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presidente da repúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

ministro da culturaGilberto Gil Moreira

presidente do iphanLuiz Fernando de Almeida

chefe de gabineteThays Pessotto Zugliani

procuradora-chefe federal,interinaTereza Beatriz da Rosa Miguel

diretora de patrimônio imaterialMárcia Sant’Anna

diretor de patrimônio materiale fiscalização, interinoCyro Corrêa Lyra

diretor de museuse centros culturaisJosé do Nascimento Junior

diretora de planejamentoe administraçãoMaria Emília Nascimento Santos

coordenadora-geral de pesquisa,documentação e ReferênciaLia Motta

coordenadora-geral de promoçãodo patrimônio culturalGrace Elizabeth

superintendente regional no pará e amapáMaria Dorotéa de Lima

instituto do patrimônio históricoe artístico nacionalSBN Quadra 2 Bloco F Edifício Central BrasíliaCep: 70040-904 Brasília – DFTelefones: (61) 3414.6176, 3414.6186, 3414.6199Faxes: (61) 3414.6126 e 3414.6198http://www.iphan.gov.br [email protected]

Elaboração do dossiê para Registro do Círio de Nazaré

equipe técnica iphan

departamento dopatrimônio imaterialSupervisãoAna Cláudia Lima e Alves – gerente de registroAna Gita de Oliveira – gerente de identificaçãoMaria das Dores Freire – consultora

apoioFabíola Nogueira Gama Cardoso

2a superintendência regionalCoordenação-geralMaria Dorotéa de Lima

apoio administrativoSirley Nascimento SantanaRaimundo Nonato CardosoLucimar Florêncio de Castro

revisão e organizaçãodos registros audiovisuaisNívia de Morais Brito

equipe externaConsultoria de antropologiaRaymundo Heraldo Maués

elaboração do textoMárcio Couto HenriqueMaria Dorotéa de LimaRaymundo Heraldo Maués

fotografias e registrosaudiovisuaisLuiz BragaKâmara Kó – reprodução imagens antigasAcervo da Diretoria da Festividade de NazaréFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan

imagens antigasMuseu da Universidade Federal do ParáMuseu do CírioArquivo Público do Pará

Biblioteca do Instituto Históricoe Geográfico/RJBasílica de NazaréCúria MetropolitanaColeção Particular VictorinoChermont de Miranda

pesquisa iconográficaFlávio NassarCoaracy Luana do Carmo ElleresAna Carolina Sarmento FerreiraMaria Luiza Faria NassarTatiana Lima

pesquisa histórica e cronologiaClaudia Aline PiresElielson Rodrigues da SilvaGilmar Matta da Silva Márcio Couto HenriquePaulo Roberto Rodrigues Benjamin

apoioArquidiocese de BelémArquivo Público do ParáBasílica de Nossa Senhora de NazaréBiblioteca Arthur ViannaDiretoria da Festividade de NazaréGrêmio Literário PortuguêsInstituto Histórico e GeográficoMuseu da Universidade Federal do ParáMuseu do CírioSol Informática

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Inventário Nacional de ReferênciasCulturais do Círio de Nazaré

consultoria de antropologiaRaymundo Heraldo Maués

supervisor de equipeJosimar Azevedo

pesquisadoresElielson Rodrigues da SilvaGilmar Matta da SilvaMárcio Couto HenriquePaulo Roberto Rodrigues Benjamin

assistentes de pesquisaAltina Marques de AlmeidaJoilma Alves de Castro

revisão de fichasCarmen Sílvia Viana TrindadeGilmar Matta da SilvaIsis Jesus RibeiroPaulo Roberto Rodrigues Benjamin

inserção das informaçõesno banco de dadosCarmen Sílvia Viana TrindadeIsis Jesus Ribeiro

Edição do Dossiê

gerente de editoração do iphanAna Carmen Amorim Jara Casco

edição de textoRegina Stela Braga

revisão de textoGraça MendesGrace ElizabethRegina Stela Braga

projeto gráficoVictor Burton

diagramaçãoFernanda GarciaFernanda Mello

fotografias que nãointegram o dossiê originalFrancisco Costa

parceria institucional para a edição deste dossiêInstituto Brasileiro de Educação e Cultura – Educarte

agradecimentos especiais

Antonio Augusto Arantes NetoCristovão Fernandes DuarteMiriam de Magdala Durço de CarvalhoSilvana LimaTeresa Carolina Frota de Abreu

impressãoImprinta

Ficha Técnica Círio

registro do círio de nossa senhorade nazaré, na cidade de belém/paProcesso nº 01450.010332/2004-07proponente:Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa do Círiodata de abertura do processo:17/12/2001Pedido de Registro aprovado na 44ª reunião do Conselho Consultivo, em 30/09/2004Inscrição no Livro de Registro das Celebrações, em 05/10/2004

página ¢detalhe brinquedosde miritivendidos duranteo círio. foto:francisco costa.

página •detalhe vendedorde cataventos.foto: franciscocosta.

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“Meu filho vês aquela claridade

É a cidade na escuridão

O barco singra as águas e pulsa feito um coração

Cheio de alegria

Bálsamo, bênção

O círio de Nazaré

Tu verás será menino algo pra não se esquecer

pra colar no teu caminho

feito o som de uma viola que te fez chorar baixinho

Quando vires a senhora ficarás pequenininho.” *

(*) Cf. Círios, letra de Vital Lima e Marco Aurélio. CD Canto vital, Belém, Basa, s/d.

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“Meu filho vês aquela claridade

É a cidade na escuridão

O barco singra as águas e pulsa feito um coração

Cheio de alegria

Bálsamo, bênção

O círio de Nazaré

Tu verás será menino algo pra não se esquecer

pra colar no teu caminho

feito o som de uma viola que te fez chorar baixinho

Quando vires a senhora ficarás pequenininho.” *

(*) Cf. Círios, letra de Vital Lima e Marco Aurélio. CD Canto vital, Belém, Basa, s/d.

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40 Uma procissão de carros, motose bicicletas42 Procissão pelo rio43 Procissão dos motoqueiros44 A celebração da descida45 Revivendo as “fugas” da imagem46 O terço da alvorada47 O Círio das crianças48 Encerrando a festa50 A festa e seu arraial53 Almoço do Círio, o Nataldos paraenses56 Um espetáculo de culturapopular57 Lá vem vindo o arrastão58 A festa das filhas da Chiquita60 Computadores para asmelhores redações60 Instrumentos musicais para asmelhores canções61 A feira de brinquedos de miriti62 Organização e gestão do Círio

O CÍRIO COMO OBJETO DEREGISTRO67 Registro de memória, tradiçãoe identidade71 Elementos essenciais

76 CONCLUSÃO

78 Notas

80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

82 ANEXO I O Território do Círio

84 ANEXO II Linha do Tempo

A HISTÓRIA 11 O Círio é uma parada na vida14 A promessa e o milagre16 Um culto popular19 Festa religiosa ou festa profana?22 O Primeiro Conflito: a questão nazarena24 O Segundo Conflito: a questão da corda26 O Terceiro Conflito:a questão dos padres e posseirosdo Araguaia

O CÍRIO CONTEMPORÂNEO29 Lá vem vindo a procissão31 A corda e a berlinda

33 O milagre da barca e a marujada

35 Nos carros, as alegorias36 A missa do mandato37 Visitas da santa aos fiéis38 Traslado da imagempara Ananindeua

SUMÁRIO

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40 Uma procissão de carros, motose bicicletas42 Procissão pelo rio43 Procissão dos motoqueiros44 A celebração da descida45 Revivendo as “fugas” da imagem46 O terço da alvorada47 O Círio das crianças48 Encerrando a festa50 A festa e seu arraial53 Almoço do Círio, o Nataldos paraenses56 Um espetáculo de culturapopular57 Lá vem vindo o arrastão58 A festa das filhas da Chiquita60 Computadores para asmelhores redações60 Instrumentos musicais para asmelhores canções61 A feira de brinquedos de miriti62 Organização e gestão do Círio

O CÍRIO COMO OBJETO DEREGISTRO67 Registro de memória, tradiçãoe identidade71 Elementos essenciais

76 CONCLUSÃO

78 Notas

80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

82 ANEXO I O Território do Círio

84 ANEXO II Linha do Tempo

A HISTÓRIA 11 O Círio é uma parada na vida14 A promessa e o milagre16 Um culto popular19 Festa religiosa ou festa profana?22 O Primeiro Conflito: a questão nazarena24 O Segundo Conflito: a questão da corda26 O Terceiro Conflito:a questão dos padres e posseirosdo Araguaia

O CÍRIO CONTEMPORÂNEO29 Lá vem vindo a procissão31 A corda e a berlinda

33 O milagre da barca e a marujada

35 Nos carros, as alegorias36 A missa do mandato37 Visitas da santa aos fiéis38 Traslado da imagempara Ananindeua

SUMÁRIO

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H á 211 anos, o estado do Pará,mais particularmente a capital,

Belém, literalmente pára porocasião do Círio de Nossa Senhorade Nazaré. No chamado dia doCírio, o trânsito é interditado nasruas centrais da capital, as lojasfecham, as ruas pelas quais aprocissão passa são profusamentedecoradas, janelas, portas e sacadassão ocupadas pelos moradoresatentos à passagem da imagem dasanta. Muitos chegam até a comprarroupa nova para vestir no diado Círio. Nas palavras de AngelimNetto, “trabalha-se no Pará o anotodo, sofrendo as necessidades, paraem outubro vestir uma roupa novae almoçar como um príncipe no diado Círio. O Pará, sem a festa deNazaré, não seria Pará”.1

A origem do Círio e da Festade Nazaré está envolta em lendasou mitos, que se misturam a fatos

históricos. É difícil separaro mito da história apoiada emdocumentos. Sabe-se que adevoção à Nossa Senhora deNazaré começou, no Brasil e noPará, em uma localidadedenominada Vigia (hoje sedede município) e de lá deve teratingido a capital, Belém.

Por volta de 1700, reza atradição, caminhava nas matas daentão tortuosa estrada do Utinga,

hoje avenida Nazaré, em Belémdo Pará, um caboclo agricultore caçador chamado Plácido Josédos Santos.2 Levado pela sede,acabou descobrindo entre pedrascobertas de trepadeiras, às margensdo igarapé Murutucu (localizadoatrás da atual Basílica de Nazaré),uma espécie de nicho natural comuma pequena imagem da Virgemde Nazaré (a imagem, hoje tidacomo a original, tem 38,5centímetros de altura). Plácidolevou-a para casa e, no diaseguinte, ao acordar, viu que haviadesaparecido. Assustado, correuaté o local onde a encontrara epercebeu que a imagem havia“voltado” para o mesmo lugar.

O fenômeno repetiu-se váriasvezes, até que o governador daépoca (a lenda não esclarece o seunome) mandou que a imagem fosselevada para a capela do Palácio do

O CÍRIO É UMA PARADA NA VIDA

A HISTÓRIA

promesseirosna corda. foto: luiz braga.

página ao ladodetalhe de cartaz,milagre de d. fuasroupinho, ¡ª™¢,acervo de basílicode nazaré.

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H á 211 anos, o estado do Pará,mais particularmente a capital,

Belém, literalmente pára porocasião do Círio de Nossa Senhorade Nazaré. No chamado dia doCírio, o trânsito é interditado nasruas centrais da capital, as lojasfecham, as ruas pelas quais aprocissão passa são profusamentedecoradas, janelas, portas e sacadassão ocupadas pelos moradoresatentos à passagem da imagem dasanta. Muitos chegam até a comprarroupa nova para vestir no diado Círio. Nas palavras de AngelimNetto, “trabalha-se no Pará o anotodo, sofrendo as necessidades, paraem outubro vestir uma roupa novae almoçar como um príncipe no diado Círio. O Pará, sem a festa deNazaré, não seria Pará”.1

A origem do Círio e da Festade Nazaré está envolta em lendasou mitos, que se misturam a fatos

históricos. É difícil separaro mito da história apoiada emdocumentos. Sabe-se que adevoção à Nossa Senhora deNazaré começou, no Brasil e noPará, em uma localidadedenominada Vigia (hoje sedede município) e de lá deve teratingido a capital, Belém.

Por volta de 1700, reza atradição, caminhava nas matas daentão tortuosa estrada do Utinga,

hoje avenida Nazaré, em Belémdo Pará, um caboclo agricultore caçador chamado Plácido Josédos Santos.2 Levado pela sede,acabou descobrindo entre pedrascobertas de trepadeiras, às margensdo igarapé Murutucu (localizadoatrás da atual Basílica de Nazaré),uma espécie de nicho natural comuma pequena imagem da Virgemde Nazaré (a imagem, hoje tidacomo a original, tem 38,5centímetros de altura). Plácidolevou-a para casa e, no diaseguinte, ao acordar, viu que haviadesaparecido. Assustado, correuaté o local onde a encontrara epercebeu que a imagem havia“voltado” para o mesmo lugar.

O fenômeno repetiu-se váriasvezes, até que o governador daépoca (a lenda não esclarece o seunome) mandou que a imagem fosselevada para a capela do Palácio do

O CÍRIO É UMA PARADA NA VIDA

A HISTÓRIA

promesseirosna corda. foto: luiz braga.

página ao ladodetalhe de cartaz,milagre de d. fuasroupinho, ¡ª™¢,acervo de basílicode nazaré.

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Governo, onde ficou guardadapelos soldados, que passaram anoite em vigília, para impedir quealguém ali penetrasse ou de lásaísse. Mas, no dia seguinte,a santa foi de novo encontrada àsmargens do igarapé, no mesmolugar para onde sempre retornava,com gotas de orvalho ecarrapichos presos a seu manto,numa “prova” da longa caminhada

através da estrada: a santa “viva”novamente se locomovera por seuspróprios meios.

Para atender aos desejos dasanta, Plácido resolveu entãoconstruir uma pequena ermidapara abrigar a imagem. A notíciado “milagre” espalhou-serapidamente, atraindo para apalhoça do caboclo os lenhadoresseus vizinhos e os habitantes da

cidade que, de curiosos, passarama engrossar as fileiras dos devotosda santa milagrosa. A cada anoaumentava o número dos que iamaté a cabana do caboclo a fim deofertarem ex-votos – objetos de cerarepresentando membros do corpohumano, muletas ou retratos,forma utilizada pelos fiéis parademonstrar o reconhecimento porgraças alcançadas – aos pés do altar.

Nas peregrinações sobressaíam-seos círios ou velas de cera que,tal como em Portugal, depoispassaram a denominar aprópria procissão feita emhomenagem à santa.

O primeiro bispo do Pará,Dom Bartolomeu do Pilar(que esteve à frente do bispadodo Pará entre 1721 e 1723), visitoua modesta ermida da santa eincentivou a devoção iniciada pelocaboclo Plácido. Entre 1730 e 1774construiu-se outra ermida. Para oantropólogo Raymundo HeraldoMaués, a aproximação dasautoridades religiosas da devoçãoà Virgem de Nazaré em Belém –e também em Vigia – marcaria“o início do controle eclesiásticosobre essa devoção popular, que seacentuou em 1793, quando oquinto bispo do Pará, Dom JoãoEvangelista, que também visitou

a imagem de Plácido, oficializoua devoção, colocando Belémsob a proteção de Nossa Senhorade Nazaré”.3

O Círio de Nazaré é umacontecimento que envolve,direta ou indiretamente, toda apopulação paraense, estendendosua influência para além doslimites do estado do Pará. Apesarda existência de Círios de Nazaréem outros municípios do Paráe mesmo em outros estados doBrasil, nenhum deles possui aamplitude que o Círio de Nazaréalcança em Belém, configurando-ocomo um dos fenômenos religiososmais importantes do Brasil.Assim, o Círio de Nossa Senhorade Nazaré, em Belém do Pará,é muito mais do que um merofenômeno religioso, podendo serobservado e compreendido sobdiversos pontos de vista: religioso,

estético, turístico, cultural,sociológico, antropológico etc.

A devoção pela santa é partedo cotidiano dos paraenses.Está presente nos pequenos altaresdomésticos, no movimentadoMercado do Ver-o-Peso, nasbancas de peixe, nossupermercados, em bancos,instituições governamentais emeios de comunicação. NossaSenhora de Nazaré chega a serchamada carinhosamente pormuitos devotos de “Tia Naza” oumesmo “Nazica”, o que evidenciaa relação direta estabelecida entreo devoto e a Virgem, fenômenorecorrente nas devoções popularesno Brasil.

imagem originalde nossa senhorade nazaré, coleçãomanuel barata,ihg rio de janeiro.

página ao ladocarro do foguetesdurante aprocissão, revista“a semana”, ¡ª™¡.

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Governo, onde ficou guardadapelos soldados, que passaram anoite em vigília, para impedir quealguém ali penetrasse ou de lásaísse. Mas, no dia seguinte,a santa foi de novo encontrada àsmargens do igarapé, no mesmolugar para onde sempre retornava,com gotas de orvalho ecarrapichos presos a seu manto,numa “prova” da longa caminhada

através da estrada: a santa “viva”novamente se locomovera por seuspróprios meios.

Para atender aos desejos dasanta, Plácido resolveu entãoconstruir uma pequena ermidapara abrigar a imagem. A notíciado “milagre” espalhou-serapidamente, atraindo para apalhoça do caboclo os lenhadoresseus vizinhos e os habitantes da

cidade que, de curiosos, passarama engrossar as fileiras dos devotosda santa milagrosa. A cada anoaumentava o número dos que iamaté a cabana do caboclo a fim deofertarem ex-votos – objetos de cerarepresentando membros do corpohumano, muletas ou retratos,forma utilizada pelos fiéis parademonstrar o reconhecimento porgraças alcançadas – aos pés do altar.

Nas peregrinações sobressaíam-seos círios ou velas de cera que,tal como em Portugal, depoispassaram a denominar aprópria procissão feita emhomenagem à santa.

O primeiro bispo do Pará,Dom Bartolomeu do Pilar(que esteve à frente do bispadodo Pará entre 1721 e 1723), visitoua modesta ermida da santa eincentivou a devoção iniciada pelocaboclo Plácido. Entre 1730 e 1774construiu-se outra ermida. Para oantropólogo Raymundo HeraldoMaués, a aproximação dasautoridades religiosas da devoçãoà Virgem de Nazaré em Belém –e também em Vigia – marcaria“o início do controle eclesiásticosobre essa devoção popular, que seacentuou em 1793, quando oquinto bispo do Pará, Dom JoãoEvangelista, que também visitou

a imagem de Plácido, oficializoua devoção, colocando Belémsob a proteção de Nossa Senhorade Nazaré”.3

O Círio de Nazaré é umacontecimento que envolve,direta ou indiretamente, toda apopulação paraense, estendendosua influência para além doslimites do estado do Pará. Apesarda existência de Círios de Nazaréem outros municípios do Paráe mesmo em outros estados doBrasil, nenhum deles possui aamplitude que o Círio de Nazaréalcança em Belém, configurando-ocomo um dos fenômenos religiososmais importantes do Brasil.Assim, o Círio de Nossa Senhorade Nazaré, em Belém do Pará,é muito mais do que um merofenômeno religioso, podendo serobservado e compreendido sobdiversos pontos de vista: religioso,

estético, turístico, cultural,sociológico, antropológico etc.

A devoção pela santa é partedo cotidiano dos paraenses.Está presente nos pequenos altaresdomésticos, no movimentadoMercado do Ver-o-Peso, nasbancas de peixe, nossupermercados, em bancos,instituições governamentais emeios de comunicação. NossaSenhora de Nazaré chega a serchamada carinhosamente pormuitos devotos de “Tia Naza” oumesmo “Nazica”, o que evidenciaa relação direta estabelecida entreo devoto e a Virgem, fenômenorecorrente nas devoções popularesno Brasil.

imagem originalde nossa senhorade nazaré, coleçãomanuel barata,ihg rio de janeiro.

página ao ladocarro do foguetesdurante aprocissão, revista“a semana”, ¡ª™¡.

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presidente da província ocorreramno mesmo ano, o que demonstraum indício da popularidadeda devoção à imagem, bem comoevidencia a preocupação dospoderes instituídos, Estadoe Igreja, no sentido de exercero controle sobre ela. Alvo dasatenções e dos interesses da Coroae da Igreja, a devoção popularà Nossa Senhora de Nazarécaminhava para uma futurainstitucionalização.

Em junho de 1793, pouco antesda feira, o presidente da provínciaadoeceu e fez uma promessa:se recuperasse a saúde e pudesseinaugurar a grande feira, levaria aimagem até o palácio do governoe, de lá, esta seria conduzida, emprocissão, de volta à igrejinha.Sousa Coutinho se recuperou e,no dia 8 de setembro de 1793,cumpriu a promessa feita.

O primeiro Círio foi acompanhadopor quase dois mil soldados, alémda população civil de Belém e dointerior da província.

Participavam ainda do cortejo,além do presidente da província,os vereadores da Câmara e o vigáriogeral, substituindo o bispo, queviajara para Portugal. À frente,desfilava um esquadrão decavalaria com seus clarins,anunciando ao povo a aproximaçãodo cortejo. Ao centro, fidalgosa cavalo formavam alas, entre asquais desfilavam as grandes damaslocais, sentadas nas almofadas deseus palanquins.

Naquele primeiro Círioa imagem da santa foi transportadano colo do vigário geral, em umcarro puxado por juntas de bois,como se fazia em Portugal. Quandoo cortejo chegou à ermida da santa,foi rezada uma missa, após o que o

presidente da província inauguroua feira que mandara montarno arraial. Foi também lançada,solenemente, a pedra fundamentalda igreja de pedra e cal que deveriaser erguida no lugar da ermida,sob a responsabilidadeda irmandade de Nossa Senhorade Nazaré.5 Esse primeiro Círiorevivia a lenda: a imagem da santa,levada na véspera para a capelado Palácio do Governo, refazia seucaminho mítico, no dia seguinte,até o local do primitivo achado.Ainda hoje esse movimento de ire vir da imagem da santa repete-senas procissões da trasladação e doCírio, a primeira antecedendo asegunda, do mesmo modo que foirealizado por Souza Coutinho.

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E timologicamente, a expressão“círio”, do latim cereus,

significa uma grande vela de cera.Em Portugal, os círiosrepresentavam um ajuntamento depessoas que se organizavam para,em romaria, ir ao Santuário deNossa Senhora de Nazaré.Posteriormente, as velas de cera oucírios levados pelos romeiros nessasperegrinações passaram adenominar a própria romaria.4

De origem portuguesa, adevoção a Nossa Senhora de Nazarétem uma longa história. Diz-se emPortugal que a imagem que deuorigem a esse culto foi esculpidapor São José, tendo a própriaVirgem por modelo, e teria sidopintada por São Lucas. Depois demuitas idas e vindas, nos primeirosanos do cristianismo, esta imagemchegou às mãos de São Jerônimo ede Santo Agostinho, tendo idoparar na Península Ibérica e depoisnas mãos do monge Romano e dorei Rodrigo, dos visigodos,derrotado pelos mouros na batalhade Guadalete. Abandonada numagruta pelo rei fugitivo, a imagemficou perdida durante séculos,até ser encontrada por pastores,reavivando-se o seu culto a partirdo século xii, depois do famosomilagre de D. Fuas Roupinho,fidalgo português salvo de cair num

abismo por intercessão de NossaSenhora de Nazaré. O fidalgo,agradecido, passou a propagar adevoção em Portugal.

A primeira “parada na vida”dos paraenses proporcionada peloCírio de Nazaré ocorreu em 1793.Dois anos antes, o então presidenteda Província do Pará, Francisco deSousa Coutinho, ávido porfomentar o comércio regionalparaense, resolveu organizar umagrande feira na qual os produtosagrícolas e extrativistas de toda aprovíncia seriam expostos ecomercializados. Estrategicamente,Sousa Coutinho determinou quea feira deveria ocorrer no finaldo segundo semestre de 1793,na mesma época em que osdevotos costumavam homenageara Virgem de Nazaré.

A oficialização da devoção pelaIgreja e a feira organizada pelo

A PROMESSA EO MILAGRE

berlinda modernosa,coleçãovicente salles,museu da ufpa.

fiel com réplica daberlinda na cabeça.foto:francisco costa.

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presidente da província ocorreramno mesmo ano, o que demonstraum indício da popularidadeda devoção à imagem, bem comoevidencia a preocupação dospoderes instituídos, Estadoe Igreja, no sentido de exercero controle sobre ela. Alvo dasatenções e dos interesses da Coroae da Igreja, a devoção popularà Nossa Senhora de Nazarécaminhava para uma futurainstitucionalização.

Em junho de 1793, pouco antesda feira, o presidente da provínciaadoeceu e fez uma promessa:se recuperasse a saúde e pudesseinaugurar a grande feira, levaria aimagem até o palácio do governoe, de lá, esta seria conduzida, emprocissão, de volta à igrejinha.Sousa Coutinho se recuperou e,no dia 8 de setembro de 1793,cumpriu a promessa feita.

O primeiro Círio foi acompanhadopor quase dois mil soldados, alémda população civil de Belém e dointerior da província.

Participavam ainda do cortejo,além do presidente da província,os vereadores da Câmara e o vigáriogeral, substituindo o bispo, queviajara para Portugal. À frente,desfilava um esquadrão decavalaria com seus clarins,anunciando ao povo a aproximaçãodo cortejo. Ao centro, fidalgosa cavalo formavam alas, entre asquais desfilavam as grandes damaslocais, sentadas nas almofadas deseus palanquins.

Naquele primeiro Círioa imagem da santa foi transportadano colo do vigário geral, em umcarro puxado por juntas de bois,como se fazia em Portugal. Quandoo cortejo chegou à ermida da santa,foi rezada uma missa, após o que o

presidente da província inauguroua feira que mandara montarno arraial. Foi também lançada,solenemente, a pedra fundamentalda igreja de pedra e cal que deveriaser erguida no lugar da ermida,sob a responsabilidadeda irmandade de Nossa Senhorade Nazaré.5 Esse primeiro Círiorevivia a lenda: a imagem da santa,levada na véspera para a capelado Palácio do Governo, refazia seucaminho mítico, no dia seguinte,até o local do primitivo achado.Ainda hoje esse movimento de ire vir da imagem da santa repete-senas procissões da trasladação e doCírio, a primeira antecedendo asegunda, do mesmo modo que foirealizado por Souza Coutinho.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 1 4

E timologicamente, a expressão“círio”, do latim cereus,

significa uma grande vela de cera.Em Portugal, os círiosrepresentavam um ajuntamento depessoas que se organizavam para,em romaria, ir ao Santuário deNossa Senhora de Nazaré.Posteriormente, as velas de cera oucírios levados pelos romeiros nessasperegrinações passaram adenominar a própria romaria.4

De origem portuguesa, adevoção a Nossa Senhora de Nazarétem uma longa história. Diz-se emPortugal que a imagem que deuorigem a esse culto foi esculpidapor São José, tendo a própriaVirgem por modelo, e teria sidopintada por São Lucas. Depois demuitas idas e vindas, nos primeirosanos do cristianismo, esta imagemchegou às mãos de São Jerônimo ede Santo Agostinho, tendo idoparar na Península Ibérica e depoisnas mãos do monge Romano e dorei Rodrigo, dos visigodos,derrotado pelos mouros na batalhade Guadalete. Abandonada numagruta pelo rei fugitivo, a imagemficou perdida durante séculos,até ser encontrada por pastores,reavivando-se o seu culto a partirdo século xii, depois do famosomilagre de D. Fuas Roupinho,fidalgo português salvo de cair num

abismo por intercessão de NossaSenhora de Nazaré. O fidalgo,agradecido, passou a propagar adevoção em Portugal.

A primeira “parada na vida”dos paraenses proporcionada peloCírio de Nazaré ocorreu em 1793.Dois anos antes, o então presidenteda Província do Pará, Francisco deSousa Coutinho, ávido porfomentar o comércio regionalparaense, resolveu organizar umagrande feira na qual os produtosagrícolas e extrativistas de toda aprovíncia seriam expostos ecomercializados. Estrategicamente,Sousa Coutinho determinou quea feira deveria ocorrer no finaldo segundo semestre de 1793,na mesma época em que osdevotos costumavam homenageara Virgem de Nazaré.

A oficialização da devoção pelaIgreja e a feira organizada pelo

A PROMESSA EO MILAGRE

berlinda modernosa,coleçãovicente salles,museu da ufpa.

fiel com réplica daberlinda na cabeça.foto:francisco costa.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 1 7

mestiços de todos os cruzamentos,modificando a fisionomia das ruasda capital. Nas barracas de palhaorganizadas pelo presidente daprovíncia podia-se encontrar,para a alegria dos comerciantes,cacau, baunilha, guaraná,urucu, tabaco, pirarucu salgado,além de utensílios da culturamaterial indígena.7

A relação entre Círio ecomércio é bem antiga. No séculoxix, a proximidade do Círioaumentava a procura por fogos,velas, tecidos e outros adereços,o que não passava despercebidopelos comerciantes da época, queaproveitavam a oportunidade paraaumentar seus lucros graças aofervor religioso dos devotos. Nessesentido, Fonseca Coutinho e Cia.procuravam convencer os devotosda importância de sua fábrica decera “pelos meios que doravante

proporciona a qualquerIrmandade, de poder comprar ceralegítima por preços mais cômodosdo que os de Lisboa”. Na fábrica decera, os devotos poderiam encontrarvelas de todos os tamanhos, alémde ex-votos (reproduções em cerade órgãos do corpo humano ou deobjetos que são oferecidos emagradecimento a um milagreocorrido) de todos os feitios.Na loja havia grande sortimento

de tintas finas vindas da Europa,apropriadas para retoque deretratos e encarnação (pintura) dossantos. Manoel da Costa Val, comsua oficina de batineiro e alfaiate,atendia ao clero com “fazendaspróprias para batinas e outrosmisteres sacerdotais”8.

Desde o início era íntimaa relação entre os negócios da fée os negócios do comércio no Círiode Nazaré. A preocupação das

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 1 6

A origem dos fogos no cortejoparece ser mais antiga do que

a alegoria do castelo medieval quepassou a ser mais tarde o carro dos

fogos, em substituição aos clarins decavalaria. Tanto os clarins, como osfogos, tinham a finalidade explícitade anunciar ao povo, que aaguardava, a aproximação daromaria e, ao mesmo tempo,servir de guia aos que conduziama berlinda, quanto ao adiantamentoda vanguarda da procissão. Fazendouma analogia com os préstitoscarnavalescos, era também umaespécie de “abre-alas” ou “comissãode frente”.

O carro dos fogos foi introduzidono Círio de Belém no ano de 1826,pelo presidente da província doPará, Félix Pereira Burgos.6

Em 1983, sob a alegação de que osfogos de artifício causavam muitosacidentes, a diretoria da festividade

resolveu suprimir esse carro. Mas apresença dos fogos de artifício noscírios é algo essencial e faz parte dashomenagens que a santa recebedurante a realização do préstito.

Apesar de a motivação do Círiode Nazaré ter tido inicialmente umcunho institucional, tendo sidoutilizada pelos poderes constituídoscomo forma de afirmar seu poder,de desfilar sua autoridade, nuncadeixou de expressar os diferentessegmentos que compõem asociedade. Ao longo dos anos,índios, negros, brancos, mulatose outros mestiços elaboramestratégias para impregnar o ritualde representações de sua culturaespecífica, de significados muitasvezes alheios a políticos e padres.

Segundo Arthur Vianna, doslongínquos sertões da provínciado Pará vieram, para o primeiroCírio, índios de diversos grupos,

UM CULTOPOPULAR

promesseirosna corda. foto:francisco costa

fiel com pedaço dacorda no finalda procissão. foto:francisco costa.

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mestiços de todos os cruzamentos,modificando a fisionomia das ruasda capital. Nas barracas de palhaorganizadas pelo presidente daprovíncia podia-se encontrar,para a alegria dos comerciantes,cacau, baunilha, guaraná,urucu, tabaco, pirarucu salgado,além de utensílios da culturamaterial indígena.7

A relação entre Círio ecomércio é bem antiga. No séculoxix, a proximidade do Círioaumentava a procura por fogos,velas, tecidos e outros adereços,o que não passava despercebidopelos comerciantes da época, queaproveitavam a oportunidade paraaumentar seus lucros graças aofervor religioso dos devotos. Nessesentido, Fonseca Coutinho e Cia.procuravam convencer os devotosda importância de sua fábrica decera “pelos meios que doravante

proporciona a qualquerIrmandade, de poder comprar ceralegítima por preços mais cômodosdo que os de Lisboa”. Na fábrica decera, os devotos poderiam encontrarvelas de todos os tamanhos, alémde ex-votos (reproduções em cerade órgãos do corpo humano ou deobjetos que são oferecidos emagradecimento a um milagreocorrido) de todos os feitios.Na loja havia grande sortimento

de tintas finas vindas da Europa,apropriadas para retoque deretratos e encarnação (pintura) dossantos. Manoel da Costa Val, comsua oficina de batineiro e alfaiate,atendia ao clero com “fazendaspróprias para batinas e outrosmisteres sacerdotais”8.

Desde o início era íntimaa relação entre os negócios da fée os negócios do comércio no Círiode Nazaré. A preocupação das

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A origem dos fogos no cortejoparece ser mais antiga do que

a alegoria do castelo medieval quepassou a ser mais tarde o carro dos

fogos, em substituição aos clarins decavalaria. Tanto os clarins, como osfogos, tinham a finalidade explícitade anunciar ao povo, que aaguardava, a aproximação daromaria e, ao mesmo tempo,servir de guia aos que conduziama berlinda, quanto ao adiantamentoda vanguarda da procissão. Fazendouma analogia com os préstitoscarnavalescos, era também umaespécie de “abre-alas” ou “comissãode frente”.

O carro dos fogos foi introduzidono Círio de Belém no ano de 1826,pelo presidente da província doPará, Félix Pereira Burgos.6

Em 1983, sob a alegação de que osfogos de artifício causavam muitosacidentes, a diretoria da festividade

resolveu suprimir esse carro. Mas apresença dos fogos de artifício noscírios é algo essencial e faz parte dashomenagens que a santa recebedurante a realização do préstito.

Apesar de a motivação do Círiode Nazaré ter tido inicialmente umcunho institucional, tendo sidoutilizada pelos poderes constituídoscomo forma de afirmar seu poder,de desfilar sua autoridade, nuncadeixou de expressar os diferentessegmentos que compõem asociedade. Ao longo dos anos,índios, negros, brancos, mulatose outros mestiços elaboramestratégias para impregnar o ritualde representações de sua culturaespecífica, de significados muitasvezes alheios a políticos e padres.

Segundo Arthur Vianna, doslongínquos sertões da provínciado Pará vieram, para o primeiroCírio, índios de diversos grupos,

UM CULTOPOPULAR

promesseirosna corda. foto:francisco costa

fiel com pedaço dacorda no finalda procissão. foto:francisco costa.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 1 9

D eve-se entender os elementosdo sagrado e do profano

que marcam o Círio de Nazarécomo fruto de uma relação e nãocomo elementos opostos.A fronteira entre um e outro é,muitas vezes, quase imperceptível.Os conflitos oriundos desta relaçãonão fazem mais do que demonstrarformas diferenciadas de concebera religiosidade entre devotos eclérigos. Não podem seresquecidas, ainda, as motivaçõese oportunidades profanas que afestividade proporciona, comoespaço de sociabilidade. Muitosnoivados e casamentos começaramnas festas do arraial, já que os paisaproveitavam o Círio paraapresentar a beleza de suas donzelase o vigor dos filhos moços.

O Círio também semprerepresentou tempo de mesa farta,de bebida abundante, ocasião para

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 1 8

autoridades constituídas coma moralidade que deveriaacompanhar os devotos ecomerciantes em todo o eventosempre foi grande. Ao anunciara feira de produtos regionais,o presidente da provínciarecomendava que os diretores daprovíncia só permitissem a vindade índias solteiras se acompanhadasde seus pais, e das casadas, emcompanhia dos maridos.9

Outro aspecto que marcatambém o Círio de Nazaré desdesuas origens é a sua extremapopularidade. Apesar da iniciativade o primeiro Círio ter partido deum governante, historicamente aprocissão representa o predomíniode uma romaria de origem popularsobre as fórmulas tradicionais deorigem oficial. O Círio de Nazarénão se firmou em função doprestígio oficial que o cercou

desde o início, mas se impôs porsi mesmo, graças à decisivaparticipação popular e à recusados devotos em transformar suaprincipal manifestação religiosaem “ciriódromo”, com horacerta de saída e tempo exato dechegada, na curiosa expressãode Flávio Nassar.10

Contribuíram para estapopularidade as muitas lendasem torno da imagem da santa(seu achado na mata por umsimples caçador, suas “fugas” etc.),bem como os muitos milagres quelhe são atribuídos. É como se aatitude da própria imagemsimbolizasse o espaço detransgressão que marcaria o Círioao longo de sua história. Afinal,a própria santa teria se recusado aficar encarcerada no ostentosopalácio do governo, cumprindoordens do presidente da província,

preferindo a simples ermidaconstruída por Plácido, ondepoderia dedicar sua atenção a todosos devotos.

A própria condição humildee popular dos dois primeirosguardiões dessa imagem, o cabocloPlácido e o devoto AntônioAgostinho11, ambos pobres emestiços, contribuiu paraa popularização do culto. Quandoda realização do primeiro Círio,a imagem estava sob a guarda deAntonio Agostinho, posto quePlácido já havia morrido. Poroutro lado, não se pode negarque a pompa e o caráter oficial quedepois passou a ter a procissãotambém contribuíram para o maioresplendor da festa, atraindo aindamais a multidão de devotos.

FESTARELIGIOSAOUFESTA PROFANA?

a procissão nadoca do ver-o-peso.foto:francisco costa.

a emoção dos fiéisdiante da imagem denossa senhorade nazaré. foto:francisco costa

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D eve-se entender os elementosdo sagrado e do profano

que marcam o Círio de Nazarécomo fruto de uma relação e nãocomo elementos opostos.A fronteira entre um e outro é,muitas vezes, quase imperceptível.Os conflitos oriundos desta relaçãonão fazem mais do que demonstrarformas diferenciadas de concebera religiosidade entre devotos eclérigos. Não podem seresquecidas, ainda, as motivaçõese oportunidades profanas que afestividade proporciona, comoespaço de sociabilidade. Muitosnoivados e casamentos começaramnas festas do arraial, já que os paisaproveitavam o Círio paraapresentar a beleza de suas donzelase o vigor dos filhos moços.

