Criação de Tilápia

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Criação de Peixes - Tilápia

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  • TILPIA-DO-NILO

    Criao e cultivo em viveiros no

    estado de Paran

    Gisele Ferreira da Silva

    Lidiane Marcondes Maciel

    Marcos Vinicios Dalmass

    Mariana Tiepo Gonalves

    Capa

    Danielle Jacob

    Ilustraes

    Renan Gustavo Rodrigues da Luz

    Fotos

    Patrick Nereu Tetu

  • APRESENTAO

    Este livro resultado do trabalho desenvolvido pelos

    autores, como produto final do projeto da disciplina de

    Piscicultura do Curso de Zootecnia da Universidade Federal

    do Paran - UFPR. Consiste em uma reviso bibliogrfica,

    atravs de livros, artigos cientficos de revistas da rea e

    bibliografia literria.

    Trata-se de um material que informa alunos de

    graduao e ps-graduao dos cursos de Zootecnia,

    Medicina Veterinria, Agronomia, Engenharia de Pesca e

    Aquicultura, em relao criao e ao cultivo de tilpia-do-

    Nilo em viveiros no estado do Paran.

    O presente trabalho foi escrito para ser utilizado por

    estudantes. Deste modo, aborda conceitos e manejos

    referentes construo dos viveiros, qualidade da gua,

    nutrio e alimentao, elementos fundamentais para a

    sanidade, melhoramento gentico, reproduo, larvicultura

    e alevinagem, despesca e abate.

  • Talvez no tenhamos conseguido fazer o melhor.

    Mas lutamos para que o melhor fosse feito.

    No somos o que deveramos ser,

    no somos o que iramos ser,

    mas graas a DEUS,

    no somos o que ramos.

