Cristal na veia

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Há mais de 50 semanas na lista de mais vendidos do New York Times

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'Cristal na veia' é um relato em primeira pessoa sobre o mundo das drogas. Nic Sheff conta tudo sobre sua relação com as drogas, o auge do vício, suas violentas recaídas e a necessidade de tratamento. O autor não poupa detalhes - conta seus frequentes encontros com a lei, as várias tentativas de tratamento e às vezes em que quase morreu.

Transcript of Cristal na veia

Nic Sheff é dependente de drogas e álcool. Aos 26 anos,

já fez tratamentos em várias clínicas dos Estados Unidos

e continua em sua batalha diária contra o vício. Seus textos já

foram publicados na Newsweek, no San Francisco Chronicle e no site nerve.com. Cristal na veia é

seu primeiro livro.

O FILHO DA

Nic Sheff tinha 11 anos quando fi cou bêbado pela primeira vez. Nos anos seguintes, ele experimentou com regularidade maconha, cocaína, ecstasy e se tornou dependente de metanfetamina e de heroína. Ainda assim, achava que podia parar e reorganizar sua vida quando quisesse. Foi preciso uma violenta recaída, durante um verão na Califórnia, para que se convencesse do contrário. Em Cristal na veia, a partir de uma narrativa honesta e incisiva, Nic Sheff não esconde os detalhes de sua trajetória, da recaída à recuperação. Enquanto o acompanhamos em seu mergulho no abismo físico e mental do vício, Nic constrói o retrato de uma pessoa em dívida com a família, seus amigos e consigo mesma. Um relato perturbador – mas não sem esperanças.

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sheff atheneum

Há mais de 50 semanas na lista de mais vendidos do New York Times

memórias de uma viagem sem limites ao inferno das drogas

Nic Sheff

tradução

Julia Romeu

Cristal na veia

Texto estabelecido segundo o Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.

Título originalTweak

Copyright © 2007, Nicholas Sheff Copyright da tradução © 2009, Agir Editora Ltda.

Capa Adaptação de capa de Michaél McCartnéy

Copidesque Nina Schipper

RevisãoRebeca BoliteClara Diament

Produção editorialJuliana Romeiro

Todos os direitos reservados à Agir Editora Ltda. – uma empresa Ediouro Publicações S.A.Rua Nova Jerusalém, 345 – CEP 21042-235 – Bonsucesso – Rio de Janeiro – RJTel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21) 3882-8212/8313

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Sheff , Nicholas, 1983-Cristal na veia: memórias de uma viagem sem limites ao inferno das

drogas / Nic Sheff ; tradução Julia Romeu. – Rio de Janeiro: Agir, 2009. il.

Tradução de: TweakISBN 978-85-220-0830-8

1. Sheff , Nicholas, 1983-. 2. Drogas e juventude. 3. Escritores americanos – Uso de drogas. 4. Toxicomania. I. Título.

S546c

CDD: 818CDU: 821.111(73)-9409-2450

Publicado em acordo com Atheneum Books for Young Readers

Para Lee e para minha amiga de Nova York que me recebeu em sua casa. Vocês são duas mulheres lindas, fortes e inspiradoras. São as duas pessoas que eu mais admiro e respeito no mundo.

Obrigado.

Como posso seguir em frente se não sei para que lado estou virado?

John Lennon

Este é um livro de memórias. É a lembrança atual de um determinado p e-río do da vida do autor. Alguns nomes, lugares e características que permitiriam identifi cação foram modifi cados, e alguns indivíduos são combinações de mais de uma pessoa. Diálogos e fatos foram recriados a partir dessas lembranças e, em alguns casos, foram resumidos de forma a transmitir a ideia do que foi dito ou do que ocorreu.

Parte um

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Dia 1

Eu já tinha ouvido rumores sobre o que havia acontecido com Lauren. Eu não a conhecia muito bem, mas a gente tinha sido meio que amigo no colégio. Na verdade, tínhamos passado mais ou menos duas semanas dormindo juntos. Ela havia se mudado para São Francisco quando eu estava no último ano e a gente se conheceu em algum lugar — acho que numa festa. Quando eu estava no colégio só fumava maconha e, de vez em quando, tomava ácido e cogumelos nos fi ns de semana.

Mas maconha eu fumava todos os dias. Estava com 17 anos e tinha sido acei-to em universidades de prestígio de todo o país. Por isso, achava que não ia me fazer mal ser um pouquinho irresponsável. Afi nal, havia me esforçado bastante nos últimos três anos e meio. Claro que eu já havia tido alguns problemas por fumar baseado e beber demais quando era mais novo, mas isso tinha acabado. Eu era esperto. Estava na equipe de natação da escola. Um artigo meu havia sido publicado na revista Newsweek. Eu era um ótimo irmão mais velho. Me dava bem com meu pai e minha madrasta. Adorava os dois. Considerava-os meus melhores amigos. Por isso, comecei a fumar um pouco de maconha. Que mal poderia fazer? Cara, até meu pai fumava maconha. Todo mundo na minha família fazia isso. Nossos amigos também — era totalmente aceito.

