Cristãos de Gaiola - Antonio Claudio

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Antonio Cláudio de Souza

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LIVRO Nº 1

LIBERDADE PARA CONTRIBUIR

“Que cada um contribua conforme resolveu no coração, não com tristeza, nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.” II Co 9:7

Cristo nos libertou para que sejamos de fato LIVRES!!! Ga 5:1

Todos os direitos reservados

© Antonio Cláudio de Souza ANO 2007

Contatos:

[email protected] [email protected]

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À memória de minha mãe, Zizi, que me ensinou, na

prática, vivendo, que o ser humano pode ser o domínio de Deus, Seu reino e Sua casa!

Agradecimentos especiais para: � minha esposa, Rosimeire; � meus filhos, Israel e Patrícia, Marcel e

Tatiana; e Christian � meu pai e meu irmão, dois ‘Joãos’; � D.Mariquinha, Judite; � Minha família, cunhados, sobrinhos.... � meus amigos. —Espalhei alguns nomes nas

histórias e ilustrações deste livro —os que foram possíveis; a maioria das histórias são judaicas e os amigos são mais que as histórias—.

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ÍNDICE Introdução ..............................................................................................007 Capítulo 01 – Ninguém merece! ..................................................011 Capítulo 02 – O ‘que se acha’ e o pecador..................................023 Capítulo 03 - Atos de justiça e de bondade..................................035 Capítulo 04 - Deus, não se esqueça que eu sou dizimista!...........057 Capítulo 05 - As tábuas da lei da vida financeira.........................069 Capítulo 06 - Eram dizimistas os patriarcas?..............................085 Capítulo 07 – ‘Cristãos malaquianos 3:10’ ..................................099 Capítulo 08 – Meia-lei, meia-graça............................................117 Capítulo 09 - Breve história do dízimo .......................................125 Capítulo 10 - ‘Corbã’..................................................................135 Capítulo 11 - A ‘empreja’ e o ‘dízimo da fé’...............................145 Capítulo 12 - A alma livre da igreja simples................................163 Apelo...........................................................................................170

Observação: Fatos e personagens das histórias ambientadas

no período inter-bíblico —identificadas pela data no início— são fictícios.

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Eu, o mínimo de todos os irmãos, aos quais escrevo, de bom ânimo, no Espírito Santo, com simplicidade e sinceridade de Deus, buscando a sabedoria que vem do alto —livre de preconceito e hipocrisia—, escrevo sobre a liberdade de contribuir, qüestionando:

Um cristão verdadeiro iria parar de contribuir se compreendesse que não deve fazê-lo motivado pela obrigação religiosa —da letra da lei—, pela ganância do lucro, pelo constrangimento, pela coação psicológica, pelo medo diante das ameaças de maldições, mas sim pela gratidão a Deus, pelo reconhecimento da Sua graça e providência, pelo desejo de ajudar o próximo —identificando e suprindo suas necessidades—, com alegria, paz, generosidade, voluntariedade, boa-vontade —do reino de Deus— , como um ato de bondade e justiça, numa atitude de amor e louvor ao Senhor?

Estão abertos os portões do estudo bíblico. Sei que estudo

bíblico não ajunta multidões, mas, entrem todos os que quiserem. O convite não é para debater, no sentido de: “Vamos subir no ring e brigar!” O objetivo não é coagir, nem suprimir, nem sobrepujar ... Sem posturas do tipo ‘EU sou o ungido que fala! Aproveitem que estou entre vós!, nós somos companheiros em busca da verdade. Ninguém é infalível, nem tem razão a priori, sem que tenha bons argumentos, segundo a Palavra de Deus... Ninguém deverá sentir-se humilhado ou derrotado caso seu entendimento não prevaleça. Não. Nada disso! No final da nossa conversa ‘lavemos os pés uns dos outros’ e nos alegremos pelo que pudemos aprender ....

Que os leitores façam como as pessoas da cidade de

Beréia que “...ouviam a mensagem com muito interesse. Todos os dias estudavam as Escrituras Sagradas para saber se o que Paulo dizia era mesmo verdade.” (At. 17.11).

Que Deus ilumine os olhos do nosso entendimento....

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“Mas, antes de chegar o tempo da fé, a Lei nos

guardou como prisioneiros, até ser revelada a fé que devia

vir.

Portanto a Lei tomou conta de nós até que Cristo

viesse para podermos ser aceitos por Deus por meio da fé.

Agora chegou o tempo da fé, e não precisamos mais

da Lei para tomar conta de nós... Gálatas 3:23-25

Porém agora estamos livres da Lei porque já

morremos para aquilo que nos tornava prisioneiros.

Portanto, somos livres para servir a Deus, não da maneira

antiga, obedecendo à Lei escrita, mas da maneira nova,

obedecendo ao Espírito de Deus.” Romanos 7:6

(*)>

(¬¬) _||_

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INTRODUÇÃO

Eu sempre tive dó de passarinho1 prisioneiro. Não importa o formato, tamanho, cor, a gaiola é sempre uma prisão.

E justo meu filhinho caçula, o Christian, quando tinha 10 anos de idade, queria-porque-queria uma calopsita.

Para conseguí-la, ele fez um requerimento e foi até o escritório do vovô João entregá-lo —o ‘advogadinho’ chegou até a me perguntar se poderia emprestar-lhe uma gravata—

Transcrevo, abaixo, o início da petição:

“Excelentíssimo Senhor Doutor Vovô Juiz de Direito2 do Imirim.

Venho por meio desta pedir um Alvará Judicial para que eu consiga comprar uma calopsita.......”

Além de dar provimento, escrevendo no alto da petição:

“Expeça-se Alvará!” O ‘Doutor Vovô’, com muito bom humor, deu ao postulante o dinheiro para que ele fizesse a compra.

Diante de um Alvará expedido por quem foi, o que eu poderia fazer? Quem haveria de maior importância afetiva que o ‘Vovô’ pra recorrer? Ninguém! Então, resignado e achando tudo muito divertido, tive que acatar a decisão ‘judicial’.

O Christian escolheu e comprou a calopsita que ele julgou ser a mais boazinha e mansinha do viveiro daquele Petshop.

1 Tinha escrito: “sempre tive pena de passarinho”. Já pensou?! rs... Mas, percebi o duplo sentido da frase a tempo....

2 (Juiz de Direito como concito do neto pela conduta do avô —que é advogado— e não como atribuição de cargo judicial)

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Colocou nela o nome de ‘Sarinha’ uma abreviatura de ‘passarinha’.

Com a Sarinha não aconteceu o que acontece com tantos passarinhos, desavisados e inocentes, que, por causa do total desconhecimento da maldade e da completa falta de malícia, caem na cilada armada nos galhos de alguma árvore; no traiçoeiro alçapão. Mas, nem por isso, sua história de vida deixa de ser triste: Filha de prisioneira, ela já saiu do ovo dentro da prisão e nela foi criada.

Sempre que posso, deixo a Sarinha andar o dia inteiro dentro do meu escritório. Ela gosta de ficar em cima do meu ombro, lendo o que eu escrevo.... Atrapalha só quando enjoa da leitura e começa a bicar a minha orelha.

Eu jamais gosto de vê-la presa na gaiola. Por mim, ela só viveria solta. Livre, voaria para onde quisesse voar, mas, meu vizinho contou-me que viu quando uma outra calopsita, igual à Sarinha, voou pra fora do quintal da casa onde vivia e foi logo apanhada por um gavião.

Assim, eu me convenci de que a grande maioria dos passarinhos de gaiola, realmente, está despreparada para ter liberdade.

Porém, os pássaros não são felizes sem terem liberdade! Mesmo aqueles que estão desde pequenos na gaiola, foram criados tendo que engolir tudo o que lhe colocavam no bico, acostumaram-se a ter as asas cortadas ao primeiro sinal de que elas estivessem crescendo o suficiente para um vôo maior e agora, mesmo que alguém abra a porta para eles, não saem. Uma parte nem sabe que pode voar.... Os que sabem, são medrosos... Têm medo da liberdade!

Mesmo em gaiolas grandes, muito espaçosas, luxuosas, onde são alimentados com o alpiste de uma dieta programada rigorosa —o pacote-pronto-único-e-inquestionável— é um mal de proporções infindáveis achar que os passarinhos não gostariam de ter liberdade de decidir alguma coisa, inclusive o que comer.... Hummm.... aquela jabuticada que está lá na árvore.....

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Quem dera houvesse gente que se condoesse e se dispusesse a ajudar esses pássaros de gaiola a irem acostumando-se à liberdade até se tornarem pássaros livres, não sendo mais preciso ninguém tomar conta deles.

Alguém pode olhar para um passarinho na gaiola e dizer: —“Olha como canta!!! Como está alegre”!!! Mas, não percebe que esse canto é um triste lamento...

Gorjeando a sua dor, é a maneira como sabe chorar.... Nada consola o passarinho da dor que sente pela liberdade que perdeu ou nunca teve.

― Como eu poderia cantar de alegria? – responde o passarinho prisioneiro, sem ser compreendido - .....se minha alma machucada, que ama a liberdade, é prisioneira permanente.

O Evangelho da Graça de Jesus é o céu onde os cristãos-passarinhos-de-gaiola nasceram para voar... L I V R E S !!!!

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Capítulo 1

1 - “Ninguém merece!!!”

Quem já deu alguma coisa a Deus para receber dele algum pagamento? Rm 11:35-36

Oferta: é o ato de oferecer. Oferecer: é propor para que seja aceito. Então, ofertar é dar algo, propondo que seja aceito. A primeira referência bíblica à oferta encontra-se em

Gênesis 4:3-5. Dois irmãos —Caim e Abel— trouxeram ofertas a Deus.

Caim era agricultor. Desde o dia em que Deus disse a Adão:

“Por causa do que você fez, a terra será maldita.... Ela lhe dará mato e espinhos.... Terá de trabalhar no pesado e suar para fazer com que a terra produza algum alimento” (Gn 3:17-19) , ser agricultor não era nada fácil.

Hoje há agricultores que usam tratores com ar condicionado, colheitadeiras, semeadeiras, implementos agrícolas. Mas, Caim, desconhecendo arado de tração animal, enxadas e foices, arduamente, arrancava com as mãos os espinhos, o mato e as pragas da lavoura. Muito suor correu pelo seu rosto debaixo do sol escaldante...

Ele pegou alguns produtos da terra e ofertou a Deus.

Abel era pastor: Atividade de conduzir o rebanho até os pastos verdejantes e às águas tranqüilas —Às vezes era preciso passar por caminhos pedregosos, subir montanhas e também descer até vales sombrios—. Também era preciso proteger o rebanho dos perigos de animais ferozes, do mau tempo e estar atento ao nascimento e crescimento das ovelhinhas e dos cordeirinhos.

Ele matou um cordeirinho nascido do seu rebanho e ofertou a Deus.

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Dois altares foram feitos. Um continha frutas, legumes.....,

no outro estava o cordeirinho morto derramando sangue. E o fogo, vindo do céu consumiu a oferta de Abel

―imagino que o sinal da aceitação de Deus tenha sido assim―. Mas não a de Caim, que foi rejeitada. Mas, por que?

Em Hebreus 11:4 há a explicação: “Foi pela fé que Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor do que o de

Caim. Pela fé ele conseguiu a aprovação de Deus como homem correto, tendo o próprio Deus aprovado as suas ofertas. Hb.11-4”

Doutrinariamente, isso chama-se ‘justificação pela fé.’ Quer

dizer: Ser aceito por Deus, por causa da fé!

Ambos os irmãos nasceram fora do jardim e herdaram a mesma natureza pecaminosa de seus pais, que faz com que o homem não seja digno, merecedor, adequado a por-se, ligar-se, ou ficar em contato com a pureza e santidade de Deus —muitíssimo elevada, sublime, excelsa—, sem profaná-la.

Quando Adão e Eva pecaram Deus sacrificou um animal para confeccionar vestimentas para eles e havia declarado como atribuiria justiça ao homem, isso quer dizer, como o aceitaria: através da morte expiatória de uma vítima —animal—, para a qual o pecador transferia simbolicamente os seus pecados, oferecendo a Deus o sangue que representava a vida.

“E, não havendo derramamento de sangue, não há perdão de pecados.” Hb.9:22.

Porém, diante de Deus, Caim agiu como se não fosse

pecador, menosprezando a mediação e justificação conforme o Senhor havia determinado. Trouxe sua oferta e apresentou-a a Deus confiando em si mesmo, nos seus próprios méritos, achando que merecia ser aceito por Ele!!!! Ofertante e oferta foram rejeitados.

Todo e qualquer homem é absolutamente inaceitável diante de Deus ao seguir o caminho de Caim!

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Mas Abel sintonizou a “Emissora do Alto’ e captou a revelação, como uma iluminação espiritual, e pela fé na graça —favor que não merecia— de Deus!!!! ele foi aceito!

Ele reconheceu que precisava da intermediação feita pelo sangue do cordeirinho que era símbolo do sangue precioso do Cordeiro de Deus, sem defeito e sem mancha, mediador entre Deus e o homem....

Vejamos dois textos bíblicos: "No dia seguinte, João viu Jesus vindo na direção dele e disse: -

Aí está o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” João 1:29

“Pois vocês sabem o preço que foi pago para livrá-los.... Esse preço não foi uma coisa que perde o seu valor como o ouro ou a prata. Vocês foram libertados pelo precioso sangue de Cristo, que era como um cordeiro sem defeito nem mancha. I Pe 1:18-20

O que vou contar parece uma ilustração, fruto de

criatividade, mas infelizmente, não é: Uma igreja promoveu uma campanha do ‘Contrato com Deus’. Era um documento timbrado, com carimbos... tudo devidamente formalizado.

O objeto desse ‘Contrato’ —que, pelos seus termos, poderia ter o título de ‘Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bênçãos Materiais’— era a libertação financeira. A propaganda foi feita no sentido de estimular os fiéis a pensarem alto: era a realização de todos os sonhos!!!:

As partes do Contrato eram: O ofertante, na qualidade de CONTRATANTE, que, cumprindo a sua parte no contrato, fez um pagamento à vista, em dinheiro, ali na hora da reunião, de um valor mínimo ou mais, estipulado pela igreja, ao CONTRATADO: a saber: DEUS!!!

A igreja se colocou na posição de fazer apenas a intermediação do negócio e receber o dinheiro em nome do Contratado.

No ápice da reunião, a música de fundo tornou-se arrebatadora; então um pastor conclamou a multidão a segurar o contrato com as duas mãos e a levantá-lo bem alto, garantindo que iria fazer uma oração naquele momento e, quando ela terminasse, pela fé, o contrato estaria assinado por Deus, que, a partir daquele

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momento, estaria obrigado a cumprir a Sua parte no Contrato, que era realizar todos os sonhos do Contratante.

Assim, nas entrelinhas desse contrato lê-se: “Se Deus não cumprir o contrato, que culpa a igreja tem? Ela foi apenas a ´corretora’ que intermediou a negociação.”

Eu lamento ter que escrever algo que talvez magoe as pessoas que, tão ingênua e sinceramente, porventura tenham assinado um ‘contrato’ desse tipo, com tanta vontade de ter seus sonhos realizados. —Que o Senhor olhe para elas com a sua grande compaixão— Mas, inocentemente ou não, querer fazer um outro contrato com Deus selado com dinheiro 3, constitui-se, numa afronta ao único contrato —ou aliança— que Deus assinou com o homem, que foi selado com o sangue do Cordeiro. É a negação da doutrina da cruz de Cristo, a única pela qual o homem é aceito por Deus!

Meus irmãos, Jesus pagou a libertação de vocês com o Seu

sangue; jamais desprezem isso, propondo comprá-la com uma coisa que não tem valor para Deus: o Seu dinheiro!

Hoje em dia, não são poucas pessoas, mas grandes

multidões que são ensinadas a intentarem fazer contratos —se não escritos, verbais— com Deus e, confiadas em si mesmas, através do sacrifício em dinheiro, chegam diante de Deus exigindo coisas e reivindicando direitos crendo serem merecedoras e credoras diante de um Deus devedor. Na verdade, estão fazendo ‘altares de Caim’. Judas vs.11” : “Ai deles! Seguem o mesmo caminho de Caim....”

Quando vocês ofertarem, irmãos, não o façam crendo que são tão aceitáveis e merecedores, por si mesmos, que não precisem da graça de Deus, pois Ele aceita aquele que se crê inaceitável e, não se achando merecedor, tem fé na graça!

3 O líder de uma igreja escreveu em seu livro “O Espírito Santo nos fez compreender, que o dinheiro é o sangue da Igreja do Senhor Jesus Cristo”.

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Graça foi, é e sempre será favor ou benefício imerecido. TUDO o que recebemos das mãos de Deus não é por causa do nosso valor, qualidade, direito ou merecimento; é pela graça!

Nós recebemos a graça ‘de graça’. É totalmente gratuita. Não tem preço. Não se compra. Não se vende. Não se paga! Não temos copyright algum sobre o que é feito pela graça.

Na verdade, não somos dignos nem de contribuir para a obra de Deus. Ele nos dá essa possibilidade também pela Sua graça!

.....................

Algumas lamparinas iluminavam a casa, enchendo de

sombras as paredes. Ali estava Jesus, conversando, depois do jantar, com alguns cobradores de impostos e outras pessoas mal-faladas, que chegaram ali para O ouvir.

Isso era motivo de escândalo para mestres da lei e fariseus, que, mantendo-se a distância para não se contaminarem, criticavam o Senhor, dizendo:

— “Este homem se mistura com gente de má fama e toma

refeições com eles”. Lc.15:2

Percebendo isso, Jesus contou uma história, de certo numa altura de voz que os escribas e fariseus escutassem com nitidez....

(Eu a reconto imaginando entrelinhas que, de forma nenhuma,

interferem na essência do texto (Lc.15:11-32). Coloquei no pai o nome de Abiel’ por significar: ‘Deus é Pai’)

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“Os dois filhos de Abiel’ —um pródigo, o outro ‘caxias 4 ’ ; um convertido, o outro convencido—

Abiel tinha dois filhos. Certo dia o caçula feriu-lhe o coração,

dizendo: —Vou embora desse povoadinho sem movimento, papai... É

muito chato viver aqui. Eu quero ir para uma cidade grande e ser independente. Peço-te que me dê a minha parte da herança.

O pai tirou do seu esconderijo as valiosas moedas que havia economizado a sua vida inteira e, sendo justo e bondoso, entregou-as aos seus dois filhos, dividindo-as igualmente entre eles.

Ao despedir-se do mais novo, o velho Abiel, com lágrimas nos olhos, deu-lhe um abraço e disse-lhe:

— Bem, filho, se é o que você decidiu... Não posso mantê-lo aqui à força. Mande-me alguma notícia sua com os mercadores que passam por aqui...

—Está bem. Vou indo, papai. Adeus! O velho Abiel, chorando, viu seu filho afastar-se pelo

caminho... O rapaz não volveu uma só vez a cabeça para trás, nem para um aceno, até que desapareceu lá no horizonte.

Tempo depois... Noutro país, muito distante do povoado onde nasceu e cresceu

—e distante significa ‘esquecido do seu pai’—, nas tavernas das imediações do porto da cidade grande, o rapaz desperdiçou todo o dinheiro que havia levado, com prostitutas, vícios, falsos amigos...

Não é de admirar que isso terminasse em abandono e solidão. Quando acabou o dinheiro, acabaram os amigos. Já não era mais bem recebido em lugar nenhum.... Aí ele começou a passar necessidade...

Procurou trabalho, mas não encontrou. Havia muita recessão e fome por ali... Acabou tornando-se escravo de um dos senhores daquela terra —entenda-se: o diabo—, que mandou-o para a sua fazenda como ‘tratador de porcos’. Além do salário ser uma porcaria, não havia nada mais humilhante para um judeu do que ocupar o mesmo espaço que os porcos...

4 Diz-se ‘caxias’ da pessoa extremamente escrupulosa no cumprimento de obrigações, no caso, da lei escrita.

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E assim passaram-se várias semanas. O rapaz só emagrecia enquanto os porcos engordavam. Sentia-se mais sujo e malcheiroso que os porcos. —Sim, o mal é cheiroso: a enxofre ao que parece.—

Então caiu em si. —Tomou consciência de Quem havia

deixado e a quem se tinha submetido—, viu-se miserável e arrependeu-se....

—Eu aqui, nessa situação difícil, faminto, enquanto lá em casa, numa hora dessas, até os trabalhadores do meu pai estão jantando um bom prato.... Nunca lhes falta comida... Eu já não agüento mais essa penúria...

E decidiu regressar... Certa manhã, lá no povoadinho, o velho Abiel, como fazia todos

os dias desde que seu filho caçula partiu, foi ao caminho por onde passavam as caravanas, esperando notícias... E então viu uma silhueta humana que se movia lá longe. Alguém estava vindo. O coração lhe avisou que seu filho. Quando teve certeza disso, como se fosse um menino, saiu correndo para recebê-lo...

— Filho, filho! Ao ver o filho tal um mendigo: sujo, magro, barbudo, o cabelo

desmantelado, a roupa toda rasgada, teve muita pena... Chorando, abraçou-o e beijou-o.

—Oh! Meu filho!!! Que bom que você voltou! —Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço

mais ser chamado de seu filho. Mas, me aceite como um dos seus empregados! —disse, constrangido, o filho pródigo, com um dilúvio de lágrimas derramando-se dos olhos e correndo-lhe pelas faces.

Mas o pai ordenou aos empregados: —Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Ponham um

anel no dedo dele e sandálias nos seus pés. Também tragam e matem o bezerro gordo. Vamos começar a festejar, porque este meu filho estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado!

E começaram a preparar a festa. O velho Abiel percorreu todo o povoado, convidando a todos que encontrou pelo caminho.... À noitinha, a sua casa estava repleta de gente. O comentário geral é que nunca tinham-no visto tão contente.

Então, quando o filho mais velho, que estava no campo, voltou e chegou perto da casa, ouvindo a música e o barulho da dança, achou

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estranho. Chamou um empregado e perguntou: "O que é que está acontecendo?"

—Não está sabendo?.... – respondeu o empregado - ...O seu irmão voltou para casa vivo e com saúde. Por isso o seu pai mandou matar o bezerro gordo.

O filho mais velho ficou zangado e não quis entrar. Então foram contar a Abiel o que estava acontecendo e ele foi depressa falar com ele...

—Meu filho... seu irmão voltou são e salvo! Venha, entre! Estamos todos esperando você....

O filho ‘caxias’ lhe respondeu: —Mas pai, faz tantos anos que trabalho como um escravo

para o senhor (na versão corrigida: ...te sirvo há tantos anos) e nunca desobedeci a nenhum mandamento seu. Mesmo assim o senhor nunca me deu nem ao menos um cabrito para eu fazer uma festa com os meus amigos. Porém, esse seu filho desperdiçou tudo o que era do senhor, gastando o dinheiro com prostitutas. E agora ele volta, e o senhor manda matar o bezerro gordo!

........................................

O PAI :

Quem entende essa história. Entende como é Deus! Alguns pregadores de hoje em dia, têm passado para o

povo uma imagem de um Deus soberbo, orgulhoso, que permanece distante e solene em seu trono de majestade, enquanto recebe a contemplação, reverência e o louvor que exige dos seus súditos.

Jesus mostrou a Deus como um pai amoroso, cheio de bondade, generosidade, compaixão, com uma capacidade infinita de perdoar... que sente a dor do filho, que se alegra na festa...

Jesus ensinou seus discípulos a chamarem a Deus pelo nome de “Papaizinho” —Abba—

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A propósito, Ele tinha a intenção de afastar os discípulos da liturgia das orações decoradas. Sugere uma oração em aramaico, por ser a língua de uso em casa, no dia-a-dia. Em aramaico, o início do Pai-Nosso soa assim: “Abba, yitqaddás semaj, teté maljutáj...” “Abba”: é uma palavra típica dos primeiros balbucios infantis. Em aramaico, o bebê começa a falar dizendo: “imma” e “abba” —mamãe e papai—. Filhos crescidos, carinhosos, continuavam chamando o pai de ‘Abba’. Jesus ensinou que, quando alguém fosse orar não deveria recitar coisas decoradas, usando de vãs repetições.... Era para falar com Deus de um jeito mais espontâneo, informal, íntimo, carinhoso... dizendo coisas do tipo: “Papaizinho... ....que todos reconheçam que o teu nome é santo... ...Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu!... ...Dá-nos hoje o alimento que precisamos” .... Depois de ter acabado de ensinar um modelo, imagine se, ao virar as costas, os discípulos começassem a repetir cada palavra do modelo —do jeito que se faz hoje em dia na igreja—, todos juntos, cadenciadamente, feito um jogral.... E, dependendo da situação, por duas, três ou mais vezes seguidas: “Pai ... nosso ... que ... estás ... no ... céu....”

Que nota se daria a um entendimento desses?

O FILHO CAÇULA : Voltar foi um ato de fé do filho pródigo. Ele não voltaria,

se não tivesse fé na graça e compaixão do pai.

“Não mereço!” , ele reconheceu Mas, me aceite como um dos seus empregados.

Quando partiu, seu desejo era de ser independente do pai. Voltou porque converteu-se: mudou de pensamento e de atitude:

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reconheceu a necessidade da dependência do pai e não mais de si mesmo.

No reconhecimento da dependência de Deus está, tanto a necessidade, quanto a grandeza do ser humano.

No mais, o filho caçula aceitou a graça do pai e o pai aceitou a fé na graça, do filho.

Foi só pela graça da parte do pai, mediante a fé do filho caçula, reconhecendo-se pecador, indigno, sem mérito nem direito —nem de ser considerado filho— e inaceitável, é que ele foi aceito. Os anjos aplaudiram cheios de alegria!!! Explodiu a festa na Casa do Pai...

A justificação pela graça, mediante a fé, é uma afirmação de que o ser que é aceito por Deus é, na verdade, inaceitável.

Deus aceita o homem pela graça e o homem aceita a graça pela fé.

O FILHO MAIS VELHO :

O filho ‘caxias’, que servia o pai “da maneira antiga, obedecendo escrupulosamente a lei escrita”, achava que nunca tinha transgredido nenhum mandamento. Disse que cumpria rigorosamente o texto de todos eles — uau! os 613 ?! —. Mas, sem precisar nenhuma reflexão mais profunda para se entender isso, ‘de cara’, já se vê que ele não cumpria o espírito da lei, que se resume no segundo grande —ou mais importante— mandamento: “Amarás o teu próximo —o irmão— como a ti mesmo”.

Rm. 13:9-10 : Os seguintes mandamentos: "Não cometa adultério, não mate, não roube, não cobice" - esses e ainda outros mais são resumidos num mandamento só: "Ame os outros como você ama a você mesmo." Quem ama os outros não faz mal a eles. Portanto, amar é obedecer a toda a lei.

Se o irmão mais velho não cumpria o segundo, também

não cumpria o primeiro, que é “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças." Mc. 12:30

I Jo 4:19-21: “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem

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não viu. E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão.”

Se não cumpria os dois mandamentos mais importantes,

dos quais dependem todos os outros, o irmão mais velho não cumpria nenhum.

“Toda a Lei de Moisés e os ensinamentos dos Profetas se baseiam nesses dois mandamentos. Mt. 22:40)

O que se percebe é que aquele que é convertido, que

reconhece que é aceito por Deus pela graça, mediante a fé, sendo, na verdade, inaceitável, também aceita o próximo. O amor ao próximo é fruto desse reconhecimento que redunda em atitude de amor.

O ‘convencido’—aquele que não reconhece a sua justificação pela graça e, pelo contrário, considera-se merecedor de ser aceito por Deus por cumprir obrigações religiosas, como prisioneiro e escravo da lei escrita— exige do próximo a mesma atitude extremada que ele tem, para aceitá-lo. Na sua forma egocêntrica de julgamento, dificilmente alguém consegue equiparar-se a ele. Assim, ele não aceita, nem ama o próximo.

O irmão ‘caxias’ não aceitava nem amava o ‘pródigo’. —

Se o amasse, não ficaria esperando-o voltar. Tomaria uma atitude: iria à procura dele e, ao encontrá-lo, mesmo lá no chiqueiro dos porcos, estenderia a mão para ele.—

Julgava-se digno e merecedor de receber algo a mais que o outro. Ele não se conformava de ter recebido o mesmo que o caçula, por ocasião da divisão que o pai fez da herança. O ‘pródigo’, que é pecador, não tem o mesmo direito que ele de sentar-se à mesa e participar da festa na Casa do Pai. “Se eu que sou eu, nunca tive festa pra mim!!!” (Lembram-se que Jesus disse que nunca tem festa quando pessoas que pensam que não têm pecado e não têm do que se arrepender se reúnem?)

E, quando não recebe o algo mais que esperava, pois achava que tinha direito, o mais velho protesta! Julgando ter méritos acumulados diante do pai, por causa do cumprimento da lei escrita, reivindica seus direitos, com arrogância.

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Esses ‘irmãos-convencidos’, cumpridores de obrigações

religiosas, que servem a Deus da maneira antiga, cumprindo a lei escrita, na verdade, ficariam muito satisfeitos se Deus nunca desse nada aos ‘irmãos-convertidos’, pecadores arrependidos, aceitos, pela graça de Deus, porque têm fé na graça, que servem a Deus da maneira nova, obedecendo ao Espírito de Deus, pois estão livres da Lei; já morreram para a lei escrita que os tornava prisioneiros.(Rm 7:6) Esses ‘irmãos-caxias’ , ainda quando falam ou escrevem da graça de Deus, o texto traz em si a seguinte redação secreta: "a graça me alcançou, graças a mim".

Se não for pela graça de Deus — que é pai bondoso,

justo e cheio de compaixão —, e pela nossa fé na Sua graça, jamais seremos aceitos por Deus —e nem a nossa oferta é aceita—, pois, afinal, NINGUÉM MERECE !!!

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Capítulo 2

O ‘que se acha’ e o pecador.

Lucas 16:15 : “Então Jesus disse a

eles: — Para as pessoas vocês parecem bons, mas Deus conhece o coração de vocês. Pois aquilo que as pessoas acham que vale muito não vale nada para Deus.”

Isso é de suma importância levar em conta quando ofertamos: Deus conhece as nossas mentes e vê os nossos corações; discerne os pensamentos, sentimentos e intenções! E é isso —e não o dinheiro ou bem material em si, que as pessoas acham que vale muito, mas não vale nada para Deus— que Ele considera ao aceitar ou rejeitar a oferta. No Velho Testamento .... Segundo a lei de Moisés, quando alguém trazia um animal para ofertar a Deus — como holocausto, oferta de manjares, oferta pacífica, oferta pelo pecado, oferta pela culpa— quase sempre as partes desse animal eram comidas pelo sacerdote —certas vezes, também pelo próprio ofertante— ; o que Deus recebia era o sentimento e a intenção do ofertante: de arrependimento, louvor, adoração, dedicação, generosidade, ação de graças.... e também de gratidão. No Novo Testamento... Jesus estava na Galiléia, divisa com Samaria. Foi ali que Ele curou os dez leprosos, dos quais apenas um —samaritano—ao perceber que estava curado, voltou pra oferecer ao Senhor algo que Ele aceitou: a gratidão! (Lc.17:11-19) Sendo judeu, mas sem ter o preconceito que os demais judeus tinham com relação aos samaritanos5, o Senhor elogiou a atitude de gratidão do estrangeiro e perguntou:. —Onde estão os outros nove?

5 O povo samaritano era resultante da mistura de judeus com povos de outras origens.

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Os outros nove, por certo, seguiram adiante no caminho para serem examinados pelos sacerdotes —conforme o próprio Jesus lhes tinha mandado fazer, já que eles eram judeus— e darem a oferta cerimonial da purificação, em cumprimento da obrigação religiosa da lei de Moisés. Acima de tudo, fica claro que o Senhor demonstrou sua aprovação ao sentimento e intenção do samaritano. Fez bem aquele que discerniu em seu coração que a gratidão era mais importante que o cumprimento de obrigação. O cristão, que segue os ensinos de Jesus, deve ofertar, não movido por obrigação religiosa, mas, sim pela gratidão a Deus, pelo reconhecimento da Sua graça e providência, num relacionamento de amor para com Ele. Também não deve fazê-lo com a intenção de fazer o pagamento de algo que se deseja obter ou que se obteve.

Giovani precisava urgentemente de um transplante de rim,

senão morreria. Quando seu pai ficou sabendo disso, no mesmo instante se ofereceu para ser o doador. A cirurgia foi feita com sucesso; o pai salvou a vida do filho.

Diante disso, tudo que o Giovani fizer pelo pai jamais será com a intenção de obter o rim. Ele já obteve, 100% de graça!!! Nem como pagamento pelo benefício recebido; qual pai verdadeiro pleitearia ou aceitaria algum dinheiro em pagamento pelo amor —sacrificial— que tem pelo filho6 ?

