Crenças Sobre o Que é Ser Um Bom Professor de Inglês

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Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás; Edição Monografias 1; Crenças sobre o que é ser um bom professor Abril de 2012; ISSN 2177 7276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br 125 Crenças sobre o que é ser um bom professor de Inglês 1 Juliana de Fátima Ananias de Jesus Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo investigar as crenças de uma professora de escola pública sobre o que é ser um bom professor de inglês. Os dados foram coletados por meio de um questionário aberto, uma entrevista semi estruturada e observações das aulas, visando à triangulação. Antes da coleta de dados, foram feitos estudos com base em autores da área como: Barcelos (2001, 2004, 2006, 2007), Vieira-Abrahão (2004, 2006), Silva (2005, 2007, 2011), Almeida Filho (1992, 2006), Cox e Assis-Peterson (2008). Nesse trabalho, foram aplicados os princípios da pesquisa qualitativa e o método de estudo de caso, o que tornou possível identificar as crenças da professora e de que modo elas contribuem na sua própria compreensão do processo de ensino e aprendizagem de LE (inglês). Esta investigação, sobretudo, se propôs em instigar não só os docentes que lidam com a Língua Inglesa, mas também aqueles que trabalham em outras áreas, a observarem e a refletirem sobre suas crenças, uma vez que elas têm implicações significativas na prática de todo professor. Palavras-chave: Crenças. Bom Professor. Ensino de Línguas. Introdução Esta pesquisa investiga o ensino de Língua Inglesa nas séries de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, em uma escola pública estadual na cidade de Faina/GO, em que as crenças de uma professora desta escola foram analisadas. O principal objetivo deste estudo é identificar e compreender as concepções desta professora sobre o que é ser um bom professor de inglês, bem como contribuir para uma reflexão acerca da prática de docentes de escolas públicas na sala de aula de Língua Inglesa. Neste trabalho, inicialmente, falamos das crenças e do ensino de línguas estrangeiras, apresentando o histórico de estudos realizados no exterior e no Brasil. Em seguida, colocamos algumas definições de crenças citadas por alguns estudiosos da área, mencionamos a importância das crenças para o processo de ensino de línguas e relatamos posicionamentos de alguns autores sobre o que é ser um bom professor de inglês. E por fim, descrevemos a realidade do ensino de línguas na escola pública brasileira e as investigações das crenças. Desta forma, apresentamos a metodologia da pesquisa, as abordagens de investigação das crenças e o contexto em que a pesquisa está inserida. E adiante, mostramos as análises e 1 Graduanda do quarto ano de Letras da UEG cidade de Goiás. Sendo este artigo parte de sua monografia de final de curso de graduação.

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  • Revista Viso Acadmica; Universidade Estadual de Gois; Edio Monografias 1; Crenas sobre o que ser um bom professor

    Abril de 2012; ISSN 2177 7276; Cidade de Gois; www.coracoralina.ueg.br

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    Crenas sobre o que ser um bom professor de Ingls 1Juliana de Ftima Ananias de Jesus

    Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo investigar as crenas de uma professora de escola

    pblica sobre o que ser um bom professor de ingls. Os dados foram coletados por meio de

    um questionrio aberto, uma entrevista semi estruturada e observaes das aulas, visando

    triangulao. Antes da coleta de dados, foram feitos estudos com base em autores da rea

    como: Barcelos (2001, 2004, 2006, 2007), Vieira-Abraho (2004, 2006), Silva (2005, 2007,

    2011), Almeida Filho (1992, 2006), Cox e Assis-Peterson (2008). Nesse trabalho, foram

    aplicados os princpios da pesquisa qualitativa e o mtodo de estudo de caso, o que tornou

    possvel identificar as crenas da professora e de que modo elas contribuem na sua prpria

    compreenso do processo de ensino e aprendizagem de LE (ingls). Esta investigao,

    sobretudo, se props em instigar no s os docentes que lidam com a Lngua Inglesa, mas

    tambm aqueles que trabalham em outras reas, a observarem e a refletirem sobre suas

    crenas, uma vez que elas tm implicaes significativas na prtica de todo professor.

    Palavras-chave: Crenas. Bom Professor. Ensino de Lnguas.

    Introduo

    Esta pesquisa investiga o ensino de Lngua Inglesa nas sries de 6 ao 9 ano do Ensino

    Fundamental, em uma escola pblica estadual na cidade de Faina/GO, em que as crenas de

    uma professora desta escola foram analisadas. O principal objetivo deste estudo identificar

    e compreender as concepes desta professora sobre o que ser um bom professor de ingls,

    bem como contribuir para uma reflexo acerca da prtica de docentes de escolas pblicas na

    sala de aula de Lngua Inglesa.

    Neste trabalho, inicialmente, falamos das crenas e do ensino de lnguas estrangeiras,

    apresentando o histrico de estudos realizados no exterior e no Brasil. Em seguida, colocamos

    algumas definies de crenas citadas por alguns estudiosos da rea, mencionamos a

    importncia das crenas para o processo de ensino de lnguas e relatamos posicionamentos

    de alguns autores sobre o que ser um bom professor de ingls. E por fim, descrevemos a

    realidade do ensino de lnguas na escola pblica brasileira e as investigaes das crenas.

    Desta forma, apresentamos a metodologia da pesquisa, as abordagens de investigao das

    crenas e o contexto em que a pesquisa est inserida. E adiante, mostramos as anlises e 1 Graduanda do quarto ano de Letras da UEG cidade de Gois. Sendo este artigo parte de sua monografia de final

    de curso de graduao.

  • Revista Viso Acadmica; Universidade Estadual de Gois; Edio Monografias 1; Crenas sobre o que ser um bom professor

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    discusses dos dados coletados, visando triangulao, para a constatao dos resultados. E,

    finalmente, as consideraes finais, no qual as perguntas da pesquisa so retomadas e

    algumas implicaes para a rea de formao de professores de Lngua Inglesa so

    encaminhadas.

    Um breve histrico do construto das crenas no ensino de Lngua Estrangeira

    De acordo com Barcelos (2004, p. 127), os primeiros estudos sobre crenas no ensino-

    aprendizagem de lnguas (doravante CEAL) surgiram dentro da Lingustica Aplicada (doravante

    LA) por volta dos anos 70 no exterior. Nesta perspectiva, se faz necessrio enfatizar que, na

    poca em que tais estudos iniciavam ainda no se usava o termo crenas como definio.

    Ainda, segundo Barcelos (2004, p. 127), Honsenfeld no ano de 1978 mesmo utilizando esta

    mesma ideia ainda no definia o construto como crenas, e sim como mini-teorias de

    aprendizagem de lnguas dos alunos, para se referir ao conhecimento tcito dos alunos. A

    partir da, outros autores comearam a escrever acerca de crenas e outros artigos foram

    publicados. De acordo com Silva (2007),

    Aps os estudos de Honselfeld (1978) surgiram os estudos de Horwitz (1985) e de

    Wenden (1986). Sadalla (1998, p. 25), por sua vez, afirma que um dos percussores

    dos estudos sobre crenas no ensino Schulman (1986). Schulman (1986) tinha como

    objetivo, em suas pesquisas, descrever a vida mental do professor, concebido como

    um agente que toma decises, reflete, emite juzos, tem crenas e atitudes. (SILVA,

    2007, p.4).

