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Elaboração do manual:Cintia Barreto

Doutora em Literatura Brasileira pela UFRJ e Curadora do projeto Conversa Literária.

Título Cristal polonêsPáginas 160Autor (a) Leticia WierzchowskiIdioma Língua Portuguesa Categoria 2Tema(s) Autoconhecimento, sentimentos e

emoções; Protagonismo juvenilGênero Literário RomanceInterdisciplinaridade Literatura, Língua Portuguesa e

História

Romance é uma forma narrativa constituída pelos elementos estruturadores: espaço, tempo, enredo, personagens e o narra-dor. Estes elementos nem sempre se encontram identificáveis explicitamente no texto.

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Conversa com o Professor

Caro Professor,

Em seu sexto romance, a autora Leticia Wierzchowski retoma a temática das mulheres fortes e suas vidas so-fridas em meio a tragédias que fogem de seu controle que a lançou para o sucesso com a adaptação televisiva de A casa das sete mulheres.

Cristal polonês nos traz uma narrativa mais inti-mista, mas não menos emocionante e ancorada for-temente nas dores do cotidiano. Saem as paisagens épicas e os grandes momentos históricos e entra em foco a rotina humilde de uma família descendente de imigrantes poloneses. Ainda que conformados com o fato de serem socialmente desfavorecidos, se veem atingidos por uma tragédia de grande impacto em um raro momento de felicidade.

Contada do ponto de vista da filha mais velha, Tedda, de apenas 12 anos, a narrativa comove em sua

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simplicidade enquanto a autora utiliza sofisticados recursos linguísticos para explorar essa realidade e nos oferecer um recorte preciso de uma parte da po-pulação que ajudou a erguer o Sul do país e o Brasil como um todo.

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Quem escreveu a história

Leticia Wierzchowski nasceu em 1972, na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Em sua carreira literária dedicou especial atenção tanto a sua origem polonesa (seu avô imigrou para o Brasil na década de 1930) quanto à história do Sul do país.

Antes de optar pela carreira literária, Wierzchowski cursou Arquitetura, mas não chegou a se formar. Foi proprietária de uma confecção de roupas e trabalhou no escritório de construção civil de seu pai, período no qual iniciou seus primeiros textos de ficção.

Sua temática principal já aparece em seu romance de estreia, de 1998, O anjo e o resto de nós, que acom-panha a saga da família Flores no início do século XX, no Rio Grande do Sul. Essa paixão pelo período histórico e pela região culminaria na publicação de A casa das sete mulheres, em 2002, adaptado um ano depois para a televisão em forma de minissérie exibida pela Rede Globo.

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Apesar do sucesso alcançado com a obra, Leticia relutou em dar continuidade às desventuras dos per-sonagens, dedicando-se a outros projetos. Em 2003, escreveu e publicou O pintor que escrevia e Cristal polonês.

A escritora retornaria ao universo dos personagens de A casa das sete mulheres em Um farol no pampa (2004) e Travessia: A história de amor de Anita e Giuseppe Garibaldi (2017). Entre suas obras, destaca--se também Uma ponte para Terebin, na qual conta a história de seu avô polonês, além de diversos títulos dedicados ao público infantil.

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Mergulho no livro

Cristal polonês se enquadra na tradição da Bildungsro-man, ou “romance de formação”, em que se acompanha o processo de amadurecimento moral e emocional da protagonista e narradora Tedda Lovanski, a partir das mudanças em sua percepção do mundo e da perda da inocência infantil.

Aos 12 anos, as convicções de Tedda a respeito de sua família e o espaço social que ocupa já não são mais tão sólidas, e a menina começa a questionar o que antes era dado como certo. Descendente de imigrantes poloneses, assim como a própria autora, o pequeno núcleo familiar dos Lovanski forma o lado mais pobre da família, com sua renda doméstica muito restrita e vivendo às custas da caridade de tios e primos, recebendo roupas e objetos que não têm mais valor para eles. É uma “vida emprestada” aos olhos de Tedda, algo que não lhes cabe; seja no sentido literal de roupas grandes ou pequenas demais, seja no

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sentido figurado, de um padrão de vida inatingível, “coisa dos Ricos”.

