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1 Universidade Federal da Paraíba Departamento de Música – DeMús Prof. Eli-Eri Moura Contraponto Modal do Século XVI Baseado no método de Peter Schubert (McGill University) INTRODUÇÃO Qualidade principal almejada: VARIEDADE (consistência com variedade) saltos x graus conjuntos notas longas x notas curtas linhas ascendentes x linhas descendentes consonância x dissonância vozes agudas x vozes graves (registro) duas partes x quatro partes, por exemplo (textura, densidade) imitação x monoritmo (textura) frases longas x frases curtas Outros aspectos Respiração sobreposta Sobreposição de começos com finais de frases (imitação) Clímax (monorítmico) Repetição de fragmentos melódicos Cadência Elisão (cadências de elisão) Notação Durações utilizadas Aspectos rítmicos • Na maioria das vezes a unidade básica de tempo é a semibreve. Comparável à nossa semínima, tem andamento aproximado de 60-70 M. • Barras de compasso são quase nunca utilizadas na Renascença. A música é organizada em unidades duracionais de semibreve, e o downbeat, o tempo forte, é definido como o começo de cada unidade de semibreve. • A utilização de barras de compasso, como conseqüência da aplicação da notação moderna e alinhamento das vozes, cria a necessidade do uso de ligaduras, que não existiam na música renascentista. As notas ligadas deverão ser “pensadas” como uma única figura de duração. Claves

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Universidade Federal da Paraíba Departamento de Música – DeMús

Prof. Eli-Eri Moura

Contraponto Modal do Século XVI Baseado no método de Peter Schubert (McGill University)

INTRODUÇÃO Qualidade principal almejada: VARIEDADE (consistência com variedade)

saltos x graus conjuntos notas longas x notas curtas linhas ascendentes x linhas descendentes consonância x dissonância vozes agudas x vozes graves (registro) duas partes x quatro partes, por exemplo (textura, densidade) imitação x monoritmo (textura) frases longas x frases curtas

Outros aspectos Respiração sobreposta Sobreposição de começos com finais de frases (imitação) Clímax (monorítmico) Repetição de fragmentos melódicos Cadência Elisão (cadências de elisão)

Notação Durações utilizadas

Aspectos rítmicos

• Na maioria das vezes a unidade básica de tempo é a semibreve. Comparável à nossa semínima, tem andamento aproximado de 60-70 M.

• Barras de compasso são quase nunca utilizadas na Renascença. A música é organizada em unidades duracionais de semibreve, e o downbeat, o tempo forte, é definido como o começo de cada unidade de semibreve.

• A utilização de barras de compasso, como conseqüência da aplicação da notação moderna e alinhamento das vozes, cria a necessidade do uso de ligaduras, que não existiam na música renascentista. As notas ligadas deverão ser “pensadas” como uma única figura de duração.

Claves

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Musica Ficta Sensíveis cadenciais Quarta aumentada e quinta diminuta melódicas corrigidas com Bb Quarta aumentada e quinta diminuta verticais corrigidas com Bb B como bordadura superior de A da melodia: Bb para evitar trítono com F inferior

Gioseffo Zarlino (1517-1590)

Istitutioni Harmoniche (1558); Dimostrationi Harmoniche (1571); Sopplimenti Musicali (1588)

MODOS Sistema de 12 Modos

Final Tessitura: uma oitava + um grau acima e/ou abaixo

Modo autêntico/Modo plagal Excessivo: extrapola a tessitura Misto: autêntico + plagal Incompleto

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Características e procedimentos gerais • Tipos de quartas e de quintas

Os tipos de quarta e de quinta imputam ao modo o seu “som”. São numerados de acordo com as posições dos Tons e Semitons dentro dos modos. Geralmente, as notas extremas de cada tipo são salientadas por meio de: (1) salto em direção e a partir delas; (2) uso delas nos contornos melódicos.