    Contudo, foi Horwitz (1985) quem usou o termo crenas pela primeira vez, conforme

    Barcelos (2004).

    Em 1985, o termo crenas sobre aprendizagem de lnguas aparece, pela primeira vez,

    em LA, e um instrumento (o BALLI Beliefs About Language Learning Inventory) para

    se levantar as crenas de alunos e professores de maneira sistemtica foi elaborado

    por Horwitz (1985) (BARCELOS, 2004, p.127).

    Os estudos realizados no Brasil sobre crenas no ensino-aprendizagem de lnguas s

    aconteceram na dcada de 90 e, de acordo com Barcelos (2004, p.128), Leffa (1991) foi o

    precursor. No ano de 1991, o autor investigou as concepes de alunos prestes a iniciar a 5

    srie (que hoje corresponde ao 6 ano do Ensino Fundamental). Logo em seguida, vieram

    outros estudiosos como Almeida Filho em 1993, Barcelos em 1995 e vrios outros, cada um

    com um tipo de investigao, no usando especificamente o termo crenas, mas j abordando

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    a mesma temtica. De l para c, os estudos sobre CEAL tm aumentado muito

    principalmente, nos ltimos anos, tanto no Brasil como no exterior. Apesar da quantidade

    significativa de estudos sobre CEAL que existe hoje no Brasil e no mundo, a definio de

    crenas ainda bastante discutida entre os estudiosos da rea. o que veremos a seguir.

    Definies de crenas

    Quando falamos de crenas relacionadas ao ensino de Lngua Estrangeira (doravante

    LE) importante conceitu-las, ou seja, saber como alguns autores definem as crenas, para

    assim conseguirmos compreend-las melhor. De acordo com Barcelos (2007, p. 113),

    conceito de crenas to antigo quanto nossa existncia, pois desde que o homem comeou

    a pensar, ele passou a acreditar em algo. Na literatura da LA, h diversos termos para

    designar as crenas. De acordo com Silva (2010),

    Prince (1969), Pajares (1992), Woods (1996) e Johnson (1999) afirmam que as

    crenas so um conceito muito complexo. Parte dessa complexidade deve-se

    existncia de inmeros termos e definies para se referir s crenas. Pajares (1992)

    elenca alguns deles: atitudes, valores, julgamentos, axiomas, opinies, ideologia,

    percepes, conceituaes, sistema conceitual, pr-conceituaes, disposies,

    teorias implcitas, teorias explcitas, teorias pessoais, processo mental interno,

    estratgia de ao, regra de prtica, princpios prticos, perspectivas, repertrio de

    compreenso e estratgia social. (SILVA, 2010, p. 25).

    Barcelos (2006), por exemplo, entende as crenas da seguinte forma,

    Entendo crenas como uma forma de pensamento, como construes da realidade,

    maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenmenos, co-construdas em nossas

    experincias e resultantes de um processo interativo de interpretao e

    re(significao). Como tal, crenas so sociais (mas tambm individuais), dinmicas,

    contextuais e paradoxais. (BARCELOS, 2006, p.18)

    J Price (1969, p. 20, apud Garbuio, 2006, p. 89) define crenas como um

    conhecimento (sentimento) que todos temos a respeito de alguns assuntos, que pode

    permanecer por um perodo longo ou no e que esse conhecimento pode ser dividido em

    graus, ou seja, ns podemos acreditar pouco, muito e at muitssimo em algo.

    Sob uma perspectiva mais atual, no ensino de lnguas, Barcelos (2001, p. 72), salienta

    que as crenas podem ser definidas como opinies e ideias que alunos e professores tm a

    respeito dos processos de ensino e aprendizagem de lnguas.

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    Silva (2007) ao se referir tambm ao ensino de lnguas tece algumas consideraes

    sobre as crenas afirmando,

    [...] as crenas so complexas, dinmicas, paradoxais, contraditrias; esto

    relacionadas intimamente ao nosso eu, ou seja, nossa prpria identidade,

    conforme salientado por Barcelos (2006, 2004a, 2004b, 2000) e Silva (2005, 2006,

    2007). Vale salientar, ainda, que as crenas so interativas, emergentes, recprocas,

    so vistas como social e, portanto, tambm cultural e historicamente constitudas

    atravs da interao do sujeito com o contexto, possuindo uma estreita relao com

    a ao (cf. Kalaja, 1995; Kalaja e Barcelos, 2003; Barcelos, 2004a, 2004b; Silva, 2005;

    entre outros). (SILVA, 2007, p. 5).

    Silva (2010, p. 33) aps analisar vrias definies j usadas em pesquisas brasileiras

    sobre crenas ainda coloca que [...] as crenas so socialmente (e, desse modo, tambm

    cultural e histrico) constitudas atravs de interao, recprocas, dinmicas, possuindo uma

    estreita relao com a ao.

    Retomando as definies de crenas acima citadas, percebe-se que quase todas

    consideram o contexto social em que professores e alunos esto inseridos e que as crenas

    so mutveis e esto relacionadas s experincias de cada um, portanto, so individuais e

    coletivas.

    Nesta perspectiva Goodwin & Duranti (1992, p. 5-6, apud Barcelos, 2004, p. 137)

    assegura a importncia do contexto quando se trata de crenas relacionadas ao ensino de LE:

    Contexto, neste caso, no se refere a um conceito esttico, um recipiente para interao

    social, mas a um conceito dinmico, constitudo socialmente e sustentado interativamente.

    Neste sentido, Barcelos (2004, p. 137) salienta que: As crenas so parte das nossas

    experincias e esto inter-relacionadas com o meio em que vivemos, isto , o contexto em

    que estamos inseridos. Portanto, o estudo sobre as crenas, torna-se essencial para um

    melhor entendimento do contexto da sala de aula de lnguas. o que abordaremos a seguir.

    A importncia das crenas para o processo de ensino de lnguas

    Aps estas definies de crenas, se faz necessrio enfatizar a importncia que elas

    tm em relao ao ensino de lnguas e o quanto influenciam as aes do professor dentro da

    sala de aula. De acordo com Dutra e Oliveira (2006, p. 178), [...] as crenas dos professores

    influenciam ambas a percepo e o julgamento deles sobre o contexto que atuam. As crenas

    tm um papel crucial na forma como os professores aprendem a ensinar.