    Martin Luther King

  • SUMRIO

    1 A TILAPICULTURA NO PARAN 11

    1.1 INTRODUO DA TILPIA-DO-NILO NO BRASIL 12

    1.2 A TILPIA-DO-NILO NO PARAN 15

    1.3 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 17

    2 A TILPIA-DO-NILO (OREOCHROMIS NILOTICUS) 20

    2.1 CARACTERSTICAS GERAIS DA ESPCIE 22

    2.2 ANATOMIA E MORFOLOGIA EXTERNA 23

    2.3 ANATOMIA E FISIOLOGIA 27

    2.3.1 SISTEMA CIRCULATRIO 27

    2.3.2 SISTEMA NERVOSO 30

    2.3.3 SISTEMA RESPIRATRIO 32

    2.3.4 SISTEMA DIGESTRIO 35

    2.3.4.1 Cavidade bucal, faringe e esfago 36

    2.3.4.2 Estmago 37

    2.3.4.3 Intestino e reto 39

    2.3.4.4 Fgado, pncreas e vescula biliar 41

    2.4 SISTEMA REPRODUTOR 42

    2.4.1 OVRIOS 42

    2.4.2 TESTCULOS 43

    2.4.3 MATURIDADE SEXUAL E CICLO REPRODUTIVO 44

    2.5 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

    3 CONSTRUO DE VIVEIROS 47

    3.1 REGULAMENTAO AMBIENTAL 48

    3.1.1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL 48

    3.1.1.1 Obteno de licena ambiental 51

    3.1.2 OUTORGA DA GUA 54

  • 3.2 REQUISITOS PARA A CONSTRUO DE VIVEIROS 56

    3.2.1 REA E TOPOGRAFIA 57

    3.2.2 TIPO DE SOLO 57

    3.2.3 DISPONIBILIDADE DE GUA 59

    3.3 ESTRUTURA DE VIVEIROS 60

    3.3.1 DIMENSIONAMENTO 60

    3.3.2 SISTEMA DE ABASTECIMENTO 62

    3.3.2.1 Estimativa de vazo de gua 64

    3.3.3 CONSTRUO DOS VIVEIROS 69

    3.3.3.1 Taludes 69

    3.3.3.2 Largura da crista 70

    3.3.3.3 Borda livre ou borda de segurana 71

    3.3.3.4 Fundo 72

    3.3.3.5 Sistema de drenagem 72

    3.3.3.6 Lagoa de decantao 75

    3.4 ENCHIMENTO 77

    3.5 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 77

    4 QUALIDADE DA GUA NA TILAPICULTURA 80

    4.1 FATORES FSICOS DA GUA 81

    4.1.1 TEMPERATURA 81

    4.1.2 TRANSPARNCIA E TURBIDEZ 83

    4.2 FATORES QUMICOS DA GUA 84

    4.2.1 PH 84

    4.2.2 ALCALINIDADE 85

    4.2.3 DUREZA 86

    4.2.4 SALINIDADE 86

    4.2.5 OXIGNIO DISSOLVIDO 87

    4.2.6 DIXIDO DE CARBONO (CO2) 89

    4.2.7 COMPOSTOS NITROGENADOS 90

    4.2.7.1 Amnia (Nh4+

    + NH3) 90

    4.2.7.2 Nitrito (NO2-) 91

    4.2.7.3 Nitrato (NO-3) 92

  • 4.3 FATORES BIOLGICOS DA GUA 92

    4.3.1 FITOPLNCTON 92

    4.3.2 ZOOPLNCTON 93

    4.3.3 BENTOS 93

    4.3.4 MACRFITAS 94

    4.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 94

    5 NUTRIO E ALIMENTAO 97

    5.1 EXIGNCIAS NUTRICIONAIS DAS TILPIAS 98

    5.1.1 FATORES QUE INFLUENCIAM AS EXIGNCIAS NUTRICIONAIS 99

    5.1.2 PROTENA E AMINOCIDOS ESSENCIAIS 101

    5.1.3 ENERGIA 105

    5.1.4 CARBOIDRATOS 110

    5.1.5 VITAMINAS 111

    5.1.6 MINERAIS 116

    5.2 ALIMENTAO 121

    5.2.1 ALIMENTO NATURAL 121

    5.2.2 RAO 122

    5.2.3 TIPOS DE RAES 123

    5.2.3.1 Processamento 123

    5.2.3.2 Umidade 124

    5.2.3.3 Funo 125

    5.3 INGREDIENTES PARA A FORMULAO DE DIETAS PARA TILPIA 127

    5.3.1 FONTES PROTEICAS DE ORIGEM ANIMAL 128

    5.3.2 FONTES PROTEICAS DE ORIGEM VEGETAL 131

    5.3.3 FONTES ENERGTICAS 134

    5.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 136

    6 SANIDADE E PROFILAXIA 140

    6.1 IMUNOLOGIA EM PEIXES 141

    6.1.1 RESPOSTA IMUNE INATA 141

  • 6.1.2 RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA 142

    6.2 PRINCIPAIS DOENAS EM TILPIAS-DO-NILO 143

    6.2.1 DOENAS AMBIENTAIS 144

    6.2.1.1 Sndrome do sangue marrom 144

    6.2.1.2 Sndrome da bolha de gs 145

    6.2.1.3 Doena ambiental das brnquias 146

    6.2.2 DOENAS FNGICAS 147

    6.2.2.1 Saprolegniose 148

    6.2.3 DOENAS BACTERIANAS 149

    6.2.3.1 Estreptococcose 150

    6.2.3.2 Columnariose/ Boca de algodo/ Cauda comida 153

    6.2.3.3 Septicemias causadas por Aeromonas e Pseudomonas 155

    6.3 PRINCIPAIS PARASITOS 157

    6.3.1 PROTOZORIOS 157

    6.3.1.1 Ichthyophthirius multifiliis 158

    6.3.1.2 Chilodonella spp. 160

    6.3.1.3 Tricodindeos 162

    6.3.1.4 Epistylis, Ambiphrya e Apiosoma 164

    6.3.1.5 Ichthyobodo necator 165

    6.3.1.6 Piscinoodinium pillulare 166

    6.3.1.7 Myxobolus cerebralis 168

    6.3.2 TREMATODOS MONOGENTICOS 170

    6.3.3 MICROCRUSTCEOS 171

    6.3.3.1 Argulus sp. e Dolops sp. 172

    6.3.3.2 Lernaea sp. 173

    6.3.3.3 Ergasilus sp. 175

    6.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 178

    7 REPRODUO, LARVICULTURA E ALEVINAGEM 180

    7.1 ESTRATGIAS DE REPRODUO EM AMBIENTE NATURAL 181

    7.2 REPRODUO ARTIFICIAL 186

    7.2.1 ESCOLHA DOS REPRODUTORES 186

    7.2.2 SEXAGEM DOS REPRODUTORES 188

  • 7.2.3 QUANTIDADE NECESSRIA DE REPRODUTORES 190

    7.2.4 SISTEMAS DE PRODUO 191

    7.2.4.1 Uso de hapas 191

    7.2.4.2 Reproduo em viveiros 192

    7.2.5 COLETA DE OVOS 193

    7.2.6 INCUBAO DOS OVOS 194

    7.2.7 COLETA DE NUVENS DE LARVAS 195

    7.2.8 ESTOCAGEM DAS LARVAS 198

    7.3 REVERSO SEXUAL 198

    7.3.1 CARACTERSTICAS DAS RAES 201

    7.3.2 PREPARO PARA O TRANSPORTE 204

    7.3.2.1 Tratamento preventivo 204

    7.3.2.2 Classificao dos animais 205

    7.4 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 206

    8 MELHORAMENTO GENTICO DE TILPIA-DO-NILO 209

    8.1 ESPCIES, LINHAGENS E HBRIDOS 210

    8.1.1 A LINHAGEM GIFT 212

    8.2 FUNDAMENTOS DA GENTICA QUANTITATIVA 215

    8.3 SELEO GENTICA 217

    8.3.1 CARACTERSTICAS DE CRESCIMENTO 217

    8.3.2 CARACTERSTICAS REPRODUTIVAS 218

    8.3.3 CARACTERSTICAS DE CARCAA 219

    8.3.4 OUTRAS CARACTERSTICAS 220

    8.4 CRUZAMENTO E ACASALAMENTO 221

    8.4.1 ENDOGAMIA OU CONSANGUINIDADE 221

    8.4.2 HIBRIDAO 223

    8.5 INTERAO GENTIPO-AMBIENTE 224

    8.6 MANIPULAO CROMOSSMICA 225

    8.7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 228

    9 PRINCPIOS E TCNICAS DE MANEJO 231

  • 9.1 MANEJO DE PREPARAO DOS VIVEIROS 232

    9.1.1 LIMPEZA E DESINFECO 232

    9.1.2 CALAGEM 233

    9.1.3 FERTILIZAO 235

    9.1.3.1 Fertilizantes Qumicos 237

    9.1.3.2 Fertilizantes orgnicos 240

    9.2 TRANSPORTE E POVOAMENTO 243

    9.2.1 TRANSPORTE 243

    9.2.2 POVOAMENTO 244

    9.2.3 DENSIDADE 247

    9.3 MANEJO DA QUALIDADE DA GUA 248

    9.3.1 SISTEMAS DE AERAO 248

    9.3.2 SISTEMA DE RENOVAO DA GUA 249

    9.3.3 CONTROLE DA TEMPERATURA 250

    9.3.4 CONTROLE DE PH 251

    9.3.5 CONTROLE DE MACRFITAS 251

    9.3.5.1 Controle mecnico 251

    9.3.5.2 Controle qumico 252

    9.3.5.3 Controle biolgico 254

    9.4 MANEJO ALIMENTAR 254

    9.4.1 FATORES QUE INFLUENCIAM NA INGESTO DO ALIMENTO 256

    9.4.2 CARACTERSTICAS DAS FASES DE CULTIVO 258

    9.4.2.1 Larvicultura e alevinagem 259

    9.4.2.2 Recria 261

    9.4.2.3 Engorda 262

    9.4.2.4 Reproduo 263

    9.4.3 HORRIO DE ARRAOAMENTO 264

    9.5 MANEJO PROFILTICO 265

    9.5.1 LIMPEZA E DESINFECO DAS ESTRUTURAS DE CULTIVO 266

    9.5.2 LIMPEZA E DESINFECO DOS EQUIPAMENTOS 266

    9.6 MANEJO PR-ABATE 268

    9.6.1 JEJUM 270

    9.6.2 DESPESCA 270

  • 9.6.2.1 Redes de arrasto 271

    9.6.2.2 Drenagem do viveiro e caixas de despesca 272

    9.6.3 DEPURAO 274

    9.6.4 TRANSPORTE PARA O ABATE 276

    9.7 MANEJO DE ABATE 279

    9.7.1 INSENSIBILIZAO 279

    9.7.2 MTODOS DE INSENSIBILIZAO 280

    9.7.2.1 Eletronarcose 280

    9.7.2.2 Atordoamento cerebral 280

    9.7.2.3 Percusso 281

    9.7.2.4 Termonarcose 281

    9.7.2.5 Seco de medula 282

    9.7.2.6 Dixido de carbono (CO2) 282

    9.7.3 ABATE 283

    9.7.3.1 Anxia 283

    9.7.3.2 Choque trmico 283

    9.7.3.3 Eletronarcose e percusso 284

    9.7.3.4 Asfixia por mistura gasosa (CO2 N) 285

    9.7.3.5 Sangria das brnquias 285

    9.8 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 285

  • 1 A TILAPICULTURA

    NO PARAN

    Gisele Ferreira da Silva Lidiane Marcondes Maciel

    Marcos Vinicios Dalmass Mariana Tiepo Gonalves

  • 12

    1.1 Introduo da tilpia-do-Nilo no Brasil

    A tilpia-do-Nilo oriunda de diversos pases

    africanos, sendo a espcie mais cultivada em todo o

    mundo. Ela se sobressai das demais, pelo crescimento

    acelerado, reproduo mais tardia (atingindo maior

    tamanho antes da primeira reproduo) e alta prolificidade

    (proporcionando a produo de grandes quantidades de

    alevinos).

    No Brasil, a tilpia-do-Nilo cultivada praticamente

    em todo o pas, em criaes frequentemente realizadas em

    viveiros e em tanques-rede. A mesma adquiriu este espao

    na piscicultura nacional, devido tima relao

    custo/benefcio para os consumidores, a alta qualidade da

    sua carne, de sabor suave, cor branca e textura firme.

    Dentre os peixes que podem ser cultivados em cativeiro, a

    tilpia destaca-se por sua resistncia a doenas, tolerncia

    ao cultivo em altas densidades e em ambientes adversos e

    estressantes, o que a tornou rapidamente a espcie

    preferida pela piscicultura brasileira.

    A primeira introduo conhecida da tilpia-do-Nilo no

    Brasil ocorreu em 1971. Um nmero pequeno de

    exemplares foi trazido de Bouak (Costa do Marfim

  • 13

    frica) para Pentecostes no Cear no Departamento

    Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Porm, essa

    introduo no foi eficiente, pois houve uma diminuio

    drstica da variabilidade gentica, acarretando na reduo

    no desempenho e elevao do aparecimento de anomalias

    genticas, isso pode ter acontecido devido s

    especificidades reprodutivas das tilpias associado s

    dificuldades de evitar os acasalamentos entre indivduos

    aparentados.

    A segunda importao conhecida ocorreu em 1996

    no estado do Paran, de 20.800 alevinos, provenientes da

    Tailndia (sia).

    Nos anos de 2002 e 2005, foram inseridas duas

    linhagens decorrentes de programas de melhoramento

    gentico, a GenoMar Supreme Tilpia (GST), produzida por

    uma empresa da Noruega (GENOMAR) e inserida no Brasil

    pela piscicultura Aquabel, que fica em Rolndia no Paran e

    a linhagem Genetically Improved Farmed Tilapia (GIFT),

    em portugus: Melhoramento gentico de tilpias criadas

    em cativeiro, proveniente da Malsia, desenvolvida

    inicialmente pela ICLARM (International Center for Living

    Aquatic Resources Management), atual WorldFish Center,

  • 14

    cultivada e selecionada no Brasil por pesquisadores da

    Universidade Estadual de Maring (UEM).

    A linhagem GIFT foi formada a partir do

    acasalamento de oito linhagens, sendo quatro

    reprodutores naturais de linhagens de tilpia-do-Nilo

    vindos do Egito, de Gana, do Senegal e do Qunia e, mais

    quatro linhagens utilizadas em criaes nas Filipinas, Israel,

    Taiwan e Tailndia.

    O Brasil obteve no ano de 2009, a sexta posio do

    ranking mundial na produo de tilpias, com 133.000

    toneladas. Em relao aos pases da Amrica Latina, o Brasil

    se encontra na primeira posio, tanto no quesito

    produo quanto no consumo de tilpias.

    A tilapicultura progrediu de 12.000 para 133.000

    toneladas de 1995 a 2009. Nos ltimos 15 anos a produo

    de tilpia aumentou a uma taxa mdia de 17% ao ano e

    representa no momento aproximadamente 40% da

    produo da piscicultura brasileira.

    Os principais fatores que colaboraram com o

    progresso da tilapicultura no Brasil foram:

    Melhora na qualidade dos alevinos, atravs da

    reverso sexual e do uso de linhagens melhoradas;

  • 15

    A adeso de criao em tanques-rede, que

    viabilizou um aumento da criao em vrios

    estados;

    A reao da indstria de rao na elaborao de

    linhas completas para cada fase de

    desenvolvimento das tilpias;

    O mercado interno do pas, que rapidamente

    percebeu a qualidade dos produtos de tilpia

    ofertados pelos frigorficos e produtores.

    1.2 A tilpia-do-Nilo no Paran

    A produo comercial, at 2004, foi liderada pelo

    estado do Paran, a partir deste mesmo ano, o estado do

    Cear despontou na liderana como maior produtor,

    produzindo 13.000 toneladas, enquanto o Paran produziu

    12.782 toneladas. No ano de 2007 produziu prximo de

    12.500 toneladas, mas foi ultrapassado por So Paulo,

    ficando em terceiro no ranking nacional. A partir de 2008,

    por meio da adeso de um modelo de produo integrado,

    parecido ao realizado pela avicultura e suinocultura, a

    tilapicultura no oeste do Paran apresentou ligeiro

    aumento na produo, atravs da reativao de

  • 16

    pisciculturas que estavam paradas, assim como o ingresso

    em produo de novos empreendimentos. O Paran

    tambm foi o precursor na produo de alevinos e na

    importao de material gentico.

    A tilpia-do-Nilo produzida em todas as regies do

    estado do Paran, desde o leste onde predomina um clima

    mais frio at o oeste em que a regio mais quente. Isto

    porque a tilpia uma espcie que suporta variao da

    temperatura da gua e oxignio dissolvido. No entanto, h

    regies em que esta espcie se adaptou melhor, devido ao

    clima favorvel, associado ao grande potencial hdrico,

    sendo a regio Oeste o polo principal com 61% da

    tilapicultura do estado, seguido da regio Norte com 23% e

    os 6% restantes pertencem as demais regies.

    A regio Oeste do Paran conta com a utilizao de

    viveiros no sistema de produo, sendo que este

    recomendado para propriedades rurais em que so

    realizadas escavaes com reas de at 1 ha, onde se

    emprega a integrao com cooperativas e utilizada a

    mo-de-obra familiar. Em geral, o ciclo de produo da

    tilpia encontra-se em torno de 210 a 250 dias, atingindo

    um peso mdio de 750 g. A densidade de estocagem e a

    produtividade normalmente encontrada nessa regio so

  • 17

    de 2,5 tilpias/m e 1,19 kg/m, respectivamente. As

    principais cidades produtoras nesta regio so Toledo,

    Cascvel, Marip, Nova Aurora, Assis Chateaubriand,

    Tupssi, Marechal Cndido Rondon.

    Na regio Norte predomina a utilizao de tanques-

    rede, o que torna o custo de produo maior, pois a rao

    mais cara pela necessidade de incluso de mais

    ingredientes nutritivos, e em razo da gua utilizada ser

    menos favorvel a engorda. As principais cidades

    produtoras nesta regio so Maring e Londrina.

    1.3 Bibliografia consultada

    BARROSO, R. M.; PEDROZA FILHO, M. X.; ROS, J. L. O mercado da tilpia em 2014. Boletim tcnico Embrapa Pesca e Aquicultura. Disponvel em: . Acesso em: 09 de junho de 2015.

    FIGUEIREDO JNIOR, C. A.; VALENTE JNIOR, A. S. Cultivo

    de tilpias no Brasil: origens e cenrio atual. IN: Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural, 46., Rio Branco. Anais... Rio Branco: SOBER, 2008.

    HEIN, G.; PARIZOTTO, M. L. V.; BRIANESE, R. H. Tilpia: uma

    atividade que agrega renda a propriedade em reas marginais. Maio de 2004. Disponvel em:

  • 18

    . Acesso em: 09 de junho de 2015.

    HEIN, G.; BRIANESE, R. H. Modelo Emater de produo de

    tilpia. Novembro 2004. Disponvel em: . Acesso em: 30 de abril de 2015.

    HESS, J. Atividade de piscicultura no Paran. Boletim

    tcnico Sistema da Federao da Agricultura do Estado do Paran. Disponvel em: . Acesso em: 09 de junho de 2015.

    KUBITZA, F. Tilpias na bola de cristal. Panorama da

    Aquicultura, vol.17, n.99, p.14-21, jan./fev. 2007. KUBITZA, F. Aquicultura de tilpias no mundo e no Brasil.

    IN: KUBITZA, F. Tilpia: tecnologia e planejamento na produo comercial. 2 Edio. Jundia: F. Kubitza, 2011. p.1-11.

    OLIVEIRA, C.A.L.; RESENDE, K.E.; LEGAT, A.P. et al.

    Melhoramento gentico de peixes no Brasil: Situao atual e perspectivas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 20., 2010, Palmas. Anais... Palmas: ZOOTEC, 2010. p. 237-249.

    RESENDE, E. K.; OLIVEIRA, C. A. L.; LEGAT, A. P. et al.

    Melhoramento animal no Brasil: uma viso crtica espcies aquticas. In: SIMPSIO BRASILEIRO DE MELHORAMENTO ANIMAL, 8., 2010, Maring. Anais... Maring: SBMA, 2010.

  • 19

    SUSSEL, F. R. A tilpia vem se ajustando a novos cenrios e regies. Anurio da Pecuria Brasileira, ANUALPEC, 2010.

    SUSSEL, F. R. Planejamento na produo de tilpias.

    Pesquisa e Tecnologia, vol.9, n.2, jul./dez. 2012.

  • 2 A TILPIA-DO-NILO

    (Oreochromis niloticus)

    Lidiane Marcondes Maciel

  • 21

    Ao longo da evoluo das espcies, surgiram diversas

    formas de adaptao dos peixes em relao ao ambiente

    aqutico em que esto inseridos. Com isso, encontram-se

    hoje diversas espcies de peixes que apresentam hbitos

    alimentares diversificados, estruturas sensoriais bastante

    eficazes, formas variadas, dentre outros aspectos, como

    temperatura, pH e oxignio, por exemplo, que influenciam

    na sobrevivncia dessas espcies em gua doce. Para que a

    criao ou explorao racional de peixes seja efetiva,

    necessrio conhecer a organizao e o funcionamento do

    organismo desses animais.

