Cristiane Ba
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CRISTIANE BORGES ANGELO
OS SENTIDOS DA AUTONOMIA DOCENTE NO DESENVOLVIMENTO
CURRICULAR
NATAL
2006
CRISTIANE BORGES ANGELO
OS SENTIDOS DA AUTONOMIA DOCENTE NO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação
Orientador: Prof. Dr. Iran Abreu Mendes
NATAL-RN
2006
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Divisão de Serviços Técnicos
Angelo, Cristiane Borges. Os sentidos da autonomia docente no desenvolvimento curricular /
Cristiane Borges Angelo. – Natal, 2006. 148 f. il.
Orientador: Prof. Dr. Iran Abreu Mendes Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-Graduação em Educação.
1. Educação – Tese. 2. Autonomia - Tese. 3. Desenvolvimento curricular – Tese. 4. Formação de professor - Tese. 5. Matemática – Tese. I. Mendes, Iran Abreu. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 371.13 (81) (043.3)
CRISTIANE BORGES ANGELO
OS SENTIDOS DA AUTONOMIA DOCENTE NO DESENVOLVIMENTO
CURRICULAR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação
Aprovada em 20 de julho de 2006
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dr. Iran Abreu Mendes (Orientador)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
________________________________________________
Profª. Drª. Adair Mendes Nacarato (Examinadora Externa)
Universidade São Francisco - USF
________________________________________________
Prof. PhD. John Andrew Fossa (Examinador Interno)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
________________________________________________
Profª. Drª. Bernadete Barbosa Morey (Suplente)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Natal/RN, 20/07/2006
Dedico esse trabalho a minha mãe Alice que, na simplicidade de seus ensinamentos, me fez compreender os valores do estudo, da honestidade e da ética.
Agradeço primeiramente a Deus pelas oportunidades que tem me dado ao longo de minha caminhada e, principalmente, por ter colocado em minha vida todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para que esse trabalho fosse realizado.
Ao Professor Dr. Iran Abreu Mendes por aceitar prontamente o meu pedido de ser sua orientanda, pelo privilégio de ter sua orientação competente e pela confiança que depositou em mim.
À Professora Dra. Rosália de Fátima e Silva pela atenção dirigida a esse trabalho, pela amizade, incentivo e atenção demonstrados ao longo do Seminário e Atelier de Análise Compreensiva do Discurso.
À Professora Dra. Adair Mendes Nacarato que gentilmente aceitou o convite para participar da banca examinadora.
Ao Professor PhD. John Andrew Fossa pelas contribuições dadas no Seminário de Orientação de Dissertação I e por ter aceitado o convite de participar da banca examinadora.
À Professora Dra. Márcia Maria Gurgel pela acolhida no Programa de Pós Graduação em Educação dessa Universidade.
À Professora Dra. Arlete de Jesus Brito pelas sugestões dadas no Seminário de Orientação de Dissertação II.
A todos os colegas, professores e funcionários do programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN.
Aos colegas do PROCEFET pelo coleguismo e incentivo e por permitirem a minha ausência durante seis meses para que pudesse concluir esse trabalho.
À Professora Deuselina pela revisão lingüística que realizou neste trabalho e à Professora Ana Lúcia pela contribuição dada ao resumen.
À Direção Geral do CEFET-RN e em especial à Gerência de Desenvolvimento de Recursos Humanos por fomentar políticas de incentivo à formação de seus servidores.
E, finalmente, aos professores de Matemática participantes desta pesquisa, pela confiança em mim depositada ao exporem suas idéias. Sem eles esse trabalho não poderia ser viabilizado.
RESUMO
Esse estudo firma-se no caminho da formação e do desenvolvimento profissional de
professores de Matemática, objetivando compreender, a partir do discurso de
professores de Matemática, o sentido atribuído à autonomia profissional e como
esse sentido é refletido na produção e desenvolvimento curricular da disciplina de
Matemática. Para tal, utilizamos a entrevista compreensiva, metodologia baseada no
pressuposto fundamental da palavra na construção do objeto de estudo. A partir do
discurso de cinco professores que lecionam a disciplina de Matemática, no Centro
Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte, percebemos que a
autonomia está atrelada a uma posição de soberania em sala de aula, o que se
traduz em um trabalho voltado para o individualismo. Constatamos que as reuniões
pedagógicas, espaços por excelência para discussões e reflexões acerca do ensino
de Matemática e conseqüente desenvolvimento profissional, não contribuem para
que o mesmo se efetive. Percebemos, também, que o livro didático é utilizado para
padronizar o trabalho dos professores e que o vestibular, ainda, é tomado como
referência no que concerne ao currículo de Matemática na instituição, o que impede
a efetivação de um desenvolvimento curricular da disciplina de Matemática, em que
sejam considerados solidariamente todos os seus componentes.
Palavras-chave: autonomia, desenvolvimento curricular, formação de professores de Matemática, desenvolvimento profissional de professores de Matemática.
Resumen
Ese estudio se firma en el camino de la formación y del desarrollo profesional de
profesores de Matemáticas, objetivando comprender, a partir del discurso de
profesores de dicha asignatura, el sentido atribuido a la autonomía profesional y
cómo ese sentido es reflejado en la producción y desarrollo curricular de la
asignatura de Matemáticas. Para tal, utilizamos la entrevista comprensiva,
metodología basada en el supuesto fundamental de la palabra en la construcción del
objeto de estudio. A partir del discurso de cinco profesores que imparten la
asignatura de Matemáticas en el Centro Federal de Educación Tecnológica de Rio
Grande do Norte, percibimos que la autonomía está unida a una posición de
soberanía en aula, lo que se traduce en un trabajo volcado al individualismo.
Constatamos que las reuniones pedagógicas, espacios por excelencia para
discusiones y reflexiones acerca de la enseñanza de Matemáticas y consecuente
desarrollo profesional, no contribuyen para la mejora de la enseñaza de dicha
disciplina. Percibimos, también, que el libro didáctico es utilizado para estandarizar el
trabajo de los profesores y que la selectividad todavía es punto de referencia en lo
que concierne al currículum de Matemáticas en la institución, lo que impide la
realización de un desarrollo curricular de la asignatura de Matemáticas en que sean
considerados conjuntamente todos sus componentes.
Palabras Claves: autonomía, desarrollo curricular, formación de profesores de matemáticas, desarrollo profesional de profesores de Matemáticas.
SUMÁRIO
RESUMO 05
RESUMEN 06
SUMÁRIO 07
DESVELANDO O OBJETO DE ESTUDO 091 A CONSTRUÇÃO DO OBJETO 102 O DESENVOLVIMENTO CURRICULAR COMO INSTRUMENTO DE FORMAÇÃO PERMANENTE DO PROFESSOR
13
3 OS SENTIDOS DA AUTONOMIA DOCENTE 174 OBJETIVOS DA PESQUISA 245 APRESENTANDO A METODOLOGIA 255.1 Os sujeitos investigados 295.2 As entrevistas 315.3 A interpretação 335.4 Os planos evolutivos 34
PARTE I – O PROFESSOR DE MATEMÁTICA 42
CAPÍTULO 1 - ESCOLHENDO O CAMINHO 44UNINDO AS PEÇAS 49
CAPÍTULO 2 – CONTEXTUALIZANDO A FORMAÇÃO 51UNINDO AS PEÇAS 69
CAPÍTULO 3 – REVIVENDO O PASSADO PARA CONSTRUIR O FUTURO 70UNINDO AS PEÇAS 77
PARTE II – O CONTEXTO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 79
CAPÍTULO 4 – CONTEXTUALIZANDO A INSTITUIÇÃO 814.1 APRESENTANDO O CEFET-RN 814.2 REVELANDO OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO CURRÍCULO 844.3 DESVELANDO O CURRÍCULO DE MATEMÁTICA 87
12
UNINDO AS PEÇAS 105
CAPÍTULO 5 – REVELANDO OS IMPEDIMENTOS 1065.1 O SENTIDO DA AUTONOMIA PARA OS PROFESSORES PESQUISADOS
106
5.2 O LIVRO DIDÁTICO 1095.3 O VESTIBULAR 118UNINDO AS PEÇAS 124
CONSIDERAÇÕES FINAIS 127
REFERÊNCIAS 130
APÊNDICE 139
DESVELANDO O OBJETO DE ESTUDO
DESVELANDO O OBJETO DE ESTUDO
1 A CONSTRUÇÃO DO OBJETO
Nas últimas décadas as investigações relativas ao tema “Formação e
Desenvolvimento Profissional de Professores de Matemática” têm se ampliado e se
constituído em uma área de pesquisa cada vez mais consistente. Nesse panorama,
o professor de Matemática é visto como um elemento-chave dentro do contexto
educacional e seu envolvimento no processo educativo é sobremaneira importante
para que haja uma mudança significativa que convirja para a melhoria do ensino de
Matemática em nosso país.
Acreditamos que quaisquer mudanças que se deseja implantar nas escolas
devem levar em consideração as vozes dos professores, afinal de contas eles
desempenham um papel fundamental no cotidiano escolar.
Apesar de todo o avanço das pesquisas sobre a formação e o
desenvolvimento profissional de professores e, especificamente, de professores de
Matemática, sempre nos pareceu que a participação do professor no processo de
definições curriculares e de conteúdos matemáticos a serem trabalhados em sala de
aula ainda era muito pequena. Tínhamos a impressão de que o papel do professor
de Matemática se encontrava reduzido aos procedimentos metodológicos de sala de
aula, ficando definidos externamente a seleção de conteúdos, independente da
realidade em que se encontrava o contexto escolar, predominando “um ensino em
11
que o professor expõe o conteúdo, mostra como resolver alguns exemplos e pede
que os alunos resolvam inúmeros problemas semelhantes.” (D’AMBROSIO, B. 1993,
p. 38). Predominância essa que, a nosso ver, é fruto de uma formação que não
prepara o futuro professor para, por exemplo, exercer competências que convirjam
em um desenvolvimento curricular da disciplina de Matemática.
Além disso, as recentes reformas educacionais que temos assistido em
nosso país acabam ficando distantes dos principais agentes que irão vivenciá-las.
Com relação à proposição supracitada, Ponte, Matos e Abrantes (1998, p. 215),
afirmam que
muitas propostas curriculares têm sido lançadas com pressupostos ingênuos acerca do modo como a elas irão agir os professores – os principais agentes que, ao fim e ao cabo, são chamados a pô-las em prática.
Diante dessa realidade e a partir das leituras que fomos fazendo ao longo
de nossa experiência, surgiu uma questão a ser respondida: qual o sentido da
autonomia docente na organização curricular da disciplina de Matemática.
Essa questão abriu o caminho para que nos propuséssemos a realizar uma
investigação que se firmaria no caminho da formação e do desenvolvimento
profissional de professores de Matemática e que visaria a compreender o sentido da
autonomia docente na organização curricular, pois acreditamos que “um melhor
conhecimento dos professores pode ajudar no estabelecimento de políticas
educativas mais adequadas” (PONTE; MATOS; ABRANTES, 1998, p. 215). Políticas
essas que acreditamos serem decisivas na melhoria da formação dos professores
de Matemática.
12
Nesse sentido, e ainda com a preocupação de contribuir com o
desenvolvimento profissional de professores de Matemática e, por conseguinte, com
a melhoria do ensino dessa disciplina, lançamo-nos ao desafio de buscar
compreender, os sentidos da autonomia no trabalho docente, a partir das
percepções e vivências dos professores de matemática, e o reflexo desses sentidos
na organização curricular da disciplina de Matemática.
Por acreditarmos que o desenvolvimento profissional dos professores está
intimamente ligado à cultura da escola e por pensarmos que a prática dos
professores está condicionada à mesma, nos propomos a investigar professores,
levando em consideração o contexto em que desempenham as suas funções. Por
conta disso, realizamos nossa investigação, com professores que lecionam a
disciplina de Matemática, no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio
Grande do Norte (CEFET-RN)1.
A escolha do lócus de pesquisa se deu por tratar-se da instituição a qual
estamos ligados profissionalmente, que possui um grande reconhecimento frente à
comunidade local e nacional, por ser um local em que lecionam professores de
Matemática com larga experiência docente e, finalmente, porque sentimo-nos
responsáveis por dar um retorno, através dos resultados de nossa pesquisa,
contribuindo para a qualidade do trabalho oferecido na instituição.
Além disso, a instituição supracitada passa atualmente por um processo de
reconstrução/redimensionamento de seu Projeto Político-pedagógico, que teve início
em abril de 2004, processo esse que consideramos terreno fértil para discussões
acerca do ensino das diversas disciplinas na instituição.
1 A partir desse ponto iremos utilizar a sigla CEFET-RN, para nos referirmos ao Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte.
13
Como enfatizamos, nosso trabalho firma-se no caminho da formação e
desenvolvimento profissional de professores de Matemática, não sendo um trabalho
específico sobre currículo, mas tendo como pressuposto que o desenvolvimento
curricular pode ser um instrumento de formação permanente do professor no
ambiente escolar, conforme veremos nas reflexões a seguir.
2 O DESENVOLVIMENTO CURRICULAR COMO INSTRUMENTO DE
FORMAÇÃO PERMANENTE DO PROFESSOR
Nos últimos anos, muito se tem debatido, não só em nosso país, mas
internacionalmente, sobre o currículo de Matemática. Na realidade brasileira, esses
debates são fomentados principalmente pela tensão existente entre as novas
tendências em educação matemática, vinculadas aos mínimos curriculares explícitos
nas diretrizes do ensino da disciplina de matemática, e nas dificuldades de
implementação dessas novas tendências.
Os professores, por sua vez, protagonistas desse processo, se vêem,
muitas vezes, sem respostas para muitas perguntas que são levantadas acerca
dessas questões.
Acreditamos que uma das primeiras definições que devem estar claras para
os professores é o que vem a ser o currículo. Para tal, recorremos ao modelo de
currículo elaborado por D’Ambrosio, U. (1986), que possui uma natureza holística
nas quais os componentes objetivos, conteúdos e métodos se relacionam
14
solidariamente, de uma maneira semelhante às coordenadas de um ponto localizado
no sistema cartesiano tridimensional (figura 1).
Nesse modelo de currículo, ao movimentarmos um ponto localizado no
espaço tridimensional, perceberemos que as suas coordenadas se modificarão. De
forma análoga qualquer alteração de currículo, levando em consideração o modelo
proposto por D’Ambrosio, U. (1986), terá como implicação a modificação de todos os
seus componentes.
Se tomarmos como referência esse modelo, perceberemos que o mesmo
está assentado na ação, no caso ação pedagógica, o que implica incorporar a
componente crítica à ação do professor, fazendo com que passe a questionar a sua
prática e os métodos utilizados.
Nesse sentido D’Ambrosio, U. (1986, p. 45) defende que
cada vez que fatores socioculturais e econômicos sugerem uma (re) definição de objetivos, associada a isto deverá haver uma sensível mudança no conteúdo a ser tratado, bem como na metodologia para se conduzir esse conteúdo .
Métodos
Objetivos
Conteúdos
(O, C, M)
Figura nº 1
15
Isso implica que, ao discutir reformulações curriculares para o ensino de
Matemática, os componentes métodos, objetivos e conteúdos devem ser analisados
simultaneamente, sob o risco de se perder o sentido desses componentes se os
isolarmos dos demais.
Buscamos também em Coll (1987) referências acerca do tema. O autor
destaca que em uma proposta curricular está implícita uma visão de sociedade e de
pessoa que se queira promover. Nesse sentido, para o autor, o currículo escolar não
pode ser visto somente em dimensões técnica, psicopedagógica e disciplinar, mas,
além disso, deve ser implementado intrinsecamente com o contexto social e cultural
a que estará submetido. O autor ainda destaca que deve ser dada atenção especial
à diversidade de capacidades, interesse e motivações dos alunos, atenção essa que
se configure na pedra angular de um currículo.
Acerca das finalidades do currículo, encontramos em Sacristán (2000, p.
18), reflexões que extrapolam uma visão simplificada, quando chama a atenção para
o fato de que
[...] quando se fala de currículo como seleção particular de cultura, vem em seguida à mente a imagem de uma relação de conteúdos intelectuais a serem aprendidos, pertencentes a diferentes âmbitos da ciência, das humanidades, das ciências sociais, das artes, da tecnologia, etc. – esta é a primeira acepção e a mais elementar. Mas a função educadora e socializadora da escola não se esgota aí, embora se faça através dela, e, por isso mesmo, nos níveis do ensino obrigatório, também o currículo estabelecido vai logicamente além das finalidades que se circunscrevem a esses âmbitos culturais, introduzindo nas orientações, nos objetivos, em seus conteúdos, nas atividades sugeridas, diretrizes e componentes que colaborem para definir um plano educativo que ajude na consecução de um projeto global de educação para os alunos. Os currículos, sobretudo nos níveis de educação obrigatória, pretendem refletir o esquema socializador, formativo e cultural que a instituição escolar tem.
