o dis%urso de Plato/ Para se de%idir o +ue G &erdadeiro G pre%iso %onsiderar

    o +ue G justo" %on%eito atrelado , %i$n%ia" , Gti%a e , pol.ti%a/ Portanto" sa-er e poder %aminam

    juntos/

    0 sa-er no G" %ontudo" uma a-ordagem eY%lusi&a dos enun%iados denotati&os ele al%ana

    o sa-er!ser" o sa-er!2a(er" o sa-er!&i&er" entre outros %ompreende a 2ormao das %ompet$n%ias"

    +ue se 2iYam num tr.pli%e patamar sa-er!2alar" sa-er!ou&ir" sa-er!2a(er Brepresentados pelo

    emissor" pelo re%eptor e pela prpria mensagemC" tornando!se o relato" de 2ato" o g$nero por

    eY%el$n%ia do sa-er %ient.2i%o/ Assim" o sa-er G o demar%ador entre instruo e ignor[n%ia" %apa(

    de determinar a %ultura de um po&o/

    9e o relato G a 2orma por eY%el$n%ia do sa-er" ento" a %i$n%ia retorna a mero jogo de

    linguagem" no podendo mais rei&indi%ar sua prima(ia" %omo na era moderna/ 9o-re os jogos de

    linguagem" &ale ressaltar tr$s o-ser&aFes iC as regras so uma espG%ie de %ontrato entre os

    jogadores" de 2orma eYpl.%ita ou no iiC na aus$n%ia de regras no eYiste jogo iiiC todo enun%iado

    G um lan%e 2eito no jogo/ H)" para LOotard" uma regra +ue rege todas as outras 2alar G

    %om-ater" tomado a+ui %omo jogar" e os nossos atos de linguagem pro&$m de uma agon.sti%a

    5

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    geral/ Desse modo" o &erdadeiro sa-er G sempre um sa-er indireto" 2eito de enun%iados

    re%olidos" e in%orporados ao metarrelato de um sujeito +ue le assegura a legitimidade

    BL0*ARD" 5665" p/ NC/ A grande +uesto G +ue os jogos de linguagem &o tornar!se jogospara pou%os" ou seja" a ri+ue(a passar) a ser sin^nimo de e2i%i$n%ia e &erdade/

    0 enigma agora G des%o-rir o jogo do ad&ers)rio/ A %on%luso a +ue %ega LOotard" no

    entender de 9il&iano 9antiago 7BL0*ARD" 5665" p/ 16C" de 2orma premonitria" G +ue o sa-er

    na so%iedade ps!industrial %on&erte!se em su-alternao para os pa.ses peri2Gri%os o a%esso ,

    re&oluo ps!industrial est) no sa-er e este pode ou no ser 2orne%ido aos pa.ses em

    desen&ol&imento/

    0 trao de2inidor da ps!modernidade" para LOotard" G a perda da %redi-ilidade nas

    metanarrati&as" des2eitas pela e&oluo da prpria %i$n%ia/ A %rise do sa-er %ient.2i%o Bdesde o

    sG%ulo IC" %omo LOotard denominou" no pro&Gm de uma proli2erao 2ortuita das %i$n%ias"

    +ue seria ela mesma o e2eito do progresso" das tG%ni%as e da eYpanso do %apitalismo/ Ela

    pro%ede da eroso interna do prin%.pio de legitimao do sa-er BL0*ARD" 5665" p/ S1C/ 9e"

    por um lado" um %ientista interroga os enun%iados narrati&os" o in&erso no G &erdadeiro" se -em

    +ue am-os os dis%ursos sejam 2ormados por %onjuntos de enun%iados/ EYiste uma relao

    desigual e ela G origin)ria dos lan%es 2eitos de a%ordo %om as regras intr.nse%as a %ada jogo/

    PerrO Anderson" em sua leitura so-re LOotard" aponta para a eYist$n%ia de %ontratos

    tempor)rios em todas as )reas da &i&$n%ia" mais 2leY.&eis e %riati&os +ue os da modernidade/

    A%res%enta ainda +ue em outra o-ra"#ri&e a patir de Jar e $reud B1SC" LOotard %on%luiu

    +ue no ) nada no apitalismo sic" nenuma dialGti%a +ue o le&e a sua superao e su%esso

    70 artigo 2oi pu-li%ado no Jornal do 3rasil" de 6 de Juno de 16" originalmente" mas 2igura agora %omo pos2)%ioem L0*ARD" 5665/

    57

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    pelo so%ialismo est) agora %laro para todos +ue o so%ialismo G igual ao apitalismo

    BL0*ARD apud A4DER904" 1" p/ 7C/

    Assim" %omo ou&esse %ingido sua an)lise do ps!industrial emA condiCo ps-modernaao &iGs puramente %ient.2i%o" LOotard se &$ 2orado a es%re&er tam-Gm so-re a pol.ti%a e as artes"

    no intuito de %ompreender %omo a ps!modernidade opera tam-Gm nessas duas )reas/

    #omplementa" ento" pelo menos em relao ,s artes" +ue o pro-lema reside no 2ato de +ue o

    ps!moderno entrou em &a%[n%ia sem alguma integrao intele%tual/ 4o -astaria a alguGm se

    de%larar ps!moderno" num %ampo ainda ideologi%amente in%onsistente" arraigado ,s &elas

    idGias/ Portanto" o ps!moderno era um prin%.pio perene ao in&Gs de uma %ategoria de per.odo"

    2un%ionando %omo uma restaurao do realismo" %ontra o +ual as &anguardas tanto luta&am/

    :Ogmunt 3auman G +uem eYpli%a o termo a&ant-%arde B&anguardaC" em 8 ma' estar da

    ps-modernidade B1TC" %omo sendo o grupo +ue toma 2rente no %orpo mais importante das

    2oras armadas" a guarda %onsiderada a&anada" j) +ue para o inimigo 2i%a a idGia de +ue a+ueles

    +ue a seguem repetiro seus gestos

    0 %on%eito de &anguarda transmite a idGia de um espao e tempo essen%ialmenteordenado" e de um essen%ial interajustamento das duas ordens/ 4um mundo em+ue se pode 2alar de a&ant-%arde cpara a 2rente e cpara tr)s t$m"simultaneamente" dimensFes espa%iais e temporais B3AUMA4" 1T" p/ 151C/

    0 mundo ps!moderno pode" por sua &e(" ser tudo" menos im&el ! G %onstitu.do de

    mo&imentos aleatrios" sem direo/ 4o G poss.&el di2eren%iar o +ue G progressi&o do +ue G

    retrgrado" no eYiste mo&imento uni2i%ado/ 9egundo 3auman" se ou&e +ual+uer ato de

    &anguarda" essa 2oi graas ao mo&imento modernista" +ue agiu em protesto %ontra as aFes no

    %umpridas da modernidade/ A in+uietao de&ia!se ao dissa-or da pala&ra no eYer%ida" numa

    guerra em nome da a%elerao esta&am %ertos de +ue o passado G ana%r^ni%o e de +ue o de&ir G

    5

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    sempre melor/ 0s modernistas tomaram realmente o sentido de serem modernos e" di(em" 2oram

    mais modernos +ue a prpria modernidade/ Eles eYistiram graas a ela" ser&iram!se dela e

    ser&iram a ela/Por outro lado" o %ontra!senso no residia somente na de%epo da &anguarda por ser

    rejeitada" mas tam-Gm por ser %ompreendida/ A arte +ue dita&a o +ue era de mau gosto passou"

    ao mesmo tempo em +ue era %apa( de estrati2i%ar" a ser al&o de %onsumo da+ueles +ue gostariam

    de pare%er atuali(ados %om a modernidade/ Aos pou%os" os limites e as 2ronteiras para

    transgressFes 2oram se esgotando e o +ue eram sinais ino&adores" se tornaram 2atos %omuns" do

    mesmo modo +ue oje a e%loso nada re&olu%ion)ria das tatuagens" piercin%s e tantas outras

    mani2estaFes" ganam ares de med.o%res e passam a ser ritosin materia B%on2orme &eremos no

    item 5/5C/ A arte modernista res&alou!se numa espG%ie de autodestruio pode!se di(er +ue as

    artes de &anguarda demonstraram ser modernas em sua inteno" mas ps!modernas em suas

    %onse+Z$n%ias Bsuas impre&istas" mas ine&it)&eis" %onse+Z$n%iasC B3AUMA4" 1T" p/ 15SC/

    #on2orme 3auman" 2alar em &anguarda ps!moderna G uma par%ial %ontradio" j) +ue

    no 2a( sentido pensar em &anguarda no ps!moderno" pois G este o espao mesmo da %oa-itao"

    onde tudo G poss.&el/ 4o ) mais %omo 2irmar o +ue G %an^ni%o" de%idir o +ue G arte de 2ato/ 0

    retorno da j) %edia +uesto o +ue G arteX nos d) a impresso de +ue agora a arte G %omo

    +ual+uer outro o-jeto utilit)rio a &enda no mer%ado/ Ela G a %ultura do simula%ro/

    #omo sugere 3audrillard" a import[n%ia da o-ra de arte G medida" oje" pelapu-li%idade e notoriedade B+uanto maior a platGia" maior a o-ra de arteC/ 4o G opoder da imagem ou o poder arre-atador da &o( +ue de%ide a cgrande(a da%riao" mas a e2i%i$n%ia das m)+uinas reprodutoras e %opiadoras ! 2atores 2orado %ontrole dos artistas B3AUMA4" 1T" p/ 16C/