O que todo pai aprecia —o Pai celeste também— é a gratidão do filho manifesta num relacionamento de amor para com ele! Se vocês aceitarem um conselho, irmãos, jamais coloquem dinheiro dentro de envelopes de pedidos de oração, como se

6 A propósito, o cristão não pratica boas obras para ser salvo, mas

porque foi salvo! “Porquanto a fé é assim: se não vier acompanhada da ação (boas obras), é coisa morta em si mesma.” Tiago 2:17

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estivessem dando uma espécie de sinal e princípio de pagamento, arras, caução, ou outra modalidade de garantia que, em tese, assegure a aceitação do pedido ou a resposta de Deus. Tenha o cuidado de separar bem o momento que vocês solicitam a intercessão, de outro momento em que ofertam pela gratidão, em amor. Mesmo porque, além de Deus não aceitar pagamento em dinheiro, a Sua igreja tem prazer em fazer a intercessão solicitada 100% de graça. Ainda que alguns digam que é preciso levar os pedidos de oração ao alto do monte, pois de lá a ligação para Deus é local —enquanto que em outros lugares é interurbana— não é decente cobrar-se alguma coisa por isso. Por fim, Jesus disse ao ex-leproso: - Levante-se e vá. Você está curado porque teve fé. (Lc.17:19) Aquele estrangeiro foi curado porque teve fé, acreditou no que Jesus disse. Não foi por causa do cumprimento do cerimonial de purificação da lei de Moisés e nem de nenhum outro rito. Quanto mais no tempo da graça, Paulo ensina aos Gálatas: “Será que, quando Deus dá o seu Espírito e faz milagres entre vocês, é porque vocês fazem o que a lei manda? Não será que é porque vocês ouvem a mensagem e crêem nela?” Ga. 3:5. Depois da cura dos leprosos, apareceram uns fariseus para interrogar a Jesus sobre quando haveria de vir o Reino de Deus. Como eles poderiam entender que o reino de Deus, de que Jesus falava, não tem a significação de lugar ou território dominado, não é material, nem de caráter político. Satanás mostrou a Jesus, lá do monte muito alto, os reinos deste mundo e suas grandezas (Mt.4:8), para tentá-lo. Também imaginavam um reino deste mundo: O povo que queria levar Jesus à força para o fazerem rei no lugar de Herodes-raposa-Antipas. (Jesus chamou-o de ‘raposa’ Lc.13:32) A mãe dos filhos de Zebedeu quando pediu a Jesus para prometer a ela que seus dois filhos se sentariam à direita e esquerda Dele, quando o

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Senhor fosse rei. (Mt 20.20,21) A multidão que gritava cheia de alegria “Que Deus abençoe o Rei!!!, quando Jesus entrou em Jerusalém, montado num jumentinho. (Lc.19:38) Pilatos ao perguntar a Jesus se Ele era rei. (Mt.27:11). Até mesmo os discípulos no Caminho de Emaús que lamentavam: “Nós esperávamos que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel (Lc 24.21) Mas quando Jesus falava do reino —do Seu reino— dizia que não é deste mundo, nem material e nem de caráter político. Instala-se quando a bondade, compaixão, justiça, alegria, paz chegam ao íntimo do ser humano e ali encontram morada. O coração do homem torna-se o domínio do Senhor: o lugar que é Dele, a Sua Casa! Disse Jesus: “Quando o Reino de Deus chegar, não será uma coisa que se possa ver..... Porque o Reino de Deus está dentro de vocês.“ (Lc. 17:20-21) O cristão deve ofertar entendendo que o que faz parte do reino de Deus não é o dinheiro, mas sim a bondade, a justiça e a alegria com que ele contribui... e a paz que sente depois de contribuir, só por tem feito o bem!!!!!

..........

O Senhor resolveu contar uma história pra algumas pessoas que, segundo Ele mesmo disse: “...confiavam em si mesmos, crendo que eram justos (aceitáveis).....:

“Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu,

e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, ladrões, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.....

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......O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! “E Jesus terminou, dizendo: - Eu afirmo a vocês que foi este homem, e não o outro, que voltou para casa em paz com Deus.” Lc. 18: 9-14

Jesus contou essa história: ‘O fariseu e o publicano’, —‘o

que se acha’ e ‘o pecador’ ; ‘aquele que, só por cumprir obrigação religiosa, não se sente pecador’ e, o outro, que simplesmente ‘se sente pecador’—. Através dela, o Senhor expressa, por um lado, a sua desaprovação à religiosidade orgulhosa daquele que se julga merecedor diante de Deus, seu descontentamento ante a piedade-devoção sem piedade-compaixão; e por outro, a Sua graça e misericórdia.

A seita, ou movimento dos fariseus, àquele tempo, contava

com cerca de 6.000 homens leigos. Os fariseus eram, na verdade, mesquinhos, secos de coração,

orgulhosos, soberbos, petulantes, arrogantes e, sobretudo, espirituais de aparência —Jesus chamou-os de “túmulos caiados”, que, por fora se mostravam bonitos, mas interiormente estavam cheios de podridão! (Mt.23:27)—

A palavra ‘fariseu’ significa ‘separado’. Eles se colocavam à parte, não queriam sequer encostar em ninguém para não se contaminarem. Consideravam-se melhores que todo mundo, os únicos salvos, os preferidos de Deus, só por cumprirem obrigações religiosas: o texto da lei de Moisés. Desprezavam os que não procediam assim, convencidos que esses eram malditos.

Os fariseus eram formalistas e viviam de ritos7;

cumpriam meticulosamente as práticas exteriores do culto e das cerimônias. Serem aceitos por Deus era uma questão de acumular méritos próprios.

7 À semelhança, uma parte dos cristãos do século 21 tem vivido de ritos e simpatias: dar nó na camisa ou na meia, pisar em sal grosso, tomar água fluidificada, banho de ervas, etc...

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Na oração do fariseu, referida por Jesus, está ausente o pedido de perdão de pecados, pois os fariseus —‘que se acham’— julgavam isso desnecessário, uma vez que confiavam no cumprimento de obrigações. Jejuavam às segundas e às quintas-feiras —além do que determinava a Lei: um dia de jejum por ano— e pagavam ao templo dízimos até de um punhadinho de ervas —talvez nem fossem agricultores e tivessem apenas uma horta no quintal—. Cumpriam a lei somente como um catálogo de regras, não entendendo algo que está além das regras, que são os princípios, o espírito, o sentido completo da Lei, os quais Jesus veio ensinar.

É bom que fiquem claros desde já neste livro —ainda que de

passagem— três aspectos importantes da relação de Jesus com a Lei de Moisés.

Primeiro: Nascido judeu, Jesus viveu como judeu e cumpriu tudo o

que estava escrito, a respeito dele, o Messias, na lei de Moisés —e também nos livros proféticos e nos salmos. Quando o Senhor, depois de ressuscitado, explicou isso aos seus discípulos, só aí, então, eles entenderam as Escrituras.

Lc.24:44-45 : A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras”.

João explicou em seu evangelho: Jo 20:30-31 : Jesus fez diante dos discípulos muitos outros

milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias8, o Filho de Deus. E para que, crendo, tenham vida por meio dele.

Jesus disse aos discípulos no Caminho de Emaús:

8 Jesus: nome significa "Deus Salva", é o Cristo (grego), Messias (hebraico), Ungido (português)

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Lc. 24:25-27 : “...Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram! Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a glória. E começou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que falavam dele, iniciando com os livros de Moisés e os escritos de todos os Profetas.

Ele falou para aos judeus que o perseguiam, querendo matá-

lo: Jo 5: 39 : Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida

eterna; e são elas que dão testemunho de mim Jo 5:46 : Se vocês acreditassem em Moisés, acreditariam

também em mim, pois ele escreveu a meu respeito.

O Senhor afirmou, conversando com a Samaritana: Jo 4: 25-26 : A mulher respondeu: - Eu sei que o Messias,

chamado Cristo, tem de vir. E, quando ele vier, vai explicar tudo para nós. Então Jesus afirmou: - Pois eu, que estou falando com você, sou o Messias.

Tudo o que estava escrito na lei, nos salmos e profetas

precisava ser totalmente cumprido, pois somente assim o homem poderia ser liberto da lei do pecado e da morte.

Jesus viveu sem pecado e aniquilou a lei do pecado. Morreu e ressuscitou, vencendo a lei da morte. Fez o que a lei não pode fazer!!!

Romanos 8:1-4 : “Agora já não existe nenhuma condenação para as pessoas que estão unidas com Cristo Jesus. Pois a lei do Espírito de Deus, que nos trouxe vida por estarmos unidos com Cristo Jesus, livrou você da lei do pecado e da morte.

Deus fez o que a lei não pôde fazer porque a natureza humana era fraca. Deus condenou o pecado na natureza humana, enviando o seu próprio Filho, que veio na forma da nossa natureza pecaminosa a fim de acabar com o pecado.

Deus fez isso para que as ordens justas da lei pudessem ser completamente cumpridas por nós, que vivemos de acordo com o Espírito de Deus e não de acordo com a natureza humana.”

Em Suas últimas palavras alí na cruz, Jesus Cristo exclamou: "Está consumado!" —Tetelestai em grego—, ou seja, a dívida está paga, a sentença foi cumprida, a vitória está ganha: "A Lei foi cumprida!".

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Gálatas 4:4-5 “Mas, quando chegou o tempo certo, Deus enviou o seu próprio Filho, que veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da lei, para libertar os que estavam debaixo da lei...”

Segundo aspecto:

Do alto do monte, o Senhor disse à grande multidão que o ouvia: “Não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos Profetas. Não vim para acabar com

eles, mas para dar o seu sentido completo.”. (Mt. 5:17) E falou-lhes, naquele momento, do verdadeiro sentido —os princípios, o espírito— da lei quanto ao ódio, adultério, divórcio, juramentos, vingança, amar os inimigos, os deveres religiosos — a caridade —, a oração, o jejum.....

A lei foi dada por Deus para orientação, ainda que

provisória —a definitiva viria no tempo certo—, de como o homem deveria ser para agradá-Lo.

A palavra orientação significa: ‘voltar-se para o ‘oriente’, para onde ‘nasce o sol’. No cântico de Zacarias, Lc. 1:78 “Nos visitará o ‘SOL NASCENTE’” (versão ‘revista e atualizada’) “com que o ‘ORIENTE’ do alto nos visitou” (versão revista e corrigida).

Então, no tempo certo, veio aquele que é chamado: ‘Sol Nascente’, ou ‘o ‘Oriente’: Jesus Cristo, a nossa definitiva orientação: modelo básico de valores essenciais na vida de quem agrada a Deus; o próprio Deus —feito homem— como modelo concreto de vida para nossas relações com o próximo e com Ele mesmo.

Jesus é, em poucas palavras, a real e definitiva revelação do único Deus —Aquele que deu a Lei a Moisés no Monte Sinai— Ele é verdadeiramente Deus em forma de ser humano. Vivendo sem nenhum pecado, representa o modelo realmente confiável, do que significa ser um homem perfeitamente agradável a Deus.

Uma ilustração me ocorreu numa madrugada, em oração:

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Imagine que um Autor de teatro escrevesse uma peça sobre

‘o homem perfeito’. Depois de criar todo o cenário, e os demais personagens, ele criou o personagem principal. Segundo a sua visão, esse seria o homem perfeito, agradável, sem pecado e irrepreensível em todos os sentidos: sentimento, vontade, pensamento, caráter, atitudes...

O Autor entregou o texto pronto para o ator contratado, que o levou para casa e, durante muitos dias, leu tudo aquilo com a maior atenção possível. Ele queria realmente viver aquele personagem, encarná-lo. Queria ser exatamente o homem perfeito que o Autor queria.

Mas, nos ensaios o Autor percebeu que o ator, embora estivesse esforçando-se para fazer exatamente como estava escrito, ainda estava muito longe de ser o homem perfeito que ele desejava. Definitivamente não era como ele queria.

Então o Autor avaliou a situação e entendeu que só a leitura do texto, ainda que minuciosa, não era suficiente. Então, incorporou ele mesmo o seu personagem! Exatamente! Fez isso para que o ator visse, ouvisse e sentisse como ele falava, agia, sentia, se relacionava com os outros personagens.... e tivesse ali, diante dos seus olhos, o modelo perfeito de como o personagem devia ser.

O autor, colocando-se no lugar do personagem, deu vida ao texto, revelando o seu espírito, o sentido e os princípios mais profundos. Cumpriu e aperfeiçoou o texto escrito, que, assim, deixou de ser a referência para o ator.

Claro que vocês percebem, irmãos, que o Autor é Deus, o

ator é ser humano e o personagem incorporado pelo próprio Autor é Jesus, o Emanuel: Deus no homem; o ensino, a doutrina, o verbo, a Palavra que se fez carne!!!

Jo 1:14: A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós,

cheia de amor e de verdade. E nós vimos a revelação da sua natureza divina, natureza que ele recebeu como Filho único do Pai.

—Na versão corrigida: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre

nós”—

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Para os marxistas, Marx é o professor; Freud, professor do

freudianos; para os cristão, Jesus é o professor. Mas, Ele é muito mais do que isso: Ele é a encarnação viva e decisiva do seu ensinamento. Ele é o ensinamento que se fez ser humano!!! e morou entre nós, cheio de amor e verdade!!!

O cristianismo não é um princípio ético abstrato ou sistema

eclesiástico, religioso ou teológico, Ele é Deus feito homem para mostrar ao homem como é o homem que Lhe agrada.

Terceiro aspecto:

Jesus censurou os fariseus que faziam do cumprimento

externo e superficial do texto da lei um valor absoluto. Ensinou que o importante é observar os princípios da lei.

Fez isso, por exemplo, quando, propositadamente não lavou as mãos ritualmente —em observância às leis dietéticas da Torah (Kashrut 9 ), cumprindo rudimentos da lei escrita— antes de sentar-se à mesa para tomar uma refeição na casa de um fariseu que, como os outros fariseus, era exageradamente preocupado com a contaminação pela impureza dos alimentos. Jesus ensinou-lhes que Lhe importava o ‘homem-interior’ e não ‘o exterior’ , dizendo-lhes que eles deveriam dar comida e bebida aos pobres —como um ato de justiça e de amor a Deus: princípios da lei— e ficariam limpos por dentro —e tudo ficaria limpo— Eis o texto:

“Portanto, dêem aos pobres o que está dentro dos seus

copos e pratos, e assim tudo ficará limpo para vocês. Ai de vocês, fariseus! Pois dão para Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da arruda e de todas as verduras, mas não são justos com os outros e não amam a Deus. E são exatamente essas coisas que vocês devem fazer sem deixar de lado as outras.” Lc. 11:41,42

9 Leis que Deus deu ao povo de Israel para livrá-los das enfermidades que as nações pagãs estavam contraindo devido à forma de alimentação.

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Aqueles fariseus hipócritas —como judeus que possuíam terra para plantar, pelo menos hortaliças—, davam o dízimo apenas por cumprimento de obrigação religiosa, segundo a lei escrita. Isso não tem valor para Deus, que aprecia que se observe os princípios da lei; como Jesus disse, o ato de justiça e de amor a Ele...

No texto de Mateus 23:24 está escrito que Jesus lhes disse que dar o dízimo era ‘coar um mosquito’, sem ser um ato de justiça e de amor a Deus —como era compartilhar o que tinham com os pobres— era ‘engolir um camelo’...

Mt.23:24 : “Guias cegos! Coam um mosquito, mas engolem um camelo!”

Para Deus, que vê os corações, o cumprimento de obrigação, hipócrita, para ser visto pelos homens, não vale nada; Ele não aceita.

Lucas referiu-se a princípios da lei, segundos os quais deve-

se ofertar quando escreveu que na cidade de Cesaréia, um anjo de Deus disse para Cornélio, um comandante do exército romano, que ajudava sempre os judeus pobres e orava sempre a Deus:

“Deus aceitou as suas orações e o que você tem feito pelos pobres....” Atos 10:4

Cornélio não era judeu; assim, naturalmente, não cumpria obrigações judaicas de contribuição —às quais os cristãos não estão sujeitos— , mas o que ele fazia pelos pobres, como um ato de justiça e de amor a Deus, foi aceito por Deus. Subiu, junto com as suas orações, diante do Senhor.

Voltando à história do ‘fariseu e do publicano’.... Os publicanos eram os arrecadadores de impostos públicos,

exigidos do povo judeu pelos romanos. Esses agentes do fisco eram considerados pelos judeus como gente da pior espécie.

Jesus, habitualmente rodeado de publicanos —e de outras pessoas também marginalizadas pelos ‘religiosos’—, chamados de ‘pecadores’, sempre trazia uma mensagem de amor para eles.

Jesus, sendo Deus, nos revelou como é Deus: Alguém próximo dos que se crêem miseráveis e distante dos que se crêem cheios de méritos.

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Através dessa história, Jesus mostrou que nada afasta mais o homem de Deus do que a religiosidade da auto-justificação, da confiança do próprio merecimento, que conduz o ser humano à arrogância dos que têm o olhar desdenhoso e à soberba dos que se sentem muito acima em relação aos outros.

Deus ama o pecador de uma forma como nunca o

religioso cumpridor de obrigação vai imaginar! Os ‘religiosos que não se consideram pecadores’ —como o

fariseu: ‘separado’— pretendem separar-se dos pecadores, com medo de um possível contágio e, na realidade, agindo assim, eles acabam se separando de Deus, pois Deus que é Deus recebe pecadores!

Os ‘que se sentem pecadores —como o publicano—, mas, com humildade, reconhecem seus pecados e pedem a misericórdia de Deus é que aproximam-se Dele.

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Capítulo 3

Atos de justiça e de bondade

“....vivam como pessoas que pertencem à luz, pois a luz produz uma grande colheita de todo tipo de bondade.... Efésios 5:8-10

(Ano 10 a.C)

Naquela manhã, Abner, que vivia num bairro pobre de Jerusalém, subiu ao Templo para as orações de Páscoa, junto com seu amigo Eliezer. Ambos eram curtidores de couro; ofício considerado desprezível por causa do mau cheiro que produz o couro a ser curtido.

Nessa época do ano, especialmente, Jerusalém abria suas doze portas a milhares e milhares de israelitas vindos dos quatro cantos do país, para, dentro de seus muros, celebrar o renascimento de um povo: da escravidão para a liberdade!

Caravanas de peregrinos atropelavam-se para passar sob os arcos do Templo, montados em seus camelos; camelôs ambulantes, empurrando seus carroções, gritavam para oferecer suas mercadorias; beduínos comerciantes experientes, à margem do caminho observavam aqueles que passavam por eles conduzindo ovelhas e perguntavam: “Vende?”

Mas, de tudo, o que mais se via, especialmente perto do Templo, eram mendigos. No tempo de Jesus, Jerusalém era um centro de mendicância, pois dar esmola ali era considerado especialmente significante e agradável a Deus. Isso fomentava ainda mais o número de pedintes.

Abner e Eliezer atravessaram o átrio dos gentios e chegaram próximo à Porta chamada Formosa, onde uma multidão de mendigos e doentes levantavam suas mãos, ou mostravam suas deformidades físicas, suplicando uma esmola...

Uma mendiga, sentada no chão poeirento, com feridas visíveis nas pernas, gritou olhando para Abner e Eliezer, no momento em que eles passavam por ela:

— Tsedakah!! Façam justiça! Quem faz caridade cumpre a Lei

de Deus!

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Essa palavra gritada pelos mendigos: ‘Tsedaká’ —fazer caridade como um ato de justiça—, incomoda todo e qualquer judeu piedoso, como, de fato, era Abner.

—Tome essa moeda senhora. – disse Abner ao estender a mão para a pobre mulher.

—Que Deus lhe dê vida longa e saúde, filho! – disse-lhe, ela, agradecida.

E olhando, em seguida, para Eliezer: —Teria alguma moeda que pudesse me dar, que não lhe faça

falta, filho? —Agora não - respondeu Eliezer, virando o rosto para não

fitar a mulher que também lhe disse: —Que Deus lhe dê vida longa e saúde, filho!.... Saindo dali, depois de retomarem a caminhada, querendo

justificar-se diante do amigo, por não ter dado nada àquela infeliz, Eliezer disse:

—Não é que eu seja pão-duro. Fico com o coração apertado quando vejo essa miséria... Mas...

—Mas, o que, Eliezer, tem um escorpião no seu bolso? – disse Abner sorrindo, não como uma repreensão séria - ....Nós estamos mal, mas estes infelizes estão pior.

—Sei disso, Abner. Mas não é esse o problema. — E qual é o problema? — O que se resolve com uma moeda, diga-me? — Claro que não resolve nenhum problema, Eliezer, mas,

mesmo sendo um simples curtidor de couro e tendo tão pouco para partilhar, às vezes só um ceitil, quando eu oferto para alguém ainda mais pobre do que eu, é a minha forma de manifestar que eu reconheço que existe uma grande injustiça social e eu estou me esforçando para ao menos diminuí-la.

—E a quem devo dar a esmola, Abner? Àquela mendiga, àqueles cegos, a este aleijado, ou...?

—Entendo o que quer dizer, Eliezer. Esse é o quadro da grande injustiça que existe no mundo e o pouco que podemos fazer é, realmente, menos que uma gota no oceano; Mesmo assim, é a vontade de Deus que pratiquemos a tsedaká.... E se amanhã tivermos não uma

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só, mas um par de moedas para compartilhar? E se, depois, tivermos três?... Poderemos diminuir um pouco mais as desigualdades...

—Sei que alguma coisa está muito errada, Abner, mas.... —Se está, Eliezer! Se todos os homens são iguais diante de

Deus, quanta injustiça não há por tão poucos terem tanto e tantos não terem nada! Se não houvesse tanta vaidade, não haveria tanta fome!

Conversando assim, os dois amigos passaram pela Porta

Formosa e entraram no átrio das mulheres, onde está o Tesouro do Templo. Ali, debaixo de um pequeno pórtico, encontravam-se as caixas onde os israelitas entregavam suas ofertas para a manutenção do Templo.

Eles passavam por ali, exatamente no momento que um rico comerciante, com luxuosas vestimentas de linho fino e um bracelete de ouro e pedras preciosas no pulso, ia deixando cair no recipiente, um a um, um punhado de siclos —uma moeda muito valiosa—....

Abner e Eliezer pararam ali para observar. A cada siclo que depositava, o ricaço dizia bem alto, uma frase

de efeito em forma de oração, dando uma olhada significativa para os que estavam na fila atrás dele, para ouvir uma resposta que fizesse bem ao seu ego:

— Isso é para que nosso Templo brilhe sempre como brilham estas moedas de prata.

—Amém! – As pessoas da fila respondiam, com uma expressão de admiração.

— Que essas moedas subam até Deus, como incenso, que não há de faltar sobre o altar do Templo!

—Amém! —Que essas moedas aumentem o Tesouro do Templo e a sua

glória! —Amém! —Que essas moedas sirvam para embelezar, com ouro e

mármore, ainda mais o lugar sagrado.... —Amém.... Mesmo um pouco afastado da aglomeração de pessoas que

assistiam de perto o homem rico ofertar, Abner disse bem alto, na

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mesma entonação do homem rico, imitando-o, uma frase que causou um reboliço ali:

—Que essas moedas embelezem o Templo, com ouro e mármore, enquanto os pobres morrem de fome aí fora...

Ouvindo isso, o rico enfureceu-se e berrou, enquanto olhava para todos os lados do recinto:

—Quem foi o atrevido? ....Alguém, chame um levita imediatamente para que tome uma providência e encontre esse desaforado....

Eliezer puxou o amigo pelo braço e conduziu-o para fora. Longe da confusão que foi armada, Abner explicou:

—Não pude me conter diante da grande injustiça acontecendo bem diante dos meus olhos... Só o valor de parte daqueles ciclos, daria para matar a fome da maioria dos infelizes que estão ali junto à porta.

Eliezer não disse com palavras: “Está bem, você me convenceu, Abner.” Mas, um pouco mais adiante, ali na rua, colocou a mão no bolso e dele tirou um denário que depositou na palma da mão estendida do primeiro mendigo que encontrou, o qual também suplicava:

— Tsedakah!! Façam justiça! Cumpram a lei de Deus! ..............

Em hebraico, esmola se diz ‘Tzedakah’ e justiça: ‘Tzedek’. Esmola deriva de Justiça. Dar esmola significa fazer caridade lembrando que está agindo para equilibrar as desigualdades. Isto é: fazer justiça!

Por isso os mendigos gritavam pelas ruas: —‘Tsedakáh! Tsedakáh!!! Façam caridade como um ato de justiça!

Provavelmente a maioria das pessoas, hoje em dia, não vê o mendigo como um injustiçado e nem pensa que estender a mão para os infortunados que encontramos em nosso caminho, seja um ato de justiça, na intenção de equilibrar as desigualdades.

Mas, mesmo sendo difícil entender-se a causa das injustiças, o fato é que elas estão aí e todos a vêem.

E a injustiça é a maior causa da violência. Ou não é verdade que ‘uma parte das pessoas do mundo não come, outra parte não dorme, com medo da que não come’?

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......... Atos de justiça fazem parte do grupo, mais abrangente, dos

Atos de Bondade.

(Ano 8 a.C)

Gabriel Pescador, de Cafarnaum, voltou pra casa ao meio-dia. Sua esposa, Dalia e seus filhos já o aguardavam à mesa. Depois de, ritualmente, lavarem as mãos e dizerem a oração de agradecimento, Dalia servia o marido e os filhos, quando aproximou-se da porta o cego Caleb, cantando como sempre:

— Que Deus abençoe a mesa e a todos os que estão nela! —Bonita essa saudação cantada, velho Caleb – disse Dalia. —Oh! Dona Dalia, não sobrou por acaso alguma coisinha para este pobre infeliz? —Entre e sente-se à mesa conosco... Já vou lhe servir um peixe que acabei de assar, com azeitonas e molho. —Obrigado, obrigado... É muita bondade da senhora. A verdade é que estou com muita fome...! —Bom proveito! – disse Dalia ao estender o prato ao cego. —Sou suspeito pra falar. Mas não há cozinheira melhor que minha mulher aqui em Cafarnaum... – observou Gabriel, sorrindo para a esposa que respondeu com uma expressão de modéstia. —Eu acredito, Gabriel. – disse o cego - ...O Senhor tem te abençoado. Fico admirado de ver que na tua casa os de fora vêem, se sentam e comem com a família. Compartilhar o pão com o faminto e receber aos que não têm teto é o verdadeiro cumprimento do espírito da lei. Quando você se esforça para que os outros não passem fome, Gabriel, você pratica um ato de bondade que, certamente, agrada a Deus. Que Ele sempre te dê alegria e paz! —Amém! Quem me dera agradar a Deus, velho Caleb.... E, quase uma hora depois, quando só ficaram os espinhos no prato, o cego despediu-se e foi saindo, cantando:

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—Breve virá Aquele que levará boas notícias aos pobres, que animará os aflitos,

anunciará a libertação dos escravos e a liberdade para os que estão na prisão. Então os cegos verão, e os surdos ouvirão.

os aleijados pularão e dançarão, e os mudos cantarão de alegria. Pois fontes brotarão no deserto, e rios correrão pelas terras secas

E o seu trono se consolidará pela bondade E não tardará em fazer justiça”

— Amém e amém, velho Calebl!!! – gritou Gabriel Pescador, alegremente para o cego, que já enxergava, como poucos, a luz resplandecendo no oriente....

................................. A bondade não é feita só com dinheiro —para suprir a

necessidade do ‘pobre de dinheiro’—, mas também com afeição —para suprir a necessidade do que é ‘pobre de afeição’—, o mesmo acontecendo com o ‘conhecimento’, a ‘paz’, a ‘alegria’....— Pois, qualquer ser humano é ‘pobre’ em relação ao que lhe falta.

.................................. Quero enumerar apenas sete princípios dos ATOS DE

BONDADE, que devemos ter em mente ao ofertar —uma reflexão mais abrangente acrescentaria muito mais itens, que não caberiam neste livro—.

1 – Quanto mais alguém pratica atos de bondade, mais se parece com Deus.

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Que saudade do meu amigo Maurão10 que escreveu a canção:

Todo filho se parece com seu pai...(2x) Todo filho se parece, todo filho se parece,

Todo filho se parece com seu pai. E você que diz ser filho de Deus,

Em que se parece com o Pai Será que as pessoas quando olham pra você,

Elas dizem que você “é a cara do Pai!” O homem foi criado à imagem de Deus. Assim como Deus

é bondoso e a Sua bondade se estende a todos, assim o homem deve ser e fazer como Ele.

Na medida que o homem aproxima-se cada vez mais de Deus, vai absorvendo em si as Suas qualidades. Assim, a bondade torna-se uma qualidade intrínseca da personalidade moldada por Deus.

“Vocês são filhos queridos de Deus e por isso devem ser como Ele. Efésios 5:1

“Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom!!!” Há 26 versículos reafirmando: “Porque a sua... —misericórdia, benignidade, amor, bondade (conforme a tradução)— ...dura para sempre!!!!” (Salmo 136)

Á medida que a prática da bondade se torna uma constante

na vida de uma pessoa, ela vai se elevando e, assim, torna-se cada vez mais participante da realização da missão de tornar o mundo o reino de Deus, pois o reino de Deus é feito também de bondade....

Colossenses 3:12 : Vocês são o povo de Deus. Ele os amou e os escolheu para serem dele. Portanto, vistam-se de misericórdia, de bondade.....

2 – Aquele que pratica ato de bondade, na verdade, devolve bondade.

10 Maurão, mestre da manipulação dos bonecos. Assim também é o Cleyton, que meu coração adotou como filho.

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Em hebraico, o termo ‘Guemilut chassadim’ , literalmente quer dizer "devolver bondade". Cada um de nós recebe de Deus, todos os dias, uma porção inesgotável de bondade. Basta olhar em nossa volta e prestar atenção a todas as bênçãos que recebemos, dia após dia. A única maneira de devolver a Deus um pouco dessa bondade é compartilhando-a, fazendo algo pelos outros.

Filipenses 4:5: Sejam amáveis (bondosos) com todos. Mateus 25:40: “....quando vocês fizeram isso ao mais

humilde dos meus irmãos, foi a mim que fizeram." Uma das razões pelas quais os primeiros seguidores de

Jesus —os caminhantes— ofertavam com amor e bondade é que alguns deles foram testemunhas oculares dos acontecimentos que se passaram no Calvário. Alguns viram, outros ouviram diretamente dos que viram, o amor e a bondade de Deus em seu mais elevado grau. “Deus amou de tal maneira...que Ele deu !!! ..(Jo 3:16)

A igreja primitiva dava com bondade, pois viram de perto que Deus deu com bondade primeiro a ela!

E Cristo amou a igreja e se entregou por ela!!! (Efésios 5:25)

3 – O ato de bondade abençoa o que recebe e o que dá.

‘Guemilut chassadim’ é sempre utilizado no plural, pois cada ato de bondade é recíproco, abençoa o que recebe e o que dá.

Pv.19:17 : “Ser bondoso com os pobres é emprestar ao

SENHOR, e ele nos devolve o bem que fazemos.” Dt. 24:19 : “Pode acontecer que na colheita do trigo ou da

cevada você esqueça de pegar um feixe de espigas; nesse caso, não volte para pegá-lo, mas deixe-o lá no campo para os estrangeiros, para os órfãos e para as viúvas. Assim o SENHOR, nosso Deus, abençoará tudo o que você fizer.”

Lc. 6:38 : “Dêem aos outros, e Deus dará a vocês. Ele será

generoso, e as bênçãos que ele lhes dará serão tantas, que vocês não poderão segurá-las nas suas mãos. A mesma medida que vocês usarem para medir os outros Deus usará para medir vocês.”

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Gal. 6:9 : “Não nos cansemos de fazer o bem. Pois, se não

desanimarmos, chegará o tempo certo em que faremos a colheita.”

Por isso, meus irmãos, jamais se arrependam dos seus atos de bondade; Deus agrada-Se deles. Não liguem se os seres humanos não dêem valor, ou até mesmo zombem de vocês, chamando-os de ‘tolos’ por praticarem a bondade, sem que o objetivo seja receber algo material em troca. Duas ovelhas estavam atravessando o rio. Uma estava tosada e outra não. Aquela cheia de lã zombava da tosada por ter se deixado tosar, tendo dado a sua lã.

Mas assim que elas foram mais fundo na água, a lã da zombadora absorveu a água e ela afundou. A que foi chamada de ‘tola’atravessou a salvo.

4 – Ato de bondade é identificar e suprir as necessidades dos outros

Para Deus, se uma pessoa der uma grande quantia em dinheiro, porém, apenas por cumprimento de obrigação religiosa e não por um ato de bondade, será como se nada tivesse dado.

A oferta que agrada a Deus não é uma coisa mecânica, um cumprimento de uma exigência de pagamento —como, por exemplo, quem paga o dízimo com o mesmo sentimento que paga a conta de luz, de água, de telefone...— mas consiste na identificação e suprimento de uma necessidade. Por essa razão, atos de bondade não podem ter limites de porcentagens ou valores impostos.

Domingos tem 10 pares de sapato. Ele só usa 3. Identifica,

nas imediações de sua casa, 7 pessoas descalças que necessitam de sapatos. Se o seu coração decidir praticar um ato de bondade, quantos pares deve partilhar?

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O que tem em excesso não deve reter o que o outro necessita. É do faminto o pão que alguém joga fora. É do maltrapilho a roupa que alguém guarda na gaveta e não usa mais. E é do descalço o calçado que apodrece na sapateira sem ser usado.

Quando alguém fecha sua mão, seus dedos parecem ficar todos com a mesma altura. Quando a abre, percebe que cada dedo tem uma altura diferente. Cada dedo simboliza uma pessoa. As pessoas são diferentes umas das outras, assim como suas necessidades.

O ato de bondade implica em identificar e suprir essas necessidades.

O próprio Deus quer que nós oremos dizendo-Lhe o que

precisamos, ainda que Ele seja onisciente. Mas, por que? Não seria mais fácil se Ele desse só uma ajuda de aspecto geral, suprindo automaticamente as necessidades? Acontece que é importante que a necessidade seja identificada antes de ser suprida. Até mesmo para que, quando orarmos, tenhamos o coração agradecido pelo que o Senhor já fez...

Fil.4:6-7 : “Não se preocupem com nada, mas em todas as orações peçam a Deus o que vocês precisam e orem sempre com o coração agradecido. E a paz de Deus, que ninguém consegue entender, guardará o coração e a mente de vocês, pois vocês estão unidos com Cristo Jesus.”

Nesse sentido, além da oração, também entendemos a real

importância da intercessão. Quando alguém está intercedendo, está identificando a necessidade do próximo e levando-a diante de Deus, desejando que seja suprida! Este sentimento, de identificar e desejar suprir a necessidade, que motiva a intercessão, é muito importante!

O trabalho missionário resume-se em :

• Mãos que dão; • Joelhos no chão; • E pés que vão.

