Cristiana Mello - O Revigoramento Do Poder Legislativo
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Cincias Sociais
Faculdade de Direito
Cristiana De Santis Mendes de Farias Mello
O revigoramento do poder legislativo: uma agenda para o sculo
XXI
Rio de Janeiro
2011
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Cristiana De Santis Mendes de Farias Mello
O revigoramento do poder legislativo: uma agenda para o sculo XXI
Dissertao apresentada, como requisito
parcial para a obteno do ttulo de Mestre,
ao Programa de Ps-Graduao em Direito,
da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. rea de Concentrao: Direito
Pblico.
Orientador: Prof. Dr. Lus Roberto Barroso
Rio de Janeiro
2011
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CATALOGAO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CCS/C
Autorizo, apenas para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta dissertao, desde
que citada a fonte.
_______________________________________ _____________________
Assinatura Data
M527r Mello, Cristiana De Santis Mendes de Farias.
O revigoramneto do poder legislativo: uma agenda para o sculo XXI /
Cristiana De Santis Mendes de Farias Mello. 2011. 214 f.
Orientador: Prof. Dr. Lus Roberto Barroso.
Dissertao (mestrado). Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Faculdade de Direito.
1.Poder legislativo. 2.Tutela jurisdicional. 3. Lobby. I. Barroso, Lus
Roberto. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Direito.
III. Ttulo.
CDU 342.52
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Cristiana De Santis Mendes de Farias Mello
O revigoramento do poder legislativo: uma agenda para o sculo XXI
Dissertao apresentada, como requisito
parcial para a obteno do ttulo de Mestre,
ao Programa de Ps-Graduao em Direito,
da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. rea de Concentrao: Direito
Pblico.
Aprovada em 13 de setembro de 2011.
Banca Examinadora:
__________________________________________
Prof. Dr. Lus Roberto Barroso (Orientador)
Faculdade de Direito da UERJ
__________________________________________
Prof. Dr. Gustavo Binenbojm
Faculdade de Direito da UERJ
___________________________________________
Prof. Dr. Paulo Gustavo Gonet Branco
Faculdade de Direito do Instituto Brasiliense de Direito Pblico (IDP)
Rio de Janeiro
2011
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AGRADECIMENTOS
Agradeo ao professor Lus Roberto Barroso, exemplo na vida acadmica e
na vida profissional, pela orientao zelosa e paciente durante cada uma das etapas
da elaborao deste trabalho, mesmo quando vivia perodo singular, conjugando a
dedicao vida acadmica fora do Pas com a atuao em julgamentos histricos
no Supremo Tribunal Federal. A ele devo inclusive os temas, a estrutura e o ttulo da
dissertao.
Sou grata aos professores do Mestrado, em especial aos professores Ana
Paula de Barcellos, Daniel Sarmento e Gustavo Binenbojm, pelos textos
desafiadores, pela interlocuo aberta e pelas aulas fascinantes.
Ao professor Paulo Gustavo Gonet Branco e, mais uma vez, ao professor
Gustavo Binenbojm, meu muito obrigada por terem aceito de imediato participar da
banca de defesa desta dissertao.
No poderia deixar de me referir a Sonia Leito, chefe da Secretaria do
Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da UERJ no fosse ela, certamente
a vida dos mestrandos seria muito mais difcil.
Agradeo tambm aos colegas de mestrado, pela convivncia alegre e
enriquecedora, na pessoa de Daniela Giacomet, companheira de aulas, de voos, de
angstias e que se tornou uma grande amiga.
Sou especialmente grata a Eduardo Mendona, sempre de prontido para me
ajudar com palavras motivadoras, com ideias e argumentos perspicazes, com
brainstormings inspiradores, sem contar a inacreditvel disposio de ler e comentar
um dos captulos da dissertao via Iphone.
Agradeo aos meus irmos, Leticia, Renata e Eduardo, pelo carinho e por
entenderem a minha ausncia e, em especial, Leticia, cuja disposio em ler,
alterar e inquirir meu texto instigou-me a melhorar meus argumentos. Ao Joo
Pedro, agradeo a compreenso pelos momentos em que a tia Cris no podia
brincar nem de pnalti rapidinho porque precisava estudar.