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    Neste sentido, Johnson (1994, apud Dutra; Oliveira, 2006, p. 178) assegura que a

    compreenso das crenas essencial para melhorar a prtica dos professores e a preparao

    de programas de ensino. Com isso, fica clara a necessidade de se estudar e conhecer as

    crenas em relao ao ensino de lnguas, pois assim o professor poder perceber se suas

    crenas esto ajudando ou atrapalhando o seu modo de ensinar. A esse respeito Vieira-

    Abraho (2004) sinaliza que,

    consenso entre os tericos e formadores que professores trazem para seus cursos

    de formao e para suas salas de aula crenas, pressupostos, valores, conhecimentos

    e experincias, adquiridos ao longo de suas vidas, e que estes funcionam como filtros

    de insumos recebidos por meio da exposio s teorias e prticas. Isto quer dizer

    que, ao entrarem em contato com o conhecimento terico-prtico nos cursos de

    formao, cada professor ou aluno-professor faz uma leitura particular, o que traz

    reflexos para a construo de sua prtica pedaggica. (VIEIRA-ABRAHO, 2004, p.

    131)

    Vale destacar o que Dewey (1933, apud Silva, 2005) enfatiza sobre a importncia de

    estudar e pesquisar as crenas, pois elas possuem uma influncia relevante de modo direto no

    pensamento e nas aes dos indivduos. Inclusive, para Johnson (1994, p. 69 apud Barcelos,

    2007, p. 121), os professores podem adotar posturas que no condizem com o que pensam

    ao se verem sobrecarregados com as foras atuantes sobre a sala de aula. Ainda nesta

    perspectiva, Barcelos (2004, p. 124) destaca que a importncia das crenas est relacionada

    influncia que elas podem exercer na prtica pedaggica dos professores.

    Como podemos ver, Barcelos (2006, p.27) promulga em se tratando de crenas, uma

    pergunta sempre nos trabalhos a questo da discrepncia entre o dizer e o fazer, ou entre o

    discurso e a prtica. Ela ainda coloca que [...] nem sempre agimos de acordo com o que

    acreditamos da pode surgir o conflito ou a dissonncia entre o que se pensa e o que se faz.

    Alm das discrepncias entre as crenas do professor e suas aes, vale a pena

    destacar, ainda, que vrios fatores contextuais podem influenciar a prtica dos professores

    em sala de aula. Sobre isso, Borg (2003, apud Barcelos 2006, p. 29) assevera que, as crenas

    e as prticas dos professores so mutuamente informativas com os fatores contextuais tendo

    um papel importante em determinar at que ponto os professores conseguem programar a

    instruo de acordo com suas crenas.

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    Neste sentido, relevante enfatizar alguns fatores contextuais que Borg (2003)

    menciona e que podem modelar a realidade das salas de aula e, por isso, atrapalhar a

    desenvoltura do professor e suas crenas em sala de aula, dentre elas podemos citar as

    seguintes: exigncia dos pais, diretores, escola e sociedade, arranjo da sala de aula, polticas

    pblicas escolares, colegas, testes, disponibilidade de recursos, condies difceis de trabalho

    (excesso de carga horria, pouco tempo para a preparao). (BORG, 2003, p. 94, apud

    BARCELOS, 2006, p. 30).

    Concluindo sobre o papel das crenas na ao do professor, Barcelos (2006) afirma que

    o desvelamento das crenas de professores e alunos permite uma melhor adequao de

    objetivos, contedos e procedimentos e, consequentemente, chances de maior eficcia do

    processo ensino e aprendizagem. So vrias as crenas que podem ser desveladas no ensino

    de lnguas, porm, neste estudo, trataremos da crena acerca do que ser um bom professor

    de ingls.

    O que ser um bom professor de ingls?

    Nesta seo, apresentamos as caractersticas do bom professor de ingls, segundo a

    viso de alguns estudiosos na rea de ensino e aprendizagem de lnguas no Brasil.

    Inicialmente, Paiva (1997, p.09) nos diz que o professor de ingls deveria ter, alm de

    conscincia poltica, bom domnio do idioma (oral e escrito) e slida formao pedaggica

    com aprofundamento em Lingustica Aplicada.

    Este conceito proposto pela autora nos mostra que a formao profissional do

    professor de lnguas vai muito alm dos treinamentos de professores que vigorou na rea

    de ensino de lnguas durante vrios anos. Sobre isto, de suma importncia mencionar o que

    Vieira-Abraho (2004) nos diz,

    O professor no mais visto como uma tabula rasa que pode ser simplesmente

    treinado para atingir comportamentos desejados, como ocorria quando ainda

    reinava uma perspectiva positivista de formar professores. O que prevalecia era o

    modelo de racionalidade tcnica, ou seja, a ideia de que a academia era a produtora

    de conhecimentos sobre o ensino e o professor era um simples consumidor e

    aplicador dessas teorias. O professor visto como ser total, situado social e

    historicamente, portador de uma rica histria de vida. (VIEIRA-ABRAHO, 2004, p.

    132).

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    Dentro desta perspectiva de Vieira-Abraho (2004), o bom professor no aquele que

    apenas domina as tcnicas e os contedos, mas aquele que compreende e ressignifica a sua

    prtica em funo do contexto em que atua, ou seja, do contexto institucional, social, cultural

    e histrico em que est inserido profissionalmente. Portanto, ele no mais um mero

    transmissor de conhecimentos e no se deixa tornar-se refm de mtodos ou de sistemas de

    ensino. O bom professor, hoje, conhece as abordagens de ensino, reflete sobre elas e tem

    condies de fazer a escolha que melhor atenda os seus alunos. Nesse sentido, Vieira-

    Abraho (2004) caracteriza o bom professor como um profissional

    [...] altamente proficiente na lngua, capaz de usar uma boa metodologia, consciente

    da realidade e dificuldades do aluno, capaz de usar estratgias adequadas para o

    ensino, bem sucedido no ensino da fala e da escrita, reflexivo, consciente e crtico,

    capaz de ensinar cultura e as diferentes formas de conhecimento. (VIEIRA-ABRAHO,

    2004, p. 139).

    Leffa (2011, p. 29) tambm coloca seu ponto de vista sobre essa temtica e diz que: o

    bom professor aquele que cmplice dos alunos. Segundo o autor, essa cumplicidade

    deve envolver um objetivo comum entre eles, (professor e alunos), para que o ensino-

    aprendizagem possa acontecer da melhor forma possvel.

    Por outro lado, o bom professor, tambm aquele que aprende continuamente, ou

    seja, aquele que busca, que pesquisa, l, reflete e discute no s sobre aquilo que ensina mas

    tambm sobre novas tendncias metodolgicas, pedaggicas e sobre diversos assuntos de

    relevncia social que podero auxiliar na sua prtica. Enfim, aquele que conquista sua

    autonomia profissional.

