Crianças com sobrecarga de atividades

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CRIANÇAS COM SOBRECARGA DE ATIVIDADES Os jovens vivem num mundo que muda num ritmo acelerado, caracterizado por pressões sociais que os fazem crescer muito depressa. São pressionados a adaptar-se a padrões familiares instáveis, a assumir compromissos, a ingressar mais cedo nas universidades, a participar e a competir nos esportes, em destrezas especializadas. Enfrentam informações e programas para adultos antes que tenham vencido os problemas próprios da idade. Estas pressões impõem-lhes maiores responsabilidades, causam- lhes estresse, ao mesmo tempo que redefinem a essência mesma da infância, esclarece o psicólogo Joan Isemberg. A criança e o adolescente, de hoje, participam de atividades extracurriculares cada vez mais numerosas e exigentes. São atividades tidas como armas para o futuro, as quais, se não dosadas, podem tornar-se estressantes. Elas dividem o seu tempo entre a escola, os esportes e um sem-fim de tarefas. A escola de meio período pode não cobrir todas as necessidades de aprendizagem da criança, mas complementá-las com uma carga pesada de atividades pode resultar em fator negativo. Muitos pais consideram que as tentações, como a TV, o computador, devem ser enfrentadas com uma agenda completa. Consideram que é preferível ocupá-la a deixá-la permanecer frente à TV, sem controle. Depois da escola, as crianças estudam idiomas, computação, músi- ca, praticam esportes, dança, balé, não se descuidando das artes, das coisas do espírito – uma expressão artística sempre é enriquecedora. É uma tendência deste tempo histórico social, com suas aspirações 23

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CRIANÇAS COM SOBRECARGA DE

ATIVIDADES

Os jovens vivem num mundo que muda num ritmo acelerado,

caracterizado por pressões sociais que os fazem crescer muito

depressa. São pressionados a adaptar-se a padrões familiares

instáveis, a assumir compromissos, a ingressar mais cedo nas

universidades, a participar e a competir nos esportes, em destrezas

especializadas. Enfrentam informações e programas para adultos

antes que tenham vencido os problemas próprios da idade.

Estas pressões impõem-lhes maiores responsabilidades, causam-

lhes estresse, ao mesmo tempo que redefinem a essência mesma da

infância, esclarece o psicólogo Joan Isemberg.

A criança e o adolescente, de hoje, participam de atividades

extracurriculares cada vez mais numerosas e exigentes. São atividades

tidas como armas para o futuro, as quais, se não dosadas, podem

tornar-se estressantes. Elas dividem o seu tempo entre a escola, os

esportes e um sem-fim de tarefas.

A escola de meio período pode não cobrir todas as necessidades de

aprendizagem da criança, mas complementá-las com uma carga

pesada de atividades pode resultar em fator negativo. Muitos pais

consideram que as tentações, como a TV, o computador, devem ser

enfrentadas com uma agenda completa. Consideram que é preferível

ocupá-la a deixá-la permanecer frente à TV, sem controle.

Depois da escola, as crianças estudam idiomas, computação, músi-

ca, praticam esportes, dança, balé, não se descuidando das artes, das

coisas do espírito – uma expressão artística sempre é enriquecedora.

É uma tendência deste tempo histórico social, com suas aspirações

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culturais, suas necessidades de conhecimento, de preparação para a

vida futura. Porém, é preciso ponderar, estabelecer um equilíbrio, entre

o que a criança quer e necessita e o que pode fazer sem se esgotar.

Corre-se o risco de se desvalorizar o tempo livre, favorável ao

amadurecimento emocional, afetivo e ao desenvolvimento da

criatividade. O ócio também é bom e é preciso respeitar as etapas do

desenvolvimento infantil, alertam os especialistas.

Quando o jovem está muito preso a horários, passa a viver sob

tensão, diante da qual não consegue responder de maneira positiva.

Começa a faltar às aulas, a se desmotivar e a produzir baixo

rendimento. O excesso de exigência, com vista a uma competência

refinada, cada vez mais se instala em todos os aspectos da vida.

As atividades são pensadas, pelos pais, como uma preparação

necessária para um futuro mercado de trabalho exigente e competitivo.

Elas sempre existiram, mas, agora, são outros os níveis de exigências,

outras expectativas. Antes eram complementares ou passatempos,

hoje, surge o fator competitividade, encarado não só no plano

individual, mas comparado a um outro. Quando isso ocorre, pode se

tornar perigoso porque coloca a criança, muito cedo, em frente de

batalha.

Por outro lado, as atividades extracurriculares são importantes

instâncias de socialização, principalmente para crianças e jovens muito

tímidos. Surgem, contudo, dilemas entre os pais de qual o melhor

procedimento: crianças agendadas ou crianças livres? Para psicólogos

da área infantil, como Aurora Isasmendi, o importante é atender as

demandas pessoais, não se podendo, assim, falar em regra geral. Aos

pais competem observar o andamento, o rendimento, se a criança não

demonstra cansaço e se não começa a fracassar nos estudos.

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Nestes tempos, em que o comum são os pais trabalharem o dia to-

do, as atividades extracurriculares podem ser a solução para que os

filhos não dispersem seu tempo, adquiram competência, não se

deixando consumir pela TV. Elas são, de um modo geral, consideradas

boas e necessárias, mas devem ser acompanhadas com cuidado, para

não produzirem efeito negativo, reações de estresse, traduzidas por

enxaquecas, dores de estômago, problemas de conduta e insônia.

É preciso apegar-se aos centros de interesses e ao

desenvolvimento evolutivo de cada criança e oferecer atividades

adequadas à sua idade. Pergunta-se: até que ponto estamos

respeitando os ritmos evolutivos e as motivações de nossa criança e

até que ponto estamos desraizando-a demasiado cedo da família? Não

estamos limitando sua felicidade lúdica? Qual a educação apropriada

para o desenvolvimento do nosso filho? Tentar ajustá-la às suas

necessidades físicas, sociais, emocionais e cognitivas, como, também,

às características sociais e ao trabalho da família.

“Desejaria que cada pai pensasse com a cabeça e agisse com o

coração, que conseguisse captar o que agrada ao filho e o que o

contraria”. (Isasmendi).

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