Nessa idade, Tedda ainda guarda muito do olhar lúdico da infância e reconta, com indisfarçada fantasia poética, até mesmo eventos onde não esteve presente. Mas esses traços de pureza vão sendo dilapidados enquanto a vida lhe impõe responsabilidades que não tinha antes, como cruzar a cidade sozinha de ônibus para ajudar a mãe em uma entrega. Há também uma grande tragédia que atinge a todos, tomando a vida de seu irmão mais novo, o pequeno Miti, com apenas 6 anos.

Diante dos desafios impostos, Tedda gradativa-mente passa a visualizar a realidade que a cerca de uma forma diversa. A semente da dúvida começa a germinar e o papel de “menina boa e corajosa”, pré--determinado, conformista, se torna pesado, ainda que pareça inescapável. A leveza dá lugar à perplexidade e uma súbita consciência de que não há uma saída óbvia para essa situação. Sua família, antes castigada pelo destino, se torna ainda mais sofrida, quase como uma consequência do raro momento de felicidade que desfruta.

E, mesmo assim, a vida segue. “Apesar de tudo”, como pontua Tedda no antepenúltimo parágrafo do livro (p. 159).

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Tedda Lovanski ocupa a posição de narradora, o que ajuda o leitor a se colocar no seu lugar e entender a dinâmica dessa família a partir de dentro. Além dela, esse pequeno recorte de uma família humilde e atemporal é composto pela irmã mais nova Paula, pela máma Janina, pelo táta João e pelo desafortunado irmão mais novo, Miti, apelidado de Esquilo.

Cada uma dessas vidas é marcada por um sofri-mento tácito. Paula, de 9 anos, transita entre a pureza de Miti e sonhos de uma existência melhor. Despida de parâmetros de felicidade, ela sonha em poder beber Coca-Cola todos os dias ou arrumar um marido advo-gado que tenha um carro. Suas posses mais estimadas são duas bonecas usadas, herdadas de primas.

Janina Lovanski é a espinha dorsal da família. Tanto no aspecto financeiro, visto que seu árduo trabalho como costureira reforça as contas da casa, como no aspecto moral, em que sua fé religiosa e sua visão pragmática da vida funcionam como bússola moral de todos, um rígido e inquestionável compasso. Sua presença em Cristal polonês encontra paralelo em outras obras da autora, sempre marcadas pela força de suas mulheres, principalmente em Uma ponte para Terebin. Como aponta Bernd, “ambos os romances focalizam o sofrimento das mulheres com a morte de filhos pequenos e o trabalho do luto que realizam

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estoicamente. Em ambos, as temáticas recorrentes são a perda, o luto e o fato de as mulheres assumirem o papel de esteio da família”.

A matriarca encara com relutância a ideia da famí-lia quebrar a rotina e passar uma quinzena em uma casa de campo, de férias. Na ordem natural das coisas desse microuniverso, a labuta faz parte da sina do ser humano e o descanso, assim como o lazer e os festejos, não fazem parte dos planos de Deus, frequentemente citado aqui com o termo polonês Bog. Como uma profetisa, a desconfiança de Janina se concretiza na forma da morte trágica de Miti, quase uma punição pela ousadia da família: “se não tivéssemos vindo, nada disso teria sucedido” (p. 118).

Mesmo defrontada com a aparente injustiça da vida e sua casualidade, Janina apenas fraqueja, logo retomando as rédeas, se não do destino, pelo menos do lado prático de sua família. Ela jura não chorar mais e se apega a rituais mundanos, como obter um terno para o enterro do filho.

A João, cabe um lugar secundário no comando da sua prole e de sua vida. Sem ambições, recusa ofertas para melhorar de vida e segue limitado a seus afazeres no trabalho, torcendo para seu emprego não desapa-recer. Afoga suas angústias na bebida e no vício das apostas, que não chegam a ganhar os holofotes da

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trama, mas são mencionados diversas vezes. Seu rela-cionamento com os filhos é esporádico, mas marcado pela ternura. Seu único momento de violência em Cristal polonês é sucedido por um pedido de desculpas e reflete mais sobre sua incapacidade de fazer o que é necessário: impedir que a esposa gastasse o que não tinham em um terno para Miti. João é vítima, não algoz, como todos na narrativa.

A escolha do nome do patriarca também guarda um significado mais profundo para a autora. Segundo Wierzchowski, sempre houve um João na família: Na Polônia, eles eram Jans. O primeiro Jan que nasceu no Brasil teve que se chamar João, por causa do Estado Novo. Depois houve um Jan na família dela nos anos 1980. E seu primogênito também se chama João.