    5N

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    Em-ora no tena sido isso a +ue se propuseram os &anguardistas" eles deiYaram %omo

    legado a imagem de +uem 2a( %om +ue a istria a&an%e/

    \ 'redri% Jameson" emPs-modernismo, a '%ica cu'tura' docapita'ismo tardio B5665C"+uem a-orda o mo&imento ps!moderno em todos os seus aspe%tos" desen&ol&endo a dialGti%a da

    %ultura do %apital sua teoria" +ue %omeou limitada , AmGri%a do 4orte" ampliou!se/ Em uma

    an)lise notadamente %ompartimentada" Jameson analisa as alteraFes da so%iedade nas es2eras

    teri%as" %ulturais" art.sti%as" pol.ti%as e e%on^mi%as" sem se des%uidar mesmo do +ue di( respeito

    ao %inema" ar+uitetura ou &.deo/

    9egundo ele" ps!modernismo G uma tentati&a de pensar o presente" mesmo +ue esse

    a%a-e no sendo mais do +ue uma teori(ao de sua prpria %ondio/ 0 modernismo j) se

    preo%upa&a em %aptar o no&o" en+uanto o ps!modernismo -us%a as rupturas" os deslo%amentos"

    as alteraFes nas representaFes dos o-jetos/ 4o primeiro mo&imento" ainda se pode di&isar

    alguma relao %om o ar%ai%o no segundo" a+uilo +ue perten%ia , nature(a pode %eder lugar ,

    %ultura/ Ainda para Jameson" a ps!modernidade a-re espao , esteti(ao da realidade" %omo

    dito antes" esta-ele%endo uma partida ao %onsumo da produo" em &e( de %r.ti%a , mer%adoria"

    %omo nos tempos modernos/ *ransmuda!se a prpria teoria" +uando tend$n%ias de nature(as

    di2erentes %on&ergem para dar %onta da teoria do ps!modernismo/

    `/// o ps!modernismo no G a dominante %ultural de uma ordem so%ialtotalmente no&a Bso- o nome de so%iedade ps!industrial" esse -oato alimentou a

    m.dia por algum tempoC" mas G apenas re2leYo e aspe%to %on%omitante de maisuma modi2i%ao sist$mi%a do prprio %apitalismo BJAME904" 5665" p/ 1NC/

    0 ps!modernismo G uma aglutinao de 2en^menos" alguns j) eYistentes" mas sem

    %lassi2i%ao atG ento re%atalog)!los 2a( %om +ue esses 2en^menos 2amiliares sejam" de alguma

    2orma" reem-aralados" alterando" %omo a2irma Jameson" o %[none/ 9e para be-er

    5S

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    BJAME904" 5665" p/ 1TC os no&os &alores 2oram %apa(es de 2a(er 2lores%er um po&o no&o" o

    ps!moderno possi-ilitou o surgimento dos sujeitos ps!modernos" tornando imposs.&el e&itar

    o uso da pala&ra/ medida +ue s per%e-emos o sistema +ue nos domina de 2orma gradual e aposteriori, no G de se espantar +ue todos os argumentos j) esti&essem presentes" 2altando apenas

    organi()!los/

    0 ps!moderno" %omo %ategoria %ultural" no G um estilo de Gpo%a" G uma iptese para

    pensar a estGti%a %ontempor[nea/ 0 ps!modernismo" por sua &e(" G uma %ategoria estGti%a

    2re+Zentemente apontada %omo o estilo de Gpo%a +ue se opFe ao modernismo dos anos 56"

    representando" %ontudo" no s um estilo" mas uma dominante %ultural" a +ual engendra uma sGrie

    de %ara%ter.sti%as" +ue se su-ordinam" na mesma proporo em +ue di2erem entre si algumas

    delas" %ogita!se" j) eYistiriam desde o Romantismo/ Mas G o estilo modernista e seu mo&imento

    de &anguarda +ue a%a-a" no entanto" se tornando o %digo ps!modernista/ 4a &erdade"

    independentemente do ps!modernismo representar %ontinuidade ou ruptura" ainda +ue ele 2osse

    id$nti%o ao modernismo" seriam eles distintos de&ido ao papel +ue a+uele representou para a

    so%iedade ps!industrial/ *rata!se" portanto" do

    `/// apagamento da antiga B%ara%ter.sti%a do alto modernismoC 2ronteira entrea alta %ultura e a assim %amada %ultura de massa ou %omer%ial" e oapare%imento de no&os tipos de teYto impregnados das 2ormas" %ategorias e%onteWdos da mesma indWstria %ultural +ue tina sido denun%iada %om tanta&eem$n%ia por todos os idelogos do moderno" de Lea&is ao IeO 5riticismameri%ano atG Adorno e a Es%ola de 'ran2urt BJAME904" 5665" p/ 5TC/

    A so%iedade atual %omea" ento" a &oltar!se in%essantemente para o passado" pois o

    2uturo +ue ) muito nos arre-atara e nos amedrontara" perdeu agora o en%anto/ #omo teori(ou

    5T

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    30/151

    AndrGas HuOssen em SeduHidos pe'a Jemria B5666C " a partir dos anos T6" o 2o%o deslo%ou!se

    para o passado" ou&e um boomda memria e da nostalgia" atG mesmo so-re passados 2i%t.%ios/

    0 roman%e" j) men%ionado" de E/ L/ Do%torroQ" Ka%time B1NC" em +ue os EstadosUnidos so retratados antes da guerra" no in.%io do sG%ulo ! mostrando o +ue era importante

    na+uela Gpo%a e %riando um pa.s jo&em" em 2ormao" eYtremamente din[mi%o" e pleno de

    %ontrastes ! 2igura %omo um dos melores eYemplos para se %ompreender essa +uesto" j) +ue

    nele se %on2undem real e 2i%%ional personagens 2i%%ionais" istri%as e interteYtuais %on&i&em e

    integram!se de uma maneira inusitada/

    EmKa%timeBo t.tulo por si s j) nos d) pistas da ps!modernidade nele inseridaC N" todos

    os personagens istri%os Bno!2i%%ionaisC apare%em de 2orma alegri%a" en+uanto os personagens

    do mundo 2i%%ional" os +uais se+uer possuem um nome" alGm de serem protagonistas" so

    %onstru.dos de 2orma a pare%erem -em mais reais/ 9egundo 'redri% Jameson" Do%torroQ no se

    propFe a simular o passado istri%o" mas a representar nossas idGias e esteretipos a respeito

    dele/

    Pensa&a!se" atG ) pou%o tempo" +ue para entender a %ultura ps!moderna era ne%ess)rio

    deslo%ar os 2o%os do tempo e da memria" &in%ulados ao alto modernismo" para a +uesto do

    espao/ 4o entanto" as +uestFes de tempo e de espao no podem ser des&in%uladas" assim %omo

    tam-Gm no se separam a memria e o es+ue%imento 'reud j) nos ensinou +ue a memria e o

    es+ue%imento esto indissolW&el e mutuamente ligados +ue a memria G apenas uma outra 2orma

    de es+ue%imento e +ue o es+ue%imento G uma 2orma de memria es%ondida BHU99E4" 5666"

    p/ 1TC/ Assim" se o surgimento dos no&os meios" %omo a imprensa" a tele&iso e a internet

    A reunio de ensaios ela-orados por AndrGas HuOssen B5666C tem por o-jeti&o %ompreender o 2en^meno damemria" a %riao de museus e passados 2i%t.%ios" nos dias atuais" a partir de %onsideraFes a%er%a" prin%ipalmente"do re&i&a' do Holo%austo/

    N0 ragtime era uma mWsi%a do po&o" do oper)rio" parti%ularmente da+uele +ue no 2im do sG%ulo passado" %onstru.aas grandes &ias 2Grreas no territrio ameri%ano e , noite se reunia em -ote%os para ou&i!la B3ERE4D*" 1TS" p/ 55C/

    5

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    %onstitu.ram um a&ano tG%ni%o e te%nolgi%o" pare%em representar" em %ontrapartida" uma

    ne%essidade de alargamento da memria e" portanto" de es+ue%imento/

    H) uma &erdadeira o-sesso pela reminis%$n%ia e G por isso +ue HuOssen B5666C+uestiona se G o medo do es+ue%imento +ue dispara o desejo de lem-rar ou &i%e!&ersa/ Essa no&a

    so%iedade nos guia , imin$n%ia de uma saturao da prpria memria e nos mostra %omo estamos

    %ada &e( mais distantes da possi-ilidade de uma memria %onsensual e %oleti&a/ 0 ensa.sta

    aponta +ue essa e%loso do relem-rar est)" a%ima de tudo" &in%ulada ao pro-lema da

    temporalidade eYposta pelos no&os meios midi)ti%os logo" ) uma -us%a por um emis2Grio

    %omum +ue sir&a de a-rigo , %oleti&idade 0 en2o+ue so-re a memria G energi(ado

    su-liminarmente pelo desejo de nos an%orar em um mundo %ara%teri(ado por uma %res%ente

    insta-ilidade do tempo e pelo 2raturamento do espao &i&ido BHU99E4" 5666" p/ 56C/

    Jameson &$ a produo %ultural %omo a+uilo +ue no pode ad&ir de outro lugar seno do

    passado a imitao de estilos mortos" a 2ala atra&Gs de todas as m)s%aras esto%adas no museu

    imagin)rio de uma %ultura +ue agora se tornou glo-al BJAME904" 5665" p/ 7C/ Entretanto"

    pare%e a&er uma impossi-ilidade de unir presente" passado e 2uturo/ 9urge um tipo de

    es+ui(o2renia no ne%essariamente mr-ida" mas eu2ri%a" +ue %ontri-uir) para a ruptura na