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Conheço muitos irmãos generosos que contribuem livremente, movidos pela graça de Deus, com muita alegria, em paz interior, com entusiasmo, sem pressões e coações psicológicas, com gratidão, como um ato de bondade e de amor ao Senhor, pelo desejo de ajudar o próximo, identificando e suprindo suas necessidades.

Alguns tenho acompanhado de perto: são os que cooperam com o trabalho missionário de alcançar os não alcançados da Índia.

A escassez de recursos demanda em uma imensa quantidade de necessidades a serem supridas. Mas, algumas poucas igrejas e irmãos, individualmente, resolveram ajudar. Entendem que, mês após mês, a medida da contribuição é ‘o melhor que se pode fazer’. Todos eles sabem que eu não lhes envio mensagens dramáticas, exagerando ao relatar a miséria do lugar e a necessidade dos missionários. Escrevo sempre que eles devem contribuir enquanto realmente tiverem alegria de fazê-lo; que o façam sempre com a intenção de suprir as necessidades do próximo, pois isso é muito valioso diante de Deus!

Em resposta à pergunta de um Mestre da Lei: “Mas quem é

o meu próximo?” (Lc. 10:29) , Jesus contou a história de um assalto em que o assaltado foi deixado semi-morto à beira do caminho por onde, em seguida, passaram, um após o outro, três pessoas:

Os dois primeiros que andavam no caminho, um sacerdote e um levita, muito provavelmente vinham do culto —já que iam de Jerusalém, onde estava o Templo, para Jericó—, onde cumpriram rigorosamente a lei escrita, cada qual na sua função. E viram o homem que precisava de ajuda, identificaram a necessidade dele, mas não a supriram; com indiferença e frieza, trataram de passar longe do necessitado.... tão longe que imagino que chegaram a sair fora do caminho.

O terceiro, um samaritano 11, discriminado pelos judeus, foi o único que, viajando por aquele caminho, identificou a necessidade e, cheio de compaixão, socorreu o assaltado.

11 Por aqueles dias eu havia composto uma música country sobre a história do Bom Samaritano. O coro dizia: “Que falsidade, hipocrisia;

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Lc. 10:33-35 : Mas um samaritano que estava viajando por

aquele caminho chegou até ali. Quando viu o homem, ficou com muita pena dele. Então chegou perto dele, limpou os seus ferimentos com azeite e vinho e em seguida os enfaixou. Depois disso, o samaritano colocou-o no seu próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, entregou duas moedas de prata ao dono da pensão, dizendo: - Tome conta dele. Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que você gastar a mais com ele. A questão é: Qual é o verdadeiro culto a Deus? O que Lhe agrada? O cumprimento de obrigação daqueles religiosos cheios de indiferença, frieza e hipocrisia? Ou o ato de bondade daquele que identificou a necessidade e deu de si e das suas posses —o tempo, os remédios, a gase, a condução, o dinheiro— para suprí-la? Devemos refletir sobre algumas coisas ao lermos essa história:

Uma é que não devemos levantar nossas mãos para adorar a Deus, se, antes, não a estendemos na direção do necessitado. Outra é que sempre que pregamos que ‘JESUS é O CAMINHO’ deveriamos refletir sobre: ‘Como temos andado NO CAMINHO? ’ .... Será que assim, indiferente às necessidades daqueles que precisam de ajuda, não estamos fora do CAMINHO?

5 – Ato de bondade é ajudar uns aos outros.

como dói oh meu Senhor, ter gente assim.” Eu saí de minha casa, fechei o portão e segui pela calçada cantarolando esse coro que não saía da minha cabeça. Mas estava tão absorto, tão desligado, com o pensamento tão distante, que não percebi que, exatamente no momento em que minha querida vizinha cumprimentava outra irmã em Cristo com beijinhos, eu passei por elas cantando: “Que falsidade...hipocrisia...”. Claro que minha vizinha, a Mila, uma serva de Deus amorosa e sincera, à qual a letra dessa canção não se aplica nem de longe, entendeu aquilo como uma brincadeira, que, se eu não estivesse tão distraído, jamais faria.

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“Ajudem uns aos outros e assim vocês estarão obedecendo à

lei de Cristo. Gálatas 6:2 Na igreja original ou primitiva —que eu gosto de

chamar de ‘igreja simples’, no sentido de ser simplesmente igreja— acontecia assim:

Além de sustentar os que trabalhavam na palavra e na doutrina, e de ajudar os pobres e viúvas, eles ofertavam para cumprir a Lei de Cristo ao ajudarem-se uns aos outros, de acordo com a necessidade de cada um, a fim de que houvesse igualdade entre eles.....

Atos 2:44-47 : “Todos os que criam estavam juntos e unidos e

repartiam uns com os outros o que tinham. Vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um. Todos os dias, unidos, se reuniam no pátio do Templo. E nas suas casas partiam o pão e participavam das refeições com alegria e humildade. Louvavam a Deus por tudo e eram estimados por todos. E cada dia o Senhor juntava ao grupo as pessoas que iam sendo salvas.”

A igreja simples, de alma livre, não cumpria obrigações

religiosas de pagamento, mas, sim, davam tudo o que podiam dar, como ato de bondade, para ajudarem uns aos outros. Eles não eram coagidos psicologicamente como aqueles que ‘tinham que pagar’, mas, constrangidos unicamente pelo amor de Jesus, eram aqueles que ‘tinham, pela graça de Deus, a oportunidade de contribuir e ajudar’.

Se não nos importamos, nem nos preocupamos uns com os outros; nem nos ajudamos mutuamente, não somos ‘irmãos’; no máximo, somos "colegas de religião".

6 – O ato de bondade é incondicional.

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“Em tudo tenho mostrado a vocês que é trabalhando assim que podemos ajudar os necessitados. Lembrem das palavras

do Senhor Jesus: "É mais feliz quem dá do que quem recebe." Atos20:35

Jesus disse a um certo líder fariseu que o convidou para um almoço em sua casa:

Lc. 14:12-14 : “Quando você der um almoço ou um jantar, não

convide os seus amigos, nem os seus irmãos, nem os seus parentes, nem os seus vizinhos ricos. Porque certamente eles também o convidarão e assim pagarão a gentileza que você fez.

Mas, quando você der uma festa, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos e você será abençoado. Pois eles não poderão pagar o que você fez, mas Deus lhe pagará no dia em que as pessoas que fazem o bem ressuscitarem.”

Só é possível praticar um verdadeiro ato de bondade

de maneira incondicional. A finalidade nunca pode ser receber algo material de volta, ainda que receba. Os que fazem o bem receberão, de Deus, o pagamento —bens espirituais que se deve almejar—, no dia em que ressuscitarem.

O certo é que a finalidade do ato de bondade é sempre dar, em amor, exercer a bondade em benefício do outro. O fato do doador ser beneficiado, tanto nesta vida ou quando ressuscitar, é apenas conseqüência da generosidade.

Percebam que é algo muito diferente —qualquer outra coisa, menos ato de bondade—, quando o ato de ‘dar’ visa, em primeiro lugar, o benefício material para si mesmo, sendo apenas o meio de alcançar a finalidade principal: receber.

Sempre ouço ou leio a maioria dos líderes religiosos, insensíveis a isto, ensinando: “Para receber é preciso dar”! Percebe-se que a finalidade é ‘receber’.

O que tenho aprendido com o Senhor é que: “Para dar é preciso receber DE DEUS, ANTES !!! que tem prazer em

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dar cada vez mais, para que o que recebe Dele, tenha tudo o que precisa e cada vez mais para dar.

Não vejo nenhuma razão para Deus dar a alguém mais do que ele precisa, senão para que tenha a oportunidade de partilhar com quem precisa, praticando um ato de bondade.

II Co.9:8-10 : “E Deus pode dar muito mais do que vocês

precisam para que vocês tenham sempre tudo o que necessitam e ainda mais do que o necessário para fazerem todo tipo de boas obras.

Como dizem as Escrituras Sagradas: "Ele dá generosamente aos pobres, e a sua bondade dura para sempre."

Deus, que dá a semente para semear e o pão para comer, também dará a vocês todas as sementes que vocês precisam. Ele fará com que elas cresçam e dêem uma grande colheita, como resultado da generosidade de vocês.”

A alegria, o prazer da alma, acontece no momento de

partilhar, apenas por ter feito o bem, como manifestação do reino de Deus. A motivação é beneficiar o próximo, fazendo nele o seu investimento, suprindo a sua necessidade.

Se a felicidade interior não está no ato de dar, mas, pressupõe-se, só virá depois, quando receber algo material em troca, a motivação é beneficiar a si mesmo. Então, isso não é um ato de bondade, mas um negócio financeiro, como, por exemplo, quem investe na Bolsa de Valores.

Salvo caso à parte, ninguém investe na ‘Bolsa’ como um ato de bondade, com outra motivação que não seja beneficiar a si mesmo.

O normal é que a alegria do investidor aconteça na realização do lucro, quando se embolsa; não no ato da compra das ações, quando se desembolsa.

Alguém pode perguntar: Mas, pode acontecer que o investidor tenha tanta fé na

valorização das ações que está comprando, que já sente, digamos, pela fé, a alegria pelo lucro material que vai ter posteriormente?

Claro que pode. Mas é alegria —e fé— por algo material, diferente da que se tem, no espírito, quando se pratica um ato de bondade. Foi o tipo de alegria que teve, há 80 anos atrás, todo

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aquele que comprou as ações da RCA., que, em 1927, passaram de US$2,00 para US$500,00 !

—Que alegria! Em alguns anos, com certeza, estarei rico!!!! – era o que o investidor felizardo imaginava, cheio de fé, na hora da compra.

Em 1929, com o crash —a queda— da Bolsa de Nova York, que provocou a mais profunda e extensa crise da história do Capitalismo, as ações da RCA viraram pó. Os investidores perderam tudo que tinham. Muitos, arruinados, suicidaram-se.

Por isso, diz a Palavra de Deus: “Aos que têm riquezas neste mundo ordene que não sejam

orgulhosos e que não ponham a sua esperança nessas riquezas (nem sua alegria), pois elas não dão segurança nenhuma.” I Tim.6:17

E Jesus contou a seguinte história: “... As terras de um homem rico deram uma grande colheita.

Então ele começou a pensar: "Eu não tenho lugar para guardar toda esta colheita. O que é que vou fazer? Ah! Já sei! - disse para si mesmo. - Vou derrubar os meus depósitos de cereais e construir outros maiores ainda. Neles guardarei todas as minhas colheitas junto com tudo o que tenho. Então direi a mim mesmo: 'Homem feliz! Você tem tudo de bom que precisa para muitos anos. Agora descanse, coma, beba e alegre-se.' "Mas Deus lhe disse: "Seu tolo! Esta noite você vai morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?" Jesus concluiu: - Isso é o que acontece com aqueles que juntam riquezas para si mesmos, mas para Deus não são ricos.”

“Alegre-se!” Foi o que o ‘homem feliz’, rico, disse para si

mesmo. Mas Jesus o usou como exemplo para afirmar que é passageira a alegria obtida com a riqueza material. “Esta noite você vai morrer!!!” E tudo que é material —inclusive a alegria que você tenha por causa do que é material— hoje vai terminar!!!.

O homem rico não tinha nem como guardar toda a riqueza que tinha. Mesmo assim, nem pensou em compartilhar o excesso. Nem cogitou investir esse excedente suprindo as necessidades do próximo. Não, ele pensou exclusivamente em si mesmo. “Coma! Beba! Até regurgitar, para poder comer e beber de novo!!! – dizia, sem se preocupar que, pertinho dele, tinha gente que não tinha o que comer, nem o que beber. Toda a motivação do rico, durante toda a sua vida, foi egoísta.

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E agora? “O que foi que trouxemos para o mundo? Nada! E o que é

que vamos levar do mundo? Nada!” I Tim.6:7 Se ele tivesse praticado atos de bondade com a riqueza

material que ‘não tinha onde guardar’ , investindo-a nos necessitados, ganharia dividendos espirituais, creditados no ‘Banco Celestial’ onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e roubá-las... (Lc. 6:19-21). Então, no dia da ressurreição o saldo das suas riquezas celestiais lhe valeriam. As terrenas, quando ele morreu, também ‘viraram pó’.

Verdadeiramente rico não é aquele que ajunta tesouro

material para si mesmo, mas é aquele que, partilhando, ajunta TESOURO ESPIRITUAL.

A fé no que se vai receber no céu produz a verdadeira alegria, que tem aquele que crê que seu nome está escrito no Livro da Vida, como devidamente inscrito onde está a sua verdadeira e eterna riqueza, constituída de bens espirituais.

Diante disso, só podemos ofertar com alegria. —Na igreja,

quando me pedem pra dizer algo na hora da oferta eu sempre me dirijo aos diáconos e lhes digo: “Por favor, irmãos, de quem não der um sorriso espontâneo não apanhe a oferta”. Eles sempre acham que é brincadeira, mas nunca é! 12—

Claro que é bom receber um valor material de que

precisamos, para alimentar, vestir, abrigar dignamente a família, dar um futuro para nossas crianças.

Quanto a isso, Jesus disse:

12 —E os diáconos saem andando no meio do povo, feito

caçadores de borboletas, e apanham o dinheiro de todos os que o depositam naqueles coadores sem furo no fundo, naquelas caçapas móveis, naquelas ‘sacolinhas’ erroneamente chamadas ‘salvas’, pois salva é uma “bandeja redonda”. Acho que o inventor daquilo não conseguiu achar um nome pra o seu invento...—

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O Pai de vocês sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus, e Deus lhes dará todas essas coisas. Lc. 12:30,31.

Parece-me que o relacionamento equilibrado do cristão

com o dinheiro implica em usá-lo para viver com dignidade e para cooperar para a expansão do reino de Deus.

Outro aspecto relacionado ao ato de bondade ser

incondicional: a possibilidade do empobrecimento material. Vamos dizer assim, que o normal é Deus dar muito mais

do que o ofertante precisa, para que ele tenha sempre tudo o que necessita, e ainda mais do que é necessário para que, com alegria, possa ofertar cada vez mais (2 Co 9:8). Porém, pode acontecer, em ocasiões especiais, que a vontade de Deus, por algum motivo Dele, seja que aquele que contribui, como um ato de bondade, acabe empobrecendo, materialmente falando!

—Nunca jamais!!!! – reagiria assim, dessa forma enfática, uma grande parte dos pregadores de hoje, impregnados pela teologia da prosperidade.

Mas, por que não? Se até mesmo Jesus empobreceu ao praticar um ato de bondade

O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios, tratando de assuntos financeiros —sobre uma oferta para os cristãos pobres da Judéia—, quando fez a seguinte referência:

2 Co 8:9 : “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que pela sua pobreza fôsseis enriquecidos.

E escreveu também aos filipenses: Fil. 2:7 : ...Ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a

natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano...

E Jesus empobreceu ao praticar tão grande ato de

bondade, para redimir o homem da sua miséria e torná-lo rico ao possuir a maior de todas as riquezas: o Seu Reino.

Tiago 2:5 : Escutem, meus queridos irmãos! Deus escolheu os

pobres deste mundo para serem ricos na fé e para possuírem o Reino que ele prometeu aos que o amam.

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Quem reconhece como riqueza só o que é material e, ainda, entende que só a riqueza material é sinal de benção, deve refletir sobre o texto seguinte:

Mt 13:45-46 : O Reino do Céu é também como um comerciante

que anda procurando pérolas finas. Quando encontra uma pérola que é mesmo de grande valor, ele vai, vende tudo o que tem e compra a pérola.

Um amigo do pastor Adilton decidiu em seu coração,

atendendo uma necessidade premente do trabalho missionário, por um ano, contribuir à base de 90% do seu rendimento.

Assim, justamente durante o ano em que, pela graça de Deus, mais contribuiu para a obra de Deus, por uma série de motivos somados, nunca antes tinha empobrecido tanto.

Uma vez que na adversidade se aprende mais, ele aprendeu, durante esse tempo, algumas coisas importantes:

O significado do que é estar muito contente em ter o que comer e alguma roupa pra vestir (1 Tim 6:8) ;

O segredo de sentir-se contente em qualquer situação... também tendo pouco. (Fil.4:12) ;

Que é possível, segundo a vontade de Deus, contribuir e empobrecer ;

Que o cristão deve contribuir com liberdade e alegria, praticando ato de bondade de maneira incondicional, quer enriqueça ou empobreça ;

E o mais importante: Que a alegria, o prazer interior, a felicidade da alma,

evidencia-se ainda mais quando se contribui, como um ato de bondade, no momento em que se é provado por aflições financeiras.

A Igreja da Macedônia é um melhor exemplo de que isso é

verdade: 2 Co 8:2 : Os irmãos dali têm sido muito provados

pelas aflições por que têm passado. Mas a alegria deles foi tanta, que, embora sendo muito pobres, eles deram ofertas com grande generosidade.

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7 – A motivação do ato de bondade é o amor sincero.

Se alguém não pratica atos de bondade, deve questionar a si mesmo se realmente ama a Deus.

"Se alguém é rico e vê o seu irmão passando necessidade, mas fecha o seu coração para essa pessoa, como pode afirmar que, de fato, ama a Deus? 1 João 3:17

O apóstolo Paulo escreveu para a igreja de Corinto —onde

havia pelo menos uma parte dos irmãos em boas condições financeiras— contando sobre a igreja pobre da Macedônia, para levá-los a refletir se o amor deles pelo Senhor era verdadeiro ou não:

2 Co 8:2-3-8 : O que eu estou querendo é que conheçam o entusiasmo com que as igrejas da Macedônia deram ofertas, para que assim vocês vejam se o amor de vocês é verdadeiro ou não.

O bolso fechado denuncia um coração fechado. A indiferença, frieza, apatia, avareza ao ofertar são sinais

de que o amor a Deus não existe no coração do ofertante.

...................... No dia do Juízo Final, não tenham dúvida, o critério que o

Senhor usará para colocar uns a Sua direita e outros à Sua esquerda, serão os Atos de Bondade!

Ele porá os bons à sua direita e os outros, à esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: "Venham,

vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar."

Então os bons perguntarão: "Senhor, quando foi que o vimos com fome e lhe demos comida ou com sede e lhe demos água? Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa ou sem roupa e o vestimos? Quando foi que vimos o senhor doente ou na cadeia e fomos visitá-lo?"

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Aí o Rei responderá: "Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos, foi a mim que fizeram." Mt. 25:33-40

Queridos irmãos, contribuam sempre como um ato de bondade, sentindo o que Deus sente; sendo bondosos como Ele o é; devolvendo a Deus —ao identificar e suprir as necessidades dos outros— um pouco da bondade que recebem Dele; ajudando uns aos outros; com alegria e paz, em qualquer circunstância.... Tudo por amor ao Senhor!

........................................

(Ano 5 a.C) (História adaptada de conto infantil de autor

desconhecido, para o ambiente judaico do período inter-bíblico) “De Nazaré não sai nada de bom”, diziam, cheias de preconceito,

as pessoas das cidades vizinhas. A maioria dos nazarenos, tão pobre, construía seus casebres

aproveitando as grutas que se formavam na encosta da colina. Em um daqueles casebres vivia uma camponesa viúva, mas ainda jovem, com seus dois filhos: Jairo, com doze anos, e Ismael, com cinco.

Apesar da pouca idade, ela era mulher acabada por duros trabalhos. Tinha as mãos cheias de calos e o rosto marcado de angústias. Desde a morte do marido, sem dinheiro em casa, nem mantimentos para alimentar os filhos, muito fraca e cansada, ela entrou em profunda depressão, além de ter constantes febres.

Lutando contra a situação de miséria, Jairo tentava suprir a falta do pai, vendendo bugigangas como pentes, colares, braceletes... pelas ruas. Levava Ismael consigo e cuidava dele o dia inteiro. Quando caia a tarde, os dois meninos regressaram para casa famintos e encontraram a mãe deitada, sentindo-se muito mal. Ao ouvi-

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los chegar, ela esforçou-se para levantar-se da esteira de palha que lhe servia de cama.... mas não estava conseguindo: —Vou fazer-lhes alguma coisa para comer.... – balbuciou. O filho mais velho veio de encontro a ela, acariciando-lhe a fronte, confortando-a, enquanto dizia: —Não se preocupe mamãe. Eu me viro lá no fogão. Descanse, tranqüila. Não se preocupe com nada! Então ele foi até o fogão de pedra e olhou dentro de uma vasilha. Só tinha um pouquinho de sopa. Não daria para dois comerem.

Mesmo assim, acendeu o fogão e esquentou o que tinha na vasilha.

Depois, os dois irmãozinhos sentaram-se, um ao lado do outro, no chão.

Jairo, com a vasilha de sopa nas mãos, ergueu-a numa altura em que Ismael não conseguisse ver a quantidade que tinha lá dentro.

Então ele disse ao menorzinho: —Eu sou mais velho, tenho o direito de tomar primeiro. E enfiou a colher na vasilha, mas não apanhou nem uma gota de

sopa. Mesmo assim, levou-a à boca, fazendo o barulho e o gesto de que estava tomando.

—Hummmm...Como está gostosa esta sopa!!! – dizia bem alto para que a sua mãe também escutasse.

Depois, tornou a enfiar a colher na vasilha, mas, desta vez, encheu-a de sopa, levou-a até a boca do irmãozinho e disse:

—Agora é sua vez! —Hummmm... Está boa mesmo! – exclamou o caçulinha. —Agora eu de novo. – disse Jairo e levou novamente a colher

vazia à boca. —Agora você! – tornou a dizer para Ismael E aquele “Agora eu!” , “Agora você!” prosseguiu oito, nove, dez

vezes, até que o irmãozinho caçula acabou tomando toda a sopa sozinho e matou a sua fome.

Depois do mais velho simular ter jantado e o caçula ter jantado de verdade, ambos os irmãos deitaram nas suas esteiras para dormir.

O menorzinho comeu bem. O mais velho dormiu bem....

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Capítulo 4

Deus! Não se esqueça que eu sou dizimista!

Tocou o celular do bispo. Era um pastor auxiliar que colocou-o a par de um problema. Em seguida, o bispo desligou o telefone e.....

Melhor saber dele mesmo qual foi a sua atitude. (Abaixo reproduzo ― na íntegra ―, conforme foi publicado)

“Imediatamente, como dizimista que sou, ergui o braço,

em que uso a minha fita onde está escrito: “Ó, Deus! Não se esqueça que eu sou dizimista fiel”, e me pus a reivindicar os meus direitos. Orei: “Deus, envia um anjo lá, agora, para resolver essa situação, pois, como dizimista, eu exijo uma solução. Amém. ..... Eu durmo com a minha fita de dizimista, tomo banho com ela e não tiro para nada”

Preservei os nomes, por desnecessários.

Diante dessa ‘cobrança’, com ares de ‘notificação extra-judicial’, feita publica e impositivamente, à Deus sendo a ´fitinha’ o instrumento de coerção para impor o cumprimento imediato da ordem dada , tenho alguma coisa pra dizer e tenho que dizer alguma coisa!

Não posso dar aval silencioso à doutrina que está por trás dessa atitude, assim, não posso deixar de comentar. Comentar apenas: Respeitosamente, sem nenhuma intenção de menosprezar ninguém, escrever o que penso, questionar idéias, sustentar posições que considero oportunas.

Desde o seminário, quando começavam as discussões

teológicas, meus colegas, divididos em times, dos calvinistas, arminianistas, agostinianos... começavam, com ardor, a disputa, eu apanhava meu violão e ia pra bem longe deles, compor canções debaixo das árvores....

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Quando a discussão fervia: se Deus era de natureza ‘a-pessoal’, ou ‘sub-pessoal’, ou ‘impessoal’, ou ‘trans-pessoal’, ou ‘suprapessoal’..... eu lhes dizia logo:

—Pessoal! Eu ‘tô’ indo falar com Deus lá naquela colina... bem distante.

Naquele tempo eu lia a Bíblia, como quem come um peixe. As questões difíceis eu deixava de lado, como os espinhos, para outros que quisessem se engasgar com eles...

Não posso mais agir assim. Apesar de que abdico com facilidade do ministério apologético em prol de outras pessoas, diante das quais sou pequeníssimo13, sinto que também tenho responsabilidade de ajudar, ainda que minimamente, a combater essa teologia materialista que se espalha nas igrejas feito fogo na floresta, segundo a qual apenas as mãos de Deus —que abençoam— interessam. E escondem-se da Sua face!

Decidi escrever sobre a doutrina da contribuição dos cristãos pois ela é a que mais tem sofrido maus tratos pelo atual ‘sistema religioso’, ao afastar-se da generosidade a ser exercida espontaneamente e: � por um lado, afundar-se na idéia mercantilista do mérito

– a mais maligna de todas as falsas doutrinas —; de que, com dinheiro, alguém adquira o status de ‘merecedor de algo’ e, ‘possuidor de direitos’, e, assim, fazer exigências e reivindicações a Deus;

� por outro lado, perder-se na pregação terrorista do castigo: Do não pagamento ‘do dízimo’, os demônios exterminadores de riquezas, gafanhotos-velociraptors, irão causar uma destruição tão grande e rápida na vida do ‘infiel’ que nem Deus pode fazer nada para impedir, pois nem o nome e o sangue de Jesus tem poder sobre esses demônios, que, conforme é pregado, só serão repreendidos por uma quantia, em dinheiro, paga à título de dízimo.

13 Diante de tantos maxstérios, macrostérios, megastérios, hiperstérios, eu levo adiante meu ministério, talvez menos: um microstério....rs...

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Moisés e os anciãos instruíram o povo no sentido de que, quando cruzassem o rio Jordão, as doze tribos deveriam reafirmar a aceitação das Leis do Todo Poderoso, situando-se seis tribos sobre o monte Guezerim representando as bençãos e as outras seis deviam subir no monte Eival representando as maldições. Os Levitas situar-se-iam entre os dois montes fazendo advertências quanto ao cumprimento da lei e, perante cada advertência, o povo deveria responder “Amém!”. Considerando-se o exagero das pregações feitas em grande parte das igrejas do século 21, para que os montes Guezerim e Eival representassem as promessas de bênçãos materiais —do tipo ‘toque de Midas— e as ameaças de maldições —com arresto14 de bens materiais— teriam que ser da altura de 50 ‘Everests’, um em cima do outro. ....................................................

Este não é um livro jurídico, mas, há um conceito que precisa ser abordado: a Sanção. Não é ‘Sansão’, aquele juiz de Israel que, tendo sido símbolo de força, teve a fraqueza de se apaixonar pela mulher errada.

A sanção é, vamos dizer, o ‘sansão’ —a força— da lei! Existe para fazer com que a lei seja respeitada. É um ato de autoridade que dá à uma lei força axecutória.

Sanção pode ser positiva, prêmio ou recompensa ou negativa, pena ou castigo.

A própria lei prevê recompensa para quem a cumpre e castigo para quem não o faz.

Não há como falar em sanção sem estar falando da lei. A atual ‘lei do dízimo’, por assim dizer, eleva a sanção à

enésima ―pra não dizer energumena― potência., extrapolando, tanto para o lado da recompensa, como do castigo.

Que me perdoem se ouso pedir reflexão sobre a posição assumida ao ser erguida a fitinha —onde se lê: “Oh! Deus, não se esqueça que eu sou dizimista fiel”— e exigir-se algo de Deus.

14 Apreensão de bens do suposto devedor

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Que nos inspiremos nos exemplos de Elias e Daniel que jamais tiveram o orgulho e a presunção de que fossem alguma coisa e, com fé em si mesmos, nos seus próprios méritos, exigissem resposta imediata de Deus.

A persistência e a fé não podem ser confundidas com a presunção e a arrogância.

Elias, que tinha a promessa de chuva sobre a terra, manda o seu ‘auxiliar’ ir ver se alguma nuvem havia no céu. O ‘auxiliar’ volta com a notícia:

—Está tudo igual, só vento e pó. —Vai lá ver de novo! – pediu o profeta - ...Não posso parar

de orar e sair daqui até que você veja algo que seja o sinal do cumprimento do que Deus me prometeu...

Ele havia proposto em seu coração que nenhuma demora, por maior que fosse, serviria de razão para desistir. De repente, na sétima vez que o auxiliar foi verificar, apareceu uma pequena nuvem como a mão de um homem. Bastou isso para Elias refrescar a sua alma angustiada, antes mesmo da chuva, que, afinal, chegou!

O estado de espírito de Elias não foi de alguém que está lembrando a Deus de quem ele era e o que tinha feito ― “Lembra, Senhor.. EU sozinho contra os profetas de Baal?”― , mas sua humildade, fé, cujo firme fundamento é a palavra do próprio Deus, e sua perseverança agradaram ao Senhor.

A mesma atitude teve Daniel:

Da 10:2 “Naquela ocasião, fiquei de luto por três semanas. Durante aquele tempo, não comi nenhuma comida gostosa nem carne, não bebi vinho e não penteei o cabelo.”

Daniel humilhou-se diante de Deus, com perseverança e fé, até que obteve a resposta à sua oração.

Vs.. 11 e 12 : “E o anjo me disse: - Daniel, Deus o ama muito e me mandou falar com você. (Oh! Que declaração maravilhosa!) Fique de pé e preste atenção no que vou dizer. Então eu fiquei de pé, tremendo dos pés até a cabeça. Aí ele disse: - Não fique com medo, Daniel, pois Deus ouviu a sua oração desde a primeira vez que

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você se humilhou na presença dele a fim de ganhar sabedoria. Eu vim em resposta à sua oração.”

Quem diz: “Ó, Deus! Não se esqueça que eu sou

dizimista fiel.”, com o verbo ‘esquecer’ no modo imperativo, mostrando força, imagina falar com Deus de forma nivelada. De igual pra igual. E a que se atribui tal posição? A qualidade de ser ou se dizer ser um dizimista fiel.

Sem querer ser o professor Pasquale, observo que a frase tem o sentido de uma advertência —o que é uma atitude impensada—:

“Deus, não se esqueça que eu sou fiel. Olha lá! Vê se não vai furar comigo e ser infiel a mim, hein!!!” É como se alguém advertisse: “A reunião é às três horas. Eu que sou fiel certamente vou estar lá. Você, não vai furar hein!”

O que significaria, num entendimento dilatado, a pregação da possibilidade de ‘Deus ser infiel, ao não dar o que o homem, que é fiel, exige. Nessa inversão de papéis, coloca-se em dúvida a afirmação do apóstolo Paulo

“Se não formos fiéis, Cristo continua sendo fiel, pois ele não pode ser falso para si mesmo." II Tm.2:13

Já ouvi muitas vezes líderes religiosos dizerem para

impressionar o povo —pois, em sã consciência, não teriam coragem de dizer isso face a face com Deus—: “Se Deus não fizer isso, então Ele não é Deus!”, “Se Deus não abençoar quem der essa oferta de sacrifício, então Ele não é fiel!”

Prosseguindo: “...Envia um anjo lá, agora, para resolver essa

situação!!!! ....Eu exijo uma solução!!!

Pedir, do grego ‘aiteõ’, sugere a atitude de um suplicante que se encontra em posição inferior àquele a quem pede. É esse o verbo usado em João 14.13 – “E tudo quanto pedirdes em meu

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nome...” – e 14.14 – “Se pedirdes alguma coisa em meu nome...”. Mas, na exclamação não há pedido e sim exigência!

Espero que imediatamente, a igreja desista desse ‘querer determinar’ o agir de Deus! Arrependa-se dessa tentativa em vão de querer transformar Deus em mera criatura a serviço dos caprichos humanos. Converta-se desse neo-paganismo pós-moderno. Perca essa mania. E exorcize essa magia —posto que é coisa da magia querer manipular o agir ‘dos deuses’ através de uma palavra humana. Mas Deus continua sendo Deus, Todo-Poderoso, muito acima de todos os deuses que a imaginação humana tem inventado: os únicos que ela consegue manipular—.

Se o apóstolo Paulo vivesse no século 21 e ficasse sabendo

o que está acontecendo nas igrejas, perguntaria: “Quem foi que enfeitiçou vocês? (Gl. 3:1).

Vamos em frente: “....e me pus a reivindicar os meus direitos...”

É de se ficar perplexo em imaginar alguém chegando

perante Deus, sentindo-se ‘o gás da coca-cola’, ‘a última bolachinha do pacote’, confiado em si mesmo, no seu próprio mérito e no seu próprio nome, ostentando, como trunfo, um título eclesiástico que não é mais do que uma ilusão alimentada pela necessidade de adorar o espelho, ‘invadindo a sala de Deus sem ser anunciado e sem bater à porta e dando ordens a Ele que, em tese, à mercê das vontades e caprichos humanos, é obrigado a cumprir imediatamente a ordem recebida, da maneira e no prazo ordenados, pois esse alguém levanta o braço e apresenta a fitinha sagrada, que evoca os pagamentos dos dízimos efetuados em dia (só Deus sabe!), o que lhe dá direitos que têm que ser respeitados.....

―É isso aí, meu camarada!!! É assim que se faz!!! Gostei

de ver!!!... —exclama exultante a serpente, a mesma que deu o bote lá dos galhos da árvore do conhecimento do bem e do mal, e

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que sabe explorar como ninguém a peculiar vontade do homem de elevar-se por conta própria.— ....Foi assim que eu ensinei: “Sereis como Deus”!!! Você tem que reivindicar seus direitos. Não tem nada a ver a pregação desse tal Evangelho da Graça de que o que você recebe de Deus é uma dádiva imerecida. Imerecida por que? Você merece sim!!! Afinal você acha que é um dizimista-fiel não acha? Portanto, tem direito a ter tudo o que você quiser. Deus não vai te dar o que você pedir por causa da sua amorosa graça não... Ele é obrigado a te dar o que você exigir!!! Mostra a fitinha pra Ele!!!!

Do que está escrito na fitinha: “Ó, Deus! Não se

esqueça que eu sou dizimista fiel”, Se a gente tirasse o vocativo ‘Ó Deus’ da frase e encontrasse uma paráfrase com uma idéia de conclusão, se teria: “é só pagando o dízimo fielmente que Deus vai se lembrar de mim”.