Aos meus pais, Sandra e Marco Aurlio, meus primeiros e eternos
orientadores, sou grata pelo amor constante, pelo incentivo contnuo e pela
confiana irrestrita e at excessiva. minha me, exemplo de responsabilidade no
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exerccio impecvel da magistratura, agradeo especialmente o apoio extra
dissertao, externado em frequentes gestos cotidianos. Ao meu pai, paradigma de
coragem, de sensibilidade e de entusiasmo com o Direito, de quem tanto me
orgulho, agradeo a disposio em ler e comentar o que eu lhe submetesse, a
qualquer hora do dia ou da noite.
Ao Bruno, meu amor, agradeo no s a pacincia por esse perodo de
privaes, mas tambm todos estes anos de companheirismo incondicional, de
amizade, de carinho, de estmulo, de alegria, de paixo. Um dia ele h de confessar
embora no seja da rea jurdica, bem que gostou das tarefas de que participou
neste projeto...
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Para descobrir as melhores regras de sociedade que convm s naes,
seria necessria uma inteligncia superior, que visse todas as paixes dos homens
e no experimentasse nenhuma, que no tivesse relao alguma com nossa
natureza e conhecesse a fundo, cuja felicidade fosse independente de ns e, no
entanto, admitisse ocupar-se da nossa; e que, enfim, no transcurso do tempo,
contentando-se com uma glria longnqua, pudesse trabalhar num sculo e usufruir
em outro. Haveria necessidade de deuses para dar leis aos homens.
J. J. Rousseau
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RESUMO
MELLO, Cristiana De Santis Mendes de Farias Mello. O Revigoramento do Poder
Legislativo: uma agenda para o sculo XXI. 2011. 214 f. Dissertao (Mestrado em
Direito) Faculdade de Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2011.
O Legislativo vital para o autogoverno coletivo e para a conteno do poder.
Impe-se revigor-lo. Esta dissertao traz propostas para incrementar a
legitimidade do Poder Legislativo que independem da reforma poltica. A primeira
proposta consiste na correo de algumas prticas comprometedoras da atuao do
Legislativo, quais sejam, a falta de apreciao do veto, a atual forma de elaborao
e execuo da lei oramentria, o poder excessivo dos lderes e a tutela jurisdicional
limitada do devido processo legislativo. A segunda proposta reside no fortalecimento
das comisses temticas, arenas mais adequadas do que o Plenrio para
desenvolver o potencial deliberativo do Parlamento. Esses rgos fracionrios
podem empregar a avaliao de impacto, recurso que se destina a aprimorar a
legislao. A terceira proposta corresponde regulamentao do lobby. A
institucionalizao dessa atividade revela-se essencial para imprimir-lhe
transparncia, de modo a possibilitar o controle, e para minimizar o desequilbrio no
acesso aos tomadores de deciso.
Palavras-chave: Poder Legislativo. Fortalecimento. Veto. Oramento. Voto de
liderana. Tutela jurisdicional. Processo Legislativo. Comisses temticas. Avaliao
de Impacto. Lobby.
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ABSTRACT
The Legislative Branch is vital to collective self-government and to restrain
power. It is necessary to reinvigorate it. This dissertation brings proposals to increase
the legitimacy of the Legislative Branch that are independent from the political
reform. The first proposal consists in correcting some practices that compromise the
performance of the Legislative, which are, the lack of appreciation of veto, the current
form of budget preparation and execution, the excessive power of the leaders and
the limited jurisdictional review of the due process of law. The second proposal aims
at the strengthening of the committees, which are arenas more adequate than the
Plenary to develop the deliberative potential of the Parliament. These fractional
organs can use the impact assessment, which is a tool intended to improve
legislation. The third proposal corresponds to the regulation of lobbying. The
institutionalization of this activity is essential to imprint transparency to the process so
as to allow control and to minimize the imbalance in access to decision makers.