    %adeia de signi2i%antes" redu(indo a dimenso do tempo e gerando um sentimento de irrealidade/

    0 outrode nossa so%iedade no mais G a nature(a" %omo nas so%iedades prG!%apitalistas"

    mas sim a te%nologia/ 8i&emos a ter%eira idade da m)+uina" a da produo de motores

    eletr^ni%os/ 4osso poder %on%entra!se agora no %omputador ou na tele&iso" isto G" em m)+uinas

    de representao e no de produo/

    #ara%ter.sti%a tam-Gm apontada emPs-modernismo: a '%ica cu'tura' do capita'ismo

    tardio G a mudana" a trans2ormao do espao" em-ora no a%ompanada pelo sujeito" inapto a

    %on&i&er no iperespao/ 9egundo Jameson" alguns edi2.%ios so uma mini!%idade e no +uerem

    6

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    2a(er parte dela" mas su-stitu.!la" 2a(endo lem-rar o edi2.%io eY%$ntri%o de ;eorges Pere% emA

    &ida: modo de usarB11C e seu %ompleYo uni&erso narrati&o/ Esse no&o espao tira do omem a

    %apa%idade de per%e-er o mundo perdemos a dimenso e no %onseguimos mais nos lo%ali(ar/Assim" a %apa%idade de agir e de lutar tam-Gm est) inerte" estagnada/

    Jameson" no intuito de distinguir ps!modernismo de alto modernismo e de modernismo

    %l)ssi%o e&o%a" ainda" os dis%ursos do antimodernopr-ps-modernoou dopr-modernoanti-

    ps-moderno" ressaltando +ue" em am-os os %asos" assumimos a eYist$n%ia das 2a%Fes modernas

    e ps!modernas/ Aponta tam-Gm a possi-ilidade" em uma outra %on%epo" de jamais ter a&ido

    uma ruptura lgi%a" istri%a/ \ o ps!modernismo %ontinuao do modernismo %l)ssi%o" ou so

    eles est)gios do RomantismoX S

    0 dis%urso ps!moderno 2a( proli2erar o %onsumismo e a desiluso pol.ti%a/ Assistimos ao

    a-urguesamento da %lasse oper)ria nos anos S6 e , degradao das %lasses dominantes nos anos

    6/ #om a +ueda do mundo -urgu$s" desapare%e o %ontraste estGti%o" 2onte em +ue -e-eram

    autores %omo 'lau-ert ou 3al(a%" uma &e( +ue o modernismo j) se de%larara anti!-urgu$s antes

    de surgir o ps!modernismo/

    0 moderno" tempo dos g$nios e da &anguarda" a%a-a +uando as 2oras pol.ti%as perdem o

    alento e o 2ordismo" posteriormente" entra em %rise/ 0 modernismo" tempo de grandes in&enFes"

    se en2ra+ue%e %om o per.odo +ue so2isti%ou a te%nologia/ 0 progresso assume" assim" um %ar)ter

    ameaador/

    74a &iso de LOotard" o ps!modernismo G parte integrante do alto modernismo/

    1

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    5/5 ! 0 #i-erespao entre ritos e mitos

    Di2erente lina de ra%io%.nio aponta o j) %itado ;illo Dor2les" em 1S6" emIo&os ritos,

    no&os mitos/ Em sua Introduo" a2irma +ue &i&emos num momento j) %onsiderado istri%o

    em +ue o interesse se &olta para o prprio presente/ 4o entanto" ele tam-Gm remete a nossa -us%a

    in%essante" nesta segunda metade de sG%ulo" por passados inde2inidos/ Mas no podemos

    %ontar" tal %omo nossas %i&ili(aFes antepassadas" %om um ar%a-ouo de narrati&as orais se de

    2ato +uisermos -us%ar tais passados" pre%isamos en%ontrar os no&os ritos e mitos +ue se

    es%ondem em nossa so%iedade atual/

    *ermos %omo dessacra'iHaCo,;etichiHaCo" a'ienaCo,utili(ados pela antropologia" pela

    2iloso2ia e pela so%iologia %om enorme 2re+Z$n%ia" %onsiderados indispens)&eis nesse momento

    so" para tanto" rea&i&ados/ Por um lado" assistimos ao pro%esso de desmisti2i%ao" entendido

    %omo a %rise do sagrado" por outro en2rentamos os rituais de in%luso de no&os mitos/

    A an)lise parte do 2ato de +ue os mitos so elementos ele&ados a tal %ategoria e os ritos"

    operaFes e gestos aparentemente &a(ios de signi2i%ao/ Rituais de danas" por eYemplo" outrora

    im-u.dos de %ar)ter di&ino" oje su-sistem apenas %om seus traos mundanos/ Assim" so

    tomados %omo o-jetos de estudo" temas +ue so -anais ou mesmo %olo%ados , margem por serem

    %onsiderados re2erentes , massa %omo aPop art ou mesmo oQitsch.

    \ ne%ess)rio tomarmos por -ase o pensamento de ;illo Dor2les para melor

    %ompreendermos a de2inio de tG%ni%a e de te%nologia/ Para o autor" a tG%ni%a G o dom.nio do

    omem so-re a nature(a" mGtodo en%ontrado ou in&entado para reali(ao de uma ati&idade" de

    modo a 2a%ilit)!la e" de %erta maneira" torn)!la mais e2i%iente/ Desde a prG!istria" a tG%ni%a &em

    sendo estudada" o +ue ajudou a %olo%ar o omem no lo%al eYato em +ue ele se en%ontra/ Ela

    5

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    impli%a" portanto" %erta %riati&idade" %omo na arte" pois os elementos tG%ni%os t$m algo de

    art.sti%o e &ice-&ersa.

    0 te%nolgi%o" por sua &e(" G o +ue tem re2er$n%ia ,s estruturas me%[ni%as e" %omo nos di(o autor" G a manipulao do tG%ni%o/ Pode!se" %ontudo" 2alar de tG%ni%a" por a-ranger maior

    %ampo" sem 2alar de te%nolgi%o" em-ora seja o te%nolgi%o +ue mar+ue presena nos dias atuais"

    impregnando os no&os ritos e mitos +ue &enam a surgir/

    EYistiro" portanto" tG%ni%as aut$nti%as" a+uelas respons)&eis pelas ati&idades art.sti%as e

    no!art.sti%as e tG%ni%as me%ani(adas BbanusiaCT" desinteressadas e alienantes/

    A tG%ni%a pode" ainda" so2rer uma super&alori(ao se in2iltrada por mitos" %ontri-uindo

    para a sua personi2i%ao/ Ela le&a a uma espG%ie de li-ertao" , proporo +ue %ondu( o

    natural ao pessoal sendo assim" a e&oluo do tra-alo e da tG%ni%a pode le&ar ,

    estrati2i%ao so%ial/ A sua 2uno G manter uma %onstante metamor2ose de um sistema natural

    a%onte%e +ue" uma &e( distan%iada do 2ator %ient.2i%o" art.sti%o ou me%[ni%o" pode!se tornar uma

    perigosa 2erramenta/

    J) a te%nologia mostra!se %omo uma 2orma de preo%upao do omem em dominar a

    nature(a/ Assim G +ue a %onstatao de tais 2unFes le&a Pierre LG&O B1C a te%er as seguintes

    %onsideraFes a primeira" de +ue a maioria das %ompet$n%ias ad+uiridas estar) o-soleta no 2inal

    de uma %arreira a segunda" de +ue tra-alar +uer di(er transmitir sa-eres e produ(ir

    %one%imentos a ter%eira" de +ue o %i-erespao suporta te%nologias intele%tuais +ue ampli2i%am"

    eYteriori(am e modi2i%am numerosas 2unFes %ogniti&as umanas/ Essas trans2ormaFes

    in%rementam" em primeiro grau" o poten%ial de intelig$n%ia dos grupos/

    T*ermo %om +ue os gregos %ara%teri(a&am o tra-alo ser&il dos es%ra&os e +ue pode ser emprestado para re2erir!se,s tG%ni%as me%ani(adas ou alienadas" segundo Dor2les B1S6" p/ 1C/

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    0 %i-erespao G %onsiderado por Her&G 'is%er B5665" p/ 1N5C um espao de li-ertao"

    em +ue" a sal&o dos pre%on%eitos de seYo" idade" %or" raa" e outros" G poss.&el na&egar %omo um

    %i-er%idado an^nimo/ 4o %i-erespao G poss.&el es+ue%er sua istria indi&idual e %riar+uantas identidades 2orem ne%ess)rias ou desejadas/ A despeito disso" alerta!nos o autor para o

    2ato de +ue a %omuni%ao pode desen&ol&er!se melor" so- o aspe%to umanista" solid)rio" na

    linguagem oral de uma tri-o a2ri%ana do +ue em um grande %entro o%idental %om todos os seus

    meios tG%ni%os de %omuni%ao @' mito de 'a 4orre de (abe' es e' primer mito de 'a

    modernidad. "ace de #ios e' iniciador de 'a sociedad de 'a in;ormacin L es e' mito ;undador de

    'a di&ersidad 'in%R>stica L cu'tura' B'I9#HER" 5665" p/ 1C/

    'is%er a%autela" ainda" so-re a deri&ao de %i-er%ompulsi&os" )&idos por

    %i-erterapia" gerados pelo aumento da depend$n%ia aguda do espao da Internet/ Essa situao

    a +ue ele denominou %i-erdepend$n%ia est) amplamente ligada , +uesto do desejo moti&ado

    pelo %i-erespao" ou seja" o ensejo perigoso +ue pode 2a(er %om +ue" em longo pra(o"