O Círio também semprerepresentou tempo de mesa farta,de bebida abundante, ocasião para

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autoridades constituídas coma moralidade que deveriaacompanhar os devotos ecomerciantes em todo o eventosempre foi grande. Ao anunciara feira de produtos regionais,o presidente da provínciarecomendava que os diretores daprovíncia só permitissem a vindade índias solteiras se acompanhadasde seus pais, e das casadas, emcompanhia dos maridos.9

Outro aspecto que marcatambém o Círio de Nazaré desdesuas origens é a sua extremapopularidade. Apesar da iniciativade o primeiro Círio ter partido deum governante, historicamente aprocissão representa o predomíniode uma romaria de origem popularsobre as fórmulas tradicionais deorigem oficial. O Círio de Nazarénão se firmou em função doprestígio oficial que o cercou

desde o início, mas se impôs porsi mesmo, graças à decisivaparticipação popular e à recusados devotos em transformar suaprincipal manifestação religiosaem “ciriódromo”, com horacerta de saída e tempo exato dechegada, na curiosa expressãode Flávio Nassar.10

Contribuíram para estapopularidade as muitas lendasem torno da imagem da santa(seu achado na mata por umsimples caçador, suas “fugas” etc.),bem como os muitos milagres quelhe são atribuídos. É como se aatitude da própria imagemsimbolizasse o espaço detransgressão que marcaria o Círioao longo de sua história. Afinal,a própria santa teria se recusado aficar encarcerada no ostentosopalácio do governo, cumprindoordens do presidente da província,

preferindo a simples ermidaconstruída por Plácido, ondepoderia dedicar sua atenção a todosos devotos.

A própria condição humildee popular dos dois primeirosguardiões dessa imagem, o cabocloPlácido e o devoto AntônioAgostinho11, ambos pobres emestiços, contribuiu paraa popularização do culto. Quandoda realização do primeiro Círio,a imagem estava sob a guarda deAntonio Agostinho, posto quePlácido já havia morrido. Poroutro lado, não se pode negarque a pompa e o caráter oficial quedepois passou a ter a procissãotambém contribuíram para o maioresplendor da festa, atraindo aindamais a multidão de devotos.

FESTARELIGIOSAOUFESTA PROFANA?

a procissão nadoca do ver-o-peso.foto:francisco costa.

a emoção dos fiéisdiante da imagem denossa senhorade nazaré. foto:francisco costa

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Uma única vez, em 1891, o Círiosaiu da igreja de Santo Alexandre,também localizada na praça da Sé.14

Nos primeiros círios realizadosem Belém a imagem da santa eraconduzida no colo dos bispos,sendo mais tarde introduzida aberlinda, no interior da qual ficavaa imagem, que era transportadanum carro puxado por juntas debois. Em certos anos, quando oCírio percorria a área do mercadoVer-o-Peso, havia dificuldade parao carro passar por causa da águaque transbordava da baía,inundando e enlameando a rua,que não possuía calçamento.Por isto surgiu a idéia, em 1855,de passar uma grande corda emvolta da berlinda, para que o povopudesse ajudar a puxá-la, a fim deque o carro transpusesse melhor oatoleiro. Somente 13 anos depoisa corda foi oficializada pela diretoria

da Irmandade de Nazaré, adotando-se também outras medidas querestringiam o uso de carros, cavalose foguetes no cortejo.

Estas medidas, que agradaramà maioria do povo, provocaram,porém, certo descontentamentoentre pessoas abastadas, poissignificavam simplificação e“empobrecimento” da procissão.Mais tarde surgiriam muitaspolêmicas por causa da corda,que um bispo da primeira metadedo século xx – Dom Irineu Joffily –tentou suprimir, provocando umagrande reação popular. Depois, acorda perdeu a finalidade inicial,passando a ser utilizada somentepara separar o “núcleo estruturado”,no qual iam a berlinda, as autoridadese os convidados, da “massaindiferenciada” que acompanhavao Círio.15 Hoje, até mesmo essafunção da corda desapareceu.

Também em 1855 irromperaem Belém a epidemia de cólera,trazida pela galera Defensor, vindade Portugal com 304 passageiros,sendo que 36 destes morreram natravessia. Os doentes caíam nas ruase nas igrejas, famílias inteiraseram contaminadas. A epidemiagrassava sem poupar uma casa;as embarcações ficavam ao léu,pois tripulações eram dizimadas;o comércio fechava as portas.O bispo Dom José Afonso deMoraes Torres promoveu orações,recitações de terços, bênçãos doSantíssimo, recomendando semprea confiança em Nossa Senhorade Nazaré, celebrada mais uma veznaquele ano, apesar da epidemia,que só seria debelada alguns mesesdepois, em fevereiro de 1856.16

jogos de azar e brinquedos noparque de diversões. A própriafestividade funcionouoriginariamente como feira deprodutos regionais. Em suma,a festa também faz parte dahomenagem dos devotos à santa,já que, além de lhes agraciar com omilagre, ela ainda os brinda commúsica, dança, espetáculo.12

O Círio é uma procissãoespecial, que não aparece em todasas festas de santos. Em suasorigens lusitanas, já no séculoxviii, os círios apresentavammais um caráter de espetáculo,organizados por corporaçõesreligiosas que, em setembro,durante a festa anual da santa,dirigiam-se à vila de Nazaré.Na ocasião do desfile dos círios,o povo se juntava para apreciar suapassagem, em meio ao repique dossinos e ao foguetório.13

Ao longo do tempo, o Círio deNazaré, em Belém, sofreu diversasmodificações: quanto à data e aohorário de realização; e quanto àorganização do cortejo, ao qualforam agregados diversos elementosnovos e alegorias, embora seuitinerário tenha se mantido semgrandes alterações. No início,não havia data certa para a festa,podendo esta ser realizada emsetembro, outubro ou novembro.A romaria era vespertina e atémesmo noturna, daí o uso de velas.A partir de 1854, em função daschuvas que comprometeram o Círiono ano anterior, a procissão passoua ser realizada no horário matinal.

Entre 1793, data do primeiroCírio, e 1882, o cortejo saía dopalácio do governo. Em 1882,o bispo Dom Macedo Costa (queesteve à frente do bispado do Paráentre 1861 e 1890) e o presidente

da província Justino Ferreiradecidiram que a procissão sairianão mais do palácio do governo,mas da Catedral da Sé.

Dom Macedo Costa foi umárduo defensor do fim do regimedo padroado, que colocava a IgrejaCatólica sob os auspícios damonarquia portuguesa, e tambémum ferrenho lutador contraa autonomia dos devotos docatolicismo popular. Estes fatorespodem tê-lo motivado a transferira saída da procissão para a Catedralda Sé, favorecendo seu controlesobre ela. Em 1901, o bispoDom Francisco do Rêgo Maia fixouo segundo domingo de outubrocomo a data oficial do Círio.No ano de 1973, quando eragovernador do Pará o engenheiroFernando Guilhon, o Círio saiunovamente da Capela do Palácio,que havia sido restaurada.

detalhe brinquedode miriti. foto:francisco costa.

detalhe banca devenda de brinquedosde miriti. foto:francisco costa.

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Uma única vez, em 1891, o Círiosaiu da igreja de Santo Alexandre,também localizada na praça da Sé.14

Nos primeiros círios realizadosem Belém a imagem da santa eraconduzida no colo dos bispos,sendo mais tarde introduzida aberlinda, no interior da qual ficavaa imagem, que era transportadanum carro puxado por juntas debois. Em certos anos, quando oCírio percorria a área do mercadoVer-o-Peso, havia dificuldade parao carro passar por causa da águaque transbordava da baía,inundando e enlameando a rua,que não possuía calçamento.Por isto surgiu a idéia, em 1855,de passar uma grande corda emvolta da berlinda, para que o povopudesse ajudar a puxá-la, a fim deque o carro transpusesse melhor oatoleiro. Somente 13 anos depoisa corda foi oficializada pela diretoria

da Irmandade de Nazaré, adotando-se também outras medidas querestringiam o uso de carros, cavalose foguetes no cortejo.

Estas medidas, que agradaramà maioria do povo, provocaram,porém, certo descontentamentoentre pessoas abastadas, poissignificavam simplificação e“empobrecimento” da procissão.Mais tarde surgiriam muitaspolêmicas por causa da corda,que um bispo da primeira metadedo século xx – Dom Irineu Joffily –tentou suprimir, provocando umagrande reação popular. Depois, acorda perdeu a finalidade inicial,passando a ser utilizada somentepara separar o “núcleo estruturado”,no qual iam a berlinda, as autoridadese os convidados, da “massaindiferenciada” que acompanhavao Círio.15 Hoje, até mesmo essafunção da corda desapareceu.

Também em 1855 irromperaem Belém a epidemia de cólera,trazida pela galera Defensor, vindade Portugal com 304 passageiros,sendo que 36 destes morreram natravessia. Os doentes caíam nas ruase nas igrejas, famílias inteiraseram contaminadas. A epidemiagrassava sem poupar uma casa;as embarcações ficavam ao léu,pois tripulações eram dizimadas;o comércio fechava as portas.O bispo Dom José Afonso deMoraes Torres promoveu orações,recitações de terços, bênçãos doSantíssimo, recomendando semprea confiança em Nossa Senhorade Nazaré, celebrada mais uma veznaquele ano, apesar da epidemia,que só seria debelada alguns mesesdepois, em fevereiro de 1856.16

jogos de azar e brinquedos noparque de diversões. A própriafestividade funcionouoriginariamente como feira deprodutos regionais. Em suma,a festa também faz parte dahomenagem dos devotos à santa,já que, além de lhes agraciar com omilagre, ela ainda os brinda commúsica, dança, espetáculo.12

O Círio é uma procissãoespecial, que não aparece em todasas festas de santos. Em suasorigens lusitanas, já no séculoxviii, os círios apresentavammais um caráter de espetáculo,organizados por corporaçõesreligiosas que, em setembro,durante a festa anual da santa,dirigiam-se à vila de Nazaré.Na ocasião do desfile dos círios,o povo se juntava para apreciar suapassagem, em meio ao repique dossinos e ao foguetório.13

Ao longo do tempo, o Círio deNazaré, em Belém, sofreu diversasmodificações: quanto à data e aohorário de realização; e quanto àorganização do cortejo, ao qualforam agregados diversos elementosnovos e alegorias, embora seuitinerário tenha se mantido semgrandes alterações. No início,não havia data certa para a festa,podendo esta ser realizada emsetembro, outubro ou novembro.A romaria era vespertina e atémesmo noturna, daí o uso de velas.A partir de 1854, em função daschuvas que comprometeram o Círiono ano anterior, a procissão passoua ser realizada no horário matinal.

Entre 1793, data do primeiroCírio, e 1882, o cortejo saía dopalácio do governo. Em 1882,o bispo Dom Macedo Costa (queesteve à frente do bispado do Paráentre 1861 e 1890) e o presidente

da província Justino Ferreiradecidiram que a procissão sairianão mais do palácio do governo,mas da Catedral da Sé.

Dom Macedo Costa foi umárduo defensor do fim do regimedo padroado, que colocava a IgrejaCatólica sob os auspícios damonarquia portuguesa, e tambémum ferrenho lutador contraa autonomia dos devotos docatolicismo popular. Estes fatorespodem tê-lo motivado a transferira saída da procissão para a Catedralda Sé, favorecendo seu controlesobre ela. Em 1901, o bispoDom Francisco do Rêgo Maia fixouo segundo domingo de outubrocomo a data oficial do Círio.No ano de 1973, quando eragovernador do Pará o engenheiroFernando Guilhon, o Círio saiunovamente da Capela do Palácio,que havia sido restaurada.

detalhe brinquedode miriti. foto:francisco costa.

detalhe banca devenda de brinquedosde miriti. foto:francisco costa.

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um crescente distanciamentoespacial entre o povo e a imagem dasanta durante a procissão, devidoao gradual aparato “disciplinador”que marca a romaria nos dias dehoje (diretoria da festa, em 1910 eguarda da santa, criada em 1974, porexemplo). A ação centralizadorado prelado paraense fazia parte doprocesso conhecido comoromanização, que marcou, a partirde meados do século xix,

as relações entre Igreja e Estado,bem como entre Igreja e adeptos docatolicismo popular. O objetivo erasintonizar a Igreja brasileira com asdiretrizes da Santa Sé, situada emRoma, daí o termo romanização.19

O episódio ilustra umadas situações de aliança, oposiçãoe conciliação entre Igreja e Estado,em relação aos interesses religiososdos leigos (estes mesmosdiferenciados, por sua condiçãode classe e status, no conjunto dasociedade). A separação entreIgreja e Estado no Brasilrepublicano, marcando o fimdo regime de padroado, nãosignificou, por sua vez, o fim dosconflitos, que se estenderam aolongo do século xx.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 2 2

N o final do século xix o Diário

de Belém fez uma denúncia queteve grande repercussão, dandoinicio à chamada questão nazarena.Segundo o jornal, numa das noitesdo arraial da santa foramapresentados quadros com“representações indecorosas”(mulheres despidas). A reação dasautoridades religiosas veio rápida.Em outubro de 1877, o bispo doPará, Dom Antônio de MacedoCosta, suspendeu as funçõesreligiosas da Festa de Nazaré efechou a porta da ermida. O fatoteve grande repercussão, na cidadee no interior, sendo a atitude dobispo duramente criticada,sobretudo pela imprensa liberal.

Apesar da proibição, o povo,instigado por membros daIrmandade de Nazaré (que eraresponsável, na época, pelaorganização do Círio e da Festa),

abriu por conta própria a portada ermida, apoderando-se dosinstrumentos de celebração,acendendo velas e lustres, tocandoos sinos, para em seguida entoar,“com todo o recolhimento, umaladainha que era acompanhada porgrande número de pessoas,ajoelhadas até na rua”17.

A questão nazarena prolongou-se até o ano de 1880, envolvendouma disputa entre a autoridadeeclesiástica e a Irmandade de NossaSenhora de Nazaré, da qual faziamparte alguns membros damaçonaria, e cuja legitimidade eracontestada por Dom Macedo Costa.Na época estava sendo concluídaa construção da igreja que deveriasubstituir a antiga ermida, sendoque a disputa se fazia também pelocontrole do novo templo, quea irmandade desejava manter sobsua guarda. Além das ladainhas civis

foram também realizados doiscírios civis, em 1878 e 1879,sem a participação do clero e dasautoridades religiosas.

A questão chegou a repercutirno Senado do Império,provocando debates inflamados.O governo provincial, a princípio,deu todo apoio à irmandade,desconsiderando, de várias formas,a autoridade religiosa. O impasse,entretanto, chegou ao fim pelamediação do próprio presidenteda província, José Coelho da Gamae Abreu, o barão de Marajó18,com a criação de uma comissãopara organizar a festa, formada porconfreiros e religiosos, nomeadapelo bispo.

A partir de então, a irmandadecomeçou a perder o poderde decisão que tinha sobre aorganização do Círio. Uma dasconseqüências desse declínio foi

O PRIMEIROCONFLITO:A QUESTÃONAZARENA

procissão docírio no largode sant’ana,acervo imgb -rio de janeiro.

abaixo:construção dabasílica de nazaré.

Page 24: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 2 3

um crescente distanciamentoespacial entre o povo e a imagem dasanta durante a procissão, devidoao gradual aparato “disciplinador”que marca a romaria nos dias dehoje (diretoria da festa, em 1910 eguarda da santa, criada em 1974, porexemplo). A ação centralizadorado prelado paraense fazia parte doprocesso conhecido comoromanização, que marcou, a partirde meados do século xix,

as relações entre Igreja e Estado,bem como entre Igreja e adeptos docatolicismo popular. O objetivo erasintonizar a Igreja brasileira com asdiretrizes da Santa Sé, situada emRoma, daí o termo romanização.19

O episódio ilustra umadas situações de aliança, oposiçãoe conciliação entre Igreja e Estado,em relação aos interesses religiososdos leigos (estes mesmosdiferenciados, por sua condiçãode classe e status, no conjunto dasociedade). A separação entreIgreja e Estado no Brasilrepublicano, marcando o fimdo regime de padroado, nãosignificou, por sua vez, o fim dosconflitos, que se estenderam aolongo do século xx.

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N o final do século xix o Diário

de Belém fez uma denúncia queteve grande repercussão, dandoinicio à chamada questão nazarena.Segundo o jornal, numa das noitesdo arraial da santa foramapresentados quadros com“representações indecorosas”(mulheres despidas). A reação dasautoridades religiosas veio rápida.Em outubro de 1877, o bispo doPará, Dom Antônio de MacedoCosta, suspendeu as funçõesreligiosas da Festa de Nazaré efechou a porta da ermida. O fatoteve grande repercussão, na cidadee no interior, sendo a atitude dobispo duramente criticada,sobretudo pela imprensa liberal.

Apesar da proibição, o povo,instigado por membros daIrmandade de Nazaré (que eraresponsável, na época, pelaorganização do Círio e da Festa),

abriu por conta própria a portada ermida, apoderando-se dosinstrumentos de celebração,acendendo velas e lustres, tocandoos sinos, para em seguida entoar,“com todo o recolhimento, umaladainha que era acompanhada porgrande número de pessoas,ajoelhadas até na rua”17.

A questão nazarena prolongou-se até o ano de 1880, envolvendouma disputa entre a autoridadeeclesiástica e a Irmandade de NossaSenhora de Nazaré, da qual faziamparte alguns membros damaçonaria, e cuja legitimidade eracontestada por Dom Macedo Costa.Na época estava sendo concluídaa construção da igreja que deveriasubstituir a antiga ermida, sendoque a disputa se fazia também pelocontrole do novo templo, quea irmandade desejava manter sobsua guarda. Além das ladainhas civis

foram também realizados doiscírios civis, em 1878 e 1879,sem a participação do clero e dasautoridades religiosas.

A questão chegou a repercutirno Senado do Império,provocando debates inflamados.O governo provincial, a princípio,deu todo apoio à irmandade,desconsiderando, de várias formas,a autoridade religiosa. O impasse,entretanto, chegou ao fim pelamediação do próprio presidenteda província, José Coelho da Gamae Abreu, o barão de Marajó18,com a criação de uma comissãopara organizar a festa, formada porconfreiros e religiosos, nomeadapelo bispo.

A partir de então, a irmandadecomeçou a perder o poderde decisão que tinha sobre aorganização do Círio. Uma dasconseqüências desse declínio foi

O PRIMEIROCONFLITO:A QUESTÃONAZARENA

procissão docírio no largode sant’ana,acervo imgb -rio de janeiro.

abaixo:construção dabasílica de nazaré.

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chegada a Belém de Dom AntônioLustosa, o sucessor de Dom Irineu,a corda foi restabelecida no Círio,cessando o conflito.20

Mais do que a ação populista deMagalhães Barata, deve-se destacara ação autônoma dos devotos docatolicismo popular paraense, quenão mediram esforços para amanutenção da tradição, havendomesmo quem sugerisse o seutombamento: “Tombar a corda paradeclará-la, formalmente,patrimônio cultural dos paraenses,parte integrante do nosso modode viver e dos nossos sentimentos,e assim preservá-la de qualquertentativa de extingui-la ou mudarsua função. Isso implicariareconhecer que a corda e a berlinda

formam um conjunto indivisível eque só devem separar-se ao chegarao Largo de Nazaré. Assim, quemviesse a atentar contra este

conjunto estaria atentando contraum bem tombado e, portanto,passivo das penas da lei”.21

A polêmica quanto aodesatrelamento da corda e da berlinda,entretanto, não é ainda um casoencerrado. Como todos os anos

surgem rumores sobre possíveismudanças na programaçãodo Círio, os devotos ficampreocupados quanto àpermanência dos elementosque eles consideramindispensáveis à procissão.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 2 4

E sta foi outra situaçãoconflituosa envolvendo o

Círio, no final da década de 1920.Acusada de responsável pelo atrasoda procissão, a corda conduzidapelos promesseiros quecircundavam a berlinda da santafoi muitas vezes desatrelada destapara antecipar a chegada da imagemda santa à Basílica de Nazaré.

As primeiras tentativas desupressão da corda ocorreram noâmbito de uma espécie de segundaquestão nazarena, entre 1926 e 1931,e estavam relacionadas à separaçãoentre a Igreja e o Estado e aoperíodo de transição entre a Velhae a Nova República. O episódioestava ligado aos esforçosromanizadores de Dom IrineuJoffily (que ocupou o arcebispadodo Pará entre 1925 e 1931), o qual,alegando normas emanadas daSagrada Congregação dos Ritos,

introduziu uma série de mudançasno Círio de Nazaré, visando atransformá-lo numa procissãodevota, com a participaçãoordenada de associações religiosas,orações e cânticos pios.

Os aspectos mais polêmicos dasreformas diziam respeito à aboliçãoda corda e à abolição do própriocarro que a conduzia, sendo estetransformado em andor, carregadonos ombros dos fiéis. Apesar daforte reação popular e de umaparte da imprensa, as modificaçõesforam mantidas, com apoio dogovernador do estado, DionísioBentes, que colocou a polícia nasruas para garantir, de forma atémesmo violenta, o cumprimentodas ordens do arcebispo.

A questão só foi resolvida depoisda Revolução de 1930, quandoassumiu a intervenção do estadoo então tenente Magalhães Barata

que, colocando-se ao lado dasmanifestações populares emanipulando-as em benefíciopolítico, assumiu a causa da volta do“Círio tradicional”. A renúnciade Dom Irineu Joffily, em julho de1931, alegando motivos de saúde,levantou a hipótese de que o motivotambém estivesse ligado ao conflitoque se estabelecera entre asautoridades laica e eclesiástica.

Com a mediação do interventor,entretanto, foram feitos apelos,pelo governo brasileiro, ao núncioapostólico, ao cardeal do Rio deJaneiro Dom Sebastião Lemee ao Vaticano, por intermédiodo Ministério do Exterior, peloretorno da forma do Círiotradicional, com a corda e aberlinda. A questão passou a serintegralmente assumida peloEstado, num sentido de conciliação.Em outubro de 1931, antes da

O SEGUNDOCONFLITO:A QUESTÃO DACORDA

página ao ladocaricatura sobre afesta do círio,jornal “o puraquê”,¡•¶•.

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chegada a Belém de Dom AntônioLustosa, o sucessor de Dom Irineu,a corda foi restabelecida no Círio,cessando o conflito.20

Mais do que a ação populista deMagalhães Barata, deve-se destacara ação autônoma dos devotos docatolicismo popular paraense, quenão mediram esforços para amanutenção da tradição, havendomesmo quem sugerisse o seutombamento: “Tombar a corda paradeclará-la, formalmente,patrimônio cultural dos paraenses,parte integrante do nosso modode viver e dos nossos sentimentos,e assim preservá-la de qualquertentativa de extingui-la ou mudarsua função. Isso implicariareconhecer que a corda e a berlinda

formam um conjunto indivisível eque só devem separar-se ao chegarao Largo de Nazaré. Assim, quemviesse a atentar contra este

conjunto estaria atentando contraum bem tombado e, portanto,passivo das penas da lei”.21

A polêmica quanto aodesatrelamento da corda e da berlinda,entretanto, não é ainda um casoencerrado. Como todos os anos

surgem rumores sobre possíveismudanças na programaçãodo Círio, os devotos ficampreocupados quanto àpermanência dos elementosque eles consideramindispensáveis à procissão.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 2 4

E sta foi outra situaçãoconflituosa envolvendo o

Círio, no final da década de 1920.Acusada de responsável pelo atrasoda procissão, a corda conduzidapelos promesseiros quecircundavam a berlinda da santafoi muitas vezes desatrelada destapara antecipar a chegada da imagemda santa à Basílica de Nazaré.

As primeiras tentativas desupressão da corda ocorreram noâmbito de uma espécie de segundaquestão nazarena, entre 1926 e 1931,e estavam relacionadas à separaçãoentre a Igreja e o Estado e aoperíodo de transição entre a Velhae a Nova República. O episódioestava ligado aos esforçosromanizadores de Dom IrineuJoffily (que ocupou o arcebispadodo Pará entre 1925 e 1931), o qual,alegando normas emanadas daSagrada Congregação dos Ritos,

introduziu uma série de mudançasno Círio de Nazaré, visando atransformá-lo numa procissãodevota, com a participaçãoordenada de associações religiosas,orações e cânticos pios.

Os aspectos mais polêmicos dasreformas diziam respeito à aboliçãoda corda e à abolição do própriocarro que a conduzia, sendo estetransformado em andor, carregadonos ombros dos fiéis. Apesar daforte reação popular e de umaparte da imprensa, as modificaçõesforam mantidas, com apoio dogovernador do estado, DionísioBentes, que colocou a polícia nasruas para garantir, de forma atémesmo violenta, o cumprimentodas ordens do arcebispo.

A questão só foi resolvida depoisda Revolução de 1930, quandoassumiu a intervenção do estadoo então tenente Magalhães Barata

que, colocando-se ao lado dasmanifestações populares emanipulando-as em benefíciopolítico, assumiu a causa da volta do“Círio tradicional”. A renúnciade Dom Irineu Joffily, em julho de1931, alegando motivos de saúde,levantou a hipótese de que o motivotambém estivesse ligado ao conflitoque se estabelecera entre asautoridades laica e eclesiástica.

Com a mediação do interventor,entretanto, foram feitos apelos,pelo governo brasileiro, ao núncioapostólico, ao cardeal do Rio deJaneiro Dom Sebastião Lemee ao Vaticano, por intermédiodo Ministério do Exterior, peloretorno da forma do Círiotradicional, com a corda e aberlinda. A questão passou a serintegralmente assumida peloEstado, num sentido de conciliação.Em outubro de 1931, antes da

O SEGUNDOCONFLITO:A QUESTÃO DACORDA

página ao ladocaricatura sobre afesta do círio,jornal “o puraquê”,¡•¶•.

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momentos reprimido pela polícia,foi o dos militantes do Movimentopela Libertação dos Presos doAraguaia (mlpa). A despeito daapreensão pela polícia do material depropaganda, realizado nas vésperasdo Círio, ainda foi possível organizarnovas faixas, cartazes e panfletos.

Como símbolo do protestocontra a prisão e condenação dospadres e posseiros, os manifestantestraziam, durante a procissão, umaenorme cruz de papelão. Chegarama percorrer algumas quadras comela, até que um grupo de soldadosda Polícia Militar retirou-a das mãosdos manifestantes. Mais adiante,padres, seminaristas e militantesleigos do mlpa desenrolaram suasfaixas de protesto; algumas, com umsimples “x” e a imagem de NossaSenhora de Nazaré; outras, com osdizeres: “Liberdade para os presosdo Araguaia” e “Nossa Senhora,

este povo passa fome”. O grupodesfilava atrás da barca das promessas,entoando cânticos que falavam em“liberdade e justiça”. Mas, chegandoao Largo de Nazaré (onde seencerra a procissão do Círio),os manifestantes também tiveramsuas faixas arrancadas por um grupode soldados da Polícia Militar,que agia com alguma prudência,para não comprometer a imagemdo governo do estado, aliado doscandidatos de oposição à ditadura.22

O Círio de Nazaré pode entãoser percebido como uma festapolissêmica, um campo deconflitos, fruto do embatepermanente entre diferentestradições, entre experiênciasmúltiplas tecidas no contextoda romaria. Num espaço quesugere a ordem, é possívelperceber momentos de desordem,transgressão e conflito com

a oficialidade da festa. Se a devoçãosugere a relação íntima do devotocom a divindade, pode-se perceber,além disto, a tentativa de controledo episcopado em relação a essaforma de devoção popular,procurando expurgar os festejos doselementos considerados profanos.

Ao separar bailes e missas, rezase danças, para o bem da noçãode “espírito religioso”, a Igrejacria uma espécie de modelo decomportamento cristão,significando uma perfeitaadequação aos seus ensinamentose uma absoluta obediência aosmembros do clero. Na lógica dosadeptos do catolicismo popular,pôr a festa de cabeça para baixo,fazer da festa e do encontro que elapropicia um momento de protesto,muitas vezes é uma forma decaricaturizar as instituiçõesque tentam adestrá-lo.23

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 2 6

O terceiro episódio importante deconflito na história do Círio

de Nazaré está ligado a questõespolíticas que envolviam sacerdotescatólicos, num momento detransição entre a ditadura militar eo que mais tarde se chamou de NovaRepública (a segunda com esse nomeem nossa história). O fato maisproeminente, do ponto de vista daIgreja, foi a prisão e condenação dospadres franceses Aristides Camio eFrancisco Gouriou pelas autoridadesmilitares – acusados de teremincitado os posseiros da região doAraguaia a ações consideradas ilegaise “subversivas” ainda no períododitatorial (1982), mas já nummomento em que se vislumbravamos sinais mais evidentes da chamada“abertura democrática”.

Além disso, a campanha políticapara as eleições daquele ano,as primeiras, depois dos anos do

governo militar, viria eleger, deforma direta, os governadoresdos estados, senadores, deputadosestaduais e federais, e vereadores.As eleições (posteriores ao Círiode 1982), no Pará, provocarammudanças, ainda que superficiais,no domínio das oligarquias doestado, possibilitadas, de certaforma, por uma aliança de políticosde oposição à ditadura com grupose partidos de esquerda (incluindoos então clandestinos partidoscomunistas) e com facçõesdissidentes ligadas às oligarquiasmais tradicionais. O peso simbólicoda união de todas as forças na lutacontra a ditadura repercutiuexcepcionalmente no Círio daqueleano, ocorrido em pleno períododa campanha política.

A Igreja Católica desempenhou,pois, um importante papel nessamudança política no estado do Pará,

devido, sobretudo, à condenaçãodos padres franceses pelo governo,o que permitiu a união de váriasfacções do episcopado paraensede modo, até certo ponto,surpreendente. Chegou-se mesmo,na ocasião, a uma espécie depequena questão nazarena às avessas,envolvendo a realização do Círio de1982. Devido aos protestos da Igrejacontra a condenação dos padresfranceses, manifestados até durantesepultamentos e também àdestituição, pelo arcebispo deBelém, de Demócrito Noronha,auditor militar que havia acusadoos padres, do cargo que ocupavana diretoria da festa de Nazaré,as autoridades civis e militares,ligadas à ditadura, recusaram-se aacompanhar o Círio no espaço ritualdo interior da corda a elas reservado.

Um outro tipo de protesto, nodecorrer do Círio, este, em vários

O TERCEIROCONFLITO:A QUESTÃO DOSPADRES EPOSSEIROSDO ARAGUAIA

manifestaçõespolíticas durantea procissão.foto: luiz braga.

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momentos reprimido pela polícia,foi o dos militantes do Movimentopela Libertação dos Presos doAraguaia (mlpa). A despeito daapreensão pela polícia do material depropaganda, realizado nas vésperasdo Círio, ainda foi possível organizarnovas faixas, cartazes e panfletos.

Como símbolo do protestocontra a prisão e condenação dospadres e posseiros, os manifestantestraziam, durante a procissão, umaenorme cruz de papelão. Chegarama percorrer algumas quadras comela, até que um grupo de soldadosda Polícia Militar retirou-a das mãosdos manifestantes. Mais adiante,padres, seminaristas e militantesleigos do mlpa desenrolaram suasfaixas de protesto; algumas, com umsimples “x” e a imagem de NossaSenhora de Nazaré; outras, com osdizeres: “Liberdade para os presosdo Araguaia” e “Nossa Senhora,

este povo passa fome”. O grupodesfilava atrás da barca das promessas,entoando cânticos que falavam em“liberdade e justiça”. Mas, chegandoao Largo de Nazaré (onde seencerra a procissão do Círio),os manifestantes também tiveramsuas faixas arrancadas por um grupode soldados da Polícia Militar,que agia com alguma prudência,para não comprometer a imagemdo governo do estado, aliado doscandidatos de oposição à ditadura.22

O Círio de Nazaré pode entãoser percebido como uma festapolissêmica, um campo deconflitos, fruto do embatepermanente entre diferentestradições, entre experiênciasmúltiplas tecidas no contextoda romaria. Num espaço quesugere a ordem, é possívelperceber momentos de desordem,transgressão e conflito com

a oficialidade da festa. Se a devoçãosugere a relação íntima do devotocom a divindade, pode-se perceber,além disto, a tentativa de controledo episcopado em relação a essaforma de devoção popular,procurando expurgar os festejos doselementos considerados profanos.

Ao separar bailes e missas, rezase danças, para o bem da noçãode “espírito religioso”, a Igrejacria uma espécie de modelo decomportamento cristão,significando uma perfeitaadequação aos seus ensinamentose uma absoluta obediência aosmembros do clero. Na lógica dosadeptos do catolicismo popular,pôr a festa de cabeça para baixo,fazer da festa e do encontro que elapropicia um momento de protesto,muitas vezes é uma forma decaricaturizar as instituiçõesque tentam adestrá-lo.23

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O terceiro episódio importante deconflito na história do Círio

de Nazaré está ligado a questõespolíticas que envolviam sacerdotescatólicos, num momento detransição entre a ditadura militar eo que mais tarde se chamou de NovaRepública (a segunda com esse nomeem nossa história). O fato maisproeminente, do ponto de vista daIgreja, foi a prisão e condenação dospadres franceses Aristides Camio eFrancisco Gouriou pelas autoridadesmilitares – acusados de teremincitado os posseiros da região doAraguaia a ações consideradas ilegaise “subversivas” ainda no períododitatorial (1982), mas já nummomento em que se vislumbravamos sinais mais evidentes da chamada“abertura democrática”.

Além disso, a campanha políticapara as eleições daquele ano,as primeiras, depois dos anos do

governo militar, viria eleger, deforma direta, os governadoresdos estados, senadores, deputadosestaduais e federais, e vereadores.As eleições (posteriores ao Círiode 1982), no Pará, provocarammudanças, ainda que superficiais,no domínio das oligarquias doestado, possibilitadas, de certaforma, por uma aliança de políticosde oposição à ditadura com grupose partidos de esquerda (incluindoos então clandestinos partidoscomunistas) e com facçõesdissidentes ligadas às oligarquiasmais tradicionais. O peso simbólicoda união de todas as forças na lutacontra a ditadura repercutiuexcepcionalmente no Círio daqueleano, ocorrido em pleno períododa campanha política.

A Igreja Católica desempenhou,pois, um importante papel nessamudança política no estado do Pará,

devido, sobretudo, à condenaçãodos padres franceses pelo governo,o que permitiu a união de váriasfacções do episcopado paraensede modo, até certo ponto,surpreendente. Chegou-se mesmo,na ocasião, a uma espécie depequena questão nazarena às avessas,envolvendo a realização do Círio de1982. Devido aos protestos da Igrejacontra a condenação dos padresfranceses, manifestados até durantesepultamentos e também àdestituição, pelo arcebispo deBelém, de Demócrito Noronha,auditor militar que havia acusadoos padres, do cargo que ocupavana diretoria da festa de Nazaré,as autoridades civis e militares,ligadas à ditadura, recusaram-se aacompanhar o Círio no espaço ritualdo interior da corda a elas reservado.

Um outro tipo de protesto, nodecorrer do Círio, este, em vários

O TERCEIROCONFLITO:A QUESTÃO DOSPADRES EPOSSEIROSDO ARAGUAIA

manifestaçõespolíticas durantea procissão.foto: luiz braga.

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A s festividades do Círio deNazaré – a chamada quadra

nazarena – começam bem antesda procissão principal, realizadano segundo domingo de outubro,e se prolongam durante 15 dias.Da procissão propriamente dita,que corresponde ao trasladoda imagem de Nossa Senhora deNazaré da Catedral da Sé, nobairro da Cidade Velha, localem que Belém nasceu, até a praçaSantuário, no bairro de Nazaré.

O percurso, de cerca de cincoquilômetros, é feito nos limites daárea mais antiga e mais urbanizadada cidade de Belém, passando pelarua Padre Champagnat, pelaavenida Portugal, pelo boulevard

Castilhos França, e pelas avenidasPresidente Vargas e Nazaré.Em anos recentes, o trajeto foisendo ampliado, agregando umasérie de outras celebrações, tais

como a romaria rodoviária, a romaria

fluvial e a romaria dos motoqueiros. Dias antes da procissão,

a avenida Nazaré, no trecho dapraça da República até a Basílica,é decorada com arcos, utilizando-se motivos que homenageiam asanta e que são escolhidos por meiode concurso. Caixas de som sãoestrategicamente colocadas nospostes e mangueiras, ao longodo trajeto, para a sonorização daprocissão. Também são construídasarquibancadas na praça daRepública, pela avenida PresidenteVargas, sendo os espaços vendidosaos fiéis e turistas que quiseremassistir a procissão de forma maiscômoda. Centenas de vendedoresambulantes espalham-se por todoo trajeto, oferecendo produtoscomo água mineral, sucos,refrigerantes, cerveja, brinquedosde miriti e fitinhas do Círio.

São montados palcos ao longodo trajeto, onde ocorremhomenagens à Nossa Senhora deNazaré, como apresentaçõesde corais, canto lírico e hinosde louvor à Santa. Quase todaa cidade participa da procissão,de uma forma ou de outra.Mesmo os que ficam em casaacompanham-na pela televisãoou pelo rádio. Os jornais locaisfazem edições especiais, comcadernos dedicados exclusivamenteao evento, oferecendo pôsterescoloridos da imagem da santa.A publicidade gira em torno doacontecimento. O nome da santae o fato de aquele ser um diaespecial são evocados. Todosressaltam que este é o “maior diados paraenses” e, para alguns,“o Natal dos paraenses”.

Para poder acompanhar asmudanças ocorridas no ritual

O círio contemporâneo

LÁ VEM VINDO APROCISSÃO

página ao ladofiéis na corda. aofundo casario dadoca do ver-o-peso.foto:francisco costa.

Page 30: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 2 9

A s festividades do Círio deNazaré – a chamada quadra

nazarena – começam bem antesda procissão principal, realizadano segundo domingo de outubro,e se prolongam durante 15 dias.Da procissão propriamente dita,que corresponde ao trasladoda imagem de Nossa Senhora deNazaré da Catedral da Sé, nobairro da Cidade Velha, localem que Belém nasceu, até a praçaSantuário, no bairro de Nazaré.

O percurso, de cerca de cincoquilômetros, é feito nos limites daárea mais antiga e mais urbanizadada cidade de Belém, passando pelarua Padre Champagnat, pelaavenida Portugal, pelo boulevard

Castilhos França, e pelas avenidasPresidente Vargas e Nazaré.Em anos recentes, o trajeto foisendo ampliado, agregando umasérie de outras celebrações, tais

como a romaria rodoviária, a romaria

fluvial e a romaria dos motoqueiros. Dias antes da procissão,

a avenida Nazaré, no trecho dapraça da República até a Basílica,é decorada com arcos, utilizando-se motivos que homenageiam asanta e que são escolhidos por meiode concurso. Caixas de som sãoestrategicamente colocadas nospostes e mangueiras, ao longodo trajeto, para a sonorização daprocissão. Também são construídasarquibancadas na praça daRepública, pela avenida PresidenteVargas, sendo os espaços vendidosaos fiéis e turistas que quiseremassistir a procissão de forma maiscômoda. Centenas de vendedoresambulantes espalham-se por todoo trajeto, oferecendo produtoscomo água mineral, sucos,refrigerantes, cerveja, brinquedosde miriti e fitinhas do Círio.