Mas comigo era diferente. Quando ainda estava no colégio, comecei a apertar baseados e fumar no carro a caminho da escola. Todo intervalo eu

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saía de carro para fumar um. A gente ia para as colinas do Condado de Marin e fi cava tomando ácido e cogumelos, caminhando pela grama seca e por entre os ciprestes enormes, rindo e balbuciando coisas incoerentes. Além disso, eu estava bebendo cada vez mais, às vezes durante o dia. Eu quase sempre perdia a consciência, e não conseguia me lembrar de nada ou quase nada do que havia acontecido. Tudo aquilo me afetava de uma maneira que não parecia normal.

Quando eu tinha 11 anos, fui andar de snowboard com minha família no Lago Tahoe, e eu e um amigo pegamos algumas garrafas de bebida num armá-rio depois do jantar. Colocamos um pouquinho de cada dentro de um copo, enchendo quase três quartos dele com os líquidos de cores diferentes e cheiros adocicados. Eu estava curioso para saber como era fi car bêbado de verdade. O gosto era horrível. Meu amigo bebeu um pouquinho e parou, sem conseguir tomar mais. Mas eu não conseguia parar.

Provei um pouco e tive de beber mais e mais até que o copo estivesse vazio. Não sei bem por quê. Uma força qualquer me impelia, algo que eu não soube identifi car e que ainda não compreendo. Algumas pessoas dizem que é genéti-co. Meu avô bebeu até morrer antes de eu ter nascido. Dizem que eu me pareço mais com ele do que com qualquer outro parente — rosto comprido e olhos que são como duas gotas de água escorrendo.

Bom, como eu ia dizendo, naquela noite vomitei por cerca de uma hora e depois desmaiei no chão do banheiro. Acordei sem lembrar de quase nada do que tinha acontecido. Menti, dizendo que a causa do vômito por todos os lados era uma comida estragada. Para falar a verdade, fi quei com medo, e não voltei a beber por um longo tempo.

Em vez de beber, comecei a fumar maconha. Aos 12 anos, já estava fuman-do todos os dias, me embrenhando no meio dos arbustos durante o recreio. Isso continuou até o fi m do ensino médio.

Lauren e eu não éramos muito próximos nessa época. Mais tarde, quando eu ouvi que ela tinha sido internada por ser viciada em cocaína e ter bulimia, não fi quei muito surpreso. Nós éramos dois fodidos na época do colégio, e em geral eu não fi cava nem namorava meninas muito equilibradas. Eu me lembro

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de ter vergonha de levar Lauren para a minha casa. Lembro de não querer que meus pais a conhecessem. Nós chegávamos em casa bem tarde e saíamos bem cedinho, falando aos sussurros para não acordar meu irmão e minha irmã. Acho que eram eles dois quem eu mais queria proteger de Lauren. Ou nem tanto de Lauren em si, mas da pessoa que eu estava me tornando. Tinha vergo-nha do meu comportamento, mas continuava seguindo em frente. Era como se eu estivesse dentro de um carro com o acelerador grudado no chão, sem poder fazer nada além de segurar fi rme e fi ngir estar no controle da situação. Mas eu já havia perdido o controle há muito tempo.

Bom, então há muito tempo eu não pensava em Lauren. Quando ela se aproxima de mim, eu não a reconheço a princípio. Já se passaram cinco anos. Ela grita o meu nome:

— Nic Sheff !Dou um pulo e me viro, encarando-a.Lauren está usando óculos escuros enormes, como os da Jacqueline Onas-

sis, e seu cabelo pintado de preto está preso na nuca. Sua pele é muito, muito branca, e suas feições são delicadas e pequeninas. A temperatura está fria em São Francisco, apesar de o sol ter conseguido atravessar a névoa, e por isso Lauren está apertando um longo casaco negro contra seu corpo.

Então eu faço um esforço e me lembro.— L-Lauren, né?— É, e não adianta fi ngir que não se lembra de mim.— Não é isso, eu...— Deixa quieto. O que você está fazendo aqui?É uma boa pergunta.Há dois dias, no dia 1o de abril, eu tinha completado 18 meses sem me dro-

gar. Havia feito tantos progressos! Minha vida de repente estava dando certo, sabe? Eu tinha um emprego estável num centro de reabilitação em Malibu. Tinha recuperado todas as coisas que havia perdido — carro, apartamento, o relacionamento com minha família. Parecia que, depois de passar inúmeros períodos em centros de reabilitação e clínicas, eu fi nalmente havia vencido

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meu vício. Mas ali estava eu, na Haight Street, com a cara cheia de vodca Stoli-chnaya e doidão de zolpidem, que tinha roubado da enfermaria do centro.