16
A partir dessa reflexão somos levados a pensar que a instituição escolar
possui uma natureza complexa em que estão relacionados diversos fatores e que os
conteúdos escolares estão alicerçados sobre os pilares do saber (conceitos), saber
fazer (procedimentos) e saber ser (valores) e, por conseguinte, imbricados da cultura
que a instituição escolar avalia como importantes para que convirjam na formação
integral do cidadão.
Para que haja a convergência para uma formação integral do cidadão a
educação precisa assumir seu verdadeiro papel na formação da consciência crítica,
disseminando a autonomia como valor central na defesa de um projeto de cidadania
moderno que promova a liberdade do homem (SIQUEIRA; PEREIRA, 2003). Nesse
sentido, os conhecimentos considerados essenciais devem modificar-se à medida
que a sociedade vai se transformando, ou seja, o currículo deve acompanhar as
mudanças implementadas na sociedade.
Nesse sentido, chamamos a atenção para o fato de que
as funções que o currículo cumpre como expressão do projeto de cultura e socialização são realizadas através de seus conteúdos, de seu formato e das práticas que cria em torno de si. Tudo isso se produz ao mesmo tempo: conteúdos (culturais ou intelectuais e formativos), códigos pedagógicos e ações práticas através dos quais se expressam e modelam conteúdos e formas. (SACRISTÁN, 2000, p. 16)
Com efeito, essas três dimensões estão intrinsecamente relacionadas, uma
vez que durante o desenvolvimento curricular há um movimento de criação e
recriação que implica em um diálogo constante entre os conteúdos, os códigos
pedagógicos e as ações práticas.
17
Para Veiga (1995), é necessário que se promova na escola uma reflexão
aprofundada sobre o processo de produção do conhecimento escolar, pois a seu
ver, ele é ao mesmo tempo processo e produto. Essa reflexão, segundo a autora,
ampliaria a compreensão sobre o currículo propriamente dito.
Nesse sentido, o desenvolvimento curricular significa o currículo avaliado,
transformado e adaptado, levando-se em consideração a realidade em que se
encontra a escola.
Por conseqüência, entendemos o desenvolvimento curricular como um
instrumento de formação permanente de professores, haja vista que esse
desenvolvimento implica em uma reflexão constante por parte dos professores,
reflexão essa que os leva a desenvolverem-se profissionalmente.
3 OS SENTIDOS DA AUTONOMIA DOCENTE
Nossa pesquisa focaliza a dimensão da autonomia no trabalho docente, na
organização curricular da disciplina de Matemática, entendida através da percepção
e vivência dos professores de Matemática.
No nosso entendimento um ensino voltado para o exercício da autonomia
docente é aquele comprometido com uma aprendizagem que Freire (1996, p. 69)
define como “construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem
abertura ao risco e aventura do espírito”.
18
Isso significa que, em um movimento contínuo, o professor vivencia sua
autonomia buscando significado para seu trabalho à medida que tenta superar suas
dificuldades diárias, procura soluções para seus problemas, conscientiza-se de seu
papel ativo e da dimensão política, social e histórica enquanto educador e ainda se
utiliza da reflexão visando à melhoria de sua prática.
Kant (1959), em sua Crítica da Razão Prática, define a autonomia como o
único princípio de todas as leis morais e dos deveres correspondentes às mesmas,
que consiste na independência de toda a matéria da lei. Em contrapartida, para o
filósofo, a heteronomia funda-se na dependência à lei moral. Para Kant (1959), a
natureza, em um sentido lato, é a existência de coisas sob leis empiricamente
condicionadas, estando ligada à heteronomia. A existência de leis morais
independentes de toda a condição empírica, por sua vez, atrela-se à autonomia.
Essa, por conseguinte, vigoraria naquilo que Kant chama de natureza modelo
(natura archetypa), que só é conhecida na razão. Partindo dos princípios de Kant,
podemos dizer que o comportamento moral autônomo não sofre nenhum
condicionamento externo, o que, na realidade, só poderia ser aplicado no que Kant
chama de natureza modelo. Nesse sentido, não podemos desvincular a autonomia
da heteronomia sob pena de transportar nosso discurso para o mundo ideal, que
difere do mundo real a qual estamos imersos.
Buscando aprofundar o sentido da autonomia, recorremos a Castoriadis
(1999), filósofo grego contemporâneo, que entende a autonomia como o oposto à
alienação. Para Castoriadis (1999, p. 9),
em qualquer sentido, a autonomia humana significa poder de criação, individual e coletiva, à luz do qual cada sociedade e cada indivíduo deverão ser considerados em sua sensibilidade. Ineliminável. Inextinguível.
19
Quando Castoriadis (1999) defende que a autonomia se relaciona ao poder
de criação, nas dimensões individual e coletiva, corrobora com a idéia de que a
autonomia docente está pautada tanto no modo de ser quanto no modo de estar dos
professores, levando em conta o contexto de atuação profissional.
Nessa perspectiva, encontramos em Contreras (2002, p. 186) a autonomia
entendida como processo, haja vista que
a autonomia profissional de professores, entendida como processo progressivo de emancipação, não estaria desconectada da autonomia social, ou seja, das aspirações das comunidades sociais por criar seus próprios processos de participação e decisão nos assuntos que afetam suas vidas.
No que se refere ao desenvolvimento curricular, consideramos que a
autonomia se exerce, principalmente, na capacidade para intervir no processo de
decisões sobre o currículo e sua estruturação, nas determinações das finalidades da
educação e na forma como se concretizam, em sala de aula, as determinações
expressas em um currículo básico.
Seguindo essa linha de pensamento, encontramos fundamentação em
Janela Afonso (2004 apud Cunha, 2004, p. 39) que expõe que a autonomia está
ligada “a capacidade de fazer escolhas dentro de certos limites, que envolvem
pressupostos éticos, legais e relacionados aos costumes e valores. Escolhas essas
suscetíveis de justificativas científicas, pedagógicas dentro de um contexto
democrático”.
20
Seguindo uma linha que se ancora na autonomia como emancipação,
encontramos em Bonafé (1998) um entendimento sobre a autonomia como a adoção
de uma atitude ética e moral que diz respeito à construção do conhecimento escolar,
o que implica na responsabilidade do professor pelo conhecimento que será
construído dentro de sala de aula. Conhecimento esse que estará fundamentado
através de atitudes críticas e reflexivas.
Ao discorrer sobre a idéia da autonomia profissional vinculada ao
desenvolvimento curricular Bonafé (1998, p. 45) apresenta-a como “a capacidade
para intervir em um processo de decisão sobre o modo como o currículo básico se
concretiza em artefatos ou ferramentas para a atividade nas aulas”2. O autor
acrescenta ainda que, quanto ao material didático a ser utilizado pelo professor, a
autonomia profissional deve significar “a capacidade dos professores para
selecionar, organizar, corrigir, modificar, adaptar, substituir, aumentar, melhorar e
criticar o material que a indústria de materiais põe a disposição”3(BONAFÉ, 1998, p.
45).
Isso significa que o professor deve posicionar-se e ter o poder de escolha
do tipo de material que quer utilizar e como vai utilizar esse material em sala de aula.
Para tal, faz-se necessário que o professor exerça sua capacidade crítica frente aos
desafios que lhe são apresentados.
Ao falar em autonomia docente, não podemos deixar de fazer menção ao
fato de que esse é um termo que há muito está difundido nos discursos
educacionais, quer seja na escola, na academia e também nas bases legais que
regem o professorado. Por conta dessa ampla difusão, o mesmo é permeado de
2 Tradução livre da pesquisadora 3 Tradução livre da pesquisadora
21
ambigüidades e contradições. Contreras (2002, p. 275), pondera sobre esse fato nos
dizendo que
a autonomia não é um chamado à auto complacência, nem tampouco ao individualismo competitivo, mas a convicção de que um desenvolvimento mais educativo dos professores e das escolas virá do processo democrático da educação, isto é, da tentativa de se construir a autonomia profissional juntamente com a autonomia social.
Contreras (2002), ao ponderar sobre o imaginário produzido em torno da
autonomia docente, identifica três modelos de professores – o especialista técnico, o
profissional reflexivo e o intelectual crítico - e a concepção de autonomia profissional
relacionada a cada um deles.
No modelo de especialista técnico a autonomia é compreendida como
status ou como atributo. Diz respeito a uma autonomia ilusória haja vista a
dependência de diretrizes técnicas, a insensibilidade para dilemas e a incapacidade
de resposta criativa diante da incerteza.
Na dimensão do profissional reflexivo a autonomia é tida como
responsabilidade moral individual, considerando os diferentes pontos de vista e
equilíbrio entre independência de juízo e responsabilidade social, sobressaindo a
capacidade para resolver criativamente as situações-problema para realização
prática das pretensões educativas.
Em relação ao intelectual crítico a autonomia apresenta-se como
emancipação, ou liberação profissional e social das opressões, em que ocorre a
superação das distorções ideológicas e a consciência crítica, configurando-se como
22
um processo coletivo dirigido à transformação das condições institucionais e sociais
do ensino.
Indo além dos modelos de formação, com suas limitações e insatisfações,
acreditamos que a autonomia se dá através de um processo de construção
permanente, em que estão implicados muitos fatores.
Não podemos falar em autonomia profissional sem refletir sobre o
desenvolvimento profissional dos professores. É através do desenvolvimento
profissional que o docente se torna sujeito fundamental em seu processo de
construção de sua autonomia profissional. Mas esse é um processo que não pode
ser concebido com os professores atuando isoladamente em suas salas de aulas.
Acerca dos fatores que podem influenciar o que acontece dentro do ambiente
escolar, Hargreaves (1994a apud Contreras, 2002, p. 233-234) expõe que esses
fatores são “produtos da cultura institucional da escola, isto é, produtos de seus
hábitos e costumes, de suas normas, das relações que ali se criam, e das
mentalidades e modos de operar que se admitem ou se rejeitam, seja de forma
implícita ou explícita” .
Não obstante, com o processo de proletarização4 que vem sendo gerado há
muito, o professor se vê diante de tensões, que culminam em um favorecimento a
rotinização do trabalho docente, impedindo a troca de experiências entre os
professores, principalmente pela falta de tempo, pois, demasiadas vezes, os
mesmos têm que se desdobrar em jornadas duplas e até triplas. Essa situação,
sobremaneira, impede o exercício da reflexão por parte dos profissionais docentes.
Esse quadro contribui, também, para o individualismo, dificultando ou até mesmo
4 Contreras (2002) considera o fenômeno da proletarização como aquele em que os docentes, enquanto categoria, sofrem uma transformação, tanto nas características de suas condições de trabalho como nas tarefas que realizam, que os aproxima cada vez mais das condições e interesses da classe operária.
23
impedindo os professores de serem sujeitos que participam coletivamente da
tomada de decisões.
Face ao exposto, acreditamos que existe uma relação entre a autonomia
docente, a sociedade e o ambiente de trabalho a qual os professores estão
inseridos, pois conforme discorre Contreras (2002, p. 227),
não é possível falar de autonomia de professores sem fazer referência ao contexto trabalhista, institucional e social em que os professores realizam seu trabalho. Seu desenvolvimento não é apenas uma questão de vontade e livre pensamento por parte dos docentes. As condições reais de desenvolvimento de sua tarefa, bem como o clima ideológico que a envolve, são fatores fundamentais que a apóiam ou a entorpecem.
Nesse sentido, buscamos em Kant (1959) a fundamentação do que
Contreras (2002) menciona anteriormente - autonomia advinda do apoio e a
heteronomia relativa ao entorpecimento, ambas relacionadas ao contexto no qual o
docente está inserido.
Quando falamos do exercício da autonomia docente na organização
curricular da disciplina de Matemática queremos chamar a atenção para o papel que
o professor pode desempenhar de agente transformador, quando assume seu
trabalho não somente no espaço físico da sala de aula, mas também no espaço da
instituição escolar e, por conseguinte na sociedade a qual está inserido. Por outro
lado e conforme havíamos mencionado anteriormente, a autonomia docente, no que
se refere à produção curricular, além de ser concretizada no exercício da seleção,
organização, correção, modificação, adaptação, melhoramento e crítica aos
materiais didáticos, deve ser exercida, de maneira especial, pela discussão,
proposição, seleção e organização do conhecimento escolar (BONAFÉ, 1998).
24
Isso exige que o professor assuma a responsabilidade por sua ação
docente, o que demanda, de antemão, conhecimentos específicos que deveriam
estar presentes desde sua formação inicial.
Diante do exposto, queremos deixar claro que o professor, por si só, não
conseguirá desempenhar o papel de agente transformador. É claro que a sua
vontade é sobremaneira importante, mas não suficiente. Nessa direção, cremos que,
conforme exposto no parágrafo anterior, uma formação inicial condizente com as
reais necessidades da educação, além de uma melhoria das condições de trabalho
do professor que vão desde salário condigno, jornada não exaustiva, entre outras,
também têm o seu papel nessa transformação.
4 OBJETIVOS DA PESQUISA
Essa pesquisa insere-se no quadro de formação e desenvolvimento de
professores de Matemática orientando-se a partir do estudo e da análise da
formação e do desenvolvimento profissional de professores de Matemática, tendo
como objetivo geral compreender, a partir do discurso de professores de
Matemática, o sentido atribuído à autonomia profissional e como esse sentido é
refletido na produção e desenvolvimento curricular da disciplina de Matemática.
Para tal, se propõe especificamente a identificar os motivos que levaram o
professor a escolher a profissão; investigar como o professor avalia os
conhecimentos apreendidos em sua formação inicial e como esses conhecimentos
se relacionam com a sua atuação enquanto professor de Matemática; analisar a
dinâmica do trabalho do professor na instituição escolar; identificar a relação entre
25
os sentidos da autonomia docente e o desenvolvimento curricular da disciplina de
Matemática na Instituição.
5 APRESENTANDO A METODOLOGIA
Trabalhamos nessa pesquisa utilizando a metodologia da Entrevista
Compreensiva (KAUFMANN, 1996), que tem como pressuposto fundamental a
palavra do sujeito. Na entrevista compreensiva parte-se do discurso oral dos sujeitos
para se construir o objeto de estudo. Através de entrevistas analisamos os sentidos
explicitados pelos sujeitos, e qual a relação desses sentidos em suas ações.
Entendendo sentido como todo aspecto valorativo, atrelado à ação.
A Entrevista Compreensiva tem raízes no interacionismo simbólico que
[...] concebe a sociedade como uma entidade composta de indivíduos e grupos em interação(...), tendo como base o compartilhar de sentidos sob a forma de compreensões e expectativas comuns. (...) A vida em grupo representa um processo de formação, sustentação e transformação de objetos, cujos sentidos se modificam através da interação (...).O ser humano age com relação às coisas na base dos sentidos que elas tem para eles. (HAGUETTE, 2000, p. 57-58)
Compartilhando com os pontos destacados acima, optamos por utilizar em
nossa pesquisa a metodologia supracitada, pois entendemos o sujeito como um ser
que age com relação às coisas, a partir do sentido que essas coisas têm para si.
Esses sentidos surgem da interação do sujeito com o outro, que age, interage,
26
reflete, age novamente, alimentando e retro-alimentando sua existência, modificando
esses sentidos através desses processos.
Isso nos faz perceber os atores participantes de nosso estudo envolvidos
em uma complexa rede que tem seu lugar na instituição a qual desempenham suas
funções, mas que se conecta com a sociedade que está a sua volta.
Em que se pese a complexidade que envolve o lugar social em que se
encontram os docentes, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de estudar
o professor atrelado às condições em que esses desempenham seus papéis de
professores.
Para Coulon (1995) é a concepção dos atores, a respeito do mundo social
que constitui o objeto essencial da pesquisa sociológica. Das considerações
precedentes, ratificamos que a palavra do sujeito nos permite compreender seu
significado, advindo de sua interação social. Na mesma direção, Silva (2005, p. 4)
nos diz que
a entrevista compreensiva é ligada ao sentido da cultura compreendida como um conjunto de interações em que o indivíduo é um sistema complexo de relações. Desta forma, o objeto da pesquisa é a vida do entrevistado inscrita na problemática da pesquisa.