Assim, para ser lembrado por Deus existe uma condição específica e "sine qua non": pagar o dízimo!!!

Transpondo alguns sentidos, entre outros, ‘ser lembrado por Deus’ é, mais do que tudo — segundo a pregação que se faz —, conquistar bens materiais: carros importados, mansões, imóveis na praia, vida de luxo...

Como pode alguém dizer que foi liberto por Jesus, se a sua

alma está presa a seus bens materiais, ambições e conquistas? No Reino de Deus, é essa obsessiva conquista financeira,

realmente, o que conta? É esse o sucesso na vida, segundo Deus? O cristão verdadeiro é aquele que obtém a maior mansão, o carro mais caro, a maior conta bancária? Esses são os anseios espirituais da igreja?

O Reino de Deus assimilou valores de mercado e a busca pela ascensão social?

Usufruir dos bens de consumo oferecidos pela sociedade capitalista é o sinal da operosidade de Deus na vida dos cristãos?

Enfim, questões como essas dizem respeito à sanção positiva, a recompensa do cumprimento da ‘lei do dízimo’ que é afirmada.

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No sentido contrário, quanto ao castigo, o cartaz afixado na porta de uma igreja é um exemplo do que se prega lá dentro: os ‘demônios exterminadores de riquezas’, uma legião assassina, expelindo pela boca, além de fogo, também terríveis maldições só contra os não-dizimistas....

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—Socorro!!!! Chamem os ‘GRASSHOPPERSBUSTERS’ !! (Caçadores de gafanhotos) Para quem idealizou esse cartaz os ‘gafanhotos’ são os

melhores demônios que existem, por serem os piores demônios que existem. Para quem lê e leva a sério o que está escrito nele, o medo da maldição é pior que a maldição.

Eu temo que as conseqüências desses nós de equívocos

doutrinários sejam bem maiores do que se possa imaginar: essa cadeia interminável de pensamentos catastróficos, ligados a castigo por não pagar o dízimo, trouxe para o convívio da igreja um novo tipo de cristão: o ‘neurótico-do-dízimo’!

Já se vê o tempo todo, aqui e ali, sintomas dessa neurose:

“Quebrou o cabo do acelerador do meu carro.... Ai... É porque eu atrasei o pagamento do dízimo neste mês!”

“Meu celular foi roubado!!! Eu não aceito isso, ó Deus!!! Eu paguei o dízimo este mês!!! Você vai ter que me dar outro melhor!!!”

Se vocês, meus irmãos, têm dúvida se Deus quer que seus

filhos sejam curados dessa neurose, então duvidam também se Ele quer que sejam curados de qualquer outra doença.

Um amigo, sabendo sobre o que eu estava escrevendo, deu-me um livro onde se lê —exatamente como está abaixo—o que acontece com quem não paga o dízimo:

“O diabo terá autorização para cirandar com o seu cônjuge e levá-lo(a) ao adultério.... Teus filhos serão entregues ao mundanismo, escravizados e levados pelos vícios, e tu, mesmo que te empenhes, nada poderás fazer.....Constantemente sofrerás assaltos....Nos concursos terás os últimos lugares...”

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“O Cortador, como o nome já diz, corta tudo na casa do cristão infiel: corta a luz, a água, o telefone, corta o salário, o crédito, etc... O Migrador faz você migrar de emprego para emprego, cada vez pior... O Destruidor é o pior de todos. Destrói seu carro, sua casa, sua empresa, seu casamento, sua saúde, sua vida. O dízimo é uma vacina antidevorador..”

Ouvi, uma vez, uma pregação completamente sem graça, na verdade, pois era toda baseada na lei de Moisés, mas que achei até muito engraçada e não pude não rir:

O pregador citou aquela passagem em que Abraão intercedeu junto a Deus pela não destruição de Sodoma e Gomorra. E baseou-se no versículo 32, capítulo 18 de Gênesis:

“Se porventura de acharem ali dez? E disse: Não destruirei, por amor dos dez”

Ele acrescentou ao texto a palavra ‘porcento’ e deu uma ‘ajeitada’ para ficar sendo o seguinte: “Abraão perguntou: Se eles pagarem os 10% —o dízimo— o Senhor não destrói? Não destruirei por causa dos dez porcento! – respondeu o Senhor.”

Foi isso que eu ouvi... Desse jeito... Sem por nem tirar nada!... Dispensa comentários!

O caso dos cristãos que pagam dízimo para estarem protegidos dos demônios-gafanhotos é muito parecido com o dos moradores das favelas do Rio de Janeiro dominadas pelo tráfico que pagam às milícias15 uma taxa mensal para estarem protegidos dos traficantes.

Só falta os ‘milicianos’ classificarem os traficantes em ‘traficante devorador’, ‘traficante migrador’, ‘traficante cortador’ e

15 Milícias são grupos armados formados por policiais militares e civis que atuam supostamente fora do horário de trabalho e fora da lei para garantir a segurança de uma determinada comunidade.

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‘traficante destruidor’. Os discursos e constrangimentos da cobrança são idênticos. A diferença é apenas entre a natureza da ‘cobertura’ vendida: ‘policial’ e ‘espiritual’.

Atuando sem legitimidade para combater traficantes, as

milícias se igualam àqueles que dizem combater, pois ambas atividades estão à margem da lei.

Os líderes religiosos que cobram dízimo para, como dizem, combater os ‘devoradores’, tornaram-se, eles próprios, os ‘devoradores’: lobos-devoradores!.

A contribuição do cristão não tem nada a ver com esse

terrorismo espiritual. Tem que ser como o apóstolo Paulo ensinou aos coríntios (I Co 9:7): com alegria, conforme cada um resolveu no seu coração. Não tem que ser feita com os olhos gananciosos postos no lucro, ou cheios de medo das maldições; nem por obrigação, como uma mensalidade que, se não for paga, o nome do devedor vai para o SPC celestial, que ficará sem cobertura de Deus enquanto estiver em atraso. No dia que colocar em dia o pagamento do dízimo, então no prazo de 48 horas —que é o tempo da baixa no sistema— o serviço espiritual será reativado.

—Perdoem-me, irmãos, o meu tom às vezes irônico. Mas a

minha ironia é reflexo natural da minha perplexidade. E se eu não ficasse perplexo com tudo isso que está acontecendo com grande parte da igreja do século 21, eu julgaria que estivesse, por assim dizer, morto!—

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Capítulo 5

AS TÁBUAS DA LEI DA VIDA FINANCEIRA —COM COMENTÁRIOS—

Este livro não tem nenhuma pretensão de ser do tipo “tudo

sobre o dízimo”. Contém algumas noções do que é o ‘maasser’ , ou ‘ma’aser’ — em hebraico, significa ‘a décima parte’ (“eser’ significa ‘dez’)—, essa contribuição genuinamente judaica, estabelecida na Lei de Moisés.

Para quem se diz cristão, mas insiste em querer servir a Deus da maneira antiga, obedecendo à lei escrita, saiba que ela tem 613 mitzvot (תווצמ ג"ירת) mandamentos, enumerados por Maimônides (1135-1204), que foi, na Idade Média, a figura mais importante do judaísmo.

São 248 mandamentos —artigos da lei— positivos (p): determinações. Há 365 artigos negativos (n): proibições. Entre esses artigos, muitos são referentes aos dízimos:

078p. O dízimo do gado - Lv 27:32. 127p. Pagar o primeiro dízimo (Nm 18.21) - Lv 27:30. 128p. Pagar o segundo dízimo (Dt 14:22-27) 129p. O dízimo levítico para os sacerdotes —dízimo dos dízimos— (Nm 18.26-28) 130p. Pagar o dízimo do homem pobre (Dt 14.28-29; 26.12-14) 131p. Fazer a declaração do dízimo "vidúi ma'asser" (26:13-15) 109 n. Proibido vender o dízimo do gado– Lv 27:28. 141n. Proibido comer o 2º dízimo não remido do grão fora de Jerusalém - Dt 12:17. 142n. Proibido consumir o 2º dízimo não remido do vinho fora de Jerusalém - Dt 12:17. 143n. Proibido consumir o 2º dízimo não remido do azeite de oliva fora de Jerusalém

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150n.Proibido comer algo não remido e impuro do 2º dízimo, ainda que em Jerusalém - Dt 26:14.

151n. Proibido comer o 2º dízimo durante o luto - - Dt 26:14. 152n. Proibido gastar dinheiro do resgate do 2º dízimo, exceto com comida e bebida. Proibido dar dele ao morto.. – 26:14 - O que não serve para a vivicação do corpo é chamado ''ao morto". 154n. Proibido mudar a ordem das ofertas tiradas das colheitas. 1)primícias, Ex.23:19 ; – Dos primeiros frutos da terra era trazido um cesto contendo uma oferta para os sacerdotes Dt.26:2.; —um feixe do que era colhido— (Lv. 23:10) 2)terumá guedolá, cerca de 2% da colheita era dada, também para os sacerdotes Dt 18:4) 3)maasser rishon – 1º dízimo— para o levita 4)’maasser sheni’—2º dízimo— para os ofertantes consumirem no Templo, em Jerusalém, ou ‘ maasser ani’ – para os pobres, a cada 3 anos.

Do capítulo 13 ao 21 do livro de Josué há um Formal de

Partilha —extremamente justo e eqüalitário, assinado pelo Supremo Juiz—, encerrando um processo de Inventário do qual Josué foi o inventariante.

As terras de Canaã foram distribuídas aos herdeiros, a saber, as doze tribos de Israel: Dã, Aser, Naftali, Ruben, Judá, Benjamim, Simeão, Issacar, Zebulom, Gade, Manasses e Efraim.16, de forma proporcional à população de cada tribo.

A divisão foi feita da seguinte forma:

16 Essas duas últimas tribos —Manasses e Efraim (os 2 filhos de José) — são contadas como 2 tribos de Israel, pois quando Jacó (Israel) os abençoou disse: “Abençoe estes rapazes; e seja chamado neles o meu nome Gn.48:16”). Os levitas formavam uma tribo à parte, dedicada ao serviço do SENHOR, retirada dentre o povo de Israel para substituírem os primogênitos, que pertencem a Deus (Números 3:12,13). Por isso não é considerada a 13a. Tribo.

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� Às duas tribos e meia —Rubenitas, Gaditas e ½ tribo de Manasses (oriental) Moisés já havia dado herança além do Jordão. (Js.14:3)

� Nove tribos e meia (Manassés ocidental) eram os herdeiros das terras de Canaã aquém do Jordão, chamadas ‘terras da possessão do Senhor, onde estava o Tabernáculo (Js.13:7 ; 22:19).

Essas tribos receberam terras pra cultivar —cereais e frutas— e nelas criar gado, ovelhas e cabras...

� Os levitas não receberam terras como herança, pois o SENHOR era a porção e herança deles (Nm. 18:20 ; 26:62; Deuteronômio 10:9; 18:1,2), mas receberam, de cada tribo, cidades para morar e pastagens em torno delas. Assim estariam presentes no meio de todas as tribos para dar-lhes assistência espiritual. E Deus determinou que cada uma dessas tribos que receberam em herança porções de terra

pagaria os dízimos aos levitas. Nm 18:21 : “O Deus Eterno disse: “Eu dou aos levitas todos os dízimos...”

O Esboço de Partilha, tão bem feito pelo Senhor, com

relação aos recursos e ao pagamento de dízimos, previu uma igualdade entre as tribos, fazendo com que a riqueza nacional fosse bem distribuída entre todo o povo.

........................

O dízimo é um imposto, —um tipo de ‘Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural’— determinado por lei, que os fazendeiros pagavam, com base no que era produzido da terra —cereais, frutas— ou na terra —criação de gado, ovelhas e cabras— que constituíam quase a totalidade do ‘PIB.’ (produto interno bruto) de Israel, a soma das riquezas produzidas no país.

A instrução normativa dos dízimos é cheia de minúcias que deveriam ser rigorosamente cumpridas pelos israelitas.

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O historiador hebreu Flávio Josefo escreveu: “De medo que a tribo de Levi, vendo-se isenta da

guerra, só se ocupasse nas coisas necessárias para a vida e descuidasse do serviço de Deus, Moisés

determinou que o povo lhe pagaria todos os anos e aos sacrificadores (sacerdotes) a décima parte dos frutos

que recolhesse, o que foi depois inviolavelmente cumprido.” (História dos Hebreus)

Seguindo a seqüência dos artigos da lei, os dízimos são:

Ma’aser Behema —Dízimo do Gado—

Art.78 positivo da Lei de Moisés.

Lv 27:32 : “De cada dez animais domésticos um pertence a Deus, o SENHOR. Quando o dono contar o seu gado e as suas ovelhas e cabras, cada décimo animal pertencerá ao SENHOR.

Para separar ‘o décimo’ entre os animais domésticos17 —bois, ovelhas— era costume encerrá-los num curral, e à maneira que iam saindo, os contadores os marcavam, de dez em dez, com uma vara, que tinha sido imersa em vermelhão —tinta vermelha—. Em Lv. 27:32, versão Almeida atualizada, está escrito: “de tudo o que passar debaixo da vara”

Não era o primeiro animal o separado para ser dado como dízimo, mas sim ‘o décimo’. Supondo que um pobre micro-sitiante só tivesse 9 cabeças de gado não teria como dar o dízimo. O que possuía 19, dava 1 de dízimo... e assim por diante...

A porcentagem paga à título de ‘dízimo do gado’ era completamente indefinida: variava de acordo com a quantidade, mais próxima ou mais distante do múltiplo de 10, caso nenhum animal fosse trocado por outro, pois, nesse caso, os dois se

17 Animais de caça silvestre e de pesca não eram dizimados.

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tornavam dízimo.(Lv. 27:33) e a porcentagem mudaria de novo, podendo até dobrar, dependendo da quantidade que fosse trocada.

Só era tirado um dízimo anual do gado.

Segundo o calendário hebraico, em 1º de Elul era o ‘ano novo do gado’ e nessa data inicia-se a contagem do dízimo do gado.

....................................... Além do dízimo pecuário —‘dízimo do Gado’—

Josefo (37-103 d.C.), relatou que, a época do Templo Sagrado, havia três dízimos agrícolas, conforme o fim a que se destinava: um para a manutenção dos levitas; outro para a manutenção das festas religiosas —banquete sagrado—; e, outro, a cada três anos, para sustento dos pobres.

• Ma'aser Rishon – 1º dízimo • Ma'aser Sheni - 2º dízimo • Ma'aser Ani – ‘dízimo do pobre’

“Além das duas décimas que é obrigatório pagar a cada ano, uma aos levitas e outra para as festas sagradas, deve-se pagar uma terceira, para ser distribuída às viúvas, aos pobres e aos órfãos.” (Flávio Josefo, História dos Hebreus, CPAD.)

Especificando,

Ma'aser Rishon – 1º dízimo

Art. 127 positivo da Lei de Moisés.

Lv 27:30 : “A décima parte das colheitas, tanto dos cereais

como das frutas, pertence a Deus, o SENHOR, e será dada a Ele. "

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Todo ano18 os fazendeiros deveriam pagar a décima parte da produção do campo —cereais e frutas—

Ele poderia ser remido —readquirido—, caso houvesse interesse, devendo o próprio produtor pagar, em dinheiro, 20% além do que valia. (Lv 27:31). Tal mandamento não tinha a intenção de permitir o pagamento do dizimo em dinheiro, mas sim desencorajar que fosse feito o câmbio.

Dízimo, na Bíblia, nunca está relacionado a dinheiro.

Nunca e Nunca!. Dízimo sempre está relacionado a comida, alimentos: cereais, frutas, gado, cabras, ovelhas... No Novo Testamento, em Mateus 23:23, por exemplo, Jesus refere-se ao dízimo hipócrita pago pelos fariseus sobre hortaliças, como hortelã, endro, cominho....

Isso não era porque não houvesse dinheiro naquela época. Por exemplo:

Para manutenção do Templo (para o serviço da tenda da congregação, antes de construído o Templo) eram cobradas, de todo o povo, taxas pagas em dinheiro, como o meio siclo —ou duas drácmas—, que foi também cobrado de Pedro e de Jesus (Ex.30:14-16 ; Mt.17:24-27). O Senhor, sob protesto, acabou pagando.19

O dinheiro foi usado pelo rei Davi —50 siclos de prata— para comprar bois para serem oferecidos em sacrifícios. (II Samuel 24:24).

Haviam multas em dinheiro a serem pagas por sentenças judiciais.(Ex. 21:22)

E outras taxas que tinham aspecto sagrado: por exemplo: a taxa e a multa pelo pecado; resgates diversos de pessoas e bens consagrados.... A essas taxas deve-se acrescentar os diversos

18 1º de Tishrei – Ano Novo agrícola ; e 15 de Shvat, o Ano Novo das Árvores São as datas-base para o cálculo do dízimo anual. 19 Seqüência do pensamento do teólogo da prosperidade: Premissa maior: Pedro pescou o peixe para conseguir a moeda. Premissa menor: Jesus transformou Pedro em pescador de homens. Logo: é preciso pescar os homens para conseguir a moeda!

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sacrifícios estipulados pelo santuário: de reparação, de expiação pela impureza, de louvor e comunhão, de ação de graças.

Ainda, impostos pagos ao rei, na época da monarquia; tributos de acordo com os impérios que exerceram domínio sobre o país; impostos por vassalagem, pedágios......

O pagamento de tudo isso normalmente envolvia dinheiro. Mas, quanto ao dízimo, os juros de 20% tinham a finalidade de desencorajar a troca, para que fosse dado o próprio alimento.

..........................

Ma'aser Sheni – 2º dízimo

Art.128p da lei: Pagar o segundo dízimo Dt.14:22-23 : “Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que

ano após ano se recolher do campo. E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o SENHOR, teu Deus, todos os dias.

É a décima parte do que resta da colheita, depois de tirado o 1º dízimo. (Note que, conforme escritos do mestre do judaísmo, Maimônides, eram tirados dois dízimos agrícolas, de uma mesma colheita) Isso representa 19% da colheita anual.

O ma’aser sheni —2º dízimo—era trazido pelo próprio fazendeiro numa peregrinação à Jerusalém, para ser comido por ele, sua família e seus convidados, numa refeição ritual festiva, um banquete sagrado, uma celebração diante do Senhor, que acontecia no primeiro, segundo, (terceiro não!) , quarto, quinto, (sexto não!) e (sétimo não) do ciclo sabático, seguido pela agricultura judaica.

Não é demais repetir: o 2º dízimo era apenas agrícola. Incidia apenas sobre o fruto das sementes —cereal, vinho, azeite— Os primogênitos das vacas e ovelhas não eram dízimos. Levava-se a Jerusalém e comia-se junto com os dízimos, mas não eram dízimos.

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Tinham que ser separados do rebanho que iria passar sob a vara, —para se marcar o décimo—, pois não pertenciam ao fazendeiro, mas ao Senhor.

Lv.27:26 : A primeira cria das vacas, ovelhas ou cabras pertence a Deus, o SENHOR. Portanto, ninguém poderá oferecê-la ao SENHOR, pois já pertence a ele.

Ex.34:19-20 : “Tudo o que abre a madre meu é; até todo gado, que seja macho, abrindo a madre de vacas e de ovelhas; o burro20, porém, que abrir a madre, resgatarás com um cordeiro; mas, se não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça....

Dt.15:19-20 : “A primeira cria das vacas e das ovelhas, se for macho, pertence ao SENHOR, nosso Deus. Portanto, não usem no trabalho essas crias das vacas e não cortem a lã dessas crias das ovelhas. Todos os anos levem esses animais para o lugar de adoração escolhido por Deus, o SENHOR, e ali, na presença de Deus, vocês e as suas famílias comam a carne deles.”

Observe bem que ‘o primeiro filhote macho do animal’ —que não tem nada a ver com dízimo do gado— é que devia ser levado, junto com o 2º dízimo agrícola, ao Templo para ser comido pelo fazendeiro e sua família.

Não era o ‘décimo animal que passasse debaixo da vara’(Lv. 29:32) . Este sim, é contado como ‘dízimo do gado’.

Faço um parêntesis para um breve, mas inevitável

comentário, que alguns compreenderão com facilidade, outros só mais adiante e outros nunca compreenderão:

O ‘filhote primogênito macho’ separado como oferta junto com o dízimo, não foi, como o dízimo, hoje em dia transformado em dinheiro que, segundo se prega, o cristão é obrigado a ‘levar à casa do tesouro’. Será que é porque não se consegue separar ‘o primeiro dinheiro macho’ do ‘dinheiro fêmea’?”

20 Todo primeiro filhote macho da vaca, cabra, ovelha... de todo animal

eram do Senhor. Mas Ele não aceitava burro! É sério!

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Mais um detalhe interessante, que mostra como o que

muita gente pensa sobre dízimo está a anos-luz de distância de ser a realidade: Se a distância até Jerusalém fosse grande demais para o transporte conveniente do dízimo —os cereais, o vinho novo, o azeite— podia ser transformado em dinheiro que era levado até o Templo para que, com ele, os fazendeiros comprassem o que quisessem comer, junto com a família e convidados. Leiamos o texto:

Dt.14:24-26 : “Mas, se o lugar de adoração ficar muito longe, e for impossível levar até lá a décima parte das colheitas com que Deus os abençoou. então façam isto: vendam aquela parte das colheitas, levem o dinheiro até o lugar de adoração que o Senhor tiver escolhido e ali comprem tudo o que quiserem comer: carne de vaca ou de carneiro, vinho, cerveja21, ou qualquer outra coisa que desejarem. E ali, na presença do SENHOR, nosso Deus, vocês e as suas famílias comam essas coisas e se divirtam à vontade.”.

Tanto o 1º quanto o 2º dízimo só deviam ser dados no Beyt HaMikdash (Templo Sagrado de Jerusalém).

Ma'aser Ani – ‘dízimo do pobre’

Art. 130 da lei: Pagar o dízimo do homem pobre.

Dt. 14:27-29 : “Porém não esqueçam os levitas que moram nas cidades de vocês. Eles não receberão terras em Canaã, como as outras tribos. De três em três anos juntem a décima parte das colheitas daquele ano e guardem nas cidades onde vocês moram. Essa comida é para os levitas, pois eles não têm terras próprias; é também para os estrangeiros, os órfãos e as viúvas que moram nas cidades de vocês. Assim todos eles terão toda a comida que precisarem. Façam isso para que o SENHOR, nosso Deus, abençoe todo o trabalho de vocês.”

21 ‘Bebida forte obtida da fermentação de cevada e trigo’. Versão de Roma: “in vino e in cervogia” (Giovanni Diodati Bible)

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De 3 em 3 anos, portanto no 3º e 6º anos do ciclo sabático, o 2º dízimo não era levado para a festa do Templo, em Jerusalém, mas permanecia nas fazendas para serem dados aos levitas, aos estrangeiros, órfãos e viúvas da própria cidade de cada fazendeiro.

Ao equiparar o necessitado, o órfão, estrangeiro ou a viúva com o Levita —que recebe o dízimo como salário e não como caridade—, há, além da manifestação de bondade, também da caridade como justiça, princípios fundamentais da contribuição.

O pobre jamais pagava dízimo. Ele o recebia!!!!

Em relação às taxas impostas, mesmo na lei de Moisés, sempre houve brandura para com os pobres:

Lv.27:8 : “Se a pessoa for pobre e não puder pagar a quantia marcada, ela irá falar com o sacerdote, e ele cobrará o que a pessoa puder pagar “

Lv.25:35 : “Se um israelita que mora perto de você ficar pobre e não puder sustentar-se, então você tem o dever de tomar conta dele. Ajude-o como se ele fosse um estrangeiro que mora no meio do povo, a fim de que ele continue a morar perto de você.”

Dt 15: 7, 10 : Se houver um israelita pobre em qualquer cidade da terra que o SENHOR, nosso Deus, vai dar a vocês, tenham pena dele e o ajudem. Não dê com tristeza no coração, mas seja generoso com ele; assim o SENHOR, nosso Deus, abençoará tudo o que você planejar e tudo o que fizer.

...............................

O dízimo dos dízimos art.129 da Lei. Do que recebiam, os levitas deveriam

levar a décima parte —o ‘dízimo dos dízimos’— para os sacerdotes22, como oferta especial instituída por Deus.

22 Arão, seus filhos e descendentes (que eram levitas) foram escolhidos por Deus para serem sacerdotes. Os levitas de outras linhagens, foram

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Os levitas não receberam terras como as demais tribos de Israel; assim, não pagavam dízimos como um ‘Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural’. Davam 10% do que recebiam como uma oferta especial, assim como o fazendeiro fazia uma oferta das primícias —Dos primeiros frutos da terra era trazido um cesto contendo uma oferta para os sacerdotes Dt.26:2; um feixe do que era colhido (Lv. 23:10) —

Nm 18:25-28 : O SENHOR DEUS ordenou a Moisés que dissesse aos levitas o seguinte: - Quando receberem dos israelitas os dízimos que Deus lhes dá para serem de vocês, vocês darão a décima parte desses dízimos como oferta especial a Deus. Essa oferta especial é como se fosse a oferta que o fazendeiro faz do primeiro cereal e do primeiro vinho. Assim, de todos os dízimos que receberem dos israelitas, vocês darão também uma oferta especial que pertence a Deus, o SENHOR. Vocês deverão entregá-la ao sacerdote Arão....

Ne. 10:38 : Um sacerdote descendente de Arão deverá estar junto com esses levitas que recolhem a décima parte das colheitas. E a décima parte de todas as décimas partes que forem recolhidas deverá ser levada pelos levitas para os depósitos do Templo, a fim de ser usada no Templo.

Os sacerdotes não pagavam dízimo.

..................

Quando se acabava de dizimar todos os dízimos fazia-se a recitação da Declaração do Dízimo ("vidúi ma'asser"-Dt.26:12 e seguintes). O fazendeiro tinha de dizer perante Deus que os dízimos haviam sido pagos integralmente, conforme a Lei de Moisés. (Deuteronômio 26:13-15)

Art.131 p. da lei; Dt 26:13 : "…direis perante Ado'nai teu Deus: ' Tirei de minha casa o que é consagrado e dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão, e à viúva, segundo todos os teus mandamentos que me tens ordenado; nada transgredi dos teus mandamentos, nem deles me esqueci. "

designados para serem seus auxiliares. Estes foram genericamente chamados de ‘levitas’. Aqueles especialmente de ‘sacerdotes’.

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Os cristãos atuais, que dizem ser ‘dizimistas fiéis’, podem mesmo ter certeza de que, pagando 10% do seu rendimento mensal à igreja, podem declarar para Deus que pagaram os dízimos integralmente? Com que base bíblica?

Em corcordância com muitos outros sites judaicos, no site: http://www.askmoses.com/article/136,337/What-is-maaser.html (pergunte para Moisés) está escrito que os dízimos, com exceção do ‘dízimo do pobre’, somente eram obrigatórios na Terra Santa e suas leis só tiveram aplicação enquanto o Templo Sagrado estava de pé.

E não eram todos os israelitas que eram dizimistas: Quem de vocês, queridos irmãos, poderia me explicar, dando referências bíblicas contextualizadas, como, por exemplo, segundo a lei de Moisés, um pescador que vivia nas imediações do Lago de Genesaré, ou de Tiberíades, que não tinha terras para plantar, nem para criar gado, ovelhas ou cabras, pagava os dízimos?

Ao invés da lei escrita do dízimo —impossível de ser

cumprida nos dias de hoje até mesmo pelos judeus (o Templo sagrado não existe mais; foi destruído) — o que o cristão deve observar e praticar é o princípio da igualdade e da caridade como um ato de justiça.

............................

O ano sabático e o jubileu

Quando as terras de Canaã foram distribuídas às tribos e estas, por sua vez, as distribuíram por famílias, superar os limites do patrimônio familiar era contrário à vontade de Deus.

Os latifúndios foram conseguidos, muitas vezes, por usurpação violenta, mudando fraudulentamente as cercas da fazenda, como está escrito no livro de Jó:

“Há homens que mudam os marcos de divisa para aumentar as suas terras” (Jó 24,2).

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Os profetas também condenaram repetidamente a economia latifundiária

Is 5, 8 : “Ai de vocês que compram casas e mais casas, que se tornam donos de mais e mais terrenos! Daqui a pouco não haverá mais lugar para os outros morarem, e vocês serão os únicos moradores do país.”

Na lei judaica, haviam duas instituições que visavam

impedir o crescimento da pobreza e da escravidão causada pelas dívidas: o ano sabático e o ano de jubileu.

No ano sabático — Shabat Shemitá— : a cada sete anos :

1) as dívidas eram perdoadas.

A propósito, quando Jesus ensinou os discípulos a orar, referiu-se ao perdão de dívidas financeiras, mas, deu-se um jeito de se considerar apenas o sentido de perdão de ‘ofensa moral’, que é mais fácil de ser perdoada. Mas, a palavra original, tanto em Mt. 6:12, como no final de Lc.11:4 , é ‘oifeilemata’ (οφειλεµατα): dívidas! O verbo ‘ofeilo’ (οφειλω�) significa ‘dever’, ‘estar em débito’, ‘estar endividado’, financeiramente.

2) o escravo recuperava a liberdade

3) as terras não eram cultivadas, para que recobrassem sua força. Os pobres, que já tinham direito de, todos os anos, apanhar o que se deixava ficar no campo depois da ceifa, ou depois da vindima, ou depois da colheita de azeitona (Lv 19.9,10 - Dt 24.19,21 - Rt 2.2 -), no ano sabático tinham direito de colher tudo o que crescesse no campo Êx 23.11 : “Porém no sétimo ano deixe que a terra descanse e

não colha nada que crescer nela. Mas os pobres poderão comer o que crescer ali, e os animais selvagens comerão o que sobrar. Faça isso também com as suas plantações de uvas e de azeitonas.

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Era preciso confiar que no sexto ano Deus providenciaria o suficiente para que, mesmo não colhendo nada no sétimo ano, nada iria faltar.

Lv.25:20-21 : “Mas alguém é capaz de perguntar como é que haverá comida durante o sétimo ano, quando ninguém vai semear nem fazer a colheita. A resposta é que Deus abençoará a terra, e no sexto ano ela produzirá colheitas que serão suficientes para três anos”.

Os dízimos não eram devidos no ano sabático.

No ano do Jubileu —de 50 em 50 anos— os pobres que tivessem vendido sua porção de terra, deveriam tê-las de volta. (Lv 25.25 e seg.)

No tempo de Jesus e mesmo antes, no tempo um pouco

anterior a Ele, não há nenhum indício de que essas instituições da lei estivessem sendo levadas em conta.

Havia, sim, latifundiários, pois o domínio imperial de Roma acentuou ainda mais esta economia injusta dos açambarcadores de terras que, comprando, por um alto preço, o direito de serem cidadãos romanos, tinham a “proteção” legislativa do império.

Os camponeses acabavam sendo cada vez mais perseguidos, injustiçados, empobrecidos e, endividados, o que resultava em serem obrigados a dar suas terras para amortizar juros. Assim, passavam, de pequenos proprietários, a ser mão-de-obra barata —diaristas—, a serviço dos poderosos senhores de terra.

A lei de Moisés mandava os fazendeiros darem o dízimo

para os pobres no 3º e 6º ano; no 7º ano, era para liberarem o que tivesse no campo para que os infelizes pudessem comer.23 Deus prometeu abençoar com fartura o 6º ano, a fim de que houvesse

23 shmitat karka : No sétimo ano, segundo a lei de Moisés, os

israelitas deveriam abrir mão da propriedade da terra; qualquer produto que crescer por si mesmo seria considerado propriedade comum, livre para qualquer pessoa pegar.

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mantimento por 3 anos. Assim, os pobres teriam o que comer no 7º ano, que encerra um ciclo sabático, e no 1º e 2º ano do próximo ciclo. Então, no 3º ano do próximo ciclo seria dado a eles o dízimo novamente. E nunca os pobres passariam fome!

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Capítulo 6

Eram dizimistas os patriarcas?

Não há nenhuma dúvida de que o ‘dízimo’, adotado por

grande parte dos cristãos como base da contribuição, é da Lei de Moisés.

Historicamente 24, há um documento da igreja —antes da Reforma— sobre a decisão de criar a ‘lei do dízimo’: é uma carta dos bispos reunidos em Tours, em 567, onde está escrito:

“Com a expansão da Igreja tornou-se necessário

criar leis que garantissem permanentemente o devido sustento do clero. O pagamento de dízimos foi adotado da Lei de Moisés...

— The Catholic Encyclopedia (Enciclopédia Católica).

Em Hebreus 7: 5 está escrito: “E os que dentre os filhos de

Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo...”

A expressão: “...têm ordem, segundo a lei”, deixa claro que o dízimo fazia parte da lei.

Mesmo assim, há quem argumente que: “O dízimo não é da lei, pois existiu antes da lei” Não há dúvida de que o ato de pagar o dízimo existiu antes

da Lei. Informação da Wikipédia: “Dízimo significa a décima parte de algo, paga através de

taxa ou imposto. Apesar de atualmente a palavra estar associada à

24 Veja no capítulo 9 – “Breve história do dízimo na igreja”

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religião, muitos reis na Antigüidade exigiam o dízimo de seus povos.”

Essa informação está em perfeita harmonia com o que Flávio Josefo, Grocio, Homero e outros grandes historiadores, deixaram escrito a esse respeito.

Os povos antigos tinham como costume oferecerem uma porcentagem das suas colheitas aos seus deuses ou aos seus reis.

Na antiga Grécia, China.... pagavam o dízimo dos despojos de guerra (Heródoto 1. 89) aos seus reis e sacerdotes.

Através do profeta Samuel (I Sa 8:10,17), Deus avisa ao povo de Israel, que lhe pedia um rei, que mudar o sistema de governo para monarquia, implicaria em cobrança de dízimo sobre as sementes, a vinha (para ser dado aos eunucos e empregados) e sobre o rebanho, como faziam os reis pagãos.