    O estudo da anatomia, morfologia e fisiologia dos

    peixes, auxilia no entendimento sobre o comportamento,

    estratgias de adaptaes adotadas pela espcie e suas

    devidas particularidades, para que dentro de um regime de

    criao, possa existir um controle quanto instalao,

    alimentao, reproduo e outros aspectos pertinentes ao

    desenvolvimento do animal.

    Nesse captulo sero abordadas algumas

    caractersticas gerais sobre a tilpia-do-Nilo, conceitos

    anatmicos e morfolgicos e as principais funes e

    caractersticas do sistema fisiolgico dos peixes quanto ao

    sistema circulatrio, nervoso, respiratrio e digestrio.

  • 22

    2.1 Caractersticas gerais da espcie

    A tilpia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) um peixe

    do grupo dos Telesteos, Ordem Peciforme, pertencente

    Famlia Cichlidae, Subfamlia Pseudocrenilabrinae.

    Originou-se da bacia do rio Nilo, no leste da frica,

    encontrando-se distribuda em regies tropicais e

    subtropicais, como em Israel, no Sudoeste Asitico e no

    Continente Americano. Por intermdio do Departamento

    Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), em 1971, a

    espcie foi introduzida nos audes do Nordeste do Brasil,

    difundindo-se para o resto do pas.

    A tilpia-do-Nilo apresenta um timo

    desenvolvimento em ambientes com temperaturas que

    variam de 25 a 30C, abaixo desse valor comea a ocorrer

    um declnio no crescimento dessa espcie. Em

    temperaturas abaixo de 11C as tilpias no resistem e

    comeam a morrer, e abaixo de 7C h existncia de uma

    mortalidade em massa da populao.

    Segundo sua descrio fsica, a tilpia-do-Nilo

    apresenta listras verticais, colorao acinzentada e corpo

    comprimido lateralmente. Apresentam crescimento

  • 23

    acelerado, podendo os adultos chegar at 60 cm em

    comprimento, variando seu peso de 4,3 kg a 9,5 kg.

    A tilpia tem hbito alimentar onvoro. Em ambiente

    natural alimentam-se de fitoplncton, plantas aquticas,

    pequenos invertebrados, fauna bentnica1, entre outros, e

    em sistemas de produo se adapta bem ingesto de

    rao.

    As tilpias possuem alta taxa de fertilidade e

    excelente capacidade de reproduo, mesmo antes de

    atingir sua maturidade sexual, o que geralmente ocorre

    entre o 3 e o 4 ms aps a estocagem de alevinos. Por

    ser uma espcie que apresenta maturao sexual precoce,

    se indica o cultivo de populaes monossexo, para evitar

    problemas de heterogeneidade do lote e menor

    crescimento das fmeas.

    2.2 Anatomia e morfologia externa

    O corpo da tilpia pode ser dividido em trs regies:

    cabea, tronco e cauda. A cabea estende-se da ponta do

    focinho at a abertura do oprculo, o tronco vai do

    1Fauna Bentnica: organismos da epifauna e da endofauna. Epifauna so

    aqueles que permanecem no substrato, consolidado ou no. Os da endofauna so organismos que escavam ou ficam enterrados no sedimento ou nas rochas.

  • 24

    oprculo at o orifcio anal, a partir da se tem o incio da

    cauda. A boca encontra-se na posio terminal, e em cada

    lado da cabea contm um olho, os quais no possuem

    plpebras. Atrs dos olhos existe uma placa em forma de

    meia-lua, o oprculo, que serve como tampa para a

    cavidade branquial. Tm-se quatro pares de brnquias,

    cada uma formada por um arco branquial, no qual se

    inserem os filamentos branquiais. Entre as brnquias esto

    s fendas branquiais, por onde passa a gua.

    As nadadeiras so estruturas externas que auxiliam a

    natao e o equilbrio dos peixes. Sua funo fazer com

    que as tilpias tenham estabilidade na gua, ajudando na

    movimentao, dando direcionalidade e, no caso de

    algumas espcies, ajudam a ficar em repouso. As

    nadadeiras pares (peitorais e plvicas) tm funo de

    equilbrio e manobra enquanto as mpares (dorsal e anal),

    geralmente servem para dar estabilidade, controlando os

    movimentos, enquanto que a caudal, na maioria dos casos,

    serve para propulso. As nadadeiras peitorais tambm so

    utilizadas por alguns peixes na poca reprodutiva com o

    intuito de manter o fluxo de gua com os ovos, auxiliando

    na cpula.

  • 25

    Assim como em outros vertebrados, os peixes so

    recobertos por pele as quais secretam muco. A pele

    composta por duas camadas sendo uma de origem

    ectodrmica (epiderme) e outra mesodrmica (derme). na

    derme que se formam as escamas, possuem funo protetora

    e reduzem o atrito ao nadar. As escamas que ficam sobre a

    linha lateral do corpo dos peixes, contm pequenos

    orifcios que ligam clulas sensoriais e terminaes

    nervosas a parte exterior do animal.

    A tilpia-do-Nilo apresenta um formato comprimido

    do corpo, ou seja, seu corpo achatado lateralmente,

    composto por escamas do tipo ciclides, com colorao

    acinzentada, que se sobrepem umas as outras, de forma a

    cobrir o corpo todo do animal. Dispe de um focinho curto

    com uma boca anterior, dotada de pequenos dentes, quase

    que imperceptveis. Possui olhos laterais com colorao

    clara e seus rastros branquiais so curtos e grossos. A

    morfologia e anatomia desta espcie podem ser

    observadas na Figura 1.

  • 26

    Figura 1. Anatomia e morfologia externa da tilpia-do-Nilo.

    O. niloticus apresenta nadadeira dorsal, a qual

    dividida em duas partes, uma anterior espinhosa, que serve

    como defesa contra predadores, e outra posterior

    escamosa. Alm disso, apresenta um par de nadadeiras

    peitorais transparentes e um par de nadadeiras plvicas,

    uma nadadeira anal e uma caudal composta por estrias

    verticais a qual do tipo protocerca, sendo assim simtrica

    (Figura 2).

  • 27

    Figura 2. Nadadeira caudal da tilpia-do-Nilo.

    2.3 Anatomia e fisiologia

    2.3.1 Sistema circulatrio

    Os peixes so animais heterotrmicos, ou seja,

    apresentam variaes trmicas corpreas conforme

    existncia de oscilaes na temperatura do ambiente.

    Apresentam sistema circulatrio fechado e simples, no qual

    o sangue bombeado pelo corao em um nico sentido

    para o restante do corpo do animal e, somente sangue no

    oxigenado passa pelo corao, caracterizando um fluxo

    nico.

  • 28

    O corao situa-se atrs das brnquias e

    estruturalmente constitudo por duas cavidades (trio e

    ventrculo) e divide-se em quatro regies, sendo elas, seio

    venoso, trio, ventrculo e bulbo uretral. A parede do seio

    venoso delgada e est separada do trio atravs de duas

    vlvulas. O trio apresenta uma parede mais espessa e

    impulsiona o sangue para o ventrculo pelo orifcio

    atrioventricular. O ventrculo possui parede espessa e a

    parte contrtil do corao, o qual impulsiona o sangue para

    as brnquias e para o corpo. O bulbo arterial composto

    por uma parede espessa, com musculatura lisa e fibras

    elsticas as quais se ligam diretamente a aorta.

    O sangue que sai do corao segue para as brnquias,

    onde ocorrem as trocas gasosas, na sequncia perfunde os

    capilares do corpo e no final do ciclo volta para o corao

    (Figura 3). Assim, o sangue venoso chega ao corao atravs

    de veias, indo em seguida para o trio e para o ventrculo,

    onde bombeado para fora, passando ento pelo cone

    arterioso e percorrendo em direo aorta ventral. Da

    aorta ventral o sangue segue para as brnquias, atravs dos

    vasos branquiais aferentes onde ocorre a troca gasosa e,

    finalmente, sai atravs das alas coletoras eferentes, num

    processo de contracorrente com a gua vindo do meio

  • 29

    externo e indo para a aorta dorsal. Portanto, o corao dos

    peixes recebe o sangue com pouco oxignio (venoso), no

    recebendo o arterial (com muito oxignio).

    Figura 3. Sistema circulatrio dos peixes. (Ilustrao: Renan da Luz).

  • 30

    2.3.2 Sistema nervoso

    O sistema nervoso responsvel pelo controle das

    aes do corpo, mediante a conduo por clulas

    individuais nervosas (os neurnios), que eventualmente

    provocam resposta em algum outro sistema. Nas tilpias,

    ele dividido em sistema nervoso central SNC (crebro e

    medula), no qual as informaes so recebidas,

    processadas e interpretadas; e sistema nervoso perifrico

    SNP (autnomo simptico, parassimptico e somtico) que

    tem como funo transmitir as informaes dos rgos

    sensoriais para o SNC, e do central para os rgos.

    As tilpias possuem um crebro subdividido em oito

    regies e dispe em geral de dez pares de nervos craniais

    sendo eles: olfatrio, tico, culomotor, pattico ou

    troclear, trigmeo, abdutor, facial, acstico, glossofarngeo

    e vago.

    A regio chamada medula oblonga ou bulbo

    raquidiano (miencfalo), controla a funo dos rgos

    internos como batimentos cardacos, presso sangunea,

    processos de digesto e excreo. Tambm tem como

    funo receber e transmitir informaes do telencfalo e

    mesencfalo. O telencfalo ou crebro anterior

  • 31

    dominado pelos lobos olfatrios, que tem funo de

    interpretar os estmulos nervosos do olfato. As tilpias

    apresentam a viso, como rgo de sentido mais

    importante, por isso seus lobos olfatrios so menores em

    relao a outras espcies de peixes existentes. O

    telencfalo responsvel pela memria e funo cognitiva.

    O mesencfalo constitudo pelos lbulos pticos

    que tem como funo interpretar as informaes da viso,

    que chegam atravs do nervo ptico. O metencfalo d

    origem ao cerebelo que controla a coordenao muscular e

    importante na manuteno do equilbrio. A medula ou

    corda espinhal localiza-se na parte superior da coluna

    vertebral, levando e trazendo informaes para o restante

    do corpo (SNP). O hipotlamo secreta hormnios que

    estimulam a hipfise e regulam funes como sono e fome,

    por exemplo. J a hipfise uma importante reguladora do

    metabolismo, reproduo, entre outros.

    Fora do encfalo e medula espinhal (SNC), percorre

    uma rede de nervos (SNP), que atravs de impulsos

    eltricos transmitem as informaes pelas diversas partes

    do corpo. Os nervos que nascem na medula espinhal so

    conhecidos como nervos espinhais e os que iniciam no

    encfalo so chamados de nervos cranianos. Na Tabela 1

  • 32

    encontram-se as divises do sistema nervoso perifrico e

    suas respectivas funes.

    Tabela 1. Diviso do sistema nervoso perifrico (SNP) e suas respectivas funes

    SNP FUNO

    Autnomo simptico

    Acelerao dos batimentos cardacos; Aumento da presso arterial; Aumento da concentrao de glicose no sangue; Ativao do metabolismo geral do corpo; Vasoconstrio; Liberao do neurotransmissor noroepinefrina.

    Autnomo parassimptico

    Reduo do ritmo cardaco; Reduo da presso arterial; Estmulo de atividades relaxantes; Liberao de acetilcolina.

    Somtico Inervao dos msculos sensitivos e motores; Locomoo dos peixes.