Juro que estava tão surpreso com aquilo quanto qualquer outra pessoa fi ca-ria. Na manhã do dia em que recaí, não tinha ideia de que aquilo ia acontecer. Mas tinha havido alguns maus sinais. No programa dos 12 passos, eles pedem que você escolha um padrinho. O meu era um cara chamado Spencer. Ele tinha mais ou menos 40 anos, era fortão, tinha o rosto quadrado e o cabelo em pé. Era casado e tinha uma fi lha de 3 anos. Passava horas conversando comigo sobre minha recuperação. Fez com que eu fi casse com mania de andar de bicicleta e me ajudou com os 12 passos. Nós íamos pedalar na Pacifi c Coast Highway, pelo Latigo Canyon, ou por sei lá mais onde. Ele me contava como havia conseguido largar seu vício em cocaína. Mas eu tinha começado a ligar menos para Spencer. Acho que pensei não precisar mais de tanta ajuda assim. Quase nunca ia a reu-niões e, quando ia, fi cava pensando em como eu era muito melhor do que todos os outros ali — ou muito pior, dependendo do dia. Parei de me exercitar com frequência. Parei de tomar os remédios que os psiquiatras do centro tinham me receitado — uma mistura de estabilizadores de humor com antidepressivos. Comecei a fumar de novo. E, além de tudo, havia Zelda.

Zelda era uma mulher por quem eu pensava estar perdidamente apaixo-nado. Ela era 14 anos mais velha do que eu e estava noiva de outro cara, um corretor cheio da grana chamado Mike. Quando comecei a transar com ela, tentei me justifi car. Convenci-me de que era Zelda quem decidia o que fazer da vida dela, de que eu não estava fazendo nada de errado, de que aquilo era só por diversão, blablablá. Basicamente, achei que não ia me dar mal. Quero dizer, achei que não ia me envolver.

Mas me envolvi.Zelda passou a representar para mim tudo o que eu pensava precisar para que

minha vida fosse perfeita. Afi nal, ela havia sido casada com um ator famoso, era atriz e tinha sido criada em Los Angeles, por um tio famoso que também traba-lhava na indústria cinematográfi ca. Todo mundo em Los Angeles a conhece. Ela é meio celebridade, sacou? Estar com ela se tornou uma obsessão para mim.

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Mas, no fi nal das contas, ela não largou o namorado e acabou fi cando grá-vida dele. Eu fi quei arrasado. Não conseguia lidar com aquilo. Então ontem eu recaí, e saí dirigindo pela Route 5, bebendo uma garrafa de Jägermeister.

Agora eu estou na Haight Street, e Lauren, uma menina em quem eu não penso e que não vejo há cinco anos, aparece com seu longo casaco negro e me pergunta o que eu estou fazendo aqui.

Eu tinha vindo de carro de Los Angeles na noite anterior e havia passado a noite no meu Mazda caindo aos pedaços, parado num estacionamento perto do Park Presidio — um enorme bosque cheio de alojamentos militares abandonados que se estendem até os penhascos que dão para o Pacífi co e a baía de São Francisco. Um amigo meu, Akira, morou ali um tempo, num apartamento térreo na divisa do Presidio. Eu tinha ido para lá esperando encontrá-lo, mas depois de rodear um pouco o alojamento, espiando pelas janelas cobertas de poeira, percebi que o lugar estava deserto. Foi Akira quem me apresentou a metanfetamina quando eu tinha 18 anos. Ele era amigo de um amigo meu. Usava um monte de drogas, e nós imediatamente gravitamos um na direção do outro. Isso sempre parece acontecer — nós, drogados, sem-pre nos encontramos. Deve existir algum tipo de radar de vício, ou alguma coisa assim.

Akira era como eu, mas ele era mais doidão naquela época. Tinha cabelos encaracolados pintados de vermelho e olhos muito escuros. Era magro, ema-ciado, com o rosto encovado e dedos fi nos que estavam sempre sujos. Quando ele me ofereceu a primeira carreira de metanfetamina, eu não hesitei. Na mi-nha adolescência, sempre tinha ouvido falar que nunca se deveria experimen-tar heroína. Cara, havia avisos por toda parte e eu tinha medo — afi nal, quem usa heroína fi ca viciado. Ninguém nunca falou para mim da metanfetamina, também chamada de cristal. Eu já tinha experimentado cocaína, ecstasy, várias coisas, e sempre fui meio indiferente a tudo. Mas, naquela manhã, quando ina-lei aqueles caquinhos brancos por aquele canudo de plástico azul, minha vida inteira mudou. Eu senti que fi nalmente tinha encontrado o que sempre havia procurado. Aquilo me completou. Eu me senti inteiro pela primeira vez.