Keywords: Legislative Power. Legislative Branch. Strengthening. Veto. Budget.
Leadership Vote. Judicial Review. Legislative Process. Thematic Commissions.
Impact Assessment. Lobbying.
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SUMRIO
INTRODUO................................................................................................10
1 BREVE NOTA TERICA SOBRE O PAPEL DO LEGISLATIVO E A
DELIBERAO
DEMOCRTICA.....................................................................................................................13
2 PRIMEIRA PROPOSTA DE APRIMORAMENTO DO PODER LEGISLATIVO: INVERSO
DE ALGUMAS PRTICAS ATUAIS......................................................................................28
2.1 Introduo.................................................................................................................30
2.2 A falta de apreciao do veto..................................................................................30
2.3 A prtica oramentria.............................................................................................40
2.4 O poder excessivo dos lderes................................................................................49
2.5 A tutela judicial limitada do devido processo legislativo......................................58
3 SEGUNDA PROPOSTA DE APRIMORAMENTO DO PODER LEGISLATIVO:
FORTALECIMENTO DAS COMISSES TCNICAS...........................................................82
3.1 Introduo.................................................................................................................82
3.2 As comisses no processo legislativo britnico e o americano.........................84
3.2.1 Reino Unido....................................................................................................84
3.2.2 Estados Unidos...............................................................................................85
3.3 As comisses parlamentares e o processo legislativo brasileiro.......................91
3.4 A capacidade institucional das comisses..........................................................103
3.5 Avaliao de impacto da legislao......................................................................113
3.5.1 A experincia britnica..................................................................................115
3.5.2 As vantagens da avaliao de impacto.........................................................120
3.6 A deferncia s comisses tcnicas....................................................................124
4. TERCEIRA PROPOSTA DE APRIMORAMENTO DO PODER LEGISLATIVO:
REGULAMENTAO DO LOBBY.....................................................................................128
4.1 Introduo...............................................................................................................128
4.2 O lobby e a democracia..........................................................................................130
4.3 As vantagens da regulamentao.........................................................................133
4.4 O lobby no direito comparado...............................................................................137
4.4.1 Estados Unidos.............................................................................................137
4.4.2 Canad..........................................................................................................147
4.4.3 Reino Unido...................................................................................................150
4.4.4 Unio Europeia..............................................................................................157
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4.4.5 Sntese: Estados Unidos, Canad, Reino Unido e Unio Europeia..............160
4.5 A regulao do lobby no Brasil.............................................................................165
4.5.1 Fundamentos constitucionais........................................................................165
4.5.2 Dispositivos regimentais................................................................................168
4.5.3 Dois projetos de lei sobre o tema..................................................................169
4.5.3.1 O Projeto de Lei n 203/1989 Senado........................................................169
4.5.3.2 O Projeto de Lei 1.202/2007 Cmara.........................................................171
4.6 Nossa opinio: algumas diretrizes........................................................................173
CONCLUSO.......................................................................................................................178
REFERNCIAS....................................................................................................................183
ANEXO A..............................................................................................................................192
ANEXO B..............................................................................................................................194
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INTRODUO
[...] small changes can have large democratizing effects.
Adrian Vermeule1
Como no existem deuses para legislar, tampouco se pretende fechar o
Congresso Nacional, ho de ser pensadas medidas para fortalecer o Poder
Legislativo.
No plano terico, o Legislativo a casa de deliberao pblica por excelncia,
cuja legitimidade deriva do lastro popular. Contudo a realidade outra. Prticas
poltico-partidrias reprovveis, interesses particularistas, cooptao de
parlamentares ditam as decises.
A populao, por seu turno, se, num primeiro momento, reagiu com desprezo,
agora porta-se com indiferena ante a rotina de escndalos. O desinteresse
generalizado. O pblico no sabe nem se interessa pelo que est na pauta do dia.
Diferentemente da TV Justia, a TV Senado e a TV Cmara, que poderiam servir
para aproximar representantes e representados, no passam de instrumentos
considerados enfadonhos. O sentimento de avano em relao aos Poderes
Judicirio e Executivo e de retrocesso em relao ao Poder Legislativo.