O grupo se completa com Miti, o mais inocente de todos — o menino que se apaixonou pelo Lago e a ele se juntou em sua ingenuidade. Seu retrato bu-cólico assim como as decisões que o levaram à morte são contados a partir das lentes de Tedda e trazem a candura de quem chamava o irmão de Esquilo. Sua fragilidade é explicitada logo em um dos primeiros capítulos e seu destino é antecipado profeticamente pela narradora.

O afogamento de Miti poderia se tornar o estopim involuntário de mudanças na condição da família

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Lovanski , mas apenas reforça sua posição de excluídos, dignos de pena, conduzidos pela existência, sem voz ou vontade. Ou, como aponta a inscrição em Latim à porta do cemitério, “esta é a nossa vida” (p. 155).

Assim como Moacyr Scliar fez em sua obra ao re-lembrar a imigração judaica ao Brasil, Pozenato, ao retratar a imigração italiana, ou Josué Guimarães, ao abordar a imigração alemã, Wierzchowski home-nageia suas raízes e traz à tona os costumes, anseios e percalços dos poloneses que para cá vieram. Não se trata de um registro documental, mas um conjunto de recordações e relatos que cristalizam um povo inserido dentro de outra sociedade, díspares em alguns mo-mentos, mas tão similares em seus conflitos humanos em vários outros.

Nesse sentido, Cristal polonês não soa como uma escolha casual para o título da obra. Em seu primeiro momento, o termo é utilizado para se referir ao fino material com que são produzidas as taças na casa da rica cliente de Janina. Em sua residência, Tedda tem seu primeiro e único contato com uma outra realidade, tão alheia a sua: uma casa “onde rosas dormiam em berços de prata e onde se podia tomar um tanto de leite em copo de cristal polonês” (p. 27). A expressão vai conquistando outros contornos com o avanço da nar-rativa, e é visível a busca da valorização do imigrante;

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não apenas o material oriundo da Polônia merece sua importância, mas também seu imenso capital humano, seu povo, sua luta.

Como conclui Bernd, “a autora inaugura a di-versidade da cultura polonesa na literatura sul-rio--grandense e brasileira e inscreve esse elemento tam-bém como componente da ‘gauchidade’, esgarçando salutarmente tal conceito no sentido da relação e da alteridade”.

Demonstrando domínio da narrativa e do jogo das palavras, a escritora também preconiza outro signifi-cado quando menciona, quase que casualmente: “Miti cristalizou-se para sempre um menino de seis anos, o Esquilo” (p. 24). Nesse momento, ainda não conhece-mos o destino do menino e apenas uma segunda leitura nos faz compreender quem simboliza ainda mais esse cristal polonês no romance. Ou quando Tedda descre-ve seu cadáver, “como se gente não fosse, mas gelo ou mármore ou algum tipo de pedra que tivesse a forma exata de um menino” (p. 104).

Wierzchowski utiliza a linguagem como uma im-portante ferramenta para sua história. Pitadas de Polonês se apresentam em diversos pontos, mas é o hábil domínio do Português que atinge resultados ainda mais profundos. A família Lovanski se apequena diante de tantas maiúsculas e rituais: Dia de Partir,

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Os Ricos, Dia de Ser Feliz, A Bola, A Noite de Dizer Adeus ao Miti, O Lago; tudo é grandiloquente e ímpar diante da realidade modesta e contida deles, como se não tivessem espaço no universo ou como se não lhes fosse permitido compreender o que os rodeia sem rotular com absolutos.

Da mesma forma, elementos repetidos ganham novos sentidos, fatos concretos viram metáforas e vice-versa. A obsessão de Miti por números também é relembrada em várias partes, seja na contagem re-gressiva para a viagem até a casa no lago, a contagem pelo final das férias, a contagem dos peixes pescados ou mesmo nos números em polonês, um, dois, três. A infalibilidade da matemática representa o patente determinismo de suas vidas, aprisionados ao seu lugar na sociedade, conformados. Sua lembrança constante reforça não apenas a ausência de Miti, como também as engrenagens que movem a família, um dia depois do outro, depois do outro.