    2.3.3 Sistema respiratrio

    Todos os animais necessitam de oxignio para o

    metabolismo celular e precisam eliminar o gs carbnico,

    atravs da respirao. A baixa concentrao de oxignio do

  • 33

    meio aqutico contribuiu para o desenvolvimento das

    brnquias, ao longo da evoluo dos peixes sseos. A fase

    em que os peixes se encontram que determina a forma

    como eles respiram. Peixes telesteos, como o caso da

    tilpia-do-Nilo, realizam a respirao na fase adulta atravs

    das brnquias, as quais so ricamente vascularizadas,

    porm na fase larval dependem da respirao cutnea por

    no possurem hemoglobina circulante.

    As brnquias so compostas por quatro arcos

    branquiais que possuem duas fileiras de filamentos

    branquiais, os quais dispem de inmeras lamelas

    branquiais, onde ocorre a troca gasosa (Figura 4Erro! Fonte

    e referncia no encontrada.). O interior das lamelas

    composto por pequenos canais que liberam a passagem de

    uma clula sangunea por vez, o que ocasiona uma troca

    gasosa eficiente.

    A respirao branquial ocorre por fluxo contra

    corrente, onde o fluxo de gua entra pela boca, percorre a

    faringe e passa pelos arcos branquiais. Nos arcos branquiais

    encontra o sangue que corre em direo oposta, e esse por

    sua vez, capta o oxignio diludo na gua, ao mesmo tempo

    em que o gs carbnico passa do sangue para a gua por

  • 34

    meio das lamelas. Finalmente a gua expelida do

    organismo atravs do oprculo (Figura 5).

    A B

    C

    BFilamentos branquiais

    Arco branquial

    Rastros branquiais

    Corao

    Figura 4. Filamentos branquiais, lamela branquial e rastros branquiais (A e B); corao, filamentos e lamelas branquiais (C).

  • 35

    Figura 5. Sistema respiratrio dos telesteos.

    2.3.4 Sistema digestrio

    Assim como os animais terrestres os peixes

    necessitam de nutrientes para auxiliar no crescimento,

    reproduo e outras funes fisiolgicas do organismo.

    Esses nutrientes so obtidos de alimentos naturais

    disponveis no ambiente, ou atravs de raes

    disponibilizadas no cultivo. As espcies de peixes

    apresentam hbitos alimentares distintos, os quais esto

    relacionados s variaes na estrutura bsica do trato

    gastrointestinal, pois influenciam na presena, posio,

    formato e tamanho de um rgo em particular.

  • 36

    A tilpia-do-Nilo, por sua vez, classificada como

    peixe de hbito alimentar onvoro, ou seja, se alimenta de

    todo tipo de material orgnico disponvel na gua,

    moluscos, sementes, vegetais de qualquer espcie,

    crustceos, entre outros. Na escassez de alimentos slidos

    possuem capacidade de filtrar e ingerir organismos

    planctnicos.

    O trato gastrointestinal o tubo que tem incio na

    boca e termina no orifcio anal, por onde passam os

    alimentos. Pode ser subdividido em cavidade

    bucofaringeana, intestino anterior (esfago e estmago),

    intestino mdio (intestino propriamente dito) e intestino

    posterior (reto).

    2.3.4.1 Cavidade bucal, faringe e esfago

    A cavidade bucal e a faringe so compostas por

    lbios, boca, dentes, lngua e arcos branquiais, onde ocorre

    a seleo, apreenso e conduo do alimento at o

    esfago. Os onvoros apresentam boca de tamanho

    mediano, posio terminal e dentes molariformes com

    superfcie achatada servindo para triturar e roer o

    alimento. A lngua usualmente rgida e pouco mvel, no

  • 37

    contm glndulas salivares, porm apresentam botes

    gustativos.

    A faringe composta por arcos branquiais e pouco

    evidente seu limite com a cavidade bucal. Os rastros

    branquiais das tilpias so longos, numerosos e prximos

    entre si, contribuindo para que o alimento seja filtrado

    juntamente com o muco das brnquias. Os rastros tambm

    protegem as brnquias contra partculas que possam vir a

    machuc-las caso sejam ingeridas.

    O esfago que tem como funo transportar o

    alimento para o estmago um tubo, frequentemente

    curto, possui grande capacidade de distenso, apresenta

    epitlio estratificado e isento de glndulas. Na maioria dos

    telesteos de difcil identificao, por no possuir o

    esfncter crdico, muitas vezes, que o separa do estmago.

    2.3.4.2 Estmago

    O estmago pode ser dividido em trs regies:

    crdica (entrada), fndica (saco) e pilrica (sada). o local

    onde o alimento armazenado temporariamente e onde

    ocorrem as funes mecnicas e qumicas que vo

    contribuir para a triturao do alimento e inicio do

    processo digestivo.

  • 38

    Em espcies no vorazes, como o caso da tilpia, o

    estmago pouco desenvolvido e apresenta formato

    sacular com regies aglandulares (funo mecnica) e

    glandulares (funo gstrica). Na regio glandular

    encontram-se a poro crdica e fndica, onde ocorre

    produo do suco gstrico, constitudo de pepsina, cido

    clordrico e muco, j a regio pilrica isenta de glndulas

    e possui musculatura forte. Ao contrrio dos carnvoros, os

    onvoros no apresentam estmago volumoso e elstico,

    devido ao hbito de realizarem maior nmero de refeies

    dirias com menor quantidade de alimento por refeio.

    Espcies de peixes que apresentam regime alimentar

    no voraz, no possuem esfncter pilrico, que o limite

    entre o estmago e o intestino, permitindo-lhes engolir

    alimento at que o intestino esteja repleto

    completamente. Na Figura 6 possvel, est representado

    esquematicamente, o sistema gastrointestinal de

    telesteos.

  • 39

    2.3.4.3 Intestino e reto

    A poro do intestino inicia-se na vlvula pilrica e

    termina no reto, no sendo demarcado em delgado e

    grosso. um tubo longo responsvel pela digesto qumica

    e grande parte da absoro dos nutrientes, ons e gua da

    dieta. Os telesteos apresentam como particularidade uma

    regio proximal onde se tem maior capacidade de digesto

    Figura 6. Sistema gastrointestinal de Telesteos. Esfago Ef; Estmago - Et; Cecos - Cp; Vescula biliar - Vb; Fgado - Fi; Intestino - In; Reto - Rt. (Ilustrao: Renan da Luz).

  • 40

    e absoro de nutrientes menores como monossacardeos,

    aminocidos e cido graxo, enquanto a distal responsvel

    pela entrada de macromolculas por pinocitose

    (mecanismo de penetrao de fludos na clula atravs da

    invaginao da membrana celular com a formao de

    vesculas internas), ou seja, predomina-se a absoro de

    ons e gua. Possui forma e comprimento varivel

    conforme a espcie, sendo intermedirio nos onvoros.

    Algumas espcies, como o caso das tilpias,

    apresentam no incio do intestino cecos pilricos, que so

    projees em forma de saco, que tem como funo o

    aumento da superfcie de digesto, atravs da ativao da

    hidrlise de componentes proteicos, e a absoro de

    nutrientes.

    Peixes onvoros e herbvoros apresentam capacidade

    de alterar a estrutura e as propriedades absortivas do

    sistema digestivo, devido a mudanas na dieta, pois estes

    esto sujeitos a variaes na composio bromatolgica

    das mesmas. Uma maior quantidade de glicdios na

    alimentao pode desencadear aumento no comprimento

    do intestino e absoro de glicose por alguns telesteos.

    No final do intestino mdio se encontra uma regio

    mais delgada e esbranquiada, com grande capacidade de

  • 41

    distenso que corresponde ao reto. Pode ser diferenciado

    do intestino, devido ao decrscimo da vascularizao,

    presena de clulas secretoras e maior nmero de clulas

    produtoras de muco vistas histologicamente. A abertura

    anal tambm o local de terminao dos ductos urinrios e

    reprodutivos.

    2.3.4.4 Fgado, pncreas e vescula biliar

    O fgado situa-se dentro da cavidade abdominal e

    separado da cavidade pericrdica por um septo transversal.

    Possui formas distintas, com lobos pares e mpares e de

    colorao escura. Contm a vescula biliar como anexo

    responsvel por excretar bile quando o alimento chega ao

    intestino. O fgado o rgo produtor da bile, a qual

    armazenada na vescula biliar, e ao ser conduzido ao lmen

    do intestino realiza a emulsificao da gordura e

    neutralizao da acidez do quimo. Atravs da corrente

    sangunea o fgado recebe os nutrientes absorvidos pelo

    trato intestinal, faz o processamento dos mesmos e

    distribui para outros tecidos do corpo.

    O pncreas no um rgo nico, sendo difcil de ser

    identificado por encontrar-se espalhado no mesentrio ou

    dentro do fgado ou bao. Possui ductos com aberturas na

  • 42

    regio intestinal, onde desembocam as enzimas digestivas

    e bicarbonato. Tem a digesto como funo bsica,

    encontrando nele a produo de amilase, lpase, tripsina e

    erepsina. Tambm responsvel pela secreo de glucagon

    e de insulina em resposta a absoro de nutrientes.

    2.4 Sistema reprodutor As tilpias apresentam um sistema reprodutor

    simples, formado de ovrios nas fmeas e testculos nos

    machos.

    2.4.1 Ovrios

    As fmeas de tilpia apresentam um par de ovrios,

    os quais se localizam ventralmente bexiga natatria e

    longitudinalmente ao corpo e so suspensos atravs do

    mesentrio. As variaes do peso e do tamanho dos

    ovrios esto relacionadas idade da tilpia e

    consequentemente ao estgio de maturidade que a mesma

    se encontra. Logo adiante do ovrio encontra-se o oviduto,

    que tem funo de deposio, incubao ou apenas a

    conduo dos vulos, e em seguida o aparelho reprodutor

    finalizado com o poro urogenital.

  • 43

    Os vulos da tilpia-do-Nilo caracterizam-se por

    possuir membrana corinica e vitelnica com espao

    perivitelnico, e por apresentar externamente a micrpila,

    por onde passa o espermatozide.

    2.4.2 Testculos

    Os machos de tilpia-do-Nilo possuem nmero par de

    testculos, os quais so longitudinais, compactos e

    retangulares, e localizam-se da mesma maneira, em relao

    forma e a regio, que os ovrios. O peso, forma e

    tamanho tambm esto relacionados com o estgio de

    maturao das gnadas.

    Os espermatozides so liberados a partir do

    momento em que os testculos apresentam-se maduros.

    Em seguida seguem atravs do ducto espermtico at

    abertura urogenital por onde so liberados para o

    ambiente externo. Os espermatozides tornam-se ativos e

    aptos a fecundar os vulos, a partir do momento em que

    entram em contato com a gua, pois ocorre a diluio do

    potssio presente no smen proporcionando eficincia

    para a fecundao.

  • 44

    2.4.3 Maturidade sexual e ciclo

    reprodutivo

    As tilpias atingem sua maturidade sexual ou est

    sexualmente madura quando suas gnadas (ovrios e

    testculos) comearem a produzir gametas viveis. A

    maturidade depende de diversos fatores como idade,

    tamanho, temperatura, fotoperodo, alimentao,

    presena do sexo oposto para ser alcanada, e

    normalmente as fmeas tendem a ser mais tardias em

    relao aos machos.

    Diversos processos fisiolgicos esto associados

    reproduo dos peixes, dentre eles encontra-se a

    diferenciao das gnadas, gametognese, liberao de

    gametas e ecloso dos ovos. Esses processos por sua vez,

    so controlados por fatores endcrinos ao longo do eixo

    hipotlamo-hipfise-gnadas. O ciclo reprodutivo da

    tilpia-do-Nilo, como de outras espcies de peixes,

    controlado por estmulos ambientais, onde tecidos e rgo

    especficos do sistema sensorial captam e traduzem esses

    estmulos em mensagens neuroendcrinas e os direcionam

    para o crebro atravs de sinais neurais. Esses sinais

    chegam ao hipotlamo e fazem com que ocorra a liberao

  • 45

    de peptdeos hipotalmicos, os quais chegam at a hipfise

    estimulando a liberao dos hormnios gonadotrficos,

    que atuaro nas gnadas. As gnadas tm como funo

    produzir os hormnios esterides sexuais, ou seja,

    estrgenos e andrgenos, os quais so responsveis por

    formar e desenvolver os gametas, regular caractersticas

    sexuais secundrias, colorao nupcial e comportamento

    reprodutivo. Desta forma, a desova est diretamente

    relacionada a fatores endcrinos e ambientais.