    Nesse sentido, Almeida Filho (2006) fala do bom professor de lnguas, definindo a sua

    competncia profissional. Para ele,

    A competncia profissional se consolida na percepo do valor de ser professor, de

    ser professor de lngua e de ser professor de lngua profissional. Advm direitos e

    deveres dessa tomada de conscincia. O direito de atuar com dignidade e o dever de

    prestar conta do que se fez so exemplos desses valores morais e ticos que o

    profissionalismo vai despertar nos professores. A competncia profissional

    desenvolve ainda a conscincia do eu professor(a) que age de determinadas

    maneiras justificveis por tais crenas e por tais pressupostos. Essa conscincia de

    ns permite-nos cuidar de nosso prprio destino profissional em primeiro plano e,

    logo depois, por extenso tica, cuidar dos demais professores que querem crescer

    profissionalmente. As associaes de professores so lugares privilegiados de

    mobilizao de recursos e de condies para alavancar o desenvolvimento

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    profissional. Essas entidades servem tambm como brao poltico para pressionar ou

    inspirar responsveis por polticas pblicas e, antes, as decises sobre elas. Em

    ltima instncia, a competncia profissional encampa e desenvolve a reflexo como

    procedimento fundador de conscincias que promete novas dimenses de

    identidade para quem foi chamado a ser professor profissional de lngua(s).

    (ALMEIDA FILHO, 2006, p. 09).

    Essa capacidade de refletir sobre a prtica, portanto, fundamental para o

    desenvolvimento profissional do professor. Principalmente, do professor da escola pblica

    brasileira que precisa assumir tambm a tarefa bastante complexa de conhecer, entender e

    refletir sobre a realidade do ensino de lnguas nesse contexto. o que trataremos a seguir.

    A realidade do ensino de lnguas na escola pblica brasileira e as investigaes das crenas

    Neste tpico, discorremos sobre o ensino de lnguas atual nas escolas pblicas

    brasileiras, mostrando uma realidade caracterizada pelo fracasso e pela frustrao de

    professores e alunos. Primeiramente, porque no acreditam na possibilidade de

    aprendizagem da lngua no contexto da escola pblica. Esta sensao de no acreditar no que

    se faz, causa o menosprezo e a desmotivao de todos os envolvidos no processo. Alm disso,

    outros fatores contribuem para a manuteno dessa histria de insucessos. Vrios autores

    descrevem esses fatores que podem ser a causa das frustraes e que muito pouco tem sido

    feito para reverter esse quadro.

    Almeida Filho (1992), por exemplo, fala da situao dos professores de lnguas no pas,

    Diante de uma situao flagrantemente adversa, o ensino da LE tem se dado sem um

    mnimo de resultados. O professor se formou numa licenciatura dupla em Portugus

    e uma LE, mas as capacidades lingustica e terico-pedaggica resultantes dessa

    formao para ensinar a LE no convenceria ningum. Comumente, o professor no

    fala, pouco l, no escreve e nem entende a LE de sua habilitao quando em uso

    comunicativo. O que ele mal e mal pode fazer estudar um ponto e pass-lo, ainda

    que deformado pela simplificao, aos seus alunos. O salrio precrio tambm

    impele esse professor a se dividir entre vrios empregos em numerosas aulas

    semanais que, mesmo um professor bem formado e trabalhando em condies

    favorveis, no conseguiria manter em bom nvel. Esse professor quase sempre

    desconhece de maneira refletida a questo terica complexa do ensino e

    aprendizagem das lnguas. (ALMEIDA FILHO, 1992, p.1)

    Deste modo, faz-se necessrio mencionar que a importncia de se fazer estudos

    relacionados escola pblica se d pelo modo como o ensino de LE visto nestas instituies.

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    Nesta perspectiva, Cox e Assis-Peterson (2008) bem colocam a realidade que o professor

    enfrenta ao trabalhar em escola pblica,

    Comecemos pelo aviltante salrio do professor da escola bsica. O professor precisa

    ganhar por um turno de trabalho o que ganha trabalhando em trs turnos. S assim

    teria tempo para preparar seu prprio material didtico, para acompanhar

    individualmente o processo (no o produto) de aprendizagem de seus alunos,

    realizando avaliaes de cunho formativo; para estudar sempre e manter-se

    atualizado em sua rea de especialidade; para dar-se o direito de alguma forma de

    lazer e, assim, livrar-se da sndrome de burn out. infelizmente, numa economia

    capitalista, nada est livre do vale quanto custa. Como o professor da escola bsica

    recebe um salrio, na maioria das vezes, indigno, no condizente com a formao

    acadmica necessria e a complexidade do servio educacional, o magistrio acaba

    sendo uma profisso desvalorizada e pouco atraente no mercado de trabalho. (COX;

    ASSIS-PETERSON, 2008, p. 46).

    Ainda nesta perspectiva, as autoras relatam o drama do ensino de LE em escolas

    pblicas no Brasil e destacam o descaso que ela vem enfrentando h muitos anos,

    De 1961 a 1996, so mais de trinta anos de no obrigatoriedade da LE no ensino

    mdio bsico pblico brasileiro. verdade que, nesse perodo, aqueles que tinham

    de decidir acerca de sua incluso ou no nos currculos, no tiveram nunca a

    coragem de deix-la de fora completamente. Optaram pela soluo paliativa:

    oferecer uma LE, geralmente o ingls, uma hora-aula por semana, ministrada por um

    professor de outra rea que precisa ser aproveitado e, ento, assume a disciplina

    para completar sua carga-horria. E, para arrematar o descaso, a disciplina,

    diferentemente das demais, considerada to irrelevante que nem carter

    reprovativo tem. Nem preciso dizer que o saldo desse perodo o estigma do

    fracasso que marca o ensino de LE na escola pblica contemporaneamente. (COX;

    ASSIS-PETERSON, 2008, p. 26-27).

    Segundo Leffa (2011, p. 25) a escola pblica, infelizmente, no vista como uma

    instituio que oferece um ensino de qualidade e para todos. O autor ainda afirma que [...]

    escola pblica de ensino fundamental e mdio escola de pobre, os ricos vo para a escola

    particular. Nesse caso, a educao o fator que mais discrimina no Brasil.

    Cox e Assis-Peterson (2008) ainda destacam a realidade sobre a Lngua Inglesa dentro

    da escola pblica e enfatizam a desvalorizao que a ensino da lngua tambm vem

    enfrentando nos dias atuais,

    No nos esqueamos da desvalorizao do ingls (ou qualquer outra LE) no currculo

    do ensino fundamental e mdio. Essa desvalorizao multifacetada. Se outrora ela

    se manifestou na no obrigatoriedade da LE, hoje se manifesta na carga-horria

    mnima que lhe reservada (algo metodologicamente impensvel no ensino-

  • Revista Viso Acadmica; Universidade Estadual de Gois; Edio Monografias 1; Crenas sobre o que ser um bom professor

    Abril de 2012; ISSN 2177 7276; Cidade de Gois; www.coracoralina.ueg.br

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    aprendizagem de LE que requer exposio continuada lngua-alvo). Ou a disciplina

    incorporada de fato ao currculo, com carga horria suficiente para superar a lio

    do verbo To be, ou melhor termos a coragem e a decncia de no inclu-la, pois

    desfazer o estigma do fracasso bem mais custoso do que comear do zero. (COX;

    ASSIS-PETERSON, 2008, p. 47).