São montados palcos ao longodo trajeto, onde ocorremhomenagens à Nossa Senhora deNazaré, como apresentaçõesde corais, canto lírico e hinosde louvor à Santa. Quase todaa cidade participa da procissão,de uma forma ou de outra.Mesmo os que ficam em casaacompanham-na pela televisãoou pelo rádio. Os jornais locaisfazem edições especiais, comcadernos dedicados exclusivamenteao evento, oferecendo pôsterescoloridos da imagem da santa.A publicidade gira em torno doacontecimento. O nome da santae o fato de aquele ser um diaespecial são evocados. Todosressaltam que este é o “maior diados paraenses” e, para alguns,“o Natal dos paraenses”.

Para poder acompanhar asmudanças ocorridas no ritual

O círio contemporâneo

LÁ VEM VINDO APROCISSÃO

página ao ladofiéis na corda. aofundo casario dadoca do ver-o-peso.foto:francisco costa.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 1

A procissão do Círio possui umaestrutura e alguns elementos

característicos, essenciais ou não.O elemento central é a berlinda,um andor envidraçado, semelhantea uma liteira dos tempos coloniais,profusamente adornada de flores,na qual é transportada a réplica daimagem da santa – a peregrina –durante a trasladação e o Círio.A imagem tida como original,encontrada pelo caboclo Plácido,permanece o ano inteiro naBasílica de Nazaré.

A peregrina, uma imagem comfeições caboclas, mais próxima dafisionomia dos devotos da região,foi feita no final da década de1960. E é em torno dela que seorganizam a procissão e os demaiselementos que a integram: a corda

puxada pelos promesseiros, asbarcas, os carros, os fiéis e asautoridades laicas e religiosas.

A estrutura organizacional doCírio foi pela primeira vez descritae analisada, do ponto de vistaantropológico, por Isidoro Alves(1980), distinguindo-se, na época,um núcleo estruturado, no interiorda corda, que circundava a berlinda eno qual desfilavam as autoridadese convidados especiais. A corda

servia originalmente para puxara berlinda, constituindo hoje umelemento guardado pela tradição.Tem atualmente de 400 a 450metros de comprimento,sendo transportada por pessoasde ambos os sexos que, ao conduzi-la, geralmente estãopagando uma promessa.

A corda puxada pelos devotos é,atualmente, um dos elementos maiscaracterísticos do Círio de Nazaré.Inserida na procissão em 1855,para que o povo pudesse ajudar atirar a berlinda de um atoleiro, hoje

ela perdeu seu significado práticooriginal, muito embora o seuaspecto simbólico de sacrifícioe aproximação do sagrado tenhapermanecido ao longo dos anos.Apesar das polêmicas suscitadas,a cada ano aumenta o númerode promesseiros (ou penitentes)ao longo da corda, que passou de50 metros de extensão, em 1982,para 350 metros em 1988, e para420 metros em 1990.25

Momentos antes do inícioda procissão da trasladação, a corda

é estendida no chão da avenidaNazaré pela guarda de NossaSenhora. Assim que é iniciadaa procissão, os fiéis pagantes depromessas rapidamente disputamum lugar para agarrá-la, a fimde levantá-la, puxar a berlinda,homenageando assim a Virgem deNazaré. Finda a procissão, a corda

é retalhada e cada centímetro é

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 0

do Círio de Belém é necessárioconsiderar não apenas suaestrutura, mas também os diversoselementos que, ao longo do tempo,o caracterizam como tal. Deve-sedestacar a presença de várioselementos que combinam, numamesma festa, a carnavalização,o civismo e a devoção, pois setratam de aspectos essenciais deuma representação simbólicado conjunto da sociedadebrasileira, pensada pela ótica doritual, na concepção de Da Matta.24

Com efeito, muitos doselementos que compõem o Círiosão verdadeiros carros alegóricos,semelhantes aos que desfilamno carnaval, embora sejamdenominados simplesmentede alegorias.

A CORDA E ABERLINDA

página ao ladoberlinda durantea procissão,coleção vicentesalles, museu ufpa.

Esquema de Posicionamento da Procissão

carro dos anjosb. banda musicale. estandarte da diretoriao. pelotão¡. barca dos escoteiros™. barca nova£. barca com velas¢. barca portuguesa ∞. barco com remos§. carro de d. fuas roupinho¶. cesto de promessas•. carro plácido

Page 32: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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A procissão do Círio possui umaestrutura e alguns elementos

característicos, essenciais ou não.O elemento central é a berlinda,um andor envidraçado, semelhantea uma liteira dos tempos coloniais,profusamente adornada de flores,na qual é transportada a réplica daimagem da santa – a peregrina –durante a trasladação e o Círio.A imagem tida como original,encontrada pelo caboclo Plácido,permanece o ano inteiro naBasílica de Nazaré.

A peregrina, uma imagem comfeições caboclas, mais próxima dafisionomia dos devotos da região,foi feita no final da década de1960. E é em torno dela que seorganizam a procissão e os demaiselementos que a integram: a corda

puxada pelos promesseiros, asbarcas, os carros, os fiéis e asautoridades laicas e religiosas.

A estrutura organizacional doCírio foi pela primeira vez descritae analisada, do ponto de vistaantropológico, por Isidoro Alves(1980), distinguindo-se, na época,um núcleo estruturado, no interiorda corda, que circundava a berlinda eno qual desfilavam as autoridadese convidados especiais. A corda

servia originalmente para puxara berlinda, constituindo hoje umelemento guardado pela tradição.Tem atualmente de 400 a 450metros de comprimento,sendo transportada por pessoasde ambos os sexos que, ao conduzi-la, geralmente estãopagando uma promessa.

A corda puxada pelos devotos é,atualmente, um dos elementos maiscaracterísticos do Círio de Nazaré.Inserida na procissão em 1855,para que o povo pudesse ajudar atirar a berlinda de um atoleiro, hoje

ela perdeu seu significado práticooriginal, muito embora o seuaspecto simbólico de sacrifícioe aproximação do sagrado tenhapermanecido ao longo dos anos.Apesar das polêmicas suscitadas,a cada ano aumenta o númerode promesseiros (ou penitentes)ao longo da corda, que passou de50 metros de extensão, em 1982,para 350 metros em 1988, e para420 metros em 1990.25

Momentos antes do inícioda procissão da trasladação, a corda

é estendida no chão da avenidaNazaré pela guarda de NossaSenhora. Assim que é iniciadaa procissão, os fiéis pagantes depromessas rapidamente disputamum lugar para agarrá-la, a fimde levantá-la, puxar a berlinda,homenageando assim a Virgem deNazaré. Finda a procissão, a corda

é retalhada e cada centímetro é

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 0

do Círio de Belém é necessárioconsiderar não apenas suaestrutura, mas também os diversoselementos que, ao longo do tempo,o caracterizam como tal. Deve-sedestacar a presença de várioselementos que combinam, numamesma festa, a carnavalização,o civismo e a devoção, pois setratam de aspectos essenciais deuma representação simbólicado conjunto da sociedadebrasileira, pensada pela ótica doritual, na concepção de Da Matta.24

Com efeito, muitos doselementos que compõem o Círiosão verdadeiros carros alegóricos,semelhantes aos que desfilamno carnaval, embora sejamdenominados simplesmentede alegorias.

A CORDA E ABERLINDA

página ao ladoberlinda durantea procissão,coleção vicentesalles, museu ufpa.

Esquema de Posicionamento da Procissão

carro dos anjosb. banda musicale. estandarte da diretoriao. pelotão¡. barca dos escoteiros™. barca nova£. barca com velas¢. barca portuguesa ∞. barco com remos§. carro de d. fuas roupinho¶. cesto de promessas•. carro plácido

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 3

A origem das numerosas barcase das crianças vestidas de

marinheiros que acompanhamo Círio está ligada, de um lado, aofato de Nossa Senhora de Nazaré,desde Portugal, ser uma espéciede santa protetora dos homensdo mar, tendo sua devoção sedesenvolvido numa aldeiade pescadores. Por outro lado,remete a um caso mais específico:ao “milagre” ocorrido em 1846,

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 2

disputado pelos romeiros. Alémdesta recordação, os promesseirosda corda levam para casa os péscansados e doloridos, cheios debolhas, assim como os ferimentoscausados pelo esforço realizado ea satisfação da promessa cumprida,seja por mais um ano, pelaprimeira ou pela única vez.

A corda, entretanto, tem seulado polêmico e se constitui numespaço de tensão permanente entredevotos e clérigos. No Círio de1999, em função da lentidão daprocissão, promesseiros da frenteda corda e diretores encarregadosda segurança da romaria decidirambaixar a corda para que a berlinda

pudesse sair e continuar o seutrajeto. Na avenida PresidenteVargas, a berlinda foi desatrelada.A notícia espalhou-serapidamente entre os devotosque decidiram não abandonar

a corda e, seguros nela, seguiramatrás da berlinda. Quando a corda

chegou à praça Santuário, emfrente à Basílica de Nazaré,restavam poucos devotos no local,uma vez que a missa já haviaterminado duas horas antes,o que redundou em muitas críticasà organização e à própria igreja.

Os romeiros madrugam emfrente ao mercado de peixe doVer-o-Peso, local em que a corda

é estendida já na madrugada do diado Círio. Esta é feita de fibras dejuta, sendo grossa o suficiente parasuportar a tensão a que ésubmetida durante a procissão.É um espaço da fé, do pagamentoda promessa, da devoção, da dorexacerbada, mas também da uniãodos corpos e dos espíritos. Ementrevista realizada com pagadoresde promessa, uma devota relatouque “um pai não falava com a filha

há um ano e no dia do Círiode 2002, na procissão, voltarama se falar”.26

Nas proximidades da praçaSantuário, em frente ao ColégioSanta Catarina, na avenidaNazaré, a berlinda é liberada e ospromesseiros dão um espetáculoà parte: visivelmente emocionados,com os olhos cheios de lágrimas,ajoelham-se, levantam os braços e,de mãos dadas, rezam, enquantoa berlinda com a imagemda santa passa entre eles, paraalcançar o altar no centro dapraça Santuário.

O MILAGREDA BARCA E AMARUJADA

gravurarepresentandoescaler comcriançasna procissão,jornal “o liberal”.

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A origem das numerosas barcase das crianças vestidas de

marinheiros que acompanhamo Círio está ligada, de um lado, aofato de Nossa Senhora de Nazaré,desde Portugal, ser uma espéciede santa protetora dos homensdo mar, tendo sua devoção sedesenvolvido numa aldeiade pescadores. Por outro lado,remete a um caso mais específico:ao “milagre” ocorrido em 1846,

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 2

disputado pelos romeiros. Alémdesta recordação, os promesseirosda corda levam para casa os péscansados e doloridos, cheios debolhas, assim como os ferimentoscausados pelo esforço realizado ea satisfação da promessa cumprida,seja por mais um ano, pelaprimeira ou pela única vez.

A corda, entretanto, tem seulado polêmico e se constitui numespaço de tensão permanente entredevotos e clérigos. No Círio de1999, em função da lentidão daprocissão, promesseiros da frenteda corda e diretores encarregadosda segurança da romaria decidirambaixar a corda para que a berlinda

pudesse sair e continuar o seutrajeto. Na avenida PresidenteVargas, a berlinda foi desatrelada.A notícia espalhou-serapidamente entre os devotosque decidiram não abandonar

a corda e, seguros nela, seguiramatrás da berlinda. Quando a corda

chegou à praça Santuário, emfrente à Basílica de Nazaré,restavam poucos devotos no local,uma vez que a missa já haviaterminado duas horas antes,o que redundou em muitas críticasà organização e à própria igreja.

Os romeiros madrugam emfrente ao mercado de peixe doVer-o-Peso, local em que a corda

é estendida já na madrugada do diado Círio. Esta é feita de fibras dejuta, sendo grossa o suficiente parasuportar a tensão a que ésubmetida durante a procissão.É um espaço da fé, do pagamentoda promessa, da devoção, da dorexacerbada, mas também da uniãodos corpos e dos espíritos. Ementrevista realizada com pagadoresde promessa, uma devota relatouque “um pai não falava com a filha

há um ano e no dia do Círiode 2002, na procissão, voltarama se falar”.26

Nas proximidades da praçaSantuário, em frente ao ColégioSanta Catarina, na avenidaNazaré, a berlinda é liberada e ospromesseiros dão um espetáculoà parte: visivelmente emocionados,com os olhos cheios de lágrimas,ajoelham-se, levantam os braços e,de mãos dadas, rezam, enquantoa berlinda com a imagemda santa passa entre eles, paraalcançar o altar no centro dapraça Santuário.

O MILAGREDA BARCA E AMARUJADA

gravurarepresentandoescaler comcriançasna procissão,jornal “o liberal”.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 4

quando 12 náufragos do brigueportuguês São João Batista, que sedirigia de Belém a Lisboa, teriamconseguido salvar-se graças àintervenção da Virgem.Estes náufragos usaram o mesmoescaler em que, alguns anos antes,a imagem da santa tinha sidotransportada, quando foi enviadaa Portugal para ser restaurada.Consta que os náufragos, noperigo, lembraram-se dos poderes

de Nossa Senhora e prometeramque, se conseguissem voltar aBelém, transportariam o escalerdurante a procissão do Círio.

Tendo obtido a salvação, nãopuderam cumprir a promessa porinteiro, pois encontraram restriçõesda parte do presidente da província edo bispo do Pará, que osdesaconselharam a levar o escaler noCírio. A embarcação foi levada para aermida de Nazaré, onde ficou emexposição. Pouco depois, umaepidemia de cólera alastrou-se nacidade e muitos atribuíram o fatoa um “castigo” da santa. Por isso, apartir de 1855, o escaler passou a serconduzido, todos os anos, no Círio,com 12 meninos vestidos demarinheiros, simbolizando osnáufragos do brigue São João Batista.Foi essa a origem da marujada no Círiode Belém. Mais tarde o escaler foisubstituído pela miniatura do brigue

e, com o passar do tempo, outrasbarcas foram sendo introduzidas.

Além do sentido simbólicodas barcas, pois Nossa Senhora deNazaré é considerada a protetoradaqueles que viajam pelas águas,há também o simbolismo próprioda região amazônica, em quegrande parte do transporte é feitoem embarcações, por seusnumerosos rios. Como bem captoua canção de Paulo André e RuiBarata, para muitos amazônidas,“esse rio é minha rua”.27

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 5

O s carros compõem diferentesalegorias, como o carro da

Santíssima Trindade, que reproduzcom imagens esse elementocentral da doutrina cristã. O carro

do caboclo Plácido, por sua vez,representa o momento do“achado” da imagem da santa porPlácido. Já o carro dos milagres traz asalegorias de dois episódiosfundamentais da devoção à NossaSenhora de Nazaré: o ocorridocom D. Fuas Roupinho, fidalgoportuguês que, no século xii,teria sido salvo de cair numabismo por intercessão da Virgemde Nazaré, e o milagre dosnáufragos do brigue São JoãoBatista. E, finalmente, os carros

dos anjos: o do anjo Custódio (anjo daguarda), o do anjo do Brasil

(simbolizando a nação brasileira),além de mais dois que transportamcrianças vestidas de anjos.

Esses “anjinhos” geralmentepagam promessas feitas pelos pais.Só podem vestir-se de anjos ascrianças que “ainda não perderama inocência” (aproximadamente atéos 10 anos de idade), pois, casomorram até então, irão compora “corte celeste”, na condição de“anjinhos”. O simbolismo éevidente: essas crianças, com apureza dos serafins, representariama própria corte celeste baixando à

terra para acompanhar a padroeiraque, também descendo para o meiodo povo, mistura-se a ele na grandehomenagem que lhe é prestada.

Os adolescentes são tambémuma presença crescente naprocissão do Círio. A maioria éconstituída por alunos de escolasconfessionais, mas também,recentemente, são muitos aquelesde colégios laicos. Esses estudantesaparecem junto às alegorias,portando o pavilhão nacional ouajudando a conduzir os carros querecolhem ex-votos e promessas dosromeiros durante a procissão.

A procissão que recebe o nomede Círio, em Belém – e que hoje serealiza em homenagem a diferentessantos e santas, no Pará e mesmofora desse estado – apresenta duascaracterísticas fundamentais que adistinguem das demais procissõesem homenagem a santos católicos.

NOS CARROS,AS ALEGORIAS

carro dos anjosdurante a procissão,josé cruz e ascaniosaraiva, 1948.

abaixofiel com réplicade barco de miriti nacabeça. foto:francisco costa.

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quando 12 náufragos do brigueportuguês São João Batista, que sedirigia de Belém a Lisboa, teriamconseguido salvar-se graças àintervenção da Virgem.Estes náufragos usaram o mesmoescaler em que, alguns anos antes,a imagem da santa tinha sidotransportada, quando foi enviadaa Portugal para ser restaurada.Consta que os náufragos, noperigo, lembraram-se dos poderes

de Nossa Senhora e prometeramque, se conseguissem voltar aBelém, transportariam o escalerdurante a procissão do Círio.

Tendo obtido a salvação, nãopuderam cumprir a promessa porinteiro, pois encontraram restriçõesda parte do presidente da província edo bispo do Pará, que osdesaconselharam a levar o escaler noCírio. A embarcação foi levada para aermida de Nazaré, onde ficou emexposição. Pouco depois, umaepidemia de cólera alastrou-se nacidade e muitos atribuíram o fatoa um “castigo” da santa. Por isso, apartir de 1855, o escaler passou a serconduzido, todos os anos, no Círio,com 12 meninos vestidos demarinheiros, simbolizando osnáufragos do brigue São João Batista.Foi essa a origem da marujada no Círiode Belém. Mais tarde o escaler foisubstituído pela miniatura do brigue

e, com o passar do tempo, outrasbarcas foram sendo introduzidas.

Além do sentido simbólicodas barcas, pois Nossa Senhora deNazaré é considerada a protetoradaqueles que viajam pelas águas,há também o simbolismo próprioda região amazônica, em quegrande parte do transporte é feitoem embarcações, por seusnumerosos rios. Como bem captoua canção de Paulo André e RuiBarata, para muitos amazônidas,“esse rio é minha rua”.27

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 5

O s carros compõem diferentesalegorias, como o carro da

Santíssima Trindade, que reproduzcom imagens esse elementocentral da doutrina cristã. O carro

do caboclo Plácido, por sua vez,representa o momento do“achado” da imagem da santa porPlácido. Já o carro dos milagres traz asalegorias de dois episódiosfundamentais da devoção à NossaSenhora de Nazaré: o ocorridocom D. Fuas Roupinho, fidalgoportuguês que, no século xii,teria sido salvo de cair numabismo por intercessão da Virgemde Nazaré, e o milagre dosnáufragos do brigue São JoãoBatista. E, finalmente, os carros

dos anjos: o do anjo Custódio (anjo daguarda), o do anjo do Brasil

(simbolizando a nação brasileira),além de mais dois que transportamcrianças vestidas de anjos.

Esses “anjinhos” geralmentepagam promessas feitas pelos pais.Só podem vestir-se de anjos ascrianças que “ainda não perderama inocência” (aproximadamente atéos 10 anos de idade), pois, casomorram até então, irão compora “corte celeste”, na condição de“anjinhos”. O simbolismo éevidente: essas crianças, com apureza dos serafins, representariama própria corte celeste baixando à

terra para acompanhar a padroeiraque, também descendo para o meiodo povo, mistura-se a ele na grandehomenagem que lhe é prestada.

Os adolescentes são tambémuma presença crescente naprocissão do Círio. A maioria éconstituída por alunos de escolasconfessionais, mas também,recentemente, são muitos aquelesde colégios laicos. Esses estudantesaparecem junto às alegorias,portando o pavilhão nacional ouajudando a conduzir os carros querecolhem ex-votos e promessas dosromeiros durante a procissão.

A procissão que recebe o nomede Círio, em Belém – e que hoje serealiza em homenagem a diferentessantos e santas, no Pará e mesmofora desse estado – apresenta duascaracterísticas fundamentais que adistinguem das demais procissõesem homenagem a santos católicos.

NOS CARROS,AS ALEGORIAS

carro dos anjosdurante a procissão,josé cruz e ascaniosaraiva, 1948.

abaixofiel com réplicade barco de miriti nacabeça. foto:francisco costa.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 7

Anualmente são produzidos maisde 120 mil exemplares do livro dasperegrinações, sob a coordenaçãoda diretoria de evangelização.

A missa do mandato inicia o ciclode preparação para o Círio.Começa às 20 horas, com umaprocissão de caráter solene, queganha o interior da Basílica deNazaré e prossegue até o altar-mor,com um cortejo formado poracólitos segurando objetos rituais(crucifixo, naveta, turíbulo),representantes do Apostolado daOração empunhando bandeiras,os guardas de Nazaré, a diretoria da festa,os padres concelebrantes e,ao final, o arcebispo. Todos osfiéis presentes recebem o mandato– juntamente com uma pequenaimagem de Nossa Senhorade Nazaré – para conduzira evangelização nos diversosbairros de Belém.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 6

Em primeiro lugar, trata-se de umaprocissão que se desdobra em duas.A primeira, a trasladação da imagem,é realizada à noite, à luz de velas(círios), e vai da capela do ColégioGentil Bittencourt até a igreja daSé. A procissão principal, o Círiopropriamente dito, acontece no diaseguinte, pela manhã, à luz do dia(sem que os círios sejam acesos,embora algumas pessoas os levemcomo promessa, no mesmotamanho da pessoa beneficiadacom a graça), quando a imagemretorna pelo mesmo caminho atéa praça Santuário, em frente àBasílica de Nazaré.

Além disso o Círio é umaprocissão que, ao contrário dasdemais, inaugura – em vez deencerrar – a festa da santa.

A procissão do Círio foi crescendoao longo do tempo, até chegar

às proporções gigantescas de hoje.Aos poucos foram sendoacrescentadas novas celebrações àFesta de Nossa Senhora de Nazaré enovos espaços de culto e devoção quecompõem o Círio em sentido amplo.Essas celebrações, de caráterreligioso, começam em agosto e seprolongam até o mês de outubro,quando se encerra a quadra nazarena.

A MISSA DOMANDATO

Em 1986, o padre LucianoBrambilla, sentindo a necessidadede um ato que marcasse o início dapreparação das novenas de peregrinação,resolveu criar a missa do mandato.Desde então, essa celebração marcaoficialmente o primeiro ato dafestividade nazarena. Alguns dias apósa missa acontece a manhã deformação para dirigentes dasperegrinações, uma preparação aonovenário por meio de palestras eexplicação da sistemática dos encontros.É realizada em um dos salões doCentro Social de Nazaré e conta coma participação de representantes dequase todas as paróquias de Belém.

Após essa preparação, os padresbarnabitas distribuem para todasas paróquias imagens de NossaSenhora de Nazaré, livros dasperegrinações e cartazes do Círio.A distribuição estende-se tambémàs paróquias do interior do estado.

A s peregrinações de Nossa Senhorade Nazaré são realizadas

durante o mês de setembro quando,levadas pelos fiéis mandatários,diversas imagens percorrem todaa arquidiocese de Belém,promovendo momentos de reflexão,oração e louvor à santa. Os devotosacompanham as romarias pelosbairros auxiliados pelo livro das

peregrinações, que trata do Círio e dafigura de Nossa Senhora de Nazaré.

VISITAS DASANTA AOS FIÉIS

No final das peregrinaçõesas imagens são sorteadas entre osproprietários das casas quereceberam a visita da Virgem.

As peregrinações da imagemacontecem nos diversos bairros deBelém e no interior do estadodo Pará, mais propriamente nascasas dos devotos que se dispõema receber a visita da santa. Sãotambém realizadas em repartiçõespúblicas, hospitais e escolas.As famílias que aceitam a visitada imagem de Nossa Senhora deNazaré recebem-na em suas casascom um dia de antecedência.

As imagens são conduzidas porgrupos de vizinhos em romaria,segurando velas acesas. É freqüente,após as orações, o oferecimentoaos peregrinos, pelas famíliasque recebem a imagem, de umlanche com café, biscoitos,bolos, mingau e refrigerantes.

réplica da nossasenhora de nazaréna casa dos fiéis nosdias que antecedemo círio. foto:francisco costa.

missa de mandato.

página anterior,acimao carro dosmilagres, álbumde 1936.

página anterior,abaixocarro dos anjos nafesta do círio de™ºº¢. foto:francisco costa.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 7

Anualmente são produzidos maisde 120 mil exemplares do livro dasperegrinações, sob a coordenaçãoda diretoria de evangelização.

A missa do mandato inicia o ciclode preparação para o Círio.Começa às 20 horas, com umaprocissão de caráter solene, queganha o interior da Basílica deNazaré e prossegue até o altar-mor,com um cortejo formado poracólitos segurando objetos rituais(crucifixo, naveta, turíbulo),representantes do Apostolado daOração empunhando bandeiras,os guardas de Nazaré, a diretoria da festa,os padres concelebrantes e,ao final, o arcebispo. Todos osfiéis presentes recebem o mandato– juntamente com uma pequenaimagem de Nossa Senhorade Nazaré – para conduzira evangelização nos diversosbairros de Belém.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 6

Em primeiro lugar, trata-se de umaprocissão que se desdobra em duas.A primeira, a trasladação da imagem,é realizada à noite, à luz de velas(círios), e vai da capela do ColégioGentil Bittencourt até a igreja daSé. A procissão principal, o Círiopropriamente dito, acontece no diaseguinte, pela manhã, à luz do dia(sem que os círios sejam acesos,embora algumas pessoas os levemcomo promessa, no mesmotamanho da pessoa beneficiadacom a graça), quando a imagemretorna pelo mesmo caminho atéa praça Santuário, em frente àBasílica de Nazaré.

Além disso o Círio é umaprocissão que, ao contrário dasdemais, inaugura – em vez deencerrar – a festa da santa.

A procissão do Círio foi crescendoao longo do tempo, até chegar

às proporções gigantescas de hoje.Aos poucos foram sendoacrescentadas novas celebrações àFesta de Nossa Senhora de Nazaré enovos espaços de culto e devoção quecompõem o Círio em sentido amplo.Essas celebrações, de caráterreligioso, começam em agosto e seprolongam até o mês de outubro,quando se encerra a quadra nazarena.

A MISSA DOMANDATO

Em 1986, o padre LucianoBrambilla, sentindo a necessidadede um ato que marcasse o início dapreparação das novenas de peregrinação,resolveu criar a missa do mandato.Desde então, essa celebração marcaoficialmente o primeiro ato dafestividade nazarena. Alguns dias apósa missa acontece a manhã deformação para dirigentes dasperegrinações, uma preparação aonovenário por meio de palestras eexplicação da sistemática dos encontros.É realizada em um dos salões doCentro Social de Nazaré e conta coma participação de representantes dequase todas as paróquias de Belém.

Após essa preparação, os padresbarnabitas distribuem para todasas paróquias imagens de NossaSenhora de Nazaré, livros dasperegrinações e cartazes do Círio.A distribuição estende-se tambémàs paróquias do interior do estado.

A s peregrinações de Nossa Senhorade Nazaré são realizadas

durante o mês de setembro quando,levadas pelos fiéis mandatários,diversas imagens percorrem todaa arquidiocese de Belém,promovendo momentos de reflexão,oração e louvor à santa. Os devotosacompanham as romarias pelosbairros auxiliados pelo livro das

peregrinações, que trata do Círio e dafigura de Nossa Senhora de Nazaré.

VISITAS DASANTA AOS FIÉIS

No final das peregrinaçõesas imagens são sorteadas entre osproprietários das casas quereceberam a visita da Virgem.

As peregrinações da imagemacontecem nos diversos bairros deBelém e no interior do estadodo Pará, mais propriamente nascasas dos devotos que se dispõema receber a visita da santa. Sãotambém realizadas em repartiçõespúblicas, hospitais e escolas.As famílias que aceitam a visitada imagem de Nossa Senhora deNazaré recebem-na em suas casascom um dia de antecedência.

As imagens são conduzidas porgrupos de vizinhos em romaria,segurando velas acesas. É freqüente,após as orações, o oferecimentoaos peregrinos, pelas famíliasque recebem a imagem, de umlanche com café, biscoitos,bolos, mingau e refrigerantes.

réplica da nossasenhora de nazaréna casa dos fiéis nosdias que antecedemo círio. foto:francisco costa.

missa de mandato.

página anterior,acimao carro dosmilagres, álbumde 1936.

página anterior,abaixocarro dos anjos nafesta do círio de™ºº¢. foto:francisco costa.

Page 39: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 9d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 3 8

O início da Festa de NossaSenhora de Nazaré é marcado

por uma solenidade realizadana barraca da santa28, às 20 horas, nasexta-feira que antecede a trasladação

e o Círio de Nazaré. O evento foiinstituído em 1991, pela diretoria da

festa, e conta com a presençade autoridades civis, militares ereligiosas convidadas. A aberturaoficial do Círio acontece,inicialmente, com a inauguraçãodas luzes que enfeitamexternamente a basílica, a barraca

da santa e os arcos decorativos queenfeitam a avenida Nazaré,no percurso da romaria.

O traslado da imagem deNossa Senhora de Nazaré parao município de Ananindeua,vizinho de Belém, é umevento incorporado ao calendáriodas festividades do Círio deNazaré desde 1992, por ocasião das

da cidade de Ananindeua. Aolongo de todo o trajeto rodoviário,diversas homenagens são prestadasà imagem de Nossa Senhora.

Os devotos enfeitam as frentesde suas casas, outros acompanhamo traslado em bicicletas, motos oucarros. É uma celebração religiosaque vem crescendo em importânciaa cada ano. No Círio de 2002,o percurso desse traslado estendeu-se pela primeira vez até Marituba,atendendo solicitação do párocodo município. De Maritubao traslado retorna para a igrejamatriz de Ananindeua, onde aimagem da peregrina fica expostaaté a manhã seguinte, recebendodurante a noite inteira a visitaçãode peregrinos devotos e penitentes.No dia seguinte, após uma missa,a berlinda com a imagem da santa éconduzida até um carro do corpode bombeiros, seguindo na romaria

comemorações do Círio 200.Antes disso, a romaria rodoviária,que ocorre no sábado e vaide Ananindeua até o distrito deIcoaraci, saía do monumentoda Cabanagem, em Belém, e doterminal de cargas, jáem Ananindeua, mas distanteda praça central.

“A idéia de vir para Ananindeuasurgiu de um cidadão donode um posto de gasolina de nomeRibeiro, proprietário do postoTokyo. Nesse ano, ele solicitouà diretoria que a imagem viesseaté Ananindeua. E foi assim quecomeçou. O principal objetivoda celebração é para que as pessoassintam-se mais próximas deNossa Senhora, tenhamoportunidade de prestar estahomenagem da maneira comoelas querem, por meio da queimade fogos, flores, caminhada,

da peregrinação”, diz OdonCarlos, organizador do traslado.29

O primeiro traslado da imagemde Nossa Senhora de Nazaré emcarro aberto ocorreu em 1997.A partir desta data é que a romaria

rodoviária começou a sair da igrejamatriz de Ananindeua. “O sentidoé fazer com que as pessoas maisdistantes daqui da Basílica deNazaré também tenham contato,sintam mais de perto o que éa romaria rodoviária”, diz José dosSantos Ventura, membro dadiretoria da festa.30

Atualmente, a berlinda com aimagem peregrina31 sai da Basílica deNazaré na sexta-feira que antecedea procissão principal do Círio,sendo conduzida em carro abertoda Polícia Rodoviária Federal eacompanhada por outros carros demembros da diretoria da festa, guardas de

Nazaré e devotos até a praça central

TRASLADODA IMAGEM PARAANANINDEUA

Devotos entrevistados afirmaramque algumas pessoas, geralmentemoradores de bairros muitopobres, por essa razão deixam deaceitar a visita da imagem de NossaSenhora de Nazaré em suas casas.

Nos anos de 1991 a 1993, dentrodo projeto Círio 200, foramrealizadas peregrinações com aimagem peregrina de Nossa Senhorade Nazaré, a mesma que sai naprocissão do Círio, pelas cidadesdo interior e pelas principaiscapitais e cidades brasileiras.

Um devoto revelou que, porocasião da visita da imagem deNossa Senhora de Nazaré à cidadede São Luís, no Maranhão, umasenhora idosa perguntou aodirigente que carregava a imagemda santa: “Meu senhor, essa santa éa mesma de Belém que acompanhao Círio?”. O dirigente respondeuque sim e ficou muito emocionado

quando a senhora lhe disse quepoderia morrer naquele dia, poishá anos havia feito uma promessade acompanhar o Círio na corda,em Belém, mas como nunca deucerto, ela aproveitaria para pagarsua promessa no Círio de Nazaréocorrido em São Luís.

detalhe da bancade vendedor deréplicas da imagemde nossa senhora denazaré. foto:francisco costa.

página ao ladotransladação daimagem na noiteque antecedeo círio. foto:francisco costa.

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O início da Festa de NossaSenhora de Nazaré é marcado

por uma solenidade realizadana barraca da santa28, às 20 horas, nasexta-feira que antecede a trasladação

e o Círio de Nazaré. O evento foiinstituído em 1991, pela diretoria da

festa, e conta com a presençade autoridades civis, militares ereligiosas convidadas. A aberturaoficial do Círio acontece,inicialmente, com a inauguraçãodas luzes que enfeitamexternamente a basílica, a barraca

da santa e os arcos decorativos queenfeitam a avenida Nazaré,no percurso da romaria.

O traslado da imagem deNossa Senhora de Nazaré parao município de Ananindeua,vizinho de Belém, é umevento incorporado ao calendáriodas festividades do Círio deNazaré desde 1992, por ocasião das

da cidade de Ananindeua. Aolongo de todo o trajeto rodoviário,diversas homenagens são prestadasà imagem de Nossa Senhora.

Os devotos enfeitam as frentesde suas casas, outros acompanhamo traslado em bicicletas, motos oucarros. É uma celebração religiosaque vem crescendo em importânciaa cada ano. No Círio de 2002,o percurso desse traslado estendeu-se pela primeira vez até Marituba,atendendo solicitação do párocodo município. De Maritubao traslado retorna para a igrejamatriz de Ananindeua, onde aimagem da peregrina fica expostaaté a manhã seguinte, recebendodurante a noite inteira a visitaçãode peregrinos devotos e penitentes.No dia seguinte, após uma missa,a berlinda com a imagem da santa éconduzida até um carro do corpode bombeiros, seguindo na romaria

comemorações do Círio 200.Antes disso, a romaria rodoviária,que ocorre no sábado e vaide Ananindeua até o distrito deIcoaraci, saía do monumentoda Cabanagem, em Belém, e doterminal de cargas, jáem Ananindeua, mas distanteda praça central.

“A idéia de vir para Ananindeuasurgiu de um cidadão donode um posto de gasolina de nomeRibeiro, proprietário do postoTokyo. Nesse ano, ele solicitouà diretoria que a imagem viesseaté Ananindeua. E foi assim quecomeçou. O principal objetivoda celebração é para que as pessoassintam-se mais próximas deNossa Senhora, tenhamoportunidade de prestar estahomenagem da maneira comoelas querem, por meio da queimade fogos, flores, caminhada,

da peregrinação”, diz OdonCarlos, organizador do traslado.29

O primeiro traslado da imagemde Nossa Senhora de Nazaré emcarro aberto ocorreu em 1997.A partir desta data é que a romaria

rodoviária começou a sair da igrejamatriz de Ananindeua. “O sentidoé fazer com que as pessoas maisdistantes daqui da Basílica deNazaré também tenham contato,sintam mais de perto o que éa romaria rodoviária”, diz José dosSantos Ventura, membro dadiretoria da festa.30

Atualmente, a berlinda com aimagem peregrina31 sai da Basílica deNazaré na sexta-feira que antecedea procissão principal do Círio,sendo conduzida em carro abertoda Polícia Rodoviária Federal eacompanhada por outros carros demembros da diretoria da festa, guardas de

Nazaré e devotos até a praça central

TRASLADODA IMAGEM PARAANANINDEUA

Devotos entrevistados afirmaramque algumas pessoas, geralmentemoradores de bairros muitopobres, por essa razão deixam deaceitar a visita da imagem de NossaSenhora de Nazaré em suas casas.

Nos anos de 1991 a 1993, dentrodo projeto Círio 200, foramrealizadas peregrinações com aimagem peregrina de Nossa Senhorade Nazaré, a mesma que sai naprocissão do Círio, pelas cidadesdo interior e pelas principaiscapitais e cidades brasileiras.

Um devoto revelou que, porocasião da visita da imagem deNossa Senhora de Nazaré à cidadede São Luís, no Maranhão, umasenhora idosa perguntou aodirigente que carregava a imagemda santa: “Meu senhor, essa santa éa mesma de Belém que acompanhao Círio?”. O dirigente respondeuque sim e ficou muito emocionado

quando a senhora lhe disse quepoderia morrer naquele dia, poishá anos havia feito uma promessade acompanhar o Círio na corda,em Belém, mas como nunca deucerto, ela aproveitaria para pagarsua promessa no Círio de Nazaréocorrido em São Luís.

detalhe da bancade vendedor deréplicas da imagemde nossa senhora denazaré. foto:francisco costa.

página ao ladotransladação daimagem na noiteque antecedeo círio. foto:francisco costa.

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Em 1991 a romaria passoua sair do terminal de cargas, sendoa imagem levada, em carro aberto,na sexta-feira à tarde. A partir de1992 a romaria rodoviária passou a sairda praça matriz de Ananindeua.Em 1999 foi confeccionadamais uma réplica da berlinda paraessa romaria.

Durante o percurso da romaria

rodoviária, a imagem de Nossa

Senhora de Nazaré recebe muitashomenagens, desde a saída da praçade Ananindeua até a chegada, notrapiche de Icoaraci. Centenas depessoas fazem o trajeto embicicletas, famílias inteiras sereúnem em frente a suas casas paraver a passagem da imagem da santa.A romaria tem início na praça daIgreja Matriz de Ananindeua,às 6 horas da manhã, no sábado

que antecede o Círio de Nazaréem Belém. Sai da rodovia br 316,passando pelo monumento àCabanagem (no local conhecidocomo Entroncamento), entrandona rodovia municipal AugustoMontenegro e seguindo para otrapiche de Icoaraci, de onde parte,em seguida, a romaria fluvial.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 0

rodoviária até o ancoradouro deIcoaraci, distrito de Belém.

Ao longo de todo o percursopodem ser vistas crianças vestidasde anjos, pequenos altares coma imagem de Nossa Senhora deNazaré, faixas saudando a passagemda santa, papel picado sendoatirado das residências e passarelas,e uma multidão postada ao longoda estrada, estendendo as mãosquando da passagem do carro queconduz a berlinda. Todo o trajetoé acompanhado pelo estourar demuitos fogos de artifício.