Cabe fazer uma observação: Dízimo não é uma palavra sagrada que só possa ser escrita com pena especial e quando pronunciada, os que a ouvem devem curvar-se até o chão em reverência. Dízimo, é apenas uma porcentagem. Povos pagãos pagavam dízimo, da mesma forma que pagavam ‘o quinto’ (20%), como no Egito, instituído pelo governador José: Gn. 47:24 : Das colheitas dareis o quinto a Faraó.

A priori, dizer que os dízimos não são da Lei de Moisés

por já existirem antes da lei é o mesmo que abrir o Código Penal Brasileiro, de 1940, e ler o artigo 121, que trata do Homicídio e afirmar que o Homicídio não é do Código Penal Brasileiro, pois o homicídio já existiu antes de existir esse Código, pois Caim matou Abel antes de 1940.

A maioria dos que argumentam que ‘o dízimo existiu antes da lei’ está referindo-se aos patriarcas.

Um apóstolo brasileiro, recentemente, escreveu em seu site:

“Os patriarcas de Israel sabiam reconhecer os dons de Deus e lhes eram agradecidos, oferecendo-lhe a décima parte de tudo o que possuíam.”

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Vamos ver se é assim. Comecemos por Abraão, pois antes dele, não há notícia que outro patriarca tivesse pago dízimo, nem uma única vez:

No Egito, Faraó, por amor a Sara, fez bem a Abraão e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, camelos e servos (Gn.12:16) e saiu de lá muito rico (Gn. 13:2). A Bíblia não menciona que Abraão deu dízimo da sua riqueza. Em Gerar, ao restituir Sara, Abimeleque, rei daquele lugar, deu a Abraão ovelhas, vacas, servos e servas e mil moedas de prata ―só das moedas, ele não deveria ter dado 100 de dízimo?― (Gn 20: 14 e 16) Mas ele não deu.

Em 175 anos que viveu nesta Terra, Abraão deu o dízimo uma única vez; e, ainda, do que não era dele. Foi assim:

Quando Abraão soube que Ló, havia sido capturado pelos exércitos unificados de quatro reis: Quedorlaomer, Tidal, Anrafel e Arioque, se pôs a caminho para convocar seus confederados, Aner, Escol e Manre e mais 318 jovens da sua casa, seus empregados e, com eles, perseguiu esses quatro reis e seus exércitos, os derrotou, libertou a Ló e recuperou o que fora tomado anteriormente.

Abraão fez um inventário, não dos seus bens, mas dos despojos de guerra. ― O que foi recuperado pertencia aos reis de Sodoma e Gomorra e à Ló, sobrinho-irmão-cunhado de Abraão25—. Ele fez até um voto de que, desses despojos, não pegaria nada pra ele, nem a correia de um sapato Gn 14:22― - .

Deu dez por cento ao sacerdote Melquesedeque. ...Vejam como Melquisedeque era grande: Abraão, o patriarca,

lhe deu a décima parte de tudo o que havia tomado dos inimigos na batalha. Hb. 7:4

25 O parentesco era o seguinte: Harã, irmão de Abraão, tinha duas filhas, Milca e Isca ―que é Sara― e um filho, Ló. Morrendo Harã (Gn:11:28), seu pai, Terah, passou a criá-los.

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Depois tirou as despesas dos jovens ―da sua casa―

que guerrearam com ele, uma porcentagem para os seus três companheiros de batalha: Aner, Escol e Manre. E o restante devolveu para o dono original: o rei de Sodoma. Nesse ultimo montante também estava os bens pertencentes a Ló.

Mas, ‘no entanto, todavia, porém, entretanto’, vale

ressaltar que foi muitíssimo importante que Abraão tivesse dado o dízimo dos despojos, uma oferta especial, para o sacerdote Melquisedeque.

A importância está na finalidade com que ele o fez. Parece-me que quando ficamos sabendo da finalidade das coisas, encontramos o caminho correto para alcançarmos um melhor entendimento delas.

Abraão praticou um ato profético, profundo e importante, para que, muito tempo depois, Jesus pudesse ser considerado Sumo-Sacerdote.

Como o judeu poderia aceitar que Jesus fosse o Sumo-sacerdote (Cohen Gadol) sendo da Tribo de Judá e não da tribo de Levi à qual os sacerdotes (cohanim) deviam pertencer?

O autor de Hebreus escreveu sobre isso: “E o nosso Senhor Jesus, a respeito de quem são ditas essas

coisas, pertencia a outra tribo. E nenhum membro dessa tribo jamais serviu como sacerdote. sabido que, por nascimento, Jesus, o nosso Senhor, pertencia à tribo de Judá, e Moisés não disse nada dessa tribo quando falou a respeito de sacerdotes.” Hb 7:14

A chave da compreensão é a palavra ‘sacerdote’.

Então, vamos lembrar quem eram os sacerdotes: Arão, que era da tribo de Levi, seus filhos e demais

descendentes foram escolhidos por Deus para serem sacerdotes. Os levitas de outras linhagens, foram designados para serem seus auxiliares. Estes, os auxiliares do sacerdócio, foram genericamente chamados de ‘levitas’ e aqueles, especialmente de ‘sacerdotes’.

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Consta na lei que os levitas deveriam dar o dízimo dos dízimos —uma oferta especial— aos sacerdotes. Vamos ler:

Nm. 18:25,26 e 28. “Disse o SENHOR a Moisés: Também falarás aos levitas e lhes dirás: Quando receberdes os dízimos da parte dos filhos de Israel, que vos dei por vossa herança, deles apresentareis uma oferta ao SENHOR: o dízimo dos dízimos.... dareis a oferta do SENHOR a Arão, o sacerdote

O autor de Hebreus explica que Jesus é sacerdote de outra ordem :

Hb 7:16-17 : “Ele não foi feito sacerdote pelas leis ou regras humanas, porém se tornou sacerdote por meio do poder de uma vida que não tem fim. Porque as Escrituras Sagradas dizem: "Você será sacerdote para sempre, na ordem do sacerdócio de Melquisedeque.26"

Hb 5:10 : E Deus o nomeou Grande Sacerdote, na ordem do sacerdócio de Melquisedeque.

Como é que o judeu pode considerar essa outra Ordem de sacerdotes, que não é de Arão? Em Hebreus há uma afirmação importantíssima: A ordem de Melquisedeque recebeu dízimos dos levitas!

Como?! Isso mesmo! Leiam: Hb.7:9-10 : “Portanto, quando Abraão pagou a décima

parte, Levi, cujos descendentes recebem a décima parte, também pagou. Pois Levi não tinha nascido, e, por assim dizer, ainda estava no corpo do seu antepassado Abraão quando este se encontrou com Melquisedeque.

Nesse ato profético, Abraão representou os seus descendentes, os levitas. Com isso, entende-se porque ele não quis nada —nem uma correia de sapato—dos despojos de guerra: os levitas, segundo a lei, foram proibidos por Deus de ficarem, diretamente, com despojos de guerra. Josué 13:14 Eles recebiam, indiretamente, dos despojos, apenas o que Deus determinava que o povo de Israel lhes desse. Se Abraão tivesse aceitado ficar com

26 O salmo 110:4 é profético: “Jurou o Senhor, e não se

arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.”

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qualquer coisa do despojo, o ato profético não teria sido perfeito como foi!27

Abraão representou os levitas, Melquisedeque —o ‘Rei de

Justiça’ e ‘Rei da Paz’—, representou Jesus. “O nome de Melquisedeque quer dizer primeiramente "Rei da

Justiça". E, porque ele era rei de Salém, o seu nome também quer dizer "Rei da Paz".

A linha de raciocínio do autor de Hebreus é: Assim como Abraão é superior aos levitas, o sacerdócio de Melquisedeque é superior ao sacerdócio levítico. E Jesus, o Sumo-Sacerdote da Ordem de Melquisedeque é superior a Arão e todos os demais sumo-sacerdotes —seus descendentes—, que vieram depois dele,

Leiamos o texto bíblico, que é muito claro, não deixa dúvidas e dispensa comentários:

Hb 7:23,24,26,27,28 : Há ainda outra diferença: os outros

sacerdotes foram muitos porque morriam e não podiam continuar o seu trabalho.

Mas Jesus vive para sempre, e o seu sacerdócio não passa para ninguém.

Por isso Jesus é o Grande Sacerdote de que necessitamos. Ele é perfeito e não tem nenhum pecado ou falha. Ele foi separado dos pecadores e elevado acima dos céus.

Ele não é como os outros Grandes Sacerdotes; não precisa oferecer sacrifícios todos os dias, primeiro pelos seus próprios pecados e depois pelos pecados do povo. Ele ofereceu um sacrifício, uma vez por todas, quando se ofereceu a si mesmo.

A Lei de Moisés escolheu homens, que são imperfeitos, para serem Grandes Sacerdotes. Mas, pela promessa feita com juramento, a qual veio depois da Lei de Moisés, Deus escolhe o Filho, que se tornou perfeito para sempre.”

A regra antiga da Lei de Moisés foi anulada: Hb 7:11-12,19 : “A lei que o povo de Israel recebeu se

baseava no sacerdócio dos levitas. Ora, se o trabalho dos sacerdotes levitas tivesse sido perfeito, não haveria necessidade de aparecer outro

27 Antes que isso acontecesse, as Escrituras viram que Deus ia aceitar os não-judeus por meio da fé. Por isso, antes de chegar o tempo, elas anunciaram a boa notícia a Abraão, dizendo: "Por meio de você, Deus abençoará todos os povos." Gal. 3:8

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tipo de sacerdote, da ordem do sacerdócio de Melquisedeque e não da ordem de Arão.

Pois, quando se muda o sacerdócio, a lei também precisa ser mudada.

Assim a regra antiga foi anulada porque era fraca e inútil” Hb 10:9,19-20 : “Depois ele disse: "Estou aqui, ó Deus, para

fazer a tua vontade." Assim Deus acabou com todos os antigos sacrifícios e pôs no lugar deles o sacrifício de Cristo.

Por isso, irmãos, por causa da morte de Jesus na cruz nós temos completa liberdade de entrar no Lugar Santíssimo. Por meio da cortina, isto é, por meio do seu próprio corpo, ele nos abriu um caminho novo e vivo.”

Diante de tudo isso, não posso, irmãos, me conformar que alguém despreze tão maravilhoso plano de Deus e use como argumento favorável à obrigatoriedade do pagamento do dízimo pelo cristão, simplesmente, algo tão infantil —que eu já ouvi mais de uma vez— assim: “que o Novo Testamento, em Hebreus, ‘fala’ do dízimo, assim o dízimo é coisa do Novo Testamento e nós, cristãos, temos que pagar o dizimo”.

Na realidade, é o contrário: Do que lemos, o sacerdócio levítico acabou, assim também suas leis, sacrifícios, cerimônias, ritos, costumes, dízimos.... Não existe mais!

Agora, pelo sacrifício de Cristo, temos LIBERDADE —inclusive para contribuir— seguindo o NOVO E VIVO CAMINHO!!!

................. O patriarca Abraão não foi ‘dizimista-cumpridor-de-

obrigação-religiosa. Querer qualificá-lo assim é menosprezá-lo. Abraão foi, sim, o que os judeus chamam de ‘ish chessed’ —um homem de bondade. Os judeus dizem que ele personificava a ‘Sefirá’, o atributo Divino, de bondade —chessed —.

Se observarmos a vida e a personalidade de Abraão vamos aprender, além de atos de justiça e obediência a Deus, também sobre atos de bondade. É de suma importância entender isso.

A Bíblia afirma que Deus escolheu Abraão porque ele seria capaz de ensinar seus filhos a praticar a caridade e a justiça (Gn 18:19).

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Está escrito no Talmud (livro judaico) que Abraão era a personificação do atributo de bondade, da benevolência e generosidade. As duas características principais da personalidade do patriarca eram guemilut chassadim, tsedaká e emuná: atos de bondade, de justiça e obediência a Deus. A tenda de Abraão possuía quatro aberturas que davam para as quatro direções do deserto afim de visualizar qualquer estrangeiro que passasse próximo ao seu caminho para convidá-lo a usufruir de sua hospitalidade. Ele mantinha o seu lar sempre aberto a todos, sem perguntar quem eram ou por que o visitavam. Oferecia a todos – anjos ou mendigos – abrigo e alimento.

O Talmud afirma, ainda, que “qualquer um que tenha compaixão pelas pessoas, certamente descende de Abraão”

Abraão estava sempre preocupado com o bem-estar dos outros, respeitando e amando todos os seres, cercando-os de atos de bondade.

Apesar de todas as dificuldades e obstáculos que enfrentou durante sua vida nunca questionou a Deus; sua obediência a Ele era absoluta. Foi chamado ‘pai da fé’ sem que Deus tivesse, através dele, realizado os milagres que, por exemplo, realizou através de Elias, ou Elizeu. Entretanto, confiou em Deus a ponto de não negar a Ele o seu próprio filho!

Ao ser informado por Deus de que a destruição de Sodoma e Gomorra era iminente, Abraão implorou pela vida de seus habitantes, apesar de saber que eram malvados e cruéis.

Há tantos exemplos de Abraão que devemos seguir: caridade, justiça, benevolência, generosidade, hospitalidade compaixão, atos de bondade, justiça e obediência a Deus.... mas não há como usá-lo como exemplo da obrigatoriedade do pagamento do dízimo para o cristão.

O apóstolo Paulo escreveu aos romanos: (12:13)

“Repartam com os irmãos necessitados o que vocês têm e abram as suas casas aos estrangeiros.”

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Continuando.... O patriarca Isaque: O nome: ‘Isaque’ significa ‘riso’ —Quando ele era criança,

talvez tivesse o apelido de ‘Risadinha’—. Não há na Bíblia nenhuma referência de que Abraão tenha

ensinado a Isaque —nem quando era criança, nem quando adulto— que devesse dar o dízimo. Na Bíblia também não há qualquer registro que ele o tivesse feito.

Posteriormente, o patriarca Jacó, neto de Abraão, por conselho de sua mãe Rebeca e com as bênçãos de seu pai Isaque, parte para Mesopotâmia, a fim de tomar mulher de sua raça e origem. Então fez um voto, uma promessa:

Gênesis 28:20-22:"Se tu fores comigo e me guardares nesta viagem que estou fazendo; se me deres roupa e comida; e se eu voltar são e salvo para a casa do meu pai, então tu, ó SENHOR, serás o meu Deus. Esta pedra que pus como pilar será a tua casa, ó Deus, e eu te entregarei a décima parte de tudo quanto me deres."

“Se Deus cumprir a minha lista de exigências eu vou dar o dízimo.” Essa foi a condição de Jacó. O que prova que ele não pagava dízimo regular e incondicionalmente. Do contrário não faria uma promessa de pagar mediante condições.

Ainda é de se considerar que não há registro na Bíblia de que ele tivesse pago o dízimo, conforme prometeu. Mesmo que o tivesse feito, não haveria sentido argumentar-se que o dízimo é uma contribuição obrigatória para o cristão a exemplo dele.

Jacó, além de não ser dizimista, não ensinou nada sobre dízimo a seus filhos. José, por exemplo, quando a Bíblia relata que ele tornou-se governador —vice-rei— do Egito, nesta qualidade chamou seus irmãos e lhes entregou a terra de Goshen para que a cultivassem e vivessem de seus produtos. Se ele fosse ‘dizimista’ ou se tivesse herdado de seu pai, do avô e bisavô patriarcas, alguma determinação de que devesse ser, fatalmente isso ficaria claro nesse momento da história judaica. Mas, o que está registrado na Bíblia é que José instituiu o ‘quinto de Faraó’ —20% de tudo o que o povo colhesse seria dado a Faraó—. Gn. 47:24 : “Há de ser, porém, que no tempo das colheitas dareis a quinta parte a Faraó” Nenhuma menção é feita ao dízimo!

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Com isso, fica prejudicada a afirmação ‘apostólica’ de que “os patriarcas de Israel sabiam reconhecer os dons de Deus e lhe eram

agradecidos, oferecendo-lhe a décima parte de tudo o que possuíam”

Os primeiros dizimistas da família de Jacó foram as tribos que representam seus dez filhos, mais seus dois netos: Manasses e Efraim, já sob a Lei de Moisés.

CIRCUNCISÃO

Ainda quanto à argumentação da vigência, há os que dizem, sem maiores detalhes, nem explicações: ‘A prática de dizimar começou muito antes da lei. Portanto, continua vigorando depois da lei, até os dias de hoje...” , talvez seja esclarecedor fazer uma comparação: É ponto pacífico que, da mesma forma que o dízimo, a cincuncisão existiu antes da lei! Deus disse ao patriarca Abraão: De hoje em diante vocês circuncidarão todos os meninos oito dias depois de nascidos, e também os escravos que nascerem nas casas de vocês, e os que forem comprados de estrangeiros. Tanto uns como outros deverão ser circuncidados, sem falta. Esse será um sinal que vai ficar no seu corpo para mostrar que a minha aliança com vocês é para sempre. Quem não for circuncidado não poderá morar no meio de vocês, pois não respeitou a minha aliança. Gn 17:12-14

A circuncisão28 ('brit'- em Hebraico) foi ordenada por Deus a Abraão e seus descendentes, como sinal do pacto estabelecido entre o Senhor e o povo escolhido.

28 A circuncisão é uma operação cirúrgica que consiste na

remoção do prepúcio, pele que recobre a glande do pênis. Atualmente a cirurgia é realizada em clínicas com condições de higiene e assepsia. No tempo bíblico era feita com uma pedra afiada. (ui...)

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Até hoje, na cerimônia judaica, antes e depois da circuncisão são pronunciadas bênçãos, em seguida é dado o nome da criança. “A retirada de sangue é conhecida como ‘hatafat dam berit’, ou seja, extração de sangue da Aliança”.

Abraão foi circuncidado com 99 anos. (Gn 17:24) E todos os escravos nascidos na sua casa, ou comprados. (v.27)

A circuncisão, ou seja, a iniciação do judeu do sexo masculino na qualidade de integrante pleno do povo judaico, é praticada em obediência ao artigo 215 da Lei de Moisés. Então, apesar de ter existido antes da Lei, a circuncisão era da lei.

Jesus, no templo, diante dos judeus, sem dúvida, considerou a circuncisão pertencente à lei de Moisés:

João 7:22-23 : “Para não deixarem de cumprir a Lei de Moisés, vocês circuncidam um menino, mesmo no sábado. Então por que ficam com raiva de mim quando eu curo completamente uma pessoa no sábado?”

A circuncisão é considerada mais importante que

qualquer mandamento. Se o menino fizer 8 dias no 'Shabbat' (sábado) ou no dia do 'Yom Kipur' (dia do perdão), não importa, tinha que ser circuncidado.

Admitir que a circuncisão é da lei de Moisés. Mas o

dízimo não é, equivale a admitir que Latrocínio é do Código Penal Brasileiro e homicídio não é!

Como assim? Ambos os crimes estão escritos lá! O latrocínio, artigo 157, é crime contra o patrimônio e o homicídio, artigo 121, é crime contra a pessoa. Ambos são crimes! E ambos, sem dúvida nenhuma estão previstos no Código Penal Brasileiro.

Da mesma forma, ‘dízimo’ e ‘circuncisão’ são da lei de Moisés:

Dízimo —artigos 78, 127, 128, 129, 130, 131 (‘p’); 109, 141, 142, 143, 150, 151, 152, e 154 (‘n’) da Lei de Moisés— é, vamos assim dizer, referente ao patrimônio e circuncisão —artigo 215 da Lei de Moisés— é referente à pessoa.

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Aproveitando o que dizem, sobre a vigência, os defensores do dízimo obrigatório para os cristãos, substituindo-se o dízimo pela circuncisão, teríamos:

‘A prática de circuncidar começou antes da lei. Portanto, continua vigorando depois da lei, até os dias de hoje...”

Como assim? Para nós, os cristãos?!?! Segundo essa linha de raciocínio, nós, os homens e nossos meninos temos que ser circuncidados?

De uma infinidade de textos bíblicos do Novo Testamento que poderiam ser citados, que contrariam essa afirmação, basta este: ‘Gálatas 5:1-4’:

“Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres. Por isso, continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente.

Prestem atenção! Eu, Paulo, afirmo que, se vocês deixarem que os circuncidem, então Cristo não tem nenhum valor para vocês.

Repito isto mais uma vez para qualquer homem que deixar que o circuncidem: esse homem é obrigado a obedecer a toda a lei.

Vocês que querem que Deus os aceite porque obedecem à lei estão separados de Cristo e não têm a graça de Deus.”

Por que alguém pensaria que em relação ao pagamento de dízimos, segundo a Lei, seria diferente?

Então, o que se entende sem dificuldade é que, além de estarem debaixo de maldição, os que assim procedem demonstram que Cristo não tem nenhum valor para eles; e estão separados do Senhor e da Sua graça!!!!

Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres!!!!!!!

...................

No tempo dos primeiros apóstolos, estes, mais os presbíteros, realizaram um Concílio em Jerusalém, registrado em Atos 15, para resolver um problema. Leiamos a Bíblia:

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Alguns homens foram da região da Judéia para a cidade de Antioquia e começaram a ensinar aos irmãos que eles não poderiam ser salvos se não fossem circuncidados, como manda a Lei de Moisés (vs. 1) Fariseus crentes, ou crentes fariseus, se levantaram e disseram: “ Os não-judeus têm de ser circuncidados e têm de obedecer à Lei de Moisés.” (vs. 5) Depois de muita discussão, Pedro se levantou e disse: .... por que é que vocês estão querendo pôr Deus à prova, colocando uma carga nas costas dos que agora estão crendo? E essa carga nem nós nem os nossos antepassados pudemos carregar (vs. 10) E Tiago continuou: - A minha opinião é esta: eu acho que não devemos atrapalhar os não-judeus que estão se convertendo a Deus. (vs. 19) Quando Paulo foi à casa de Tiago, em Jerusalém, este último —apesar de ser líder de uma igreja composta de cristãos-judeus, erroneamente zelosos quanto ao cumprimento da lei, fez menção dessa carta, admitindo que os não-judeus não estão obrigados ao cumprimento da lei...

Atos 21:25 : “Todavia, quanto aos que crêem dos gentios, já nós havemos escrito e achado por bem que nada disto observem...”

Os irmãos de Antioquia ficaram muito alegres, sentindo-se livres da carga que os crentes fariseus queriam colocar nas costas deles.

—Quer dizer então que o Concílio de Jerusalém resolveu que os não-judeus não deveriam ser circuncidados, segundo a lei?

— Claro! — Mesmo que Abraão tivesse se circuncidado? — Sim. — E pagar o dízimo, segundo a lei, deveriam? Não seria lógico, nem sensato aceitar o argumento de que

os cristãos não-judeus não devem ser circuncidados, mesmo que Abraão tivesse se circuncidado, mas devem dar o dízimo porque Abraão deu o dízimo —uma vez em 175 anos— e, ainda, do que não era dele!

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Capítulo 7

Cristãos Malaquianos ‘3:10’

“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa” (Malaquias 3:10)

“Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição” (Gálatas 3:10)

Da possibilidade de algum leitor abrir o livro neste

capítulo, sem ter lido os anteriores, uma pergunta importante deve ser feita:

“Vocês, irmãos, entendem que o dízimo é uma

contribuição obrigatória para o cristão? Se a resposta for ‘Sim. É obrigatória!’: Oferta é contribuição voluntária e livre, sem valor

estipulado; dízimo é contribuição obrigatória, com uma alíquota imposta —no caso, de 10% , segundo a atual ‘lei do dízimo’ adotada por parte dos cristãos— .

A obrigatoriedade já vincula o dízimo à Lei de Moisés. Mesmo que seja tácita —não se escreve ou se diz que é obrigado, mas aquele que não for dizimista não pode participar da ceia, ou ocupar cargo na igreja.... se não pagar vai acontecer isso ou aquilo de ruim, de maldição, etc....—.

Se não é da lei, qual é a outra referência bíblica de onde venha essa obrigatoriedade?

O cristão que está preso à contribuição obrigatória, deve ler ‘3:10’ não de Malaquias, mas de Gálatas.

Se a resposta for ‘Não é obrigatória. É uma contribuição

voluntária e livre’: Sei que há irmãos que dizem: “ Eu decidi em meu coração,

não por ser obrigado, mas com liberdade e alegria, contribuir

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mensalmente à proporção de 10% do meu ganho...”Aí o caso enquadra-se, não em Malaquias 3:10 , mas em 2 Coríntios 9:7.

Assim como, livremente, decidiram contribuir à base de 10% do rendimento —como oferta, ou contribuição mensal voluntária, mas não como imposto—, poderiam ter decidido que a base fosse de 9% , ou 11%, por exemplo, que não faria diferença, doutrinariamente falando.

Estou convicto de que os irmãos que têm pelo menos ou pouco de conhecimento bíblico e jurídico —sobre a lei de Moisés, Cartas de Paulo, obrigatoriedade...— dificilmente responderão que entendem que o cristão é obrigado a pagar o dízimo, ou que o dízimo seja uma contribuição obrigatória para o cristão, ainda mais os não-judeus. Não tenho a mesma convicção de que, diante da estrutura financeira de muitas igrejas totalmente dependente do dízimo, a maioria venha a revelar isso, abertamente, com medo de ser amordaçado, chamado de herético e mantido à distância pela liderança eclesiástica.

É espantosa a submissão harmoniosa que existe em muitas igrejas, do princípio do ‘não-poder-explicar’ ao do ‘não-interessa-entender’.

Por outro lado, sei como é difícil demover um malaquiano-

fanático e sem conhecimento bíblico nem jurídico, da sua fé na obrigatoriedade do cristão pagar o dízimo —na benção e maldição que atinge o cristão, decorrente do cumprimento de obrigação religiosa da lei—. Este tipo de cristão não reflete sobre argumento algum. Ele tapa os ouvidos com as duas mãos e repete bem alto, como uma ladainha: “ Não quero saber de nada, Malaquias 3: 10 diz: Trazei todos os dízimos à Casa do Tesouro....”

Essa atitude fanática não é baseada em outra coisa senão numa enraizada necessidade de acreditar que Malaquias foi um dos escritores dos Evangelhos....

“Evangelho de Malaquias”: No princípio era o dízimo e o dízimo estava com Deus.... .

....Ou que era apóstolo e escreveu cartas às Igrejas....

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“Malaquias, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, à igreja de Deus que está em Corinto..... Cada um dizime conforme a Lei de Moisés em seu coração, trazendo os dízimos à Casa do Tesouro”

Porém, no primeiro versículo de Malaquias está escrito: “Esta é a mensagem que o SENHOR Deus mandou Malaquias

entregar ao povo de Israel.”

Deus, através de Malaquias está falando à nação de Israel, entre 430 e 420 a.C.

Para entender a mensagem e não deturpá-la, não se pode fugir do contexto: O templo já havia sido reedificado (516-515 a.C), —tanto que o profeta faz menção da ‘Casa do Tesouro’— ; os sacrifícios e festas achavam-se restaurados ; mas uma grande apostasia ocorrera entre os sacerdotes e o povo (c. 433 a.C.) e Deus falou duramente com eles:

A palavra de Deus foi, em primeiro lugar, dirigida aos sacerdotes: “O SENHOR Todo-Poderoso diz: - Sacerdotes, eu estou falando com vocês.” Ml.2:1, repreendendo-os por não estarem fazendo o trabalho religioso direito, trazendo animal cego, coxo, enfermo para sacrificar. (Ml.1:8)

Deus recrimina não só os sacerdotes, mas, também, todo o povo. A nação inteira está amaldiçoada, pois todos estão roubando a Deus! Como? Primeiro: Não trazendo para os depósitos do Templo os alimentos que, das suas colheitas representassem os dízimos, para as festas religiosas e sustento dos levitas e sacerdotes. Segundo: Não trazendo os animais para serem imolados em oferta para Deus, a fim de serem purificados e de terem os pecados perdoados. Se o povo corrigisse esse erro, Deus prometeu abençoá-lo.

Vamos ler o texto? Ml.3:8-10 : “Eu pergunto: "Será que alguém pode roubar a Deus?" Mas vocês têm roubado e ainda me perguntam: "Como é que estamos te roubando?" Vocês me roubam nos dízimos e nas ofertas. Todos vocês estão me roubando, e por isso eu amaldiçôo a nação toda. Eu, o Senhor

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Todo-Poderoso, ordeno que tragam todos os seus dízimos aos depósitos do Templo, para que haja bastante comida na minha casa.”

Não requer nenhuma revelação especial —está ao alcance de todos— o entendimento de que, sempre que se lê o chamado ‘texto sagrado das contribuições’: —“Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa...(versão revista e atualizada)” —, já se faz a vinculação dos dízimos à Casa do Tesouro, e isso implica na vinculação ao Templo de Jerusalém —a Casa do Tesouro pertence ao Templo— e, seguindo o mesmo raciocínio, ao povo de Israel e à Lei de Moisés.

É uma gigantesca contradição ler Malaquias 3:10 e, em seguida dizer que o dízimo a que se está referindo não pertence à Lei de Moisés. No próprio livro de Malaquias está escrito, como conclusão: “Lembrem da Lei do meu servo Moisés, de todos os mandamentos e ensinamentos que eu dei a ele no monte

Sinai para todo o povo de Israel obedecer.” (4:4)

Três considerações breves sobre algumas expressões de Malaquias 3: 10:

Primeira expressão: ‘todos os dízimos’: Lê-se isso sem se dar conta do plural: Malaquias refere-se a mais de um dízimo — 1 pecuário: do gado + 2 agrícolas (seriam 3, se o dízimo para festas e o do pobre não fossem alternativos: no ano que tem um, não tem outro)— Aquele que paga 10% do seu rendimento, de qualquer fonte, jamais está cumprindo Malaquias 3:10 , mas sim, por exemplo, uma determinação da ‘resolução evangélica’ de 1878, um documento onde está escrito: “a igreja (evangélica) adota o sistema israelita de dízimos como obrigação para o crente, devendo este dedicar um décimo da sua renda, de qualquer fonte, à causa de Deus. 29

Segunda consideração: Quanto à expressão ‘à casa do Tesouro’, que refere-se aos depósitos de alimentos do Templo de Jerusalém. 29 Veja no capítulo ‘Breve história do dízimo’

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Considerem a Igreja que existiu até o ano 69 d.C , durante o período em que o Templo de Jerusalém (e a Casa do Tesouro junto) ainda não tinha sido destruído —o que aconteceu no ano 70 d.C.—. Nessa igreja, havia cristãos-judeus que, contrariando ao que o apóstolo Paulo ensinava, continuavam sob a lei, como a igreja de Jerusalém, liderada por Tiago.

Atos 21:15,18,19,20,21 Depois de passarmos alguns dias ali, juntamos as nossas coisas e fomos para Jerusalém. No dia seguinte Paulo foi conosco até a casa de Tiago para se encontrar com ele. E todos os presbíteros da igreja estavam presentes ali. Então Paulo os cumprimentou e deu um relatório completo de tudo o que Deus tinha feito por meio dele entre os não-judeus. Depois de o ouvirem, todos eles deram graças a Deus e disseram a Paulo: - Veja bem, irmão! Há milhares de judeus que se tornaram cristãos e todos eles são fiéis à Lei de Moisés. Eles ouviram dizer que você ensina os judeus que moram em outros países a abandonarem a Lei, dizendo a eles que não circuncidem os seus filhos, nem respeitem os costumes dos judeus.

Membros dessa igreja, que tivessem atividade agropecuária, muito provavelmente obedeciam Malaquias 3:10 quando diz: “Trazei todos os dízimos à Casa do Tesouro para que haja mantimento na minha casa... !” . Onde eles levavam os dízimos?

Qualquer mente minimamente reflexiva responderá que levavam ao Templo de Jerusalém, onde estavam os depósitos para alimentos, chamados ‘Casa do Tesouro’. Lá era o lugar escolhido por Deus para que os judeus levassem os dízimos:

Dt 12:5-6 : “mas recorrereis ao lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos para ali pôr o seu nome, para sua habitação, e ali vireis. A esse lugar trareis os vossos holocaustos e sacrifícios, e os vossos dízimos e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos e ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e ovelhas”

Mas as igrejas que seguiam os ensinamentos do apóstolo Paulo não faziam assim: Eram escolhidos irmãos confiáveis, idôneos, para levarem e entregarem as ofertas às igrejas necessitadas delas. Por exemplo, Tito levou a oferta das igrejas da Macedônia e de Corinto à igreja da Judéia...

2 Co 8:6 : “De modo que pedimos a Tito, que começou a recolher essas ofertas, que continuasse e ajudasse vocês a completarem esse serviço especial de amor.”

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2 Co 9:5a : “Por isso achei que era preciso pedir aos irmãos que fossem antes de mim para preparar a oferta que vocês prometeram. E assim, quando eu chegar aí, ela já estará pronta...”

Não há registro bíblico, nem histórico de que os cristãos

não-judeus pagassem dízimos, como também não há que sacrificassem cabritos e touros para cobrir pecados.

Agora, imaginem se o Templo de Jerusalém não tivesse

sido destruído e existisse até os dias de hoje. Obedecendo Malaquias 3: 10 , os cristãos-malaquianos teriam que entregar os dízimos lá na Casa do Tesouro do Templo de Jerusalém. Sem dúvida nenhuma.

Assim, se o Templo de Jerusalém existisse ainda hoje, tornaria muito claro que a igreja tem que decidir definitivamente se segue o cristianismo ou o judaísmo.

Foi essa a decisão que a igreja que existiu antes da destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C. teve que tomar! O ensino do apóstolo Paulo —válido para hoje— é de que o cristão deve desvincular-se totalmente das regras da lei de Moisés observadas pelo judaísmo.

Vocês percebem, irmãos, como Malaquias 3:10 refere-se

exclusivamente ao judaísmo, ao qual pertence o Templo Sagrado de Jerusalém e não ao cristianismo ao qual nem sequer pode ser adaptado?