• As vozes devem terminar na mesma classe-de-nota (final). • Na estrutura polifônica, é comum que vozes diferentes ocupem modos autênticos e plagais com a

mesma final, mas às vezes ocupam modos com finais diferentes também. • Bbs ocasionais não mudam o modo. • Notas importantes (tipos de quarta e de quinta) são utilizadas nos pontos extremos de contornos

melódicos e em saltos (contornos e saltos com outras notas podem ser aplicados para contraste). • Cadências em notas finais finalizam a peça e ocorrem em vários pontos. Cadências em outras notas

provêm contraste. Numa única linha, cadências são realizadas por meio de um grau conjunto descendente.

• Modos x Afetos (Mixolídio: alegre / Dórico: sério / Eólio: triste / etc.)

INTRODUÇÃO AO CONTRAPONTO A DUAS VOZES Cantus Firmus (CF)

Notas de durações iguais; grau conjunto descendente para chegar na final conclusiva (cadência).

Intervalos verticais utilizados Consonâncias perfeitas: UNISS, OITAVAS, QUINTAS Consonâncias imperfeitas: TERÇAS E SEXTAS Dissonâncias: SEGUNDAS, QUARTAS, QUARTAS AUMENTADAS, QUINTAS DIMINUTAS

Movimentos melódicos Paralelo (medido ‘diatonicamente’); direto; oblíquo; contrário (predominante)

Espécies Primeira Espécie: “nota-contra-nota” (1 x 1) Segunda Espécie: CF + mínimas (2 x 1) Terceira Espécie: CF + semínimas (4 x 1) Quarta Espécie: CF + semibreves deslocadas (sincopado) Quinta Espécie: CP Florido

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Leis de Primeira Ordem (não apelativas): X

1) Use apenas notas naturais e Bb (nunca altere uma nota do CF). Falsa Relação é possível. Na FR horizontal =» B no movimento ascendente; Bb no descendente.

2) X =» intervalos melódicos aumentados e diminutos; saltos maiores de 6, exceto 8. 3) X =» contornos melódicos de quarta aumentada.

5d deverá ser preenchida e seguida por grau conjunto na direção oposta.

4) use consonância perfeita para começar e terminar (2 partes).

Leis de Segunda Ordem (brandas): (X)

1) Use graus conjuntos mais que saltos

2) (X) =» 6M ascendentes e descendentes

6m descendentes (6m ascendente =» OK)

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3) Preferencialmente, preceda e suceda saltos com grau conjunto na direção oposta

4) (X) =» mais de dois saltos em sucessão, sejam ascendentes, descendentes, ou ambos

5) Dois saltos na mesma direção deverão ser pequenos

6) Aplique Lei da Pirâmide para saltos e/ou graus conjuntos na mesma direção

7) (X) =» Salto para chegar e sair de notas que ocupam temporariamente pontos mais agudos e

graves.

8) Bb deve ser seguido por movimento descendente

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Exemplos de desvios das Leis de Segunda Ordem:

Breves períodos de Cruzamento de Vozes são possíveis (vozes ocupando a mesma tessitura):

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PRIMEIRA ESPÉCIE

Leis de Primeira Ordem: X 1) Escreva apenas intervalos verticais consonantes (downbeat = semibreve): perfeitos (8P, 5P,

UNISS) e imperfeitos (6M, 6m, 3M, 3m).

2) 8P, 5P, UNISS: aborde apenas com movimento CONTRÁRIO ou OBLÍQUO.

3) X =» Notas repetidas no CP contra notas repetidas no CF.

4) Não ultrapasse o máximo de 5 intervalos consonantes imperfeitos paralelos seguidos (6M,

6m, 3M, 3m) ou 4 movimentos paralelos em sucessão.

5) Use poucos saltos (menos da metade dos movimentos melódicos).

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6) X =» Repetição imediata da combinação contrapontística (estrutura CP + CF) (repetição

possível se ocorrências forem separadas por pelo menos 2 semibreves). Possível 3 ocorrências de repetições seqüenciais.

Leis de Segunda Ordem: (X)

1) (X) =» Mais de 2 intervalos perfeitos verticais seguidos.

Melhor: perfeito + imperfeito / imperfeito + imperfeito

2) UNISS: somente na primeira e última notas.