A romaria rodoviária é uma celebraçãoreligiosa em forma de procissão,

da qual participam veículosmotorizados e bicicletas, fazendoparte do conjunto de celebrações doCírio de Nazaré. O percurso destaromaria é de 24 quilômetros, saindoda praça da Igreja Matriz deAnanindeua até o ancoradouro(trapiche) da vila de Icoaraci.

A primeira romaria rodoviária

ocorreu em 1989, com o objetivode atender a população que nãopodia se deslocar (por doença,deficiência, falta de dinheiro) até ocentro de Belém para acompanharo Círio. A romaria foi criada peloSindicato das Empresas deTransporte de Cargas do Estadodo Pará - Sindicarpa.

Até 1988 o transporteda imagem de Nossa Senhora deNazaré para Icoaraci era realizadoem carro fechado, o que impedia as

pessoas de verem a passagem dasanta. Em 1989, por sugestãode um membro da diretoria da festa,a romaria rodoviária passou a sairda Basílica de Nazaré, sendoa imagem conduzida num andor,em cima de um caminhão.

Em 1990 um carro de somfoi utilizado para convidar osdevotos moradores da rodoviaAugusto Montenegro, por ondepassa a romaria, a renderem suashomenagens à Nossa Senhorade Nazaré. A romaria começou acrescer e as pessoas passarama decorar as frentes de suas casase ruas com balões, flores, faixas equeimas de fogos em homenagemà imagem da santa. No mesmoano foi colocado um caminhãoda Texaco para conduzir a imagem,já que a empresa apoioufinanceiramente a realizaçãoda romaria.

UMA PROCISSÃODE CARROS,MOTOS EBICICLETAS

página ao ladopercursos dasprocissões do círio.

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Em 1991 a romaria passoua sair do terminal de cargas, sendoa imagem levada, em carro aberto,na sexta-feira à tarde. A partir de1992 a romaria rodoviária passou a sairda praça matriz de Ananindeua.Em 1999 foi confeccionadamais uma réplica da berlinda paraessa romaria.

Durante o percurso da romaria

rodoviária, a imagem de Nossa

Senhora de Nazaré recebe muitashomenagens, desde a saída da praçade Ananindeua até a chegada, notrapiche de Icoaraci. Centenas depessoas fazem o trajeto embicicletas, famílias inteiras sereúnem em frente a suas casas paraver a passagem da imagem da santa.A romaria tem início na praça daIgreja Matriz de Ananindeua,às 6 horas da manhã, no sábado

que antecede o Círio de Nazaréem Belém. Sai da rodovia br 316,passando pelo monumento àCabanagem (no local conhecidocomo Entroncamento), entrandona rodovia municipal AugustoMontenegro e seguindo para otrapiche de Icoaraci, de onde parte,em seguida, a romaria fluvial.

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rodoviária até o ancoradouro deIcoaraci, distrito de Belém.

Ao longo de todo o percursopodem ser vistas crianças vestidasde anjos, pequenos altares coma imagem de Nossa Senhora deNazaré, faixas saudando a passagemda santa, papel picado sendoatirado das residências e passarelas,e uma multidão postada ao longoda estrada, estendendo as mãosquando da passagem do carro queconduz a berlinda. Todo o trajetoé acompanhado pelo estourar demuitos fogos de artifício.

A romaria rodoviária é uma celebraçãoreligiosa em forma de procissão,

da qual participam veículosmotorizados e bicicletas, fazendoparte do conjunto de celebrações doCírio de Nazaré. O percurso destaromaria é de 24 quilômetros, saindoda praça da Igreja Matriz deAnanindeua até o ancoradouro(trapiche) da vila de Icoaraci.

A primeira romaria rodoviária

ocorreu em 1989, com o objetivode atender a população que nãopodia se deslocar (por doença,deficiência, falta de dinheiro) até ocentro de Belém para acompanharo Círio. A romaria foi criada peloSindicato das Empresas deTransporte de Cargas do Estadodo Pará - Sindicarpa.

Até 1988 o transporteda imagem de Nossa Senhora deNazaré para Icoaraci era realizadoem carro fechado, o que impedia as

pessoas de verem a passagem dasanta. Em 1989, por sugestãode um membro da diretoria da festa,a romaria rodoviária passou a sairda Basílica de Nazaré, sendoa imagem conduzida num andor,em cima de um caminhão.

Em 1990 um carro de somfoi utilizado para convidar osdevotos moradores da rodoviaAugusto Montenegro, por ondepassa a romaria, a renderem suashomenagens à Nossa Senhorade Nazaré. A romaria começou acrescer e as pessoas passarama decorar as frentes de suas casase ruas com balões, flores, faixas equeimas de fogos em homenagemà imagem da santa. No mesmoano foi colocado um caminhãoda Texaco para conduzir a imagem,já que a empresa apoioufinanceiramente a realizaçãoda romaria.

UMA PROCISSÃODE CARROS,MOTOS EBICICLETAS

página ao ladopercursos dasprocissões do círio.

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as motivações religiosas e asprofanas, que marcam o Círiode Nazaré desde seu início.

No sábado que antecedeo Círio, após terminar a romariarodoviária, é celebrada uma missano trapiche de Icoaraci. Logo emseguida, a imagem de NossaSenhora de Nazaré é transportadapara o navio balizador da Marinha,Guarnier Sampaio, que zarpaconduzindo a imagem num altararmado na proa. O navio éseguido de perto por centenas debarcos. Partindo de Icoaraci,a romaria fluvial perfaz um percursode 10 milhas náuticas na baía doGuajará, até o porto de Belém,terminando no local conhecidocomo escadinha do cais do porto.Ao longo do percurso, a imagemde Nossa Senhora de Nazarérecebe muitas homenagens, comoo lançamento de pétalas de rosas

e de papel picado de helicópterose ultraleves, e a queima de fogos,por devotos, nas margens da baíado Guajará.

Participam da procissãoromeiros de todas as camadassociais, provindos da áreametropolitana de Belém e dointerior do estado do Pará, além deturistas nacionais e internacionais,que compram com antecedênciaum pacote turístico que incluia romaria fluvial. As empresas deturismo contratam embarcaçõesnas quais é servido café-da-manhã,com frutas regionais, e sãodistribuídos bonés e bandeirinhas.No ano de 2002 participaramda romaria fluvial mais de 600embarcações de diversos tipos,desde iates, jet skis e lanchas devários portes, até pequenas canoas,típicas de ribeirinhos que moramnas proximidades.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 3

A moto-romaria foi criada em13 de outubro de 1990, pela

Associação dos Motoqueiros deBelém, com a finalidade de escoltara imagem de Nossa Senhora,conferindo mais pompa aopercurso de 3,3 quilômetros dapraça Pedro Teixeira às escadariasdo Colégio Gentil Bittencourt.Antes disso, a imagem fazia estepercurso em um ônibus, nas mãosdo arcebispo de Belém, junto com

a diretoria da festa, sem a participaçãoda população.

A moto-romaria é uma procissãorealizada essencialmente pormotoqueiros, oriundos tanto deBelém quanto de diversaslocalidades do interior do estado.É realizada no sábado que antecedeo Círio, logo após a chegada ao caisdo porto da romaria fluvial (às 11horas) e das homenagens de honrasde Estado prestadas à NossaSenhora de Nazaré. Ao chegarao Colégio Gentil Bittencourté realizada uma benção para osmotoqueiros e a imagem é expostapara os presentes. Em seguida,os motoqueiros aceleram suasmáquinas, como forma de saudaçãoà Nossa Senhora de Nazaré. Apóso término dessa procissão, muitosdos participantes juntam-se às outraspessoas, na basílica, para assistirà celebração da descida, às 12 horas.

A imagem peregrina de NossaSenhora de Nazaré permanece noColégio Gentil Bittencourt até oinício da procissão da trasladação,nesse mesmo dia, às 18 horas.

Em 2000 a Polícia RodoviáriaFederal passou a participar docortejo, fortalecendo a organizaçãoda moto-romaria. Atualmente, estaprocissão conta com o apoio daCompanhia de Trânsito de Belém,das Polícias Civil e Militar,da Secretaria de Estado deSegurança e do Corpode Bombeiros. A primeira moto-

romaria contou com a participaçãode 40 motocicletas, número esteque, em 2002, já era de 5 mil.

PROCISSÃO DOSMOTOQUEIROS

A romaria fluvial foi criada em1986 pelo historiador Carlos

Rocque, quando presidente daCompanhia Paraense de Turismo.É um dos eventos emblemáticos doCírio de Nazaré, devido a suagrande magnitude. A princípio,a motivação para a criação daromaria surgiu da iniciativade possibilitar aos ribeirinhosprestarem suas homenagens à NossaSenhora de Nazaré. No entanto,o fato de a romaria ter sido criadapor uma companhia de turismoevidencia a clara associação doCírio de Nazaré com odesenvolvimento do potencialturístico da capital paraense,fundamentado no chamadoturismo religioso – a Embratur(Empresa Brasileira de Turismo)incluiu a romaria no calendário deeventos do país. Nesse caso tambémpodemos perceber as relações entre

PROCISSÃOPELO RIO

página ao ladoromaria fluvial.foto: luiz braga.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 2

as motivações religiosas e asprofanas, que marcam o Círiode Nazaré desde seu início.

No sábado que antecedeo Círio, após terminar a romariarodoviária, é celebrada uma missano trapiche de Icoaraci. Logo emseguida, a imagem de NossaSenhora de Nazaré é transportadapara o navio balizador da Marinha,Guarnier Sampaio, que zarpaconduzindo a imagem num altararmado na proa. O navio éseguido de perto por centenas debarcos. Partindo de Icoaraci,a romaria fluvial perfaz um percursode 10 milhas náuticas na baía doGuajará, até o porto de Belém,terminando no local conhecidocomo escadinha do cais do porto.Ao longo do percurso, a imagemde Nossa Senhora de Nazarérecebe muitas homenagens, comoo lançamento de pétalas de rosas

e de papel picado de helicópterose ultraleves, e a queima de fogos,por devotos, nas margens da baíado Guajará.

Participam da procissãoromeiros de todas as camadassociais, provindos da áreametropolitana de Belém e dointerior do estado do Pará, além deturistas nacionais e internacionais,que compram com antecedênciaum pacote turístico que incluia romaria fluvial. As empresas deturismo contratam embarcaçõesnas quais é servido café-da-manhã,com frutas regionais, e sãodistribuídos bonés e bandeirinhas.No ano de 2002 participaramda romaria fluvial mais de 600embarcações de diversos tipos,desde iates, jet skis e lanchas devários portes, até pequenas canoas,típicas de ribeirinhos que moramnas proximidades.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 3

A moto-romaria foi criada em13 de outubro de 1990, pela

Associação dos Motoqueiros deBelém, com a finalidade de escoltara imagem de Nossa Senhora,conferindo mais pompa aopercurso de 3,3 quilômetros dapraça Pedro Teixeira às escadariasdo Colégio Gentil Bittencourt.Antes disso, a imagem fazia estepercurso em um ônibus, nas mãosdo arcebispo de Belém, junto com

a diretoria da festa, sem a participaçãoda população.

A moto-romaria é uma procissãorealizada essencialmente pormotoqueiros, oriundos tanto deBelém quanto de diversaslocalidades do interior do estado.É realizada no sábado que antecedeo Círio, logo após a chegada ao caisdo porto da romaria fluvial (às 11horas) e das homenagens de honrasde Estado prestadas à NossaSenhora de Nazaré. Ao chegarao Colégio Gentil Bittencourté realizada uma benção para osmotoqueiros e a imagem é expostapara os presentes. Em seguida,os motoqueiros aceleram suasmáquinas, como forma de saudaçãoà Nossa Senhora de Nazaré. Apóso término dessa procissão, muitosdos participantes juntam-se às outraspessoas, na basílica, para assistirà celebração da descida, às 12 horas.

A imagem peregrina de NossaSenhora de Nazaré permanece noColégio Gentil Bittencourt até oinício da procissão da trasladação,nesse mesmo dia, às 18 horas.

Em 2000 a Polícia RodoviáriaFederal passou a participar docortejo, fortalecendo a organizaçãoda moto-romaria. Atualmente, estaprocissão conta com o apoio daCompanhia de Trânsito de Belém,das Polícias Civil e Militar,da Secretaria de Estado deSegurança e do Corpode Bombeiros. A primeira moto-

romaria contou com a participaçãode 40 motocicletas, número esteque, em 2002, já era de 5 mil.

PROCISSÃO DOSMOTOQUEIROS

A romaria fluvial foi criada em1986 pelo historiador Carlos

Rocque, quando presidente daCompanhia Paraense de Turismo.É um dos eventos emblemáticos doCírio de Nazaré, devido a suagrande magnitude. A princípio,a motivação para a criação daromaria surgiu da iniciativade possibilitar aos ribeirinhosprestarem suas homenagens à NossaSenhora de Nazaré. No entanto,o fato de a romaria ter sido criadapor uma companhia de turismoevidencia a clara associação doCírio de Nazaré com odesenvolvimento do potencialturístico da capital paraense,fundamentado no chamadoturismo religioso – a Embratur(Empresa Brasileira de Turismo)incluiu a romaria no calendário deeventos do país. Nesse caso tambémpodemos perceber as relações entre

PROCISSÃOPELO RIO

página ao ladoromaria fluvial.foto: luiz braga.

Page 45: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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N esse mesmo dia, o segundosábado de outubro, sai

à noite, do Colégio GentilBittencourt, situado próximo àpraça Santuário, a procissão querecebe o nome de trasladação,seguindo em direção à Catedral deBelém. Fazendo o trajeto do Círiono sentido contrário, seguemmilhares de pessoas em procissão, amaioria com velas acesas, muitasdelas cumprindo promessas,rezando contritas e entoando ohino de Nossa Senhora de Nazaré.

A procissão tem início às18 horas, logo após a missacelebrada nas escadarias docolégio, tendo como principaiselementos de destaque no cortejoa corda e a berlinda iluminadaque conduz a imagem da santa.Essa procissão, em conjunto como Círio propriamente dito, queserá realizado na manhã do dia

seguinte, revive o mito das “fugas”da imagem da santa quandoencontrada por Plácido, em 1700.

Durante o trajeto, muitashomenagens são prestadas à NossaSenhora de Nazaré, sendo que asprincipais são promovidas peloBanco do Brasil e pelo Sindicatodos Estivadores e dos Arrumadoresdo cais do porto de Belém, comum espetáculo de fogos de artifício.No decorrer dos últimos anos,o aumento do número departicipantes dessa procissão,sobretudo de jovens, é bastantesignificativo. É voz corrente queo aumento do número depromesseiros na corda da trasladação

e na própria procissão está ligadoao clima mais agradável à noite,à beleza do espetáculo dos fogos noperíodo noturno e ao crescimentosurpreendente do número depessoas na procissão principal

do Círio, na manhã seguinte,o que faz com que muitosparticipem apenas da procissãonoturna. Os jovens, no intuito deconseguirem graças (na sua amplamaioria, a aprovação no examedo vestibular), participam dacaminhada da trasladação segurandoa corda até o mercado Ver-o-Peso e,com o restante do povo, conduzema berlinda para a Catedral da Sé.

Na manhã seguinte, com aprocissão do Círio propriamentedito, a imagem retorna à basílica,cumprindo um ritual de mais de200 anos.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 4

T odas as imagens queparticipam das celebrações, até

mesmo a da procissão principaldo Círio, no segundo domingo deoutubro, são réplicas da imagemoriginal. Aquela que, segundo atradição, foi “achada” pelo cabocloPlácido, no ano de 1700, nãoparticipa de nenhuma outracerimônia deste grande ritualreligioso, excetuando-se a celebração

da descida e a celebração da subida. A imagem dita original permanece

guardada, durante o ano todo,no ponto mais alto (glória) do altarprincipal da Basílica de Nazaré.A celebração da descida consiste emretirar a imagem de seu nichohabitual, para que possa ficar,durante todo o período da Festa deNazaré, mais próxima dos devotos.

Foi padre Miguel Giambelli,vigário de Nazaré, que decidiu,em 1969, descer a imagem de Nossa

Senhora de Nazaré da glóriado altar-mor da basílica para opresbitério para, desse modo, ficarmais perto do povo. A celebração da

descida, em seus anos iniciais, erarealizada no sábado que antecedeo Círio, às 23 horas, após atrasladação. Entre 1979 e 1980o ritual de descida da imagem erarealizado a portas fechadas,com a participação de um númeroreduzido de pessoas. A partirde 1983 as portas da basílicaforam abertas para o povoparticipar da celebração.

Segundo o padre LucianoBrambilla, a imagem da santaficava acessível para quem quisessebeijá-la, o que gerou umasituação inconveniente: no finalda cerimônia, o manto encontrava-se todo manchadode batom. Em função disso, aimagem não pôde mais ser beijada32,

ficando protegida por umaredoma de vidro.

A celebração é realizada às12 horas do sábado que antecedeo Círio, logo após o encerramentoda moto-romaria. A imagem deNossa Senhora de Nazaré é descidada glória do altar da capela-morda basílica, com cuidados especiaispara sua preservação, como ouso de luvas brancas para evitaro contato das mãos com a imagem.Durante a celebração sãorealizados cantos, rezas e muitasaclamações de louvor à santa.Após a descida a imagem écolocada em um pedestal juntoao altar-mor, decorado comflores, onde permanece acessívelà visitação pública durantetoda a quadra nazarena.

A CELEBRAÇÃODA DESCIDA

REVIVENDOAS “FUGAS” DAIMAGEM

transladação daimagem, a berlindailuminada na noiteque antecedeo círio. foto:francisco costa

detalhe pés dospromesseiros. foto:francisco costa

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 5

N esse mesmo dia, o segundosábado de outubro, sai

à noite, do Colégio GentilBittencourt, situado próximo àpraça Santuário, a procissão querecebe o nome de trasladação,seguindo em direção à Catedral deBelém. Fazendo o trajeto do Círiono sentido contrário, seguemmilhares de pessoas em procissão, amaioria com velas acesas, muitasdelas cumprindo promessas,rezando contritas e entoando ohino de Nossa Senhora de Nazaré.

A procissão tem início às18 horas, logo após a missacelebrada nas escadarias docolégio, tendo como principaiselementos de destaque no cortejoa corda e a berlinda iluminadaque conduz a imagem da santa.Essa procissão, em conjunto como Círio propriamente dito, queserá realizado na manhã do dia

seguinte, revive o mito das “fugas”da imagem da santa quandoencontrada por Plácido, em 1700.

Durante o trajeto, muitashomenagens são prestadas à NossaSenhora de Nazaré, sendo que asprincipais são promovidas peloBanco do Brasil e pelo Sindicatodos Estivadores e dos Arrumadoresdo cais do porto de Belém, comum espetáculo de fogos de artifício.No decorrer dos últimos anos,o aumento do número departicipantes dessa procissão,sobretudo de jovens, é bastantesignificativo. É voz corrente queo aumento do número depromesseiros na corda da trasladação

e na própria procissão está ligadoao clima mais agradável à noite,à beleza do espetáculo dos fogos noperíodo noturno e ao crescimentosurpreendente do número depessoas na procissão principal

do Círio, na manhã seguinte,o que faz com que muitosparticipem apenas da procissãonoturna. Os jovens, no intuito deconseguirem graças (na sua amplamaioria, a aprovação no examedo vestibular), participam dacaminhada da trasladação segurandoa corda até o mercado Ver-o-Peso e,com o restante do povo, conduzema berlinda para a Catedral da Sé.

Na manhã seguinte, com aprocissão do Círio propriamentedito, a imagem retorna à basílica,cumprindo um ritual de mais de200 anos.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 4

T odas as imagens queparticipam das celebrações, até

mesmo a da procissão principaldo Círio, no segundo domingo deoutubro, são réplicas da imagemoriginal. Aquela que, segundo atradição, foi “achada” pelo cabocloPlácido, no ano de 1700, nãoparticipa de nenhuma outracerimônia deste grande ritualreligioso, excetuando-se a celebração

da descida e a celebração da subida. A imagem dita original permanece

guardada, durante o ano todo,no ponto mais alto (glória) do altarprincipal da Basílica de Nazaré.A celebração da descida consiste emretirar a imagem de seu nichohabitual, para que possa ficar,durante todo o período da Festa deNazaré, mais próxima dos devotos.

Foi padre Miguel Giambelli,vigário de Nazaré, que decidiu,em 1969, descer a imagem de Nossa

Senhora de Nazaré da glóriado altar-mor da basílica para opresbitério para, desse modo, ficarmais perto do povo. A celebração da

descida, em seus anos iniciais, erarealizada no sábado que antecedeo Círio, às 23 horas, após atrasladação. Entre 1979 e 1980o ritual de descida da imagem erarealizado a portas fechadas,com a participação de um númeroreduzido de pessoas. A partirde 1983 as portas da basílicaforam abertas para o povoparticipar da celebração.

Segundo o padre LucianoBrambilla, a imagem da santaficava acessível para quem quisessebeijá-la, o que gerou umasituação inconveniente: no finalda cerimônia, o manto encontrava-se todo manchadode batom. Em função disso, aimagem não pôde mais ser beijada32,

ficando protegida por umaredoma de vidro.

A celebração é realizada às12 horas do sábado que antecedeo Círio, logo após o encerramentoda moto-romaria. A imagem deNossa Senhora de Nazaré é descidada glória do altar da capela-morda basílica, com cuidados especiaispara sua preservação, como ouso de luvas brancas para evitaro contato das mãos com a imagem.Durante a celebração sãorealizados cantos, rezas e muitasaclamações de louvor à santa.Após a descida a imagem écolocada em um pedestal juntoao altar-mor, decorado comflores, onde permanece acessívelà visitação pública durantetoda a quadra nazarena.

A CELEBRAÇÃODA DESCIDA

REVIVENDOAS “FUGAS” DAIMAGEM

transladação daimagem, a berlindailuminada na noiteque antecedeo círio. foto:francisco costa

detalhe pés dospromesseiros. foto:francisco costa

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A s crianças sempre foram parteimportante no Círio e Festa

de Nazaré. Aparecem na procissãoprincipal do Círio vestidas deanjos, nos carros, nos ombrose nos colos de mães e de pais.Aparecem também vestidas demarujos ou usando mortalhas empagamento de promessas. Vão àigreja rezar e participam dasbrincadeiras do arraial. Por isso,a diretoria da festa teve a idéia de

criar a romaria infantil, uma espéciede miniprocissão em que ascrianças participam com rezas ecantos próprios escolhidos pelodepartamento de catequese infantilda paróquia de Nazaré.

O primeiro círio das crianças foirealizado no dia 21 de outubro de1990. Em 1994, o andor foisubstituído por um cibório em umcarro. Este cibório era o antigonicho que ficava no Colégio GentilBittencourt com a imagem deNossa Senhora de Nazaré, durantea quinzena da festa. Até 1999,eram as esposas dos diretores queorganizavam o círio das crianças, desdea decoração até os atos litúrgicos.A partir de 2000, o padreFrancisco Silva, pároco de Nazaré,passou esta responsabilidade para acomissão de culto e pastoral. Desde 1999os carros do anjo custódio e do

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 6

T erminada a procissão do Círio,as festas do arraial se estendem

pela tarde e noite do domingo,prolongando-se por duas semanas.A próxima celebração religiosa éo terço da alvorada, procissão realizadadiariamente no entorno da basílicade Nossa Senhora de Nazaré,a partir da segunda-feira, após aromaria principal, até oencerramento da quadra nazarena.

Em 1972, o padre GiovaneIncampo, pároco de Nazaré,criou o terço da alvorada, coma denominação de procissão penitencial.Participam desta procissão os padresbarnabitas, a guarda da santa,a Confraria de Nossa Senhora deNazaré, os sacristãos e ascomunidades da paróquia de NossaSenhora de Nazaré. O percurso docortejo é variável, com o intuito deabranger o maior número possívelde ruas no entorno da basílica.

anjo protetor da cidade participamda procissão.

O círio das crianças é realizado noprimeiro domingo após a procissãoprincipal do Círio, saindo às8 horas e 30 minutos da praçaSantuário para percorrer as ruasdo bairro de Nazaré. As criançasparticipam acompanhadas por seuspais. A duração é deaproximadamente duas horas.Ao retornar, o pároco da basílicarecebe a imagem e abençoaos presentes.

O TERÇODA ALVORADA

O CÍRIODAS CRIANÇAS

berlinda coma imagem de nossasenhora de nazarédurante atransladação.foto: luiz braga.

carro dos anjos nocírio de ™ºº¢. foto:francisco costa.

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A s crianças sempre foram parteimportante no Círio e Festa

de Nazaré. Aparecem na procissãoprincipal do Círio vestidas deanjos, nos carros, nos ombrose nos colos de mães e de pais.Aparecem também vestidas demarujos ou usando mortalhas empagamento de promessas. Vão àigreja rezar e participam dasbrincadeiras do arraial. Por isso,a diretoria da festa teve a idéia de

criar a romaria infantil, uma espéciede miniprocissão em que ascrianças participam com rezas ecantos próprios escolhidos pelodepartamento de catequese infantilda paróquia de Nazaré.

O primeiro círio das crianças foirealizado no dia 21 de outubro de1990. Em 1994, o andor foisubstituído por um cibório em umcarro. Este cibório era o antigonicho que ficava no Colégio GentilBittencourt com a imagem deNossa Senhora de Nazaré, durantea quinzena da festa. Até 1999,eram as esposas dos diretores queorganizavam o círio das crianças, desdea decoração até os atos litúrgicos.A partir de 2000, o padreFrancisco Silva, pároco de Nazaré,passou esta responsabilidade para acomissão de culto e pastoral. Desde 1999os carros do anjo custódio e do

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T erminada a procissão do Círio,as festas do arraial se estendem

pela tarde e noite do domingo,prolongando-se por duas semanas.A próxima celebração religiosa éo terço da alvorada, procissão realizadadiariamente no entorno da basílicade Nossa Senhora de Nazaré,a partir da segunda-feira, após aromaria principal, até oencerramento da quadra nazarena.

Em 1972, o padre GiovaneIncampo, pároco de Nazaré,criou o terço da alvorada, coma denominação de procissão penitencial.Participam desta procissão os padresbarnabitas, a guarda da santa,a Confraria de Nossa Senhora deNazaré, os sacristãos e ascomunidades da paróquia de NossaSenhora de Nazaré. O percurso docortejo é variável, com o intuito deabranger o maior número possívelde ruas no entorno da basílica.

anjo protetor da cidade participamda procissão.

O círio das crianças é realizado noprimeiro domingo após a procissãoprincipal do Círio, saindo às8 horas e 30 minutos da praçaSantuário para percorrer as ruasdo bairro de Nazaré. As criançasparticipam acompanhadas por seuspais. A duração é deaproximadamente duas horas.Ao retornar, o pároco da basílicarecebe a imagem e abençoaos presentes.

O TERÇODA ALVORADA

O CÍRIODAS CRIANÇAS

berlinda coma imagem de nossasenhora de nazarédurante atransladação.foto: luiz braga.

carro dos anjos nocírio de ™ºº¢. foto:francisco costa.

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segunda-feira, ao final dos 15 diasde festividades, é o verdadeiroencerramento da quadra nazarena.Nesse dia Belém tem suas atividadesreduzidas, os servidores públicos sãodispensados e o comércio só abreas portas após o meio-dia. Colégiostambém suspendem as aulas eliberam estudantes e professorespara participarem da tradição quese incorporou aos festejos nazarenoshá mais de um século.

É quando a imagem peregrina

retorna para as dependências doColégio Gentil Bittencourt, parasair somente no próximo ano,revivendo e atualizando a devoçãonazarena33. Trata-se de umaprocissão marcada pela despedida,em que os fiéis, emocionados,acenam com lenços brancos ouleques para a imagem de NossaSenhora de Nazaré, dando, assim,o seu último adeus.

Esse derradeiro ato religiosoda festa de Nazaré inicia-se com amissa na praça Santuário, de ondesairá a procissão que percorreráalgumas quadras do bairro deNazaré, até o Colégio Gentil.Ali o arcebispo de Belém abençoatodos os presentes com a imagemde Nossa Senhora.

Ao final da missa ocorre aincineração das súplicas, uma cerimôniapresidida pelos membros da diretoria

de evangelização e introduzida entreos rituais de celebração dasfestividades do Círio em 1994.Consiste na queima dos pedidosescritos pelos fiéis e depositados emuma caixa de vidro no altar-morda Basílica de Nazaré, durante os15 dias das festividades. Inicialmenterealizado na lateral da basílica,em frente à sala dos milagres, hojeacontece na praça Santuário esimboliza a elevação dos pedidosaté a presença de Deus, pelaintercessão de Nossa Senhora.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 8

N a maioria das festas de santos,a procissão final, ou da festa,

é a mais importante. Isso nãoacontece na Festa de Nazaré, emBelém, onde a procissão do Círioé a mais importante de todas.A procissão da festa é realizada pelamanhã, sempre no último domingoda quadra nazarena (quarto domingode outubro, dia de Nossa Senhorade Nazaré), quando ascomunidades da paróquia, juntocom os diretores da festa e demais fiéispercorrem as ruas do bairrode Nazaré.

Esta procissão é umacontecimento dedicado aos leigosda paróquia, os quais sãoresponsáveis pelo planejamentoe execução das atividadesdesenvolvidas ao longo dopercurso, que tem cinco paradaspredeterminadas. Em cada umadelas ocorrem reflexões e

homenagens à Nossa Senhora,seguidas de bênçãos aos presentes.O trajeto da procissão é alteradoa cada ano, visando a contemplar asdiversas ruas e comunidadespertencentes à paróquia de Nazaré.

A celebração oficial doencerramento da festa, entretanto,é uma missa solene realizada noaltar-monumento da praçaSantuário, em frente à basílica,também no último domingoda quadra nazarena, com a presença doarcebispo, sacerdotes e diretores.O ato litúrgico inicia-se às 20horas, com uma procissão soleneque sai da basílica, sendo o cortejointegrado pela diretoria da festa

(que conduz a imagem de NossaSenhora de Nazaré) e o clero,entre a multidão de fiéisposicionados em frente ao localda celebração. É apenas umadas celebrações que marcam

o fim da festividade nazarena.Ao término da missa realiza-seuma procissão com velas –instituída em 1982, a partir dainauguração da praça Santuário –até as dependências da Basílicade Nazaré.

Já a celebração da subida é realizadaàs 6 horas da segunda-feira, apóso encerramento da festa, antesda procissão do recírio. A imagem deNossa Senhora de Nazaré érecolocada na glória, acima doaltar da capela-mor da basílica,com os mesmos cuidados com suapreservação que são tomados nacelebração da descida. Cantos, rezase muitas aclamações de louvor àNossa Senhora de Nazaré marcameste acontecimento aberto aopúblico e presidido pelo arcebispometropolitano.

Finalmente, o recírio, umacelebração que ocorre na manhã de

ENCERRANDOA FESTA

página ao ladopedaço de corda,fim da procissão.foto: franciscocosta.

fiel com pedaçoda corda a volta dacabeça. foto:francisco costa.

abaixofim da procissão,o corpo do fiel.foto: franciscocosta.

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segunda-feira, ao final dos 15 diasde festividades, é o verdadeiroencerramento da quadra nazarena.Nesse dia Belém tem suas atividadesreduzidas, os servidores públicos sãodispensados e o comércio só abreas portas após o meio-dia. Colégiostambém suspendem as aulas eliberam estudantes e professorespara participarem da tradição quese incorporou aos festejos nazarenoshá mais de um século.

É quando a imagem peregrina

retorna para as dependências doColégio Gentil Bittencourt, parasair somente no próximo ano,revivendo e atualizando a devoçãonazarena33. Trata-se de umaprocissão marcada pela despedida,em que os fiéis, emocionados,acenam com lenços brancos ouleques para a imagem de NossaSenhora de Nazaré, dando, assim,o seu último adeus.

Esse derradeiro ato religiosoda festa de Nazaré inicia-se com amissa na praça Santuário, de ondesairá a procissão que percorreráalgumas quadras do bairro deNazaré, até o Colégio Gentil.Ali o arcebispo de Belém abençoatodos os presentes com a imagemde Nossa Senhora.

Ao final da missa ocorre aincineração das súplicas, uma cerimôniapresidida pelos membros da diretoria

de evangelização e introduzida entreos rituais de celebração dasfestividades do Círio em 1994.Consiste na queima dos pedidosescritos pelos fiéis e depositados emuma caixa de vidro no altar-morda Basílica de Nazaré, durante os15 dias das festividades. Inicialmenterealizado na lateral da basílica,em frente à sala dos milagres, hojeacontece na praça Santuário esimboliza a elevação dos pedidosaté a presença de Deus, pelaintercessão de Nossa Senhora.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 4 8

N a maioria das festas de santos,a procissão final, ou da festa,

é a mais importante. Isso nãoacontece na Festa de Nazaré, emBelém, onde a procissão do Círioé a mais importante de todas.A procissão da festa é realizada pelamanhã, sempre no último domingoda quadra nazarena (quarto domingode outubro, dia de Nossa Senhorade Nazaré), quando ascomunidades da paróquia, juntocom os diretores da festa e demais fiéispercorrem as ruas do bairrode Nazaré.

Esta procissão é umacontecimento dedicado aos leigosda paróquia, os quais sãoresponsáveis pelo planejamentoe execução das atividadesdesenvolvidas ao longo dopercurso, que tem cinco paradaspredeterminadas. Em cada umadelas ocorrem reflexões e

homenagens à Nossa Senhora,seguidas de bênçãos aos presentes.O trajeto da procissão é alteradoa cada ano, visando a contemplar asdiversas ruas e comunidadespertencentes à paróquia de Nazaré.

A celebração oficial doencerramento da festa, entretanto,é uma missa solene realizada noaltar-monumento da praçaSantuário, em frente à basílica,também no último domingoda quadra nazarena, com a presença doarcebispo, sacerdotes e diretores.O ato litúrgico inicia-se às 20horas, com uma procissão soleneque sai da basílica, sendo o cortejointegrado pela diretoria da festa

(que conduz a imagem de NossaSenhora de Nazaré) e o clero,entre a multidão de fiéisposicionados em frente ao localda celebração. É apenas umadas celebrações que marcam

o fim da festividade nazarena.Ao término da missa realiza-seuma procissão com velas –instituída em 1982, a partir dainauguração da praça Santuário –até as dependências da Basílicade Nazaré.

Já a celebração da subida é realizadaàs 6 horas da segunda-feira, apóso encerramento da festa, antesda procissão do recírio. A imagem deNossa Senhora de Nazaré érecolocada na glória, acima doaltar da capela-mor da basílica,com os mesmos cuidados com suapreservação que são tomados nacelebração da descida. Cantos, rezase muitas aclamações de louvor àNossa Senhora de Nazaré marcameste acontecimento aberto aopúblico e presidido pelo arcebispometropolitano.

Finalmente, o recírio, umacelebração que ocorre na manhã de

ENCERRANDOA FESTA

página ao ladopedaço de corda,fim da procissão.foto: franciscocosta.

fiel com pedaçoda corda a volta dacabeça. foto:francisco costa.

abaixofim da procissão,o corpo do fiel.foto: franciscocosta.

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Padre, a rainha entrou na suasala”. Segundo o padre

Luciano Brambilla, foi com essaspalavras que o coronel AlacidNunes definiu a primeira vez quea imagem de Nossa Senhora deNazaré entrou na praça Santuário,no Círio de 1982.34 Com aconstrução da praça, cercadade grades, no local do antigo arraial,este teve de mudar-se paraum terreno ao lado da basílica.

É dentro da praça Santuário ouConjunto Arquitetônico de Nazaré(can), antigo largo de Nazaré, quese realizam as celebrações religiosasda festividade. O largo, com seuscoretos peculiares e pavilhõesarmados para o arraial, deu lugar àPraça Santuário, com suas linhasmodernas, materiais refinados,gradil, altar-central, conchaacústica e, mais tarde,o monumento de mármore cujaforma remete ao manto de NossaSenhora de Nazaré.

Com a inauguração da praçaSantuário ampliou-se o espaçopara as apresentações de artistaslocais, sobretudo músicos, noperíodo das festividades do Círio.Durante a quinzena festiva doarraial, a concha acústica existentena praça transforma-se em espaçopara a apresentação da culturaparaense, desde a performance

erudita dos músicos da FundaçãoCarlos Gomes e do Serviço deAtividades Musicais daUniversidade Federal do Pará,passando pelos grupos ecompositores de música popularparaense, até os ritmos regionaiscomo o carimbó, o xote bragantinoe o sirimbó.

A praça, situada em frente àBasílica de Nazaré, é propriedadeda Prefeitura Municipal de Belém.Além de ter gerado conflitos entreos devotos e os padres, o espaçotambém é local de disputas entre oclero e o poder municipal, a partirdo seu nome. “A coisa mais tristeé que num santuário regionalchamado Basílica de NossaSenhora de Nazaré tenha umapraça que se chama JustoChermont. Quem era esteilustríssimo senhor João Ninguémdeste Justo Chermont? Isto não

A FESTA E SEUARRAIAL

basílica de nazarédurante a festado círio.foto: luiz braga.

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Padre, a rainha entrou na suasala”. Segundo o padre

Luciano Brambilla, foi com essaspalavras que o coronel AlacidNunes definiu a primeira vez quea imagem de Nossa Senhora deNazaré entrou na praça Santuário,no Círio de 1982.34 Com aconstrução da praça, cercadade grades, no local do antigo arraial,este teve de mudar-se paraum terreno ao lado da basílica.

É dentro da praça Santuário ouConjunto Arquitetônico de Nazaré(can), antigo largo de Nazaré, quese realizam as celebrações religiosasda festividade. O largo, com seuscoretos peculiares e pavilhõesarmados para o arraial, deu lugar àPraça Santuário, com suas linhasmodernas, materiais refinados,gradil, altar-central, conchaacústica e, mais tarde,o monumento de mármore cujaforma remete ao manto de NossaSenhora de Nazaré.

Com a inauguração da praçaSantuário ampliou-se o espaçopara as apresentações de artistaslocais, sobretudo músicos, noperíodo das festividades do Círio.Durante a quinzena festiva doarraial, a concha acústica existentena praça transforma-se em espaçopara a apresentação da culturaparaense, desde a performance

erudita dos músicos da FundaçãoCarlos Gomes e do Serviço deAtividades Musicais daUniversidade Federal do Pará,passando pelos grupos ecompositores de música popularparaense, até os ritmos regionaiscomo o carimbó, o xote bragantinoe o sirimbó.