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Acho que passei os últimos quatro anos tentando reviver aquela sensação da primeira vez. Estava desesperado para sentir aquela completude de novo. Foi como se, sei lá, como se todo o resto tivesse sido apagado. Meus sonhos, esperanças, ambições, relacionamentos — tudo desapareceu conforme eu ina-lava cada vez mais a metanfetamina. Eu tomei bomba na faculdade, meus pais me expulsaram de casa e minha vida degringolou. Arrombei a casa dos meus pais. Roubei cheques e comprei droga. Quando arrumei um emprego numa lanchonete, roubei centenas de dólares da caixa registradora. Finalmente, fui preso por estar com um pouco de cristal. Meu irmãozinho e minha irmãzinha me viram ser levado pela polícia, algemado. Quando meu irmão de 7 anos tentou me proteger, correndo para me arrancar dos policiais armados, eles gritaram com ele, mandando-o “se afastar”. O corpinho dele caiu no asfalto e se encolheu, e ele começou a soluçar e ofegar, tremendo violentamente.

E então vieram os centros de reabilitação, dois no norte da Califórnia, um em Manhattan e um em Los Angeles. Passei os últimos três anos entrando e saindo de programas de 12 passos. Em todo esse tempo, o desejo latente jamais me deixou. E eu também sempre tive a ilusão de que da próxima vez as coisas iam ser diferentes — eu ia lidar melhor com a situação. Não queria continuar a magoar as pessoas. Não queria continuar a me machucar. Uma namorada minha um dia me disse: “Eu não entendo, por que você simples-mente não para?”

Eu não soube responder. Mas o fato era que eu simplesmente não conseguia parar. Parece desculpa, mas é verdade. É como se eu fosse capturado por um monstro insaciável que não me deixava parar. Todos os meus valores, todas as minhas crenças, tudo o que me importa desaparece no segundo em que eu me drogo. É uma espécie de insanidade que toma conta de mim. Eu me convenço e passo a acreditar piamente que dessa vez, dessa vez, vai ser diferente. Eu digo a mim mesmo que, depois de passar tanto tempo sem tomar nada, 18 meses, eu vou conseguir usar drogas casualmente. Então caminho pela Haight e começo a conversar com o primeiro menino de rua que me pede um cigarro.

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Ele se chama Destiny. Tem mais ou menos a minha idade, uns 20 anos, dreadlocks retorcidos e belos olhos azuis. Ele tem o rosto comprido como o de uma raposa ou um coiote e está escondendo, de forma não muito discreta, uma lata de cerveja na manga de sua enorme jaqueta. Está distraído e descon-centrado ao conversar comigo. Eu tento fazê-lo prestar atenção no que estou dizendo. Finalmente, ele concorda em me apresentar para um amigo seu que vende cristal, contanto que eu compre outra cerveja para ele.

— Cara — diz ele, com a voz pastosa. — Vou falar para você, mermão, sem sacanagem. O carinha tem da boa, pode crer. Pode perguntar por aí, cara. Eles vão dizer que o Destiny é maneiro. Todo mundo se amarra em mim, porque eu não vacilo com ninguém.

Ele fi ca tagarelando coisas do tipo, parando só para cumprimentar as meni-nas bonitas que passam. Quanto a mim, a vodca e os remédios para dormir que tomei me acalmaram o sufi ciente para me manter respirando enquanto tudo isso acontece — mas a vontade cega de sentir a onda que só a metanfetamina dá está me deixando ansioso. No passado, eu já me ferrei comprando drogas na rua. Um dia, na Mission Street, tentei comprar um pouco de heroína e acabei levando o que na verdade era um pedaço de sabão preto.

Fumo um cigarro atrás do outro, tentando manter Destiny focado no que eu quero — ou seja, me dar o telefone do seu contato. Logo antes de Lauren me chamar, Destiny me manda fi car esperando ali enquanto ele vai pegar o telefone do cara com um amigo. Ele desaparece rua abaixo e Lauren surge, me perguntando o que eu estou fazendo.

Meu primeiro instinto, claro, é mentir. O vento está soprando na rua, e Lau-ren tira os óculos escuros, revelando seus olhos verde-água. Eu digo:

— Na verdade, acabei de chegar de Los Angeles. Estava careta há um ano, mas agora acho que estou recaindo e estou esperando um cara que vai me ven-der cristal. Ouvi falar que você teve uns problemas do tipo. Foi mesmo?

Ela não parece surpresa em ouvir nada daquilo.— Foi — diz suavemente. — Quanto você vai comprar?— Um grama, espero. O que você está fazendo aqui?

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— Ia retocar minha tatuagem. Mas, bom, agora acho que vou com você, certo? Precisa de grana?

— Não.Ela põe os óculos de volta.— E de um carro?— Hum, tá, a gente pode usar seu carro. O meu está lá na Lake Street.— Beleza.Eu disse que não precisava de dinheiro, e isso é meio que verdade. Tenho

3 mil dólares na poupança e, para mim, isso é bastante dinheiro. Tenho certeza de que vai ser o sufi ciente para me organizar e conseguir trabalhar e usar dro-gas em São Francisco. Os clientes do centro de reabilitação onde eu trabalhava em Los Angeles eram ricos, e muitas vezes famosos. Eles pagavam bem, e eu tenho poucas despesas quando estou abstêmio. Posso comprar um grama por 60 dólares. Vou começar a procurar emprego nos próximos dias. Já tenho um plano de ação. Mesmo.