    &alori(emos mais o &irtual" uma &e( %on&idados a e&adir do espao de de%epFes e 2rustraFes

    inerentes ao real/

    A &irtuali(ao" portanto" G um modo de &elo%idade" +ue no 2a( %om +ue o espao

    desaparea" e sim %om +ue se metamor2oseie o sistema do espao umano" garante Pierre LG&O

    +uanto , dis%usso so-re o %ar)ter determinante ou %ondi%ionante da tG%ni%a" ele a%redita +ue a

    tG%ni%a pode ter %ar)ter %ondi%ionante sem" ne%essariamente" t$!lo determinante/ Portanto"

    Uma tG%ni%a no G nem -oa" nem m) Bisto depende dos %onteYtos" dos usos e dospontos de &istaC" tampou%o neutra Bj) +ue G %ondi%ionante ou restriti&a" j) +ue deum lado a-re e de outro 2e%a o espe%tro de possi-ilidadesC/ 4o se trata dea&aliar seus cimpa%tosc" mas de situar as irre&ersi-ilidades ,s +uais um de seususos nos le&aria" de 2ormular os projetos +ue eYplorariam as &irtualidades +ueela transporta e de de%idir o +ue 2a(er dela BL\8" 1" p/ 5NC/

    7

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    0 omem so2re uma tend$n%ia , antropomor2i(ao" %omo dito anteriormente/ 9ua

    relao %om os o-jetos por ele possu.dos passa a ser no de possuidor" mas tam-Gm de possu.do/

    Um simples a-ridor de latas torna!se .%one de adorao +uanto mais %ompli%adas as 2unFes porele eYer%idas" +uanto mais tG%ni%a eYigida" maior o seu mistGrio" maior o mito/ Latinas de sopa"

    garra2as" moto%i%letas tornam!se &erdadeiros mitos lanados pela so%iedade de %onsumo/ As

    o-ras de AndO barol %onstituem eYemplos signi2i%ati&os de uma &iso lWdi%a so-re as +uestFes

    da mer%antili(ao e do 2eti%e das mer%adorias %omo pode ser &isto em seu #iamond dust

    shoes/ B2ig/ 65C

    B2ig/ 65C 0-ra de barol +ue resume o 2eti%e e a %ultura de massa do ps!moderno/

    An)lise em JAME904 B5665C" em %ontraposio , tela de 8an ;og 0s sapatos de %ampon$s/

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    4o entanto" um mito pode desgastar!se e atG mesmo morrer/ A%onte%e +ue a morte de um

    mito a-re espao para um no&o no id$nti%o" nem ne%essariamente de mesma espG%ie" mas outro

    mito/ 0 grande pro-lema est)" ento" na o-sesso do omem" na sua ne%essidade iper-li%a detornar tudo prolongamento de seu %orpo 2.si%o ou ps.+ui%o/ Por %onse+Z$n%ia" os o-jetos so

    %onstantemente trans2ormados em ta-us/ A dis%ut.&el relao omem!m)+uina s se torna

    %r^ni%a +uando o omem permite essa posio" ou seja" o rito sin materia%onsente um gesto +ue

    o 2a( tornar!se um psi%opata/ A m)+uina passa a ser ento esse prolongamento 2.si%o e ps.+ui%o/

    \ maior a rei2i%ao Bdo omemC do +ue a to temida personi2i%ao Bda m)+uinaC" o +ue impli%a

    a di2i%uldade de desen&ol&er alguma %riati&idade" diante do gesto j) automati(ado/

    Do mesmo modo +ue os ritos e os mitos perdem os seus sentidos inten%ionais" assim

    tam-Gm a%onte%e %om a arte" +ue %ada &e( mais se aproYima do Gitsch a prpria %ultura passa a

    ser industriali(ada/ Junto a essa no&a %on%epo" nas%e o omem Gitsch" de gosto du&idoso/ A-re!

    se %amino para uma %ultura de massa" ou melor" para uma %ultura -aseada nos prprios meios

    de reproduti-ilidade tG%ni%a" %on2orme &ati%inado por balter 3enjamin B1T5C/

    #ontudo" a massa" para ;illo Dor2les B1S6C" eYiste mais para ser pensada do +ue para

    pensar/ 9ua [nsia G por di&ertimento e no por %ultura" numa -us%a de no&os ritos e mitos +ue

    satis2aam o %ontato entre o real e o imagin)rio/

    9urge uma so%iedade a%ostumada a guardar imagens" +ue %ultua a reproduo ao in2inito/

    #omo di(er +ue a 2oto da 2oto no G arteX Em-ora aja uma saturao das in2ormaFes

    transmitidas" de 2ato o +ue se atro2ia no G a o-ra de arte ela mesma" mas a+uilo +ue %onstitui sua

    aura/ Assim" a literatura miti2i%ada %orre o ris%o de ser %pia in2inita" sem li-erdade de eYpresso"

    -em prYima da angWstia eYpressa por Jorge Lu.s 3orges" emPierre Jenard B1TC/

    0 omem poder) no&amente re%orrer" %omo 2a(ia %om a nature(a" a elementos prG!

    2a-ri%ados para trans2orm)!los em arte/

    N

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    #riar]" esse Wni%o &er-o a-re&ia grande parte de nossos anseios e nos separa de maneira

    apod.ti%a das outras espG%ies/ Ao omem" G permitido %riar" arti%ular a linguagem a ponto de

    mentir" modi2i%ar os atos -anais e os o-jetos simples em arte/ A alterao de um ta-u em umtotem permite!le a possi-ilidade de %unar mitos e ritos para serem adorados/

    \ pre%iso manter os ritos e o ritmo" tornar est)ti%a +ual+uer ao G ir %ontra a ordem

    natural de nosso es+uema din[mi%o BD0R'LE9" 1" p/ 116C/ 4osso olar" +ue tanto se

    alterou %om a dinami(ao" 2e( surgir a *8 e o %inema nossa %ons%i$n%ia do tempo nos 2a(

    enYergar o passado de outra maneira e ora pensar o 2uturo de 2orma ipotGti%a" ora roman%ear o

    passado" tomando!o %omo 2orma inesgot)&el de memria/

    0 ris%o" no entanto" reside no 2ato de se im-uir todos os o-jetos Wteis de tG%ni%a e

    te%nologia" %on2erindo!les um %ar)ter me%ani%ista" tornando o rito ainda mais banusiae %ada

    &e( menos te'os, uma &e( +ue este se torna uma etapa mais distante para o omem

    %ontempor[neo" o +ual atua apenas %omo erdeiro &a(io dos antigos ritos/

    *am-Gm alteramos a nossa %on%epo so-re arte e demos no&as dimensFes ,+uilo +ue

    reprodu(imos/ Ao %ondi%ion)!la a uma no&a perspe%ti&a ! a do omem Gitsch, do omem %inGti%o

    ! partilamos da %an%e de imprimir a ela todo automatismo poss.&el/ 4o de&emos nos

    es+ue%er" no entanto" da inten%ionalidade +ue de&e ser dada tanto , tG%ni%a +uanto , arte/ A%eitar

    determinadas 2ormas de perda signi2i%a" %on2orme Pierre LG&O B1C" a oportunidade de

    reen%ontrar o real/

    Assim" %a-e ao omem ps!moderno esta-ele%er %erta ordem no %aos/ 9e o %i-erespao se

    presta" pois" ,s mWltiplas identidades" ,s di2erentes m)s%aras" tam-Gm ele intensi2i%a a no!

    identi2i%ao" ampliando ainda mais as angWstias do sujeito/ Em %erto sentido" o %i-erespao

    %onsolida a desintegrao de um omem +ue nau2raga entre bites e bLtes,entre ritos e mitos ps!

    modernos" %on2orme se &er) a seguir/

    S

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    5/!A Vuesto da su-jeti&idade e o ps!moderno

    De a%ordo %om 9tuart Hall B5661C" eYistem tr$s %on%epFes de sujeito/ A primeira delas

    a-orda o sujeito do Iluminismo" -aseado no %on%eito de umano um sujeito eYtremamente

    %entrado" %on%e-ido %omo uma 2orma una" uma espG%ie de %ont.nuo" assim pensado so- a

    in2lu$n%ia dos prprios ideais antropo%$ntri%os &igentes entre os sG%ulos 8I e 8III/

    A segunda %on%epo di( respeito ao sujeito so%iolgi%o" a+uele 2ormado a partir de

    sentidos e &alores da prpria %ultura/ Ele no G mais &isto %omo auto!su2i%iente e aut^nomo" ao

    in&Gs" sua 2ormao ad&Gm da relao %om o outro o nW%leo do sujeito passa a ser %onsiderado o

    eu real" mas este G %onstantemente modi2i%ado pelos %ontatos eYteriores/ 4a &erdade" , medida

    +ue nos projetamos so%ialmente" internali(amos signi2i%ados e &alores %ulturais" os +uais ser&iro

    para nossa 2ormao %omo sujeitos/

    Por Wltimo" o sujeito ps!moderno" 2irmado a partir de 16" +uando o sujeito uni2i%ado e

    est)&el %ede lugar ,+uele 2ragmentado e %ontraditrio mesmo nossas projeFes %ulturais &$m se

    tornando" a partir desse momento" mais des%art)&eis e &ari)&eis/

    Esse pro%esso produ( o sujeito ps!moderno" %on%eptuali(ado %omo no tendouma identidade 2iYa" essen%ial ou permanente/ A identidade torna!se umac%ele-rao m&el 2ormada e trans2ormada %ontinuamente em relao ,s2ormas pelas +uais somos representados ou interpelados nos sistemas %ulturais