A praça, situada em frente àBasílica de Nazaré, é propriedadeda Prefeitura Municipal de Belém.Além de ter gerado conflitos entreos devotos e os padres, o espaçotambém é local de disputas entre oclero e o poder municipal, a partirdo seu nome. “A coisa mais tristeé que num santuário regionalchamado Basílica de NossaSenhora de Nazaré tenha umapraça que se chama JustoChermont. Quem era esteilustríssimo senhor João Ninguémdeste Justo Chermont? Isto não

A FESTA E SEUARRAIAL

basílica de nazarédurante a festado círio.foto: luiz braga.

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cabe na cabeça de ninguém”, dizo padre Luciano Brambilla.35

Já muitos devotos questionamas razões que levaram os padres aconstruírem a praça Santuário todarevestida de mármore36, tão distantedos modelos arquitetônicosregionais, cercada de grades quelimitam o acesso público, apesarde a praça ser propriedade daPrefeitura Municipal, aberta às seishoras e fechada às 22 horas por umfuncionário remunerado pelaparóquia de Nazaré. Segundo opadre, a idéia de construir a praçafoi para evitar que a Basílica deNazaré fosse sufocada pelos prédiosque estavam surgindo ao seu redor.Os edifícios no entorno da igreja,entretanto, não deixaram de surgir,apesar da construção da praça,já que a proteção do tombamentoestadual da basílica não foisuficiente para detê-los.

A concha acústica construídadentro da praça Santuário “foi feitapara que no Centro Arquitetônicode Nazaré se pudesse realizar aparte artística, constituída mesmode cânticos, música, concertose de apresentações teatrais”, dizo padre Brambilla, admitindoque surgiram descontentamentospor ocasião da construção dapraça, principalmente por causadas grades.37

Tal como no início dascelebrações do Círio, o arraial

continua sendo um local decomércio e também de festa,o principal ponto de encontrodas pessoas durante os 15 dias daquadra nazarena. Há parque dediversão e barracas de bebidase comidas regionais tais como otacacá, pato-no-tucupi, maniçobae vatapá. As noites do arraial sãoum momento de encontro,

de circulação de pessoas, denamoro e de um conjunto de fatosque, por sua própria natureza, nãoestão sob o controle da diretoria da

festa. Em função disso forammuitos os momentos de tensão quemarcaram a história do arraial, vezpor outra acusado de contribuirpara a “corrupção dos valores”do povo paraense, momentos queexpressam o próprio conflito entreos adeptos do catolicismo populare a ótica eclesial e oficial dosorganizadores da festa.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 5 3

T ão logo acaba a procissão,com a chegada da imagem da

santa na praça Santuário em frenteà Basílica de Nazaré, as famíliasdos devotos se reúnem nos larespara uma grande confraternizaçãoe também para saborear osdeliciosos pratos típicos da cozinharegional paraense, principalmenteo pato-no-tucupi e a maniçoba.Essas comidas expressam umaidentidade cultural que o paraensefaz questão de exibir, especialmenteao visitante que vem de outroslugares, que poderá ser convidado,por alguma família, para participardo almoço.

No almoço do Círio percebe-seuma certa continuidade de algumasrelações encontradas na procissãoprincipal, como formalidade einformalidade, sagrado e profano,público e privado. Os conflitosfamiliares também se fazem

presentes no almoço, apesardo clima de confraternização.

O almoço do Círio é umaoportunidade para as famíliasdemonstrarem a prodigalidade e afartura da comida, correspondentetambém à prodigalidade dasbênçãos e das graçasproporcionadas pela Virgem deNazaré. O número de participantesé muito variável entre as famílias,chegando algumas a reunir emtorno de 30 pessoas. Outras têmeste número diminuído quandoalguns membros decidem criar sua“independência” no almoço doCírio e começam a organizá-lo emsuas próprias casas, deixando departicipar na casa dos pais ouparentes. “A gente se separa,mas leva a tradição junto, né?”comenta uma devota.

Em função do elevado preço dopato, muitas famílias trocaram-no

por frango, porco ou mesmo peloperu-no-tucupi, o “pato-no-tucupi genérico”, como dizem.Mas, para os devotos, a substituiçãogera conflitos com a tradição comonos comentários do tipo “Olha, nacasa do fulano era pato mesmo!Era verdadeiro o pato-no-tucupi’”.Criar o pato tornou-se umaatividade arriscada, pois é grande apossibilidade de a ave ser roubadana época do Círio. Uma mulherjá chegou a guardar um pato nobanheiro, com medo de que fosseroubado. A sina dos patos noCírio já foi motivo até de chargespublicadas em jornais, como título de “paticídio”.

É comum os devotos sereferirem ao almoço do Círio comoo “Natal dos paraenses”. Algunsdizem que podem até deixar defazer a ceia do Natal, mas nuncadeixariam de fazer o almoço do Círio.

ALMOÇO DOCÍRIO, O NATALDOS PARAENSES

festa com criançasdurante o círio.foto: franciscocosta.

página ao ladopimenta de cheirousada no tempero dopato-no-tucupi.

Page 54: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 5 2

cabe na cabeça de ninguém”, dizo padre Luciano Brambilla.35

Já muitos devotos questionamas razões que levaram os padres aconstruírem a praça Santuário todarevestida de mármore36, tão distantedos modelos arquitetônicosregionais, cercada de grades quelimitam o acesso público, apesarde a praça ser propriedade daPrefeitura Municipal, aberta às seishoras e fechada às 22 horas por umfuncionário remunerado pelaparóquia de Nazaré. Segundo opadre, a idéia de construir a praçafoi para evitar que a Basílica deNazaré fosse sufocada pelos prédiosque estavam surgindo ao seu redor.Os edifícios no entorno da igreja,entretanto, não deixaram de surgir,apesar da construção da praça,já que a proteção do tombamentoestadual da basílica não foisuficiente para detê-los.

A concha acústica construídadentro da praça Santuário “foi feitapara que no Centro Arquitetônicode Nazaré se pudesse realizar aparte artística, constituída mesmode cânticos, música, concertose de apresentações teatrais”, dizo padre Brambilla, admitindoque surgiram descontentamentospor ocasião da construção dapraça, principalmente por causadas grades.37

Tal como no início dascelebrações do Círio, o arraial

continua sendo um local decomércio e também de festa,o principal ponto de encontrodas pessoas durante os 15 dias daquadra nazarena. Há parque dediversão e barracas de bebidase comidas regionais tais como otacacá, pato-no-tucupi, maniçobae vatapá. As noites do arraial sãoum momento de encontro,

de circulação de pessoas, denamoro e de um conjunto de fatosque, por sua própria natureza, nãoestão sob o controle da diretoria da

festa. Em função disso forammuitos os momentos de tensão quemarcaram a história do arraial, vezpor outra acusado de contribuirpara a “corrupção dos valores”do povo paraense, momentos queexpressam o próprio conflito entreos adeptos do catolicismo populare a ótica eclesial e oficial dosorganizadores da festa.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 5 3

T ão logo acaba a procissão,com a chegada da imagem da

santa na praça Santuário em frenteà Basílica de Nazaré, as famíliasdos devotos se reúnem nos larespara uma grande confraternizaçãoe também para saborear osdeliciosos pratos típicos da cozinharegional paraense, principalmenteo pato-no-tucupi e a maniçoba.Essas comidas expressam umaidentidade cultural que o paraensefaz questão de exibir, especialmenteao visitante que vem de outroslugares, que poderá ser convidado,por alguma família, para participardo almoço.

No almoço do Círio percebe-seuma certa continuidade de algumasrelações encontradas na procissãoprincipal, como formalidade einformalidade, sagrado e profano,público e privado. Os conflitosfamiliares também se fazem

presentes no almoço, apesardo clima de confraternização.

O almoço do Círio é umaoportunidade para as famíliasdemonstrarem a prodigalidade e afartura da comida, correspondentetambém à prodigalidade dasbênçãos e das graçasproporcionadas pela Virgem deNazaré. O número de participantesé muito variável entre as famílias,chegando algumas a reunir emtorno de 30 pessoas. Outras têmeste número diminuído quandoalguns membros decidem criar sua“independência” no almoço doCírio e começam a organizá-lo emsuas próprias casas, deixando departicipar na casa dos pais ouparentes. “A gente se separa,mas leva a tradição junto, né?”comenta uma devota.

Em função do elevado preço dopato, muitas famílias trocaram-no

por frango, porco ou mesmo peloperu-no-tucupi, o “pato-no-tucupi genérico”, como dizem.Mas, para os devotos, a substituiçãogera conflitos com a tradição comonos comentários do tipo “Olha, nacasa do fulano era pato mesmo!Era verdadeiro o pato-no-tucupi’”.Criar o pato tornou-se umaatividade arriscada, pois é grande apossibilidade de a ave ser roubadana época do Círio. Uma mulherjá chegou a guardar um pato nobanheiro, com medo de que fosseroubado. A sina dos patos noCírio já foi motivo até de chargespublicadas em jornais, como título de “paticídio”.

É comum os devotos sereferirem ao almoço do Círio comoo “Natal dos paraenses”. Algunsdizem que podem até deixar defazer a ceia do Natal, mas nuncadeixariam de fazer o almoço do Círio.

ALMOÇO DOCÍRIO, O NATALDOS PARAENSES

festa com criançasdurante o círio.foto: franciscocosta.

página ao ladopimenta de cheirousada no tempero dopato-no-tucupi.

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Uma entrevista realizada comuma família de devotos revelou umaspecto curioso do almoço doCírio: a participação de adeptosde outras religiões. “Eu participo deuma religião evangélica, não possofestejar por causa da minha mãeque é da crença evangélica e nãoaceita essas coisas do Círiona minha casa. Mas só que euparticipo, vou na casa dos amigos,como, bebo, festejo junto comeles”, diz um rapaz oriundo de umafamília evangélica, seguidora daAssembléia de Deus. E justificavasua participação no almoço doCírio da seguinte forma: “Nesseponto eu não sou nem evangélico,nem católico, entende? O almoço do

Círio é só uma festa para mim,como outra qualquer. Acho queé uma festa muito bonita”.38

De fato, o almoço do Círio pode terdiversos significados. Para uns, é

uma prática religiosa; para outros,trata-se de uma tradição. Mas hátambém os que dizem: “A gente sepreocupa bem mais com a reuniãoda família do que com areligiosidade”. Para esses o almoçoseria mais “um momento deconfraternização, quando assensibilidades estão à flor da pele”.Esta é uma opinião comum entreos mais jovens39. “Círio sem almoçonão existe, assim como não existeo Círio sem a maniçoba”, diz umentrevistado. E todos, afinal,concordam que o almoço do Círio

tanto faz parte de uma cerimôniareligiosa, quanto de um momentode confraternização, de reuniãodos amigos e familiares.

maçãs carameladasvendidas durante afesta do círio. foto:francisco costa

barraca de vendado tucupi. foto:francisco costa.

abaixoingredientes usadosno preparo do pato-no-tucupi.foto: franciscocosta.

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Uma entrevista realizada comuma família de devotos revelou umaspecto curioso do almoço doCírio: a participação de adeptosde outras religiões. “Eu participo deuma religião evangélica, não possofestejar por causa da minha mãeque é da crença evangélica e nãoaceita essas coisas do Círiona minha casa. Mas só que euparticipo, vou na casa dos amigos,como, bebo, festejo junto comeles”, diz um rapaz oriundo de umafamília evangélica, seguidora daAssembléia de Deus. E justificavasua participação no almoço doCírio da seguinte forma: “Nesseponto eu não sou nem evangélico,nem católico, entende? O almoço do

Círio é só uma festa para mim,como outra qualquer. Acho queé uma festa muito bonita”.38

De fato, o almoço do Círio pode terdiversos significados. Para uns, é

uma prática religiosa; para outros,trata-se de uma tradição. Mas hátambém os que dizem: “A gente sepreocupa bem mais com a reuniãoda família do que com areligiosidade”. Para esses o almoçoseria mais “um momento deconfraternização, quando assensibilidades estão à flor da pele”.Esta é uma opinião comum entreos mais jovens39. “Círio sem almoçonão existe, assim como não existeo Círio sem a maniçoba”, diz umentrevistado. E todos, afinal,concordam que o almoço do Círio

tanto faz parte de uma cerimôniareligiosa, quanto de um momentode confraternização, de reuniãodos amigos e familiares.

maçãs carameladasvendidas durante afesta do círio. foto:francisco costa

barraca de vendado tucupi. foto:francisco costa.

abaixoingredientes usadosno preparo do pato-no-tucupi.foto: franciscocosta.

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O arrastão do boi pavulagem é umcortejo de cultura popular que

agrega pessoas de todas as idades emtorno da brincadeira do boi-bumbá, principal elemento cênicoda atividade, e de outrasmanifestações culturais do estado,pelas ruas de Belém. Manifestaçãorecentemente introduzida naprogramação cultural da festa(1999), o arrastão acontece semprena véspera do Círio de Nazaré.

É um desdobramento dosarrastões promovidos no mêsde junho por toda a cidade. Teminício após a chegada da procissão

pluvial à escadinha do cais do porto,depois da saída da romaria dos

motoqueiros, terminando na feirade brinquedos de miriti, na praça FreiCaetano Brandão (Largo da Sé)e na praça do Carmo, ambas nobairro da Cidade Velha. Juntoa outros acontecimentos culturais

promovidos no período, marcaum dos aspectos do lado profanoda Festa de Nazaré.

Contando com elementostípicos da cultura paraense, oarrastão do boi pavulagem chama atençãopela sua estrutura física, queprocura agregar tanto os signosdo período das festividades deSão João (estandartes dos santos,bandeiras, adereços de mão), comoos signos regionais da cobra-

grande, dos cavalinhos,da orquestra de metais (trombone,saxofone, trompete), todos elesadvindos do boi-bumbá (boi tinga)do Município de São Caetanode Odivelas. Em 2001 foiintroduzida no cortejo a alegoriade uma cobra de 20 metrosconfeccionada em miriti.

O arrastão é sempreacompanhado por um grupo demúsicos, que tocam instrumentosrítmicos como tambores, matracas,barricas, chequeré, surdos e caixas.As toadas impõem ao cortejo umritmo alegre, durante todo o seudesenvolvimento.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 5 6

O auto do Círio é um espetáculode rua grandioso, com

ampla participação popular.O projeto, pensado pelaprofessora, atriz e diretora deteatro, Zélia Amador de Deus,acontece desde 1993 na noiteda sexta-feira que antecedea procissão principal do Círio.Trata-se de um cortejo de culturapopular, atualmente organizadopela Escola de Teatro da

Universidade Federal do Pará,com participação da classe artística.

O cortejo percorre as ruasdo bairro da Cidade Velha, comos artistas fantasiados (monstros,palhaços, anjos, diabos, bruxas,magos, ciganos, ladrões etc.),desenvolvendo performancesteatrais. Durante o percurso sãorealizadas paradas em estações

previamente determinadas,localizadas em frente a monumentoshistóricos. Os espetáculos demúsica, por exemplo, são realizadosem frente à Igreja da Sé; o teatro,na Igreja de Santo Alexandre;a dança, no Solar do Barão deGuajará, as exibições de folcloreparaense, na Capela de São JoãoBatista, e a apoteose carnavalesca,entre os palácios do governoestadual – Palácio Lauro Sodré –e do governo municipal –Palácio Antônio Lemos.

Ao longo dos anos foramincorporados elementos de escola-de-samba (bateria, samba-enredo,carros alegóricos, mestre-sala eporta-bandeira), caracterizandoa carnavalização do cortejo.Este espetáculo manifestaa relação entre sagrado e profanopresente durante todo o seudesenvolvimento, ou seja,começa como uma grandeprocissão que, posteriormente,transforma-se numa festa decarnaval. O cortejo teatral atraium grande público, formadopelos moradores da Cidade Velhae de outros bairros.

UM ESPETÁCULODE CULTURAPOPULAR

LÁ VEM VINDOO ARRASTÃO

vendedor ambulantede brinquedos demiriti. foto:francisco costa

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O arrastão do boi pavulagem é umcortejo de cultura popular que

agrega pessoas de todas as idades emtorno da brincadeira do boi-bumbá, principal elemento cênicoda atividade, e de outrasmanifestações culturais do estado,pelas ruas de Belém. Manifestaçãorecentemente introduzida naprogramação cultural da festa(1999), o arrastão acontece semprena véspera do Círio de Nazaré.

É um desdobramento dosarrastões promovidos no mêsde junho por toda a cidade. Teminício após a chegada da procissão

pluvial à escadinha do cais do porto,depois da saída da romaria dos

motoqueiros, terminando na feirade brinquedos de miriti, na praça FreiCaetano Brandão (Largo da Sé)e na praça do Carmo, ambas nobairro da Cidade Velha. Juntoa outros acontecimentos culturais

promovidos no período, marcaum dos aspectos do lado profanoda Festa de Nazaré.

Contando com elementostípicos da cultura paraense, oarrastão do boi pavulagem chama atençãopela sua estrutura física, queprocura agregar tanto os signosdo período das festividades deSão João (estandartes dos santos,bandeiras, adereços de mão), comoos signos regionais da cobra-

grande, dos cavalinhos,da orquestra de metais (trombone,saxofone, trompete), todos elesadvindos do boi-bumbá (boi tinga)do Município de São Caetanode Odivelas. Em 2001 foiintroduzida no cortejo a alegoriade uma cobra de 20 metrosconfeccionada em miriti.

O arrastão é sempreacompanhado por um grupo demúsicos, que tocam instrumentosrítmicos como tambores, matracas,barricas, chequeré, surdos e caixas.As toadas impõem ao cortejo umritmo alegre, durante todo o seudesenvolvimento.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 5 6

O auto do Círio é um espetáculode rua grandioso, com

ampla participação popular.O projeto, pensado pelaprofessora, atriz e diretora deteatro, Zélia Amador de Deus,acontece desde 1993 na noiteda sexta-feira que antecedea procissão principal do Círio.Trata-se de um cortejo de culturapopular, atualmente organizadopela Escola de Teatro da

Universidade Federal do Pará,com participação da classe artística.

O cortejo percorre as ruasdo bairro da Cidade Velha, comos artistas fantasiados (monstros,palhaços, anjos, diabos, bruxas,magos, ciganos, ladrões etc.),desenvolvendo performancesteatrais. Durante o percurso sãorealizadas paradas em estações

previamente determinadas,localizadas em frente a monumentoshistóricos. Os espetáculos demúsica, por exemplo, são realizadosem frente à Igreja da Sé; o teatro,na Igreja de Santo Alexandre;a dança, no Solar do Barão deGuajará, as exibições de folcloreparaense, na Capela de São JoãoBatista, e a apoteose carnavalesca,entre os palácios do governoestadual – Palácio Lauro Sodré –e do governo municipal –Palácio Antônio Lemos.

Ao longo dos anos foramincorporados elementos de escola-de-samba (bateria, samba-enredo,carros alegóricos, mestre-sala eporta-bandeira), caracterizandoa carnavalização do cortejo.Este espetáculo manifestaa relação entre sagrado e profanopresente durante todo o seudesenvolvimento, ou seja,começa como uma grandeprocissão que, posteriormente,transforma-se numa festa decarnaval. O cortejo teatral atraium grande público, formadopelos moradores da Cidade Velhae de outros bairros.

UM ESPETÁCULODE CULTURAPOPULAR

LÁ VEM VINDOO ARRASTÃO

vendedor ambulantede brinquedos demiriti. foto:francisco costa

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realizou-se a primeira festa das filhas

da Chiquita no sábado da trasladação,com a estrutura que conhecemoshoje, ou seja, carimbó tocado pelogrupo Borboletas do Mar, entregados prêmios “Veado de Ouro” e“Rainha do Círio” (o ganhador éescolhido independentemente desua opção sexual) e venda decerveja. A partir de 1979 artistaslocais começaram a participar doevento. Em 1997 introduziu-seo prêmio “Botina de Ouro”,destinado a uma homossexual.As diversas referências ao Círio eà própria Nossa Senhora de Nazaréna festa das filhas da Chiquita

apresentam, assim, um caráterde resistência, de contestação, debusca de espaço e reconhecimentosocial pelos homossexuais.

Em 1999 a festa comemorousua maioridade (21 anos) com arealização da “fresquena” –

“novena de fresco” –, com umapequena celebração realizada pelospróprios participantes do evento.A festa das filhas da Chiquita de 2002também ficou famosa em funçãode a data marcar os 24 anos desua existência.

A brincadeira começa logoapós a passagem da trasladação

pelo local. Dela participam gruposhomossexuais e simpatizantes dasociedade de Belém. As premiações

acontecem já de madrugada,no próprio dia do Círio, sendoaguardadas com bastanteansiedade pelo público.Nos últimos anos, houve umatentativa de institucionalizaçãoou de apropriação da festa pelopoder municipal, que passoua participar de sua organização,tendo o evento contado coma presença do prefeito e de outrasautoridades municipais. Há quemdiga que, com isso, a festa perdeuum pouco de seu caráterespontâneo e independente.

A festa das filhas da Chiquita tempermissão de realização concedidapela Prefeitura Municipal deBelém até às 4 horas da manhã.No entanto, a mesma se prolongade outras formas, por meiodo que um entrevistado definiucomo a “criatividade anárquica”dos participantes.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 5 8

E ntre tantas celebrações ligadasao Círio e à Festa de Nazaré

existem algumas que não sãoorganizadas pela diretoria da festa.Entre elas destaca-se a chamada festa

das filhas da Chiquita, repudiada peladiretoria da festa e pelas autoridadeseclesiásticas.

Nos carnavais de 1975 e 1976,grupos homossexuais esimpatizantes de Belémorganizaram um bloco carnavalesco

que saía das proximidades doextinto presídio São José,percorrendo as ruas do centro dacidade, até o Bar do Parque. Foi aorigem da polêmica festa das filhas da

Chiquita. Esse evento tem início nanoite do sábado que precede aprocissão principal do Círio eacontece, desde 1978, num doslugares por onde passam asprocissões da trasladação e do Círio,em frente ao chamado Bar do

Parque, na praça da República.O bar, que funciona 24 horas,fecha apenas no dia do Círio.

Lá aconteceu, em 1977, a festa de

Santo Antônio Casamenteiro, com aentrega, pela primeira vez, dosprêmios “Veado de ouro” e“Rainha do Círio”. No mesmoano realizou-se a “transveadação”(referência à trasladação) do veado deouro do bairro da Cidade Velha atéo Bar do Parque. Em 1978

A FESTA DASFILHASDA CHIQUITA

filhas da chiquita,detalhe. foto:francisco costa.

filhas da chiquita.manifestaçãoprofana surgida norastro da religiosae que premia oveado de ouro nanoite que antecedeo círio. foto:francisco costa.

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realizou-se a primeira festa das filhas

da Chiquita no sábado da trasladação,com a estrutura que conhecemoshoje, ou seja, carimbó tocado pelogrupo Borboletas do Mar, entregados prêmios “Veado de Ouro” e“Rainha do Círio” (o ganhador éescolhido independentemente desua opção sexual) e venda decerveja. A partir de 1979 artistaslocais começaram a participar doevento. Em 1997 introduziu-seo prêmio “Botina de Ouro”,destinado a uma homossexual.As diversas referências ao Círio eà própria Nossa Senhora de Nazaréna festa das filhas da Chiquita

apresentam, assim, um caráterde resistência, de contestação, debusca de espaço e reconhecimentosocial pelos homossexuais.

Em 1999 a festa comemorousua maioridade (21 anos) com arealização da “fresquena” –

“novena de fresco” –, com umapequena celebração realizada pelospróprios participantes do evento.A festa das filhas da Chiquita de 2002também ficou famosa em funçãode a data marcar os 24 anos desua existência.

A brincadeira começa logoapós a passagem da trasladação

pelo local. Dela participam gruposhomossexuais e simpatizantes dasociedade de Belém. As premiações

acontecem já de madrugada,no próprio dia do Círio, sendoaguardadas com bastanteansiedade pelo público.Nos últimos anos, houve umatentativa de institucionalizaçãoou de apropriação da festa pelopoder municipal, que passoua participar de sua organização,tendo o evento contado coma presença do prefeito e de outrasautoridades municipais. Há quemdiga que, com isso, a festa perdeuum pouco de seu caráterespontâneo e independente.

A festa das filhas da Chiquita tempermissão de realização concedidapela Prefeitura Municipal deBelém até às 4 horas da manhã.No entanto, a mesma se prolongade outras formas, por meiodo que um entrevistado definiucomo a “criatividade anárquica”dos participantes.

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E ntre tantas celebrações ligadasao Círio e à Festa de Nazaré

existem algumas que não sãoorganizadas pela diretoria da festa.Entre elas destaca-se a chamada festa

das filhas da Chiquita, repudiada peladiretoria da festa e pelas autoridadeseclesiásticas.

Nos carnavais de 1975 e 1976,grupos homossexuais esimpatizantes de Belémorganizaram um bloco carnavalesco

que saía das proximidades doextinto presídio São José,percorrendo as ruas do centro dacidade, até o Bar do Parque. Foi aorigem da polêmica festa das filhas da

Chiquita. Esse evento tem início nanoite do sábado que precede aprocissão principal do Círio eacontece, desde 1978, num doslugares por onde passam asprocissões da trasladação e do Círio,em frente ao chamado Bar do

Parque, na praça da República.O bar, que funciona 24 horas,fecha apenas no dia do Círio.

Lá aconteceu, em 1977, a festa de

Santo Antônio Casamenteiro, com aentrega, pela primeira vez, dosprêmios “Veado de ouro” e“Rainha do Círio”. No mesmoano realizou-se a “transveadação”(referência à trasladação) do veado deouro do bairro da Cidade Velha atéo Bar do Parque. Em 1978

A FESTA DASFILHASDA CHIQUITA

filhas da chiquita,detalhe. foto:francisco costa.

filhas da chiquita.manifestaçãoprofana surgida norastro da religiosae que premia oveado de ouro nanoite que antecedeo círio. foto:francisco costa.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 6 1

teve cobertura ao vivo da tv Nazaré(pertencente à arquidiocese).A entrega dos prêmios é feita noencerramento da Festividade deNazaré. Nos primeiros anosdo festival a premiação era emdinheiro, mas atualmente osvencedores ganham instrumentosmusicais.

E sta feira, que ocorre no sábadoe no domingo do Círio,

acontece nas praças do Carmoe Frei Caetano Brandão (Largoda Sé). Desde 1905 os brinquedos de

miriti constituem uma das principaistradições do Círio de Nazaré.41

O miriti, material utilizado nafabricação dos brinquedos,é retirado da palmeira do mesmonome, que cresce nas regiões devárzea da Amazônia. Trata-sede um material leve e maleável,mas que exige uma técnica especialpara ser trabalhado.

Os artesãos que fabricam osbrinquedos são originários domunicípio de Abaetetuba, próximoa Belém. Os brinquedos, pintadosem cores alegres, reproduzemaspectos da realidade ou doimaginário amazônico, comoanimais (botos, cobras, tatus,pássaros), embarcações (montarias,

batelões, canoas a vela, lanchas),objetos do trabalho cotidiano(pilões), aviões e figuras humanas.É comum ver-se promesseirosconduzindo esses brinquedosdurante a procissão principal doCírio, como forma de pagamentode promessa, ou seja,transformando-os em ex-votos.

Os brinquedos de miriti, que chegama ser exportados para outros estadose até para o exterior, são utilizadosnão somente no lazer infantil,mas também como objetos dedecoração. Além de seremencontrados na feira de brinquedos de

miriti são vendidos também porambulantes, expostos emgirândolas42 ao longo de todoo trajeto da procissão principaldo Círio.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 6 0

C om o objetivo de despertaro interesse e ampliar o

conhecimento em torno do Círio,a diretoria de evangelização da Festa de

Nazaré organiza, desde 1995, oconcurso de redação. O público-alvo doevento é formado por alunos doensino médio e vestibulandos.Os estudantes vencedores, assimcomo seus professores, recebemcomputadores como prêmio.

O evento começa a serpreparado no primeiro semestrede cada ano, quando são enviadasas primeiras cartas para as escolasde ensino médio, estimulando aparticipação dos estudantes. Cadainstituição de ensino (públicaou particular) pode inscrever seusalunos, desde que tenhamprofessores que os acompanhem.A redação vencedora do concursoem 2002 expressou com bastantepropriedade a emoção e o caráter

espetacular do Círio de Nazaré:“Os que estão na corda viram umúnico corpo que dança, flutuaao redor de Nossa Senhora.Os que atravessam rios e cidadesse fundem em um só pensamento,numa só emoção. Os que caemde joelhos, os que choram,os que criticam, os que amam,todos os personagens entramnessa coreografia de fée devoção.”40 O concurso édivulgado pelas redes de rádioe tv, por meio de cartazes epela internet.

O festival da canção mariana, ou Fescan,acontece bienalmente na

concha acústica da praça Santuário,em frente à Basílica de Nazaré.Foi criado em 1991 pela comissão de

culto e pastoral da diretoria da festa, tendocomo finalidade propiciar ummomento de encontro deevangelização e descontraçãopara os jovens.

É uma atividade musical emque jovens católicos, em suamaioria, apresentam músicasem homenagem a Nossa Senhora,ainda que haja participantes detodas as idades. As composiçõesdevem ser de cunho mariano, ouconter aspectos do Círio de Nazaré.

O festival acontece no primeirofinal de semana após a procissãodo Círio. Na sexta-feira ocorre aprimeira eliminatória, no sábadoa segunda e, no domingo, a grandefinal que, no ano de 2002,

COMPUTADORESPARAAS MELHORESREDAÇÕES

INSTRUMENTOSMUSICAIS PARAAS MELHORESCANÇÕES

A FEIRA DEBRINQUEDOSDE MIRITI

menino vendendobrinquedos demiriti. ao fundotorre do mercadodo peixe.

página ao ladobrinquedos demiriti, detalhe.foto: franciscocosta.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 6 1

teve cobertura ao vivo da tv Nazaré(pertencente à arquidiocese).A entrega dos prêmios é feita noencerramento da Festividade deNazaré. Nos primeiros anosdo festival a premiação era emdinheiro, mas atualmente osvencedores ganham instrumentosmusicais.

E sta feira, que ocorre no sábadoe no domingo do Círio,

acontece nas praças do Carmoe Frei Caetano Brandão (Largoda Sé). Desde 1905 os brinquedos de

miriti constituem uma das principaistradições do Círio de Nazaré.41

O miriti, material utilizado nafabricação dos brinquedos,é retirado da palmeira do mesmonome, que cresce nas regiões devárzea da Amazônia. Trata-sede um material leve e maleável,mas que exige uma técnica especialpara ser trabalhado.

Os artesãos que fabricam osbrinquedos são originários domunicípio de Abaetetuba, próximoa Belém. Os brinquedos, pintadosem cores alegres, reproduzemaspectos da realidade ou doimaginário amazônico, comoanimais (botos, cobras, tatus,pássaros), embarcações (montarias,

batelões, canoas a vela, lanchas),objetos do trabalho cotidiano(pilões), aviões e figuras humanas.É comum ver-se promesseirosconduzindo esses brinquedosdurante a procissão principal doCírio, como forma de pagamentode promessa, ou seja,transformando-os em ex-votos.

Os brinquedos de miriti, que chegama ser exportados para outros estadose até para o exterior, são utilizadosnão somente no lazer infantil,mas também como objetos dedecoração. Além de seremencontrados na feira de brinquedos de

miriti são vendidos também porambulantes, expostos emgirândolas42 ao longo de todoo trajeto da procissão principaldo Círio.

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C om o objetivo de despertaro interesse e ampliar o

conhecimento em torno do Círio,a diretoria de evangelização da Festa de

Nazaré organiza, desde 1995, oconcurso de redação. O público-alvo doevento é formado por alunos doensino médio e vestibulandos.Os estudantes vencedores, assimcomo seus professores, recebemcomputadores como prêmio.

O evento começa a serpreparado no primeiro semestrede cada ano, quando são enviadasas primeiras cartas para as escolasde ensino médio, estimulando aparticipação dos estudantes. Cadainstituição de ensino (públicaou particular) pode inscrever seusalunos, desde que tenhamprofessores que os acompanhem.A redação vencedora do concursoem 2002 expressou com bastantepropriedade a emoção e o caráter

espetacular do Círio de Nazaré:“Os que estão na corda viram umúnico corpo que dança, flutuaao redor de Nossa Senhora.Os que atravessam rios e cidadesse fundem em um só pensamento,numa só emoção. Os que caemde joelhos, os que choram,os que criticam, os que amam,todos os personagens entramnessa coreografia de fée devoção.”40 O concurso édivulgado pelas redes de rádioe tv, por meio de cartazes epela internet.

O festival da canção mariana, ou Fescan,acontece bienalmente na

concha acústica da praça Santuário,em frente à Basílica de Nazaré.Foi criado em 1991 pela comissão de

culto e pastoral da diretoria da festa, tendocomo finalidade propiciar ummomento de encontro deevangelização e descontraçãopara os jovens.

É uma atividade musical emque jovens católicos, em suamaioria, apresentam músicasem homenagem a Nossa Senhora,ainda que haja participantes detodas as idades. As composiçõesdevem ser de cunho mariano, ouconter aspectos do Círio de Nazaré.

O festival acontece no primeirofinal de semana após a procissãodo Círio. Na sexta-feira ocorre aprimeira eliminatória, no sábadoa segunda e, no domingo, a grandefinal que, no ano de 2002,

COMPUTADORESPARAAS MELHORESREDAÇÕES

INSTRUMENTOSMUSICAIS PARAAS MELHORESCANÇÕES

A FEIRA DEBRINQUEDOSDE MIRITI

menino vendendobrinquedos demiriti. ao fundotorre do mercadodo peixe.

página ao ladobrinquedos demiriti, detalhe.foto: franciscocosta.

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na ocasião dos diversos eventos quecompõem a festividade. Esta guardaatua uniformizada, porémdesarmada. Sua função é evitar,pelo convencimento, excessos quepossam ocorrer nos eventos,funcionando como um elementodisciplinador durante a procissão.

Em 1995, por questões desegurança, houve uma alteraçãono ponto de fixação ou atrelamento

da corda na berlinda, para evitar quea corda tivesse de fazer uma curvade 90º numa via estreita nasproximidades da doca do Ver-o-Peso, responsável por muitosacidentes. O atrelamento deixouentão de ser feito na praça FreiCaetano Brandão, em frente àcatedral, passando para o boulevard

Castilhos França, em frente aomercado de peixe. Também nesseano, a diretoria da festa começou apreparar a sonorização da procissão

do Círio. A parte comercial e deevangelização da sonorização, queantes era feita com pequenos carrosde som, de alcance limitado, passoua ser realizada pela Rádio Nazaré.

O Círio mais demorado detodos os tempos foi o de 2000,

quando a imagem da Virgem deNazaré chegou à basílica às 15:45 h.A corda ficou atrelada à berlinda

o tempo todo, tanto na trasladação

como no Círio. No mesmo ano,o carro do Plácido foi incorporadoà procissão, como forma de

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 6 2

N os seus primeiros anos deexistência o Círio e a Festa

de Nazaré eram organizados pelaIrmandade de Nossa Senhora deNazaré, nos moldes do queacontecia com outras festas desantos nos períodos colonial eimperial. Na ocasião do primeiroconflito que ocorreu com o Círio,nos anos 70 do século xix, o bispodo Pará, Dom Antônio de MacedoCosta, nomeou uma comissão

de confreiros e religiosos paragerir as festividades em honra àNossa Senhora de Nazaré.A Irmandade de Nazaré aos poucosfoi perdendo sua importância, atéser substituída por uma diretoria,instituída em 1910.

Atualmente quem organiza oCírio e a Festa de Nazaré, desdesuas primeiras manifestações, coma missa do mandato, até o seu término,com o recírio, é a diretoria da festa,constituída por 35 representantesde vários segmentos da sociedadelocal. Cada diretor é responsávelpor determinados aspectos daorganização da festa, havendo entreeles um presidente, eleito por doisanos. Todo o trabalho é feito,porém, sob a supervisão do párocode Nazaré. A diretoria trabalhadurante o ano inteiro, mas quandose aproxima a data do Círio passa ase reunir todas as noites.

Embora da composição dadiretoria oficialmente só participemos homens, o trabalho é, narealidade, feito pelo casal, cabendoàs mulheres a organização de váriosaspectos do ritual, entre elesa decoração da berlinda e asprovidências para a confecçãodo manto que, todos os anos, vestea imagem da santa. Neste últimocaso, a encarregada de suaconfecção produz vários modelosque são apresentados às mulheresdos diretores da festa. Estas escolhemtrês deles e os apresentam aopresidente da diretoria da festa de

Nazaré, que é sempre o pároco deNazaré, cabendo a ele decidir qualserá o modelo final.

Além da diretoria, que exercede fato a gestão da festa religiosa,destaca-se atualmente uma outraorganização, que é a guarda da santa,cuja finalidade é garantir a ordem

ORGANIZAÇÃO EGESTÃO DO CÍRIO

abaixoantiga diretoria,com dom irineujoffily.

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na ocasião dos diversos eventos quecompõem a festividade. Esta guardaatua uniformizada, porémdesarmada. Sua função é evitar,pelo convencimento, excessos quepossam ocorrer nos eventos,funcionando como um elementodisciplinador durante a procissão.

Em 1995, por questões desegurança, houve uma alteraçãono ponto de fixação ou atrelamento

da corda na berlinda, para evitar quea corda tivesse de fazer uma curvade 90º numa via estreita nasproximidades da doca do Ver-o-Peso, responsável por muitosacidentes. O atrelamento deixouentão de ser feito na praça FreiCaetano Brandão, em frente àcatedral, passando para o boulevard

Castilhos França, em frente aomercado de peixe. Também nesseano, a diretoria da festa começou apreparar a sonorização da procissão

do Círio. A parte comercial e deevangelização da sonorização, queantes era feita com pequenos carrosde som, de alcance limitado, passoua ser realizada pela Rádio Nazaré.

O Círio mais demorado detodos os tempos foi o de 2000,

quando a imagem da Virgem deNazaré chegou à basílica às 15:45 h.A corda ficou atrelada à berlinda

o tempo todo, tanto na trasladação

como no Círio. No mesmo ano,o carro do Plácido foi incorporadoà procissão, como forma de

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N os seus primeiros anos deexistência o Círio e a Festa

de Nazaré eram organizados pelaIrmandade de Nossa Senhora deNazaré, nos moldes do queacontecia com outras festas desantos nos períodos colonial eimperial. Na ocasião do primeiroconflito que ocorreu com o Círio,nos anos 70 do século xix, o bispodo Pará, Dom Antônio de MacedoCosta, nomeou uma comissão

de confreiros e religiosos paragerir as festividades em honra àNossa Senhora de Nazaré.A Irmandade de Nazaré aos poucosfoi perdendo sua importância, atéser substituída por uma diretoria,instituída em 1910.