    2.5 Bibliografia consultada

    BALDISSEROTO, B. Fisiologia de peixes aplicada piscicultura. 2 Edio. Santa Maria: Editora UFSM, 2009. 352 p.

    BEMVENUTI, M. A.; FISCHER, L. G.; Peixes: morfologia e

    adaptaes. Cadernos de Ecologia Aqutica. Universidade Federal do Rio Grande, Instituto de Oceanografia, 2010. Acesso em: 01 de abril de 2015.

    CHACON, D. M. M.; LUCHIARI, A. C. Fisiologia e

    Comportamento de Peixes. Texto publicado no site do Grupo de Estudos de Ecologia e Fisiologia de Animais Aquticos. Disponvel em: . Acesso em: 04 de abril de 2015.

    MORO, G. V.; RODRIGUES, A. P. O.; TORATI, L. S. et al.

    Anatomia e fisiologia de peixes de gua doce. IN:

  • 46

    RODRIGUES, A. P. O. et al. Piscicultura de gua doce: multiplicando conhecimentos. 1 Edio. Braslia, DF: Ed. Embrapa, 2013. p.301-336.

    MOREIRA, H. L. M.; VARGAS, L.; RIBEIRO, R. P. et al.

    Fundamentos da Moderna Aquicultura. Canoas: Ed. da ULBRA, 2001. p.17-28.

    MUNAKATA, A.; KOBAYASHI, M. Endocrine control of sexual

    behavior in teleost fish. General and Comparative Endocrinology, n.165, 2010. p.456468.

    RIBEIRO, C. S.; MOREIRA, R. G. Fatores ambientais e

    reproduo dos peixes. Revista da Biologia, n.8, p.58-61, 2012.

    ROTTA, M. A. Aspectos gerais da fisiologia e estrutura do

    sistema digestivo dos peixes relacionados piscicultura. Corumb: Embrapa Pantanal, 2003. 48p (Embrapa Pantanal - Documentos 53).

  • 3 CONSTRUO DE

    VIVEIROS

    Marcos Vinicios Dalmass

  • 48

    A construo dos viveiros representa o maior

    investimento dentro da piscicultura, sendo o seu custo

    diretamente relacionado com a quantidade de terra a ser

    movida para a construo das estruturas. Portanto, o

    planejamento da atividade muito importante, pois alm

    de representar o principal custo de investimento da

    produo, ele ser uma benfeitoria que ir perdurar por

    vrios ciclos de cultivo. Por isso devem ser levados em

    considerao todos os aspectos que influenciam na

    construo do viveiro, desde a escolha do local at o seu

    dimensionamento.

    Neste captulo sero abordados aspectos em relao

    construo de viveiros como regulamentao ambiental,

    requisitos para a construo, estrutura e enchimento.

    3.1 Regulamentao ambiental

    3.1.1 Licenciamento ambiental

    Assim como outras atividades, a piscicultura gera

    impacto ambiental, portanto necessrio ser licenciada

    para garantir sustentabilidade ambiental futura. No Paran

  • 49

    o rgo responsvel pelo licenciamento ambiental o

    Instituto Ambiental do Paran (IAP).

    Os empreendimentos de aquicultura seguem as

    regras gerais para o licenciamento ambiental, conforme

    definidas na Lei n6.938/81 Lei da Poltica Nacional do

    Meio Ambiente e na Resoluo CONAMA n237, de 19 de

    dezembro de 1997. Podendo exercer o licenciamento

    ambiental os municpios e estados, exceto em reas

    indgenas, fronteirias e outros. Nesse caso, o

    licenciamento cabe ao Instituto Brasileiro de Meio

    Ambiente e dos recursos Naturais Renovveis (IBAMA).

    Para efeito de licenciamento, o potencial de impacto

    ambiental o critrio principal de classificao dos

    empreendimentos de aquicultura. A classificao baseada

    no porte (rea de lmina dgua) e no potencial de

    severidade. Mais informaes sobre como definido o

    porte da atividade e o potencial de severidade das espcies

    vide a Resoluo CONAMA n413, de 26 de julho de 2009.

    Existem nove classes de empreendimentos que definem os

    procedimentos de licenciamento adequados para cada um,

    conforme apresentado na Tabela 2.

  • 50

    Tabela 2. Potencial de impacto ambiental

    Potencial da severidade da espcie

    Baixo (B) Mdio (M) Alto (A)

    Porte

    Pequeno (P) PB PM PA

    Mdio (M) MB MM MA

    Grande (G) GB GM GA Fonte: Resoluo CONAMA n 413, de 26 de julho de 2009. PB: Pequeno porte com baixo potencial de severidade da espcie; PM: Pequeno porte com mdio potencial de severidade da espcie; PA: Pequeno porte com alto potencial de severidade da espcie; MB: Mdio porte com baixo potencial de severidade das espcies; MM: Mdio porte com mdio potencial de severidade pela espcie; MA: Mdio porte com alto potencial de severidade pela espcie; GB: Grande porte com baixo potencial de severidade pela espcie; GM: Grande porte com mdio potencial de severidade pela espcie; GA: Grande porte com alto potencial de severidade pela espcie.

    Sendo assim, quanto maior o grau de impacto

    ambiental, maiores sero as exigncias pelo rgo

    ambiental, seja ele municipal, estadual ou federal. Para os

    empreendimentos classificados como de mdio ou alto

    impacto ambiental, so exigidas trs etapas no processo de

    licenciamento ambiental: Licena prvia, Licena de

    Instalao e Licena de Operao.

  • 51

    3.1.1.1 Obteno de licena ambiental

    Primeiramente o empreendedor dever procurar o

    Instituto Ambiental do Paran (IAP), e fazer o requerimento

    de licenciamento ambiental, aonde o empreendedor ir se

    cadastrar e apresentar as caractersticas da atividade que

    deseja executar. Mediante isso o IAP far a abertura do

    processo, no qual ser elaborado o termo de referncia

    que ser entregue ao empreendedor para orientar o

    estudo ambiental. Depois de realizado o estudo ambiental

    e entregue ao IAP juntamente com os documentos de

    estudo e relatrio de impacto ambiental (EIA/RIMA), o

    documento passar por avaliao e ser emitido um

    parecer tcnico, a partir do qual o IAP ir deferir ou

    indeferir a Licena prvia (LP). Lembrando que a licena

    prvia no autoriza a realizao de obras de implantao

    do empreendimento.

    Para a obteno da Licena de Instalao (LI), o

    empreendedor dever elaborar o Plano Bsico Ambiental

    (PBA) que detalha os programas ambientais necessrios

    para a minimizao dos impactos negativos e maximizao

    dos impactos positivos, identificados na elaborao do EIA.

    Este documento dever ser enviado para o IAP que ir

  • 52

    analisar e emitir um parecer tcnico a partir do qual ir

    deferir ou indeferir a Licena de Instalao (LI). Esta licena

    autoriza o incio das obras de implantao.

    A Licena de Operao (LO) a ltima fase antes do

    incio das atividades, para obt-la o empreendedor dever

    elaborar um conjunto de relatrios, descrevendo a

    implantao dos programas ambientais e medidas

    mitigadoras previstas nas etapas de LP e LI. O

    empreendedor entregara os relatrios ao IAP, que

    analisar e verificar os resultados, emitindo um parecer

    tcnico que servir de base para decidir se ir deferir ou

    indeferir a licena de operao.

    Atividades que estiverem em fase de ampliao e no

    possurem Licena de Operao devero solicitar, ao

    mesmo tempo, a LO da parte existente e a LP para a nova

    situao. No caso de j possurem a LO devero solicitar LP

    para a situao pretendida.

    Licena de Aquicultor o ltimo documento

    necessrio para o incio da atividade legal, a obteno da

    Licena de Aquicultor emitida pelo MPA. O

    empreendedor dever apresentar a licena ambiental de

    operao (LO), a outorga da gua, alm de outros

    documentos. Para pequenos empreendimentos ser

  • 53

    necessria a apresentao do documento de dispensa de

    licenciamento ambiental e outorga da gua.

    A solicitao de qualquer uma das licenas deve estar

    de acordo com a fase em que se encontra o

    empreendimento: concepo, obra, operao ou

    ampliao, mesmo que o empreendedor no tenha obtido

    anteriormente a Licena prevista em Lei. As licenas

    deveram ser renovadas ao fim do seu prazo de validade (5

    anos).

    Ainda poder ser realizado o Licenciamento

    Ambiental Simplificado (LAS), para empreendimentos de

    pequeno porte ou de baixo potencial de impacto

    ambiental. Se adequam aos LAS empreendimentos com at

    5 ha de lmina dgua e com produtividade inferior a

    10.000 kg/ha/ano. Para a obteno da LAS o

    empreendedor dever procurar o IAP, da mesma forma

    como j foi descrita anteriormente e aps entregar todos

    os documentos necessrios, poder requisitar a LAS. uma

    licena nica, com taxa de licenciamento reduzida. Esta

    licena tem durao mnima de 4 anos e mxima de 6 anos

    quando comprovada a implementao do programa de

    gesto ambiental voluntrio, cuja eficincia tenha sido

    atestada pelo rgo ambiental.

  • 54

    3.1.2 Outorga da gua

    A outorga da gua representa a concesso do direito

    de uso da mesma, sob condio e prazo determinado pelo

    poder pblico estadual (Superintendncia de

    Desenvolvimento de Recursos Hdricos e Saneamento

    Ambiental SUDERHSA) ou Federal (Agncia Nacional de

    guas ANA), dependendo da classificao do recurso que

    se d em funo da sua localizao geogrfica.

    A outorga da gua serve como instrumento do

    governo para a avaliao qualitativa e quantitativa do seu

    uso, seja pela captao ou pela liberao de efluentes, para

    assegurar o direito de acesso a gua, conforme est

    disposto na Lei Federal n9.433/1997.

    A agncia Nacional de guas (ANA) responsvel

    pela emisso de outorgas de direito de uso de recursos

    hdricos que dividem ou passam por dois ou mais estados,

    ou ainda aqueles que passam pela fronteira entre o Brasil e

    outros pases. Para aqueles recursos hdricos que se

    encontrarem exclusivamente dentro do estado do Paran,

    a outorga caber a Superintendncia de Desenvolvimento

    de Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental.

  • 55

    A emisso da Outorga Prvia e da Outorga de Direito

    de Uso de Recursos Hdricos pela SUDERHSA para novos

    empreendimentos, como tambm para empreendimentos

    existentes, deve estar integrado com os procedimentos

    adotados pelo Instituto Ambiental do Paran IAP no que

    se refere ao Licenciamento Ambiental.

    Outorga prvia: um requisito para a obteno da

    Licena de Operao concedida pelo IAP, portanto

    requerida anteriormente ao efetivo funcionamento do

    empreendimento.

    Outorga de direito: concedida a empreendimentos

    que fazem a utilizao dos recursos hdricos em alguma de

    suas formas, seja na captao ou na liberao de efluentes.

    Poder ser requisitada por empreendimentos j existentes.