    +ue nos rodeiam BHALL" 5661" p/ 15!1C/

    *am-Gm o dito pro%esso de glo-ali(ao &em atuando de 2orma impa%tante nas

    trans2ormaFes da identidade %ultural/ 4o ) a 2al$n%ia do sujeito" -rus%o rompimento entre

    modernidade e ps!modernidade" e sim sua trans2ormao/ Podemos di(er +ue estamos passando

    T

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    por um pro%esso de deslo%amento" a partir do +ual" para Ernest La%lau desarti%ula as identidades

    est)&eis do passado" mas tam-Gm a-re a possi-ilidade de no&as arti%ulaFes a %riao de no&as

    identidades" a produo de no&os sujeitos e o +ue ele %ama de cre%omposio da estrutura emtorno de pontos nodais parti%ulares de arti%ulao BapudHALL" 5661" p/ 1S!1TC/ Para La%lau"

    as so%iedades modernas no t$m nenum %entro ou prin%.pio organi(ador" di2erentemente do +ue

    pensa&am os so%ilogos um todo uni2i%ado e -em delimitado elas esto %onstantemente sendo

    des%entradas ou deslo%adas por 2oras eYternas/

    As so%iedades tardias so 2ormadas pela di2erena e se elas no se desintegram G por+ue

    em algum momento estes elementos di2eren%iais arti%ulam entre si/ La%lau %onsidera esta

    arti%ulao %omo par%ial" em-ora seja ela +ue possi-ilite a Histria/

    4o sG%ulo I" o omem apare%e %omo um eu rea'" +ue inter2ere no eYterior e tam-Gm G

    re2leYo dele/ J) na segunda metade do sG%ulo " d)!se a 2ragmentao do sujeito e seu

    deslo%amento/ Vuando uma estrutura G deslo%ada" ainda na %on%epo de La%lau" no est) sendo

    su-stitu.da por outra" mas por uma pluralidade de %entros de poder/ Este des%entramento pode ser

    atri-u.do ,s no&as in2lu$n%ias do pensar e atG da te%nologia possi-ilitando a inter2er$n%ia na

    2ormao de um no&o omem tam-Gm mWltiplo" estilaado/

    Hoje" nossa mar%a G a te%no%i$n%ia &i&emos a era da in2orm)ti%a" na +ual nos tornamos

    mais 2amiliari(ados %om os signos do +ue %om as %oisas por eles sim-oli(adas entregamo!nos a

    uma so%iedade de %onsumo" somos todos uma in2inidade de nomes e .%ones %riamos a so%iedade

    2e%ada em s.m-olos" na +ual passamos a pre2erir a imagem do o-jeto" ou a sua silueta Bna

    parede da %a&ernaC" ao prprio o-jeto/ 4ossas es%olas partem do simula%ro do simula%ro/

    0 ad&ento dos meios de simulao de realidades &irtuais torna nosso am-iente mais

    %ati%o ainda" nos en%errando em um mundo em +ue todas as ditas realidades" de ;acto e&irtuais"

    %ompreendem o %amado hiper rea'.4ossas re2er$n%ias i%^ni%as so organi(adas de tal 2orma

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    +ue se esta-ele%e a ne%essidade de no&os sa-eres semiolgi%os e in2ormati&os" +ue" por sua &e("

    %ola-oram para a nossa 2ragili(ao e a anulao da nossa personalidade" no momento em +ue

    nos deiYamos ser tragados pela entropia semiti%a/A 2ragmentao das mensagens midi)ti%as &em" muito a propsito" para o uso da m.dia

    %omo instrumento de %ontrole so%ial o sujeito re%e-e um eY%esso de in2ormaFes" ou pseudo!

    in2ormaFes" ou ainda ! e por +ue no di($!loX ! de instruCDesad&indas de di&ersos meios de

    %omuni%ao e" tendo sido respons)&el meramente pelo %ri&o 2inal" a montagem de um +ue-ra!

    %a-ea %ujas peas le 2oram %riadas e 2orne%idas de antemo por outrem" %r$ +ue esse es2oro

    -asta por si s para legitim)!lo %omo alguGm %om al&edrio" opinio prpria ! a imagem mesma

    do indi&idualista" ou do sujeito indi&idual&

    E assim" a so%iedade ps!moderna %onsegue %on%iliar" pela %oero" ! ainda +ue mansa"

    2ato j) ante&isto por HuYleO" no seu Admir0&e' Jundo Io&o B1T6C ! igualdade e li-erdade/

    HuYleO" ali)s" %uidou de 2a(er nas%er um 2uturo %ati%o de omens %ujos &alores morais a&iam

    simplesmente se eYtinguido/

    *al&e( alguGm possa sugerir +ue a Wni%a %on%iliao poss.&el entre estes dois prin%.pios

    Bigualdade e li-erdadeC seja mesmo a+uela 2eita , 2ora igualdade 2orada entre os homens-

    massa" %onjugada %om o simult[neo in%utir nestes omens a %rena em sua prpria singularidade

    e o %ulto da auto!imagem/

    \" ento" a noo de sujeito %on%e-ida a partir do sG%ulo +ue &ai a+ui" em parti%ular"

    nos interessar a do sujeito estrano" %omposto no por uma identidade" %on%epo eYtremamente

    utpi%a e atG mesmo ing$nua" mas por identidades %ontraditrias ou no!resol&idas/ A sa-er" a

    identidade unaG uma 2al)%ia" a idGia do continuum 2irmada pela noo do sujeito Iluminista"

    %omo j) 2oi anteriormente %omentado" %edeu lugar , multipli%idade %ara%ter.sti%a das so%iedades

    da modernidade tardia/

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    4osso estudo parte para uma leitura da o-raUm "omem que dorme,de ;eorges Pere%" no

    intuito de apre%iarmos um pou%o mais este sujeito 2ragmentado e +ue -us%a re%one%er!se/

    Le&aremos em %onta" direta ou indiretamente" as a-ordagens de alguns pensadores %omo4iet(s%e" 'ou%ault" LOotard e Derrida so-re o omem e seus &alores morais e dis%ursi&os/

    8oltar!nos!emos espe%i2i%amente" para a +uesto do duplo ou atG mesmo do mWltiplo" no intuito

    de %ompreender em +ue medida o e2eito espe%ular ou mesmo a automati(ao dos gestos guia ao

    %one%imento dose';/ Portanto" -asear!nos!emos na %ompreenso do outro %omo monstro" em

    uma Wltima inst[n%ia" utili(ando!nos da teoria ela-orada emA cu'tura dos monstros sete teses

    por Je22reO #oen B5666C/ 4o a-andonaremos" no entanto" a an)lise da relao do omem e de

    seu prprio %orpo" %ada &e( mais modi2i%ado" %ada &e( mais inumano/

    Assim" &oltar!nos!emos para esse %olapso &i&en%iado pelo sujeito na modernidade tardia

    no intuito de pensar" de algum modo" a su-jeti&idade ps!moderna" +ue se e&apora em um jogo

    de espelos" em +ue no se tem mais %erte(a de nada/ 0 omem" ora uma mes%la %om a m)+uina"

    %uja nature(a ap)ti%a se esmae%e" +ue se permite es&air" se des2a( en+uanto parte em -us%a de si

    mesmo/

    71

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    3- A REINVENO DO CORPO

    3rin%a&a a %riana#om um %arro de -ois/

    9entiu!se -rin%adoE disse" eu sou dois]

    'ernando Pessoa"(rinca&a a crianCa

    0 presente %ap.tulo tem %omo proposta dis%utir o prprio omem e em +ue medida ainda

    pode ele ser %onsiderado umano/ *rataremos do omem moderno_ps!moderno e das radi%ais

    trans2ormaFes so2ridas atra&Gs das no&as a%epFes a ele atri-u.das a partir da genGti%a e da

    %lonagem/ Ater!nos!emos ,s mudanas no %orpo do omem ! e o +ue G o %orpoX ! as +uais

    possi-ilitaro pensar so-re o omem!m)+uina" o omem!animal" o omem!monstro e" por

    %onseguinte" dis%utir o +ue seja de 2ato o humano e o inumano/ 9er!nos!) poss.&el pensar as

    +uestFes da su-jeti&idade" as alteraFes no %ampo do material e do trans%endental e suas

    %onse+Z$n%ias para esse no&o omem/

    Melor de2inindo" tentaremos re2letir %omo a alma" sendo simplesmente uma su-st[n%ia

    pensante" pode ini%iar os e&entos rele&antes no sistema ner&oso de modo a produ(ir mo&imentos

    &olunt)rios dos mem-rosX BELI:A3E*H apud9I3ILIA" 5665" p/ 16NC/ A pergunta remete!nos

    ao ano de 1N75 e 2oi pro2erida pela ento prin%esa" Eli(a-et" 2ila do rei 'rederi%o de 3o$mia/

    9egundo 9i-ilia" a indagao no 2oi es%lare%ida na Gpo%a e no o teria sido atG o presente

    75

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    momento" no 2osse pela a2irmao de Ke&in barQi% trata!se de impulsos elGtri%os/ A asserti&a

    do %ientista" em-ora parea sa%iar os anseios da jo&em" sem resposta ) mais de tre(entos anos" G

    eYtremamente redu%ionista ela nos 2a( %rer na %onstituio de meros impulsos elGtri%os pass.&eisde serem %opiados li&remente" desde +ue se tena a%esso aos re%ursos te%nolgi%os ade+uados/

    4a &erdade" seria isso mesmo +ue pro&aria o %ientista ao implantar um microchip no