Mas acontece que, os cristãos —que, originalmente

nunca tiveram nem templo, imagina sagrado, pois originalmente reuniam-se na casa de algum irmão— atualmente ‘compraram’ a franquia ‘Beyt HaMikdash’:‘Templo Sagrado’—com ‘Casa do Tesouro’ e tudo— dos judeus, e agora, os imóveis construídos, comprados ou alugados —desde as catedrais salomônicas até a ‘garaginha 3X2’— são lugares sagrados que Deus escolheu para Sua habitação (Dt.12:6), onde, segundo a regra da lei, obrigatoriamente se tem que pagar o dízimo.

Assim, o ‘Monte do Templo’, de Jerusalém, virou ‘um monte de templos espalhados em todo lugar ’, próprios ou

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alugados, grandes ou pequenos —todos feitos por mãos humanas— que disputam, numa violenta guerra do marketing, o privilégio de ser o endereço onde Deus habita —Cada um dos pastores, bispos, apóstolos competidores, ao invés de pregar o Evangelho de Jesus, prega o ‘lugar’, o ‘endereço da benção, do milagre, da vitória’—.

Vocês acreditam mesmo nisso, irmãos? Esqueceram-se que

o Senhor não habita em templos feitos por mãos humanas? (Atos 7:48). “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” I Co 3:16

Paulo escreveu aos irmãos cristãos judeus e não-judeus,

das igrejas às quais endereçou suas cartas, que eles deveriam contribuir com liberdade e não obrigados pela lei de Moisés — ‘não por obrigação’ I Co 9:7 .....todos ficarão sabendo que vocês deram ofertas porque quiseram e não porque foram obrigados. II Co 9:5” — pois não estavam mais debaixo da lei. Terceira consideração: sobre a expressão ‘para que haja mantimento”:

No caso das Catedrais: A palavra Catedral significa: onde está a cátedra, que é a ‘cadeira do bispo’.

Em muitas catedrais, ‘mantimento’ traduz-se por mansão faraônica; ‘Mantimento’ é jatinho particular; veículo importado: Bugatti, Lamborghini, Rolls-Royce, Ferrari....’; Mantimento’ é óculos Dior, terno Saville Row, Armani, maleta Louis Vuilton.... “Tragam todos os dízimos à ‘Casa do Tesouro’ para que haja mantimento!!!! A ‘Casa do Tesouro precisa de ‘mantimento”! Pobre não precisa de mantimento!

Já que em muitas Catedrais se fez uma adaptação do dízimo, do judaísmo para o ‘cristianismo’, eu pergunto:

“E o dízimo dos pobres??!!! E o princípio da tsedakáh: a caridade como ato de justiça?”

O sentido de Malaquias 3:10 aplicável ao que se tem feito é: “Vocês estão roubando os pobres!!!!”

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Também em igrejas pequeninas, de regiões pobres —em cidades do interior ou do sertão—, a atual lei do dízimo tem provocado enormes desigualdades: a generalização seria perserva, mas isso tem acontecido cada vez mais:

O líder age como se fosse o representante de Deus na Terra para recebimento de toda contribuição, sem que ninguém possa querer saber o que é feito com ela, pois ‘desejar saber é pecado’, ‘perguntar é pecar contra o Espírito Santo’. Assim ele tem vida luxuosa, de primeiro mundo, possuindo carros novíssimos e caríssimos, e todo o seu rendimento é proveniente, exclusivamente, dos dízimos pagos pelos membros muito pobres, de vida muito simples; a maioria vai à igreja de bicicleta, por ser a única condução que têm.

A lei dos dízimos dos judeus, que, na sua criação, visou a igualdade entre as tribos de Israel, foi adaptada pelos cristãos, propiciando o enriquecimento de uma minoria em desfavor da maioria.

Não gostaria de escrever isso. Mas, irmãos, leitores —e

imagino que escrevo para as melhores pessoas, íntegras, sinceras, tementes a Deus, comprometidas com a Palavra e o Reino de Deus...— não tem sido essa a realidade?

O ensino do apóstolo Paulo é incompreendido, ou

desconhecido, ou, ainda, erroneamente interpretado pelos cristãos-malaquianos atuais, que insistem em querer costurar o véu do Templo e ficar em volta do Monte Sinai esperando por Moisés.

O apóstolo Paulo, como bom judeu, fariseu, profundo conhecedor do Antigo Testamento, da Torah, da Lei de Moisés, após converter-se à mensagem cristã, pregou para aos seus irmãos judeus convertidos que deveriam afastar-se do que chamou de ‘obras da lei’: cerimônias, atos, rituais, sacrifícios, purificações, comemorações, simbolismos, como, por exemplo, circuncidar o filho aos 8 dias de vida, apresentá-lo no templo com 40 dias, fixar mezuzá nos umbrais das portas, tocar o shofar no templo sagrado, colocar sal no sacrifício, pagar dízimos....

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Paulo pregava que os judeus que criam em Jesus, precisavam libertarem-se da lei. Os não-judeus não estavam sujeitos a cumpri-la.

Ro:3:-28 : “o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.”

(vs. 21 e 22) Mas agora Deus já mostrou que o meio pelo qual ele aceita as pessoas não tem nada a ver com lei. A Lei de Moisés e os Profetas dão testemunho do seguinte: Deus aceita as pessoas por meio da fé que elas têm em Jesus Cristo.

Para ele a justificação pela fé consistia em viver os ensinamentos e preceitos deixados por Jesus Cristo, transparentes e profundos, como ele os formulara e vivera, sem quaisquer rituais, oferendas ou sacrifícios, sem liturgias ou formalismos da lei. Os cristãos, segundo o apóstolo dos gentios, não se apoiariam na lei e, sim, na fé, somente na fé, pura e viva; a Lei havia chegado ao fim!!! Vamos ler a Palavra de Deus:

Rom. 10:4 : Porque, com Cristo, a lei chegou ao fim, e assim os que crêem é que são aceitos por Deus.

“Chegou ao fim” tem, realmente, o sentido de ‘cessação da lei’ . Na ‘King James Version : “For Christ is the end of the law”.

É o que aparece nos finais de filmes americanos antigos: THE END: FIM! ACABOU!

Adultério Espiritual: O apóstolo Paulo escreveu sobre adultério espiritual.

Adultério espiritual? Existe isso? O que é? O texto é Romanos 7: 1-6 No começo, parece que o assunto de Paulo é apenas o

casamento entre homem e mulher e o problema do adultério, num triângulo amoroso.

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...A mulher casada está ligada pela lei ao marido enquanto ele estiver vivo; mas, se ele morrer, ela estará livre da lei que a liga ao marido. De modo que, se ela viver com outro homem enquanto o marido estiver vivo, ela será chamada de adúltera. Mas, se o marido morrer, ela estará legalmente livre e não cometerá adultério se casar com outro homem. (vs. 2 e 3)

Mas Paulo usou o casamento de um homem com uma mulher —e um possível caso extra-conjugal— como um exemplo para o que ele queria ensinar a respeito da igreja, a lei e Cristo.

“O mesmo acontece com vocês, meus irmãos. Do ponto de vista da lei....” (vs.4)

Vou usar como exemplo uma ‘irmã’, entre os irmãos da igreja, para facilitar o entendimento. A ‘irmã Maria’ está casada com a lei. A lei é o marido dela. Se a lei não tiver morrido para ela (conseqüência prática de ainda viver na lei) e ela pertencesse a Cristo, estaria cometendo ‘adultério espiritual’ .

Para que a irmã Maria possa pertencer a Cristo a lei tem que morrer —inteiramente— para ela.

E, é claro, não há jeito de morrer se não for inteiramente. Então eu aplico esse ensinamento para cada um de vocês,

meus irmãos, leitores: Se a lei de Moisés não morrer pra você e você disser que pertence a Cristo, está, na verdade, dizendo que é ADÚLTERO ESPIRITUAL.

A obrigatoriedade do pagamento do dízimo, segundo a lei de Moisés, evidenciada na coação de Malaquias 3:10 , consciente ou inconscientemente, pregada e praticada pela igreja, desconsiderando completamente a liberdade da contribuição ensinada pelo apóstolo Paulo, faz dessa igreja uma adúltera espiritual!!! A afirmação é grave, mas é verdadeira!!!

Dêem crédito, irmãos, ao que o apóstolo Paulo ensina aos Romanos 7:6:

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“Porém agora estamos livres da Lei porque já morremos para aquilo que nos tornava prisioneiros. Portanto, somos livres para servir a Deus, não da maneira antiga, obedecendo à Lei escrita, mas da maneira nova, obedecendo ao Espírito de Deus.”

...........................

Muitas igrejas dizem que o pagamento do dízimo não é obrigatório, mas, no entanto, quem não ‘dá’ o dízimo não pode participar da ceia, ou não pode exercer nenhuma liderança..... Isso é, sem dúvida nenhuma, uma obrigatoriedade tácita.

Li no jornal, nesta semana, que o PT (partido dos trabalhadores) —o qual cobra dízimo como contribuição partidária, de seus filiados que possuem cargos no governo— estava advertindo:

“Quem não fizer o pagamento do dízimo, ficará impedido de participar do Congresso Nacional do partido. Haverá representantes da Secretaria de Finanças do partido na porta do local do Congresso, com uma lista de nomes, para barrar a entrada dos filiados inadimplentes.”

Há alguns meses, ouvi, pelo rádio, um pastor informar os

ouvintes do número da conta da igreja para depósito do dízimo pelos fiéis. Ele deu instruções no sentido de que deveria o depositante guardar bem o comprovante do depósito, para apresentá-lo, no dia da ceia, aos diáconos que estarão posicionados junto às portas do templo, para cumprir a ordem da liderança de permitir a entrada apenas dos fiéis que comprovarem o pagamento do dízimo. Citou Malaquias 3:10 e concluiu: “Ladrão não pode participar da ceia!”

Duas coisas a comentar:

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1- Diante dessa coerção feita pelo partido político, quem pode dizer que não há obrigatoriedade do pagamento do ‘dízimo-contribuição-partidária’? 2- Há alguma diferença entre a coerção exercida pelo partido político e a coerção exercida por essa igreja? Alguém pode, em sã consciência, argumentar que não há obrigatoriedade do pagamento do ‘dízimo-contribuição-denominacional’ nessa e na maioria das igrejas?

A MALDIÇÃO:

Os pregadores ‘malaquianos’ afirmam que, segundo

Malaquias 3:10 , aquele que não paga o dízimo está debaixo de maldição.

Permitam-me dizer-lhes, em amor —longe de mim a intenção de ameaça—, que não é nenhum absurdo afirmar o contrário: Segundo ‘3:10’ de Gálatas, aquele que diz pagar o dízimo em cumprimento de ‘3:10’ de Malaquias é que está debaixo de maldição.

Por que? O apóstolo Paulo escreveu aos gálatas, alertando-os de

que não confiassem na obediência à lei, pois as Escrituras dizem que aquele que não obedece sempre a tudo o que está escrito na lei está debaixo de maldição. (Gl. 3:10)

Paulo disse isso por causa daqueles cristãos-judeus que estavam dizendo aos cristãos da Galácia que eles eram obrigados a obedecer a Lei de Moisés, pois se não o fizessem estariam amaldiçoados, conforme Deuteronômio 27:26). "Maldito seja aquele que não obedecer a essas leis de Deus!" E o povo responderá: "Amém!" O argumento de Paulo é de que não são, necessariamente, os que não cumprem a Lei de Moisés que estão debaixo de maldição, mas, sim os que são das obras da Lei.

“Cristo, tornando-se maldição por nós, nos livrou da maldição imposta pela lei. Como dizem as Escrituras: "Maldito todo aquele que for pendurado numa cruz!" Gálatas 3:13

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Não seria prudente, irmãos, lermos Gálatas 3:9, e darmos crédito ao que Paulo ensina?: “De modo que os da fé (têm fé em

Jesus) são abençoados...”

A salada na churrascaria

Três colegas de serviço estavam numa churrascaria, sábado à noite, comendo e conversando sobre a mensagem que tinham acabado de ouvir no ‘culto de jovens’, acontecido em uma igreja pentecostal tradicional...

Havia sido a primeira vez que eles haviam posto os pés numa igreja evangélica, por terem aceitado o convite de outro colega de serviço, o Cléber, que havia dado uma Bíblia para cada um deles que, começando a ler, interessaram-se pelo Evangelho, justamente pela referência que a vida do Cléber oferecia acerca da mensagem.

No início daquela semana, o Cléber havia lançado o convite:

—Vai ser um culto diferente. Bem pra jovem mesmo! O pregador vai ser o Tropical, um cara muito legal, que fala a linguagem dos jovens...

Porém, no culto de sábado, para surpresa do Cléber, o Tropical não pode ir e, justamente naquela noite, estava visitando a igreja um desses pregadores antigões, linha-dura, que há em todas as denominações ―‘batistossauros’, ‘assembleiodontes’, ‘presbiteriano rex’―. O pastor da igreja, sempre muito gentil e bondoso, pediu ao colega visitante ‘para dar uma saudação’. A ‘saudação’ acabou sendo uma longa pregação: sobre dízimo!

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Depois do culto, na churrascaria, a conversa dos três amigos —um com pouco, os outros dois sem nenhum conhecimento bíblico—, atravessada a todo instante pelos garçons, virou uma salada.... ( A fala dos garçons está em negrito)

—O som foi muito legal, mas aquele ‘levítico e deuteronômio’ foi muito chato!

—Todo mundo na humildade ali, ouvindo e o pregador já começou chamando a gente de ladrão!

—Tá boa essa costelinha, hein?.... —Hummmm.... —Esses 10%... A gente é obrigado a pagar? —Acho que é. —Quem foi que falou? —Um franguinho?.... —Só se for agora! Coxa de frango é tudo de bom! —O pregador falou que foi ‘Malaquias. —E se alguém puder dar só nove porcento? —Aí Deus não abençoa! —E se der onze? —Aí Deus abençoa um pouco mais! —Bolinha de mussarela? —Opa! Manda vê! —No que é usado esse dinheiro? —Não ouviu o pregador falar? É para que haja

mantimento na casa do tesouro. Antigamente, era para o levita, para as festas dos judeus e para os pobres.

—Levita? Aquele rapaz que cantou lá na frente? —Não. O Cléber me falou que na igreja dele não se chama

quem ‘canta no louvor’ de ‘levita’... —Ninguém levita... na maionese. —Maionese? Vou buscar. —Parece que só algumas igrejas ainda fazem as festas

dos judeus. Gostam de tocar aquele chifre lá ... Esqueci o nome...

—Tender? —É que essas festas são caras... Só as igrejas da ‘teoria’ da

prosperidade podem pagar....

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—Que maravilha! Esse tender tá uma maravilha! —Medalhão de contra filé ! —Aqui! —Tem aquela linguicinha apimentada, garçon? —E os pobres, a igreja não tem que ajudar os pobres? —Claro que tem! Com muita ou pouca pimenta? —A igreja diz que tem muita vontade de ajudar; morrem

de vontade!! Mas a prefeitura diz que não se deve fazer isso... — ‘Tendí’!... —Não dá pra eu ser membro da igreja, cara. Como eu vou

pagar 10% para a igreja se a faculdade é mais do que eu ganho no trampo....

—Mas você não ouviu a pregação? É melhor você parar com a ‘Facu’ e pagar. Senão aquele bicho devorador te pega....

—Cupim? —Só um pedacinho.... O pregador falou que, se não pagar em dia o dízimo, a casa

cai.... Muita gente tá numa fogueira aí, que nem aqueles três ‘amigos de Daniel’ lá.... o Sadraque, Mesaque e o ......

—Mandraque! —Isso! —Teve um outro mágico que quis dar dinheiro para Pedro

querendo comprar o poder de Deus.... —As coisas de Deus não se compram com dinheiro não!!!!

Tem uns caras com umas crocodilagens aí, querendo vender as benção no carnê ....

—Cheque pré-datado... —Cartão.. —Aceita?.... Lingüiça toscana, aceita? —Aceito! —Que salada, hein?! —Boa essa salada!! Alcança o molho aí pra mim! —Na boa, brother, tem uns irmãozinhos que só pagam

10% de medo da maldição e acham que são melhores que todo mundo. Já chegam no culto com um jeito, como se estivessem dizendo para os outros: ‘sai fora que a benção é só minha!

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—O Cléber falou que a lei de Moisés já morreu lá na cruz!!!!! Agora quem crê tem liberdade também para contribuir, por causa do...

—Cordeiro?! —É isso aí, garçon...

Depois de mais de uma hora de conversa e comilança... —Estão satisfeitos? Mais alguma coisa? —Só a conta....

Uns minutinhos de espera..... O garçon volta à mesa e

entrega-lhes a conta... —Esses 10%... A gente é obrigado a pagar? —Acho que é. —Quem foi que falou? Vai começar tudo de novo!!!!!!!!!!!!!

.....................

O dízimo do garçon

A questão é a seguinte: Restaurante cobra ‘o dízimo do

garçon’. Sobre isso, um internalta fez a seguinte pergunta:

“Tem uma coisa que me intriga toda vez que vou a um restaurante: a taxa de 10% que a gente paga pelos serviços. Existe alguma lei sobre isso? É obrigatório? O que acontece se eu não pagar? Eu posso não pagar?”

Entre outras pessoas, dois advogados responderam: O primeiro: “A cobrança compulsória fere o Código de

Defesa do Consumidor. Ao empregador —dono do restaurante— cabe o pagamento do salário de seus funcionários; não ao consumidor”

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O segundo: “Não, amigo, nem você nem ninguém está obrigado a pagar a chamada “taxa de 10% do garçom”. A prática da cobrança da taxa de 10% é costumeira, porém, costume não é Lei. Ou seja, ninguém está obrigado ao pagamento da taxa, em virtude do dispositivo constitucional que ensina que ‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’, contido no artigo 5º inciso II da Constituição Federal: .E não há lei que determine esse pagamento. Portanto, a gorjeta é mera liberalidade do cliente, ele quem escolhe se deve pagar ou não.”

Se não é obrigatório. Paga-se apenas por costume, questões éticas, coação psicológica, ou constrangimento. 10% é só uma sugestão!

A conversa dos três amigos, naquela noite, na churrascaria,

terminou com aquele tipo de ‘pergunta que não quer calar’: —O dono de restaurante não poderia afixar em algum

lugar bem visível ou escrever com destaque no cardápio: “O dízimo do garçon não é obrigatório. Mas, se alguém quiser, livremente, dar algum dinheiro —10% é só uma sugestão— esteja a vontade..” ?

—Bem que poderia. —Um pastor, ou bispo, ou outro líder religioso que não crê

na contribuição obrigatória, mas sim na voluntária, não deveria fazer o mesmo na sua igreja?!

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Capítulo 8

Meia-lei, meia-graça !!!!!

Para cristão que quer seguir a lei de Moisés como se judeu

fosse, um aviso: é uma rua sem saída, uma estrada desértica, desconhecida, areenta, sinuosa, dolorosamente sacudida por terremotos e furacões, cheia de cordilheiras de neves eternas, encostas abruptas de rocha viva, sem ter nem mesmo precárias pontes pênseis sobre abismos, que apenas UM judeu conseguiu trilhar vitoriosamente, até o fim. O último abismo foi a morte! (Rom.10:7)

Para o cristão que quer adaptar a lei para segui-la ‘como

cristão mesmo’, um conselho: Não faça isso! Repristinar (significa

repor em vigor uma lei revogada) nesse caso, é entrar em conflito inevitável com a obra do Eterno Sumo-sacerdote que, ao mesmo tempo, se fez sacrifício único e perfeito; é separar-se de Cristo; cair da graça! (Gal.5:4) é colocar-se debaixo do jugo de servidão (Gal.5:1) e de maldição’ (Gal.3:10).

Judeus atuais: Quando você fala com um judeu sobre dízimos (ma’aser)

—e eu fiz isso muitas vezes— ele já se lembra de dois aspectos importantes :

1 – Uma vez que não há mais levitas trabalhando no Templo Sagrado ,—nem Templo Sagrado existe mais— não há como pagar ‘ma’aser’ —dízimo— para os levitas (e os levitas para os sacerdotes) e para o Templo, incluindo as festas religiosas que eram nele realizadas.

2 – Restou o ‘dízimo do pobre’, que para o judeu, está ligado à um princípio de suma importância: praticar ‘tsedaká —caridade como um ato de justiça.

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Eu perguntei sobre dízimos a um rabino e ele respondeu-me que os judeus praticam o tsedaká. Copio minhas perguntas e as respostas dele, abaixo:

Sobre qual porcentagem do ganho— um bom judeu dá os dízimos hoje em dia?

“Com até 1/5 (20%) de seu ganho ele pratica a tsedakáh, se este valor estiver dentro de sua capacidade e não significar que terá que pedir ajuda a outros e depender de caridade, ele próprio”.

Há a orientação registrada em Shulchán Aruch Yore Dea 249:1 de que “É meritório dar 20%”

Do Manual do pensamento judaico. “The Handbook of Jewish Thought” (Vol 2, Maznaim Publishing.) extraio:

“Com a lembrança dos dois dízimos agrícolas, aprendemos que D’us não quer que usemos mais do que um quinto (20 por cento) de nossos recursos para caridade (tzedaká).”

Para quem os judeus dão o dízimo?

“Nós, os judeus, como prática do tsedaká, devemos doar para instituições e pessoas necessitadas, a nosso próprio critério. Procuramos entidades idôneas que conhecemos e confiamos, ou nas quais sabemos com certeza que o dinheiro será todo aplicado em obras assistenciais, ajuda a pobres e necessitados, custeio de estudos a estudantes carentes, e assim por diante A forma mais nobre de realizar uma doação é aquela em que aquele que recebe a doação nem imagina quem foi o doador. Nesse caso o agradecimento é só a D’us. Shalom” ...............................

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Cristãos atuais e o dízimo adaptado: A adaptação do dízimo, da lei de Moisés para os cristãos,

não encontra nenhuma base bíblica. A comprovação disso se nota, facilmente, através de

algumas perguntas feitas por internautas desorientados, e a respectiva ‘orientação bíblica’, de líderes religiosos —igualmente desorientados— pois feito ‘navegantes que navegam sem rumo’, eles dizem ou pensam que cumprem fielmente a ‘lei-do-dízimo’, mas, no fundo, sabem, ou pelo menos desconfiam, que, com essas adaptações humanas por conta, que foram feitas, esse dízimo-mix da lei e da graça, essa ‘pizza meio-a-meio’ : meia-graça, meia lei, esse dízimo-híbrido-de-cereais-e-dinheiro, ‘de gado e de cheque-pré-datado’, não encontra base, nem cá, nem lá, nem no Velho Testamento, nem no Novo Testamento.

Vejamos, pelas perguntas e respostas, se não é verdade:

(copiei na íntegra; contém erros de português; as perguntas dos internautas estão em negrito e segue-se a resposta dos líderes religiosos)

Gostaria que o senhor me confirmasse: devemos dar o dízimo do bruto ou do líquido? Caro amigo: Deve-se dar o dízimo do bruto, pois todos os descontos do salário são usados para você. Por exemplo, os descontos do INSS, atendimento médico, vale refeição, tudo é para o seu uso próprio. Por isso, o dízimo tem que ser do bruto. Já é diferente com o empresário e o comerciante, ele não pode dar do bruto, pois irá falir. Uma empresa é diferente de uma pessoa. Meu marido não é crente - eu sou dona de casa, não tenho rendimentos - como posso dar o dízimo? Dê sobre o valor que seu marido dá para a senhora, para as despesas da casa, como ir ao supermercado, ou fazer outras

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compras. Também sobre despesas pessoais com ‘cabereileira’, manicure e outras coisas. Sou divorciado e pago pensão. Tenho que pagar o dízimo sobre o valor incluindo a pensão, ou a minha ex-esposa é que tem que pagar o dízimo do que eu dou a ela? Você e a sua ex-esposa tem que pagar o dízimo, se os dois forem crentes, pois ambos receberam o dinheiro. Só se vocês se casarem-se de novo com outras pessoas que não são crentes, que a coisa muda de figura e precisa ser estudada com calma para ver como é que fica. Recebo pensão do meu ex-marido. Mas é para os nossos 2 filhos menores; eu tenho que pagar o dízimo do valor que é creditado por ter a guarda deles? Ou cabe ao meu ex-marido? Os pais, mesmo separados, devem repartir as responsabilidades de pagar o dízimo com os filhos, para que toda a família, mesmo que já não exista mais, seja abençoada. Fiquei desempregado e recebi direitos trabalhistas. Devo dar o dízimo em cima deles? Tem que pagar o dízimo sim, com toda certeza. Eu só não sei dizer como são feitos os cálculos nesse caso. Parei alguns meses de dar o dízimo. Tenho que pagar o atrasado? Quando o homem paga o dízimo atrazado Deus faz três coisas: 1)O livra dos gafanhotos do inferno 2) Devolve em dobro o que o diabo lhe roubou. 3) Derrama o Espírito Santo. O dízimo retido na fonte é legal? É bíblico? Um pastor respondeu: “É legal e é bíblico. É automatizar a fidelidade.” (A justiça também respondeu: Uma decisão judicial deu à uma professora o direito de receber de volta o dinheiro que foi descontado – durante 9 anos — do salário dela a título de "dízimo" e repassado à uma Igreja.

Da sentença: “O Tribunal Superior do Trabalho, por m eio da Súm ula 342, já se pronunciou sobre a m atéria, reconhecendo com o válidos outros descontos salariais efetuados em folhas de pagam ento dos trabalhadores, m as dentre esses descontos não consta o cham ado ‘dízim o’. A ssim sendo, defiro o pedido de ressarcim ento dos descontos efetuados nos salários da autora, à título de “dízim o”)

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Os dízimos são muito mal administrados pelo pastor da minha igreja (Ele pega tudo pra ele) Não devo eu mesmo administrar e repartir o meu dízimo com os missionários ? Não, a Bíblia diz que quando você dizima a sua mão esquerda não deve saber o que a sua mão direita faz. Você não deve querer saber o que os administradores do dízimo da Casa de Deus fazem com o dinheiro. Também não pode dar o dinheiro para os missionários porque eles não são a Casa do Tesouro. Quando Deus instituiu o dízimo? Quando Deus criou o homem. Ele concedeu ao ser humano o direito e o privilégio de administrar todos os bens na Terra, porém exigiu a décima parte de todo o trabalho do homem. Essa é a doutrina da mordomia que temos que cumprir. Ganhei uma certa quantia em dinheiro em um sorteio. Gostaria de saber se devo dar o dízimo desse valor, já que, segundo alguns pregadores, o dinheiro proveniente de um sorteio ou jogo é amaldiçoado. Você cometeu um erro quando jogou e está prestes a errar novamente, não concedendo ao Senhor o que é dEle. Eu comprei um carro por R$ 10.000,00 . Mas, um dia depois, houve um caso de força maior e eu precisei do dinheiro. Quem me vendeu não quis desfazer o negócio e eu tive que vender numa loja de carros que me pagou R$ 9.000,00 . Mesmo que eu tive prejuízo, devo dar dízimo? Com certeza deve dar R$ 1.900,00 (10%) de dizimo, já que se trata de dois negócios diferentes. O que a minha empresa fatura não tem sido suficiente para pagar os empregados e os impostos do governo, não dá para pagar o dízimo. Deus não considera essa situação e tem misericórdia de mim? Aí o caso não é de misericórdia, mas é da permissão de Deus. Se o crente não paga o dízimo ele permite que os demônios entrem. Exemplo do que fez com os criadores de porcos de Gadara. Jesus permitiu à legião de demônios que se apossasse

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dos porcos porque seus donos eram infiéis no dízimo. Não contavam com tamanho prejuízo. Mas e se sou dizimista e Deus não me abençoa? O dízimo serve para manter o que você já tem. Se você pretende ficar rico apenas dando o dízimo, é possível, mas irá demorar um pouco mais. Se você pretende enriquecer rápido então é aí que entram as ofertas e os votos. Estou com meu nome sujo. Será que é porque eu não sou dizimista? Os gafanhotos devoradores comem 24 horas sem parar, defecam na mesma hora, sujando tudo. Quando agem na vida do homem também sujam seu nome. Por que a gente tem que pagar dízimo, 10% ? Este número tipifica bênção, perfeição. Um exemplo disso são os dez dedos das mãos que Deus deu ao homem. Os gafanhotos de Joel são demônios? Sem dúvida. Gafanhoto Cortador: Tranca Rua. Gafanhoto Migrador: Pomba Gira. Gafanhoto Devorador: Preto Velho. Gafanhoto Destruidor: Exu Caveira. Ganho salário mínimo - não posso dar o dízimo! Vou ser amaldiçoado? Só de você ganhar salário mínimo já está amaldiçoado. É preciso amarrar a ação do demônio cortador, do migrador, do devorador e do destruidor. E esse tipo de devorador não é repreendido em nome de Jesus. O antídoto, que é o segredo para o cristão ter vitória sobre esses males, é o dízimo. Só o dízimo repreende, impede de agir no patrimônio, salários e bens. Se eu não pagar o dízimo, vou para o inferno? A Bíblia diz, em Malaquias 3:10, que quem não paga o dízimo é ladrão e os ladrões não entrarão no reino dos céus.

O despautério dessas respostas e argumentações, na pretensão de justificar a cobrança do dízimo, me remetem definitivamente para as coletas voluntárias, do tipo que aquela gente boa de Deus levantavam, com alegria, na minha saudosa e

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querida igrejinha simples do interior30, —e a mamãe ali junto sempre me dava um dinheirinho pra que eu não deixasse de participar, com alegria, não por obrigação, sem constrangimento—, quando eu era criança, em ‘Hum mil novecentos e guaraná de rolha’. Ah! meu Deus! Que saudade!!

O que me deixa perplexo é que, já que no ‘Monte do

Templo, em Jerusalém, não há mais Templo, muitos judeus levam em conta o princípio da lei (tsedakáh —caridade como um ato de justiça—) e dão uma parte da renda aos pobres. E é meritório, não sendo obrigatório, que o façam anonimamente e dêem 20%.

E muitos cristãos, por mais incrível que pareça, leva em conta a regra da lei judaica —do lugar sagrado (um monte de templos) onde se tem que entregar o dízimo—, e, desprezando inteiramente o princípio do ato de bondade e justiça, estão completamente esquecidos dos pobres.

30 IPI de Salto Grande – SP.

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Capítulo 9

BREVE HISTÓRIA DO DÍZIMO NA IGREJA

A Igreja simples, primitiva, contribuía com liberdade, como se vê pelo depoimento de alguns antigos ‘pais da igreja’:

“Os ricos entre nós ajudam os mais necessitados . . . Os

que são abastados, e têm boa disposição, dão o que julgam apropriado.” — The First Apology (A Primeira Apologia), Justino, o Mártir, c. 150 EC.

“Os judeus realmente dedicavam os dízimos de seus produtos a Ele (Deus), mas os que foram libertados destinam todos os seus bens à obra do Senhor. O dizimar é lei judaica que não se requer dos cristãos, porque os cristãos receberam a liberdade e devem dar sem constrangimento (Haer. 4, 18, 2)....” — Against Heresies (Contra as Heresias), Irineu, c. de 180 EC.

O Evangelho levou à consumação as obrigações rituais e

disciplinares da lei de Moisés, colocando o definitivo em lugar do

provisório. Cf S. Irineu Adv. Haer. IV 18,2

“Embora tenhamos nosso cofre, este não é constituído de dinheiro [para comprar a salvação], como no caso de uma religião que tem seu preço. No dia mensal, se deseja, cada qual deposita um donativo; mas apenas se for de seu agrado, e apenas se puder; pois não há compulsão; tudo é voluntário.” — Apologia, Tertuliano, c. de 197 EC.

Orígenes considerava o dízimo como algo ultrapassado, de longe, para os cristãos nas suas distribuições. (In Num.hom.11).

A Didascália, compêndio de normas eclesiásticas

oriundo da Síria entre 250 e 300, refere-se a um ensinamento muito rico neste propósito:

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“O Senhor vos libertou... para não estardes mais presos aos sacrifícios, às oferendas... e também aos dízimos, às primícias, às oblações, aos dons e aos presentes; outrora era absolutamente necessário dar essas coisas. Mas já não estais obrigados por tais determinações. Por isto, na medida em que o puderdes, terás o cuidado de dar”.

O que impulsionava a igreja simples a contribuir era a

bondade, justiça, alegria, gratidão..... .............. Cipriano, em Cartago, África do norte, por volta do

ano 250 a.D. foi o primeiro cristão a mencionar sustentar financeiramente o clero pelo dízimo, assim como os judeus sustentavam os levitas. Não foi apoiado.

Outros líderes defenderam isso, mas só 300 anos depois a pregação da obrigatoriedade do dízimo tornou-se mais efetiva.

‘The Catholic Encyclopedia’ —A Enciclopédia Católica— registra: “Com a expansão da Igreja tornou-se necessário criar leis que garantissem permanentemente o devido sustento do clero. O pagamento de dízimos foi adotado da Lei de Moisés... A legislação mais antiga sobre esse assunto parece estar registrada na carta dos bispos reunidos em Tours, em 567, e nos cânones do Concílio de Macon, realizado em 585.” —

‘The American Encyclopedia’ —A Enciclopédia Americana— confirma: “O Concílio de Tours, em 567, e o segundo Concílio de Macon, em 585, advogaram o pagamento do dízimo. . . .

Como lemos, a partir do sexto século os concílios da Igreja foram reafirmando o dever do dízimo, adotado da lei de Moisés. O Sínodo de Tours, em 567 decidiu tornar o dízimo

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obrigatório na região. O Sínodo de Macon em 585 determinou a excomunhão daqueles que se recusassem a dizimar.

No século sétimo, o próprio poder civil apoiou o rigor com

que a Igreja passou a exigir o dízimo dos fiéis. Foi quando Carlos Magno instituiu legalmente o dízimo

e tornou-se obrigatório em seu reino. A lei capitular dita “de Heristal”, em 779 d.C., uma

legislação eclesiástica com uma sanção civil, manda aos cidadãos franceses pagar o dízimo à Igreja, ficando o bispo encarregado de o administrar; os contraventores sofreriam a sanção imposta aos infratores das leis civis, ou seja, a multa de 60 soldos.