Ao utilizar a metodologia da Entrevista Compreensiva, nos deparamos com
quatro etapas de trabalho que coadunam para a construção do objeto de estudo:
1ª) A escolha do objeto de estudo a partir de uma questão central. Questão
essa que advém das inquietações e dúvidas do pesquisador e que
culminam na escolha de um objeto a ser estudado.
27
2ª) A elaboração do roteiro-guia de entrevista, constituído por eixos
temáticos que se queira investigar. Eixos que dizem respeito ao que o
pesquisador considera importantes à questão concernente à sua pesquisa.
3ª) A realização das entrevistas5 que se configura no encontro do
pesquisador e do pesquisado e que se dá em um contexto de relações em
que devem ser levadas conta as subjetividades concernentes a cada um.
4ª) A escuta das entrevistas, que permitirá, tomando como aporte os
referencias teóricos, interpretar os discursos dos sujeitos pesquisados.
Com efeito, “... o objeto de estudo se constrói pouco a pouco por meio de
uma elaboração teórica que aumenta dia após dia, a partir de hipóteses forjadas no
campo da pesquisa” (SILVA, 2005, p.2). Isso significa que é a partir da palavra do
sujeito, advinda das interrogações propostas acerca da questão central da pesquisa,
e dos referencias teóricos tomados para a discussão do tema, que as hipóteses vão
aflorando, possibilitando ao investigador descobrir novas teorias, não partindo de
hipóteses pré-determinadas.
Isso se configura no que Ludke (1998, p. 125) chama de abertura para
novas visões que permite que o pesquisador aproxime-se mais de seu objeto de
estudo e com isso afaste-se “das limitações impostas pelos pressupostos
epistemológicos que regem a construção do conhecimento nas áreas
tradicionalmente conhecidas como científicas”. Essa abertura dá lugar à figura do
artesão intelectual, expressão empregada por Wrigth Mills (1982, p. 240) que
defende que “evitemos qualquer norma de procedimento rígida” e que “acima de
tudo, busquemos desenvolver e usar a imaginação sociológica”. Para Mills (1982), o
intelectual não deve separar sua pesquisa de sua vida, e sim, usar a sua experiência
5 Todas as entrevistas foram gravadas em fitas-cassete, com a autorização do professor entrevistado.
28
para a construção de seu objeto de estudo, estabelecendo, dessa forma, sua
condição de artesão.
Santos (1995, p. 19) ao refletir sobre enfoque das pesquisas relacionadas a
formação de professores nos diz que aos poucos a análise centrada nas questões
estruturais da sociedade vai sendo substituída por “estudos voltados para a
compreensão mais aprofundada de aspectos específicos da realidade” .
Com efeito, passa-se a valorizar aspectos microssociais, dando ênfase ao
papel do agente-sujeito, a interessar-se pelas identidades culturais, a desconfiar-se
de categorias objetivas e a predominar o uso de procedimentos interpretativos.
Nesse sentido a metodologia da entrevista compreensiva se traduz em uma
abordagem em que continuamente os sujeitos investigados são questionados, para
que se perceba como esses sujeitos interpretam a sua realidade tanto do ponto de
vista pessoal como social. Partindo do que foi abordado durante as entrevistas,
seguido das várias escutas que foram feitas das mesmas, procedeu-se ao
levantamento de categorias que fundamentaram os sentidos que os professores dão
à autonomia e como esses sentidos se articulam com o desenvolvimento curricular
da disciplina de Matemática.
Enfatizamos que, no nosso íntimo, acreditamos não haver uma última
resposta, uma solução definitiva, uma compreensão e interpretações plenamente
desenvolvidas e que dão conta de todas as dimensões do fenômeno interrogado. O
que haverá sempre é o “andar em torno... outra vez e outra ainda. Um andar
cuidadoso, que solicita rigor e sistematicidade” (BICUDO, 1993, p. 148).
29
5.1 OS SUJEITOS INVESTIGADOS
Os sujeitos participantes dessa pesquisa são cinco professores de
Matemática que exercem suas atividades no Centro Federal de Educação
Tecnológica do Rio Grande do Norte - CEFET-RN.
O critério utilizado para a escolha desses cinco professores foi o de reunir
professores que lecionassem em diferentes níveis de ensino e que, ao serem
convidados para a entrevista, demonstrassem interesse e vontade em participar da
pesquisa. Por conta desse critério consideramos que cinco professores eram
suficientes para o desenvolvimento de nossa pesquisa, tendo em vista que tivemos
representantes do primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Médio Integrado, do
Ensino Superior e da Educação a distância e que, ao receberem o convite,
manifestaram-se positivamente acerca de suas participações, o que para nós era
uma condição sine qua non.
Ao realizarmos as entrevistas preenchemos um quadro de identificação,
com algumas características dos sujeitos pesquisados. A partir desse quadro,
optamos por fazer uma caracterização geral dos professores, de forma que os
mesmos não fossem identificados. Isso se deve ao fato que, quando solicitamos aos
professores que nos concedessem a entrevista, enfatizamos que os mesmos não
iriam ser identificados no curso do trabalho.
Com relação à forma como nomeamos os professores nos orientamos
através da tese de doutoramento de Helena Noronha Cury (1994), que por sua vez
orientou-se em Lakatos (1978, apud CURY, 1994) e, da mesma forma que esses
últimos, utilizamos algumas letras do alfabeto grego, para nomear esses
professores, haja vista que “preferimos nomeá-los - mesmo que com nomes fictícios
30
- para assegurar a não-identificação, mas garantir sua distinção enquanto seres
humanos.” (CURY, 1994, p. 151).
No nosso caso demos ao entrevistado, ainda, a oportunidade de escolher
que letra o mesmo gostaria de ser chamado. Assim sendo, os entrevistados foram
nomeados nesse trabalho por Alfa, Pi, Epsilon, Omega e Gama.
Dos cinco professores entrevistados, quatro são do sexo feminino e um do
sexo masculino. Optamos por usar a forma masculina quando nos referimos aos
sujeitos, como forma, também, de evitar a sua identificação.
Com relação à formação acadêmica, todos são licenciados em Matemática,
sendo que três possuem Mestrado e dois Especialização, em maior nível. Os
professores que possuem Especialização em maior nível estão cursando Mestrado
na área de ensino de Matemática.
O tempo na carreira de magistério varia de 18 a 26 anos. Todos os
professores têm experiência em escolas públicas e particulares. O tempo que
possuem como professor do CEFET-RN varia de 13 a 19 anos. Todos os
professores trabalham sob o regime de dedicação exclusiva.
Com relação ao nível em que lecionam, tivemos representantes do 1º, 2º e
3º anos do Ensino Médio Integrado, do Ensino Superior e da Educação a Distância.
Isso não significa que os professores pesquisados lecionem somente em um nível.
Um dos professores leciona no 2º e 3º ano; outro no 2º ano, Ensino Superior e
Educação a Distância; outro somente no Ensino Superior; outro no 2º ano e outro no
1º e 2º ano.
O número de classes as quais os professores lecionam varia de 2 a 4
classes.
31
Com relação ao ambiente em que se deu a entrevista todas aconteceram no
CEFET-RN, com exceção de um professor que nos recebeu em sua casa.
5.2 AS ENTREVISTAS
Nesse trabalho, foram realizadas cinco entrevistas com professores
licenciados em Matemática, com mais de dez anos de experiência docente e que
desenvolvem seu trabalho no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio
Grande do Norte.
A realização das entrevistas contou com a confecção de um roteiro-guia,
que foi dividido em quatro eixos temáticos, quais sejam:
1º Eixo temático: História do Sujeito, que pretendia entender o porquê da
escola pela docência em Matemática, além de diagnosticar o pensamento do
professor acerca de sua formação, entender o pensamento do professor
sobre sua profissionalização, se pensava já estar totalmente formado ou em
formação, além de verificar os fatores que, de acordo com seu pensamento,
contribuem para essa formação.
2º Eixo temático: Vivências, que visava perceber se o professor se
identificava como um profissional autônomo, além de investigar quais os
parâmetros em que se dava (ou não) a autonomia do professor.
3º Eixo temático: Ação Pedagógica, que tinha como intuito de investigar a
dinâmica em que ocorria a elaboração do currículo matemático na instituição,
perceber até que ponto o professor participava (ou não) da elaboração do
currículo de matemática, dentro da instituição, Diagnosticar o contexto real em
32
que os professores trabalhavam e a avaliação que o professor fazia do
mesmo, perceber se o professor trabalhava em uma dimensão coletiva ou se
seu trabalho era voltado para o isolamento, identificar como se dava a relação
do professor com o livro-texto, identificar como o professor avaliava o espaço
destinado à reunião pedagógica, dentro da instituição de ensino, perceber até
que ponto o professor é autônomo em sua prática, diagnosticando, se for o
caso, os mecanismos de controle a que estava sujeito, diagnosticar, a partir
do pensamento do professor, outras questões que o mesmo acreditava que
poderiam dificultar a sua prática enquanto professor de matemática, além de
identificar a natureza do conhecimento que o professor priorizava em sala de
aula.
4º Eixo temático: Definições, que compreendiam o que o professor pensava
sobre Educação, Educação Matemática, Currículo e Autonomia profissional
Essa divisão obedeceu a uma ordem de encadeamento que se iniciava com
questões relativas ao vir a ser professor de Matemática, passando pelas vivências
do professor e pela forma como se dava sua ação pedagógica, finalizando com
alguns conceitos que achávamos pertinentes de questionar aos professores, dando
atenção a aspectos como “... o propósito do professor, o professor como pessoa, o
contexto real em que os professores trabalham e a cultura do ensino” (PONTE;
MATOS; ABRANTES, 1998, p. 224).
Pela própria natureza da metodologia utilizada, as perguntas lançadas
durante a entrevista não foram pré-determinadas e foram fluindo no transcorrer da
conversa com os professores. Isso não significa que foram perguntas casuais, ao
contrário, se configuraram em questionamentos relacionados aos eixos temáticos a
qual elegemos previamente.
33
Por se tratar de um roteiro-guia, muitas vezes algumas questões que
pertenciam a um ou outro eixo temático, acabavam sendo respondidas antes de
entrarmos nos respectivos questionamentos relativos ao eixo temático a qual
tínhamos definido de antemão.
5.3 A INTERPRETAÇÃO
A interpretação das entrevistas iniciou quando começamos a escutar as
fitas-cassete que continham as entrevistas gravadas. A partir desse momento,
iniciou-se um movimento de ida e vinda, em que se articulava a fala do sujeito, as
nossas observações e os autores que coadunavam com o assunto em pauta. Ao
mesmo tempo em que escutávamos a fala dos sujeitos e anotávamos o que
considerávamos que ia ao encontro do nosso objeto de estudo, fazíamos
observações acerca dessas anotações e articulávamos esses trechos de falas
destacados com os autores que apresentavam idéias e estudos relativos à temática
em foco. Nesse sentido, por várias vezes retornávamos aos referenciais teóricos
para reavaliar as idéias e redirecionar as leituras em função das idéias apresentadas
pelos sujeitos investigados.
As várias escutas que fizemos das fitas-cassete nos permitiram chegar
pouco a pouco a algumas categorias que deram origem aos nossos planos
evolutivos.
34
5.4 OS PLANOS EVOLUTIVOS
O plano evolutivo, como o próprio nome diz, é um instrumento de evolução
do trabalho. Nesse tipo de plano, as categorias vão surgindo, através da escuta da
fala dos sujeitos, e do diálogo que essas falas mantêm com as leituras que são
realizadas, configurando-se em partes e subpartes, se articulando e se
movimentando no transcorrer da interpretação das falas.
Nesse trabalho, foram confeccionados seis planos evolutivos6. Partimos de
nosso roteiro-guia para dar origem ao nosso primeiro plano evolutivo. Esse plano foi
dividido em quatro eixos temáticos. O primeiro eixo temático dizia respeito à história
do sujeito entrevistado e trazia questões como o porquê de ser professor de
matemática, as lacunas da formação do sujeito e o que o sujeito pensava sobre sua
formação. O segundo eixo temático, por sua vez, trazia questões relativas à vivência
do professor entrevistado, tais como o sentido da autonomia docente e os
mecanismos de controle a que o mesmo estava sujeito. O terceiro eixo temático
apresentava pontos sobre a ação pedagógica do professor e focava assuntos como
a dinâmica de elaboração do currículo matemático na instituição, a participação (ou
não) do professor nessa elaboração, o contexto de trabalho e avaliação que o
professor fazia do mesmo, se o professor trabalhava em uma dimensão coletiva ou
isolada, como se dava o planejamento das aulas e se o livro-texto era adotado, a
avaliação da reunião pedagógica, as dificuldades encontradas no desenvolvimento
do trabalho do professor e a natureza do conhecimento priorizado em sala de aula.
O quarto eixo temático versava sobre alguns conceitos que foram percebidos, ao
6 Ver apêndice
35
longo das entrevistas, sobre educação, educação matemática, currículo e
autonomia.
No segundo plano as categorias começaram a surgir de acordo com a
escuta das falas dos sujeitos, contidas nas fitas-cassete e, à medida que esse plano
ia se configurando, outras categorias foram acrescidas ou tiveram seu status
modificado.
Nesse segundo plano, surgiu na categoria escolha a subcategoria queria
outra carreira; na categoria formação apareceram as subcategorias tecnicista e
estudo solitário – longo aprendizado; na categoria o início da carreira tivemos a
subcategoria trabalho com demonstrações – formalismo; na categoria hoje, por sua
vez, constaram as subcategorias conhecimentos prévios, colaboração x autoridade,
o vestibular; os alunos querem conteúdo; na categoria Matemática constaram as
subcategorias forma de estimular o raciocínio e pensamento elaborado x banalidade;
nesse mesmo plano ainda tivemos as categorias material didático a qual faziam
parte as subcategorias eu produzi e o livro didático é muito técnico; a categoria
currículo, cuja subcategoria era é de longa data; a categoria participação, em que a
subcategoria foi não participo com afinco; a categoria autonomia, dividida nas
subcategorias abertura na instituição e longo aprendizado e, por fim, a categoria
educação cuja subcategoria foi não se pára para pensar.
Na medida em que escutávamos as falas dos sujeitos as categorias iam
mudando seu status dando origem a novos planos evolutivos.
No terceiro plano evolutivo, novas subcategorias surgiram e se juntaram as
categorias que já constavam no segundo plano. Na categoria escolha
acrescentamos a subcategoria na família sempre tem um professor; na categoria
formação adicionamos a subcategoria hiato entre as disciplinas pedagógicas e
36
específicas; as subcategorias espelho de outros professores e intransigência foram
acrescidas à categoria o início da carreira; a subcategoria competição foi adicionada
à categoria hoje, da mesma forma, na categoria matemática emergiu a subcategoria
aplicação; a categoria material didático e participação mantiveram-se com as
mesmas subcategorias até aquele momento da interpretação; por sua vez às
categorias currículo e autonomia foram acrescidas as subcategorias ajustes nos
conteúdos e uso de diversas metodologias, respectivamente. Concluímos esse
terceiro plano acrescentando à categoria educação a subcategoria processo
dinâmico.
A partir dos relatos dos professores investigados elaboramos um quarto
plano evolutivo em que surgiram novas subcategorias atreladas às categorias já
contidas no terceiro plano evolutivo. Também tivemos uma mudança de status de
uma subcategoria que passou a ser considerada como categoria.
Com relação às subcategorias que foram acrescidas às categorias já
existentes tivemos na categoria escolha o surgimento da subcategoria maior
afinidade; na categoria a formação o acréscimo das subcategorias mini-bacharelado,
falta de aprofundamento de conteúdos do ensino médio e professor é profissão; já
na categoria o início da carreira acrescentamos a subcategoria procurando, vendo,
buscando; as subcategorias qualificação através da experiência e abertura para
escutar foram acrescentadas à categoria hoje; nas categorias matemática,
participação e educação surgiram as subcategorias capacidade de raciocínio lógico
e abstração, pragmatismo do professor e interação, respectivamente; as categorias
material didático, currículo e autonomia mantiveram-se com a mesma conformação.
Por sua vez, com a escuta das falas começamos a perceber que a questão do
vestibular e o peso que o mesmo tinha na elaboração do currículo de matemática da
37
instituição era muito forte, haja vista que esse assunto fora citado, diversas vezes,
por todos os professores e em vários momentos das entrevistas. Por esse motivo, a
partir do quarto plano evolutivo mudamos o status da subcategoria o vestibular e
passamos a considerá-la como uma nova categoria, tendo ela própria uma
subcategoria intitulada a amarra.