    Cox e Assis-Peterson (2008) ainda destacam o quadro desolador que se encontra o

    ensino de LE no Brasil atualmente,

    So muitos aspectos a emperrar o ensino de LE. Os documentos oficiais oferecem

    diretrizes curriculares, mas no fornecem suportes para a sua concretizao. Ignoram

    as prementes condies em que atua o professor: total desvalorizao da profisso,

    ausncia de tempo para estudar e de programas de formao continuada, baixo

    status da lngua estrangeira na grade curricular, currculos de Letras conservadores,

    relao disfuncional entre teoria e prtica, apartheid entre universidade e ensino

    bsico e pesquisa e ensino. (COX; ASSIS-PETERSON, 2008, p. 35).

    Infelizmente, a escola pblica brasileira vem enfrentando todas estas dificuldades que

    constituem barreiras no ensino de lnguas, por no ser tratada com seriedade e respeito pelas

    polticas pblicas, afinal muito tem se falado em melhoria da educao pblica, mas

    infelizmente, no conseguimos ainda, perceber nenhuma melhoria.

    Diante deste cenrio, muitas questes merecem ser discutidas. Dentre elas,

    destacamos algumas capazes de provocar reflexes relevantes ao ensino e aprendizagem de

    lnguas: Quais so as crenas dos professores de lnguas no atual contexto da escola pblica

    brasileira? Em que medida essas crenas podem ajudar ou atrapalhar a suas aes em sala de

    aula? O que mesmo ser um bom professor de lnguas na escola pblica descrita acima?

    A seguir abordamos a metodologia da pesquisa, na qual comentamos como os dados

    foram coletados, o contexto em que a professora est inserida.

    Metodologia da pesquisa

    A metodologia utilizada neste trabalho enquadra-se na modalidade qualitativa e se

    classifica como um estudo de caso, que segundo Wallace (1998), contm uma unidade de

    anlise, ou seja, uma professora de Lngua Inglesa, do 6 ao 9 ano do Ensino Fundamental

    de uma escola pblica na Cidade de Faina (GO).

    Os dados foram coletados por meio de trs diferentes instrumentos: um questionrio

    aberto, uma entrevista semiestruturada aplicados professora e quatro observaes de aulas

    de Lngua Inglesa ministradas pela docente, visando triangulao. Esta pesquisa se enquadra

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    nos paradigmas da abordagem contextual, uma vez que as crenas so investigadas dentro do

    contexto de atuao do participante. o que apresentamos a seguir.

    Abordagens de investigao das crenas

    Apresentamos, aqui, as trs abordagens trazidas por Barcelos (2001), em que as

    crenas de professores e alunos so analisadas: 1 A abordagem normativa - estuda as

    crenas por meio de questionrios fechados, onde a relao entre crenas e aes no

    investigada, mas somente sugerida (Barcelos, 2001, p.77). 2 A abordagem metacoginitiva -

    que, de acordo com Barcelos (2001, p. 79), faz uso de auto relatos, entrevistas e questionrios

    semiestruturados e tambm no d ateno relao entre crenas e aes e identifica as

    crenas como algo estvel. 3 A abordagem contextual que utiliza ferramentas etnogrficas

    e entrevistas para investigar crenas por meio de afirmaes e aes. Neste sentido, Vieira-

    Abraho (2006) salienta:

    Na abordagem contextual, as crenas so inferidas de aes contextualizadas, ou

    seja, as crenas so inferidas dentro do contexto de atuao do participante

    investigado. A relao entre crenas e ao no mais sugerida, mas passa a ser

    investigada, por meio de observaes, entrevistas, dirios e estudo de casos. (VIEIRA-

    ABRAHO, 2006, p. 220).

    Vieira-Abraho (2006, p.230) ainda afirma que nesta abordagem as crenas no mais

    so vistas como estticas, mas dinmicas e emergentes. Portanto, a abordagem contextual

    a que mais nos interessa e que utilizamos com nfase neste trabalho.

    Anlise e discusso dos dados - Anlise das respostas do questionrio

    1. Para voc, o que ser um bom professor de ingls?

    Ser um bom professor de ingls possuir fluncia e boa comunicao.

    Nessa primeira resposta do questionrio, a professora bem sucinta, dizendo apenas

    que para ela, ser um bom professor de ingls possuir fluncia e boa comunicao. Isso deixa

    claro que a professora acredita que o bom professor deve ser fluente na lngua que leciona e

    saber comunicar-se bem em sala de aula com seus alunos. No entanto, a partir das

    observaes, constatamos que ela quase no se comunica em ingls na sala de aula e no

    possui boa fluncia na lngua e na entrevista a professora chegou a mencionar que se acha

    despreparada em relao fluncia na Lngua Inglesa, dizendo at que deixa muito a desejar

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    neste aspecto. Portanto, fica evidente que as aes da professora se divergem daquilo que ela

    acredita. Vejamos um trecho em que a professora faz tal comentrio na entrevista, Apesar de

    amar o ingls e gostar de lecion-lo reconheo e confesso que fico muito a desejar e que

    gostaria muito de ter mais fluncia na lngua, tenho muita vontade de iniciar um curso de

    aperfeioamento para aprimorar minha fluncia.

    2. Cite cinco caractersticas que voc acredita que o bom professor de ingls precisa ter?

    O professor de ingls precisa possuir uma boa percepo auditiva, observao,

    dilogo, compreenso e respeito. Na segunda questo, a professora tambm bem concisa e

    no esclarece muito sua resposta em relao s caractersticas de um bom professor. Ela

    apenas enumera que o professor de ingls precisa possuir uma boa percepo auditiva,

    observao, dilogo, compreenso e respeito. Durante as aulas observadas, percebemos que

    ela quase no dialoga com seus alunos, principalmente em ingls, e em alguns momentos em

    que dialoga, se confunde e mistura as palavras que est falando.

    3. Comente sobre o melhor professor de Lngua Inglesa que voc j teve.

    Eu tive um professor de ingls que eu admirava muito, pela fluncia e perfeio da

    fontica, que ele nos transmitia com segurana. Na terceira resposta a professora reafirma

    sua crena de que o bom professor de ingls aquele que possui fluncia e domnio na lngua,

    pois ela descreve a admirao que tinha por um professor, que segundo ela, possua boa

    fluncia na fontica e conseguia transmitir seu conhecimento com muita segurana.

    4. No seu ponto de vista, qual a importncia da aprendizagem da Lngua Inglesa hoje?

    A Lngua Inglesa hoje muito importante devido globalizao. Em resposta a

    quarta pergunta a professora bem precisa. Ao ser questionada sobre a importncia da

    Lngua Inglesa na atualidade, ela apenas menciona que importante devido globalizao. Na

    entrevista, ela diz que o aluno no tem conscincia dessa importncia e que o professor

    regente pode conscientiz-lo de vrias maneiras. No entanto, s cita que o educador poderia

    comentar com os alunos a questo da globalizao e dar exemplos dessa globalizao.