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Pré-leitura

Professor, para o trabalho com Cristal polonês, de Leticia Wierzchowski, você pode solicitar aos estudantes:

•  um relato (oral ou escrito) a respeito de um mo-mento de suas infâncias onde eles sentiram al-guma diferença de classe social. Deixe que eles mostrem suas experiências. Estimule-os a falar e debater entre si, entenda suas reações aos inci-dentes relatados e a postura da sua própria família diante do ocorrido. Eles estarão exercitando, além da expressão verbal, o sentimento de irmandade e pertencimento, tão importantes para o prota-gonismo infantil.

•  que levem em um CD,  em um pendrive ou em um celular fotos ou vídeos de imigrantes bra-sileiros nas décadas de 1930 e 1940. Destacar a miséria decorrente da condição de refugiados da Segunda Guerra Mundial. Mostrar, se possível,

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as diferenças de vestimenta entre os imigrantes e a já estabelecida sociedade local. Eles estarão participando de uma experiência sensorial e si-nestésica, ou seja, aguçando seus sentidos.

•  que façam uma roda de conversa sobre o tema “destino”, buscando confrontar os conceitos de determinismo e livre escolha.

•  que pesquisem o valor de peças em cristal polonês na internet. Antigamente, tais itens eram associa-dos à elegância e ao luxo. Essa relação ainda se mantém nos dias de hoje? Viraram antiguidade?

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Pós-leitura

Professor, neste espaço, encontram-se propostas de atividades que podem ser usadas na escola, amplian-do ainda mais a relação dos estudantes com a leitura literária e com os conhecimentos linguísticos.

1. Dividir os estudantes em grupos de quatro a seis pessoas e solicitar que eles organizem um glossário de palavras e expressões, da língua portuguesa, presentes no texto que mais tenham chamado a atenção deles. Ou seja, com quais palavras eles querem ampliar seu repertório linguístico. O resultado poderá ser divulgado no mural da sala ou no site da escola.

2. Elaborar um glossário de palavras e expressões polonesas presentes no texto, assim como suas respectivas traduções.

3. Escrever, em vinte linhas, a continuação da nar-rativa. O que aconteceu com a família Lovanski

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após o enterro de Miti? Eles se endividaram com os gastos? O pai manteve o emprego? Tedda aceitou seu destino? Caso contrário, que me-didas ela poderia tomar para romper o ciclo de pobreza da família?

4. Escrever um novo final para a história e apre-sentar à turma. Por exemplo: o que aconteceria se o pai impedisse a compra do terno para Miti? O que aconteceria se os parentes distantes não aparecessem no enterro? E se Tedda tivesse conseguido falar para todos o que sentia?

5. Escrever, de forma resumida, a história do ponto de vista da Máma ou do Táta, apresentando sua visão dos fatos. Essa atividade muda o foco narrativo e pode resultar em uma versão ainda mais trágica dos eventos, despida do viés sen-timental de Tedda.

6. Elaborar poemas a partir dos temas e/ou per-sonagens retratados no livro. Em seguida, fazer um painel de poesia na sala de aula ou no pátio.

7. Criar um diálogo imaginário entre O Lago e Miti, que teria resultado na morte do menino.

8. O faz de conta, ou teatro, são formas de redimen-sionar facetas da realidade. As bonecas de Paula são seu vínculo com esse universo lúdico e infan-til. Mas o recurso permanece como ferramenta

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de recontextualização e vivência, presente na vida adulta na forma de teatro e RPG. Criar entre os alunos reencenações de momentos marcantes do texto, como a decisão de se ir para a casa do Lago, a visita de Tedda à residência da cliente rica ou mesmo a cena do enterro.

9. Escrever em formato de notícia a morte trágica de Miti Lovanski, como se tivesse sido publicada em um jornal.

10. Elaborar uma entrevista para um jornal local sobre as condições de vida da família Lovanski, antes da tragédia.

11. Escrever cartas de recomendação a respeito de leitura da obra. Nas cartas, os alunos indicam a leitura, apresentando argumentos que com-provem sua indicação. As cartas serão deposi-tadas em grandes “caixas de correio” que serão confeccionadas por professores e alunos. Essa caixa fará parte dos materiais da biblioteca. Isso estimula a produção de textos críticos, propor-cionando ainda a percepção de tendências e gostos da leitura por parte dos alunos da escola.