    -rao e gra&ar os impulsos ligados a mo&imentos" sensaFes e emoFes" des&endando o mistGrio

    da interao %orpo!mente e estreitando a relao %orpo umano!%omputador/

    4o entanto" a +uesto &ai mais alGm tra( %onsigo a di%otomia %orpo!alma/ *anto a

    2ormao do %orpo" +uanto a 2ormao da alma o-ede%em a %ertas leis pol.ti%as e" por +ue no"

    doutrin)rias" as +uais se modi2i%am ao longo da istria do omem e da prpria ne%essidade de

    adaptao dos seres &i&os/

    Mas +uem G o omem +ue a-ita esse %orpo" ou ainda" o +ue G o %orpo a-itado pelo

    sujeito ps!modernoX Primeiramente" G importante notar +ue nos deparamos %om o 2ato de

    estarmos no momento Bem todos os [m-itosC do ps - tanto +uanto do des ! ou ainda" %omo

    %olo%a Jean!'ranois LOotard B1SC" o momento do re ! +ue alude , idGia de &oltar a uma

    %ondio (ero/ Portanto" %olo+uemos a alma um pou%o em segundo plano en+uanto 2alamos do

    %orpo" j) +ue ela se 2ar) apare%er por si mesma. Estamos diante do %orpo des!umano ou ps!

    umano ou ainda inumano ou ps!org[ni%o o %orpo +ue deiYa de ser puramente -iolgi%o

    para ser dotado de arti2i%ialismos e te%nologia/

    0 dualismo %artesiano" +ue tanto in2luen%iou o pensamento o%idental" G mar%ado pela

    oposio entre %orpo e mente e tem seu paralelo odierno no par hardOare-so;tOare. RenG

    Des%artes di(ia Eu poderia supor no possuir um %orpo `/// sou realmente distinto do meu %orpo

    e posso eYistir sem ele Bapud 9I3ILIA" 5665" p/ 7C" ou seja" a mente seria o 2undamento do eu

    ela se manteria mesmo perante a ineYist$n%ia do %orpo 2.si%o ou de +ual+uer outro suporte/ 4o

    7

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    temos" ainda" uma resposta so-re +uanto um depende do outro in%omoda!nos" no entanto" o 2ato

    de o %orpo ser limitado e mortal e nossos projetos apontam para a imortalidade da mente" na sua

    i-ridi(ao %om oso;tOare,para usar uma eYpresso de Paula 9i-ilia/Vuando do surgimento da teoria de #arles DarQin e de seu pensamento so-re o mundo

    dos &i&os" regido pelas leis da nature(a" a partir do sG%ulo I" a &ida passou a ser en%arada

    %omo um a%idente e a morte %omo uma %erte(a/ 9e esti&esse neste mundo do Projeto ;enoma"

    em +ue G mesmo poss.&el planejar ou atG %lonar ou miYar seres de di2erentes ordens ou ainda

    2a(er da morte nossa grande in%erte(a" DarQin se surpreenderia/ As idGias dele" sem dW&ida"

    2oram de%isi&as para a %i$n%ia atual" mas sua teoria 2oi adaptada aos no&os tempos" , e&oluo

    arti2i%ial

    Isto G" a possi-ilidade dos omens alterarem %om e2i%)%ia o %digo da &ida"&isando , pro&o%ao de determinados e2eitos e pres%indindo da depend$n%iaistri%a %om relao , e&oluo natural" %om suas pou%o %on2i)&eis mutaFesaleatrias e seus lentos pro%essos de seleo/ Eis o +ue %omea ser denominadoce&oluo ps!-iolgi%a" ou de modo mais direto" '()-*+./0 B9I3ILIA"

    5665" p/ 11TC/

    Ainda +ue nossas am-iFes apontem" dentre outras alternati&as" para o desejo de

    reproduo umana permanente" ou seja" tal e +ual a+uela pre&ista pelos 2ilmes de 2i%o

    %ient.2i%a ou pela literatura" o %orpo org[ni%o est)" paradoYalmente" se tornando o-soleto/ H)"

    na &erdade" o a-alar das dualidades atG a+ui sedimentadas o %orpo e a alma a &ida e a morte o

    omem e a nature(a/

    A primeira grande alterao se d) no %ampo da te%nologia" +ue gana um &alor

    digitali(ado ! em lugar das &elas in2ormaFes me%[ni%as ou analgi%as ! na so%iedade a +ual

    Deleu(e denominou so%iedade de %ontrole/ Aos pou%os" os %orpos destinados , sustentao

    2a-ril" , produo" %edem lugar aos %orpos adestrados para o %onsumo/ H) uma su-stituio ! a

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    +ue Paula 9i-ilia B5665C di( ser produto %omprando o prprio %onsumidor ! do %digo %i&il

    pelo %digo de direito do %onsumidor/

    4a o-raAs coisas B1NC" Pere% des%re&e" de 2orma a esta-ele%er uma %r.ti%a so%iolgi%ae antropolgi%a" a so%iedade ps!industrial/ 0 roman%e relata o %otidiano de um %asal" JGr^me e

    9Ol&ie" e seus %on%eitos de 2eli%idade e armonia su-missos ,s %oisas +ue eles %onsomem" ou

    melor" desejam %onsumir B%riando!les 2rustrao in%essanteC e suas %onse+Zentes 2ugas" muitas

    &e(es im-u.das de %erto bo&arismo - %omo a+uele da ero.na de 'lau-ert e de seus sonos/ A

    istria do jo&em %asal" %ujo su-t.tulo G Uma histria dos anos , adapta!se per2eitamente ,s

    ra(Fes do mundo atual A tenso era 2orte demais na+uele mundo +ue tanto prometia" +ue nada

    da&a BPERE#" 1N" p/ 161C/

    A segunda alterao G a da &ida sem morte" poss.&el %onse+Z$n%ia a&entada a partir da

    %onstatao de uma sGrie de 2atores tais %omo a leitura e a programao genGti%a/ A morte torna!

    se no um .%one a ser desejado" mas" muitas &e(es" algo a ser re&ertido/ Em-ora seja protagonista

    em di&ersos programas sensa%ionalistas do shoObussiness, o 2o%o real pare%e des&iar!se para os

    atos de &iol$n%ia e no para a morte em si/ Hoje" ela G algo um pou%o mais %ompleYo se alguGm

    morre" di2erente do mistGrio +ue poderia ser impresso nesse sinal ) +uatro sG%ulos" G uma

    2ra+ue(a" um garantia de +ue alguGm permitiu +ue esse %orpo se 2osse G nesse momento +ue se

    %onstitui o ta-u no morrer se torna imperati&o/

    Vuanto , di%otomia %orpo!alma" RodneO 3roos %olo%a +ue A distino entre o +ue G um

    ro-^ e o +ue G uma pessoa ir) desapare%er" e %omear) a &erdadeira 2uso entre o omem e a

    m)+uina Bapud 9I3ILIA" 5665" p/ 17C/ 0 omem" %orpo!mente" no entanto" ser&e %omo

    re2er$n%ia na 2ormao da rede de %omputadores" na intelig$n%ia arti2i%ial" %omo nos mostra o

    2ilme om^nimo de 9te&en 9piel-erg B5661C" na saga de seu Pin+uio ps!moderno/ Mesmo

    +ue possamos suspeitar +ue o pensamento do omem real jamais possa ser su-stitu.do" sendo

    7

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    esse o ponto +ue permite a distino" ao menos por en+uanto" de nossos %lones" a idGia" ainda

    assim" G a de aproYimar o %omputador %ada &e( mais da 2orma de operao umana/ 0 realismo

    midi)ti%o G tamano +ue os sentidos umanos j) esto sendo reprodu(idos" seja atra&Gs deprteses auditi&as" seja atra&Gs de odores sinteti(ados e in%orporados ao %omputador/ Assim"

    alguns %ientistas a%reditam +ue no aja di2erena entre o %omputador e o %omputador!omem"

    sal&o pela %apa%idade +uase in2inita de memria do primeiro" se -em +ue j) se %ogite um

    in%remento da %apa%idade de arma(enamento da memria umana" %onse+Z$n%ia de uma

    ipertro2ia do %Gre-ro/

    Em %ontrapartida" %omo dissemos anteriormente" ou&e uma in&aso digital no %orpo do

    omem e" oje" o %orpo" e no mais a mente" est) sendo %ada &e( mais representado da mesma

    2orma +ue chips ou bits. 0 sistema 6_1 dominou de &e( o nosso %orpo" aja &ista o D4A +ue

    2un%iona similarmente a um %digo de -arras de +ual+uer produto em um supermer%ado/ Ali)s" a

    %omparao G ainda mais &i-rante se nos lem-rarmos +ue os produtos eles!mesmos so

    desdenados +uando podemos simplesmente digitar seu nWmero do mesmo modo" o %orpo torna!

    se %ada &e( mais dispens)&el" -asta uma simples molG%ula" um 2io de %a-elo" a .ris" a una" para

    +ue segredos se 2aam re&elados/

    9i-ilia B5665C nos mostra %omo eYtino e %riao %res%em em igual proporo" ao +ue ela

    %ama de era ps!nature(a" j) +ue a nature(a em si se torna o-soleta/ 0s seres umanos" al&os

    da reproduti-ilidade" so entendidos %omo um produto de si mesmos/ *oda essa alterao passa"

    antes de tudo" pelos des.gnios nada singulares do omem em superar!se" %ontrolar a si e ao

    mundo e" de alguma maneira" partir para a iptese de auto%one%imento/

    0 omem des%o-riu +ue pode ser seu prprio %onstrutor e" +uem sa-e atG" seu redentor/