Atualmente quem organiza oCírio e a Festa de Nazaré, desdesuas primeiras manifestações, coma missa do mandato, até o seu término,com o recírio, é a diretoria da festa,constituída por 35 representantesde vários segmentos da sociedadelocal. Cada diretor é responsávelpor determinados aspectos daorganização da festa, havendo entreeles um presidente, eleito por doisanos. Todo o trabalho é feito,porém, sob a supervisão do párocode Nazaré. A diretoria trabalhadurante o ano inteiro, mas quandose aproxima a data do Círio passa ase reunir todas as noites.

Embora da composição dadiretoria oficialmente só participemos homens, o trabalho é, narealidade, feito pelo casal, cabendoàs mulheres a organização de váriosaspectos do ritual, entre elesa decoração da berlinda e asprovidências para a confecçãodo manto que, todos os anos, vestea imagem da santa. Neste últimocaso, a encarregada de suaconfecção produz vários modelosque são apresentados às mulheresdos diretores da festa. Estas escolhemtrês deles e os apresentam aopresidente da diretoria da festa de

Nazaré, que é sempre o pároco deNazaré, cabendo a ele decidir qualserá o modelo final.

Além da diretoria, que exercede fato a gestão da festa religiosa,destaca-se atualmente uma outraorganização, que é a guarda da santa,cuja finalidade é garantir a ordem

ORGANIZAÇÃO EGESTÃO DO CÍRIO

abaixoantiga diretoria,com dom irineujoffily.

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homenagear o caboclo queencontrou a imagem. Atualmente,a berlinda leva cerca de cinco horaspara chegar à praça Santuário.A procissão principal do Círio deNazaré começa por volta das7 horas da manhã de domingo.Segundo estatísticas oficiais, cercade um milhão e meio de pessoassaem às ruas para acompanhar,rezar, aplaudir e pagar promessas.

Toda a organização do eventocabe à diretoria da festa, que ésubdividida em nove comissões.Tão logo acabam as atividades doCírio, os diretores já começam atrabalhar na organização da festado ano seguinte. Desde suacriação, os membros da diretoria da

festa têm uma preocupação muitogrande com a organização do Círiode Nazaré. Diversas iniciativasforam tomadas nesse sentido, umaspartindo da própria diretoria, outras

atendendo a reivindicações dosdevotos, como as iniciativas desonorização, segurança e mesmoas que têm como objetivo preservara tradição, tais como o círio das

crianças, o concurso de redação e asnovas romarias. Só que, muitasvezes, medidas que são pensadascomo racionalizadoras da procissãoacabam gerando conflitos com osdevotos, como aqueles queenvolveram a berlinda e a corda.

Segundo Arnaldo Pinheiro,da diretoria da festa, todo o eventomobiliza recursos em torno deoitocentos mil reais. Desse total,cerca de 60% são financiados pelosgovernos estadual e municipal.O restante é conseguido cominstituições públicas e privadas,e doações espontâneas de devotos.Quando sobra dinheiro, este édividido entre a Arquidiocese deBelém, a Congregação dos PadresBarnabitas e obras sociais daParóquia de Nazaré.

Um incêndio ocorrido em umaloja (Casa Chama) próximo aomercado Ver-O-Peso, no diado Círio de 2002, exigiu algumasalterações no trajeto da procissão,que teve que ser adiantada cerca de300 metros e alterada a ordem doscarros. A corda continuou no seuponto de saída tradicional, oboulevard Castilhos França e a berlinda

seguiu à frente da procissão,chegando na praça Santuário às11:15 h. Em função disso, muitosdevotos que se prepararam para vera imagem chegar na praçaSantuário no horário costumeiro,por volta das 13 ou 14 horas,ficaram frustrados.

Com o passar dos anos, aprocissão principal do Círio deNazaré foi ampliando o lequede homenagens prestadas à NossaSenhora de Nazaré. A cada anoa festa se amplia, desdobrando-seem outras tantas celebrações quepassam a compor o Círio deNazaré como um todo. Enquantocertas tradições surgem edesaparecem, outras permaneceme passam a constituir elementosessenciais da romaria.

fiel carregandoum pedaço dacorda. foto:francisco costa.

catedral da séde belém. foto:francisco costa.

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homenagear o caboclo queencontrou a imagem. Atualmente,a berlinda leva cerca de cinco horaspara chegar à praça Santuário.A procissão principal do Círio deNazaré começa por volta das7 horas da manhã de domingo.Segundo estatísticas oficiais, cercade um milhão e meio de pessoassaem às ruas para acompanhar,rezar, aplaudir e pagar promessas.

Toda a organização do eventocabe à diretoria da festa, que ésubdividida em nove comissões.Tão logo acabam as atividades doCírio, os diretores já começam atrabalhar na organização da festado ano seguinte. Desde suacriação, os membros da diretoria da

festa têm uma preocupação muitogrande com a organização do Círiode Nazaré. Diversas iniciativasforam tomadas nesse sentido, umaspartindo da própria diretoria, outras

atendendo a reivindicações dosdevotos, como as iniciativas desonorização, segurança e mesmoas que têm como objetivo preservara tradição, tais como o círio das

crianças, o concurso de redação e asnovas romarias. Só que, muitasvezes, medidas que são pensadascomo racionalizadoras da procissãoacabam gerando conflitos com osdevotos, como aqueles queenvolveram a berlinda e a corda.

Segundo Arnaldo Pinheiro,da diretoria da festa, todo o eventomobiliza recursos em torno deoitocentos mil reais. Desse total,cerca de 60% são financiados pelosgovernos estadual e municipal.O restante é conseguido cominstituições públicas e privadas,e doações espontâneas de devotos.Quando sobra dinheiro, este édividido entre a Arquidiocese deBelém, a Congregação dos PadresBarnabitas e obras sociais daParóquia de Nazaré.

Um incêndio ocorrido em umaloja (Casa Chama) próximo aomercado Ver-O-Peso, no diado Círio de 2002, exigiu algumasalterações no trajeto da procissão,que teve que ser adiantada cerca de300 metros e alterada a ordem doscarros. A corda continuou no seuponto de saída tradicional, oboulevard Castilhos França e a berlinda

seguiu à frente da procissão,chegando na praça Santuário às11:15 h. Em função disso, muitosdevotos que se prepararam para vera imagem chegar na praçaSantuário no horário costumeiro,por volta das 13 ou 14 horas,ficaram frustrados.

Com o passar dos anos, aprocissão principal do Círio deNazaré foi ampliando o lequede homenagens prestadas à NossaSenhora de Nazaré. A cada anoa festa se amplia, desdobrando-seem outras tantas celebrações quepassam a compor o Círio deNazaré como um todo. Enquantocertas tradições surgem edesaparecem, outras permaneceme passam a constituir elementosessenciais da romaria.

fiel carregandoum pedaço dacorda. foto:francisco costa.

catedral da séde belém. foto:francisco costa.

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O círio como objeto de registro

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 6 7

Em termos de comparação,o Círio é a correspondência

humana da pororoca”. Com estaspalavras o escritor Eidorfe Moreiradefiniu o Círio de Nazaré.43

Nas palavras de outro escritor,Leandro Tocantins, muitosromeiros “não conseguem romperos caminhos tomados de gente eficam em lugares onde possamjuntar-se ao caudal humano, que,à semelhança de um rio imenso,vai recebendo nas ruas e travessasa contribuição de afluentesvolumosos de romeiros”.44

Para muitos, o Círio é o diado retorno à terra natal, doreencontro com amigos, familiarese com a cidade de Belém.Da mesma forma que no resto domundo se diz “Feliz Natal!”, noPará se diz “Feliz Círio!”, “um bomcírio pra você!” Por tudo isso,pode-se afirmar que o Círio de

Nazaré é um elemento fundamentalda identidade do paraense. Comodisse o jornalista Angelim Netto,em artigo para o jornal Folha do Norte

em 1926: “Trabalha-se no Pará oano todo, sofrendo as necessidades,para em outubro vestir uma roupanova e almoçar como um príncipeno dia do Círio. O Pará, sem afesta de Nazaré, não seria Pará”.45

Diante da grandiosidade eimportância de uma manifestaçãode mais de 200 anos, édesnecessário falar em extinção.É claro que muitos aspectos doCírio sofreram alterações ao longodos anos, o que não poderia serdiferente em se tratando de umfenômeno cultural. Mas não épossível afirmar, como o fez ClóvisMeira, que “a tradiçãodesapareceu”.46 A tradiçãotransformou-se, recriou-se,atualizou-se, acompanhando

a dinâmica da história.O reconhecimento de um bem

de natureza imaterial comopatrimônio cultural brasileiro,por meio do Registro, atribui a elevalor representativo da culturae da identidade brasileiras.Ao chancelar determinadamanifestação cultural com essetítulo, a União assume tanto aresponsabilidade de acompanharos possíveis desdobramentose reflexos desse ato sobre o bem,quanto o compromisso com a suapreservação. Compromisso esteque se traduz na sua divulgaçãoe valorização, e também narecomendação de ações parasua salvaguarda.

Se não há razão parapreocupações com odesaparecimento do Círio de Nazaré,há uma série de medidas que podemser adotadas para sua preservação e

REGISTRO DEMEMÓRIA,TRADIÇÃOE IDENTIDADE

página ao lado saída da procissãoda catedral da séde belém.foto: luiz braga.

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O círio como objeto de registro

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Em termos de comparação,o Círio é a correspondência

humana da pororoca”. Com estaspalavras o escritor Eidorfe Moreiradefiniu o Círio de Nazaré.43

Nas palavras de outro escritor,Leandro Tocantins, muitosromeiros “não conseguem romperos caminhos tomados de gente eficam em lugares onde possamjuntar-se ao caudal humano, que,à semelhança de um rio imenso,vai recebendo nas ruas e travessasa contribuição de afluentesvolumosos de romeiros”.44

Para muitos, o Círio é o diado retorno à terra natal, doreencontro com amigos, familiarese com a cidade de Belém.Da mesma forma que no resto domundo se diz “Feliz Natal!”, noPará se diz “Feliz Círio!”, “um bomcírio pra você!” Por tudo isso,pode-se afirmar que o Círio de

Nazaré é um elemento fundamentalda identidade do paraense. Comodisse o jornalista Angelim Netto,em artigo para o jornal Folha do Norte

em 1926: “Trabalha-se no Pará oano todo, sofrendo as necessidades,para em outubro vestir uma roupanova e almoçar como um príncipeno dia do Círio. O Pará, sem afesta de Nazaré, não seria Pará”.45

Diante da grandiosidade eimportância de uma manifestaçãode mais de 200 anos, édesnecessário falar em extinção.É claro que muitos aspectos doCírio sofreram alterações ao longodos anos, o que não poderia serdiferente em se tratando de umfenômeno cultural. Mas não épossível afirmar, como o fez ClóvisMeira, que “a tradiçãodesapareceu”.46 A tradiçãotransformou-se, recriou-se,atualizou-se, acompanhando

a dinâmica da história.O reconhecimento de um bem

de natureza imaterial comopatrimônio cultural brasileiro,por meio do Registro, atribui a elevalor representativo da culturae da identidade brasileiras.Ao chancelar determinadamanifestação cultural com essetítulo, a União assume tanto aresponsabilidade de acompanharos possíveis desdobramentose reflexos desse ato sobre o bem,quanto o compromisso com a suapreservação. Compromisso esteque se traduz na sua divulgaçãoe valorização, e também narecomendação de ações parasua salvaguarda.

Se não há razão parapreocupações com odesaparecimento do Círio de Nazaré,há uma série de medidas que podemser adotadas para sua preservação e

REGISTRO DEMEMÓRIA,TRADIÇÃOE IDENTIDADE

página ao lado saída da procissãoda catedral da séde belém.foto: luiz braga.

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perceber que “relembrar o passadoé crucial para nosso sentido deidentidade: saber o que fomosconfirma o que somos. Nossacontinuidade dependeinteiramente da memória”.48

Nele, os paraenses sintetizam suaidentidade não apenas ao evocaruma sequência de reminiscências,mas ao serem envolvidos em umateia de retrospecção unificadora.As lembranças coletivas sãomobilizadas para sustentaridentidades associativas duradouras.

O Círio também desperta ereforça o valor da solidariedadeentre as pessoas que deleparticipam, aguçando o sentidode comunhão. Enquanto muitosdevotos distribuem água ao longoda procissão, outros auxiliam osque desmaiam de emoção ou quesão sufocados pelo calor. Há aindaaqueles que ajudam os que fizeram

promessa de cumprir uma partedo trajeto de joelhos, segurando-ospelos braços, limpando o caminhoou abanando-os para aliviar ocalor. Os romeiros que chegamdo interior logo encontramacolhimento na casa de alguém,muitas vezes desconhecido.

A trajetória de cada devoto é,ao mesmo tempo, única e coletiva,uma vez que expressa o conjuntodos problemas e das afliçõescomuns à coletividade dosparaenses e mesmo dos brasileiros.Identificam-se na devoçãoelementos comuns à culturanacional, tais como a religiosidadepopular marcada pela peculiarrelação sagrado-profano, o cultodos santos, bem como a idéia decomunhão nacional, para alémde todas as singularidadesregionais. Na procissão vêem-seos promesseiros carregando ex-votos

representando casas, barcos, partesdo corpo, animais, materiais deconstrução, mostrando ao mesmotempo os males e as alternativasencontradas para a resolução deseus problemas.

A procissão principal do Círiode Nazaré é um desfile etnográfico.Diante do descaso dos poderesconstituídos, diante da profundadesigualdade social que marca opaís, muitos buscam auxílio na fé.A religiosidade que caracterizao Círio de Nazaré é marcada pelaexperiência da angústia, da dor,mas também da esperança, da fé nopoder supra-humano da Virgem deNazaré. Nas palavras de LeandroTocantins, “a cidade cria, nodomingo do Círio, uma nova alma.Transfigura-se. Perde o seu modode ser cotidiano”.49

Delimitar o objeto de registrocomo patrimônio histórico e

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 6 8

para maior segurança daqueles queacompanham o Círio e a trasladação,bem como as demais programaçõesreligiosas e culturais que integram afesta. Uma procissão que conta coma participação de cerca de um milhãoe meio de pessoas num só dia,constitui um desafio sob qualqueraspecto. Sobretudo quando elaacontece há mais de 200 anos sobreo mesmo espaço físico,independentemente da quantidadede pessoas que dela participam.Como organizar tanta gente? Comoevitar que as pessoas se machuquem,principalmente porque as ruas deBelém se tornam pequenos caminhosno dia da procissão? Como avaliaro limite desse espaço físico emrelação ao número máximo depessoas em condições de segurançapara ambos?

Não se pode perder de vistaque a força da manifestação

está na participação popular.São os devotos, os romeiros eos promesseiros os maioresresponsáveis pela continuidadeda tradição nesses 211 anos.É importante incentivar ações deeducação patrimonial, por meio dosistema educacional e das própriasparóquias, para que valorizem afesta do Círio também comopatrimônio cultural, e não apenassob o enfoque religioso.

É preciso conviver com o sagradoe com o profano. Afinal, eles nãose excluem, complementam-see fazem parte dessa grandiosamanifestação que a cada ano pareceaumentar sua “área de captação”,expressão utilizada por EidorfeMoreira ao referir-se à área deabrangência da procissão, cujoslimites geográficos são imprecisos,sobretudo quando começam a servistos com interesse turístico.47

Todos os anos os jornais editamcadernos especiais narrando asorigens do Círio e os principaisconflitos ao longo da história;a televisão convida especialistas notema para responder quase sempreas mesmas perguntas, como aimportância da imagem de Mariana vida das pessoas, o significado dacorda, das promessas, a força da fé.De fato, o Círio de Nazaré é umritual da memória. Ele nos permite

detalhe de devotasegurando terçoe bíblia. foto: luiz braga.

ritual de cortara corda quecaracteriza o fimda procissão docírio. foto:francisco costa

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perceber que “relembrar o passadoé crucial para nosso sentido deidentidade: saber o que fomosconfirma o que somos. Nossacontinuidade dependeinteiramente da memória”.48

Nele, os paraenses sintetizam suaidentidade não apenas ao evocaruma sequência de reminiscências,mas ao serem envolvidos em umateia de retrospecção unificadora.As lembranças coletivas sãomobilizadas para sustentaridentidades associativas duradouras.

O Círio também desperta ereforça o valor da solidariedadeentre as pessoas que deleparticipam, aguçando o sentidode comunhão. Enquanto muitosdevotos distribuem água ao longoda procissão, outros auxiliam osque desmaiam de emoção ou quesão sufocados pelo calor. Há aindaaqueles que ajudam os que fizeram

promessa de cumprir uma partedo trajeto de joelhos, segurando-ospelos braços, limpando o caminhoou abanando-os para aliviar ocalor. Os romeiros que chegamdo interior logo encontramacolhimento na casa de alguém,muitas vezes desconhecido.

A trajetória de cada devoto é,ao mesmo tempo, única e coletiva,uma vez que expressa o conjuntodos problemas e das afliçõescomuns à coletividade dosparaenses e mesmo dos brasileiros.Identificam-se na devoçãoelementos comuns à culturanacional, tais como a religiosidadepopular marcada pela peculiarrelação sagrado-profano, o cultodos santos, bem como a idéia decomunhão nacional, para alémde todas as singularidadesregionais. Na procissão vêem-seos promesseiros carregando ex-votos

representando casas, barcos, partesdo corpo, animais, materiais deconstrução, mostrando ao mesmotempo os males e as alternativasencontradas para a resolução deseus problemas.

A procissão principal do Círiode Nazaré é um desfile etnográfico.Diante do descaso dos poderesconstituídos, diante da profundadesigualdade social que marca opaís, muitos buscam auxílio na fé.A religiosidade que caracterizao Círio de Nazaré é marcada pelaexperiência da angústia, da dor,mas também da esperança, da fé nopoder supra-humano da Virgem deNazaré. Nas palavras de LeandroTocantins, “a cidade cria, nodomingo do Círio, uma nova alma.Transfigura-se. Perde o seu modode ser cotidiano”.49

Delimitar o objeto de registrocomo patrimônio histórico e

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para maior segurança daqueles queacompanham o Círio e a trasladação,bem como as demais programaçõesreligiosas e culturais que integram afesta. Uma procissão que conta coma participação de cerca de um milhãoe meio de pessoas num só dia,constitui um desafio sob qualqueraspecto. Sobretudo quando elaacontece há mais de 200 anos sobreo mesmo espaço físico,independentemente da quantidadede pessoas que dela participam.Como organizar tanta gente? Comoevitar que as pessoas se machuquem,principalmente porque as ruas deBelém se tornam pequenos caminhosno dia da procissão? Como avaliaro limite desse espaço físico emrelação ao número máximo depessoas em condições de segurançapara ambos?

Não se pode perder de vistaque a força da manifestação

está na participação popular.São os devotos, os romeiros eos promesseiros os maioresresponsáveis pela continuidadeda tradição nesses 211 anos.É importante incentivar ações deeducação patrimonial, por meio dosistema educacional e das própriasparóquias, para que valorizem afesta do Círio também comopatrimônio cultural, e não apenassob o enfoque religioso.

É preciso conviver com o sagradoe com o profano. Afinal, eles nãose excluem, complementam-see fazem parte dessa grandiosamanifestação que a cada ano pareceaumentar sua “área de captação”,expressão utilizada por EidorfeMoreira ao referir-se à área deabrangência da procissão, cujoslimites geográficos são imprecisos,sobretudo quando começam a servistos com interesse turístico.47

Todos os anos os jornais editamcadernos especiais narrando asorigens do Círio e os principaisconflitos ao longo da história;a televisão convida especialistas notema para responder quase sempreas mesmas perguntas, como aimportância da imagem de Mariana vida das pessoas, o significado dacorda, das promessas, a força da fé.De fato, o Círio de Nazaré é umritual da memória. Ele nos permite

detalhe de devotasegurando terçoe bíblia. foto: luiz braga.

ritual de cortara corda quecaracteriza o fimda procissão docírio. foto:francisco costa

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A procissão principalA procissão principal do Círiode Nossa Senhora de Nazarécorresponde ao traslado da imagem

peregrina da Catedral da Sé, nobairro da Cidade Velha, até a praçaSantuário, no bairro de Nazaré.Mesmo que não seja uma das maisantigas procissões da cidade e queNossa Senhora de Nazaré não sejaa padroeira oficial de Belém, é,sem dúvida, a romaria quemobiliza o maior número depessoas, extrapolando as fronteirasgeográficas do município, doestado e até da região. Além disso,pelo seu valor cultural, o Círioconsegue transpor as barreirasda religião, constituindo atraçãomesmo para aqueles quetêm outras crenças, como jáfoi comentado.

As imagens originale peregrinaAs imagens de Nossa Senhora deNazaré estão sempre presentes noslares, escritórios, comércios, feirase mercados, mas é durante o Círiode Nazaré que se tornam o centrode todas as atenções. A ligaçãosimbólica dos devotos com Deus sefaz, principalmente, via imagem deNossa Senhora de Nazaré e não viaclero, fenômeno comum nocatolicismo popular brasileiro.Como expressão dessa relaçãodireta, os fiéis confeccionammantos para vestir a imagem,envolvem-na em fitas decorativas,decoram a berlinda que a conduz etc.Assim, as imagens original e peregrina

de Nossa Senhora de Nazaré sãoelementos essenciais da celebraçãodo Círio e seu principal símbolo defé, devoção e tradição.

A trasladaçãoRealizada atualmente no segundosábado de outubro, a trasladação éa procissão que antecede o Círio.É quando a imagem de NossaSenhora de Nazaré é conduzidado Colégio Gentil, até a Catedral daSé, de onde sairá na manhãseguinte na procissão do Círio.Muito embora tenha sofridomodificações em seu percurso aolongo dos anos, esta celebraçãoacompanha o Círio de Nazarédesde sua origem, em 1793. Pelofato de ser realizada à noite, aprocissão ganha um brilho especial,pois milhares de pessoas aacompanham com velas acesas,como pagamento de promessas,rezando contritas, entoando o hinode Nossa Senhora de Nazaré.

Esta procissão, em conjuntocom o Círio propriamente dito,realizado no dia seguinte, pela

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cultural do Círio de Nazaré não foiuma tarefa fácil, pois não se podereduzir uma celebração de mais de200 anos a apenas algumas de suasmanifestações, já que todas ascelebrações e demais bensassociados ao evento constituem oCírio de Nazaré em sua completudeatual. É possível reconhecer,entretanto, que alguns desses bensvinculados à festividade apresentamcaracterísticas especiais.

Em relação à inserção no tempoda longa duração, encontram-se oselementos que possuem umacontinuidade histórica suficientepara que se possa considerá-loscomo essenciais à festa de Nazaré,como a procissão do Círio,a imagem da santa, a trasladação e acorda. Destes, alguns acompanhamo Círio desde suas origens.Em segundo lugar, estão aqueleselementos que, muito embora de

menor densidade histórica, foramincorporados à tradição de talforma que é impossível pensar oCírio de Nazaré sem eles. Nestecaso estão, por exemplo, o almoço

do Círio e os brinquedos de miriti.O reconhecimento destes bens

como patrimônio culturalbrasileiro não tem carátercristalizador, ou seja, não se querdizer com isto que somente taisbens representam o que há deessencial no Círio de Nazaré e quepor isso não poderão ser alterados.Muito pelo contrário, pelalegislação do registro, estes deverãoser revistos no máximo a cada dezanos para reavaliação e atualização.É possível que não hajaunanimidade quanto à inclusão ouexclusão de um ou outro bem noconjunto das celebrações essenciaisdo Círio de Nazaré, mas é precisonão perder de vista os critérios

utilizados nessa caracterização.A dinâmica própria do Círiomostrará, nos anos vindouros,se tais elementos continuarão ounão sendo essenciais ou se serãosubstituídos por outros.

A dinâmica dessas mudançasnão depende unicamente doIphan, da diretoria da Festa de Nazaré,do clero ou dos devotos. Mas asmudanças ocorrem, queiramosou não, como fruto do embatepermanente entre os diversossujeitos envolvidos na realizaçãodo evento, num permanenteprocesso de negociação e conflito,de alianças e rupturas. É essa alógica das transformações.

ELEMENTOSESSENCIAIS

imagem peregrinade nossa senhora denazaré.foto: luiz braga.

arraial dapavulagem. festaprofana tradicionalque se incorporouao círio e acontecena seqüência dasatividades queantecedem a festa.ao fundo mercadodo peixe. foto:francisco costa.

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A procissão principalA procissão principal do Círiode Nossa Senhora de Nazarécorresponde ao traslado da imagem

peregrina da Catedral da Sé, nobairro da Cidade Velha, até a praçaSantuário, no bairro de Nazaré.Mesmo que não seja uma das maisantigas procissões da cidade e queNossa Senhora de Nazaré não sejaa padroeira oficial de Belém, é,sem dúvida, a romaria quemobiliza o maior número depessoas, extrapolando as fronteirasgeográficas do município, doestado e até da região. Além disso,pelo seu valor cultural, o Círioconsegue transpor as barreirasda religião, constituindo atraçãomesmo para aqueles quetêm outras crenças, como jáfoi comentado.

As imagens originale peregrinaAs imagens de Nossa Senhora deNazaré estão sempre presentes noslares, escritórios, comércios, feirase mercados, mas é durante o Círiode Nazaré que se tornam o centrode todas as atenções. A ligaçãosimbólica dos devotos com Deus sefaz, principalmente, via imagem deNossa Senhora de Nazaré e não viaclero, fenômeno comum nocatolicismo popular brasileiro.Como expressão dessa relaçãodireta, os fiéis confeccionammantos para vestir a imagem,envolvem-na em fitas decorativas,decoram a berlinda que a conduz etc.Assim, as imagens original e peregrina

de Nossa Senhora de Nazaré sãoelementos essenciais da celebraçãodo Círio e seu principal símbolo defé, devoção e tradição.

A trasladaçãoRealizada atualmente no segundosábado de outubro, a trasladação éa procissão que antecede o Círio.É quando a imagem de NossaSenhora de Nazaré é conduzidado Colégio Gentil, até a Catedral daSé, de onde sairá na manhãseguinte na procissão do Círio.Muito embora tenha sofridomodificações em seu percurso aolongo dos anos, esta celebraçãoacompanha o Círio de Nazarédesde sua origem, em 1793. Pelofato de ser realizada à noite, aprocissão ganha um brilho especial,pois milhares de pessoas aacompanham com velas acesas,como pagamento de promessas,rezando contritas, entoando o hinode Nossa Senhora de Nazaré.

Esta procissão, em conjuntocom o Círio propriamente dito,realizado no dia seguinte, pela

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 0

cultural do Círio de Nazaré não foiuma tarefa fácil, pois não se podereduzir uma celebração de mais de200 anos a apenas algumas de suasmanifestações, já que todas ascelebrações e demais bensassociados ao evento constituem oCírio de Nazaré em sua completudeatual. É possível reconhecer,entretanto, que alguns desses bensvinculados à festividade apresentamcaracterísticas especiais.

Em relação à inserção no tempoda longa duração, encontram-se oselementos que possuem umacontinuidade histórica suficientepara que se possa considerá-loscomo essenciais à festa de Nazaré,como a procissão do Círio,a imagem da santa, a trasladação e acorda. Destes, alguns acompanhamo Círio desde suas origens.Em segundo lugar, estão aqueleselementos que, muito embora de

menor densidade histórica, foramincorporados à tradição de talforma que é impossível pensar oCírio de Nazaré sem eles. Nestecaso estão, por exemplo, o almoço

do Círio e os brinquedos de miriti.O reconhecimento destes bens

como patrimônio culturalbrasileiro não tem carátercristalizador, ou seja, não se querdizer com isto que somente taisbens representam o que há deessencial no Círio de Nazaré e quepor isso não poderão ser alterados.Muito pelo contrário, pelalegislação do registro, estes deverãoser revistos no máximo a cada dezanos para reavaliação e atualização.É possível que não hajaunanimidade quanto à inclusão ouexclusão de um ou outro bem noconjunto das celebrações essenciaisdo Círio de Nazaré, mas é precisonão perder de vista os critérios

utilizados nessa caracterização.A dinâmica própria do Círiomostrará, nos anos vindouros,se tais elementos continuarão ounão sendo essenciais ou se serãosubstituídos por outros.

A dinâmica dessas mudançasnão depende unicamente doIphan, da diretoria da Festa de Nazaré,do clero ou dos devotos. Mas asmudanças ocorrem, queiramosou não, como fruto do embatepermanente entre os diversossujeitos envolvidos na realizaçãodo evento, num permanenteprocesso de negociação e conflito,de alianças e rupturas. É essa alógica das transformações.

ELEMENTOSESSENCIAIS

imagem peregrinade nossa senhora denazaré.foto: luiz braga.

arraial dapavulagem. festaprofana tradicionalque se incorporouao círio e acontecena seqüência dasatividades queantecedem a festa.ao fundo mercadodo peixe. foto:francisco costa.

Page 73: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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O recírioHá mais de um século incorporadoàs festividades do Círio, o recírio

marca o encerramento da quadranazarena. É quando a imagemperegrina de Nossa Senhora deNazaré retorna para o ColégioGentil, de onde saiu para atrasladação no sábado que antecedea procissão do Círio. Ato religiosofinal da festividade de Nazaré,o recírio tem início com a missa napraça Santuário, onde ocorre aincineração das súplicas depositadasaos pés da imagem original da santana Basílica de Nazaré,simbolizando o envio dessespedidos para o céu. Ao final damissa tem início a procissão que,após percorrer algumas vias nasimediações da basílica, dirige-separa o Colégio Gentil, onde todosos presentes serão abençoados peloarcebispo de Belém.

Por sua antiguidade e pelagrande afluência popular o recírio éoutro dos elementos essenciais doCírio de Nazaré.

O arraialPresente em toda festa de santo,o arraial não poderia faltar no Círiode Nossa Senhora de Nazaré,acompanhando-o desde suasorigens. É um local de comércio,de festa e ponto de encontro dedevotos e não devotos durante todaa quadra nazarena. Espaço da comida,da bebida, do jogo, da diversão,é marcado pelo aspecto profano dafesta, mas entendido pelo devotocomo parte da expressão de suadevoção. Em função disso, étambém um espaço de conflitoentre devotos e membros do clero.

O arraial também nos permiteacompanhar as mudanças,o conflito entre o velho e o novo,

entre o tradicional e o moderno,a moda e os costumes das diversasépocas já atravessadas pela festa deNossa Senhora de Nazaré.Historicamente, Círio e arraial estãoassociados e não há como separá-los para efeito do Registro, já queambos atendem à questão daocorrência no tempo e tambémda tradição.

O almoço do CírioO almoço do círio é uma das principaistradições do Círio de Nazaré,muito embora o início de suaprática não seja datado. Depoisda procissão principal do Círio,as famílias se reúnem nos lares parauma grande confraternização etambém para saborear os deliciosospratos típicos da cozinha regionalparaense, especialmente o pato-no-tucupi e a maniçoba. É, aomesmo tempo, prática religiosa,

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 2

manhã, revive o mito das “fugas”da imagem da santa quandoencontrada por Plácido, em 1700.Uma não existe sem a outra, logo,ambas são essenciais ecomplementares desde suas origens.

A berlindaIntroduzida na procissão em 1855,a berlinda é o nome dado ao andoronde é transportada a imagemperegrina durante a trasladação e oCírio. Foi plenamente assimiladapelos fiéis como parte importantee integrante da procissão,formando com a imagem da santa ecom a corda a tríade maisimportante e indissociável docortejo e um elemento essencialdo Círio de Nazaré.

A cordaEntre a utilização da corda pelaprimeira vez (1855) no Círio deNazaré e sua oficialização pelaigreja (1868), 13 anos se passaram.Aos poucos ela foi ganhando novossignificados para os devotos, sendoque todas as iniciativas demodificação relativas à corda

receberam forte reação dos devotos.

Com o passar dos anos, esseespaço passou a ser disputado comofonte de status e foram muitas ascríticas dos devotos, pois o inchaçoda corda tornava a procissão maislenta. Todas as tentativas de“organizar” ou “disciplinar”o espaço, entretanto, foraminfrutíferas, seja pela reação dosdevotos, seja pela própria dificuldadede se organizar mais de um milhãode pessoas durante uma procissão.

Atualmente, a corda é um doselementos mais característicosdo Círio de Nazaré. Os seus 400 a450 metros parecem insuficientesdiante da quantidade de mãosdispostas a segurá-la. Ela simbolizaa ligação dos promesseiros comNossa Senhora de Nazaré. É diantedessa sacralização conferida pelopovo que se pode definir a corda

como um dos elementos essenciaisdo Círio de Nazaré.

detalhe daberlinda. foto: luiz braga.

devotas. foto:paulo benjamin.

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O recírioHá mais de um século incorporadoàs festividades do Círio, o recírio

marca o encerramento da quadranazarena. É quando a imagemperegrina de Nossa Senhora deNazaré retorna para o ColégioGentil, de onde saiu para atrasladação no sábado que antecedea procissão do Círio. Ato religiosofinal da festividade de Nazaré,o recírio tem início com a missa napraça Santuário, onde ocorre aincineração das súplicas depositadasaos pés da imagem original da santana Basílica de Nazaré,simbolizando o envio dessespedidos para o céu. Ao final damissa tem início a procissão que,após percorrer algumas vias nasimediações da basílica, dirige-separa o Colégio Gentil, onde todosos presentes serão abençoados peloarcebispo de Belém.

Por sua antiguidade e pelagrande afluência popular o recírio éoutro dos elementos essenciais doCírio de Nazaré.

O arraialPresente em toda festa de santo,o arraial não poderia faltar no Círiode Nossa Senhora de Nazaré,acompanhando-o desde suasorigens. É um local de comércio,de festa e ponto de encontro dedevotos e não devotos durante todaa quadra nazarena. Espaço da comida,da bebida, do jogo, da diversão,é marcado pelo aspecto profano dafesta, mas entendido pelo devotocomo parte da expressão de suadevoção. Em função disso, étambém um espaço de conflitoentre devotos e membros do clero.

O arraial também nos permiteacompanhar as mudanças,o conflito entre o velho e o novo,

entre o tradicional e o moderno,a moda e os costumes das diversasépocas já atravessadas pela festa deNossa Senhora de Nazaré.Historicamente, Círio e arraial estãoassociados e não há como separá-los para efeito do Registro, já queambos atendem à questão daocorrência no tempo e tambémda tradição.

O almoço do CírioO almoço do círio é uma das principaistradições do Círio de Nazaré,muito embora o início de suaprática não seja datado. Depoisda procissão principal do Círio,as famílias se reúnem nos lares parauma grande confraternização etambém para saborear os deliciosospratos típicos da cozinha regionalparaense, especialmente o pato-no-tucupi e a maniçoba. É, aomesmo tempo, prática religiosa,

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 2

manhã, revive o mito das “fugas”da imagem da santa quandoencontrada por Plácido, em 1700.Uma não existe sem a outra, logo,ambas são essenciais ecomplementares desde suas origens.

A berlindaIntroduzida na procissão em 1855,a berlinda é o nome dado ao andoronde é transportada a imagemperegrina durante a trasladação e oCírio. Foi plenamente assimiladapelos fiéis como parte importantee integrante da procissão,formando com a imagem da santa ecom a corda a tríade maisimportante e indissociável docortejo e um elemento essencialdo Círio de Nazaré.

A cordaEntre a utilização da corda pelaprimeira vez (1855) no Círio deNazaré e sua oficialização pelaigreja (1868), 13 anos se passaram.Aos poucos ela foi ganhando novossignificados para os devotos, sendoque todas as iniciativas demodificação relativas à corda

receberam forte reação dos devotos.

Com o passar dos anos, esseespaço passou a ser disputado comofonte de status e foram muitas ascríticas dos devotos, pois o inchaçoda corda tornava a procissão maislenta. Todas as tentativas de“organizar” ou “disciplinar”o espaço, entretanto, foraminfrutíferas, seja pela reação dosdevotos, seja pela própria dificuldadede se organizar mais de um milhãode pessoas durante uma procissão.

Atualmente, a corda é um doselementos mais característicosdo Círio de Nazaré. Os seus 400 a450 metros parecem insuficientesdiante da quantidade de mãosdispostas a segurá-la. Ela simbolizaa ligação dos promesseiros comNossa Senhora de Nazaré. É diantedessa sacralização conferida pelopovo que se pode definir a corda

como um dos elementos essenciaisdo Círio de Nazaré.

detalhe daberlinda. foto: luiz braga.

devotas. foto:paulo benjamin.

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elemento da tradição eoportunidade paraconfraternização das famílias.

As alegoriasDe influência lusitana, as alegorias

fazem parte da estruturada procissão principal do Círio deNazaré desde suas origens. Apesarde muitas delas terem sofridomodificações ao longo do tempo,de outras só existirem na memóriae de outras ainda terem sidocriadas, acompanhando a própriadinâmica de transformações doCírio, algumas delas constituemelementos essenciais da procissão,pois fazem referência a milagresfundamentais da santa.

Introduzidas no cortejo há pelomenos 100 anos50 – ainda que comalgumas alternâncias – são parteda memória coletiva e tambémpermanecem na procissão,

constituindo mais uma tradição doCírio de Nazaré. Portanto, foramconsideradas elementos essenciaisdesta manifestação.

Os brinquedos de miritiOs brinquedos de miriti tambémconstituem um elemento essencialao Círio de Nazaré. Feitos do cauleda palmeira miriti pelos artesãosparaenses, recriam, em miniatura,a fauna e a flora da Amazônia, alémde aspectos do imaginárioamazônico. Vêem-se tambémminiaturas de embarcações, objetosdo trabalho cotidiano, aviões,figuras humanas e vários outrostemas. Muitos devotos conduzemobjetos feitos de miriti durante aprocissão principal do Círio, comoforma de pagamento de promessa.

A feira dos brinquedos de miriti ocorreno sábado e no domingo do Círio,nas praças do Carmo e Frei

Caetano Brandão (Largo da Sé),mas os brinquedos também podemser encontrados expostos nasgirândolas dos vendedores,configurando um aspecto bastantepeculiar na procissão. Mesmo quejá não sejam exclusividade da festa,como há alguns anos, hoje em diaé impossível imaginar o Círio deNazaré sem eles.

menino vendendobrinquedosde miriti. foto:luiz braga.

carro de d. fuasde roupinho.foto: luiz braga.

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elemento da tradição eoportunidade paraconfraternização das famílias.

As alegoriasDe influência lusitana, as alegorias

fazem parte da estruturada procissão principal do Círio deNazaré desde suas origens. Apesarde muitas delas terem sofridomodificações ao longo do tempo,de outras só existirem na memóriae de outras ainda terem sidocriadas, acompanhando a própriadinâmica de transformações doCírio, algumas delas constituemelementos essenciais da procissão,pois fazem referência a milagresfundamentais da santa.