Salvo em raras ocasies, parlamentares, em geral, agem como subordinados
ao Executivo. Comportam-se como caudatrios. Carecem, no plano real, de
autonomia poltica, predicado necessrio instituio cuja funo precpua, a par de
legislar, fiscalizar. Graas atuao sobretudo do Judicirio e da imprensa, o
Executivo no detm coroa nem cetro2. Para o equilbrio entre os Poderes, parece
pouco contribuir o Legislativo. Quase sempre est deriva das principais decises
do Estado. At mesmo sua agenda imposta pelo Executivo.
O desprestgio do Poder Legislativo parece advir tambm de sua progressiva
desimportncia na produo normativa. A cada dia, parecem interessar menos as
leis e mais os precedentes do Poder Judicirio, as medidas provisrias, as decises
1 VERMEULE, Adrian. Mechanisms of Democracy. Oxford University Press, 2007, p. 3. Traduo livre:
pequenas mudanas podem produzir grandes efeitos democrticos. 2 A expresso utilizada por Eduardo Mendona, ao tratar da execuo oramentria empreendida atualmente
no Brasil. MENDONA, Eduardo. A constitucionalizao das finanas pblicas no Brasil. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
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e atos normativos das agncias reguladoras. Assim, se, por um lado, o fenmeno
vivenciado corresponde a uma crise, por outro, em alguma medida, pode ser
considerado um rearranjo das atribuies do Poder Legislativo, que precisa
encontrar seu rumo, seu espao, de maneira a reduzir o hiato entre teoria e prtica
democrticas.
Medidas de revigoramento do Poder Legislativo que passem ao largo da to
esperada reforma poltica e que no ignorem o agir estratgico dos parlamentares:
esse o foco do estudo a ser empreendido. O objetivo perquirir meios para resgatar
o papel do Legislativo, o que de forma alguma significa desqualificar outras
instncias decisrias, em especial o Poder Judicirio. A anlise a que se proceder
compreende apenas aspectos jurdicos que podem incrementar a legitimidade do
Poder Legislativo, embora o tema tambm comporte exame sob o ngulo da cincia
poltica.
Como engajar o Parlamento na deliberao, como aumentar-lhe a
transparncia, como aproxim-lo dos representados, como resgatar seu papel, como
fortalecer a accountability, sem que se conte com deuses legisladores ou
exclusivamente com homens virtuosos? Quais mecanismos, que independam da
reforma poltica, podem reduzir o hiato entre teoria e prtica democrticas?
Essas so indagaes de difcil resposta. Relacionamos algumas medidas
pontuais que podem contribuir para revigorar o Poder Legislativo, de maneira a
fortalec-lo no contexto da separao entre os Poderes e a aproxim-lo dos
representados. Apesar de pontuais, so medidas com potencial de produzir efeitos
positivos considerveis.
Os captulos, com exceo do primeiro, tm introduo prpria, motivo por
que ora so apresentados brevemente. O primeiro, o mais curto, traz nota terica a
propsito do papel do Poder Legislativo e a propsito da democracia deliberativa,
cujos valores serviro para guiar as medidas propostas. O segundo trata de algumas
prticas atuais que comprometem a atuao do Poder Legislativo e demandam
correo, a saber: a falta de apreciao do veto, a atual forma de elaborao e de
execuo da lei oramentria, o poder excessivo dos lderes e a tutela jurisdicional
limitada do devido processo legislativo. O terceiro captulo prope, como medida
para revigorar o Poder Legislativo, o fortalecimento das comisses temticas, por se
acreditar que esses rgos so as arenas mais aptas para a deliberao efetiva e
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transparente. Nessa parte, merece destaque a chamada avaliao de impacto,
ferramenta que pode ser utilizada pelas comisses para aprimorar o processo
legislativo. O quarto captulo, por fim, defende a regulamentao do lobby, com base
nas experincias do direito comparado.
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