A partir do quinto plano evolutivo começamos a perceber que algumas
categorias estavam mais diretamente ligadas à formação e ao desenvolvimento
profissional dos sujeitos investigados e outras, por sua vez, estavam atreladas ao
ensino de matemática na instituição. Por esse motivo, optamos por dividir esse plano
em duas partes, quais sejam:
Parte I - A formação e o desenvolvimento profissional dos sujeitos
investigados;
Parte I - Contextualizando o ensino de matemática na instituição.
As categorias que consideramos que tinham relação com a formação e o
desenvolvimento profissional dos sujeitos investigados foram: a escolha, a
licenciatura, o início da carreira e hoje. Já as categorias currículo, o vestibular, a
matemática, material didático, participação, autonomia, educação, reunião
pedagógica, ambiente de trabalho e educação matemática foram relacionadas à
contextualização do ensino de matemática na instituição.
No plano supracitado, a categoria a escolha apresentava as seguintes
subcategorias: afinidade com a disciplina, cultura da família e o que mais se
aproximava; a categoria o início da carreira manteve-se com as mesmas
subcategorias do plano anterior; a categoria formação que constava no quinto plano
evolutivo deu lugar à categoria a licenciatura haja vista que todos os professores
investigados eram licenciados e sempre ao falar em formação começavam
38
descrevendo como tinha sido sua formação no Curso de Licenciatura em
Matemática. Por sua vez essa categoria apresentou três subcategorias:
racionalidade técnica, incompatibilidade com ensino médio e professor é profissão.
No que diz respeito às categorias que iam ao encontro da contextualização
do ensino de matemática na instituição tivemos o aparecimento de reunião
pedagógica cuja subcategoria intitulou-se não sinto que eu cresça; tivemos, também,
a categoria o ambiente de trabalho com a subcategoria o pragmatismo do
matemático e, ainda, a categoria educação matemática cuja subcategoria foi suporte
para o professor; à categoria autonomia que já aparecia nos planos anteriores foi
adicionada a subcategoria não ser escravo do planejamento. As demais categorias
que constavam na segunda parte dos planos e que já apareciam em planos
anteriores mantiveram-se com a mesma configuração.
O sexto e último plano evolutivo de nosso trabalho manteve a divisão em
duas partes conforme o quinto plano. Na primeira parte todas as categorias do plano
anterior foram mantidas e ainda incluímos a subcategoria correr atrás à categoria
hoje. Da mesma forma, na segunda parte do sexto plano constavam as mesmas
categorias de seu antecessor acrescidas das subcategorias não somos uma ilha
relativa à categoria o vestibular; formar o cidadão em sua integridade na categoria
educação e na categoria currículo o acréscimo das subcategorias feito por
matemáticos e reformulação.
Com a finalização do sexto plano evolutivo acreditamos que tínhamos
extraído todas as categorias e subcategorias que nossa interpretação tinha permitido
até aquele momento da pesquisa. Nesse momento iniciamos um trabalho de
lapidação de nosso último plano, trabalho esse que deu origem à estrutura de nossa
dissertação.
39
Ressaltamos que em um trabalho dessa natureza, andamos muitas vezes,
por caminhos obscuros, e o nosso papel, enquanto pesquisadora é encontrar pistas
para que cheguemos à luz. Luz essa que nunca virá em sua totalidade, pois “os
discursos são ambíguos e opacos e, assim, mesmo que tenham uma lógica
argumentativa impecável, contém elementos para desvelamento – este, por sua vez,
é sempre parcial” (SILVA, 2005, p.2).
Como podemos observar, à medida em que ouvíamos a fala dos sujeitos,
construíamos, como em um jogo de encaixes, o nosso objeto de estudo. Essa
escuta nos indicava algumas hipóteses iniciais que foram se confirmando no
transcorrer da interpretação. Com efeito, Silva (2005, p.2, grifo do autor) confirma o
que vivenciamos na prática da entrevista compreensiva: “a teoria é elaborada
progressivamente, dentro de um ‘vai’ e ‘vem’ contínuo entre os fatos e as hipóteses.”
Todo esse percurso se processou como que num jogo de encaixes em que
íamos movimentando as peças, encaixando-as umas às outras, desencaixando-as,
por vezes, até que por fim concluímos a construção de nosso objeto de estudo.
Em virtude desse movimento de encaixe que, recorrendo à metáfora do
quebra-cabeça, nos atrevemos a revelar, através de um esquema gráfico, as peças
que compõem e que foram exploradas, durante a realização desse trabalho.
40
O encaixe de todas as peças permitiu que desvelássemos, mesmo que
parcialmente, os discursos dos professores, haja vista que atuamos em um campo
por vezes opaco. Com o intuito de registrar esse desvelamento, produzimos essa
dissertação que é composta de duas partes.
A primeira parte, intitulada O Professor de Matemática, pretende situar o
professor de Matemática em um contexto amplo, estando dividida em três capítulos,
quais sejam: Capítulo 1 – Escolhendo o caminho, em que são apontados os motivos
que levaram os professores a escolherem a docência em Matemática; Capítulo 2 –
PROFESSOR DE MATEMÁTICA
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
DESENVOLVIMENTO CURRICULAR
INSTITUIÇÃO ESCOLA
COLABORAÇÃO
VESTIBULAR
LIVRO DIDÁTICO
HETERONOMIAAUTONOMIA
REFLEXÃO
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Contextualizando a formação, que busca na história a formatação dos cursos de
Licenciatura em Matemática e discute, a partir da formação dos sujeitos
pesquisados, os modelos de formação de professores de Matemática em nosso
país; e o Capítulo 3 – Revivendo o passado e construindo um futuro, que revela
através da trajetória dos professores pesquisados, os conhecimentos adquiridos na
formação e como esses conhecimentos se configuram na atuação profissional.
Na segunda parte do trabalho que denominamos O contexto de atuação
profissional, discutimos o trabalho docente na instituição. Para tal, dividimos essa
parte em dois capítulos, que são seqüência dos capítulos anteriores. No Capítulo 4 -
Contextualizando a instituição, fizemos um breve histórico do CEFET-RN, a fim de
situar o lócus da pesquisa, além de discorrermos sobre os princípios norteadores do
currículo e desvelarmos as orientações curriculares da disciplina de Matemática; no
Capítulo 5 – Revelando os impedimentos, arrazoamos sobre autonomia, bem como
sobre os impedimentos que foram revelados, através dos discursos dos professores
e que influenciam o seu trabalho docente.
Esclarecemos que ao final de cada capítulo abrimos uma seção
denominada Unindo as peças, título que sugere o processo em que se deu a
pesquisa – a união de peças que culminaram na completude do trabalho. Nessa
seção realizamos uma síntese do que foi exposto no capítulo e um encaminhamento
para o capítulo seguinte.
PARTE I
O PROFESSOR DE MATEMÁTICA
43
PARTE I - O PROFESSOR DE MATEMÁTICA
Uma pesquisa que tem como pano de fundo a formação e o
desenvolvimento de professores de Matemática possui como uma das peças-chave
o professor de Matemática. Sem ele não há pesquisa, e é para ele que é feita a
pesquisa.
Com o intuito de conhecer melhor o professor de Matemática, o porquê de
ter escolhido essa profissão, compreender como ocorreu sua formação e identificar
os conhecimentos a que recorre enquanto atua é que dedicamos, nessa dissertação,
a uma parte específica que contempla questões inerentes ao professor de
Matemática, que nos auxiliarão na compreensão do sentido da autonomia docente,
no que concerne ao desenvolvimento curricular da disciplina de Matemática.
44
CAPÍTULO 1 - ESCOLHENDO O CAMINHO
A escolha profissional pelo exercício da docência em Matemática configura-
se a priori num projeto particular que não deve ser desassociado de um projeto
coletivo. Com efeito, o exercício da docência é uma atividade que vai sendo
construída a partir das experiências pessoais do sujeito levando em consideração o
coletivo e a sociedade a qual esse sujeito está inserido.
Ao discutirmos os sentidos da autonomia docente no desenvolvimento
curricular, primeiramente buscaremos compreender o que levou os sujeitos
pesquisados a seguirem a carreira de professores de Matemática. Um primeiro
aspecto a ser considerado é o modo como a profissão docente foi escolhida.
Nesse sentido, partimos para a busca da compreensão de como cada
professor construiu seu percurso formativo, buscando relações entre as dimensões
pessoal, social e profissional desse percurso.
Ao mesmo tempo em que questionarmos os professores quanto a sua
escolha pelo curso de Licenciatura em Matemática, e conseqüentemente pela
docência estaremos aprofundando as reflexões sobre formação docente, focalizando
a realidade interpretada pelo sujeito, haja vista que “os conhecimentos profissionais
são essencialmente conhecimentos em ação e possuem enraizamento tanto na
história de vida dos professores, nas suas experiências, pessoais e profissionais,
nos seus percursos formativos, quanto nas relações que vão sendo compartilhadas
e nos contextos em que estas se dão” (MONTEIRO; MIZUKAMI, 2002, p. 179).
Falar da escolha profissional dos professores entrevistados os fez remontar
às suas histórias de vida, como no caso de Pi que diz que “a minha história como
45
professor começou na adolescência”7. Pi remonta à adolescência, pois segundo seu
relato foi a essa época que começou a lecionar, através de aulas particulares a
disciplina de Matemática. Esse depoimento enfatiza que os saberes que englobam
a profissão docente começam a serem configurados antes da entrada no exercício
da profissão haja vista toda a história de vida do professor inserida no contexto
escolar como estudante. Em consonância com a fala de Pi, Anastasiou expõe que “a
aprendizagem para a docência é algo que se inicia antes até de nossas primeiras
experiências escolares” (ANASTASIOU, 2004, p. 59).
Percebemos na fala dos entrevistados um aspecto em comum que é o gosto
pela Matemática. Essa unanimidade pode ser observada em falas como a de Gama
e de Alfa em que ambos dizem: “Eu sempre gostei de Matemática.”; de Epsilon: “Eu
gostava da área de Exatas. Gostava de Matemática.”; de Ômega: “Eu gostava muito
de cálculo.” e Pi que afirma “Eu tinha muita facilidade com a Matemática”. Isso nos
faz refletir sobre o fato de que somente quem gosta muito da disciplina de
Matemática e que teve uma história de vida escolar prazerosa no que concerne à
aprendizagem dessa disciplina é que toma a iniciativa de cursar uma graduação
nessa área de conhecimento. Essa reflexão se funda em nossa própria vivência e se
concretiza nas palavras de Pi ao referir-se sobre o ensino de Matemática: “ou você
traumatiza ou você começa a gostar”.
Apesar de nossos entrevistados serem unânimes no gosto pela Matemática
os motivos que levaram à escolha por um Curso de Licenciatura nessa disciplina são
diversos.
Conforme já mencionamos anteriormente a afinidade com a disciplina de
Matemática foi fator determinante na escolha do curso superior. Embora na maioria
7 No transcorrer do trabalho, as falas dos sujeitos entrevistados serão apresentadas entre aspas e em itálico.
46
dos casos essa não tenha sido a primeira opção de escolha. O conteúdo dos
depoimentos obtidos permitiu constatar que embora tivessem muita afinidade com a
disciplina de Matemática, a licenciatura foi uma alternativa para aqueles que não
passaram no vestibular para um outro curso ligado à área das exatas, como
pudemos observar no depoimento de Alfa que diz: “na verdade quando eu fiz a
faculdade eu não pensei na profissão que eu teria. Fiz vestibular para engenharia e
não passei ai fiz vestibular pra matemática e passei”, ou Gama: “na verdade eu não
pensava... não passei para Arquitetura, daí fiz Matemática”. Em ambos os casos a
licenciatura em Matemática apresentou-se como uma oportunidade mais próxima de
acesso à universidade.
Outro fator que foi diagnosticado como responsável pela escolha do curso
de licenciatura em Matemática foi a impossibilidade de locomoção para outra
localidade devido à situação sócio-econômica familiar, como relata Epsilon: “Eu tinha
vontade de fazer Engenharia Química, mas não tinha condições de vir para Natal. Aí
eu procurei fazer o curso que eu achava que tinha mais a ver comigo, que foi a
Matemática.”
Pi destaca em sua fala que “é quase cultural na família”. Pi relata que não
gostaria de seguir um curso superior, mas o fez, pois sua mãe sempre dizia: “quer
parar de estudar, então deixe prá parar quando você tiver uma profissão. E o curso
que formava como profissão era o magistério”. Na fala de Pi evidenciamos a
docência como uma área de fácil empregabilidade. Essa evidência nos faz pensar
naquilo que está impregnado no imaginário coletivo: qualquer um pode ser
professor, é uma carreira de emprego fácil, é só cursar uma licenciatura e começar a
dar aulas8.
8 Campos e Pessoa (1998) sugerem que a expressão “dar aulas” oculta o papel de profissional e fortalece a imagem de doação construída historicamente.
47
Observamos que a maioria dos professores pesquisados não pensava,
como um projeto maior de vida, em ser professor. A maior parte dos docentes
manifesta que a licenciatura foi a alternativa possível para aquele momento de suas
vidas.
A fala dos sujeitos deixa implícito o fato de que em nosso país os cursos de
licenciatura gozam de um status inferior, na medida em que eles deixam claro que a
docência não estava no primeiro plano de suas escolhas.
Apesar de, nos últimos anos, observarmos movimentos que lutam por
quebrar o status de sub-profissão, o profissional da educação por vezes encontra-se
em uma encruzilhada: por um lado sofre com o desprestígio, tendo seu trabalho
pouco valorizado através de baixas remunerações e de poucas condições de
produção de seu trabalho e por outro é visto como um dos principais responsáveis
por uma escola que ministre um ensino de qualidade. Dessa forma,
a educação vive espartilhada nessa dupla visão, como se a educação fosse, por um lado, um campo científico e profissional habitado por gente de pouco valor e, por outro lado, o terreno social onde se jogam quase todas as perspectivas das sociedades contemporâneas. (NÓVOA, 2001, p. 74)
Observamos que o desprestígio em que se encontra a profissão docente
tem suas raízes na própria maneira como as licenciaturas são organizadas na
Universidade, haja vista que
48
[...] a política das universidades quanto à proposta das licenciaturas é falha, principalmente porque desarticulada da realidade circundante. Por exemplo, dever-se-ia reconhecer que há alunos das licenciaturas que não desejariam ser professores secundários ou primários. Para estes, a profissão de professor(a) é apenas tolerada, porque não conseguiriam outro caminho mais atraente (medicina, engenharia) pelos motivos mais diversos. Porém a sociedade impõe a todos “ganhar a vida”, mesmo que não seja na profissão desejada, o que ocasiona a rejeição da profissionalização como professor. (FLORIANI, 2000, p. 48)
A realidade explicitada pelo autor, por vezes, é desconsiderada quando da
reformulação e replanejamento de projetos de cursos de licenciatura.
Os depoimentos obtidos chamam a atenção para o fato de que a escolha
por um curso de licenciatura, normalmente, se dá como uma segunda opção ou
como um desvio de percurso. Isso nos leva a pensar sobre o desprestígio perante a
sociedade que um curso de licenciatura tem em relação a outras áreas, tais como
medicina, direito ou engenharia.
Segundo Floriani (2000, p. 49) as licenciaturas gozam desse baixo status
porque os critérios os quais são avaliadas não são pertinentes, ou seja,
as licenciaturas não são estruturadas em torno de seu cerne pedagógico pertinente: a elaboração de propostas científico-didáticas que ponham ao alcance dos alunos dos diversos graus de ensino as concepções científicas estudadas na Universidade.
Não obstante, mesmo não sendo a profissão imaginada pelos docentes,
após o início do curso, notamos, através de suas falas, que houve uma identificação
com o mesmo. Epsilon deixa claro essa posição afirmando: “meio que por acaso eu
49
acabei entrando numa área que me identifiquei.” Ou na fala de Gama que coloca:
“no terceiro semestre que comecei a dar aula foi realmente que me identifique com a
profissão”. Da mesma forma Alfa diz: “me identifiquei muito”.
A partir do discurso desses professores somos levados a refletir sobre o que
os leva a se identificar com a profissão, mesmo sendo essa uma carreira que a priori
não estava em primeiro plano de escolha.