    Vejamos os comentrios da professora durante a entrevista sobre a globalizao [...] o

    educador poderia comentar com os alunos a questo da globalizao e dar exemplos dessa

    globalizao. Os professores tm lutado muito para tentar conscientizar e motivar seus

    alunos, mas no tm conseguido muita coisa e no tm obtido sucesso. valido destacar que

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    essas colocaes da discente evidenciam que ela usa o termo globalizao apenas como

    clich.

    5. Quais os problemas enfrentados pelos professores de Lngua Inglesa em sala de aula?

    Os principais problemas enfrentados pelos professores a falta de interesse dos

    alunos pela disciplina, muitos ainda no tm conscincia da importncia de uma segunda

    lngua no currculo. Em sua quinta resposta, a professora incide que os principais problemas

    enfrentados pelos professores a falta de interesse dos alunos pela disciplina e que muitos

    ainda no tm conscincia da importncia dessa lngua em suas vidas escolares. Ela coloca,

    assim, os alunos de escola pblica como alunos desinteressados e desmotivados. Na

    entrevista, refora esta ideia dizendo que os alunos no do valor as aulas de Lngua Inglesa e,

    que seria muito bom se o professor tivesse a oportunidade de pegar uma turma que

    realmente quisesse aprender e desse valor a seus estudos e soubesse valorizar a importncia

    da LE na vida deles. Observemos a seguir o que disse a professora a esse respeito durante a

    entrevista [...] os alunos no do valor as aulas de Lngua Inglesa, seria muito bom se ns

    (professores) tivssemos a oportunidade de pegar uma turma que realmente quisesse

    aprender e desse valor a seus estudos e soubesse valorizar a importncia da LE na vida deles.

    6. Em sua opinio, como seria uma boa aula de Lngua Inglesa?

    Uma boa aula de Lngua Inglesa seria com a interao de todos os alunos no

    contedo. Na sexta resposta a professora afirma que uma boa aula aquela que os alunos se

    interagem com o contedo. No entanto, nas observaes feitas verificamos que a professora

    no d muitas oportunidades para que isto acontea afinal ela trabalha quase sempre as

    mesmas atividades, fazendo com que os alunos no se sintam muito motivados a fazer ou

    falar qualquer coisa que no seja copiar e responder as atividades propostas por ela.

    7. Como voc v o ensino de Lngua Inglesa nas escolas pblicas atualmente?

    Atualmente o ensino de Lngua nas escolas pblicas ainda est deixando muito a

    desejar, pelo fato dos professores no possurem uma boa fluncia, e a escola no oferecer os

    recursos didticos necessrios. Ao responder stima pergunta a professora reafirma sua

    crena de que o bom professor precisa ter boa fluncia, afinal ela narra que o ensino de

    lnguas nas escolas pblicas ainda est deixando muito a desejar, pelo fato dos professores

    no possurem uma boa fluncia, e a escola no oferecer os recursos didticos necessrios.

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    Nesse sentido, necessrio expor que a escola pode no oferecer muitas opes, mas tem

    disposio dos professores um Datashow, TV, aparelho de DVD, aparelho de som,

    retroprojetor, entre outros, e em nenhuma das aulas observadas a professora os utilizou.

    8. O que voc acha que deveria ser feito para melhorar o ensino de Lngua Inglesa nas escolas

    pblicas?

    O governo deveria oferecer livros didticos para os alunos de ensino mdio, e curso de

    aperfeioamento para os professores em exerccio. Quando a professora interrogada sobre

    o que ela acha que deveria ser feito para melhorar o ensino de Lngua Inglesa nas escolas

    pblicas e ela simplesmente descreve que o governo deveria oferecer livros didticos para os

    alunos de Ensino Mdio, e curso de aperfeioamento para os professores em exerccio.

    Anlise da entrevista semiestruturada

    Como j anunciamos anteriormente, a entrevista importante para auxiliar na

    compreenso e no esclarecimento de algumas dvidas que ficaram nas respostas da

    professora ao questionrio. Portanto, aqui, alguns itens se repetem, porm trazendo mais

    subsdios para a anlise dos dados.

    Inicialmente, a professora ao ser questionada se ela acha importante falar em ingls

    com os alunos em sala de aula, ela responde que sim. No entanto, percebemos nas

    observaes que a professora fala muito pouco em ingls dentro da sala e quando fala

    comete alguns deslizes. O que talvez seja o motivo pelo qual ela evita falar em ingls em suas

    aulas.

    Ao ser indagada se ensina seus alunos a se comunicarem em ingls, a professora

    responde que sim, mas menciona que no com muita frequncia. Ela ainda menciona que,

    quando isso acontece, ela usa dilogos entre eles e at entrevistas. Desta forma, podemos

    alegar que, em nenhuma das observaes feitas, presenciamos esse tipo de atividade, o que

    nos leva a acreditar que realmente isso quase no acontece.

    Ao falar sobre quais aspectos ela acredita que sejam importantes na relao

    professor/aluno, no processo de ensino-aprendizagem ela, no muito clara, responde dilogo

    e comunicao. A professora ainda induzida a esclarecer essa questo, e ela mais uma vez,

    resumidamente, responde que esses aspectos esto inseridos na comunicao.

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    Dando continuidade a professora instigada a responder se o fato dos alunos

    receberem o livro didtico facilita o processo de ensino-aprendizagem da Lngua Inglesa. Em

    resposta, a docente se contradiz. Primeiramente, ela afirma que importante e facilita no

    ensino-aprendizagem e que j at aconteceu uma melhora neste aspecto. Logo em seguida,

    ela diz que, tal fato ainda deixa muito a desejar, pois os alunos no tm o hbito de levar o

    livro para a sala de aula e que isso traz dificuldades para o professor ensinar e os alunos

    aprenderem.

    Quando a professora incitada a falar se ela gosta de ensinar a Lngua Inglesa ela

    responde que, embora no tenha o domnio e a fluncia que gostaria de ter, adora o ingls e

    gosta de ensin-lo. Por vrios momentos ela menciona que fica muito a desejar em relao ao

    ensino da Lngua Inglesa, mas que apesar disso ainda gosta do que faz e que gostaria de fazer

    cursos para melhorar sua fluncia. Em seguida, ela coloca que ainda no o fez por falta de

    condies e at de tempo.

    Em relao motivao da professora para ensinar a Lngua Inglesa, ela diz se sentir

    mais ou menos motivada, porque, segundo ela, muitas vezes tem um planejamento e acha

    que dar uma tima aula e quando chega sala, nada do que havia planejado d certo, e isso

    frustra um pouco enquanto professora. Mais uma vez a professora coloca a questo de que os

    alunos da escola pblica so desmotivados e desinteressados, afinal ela afirma que uma aula

    que seria tima, seguindo seu planejamento, fracassa por causa da falta de interesse dos

    alunos.