Introduzidas no cortejo há pelomenos 100 anos50 – ainda que comalgumas alternâncias – são parteda memória coletiva e tambémpermanecem na procissão,

constituindo mais uma tradição doCírio de Nazaré. Portanto, foramconsideradas elementos essenciaisdesta manifestação.

Os brinquedos de miritiOs brinquedos de miriti tambémconstituem um elemento essencialao Círio de Nazaré. Feitos do cauleda palmeira miriti pelos artesãosparaenses, recriam, em miniatura,a fauna e a flora da Amazônia, alémde aspectos do imaginárioamazônico. Vêem-se tambémminiaturas de embarcações, objetosdo trabalho cotidiano, aviões,figuras humanas e vários outrostemas. Muitos devotos conduzemobjetos feitos de miriti durante aprocissão principal do Círio, comoforma de pagamento de promessa.

A feira dos brinquedos de miriti ocorreno sábado e no domingo do Círio,nas praças do Carmo e Frei

Caetano Brandão (Largo da Sé),mas os brinquedos também podemser encontrados expostos nasgirândolas dos vendedores,configurando um aspecto bastantepeculiar na procissão. Mesmo quejá não sejam exclusividade da festa,como há alguns anos, hoje em diaé impossível imaginar o Círio deNazaré sem eles.

menino vendendobrinquedosde miriti. foto:luiz braga.

carro de d. fuasde roupinho.foto: luiz braga.

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daqueles que acompanham o Círioe a trasladação, bem como as demaisprogramações religiosas eculturais que integram a festa.Uma procissão que conta coma participação de cerca de ummilhão e meio de pessoas numsó dia, constitui um desafio sobqualquer aspecto.

O Círio atrai turistas, faz lotarhotéis e restaurantes, movimenta aeconomia da cidade. Não há comonegar que isto traz benefícios parao município, mas o importante éestar atento para que os interesseseconômicos não venham adesvirtuar o caráter popular esagrado da manifestação, pois é eleo responsável pela sua longevidadee força vital. Não se pode perderde vista que a força da manifestaçãoestá na participação popular.São os devotos, os romeiros e ospromesseiros os grandes

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 6

O reconhecimento de um bemde natureza imaterial como

patrimônio cultural brasileiro, pormeio do Registro, atribui a elevalor representativo da cultura e daidentidade brasileiras.

Ao chancelar determinadamanifestação cultural com essetítulo, a União assume tanto aresponsabilidade de acompanhar ospossíveis desdobramentos e reflexosdesse ato sobre o bem, quantoo compromisso com a suapreservação. Compromisso esteque se traduz na sua divulgaçãoe valorização, e também narecomendação de ações parasua salvaguarda.

Tais recomendações destinam-sea todos que, direta ouindiretamente, desempenhamalgum papel na gestão eorganização do Círio, inclusiveos órgãos municipais, estaduais

e federais que recebem atribuiçõesna procissão ou nas demaiscelebrações e eventos associados àfestividade e que podem, de algumamaneira, contribuir para a suacontinuidade.

Diante da grandiosidade eimportância de uma manifestaçãode mais de 200 anos, não se podefalar em extinção. Apesar demuitos aspectos do Círio teremsofrido alterações ao longo dosanos, não se pode dizer que atradição tenha desaparecido.Ela simplesmente transformou-se,recriou-se, atualizou-se,acompanhando a dinâmicada história.

Se não há razão parapreocupações com odesaparecimento do Círio deNazaré, há uma série de medidasque podem ser adotadas para suapreservação e para maior segurança

responsáveis pela continuidade datradição nesses 211 anos.

O Círio de Nazaré é umacontecimento que envolve, diretaou indiretamente, toda a populaçãoparaense, estendendo ainda suainfluência para além dos limites doestado do Pará. É mais do que ummero fenômeno religioso,podendo ser observado ecompreendido sob diversos pontosde vista: religioso, estético,turístico, cultural, sociológico,antropológico etc.

No Círio, o sagrado e o profanonão se excluem, complementam-se,e ambos fazem parte dessa grandiosamanifestação.

CONCLUSÃO

berlinda chegandoà basílica de nazaréonde terminaa procissão. foto:francisco costa.

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daqueles que acompanham o Círioe a trasladação, bem como as demaisprogramações religiosas eculturais que integram a festa.Uma procissão que conta coma participação de cerca de ummilhão e meio de pessoas numsó dia, constitui um desafio sobqualquer aspecto.

O Círio atrai turistas, faz lotarhotéis e restaurantes, movimenta aeconomia da cidade. Não há comonegar que isto traz benefícios parao município, mas o importante éestar atento para que os interesseseconômicos não venham adesvirtuar o caráter popular esagrado da manifestação, pois é eleo responsável pela sua longevidadee força vital. Não se pode perderde vista que a força da manifestaçãoestá na participação popular.São os devotos, os romeiros e ospromesseiros os grandes

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 6

O reconhecimento de um bemde natureza imaterial como

patrimônio cultural brasileiro, pormeio do Registro, atribui a elevalor representativo da cultura e daidentidade brasileiras.

Ao chancelar determinadamanifestação cultural com essetítulo, a União assume tanto aresponsabilidade de acompanhar ospossíveis desdobramentos e reflexosdesse ato sobre o bem, quantoo compromisso com a suapreservação. Compromisso esteque se traduz na sua divulgaçãoe valorização, e também narecomendação de ações parasua salvaguarda.

Tais recomendações destinam-sea todos que, direta ouindiretamente, desempenhamalgum papel na gestão eorganização do Círio, inclusiveos órgãos municipais, estaduais

e federais que recebem atribuiçõesna procissão ou nas demaiscelebrações e eventos associados àfestividade e que podem, de algumamaneira, contribuir para a suacontinuidade.

Diante da grandiosidade eimportância de uma manifestaçãode mais de 200 anos, não se podefalar em extinção. Apesar demuitos aspectos do Círio teremsofrido alterações ao longo dosanos, não se pode dizer que atradição tenha desaparecido.Ela simplesmente transformou-se,recriou-se, atualizou-se,acompanhando a dinâmicada história.

Se não há razão parapreocupações com odesaparecimento do Círio deNazaré, há uma série de medidasque podem ser adotadas para suapreservação e para maior segurança

responsáveis pela continuidade datradição nesses 211 anos.

O Círio de Nazaré é umacontecimento que envolve, diretaou indiretamente, toda a populaçãoparaense, estendendo ainda suainfluência para além dos limites doestado do Pará. É mais do que ummero fenômeno religioso,podendo ser observado ecompreendido sob diversos pontosde vista: religioso, estético,turístico, cultural, sociológico,antropológico etc.

No Círio, o sagrado e o profanonão se excluem, complementam-se,e ambos fazem parte dessa grandiosamanifestação.

CONCLUSÃO

berlinda chegandoà basílica de nazaréonde terminaa procissão. foto:francisco costa.

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 9d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 8

1. Cf. netto, Angelim. A Festa de

Nazareth e o Arcebispo Joffily. Folha do Norte,Belém, 1926.

2. Plácido José dos Santos é umpersonagem histórico controvertido, masde existência documentada. Era filho doportuguês Manuel Ayres de Souza esobrinho de um dos primeiros capitães-mor do Grão-Pará, Ayres de SouzaChichorro. Sua esposa era paraense e sechamava Ana Maria Pinto da Gama.Moravam na região conhecida comoestrada do Maranhão (hoje bairro deNazaré). Conferir Círio de Nazaré, informações

úteis e importantes. Belém, Diretoria da Festade Nazaré, 2000.

3. Cf. maués, Raymundo Heraldo.Padres, Pajés, Santos e Festas: catolicismo popular e

controle eclesiástico. Belém: cejup, 1995, p, 54.4. Cf. coelho, Geraldo. Uma Crônica

do Maravilhoso. Legenda, Tempo e Memória no culto

da Virgem de Nazaré. Belém: Imprensa Oficialdo Estado, 1998, p. 126.

5. Cf. almeida pinto, AntônioRodrigues de. “O bispado do Pará”.Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará,Tomo V. Belém: Typ. e Encadernaçãodo Instituto Lauro Sodré, 1906, p. 39-40 e 89-90.

6. Cf. rocque, Carlos. História do

Círio e da Festa de Nazaré. Belém: Mitograph,1981, p. 42.

7. Cf. vianna, Arthur. “Festaspopulares do Pará; i – A Festa deNazareth”. Annaes da Bibliotheca e Archivo

Público do Pará, Tomo iii. Belém: secult,1968, p. 235.

8. Cf. A boa nova, Belém, 17/11/1874, p. 4.

9. vianna, Arthur. Op. Cit, p. 235.10. Cf. nassar, Flávio. Você acha que se

deveria tombar a corda como Patrimônio Cultural do

Estado? O Liberal, Belém, 1997.

11. Segundo Almeida Pinto (1906, p.90), Plácido destinou a posse da imagemda santa a Antônio Agostinho por terreconhecido nele “maior devoção epiedade” e , após a morte de Plácido, estemudou-se para o local da devoção.

12. Cf. coelho,Geraldo. op.cit. p. 121.13. Cf. boga, Mendes. D. Fuas Roupinho

e o Santuário da Nazaré. Lisboa: SociedadeIndustrial de Tipografia, Ltda, 1948, p.51-52.

14. Cf. montarroyos, Heraldo.

Festas Profanas e Alegrias Ruidosas. Belém:Falângola, 1992.

15. Cf. alves, Isidoro. O Carnaval

Devoto: Um estudo sobre a Festa de Nazaré, em

Belém. Petrópolis: Vozes, 1980.16. Cf. beltrão, Jane Felipe. Cólera: o

flagelo da Belém do Grão-Pará. Belém: MuseuParaense Emílio Goeldi/UFPA, 2004.

17. Cf. rocque, Carlos. op. cit. p. 63-64.

18. Cf. lustosa, D. Antônio deAlmeida. Dom Macedo Costa (Bispo do Pará).Rio de Janeiro: Cruzada da BoaImprensa, 1939.

19. Cf. henrique, Márcio Couto.“O Senhor do Céu não é o Senhor daTerra: a experiência religiosa dos escravosnas irmandades paraenses (1839-1889)”.Monografia de conclusão de cursoapresentada ao Departamento de Históriada ufpa para obtenção dos graus deLicenciatura e Bacharelado em História.Belém, ufpa, 1997.

20. Cf. rocque, Carlos. op. cit. pp.85-121.

21. Cf. nassar, Flávio. op. cit. 22. Cf. maués, Raymundo Heraldo.

“Um julgamento político: notas sobre ocaso dos padres e posseiros do Araguaia”.Comunicações do ISER 1(2): 31-38, Rio deJaneiro, 1982.

23. Cf. del priory, Mary. Festas e

utopias no Brasil colonial. São Paulo:Brasiliense, 1994, p. 104.

24. Cf. da matta, Roberto. Carnavais,

Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema

brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.25. Cf. alves, Regina. Círio de Nazaré:

da taba marajoara à aldeia global. Dissertação deMestrado em Comunicação e CulturaContemporânea, Programa de MestradoInstitucional em Comunicação e CulturaContemporâneas, Universidade Federal doPará/ Universidade Federal da Bahia.Belém, 2002.

26. Depoimento da professora IsaCarmem durante entrevista focal. Belém,15/09/2002.

27. A canção “Esse rio é minha rua”foi gravada por Fafá de Belém, pelaPolygran e por Paulo André, pelaContinental. Conferir oliveira,Alfredo. Ruy Guilherme Paranatinga Barata.Belém, cejup, 1990, p. 172.

28. A barraca da santa é uma amplaedificação, ao lado da Basílica de Nazaré,onde se promovem leilões e jantares,pagos como num restaurante, preparadospor organizações ou movimentos católicos,com a finalidade de angariar fundos, aolongo da quadra nazarena Em toda festa desanto, no Pará, existe a barraca do santoou da santa, com essa finalidade.Os recursos angariados servem para ocusteio da própria festa, para as despesasda paróquia ou para outras finalidadesrelacionadas com o culto católico.

29. Entrevista concedida por OdonCarlos, organizador do Traslado daimagem em Ananindeua. Belém, 17 deoutubro de 2002.

30. Entrevista concedida por José dosSantos Ventura, da Diretoria da Festa deNazaré. Belém, 12 de setembro de 2002.

31. A chamada imagem peregrina éa que atualmente sai na trasladação e naprocissão principal do Círio, já que aimagem que foi encontrada por Plácido,identificada como a “Original”, permaneceo ano inteiro na Basílica de Nazaré.

32. Entrevista concedida pelo PadreLuciano , Belém, 16/08/2002.

33. Na verdade, apesar de muitosdevotos acreditarem que a imagem peregrina

permanece no Colégio Gentil Bittencourt,ela fica mesmo na Basílica de Nazaré, sobos cuidados do pároco.

34. Entrevista concedida pelo padreLuciano Branbilla. Belém, 17 de setembrode 2002. Alacid Nunes foi governador doPará entre 1966 e 1971.

35. Entrevista concedida pelo padreLuciano Brambilla. Belém, 17 de setembrode 2002.

36. Os recursos financeiros para aconstrução da praça foram viabilizados pelopresidente João Figueiredo, atendendosolicitação do padre Luciano Brambilla,junto com a diretoria da festa e com o apoiodo deputado federal Jorge Arbage.

37. Entrevista concedida pelo padreLuciano Brambilla. Belém, 17 de setembrode 2002.

38. Entrevista focal realizada naresidência da senhora Lucila Alves daConceição. Belém, 15 de setembro de 2002.

39. Idem.40. Cf. Livro das peregrinações. Belém:

Arquidiocese de Belém, 2003, p. 3.41. vianna, Arthur.Festas populares

do Pará”; i – A Festa de Nazaré. Belém:Annaes da Biblioteca e Archivo Públicodo Pará, Tomo iii, secult,1968.

42. Espécie de cabide, fabricado como próprio miriti, onde são expostos osbrinquedos para venda. Conferirloureiro, João de Jesus Paes.

“Brinquedos de Miriti”. In Cultura

Amazônica: uma poética do imaginário, Belém:cejup, 1995.

43. Cf. moreira, Eidorfe. Visão

geo-social do Círio. Belém: ImprensaUniversitária, 1971.

44. Cf. tocantins, Leandro. Santa

Maria de Belém do Grão Pará: instantes e evocações da

cidade. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira, 1963.

45. Cf. netto, Angelim. A Festa de

Nazaré e o arcebispo Joffily. Belém: Folha doNorte,1926.

46. meira, Clóvis. “O Círio nopresente e no passado”. A Província do Pará.Belém: 17/18 de novembro de 1996, cad. 3.

47. Cf. moreira, Eidorfe. VisãoGeo-Social do Círio. Belém, ImprensaUniversitária, 1971, p. 16

48. Cf. lowenthal, David. “Comoconhecemos o passado”. Revista Projetohistória. São Paulo: PUC, número 17,novembro, 1998, pp. 83.

49. Cf. tocantins, Leandro. Op. cit.

50. KERBEY, J. Orton. Op. cit.A descrição da procissão feita por Kerbey(1911), mesmo tratando como ridículas eexóticas algumas dessas alegorias, mencionaa presença ao longo do cortejo, além dacorda e da berlinda com a santa, de carroscom figuras representando milagres,barcos, caixões de pessoas quepresumivelmente teriam ressuscitado pormilagres da Virgem, carros de anjos e votosde cera. O relato do cônsul nos mostra quehá cerca de um século esses elementos jáintegravam a procissão do Círio.

NOTAS

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 9d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 7 8

1. Cf. netto, Angelim. A Festa de

Nazareth e o Arcebispo Joffily. Folha do Norte,Belém, 1926.

2. Plácido José dos Santos é umpersonagem histórico controvertido, masde existência documentada. Era filho doportuguês Manuel Ayres de Souza esobrinho de um dos primeiros capitães-mor do Grão-Pará, Ayres de SouzaChichorro. Sua esposa era paraense e sechamava Ana Maria Pinto da Gama.Moravam na região conhecida comoestrada do Maranhão (hoje bairro deNazaré). Conferir Círio de Nazaré, informações

úteis e importantes. Belém, Diretoria da Festade Nazaré, 2000.

3. Cf. maués, Raymundo Heraldo.Padres, Pajés, Santos e Festas: catolicismo popular e

controle eclesiástico. Belém: cejup, 1995, p, 54.4. Cf. coelho, Geraldo. Uma Crônica

do Maravilhoso. Legenda, Tempo e Memória no culto

da Virgem de Nazaré. Belém: Imprensa Oficialdo Estado, 1998, p. 126.

5. Cf. almeida pinto, AntônioRodrigues de. “O bispado do Pará”.Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará,Tomo V. Belém: Typ. e Encadernaçãodo Instituto Lauro Sodré, 1906, p. 39-40 e 89-90.

6. Cf. rocque, Carlos. História do

Círio e da Festa de Nazaré. Belém: Mitograph,1981, p. 42.

7. Cf. vianna, Arthur. “Festaspopulares do Pará; i – A Festa deNazareth”. Annaes da Bibliotheca e Archivo

Público do Pará, Tomo iii. Belém: secult,1968, p. 235.

8. Cf. A boa nova, Belém, 17/11/1874, p. 4.

9. vianna, Arthur. Op. Cit, p. 235.10. Cf. nassar, Flávio. Você acha que se

deveria tombar a corda como Patrimônio Cultural do

Estado? O Liberal, Belém, 1997.

11. Segundo Almeida Pinto (1906, p.90), Plácido destinou a posse da imagemda santa a Antônio Agostinho por terreconhecido nele “maior devoção epiedade” e , após a morte de Plácido, estemudou-se para o local da devoção.

12. Cf. coelho,Geraldo. op.cit. p. 121.13. Cf. boga, Mendes. D. Fuas Roupinho

e o Santuário da Nazaré. Lisboa: SociedadeIndustrial de Tipografia, Ltda, 1948, p.51-52.

14. Cf. montarroyos, Heraldo.

Festas Profanas e Alegrias Ruidosas. Belém:Falângola, 1992.

15. Cf. alves, Isidoro. O Carnaval

Devoto: Um estudo sobre a Festa de Nazaré, em

Belém. Petrópolis: Vozes, 1980.16. Cf. beltrão, Jane Felipe. Cólera: o

flagelo da Belém do Grão-Pará. Belém: MuseuParaense Emílio Goeldi/UFPA, 2004.

17. Cf. rocque, Carlos. op. cit. p. 63-64.

18. Cf. lustosa, D. Antônio deAlmeida. Dom Macedo Costa (Bispo do Pará).Rio de Janeiro: Cruzada da BoaImprensa, 1939.

19. Cf. henrique, Márcio Couto.“O Senhor do Céu não é o Senhor daTerra: a experiência religiosa dos escravosnas irmandades paraenses (1839-1889)”.Monografia de conclusão de cursoapresentada ao Departamento de Históriada ufpa para obtenção dos graus deLicenciatura e Bacharelado em História.Belém, ufpa, 1997.

20. Cf. rocque, Carlos. op. cit. pp.85-121.

21. Cf. nassar, Flávio. op. cit. 22. Cf. maués, Raymundo Heraldo.

“Um julgamento político: notas sobre ocaso dos padres e posseiros do Araguaia”.Comunicações do ISER 1(2): 31-38, Rio deJaneiro, 1982.

23. Cf. del priory, Mary. Festas e

utopias no Brasil colonial. São Paulo:Brasiliense, 1994, p. 104.

24. Cf. da matta, Roberto. Carnavais,

Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema

brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.25. Cf. alves, Regina. Círio de Nazaré:

da taba marajoara à aldeia global. Dissertação deMestrado em Comunicação e CulturaContemporânea, Programa de MestradoInstitucional em Comunicação e CulturaContemporâneas, Universidade Federal doPará/ Universidade Federal da Bahia.Belém, 2002.

26. Depoimento da professora IsaCarmem durante entrevista focal. Belém,15/09/2002.

27. A canção “Esse rio é minha rua”foi gravada por Fafá de Belém, pelaPolygran e por Paulo André, pelaContinental. Conferir oliveira,Alfredo. Ruy Guilherme Paranatinga Barata.Belém, cejup, 1990, p. 172.

28. A barraca da santa é uma amplaedificação, ao lado da Basílica de Nazaré,onde se promovem leilões e jantares,pagos como num restaurante, preparadospor organizações ou movimentos católicos,com a finalidade de angariar fundos, aolongo da quadra nazarena Em toda festa desanto, no Pará, existe a barraca do santoou da santa, com essa finalidade.Os recursos angariados servem para ocusteio da própria festa, para as despesasda paróquia ou para outras finalidadesrelacionadas com o culto católico.

29. Entrevista concedida por OdonCarlos, organizador do Traslado daimagem em Ananindeua. Belém, 17 deoutubro de 2002.

30. Entrevista concedida por José dosSantos Ventura, da Diretoria da Festa deNazaré. Belém, 12 de setembro de 2002.

31. A chamada imagem peregrina éa que atualmente sai na trasladação e naprocissão principal do Círio, já que aimagem que foi encontrada por Plácido,identificada como a “Original”, permaneceo ano inteiro na Basílica de Nazaré.

32. Entrevista concedida pelo PadreLuciano , Belém, 16/08/2002.

33. Na verdade, apesar de muitosdevotos acreditarem que a imagem peregrina

permanece no Colégio Gentil Bittencourt,ela fica mesmo na Basílica de Nazaré, sobos cuidados do pároco.

34. Entrevista concedida pelo padreLuciano Branbilla. Belém, 17 de setembrode 2002. Alacid Nunes foi governador doPará entre 1966 e 1971.

35. Entrevista concedida pelo padreLuciano Brambilla. Belém, 17 de setembrode 2002.

36. Os recursos financeiros para aconstrução da praça foram viabilizados pelopresidente João Figueiredo, atendendosolicitação do padre Luciano Brambilla,junto com a diretoria da festa e com o apoiodo deputado federal Jorge Arbage.

37. Entrevista concedida pelo padreLuciano Brambilla. Belém, 17 de setembrode 2002.

38. Entrevista focal realizada naresidência da senhora Lucila Alves daConceição. Belém, 15 de setembro de 2002.

39. Idem.40. Cf. Livro das peregrinações. Belém:

Arquidiocese de Belém, 2003, p. 3.41. vianna, Arthur.Festas populares

do Pará”; i – A Festa de Nazaré. Belém:Annaes da Biblioteca e Archivo Públicodo Pará, Tomo iii, secult,1968.

42. Espécie de cabide, fabricado como próprio miriti, onde são expostos osbrinquedos para venda. Conferirloureiro, João de Jesus Paes.

“Brinquedos de Miriti”. In Cultura

Amazônica: uma poética do imaginário, Belém:cejup, 1995.

43. Cf. moreira, Eidorfe. Visão

geo-social do Círio. Belém: ImprensaUniversitária, 1971.

44. Cf. tocantins, Leandro. Santa

Maria de Belém do Grão Pará: instantes e evocações da

cidade. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira, 1963.

45. Cf. netto, Angelim. A Festa de

Nazaré e o arcebispo Joffily. Belém: Folha doNorte,1926.

46. meira, Clóvis. “O Círio nopresente e no passado”. A Província do Pará.Belém: 17/18 de novembro de 1996, cad. 3.

47. Cf. moreira, Eidorfe. VisãoGeo-Social do Círio. Belém, ImprensaUniversitária, 1971, p. 16

48. Cf. lowenthal, David. “Comoconhecemos o passado”. Revista Projetohistória. São Paulo: PUC, número 17,novembro, 1998, pp. 83.

49. Cf. tocantins, Leandro. Op. cit.

50. KERBEY, J. Orton. Op. cit.A descrição da procissão feita por Kerbey(1911), mesmo tratando como ridículas eexóticas algumas dessas alegorias, mencionaa presença ao longo do cortejo, além dacorda e da berlinda com a santa, de carroscom figuras representando milagres,barcos, caixões de pessoas quepresumivelmente teriam ressuscitado pormilagres da Virgem, carros de anjos e votosde cera. O relato do cônsul nos mostra quehá cerca de um século esses elementos jáintegravam a procissão do Círio.

NOTAS

Page 81: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 1d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 0

A Boa Nova, Belém, 17/11/1874.almeida pinto , Antônio

Rodrigues de. “O bispado doPará”. Annaes da Bibliotheca e Archivo

Público do Pará, Tomo v. Belém:Typ. e Encadernação doInstituto Lauro Sodré, 1906.

alves , Isidoro. O carnaval devoto:

um estudo sobre a Festa de Nazaré, em

Belém. Petrópolis: Vozes, 1980.alves , Regina. Círio de Nazaré: da

taba marajoara à aldeia global.Dissertação de mestradoem comunicação e culturacontemporânea,programa de mestradoinstitucional em comunicaçãoe cultura contemporâneas,Universidade Federal do Pará /Universidade Federal da Bahia.Belém: 2002.

barata , Manuel. “Apontamentospara as Efemérides Paraenses”.In: Revista do Instituto Histórico e

Geográfico Brasileiro.Rio de Janeiro: 1921.

beltrão , Jane Felipe. Cólera:

o flagelo da Belém do Grão-Pará.Belém: Museu Paraense EmílioGoeldi/ufpa , 2004.

boga , Mendes. D. Fuas Roupinho e o

Santuário da Nazaré. Lisboa:Sociedade Industrial deTipografia, Ltda, 1948.

bonna , Mízar. Círio. Painel de vida.2ª ed. Belém: Secult, 1992.

______ Dois séculos de Fé. Belém:Cejup, 1993.

______ Corda do Círio, marca de fé, vamos

pensar juntos?

Belém: Labor Editorial, 2001.Círio de Nazaré, informações úteis e

importantes. Belém: diretoria daFesta de Nazaré, 2000.

coelho , Geraldo. Uma crônica do

maravilhoso: legenda, tempo e memória

no culto da Virgem de Nazaré. Belém:Imprensa Oficial do Estado,1998.

cunha , Euclides da. Os sertões:

campanha de Canudos. Brasília:Editora Universidade deBrasília, 1963 (1902).

da matta , Roberto. Carnavais,

malandros e heróis: para uma sociologia

do dilema brasileiro. Rio de Janeiro:Zahar, 1979.

del priory , Mary. Festas e utopias

no Brasil colonial. São Paulo:Brasiliense, 1994.

Diretoria da Festa de Nazaré. Festa de

Nossa Senhora de Nazaré – Belém-PA,2002.

henrique , Márcio Couto.O senhor do céu não é o senhor da terra:

a experiência religiosa dos escravos nas

Irmandades paraenses (1839-1889).

Monografia de conclusão decurso apresentada aoDepartamento de Históriada ufpa para obtenção dosgraus de licenciatura

e bacharelado em história.Belém: ufpa , 1997.

_____ “O Povo no Círio: imagens dapresença popular na festa deNazaré em Belém do Pará nosfins do século xix”.In: Anais da 49ª Reunião Anual da

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Ciência (SBPC). Belo Horizonte:13 a 18 de julho de 1997.

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______Padres, pajés, santos e festas:

catolicismo popular e controle

eclesiástico. Belém: Cejup, 1995.meira , Clóvis. “O Círio no

presente e no passado”. AProvíncia do Pará. Belém: 17/18 denovembro de 1996, cad. 3.

montarroyos , Heraldo. Festas

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REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

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d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 1d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 0

A Boa Nova, Belém, 17/11/1874.almeida pinto , Antônio

Rodrigues de. “O bispado doPará”. Annaes da Bibliotheca e Archivo

Público do Pará, Tomo v. Belém:Typ. e Encadernação doInstituto Lauro Sodré, 1906.

alves , Isidoro. O carnaval devoto:

um estudo sobre a Festa de Nazaré, em

Belém. Petrópolis: Vozes, 1980.alves , Regina. Círio de Nazaré: da

taba marajoara à aldeia global.Dissertação de mestradoem comunicação e culturacontemporânea,programa de mestradoinstitucional em comunicaçãoe cultura contemporâneas,Universidade Federal do Pará /Universidade Federal da Bahia.Belém: 2002.

barata , Manuel. “Apontamentospara as Efemérides Paraenses”.In: Revista do Instituto Histórico e

Geográfico Brasileiro.Rio de Janeiro: 1921.

beltrão , Jane Felipe. Cólera:

o flagelo da Belém do Grão-Pará.Belém: Museu Paraense EmílioGoeldi/ufpa , 2004.

boga , Mendes. D. Fuas Roupinho e o

Santuário da Nazaré. Lisboa:Sociedade Industrial deTipografia, Ltda, 1948.

bonna , Mízar. Círio. Painel de vida.2ª ed. Belém: Secult, 1992.

______ Dois séculos de Fé. Belém:Cejup, 1993.

______ Corda do Círio, marca de fé, vamos

pensar juntos?

Belém: Labor Editorial, 2001.Círio de Nazaré, informações úteis e

importantes. Belém: diretoria daFesta de Nazaré, 2000.

coelho , Geraldo. Uma crônica do

maravilhoso: legenda, tempo e memória

no culto da Virgem de Nazaré. Belém:Imprensa Oficial do Estado,1998.

cunha , Euclides da. Os sertões:

campanha de Canudos. Brasília:Editora Universidade deBrasília, 1963 (1902).

da matta , Roberto. Carnavais,

malandros e heróis: para uma sociologia

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REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

Page 83: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 3

Como a área inventariadacorresponde apenas à zonacontinental de Belém, isto significaque, desses oito distritos, apenasseis foram considerados para efeitodo inventário do Círio, já que osdistritos de Outeiro (daout)e Mosqueiro (damos) estãolocalizados na zona insular doMunicípio de Belém.

A partir de 1992, com aintrodução do pernoite da imagemde Nossa Senhora de Nazaréno município de Ananindeua,as comemorações do Círioextrapolam os limites geográficosde Belém. Sendo assim,o município de Ananindeuafoi considerado, para efeitodo inventário, como localidadeno entorno, pois é dali quea imagem da Virgem de Nazarésai, no sábado que antecedea procissão principal,

na chamada romaria rodoviária,sendo conduzida até o distritode Icoaraci, em Belém.

É no âmbito desta configuraçãosócio-espacial que o Círio deNazaré de Belém vem se realizando,refletindo em sua exterioridadeas releituras que os devotosfazem da conexão entre o tempohistórico e o miraculárioda Virgem. E são estas releituras,tecidas num embate constanteentre diferentes e, muitas vezes,divergentes visões de mundo,que conferem continuidade a essaprática religiosa, ao mesmo tempoem que conferem sentidoàs esperanças dos devotos emtorno da Virgem.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 2

Omunicípio de Belém, onde serealiza anualmente o Círio de

Nazaré, está localizado na regiãonordeste do estado do Pará, Brasil,na confluência do rio Guamá coma baía do Guajará, que faz partedo sistema hídrico composto pelafoz do rio Tocantins, rio Pará, baíade Santo Antônio e baía doMarajó. O território do municípioé constituído de uma partecontinental e de uma insular,composta por cerca de 40 ilhas.

Com uma área de 1.065quilômetros quadrados (ibge

2000), Belém está situada na faixaequatorial conhecida como faixa dedepressão da Amazônia Central,aproximadamente 160 quilômetrosda linha do Equador.

A cidade está a uma altitudede 11 metros acima do nível domar e edificada, em grande parte,sobre uma ponta de terra

compreendida entre a baía deGuajará e o rio Guamá. Belém fazlimites com a baía do Marajó, baíado Guajará, e os municípios deSanto Antônio do Tauá,Ananindeua, Santa Bárbara,Marituba e Acará.

A Região Metropolitana deBelém – rmb, criada pela leicomplementar no 144, de 8 dejunho de 1973, foi inicialmenteconstituída pelos municípiosde Belém e Ananindeua. Com aConstituição Federal de 1988,passou a ser de competência dosestados a criação de regiõesmetropolitanas, aglomeraçõesurbanas e microrregiões.Desta forma, por meio da leicomplementar estadual nº 27,de 19 de outubro de 1995, a regiãometropolitana foi ampliada,passando a ser constituída pelosmunicípios de Belém,

Ananindeua, Marituba eBenevides, acrescida do municípiode Santa Bárbara, em 1996.

Assim constituída, a rmb

possui uma área de 1.827,7quilômetros quadrados e abrigauma população de 1.870.003habitantes (ibge/2000).

O município de Belém édividido, para fins de gestão,em distritos administrativos*. Assim,a cidade de Belém é constituídapor oito distritos: distritoadministrativo Mosqueiro –damos; distrito administrativoOuteiro – daout; distritoadministrativo Icoaraci – daico;distrito administrativo Bengui –daben; distrito administrativoEntroncamento – daent; distritoadministrativo Sacramenta –dasac; distrito administrativoBelém – dabel, e distritoadministrativo Guamá – dagua.

ANEXO 1:O TERRITÓRIODO CÍRIO

romaria fluvial eo mercado do peixe.foto: franciscocosta.

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Como a área inventariadacorresponde apenas à zonacontinental de Belém, isto significaque, desses oito distritos, apenasseis foram considerados para efeitodo inventário do Círio, já que osdistritos de Outeiro (daout)e Mosqueiro (damos) estãolocalizados na zona insular doMunicípio de Belém.

A partir de 1992, com aintrodução do pernoite da imagemde Nossa Senhora de Nazaréno município de Ananindeua,as comemorações do Círioextrapolam os limites geográficosde Belém. Sendo assim,o município de Ananindeuafoi considerado, para efeitodo inventário, como localidadeno entorno, pois é dali quea imagem da Virgem de Nazarésai, no sábado que antecedea procissão principal,

na chamada romaria rodoviária,sendo conduzida até o distritode Icoaraci, em Belém.

É no âmbito desta configuraçãosócio-espacial que o Círio deNazaré de Belém vem se realizando,refletindo em sua exterioridadeas releituras que os devotosfazem da conexão entre o tempohistórico e o miraculárioda Virgem. E são estas releituras,tecidas num embate constanteentre diferentes e, muitas vezes,divergentes visões de mundo,que conferem continuidade a essaprática religiosa, ao mesmo tempoem que conferem sentidoàs esperanças dos devotos emtorno da Virgem.

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 2

Omunicípio de Belém, onde serealiza anualmente o Círio de

Nazaré, está localizado na regiãonordeste do estado do Pará, Brasil,na confluência do rio Guamá coma baía do Guajará, que faz partedo sistema hídrico composto pelafoz do rio Tocantins, rio Pará, baíade Santo Antônio e baía doMarajó. O território do municípioé constituído de uma partecontinental e de uma insular,composta por cerca de 40 ilhas.

Com uma área de 1.065quilômetros quadrados (ibge

2000), Belém está situada na faixaequatorial conhecida como faixa dedepressão da Amazônia Central,aproximadamente 160 quilômetrosda linha do Equador.

A cidade está a uma altitudede 11 metros acima do nível domar e edificada, em grande parte,sobre uma ponta de terra

compreendida entre a baía deGuajará e o rio Guamá. Belém fazlimites com a baía do Marajó, baíado Guajará, e os municípios deSanto Antônio do Tauá,Ananindeua, Santa Bárbara,Marituba e Acará.

A Região Metropolitana deBelém – rmb, criada pela leicomplementar no 144, de 8 dejunho de 1973, foi inicialmenteconstituída pelos municípiosde Belém e Ananindeua. Com aConstituição Federal de 1988,passou a ser de competência dosestados a criação de regiõesmetropolitanas, aglomeraçõesurbanas e microrregiões.Desta forma, por meio da leicomplementar estadual nº 27,de 19 de outubro de 1995, a regiãometropolitana foi ampliada,passando a ser constituída pelosmunicípios de Belém,

Ananindeua, Marituba eBenevides, acrescida do municípiode Santa Bárbara, em 1996.

Assim constituída, a rmb

possui uma área de 1.827,7quilômetros quadrados e abrigauma população de 1.870.003habitantes (ibge/2000).

O município de Belém édividido, para fins de gestão,em distritos administrativos*. Assim,a cidade de Belém é constituídapor oito distritos: distritoadministrativo Mosqueiro –damos; distrito administrativoOuteiro – daout; distritoadministrativo Icoaraci – daico;distrito administrativo Bengui –daben; distrito administrativoEntroncamento – daent; distritoadministrativo Sacramenta –dasac; distrito administrativoBelém – dabel, e distritoadministrativo Guamá – dagua.

ANEXO 1:O TERRITÓRIODO CÍRIO

romaria fluvial eo mercado do peixe.foto: franciscocosta.

Page 85: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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1653 Os jesuítas iniciam o culto àNazaré em Vigia, Pará.

A devoção nazarena teve inícioem Vigia, mas o Círio comoromaria que leva a imagem de umlocal para outro veio a acontecerneste município somente a partirda metade do século xix, váriosanos após a institucionalização doCírio belenense. Ou seja, apesar dadevoção nazarena vigiense ser maisantiga, foi na capital que serealizou o primeiro Círio deNazaré do Pará.

1700 Plácido “encontra” aimagem de Nazaré, às margensdo igarapé Murutucu. Início daveneração em Belém. A casade Plácido ficava na estrada doMaranhão, ponto de parada paramuitos viajantes, o que fez comque a imagem em pouco tempo setornasse conhecida.

1720 Construção da primeiraermida, na casa do próprio Plácido.

1721 D. Bartolomeu do Pilar,bispo do Pará, teria visitadoa ermida na cabana de Plácido.

1730-1744 Construção da segundaermida, de taipa, por Plácido epelo devoto Antônio Agostinho.

1773 D. João Evangelista visita aimagem na ermida e providenciapara que seja levada com pompa paraPortugal, a fim de ser restaurada.

31/07/1774 Retorno da imagem aBelém. D. João Evangelista convocaa cidade para, num ato solene,trasladar a imagem do porto até a suaermida. Na ocasião, o governo doauma jeira de terra à imagem, nolocal onde é aberto o largo, e o bisposolicita a Portugal autorização para

realizar anualmente uma festa emlouvor à Nossa Senhora de Nazaré.

1790 Concedida a autorização paraa realização da festa de Nazaré.

Francisco de Souza Coutinhoassume a presidência da provínciae visita o arraial de Nazaré.

08/09/1793 Realização doprimeiro Círio em Belém, devidoao pagamento da promessa dopresidente da província.

Para obter a cura de uma doença,Francisco de Souza Coutinhoprometeu transportar a imagem emprocissão do palácio do governo atéà ermida da santa, carregando elemesmo um círio. Ao se recuperar,convocou os habitantes do interiorpara a festividade, a fim de realizarno arraial uma feira de produtosregionais. A imagem foitransportada num carro de bois,

ANEXO 2:LINHA DO TEMPO

mapa de belém de¡¶ª¡ com o percursodo primeiro círioem ¡¶ª£.