Por conta dessa reflexão, recorremos a Freire (1996) quando pondera
que nós, homens e mulheres somos os únicos seres que, social e historicamente
nos tornamos capazes de apreender. É nesse sentido que nós humanos, apesar das
barreiras com que nos deparamos somos conscientes de que os obstáculos não se
eternizam e que enquanto professor “a gente tá sempre trabalhando, ao mesmo
tempo, como professor, como aluno” conforme declara Pi, sabemos que ser
professor se dá em um processo em que “quem forma se forma e re-forma ao formar
e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. (FREIRE, 1996, p. 23)
A partir das reflexões de Freire (1996) somos levados a pensar que talvez
seja nessa direção que resida à identificação dos professores com o ofício de ser
professor, pois esse se dá em um processo de aprendizado constante.
UNINDO AS PEÇAS
Nesse capítulo, objetivamos explicitar os motivos que levaram os
professores a optarem pela docência em Matemática. Pudemos constatar que, para
a maioria, essa escolha se deu por um desvio de percurso. Apesar disso, os
50
professores são unânimes quando afirmam que se identificam com a profissão.
Refletimos nesse capítulo sobre o status inferior em que gozam os cursos de
licenciatura ao serem comparados aos cursos que possuem uma maior demanda,
tais como Medicina, Direto, Engenharias. Esse baixo status contribui para que a
profissão docente goze de certo desprestígio. Levando em consideração essa
realidade, discutiremos, no próximo capítulo, o contexto de formação dos
professores de Matemática.
51
CAPÍTULO 2 - CONTEXTUALIZANDO A FORMAÇÃO
Nos discursos da atualidade fala-se muito em formação de professores.
Formação essa que é entendida por nós como um processo contínuo que extrapola
os bancos escolares, pois acreditamos que “a formação não se constrói por
acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um
trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente
de uma identidade pessoal” (NÓVOA, 1997, p. 25).
Na mesma linha, Fiorentini e Castro (2003, p. 124) destacam que
pensar a constituição do professor somente no período da formação inicial, independente da continuada, isto é, daquela que acontece no próprio processo de trabalho, é negar a história de vida do futuro professor, é negá-la como sujeito de possibilidades.
Nesse sentido, entendemos a formação inicial de professores como parte de
um processo de desenvolvimento profissional, que não pode ser concebida de uma
maneira justaposta à formação permanente, mas sim, articulada ao processo de
desenvolvimento profissional. Processo esse que admite como metáfora uma
aventura. Uma aventura realizada através de uma viagem não planejada, aberta, em
que não sabemos onde iremos chegar ou se chegaremos a algum lugar. A formação
é uma viagem aberta, na qual alguém se deixa influenciar a si próprio, se deixa
seduzir e solicitar por quem vai ao seu encontro e na qual o cerne é esse próprio
alguém, a sua constituição, a sua desestabilização e a sua transformação
(LARROSA, 1998).
52
No campo da concretude, ao tratar da formação do professor de Matemática
damos destaque à direção que seguem, na maioria das vezes, os cursos de
Licenciatura em Matemática em nosso país. Salvo algumas exceções, os cursos de
Licenciatura em Matemática dirigem-se para um curso de bacharelado em
Matemática minimizado.
Isso se deve à própria história dos cursos de Licenciatura em Matemática no
Brasil. Segundo Silva (2002), foi com a criação da Faculdade de Filosofia, Ciência e
Letras da Universidade de São Paulo, em 1934 e da Faculdade Nacional de
Filosofia, no Rio de Janeiro, em 1939 que foram estabelecidos cursos específicos
que visavam à formação de professores para o ensino secundário, em nosso país.
Assim, os cursos destinados à formação de professores que foram surgindo nos
demais estados do Brasil, seguiram os modelos apresentados nos cursos
supracitados. Há que se ressaltar que
desde o início da criação dos cursos de bacharelado e licenciatura, houve uma nítida separação entre conteúdo específico e formação pedagógica. Assim, os bacharéis que se graduavam na FNFi9
poderiam receber licença para lecionar no magistério secundário somente após terem concluído o Curso de Didática. O professor secundário aparecia como um subproduto altamente especializado daquela instituição que visava, em primeiro lugar, promover a pesquisa. (SILVA, 2002, p. 104)
Nota-se que os cursos em questão eram focados em matemática pura,
sendo que a licenciatura diferenciava-se do bacharelado apenas pelo curso de
didática.
9 FINFi – Faculdade Nacional de Filosofia
53
Não obstante, a partir da década de 70, a licenciatura passa a se
caracterizar por um bacharelado atenuado, alterações que, segundo Lellis (2002, p.
24) “pouco valem e tem apenas caráter quantitativo, porque se mantém a mesma
visão de matemática e de seu ensino que encontramos no bacharelado”. Essas
alterações puderam ser constatadas no aumento de disciplinas de cunho
pedagógico, extrapolando a famosa fórmula 3 + 1.
Para exemplificar esse quadro citamos um painel apresentado por Angelo e
Mendes (2004), no I Colóquio Brasileiro de História da Matemática – IV Encontro
Luso-Brasileiro de História da Matemática, cujo objeto consistiu na análise das
grades curriculares relativas ao curso de Licenciatura em Matemática, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O referido trabalho teve como
objetivo analisar, historicamente, as grades curriculares do referido curso, em
consonância com a legislação vigente à sua época, focalizando, principalmente, os
paradigmas que sustentavam a educação matemática, buscando entender as
concepções ideológicas implícitas nos padrões manifestados através dessas grades.
A tabela 1 explicita a distribuição de créditos concernentes às disciplinas de cunho
específico e as de cunho pedagógico.
GradesNúmero total de créditos
Número de créditos
conteúdosespecíficos
%Número de
créditos conteúdos pedagógicos
%
Grade 1 129 106 82% 23 18% Grade 2 121 98 81% 23 19% Grade 3 121 98 81% 23 19% Grade 4 128 83 65% 45 35% Grade 5 189 118 62% 71 38%
(Tabela 1)
A partir da análise das cinco grades curriculares que compuseram o curso
de licenciatura em destaque, percebeu-se que, ao longo da história do Curso de
Licenciatura em Matemática da UFRN, houve um aumento de carga horária das
54
disciplinas pedagógicas concomitante a um decréscimo das disciplinas relacionadas
à matemática pura, conforme se pode observar na Tabela 1. Desse modo contatou-
se a atenuação do caráter de bacharelado que compunha a licenciatura em
Matemática daquela universidade.
O relato de Epsilon explicita uma caracterização geral de como se deu a sua
formação em Licenciatura em Matemática: “a licenciatura era como se fosse um mini
bacharelado”. No discurso de Epsilon temos sintetizado o aspecto da não identidade
da licenciatura em Matemática.
O currículo da Licenciatura em Matemática, na maioria das vezes, encontra-
se atrelado ao bacharelado, sendo desconsideradas, nesse caso, as especificidades
de um curso de formação de professores. Epsilon acrescenta ainda que “se tinha a
idéia se você sabe Matemática em um nível mais alto então você pode aprender os
conceitos mais elementares, mais simples, é tanto que não existiam disciplinas
voltadas especificamente para o ensino médio e nós éramos formados para
trabalhar no ensino médio”.
Nesse sentido, os currículos dos cursos de Licenciatura em Matemática
encontram-se numa via de duplo sentido: preparar professores para o Ensino
Fundamental e Médio ou preparar Matemáticos e, na maioria das vezes, esses
currículos não se direcionavam para nenhuma dessas duas vias.
Segundo Floriani (2000), tanto o bacharelado quanto a licenciatura em
Matemática ainda carregam resquícios do positivismo, estando impregnados em
seus currículos as marcas desse paradigma. Nesse sentido, Floriani (2000, p. 51)
destaca que
55
O bacharelado está orientado, em geral, por uma pedagogia fragmentada, conseqüência da repartição positivista do saber. Para a licenciatura tem-se que acrescentar ainda as conseqüências nefastas de um falso humanismo pedagógico, centrado em pieguices teorizantes desencarnadas de prática. O bacharelado visa a uma formação técnico-profissional. A licenciatura consegue acrescentar-lhe um penduricalho de formação pedagógica profissional.
O que Floriani (2000) afirma vai ao encontro do relato de Pi acerca das
disciplinas pedagógicas que cursou enquanto licenciando: “A gente via assim como
uma perfumaria, como uma disciplina complementar, pagava na marra”. Essa fala
aponta para um grave problema existente nos cursos de formação de professores: a
desarticulação quase que integral entre os conhecimentos específicos e os
conhecimentos pedagógicos. Esse fato, por conseguinte, é um campo fértil para o
surgimento da dicotomia entre a teoria e a prática.
A dicotomia teoria-prática choca-se com os fenômenos educativos que,
por sua vez, baseiam-se em princípios como “complexidade, incerteza, instabilidade,
singularidade e conflito de valores” (PÉREZ GOMÉZ, 1997, p. 99), não existindo
“uma teoria científica única e objetiva, que permita uma identificação unívoca de
meios, regras e técnicas a utilizar na prática” (PÉREZ GOMÉZ, 1997, p. 100).
Epsilon acrescenta que “se você comparasse a grade das duas
(bacharelado e licenciatura) era praticamente a mesma, o enfoque era muito
parecido [..] a gente saia sabendo Matemática, mas não saia sabendo ensinar
Matemática”.
56
O que Epsilon relata é uma prática comum em grande parte dos cursos de
formação de professores de Matemática e consiste na demasiada valorização dos
conteúdos matemáticos e no esquecimento de que o curso em questão tem como
finalidade a formação de professores habilitados para o ensino na educação básica.
Nesse sentido, falta à licenciatura em Matemática uma identidade própria de um
curso de formação de professores.
Ponte (2002) ao discorrer sobre a vertente profissional da formação inicial
de professores de matemática defende que os cursos de formação inicial que
formam professores nessa área de conhecimento devem ter uma direção diferente
dos cursos de matemática que visam formar matemáticos para se dedicarem
prioritariamente à investigação.
Pi, por sua vez, relacionando as disciplinas de caráter específico e as
disciplinas de caráter pedagógico diz que “existia um hiato entre aquela disciplina
pedagógica e as outras disciplinas, a gente não relacionava, como se fossem
conhecimentos estanques”. O discurso de Pi deixa clara a dicotomia conteúdos
pedagógicos versus conteúdos específicos desenvolvidos durante a formação na
Licenciatura em Matemática.
Não obstante termos consciência de que os enfoques dos cursos de
licenciatura em Matemática e de bacharelado em Matemática devam ser
diferenciados, as licenciaturas ainda
não têm estrutura essencial pertinente à sua finalidade maior da formação do(a) profissional chamado(a) docente de Matemática. Exibem uma essência não própria e tendem a se aproximar de algum modelo imposto por um outro curso. A licenciatura passa a não existir “em si” e nem “para si”. É claro que os “profissionais” por ela ‘formados’ projetam a sombra da vara original. (FLORIANI, 2000, p. 48, grifo do autor)
57
A respeito da sombra da vara original destacamos um recente artigo de
autoria de Lins (2005) que podera sobre a formação pedagógica em disciplinas de
conteúdo matemático nas licenciaturas em matemática. Lins (2005) nos chama a
atenção para o fato de que a formação de um professor segue o modelo do mestre-
aprendiz. Isso significa que mesmo nas disciplinas de caráter especificamente
matemático (matemática pura), como Cálculo Diferencial e Integral (citado como
exemplo no artigo em questão) está sendo oferecido ao futuro professor um modelo
de aula e um modelo de como se ensinar Matemática, independente do tipo de
modelo didático adotado pelo professor formador.
Percebemos a evidência desse fato na fala de Epsilon quando diz que “a
gente ia ensinar Matemática como um espelho dos profissionais que estavam lá”,
referindo-se aos professores que teve durante o período em que cursou a
licenciatura em Matemática.
Lins (2005) destaca ainda que a relação mestre-aprendiz não dá suporte
para uma formação consistente do professado ao afirmar que, no caso da formação
de professores, torna-se necessário “problematizar, tornar visível, discutir a relação
mestre-aprendiz [...]” (LINS, 2005, p. 118). Essa crítica se dirige às salas de aula em
que são formados professores de Matemática e em que não se têm espaços para
reflexão e criticidade.
Seguindo a mesma linha de pensamento Gonçalves e Gonçalves (1998, p.
123) defendem a necessidade do ensino como pesquisa e da pesquisa no ensino
por acreditarem que “ela pode ser a mola propulsora da formação e da
transformação do professor formador de professores, bem como do professor em
formação”.
58
Isso significa que a formação inicial deve ser encarada como “a primeira
fase de um longo e diferenciado processo de desenvolvimento profissional”
(GARCIA, 1997, p. 55), processo esse que deve ser permeado pela pesquisa.
Acreditamos ser importante destacar que as recentes discussões relativas
ao caráter da não identidade dos cursos de formação de professores ganharam
destaque no processo de re-elaboração das propostas de diretrizes curriculares para
e Ensino Superior (nível da graduação). Nesse sentido, e de acordo com o Parecer
CNE/CP 09/2001, a formação nesse nível de ensino aponta para três categorias, a
saber: Bacharelado Acadêmico, Bacharelado Profissionalizante e Licenciatura.
Dessa forma, a Licenciatura ganhou, como determina a nova legislação,
terminalidade e integralidade própria em relação ao Bacharelado, constituindo-se em
um projeto específico. Isso exige a definição de currículos próprios da Licenciatura
que não se confundam com o Bacharelado ou com a antiga formação de
professores que ficou caracterizada como modelo “3+1” (BRASIL, 2002).
Há que se ressaltar que as diretrizes legais concernentes à formação de
professores apontam para a desvinculação da licenciatura ao bacharelado, o que na
prática, se configura em um longo caminho de discussões e reformulações
curriculares que culminarão no alcance dessa orientação, haja vista os longos anos
de história em que as licenciaturas seguiram os passos do bacharelado. Também
devemos lembrar a distância que existe entre os discursos oficiais e as
reformulações práticas concernentes a esses discursos.
Vale lembrar que há muito as discussões em torno desse tema já foram
iniciadas. Uma das vertentes em que ocorrem essas discussões é a própria
formação dos formadores de Matemática, que, no nosso entender, são os
protagonistas que efetivarão as mudanças nos currículos dos cursos de licenciatura.
59
Nesse sentido, destacamos o referencial de Cury (2001) que, ao arrazoar
sobre a formação dos formadores de professores de Matemática, sugere que o
professor-formador ancore o ensino em suas pesquisas. A autora recomenda que
as disciplinas tidas como tradicionais nos cursos de Licenciatura em Matemática, tais
como Álgebra, Análise e Geometria não sejam extintas, mas sim que seus
conteúdos sejam ensinados sob a ótica da pesquisa. Assim, a autora registra que
os conteúdos devem ser ensinados, mas não como uma ‘cópia’, não como uma mera repetição do que já está escrito nos livros-texto. Eles devem ser enfocados a partir dos problemas que o docente pesquisa e na solução dos quais utiliza os conhecimentos de qualquer uma dessas áreas da Matemática. (CURY, 2001, p. 18, grifo da autora)
A autora supracitada conclui que, dessa forma, o aluno, além do conteúdo
matemático, estará aprendendo a se posicionar como pesquisador, pois o formador,
nesse caso, estará ensinando a produzir conhecimento.
Ensinado a produzir conhecimento o formador tenderá a romper “com o
paradigma de que fazer pesquisa é uma atividade exclusiva dele enquanto
pesquisador e não do aluno de graduação” (GONÇALVES, 2000, p. 20).
Seguindo a mesma direção, Mendes (2005) ao refletir sobre o ensino no
contexto universitário defende que o mesmo deveria ter como meta principal a
promoção da educação científica pelos estudantes. Para o autor, os professores
formadores, no caso dos cursos de formação de professores de Matemática,
deveriam estimular a investigação por parte dos alunos-licenciandos para que suas
60
futuras práticas docentes estejam alicerçadas em investigações que culminem no
desenvolvimento cognitivo de seus alunos.
As abordagens a serem efetivadas no contexto universitário de ensino
devem ter como meta principal fomentar a aquisição da educação científica pelos
estudantes. Dizemos isso por que cremos ser importante explicitar o caráter
investigatório nos ambientes em que esses estudantes estão envolvidos. É
necessário, porém, que os professores proponham e efetivem atividades formativas
permeadas por estratégias didáticas que estimulem o espírito investigador dos
estudantes de modo a articular a pesquisa à formação do futuro professor
pesquisador. Seguindo essa direção o formador faz de sua prática docente um
constante ir e vir na busca de soluções para o desenvolvimento cognitivo dos
estudantes.
Ancorados nos autores supracitados defendemos não uma minimização dos
conteúdos matemáticos ministrados na licenciatura ou a limitação dos mesmos aos
conteúdos que serão ensinados pelos futuros professores no Ensino Fundamental
ou Médio, mas sim, um redirecionamento que convirja num aprofundamento dos
conteúdos, através de atividades de pesquisa que funcionem como laboratório de
ensino de Matemática.