    Ele pode dignar!se a ante&er o surgimento de uma no&a era a ps!umana/

    7N

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    /1!0 Inumano

    4os sG%ulos 8 e 8I" um mo&imento" %uja origem remonta , Idade MGdia" mar%ou o

    in.%io dos *empos Modernos o Renas%imento %one%ido por %ontestar as tre&as da era 2eudal"

    2oi respons)&el por %olo%ar em 2o%o no&amente a Antiguidade #l)ssi%a/

    A grande ino&ao G in%um-$n%ia do ra%ionalismo" eYpl.%ito nesses dois sG%ulos" e do

    ingresso de2initi&o do omem ao %entro do uni&erso 16" so-repujando o modelo teo%$ntri%o atG

    ento &igente/ *al empreitada ra%ionalista impulsiona a re&oluo %ient.2i%a e liter)ria

    denominada Humanismo/

    4o sG%ulo 8III" %ulmina &erdadeira re&oluo intele%tual j) 2omentada durante o

    Renas%imento/ Indo de en%ontro ao Antigo Regime" o mo&imento" %ujo es%opo era o prprio

    %one%imento" 2oi nomeado Iluminismo/ Esta-ele%eu!se" a partir da." no&o paralelo a so%iedade"

    e no mais o omem" 2ora agregada ,s dis%ussFes junto , nature(a/ Este per.odo assiste ao

    apare%imento de 2ilso2os %omo Montes+uieu" 8oltaire" Rousseau e Diderot e dos e%onomistas

    VuesnaO e ;ournaO/

    Apesar de serem de.stas" usa&am de eYtremo ra%ionalismo BatG a %rena de&eria ser

    ra%ionali(adaC/ *anto em um %aso +uanto em outro" o +ue temos G a alterao dos plos e" ,

    entrada do omem no lugar de Deus Bse podemos 2a(er tal ousada a2irmati&aC" pagou!se %om

    %erto %aos" alguma anar+uia" o +ue G analisado por Ro-erto Romano em Jora' e ci

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    Assim" tanto o Renas%imento +uanto o Iluminismo so respons)&eis por 2iYar o omem no

    %en)rio o%idental" em-ora o %on%eito de omem esteja %ada &e( mais prYimo de um 2im" ou pelo

    menos de radi%al modi2i%ao" uma &e( +ue a in&aso" antes do super!omem niet(s%iano"agora do inumano de 2ato" est) por a%onte%er Desde suas primeiras produFes" tais pensadores"

    4iet(s%e antes de todos" ti&eram +ue +uestionar um &erdadeiro imperati&o de nossa %ultura

    o%idental" +ual seja" o omem %omo prin%.pio e 2im da eYist$n%ia B4A9#IME4*0" 5666" p/

    71C" prin%ipalmente se a%reditarmos +ue o omem G %riador tanto de Deus +uanto dos dem^nios/

    Em 8 inumano B1SC" LOotard entende +ue eYistem dois tipos de inumano um +ue

    responde pelo desen&ol&imento" o outro +ue 2a( da alma re2Gm/ De um %erto modo" em-ora no

    de&am ser %on2undidos" am-os se %ompletam e se misturam/ Ele nos mostra %omo uma %riana G"

    , medida em +ue se 2a( um joguete nas mos do adulto" um umano em poten%ial" o +ue a torna

    mais umana/ Mas ele +uestiona e se" por um lado" os umanos" no sentido do umanismo" esto

    em &ias de" %onstrangidos" se tornarem inumanosX E se" por outro lado" 2or cprprio do omem

    ser a-itado pelo inumanoX BL0*ARD" 1S" p/ 16C/

    Esse +uestionamento s 2a( aumentar nossas ansiedades no sa-emos +uem de 2ato

    somos" nem mesmo para onde toda a umanidade %amina/ 9er!nos!) di2.%il dete%tar atG o +ue )

    de umano em ns" ainda mais +uando em-e-idos pelo arti2i%ialismo proposto pela te%nologia/

    LOotard a%res%enta +ue tal&e( seja desne%ess)rio %ontinuar lanando 2ilos2i%as perguntas" pois"

    +uando da destruio do 9ol" dentro de 7" milFes de anos" todas se tornaro inWteis uma guerra

    at^mi%a as ani+uilaria" mas deiYaria atr)s de si um mundo de&astado" +ue" mesmo desumano"

    guardaria &est.gios do omem j) a destruio solar trans2ormaria tudo em nada" no restaria

    pensamento se+uer so-re a raa umana a morte do 9ol impli%a a morte do esp.rito" pois G a

    morte da morte %omo a &ida do esp.rito BL0*ARD" 1S" p/ 1TC/

    7T

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    LOotard opFe!se ao pensamento %artesiano" +ue supuna uma poss.&el separao do %orpo

    e do pensamento" argumentando +ue um G indispens)&el hardOare do outro" o +ue tornaria

    imposs.&el uma eYist$n%ia disso%iada" %ontrariando a utopia plat^ni%a/ Ento" podemos pensar+ue as +uestFes do umano e do inumano esto ne%essariamente ligadas ,s pend$n%ias do %orpo e

    da alma/

    0 %orpo" na ;rG%ia Ar%ai%a" era entendido %omo um %orpo plural ! uma eYpresso de

    8ernat ! +uando Plato introdu( a noo de %orpo e alma os +ue deram o nome de psi+ue ,

    alma pretendiam indi%ar +ue +uando ela est) presente ao %orpo G %ausa da &ida" por %on2erir!le a

    2a%uldade de respirar e de re2res%ar!se BanapsLchonC" e +ue no momento em +ue essa a-andona o

    %orpo" ele pere%e e morre BPLA*>0" 1TT" p/ 157C/ 0 %orpo BsmaC G" assim" a sepultura Bs0 apud4E*0" 5665" p/ 1C/

    0 %orpo plural era dotado de um monismo" j) +ue a idGia de alma ainda no le esta&a

    impregnada/ Esse %orpo" asso%iado 2re+Zentemente ao %orpo di&ino dos deuses" %omo nos

    es%lare%e AurGlio ;uerra 4eto em seu artigo 5orpo e so;rimento(uda, #ion>sio e IietHsche, era

    um %orpo de pulsFes &itais" de ati&idades 2.si%as e ps.+ui%as" de inspiraFes terrestres e di&inas"

    mas no a resid$n%ia da alma

    A pala&rasoma,por eYemplo" designa o %ad)&er" a pala&ra demas designa no o%orpo" mas a estatura" o ga-arito 2.si%o do indi&.duo/ Qhros tam-Gm no G o%orpo" mas o in&lu%ro eYterno" a pele" a super2.%ie de %ontato" mas tam-Gm a

    7

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    te(" et%/// Por tudo isso 8ernant dir) +ue" en+uanto o omem G &i&o" +uer di(er%eio de 2ora e de energia" atra&essado por pulsFes +ue o mo&em e %omo&emseu corpo p'ura'B4E*0" 5665" p/ 56C/

    H)" no entanto" uma total di&erg$n%ia entre o %orpo do omem e o %orpo dos deuses/ Estes

    so dotados de -rilo e &igor so" antes de tudo" imortais" ainda +ue o %ar)ter dos deuses seja

    +uestion)&el" por demasiado umano/ #ontudo" no %onstitui isto o %erne da +uesto/ Por outro

    lado" o %orpo do omem en%ontra!se em um n.&el in2erior" atrelado" so-retudo" , morte/ Assim"

    2i%a notrio +ue as atuais +uestFes da %lonagem e a pro-a-ilidade de (erar a morte ou de estar

    prYimo de tal mar%a" nos 2a( menos umanos" no desumanos" mas inumanos um indi&.duo

    para alGm do umano e distante dos deuses/ 11

    /5!4o&as 2rmulas para o %orpo o omem!animal" o omem!m)+uina

    H) muito +ue o %orpo deiYou de ser de2inido pela tripartio %a-ea" tron%o e mem-ros/ 0

    tron%o super" resultado de in%essantes sessFes de gin)sti%a ou a%oplado a uma -arriga deri&ada

    de uma &ida %on2ort)&el e sedent)ria" , -ase de NunGie ;ood, a%omoda!se" ora 2rente , tela do

    %omputador Bmesmo +uando a -ordo de 2a-ulosos autom&eisC" ora 2rente , tela da *8" tornando!

    se o-soleto" sal&o por ser sustent)%ulo de prteses epiercin%se %onstante al&o dos a2i%ionados

    pela -oa 2orma/

    110 &er-ete do#icion0rio @'etrnico "ouaissB5661C tra( %omonumanosuperior , %ondio umana" di&ino ou+uase di&ino" o +ue nos 2a( %rer +ue o inumano est) de algum modo para depois do umano e no em uma %ondioin2erior" ne%essariamente/

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    0s mem-ros podem estar perdendo suas 2unFes" se &istos apenas %omo %anais"

    me%anismos aos +uais se podem en%aiYar outros me%anismos te%nolgi%os/ *ero ad+uirido"

    ento" su-2unFes/ Um grupo de %ientistas -rasileiros" por eYemplo" des%o-riu re%entemente"atra&Gs de pes+uisa utili(ando ma%a%os" a possi-ilidade de ser implantado um %omando

    neurotransmissor +ue nos permita" em -re&e" a%ionar uma %Glula en&iada para outro planeta e

    sentir a temperatura de seu solo ou sua teYtura/ Assim" os mem-ros passam a 2un%ionar apenas

    %omo engrenagens" 2ilamentos a +ue se agregam m)+uinas" 2erramentas e outras geringonas

    mais te%nolgi%as/

    J) a %a-ea" esta G respons)&el por suportar o %Gre-ro" +ue" por sua &e(" pauta!se em um

    aumento de in2ormaFes Bo +ue no impli%a aumento do %one%imentoC &ertiginoso ! do +ual ele

    no pare%e" grande parte das &e(es" dar %onta ! 2en^meno de2lagrado pelaOor'd Oide Oeb. 0