Nós fi camos parados observando as pessoas que passam pela rua, indo de loja em loja.

— O que você andou fazendo? — pergunto a Lauren. — Já faz bastante tempo que a gente não se vê.

— Cinco anos. Como você mesmo disse, eu tive alguns problemas. Mas estou trabalhando para minha mãe agora. Estou sem me drogar há uns quatro meses.

— Mas agora, chega.— Cara, eu só estava esperando a pessoa certa para comprar comigo.— Sério?— Sei lá.— Você está bonita.— Obrigada. É bom ver você também.— Pode crer — digo, colocando uma das mãos no ombro de Lauren e sen-

tindo-a fi car tensa. — Lá vem ele.Destiny está mancando, ou então está andando de um jeito engraçado, su-

bindo a rua. Eu o apresento a Lauren.

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— Legal — diz ele. — A gente vai encontrar com ele daqui a meia hora. Este é o telefone dele.

Destiny me entrega um pedaço de papel amassado e pergunta:— Vai rolar aquela cerveja?— Claro.— Vou pegar meu carro — diz Lauren.Eu entro na loja de bebidas da esquina e compro duas garrafas grandes de

cerveja Olde English e um maço de cigarros Export A. Lauren estaciona seu Nissan verde ali perto e nós entramos — eu na frente e Destiny atrás. Passo uma das garrafas para ele e bebo uma boa parte da minha. Lauren recusa quan-do eu lhe ofereço um gole, mas ela toma alguns comprimidos de clonazepam, dizendo que vai fi car muito nervosa se não fi zer isso. Ela me dá um e eu acho que não vai ter efeito nenhum, pois costumava tomar muitos deles. Mas eu mastigo e engulo o comprimido de qualquer jeito, torcendo para que ele me acalme um pouco.

Destiny nos manda sair da Haight, pegar a Market e entrar no bairro Tenderloin. As fi leiras de casas no estilo vitoriano são substituídas pelos arranha-céus das empresas e então pelas ruas tortuosas e sujas do gueto de São Francisco — cheias de hotéis baratos, mendigos, garotos de programa, tra-fi cantes e drogados. Os letreiros de néon, que fi cam desligados durante o dia, anunciam clubes de striptease. O céu se abriu num azul absoluto, mas o sol está bloqueado pelos enormes prédios, que deixam tudo frio e nu.

Nós paramos o carro na esquina da Jones com a Ellis, observando a escória de mortos-vivos que atravessa a rua. Um homem magro e branco sem nenhum cabelo na cabeça mas cheio deles no rosto está parado na frente de um banco 24 horas. Ele olha para o céu de vez em quando, gritando “Por favor! Por favor!”, e então olha de volta para o banco 24 horas. Mas não sai nenhum dinheiro.

— Lá vêm eles — diz Destiny, saindo do carro com sua cerveja. — Valeu, crianças.

— Valeu, cara.— Boa diversão — diz ele, indicando Lauren com um ar safado.

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Tenho a impressão de que ela fi ca um pouco vermelha.Um menino cumprimenta Destiny e entra no carro de Lauren, indo para o

banco de trás. Ele está com um homem branco, alto e gordo, que tem os cabelos grisalhos e um rosto que parece feito de massa de bolo. O menino é magro, mas forte, e tem o nariz redondo e os olhos atentos. Ele usa um lenço preto amarra-do na cabeça e roupas largas e esfarrapadas.

— E aí? Eu sou o Gack — diz ele.O homem mais velho não fala nada.— Oi, eu sou o Nic. Esta é a Lauren.— Beleza, beleza. Você quer um grama, certo?A voz dele é rouca e ele fala bem rápido. Eu faço que sim com a cabeça.— Falou — diz Gack. — Este é o Mike, meu pai.Mike acena de um jeito bobo.— Bom, você me dá a grana e eu vou pegar a mercadoria. Meu pai espera

aqui.— Cara, nem pensar. Não vou deixar você sair daqui com meu dinheiro.— Não tem outro jeito. Meu pai fi ca aqui e, olha, pode segurar meu celular,

minha carteira e meu skate. Dois minutos, valeu?Olho para Lauren. Ela balança a cabeça, mas eu digo:— Foda-se.Dou 60 dólares para Gack e ele some. Parte de mim espera jamais vê-lo de

novo, mas ele volta dez minutos mais tarde com nosso saquinho. Está ofegante.— Cara, essa mercadoria tá bem servida — diz Gack, me entregando um

saquinho de cristais brancos não muito cheio.— Que bem servido o quê?— Tá sim, cara.Tiro um dos cristais de lá de dentro e coloco na boca. O gosto amargo e

químico me faz estremecer, mas é familiar.— Tudo bem, beleza.— Valeu.— Tem alguma seringa? — pergunta Lauren.