A respeito das deficiências que os cursos de licenciatura em Matemática
apresentam Gonçalves e Gonçalves (1998) na condição de formadores de
professores de Matemática, destacam como lacuna percebida pelos licenciandos a
falta de uma prática mais efetiva, em que o estudante universitário possa ter contato com o ambiente escolar, tendo contato com o ambiente escolar, tendo contato com os alunos e a complexidade que lhe é natural, uma vez que a prática de ensino vigente é, em geral, insuficiente para lhes proporcionar essa experiência reclamada. (GONÇALVES E GONÇALVES, 1998, p. 115)
61
Por essa razão, ao tratarmos de uma investigação que se firma no caminho
dos sentidos da autonomia docente no desenvolvimento curricular, não poderíamos
deixar de escutar os docentes acerca de sua formação inicial, pois o professor ao
relembrar o período em que esteve cursando sua licenciatura em matemática nos dá
indícios de que a formação inicial tem um papel fundamental na maneira como o
professor irá conduzir a sua trajetória enquanto docente. Evidenciamos esse fato
quando ouvimos Epsilon declarar que seus professores formadores eram o espelho
de como ensinar matemática.
Freire (1996, p. 90) ao manifestar-se acerca da experiência do professor
enquanto aluno registra que
a minha experiência discente é fundamental para a prática docente que terei amanhã ou que estou tendo agora simultaneamente com aquela. [...] Não devo pensar apenas sobre os conteúdos programáticos que vêm sendo expostos ou discutidos pelos professores das diferentes disciplinas mas, ao mesmo tempo, a maneira mais aberta, dialógica, ou mais fechada, autoritária, com que este ou aquele professor ensina.
Nesse sentido, uma formação inicial em um curso que não tem identidade
própria, que forma “bacharéis menores” como relata Epsilon, alicerçado na relação
transmissão-recepção de conteúdos, compreendido como um ensino bancário10,
10 Expressão difundida por Paulo Freire, em seu ensaio sobre “a Pedagogia do Oprimido” em que “O educador faz “depósitos” de conteúdos que devem ser arquivados pelos educandos. Desta maneira a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. O educador será tanto melhor educador quanto mais conseguir “depositar” nos educandos. Os educandos, por sua vez, serão tanto melhores educados, quanto mais conseguirem arquivar os depósitos feitos.“ (FREIRE, 1983, p.66)”
62
não contribui para que, no futuro exercício da docência, o professor de Matemática
exerça a sua autonomia no que tange ao desenvolvimento curricular da disciplina de
Matemática.
A esse respeito, Ramalho, Nuñez e Gauthier (2000, p. 1) comentam que
existe um grande reconhecimento a respeito do fato dos cursos de formação de professores não terem contribuído para formar um/a docente profissionalizado e mais competente que possa dar as respostas aos atuais desafios que requer uma sociedade em constante mudança.
Com efeito, os depoimentos dos sujeitos pesquisados nos fazem perceber
que todos passaram por uma formação inicial calcada na racionalidade técnica,
termo empregado por Donald Schön (1997) em que o exercício da docência
configura-se em uma atividade instrumental, permeada pela aplicação de métodos e
técnicas, advindos de uma teoria. Prática essa que é sedimentada pela
epistemologia dominante na universidade e por um currículo profissional normativo
em que “primeiro ensinam-se os princípios científicos relevantes, depois a avaliação
desses princípios e, por último, tem-se um practicum11 cujo objetivo é aplicar à
prática quotidiana os princípios da ciência aplicada” (SCHÖN, 1997, p. 91).
Segundo Almeida (2001, p. 1), o modelo de formação supracitado tem
como conseqüências:
11 Termo muito utilizado na bibliografia referente à formação de professores que significa os “momentos estruturados de prática pedagógica (estágio, aula prática, tirocínio) integrados nos programas de formação de professores” (ZEICHNER, 1997, p. 117)
63
(i) a divisão do trabalho em diferentes níveis, estabelecendo relações de subordinação;
(ii) o exercício de um trabalho individual que gera o isolamento profissional;
(iii) a aceitação de metas e objetivos externos, considerados neutros.
Nesse caso, o futuro professor habilita-se na condição de técnico que aplica
as receitas pré-determinadas advindas de especialistas, que seriam os
pesquisadores, conduzindo sua prática independente das diversas realidades nas
quais ocorrem os processos de ensino.
Desse modo, a rotina de um curso de formação de professores alicerçado
no modelo de racionalidade técnica resume-se na aprendizagem de conteúdos
disciplinares que devem ser trabalhados em sala de aula e na apreensão de
técnicas que facilitem a transmissão desses conteúdos, conforme bem declara
Epsilon referindo-se as disciplinas pedagógicas cursadas em sua licenciatura: “o que
existia eram disciplinas de didática que na maioria das vezes eram dadas como
receita... faltava vinculação à licenciatura.”
A falha desse modelo de formação consiste no fato de que o ensino se
constitui em uma atividade realizada entre pessoas em que estão imbricadas todas
as subjetividades concernentes às mesmas. O ato de ensinar não pode ser
considerado previsível e robotizado. A educação se dá em um contexto de relações
entre pessoas. Professores e alunos vivem em um emaranhado de relações e se
considerarmos que, ao entrar na sala de aula, de antemão o professor já dispõe de
64
todas as receitas e técnicas que serão aplicadas nas diversas situações que
ocorrerão naquele espaço estaremos negando a natureza complexa em que se dá o
ato de ensinar.
Alfa ao discorrer sobre como se deu sua formação inicial é contundente: “a
minha formação da licenciatura foi tecnicista, totalmente”. Essa formação se refletiu
no início de sua carreira, conforme seu relato: “quando eu comecei a dar aula,
inclusive eu tinha assim uma linguagem que é muito estética, muito bonita e eu
gostava muito de trabalhar com aquilo”. Linguagem essa também fundamentada no
paradigma da racionalidade técnica. A esse respeito Contreras (2002, p. 90) revela
que
a idéia básica do modelo de racionalidade técnica é que a prática profissional consiste na solução instrumental de problemas mediante a aplicação de um conhecimento teórico ou técnico, previamente disponível, que procede da pesquisa científica.
Nesse sentido, o professor assume a função de tarefeiro, não lhe cabendo o
exercício da crítica e reflexão, mas só da execução do que foi planejado por outros.
Outro ponto destacado na formação inicial dos sujeitos investigados foi a
deficiência em uma formação que privilegie a preparação para o ensino médio ou
fundamental. A fala de Epsilon deixa claro essa lacuna na formação: “não existiam
disciplinas voltadas especificamente para o ensino médio e éramos formados para
trabalhar no ensino médio” e, também nas palavras de Gama: “o que eu estava
vendo não era direcionado para o 2º grau”.
As falas dos professores acerca de sua formação inicial reflete o que
Ramalho, Nuñez e Gauthier (2003) denominam Movimento Hegemônico da
65
Formação (figura 2), que se configura em uma mescla da racionalidade técnica e da
formação academicista e tradicional. Esse modelo de formação se caracteriza pelo
treinamento de habilidades; em conteúdos descontextualizados da realidade
profissional e fragmentados; na dicotomia teoria-prática evidenciada pelo estágio ao
término do curso, com pouco espaço para discussões e mobilizações de saberes.
Professor
Executor / reprodutor de saberes produzidos
por especialistas
Excluído da construção da
profissão (nível inferior na hierarquia
da profissão)
Se identifica com habilidades
Competência
Processo Formativo fundamentado no
racionalismo técnico (Tecnicismo)
Modelo Formativo
Baseado no treinamento de
habilidades
Formação distante da escola,
distante do objeto da profissão
Traduz uma cultura educacional do contexto desprofissionalizante
Fig. 2 – Representação do Modelo Hegemônico da Formação (RAMALHO, NUÑEZ e GAUTHEIR, 2003)
66
Acrescentamos ainda, que o modelo de formação docente baseado na
racionalidade técnica confere uma relação hierárquica entre professores e técnicos,
que fatalmente terá como conseqüência uma limitação à autonomia docente.
Campos (2005) ao discorrer sobre os problemas que habitam os cursos de
licenciatura em matemática aponta para a desarticulação entre conteúdos
específicos e pedagógicos; a não incorporação aos cursos de discussões sobre
pesquisas relativas à área da educação e dos conteúdos específicos; a
burocratização das práticas, através de disciplinas geralmente oferecidas ao final
dos cursos; a falta de oportunidades para o desenvolvimento cultural dos
graduandos, além do uso de tecnologias da informação e comunicação; o
distanciamento entre as agências formadoras e as escolas de ensino básico; a
exposição a uma prática ao longo do curso em que são privilegiadas a transmissão
oral, oriundas de livros e outras fontes de informação.
Discutimos até aqui a constituição da docência permeada por uma formação
calcada na racionalidade técnica. Apesar de muitos cursos de formação de
professores encontrarem-se dentro desse modelo de formação, podemos dizer que,
atualmente, encontramos várias vozes que emergem dentro do contexto educacional
invocando uma mudança de modelo de formação, propondo o modelo de
racionalidade prática em que o professor passa de um mero executor de tarefas para
tornar-se um pesquisador em sala de aula.
Vários autores propõem essa nova concepção de formação. Entre eles
destacam-se Stenhouse e a idéia do professor como pesquisador. Para Stenhouse
(apud CONTRERAS, 2002) é impossível uniformizar os processos educativos, sendo
inconcebível a educação como determinação de técnicas para aplicar na sala de
aula.
67
Concordamos com o pensamento de Perez (2004, p. 252, grifo do autor) ao
declarar que:
[...] a profissão docente exige o desenvolvimento profissional ao longo de toda a carreira; [...] Não basta conhecer proposições e teorias. É preciso estudo, trabalho e pesquisa para renovar e, sobretudo, reflexão para não ensinar apenas ‘o que’ e ‘como’ lhe foi ensinado. A formação do professor deverá constituir novos domínios de ação e investigação, de grande importância para o futuro das sociedades, numa época de acelerada transformação do ser humano, que busca desenvolver seu projeto de cidadania. Exige-se, hoje, da profissão docente, competências e compromissos não só de ordem cultural, científica e pedagógica mas, também, de ordem pessoal e social [...].
Nesse sentido, destacamos a formação de professores de matemática em
uma dimensão permeada pela racionalidade prática. Nessa perspectiva não
podemos conceber o desenvolvimento profissional dos docentes de forma pontual e
fragmentada. Diversos são os fatores que contribuem para que se perceba que o
desenvolvimento profissional não seja concebido dessa forma. Dentre eles,
destacamos os elencados por Ponte (1998, p. 7)
Em primeiro lugar, mudanças crescentes nas condições sociais, arrastando mudanças no sistema educativo (nos objetivos da educação, nos currículos, nos alunos, no próprio conceito de escola). Em segundo lugar, mudanças na teoria educacional, proporcionando novas orientações didáticas e novas perspectivas para fundamentar a ação do professor. E, finalmente, mudanças na própria visão do papel do professor, reconhecendo-se agora muito melhor a complexidade e dificuldade da sua função. (PONTE, 1998, p. 7)
68
Cremos que os fatores acima elencados abarcam de uma forma ampla a
realidade em que nos encontramos atualmente.
Juntamente com o modelo de formação de professores de matemática
baseado na racionalidade prática, em que o professor se percebe como um
investigador de sua prática e reflete sobre a mesma, surge um novo modelo de
educação matemática, que rompe com o tradicional, amplamente difundido em
nossas escolas. Nesse novo modelo a Matemática é vista como uma ciência
incompleta, passível de refutações e acessível a todos.
D’Ambrosio, B. (1983) manifesta-se favoravelmente a este pensamento,
mencionando a necessidade de os professores compreenderem o modelo de
formação baseado na investigação:
Há uma necessidade de os novos professores compreenderem a matemática como uma disciplina de investigação. Uma disciplina em que o avanço se dá em conseqüência do processo de investigação e resolução de problemas. Além disso é importante que o professor entenda que a matemática estudada deve, de alguma forma, ser útil aos estudantes, ajudando-os a compreender, explicar ou organizar sua realidade. (D’AMBROSIO, B., 1993, p. 35)
Com base no que foi exposto, consideramos que a busca por um modelo de
formação profissional baseado na racionalidade prática, em que a prática e a teoria
se articulem do início ao final do curso de formação inicial, poderá contribuir,
juntamente com outras ações, uma qualidade de ensino na escola, além de
reconfigurar o papel do professor como um profissional autônomo.
69
UNINDO AS PEÇAS
Nesse capítulo, procuramos evidenciar o contexto de formação dos
professores pesquisados. Percebemos que em todos os casos a formação inicial
esteve ancorada no paradigma da racionalidade técnica, configurando-se em um
Modelo Hegemônico de Formação (RAMALHO, NUÑEZ E GAUTHIER, 2003). Os
professores mencionam que os cursos de formação inicial, as quais foram
submetidos, não tinham uma identidade própria condigna com a natureza de um
curso de formação de professores.
Por outro lado, apresentamos nesse capítulo os pressupostos de um
modelo de formação calcado na racionalidade prática que, ao nosso ver, poderá
contribuir para a reconfiguração do papel do professor como um profissional
autônomo.
No próximo capítulo, nos deteremos no olhar que os professores lançam
acerca de sua formação e como esse olhar pode ser útil na construção de um futuro
melhor para a educação matemática.
70
CAPÍTULO 3 – REVIVENDO O PASSADO PARA CONSTRUIR O FUTURO
Segundo Garcia (2002) a inserção profissional é o período de tempo que
compreende os primeiros anos de profissão na qual é realizada a transição da
condição de estudante para a condição de professor. Para o autor, é um período de
tensões e aprendizagens efetivas que acontecem geralmente em ambientes
desconhecidos. O autor enfatiza que no início da carreira o professor deve adquirir
conhecimento para que consiga manter certo equilíbrio pessoal. Feiman (apud
Garcia 2002) defende que os professores principiantes dispõem de duas tarefas a
cumprir quando iniciam a lecionar: ensinar e aprender a ensinar.
Garcia (1999) também declara que os professores em início de carreira se
deparam com as tarefas de adquirir conhecimentos sobre os estudantes, o currículo
e o contexto escolar; adaptar o currículo ao ensino; desenvolver um repertório
docente que lhe permita sobreviver como professor; criar uma comunidade de
aprendizagem em sala de aula; e desenvolver uma identidade profissional. Ademais,
devem executar essas tarefas com as mesmas responsabilidades dos professores
mais experientes.
A fim de desvelar os elementos que permearam a fase de transição de
alunos a professores, e ainda com o intuito de perceber como os professores de
Matemática se constituíram profissionalmente e como elaboraram e re-elaboraram
os saberes advindos de sua formação inicial, propomos aos docentes que falassem
sobre sua carreira, enquanto professores de Matemática, em um percurso que
abarcou do início à atualidade.
71
Gama ao discorrer sobre o início de sua trajetória profissional declara que
“teve que correr atrás” referindo-se ao fato de não ter tido uma boa preparação para
ser professor. Gama diz ainda: “para dar aula eu tive que realmente estudar, me
preparar”, e justifica esse estudo porque o que viu na universidade “não era
direcionado para o ensino de 2º grau”. Para Gama em sua formação inicial não
houve o estabelecimento de relações entre a teoria adquirida no curso e a prática,
assim como entre os conteúdos estudados na licenciatura e àqueles que Gama
passou a ensinar na escola.
Alfa, em seu depoimento sobre o início de sua carreira, nos diz: “tive que
estudar muito, porque eu não sabia o conteúdo, a gente vê aquelas integrais, mas
quando eu fui trabalhar na 6ª série, eu nem sabia como ensinar, quando eu fui
ensinar no 2º grau eu não sabia o conteúdo, então estudei muito”.
Para Ponte, Galvão, Santos e Oliveira (2001), a inserção na docência é um
período de aprendizagem em que são vivenciadas pelo professor iniciante situações
complexas e até mesmo adversas que demandam uma re-elaboração das
concepções sobre a escola, a educação, o currículo, a disciplina que ensina, os
alunos e o próprio trabalho em si.
Os pesquisadores supracitados evidenciaram, em um estudo sobre o início da
carreira profissional de jovens estudantes de matemática e de ciências, que o
conhecimento específico do campo em que atuam tem se mostrado insuficiente,
reconhecendo que necessitam de atualização constante desse campo. Da mesma
forma, constatamos esse fato nos depoimentos de Alfa e Gama.