    %orpo pare%e" en2im" 2un%ionar %ada &e( mais separado da %a-ea/ Ali)s" tamana G a aparente

    e&oluo" +ue o %orpo!sem!%a-ea tornou!se uma entidade aut^noma a presena da %a-ea

    pare%e nem se+uer 2a(er di2erena" dada a grande atro2ia do %Gre-ro/

    4he Eord o; the ;'ies )*++=, de billiam Bo'din%, istria +ue se desta%ou no meio

    jur.di%o por mostrar +uestFes %omo a da organi(ao so%ial" a da ne%essidade de ordem e de

    liderana" &ersa" entre outros temas" so-re um %rime ediondo/ 0 roman%e %onta a istria de

    meninos +ue se &$em perdidos em uma ila aps um a%idente aGreo e +ue" sem nenum adulto"

    nem &est.gios da %i&ili(ao" tentam so-re&i&er 2ormam um grupo +ue" aos pou%os" no entanto"

    &ai!se di&ergindo/ *orna!se" ento" patente o retorno , sel&ageria" prin%ipalmente por parte de

    Ja%" um dos meninos" l.der do grupo dissidente" +ue %omea a eYe%utar rituais primiti&os e

    retorna ao est)gio de %aa o outro grupo" menos adaptado" luta para ser resgatado/ *rata!se de

    um em-ate an)logo ,+uele entre o %ru e o %o(ido" proposto na antropologia estrutural de #laude

    LG&i!9trauss B11C" +uando" &alendo!se de met)2oras e mitos" nos demonstra +ue o %ru G a

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    representao da nature(a e o %o(ido Bo 2ogoC da %ultura %om o dom.nio do 2ogo" os omens se

    trans2ormam em %aadores e os animais em %aa/

    Um dos meninos" 9imon" depara!se %om o senor das mos%as uma %a-ea de por%oputre2ata" o2ertada a um suposto monstro +ue a-ita a ila para sua sa%iedade/ Ao &er tal %ena" o

    2r)gil menino tem uma espG%ie de re&elao similar ,+uela %antada por #amFes" em 8s Eus>adas"

    +uando 8as%o da ;ama" im-u.do de eY%edente maneirismo" tem diante de si a m)+uina do

    mundo/ 0 menino morre" assassinado pelo grupo de meninos %aadores" durante um ritual"

    %on2undido %om a %riatura" antes mesmo de poder re&elar!les o +ue a&ia des%o-erto a

    identidade do monstro" um p)ra!+uedista %uja misso era a de sal&)!los/ Permane%e no leitor a

    grotes%a %ena da matana eYe%utada por um grupo de %rianas" e da &iol$n%ia gratuita +ue aos

    pou%os se majora/

    'oi La Mettrie" pensador do sG%ulo 8III" %ujas re2leYFes esti&eram %al%adas ora no

    Humanismo" ora no Anti!Humanismo" o respons)&el por %unar o termo omem!m)+uina/ 4a

    &iso de Des%artes" os animais eram m)+uinas" por no possu.rem alma La Mettrie eYtremi(a o

    pensamento %artesiano e a2irma +ue se os omens se assemelam em tudo aos animais" so

    tam-Gm eles m)+uinas omens!m)+uinas/

    0 pensador 2oi %onsiderado" tam-Gm por outras ra(Fes" em sua Gpo%a" um lou%o/ Hoje" no

    entanto" tornou!se %on%ludente +ue ) .n2imas di2erenas entre o omem e o animal/ 0s s.mios"

    por eYemplo" t$m menos de 16f de seu genoma di2erente do umano ! a Wni%a %oisa +ue

    distingue o omem do ma%a%o G um mo&imento de pina" +ue este no %onsegue reali(ar" e +ue

    le permite modi2i%ar o meio em +ue &i&e/ 0 mais in+uietante no est)" na &erdade" na

    semelana entre os seres" mesmo por+ue as pes+uisas sempre se &oltaram a isso" mas na

    %on%luso a +ue se pode %egar de +ue a alma no eYiste/ E" so- essa ti%a" se ela no eYiste" o

    omem G animal e G m)+uina/

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    A alma" assim" seria to material +uanto o %orpo" e lo%ali(ar!se!ia no %Gre-ro" no

    possuindo a menor relao %om o di&ino ou %om +ual+uer outro mundo de igual a-strao/

    Portanto" o -em e o mal desapare%em" seguindo o nosso organismo somente ao +ue le G ditado/Apaga!se" tam-Gm" +ual+uer &est.gio de Deus o omem %omanda" ento" o seu prprio destino/

    A %on%luso nos deiYa -em prYimos do +ue sempre sonamos ser %apa(es de guiar

    nosso %urso nem destino" nem %arma" nem reen%arnao" nem pagar por pe%ados tampou%o

    estar.amos atrelados ao li&re ar-.trio/ 0 omem" assim &isto" G um me%anismo" um ser

    independente e ser aut nomo signi2i%a li-ertar!se de todos os &.n%ulos de su-ordinao"

    sagrados ou umanos BR0UA4E*" 566" p/ 71C" %omo uma espG%ie de m)+uina auto!

    program)&el/

    Essa autonomia pode ser %onsiderada o ponto positi&o da +uesto" segundo o pensamento

    de La Mettrie mas o lado negati&o G apontado por Rouanet nos traos anti!umanistas +ue

    permitem algum redu%ionismo" um niilismo moral e um autoritarismo pol.ti%o/ 0 redu%ionismo

    do %orpo retira!o do sagrado" %ontri-uindo para uma -anali(ao a +ual pode %ada &e( mais ser

    sentida o niilismo %ondi%iona!nos a agir %on2orme o +ue predispFe nosso gene tudo est) es%rito

    no %orpo/ Ainda +ue o %orpo deiYe de ser a morada do sagrado" ele ser) o lugar da ins%rio/ 0

    2ilme 8 'i&ro de cabeceiraB1C" um dos melores tra-alos %inematogr)2i%os nesse sentido" 2a(

    do %orpo esse 'ocus sacro" no em ra(o da alma" mas por trat)!lo %omo %orpo plural" em +ue

    pulsa &ida" sentimentos" sensaFes e erotismo/A atitude dos amantes perante a -ele(a e a tradio

    da es%rita demonstra a rigide( da+uilo +ue se 2iYa e se apaga simultaneamente so teYtos" de

    alguma maneira" insu-stitu.&eis" papiro de del.%ias Bre2er$n%ia 2eita por Ademir Assuno no

    poema@scrito na pe'e" %ujo mote G o 2ilme em +uestoC/ #ada ser G seu prprio li&ro e sua ra(o"

    no melor sentido mallarmai%o" G preparar este li&ro/

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    0 Wltimo trao" o autoritarismo pol.ti%o" prega +ue o poder de&eria ser eYer%ido por

    mGdi%os!2ilso2os" para %ontri-uir na reprogramao de omens mais d%eis e menos &iolentos/

    0 pro-lema G +ue tal programao genGti%a poderia %riar uma no&a ordem so%ial" uma no&agerao de es%ra&os os %lones/ \ prop.%io" ento" o alerta de Ha-ermas

    A es%ra&ido G uma relao jur.di%a" e signi2i%a +ue um omem dispFe so-reoutro %omo sua propriedade/ Por isso G in%ompat.&el %om os %on%eitos%onstitu%ionais atualmente &igentes de direitos umanos e de dignidade umana`/// 0 %lone se assemela ao es%ra&o na medida em +ue pode trans2erir a outraspessoas uma parte da responsa-ilidade %om +ue de outro modo ele prpriode&eria ar%ar BHA3ERMA9 apudR0UA4E*" 566" p/ C/

    9endo assim" estariam realmente eles dispostos a nos ser&irX 0u estar.amos diante da

    2ormao de uma gerao de %riaturas" %omo a do Dr/ 'ranenstein" prontas para se re&oltarem

    %ontra os seus %riadoresX

    Ainda a respeito da +uesto %orpo!alma" o monismo sus%itado por La Mettrie tra( %omo

    %onse+Z$n%ia a ineYist$n%ia do trans%endental" %omo j) men%ionado" +ue 2a( do %orpo um

    +ual+uer lugar e 2a%ilita a -anali(ao da +ual ele tem sido al&o nos Wltimos tempos/ 0 erotismo"

    a seYualidade" tudo a+uilo +ue en&ol&e o %orpo %omo lugar!%omum" 2i%a em desta+ue sem

    som-ra de dW&ida" este pode ser um trao distinti&o do omem ps!moderno" muito em-ora sua

    origem remonte , Antiguidade" +uando o %orpo j) era eYplorado" ainda +ue %omo sin^nimo de

    2ortale(a" -ele(a ou de mistGrio/

    Esse e2eito da -anali(ao do %orpo pode por &e(es aproYim)!lo de um de&ir!animal" em

    +ue se torna imposs.&el determinar onde %omea um e termina outro/ Um -om eYemplo pode ser

    &isto emAnima'$arm,de ;eorges 0rQell" +ue 2a( intensa %r.ti%a ao stalinismo" %riando uma

    re&oluo %amada deAnima'ismo/ 4a %on%epo de um dos por%os" todo umano -om j) nas%eu

    morto mas" alguns deles ! a+ueles +ue renegam as idGias do Animalismo" propostas pelo por%o

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    0ld Major ! %omeam a ganar m)%ulas umanas %omo as de -e-er e nego%iar" , proporo +ue

    os omens" agora su-missos aos animais" perdem o %ar)ter umano/