    Outorgas de captao: para consegui-las preciso

    realizar o preenchimento do Requerimento de captao

    (RCA) e apresenta-lo junto com os documentos

    obrigatrios SUDERHSA. A captao pode ser superficial

    ou subterrnea, sendo que cada uma possui uma outorga

    especfica. Para a outorga de captao de gua subterrnea

    preciso ainda realizar uma anlise fsico-qumica e

    bacteriolgica dessas guas.

  • 56

    Outorgas de lanamento de efluentes: para

    consegui-la necessrio preencher o Requerimento de

    Lanamento de Efluentes (RLE) e entregar a SUDERHSA,

    juntamente com os demais documentos obrigatrios. Aps

    aceito o requerimento, o rgo necessitar realizar uma

    vistoria tcnica, para analisar o local onde ser liberado o

    efluente.

    Devero ser requisitadas a SUDERHSA,

    simultaneamente, as outorgas de captao da gua e de

    liberao de efluentes. Apesar de estarem relacionadas,

    so processos totalmente distintos e que devem ser

    apresentados de forma separada ao rgo.

    3.2 Requisitos para a construo de viveiros

    A construo dos viveiros necessita de planejamento,

    pois representa a maior parte dos custos de investimento

    da piscicultura. Por isso antes de iniciar o projeto de

    construo, alguns pontos devem ser observados, como:

    rea, topografia, tipo de solo e disponibilidade de gua.

    Estes fatores sero determinantes na alocao dos viveiros

    na rea e no custo de implantao.

  • 57

    3.2.1 rea e topografia

    A rea e a topografia iro determinar a forma, o

    tamanho e o nmero de viveiros possveis de serem

    construdos, bem como, definir o quanto de terra precisar

    ser movimentado na propriedade, para a construo das

    instalaes, o que implica diretamente de quanto ser o

    investimento financeiro.

    Para a construo de viveiros essencial que sejam

    escolhidas as reas que apresentarem pouca declividade

    (at 2%), ocasionando assim uma menor movimentao de

    terra para a construo das instalaes.

    3.2.2 Tipo de solo

    Faz-se importante conhecer o tipo de solo que ir ser

    trabalhado, principalmente devido infiltrao de gua, o

    que implicar em uma maior ou menor perda deste

    insumo.

    Os solos mais apropriados para a construo de

    viveiros so aqueles que de maneira geral possuem uma

    textura muito argilosa (mais de 60% de argila) ou argilosa,

    contendo entre 35 e 60% de argila na sua composio

  • 58

    (argila, argila siltosa, argila arenosa e franco-argilosa).

    Considerando que a argila composta por partculas

    menores que a da areia (Tabela 3), o que possibilita assim

    maior coeso das partculas, levando assim a uma maior

    plasticidade e impermeabilidade do solo. indesejvel que

    o solo seja muito arenoso e/ou ainda apresente grande

    quantidade de cascalhos e razes de grandes rvores,

    favorecendo assim a infiltrao da gua no mesmo.

    Tabela 3. Tamanho de partculas do solo na escala de Atterberg

    Frao do Solo Tamanho de Partcula (mm)

    Argila < 0,002

    Silte 0,002 0,02

    Areia Fina 0,02 0,2

    Areia Grossa 0,02-2

    Fonte: Brady e Weil (2010).

    Para descobrir se o solo a ser trabalhado possui

    caractersticas desejveis, pode se proceder de duas

    formas: anlise fsica do solo em laboratrio, e se no

    houver laboratrio, pode ser realizado um teste prtico

    para medir a permeabilidade ou a textura do solo

    conforme a seguinte descrio:

  • 59

    Teste de permeabilidade: escavar um buraco com

    profundidade de 1,80 m (ou profundidade que se deseja

    construir o viveiro) e encher de gua. Ao final do dia deve-

    se observar o nvel da gua e se for necessrio, completar

    at o nvel mximo. Na manh seguinte, caso a gua tenha

    desaparecido, significa que o solo no possui boa aptido

    para piscicultura.

    Teste de textura: Uma amostra do solo abaixo da

    cobertura vegetal deve ser retirada e passada em uma

    peneira comum (malha de 2,0 mm). O solo peneirado

    precisa ser molhado e uma pequena quantidade ser

    apertada em uma das mos. Ao abrir a mo, se permanecer

    a marca dos dedos na amostra, significa que o solo

    indicado para a piscicultura.

    3.2.3 Disponibilidade de gua

    A disponibilidade de gua um aspecto muito

    importante a ser considerado na implantao dos viveiros,

    principalmente na regio do extremo noroeste do Paran

    que sofre um curto perodo de estiagem durante o inverno.

    Mesmo nos perodos de estiagem a quantidade de gua

  • 60

    deve ser o suficiente para atender mnima exigncia do

    viveiro (evaporao, infiltrao).

    A captao da gua pode se dar atravs de diferentes

    sistemas de coleta como: nascentes, pequenos crregos,

    barragens, poos artesianos.

    Para coletas de pequenos crregos e poos

    artesianos recomendado que se faa um aude-

    reservatrio, para no prejudicar o curso natural e

    melhorar a qualidade da gua subterrnea que pobre em

    oxignio e microrganismos. Neste caso, recomenda-se que

    a coleta de gua seja realizada da parte superior do viveiro,

    por possuir maior qualidade em relao quantidade de

    oxignio dissolvido e fitoplncton.

    3.3 Estrutura de viveiros

    3.3.1 Dimensionamento

    O formato e a disposio dos viveiros sero dados em

    funo do terreno, visando sempre ocupar a maior rea

    possvel, e ainda levar em considerao as atividades que

    sero realizadas, como: despesca, arraoamento,

  • 61

    carregamento dos peixes, tipo de maquinrio que circular

    entre os viveiros, entre outros.

    Quando o terreno permitir, dar preferncia a viveiros

    retangulares, na proporo de 1:4 em largura e

    comprimento, pois apresentam maior praticidade no

    manejo e melhor fluxo de gua, sendo mais comumente

    utilizados em pisciculturas. Lembrando que a construo de

    viveiros menores implica em um menor aproveitamento da

    rea, considerando que uma maior proporo do terreno

    ser gasta com a construo dos taludes.

    Por outro lado, viveiros grandes (maiores que 1 ha)

    possuem um fundo mais irregular que promove a

    permanncia de predadores e agentes patognicos,

    ocasionando o aparecimento de poas que prejudicam o

    processo de desinfeco do viveiro. E apresentam

    problemas com algumas atividades, principalmente a

    despesca com rede de arrasto e o esvaziamento do viveiro.

    No existe uma regra nica a ser seguida na

    construo de um viveiro. Sendo que para pisciculturas

    voltadas para a produo de alevinos, so recomendados

    viveiros menores, entre 250-1.000 m de lmina da gua

    (dependendo da escala de produo) e de 0,8 a 1,5 m de

    profundidade, para facilitar o manejo, evitando assim que

  • 62

    um grande nmero de indivduos se comprometam, caso

    ocorra alguma infeco por parasitos ou outros patgenos.

    Para a manuteno dos reprodutores so utilizados

    viveiros com cerca de 250-2.000 m com at 1 m de

    profundidade, pois o macho costuma fazer o ninho em

    guas mais rasas.

    Para viveiros destinados a terminao dos animais as

    dimenses sero maiores, normalmente entre 2.000 a

    10.000 m de lmina dgua, com profundidade entre 1-1,5

    m, para que possa ser realizada a despesca mesmo com o

    viveiro no seu nvel mximo de gua.

    3.3.2 Sistema de abastecimento

    O sistema de abastecimento deve possuir gua com

    qualidade e em quantidade suficiente para atender as

    necessidades dos viveiros, sejam elas para renovao da

    gua ou para repor o que perdido devido infiltrao e

    evaporao.

    Preferencialmente o abastecimento dever ser

    realizado por gravidade, para reduzir os custos com energia

    (eltrica e combustveis). Podem ser usadas fontes de gua

    que estejam localizadas acima do nvel dos viveiros, ou a

  • 63

    construo de barragens para que o nvel da gua se eleve.

    A captao da gua deve ser realizada conforme os

    aspectos discutidos no item 3.2.3 deste captulo.

    Sua distribuio ser realizada por condutos que

    podem ser abertos, feitos de concreto, de terra

    compactada ou condutos fechados como canos de PVC.

    Para a determinao das dimenses do conduto, leva-se

    em considerao a quantidade de gua necessria por

    hectare. De acordo com dados da EMBRAPA, a vazo ideal

    seria de dez litros por segundo por hectare (10 L/s/ha),

    estimados no perodo em que h menor disponibilidade

    hdrica, para saber qual ser sua cota mnima.

    Caso seja necessrio bombeamento, devido fonte

    de gua se encontrar abaixo do nvel dos viveiros, ou como

    forma suplementar, recomendvel que primeiro a gua

    seja bombeada para uma represa, para depois ser

    distribuda por gravidade aos viveiros. Dessa maneira

    haver economia de energia e menor susceptibilidade a

    problemas como falta de energia eltrica ou falhas

    mecnicas.

    Em ambos os casos conveniente instalao de

    filtros mecnicos para evitar a entrada de resduos

    orgnicos (folhas, galhos entre outras) e espcies

  • 64

    indesejveis para a piscicultura. Estes filtros devem ser

    planejados de forma que possam ser removidos para

    realizar limpezas peridicas.

    A entrada de gua no viveiro dever sempre ficar na

    extremidade oposta ao sistema de drenagem, para

    favorecer a renovao da gua, devendo estar a uma altura

    de aproximadamente 0,50 m favorecendo a oxigenao.

    Lembrando-se de colocar pedras no fundo do viveiro na

    regio onde h queda de gua, para evitar que ocorra

    eroso e ressuspenso de material.

    3.3.2.1 Estimativa de vazo de gua

    Aps as consideraes feitas a respeito da

    disponibilidade de gua no item 3.2.3 deste captulo, de

    grande importncia fazer a estimativa de vazo de gua

    para o abastecimento, sendo que esta definir o porte da

    piscicultura a ser implantada.

    Por definio vazo (Q) o volume de gua em litros

    (L) ou metros cbicos (m), que passa por um conduto em

    um perodo de tempo (t). A estimativa pode ser feita

    atravs de duas formas principais, sendo que a sua

    utilizao varia em funo do sistema de abastecimento:

    conduto fechado normalmente com canos de PVC ou

  • 65

    conduto aberto, podendo ser um canal dgua escavado,

    riacho, entre outros.

    Para condutos fechado o procedimento a ser

    realizado o seguinte:

    Utiliza-se um recipiente com volume conhecido

    exemplo: balde ou bacia;

    Com um cronmetro, coleta-se o tempo que

    demorou para encher o recipiente, repetindo isso por 3

    vezes;

    Calcula-se:

    Exemplo 1: Tempo para encher um tambor de 100

    litros completamente (3 vezes): 3 s, 4 s, 6 s. Mdia de

    tempo: 4,3 s.

    Considerando que a vazo ideal seria de 10L/s/ha,

    podemos estimar que essa vazo suficiente para

    abastecer cerca de 2,3 ha de lmina dgua.

  • 66

    Estimativa de vazo de gua para conduto aberto:

    escolhido um trecho do conduto que seja mais uniforme,

    para facilitar a medida da vazo, depois so escolhidos 2

    pontos com uma distncia de 10 m entre si.

    Utilizando uma garrafa PET de refrigerante com do

    seu volume preenchido por gua, ser possvel estimar o

    tempo que a gua leva para passar entre os dois pontos. A

    garrafa solta cerca de 5 m antes do ponto inicial, para que

    alcance a velocidade de deslocamento da gua, e aps

    passar pelo primeiro ponto do trecho iniciada a contagem

    do tempo com um cronmetro at passar pelo segundo

    ponto. Este procedimento realizado trs vezes, para

    obter um nmero mais acurado.