Montesquieu, filósofo francês, escreveu sobre isso em seu livro “Do espírito das leis” – capítulo XII – volume II – , contando que Carlos Magno estabeleceu o pagamento de dízimos e antes dele, não estavam estabelecidos. Leiamos:

“Isso levou Carlos Magno a estabelecer os dízimos,

novo gênero de bem.... Mas afirmo que antes deste príncipe os dízimos podiam ser pregados, mas não estavam estabelecidos”.

Mas, a princípio, o povo não aceitou pagá-lo e era

difícil recebê-lo pelas leis civis. Conta Montesquieu: O projeto de Carlos Magno não obteve êxito inicialmente;

esse encargo pareceu esmagador. . Podemos ver nas disposições acrescentadas à lei dos lombardos, a dificuldade encontrada para obter o recebimento dos dízimos pelas leis civis; podemos apreciar, pelos diferentes cânones dos concílios, a maneira encontrada para obter o recebimento pelas leis eclesiásticas.

O sínodo de Francforte lhe apresentou um motivo mais constrangedor para pagar os dízimos. Fez aí uma capitular (publicação de resolução de assembléia eclesiástica) na qual se declara que, na última fome, espigas de milho foram encontradas, que elas tinham sido devoradas por demônios e que se tinham ouvido suas vozes que exprobravam (censuravam com veemência) o fato de os dízimos não terem sido pagos; E foi

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ordenado a todos que pagassem dizimo. Finalmente, consentiu o povo em pagar os dízimos. ” O historiador francês Le Nain de Tillemont (séc.17) conta que, certa vez, a arredação dos dízimos estava deixando muito a desejar, então a Igreja divulgou entre o povo a ‘Carta de Jesus Cristo’, escrita no céu, mandando os cristãos pagarem o dízimo.

Vê-se, irmãos, a exemplo do que contam Montesquieu e

Tillemont, que a coerção que a igreja exerce sobre o povo, inventando estórias —de demônios devoradores que causam miséria; de que Jesus tenha mandado, por carta escrita no céu, os cristãos pagarem dízimo— vem de longa data. A propósito, não consta na Bíblia que Jesus tenha escrito alguma coisa, senão na areia...

A partir da Revolução Francesa (1789).

o dízimo caiu no franco desagrado dos fiéis cristãos. Com efeito, destinado a atender as paróquias, os dízimos, em sua maior parte, caíam nas mãos do alto clero e instituições estranhas ao serviço paroquial. Os grandes arrecadadores de dízimos, bispos prelados31, eram por demais prósperos (milionários), assim também os leigos que adquiriam títulos eclesiásticos, exclusivamente para se beneficiar dos rendimentos materiais respectivos, ao passo que a grande parte dos presbíteros recebia côngrua — sustento— insuficiente.

Os magistrados, o baixo clero e os agricultores eram

contrários a este tipo de imposto. Em conseqüência, numerosos libelos —artigos de caráter crítico e satírico— foram enviados ao parlamento francês, pedindo a supressão dos dízimos.

31 Bispo prelado não é ‘bispo nu, sem roupa’ . É o bispo superior! Perto dos ‘bispos prelados’ do séc. 21, os do séc. 18 não seriam nada mais do que ‘bispos ..... com uma roupinha só, bem surrada... bem pobrezinhos...’

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A Assembléia Constituinte de França resolveu finalmente extinguir esse uso. Na noite de 4 de agosto de 1789, os deputados do clero renunciaram aos seus privilégios e, em particular, aos dízimos. Aos 21 de setembro de 1789, o rei Luis XVI promulgou o decreto que declarava extinta a praxe dos dízimos.

A nova legislação francesa estendeu-se às demais nações

européias, de sorte que até 1848 foi abolida em todo o continente europeu, a cobrança dos dízimos; ficou apenas uma pequena porção da Itália sujeita a esse regime, até 1887.

Os abusos, enriquecimentos ilícitos, o espírito capitalista da prática do dízimo, tornou-a muito antipática ao povo de Deus, levando-a ao descrédito, ao declínio e, finalmente, ao desuso.

A Igreja então começou a cobrar taxas pelos serviços

religiosos. Depois de um tempo, considerou-as ‘pastoralmente inadequadas’e adotou o conceito de que o dízimo seria um termo referente a um percentual escolhido facultativamente pelo doador, conforme publicado na revista “A Família Cristã”, novembro de 1976, pág 47. “...acerca do qual a igreja faz apenas uma proposta sugestiva de 1% (um por cento) das rendas do doador, podendo ser mais que isso, menos, ou, em casos extremos de pobreza, nada”.

Em 28 de junho de 2005, o Papa Bento XVI, conforme Compêndio do Catecismo por ele promulgado, extinguiu o dízimo!! O Quinto Mandamento da Igreja Católica que era:

Pagar Dízimo, segundo o costume.

Agora é

Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades.

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...........

A reforma rompeu a unidade do cristianismo, surgindo a

igreja protestante, composta por cristãos reformados que se opunham a Roma.

Na wikipédia há a informação de que “desde a Reforma as igrejas protestantes tradicionais creêm que sob a Graça o dízimo não é válido visto que o Sacrifício de Cristo cumpriu a Tora.” http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%Adzimo

Porém, em pouco tempo o protestantismo caracterizou-se pela diversidade de igrejas e confissões.

Até o século 16, o clero católico, que não podia ser contestado, detinha o monopólio da interpretação da Escritura Sagrada, à qual o povo não tinha acesso —tanto por causa do analfabetismo que imperava quanto pela falta de interesse da liderança da Igreja em que o povo conhecesse o Texto Sagrado—. Assim, havia uma uniformidade de doutrina, mantida com mão de ferro.

A partir da Reforma, a Sagrada Escritura felizmente começou a ser lida e estudada por todo o povo. Mas, a liberdade de acesso à Escritura, inevitavelmente, teve um indesejável efeito colateral: a multiplicidade de interpretações conflitantes entre si, como aconteceu no caso da doutrina do dízimo.

Quase não há documentos evangélicos sobre o dízimo. A

título de exemplo, há um de 1878, que constitui-se em uma ‘resolução evangélica’. Refere-se à ‘Benevolência Sistemática’, ou

‘O Plano Bíblico de Sustento do Ministério’, mencionando: “a igreja (evangélica) adota o sistema israelita de dízimos como obrigação para o crente, devendo este dedicar um décimo da sua renda, de qualquer fonte, à causa de Deus. Declaração preparada pela comissão designada na Assembléia da Associação Geral, 2-13/10/1878, sob o título “Systematic Benevolence; or the Bible Plan of Supporting the Ministry” (Parousia ano 2, N.º 2 pág. 16/17)

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Até hoje, grande parte das igrejas ainda seguem essa

resolução, persuadindo ou obrigando —expressa ou tácitamente— os membros a pagar 10% da renda de qualquer fonte.

Tristemente, a exemplo do que ocorreu com a igreja antes da reforma, também há por parte da maioria da liderança evangélica a falta de interesse em que o povo conheça e discuta a história e a doutrina bíblica do dízimo, havendo poucos documentos. Se não se permite falar, imagine escrever.

História do Dízimo no Brasil No Brasil, a cobrança do dízimo começou pelo sistema português da sesmaria —que regulamentava o arrendamento a particulares da terra destinada à produção—, adaptado para atender aos interesses da Igreja Católica, com uma exigência adicional: o pagamento do dízimo à Ordem de Cristo!

O Estado cobrava o dízimo como um imposto e repassava parte para a Igreja.

Á exemplo dos dízimos ordenados por Deus aos

israelitas, era um ônus sobre a produção e incidia sobre a agricultura e a pecuária coloniais.

A pastoral de 10 de julho de 1751, de D.Antônio do Desterro, condenava aos que não pagavam o dízimo porque eram pagos a um príncipe não eclesiástico. Mandava aos párocos que os admoestassem no confessionário e no púlpito como penitentes. Especificava a obrigação de entregar os dízimos dos frutos da terra, sendo enumerados itens que compunham praticamente toda a produção agrícola do Brasil-Colônia, de açúcar até favas, limas e aipins, aguardente... e a produção pecuária, incluindo perus, manteiga, queijo.... (LONDOÑO, F. T. Sob a autoridade do pastor e a sujeição...)

Depois, o tributo eclesiástico passou a ser cobrado

inclusive de quem não possuísse terra, já que, argumentava-se,

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como cristãos, todos, produtores ou não, deveriam contribuir para a propagação da fé.

É interessante ler o que consta sobre ‘dízimo’ no primeiro

grande dicionário da nossa língua, lançado no início do século 18: “Vocabulário Português e Latino”, de Rafael Bluteau.: “A décima parte, que é paga às Igrejas, párocos delas, e pessoas eclesiásticas para sua côngrua sustentação; que assim como estes sustentam aos fiéis com o pasto espiritual da doutrina e sacramentos, assim é razão, que os fiéis sustentem aos tais ministros com a décima parte dos frutos que colhem”.

Bluteau era padre. Os dízimos foram cobrados dessa maneira até a

proclamação da República em 1889. Nessa ocasião a Igreja separou-se do Estado e o ‘padroado’, ou seja, o regime de sustentação da Igreja e do clero pelo Estado através do dízimo cobrado como imposto, foi eliminado...

A Igreja então começou a cobrar taxas pelos serviços religiosos.32

Em 1969, considerando o sistema de pagamento de taxas ‘pastoralmente inadequado’, o dízimo voltou a ser implantado na Igreja Católica, mas com percentual escolhido facultativamente pelo doador, com apenas uma proposta sugestiva de 1 %

Por fim, em 2005, a mudança no 5º mandamento católico,

de ‘pagar o dízimo, segundo o costume’ para ‘Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades.’, foi publicado em nosso país pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Quanto às denominações evangélicas pioneiras e

tradicionais, suas histórias —desde a chegada, em navios, a partir

32 —Hoje, muito mais, vemos essa tristeza acontecendo também

na igreja ‘evangélica’: se cobra e se paga taxa para pregar, taxa para cantar, taxa para dar testemunho de conversão...—

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do século 19, dos primeiros missionários, de dedicação, fé, compromisso com o Evangelho e o Reino de Deus, em meio à grandes perseguições, não mereciam ser confundidas com as histórias recentes de muitas denominações atuais, constituídas às milhares, por gente unicamente atraída pelo dízimo. Negociantes que, com o intuito de enriquecer-se, fazem as contas e empolgam-se com as possibilidades: “Se eu conseguir dez membros —clientes interessados em serviços religiosos— já ganho, todo mês, o salário médio deles, fora as ofertas! Se forem cem então... Se forem mil...!!!. A razão de ser do ministério de muitos é o crescimento que faz o dízimo aumentar... e com ele a sua conta bancária pessoal.

Infelizmente, irmãos, essa é uma ‘breve e triste história do dízimo na igreja’....

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Capítulo 10

Corbã

“E assim por causa da vossa tradição invalidastes a palavra de Deus” Mt.15: 6

A prática da tradição chamada Corbã —palavra aramaica que significa "oferta"— foi censurada com veemência por Jesus....

Marcos 7:7-13: “Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. (vs.7) .... Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe...(vs. 10) .... Mas vós dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderías aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor (v.11) .... não mais lhe permitis fazer coisa alguma por seu pai ou por sua mãe (vs. 12).... invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição que vós transmitistes; também muitas outras coisas semelhantes fazeis. (v.13)

“Não adianta nada adorar a Deus e ensinar doutrinas humanas.” Foi o que Jesus falou aos escribas e fariseus, em relação a esse ensino deles, em conluio com os sacerdotes, de que os israelitas poderiam ir ao templo e dizer “Corbã!” e dar ‘a Deus’ —na verdade, aos próprios sacerdotes— o bem ou dinheiro que era necessário em casa, para a família, principalmente aos pais —idosos, ou enfermos— que a lei manda o filho honrar, no sentido de cuidar, sustentar...

Esses ‘especialistas da lei’, ‘guardiões da tradição judaica’, adicionaram à vida religiosa do israelita um preceito humano que, segundo alegavam, Moisés havia dado oralmente aos anciãos de Israel e, depois, havia sido transmitido de geração a geração.

Assim ‘corbã’ ficou tendo o significado —que eu adoto neste livro— : ‘Uma tradição que invalida a palavra de Deus’

Também ensina-se coisas como essa hoje em dia. Por exemplo: Que, mesmo que seja o único dinheiro que alguém tenha para cuidar da família, é agradável a Deus, que, seja, preferencialmente, dado à igreja, como oferta e dízimo.

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Paulo escreveu para Timóteo: “Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da

sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo.” I Timóteo 5:8 Aquele que nega a fé e é pior que o incrédulo não agrada a

Deus! Esse é um exemplo de tradição que invalida a Palavra de

Deus, por estar em conflito com ela.

Neste capítulo, basicamente, diante das duas tradições que serão relatadas, há uma questão a ser respondida: “Essa tradição é, ou não é, corbã?!

1) Os cristãos apresentam seus filhos bebês na igreja, obtendo uma oração do pastor ou ancião. Essa tradição é corbã?!

(Extraio, da ‘Bíblia On Line’, a pergunta de uma internalta):

“Tenho uma filha de 1 ano e cinco meses e por descuido ainda não a apresentei na igreja. Um cunhado meu falou que é um absurdo e que ele conhece um casal que não apresentou a filha e ela começou a ficar doente direto. Isto é verdade? Estou até com vergonha de apresentá-la nesta idade. O que faço?”

Resposta: Olá Amiga. Acredito que dedicar um filho ao Senhor é um importante passo para a educação de uma criança nos caminhos do Senhor. Dedicá-la ao Senhor publicamente terá grande influência positiva para a vida de sua filha. Não que se ela não for dedicada Deus irá puní-la com doenças, etc.

Acredito que não deva se envergonhar de fazer isto só agora, pois cada pessoa tem o seu tempo e suas particularidades. Faça isso de cabeça erguida. Ninguém precisa saber o por que não foi feito antes. O importante é não se envergonhar depois de nunca ter dedicado a sua filha a Deus como foi o exemplo da vida de Jesus.

(Lucas 2:22 NTLH): “Chegou o dia de Maria e José cumprirem a cerimônia da purificação, conforme manda a Lei de Moisés. Então eles levaram a criança para Jerusalém a fim de apresentá-la ao Senhor.”

Atenciosamente, EQUIPE DE CONSELHEIROS BÍBLIA ONLINE

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A equipe de conselheiros da Bíblia ONLINE, pessoas de mente sensata e racional, interpretando a situação contada pela ‘amiga’ que lhes escreveu, pelo conjunto da Palavra de Deus, sem basear-se em textos isolados, na minha opinião deram um bom conselho, que ninguém há de impugnar. Essa ‘amiga’ tem uma filhinha com um ano e cinco meses que não foi apresentada na Igreja e ela gostaria de apresentá-la, mesmo porque tinha ficado preocupada devido ao que lhe contou o cunhado, que conhecia um casal que não ‘apresentou’ a filha que, devido a isto, “começou a ficar sempre doente direto”

( Olha aí os sintomas da neurose se manifestando...) Os conselheiros responderam bem: “Não que se ela não

for dedicada, Deus irá puní-la com doenças, etc....”

A apresentação de bebês é, sem dúvida, um dos 613 mandamentos da lei de Moisés. O menino deve ser apresentado com 40 dias de vida e a menina com 80. (Lv. 12:5-8) Jesus, sendo judeu, além de ter sido circuncidado com 8 dias (Lc.2:21), foi apresentado ao Senhor. José e Maria, por serem pobres, conforme a lei de Moisés, ofereceram em sacrifício 2 pombinhos e 2 rolinhas 33 .

Lc. 2:24: Eles foram lá também para oferecer em sacrifício duas rolinhas ou dois pombinhos, como a Lei do Senhor manda.”

A equipe de bons conselheiros, mesmo tendo mencionado,

como exemplo, a apresentação de Jesus, segundo a lei de Moisés,

33 As duas últimas palavras que havia escrito nesta folha eram: ‘Duas rolinhas’. Fiz uma pausa para orar. Em meio à oração, duas rolinhas, de pena e osso, entraram no meu pequeno escritório, pela porta que dá para uma laje, e ficaram uns 20 segundos voando, uma atrás da outra, em círculos, acima da minha cabeça. Depois saíram por onde entraram. Seria uma coincidência? Algum sinal de Deus? Nas circunstância em que isso aconteceu, foi algo que me deu muita alegria e mais ânimo para continuar este livro.

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entendeu que, não seria isso que tornaria obrigatória a apresentação das filhas dos cristãos com 80 dias, e que a mãe deveria, de cabeça erguida, apresentar a menina ao Senhor.

Ao que tudo indica, a igreja freqüentada pela ‘internalta’, não exige e nem sequer sugere que a criança tenha a idade determinada pela lei para apresentá-la. Nunca eu soube de uma igreja ter feito tal exigência ou sugestão.

Sendo assim.... • Havendo liberdade para que os pais ou responsáveis pelo

bebê decidam a idade com que ele será apresentado, sem obrigatoriedade que venha da lei;

• Uma vez que não há nenhum ensino no Novo Testamento quanto à apresentação de bebês, filhos de cristãos (a Bíblia só se refere à apresentação de crianças judias), que esteja em conflito com a cerimônia que é feita na igreja...

....entendo que essa tradição não invalida a Palavra de Deus, portanto é uma tradição boa e recomendável; não é corbã!

2) E a contribuição obrigatória —dízimo— dos cristãos: é uma tradição boa e recomendável, ou é corbã?

Imagine que uma outra ‘amiga’ escrevesse para os mesmos conselheiros e expusesse o seguinte problema:

Pergunta: “Meu marido é um homem de um coração muito justo e bondoso, sensível às dificuldades dos outros, não é avarento e tem prazer em oferecer ajuda. Gosta de contribuir para o sustento dos que vivem do Evangelho, trabalho missionário e demais atividades da igreja que tenham bons propósitos e intenções. Sempre contribui com alegria. Mas nunca deu certinho 10% do rendimento dele, conforme a atual lei do dízimo. Quando estávamos numa situação financeira melhor ele sempre contribuiu, voluntariamente, com mais de 10%. Mas, acontece que, atualmente, estamos passando por dificuldades financeiras e nem sempre a contribuição chega a 10% do que ele ganha. Se fizermos as contas, um mês por outro, talvez esteja entre 6 e 8 % . Meu cunhado disse que isso é um absurdo. Que meu marido tem que pagar o dízimo, pois ele conhece um casal

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que não paga o dízimo e bateu o carro, os eletrodomésticos estão quebrando, a filha deles começou a ficar doente direto.... Isto é verdade?

Estou com vergonha de ir à igreja, pois, apesar de nunca meu marido ter sido dizimista —dava mais de 10%— quando começou a dar menos de 10% , o pastor colocou o nome dele na lista de ‘dizimistas-infiéis’ afixada na porta de entrada da igreja. E, nos sermões, principalmente quando lê Malaquias 3:10, fica olhando pra ele e ameaçando-o com o demônio devorador; até chamando-o de ladrão.... O que faço?”

Uma resposta (ao molde —quase as mesmas

frases— da resposta dos conselheiros): Olá Amiga, Acredito que contribuir, com alegria e sem

constrangimento, é algo muito positivo na vida do seu marido. Meu incentivo é para que ele continue separando, de acordo com o que puder e conforme decidir em seu coração bondoso, ofertas amorosas e cheias de gratidão e as dê, como um ato de bondade e de justiça. Deus, que conhece os pensamentos, sentimentos e intenções, sabe da generosidade espontânea com que seu marido contribui, sem ter os olhos no lucro e nem cheios de medo de maldições. Longe de ser uma barganha, o Senhor tem prazer em fazer com que ele tenha sempre mais, para que, em tudo tenha suficiência, e possa ter a alegria de contribuir cada vez mais.

Não importa a porcentagem. Não é por ser menos de 10% que Deus irá puni-lo com acidentes e doenças...

Acredito que você não deve se envergonhar de ir à igreja. Que faça isso de cabeça erguida! Entenda a ‘lista’ afixada na porta da igreja como ‘a lista daqueles que não estão mais debaixo da Lei de Moisés’.

Quando esse pastor pregar sobre Malaquias 3:10 e olhar para o seu marido fazendo ameaças de maldições pelo não cumprimento da lei, que seu marido se lembre que é aquele que se coloca debaixo da lei é que está sob maldição (Gal 3:10) e que, na cruz, Jesus se fez maldição (Gal 3:13), para que ele fosse abençoado com todo tipo

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de bênçãos; inclusive com a benção da liberdade de contribuir!!!!! Deus o ama profundamente!

II Co 9:7” Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.”

Atenciosamente,

ESTE CONSELHEIRO ..................

No Novo Testamento há farta orientação, ensinamentos claros sobre o modo como deve ser a contribuição dos cristãos:

Paulo escreveu à igreja de Corinto pedindo que, no domingo, fizessem uma coleta. (faz tempo que eu não ouço essa palavra ‘coleta’ na igreja. “Vamos fazer a coleta?!”)

Mas, Paulo – perguntariam os irmãos de Corinto – Coleta de quanto? 34

O ensinamento do apóstolo Paulo é muito claro:

• Cada irmão —que puder— deve separar uma parte do seu rendimento destinando-a à contribuição!!! Só que, quanto ao valor, ou a porcentagem do rendimento, Paulo não faz imposição e nem sequer sugestão; é uma questão a ser resolvida no coração de cada cristão, com liberdade, alegria, não havendo obrigatoriedade.

• O cristão deve considerar racionalmente a sua possibilidade de contribuir, com amor e entusiasmo, mas, sem emocionalismo nem fanatismo

34 Hoje em dia, alguns pregadores e cantores costumam dizer às igrejas que os convidam: “Não, eu não cobro nada. Exijo só uma oferta de Hum, dois, três mil....

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2 Co 9:7 : “Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no

seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.

I Co 16:1-2 “Agora vou tratar do dinheiro para ajudar o povo de

Deus da Judéia. Façam o que eu disse às igrejas da província da Galácia. Todos os domingos cada um de vocês separe e guarde algum dinheiro, de acordo com o que cada um ganhou. Assim não haverá necessidade de recolher ofertas quando eu chegar.

Na versão atualizada está escrito: “ponha de parte o que

puder”. 2 Co 8:11-12 : Façam isso com o mesmo entusiasmo que

tiveram no princípio, dando de acordo com o que têm. Porque, se alguém quer dar, Deus aceita a oferta conforme o que a pessoa tem. Deus não pede o que a pessoa não tem.

O apóstolo Paulo, mesmo sendo o exemplo do desapego às

coisas terrenas: ( 1Tim. 6: 8;10 ; At.20: 32-34), escreveu muito sobre dinheiro, oferta, ensinando sobre as finalidades da contribuição... 1. Para atendimento a crentes carentes.

Onde cristãos estivessem sofrendo devido à fome,

perseguição ou outras dificuldades, as outras igrejas eram chamadas a oferecer ajuda financeira.

At.11:27-29 : Naquele tempo alguns profetas foram de Jerusalém

para Antioquia. Um deles, chamado Ágabo, levantou-se e, pelo poder do Espírito Santo, anunciou: - Haverá uma grande falta de alimentos no mundo inteiro. Isso aconteceu quando Cláudio era o Imperador romano. Então os cristãos resolveram mandar ajuda aos irmãos que moravam na região da Judéia, e cada um deu de acordo com o que tinha.

Ro 15:25-26 : Mas agora vou a Jerusalém a serviço do povo de

Deus que vive ali. Pois as igrejas das províncias da Macedônia e da Acaia resolveram dar uma oferta para ajudar as pessoas do povo de Deus em Jerusalém que estão necessitadas.

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2. Para o sustento dos vivem do Evangelho:

Era também responsabilidade da igreja o sustento dos que pregavam o Evangelho de tempo integral. A palavra grega para enviar (propempo) é, no Novo Testamento, associada a ajudar a alguém em sua viagem...

Com hospedagem Fil. 2:29 : Portanto, recebam Epafrodito com toda a alegria, como

se recebe um irmão no Senhor. Respeitem pessoas como ele, Assim como atender às suas necessidades físicas, alimentos,

dinheiro, meios de transporte, etc.... I Co 9:4,11,12,14 : Será que eu não tenho o direito de receber

comida e bebida pelo meu trabalho?... Se temos semeado entre vocês a semente espiritual, será demais se recebermos de vocês alguma recompensa material?... Se outros têm o direito de esperar isso de vocês, será que nós não temos muito mais direito do que eles? No entanto, nós não temos usado esse direito. Pelo contrário, temos agüentado tudo para não atrapalhar o evangelho de Cristo.... Assim o Senhor mandou também que aqueles que anunciam o evangelho vivam do trabalho de anunciar o evangelho.

1 Co 16:6 : Pode ser que eu fique algum tempo com vocês, talvez

todo o inverno, e assim vocês poderão me ajudar a continuar a minha viagem para onde quer que eu for.

(Outros textos: 2 Coríntios 1:16, Filipenses 4:14-18, Tito 3:13-14 e 3 João 5-8).

Fil. 4: 15,16,18 : “Vocês, filipenses, sabem muito bem que, quando eu saí da província da Macedônia, nos primeiros tempos em que anunciei o evangelho, a igreja de vocês foi a única que me ajudou.....

Em Tessalônica, mais de uma vez precisei de auxílio, e vocês o enviaram.....Aqui está o meu recibo de tudo o que vocês me enviaram e que foi mais do que o necessário. Tenho tudo o que preciso, especialmente agora que Epafrodito me trouxe as coisas que vocês mandaram, as quais são como um perfume suave oferecido a Deus, um sacrifício que ele aceita e que lhe agrada.”

2. Para assistência social:

Uma lista das viúvas que se qualificavam para ajuda era também mantida pela igreja, que diariamente distribuía dinheiro para ajuda-las no sustento:

1 Tim. 5:3 : Cuide das viúvas que não tenham ninguém para

ajudá-las.

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Gal. 2:10 : Eles nos pediram só uma coisa: que lembrássemos dos pobres das igrejas deles, e isso eu sempre tenho procurado fazer.

Atos 6:1 : Algum tempo depois, o número de judeus que se

tornaram seguidores de Jesus aumentou muito, e os que tinham sido criados fora da terra de Israel começaram a se queixar dos que tinham sido criados em Israel. A queixa deles era que as viúvas do seu grupo estavam sendo esquecidas na distribuição diária de dinheiro.

Assim, irmãos, conclui-se que se essa tradição, tão enraizada

em grande parte das igrejas, da ‘contribuição obrigatória para os cristãos’, a atual ‘lei do dízimo’ não harmoniza-se com os ensinamentos —contextualizados— da Palavra de Deus, é preceito humano, doutrina de homens..... é corbã!!!

Não é possível admitir qualquer limitação da liberdade que

o cristão tem de contribuir, pois “Cristo nos libertou para que sejamos de fato LIVRES!!!” (Ga 5:1)

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Capítulo 11

A ‘empreja’ e o dízimo da fé

Não procure ‘empreja’ no Aurélio. ‘Empreja’ : Uma empresa religiosa disfarçada de

igreja Ponto Final .

O cristianismo praticado na ‘empreja’ é o cristianismo ‘pagão’. Pagão de pagante!!! Onde, tudo, o adepto tem que pagar. Em tese, quando o cristão é batizado ele deixa de ser pagão. Mas, na empreja é aí que ele começa a ser ‘pagão’ —até pra deixar de ser pagão ele paga— E, mesmo não sendo mais pagão, ele continua a ser ‘pagão’ e cada vez mais ‘pagão’. Quanto mais ele se envolve com a ‘empreja’, mais pagão ele fica.

Há algum tempo, eu conheci um pastor —de quem fiquei amigo— quando ele estava em lua-de-mel com a sua igreja; estava morrendo de amores por ela! Nutria um encantamento cativante, próprio dos noivos que acabaram de se dizerem sim e agora estão debaixo da ‘chuva’ de arroz. O tempo passou e, quando o reencontrei, ele havia pedido o divórcio da sua igreja, diante de uma grande decepção que tivera. Divorciado da sua ex-igreja, estava, então, namorando com outra igreja. Mas não estava disposto a ter nenhum compromisso sério com ela.

A decepção acontecera, principalmente, segundo me disse,além da superficialidade, mentira, manipulação do nome ‘Jesus’, também por causa do lado técnico e frio, com que o assunto financeiro é tratado dentro dos restritos escritórios da sua ‘ex’.

O triste é que isso não tem acontecido só com a ‘ex’ do meu amigo, mas o dinheiro que é chamado de ‘santo’ nos púlpitos, nos recônditos de muitos templos continua sendo vil metal, papel moeda, para atender, muitas vezes, a interesses pessoais, alguns

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suspeitos, outros misteriosos.... —é melhor parar em ‘misteriosos’—

Cada filial da empreja tem uma meta financeira mensal, sempre crescente. Atingir essa meta se diz ‘pegar o mês’. Pastores-operários ‘ralam’ para ‘pegar o mês’. Gráficos ‘do mês’, crescentes ou decrescentes, determinam a classificação dos pastores-operários em ‘bons de caixa’ e ‘ruins de caixa’. Disso dependem as promoções e demissões.

Maximização de rendimento, meus amigos! Afinal, na

realidade, todas as funções dentro de uma ‘empreja’ sem fins lucrativos aparentes, como existem tantas hoje em dia, o que se visa, acima de tudo, é um maior rendimento, maior aproveitamento: Lucro!! Fundos!!! Money!!!! Grana!!!

A ordem vinda dos executivos à frente da administração financeira e dessa política gananciosa de crescimento é: Arrecadação gente! Arrecadação!!!! Rentabilidade máxima, sempre!!!!

Os métodos para obtê-la? Bem, nem todos são recomendáveis, mas nenhum é excluído.

Basta um pastor-operário não ‘pegar o mês’ algumas

vezes para que algum executivo o advirta: —Aqui não é lugar pra frouxo não! Se você olha pra

velhinha ou pro vovô e diz : "Coitado, a aposentadoria não dá nem pro remédio, como é que eu vou pedir oferta dele?", você não serve para o obra de Deus.

As reuniões são segmentadas. Cada dia da semana é para

um ‘público-alvo’ diferente. Tudo planejado segundo ‘pesquisas de mercado’ e estratégias de marketing.

Desde a reunião estilo ‘high society´, voltada para empresários que, mesmo que tenham problemas financeiros, não deixam isso transparecer, ao entrarem com ares de figuras do jet set internacional, no gigantesco estacionamento do templo, até a reunião com músicas românticas internacionais, para inspirar os pastores para falar de carinho, paixão, abraços, alma gêmea.... cada

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reunião têm uma cuidadosa preparação, que envolve muitos detalhes.

A pregação é feita servindo-se da Bíblia como quem faz um prato no balcão de comida de um restaurante self-service. Pega-se só o que interessa. O contexto não interessa.

Esse é, mais ou menos, o perfil de uma empreja. ....................... O relato que passo a fazer, sem citar nome de

denominação, tem o objetivo de levá-los, meus irmãos, leitores, a fazer uma comparação entre o ensinamento do apóstolo Paulo quanto à contribuição e o que é praticado em uma parte cada vez maior das igrejas.

Não tenham dúvida de que foi a doutrina mercantilista dos dízimos que propiciou o surgimento e proliferação de ‘empresas religiosas’ sem fins lucrativos aparentes.

Eu imagino que este livro esteja sendo lido por

pessoas coerentes, sensatas, autenticas, realistas, sinceras e honestas. Não creio que os rotulados, tapados, ignorantes e fanáticos tenham chegado até aqui na leitura.

Por isso faço-lhes um apelo: Por favor, vocês que têm responsabilidade em relação à

verdade do Evangelho, reflitam junto com o Espírito Santo, sobre os acontecimentos relatados abaixo:

Numa certa igreja, num domingo, colocou-se lá no altar,

uma mesa gigantesca coberta com papel laminado dourado, para ser usada especialmente na reunião que começou com a multidão, em pé, cantando:

“Eu vim buscar minha prosperidade...” (uma versão de ‘soleado’)

Terminada a música, o bispo disse:

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(a transcrição de trechos da pregação é fiel, pode conter erros. As falas do bispo estão em fonte diferente)

—Amém pessoal? Podem sentar. Abram suas

Bíblias em Levítico 24, versículo 5. Preste atenção no que Deus quer falar à sua vida hoje:

(E o bispo leu o texto) Levítico 24:5-7 - Também tomarás da flor de

farinha, e dela cozerás doze pães; cada pão será de duas dízimas de um efa. E os porás em duas fileiras, seis em cada fileira, sobre a mesa de ouro puro, perante o SENHOR. E sobre cada fileira porás incenso puro, para que seja, para o pão, por oferta memorial; oferta queimada’ é ao

SENHOR. Aqui, nesse caso, as palavras chaves são ‘a mesa de ouro

puro’, e eles tinham uma ali —‘todinha de ouro’— e ‘oferta’. Vejamos a argumentação do bispo:

—Amém, pessoal? Preste atenção. Deus aqui

pede para que as pessoas coloquem ofertas na mesa de ouro do tabernáculo. Da mesma maneira que Deus falou a Moisés naquele tempo, hoje Ele tocou em meu coração para abençoar a vida de vocês. Amém? Eu fiz como Deus mandou a Moisés. Fiz a ‘mesa de ouro’ e Deus vai abençoar sua vida através dessa mesa, quando você colocar o sacrifício sobre ela. Então Deus vai ter que te dar um monte de coisa, se não Ele não é Deus. Amém? Quem crê diga "Graças a Deus"!

O bispo leu a lei de Moisés, escrita em Levítico, mas

ele não quer nem saber que, segundo o que o apóstolo Paulo escreveu em Hebreus 9:14 , não estamos mais presos à obras da Lei, nem a rituais e cerimônias que não valem nada.

A ‘mesa de ouro’ está lá e essa mesa vai abençoar as pessoas quando elas colocarem ‘seu sacrifício’ —dinheiro!— sobre ela!!! E pronto!