12. Estimular os alunos a relatarem fatos de sua infância, das brincadeiras aos brinquedos, assim como férias passadas fora de casa. Esses relatos podem ser reunidos em biografias elaboradas

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em forma de livro, confeccionado artesanal-mente pelos próprios alunos. O aluno será o personagem principal da história. Nesse ins-tante da confecção das narrativas e do livro, a criatividade e a reflexão serão chamadas à ação. Essa atividade ajuda a valorizar suas tra-jetórias de vida, mostrando o que já fizeram até aquele momento e o que pretendem e gostam de fazer. As apresentações dos biografados podem ser filmadas em celulares, editadas e postadas no blog da escola. Já os livros, produzidos pe-los alunos, podem ser fotografados e postados como portfólio da turma e poderão ser vistos por outros alunos e professores, incentivando--os nesta prática. Os livros físicos serão levados pelos alunos para as famílias como recordação das aulas de leitura e escrita.

13. Escrever uma canção inspirada na obra. Para tanto, dividir os estudantes em grupos de quatro a seis pessoas. O resultado deve ser mostrado para a turma cantando.

14. Produzir, coletivamente, um vídeo sobre a vida de Tedda e sobre a própria infância do aluno, misturando, dessa forma, realidade e ficção. Para tanto, utilize um software ou aplicativo de edição de imagens.

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15. Escrever uma redação dissertativa-argumenta-tiva sobre o tema “A pobreza no Brasil: causas e consequências”.

16. Ler Vidas secas, de Graciliano Ramos, e promover um debate sobre aproximações e afastamentos das famílias de Vidas secas e de Cristal polonês.

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Interdisciplinaridade

Cristal polonês, de Leticia Wierzchowski, apresenta informações complementares que podem servir de base para um trabalho interdisciplinar. Isso porque apresenta aspectos relacionados à Literatura, Língua Portuguesa e História. Dessa forma, a obra insere-se, perfeitamente, no tema “protagonismo juvenil”, e tam-bém em autoconhecimento, sentimentos e emoções. A interdisciplinaridade está presente na narrativa.

Interdisciplinaridade é um conceito dos meados da década de 1960, surgido na França, a fim de atender a rei-vindicações de ordem social, política e econômica que não encontravam respostas em uma única área de saber ou disciplina. No Brasil, a interdisciplinaridade aparece nas últimas Leis de Diretrizes e Bases (LDB) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Nacional (PCNs).

Apesar de ser um conceito, atualmente, bastante conhecido, ainda encontramos resistência, aqui e ali, na utilização de métodos interdisciplinares em suas rotinas. O trabalho interdisciplinar exige planejamento

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coletivo, a fim de abarcar conteúdos e atender a obje-tivos de interesse de mais de uma disciplina.

Em Cristal polonês, é possível estabelecer um diá-logo e atividades de cunho interdisciplinar. A temá-tica da “migração”, por exemplo, aparece na obra de forma natural e conceitos sociológicos como “divisão de classes” surgem exemplificados ao longo de todo o texto. Para aprofundar a questão, tão atual, planeje atividades conjuntas com professores de Literatura, Língua Portuguesa, História e Sociologia. A fim de explorar estes conceitos presentes no livro, sugerimos:

•  exibir um documentário sobre o tema “Pobreza”, seguido de debate sobre as questões relativas ao documentário e que se encontram também pre-sentes no livro.

•  organizar uma mesa-redonda de debate para falar sobre o tema do livro do ponto de vista do “determi-nismo” que aparece na família, utilizando conceitos de História; sobre os elementos da construção do discurso, seleção vocabular, utilizando conceitos de Língua Portuguesa; e sobre a construção da narrati-va e dos personagens, utilizando conceitos de Litera-tura. Para tanto, misturar no debate professores das três áreas com um aluno de cada área que debatam com eles. Filmar, editar o debate e exibir o resultado na Feira Cultural da escola para as demais turmas.

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Para saber mais...

Bibliografia

BERND, Zilá. Retraçando a memória da imigração polonesa no RS: uma leitura da obra de Leticia Wier-zchowski a partir dos rastros. Alea [online]. 2013, vol.15, n.1, pp.29-40. ISSN 1517-106X. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1517-106X2013000100003

Webliografia

Página oficial da autora:https://www.facebook.com/leticia.wierzchowski

Presença polonesa na cultura brasileira:https://culture.pl/pt/article/presenca-polonesa-na--cultura-brasileira

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