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Fico orgulhoso dela. Nem tinha pensado nisso e ela já veio perguntando.— Cara, tenho. Vocês são profi ssas, hein?— Somos — dizemos em uníssono.Gack tira do bolso cerca de cinco seringas amarradas com um elástico.— Estão limpas? — pergunto.— Pode crer.— Valeu. A gente leva, e fi ca por esse saco magrinho aqui.— Cara, esse saco está gordo.— Nem está.— Valeu. Bom, me ligue se quiser mais.— Pode deixar — digo.Com isso, Gack e seu pai saem do carro, e eu e Lauren vamos embora com

algumas seringas e cerca de um grama de metanfetamina.

Eu me lembro da casa do pai de Lauren por causa da época em que fi cava com ela no colégio, mas também porque a casa fez parte da minha infância. É uma mansão em estilo europeu que fi ca em Sea Cliff . Tem quatro ou cinco andares e é meio quadrada, com enormes janelas salientes com persianas verdes desbotadas. Trepadeiras sobem pelas paredes cinza, e rosas brancas crescem ao longo da escada da frente, que forma uma curva. Ela tem vista para o mar selvagem, batendo sem parar nas rochas. O andar mais alto, um loft tomado de sol, costumava ser o quarto de brincar do meu melhor amigo e quase ir-mão, Mischa.

O divórcio aconteceu assim: meu pai teve um caso com uma mulher cha-mada Flicka, e largou minha mãe para fi car com ela. Mischa era fi lho de Flicka. Nós todos fomos morar juntos quando eu tinha 5 anos. Mischa era da minha idade e tinha cabelos longos e louríssimos, olhos azuis e um pai que era um ator famoso. Ele fazia muita manha e gostava de me morder, mas nós éramos muito próximos. O pai dele costumava morar nessa casa onde o pai de Lauren mora agora. Eu vinha aqui jogar videogame com Mischa, construir espaçona-ves de Lego, desenhar, etc.

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Quando entro na casa com Lauren, com a mochila cheia de drogas e quase caindo de bêbado, sinto meu estômago embrulhar ao pensar em mim quando criança. Me lembro de ir com meu pai até Fort Point, um píer que se estende abaixo da ponte Golden Gate. Lembro de comer sushi e tempura em Japantown, de brincar nos barcos que estavam ancorados no mar que dá para a Hyde Stre-et, de andar de bicicleta no parque Golden Gate, de ir ao velho cinema Castro, onde um homem tocava órgão antes de o fi lme começar. Lembro de jogar beisebol em Sausalito, de festas de aniversário no zoológico da cidade, de ir a galerias de arte e museus. Eu era tão pequeno que meu pai me protegia do frio dentro de seu suéter. Nossas cabeças saíam pelo mesmo buraco, arregaçando a gola. Lembro do cheiro dele — do cheiro indescritível do meu pai. Ele sem-pre esteve tão presente na minha vida, principalmente quando minha mãe se mudou para o sul. Quando eu estava vivendo em Los Angeles sem usar drogas, falava com meu pai quase todos os dias. A gente falava sobre tudo — fi lmes, arte, garotas, tudo e nada. Eu me pergunto agora quanto tempo vai passar antes que os telefonemas comecem — antes que ele saiba que eu voltei a me drogar, recaí, joguei tudo fora.

O quarto de Lauren é no porão — tem apenas uma enorme cama de dossel, uma televisão e mais quase nada. Há livros, roupas e objetos espalhados por todo lado. A persiana da janela está fechada, e Lauren acende um cordão de luzes de Natal que fi ca acima das prateleiras embutidas na parede. Ela coloca um CD de uma banda que eu nunca ouvi.

— Vamos andar logo — diz ela. — Meus pais vão chegar daqui a pouco e eu quero sair daqui antes disso.

— Beleza. A casa de fi m de semana dos meus pais em Pont Reyes vai estar vazia hoje à noite. A gente pode fi car lá.

— Eu preciso ir trabalhar amanhã de manhã — diz Lauren.— Não tem problema. Eu trago você antes disso.— Meus pais vão ter um ataque se eu não voltar para casa hoje à noite.— Inventa alguma desculpa.— Beleza, foda-se.

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— Posso usar isto aqui? — pergunto, pegando um vasinho redondo de cer-ca de três centímetros de altura pintado com círculos verdes e brancos.

— Pode, tanto faz.— Tem um cotonete?— Tenho, porra, mas anda logo.— Tá bom, calma.Lauren me entrega o cotonete. Eu arranco o algodão de uma das pontas.