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—Fiquem de pé, estendam suas mãos em

direção ao altar diga com fé: —Meu Deus! (o povo repete: “meu Deus”)

Com mais fé pessoal! Meu Deus!!!! (o povo repete gritando) Abençoa essa mesa de ouro. Que quando eu colocar meu sacrifício nessa mesa sagrada que eu receba tudo o que eu tenho direito. Amem!

—Coloque as mãos sobre seu coração, deixe-me orar por você agora, "Senhor Deus. Essa pessoa vai colocar seu TUDO sobre essa mesa de ouro. Amarra todo o mal que faz com que ela tenha medo de ofertar....

O bispo faz uma pausa... O fundo musical tornou-se

de suspense. Ele começa a falar bem mais alto no microfone, gesticula com força, começa a andar de um lado para outro, ordena que as pessoas coloquem as mãos sobre a cabeça e faz uma ‘oração forte’. Depois dirige-se até o lugar onde está uma mulher, que a principio parece só que está muito nervosa, e faz com que ‘se manifeste’ um demônio nela. ‘Uma vez ‘manifestada’, acontece esse diálogo:

—Olha quem está aqui pessoal!!! Qual o teu

nome demônio? — Pomba-gira. — Que tá fazendo aqui pomba-gira? — Não quero que as pessoas dêem ofertas. — Por que você não quer que elas ofertem,

diabo? — Porque elas vão ser abençoadas! — Viu só pessoal?... – (o bispo agora se dirige ao

povo) - ...Deus quer te abençoar, mas o diabo não quer deixar. Olha só o que acontece com esse espírito imundo quando ele chega perto da mesa.

O bispo leva a ‘pessoa manifestada’ até a mesa e ordena

para que ela coloque a mão nela...

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—A mesa queima!!! – grita o demônio. —Viu só pessoal? A mesa arde com a chama de

Deus. Estenda as mãos para essa pessoa. Vamos libertá-la.

Não duvido da possessão demoníaca. Tenho outras

dúvidas. Por exemplo: O que aconteceu ali foi o homem usando o demônio ou o

demônio usando o homem?. Isto porque Satanás é aquele que se opõe; ou seja: o

adversário. Não é estranho que ele cumpra um script, que fale tudo o que o bispo espera e precise que ele fale?

O demônio deixou de ser mentiroso? Ele fala a verdade agora? Converteu-se? Se ele continua sendo mentiroso, então quanto ao que a ‘pomba-gira’ falou, no diálogo com o bispo: “Não quero que as pessoas dêem ofertas.”; “Porque elas

vão ser abençoadas!” não são verdades! Na verdade, na verdade, o que o diabo quer é que as

pessoas pensem que serão abençoadas pela ‘mesa de ouro’ ao apresentar o dinheiro, como sacrifício, pensando que com ele pode-se comprar as bênçãos de Deus, desprezando a graça, a intermediação do sangue de Jesus, a mensagem da cruz, onde o Senhor, como Sumo-sacerdote, se ofereceu a si mesmo, uma só vez, como sacrifício perfeito a Deus, efetuando uma eterna redenção!

O que interessa ao diabo, ao prestar-se a esse demoníaco serviço de reafirmar falsidades, é justamente a pregação de um falso evangelho que leva tantos cristãos a afastar-se do verdadeiro sentido da contribuição: a expressão de gratidão a Deus e o desejo de ajudar o próximo, como ato de bondade e justiça. Assim, Satanás mantém tantos cristãos engaiolados nesse sistema religioso perverso, sem a possibilidade de viverem a liberdade do verdadeiro Evangelho!

Depois que o demônio saiu, o bispo prosseguiu... —Uma

reunião dessas dura em média 2 horas e meia, podendo se estender até por 3 horas...—

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—Amém pessoal? Viram só? Deus quer te abençoar. Então hoje eu quero fazer um desafio entre você e Deus. Mas esse desafio é pra quem tem fé, amém?

— Se você diz: “Bispo, minha vida é dificil, eu não tenho emprego, meu negócio vai mal, mas eu tenho fé que vou receber as bênçãos de Deus. Pegue tudo que você tem na carteira e coloque aqui nessa mesa! Deixe ‘seu tudo’ aqui na mesa de Deus!

Muitos bispos e pastores tem esse estilo de expressar, com

sua própria boca, o pensamento íntimo do povo, dialogando com ele mesmo.

— “Bispo, eu ainda não tenho essa fé para

dar meu tudo, mas eu quero fazer um sacrificio a Deus.”

— “Bispo, o que vai ser esse sacrifício?” Veja bem, quando eu digo sacrifício, eu falo de seu melhor pra Deus, amém? “Olha bispo, eu tenho aqui mil reais, é meu melhor, eu vou ofertar a Deus”. Coloque aqui na mesa e Deus vai te abençoar.

Daí ele vai baixando o valor gradativamente, até que

apela geral... — “Bispo, eu tenho cinco, dois, um real.

Mas é o dinheiro do pão, da condução. Eu não posso dar, é do leite de meu filho.” Jesus diz na Bíblia que não faz sentido se preocupar com essas coisas. Portanto, não importa se esse é o dinheiro do vale transporte, se é o pão de seu filho, Deus quer transformá-lo em oferta. Deus quer que esse dinheiro imundo, esse dinheiro que vem do mundo, se transforme em oferta santa perante seus olhos.

—“Bispo. Eu sei que isso é uma vergonha, mas é tudo o que eu tenho”. Venha e coloque

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nessa mesa sua moeda, seus dois, três reais, seu vale transporte.... em nome de Jesus!

—“Bispo, eu não tenho dinheiro aqui comigo, mas tenho no Banco. Eu tenho fé para fazer um desafio com Deus”. Pegue sua folha de cheque e preencha um cheque com todo o extrato

(acho que ele quis dizer ‘saldo’) de sua conta e coloque sobre essa mesa. “Bispo minha conta está no vermelho, mas eu vou preencher um cheque pré- datado”. Prencha o cheque e coloque sobre a mesa dourada!

Aí se canta uma música bem animada. Parece que acabou

né? Mas não acabou não.... Terminada a canção, aí vem a proposta do ‘DIZIMO DA FÉ’:

Eu sei que tem muita gente aqui que não

deu o dizimo de quanto gostaria neste mês . Tem filho de Deus aqui que trouxe dizimo de salário mínimo. Tá amarrado isso pessoal, amém?

—Hoje eu quero te propor um desafio, um desafio com o seu Deus, pra amarrar esse dízimo de merreca que você traz, pra te fazer prosperar.

Uma pessoa que está com problemas financeiros e vai à

‘empreja’ é como uma ovelha com depressão, querendo se suicidar, que vai consultar-se com um lobo psicólogo.

—“Bispo, Deus toca no meu coração: Na

semana que vem vou trazer um dizimo de fé.” —“O que é um dizimo de fé, bispo?” —Simples, você quer receber de Deus R$

1000,00, qual ia ser o dízimo? R$ 100,00, amém? Você vai trazer o dizimo de quanto você quer que Deus lhe dê. Se você tem essa fé, você vai subir no altar, pegar o seu envelope.

—Mas veja bem, Não é um dinheiro que você tem, ou está para ganhar; é um dinheiro que você tem fé que Deus vai te dar, não importa como.

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Você tem fé que Deus vai te dar um milhão? Então traga o dizimo de cem mil. Amém pessoal? Diga graças a Deus! Eu nem vou estipular valores. Mas a sua fé tem que ser alta. Amém pessoal?

—Venha aqui no altar pegue seu envelope e faça o seu voto.

Pegar o envelope e cumprir o voto — junto com pagar

o dízimo — é, conforme se prega, a condição para ser abençoado.

Essa questão, aliás, é levada tão a sério, que de vez em quando, se faz uma campanha que tem por objetivo dar a oportunidade ao povo de cumprir todos os votos atrasados. É distribuído um envelope especial, onde se deve colocar uma oferta gorda, pois vai representar todos os votos que não foram cumpridos.

É como aquelas lojas que dão desconto para que os clientes paguem as prestações atrasadas.

Sempre é pregado que “um envelope em casa é uma maldição. É por onde o demônio age na vida de uma pessoa que não cumpriu o voto. Rasgá-lo e jogá-lo fora provoca uma maldição maior!”.

Acontece que os freqüentadores são coagidos psicologicamente e acabam pegando muitos envelopes. Supondo-se que cumpram, em média, 70% dos votos. Dos 30% ‘não-cumpridos’, sempre fica algum envelope em casa.

Até disso se tira proveito: Para todo aquele que nunca vê nenhum resultado das campanhas que faz, essa teoria do ‘envelope amaldiçoado’ —que ficou em casa e não se colocou dinheiro nele— cai como uma luva: o fiel ‘inadimplente’ é sempre o único culpado do diabo agir na vida dele .

Sendo que são lançadas mais e mais campanhas, o povo inadimplente carrega sobre si um permanente sentimento de culpa.

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E, no final da reunião: —Amém, quem crê que Deus abençoou sua

vida hoje, diga graças a Deus! Vamos fazer a oração final para que você vá para casa em paz.

O bispo faz a oração final e vai ansioso para o escritório contar as ofertas. Depois, mais endinheirado do que chegou, volta de helicóptero para casa. No trajeto, insensível, passa por cima daquela gente lá em baixo —parecendo formiguinhas— que, não tendo nem o vale-transporte que tinha antes, está voltando a pé para casa.....

A influência das emprejas em grande parte das igrejas é notório hoje em dia: Fidelidade resume-se apenas e sempre em duas coisas: pagar o dizimo e jamais deixar de cumprir um voto.

Em todas as reuniões o enfoque é esse. Até a ceia é ministrada com um aviso severo: “se a

pessoa que quiser participar da ceia não estiver disposta a um compromisso com Deus, sendo dizimista fiel e cumprindo todos os seus votos, é melhor não participar, que isso não é brincadeira. Quando alguém toma o cálice o sangue

de Jesus passa a correr nas suas veias.” São dados exemplos terríveis de pessoas que tomaram a ceia e não pagaram o dízimo, ou não cumpriram os votos e, como castigo, ficaram cegas e algumas até morreram! —Sempre são contados casos acontecidos em outros estados, com gente desconhecida...—

O misticismo é tão grande que o bispo disse o seguinte, quanto aos cálices de vinho que sobraram de uma ceia : —Esse altar vai ser lavado com o sangue que sobrou da ceia de hoje, pra santificá-lo.

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Na mais importante de todas as campanhas, é lançado o famoso desafio do "Tudo ou nada", “a hora da verdade”, “a vitória da fé sobre a razão”.

Eu vou chamar o evento apenas de ‘campanha’, sem mencionar o nome, pois o meu objetivo não é difamar organização religiosa nenhuma, mas, sim, debater a doutrina da contribuição dos cristãos.

Com o slogan enfatizando ‘a realização de todos os sonhos’, anuncia-se que os ‘moiséses’, convocados pela alta cúpula, vão levar os pedidos dos fiéis ao alto do Monte Sinai e a vida das pessoas que participarem da campanha, fazendo o sacrifício exigido —em dinheiro— vai mudar!

Antes desse dia, são realizadas nos templos da denominação, do mundo todo, reuniões preparatórias do evento. Grandes alegorias do Monte Sagrado são montadas, proporcionais ao tamanho dos templos, onde os fiéis depositarão seus pedidos junto com ‘o sacrifício’! Para obter a ‘guinada na vida’, ‘a realização de todos os sonhos‘, o sacrifício’ tem um valor mínimo.

Relato aqui parte de uma das reuniões preparatórias, para mostrar como é que se chega ao valor mínimo:

O bispo entrou no templo e chegou ao altar. O povo, imediatamente, ficou em pé para ouvi-lo, completamente envolvido no clima da campanha, Em todo lugar havia cartazes... : —Os obreiros, por favor, tragam o azeite sagrado que os bispos trouxeram de Israel e que foi consagrado a Deus no Monte Sinai... —Presta atenção pessoal, Deus tocou no meu coração, e antes de começarmos a reunião, eu quero lhe consagrar com esse azeite. Nós vamos colocar um pouco desse óleo, que veio do Sinai

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nas suas cabeças, pra que o espirito daquela montanha sagrada, esteja em suas vidas, amém? —Venham aqui na frente, Deus quer abençoar sua vida.

Depois, na pregação, baseada no livro de Êxodo 12:5: “O cordeiro será sem defeito, macho de um ano. Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta. O sangue vos será

por sinal nas casas em que estiverdes” , a ênfase foi o sacrifício do cordeiro feito pelo povo de Israel. A aplicação não apontou para ‘o Cordeiro de Deus —Jesus— que tira o pecado do mundo’ , mas sim que o povo que iria participar da ‘campanha’ também faria um sacrifício, à semelhança do ‘sacrifício feito no Egito’, só que em dinheiro!!!! O dinheiro representava o sangue do cordeiro!

O bispo argumentou:

—Só depois que o povo sacrificou, só depois de derramar o sangue. Só assim aconteceu o livramento.

—Deus está olhando pra você, Deus quer mudar a sua vida, Deus ouve o seu clamor, mas só o seu sacrifício é capaz de mover a mão de Deus. Só através do sacrifício.

Depois da pregação, orou: —Pai, o teu povo já clamou, e da mesma maneira que o senhor instituiu Moisés para libertar o povo do Egito, o senhor instituiu a igreja ‘...’

(disse o nome completo da denominação) para livrar estas pessoas de faraó.

E o tom da voz foi aumentando de intensidade, até

que, ao terminar a oração.... —Tem diabo ali obreiro... Presta atenção obreiro.

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E um obreiro levou o rapaz endemoninhado até lá na frente, que dialogou com o bispo: —Qual teu nome demônio? —Exuuuuuuu Caveeeeeiiiiiirrrrraaaaaaa! —Auxiliar, me traz o envelope da ‘campanha’. —Olha aqui demônio, sabe o que é isso? —Fogo, ai, aiiiii, tá queimando...Tirraaaaaa, tiraaaa isso daqui, aiiiiii. —Tá olhando lá em cima? (apontou para a imitação gigante do Monte Sinai) No dia da ‘campanha’, lá naquele lugar, você vai estar de uma vez por todas fora da vida desse rapaz.

—Aiiiiiiiiiiiiiiii, argggggghhhhhhhhh, (ruídos e grunhidos)

E dirigindo-se ao povo, disse: —Ele é o faraó, e só tem uma maneira de amarrar faraó, sacrificando a Deus. —Quer ver uma coisa: —Demônio, você quer que ele pegue o envelope da

‘campanha’? (referiu-se ao próprio rapaz que incorpora o demônio) —Não, eu não vou deixar. —Por que? Fala capeta! —Por que ele vai ser abençoado, eu vou ter que deixar ele. Mas eu não vou deixar. Eu não vou deixar não. —Olha pra cá pessoal, olha quem fica falando no seu coração: —O que você fica assoprando no ouvido dessas pessoas demônio? —Eu coloco dúvida. —Viram só? Esse é o faraó, e você tem que sacrificar pra ele sair da sua vida. Só assim você se liberta dele amém?

Depois que todo o povo gritou, com as mãos estendidas para o endemoninhado: “Saiiiiiii!!!!” ele saiu, como quem sai da conversa no MSN e clica no status: “Be right back !”

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(Fico pensando: se acaso o diabo não existisse, esse

tipo de igreja existiria? O povo se contentaria em simplesmente seguir a Jesus?)

... A reunião prosseguiu: —Aqui está o envelope da ‘campanha’. Você já viu quem é responsável pela dor, pelo sofrimento, viu quem é o faraó da sua vida, cabe a você exercer, ou não a sua fé e fazer o sacrifício que é a única maneira de se livrar dele. Eu, como Moisés estou oferecendo o livramento do mal. —“Bispo, eu tenho fé, e em nome de Jesus, no dia da ‘campanha’ eu vou trazer meu sacrifício. Meu sacrifício vai ser de R$ 50.000,00 ou mais”. Venha aqui na frente e pegue o envelope na minha mão. —R$ 50.000,00, em nome de Jesus, ou mais.

Havia um tempo de insistência entre uma proposta e outra. -De R$ 50.000,00 à R$ 25.000,00, em nome de Jesus, é seu sacrifício. “Bispo, mas eu não tenho tudo isso”. Aprenda isso: sacrifício não é o que você tem em casa, é o que você não tem! Isso sim é sacrifício! —De R$ 25.000,00 à R$ 15.000,00, pegue seu envelope. —O sacrifico traz Deus até você, de R$ 15.000,00 à R$ 10.000,00, em nome de Jesus, venha pegar seu envelope. —De R$ 10.000,00 à R$ 5.000,00, venha. Não deixe o diabo falar no seu coração. Deus quer te abençoar, mas você precisa de um sacrifício de verdade. “Bispo, um sacrifício para mim é R$ 4.000,00, R$ 3.000,00, R$ 2.000,00”. Venha aqui na frente, chame a atenção de Deus, agora mesmo.

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—“Bispo, meu tudo, é de R$ 1.000,00”. Pegue seu envelope. —Pessoal, você vai trazer dentro desse envelope seu sonho. Você vai servir a Deus no Sinai, vai trazer seu voto de fé. Seu sonho escrito num papel, em nome de Jesus. —Bispo, meu sacrifício é de R$ 900,00, R$ 800,00, até R$ 500,00”, venha aqui agora. —“Bispo, olha, a coisa tá feia, o meu tudo vai ser de R$ 400,00 . É meu salário do mês”. Venha aqui e pegue seu envelope. —“Bispo, tudo que eu posso dar, é R$ 300,00”. —Olha gente, R$ 300,00 quase não é dinheiro, mas se você for vender balinha no sinal, ou de porta em porta, se for catar lata na rua... Se isso for ‘seu tudo’, venha aqui e pegue seu envelope. —“Meu sacrifício vai ser de R$ 200,00” . Isso é o mínimo que nós podemos fazer. Eu não posso te pedir menos. Se eu fizesse isso, estaria mentido pra você. Menos de R$ 200,00 não é sacrifício! Se ‘seu tudo’ vai ser de R$ 200,00 , venha aqui e pegue seu envelope. No dia da ‘campanha’ você vai sacrificar a Deus no monte Sinai e vai cobrar de Deus a sua benção. Vai exigir Dele o seu sonho!

(O bispo começou a cantar uma música e muitas pessoas iam pegar os envelopes. No final trouxe a benção: No começo era de Arão, depois.....) —Que o senhor te abençoe e te guarde, e que a fé do sacrifico nunca saia do teu coração. Quem crê diga amem! Graças a Deus! Palmas pra Jesus. —Podem ir.

Terminou uma das reuniões. A partir daí, durante todo

o período até o dia do evento, executivos e pastores-operários vão se dedicar inteiramente a divulgá-la, seja nas reuniões, no radio, na TV, no jornal.....

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Um forte esquema de segurança é armado nesse período, em todas as emprejas ―grandes e pequenas, salões e catedrais―, a fim de proteger o dinheiro de assaltos. Além de contratar empresas de segurança especializadas, carros são alugados. Executivos trocam de carro com os pastores-operários, hospedam-se em hotéis..... Tudo isso por causa do medo dos ladrões.... Precisamos orar, irmãos, pedindo a Deus que não permita que os ladrões roubem o dinheiro do povo. .....................

Revista Consultor Jurídico, 9 de setembro de 2007 “Tribunal manda igreja devolver a doação de fiel arrependido!”

Por decisão dos desembargadores do Tribunal de Justiça, a igreja tem que devolver a doação ao fiel arrependido, pois o milagre anunciado não veio.

Para o relator, desembargador, o fiel foi induzido a erro, com a promessa de que se entregasse o dinheiro à igreja sua vida iria melhorar.

Argumentou o desembargador: “A conduta esperada pela sociedade por parte de alguém

que se denomina pastor, seria aquela de orientação espiritual. Mas, o pastor convenceu o rapaz em dificuldades financeiras a se desfazer de seu único bem material e entregar o que arrecadou para a igreja.

A suposta doação não foi espontânea, mas induzida pela promessa de melhoria financeira.

Não se justifica enriquecimento sem causa de uma parte em desfavor da outra.

Se a preocupação da Igreja era a de dar início a uma nova fase na vida do fiel, com a melhora da sua precária situação econômica, melhor seria que devolvesse logo o dinheiro por conta do arrependimento dele.”

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Segundo notícia acima, o que aconteceu com ‘o fiel arrependido’, acontece com tantos outros cristãos-de-gaiola, desavisados e inocentes, que, por causa do total desconhecimento da maldade e da completa falta de malícia, arrastados por ‘ventos de falsas doutrinas e promessas’ caem no traiçoeiro alçapão do falso evangelho.

É triste admitir que a grande maioria dos cristãos-de-gaiola, realmente, está despreparada para ter liberdade.

Porém, os cristãos não são felizes sem terem liberdade! Aqueles que estão desde pequenos na igreja legalista, foram criados tendo que engolir dogmas, regras, preceitos e doutrinas de homens, com base bíblica completamente fora de contexto, e agora, prisioneiros da lei escrita, supersticiosos, de alma traumatizada, mesmo que alguém abra a porta para eles, não saem. Têm medo da liberdade! Inclusive da liberdade de contribuir com alegria e sem constrangimento.

Alimentados com o falso ensino, o pacote-pronto-único-e-inquestionável, tudo lhes é imposto e já não são capazes de decidir alguma coisa, por eles mesmos, em seus corações; inclusive a parte do seu ganho que, pela graça, deve separar, livremente, para ofertar.....

Quem dera houvesse gente que se condoesse e se dispusesse a ensinar o Evangelho da Graça de Jesus a esses cristãos-de-gaiola, ajudando-os a crescer em entendimento e, seguros do amor de Deus, irem se acostumando à liberdade, até se tornarem verdadeiramente L I V R E S !!!!

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A alma livre da igreja simples

A Igreja simples é simplesmente igreja. Isto quer dizer: não é uma ‘Casa de Shows e Espetáculos’, ou uma ‘Promotora de Eventos’, nem uma ‘Empreja sem fins lucrativos aparentes’, e nem

um ‘viveiro cheio de cristãos de gaiola’...

A igreja sim ples é.... Uma assembléia de gente boa que se reúne, em harmonia,

para fazer o bem; que caminha em amor, em comunhão com Deus e com o próximo, partilhando o que tem com quem tem menos; identificando e suprindo as necessidades, não por serem obrigados, nem por medo da maldição, nem por ganância de bens materiais, mas por gratidão e reconhecimento da graça e providência de Deus, cheios de alegria e paz do reino de Deus, constrangidos apenas pelo Seu amor .

Uma comunidade aberta, simples, caseira, familiar.... de pessoas altruístas, de princípios e de oração, que gostam de estar juntos e ajudam-se uns aos outros para que haja mais igualdade entre eles... e ninguém quer ser mais do que ninguém...

Filhos carinhosos que amam ‘o Papaizinho’; o coração convida-os a conhecê-Lo melhor, adorarando-O em espírito e em verdade.

Pessoas que anunciam a boa notícia e vivem a boa mensagem que pregam, ao vivo, através da vida.

Andam no Caminho de Deus e no Caminho para Deus, guiados pelo mapa da Palavra e pela bússola do Espírito,

A fonte da felicidade deles não está propriamente no ‘ter’ ou ‘ser’, mas em amarem e serem amados.

Um povo alegre, criativo, bem-humorado, cheio de emoção, de alegria e de histórias.

Povo do pastoreio do Senhor, que está sob os seus cuidados; ovelhas da Sua mão, da qual ninguém as arrebata...

Sal de bom gosto.

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Luz colocada em lugar alto. São pedestres, peregrinos, itinerantes, caminhantes... ....A alma livre é a identidade da igreja

simples!!!! ............

O QUE A GRAÇA DE DEUS PODE FAZER NA IGREJA!

De todos os textos do Novo Testamento sobre a

contribuição, o que mais me toca, sem dúvida, é o de 2 Coríntios 8 Em suma, o apóstolo Paulo escreveu aos irmãos da igreja de Corinto para contar-lhe ‘o que a graça de Deus tinha feito nas igrejas da Macedônia’. Os irmãos de lá, mesmo provados por dificuldades, muito pobres, pediram com insistência que os deixassem ofertar para os irmãos um pouco mais necessitados do que eles, da Judéia, e, com muita alegria, generosidade e boa-vontade, fizeram tudo o que podiam e mais ainda.... muito mais do que se podia esperar deles! Fizeram ‘o possível e o impossível’! Há duas palavras no versículo ‘5’ : ‘primeiro’ e ‘depois’, sobre as quais podemos fazer uma breve reflexão, que nos permite entender a razão dessas igrejas terem ofertado da forma como o fizeram.

‘P rim eiro’:‘P rim eiro’:‘P rim eiro’:‘P rim eiro’: 2 Co 8:5 : E fizeram muito mais do que esperávamos.

Primeiro, eles deram a si mesmos ao Senhor.... ‘Primeiro, dar-se a si mesmo’ significa: Primeiro, a vida deles foi a oferta:

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Nas igrejas da Índia é comum que o cesto de ofertas seja feito de ‘cana-de-lá-mesmo’, e tenha grandes proporções, pois não é raro alguém ofertar, por exemplo, um grande cacho de bananas.

Há alguns anos, no final do culto em uma dessas igrejas, a pregação ainda não tinha terminado, nenhum apelo para que alguma decisão fosse tomada pelos que ouviam a Palavra havia sido feito, mas, Sharan, na idade de quem está deixando a adolescência para entrar na juventude, saiu do seu lugar, aos prantos —um dilúvio de lágrimas caíam dos seus olhos e corriam-lhe pelo rosto—, e, surpreendentemente, entrou dentro do cesto das ofertas, com as mãos trêmulas erguidas em direção aos céus, repetindo na oração, diversas vezes, a frase: “A minha vida é a oferta!...A minha vida é a oferta!... ”.

Ele fez uma grande entrega: da própria vida, como a melhor oferta que poderia dar! Isso é que é dar-se primeiro a si mesmo ao Senhor.

Contei um pouco da vida do Sharan num livro, pois impressionou-me a forma como renunciou a tudo para dar a boa notícia do Evangelho à gente pobre —‘párias’— da região de Jabhua.

Ele não tinha nenhum bem material que não pudesse ser doado e transformado em ajuda para os que são ainda mais pobres. Não tinha nada em separado que não considerasse pertencente à Deus e estivesse disponível para ser dado como oferta.

Reconhecia que seus bens não eram dele, mas que ele era apenas um mordomo ou despenseiro provisório dos valores que Deus tinha lhe confiado, por conta dos pobres, dos quais cuidava com o carinho de quem sente que está cuidando do que é de Deus.

Sharan jamais juntava dinheiro. Não via nenhuma razão para ter mais do que precisava; se Deus desse mais do que o necessário era imediatamente partilhado com os necessitados. No estilo de vida que adotou, com alegria deixava de lado coisas não essenciais, a fim de investir mais recursos no reino de Deus.

Esse é o verdadeiro sentido da mordomia, onde o sentimento de despojamento completo não se harmoniza com um ‘mínimo de segurança’, sem embasamento bíblico, cuja existência

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vem, unicamente, da falta de confiança de que o mordomo realmente considere que tudo é de Deus.

Não é fácil ser realmente despenseiro ou mordomo a

serviço de Deus. Aquele que acredita sinceramente que Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das necessidades, deve ter certeza que Deus dá a cada dia o pão e não deve preocupar-se em guardar para amanhã o que é necessário ser partilhado hoje.

A fé na providência de Deus e a posse ansiosa e exclusiva dos bens materiais não andam juntas, pois são incompatíveis.

A casa do Sharan —com tudo o que tinha dentro— transformava-se em escola, igreja, farmácia, hospital e o que fosse necessário para socorrer os necessitados: gente com a vida arruinada, sem nenhum brilho de esperança nos olhos.

Sharan representava a mão amiga de Deus estendidas àquelas pessoas carentes de ajuda. Fazia da sua vida cotidiana um apaixonante e ininterrupto exercício de doar-se aos semelhantes.

Isso só faz quem, antes, doou-se ao Senhor. Dar os bens materiais, ou um valor em dinheiro, não é por demais difícil para quem antes, deu a sua vida ao Senhor!

Se alguém crê que na igreja é necessário estipular-se uma

porcentagem mínima do rendimento dos membros, como base da contribuição, é porque não crê que eles tenham realmente ofertado a vida ao Senhor.

Se é necessário obrigá-los, tacitamente, a contribuir, proibindo-os de participar da ceia ou de ocupar cargos na igreja, caso não o façam; ou motivá-los com a possibilidade do lucro material, ou amedontrá-los com o prejuízo causado pelo devorador, é porque ainda não deram-se ao Senhor!

O que aprendemos com o que Paulo conta a respeito das igrejas da Macedônia?

Aquele que antes deu-se ao Senhor; que fez uma grande

entrega da sua vida a Ele, oferta com alegria, não por obrigação, com a quantia ou a porcentagem do rendimento que,

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livremente, decide em seu coração que ama o Senhor mais do que aos bens que possui.

No salmo 37:5 está escrito : “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia

nele, e ele tudo fará.” Na versão na linguagem de hoje está escrito: Ponha a sua

vida nas mãos do SENHOR! Quem põe a vida nas mãos do Senhor, põe junto tudo o que

possui, dizendo-Lhe: “Não há nada em separado que não seja Teu; que não

esteja à disposição quando o Senhor requisitar!” “Confia Nele!” Quem põe a vida e tudo o que possui na mão do Senhor,

aprende a confiar na sua providência e alegra-se com a certeza de que vale a pena depender de Deus!

“Ele tudo fará!” Quando alguém primeiro põe a vida e tudo o que possui nas

mãos do Senhor, e confia na providência Dele, passando a viver na dependência Dele, experimenta a ação da graça de Deus na sua vida!: Ele tudo fará!!! Na versão em inglês, New Revise Standart Version, consta: “And He will act!”: Deus vai agir!!!!

‘D epois’:‘D epois’:‘D epois’:‘D epois’:

“E fizeram muito mais do que esperávamos. Primeiro, eles

deram a si mesmos ao Senhor e depois, pela vontade de Deus, eles se deram a nós também.

Os Macedônios ofertaram pela vontade de Deus.

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Numa viagem no ‘trem da morte’: um trenzinho que saía de

Bauru – SP. , ia até Corumbá – MT , depois seguia para Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, um rapaz vendia suco. Carregava dois baldes grandes de plástico e uma caneca de alumínio. Num dos baldes tinha o suco propriamente dito. No outro, tinha água para lavar a caneca depois de servir o suco a cada freguês.

A seqüência dos movimentos da venda era o seguinte: o vendedor pegava o suco com a caneca do balde que tinha suco, servia o freguês e depois lavava a caneca no balde que tinha água para lavar a caneca....

Depois de percorrer dez ou quinze vagões, ele não sabia mais qual era o balde que tinha suco e qual o balde que tinha água para lavar a caneca. Estava tão misturado que já não conseguia separar mais um do outro. Tudo virou suco!!! Ele vendia qualquer um dos dois!!!

Assim também deve ser a nossa vontade em relação à

vontade de Deus. A cada dia a nossa vontade deve ir se misturando à vontade de Deus. E quanto mais ela vai se misturando, mais vai desaparecendo, e a vontade de Deus vai evidenciando-se. E a repetição desse ‘ir se misturando e ir desaparecendo’ vai fazer com que, com o passar do tempo, haja a convicção de que quase só há a vontade de Deus na nossa vida: a nossa está quase sumindo. Poderemos ser chamados de homens e mulheres de Deus quando a nossa vontade desaparecer totalmente e só passar a existir a vontade de Deus em nós.

Mas, para isso, temos ‘muitos vagões’ a percorrer!! O que posso dizer é que esse processo tem início quando

alguém entrega a vida a Deus, como se assinasse ao pé de uma folha de papel e a entregasse ao Senhor para que Ele a preencha inteiramente, de acordo com a Sua vontade.

É pedir-Lhe: “Seja o único autor da história da minha vida! Não importa o que eu quero, nem porque eu quero, nem quando eu quero; importa o que o Senhor quer, porque o Senhor quer e quando o Senhor quiser! Importa os Teus interesses e não os meus!!!!

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Os macedônios contribuiram ‘segundo a vontade de Deus’, para ajudar os irmãos em maior dificuldade do que eles. Esqueceram-se deles mesmos, procurando exclusivamente os interesses de Deus. Isso só faz quem, antes, ofertou a vida ao Senhor!

Esse é o sentido do que Jesus disse: Mt 10:39 : “Quem procura os seus próprios interesses nunca

terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo, porque é meu seguidor, terá a vida verdadeira.”

Ofertar, segundo a vontade de Deus, é dar prioridade aos

interesses de Deus, isto quer dizer, à obra de Deus, ao reino de Deus!

Não fazem assim os que ofertam pensando em si mesmos, nos seus próprios interesses: de conquistas de bens de consumo, de prosperidade material. Aqueles que só ‘querem se dar bem’ ou que ‘têm medo de se dar mal’ apenas cumprem obrigações religiosas.

Empolgado com a notícia que estava dando, Paulo escreveu

aos coríntios: 2 Co 8:1 “Irmãos, queremos que vocês saibam o

que a graça de Deus tem feito nas igrejas da província da Macedônia..... vs. 3: eles fizeram tudo o que podiam e mais ainda.

Eis a verdade que está diante dos nossos olhos : Olha o que o cumprimento de obrigação religiosa, da lei

escrita tem feito: Os irmãos, cristãos-de-gaiola, preocupados só consigo mesmos, contribuem por obrigação, e fazem muito menos do que podem!

Olha o que a graça tem feito: Os irmãos, de alma livre,

dando completa prioridade aos interesses da obra e do reino de Deus, contribuem voluntariamente, e fazem muito mais do que podem!

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APELO

Enquanto ouvimos, ao fundo, a canção “Venho,

Senhor, minha vida oferecer, como oferta de amor....”

convido a cada um dos leitores a entrar dentro do cesto das

ofertas, entregando a sua vida, como a melhor oferta que

poderia dar ao Senhor......