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3) (X) =» Salto em ambas as vozes (em qualquer direção). Possível com terças.

4) (X) =» Espaçamento maior que 12.

5) Mude a direção depois de um salto grande, maior que 4 (preferencialmente por grau conjunto).

6) É bom conectar notas das extremidades de registro com movimentos em grau conjunto.

7) Utilize toda a oitava modal (sem contar saltos de oitava) num espaço de 10 a 20 notas do CF.

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SEGUNDA ESPÉCIE

Leis de Primeira Ordem da Primeira Espécie: X

1) Downbeats =» Consonâncias

2) Chegue em intervalos perfeitos com movimento contrário ou oblíquo.

3) Use poucos saltos (menos da metade dos movimentos melódicos). Prevalência de graus

conjuntos.

4) Não repita combinações contrapontísticas (estrutura CP + CF). Use 3 seqüências seguidas

no máximo.

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Novas Leis de Primeira Ordem: X 1) O tempo fraco poderá ser dissonante se for nota de passagem (única possibilidade). É possível

ter intervalos perfeitos do mesmo tipo em downbeats sucessivos se “quebrados” por movimentos contrários nos tempos fracos.

2) X =» saltos para alcançar ou sair de uma dissonância (tempo fraco).

3) Não repita notas (era possível na 1a Espécie).

Salto de oitava =» OK

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4) Primeira nota =» consonância perfeita / possível começar com uma pausa.

Leis de Segunda Ordem da Primeira Espécie: (X)

1) (X) =» Mais de 2 intervalos perfeitos verticais seguidos.

2) (X) =» Saltos simultâneos. 3) (X) =» Espaçamento muito grande entre as vozes. 4) Utilize mudança de direção depois de um salto.

Novas Leis de Segunda Ordem: (X)

1) UNISS: possível somente nos tempos fracos (não era aconselhado em 1a Espécie).

2) O mesmo intervalo vertical não deverá ser usado em mais de 4 unidades de semibreve.

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3) Oitava modal num espaço de 4 a 8 notas do CF

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TERCEIRA ESPÉCIE

Leis de Primeira Ordem da Primeira Espécie: X 1) Downbeats =» Consonâncias 2) Chegue em intervalos perfeitos com movimento contrário ou oblíquo

3) Não repita combinações contrapontísticas (estrutura CP + CF) / use 3 seqüências no

máximo.

Leis de Primeira Ordem da Segunda Espécie: X

1) X =» saltos para alcançar ou sair de uma dissonância (tempo fraco)

2) Não repita notas

3) Primeira nota =» consonância perfeita / possível começar com uma pausa de mínima

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Novas Leis de Primeira Ordem: X

1) Primeira e terceira semínimas =» CONSONANTES

2) Segunda e quarta semínimas podem ser dissonantes (nota de passagem ou bordadura inferior)

- Única possibilidade de bordadura inferior consonante: 6 – 5 – 6 - Única possibilidade de bordadura superior consonante: 5 – 6 – 5

3) Poucos saltos (menos que ¼)

4) - Não escreva 2 bordaduras semelhantes em sucessão (trinado) - No espaço de 6 semínimas =» máximo de 3 mudanças de direção

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Leis de Segunda Ordem: (X) 1) (X) =» Ponto culminante temporário numa semínima fraca Salto ascendente para uma semínima fraca

2) UNISS: não nos downbeats (possível na segunda, terceira e quarta semínimas)

3) Evite saltos maiores de 3

4) Mesmo intervalo vertical não deverá ser usado em mais de 4 unidades de semibreve

Cambiata (caminha para uma segunda abaixo)

Dissonantes (identifique sempre)

Consonantes (não precisa identificar)

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Bordadura Dupla (double neighbor) (caminha para uma segunda acima)

Uso apenas na cadência

Fórmulas

Movimento (por grau conjunto) para uníssono

Movimento (por grau conjunto + uma terça) para segundas

Movimento (por grau conjunto) para terças

Movimento (por grau conjunto + uma terça [uma terça + uma quarta]) para quartas

Movimento (por grau conjunto) para quintas

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QUARTA ESPÉCIE

Mesmas Leis da Segunda Espécie

Novas Leis de Primeira Ordem: X 1) Possível dissonância no tempo forte como “suspensão”: preparada numa consonância (no

tempo fraco anterior) e resolvida numa consonância imperfeita por grau conjunto descendente (no tempo fraco posterior).