Vou até o banheiro e encho o vasinho com uma camada rasa de água. Coloco um pouco do cristal lá dentro e pulverizo os caquinhos com um isqueiro Bic que tenho no bolso. Coloco a chama do isqueiro na base do vasinho até que o líquido começa a borbulhar e uma fumaça começa a sair. Largo o algodão e puxo o líquido com duas das seringas. Passo a mais vazia para Lauren e cerro meu punho direito, vendo minhas veias surgirem rapidamente. Meu corpo está tão limpo, tão forte — mais de um ano sem usar, e minhas veias se revelam instantaneamente. Lembro de como tinha fi cado difícil me injetar, pois minhas veias estavam todas se escondendo debaixo da pele. Mas agora elas saltam ra-pidinho. Eu puxo o êmbolo da seringa, vejo meu sangue se misturar ao líquido e então mando ver.

Tenho um ataque de tosse.A droga solta um gás quando chega ao seu coração, ou ao seu cérebro, ou

sei lá, e ele sobe pela sua garganta, deixando você sufocado.Eu tusso, engasgando.Meus olhos fi cam cheios de água e minha cabeça martela como se eu fosse

desmaiar. Estou muito ofegante.— Puta que pariu — digo, vendo as luzes se apagando.Não há sensação igual. A onda é perfeita.Eu me viro e vejo Lauren se injetando. Quando a droga começa a fazer

efeito nela eu a beijo, ela me beija de volta, e tudo é tão fácil. Tão diferente de estar careta e tomado pela preocupação, pelo medo e pelas inibições. Eu a beijo mais, mas ela se afasta e diz:

— Vamos à praia.

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A gente sai de lá rápido e de repente estamos banhados de sol, andando na direção do carro de Lauren. É outro mundo, cara, mais vívido, mais excitante. Eu acendo um cigarro. Meus dedos se movem espasmodicamente e eu começo a falar, falar, falar. A droga me atinge em ondas, as palmas das minhas mãos fi cam suadas e eu trinco os dentes. Converso com Lauren sobre o livro que escrevi e sobre o emprego que quero conseguir numa revista de Los Angeles, e, de repente, esses não parecem mais ser sonhos impossíveis. Eu me sinto como se tudo estivesse acontecendo — como se meu livro estivesse sendo publicado, e eu pudesse ter qualquer emprego que quisesse, e como se fosse levar Lauren para viver minha nova vida comigo. Não existem obstáculos.

— Sabe, meus pais vão sair da cidade na semana que vem, então você pode vir para a minha casa — diz Lauren. — A não ser que tenha outro lugar para fi car.

— Não, não — digo, vendo tudo se encaixar perfeitamente no meu mundo, na minha mente, no destino e blablablá. — Tá ótimo.

— Eles vão fi car duas semanas fora.Eu rio.Baker Beach está quase vazia. Paramos no estacionamento e vemos as on-

das que martelam sem parar, sugando a áspera areia marrom e fazendo-a em pedaços ao atirá-la contra as pedras escarpadas. À direita, imensa, está a Gol-den Gate, do outro lado do canal estão as Marin Headlands — colinas cobertas por uma vegetação exuberante de eucaliptos e carvalhos, e penhascos de terra vermelha que vão até a água, rodopiando lá embaixo. Nós saímos de dentro do carro e eu pego a mãozinha macia de Lauren. Andamos pelas dunas com o vento atirando areia contra nossos rostos. De repente, eu tiro a roupa toda me-nos a minha cueca samba-canção, corro e mergulho de cabeça no mar. Ouço Lauren dando risadinhas atrás de mim, e logo depois escuto apenas o rugido do oceano e sinto frio, frio, frio.

A correnteza é forte e eu tenho de começar a lutar contra ela imediata-mente, mergulhando e sentindo o mar me puxar para a boca da baía. Mas eu nado bem. Passo pelas pedras e começo a mergulhar nas ondas conforme

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elas quebram ao longo da praia. Da infância à adolescência, surfei nessa costa toda. Eu e meus amigos às vezes fi cávamos no mar cinco, seis horas. Depois de algum tempo eu passei a me sentir muito confortável na água, conseguindo pegar ondas grandes na Ocean Beach ou em Santa Cruz. Eu observava os peli-canos pegando jacaré, ou as lontras comendo caranguejos e boiando de costas. Acordava cedo, saía de casa antes que o sol nascesse para pegar as ondas perfei-tas da manhã. Mas, conforme fui me drogando mais e mais, minhas pranchas foram sendo abandonadas e largadas na garagem. Perdi o interesse. Existe algo de devastador nisso, mas eu tento não pensar no assunto.

Afi nal, eu estou aqui agora, pegando jacaré na Baker Beach e mal conse-guindo respirar de tão gelada que está a água. Os músculos dos meus braços e do meu peito lembram como se faz. Olho para Lauren, que tirou a roupa e está deitada na areia morna. Pego outra onda e então corro até ela, beijando sua barriguinha branca e ouvindo-a rir e estremecer. Depois começo a correr pela praia, para lá e para cá. Corro rápido e estou gelado, mas na verdade não sinto frio. Olho para tudo, para as árvores, as conchas, as algas marinhas. Tudo parece novo e incrível. Minha irmãzinha Daisy sempre falava das fl ores delicadas e das pedras com formas interessantes quando nós saíamos para passear. Ela era tão ligada ao presente, tão maravilhada com tudo. A metan-fetamina me faz voltar a ser criança. Faz com que eu veja — realmente veja. O mundo me parece milagroso. Eu rio e corro pela praia até fi car sem ar — e então corro de volta para Lauren.