Epsilon diz que foi “procurando, vendo o que os outros faziam, olhando aquilo
que eu achava legal, aquela técnica que eu achava que o professor tava dando
certo”. O discurso de Epsilon aponta para o fato de que a formação inicial recebida
72
pelo mesmo se mostrou aquém das reais necessidades de que foram surgindo
quando começou a lecionar Matemática. Além disso, observamos que foi no
desenvolvimento do próprio trabalho, na lida do dia-a-dia que começou a adquirir as
ferramentas necessárias para atuar.
Nesse sentido, acreditamos que é no próprio trabalho que o docente se
constitui enquanto profissional e que talvez, pela nossa natureza de seres
inconclusos, nenhum curso de formação inicial é completo o suficiente para formar o
professor em sua totalidade. Isso não significa que as agências formadoras não
devam mobilizar todos os esforços possíveis para que o licenciado tenha o de
melhor em sua formação inicial.
Ômega exemplifica o seu percurso citando o trabalho que desenvolveu em
uma turma há uns quatorze anos: “eu usava uma metodologia que era aquela bem
tradicional mesmo” e como conseqüência desse ensino tradicional complementa que
“era uma turma bem desestimulada, não tinha ânimo”. Ômega diz que “em respeito
ao aluno” se perguntou “onde é que eu tô errando?”. Por conta disso, e na tentativa
de “melhorar, melhorar, melhorar” foi levado a “fazer o Mestrado”. Percebemos no
discurso de Ômega uma insatisfação quanto ao seu trabalho, advinda de momentos
de reflexão na prática e sobre a prática.
Pi diz que “as metodologias que foram adotadas nas diversas disciplinas foi
que ajudaram”, relacionando as metodologias que seus professores utilizavam para
ensiná-lo ao modo como começou a trabalhar em sala de aula. Além disso, Pi
admite que “era mais intransigente com os alunos no começo” e que com o tempo
começou “a observar que tem outras formas de se impor”. O discurso de Pi nos leva
a crer que a postura do professor não é somente fruto de sua formação inicial. Vai
73
além dessa formação, constituindo-se através de experiências pessoais, das
imagens do que é ser professor, estabelecendo-se através de múltiplos aspectos.
Nesse sentido, vem à tona o que Gauthier (1998) chama de saberes da
tradição pedagógica que são saberes apreendidos além da formação formal e que
se relacionam com a crença que cada professor tem sobre a escola. Crença essa
que é fruto de sua experiência.
Nesse sentido, acreditamos ser necessário adentrarmos no campo dos
saberes pedagógicos e refletirmos sobre os mesmos. Para tal, recorremos aos
estudos de Tardiff (2000, 2002), Gauthier (1998) e Fiorentini, Souza Jr. e Melo
(1998).
Tardif (2000, p. 13) chama de epistemologia da prática profissional “o
estudo do conjunto dos saberes utilizados pelos profissionais em seu espaço de
trabalho cotidiano para desempenhar todas as suas tarefas”. Saber esse que é
concebido no sentido amplo do saber, saber-fazer e saber-ser.
O autor chama a atenção para a natureza dos saberes docentes que são
temporais – adquiridos através do tempo, porque, em primeiro lugar, se consolidam
no processo de escolarização a qual o professor está submetido no transcorrer de
sua vida. Processo em que são afloradas crenças e concepções que, segundo o
autor, não se modificam pela passagem por um curso de formação de professores.
Em segundo lugar porque a “maioria dos professores aprendem a trabalhar na
prática, às apalpadelas, por tentativa e erro” (TARDIF, 2000, p. 14). Em terceiro
lugar, os saberes docentes são temporais pelo fato de que fazem parte de um
processo de longa duração. A natureza temporal dos saberes docentes pôde ser
constatada no discurso de Epsilon quando declara que “eu fui procurando,..., vendo
o que os outros iam fazendo,[...], o espelho que eu tinha dos melhores professores”.
74
Tardif (2000) acrescenta que os saberes dos professores são plurais e
heterogêneos. Possuem essas características porque provêm de diversas fontes,
não formando um repertório de conhecimento unificado e também porque os
professores em ação procuram atingir “diferentes tipos de objetivos cuja realização
não exige os mesmos tipos de conhecimento, de competência ou de aptidão”
(TARDIF, 2000, p. 15). Esses saberes plurais e heterogêneos que levam o professor
a estar “sempre aberto a aprender”, conforme declara Pi.
Uma terceira característica apresentada por Tardif (2000) no que concerne
aos saberes docentes é que os mesmos são personalizados e situados. São
personalizados justamente porque o professor possui uma história de vida que lhe é
singular. A marca dessa singularidade é descrita por Alfa quando declara que “a
minha maneira de trabalhar eu criei ao longo do tempo”. Além disso, os saberes são
situados porque são construídos pelos atores em função dos contextos de trabalho.
Ômega quando diz que o Cefet é sua segunda casa e “que é diferente de quando
você vem de uma realidade lá fora” enfoca a questão dos saberes situados.
Tardif (2002), vai assim classificar os saberes docentes em saberes da
formação profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica);
saberes disciplinares que correspondem aos diversos campos do conhecimento
(como os da Universidade); os saberes das disciplinas que emergem da tradição
cultural e dos grupos sociais produtores de saberes; saberes curriculares que se
apresentam concretamente sob a forma de programas escolares (objetivos,
conteúdos, métodos) que os professores devem aprender a aplicar; saberes
experienciais que brotam da experiência e são por ela validados e incorporam-se à
experiência sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-fazer e de saber-ser.
75
Por outro lado os estudos de Gauthier (1998) alertam-nos no sentido de
revermos certas idéias preconcebidas sobre o ofício de professor. Segundo ele, não
basta conhecer o conteúdo, ter talento, ter bom senso, seguir sua intuição, ter
experiência e certa cultura para garantir que um bom ensino se efetive. Essas idéias
caracterizam a docência como um ofício sem saberes. Por outro lado, o autor afirma
que a formalização do ensino, a tal ponto que sua complexidade não seja condizente
com a realidade, culmina em um enfraquecimento da docência, reduzindo-o a
saberes sem ofício. A fim de evitar que se caia na armadilha de pensar a profissão
docente como um ofício sem saberes ou saberes sem ofício, Gauthier apresenta os
saberes que são mobilizados pelo professor e que caracterizam a profissão como
um ofício feito de saberes. São eles, o saber disciplinar, referente ao conhecimento
do conteúdo a ser ensinado; o saber curricular, que diz respeito à transformação da
disciplina em programa de ensino; o saber das ciências da educação, relacionado ao
saber profissional específico que não está diretamente relacionado com a ação
pedagógica; o saber da tradição pedagógica, que está ligada à representação que
cada professor tem da escola; o saber da experiência, que se refere a um saber
singular advindo da vivência do professo; e o saber da ação pedagógica, que se
refere ao saber experiencial testado e tornado público.
Nesse sentido, o professor é concebido como “aquele que, munido de
saberes e confrontando a uma situação complexa que resiste à simples aplicação
dos saberes para resolver a situação, deve deliberar, julgar e decidir com relação à
ação a ser adotada, ao gesto a ser feito ou à palavra a ser pronunciada antes,
durante e após o ato pedagógico” (GAUTHIER, 1998, p. 331), ou seja, o professor
passa a ser um profissional. Profissional esse que é invocado por Epsilon quando diz
”professor é profissão e como profissão você também pode aprender. Não é aquela
76
coisa como foi a minha de intuição, de ir fazendo o que acha que deve ser
feito...existe uma teoria que dá suporte à profissão do professor”.
O discurso de Epsilon nos faz recorrer ao referencial proposto por Fiorentini,
Souza Jr. e Melo (1998) que, partindo da relação teoria/prática, desafia os
professores a possuir uma atitude investigativa e crítica em relação à prática
pedagógica e aos conhecimentos historicamente produzidos e a constituírem-se
juntamente com seus colegas de trabalho ou universitários, como principais
responsáveis pela produção de saberes e pelo desenvolvimento curricular de sua
escola com base na investigação.
Por outro lado, atentamos para o fato de que dificilmente um professor de
Matemática, formado por um programa tradicional, estará preparado para enfrentar
os desafios das modernas propostas curriculares, pois de uma maneira geral os
professores ensinam como foram ensinados (D’AMBROSIO, B., 1993).
No sentido de que os professores estejam preparados para os desafios que
demandam a docência em Matemática, Fiorentini, Souza Jr. e Melo (1998) sugerem
que a formação inicial dos professores não deve mais se basear nas dicotomias
teoria/prática, pesquisa/ensino e conteúdo especifico/conteúdo pedagógico. Para os
autores a formação teórica, que engloba o conhecimento específico e o pedagógico
deve ter lugar de destaque, sendo a prática pedagógica mediadora da
problematização, significação e exploração dos conteúdos teóricos. Nesse sentido,
além de estimular o trabalho coletivo tanto dos professores do nível básico quanto
desses com pesquisadores da universidade, se “promoveria o desenvolvimento
profissional tanto dos professores como dos próprios formadores de professores”
(FIORENTINI; SOUZA JR.; MELO, 1998, p. 333).
77
Assim, acreditamos que, primeiramente, o professor tem que começar a se
enxergar como um produtor de saberes, não se comportando passivamente a
espera de “um projeto a nível nacional, encabeçado por matemáticos, para mudar o
currículo de Matemática”, como coloca Gama, mas sim, percebendo que tem
competência para mudar o enfoque do ensino de Matemática, haja vista que essa
mudança foi conclamada pelos próprios professores entrevistados, como Gama que
disse “o currículo de Matemática deveria sofrer algumas alterações” ou Ômega, que
coloca “o currículo de Matemática teria que melhorar”.
Ao considerarmos que existe um repertório de conhecimentos que envolvem
os saberes inerentes ao professor, acreditamos ser na identificação desses saberes,
os aspectos que melhor definem e fortalecem a identidade e a autonomia do
professor, que contribuindo dessa forma, para sua profissionalização.
UNINDO AS PEÇAS
O presente capítulo baseou-se no olhar retrospectivo do professor de
Matemática, acerca de sua trajetória no ensino de Matemática. Esse olhar permitiu
que constatássemos que os conhecimentos adquiridos na formação inicial dos
docentes foram insuficientes para os mesmos no início de suas carreiras e conforme
mencionam tiveram que estudar, correr atrás, para que pudessem dar conta da
dimensão de seu trabalho, enquanto professores de Matemática. Por conta disso,
recorremos a alguns referenciais teóricos que expõem a natureza dos saberes
docentes, para que a partir da identificação desses saberes pudéssemos
78
compreender de uma melhor forma a identidade e a construção da autonomia
docente.
A seguir entraremos na segunda parte de nosso trabalho, no qual
desenvolveremos reflexões acerca do contexto institucional a qual os professores
estão ligados profissionalmente, partindo da premissa de que um trabalho sobre
formação e desenvolvimento profissional de professores não pode estar
desvinculado da instituição no qual atuam.
PARTE II
O CONTEXTO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
80
PARTE II – O CONTEXTO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Iniciamos a primeira parte de nosso trabalho afirmando que uma pesquisa
que se firma no caminho da formação e do desenvolvimento profissional de
professores de Matemática possui como uma das peças-chave o professor de
Matemática. Nessa parte do trabalho estaremos acrescentando à primeira peça
uma outra, tão fundamental quanto à primeira, que se configura no contexto de
atuação do professor.
81
CAPÍTULO 4 – CONTEXTUALIZANDO A INSTITUIÇÃO
No presente capítulo, que objetiva contextualizar a instituição em que se
deu a pesquisa em voga, trataremos de apresentar de maneira sucinta o Centro
Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte, através de um breve
histórico, bem como revelar os princípios que norteiam o seu currículo, além de
desvelar o currículo de Matemática que vigora na instituição.
4.1 APRESENTANDO O CEFET-RN
O Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte
(CEFET-RN) é uma instituição pública que atua no Estado do Rio Grande do Norte,
cujo reconhecimento se faz a nível nacional, por oferecer uma educação de
qualidade, em diversos níveis de ensino. Sua história de 96 anos confunde-se com a
própria história do ensino técnico no Brasil.
Em 1909, quando o então Presidente da República Nilo Peçanha assina o
Decreto nº 7.566, de 23/09/1909 que cria dezenove escolas de Aprendizes Artífices
em todo o Brasil, constitui-se naquele momento o marco inicial da educação técnica
em nosso país. Em conseqüência desse Decreto, em 1910 instala-se, na cidade de
Natal, a Escola de Aprendizes Artífices do Rio Grande do Norte, que começa a
funcionar oferecendo cursos nas oficinas de marcenaria, sapataria, alfaiataria,
serralharia e funilaria.
82
Em 1942 a instituição passa a ser chamada de Escola Industrial de Natal,
em função da aplicação da Lei nº 4.127/42 que estabelecia as bases de organização
da rede federal de estabelecimentos de ensino industrial, incorporando, à época, o
Ginásio Industrial aos cursos que já oferecia.
Em 1959, a reforma do ensino industrial, através da Lei nº 3552/59
transformou as Escolas Técnicas em autarquias educacionais. Naquele momento a
escola passa a ministrar o ensino técnico.
Em 1965, com a Lei nº 4.759/65 a Instituição passou a ser denominada de
Escola Industrial Federal do Rio Grande do Norte.
Em 1968, quando o ensino industrial desloca-se para o nível de 2º grau,
surge a Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, denominação utilizada até
o ano de 1999, quando é transformada em Centro Federal de Educação Tecnológica
do Rio Grande do Norte, pelo Decreto de 18/01/99. Com efeito, o CEFET-RN passa
a atuar nos três níveis da Educação Profissional (básico, técnico e tecnológico) e no
ensino médio.
O CEFET-RN tem como função social
promover educação científico-tecnológico-humanística visando à formação integral do profissional-cidadão crítico-reflexivo, competente técnica e eticamente e comprometido efetivamente com as transformações sociais, políticas e culturais e em condições de atuar no mundo do trabalho na perspectiva da edificação de uma sociedade mais justa e igualitária, através da formação inicial e continuada de trabalhadores; da educação profissional técnica de nível médio; da educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação; e da formação de professores fundamentadas na construção, reconstrução e transmissão do conhecimento.
83
Há que se ressaltar que, ao longo de seus noventa e seis anos de história, o
CEFET-RN tem se firmado na
formação de profissionais de
destacada competência, quer a nível
local, quer a nível nacional, atuando
na formação técnica de nível médio,
na formação tecnológica e na
formação de professores, além da
promoção de cursos básicos para a
comunidade em geral.
Atualmente o CEFET-RN conta, com a oferta dos seguintes cursos de nível
médio integrado: Edificações, Eletrotécnica, Mecânica, Informática, Turismo,
Controle Ambiental e Geologia e Mineração. Conta também com os seguintes
Cursos Técnicos de Nível Médio Subseqüentes: Construção Predial, Desenho de
Projetos em Construção Civil, Eletrotécnica, Mecânica, Operação e Manutenção de
Petróleo e Gás Natural, Manutenção de Computadores, Redes de Computadores,
Controle Ambiental, Geologia e Mineração, Saneamento, Turismo e Segurança do
Trabalho. No que tange aos Cursos Superiores de Tecnologia o CEFET-RN oferece
os cursos de Tecnologia em Produção da Construção Civil, Tecnologia em
Automação Industrial, Tecnologia em Materiais, Tecnologia em Controle Ambiental,
Tecnologia em Desenvolvimento de Software, Tecnologia em Comércio Exterior e
Tecnologia em Lazer e Qualidade de Vida. A instituição também oferece com dois
cursos de Licenciatura, quais sejam Licenciatura em Geografia e Licenciatura em
Física. Além do oferecimento de cursos básicos à comunidade em geral.
Atual prédio do CEFET-RN, localizado na Av. Salgado Filho – Natal-RN
84
4.2 REVELANDO OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO CURRÍCULO
De acordo com o Art. 9º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(BRASIL, 1996) compete à União, em colaboração com os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios definir as competências e diretrizes para a educação infantil,
o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus
conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum.
No caso do CEFET-RN, a educação profissional técnica de nível médio
integrado será oferecida a quem tenha concluído o ensino fundamental, certificando
o(a) discente a uma habilitação profissional técnica de nível médio, ao final dos
quatro anos de estudo que perfazem o ensino médio integrado.
Com relação à organização curricular dos cursos técnicos de nível médio
integrados são observadas as determinações legais previstas nos Parâmetros e
Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio; nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio fixadas em
legislação específica pelos órgãos competentes do Ministério da Educação; e no
Projeto Político-Pedagógico Institucional. (CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO
TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2005c).