¡. catedral da sé™. largo da sé (atual praçafrei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja e convento denossa senhora do carmo∞. palácio do governo. §. igreja de são joãobatista¶. largo das mercês (atualpraça visc. do rio branco)

•. igreja e conventodos mercedáriosª. igreja de sant’ana¡º. igreja e conventode santo antônio¡¡. igreja de nossasenhora do rosário¡™. largo da pólvora¡£. igarapé do piri

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1653 Os jesuítas iniciam o culto àNazaré em Vigia, Pará.

A devoção nazarena teve inícioem Vigia, mas o Círio comoromaria que leva a imagem de umlocal para outro veio a acontecerneste município somente a partirda metade do século xix, váriosanos após a institucionalização doCírio belenense. Ou seja, apesar dadevoção nazarena vigiense ser maisantiga, foi na capital que serealizou o primeiro Círio deNazaré do Pará.

1700 Plácido “encontra” aimagem de Nazaré, às margensdo igarapé Murutucu. Início daveneração em Belém. A casade Plácido ficava na estrada doMaranhão, ponto de parada paramuitos viajantes, o que fez comque a imagem em pouco tempo setornasse conhecida.

1720 Construção da primeiraermida, na casa do próprio Plácido.

1721 D. Bartolomeu do Pilar,bispo do Pará, teria visitadoa ermida na cabana de Plácido.

1730-1744 Construção da segundaermida, de taipa, por Plácido epelo devoto Antônio Agostinho.

1773 D. João Evangelista visita aimagem na ermida e providenciapara que seja levada com pompa paraPortugal, a fim de ser restaurada.

31/07/1774 Retorno da imagem aBelém. D. João Evangelista convocaa cidade para, num ato solene,trasladar a imagem do porto até a suaermida. Na ocasião, o governo doauma jeira de terra à imagem, nolocal onde é aberto o largo, e o bisposolicita a Portugal autorização para

realizar anualmente uma festa emlouvor à Nossa Senhora de Nazaré.

1790 Concedida a autorização paraa realização da festa de Nazaré.

Francisco de Souza Coutinhoassume a presidência da provínciae visita o arraial de Nazaré.

08/09/1793 Realização doprimeiro Círio em Belém, devidoao pagamento da promessa dopresidente da província.

Para obter a cura de uma doença,Francisco de Souza Coutinhoprometeu transportar a imagem emprocissão do palácio do governo atéà ermida da santa, carregando elemesmo um círio. Ao se recuperar,convocou os habitantes do interiorpara a festividade, a fim de realizarno arraial uma feira de produtosregionais. A imagem foitransportada num carro de bois,

ANEXO 2:LINHA DO TEMPO

mapa de belém de¡¶ª¡ com o percursodo primeiro círioem ¡¶ª£.

¡. catedral da sé™. largo da sé (atual praçafrei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja e convento denossa senhora do carmo∞. palácio do governo. §. igreja de são joãobatista¶. largo das mercês (atualpraça visc. do rio branco)

•. igreja e conventodos mercedáriosª. igreja de sant’ana¡º. igreja e conventode santo antônio¡¡. igreja de nossasenhora do rosário¡™. largo da pólvora¡£. igarapé do piri

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1853 Uma forte chuva na hora doCírio dispersa a multidão, tornandoa procissão uma parada militar, vistoque as tropas foram obrigadas aprosseguir conduzindo a imagem.

1854 O papa Pio x concedeindulgência plenária paratodo aquele que acompanharo Círio descalço.

O Círio é realizado a 22/10,pela manhã, devido aosacontecimentos do ano passado.

1855 Uma epidemia de cóleraassola a cidade, mas ainda assimrealiza-se o Círio, sendo incluídona procissão o escaler do brigueSão João Batista. Muitos vêem aepidemia como um castigo daVirgem, por não ter sido cumpridaa promessa de carregar o brigue naprocissão. A aglomeração popularaumenta o número de mortos.

Substituição do palanquim queconduzia a imagem e seu portadorpor uma berlinda.

Já não existe a feira de produtosregionais no arraial.

A corda é utilizada pelaprimeira vez, para retirar a berlinda

de um atoleiro.

1858 O Círio ocorre em 10/10.Anunciam-se diversas atrações parao arraial, incluindo botequins,bailes de máscaras, cosmoramas,polioramas e choques elétricos.

1860 Fundação da sociedade dodescanso, que alugava cadeiras paraaqueles que desejassem ver,sentados, o movimento do arraial.

1867 Proíbe-se o jogo no arraialpor meio de edital do subdelegado.

1868 Oficialização da corda pelacomissão encarregada dos festejos.

1877 O jornal Diário de Belém publicamatéria que fala de apresentações“indecorosas” e “blasfemas”ocorridas no pavilhão de Flora, o quefez Dom Macedo Costa ordenar aimediata suspensão dos festejos.A ermida trancada é invadida eocorrem ladainhas e toques desinos. Dom Macedo recusa-se aaprovar a lista da mesa regedora dafesta no ano seguinte, por conternomes de pessoas que participaramna invasão da ermida. A irmandade de

Nazaré toma as chaves da ermida edepõe o pároco, que transfere aparóquia para a capela do hospitalD. Luís i. O governo provincialapóia a irmandade.

A irmandade de Nossa Senhora de Nazaré

era responsável pela execução da festadesde 1794, mas, segundo o bispo,

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 6

no colo do capelão do palácio,sendo acompanhada por cerca dedez mil pessoas. O bispado do Paráestava em vacância.

Itinerário: palácio presidencial,margem do igarapé do Piry, Casa dasCanoas (Ver-o-Peso), rua da Praia(avenida Quinze de Novembro),Convento de Santo Antônio,estrada da Campina (PresidenteVargas), Largo da Pólvora (praça daRepública), estrada do Maranhão(Nazaré) até o arraial.

Nos anos seguintes a festa passoua ser organizada pela Confraria deNossa Senhora de Nazaré.

1799 Francisco de SouzaCoutinho inicia a construçãode uma nova ermida.

1800 ou 1802 Inauguraçãoda nova ermida, junto com assolenidades do Círio.

1803 Introdução da alegoriade D. Fuas Roupinho (que gerouo início da devoção à Nazaré emPortugal) na procissão, por ordemda rainha Maria i.

1826 Introdução do carro dos

foguetes ou carro precursor naprocissão, com bandeiras detodas as nações católicas.

1835 Cabanos tomam o arraial deNazaré e a cidade de Belém. Únicoano em que não ocorreu o Círio.

1839 O pastor protestante DanielP. Kidder descreve o Círio.A procissão passava pelo meio dafloresta, pois a área ao redor daestrada de Nazareth ainda não eraurbanizada. A ermida se assemelhavaa uma casa comum, e as famílias queficavam no local durante a festaconstruíam barracas ao seu redor.

1840 Segunda restauração daimagem, ocorrida em Portugal.

1843 A partir desse ano iniciam-seos anúncios de sortes e loteriasda festa.

1846 Ocorre o milagre do brigueSão João Batista: algunsmarinheiros se salvam do naufrágiodo brigue num pequeno escalerapós invocar a proteção da Virgemde Nazaré. Os sobreviventesprometeram carregar o briguedurante o Círio.

1848 O naturalista inglês Henry WalterBates descreve o Círio. SegundoBates, entre as festas religiosas doPará, a de Nazaré era a maisimportante, tendo a presença detodas as autoridades civis, inclusiveo presidente da província.

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1853 Uma forte chuva na hora doCírio dispersa a multidão, tornandoa procissão uma parada militar, vistoque as tropas foram obrigadas aprosseguir conduzindo a imagem.

1854 O papa Pio x concedeindulgência plenária paratodo aquele que acompanharo Círio descalço.

O Círio é realizado a 22/10,pela manhã, devido aosacontecimentos do ano passado.

1855 Uma epidemia de cóleraassola a cidade, mas ainda assimrealiza-se o Círio, sendo incluídona procissão o escaler do brigueSão João Batista. Muitos vêem aepidemia como um castigo daVirgem, por não ter sido cumpridaa promessa de carregar o brigue naprocissão. A aglomeração popularaumenta o número de mortos.

Substituição do palanquim queconduzia a imagem e seu portadorpor uma berlinda.

Já não existe a feira de produtosregionais no arraial.

A corda é utilizada pelaprimeira vez, para retirar a berlinda

de um atoleiro.

1858 O Círio ocorre em 10/10.Anunciam-se diversas atrações parao arraial, incluindo botequins,bailes de máscaras, cosmoramas,polioramas e choques elétricos.

1860 Fundação da sociedade dodescanso, que alugava cadeiras paraaqueles que desejassem ver,sentados, o movimento do arraial.

1867 Proíbe-se o jogo no arraialpor meio de edital do subdelegado.

1868 Oficialização da corda pelacomissão encarregada dos festejos.

1877 O jornal Diário de Belém publicamatéria que fala de apresentações“indecorosas” e “blasfemas”ocorridas no pavilhão de Flora, o quefez Dom Macedo Costa ordenar aimediata suspensão dos festejos.A ermida trancada é invadida eocorrem ladainhas e toques desinos. Dom Macedo recusa-se aaprovar a lista da mesa regedora dafesta no ano seguinte, por conternomes de pessoas que participaramna invasão da ermida. A irmandade de

Nazaré toma as chaves da ermida edepõe o pároco, que transfere aparóquia para a capela do hospitalD. Luís i. O governo provincialapóia a irmandade.

A irmandade de Nossa Senhora de Nazaré

era responsável pela execução da festadesde 1794, mas, segundo o bispo,

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 8 6

no colo do capelão do palácio,sendo acompanhada por cerca dedez mil pessoas. O bispado do Paráestava em vacância.

Itinerário: palácio presidencial,margem do igarapé do Piry, Casa dasCanoas (Ver-o-Peso), rua da Praia(avenida Quinze de Novembro),Convento de Santo Antônio,estrada da Campina (PresidenteVargas), Largo da Pólvora (praça daRepública), estrada do Maranhão(Nazaré) até o arraial.

Nos anos seguintes a festa passoua ser organizada pela Confraria deNossa Senhora de Nazaré.

1799 Francisco de SouzaCoutinho inicia a construçãode uma nova ermida.

1800 ou 1802 Inauguraçãoda nova ermida, junto com assolenidades do Círio.

1803 Introdução da alegoriade D. Fuas Roupinho (que gerouo início da devoção à Nazaré emPortugal) na procissão, por ordemda rainha Maria i.

1826 Introdução do carro dos

foguetes ou carro precursor naprocissão, com bandeiras detodas as nações católicas.

1835 Cabanos tomam o arraial deNazaré e a cidade de Belém. Únicoano em que não ocorreu o Círio.

1839 O pastor protestante DanielP. Kidder descreve o Círio.A procissão passava pelo meio dafloresta, pois a área ao redor daestrada de Nazareth ainda não eraurbanizada. A ermida se assemelhavaa uma casa comum, e as famílias queficavam no local durante a festaconstruíam barracas ao seu redor.

1840 Segunda restauração daimagem, ocorrida em Portugal.

1843 A partir desse ano iniciam-seos anúncios de sortes e loteriasda festa.

1846 Ocorre o milagre do brigueSão João Batista: algunsmarinheiros se salvam do naufrágiodo brigue num pequeno escalerapós invocar a proteção da Virgemde Nazaré. Os sobreviventesprometeram carregar o briguedurante o Círio.

1848 O naturalista inglês Henry WalterBates descreve o Círio. SegundoBates, entre as festas religiosas doPará, a de Nazaré era a maisimportante, tendo a presença detodas as autoridades civis, inclusiveo presidente da província.

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jamais tinha sido regulamentada pelaIgreja. Alguns dos membros da mesaregedora eram maçons, e issoacirrou a intolerância do bispo paracom a mesa e vice-versa, devido aosecos da questão religiosa.

1878 Perpetuação da questão nazarena;a nova matriz de Nazaré é concluída,e o presidente da provínciadetermina que o prédio sejaentregue à Irmandade. O bispoproíbe a realização do Círio. Ocorreo Círio Civil, sem a participação depadres, mas com grande pompa, a6/10, o que é considerado pelaIgreja Católica uma profanação.

1879 A Assembléia provincialaprova projeto autorizando aentrega da nova igreja à diocese,mas o presidente da província nãosanciona a lei.

Realiza-se o segundo Círio Civil.

1880 À véspera do Círio,soluciona-se a questão entre airmandade e o arcebispo,decidindo-se que a lista da mesaregedora das festividades seriacomposta de uma comissão civil euma eclesiástica e que os festeirosacatariam as orientações de DomMacedo Costa. O Círio se realizasem problemas, com a presença doarcebispo e seu cabido naprocissão.

Dom Macedo Costadetermina que a imagem deve irsozinha na berlinda.

1885 Atrelam-se cavalos à berlinda,mas, na hora da procissão o povoretira os cavalos e faz questãode puxá-la.

Itinerário: frente do Palácio,travessa da Rosa, praça da Sé,calçada do Colégio, travessa daCompanhia, rua da Imperatriz,

praça e rua de Santo Antônio, ruada Trindade, praça de Sant’Anna,rua de São Vicente, travessa dosMirandas, praça de Pedro ii,estrada de Nazareth, até à igreja.

1890 O Círio sai da Igreja deSanto Alexandre. A capelado palácio é fechada devidoà posse dos republicanos.

1891 Itinerário: Igreja de SantoAlexandre, largo da Sé, ruaDr. Assis, travessa da Vigia, praçada Independência, avenida e ruaQuinze de Novembro, praçaVisconde do Rio Branco, rua daIndústria, largo e rua de SantoAntônio, rua da Trindade, ruado Rosário, travessa Quinze deAgosto, largo da Pólvora, estradae largo de Nazaré.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡••∞.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre e colégiodos jesuítas∞. praça da independência (atual praçadom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

Page 90: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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jamais tinha sido regulamentada pelaIgreja. Alguns dos membros da mesaregedora eram maçons, e issoacirrou a intolerância do bispo paracom a mesa e vice-versa, devido aosecos da questão religiosa.

1878 Perpetuação da questão nazarena;a nova matriz de Nazaré é concluída,e o presidente da provínciadetermina que o prédio sejaentregue à Irmandade. O bispoproíbe a realização do Círio. Ocorreo Círio Civil, sem a participação depadres, mas com grande pompa, a6/10, o que é considerado pelaIgreja Católica uma profanação.

1879 A Assembléia provincialaprova projeto autorizando aentrega da nova igreja à diocese,mas o presidente da província nãosanciona a lei.

Realiza-se o segundo Círio Civil.

1880 À véspera do Círio,soluciona-se a questão entre airmandade e o arcebispo,decidindo-se que a lista da mesaregedora das festividades seriacomposta de uma comissão civil euma eclesiástica e que os festeirosacatariam as orientações de DomMacedo Costa. O Círio se realizasem problemas, com a presença doarcebispo e seu cabido naprocissão.

Dom Macedo Costadetermina que a imagem deve irsozinha na berlinda.

1885 Atrelam-se cavalos à berlinda,mas, na hora da procissão o povoretira os cavalos e faz questãode puxá-la.

Itinerário: frente do Palácio,travessa da Rosa, praça da Sé,calçada do Colégio, travessa daCompanhia, rua da Imperatriz,

praça e rua de Santo Antônio, ruada Trindade, praça de Sant’Anna,rua de São Vicente, travessa dosMirandas, praça de Pedro ii,estrada de Nazareth, até à igreja.

1890 O Círio sai da Igreja deSanto Alexandre. A capelado palácio é fechada devidoà posse dos republicanos.

1891 Itinerário: Igreja de SantoAlexandre, largo da Sé, ruaDr. Assis, travessa da Vigia, praçada Independência, avenida e ruaQuinze de Novembro, praçaVisconde do Rio Branco, rua daIndústria, largo e rua de SantoAntônio, rua da Trindade, ruado Rosário, travessa Quinze deAgosto, largo da Pólvora, estradae largo de Nazaré.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡••∞.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre e colégiodos jesuítas∞. praça da independência (atual praçadom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

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1892 A grande atração do arraialfoi um boi gigantesco, apelidado“boi-monstro”, que ao fim da festafoi sacrificado e comido.Itinerário: largo da Sé, ruaDr. Assis, travessa da Atalaia,rua Dr. Malcher, travessa da Vigia,praça da Independência, avenidae rua de Santo Antônio, rua daTrindade, rua do Rosário, travessaQuinze de Agosto, largo daPólvora, estrada e largo de Nazaré.

1901 Dom Francisco do RêgoMaia fixou o segundodomingo de outubro comoa data oficial do Círio.

1902 Número estimado de pessoasque assistiram ao Círio: 25 mil.

1907 Três salões de cinematógrafono arraial.

1909 Euclides Faria compõe Vós Sois

o Lírio Mimoso, hino oficial do Círio.

1910 Chegada dos carrosséisamericanos, a grande atraçãodo arraial.

Organizada oficialmente a diretoria

da festa, acabando a irmandade,que até então organizava a festa.

1916 Introduz-se na romaria umcarro especialmente para recolheras promessas, para que estas nãosejam arremessadas no carro dos

milagres, com a alegoria de DomFuas e do brigue São João Batista.

Pela primeira vez, o espaçodentro da corda foi utilizado pelasautoridades.

1918 Devido à epidemia de gripeespanhola, a diretoria da festa adia aconclusão dos festejos nazarenos,assim como a Festa de Nazaré, que

deveria ocorrer no último domingode outubro.

1920 Inaugura-se a Basílica deNazaré atual e a imagem original étransferida para lá.

1922 Separam-se homens para umlado da corda e mulheres para ooutro. Na saída da trasladação, aimagem tombou dentro da berlinda.

1923 O vigário de Nazaré exigeque os fiéis tragam cera de boaqualidade. A Igreja de Nazarérecebe título de Basílica.

1924 Separa-se uma corda para oshomens e outra para as mulheres.

1926 Expedida por D. IrineuJoffily, arcebispo do Pará, a Circularno 5 definia basicamente o seguinte:instituição de cortejo dividido em

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡•ª¡

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

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1892 A grande atração do arraialfoi um boi gigantesco, apelidado“boi-monstro”, que ao fim da festafoi sacrificado e comido.Itinerário: largo da Sé, ruaDr. Assis, travessa da Atalaia,rua Dr. Malcher, travessa da Vigia,praça da Independência, avenidae rua de Santo Antônio, rua daTrindade, rua do Rosário, travessaQuinze de Agosto, largo daPólvora, estrada e largo de Nazaré.

1901 Dom Francisco do RêgoMaia fixou o segundodomingo de outubro comoa data oficial do Círio.

1902 Número estimado de pessoasque assistiram ao Círio: 25 mil.

1907 Três salões de cinematógrafono arraial.

1909 Euclides Faria compõe Vós Sois

o Lírio Mimoso, hino oficial do Círio.

1910 Chegada dos carrosséisamericanos, a grande atraçãodo arraial.

Organizada oficialmente a diretoria

da festa, acabando a irmandade,que até então organizava a festa.

1916 Introduz-se na romaria umcarro especialmente para recolheras promessas, para que estas nãosejam arremessadas no carro dos

milagres, com a alegoria de DomFuas e do brigue São João Batista.

Pela primeira vez, o espaçodentro da corda foi utilizado pelasautoridades.

1918 Devido à epidemia de gripeespanhola, a diretoria da festa adia aconclusão dos festejos nazarenos,assim como a Festa de Nazaré, que

deveria ocorrer no último domingode outubro.

1920 Inaugura-se a Basílica deNazaré atual e a imagem original étransferida para lá.

1922 Separam-se homens para umlado da corda e mulheres para ooutro. Na saída da trasladação, aimagem tombou dentro da berlinda.

1923 O vigário de Nazaré exigeque os fiéis tragam cera de boaqualidade. A Igreja de Nazarérecebe título de Basílica.

1924 Separa-se uma corda para oshomens e outra para as mulheres.

1926 Expedida por D. IrineuJoffily, arcebispo do Pará, a Circularno 5 definia basicamente o seguinte:instituição de cortejo dividido em

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡•ª¡

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

Page 93: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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alas de colégios e associações pias,substituição dos carros por andores,abolição da corda, da marujada, dospromesseiros vestidos de anjose santos, de cavalos, carros eautomóveis, determinação de que aspromessas deviam ser entregues nabasílica, e não levadas na procissão.Sendo as mudanças muitocontestadas, este foi considerado umdos Círios mais violentos de que setem notícia. É enviado um abaixo-assinado ao arcebispo pedindoa manutenção das tradições.

1928 Durante a procissão, algunsguardas civis cometeram violênciascontra o povo, ao entrar aprocissão na rua João Alfredo.

Itinerário: rua Pedro Rayol,João Alfredo, rua Santo Antônio,avenida Quinze de Agosto, praça daRepública e avenida Nazaré.

1931 Dom Irineu Joffily deixa oArcebispado do Pará. A pressãopopular, aliada à intervençãopopulista do interventor MagalhãesBarata resulta no retorno da corda eda berlinda ao Círio. A corda érestaurada, porém mais reduzida,sendo puxada em comissões de 40 a50 pessoas.

Itinerário: praça da Sé, PedroRayol, praça. D. Pedro ii,dobrando no Ver-o-peso emdireção ao boulevard da República,até a avenida Quinze de Agosto,praça da República e avenidaNazaré até a basílica.

1936 Jogos proibidos no arraial. Primeira homenagem do

Sindicato dos Estivadores.

1937 Estimativa de mais de 200mil pessoas no préstito.

1938 O arraial começa a funcionaruma semana antes do início dafesta. Os barraqueiros chegam asugerir que a festa se prolonguepara que obtenham maior lucro.

1947 Descendentes da famíliaimperial brasileira tomam parteno Círio.

Ainda se anuncia a sociedade

do descanso.

1949 Chegam a Belém grandesaviões trazendo artistas para o arraial

e romeiros para o Círio de Nazaré.

1951 Os trajetos da transladação e doCírio são modificados para que aimagem passe em frente aospalácios da administração estaduale municipal para ser homenageada.

Itinerário: rua Pedro Rayol,praça. D. Pedro ii (passando emfrente aos palácios do governo e

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡•ª™.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

Page 94: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 9 3d o s s i ê i p h a n i { C í r i o d e N a z a r é } 9 2

alas de colégios e associações pias,substituição dos carros por andores,abolição da corda, da marujada, dospromesseiros vestidos de anjose santos, de cavalos, carros eautomóveis, determinação de que aspromessas deviam ser entregues nabasílica, e não levadas na procissão.Sendo as mudanças muitocontestadas, este foi considerado umdos Círios mais violentos de que setem notícia. É enviado um abaixo-assinado ao arcebispo pedindoa manutenção das tradições.

1928 Durante a procissão, algunsguardas civis cometeram violênciascontra o povo, ao entrar aprocissão na rua João Alfredo.

Itinerário: rua Pedro Rayol,João Alfredo, rua Santo Antônio,avenida Quinze de Agosto, praça daRepública e avenida Nazaré.

1931 Dom Irineu Joffily deixa oArcebispado do Pará. A pressãopopular, aliada à intervençãopopulista do interventor MagalhãesBarata resulta no retorno da corda eda berlinda ao Círio. A corda érestaurada, porém mais reduzida,sendo puxada em comissões de 40 a50 pessoas.

Itinerário: praça da Sé, PedroRayol, praça. D. Pedro ii,dobrando no Ver-o-peso emdireção ao boulevard da República,até a avenida Quinze de Agosto,praça da República e avenidaNazaré até a basílica.

1936 Jogos proibidos no arraial. Primeira homenagem do

Sindicato dos Estivadores.

1937 Estimativa de mais de 200mil pessoas no préstito.

1938 O arraial começa a funcionaruma semana antes do início dafesta. Os barraqueiros chegam asugerir que a festa se prolonguepara que obtenham maior lucro.

1947 Descendentes da famíliaimperial brasileira tomam parteno Círio.

Ainda se anuncia a sociedade

do descanso.

1949 Chegam a Belém grandesaviões trazendo artistas para o arraial

e romeiros para o Círio de Nazaré.

1951 Os trajetos da transladação e doCírio são modificados para que aimagem passe em frente aospalácios da administração estaduale municipal para ser homenageada.

Itinerário: rua Pedro Rayol,praça. D. Pedro ii (passando emfrente aos palácios do governo e

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡•ª™.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

Page 95: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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da prefeitura), avenida Portugal,avenida Quinze de Novembro,travessa Frutuoso Guimarães,boulevard Castilhos França,avenida Quinze de Agosto, praçada República, avenida Nazaréaté a basílica.

1961 No período que compreendea trasladação e o Círio é decretada a“lei seca”. Jogos de azar novamenteproibidos no arraial.

1963 Envia-se a berlinda tradicionalpara São Miguel do Guamá e usa-sena trasladação e no Círio uma nova,de linhas simples, o que provocagrande descontentamento.Governador envia carta à diretoria

da festa pedindo a volta da berlinda

antiga. Último anúncio de teatrono arraial durante a quinzena,espetáculo da Rádio Marajoara.Encomendada uma cópia da

imagem original para substituir a doColégio Gentil Bittencourt, que émuito diferente da original.

1964 Berlinda que vai na procissão énova, mas semelhante à antiga,conduzida em uma carreta adaptadapara esse fim.

1966 Aproximadamente400 mil pessoas participam desteCírio; início da utilizaçãodos crachás para quem ia dentro dacorda; corda começa a ser controladapor apito.

Pela primeira vez é utilizada naprocissão a imagem peregrina, cópiada imagem encontrada por Plácido.Encomendada pelo vigário MiguelGiambelli ao escultor italianoGiacommo Mussner, substituiua imagem do Colégio GentilBittencourt que, até o anoanterior, saíra na procissão.

1968 Pela primeira vez em umséculo, a imagem original ficaexposta durante a quinzena paraveneração pública. Três ministrosda República presentes, além deoutras autoridades.

1970 O presidente do Brasil,Emílio Garrastazu Médici assisteà trasladação e ao Círio.

1971 Rompe-se a corda com asautoridades, e estas se misturamcom o povo. Assembléia Legislativado Pará, por meio da Lei 4.371,de 15/12, declara Nossa Senhora deNazaré padroeira do Pará e rainhada Amazônia.

1972 Início das peregrinações daimagem nas casas dos paroquianos.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡ª™•.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

Page 96: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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da prefeitura), avenida Portugal,avenida Quinze de Novembro,travessa Frutuoso Guimarães,boulevard Castilhos França,avenida Quinze de Agosto, praçada República, avenida Nazaréaté a basílica.

1961 No período que compreendea trasladação e o Círio é decretada a“lei seca”. Jogos de azar novamenteproibidos no arraial.

1963 Envia-se a berlinda tradicionalpara São Miguel do Guamá e usa-sena trasladação e no Círio uma nova,de linhas simples, o que provocagrande descontentamento.Governador envia carta à diretoria

da festa pedindo a volta da berlinda

antiga. Último anúncio de teatrono arraial durante a quinzena,espetáculo da Rádio Marajoara.Encomendada uma cópia da

imagem original para substituir a doColégio Gentil Bittencourt, que émuito diferente da original.

1964 Berlinda que vai na procissão énova, mas semelhante à antiga,conduzida em uma carreta adaptadapara esse fim.

1966 Aproximadamente400 mil pessoas participam desteCírio; início da utilizaçãodos crachás para quem ia dentro dacorda; corda começa a ser controladapor apito.

Pela primeira vez é utilizada naprocissão a imagem peregrina, cópiada imagem encontrada por Plácido.Encomendada pelo vigário MiguelGiambelli ao escultor italianoGiacommo Mussner, substituiua imagem do Colégio GentilBittencourt que, até o anoanterior, saíra na procissão.

1968 Pela primeira vez em umséculo, a imagem original ficaexposta durante a quinzena paraveneração pública. Três ministrosda República presentes, além deoutras autoridades.

1970 O presidente do Brasil,Emílio Garrastazu Médici assisteà trasladação e ao Círio.

1971 Rompe-se a corda com asautoridades, e estas se misturamcom o povo. Assembléia Legislativado Pará, por meio da Lei 4.371,de 15/12, declara Nossa Senhora deNazaré padroeira do Pará e rainhada Amazônia.

1972 Início das peregrinações daimagem nas casas dos paroquianos.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡ª™•.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

Page 97: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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1975 Os brinquedos eletrônicosdominam 80% do Arraial. Proibidaa venda de bebidas de alto teoralcoólico. Estimativa departicipantes: 400 mil. Criaçãoda guarda de Nossa Senhora, com aresponsabilidade de conduzire guardar a berlinda e zelar peladisciplina da corda e do arraial.

1976 Participação deaproximadamente 500 mil pessoasno Círio.

1977 Paratur monta arquibancadasna avenida Presidente Vargas paraturistas assistirem à procissão;presença de arcebispos de outrosestados, bem como de autoridades.

1978 Realização da primeira festa

das filhas da Chiquita.

1979 O presidente do Brasil, JoãoFigueiredo, acompanha o Círio.Estimativa de participantes: 700 mil.1980 Aproximadamente 800 milpessoas participam da procissão.Lançamento de carimbocomemorativo do Círio de Nazaré.Os crachás para entrar na corda sãosubstituídos por convites especiaisdistribuídos pela diretoria da festa. Opapa João Paulo II abençoa o povoparaense com a imagem de NossaSenhora de Nazaré.

1981 Três cordas no Círio: a quepuxa a berlinda, a das autoridades e aque fica ao redor dos carros dosmilagres. Início da atuação da CruzVermelha no apoio ao Círio;manifestações do Movimento para aLibertação dos Presos do Araguaiadurante a procissão.

1982 Inauguração do ConjuntoArquitetônico de Nazaré – can, oupraça Santuário, no dia 8/10; arraialse muda do largo para as transversais;manifestações do Movimento para aLibertação dos Presos do Araguaiadurante a procissão; número departicipantes: 800 mil.

1983 Introdução da corrida do Círio,em 6/10; o carro dos foguetes éretirado da procissão, devido aoperigo de atingir prédios emangueiras, substituindo-o portoque de clarins e banda. A corda

mede 300 metros. Pelo terceiroano consecutivo, o Movimento pelaLibertação dos Presos do Araguaiamanifesta-se durante a procissão.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡ª£¡.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

Page 98: Círio de Nazaré - ipatrimonio.orgFotos INRC/Círio – 2a SR/Iphan imagens antigas ... Processo nº 01450.010332/2004-07 proponente: Arquidiocese de Belém/PA e Diretoria da Festa

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1975 Os brinquedos eletrônicosdominam 80% do Arraial. Proibidaa venda de bebidas de alto teoralcoólico. Estimativa departicipantes: 400 mil. Criaçãoda guarda de Nossa Senhora, com aresponsabilidade de conduzire guardar a berlinda e zelar peladisciplina da corda e do arraial.

1976 Participação deaproximadamente 500 mil pessoasno Círio.

1977 Paratur monta arquibancadasna avenida Presidente Vargas paraturistas assistirem à procissão;presença de arcebispos de outrosestados, bem como de autoridades.

1978 Realização da primeira festa

das filhas da Chiquita.

1979 O presidente do Brasil, JoãoFigueiredo, acompanha o Círio.Estimativa de participantes: 700 mil.1980 Aproximadamente 800 milpessoas participam da procissão.Lançamento de carimbocomemorativo do Círio de Nazaré.Os crachás para entrar na corda sãosubstituídos por convites especiaisdistribuídos pela diretoria da festa. Opapa João Paulo II abençoa o povoparaense com a imagem de NossaSenhora de Nazaré.

1981 Três cordas no Círio: a quepuxa a berlinda, a das autoridades e aque fica ao redor dos carros dosmilagres. Início da atuação da CruzVermelha no apoio ao Círio;manifestações do Movimento para aLibertação dos Presos do Araguaiadurante a procissão.

1982 Inauguração do ConjuntoArquitetônico de Nazaré – can, oupraça Santuário, no dia 8/10; arraialse muda do largo para as transversais;manifestações do Movimento para aLibertação dos Presos do Araguaiadurante a procissão; número departicipantes: 800 mil.

1983 Introdução da corrida do Círio,em 6/10; o carro dos foguetes éretirado da procissão, devido aoperigo de atingir prédios emangueiras, substituindo-o portoque de clarins e banda. A corda

mede 300 metros. Pelo terceiroano consecutivo, o Movimento pelaLibertação dos Presos do Araguaiamanifesta-se durante a procissão.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡ª£¡.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

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1985 José Sarney, presidente daRepública, assiste ao Círio emBelém; Sindicato dos Estivadoresfaz homenagem surpresa aTancredo Neves; ocorrem naprocissão protestos pela reformaagrária, pelos direitos dos negrose propaganda política.

1986 O museu do Círio éinaugurado em 9/10; inícioda romaria fluvial, por iniciativa daParatur. Realização da primeiramissa do mandato.

1987 Protestos durante aprocissão, pela reforma agrária econtra o envio de lixo nuclear paraa Serra do Cachimbo.

1988 Estabelecimento definitivodo itinerário atual da trasladação,que é o mesmo do Círio, nosentido inverso.1989 Criação da romaria rodoviária.

1990 Início do círio das crianças.Criação da romaria dos motoqueiros;

a imagem achada por Plácido, suacoroa e seus mantos foramtombados pelo governo estadual,por meio da Lei 5.629, de 20/12.

1991 As autoridades nãoacompanham mais o Círio dentroda corda; estimativa de mais de ummilhão de pessoas na procissão.Presença do príncipe AntônioOrléans de Bragança; realização doprimeiro festival da canção mariana.

1992 Pela primeira vez, a berlinda

vai à frente da procissão. Por sereste o ano do aniversário de200 anos do Círio, é aimagem original que sai às ruas;é inaugurado o marcocomemorativo; estimativa de2 milhões de pessoas na procissão.

1993 Realização do primeiroauto do Círio.

1995 Realização do primeiroconcurso de redação.

1999 Introdução do arrastão do boi

pavulagem na programação culturalda Festa de Nazaré.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡ª∞¡.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

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1985 José Sarney, presidente daRepública, assiste ao Círio emBelém; Sindicato dos Estivadoresfaz homenagem surpresa aTancredo Neves; ocorrem naprocissão protestos pela reformaagrária, pelos direitos dos negrose propaganda política.

1986 O museu do Círio éinaugurado em 9/10; inícioda romaria fluvial, por iniciativa daParatur. Realização da primeiramissa do mandato.

1987 Protestos durante aprocissão, pela reforma agrária econtra o envio de lixo nuclear paraa Serra do Cachimbo.

1988 Estabelecimento definitivodo itinerário atual da trasladação,que é o mesmo do Círio, nosentido inverso.1989 Criação da romaria rodoviária.

1990 Início do círio das crianças.Criação da romaria dos motoqueiros;

a imagem achada por Plácido, suacoroa e seus mantos foramtombados pelo governo estadual,por meio da Lei 5.629, de 20/12.

1991 As autoridades nãoacompanham mais o Círio dentroda corda; estimativa de mais de ummilhão de pessoas na procissão.Presença do príncipe AntônioOrléans de Bragança; realização doprimeiro festival da canção mariana.

1992 Pela primeira vez, a berlinda

vai à frente da procissão. Por sereste o ano do aniversário de200 anos do Círio, é aimagem original que sai às ruas;é inaugurado o marcocomemorativo; estimativa de2 milhões de pessoas na procissão.

1993 Realização do primeiroauto do Círio.

1995 Realização do primeiroconcurso de redação.

1999 Introdução do arrastão do boi

pavulagem na programação culturalda Festa de Nazaré.

mapa de belém de¡ªº∞ com o percursodo círio de ¡ª∞¡.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

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2000 Realizou-se o Círio mais demoradode todos os tempos. A imagem daVirgem de Nazaré chegou à basílicaàs 15:45h. A corda ficou atrelada àberlinda o tempo todo, tanto natrasladação como no Círio.

2002 Alterado o trajeto do Círioque passou, excepcionalmente, pelarua João Alfredo em vez de peloboulevard Castilhos França, emdecorrência de incêndio ocorrido,pela manhã, na Casa Chamma,localizada no edifício do Mercadode Carne, próximo ao Mercado dePeixe, justamente em frente aolocal onde a corda fica aguardandoa santa. Assim, a santa acabouchegando ao ConjuntoArquitetônico de Nazaré (can)sem a corda que, por sua vez,foi chegando aos poucos,já aos pedaços.

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mapa de belém de¡ªª§ com o percursodo círio de ™ºº™.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

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2000 Realizou-se o Círio mais demoradode todos os tempos. A imagem daVirgem de Nazaré chegou à basílicaàs 15:45h. A corda ficou atrelada àberlinda o tempo todo, tanto natrasladação como no Círio.

2002 Alterado o trajeto do Círioque passou, excepcionalmente, pelarua João Alfredo em vez de peloboulevard Castilhos França, emdecorrência de incêndio ocorrido,pela manhã, na Casa Chamma,localizada no edifício do Mercadode Carne, próximo ao Mercado dePeixe, justamente em frente aolocal onde a corda fica aguardandoa santa. Assim, a santa acabouchegando ao ConjuntoArquitetônico de Nazaré (can)sem a corda que, por sua vez,foi chegando aos poucos,já aos pedaços.

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mapa de belém de¡ªª§ com o percursodo círio de ™ºº™.

¡. catedral da sé™. largo da sé(atual praça frei caetano brandão)£. forte do presépio¢. igreja de santo alexandre ecolégio dos jesuítas∞. praça da independência (atual praça dom pedro ii)§. palácio do governo (atual lauro sodré)¶. palácio antônio lemos•. igreja de são joão batistaª. conjunto de nossa senhora do carmo

¡º. largo das mercês (atual praça visc. do rio branco)¡¡. igreja e convento dos mercedários¡™. igreja de sant’ana¡£. igreja de nossa senhora do rosário¡¢. largo da pólvora (atual praça da república)¡∞. teatro da paz¡§. praça justo chermont (atual centro arquitetônico de nazaré – can)¡¶. basílica de nossa senhora de nazaré¡•. colégio gentil bittencourt

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ficha catalográfica elaborada pela

biblioteca noronha santos

Círio de Nazaré. – Rio de Janeiro: Iphan, 2006.

101 p.: color., plantas; 25cm. – (Dossiê Iphan; 1)

isbn 85-7334-024x

Bibliografia: p. 80-81.

1. Patrimônio imaterial. 2. Festas religiosas. 3. Círio

de Nazaré. I. Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional. II. Série.

Iphan/RJ cdd – 06.0981

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Este livro foi produzido

na primavera de 2005 para o

Instituto do Patrimônio Histórico

e Artístico Nacional.

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ficha catalográfica elaborada pela

biblioteca noronha santos

Círio de Nazaré. – Rio de Janeiro: Iphan, 2006.

101 p.: color., plantas; 25cm. – (Dossiê Iphan; 1)

isbn 85-7334-024x

Bibliografia: p. 80-81.

1. Patrimônio imaterial. 2. Festas religiosas. 3. Círio

de Nazaré. I. Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional. II. Série.

Iphan/RJ cdd – 06.0981