    Aps isso deve ser definida a rea da seco, onde

    esto os pontos. feito uma mdia das duas seces, que

    multiplicada pela distncia entre os pontos (10 m) ir

    fornecer a informao sobre o volume da gua. As reas

    das seces sero definidas de acordo com a sua forma

    geomtrica (Figura 7). Ento, a vazo poder ser calculada.

  • 67

    Forma da seo rea (m)

    b.h

    (b+m.h)h

    m.h

    1/8(-sen).D

    =RAD

    h=D/2

    Figura 7. Formas geomtricas, e clculo de suas respectivas

    reas.

    Exemplo 2:

    Realizar as medidas das reas das duas seces de

    um conduto, ponto inicial (1,20 m) e ponto final (1,32 m);

  • 68

    mdia da rea de seco do canal = 1,26 m. Distncia

    entre os dois pontos = 10 m, portanto:

    Onde: V = volume (m); A = rea (m) e D = distncia

    (m).

    Tempo de deslocamento da garrafa entre os dois

    pontos (25 s, 27 s, 22 s). Tempo mdio de deslocamento =

    24,66 s:

    Onde: Q = vazo

    Porm este valor no absoluto, ele deve ser

    multiplicado por 0,85 que representa um fator de correo

    da rugosidade do fundo do canal (pois a velocidade no

    fundo do canal menor):

    Considerando que a vazo ideal seria de 10 L/s/ha,

    podemos estimar que essa vazo suficiente para

    abastecer cerca de 26,4 ha de lmina dgua.

  • 69

    3.3.3 Construo dos viveiros

    3.3.3.1 Taludes

    Os taludes so as paredes inclinadas dos viveiros. Sua

    construo deve ser bem executada, caso contrrio, podem

    resultar em um maior custo com reparos posteriores. Os

    principais problemas que podem aparecer so: infiltrao e

    eroso.

    Os taludes (Figura 8) devem ser construdos em

    camadas de terra mida com aproximadamente 20 cm de

    altura e depois realiza-se a compactao da terra com um

    rolo compactador.

    A inclinao do talude ir depender de fatores fsicos

    do solo (Tabela 4), mas de maneira geral o talude a

    montante (rea de contato com a gua), possui uma

    inclinao menos acentuada, devido aos efeitos erosivos

    das ondas.

    Figura 8. Inclinao dos taludes do viveiro.

  • 70

    Tabela 4. Inclinao recomendada por tipo de solo.

    TIPO DE SOLO

    TALUDE INTERNO TALUDE EXTERNO

    Areno-argiloso

    2,5 a 3 m de base para cada metro de

    altura

    1,5 a 2 m de base para cada metro de

    altura

    Silto-argiloso

    2 a 2,5 m de base para cada metro de

    altura

    1 a 1,5 m de base para cada metro de

    altura

    Argiloso 1,5 a 2 m de base

    para cada metro de altura

    1 m de base para cada metro de altura

    Adaptado de Proena e Bittencourt (1994).

    3.3.3.2 Largura da crista

    A crista o ponto mais alto dos taludes. Sua largura

    definida em funo do porte da piscicultura, tendo em vista

    sempre a facilidade ao realizar os manejos do viveiro como:

    transporte de insumos, despescas, trfego seguro de

    pessoas e veculos entre outros.

    Nos taludes principais, a largura da crista deve

    possuir no mnimo de 3 a 4 m, sendo que deve ser

    proporcionalmente maior, em relao ao tamanho do

    veculo que circular entre os viveiros, exemplo:

    Para caminhes de despesca a crista dever possuir

    no mnimo 4 m de largura.

  • 71

    Para empreendimentos de menor porte, onde com

    apenas um trator seja possvel realizar a despesca e

    transporte de insumos, a crista dever possuir no mnimo 3

    m de largura.

    Nos taludes secundrios a largura pode ser menor,

    porm deve permitir que a roada mecnica da crista seja

    realizada.

    3.3.3.3 Borda livre ou borda de segurana

    Representa a distncia entre o nvel mximo da gua

    e a crista do talude. Essa distncia muito importante,

    para evitar que ocorra o transbordamento do viveiro,

    principalmente em perodos chuvosos. A borda livre ir

    variar de acordo com o tamanho do viveiro, mas de

    maneira geral em viveiros de at 5.000 m adotado uma

    borda de 30-40 cm, e para viveiros maiores uma borda de

    no mnimo 50 cm.

    Devem ser praticadas medidas de preservao dos

    taludes, como o plantio de gramneas que no apresentem

    um porte elevado, por aumentar o custo de manuteno

    do viveiro devido a maior necessidade de realizar roadas.

    recomendado o plantio de gramneas dos gneros

    Cynodon e Paspalum, por apresentarem um menor porte e

  • 72

    uma boa capacidade de crescimento vegetativo, cobrindo

    rapidamente a rea de solo exposto logo aps a construo

    dos viveiros. No recomendado o plantio de rvores nos

    taludes e cristas, pois estas favorecem a infiltrao de gua.

    3.3.3.4 Fundo

    O fundo dos viveiros deve ser bem compactado

    para evitar que haja a infiltrao da gua e ainda favorecer

    o manejo de despesca. O fundo deve apresentar uma

    inclinao de 0,5% at 2% no sentido longitudinal (no

    sentido do maior comprimento), favorecendo o

    esvaziamento do viveiro por gravidade no momento de

    despesca.

    3.3.3.5 Sistema de drenagem

    O sistema de drenagem dever ser construdo na

    parte mais profunda do viveiro visando o seu esgotamento

    completo. O tamanho do viveiro ir influenciar diretamente

    sobre o tipo de sistema de drenagem que ser utilizado,

    podendo ser o monge ou cachimbo/cotovelo.

    Monge: o sistema mais utilizado em viveiros de

    maiores que 1.000 m. Essa estrutura permite que a gua

  • 73

    seja coletada do fundo do viveiro, onde possui menos

    qualidade por ter uma concentrao baixa de oxignio

    dissolvido e uma concentrao de resduos orgnicos alta,

    favorecendo assim a renovao da gua no viveiro.

    O monge, conforme mostra a Figura 9, consiste em

    uma caixa que pode ser de alvenaria ou tbuas de madeira,

    com altura igual ao nvel da crista dos taludes. Esta caixa

    est fixada 10 cm abaixo do fundo do viveiro e acoplada

    tubulao de esgotamento que se encontra perto da base

    do talude. Nas paredes internas do monge, h ranhuras ou

    canaletas verticais, com cerca de 2 a 3 cm de abertura onde

    sero sobrepostas e encaixadas as tbuas que iro fazer a

    vedao e controle do nvel da gua. As tbuas sero

    distanciadas paralelamente entre si com 20 cm e este

    espao poder ser preenchido com serragem ou terra, para

    evitar a passagem de gua. Na base do monge, por onde a

    gua passar, ser instalada uma tela de conteno

    compatvel com o tamanho dos peixes do viveiro para

    evitar fugas.

    Em viveiros de maior porte onde so utilizados os

    monges, aconselhvel fazer a construo de um

    vertedouro, para retirar o excesso de gua quando o nvel

    do viveiro subir, principalmente em pocas chuvosas.

  • 74

    Figura 9. Drenagem por sistema de monge.

    Cotovelo/cachimbo: um sistema simples e barato,

    representando uma alternativa para pequenos

    empreendimentos, utilizado em viveiros com at 2.000 m

    de lmina da gua. O cotovelo ser acoplado ao tubo de

    esgotamento do viveiro, que se localiza na base do talude

    interno. Primeiro adicionada uma curva no tubo de

    esgotamento (normalmente utilizado tubo de 100 mm),

    depois colocado uma barra de cano de 100 mm que

    dever possuir altura igual ao nvel da gua desejado. Uma

    barra de cano com 150 mm, com um corte e tela de

    proteo na parte inferior, dever ser sobreposta barra

    de 100 mm (Figura 10).

    Aps a captao dos efluentes atravs de um

    conduto dimensionado, os resduos de todos os viveiros

  • 75

    sero conduzidos para a lagoa de decantao. Esse conduto

    deve ser construdo com uma declividade mnima de 0,5%,

    para garantir o transporte por gravidade e facilitar a

    limpeza peridica. Eles podem ser construdos a cu

    aberto, escavados no solo (necessitando de compactao)

    ou ainda podero ser feitos em alvenaria, que apesar de

    possurem um custo maior, no apresentam problemas

    com eroso e assoreamento da lagoa de decantao.

    3.3.3.6 Lagoa de decantao

    Os efluentes coletados dos viveiros no podem ser

    liberados diretamente para o meio ambiente, por

    apresentarem uma qualidade muito baixa, devido ao

    material que se encontra na gua, como: excretas dos

    Figura 10. Drenagem por sistema de cotovelo/cachimbo.

  • 76

    peixes e restos de rao em decomposio, excesso de

    nutrientes como nitrognio e fsforo, entre outros. Porm

    esse problema se agrava nos perodos em que ocorre a

    despesca, pois, todo o material orgnico que estava no

    fundo do viveiro entra em suspeno devido ao manejo

    realizado.

    Nas lagoas de decantao a gua deve permanecer

    tempo suficiente para que todo o material seja depositado

    no fundo da lagoa. Devem possuir plantas aquticas como

    aguap e taboa, para que utilizem os nutrientes dissolvidos

    e assim diminuam a sua concentrao. Tambm

    importante ter exemplares adultos de peixes nativos com

    hbitos alimentares diferentes, como: carnvoros, para que

    possam comer eventuais peixes que escapem dos viveiros,

    filtradores e onvoros, para diminuir a quantidade de

    microrganismos e matria orgnica.

    As caractersticas da lagoa de decantao so as

    mesmas que as dos viveiros em relao aos taludes, fundo

    e outros aspectos abordados anteriormente. Sua rea

    dever ser o equivalente a 10% da soma de toda a rea

    alagada com os viveiros.

  • 77

    3.4 Enchimento

    O enchimento do viveiro ser realizado logo aps a

    sua fertilizao, portanto recomenda-se que ele seja feito

    em duas etapas. Primeiro deve ser colocado

    aproximadamente de 50 a 70 cm de gua no viveiro,

    esperando de 4 a 8 dias para que possa haver o

    crescimento do fitoplncton, depois o viveiro poder ser

    completado at seu nvel mximo. Espera-se de 2 a 4 dias

    para que o plncton (fitoplncton e zooplncton) possa se

    multiplicar, para garantir uma boa disponibilidade de

    alimento natural para os alevinos. Durante o enchimento

    do viveiro muito importante que seja monitorado a

    qualidade da gua, por meio da medio de temperatura,

    oxignio, transparncia e pH conforme abordado no

    captulo 4.

    3.5 Bibliografia consultada

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS. Manual de procedimentos tcnicos e administrativos de outorga de direito de uso de recursos hdricos. Braslia - DF, 2013. 252 p.

    BRADY, N.C.; WEIL R.R. Arquitetura e Propriedades Fsicas

    do Solo. IN: BRADY, N.C.; WEIL R.R. Elementos da

  • 78

    natureza e propriedades do solo. Porto Alegre RS, 2013. p.106-144.

    CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolues

    vigentes publicadas entre setembro de 1984 e janeiro de 2012. Braslia: MMA, 2012, 1126 p.

    FARIA. S. H. G. et al. Manual de criao de peixes em viveiros. Braslia: Codevasf, 2013, 136 p.

    IBAMA. Processo de licenciamento. Disponvel em

    . Acesso em: 4 de junho de 2015.

    IBAMA. Licenciamento ambiental. Disponvel em

    . Acesso em: 4 de junho de 2015.