Ela sorri para mim e eu a beijo mais um pouco.Naquela noite eu dirijo o carro de Lauren, pegando as ruas mais escondidas

e indo até nossa casa em Point Reyes. O caminho é tão familiar. Conheço cada curva. É o mesmo que eu pegava quando voltava da escola toda tarde. Nós pas-samos pelas cidadezinhas de San Anselmo e Fairfax e pela fl oresta de coníferas do Parque Estadual Samuel P. Taylor. Então vemos a relva verde, escondida pela escuridão e pela névoa. Viramos na minha rua, que é uma ladeira muito, muito íngreme, ladeada por árvores. O carro engasga um pouco, mas chega lá — me levando para casa.

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A casa dos meus pais não é enorme nem nada, mas foi desenhada por um arquiteto famoso. Ela é meio japonesa e minimalista, cheia de espelhos e ja-nelas. O jardim de mais ou menos meio hectare tem trepadeiras malcuidadas, arbustos, carvalhos, álamos e tortuosos caminhos de cascalho. Na primavera e no verão nascem fl ores por todo canto.

Vejo que não há carros parados na frente da casa e que as luzes estão apa-gadas. Tento todas as portas e janelas. Todas trancadas. Subo no portão de madeira e vou até as portas dos fundos, fi nalmente encontrando uma que não está muito segura. Dou um empurrão e quebro sua base, onde havia um trinco. Acendo o menor número de luzes possível, indo até a frente da casa e deixando Lauren entrar.

— Meu Deus — diz ela. — Eu me lembro desses quadros.Minha madrasta é artista plástica. As paredes da nossa casa são cobertas

por enormes quadros com pinturas em forma de redemoinho. As pinturas a óleo são sombrias, mas orgânicas — olhos, órgãos, galhos, formas que se repe-tem sem parar.

— Eles são lindos — digo. — Meio assustadores, né?— São.Nós vamos até a sala e eu ligo o som, deixando tocar um CD de música

eletrônica que larguei ali da última vez que estive em casa. Abro uma garrafa de saquê que encontro num armário e sirvo um copo. Lauren observa os livros e objetos de arte das prateleiras. Eu olho para as fotos do meu irmão e da minha irmã que fi cam no parapeito da janela. Tem uma de Jasper com seu uniforme do time de lacrosse, sorrindo. Tem uma de Daisy, que é só dois anos mais nova do que Jasper, fantasiada de elfo, com uma barba falsa e seus cabelos encaracolados presos na nuca. E tem uma da família toda, minha madrasta, os pais dela, seu irmão, sua irmã, meu pai, minha tia, meu tio, meu irmão, minha irmã, meus primos e, no canto direito, eu. Conforme ando pela casa, me sinto sujo — como se fosse uma mancha de carvão poluindo tudo o que toco. Nem consigo olhar para as merdas das fotografi as — dói demais. Bebo todo o saquê do copo.

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— Vamos tomar um banho — digo.— Beleza. Vamos injetar mais um pouquinho antes?— Vamos.Injetamos e tomamos banho. Fazemos sexo na minha velha cama até meus

joelhos fi carem em carne viva. Depois, fumo cigarros e procuro coisas que possa roubar. Levo uma guitarra e algumas jaquetas, mas nada muito mais caro. Ah, e preciso de um caderno, então pego um preto que tem as Meninas Superpoderosas na capa. É o diário da minha irmã.

Nic Sheff é dependente de drogas e álcool. Aos 26 anos,

já fez tratamentos em várias clínicas dos Estados Unidos

e continua em sua batalha diária contra o vício. Seus textos já

foram publicados na Newsweek, no San Francisco Chronicle e no site nerve.com. Cristal na veia é

seu primeiro livro.

O FILHO DA

Nic Sheff tinha 11 anos quando fi cou bêbado pela primeira vez. Nos anos seguintes, ele experimentou com regularidade maconha, cocaína, ecstasy e se tornou dependente de metanfetamina e de heroína. Ainda assim, achava que podia parar e reorganizar sua vida quando quisesse. Foi preciso uma violenta recaída, durante um verão na Califórnia, para que se convencesse do contrário. Em Cristal na veia, a partir de uma narrativa honesta e incisiva, Nic Sheff não esconde os detalhes de sua trajetória, da recaída à recuperação. Enquanto o acompanhamos em seu mergulho no abismo físico e mental do vício, Nic constrói o retrato de uma pessoa em dívida com a família, seus amigos e consigo mesma. Um relato perturbador – mas não sem esperanças.

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sheff atheneum

Há mais de 50 semanas na lista de mais vendidos do New York Times