    Ao ser questionada se j havia trabalhado ou se gostaria de trabalhar em escolas

    privadas ou cursos de idiomas, ela afirma que nunca trabalhou em nenhum desses locais e

    que atualmente se acha despreparada para trabalhar nesses ambientes que exigem muito

    mais conhecimento e fluncia do que ela possui. Ela at coloca que, se tivesse condies de se

    preparar mais, poderia at pensar nas possibilidades, mas que, por enquanto, no teria

    condies. Tais afirmaes da professora deixam-nos claro sua crena de que a escola pblica

    o local tido como ideal para quem no tem competncia lingustica e nem fluncia na LE

    que leciona.

    Ao falar dos aspectos importantes para o professor desenvolver uma boa aula, a

    professora bem sucinta e menciona que, para conseguir dar uma boa aula, o professor

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    precisa antes de tudo ter um bom planejamento. Ela cita ainda que, muitas vezes, o professor

    no tem o tempo que merece para planejar suas aulas, devido s cargas horrias que os

    professores pegam para conseguirem um salrio melhor. Neste sentido, importante

    destacar que, nas observaes das aulas percebemos que a professora no planeja muito suas

    aulas, pois quase sempre trabalha com as mesmas atividades. No sabemos se pela falta de

    tempo ou falta de interesse em planejar.

    Finalmente, a professora questionada sobre as atividades mais usadas em suas aulas

    e ela diz trabalhar com dilogos e interpretao de textos, e que procura sempre, mesmo nos

    textos que no possuem dilogos, fazer um dilogo, e em seguida, a interpretao dos textos,

    pois, segundo ela, isso importante para a aprendizagem dos alunos.

    Anlise das observaes

    Como podemos perceber as observaes que j foram bastante mencionadas nas

    anlises do questionrio e da entrevista, possibilitaram a triangulao dos dados coletados e

    contriburam muito para a compreenso da relao entre as crenas e as aes da professora

    dentro do contexto de ensino.

    Primeiramente, ao procurar entender esta relao, fica bem claro o desencontro de

    suas crenas e suas aes em sala de aula. Nas respostas dos questionrios e na entrevista, a

    docente evidencia a sua crena de que o bom professor de lnguas precisa ter fluncia e ser

    comunicativo na lngua que ensina. No entanto, observamos que ela no possui esta fluncia

    na lngua, pois ela no fala muito em ingls na sala e quando fala comete alguns deslizes e at

    se perde no que estava falando. Enfim, as observaes, a entrevista e o questionrio

    constituram instrumentos eficientes para coletar e promover a triangulao dos dados desta

    pesquisa, cuja concluso apresentamos a seguir.

    Concluso - Respondendo s questes norteadoras da pesquisa

    As perguntas de pesquisa que nortearam este estudo foram:

    Quais so as crenas da professora sobre o que ser um bom professor de Lngua

    Inglesa?

    As crenas da professora esto evidenciadas em sua prtica na sala de aula?

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    De que modo essas crenas contribuem na compreenso do processo de ensino e

    aprendizagem da professora?

    Em resposta a primeira pergunta, os dados revelam algumas crenas que a professora

    possui sobre o que ser um bom professor de ingls. Porm, a crena mais enfatizada por ela

    a de que o professor precisa ser fluente e comunicativo na lngua que ele ensina. Em quase

    todos os dados coletados, ela reafirma essa crena, colocando at que se acha despreparada

    para ensinar a Lngua Inglesa, j que no possui fluncia na lngua e no to comunicativa

    como gostaria.

    Outras crenas reveladas foram as de que para ser um bom professor preciso:

    Ter alunos interessados e motivados.

    Ter alunos com autonomia e que saibam da importncia da Lngua Inglesa.

    Ter os materiais didticos necessrios (recursos didticos) na escola.

    Que todos os alunos tenham o livro didtico.

    Que o professor faa planejamentos.

    Que o professor tenha tempo para planejar.

    Que o professor tenha um bom salrio.

    Aps a colocao de todas essas crenas podemos estacar que tais crenas podem ser

    consideradas como formadoras de um aglomerado de crenas. Silva (2005) promulga que

    [...] aglomerados de crenas, representam o conjunto de construtos de ideias e/ou

    verdades pessoais interligadas que temos e mantemos de maneira sustentada,

    estvel por um determinado perodo de tempo. Em outras palavras, so feixes de

    crenas com laos coesivos entre si, verdadeiras constelaes de crenas que se

    auto-apiam. (SILVA, 2005, p. 67).

    Alm das crenas acerca do que ser um bom professor, a docente possui outras

    crenas a respeito do ensino e aprendizagem de lnguas como:

    A escola pblica o local ideal para profissionais que no possuem competncia lingustica,

    boa comunicao e fluncia na LE que leciona.

    Os alunos das escolas particulares e dos cursos de idiomas tm mais interesse em aprender

    lnguas.

    O aluno s aprende Lngua Inglesa por meio da traduo e formao de vocabulrio.

    A aprendizagem da Lngua Inglesa importante por causa da globalizao.

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    difcil motivar o aluno na escola pblica.

    O aluno desinteressado porque no tem conscincia da importncia da Lngua Inglesa.

    Concluindo, vimos que as crenas desta professora esto distantes dos paradigmas

    apontados por Vieira-Abraho, (2004), Paiva (1997), Leffa (2011) e Almeida Filho (2006). Para

    esses autores, ser um bom professor de lnguas ter proficincia na lngua, conscincia

    poltica, boa formao pedaggica, ser capaz de usar estratgias adequadas para o ensino, ser

    reflexivo, etc.

    Em relao segunda pergunta, podemos afirmar que as crenas da professora no

    esto evidenciadas na sua prtica em sala de aula. H uma discrepncia entre suas crenas e

    suas aes.

    Nas respostas ao questionrio e na entrevista, ela diz que o bom professor de ingls

    aquele que possui fluncia e boa comunicao na Lngua Inglesa, no entanto, nas

    observaes, constatamos que a professora no possui fluncia e nem consegue se comunicar

    muito bem na Lngua Inglesa. Outra crena que est em dissonncia com suas aes a de

    que o bom professor precisa fazer planejamentos e, durante as observaes, vimos que suas

    aulas nem sempre so planejadas. Ela tambm acredita que o bom professor tem alunos

    interessados e motivados e os dela no o so. Enfim, h um desencontro entre o que ela

    pensa e o que faz em seu contexto de ensino.

    Respondendo terceira questo, podemos salientar que, as crenas que a professora

    possui no contribuem positivamente na compreenso de suas aes na sala de aula. Uma vez

    que, se achando com pouca fluncia, pouca competncia lingustica e dificuldade na

    comunicao na Lngua Inglesa, a professora procura no trabalhar a parte oral (speaking e

    listening) com seus alunos, pois como constatamos, ela se sente insegura e prefere no se

    arriscar.

    Ao crer que seus alunos j so desinteressados e desmotivados, a professora no

    busca mudar essa situao, pelo contrrio, usa sempre o mesmo tipo de atividade e isso

    desmotiva e causa desinteresse ainda maior nos alunos. Crendo que no pode fazer muita

    coisa para mudar o ensino, coloca grande culpa do fracasso nos materiais didticos que ela ou

    os alunos poderiam ter, se acomoda e no busca usar o que j tem e tentar fazer com que a

    aula seja mais prazerosa e motivadora.