    INSTITUTO DAS GUAS DO PARAN. Outorga de Uso de

    Recursos Hdricos. Disponvel em . Acesso em 5 de junho de 2015.

    OSTRENSKY, A.; BOEGER, W. Piscicultura: fundamentos e

    tcnicas de manejo. Guaba: Ed. Agropecuria, 1998. 211 p.

    ONO, E. A.; KUBITZA, F. Construo de viveiros e de

    estruturas hidrulicas para o cultivo de peixes - parte II. Panorama da Aquicultura, v.12, n.73, p. 15-29. 2002.

  • 79

    ONO, E. A.; CAMPOS, J.; KUBITZA, F. Construo de viveiros e de estruturas hidrulicas para o cultivo de peixes - parte III. Panorama da Aquicultura, vol.12, n.74, p. 15-30. 2002.

    REZENDE. P.F.; BERGAMIN.T. G. Implantao de piscicultura

    em viveiros escavados e tanques-redes. IN: RODRIGUES, A. P. O. Piscicultura de gua doce: multiplicando conhecimentos. 1 Edio. Braslia, DF: Ed. Embrapa, 2013. p.109-139.

    SEBRAE. Licenciamento ambiental da aquicultura: Critrios

    e procedimentos. 43 p. SUPERINTENDNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS

    HIDRICOS E SANEAMENTO AMBIENTAL. Manual Tcnico de Outorgas. Novembro de 2006. 106 p.

  • 4 QUALIDADE DA

    GUA NA

    TILAPICULTURA

    Mariana Tiepo Gonalves

  • 81

    A gua um dos fatores bsicos na criao, sendo

    assim a sua qualidade representa um dos fatores mais

    importantes para a criao e cultivo de peixes, se no o

    mais importante. A tilpia uma espcie que apresenta

    grande adaptao a condies adversas da qualidade da

    gua, sendo por esse motivo entre outros uma das

    espcies mais utilizadas para cultivo.

    Neste captulo sero abordados fatores fsicos,

    qumicos e biolgicos referentes qualidade da gua, visto

    que o controle e a manuteno destes fatores iro

    influenciar diretamente no desenvolvimento dos peixes e

    no sucesso da produo.

    4.1 Fatores fsicos da gua

    4.1.1 Temperatura

    A temperatura da gua apresenta grande importncia

    sobre as funes vitais dos peixes, as variaes desse fator

    podem afetar a disponibilidade de nutrientes, causar

    doenas, falta de apetite, levar a problemas no crescimento

    dos peixes e de micro-organismos presentes na gua. A

    tilpia um peixe originrio de guas quentes, por isso a

    faixa de conforto trmico dessa espcie varia entre 25 a

  • 82

    30oC. Na Tabela 5, se encontram os valores de temperatura

    da gua, bem como as respostas fisiolgicas da tilpia a

    estas temperaturas.

    Tabela 5. Respostas fisiolgicas em diferentes faixas de temperatura

    TEMPERATURA RESPOSTAS FISIOLGICAS

    > 38 oC Morte

    30 a 38 oC Falta de apetite, maior incidncia de doenas, resistncia ao manejo.

    25 a 30 oC Conforto trmico.

    20 a 25 oC Queda no consumo de

    alimento e no crescimento.

    14 a 20 oC Queda no crescimento,

    maior incidncia de doenas e resistncia ao manejo.

    < 14 oC Morte

    Adaptado de Kubitza (2011).

    Grande parte da criao e do cultivo de tilpia no

    Paran realizada na regio Oeste, onde as temperaturas

    apresentam-se mais elevadas. Em regies do estado com

    temperaturas mais amenas a criao tem um perodo de

    estagnao em pocas mais frias do ano devido reduo

    da atividade dos peixes em temperaturas abaixo do ideal.

  • 83

    4.1.2 Transparncia e turbidez

    A transparncia dada atravs em funo da

    quantidade de luz solar que consegue penetrar na coluna

    dgua. Este fator de suma importncia j que a luz a

    fonte de energia utilizada por plantas e micro-organismos

    aquticos para a realizao da fotossntese. A transparncia

    da gua pode oscilar de acordo com a profundidade e a

    turbidez da gua.

    A turbidez um fator inversamente proporcional

    transparncia, uma vez que se refere ao grau de reduo

    da penetrao da luz na gua, quanto mais turva a gua for

    menor ser a penetrao de luz. Isto ocorre devido

    presena de slidos em suspenso ou ao florescimento de

    micro-organismos aquticos.

    Para medir a transparncia da gua utilizado um

    equipamento chamado disco de Secchi (Figura 11). Esse

    disco feito de chumbo ou um material pesado suficiente

    para afundar, apresenta duas partes pretas e duas partes

    brancas intercaladas entre si, no centro do disco a um

    basto graduado. O disco posto na gua e observa-se a

    profundidade na qual no se pode mais distinguir entre as

    cores do disco, medida utilizada para estimar o ponto que

  • 84

    recebe incidncia de luz solar suficiente para que ocorra

    fotossntese, sendo a transparncia de 40 cm ideal. O

    controle da transparncia e da turbidez importante, visto

    que tanto a gua muito turva quanto a muito clara geram

    problemas na produtividade.

    Figura 11. Disco de Secchi

    4.2 Fatores qumicos da gua

    4.2.1 pH

    O potencial hidrogeninico (pH) representa a

    quantidade de ons H+ presentes na gua, a atividade

    desses ons dada a partir da seguinte equao:

    [ ]

    O pH pode ser medido atravs de mtodos

    colorimtricos, papel tornassol, fenolftalena ou utilizando

  • 85

    um pHmetro. A escala de medida do pH varia de 0 a 14,

    sendo pH igual a 7 em guas neutras, quando os ons H+

    apresentam quantidade semelhante aos ons OH-. Quando

    a quantidade de ons H+ for superior s de OH- o pH

    apresenta-se cido, ou seja, menor que 7. Quando os ons

    OH- apresentarem concentraes maiores que as de ons H+

    o pH ser superior a 7, bsico.

    Para a tilpia o pH ideal da gua encontra-se entre 6

    e 8,5 e adapta-se a variaes de pH entre 5 e 11. Em pH

    muito baixo mostram sinais de asfixia. A exposio dessa

    espcie a pH cido (abaixo de 5,0) leva um aumento na

    secreo de muco, irritao e inchao nas brnquias,

    gerando problemas no tecido branquial. A tilpia apresenta

    queda de crescimento em guas com valores de pH fora do

    ideal, mas as taxas de mortalidade no so significativas,

    pois buscam conforto em guas mais fundas.

    4.2.2 Alcalinidade

    A alcalinidade est relacionada concentrao de

    bases existentes na gua, expressa por equivalentes de

    carbonato de clcio (CaCo3). Este fator medido atravs da

    quantidade, principalmente, de ons bicarbonato (HCO3) e

  • 86

    carbonato (CO3-2). Altas concentraes de ons carbonato e

    bicarbonato impedem a variao do pH, por isso a

    alcalinidade responsvel pelo tamponamento da gua.

    Para tilpias a gua do viveiro deve apresentar uma

    alcalinidade em torno de 40 mg/l de CaCO3. Assim como

    para o pH, a adio de calcrio ir aumentar a alcalinidade

    da gua.

    4.2.3 Dureza

    A dureza representa a quantidade de minerais

    presentes na gua, referindo-se principalmente ao

    magnsio (Mg) e ao clcio (Ca). A unidade de medida

    mg/l de CaCO3 como na alcalinidade. Os ons de clcio e de

    magnsio geralmente esto ligados aos ons de bicarbonato

    e carbonato, fazendo com que os valores de dureza e

    alcalinidade sejam prximos. Valores ideias de dureza para

    a criao de tilpias situam-se entre 40 e 60 mg/l de CaCO3.

    4.2.4 Salinidade

    A salinidade um parmetro relacionado

    quantidade de sais dissolvidos na gua. medida atravs

    da quantidade de sal por litro de gua. Dentre suas muitas

  • 87

    caractersticas tilpias so peixes eurialinos, ou seja,

    tolerantes a uma extensa faixa de variao no nvel de

    salinidade da gua. Essa capacidade de adaptar-se a

    flutuaes de salinidade possibilita a criao de tilpias em

    ambientes diversos. A tilpia-do-nilo cresce em guas com

    salinidade de at 18%, apresentando maior faixa de

    crescimento a 12%, reproduzem-se em guas com

    salinidade de at 15%. As tilpias em condies de

    salinidade maiores a 18%, e que apresentem temperaturas

    elevadas, mostram-se mais susceptveis a doenas. Quando

    exposta a adaptaes graduais pode acabar por tolerar

    salinidades mais altas. No estado do Paran, a tilapicultura

    implantada exclusivamente em gua doce, essa prtica

    poderia ser adotada em guas salobras no Litoral, porm

    como considerada uma rea de conservao ambiental

    esta forma de cultivo impraticvel.

    4.2.5 Oxignio dissolvido

    O oxignio dissolvido na gua difunde-se atravs das

    brnquias e utilizado na respirao celular. Ele tambm

    possibilita que a energia proveniente dos alimentos seja

    aproveitada nas funes vitais. O oxignio presente na

  • 88

    gua de suma importncia tanto para os peixes quanto

    para os micro-organismos existentes nos viveiros.

    As principais fontes de oxignio em um viveiro so:

    Fotossntese, realizada pelo fitoplncton que

    absorvem gs carbnico e liberam oxignio durante o

    processo, levando a um aumento da concentrao de

    oxignio durante o dia.

    Oxignio proveniente do ar atmosfrico que

    penetra a superfcie da gua de acordo com os ventos.

    Sendo intensificado com o uso de sistemas de aerao.

    Renovao de gua do viveiro (abordada com

    maior detalhe no captulo 9).

    A falta de oxignio dissolvido na gua pode ser

    observada quando os peixes rumam para a superfcie em

    busca de maiores quantidade de ar. A quantidade de

    oxignio presente na gua medida atravs de um

    equipamento chamado oxmetro.

    A concentrao de oxignio dissolvido na gua

    menor noite, quando no h a realizao de fotossntese

    e todos os organismos vivos presentes na gua esto

    consumindo oxignio, levando diminuio do mesmo. O

    volume de oxignio tambm influenciado pela oxido-

    reduo da matria orgnica que consome o oxignio

  • 89

    ofertado na gua, ocorre na maioria das vezes no fundo

    dos viveiros, por isso a quantidade de oxignio menor no

    fundo do que na superfcie.

    As tilpias apresentam tolerncia a baixas

    concentraes de oxignio dissolvido e at conseguem

    sobreviver por curtos perodos em situaes de anxia,

    mas quando so frequentemente expostas a baixas

    concentraes de O2 apresentam reduo de desempenho

    e susceptibilidade a doenas. Em concentraes de 3 a 3,5

    mg/l de oxignio dissolvido as tilpias reduzem o grau de

    atividade, para diminuir a utilizao de oxignio. Tilpias

    em guas com concentraes de oxignio dissolvido abaixo

    de 3 mg/l apresentaram comportamento de fuga. Nveis

    altos de mortalidade podem ocorrer quando os peixes

    esto bem alimentados e a concentrao de oxignio

    dissolvido na gua baixa. Sendo a faixa de oxignio ideal

    de 4 a 5 mg/l.

    4.2.6 Dixido de carbono (CO2)

    Assim como a fotossntese auxilia no aumento da

    concentrao de oxignio dissolvido durante o dia, a noite

    ocorre o inverso. Ao longo da noite os micro-

  • 90

    organismos que realizam a fotossntese, consomem o

    oxignio da gua e liberam gs carbnico (CO2). O gs

    carbnico armazenado na gua na forma de bicarbonato

    (HCO3-), sendo altamente toxico e em altas concentraes

    pode