CRACHÁ

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CRACHÁ Não sei bem quando foi que, durante a ditadura militar e sua doutrina de segurança nacional, nos prédios públicos brasileiros iniciaram a identificar os visitantes. Logo logo surgiram os crachás e a cultura do crachá. Hoje você não entra em lugar público nenhum sem eles. Vejo pessoas no meio da rua que andam com crachá, nos restaurantes, no metrô. Crianças saem da escola com crachá. A coisa espalhou-se. Para que isso funcione, existe uma logística ligada às portarias, às roletas, às pessoas que trabalham. Fui a uma fundação que tem sede em um prédio no centro do Rio. A entrada do edifí cio era cercada de catracas. Por trás, quatros senhores, vestidos com ternos pretos, controlavam. Ao meu pedido de como faria para superar a barreira, fui mandado à "segunda porta blindex à esquerda". Ali, duas moças, atrás de vidros, com computadores e um pequeno aparelho que me filmou ou fotografou - não entendi bem -, viram e tomaram notas das minhas generalidades, via carteira de identidade. Sem RG e CPF, nenhum salvo-conduto. Ganhei um supercrachá hightech e, em seguida, dirigi-me à entrada, onde finalmente superei a barreira de roletas, sob os olhares atentos dos seguranças que discutiam sobre a última partida de futebol. Peguei o elevador, subi, fui atendido, desci e me dirigi à saída. Passei o crachá mas a catraca não rodava. Fui socorrido pelo segurança que depositou o crachá em uma fissura com cordão e tudo e plim! sinal verde. Aqui também no Museu Nacional é necessário o credenciamento. Por muitos dias, para entrar, tive de me identificar e receber um crachazinho de visitante. Quatro pessoas se revezam na portaria e tem sempre um segurança em pé, na frente da roleta. Semana passada, fui lá embaixo, na entrada da Quinta, num outro prédio do Museu, fazer uma fotografia para haver um crachá definitivo. Claro que para chegar até lá tive de me identificar, passar uma catraca, obter um credenciamento provisório. Ontem, meu crachá chegou na portaria aqui em cima. Peguei-o e o coloquei todo orgulhoso. Está escrito: "pesquisador colaborador". Mais um passo dentro do Brasil. Com crachá.

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CRACH

No sei bem quando foi que, durante a ditadura militar e sua doutrina de segurana nacional, nos prdios pblicos brasileiros iniciaram a identificar os visitantes. Logo logo surgiram os crachs e a cultura do crach. Hoje voc no entra em lugar pblico nenhum sem eles. Vejo pessoas no meio da rua que andam com crach, nos restaurantes, no metr. Crianas saem da escola com crach. A coisa espalhou-se.Para que isso funcione, existe uma logstica ligada s portarias, s roletas, s pessoas que trabalham. Fui a uma fundao que tem sede em um prdio no centro do Rio. A entrada do edifcio era cercada de catracas. Por trs, quatros senhores, vestidos com ternos pretos, controlavam. Ao meu pedido de como faria para superar a barreira, fui mandado "segunda porta blindex esquerda". Ali, duas moas, atrs de vidros, com computadores e um pequeno aparelho que me filmou ou fotografou - no entendi bem -, viram e tomaram notas das minhas generalidades, via carteira de identidade. Sem RG e CPF, nenhum salvo-conduto. Ganhei um supercrach hightech e, em seguida, dirigi-me entrada, onde finalmente superei a barreira de roletas, sob os olhares atentos dos seguranas que discutiam sobre a ltima partida de futebol. Peguei o elevador, subi, fui atendido, desci e me dirigi sada. Passei o crach mas a catraca no rodava. Fui socorrido pelo segurana que depositou o crach em uma fissura com cordo e tudo e plim! sinal verde.Aqui tambm no Museu Nacional necessrio o credenciamento. Por muitos dias, para entrar, tive de me identificar e receber um crachazinho de visitante. Quatro pessoas se revezam na portaria e tem sempre um segurana em p, na frente da roleta. Semana passada, fui l embaixo, na entrada da Quinta, num outro prdio do Museu, fazer uma fotografia para haver um crach definitivo. Claro que para chegar at l tive de me identificar, passar uma catraca, obter um credenciamento provisrio. Ontem, meu crach chegou na portaria aqui em cima. Peguei-o e o coloquei todo orgulhoso. Est escrito: "pesquisador colaborador". Mais um passo dentro do Brasil. Com crach.