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    Todas estas situaes caracterizam o contexto em que esto inseridos a professora e

    os alunos. Afinal, de acordo com Barcelos (2006, p. 29-30) crenas sobre Aquisio de

    Segunda Lngua (ASL) de alunos e professores e suas aes moldam o contexto e so

    moldadas por ele.

    Pensando nisso, no sabemos se os anos de convivncia com os alunos, que realmente

    so desmotivados, (pois so quase 90% alunos de classe mdia-baixa, que ainda no se

    conscientizaram da importncia de aprender essa lngua, talvez por morar em uma cidade do

    interior, com poucos recursos, poucas fontes de trabalho, acreditam que realmente aprender

    a Lngua Inglesa no trar nenhum beneficio a suas vidas), as salas cheias, as dificuldades que

    a professora encontra na lngua, a falta de recursos didticos, etc., ajudaram a desenvolver

    essas crenas na professora e a fez agir de modo que ela mesma no acredita mais que os

    seus alunos possam ou aprender a lngua um dia, e talvez por isso, ela no se sinta na

    obrigao de fazer qualquer coisa para mudar a atual realidade da escola, em relao ao

    ensino da LE.

    Nesta perspectiva, importante destacar o que Barcelos (2006, p. 30) coloca a esse

    respeito: As crenas dos professores no so consistentes com suas prticas porque os

    professores lidam com interesses contraditrios e ambguos em suas praticas. Sendo assim, a

    estudiosa ainda cita uma explicao que Fang (1986) apresenta sobre isso:

    Fang (1986) explica que essa complexidade da sala de aula afeta os professores

    podendo gerar conflitos que so derivados em parte entre os que os professores

    pensam que devem fazer em sala de aula, como eles percebem a sala e o que os

    ltimos mtodos ou programas de educao dizem que eles devem fazer.

    (BARCELOS, 2006, p. 30).

    Ainda sobre os fatores contextuais que interferem na prtica dos professores, vimos

    que a docente acredita que para ser um bom professor preciso que ele tenha tempo para

    planejar e tenha um bom salrio. Reafirmando a sua crena, ela ainda demonstra vontade de

    iniciar um curso de aperfeioamento para se aprimorar e diz que ainda no o fez por falta de

    tempo e falta de condies para custe-lo. Nesse sentido, percebemos que a professora tem

    conscincia dos fatores contextuais que interferem na sua ao, no entanto, ela permanece

    na inrcia, nada fazendo para mudar a sua prtica.

    Limitaes da pesquisa

  • Revista Viso Acadmica; Universidade Estadual de Gois; Edio Monografias 1; Crenas sobre o que ser um bom professor

    Abril de 2012; ISSN 2177 7276; Cidade de Gois; www.coracoralina.ueg.br

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    Esta pesquisa como outra qualquer, apresenta suas limitaes, afinal os resultados

    encontrados no podem ser amplamente generalizados, pois se referem a um nmero restrito

    de colaboradores, ou seja, uma professora, de apenas uma escola pblica da Cidade de Faina -

    Go. No entanto, mesmo com um nmero no representativo, acredita-se que os resultados

    revelam aspectos contextuais importantes de onde a pesquisa foi realizada. Este trabalho

    depara-se tambm com outra limitao: a metodologia da coleta de dados. Em funo do

    tempo, que foi curto para durao do estudo, houve a impossibilidade de realizar mais

    observaes de aulas e tambm de utilizar outros instrumentos que pudessem reafirmar os

    dados coletados e, talvez, revelar outros importantes.

    Implicaes para a rea de formao de professores

    Depois de analisar os dados coletados, plausvel tecer algumas consideraes a

    respeito do papel das crenas no ensino-aprendizado de lnguas.

    Como vimos, as crenas exercem uma grande influncia na ao dos professores na

    sala de aula, e por isso, torna-se importante que eles tomem conscincia de suas prprias

    crenas, as compreendam e dialoguem sobre e com elas. Essa compreenso pode contribuir

    para a reflexo acerca do processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente, trazer

    bons resultados para possveis mudanas na prtica dos professores.

    Nesse sentido, importante pensarmos sobre as atuais condies do ensino de LE nas

    escolas pblicas, relacionando essa realidade com as crenas que os professores possuem.

    Seria interessante que os professores e os acadmicos ainda em formao no Curso de Letras

    j tivessem conscincia das suas crenas para poder discuti-las e compartilh-las com outros

    colegas, bem como suas expectativas em relao ao ensino de lnguas. E seria, tambm, de

    suma importncia que as escolas e as universidades pblicas desenvolvessem, em parceria,

    um programa de educao continuada, dando enfoque ao estudo das crenas, com o intuito

    de ajudar a diminuir as dificuldades que os professores encontram atualmente em relao ao

    ensino de LE. Mencionando tais implicaes, no almejamos dar receitas prontas para

    resolver os problemas em relao ao ensino de lnguas, mas simplesmente sugerir atitudes

    que poderiam, pelo menos, amenizar a situao real daquele contexto e tambm sugerir

    possveis pesquisas na rea.

  • Revista Viso Acadmica; Universidade Estadual de Gois; Edio Monografias 1; Crenas sobre o que ser um bom professor

    Abril de 2012; ISSN 2177 7276; Cidade de Gois; www.coracoralina.ueg.br

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    Consideraes finais e sugestes de futuras pesquisas

    Este estudo, alm de analisar e compreender as crenas de uma professora sobre o

    que ser um bom professor de Lngua Inglesa, prope-se a acender reflexes acerca das

    crenas no ensino de lnguas, na sala de aula de escolas pblicas.

    Concluindo, podemos destacar que a professora mesmo acreditando que no est

    fazendo seu papel, no correspondendo com suas prprias expectativas, em relao ao ensino

    da Lngua Inglesa, continua e continuar na sala de aula, camuflando seu insucesso e

    colaborando com uma situao tambm camuflada de descaso que o ensino de lnguas vem

    sofrendo nas escolas pblicas brasileiras. Assim, tentando contribuir mais com a generalizao

    dos resultados aqui obtidos, proponho os seguintes estudos:

    Estudos para a investigao das crenas sobre o que ser um bom professor de ingls com

    professores e alunos de escolas pblicas, em diferentes escolas.

    Estudo para investigao das crenas sobre o que ser um bom professor de ingls com

    professores e alunos da rede privada.

    Estudo comparando as crenas sobre que ser um bom professor de ingls com professores e

    alunos de escola pblica e tambm professores e alunos da rede privada.

    Os estudos sobre as crenas, claro, no pretendem resolver o fracasso histrico do

    ensino de lnguas nas escolas pblicas brasileiras. Entretanto, podem significar um dos

    caminhos que suscitam reflexes importantes e que podero contribuir para uma mudana

    mais significativa no processo de ensino e aprendizagem de lnguas atualmente.

    Referncias

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