2) Uma nota consonante na ligadura poderá ser seguida por uma nota de passagem dissonante

como se fosse em Segunda Espécie.

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3) 3 seqüências no máximo: use Segunda Espécie para quebrar seqüências em CF (notas

descendo por grau conjunto).

Falsa Suspensão (somente na cadência)

Novas Leis de Segunda Ordem: (X) 1) Use mais Quarta Espécie Dissonante (50% dos compassos)

Use menos Quarta Espécie Consonante Use mínimo possível de Segunda Espécie (uma vez em 4-6 notas do CF)

2) UNISS: possível agora nos tempos fracos e tempos fortes

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Cadências (escreva as cadências primeiro)

Sensíveis com alterações nos seguintes modos:

Dórico (Hipodórico) – Mixolídio (Hipomixolídio) – Eólio (Hipoeólio)

Sensíveis não precisam alterações nos seguintes modos:

Frígio (Hipofrígio) – Lídio (Hipolídio) – Jônico (Hipojônico)

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QUINTA ESPÉCIE (FLORIDO)

Leis de Primeira Ordem: X 1) Possível suceder uma mínima consonante (downbeat) com notas dissonantes no 3o tempo

(ou no 3o e 4o tempos) que descem por grau conjunto [“herança” da 2a espécie]. Colcheias podem raramente substituir a quarta semínima.

2) Mínima após duas semínimas no downbeat deverá ser CONSONANTE (”herança” da 3a

espécie).

3) Semibreve pontuada é rara no CP. Use apenas no downbeat e no começo do CP.

4) Mínima pontuada apenas no downbeat ou no lugar da 2a mínima (o tempo do “ponto” é

sempre CONSONANTE – pense como um tempo forte da 3a espécie). Em outras palavras para Leis 3 e 4 num contexto de 4/4: “nunca ligue um valor menor a um maior”.

5) Não ligue a partir de uma semínima fraca.

6) Não use os seguintes valores: 5, 7, 9.

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7) Possível usar colcheias: em pares; no tempo fraco; em graus conjuntos (notas de passagem, bordaduras inferiores); não sendo alcançadas ou deixadas com salto; não mais que um par num espaço de 4 semínimas.

Bordadura Superior Dissonante

Possível na 2a semínima quando precede valor longo (mínima pontuada ou maior). Este poderá servir de preparação para uma suspensão dissonante.

Ornamentação da Suspensão: antecipação; antecipação ornamentada com bordadura inferior.

Leis de Segunda Ordem para Ritmo (visando variedade rítmica e anulação métrica): (X)

1) (X) =» Repetição de padrões rítmicos.

2) (X) =» Mudança de valor no downbeat (semibreve).

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Solução: a) Ligue no downbeat usando síncopa ou figura pontuada.

b) “Atravesse” o downbeat com o mesmo valor.

3) Use 1a espécie apenas no início.

4) Comece com valores longos e gradualmente “acelere” o ritmo.

5) Máximo de 14 semínimas, 7 mínimas, 3 semibreves sincopadas seguidas.

6) Use semínimas pontuadas e colcheias só raramente.

7) A resolução de uma suspensão deverá ser uma mínima.

Leis de Segunda Ordem para Melodia: (X)

1) Cubra a oitava modal a cada 4 – 8 notas do CF.

2) (X) =» Coincidência do padrão melódico com o padrão rítmico. 3) Não use semínimas ou colcheias para “quebrar” intervalos perfeitos paralelos.

VALORES MISTOS NAS DUAS VOZES “Suspensão (4a Espécie) aumentada” e “falsa suspensão diminuída”

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Cadências evitadas (para pontuar divisões internas, intermediárias)