Compõem a matriz curricular dos cursos técnicos de nível médio integrado
três áreas do conhecimento, quais sejam: as áreas de conhecimento do Ensino
Médio (Linguagens, Códigos e suas tecnologias; Ciências Humanas e suas
tecnologias; e Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias) que estão
fundamentadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, comum a
85
todos os cursos; a parte diversificada voltada para uma maior compreensão das
relações existentes no mundo do trabalho e para uma articulação entre esse e os
conhecimentos acadêmicos, prevista no Parecer CNE/CEB nº15/98 que trata das
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, comum a todos os cursos; e
a formação profissional específica em determinada área profissional descrita nos
Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional e demais normas
legais vigentes.
O currículo no CEFET-RN está fundamentado em bases filosóficas,
epistemológicas, metodológicas, socioculturais e legais, expressas no seu projeto
político-pedagógico, norteado pelos seguintes princípios: estética da sensibilidade,
política da igualdade, ética da identidade, interdisciplinaridade, contextualização,
flexibilidade e educação como processo de formação na vida e para a vida, a partir
de uma visão de sociedade, trabalho, cultura, educação, tecnologia e ser humano.
(CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO
NORTE, 2005a).
Com relação aos processos de ensino e aprendizagem, o CEFET-RN prima
para que os mesmos sejam significativos e que sejam consideradas as experiências
e os conhecimentos prévios do aluno, para ampliá-los, reorganizá-los e sistematizá-
los, compreendendo princípios filosóficos e metodológicos que proporcionem:
I - Um trabalho pedagógico voltado para a formação integral do cidadão,
referenciado por uma visão crítica de mundo, de sociedade, de educação,
de cultura, de tecnologia e de ser humano;
II - Um trabalho interdisciplinar e contextualizado, compatibilizando métodos e
técnicas de ensino e pesquisa;
86
III - Uma postura pedagógica que pressuponha mudanças de atitude para
compreender que a ação educativa pode contribuir para as mudanças na
sociedade, considerando as diferenças sociais e coletivas;
IV - Uma compreensão de que os temas, problemas e preocupações de
interesse sociocultural estão vinculados aos contextos de produção de
conhecimentos e da vida dos grupos sociais em que a comunidade
acadêmica está inserida e que as experiências socioculturais também
constituir-se-ão em conteúdos escolares de caráter inter e transdisciplinar;
V - Procedimentos metodológicos que estão referenciados no projeto político-
pedagógico institucional a serem implementados por meio de práticas
pedagógicas desenvolvidas pelos professores, pela equipe pedagógica,
pelos coordenadores de curso e dirigentes de cada Unidade Acadêmica,
coordenados pela Diretoria de Ensino.
Nesse sentido, a instituição pauta seu processo ensino-aprendizagem nos
seguintes princípios:
I - Na compreensão do estudante como sujeito construtor e reconstrutor
do saber;
II - Na atuação do professor como mediador da aprendizagem;
III - Na seleção de conteúdos significativos, articulando os conhecimentos
conceituais, atitudinais e procedimentais;
IV - Na compreensão do conhecimento como inacabado e em
permanente (re)construção;
V - No desenvolvimento de uma avaliação de forma contínua e
cumulativa;
87
VI - Na busca do diálogo como fonte de aprendizagem e interação.
(CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO
GRANDE DO NORTE, 2005a).
Convém lembrar que após a publicação da nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) o CEFET-RN passou por duas reformulação
curriculares importantes: a primeira ancorada no Decreto nº 2.208/97 na qual a
instituição passara a oferecer ensino médio desvinculado da educação profissional e
mais recentemente a segunda, calcada no Decreto nº 5.154/2004, que possibilitou a
oferta de educação técnica de nível médio integrada ao ensino médio.
4.3 DESVELANDO O CURRÍCULO DE MATEMÁTICA
Antes mesmo da publicação do Decreto nº 5.154/2004, o CEFET-RN
começou um processo de reconstrução/redimensionamento de seu Projeto Político-
Pedagógico, iniciado em abril de 2004. Esse processo contou com a participação de
toda a comunidade cefetiana através “da realização de ciclos de debates, mesas
redondas, palestras, seminários e outras atividades correlatas sobre a problemática
atual onde está inserido o CEFET- RN e suas perspectivas de futuro, tendo em vista
a formação continuada da equipe dirigente, dos docentes e do pessoal técnico-
administrativo”. (CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO
GRANDE DO NORTE, 2005b).
Apesar de todo esse movimento de reformulação curricular a disciplina de
Matemática, no que diz respeito aos seus conteúdos, não sofreu mudança
88
significativa na forma como vinha a ser trabalhada, ocorrendo “praticamente poucas
modificações”, conforme relata Ômega. Esse fato também é constatado quando Alfa
se refere ao currículo de Matemática: “que eu me lembre do currículo, ele se origina
de quando era semestral e era técnico... é de longa data que eu me lembre.
Simplesmente o que era de 1º e 2º semestre passou a ser 1º ano”. Notamos na fala
de Alfa o currículo de Matemática colocado em uma posição à parte de seu trabalho
enquanto docente, como se fosse algo que não fizesse parte de seu cotidiano. Além
disso, parece-nos que a disciplina de Matemática apenas foi formatada em novos
moldes, mantendo seu conteúdo. Da mesma forma, quando Alfa é questionado
sobre o seu papel nas discussões sobre essa reformulação curricular, nos diz: “eu
não participo com muito afinco dessas discussões”. Por outro lado o próprio Alfa diz
que no CEFET-RN existe abertura e espaço para discussões e mudanças. “nesse
sentido, nós temos autonomia para discutir e para mudar. Nós temos autonomia
para fazer isso. Não é uma coisa que venha do CEFET para gente. É o grupo que
decide”. Quando Alfa recorre várias vezes ao nós quando se refere à liberdade para
tomada de decisões dentro da instituição e ao eu quando comenta sobre a sua não
participação, entra, mesmo que involuntariamente, em um paradoxo: do eu que não
participa e do nós que tem liberdade e toma decisões.
Omega, por sua vez, relata que “a gente tá com um programa, eu acredito
que desde 96 pra cá, nós fizemos a diversas mãos, com a ajuda da pedagogia e
ficou bom”. Observamos tanto no discurso de Alfa quanto no de Ômega que mesmo
com o processo de reconstrução/redimensionamento do projeto político pedagógico
da instituição, que implicava em um momento favorável para discussão acerca da
natureza e finalidade do ensino de Matemática na formação do técnico de nível
89
médio, esta não ocorreu, tendo se limitado a “poucas modificações”, segundo expõe
Ômega.
Acerca do desenvolvimento curricular na disciplina de Matemática, Ponte,
Matos e Abrantes (1998, p. 26, grifo do autor) consideram que o professor é um
elemento-chave, nos processo de inovação curricular, não podendo ser considerado
“uma correia de transmissão entre um programa ‘pronto a usar’ e os alunos”.
D’Ambrosio, U (2004), em artigo que reflete sobre a Matemática que é
praticada nas escolas, e que, por sua vez, é motivo de baixos rendimentos por parte
dos alunos, nos diz que ao invés de culpar alunos e professores por esse quadro de
baixos rendimentos, dever-se-ia fazer uma análise acerca da natureza da
Matemática que está sendo ensinada nas escolas, pois, segundo o autor “a
matemática que vem dominando os programas é, em grande parte, desinteressante,
obsoleta e inútil para as gerações atuais” (D’AMBROSIO, U, 2004, p.1).
É o que afirma Cury (2001, p. 17) quando revela que
a generalização do uso de calculadoras e computadores, por exemplo, já desatualizou uma série de conteúdos ensinados em todos os níveis de ensino, mas muitos professores (e livros-texto) insistem em repeti-los, em aulas que poderiam ser aproveitadas para desenvolver outros conteúdos e capacidades.
Frente ao exposto nos perguntamos: por que o professor ciente de que a
disciplina de Matemática precisa de uma reformulação curricular como afirma Gama
“o currículo de Matemática deveria sofrer algumas alterações”, é mantido em moldes
antigos, na instituição? Afinal, é unânime na fala dos professores que a instituição é
aberta para discussões e que no processo de reconstrução/redimensionamento do
90
projeto político pedagógico houve espaços para reflexão acerca do currículo de
Matemática.
Epsilon ao discorrer sobre o trabalho dos professores de Matemática frente
à reformulação curricular dessa disciplina é contundente: “Acho que é uma questão
de postura... de se dispor, de achar importante” e assume que alguns colegas “ainda
consideram que o importante é estar em sala de aula, é desenvolver estratégias
para sala de aula” e as discussões ficam relegadas a um segundo plano: “a gente
faz rápido e pronto”. Quando questionado sobre sua participação nas discussões
nos diz que participou “sempre que convidado ou convocado”.
Ponte (1994) ao discorrer sobre o desenvolvimento profissional do professor
de matemática, lança o seguinte questionamento: Quem é afinal o professor? A sua
indagação o leva a três respostas diferentes. A primeira o professor é um técnico,
desempenhando o papel de transmitir informação e medi-la através da avaliação. A
segunda o professor é um ator e suas ações seriam determinadas por suas crenças
e concepções. A terceira o professor é um profissional que atua em situações
complexas e contraditórias, procurando dar respostas às situações a que se depara.
O papel do professor de Matemática, no que diz respeito às mudanças
curriculares dessa disciplina é, por vezes, transita entre os papéis de técnico e
profissional. Nas palavras de Fiorentini, Souza Jr. e Melo (2003, p. 310),
91
O papel atribuído ao professor do ensino fundamental e médio, nos processos de inovação curricular, tem oscilado, historicamente, entre dois extremos: num, o professor vê-se reduzido à condição de técnico que apenas toma conhecimento, por meio de cursos de atualização, do que foi produzido/pensado pelos especialistas; noutro, temos o professor que luta por autonomia intelectual/profissional que o habilite a atuar como agente ativo/reflexivo que participa das discussões/investigações da produção/elaboração das inovações curriculares que atenda aos desafios socioculturais e políticos de seu tempo.
Na maioria das vezes o professor se vê na posição de um técnico. Isso se
deve ao fato da cultura que permeia a vida do professor antes mesmo dele começar
a ensinar. O papel de uma formação inicial baseada na racionalidade técnica deixa
marcas no professor que são muito difíceis de serem tiradas. O professor que em
sua experiência escolar sempre se manteve em uma posição passiva, continua
mantendo essa postura no seu trabalho, no que diz respeito ao desenvolvimento
curricular. Os professores não são formados para produzir conhecimentos, mas
somente para executar o que já foi produzido. Isso se deve à natureza dos cursos de
formação inicial, mencionada no Capítulo 2.
Epsilon crê que essa cultura da passividade deve-se a “uma visão
pragmática e que eu acho que o Matemático tem muito isso”. E diz que essa visão é
fruto “da própria formação dele”. No cotidiano do trabalho na instituição Epsilon
acrescenta que o professor “não tem muita paciência para discutir. Você traz um
texto” e ouve “e o que é que diz esse texto ai”.
Essa visão a que Epsilon se refere é o que chamamos de visão absolutista
da Matemática, cujo imperativo é a ordem e o rigor, sendo seu domínio o de
verdades absolutas e irrefutáveis, não passíveis de questionamento.
92
Particularmente no ensino de Matemática predomina, ainda, uma visão
absolutista da Matemática em que essa disciplina é vista como um produto acabado,
estático sem possibilidades de investigação. Essa visão de Matemática reflete um
“ensino em que se caracteriza a lógica formal e o predomínio da razão absoluta, a
idéia de que a Matemática é uma coleção de verdades a serem absorvidas pelos
alunos, uma disciplina cumulativa, predeterminada e incontestável’’ (D’Ambrosio, B.,
1993, p. 35).
Nesse sentido, a Matemática é vista como uma ciência neutra, uma visão
um tanto quanto ingênua se prestarmos atenção à sua história. Um dos
pesquisadores que nos chama a atenção para a não neutralidade da ciência, de um
modo geral, é Machado (2001, p. 10) ao registrar que
numerosos trabalhos já abordaram tal questão sob os mais variados ângulos sendo, até certo ponto, tranqüila a aceitação de que a Ciência decorre de um projeto científico global, de natureza essencialmente política, indo muito longe a época heróica do cientista que, trabalhando sozinho ou por iniciativa própria, fazia a Ciência, de forma livre e desinteressada, com compromisso apenas com sua vontade de conhecer. Mais factível mesmo é que essa época nunca tenha existido.
D’Ambrosio (1996) exemplifica esse quadro quando menciona a motivação
que levou al-Kwarizmi a pensar sobre a álgebra: a necessidade islâmica de pôr em
prática os preceitos do Corão que se referiam à distribuição de heranças.
Nesse sentido, compreender a poderação de Machado (2001) é perceber a
Matemática como um produto de natureza humana. Isso implica em saber que a
93
mesma está “sujeita às imperfeições naturais da nossa espécie” (PONTE, 1992, p.
16).
Das considerações precedentes, podemos destacar que a visão de
Matemática como um produto humano, passível de questionamento é reportada para
o ensino dessa disciplina quando a mesma não é considerada um objeto estático e
imutável. Pelo contrário, os conteúdos matemáticos são socialmente construídos,
não podendo ser compreendidos como objetos estáveis e universais, mas
permanentemente reconstruídos por professores e alunos no ambiente escolar.
(HERNANDEZ; VENTURA, 1998)
Mendes (2002), por sua vez, ao considerar a Matemática como um
conhecimento historicamente construído, a classifica sob dois aspectos, a saber: 1)
questões resolvidas e 2) questões em aberto. Segundo o autor:
As primeiras são codificadas visando a sua comunicação e também a utilização na busca de respostas acerca das questões em aberto. Já as questões em aberto, por sua vez, constituem-se em fontes provocadoras para novos estudos, transformando-se assim em um processo cíclico de produção do conhecimento matemático. (MENDES, 2002, p. 88)
O que ocorre é que, de uma maneira geral, os professores de Matemática
percebem essa ciência como um conjunto de questões resolvidas. Questões essas
que devem ser transmitidas aos alunos da mesma maneira que são concebidas
pelos professores: fechadas em si mesmo.
Acrescentamos, ainda, que não são somente os professores dessa
disciplina que consideram a Matemática uma área fechada, em que todo o
conhecimento já foi constituído. A Matemática vista como um conhecimento estável,
94
verdadeiro e acessível a poucos é uma visão que faz parte do imaginário de grande
parte da sociedade em que vivemos. Por conta disso,
se transmite uma imagem inerte da matemática, submetendo-lhes a uma mera aquisição de conceitos como entidades bem definidas e com grande nível de abstração, definições descontextualizadas e algoritmos memorizados.12 (AZCÁRATE,1997, p. 78)
Esse quadro é corroborado por pesquisas como a de Cury (1994) que
discute as concepções de matemática dos professores e suas formas de considerar
os erros dos alunos. A pesquisadora, que trabalhou em sua pesquisa com
formadores de professores de Matemática, aponta em sua investigação para o
domínio, dentre os mesmos, de uma visão absolutista da Matemática, pois
todos parecem aceitar que essa ciência é o domínio das verdades absolutas e que o conhecimento matemático consiste em descrições dos entes matemáticos, das relações entre eles e da estrutura lógica que os sustenta. Nenhum dos professores entrevistados menciona a possibilidade de que o conhecimento matemático seja falível ou esteja aberto a críticas e correções. (CURY, 1994, p. 211)
Se o docente crê na Matemática como uma verdade inquestionável, como
um conhecimento pronto para ser transmitido para os alunos o trabalho dos
12 Tradução livre da pesquisadora
95
professores de Matemática será sempre igual, pois estarão transmitindo apenas o
conhecimento acumulado pelas gerações. (CURY, 2002, 1994).
Mas a autora apresenta o contraponto dessa visão a qual concebe a
Matemática como uma atividade humana e social e cujo ensino “coerentemente,
deve estar apoiado nos problemas que interessam aos alunos, como indivíduos
inseridos nessa sociedade” (CURY, 2002, p. 143).
Como vivemos num mundo, em permanente evolução, em que o processo
de globalização é dominante e as informações, na maioria das vezes,
bombardeadas compulsoriamente no cotidiano das pessoas, consideramos que se
fazem necessários que os sujeitos adquirem novas capacidades para que, ao se
depararem em ambientes complexos, incertos e competitivos, possam determinar as
estratégias de ação, escolher caminhos e alternativas, além de objetivar desejos e
ideais no sentido de efetivar a ação crítica nas mais diversas situações que a vida
lhes impõe.
Neste sentido, é imperativo que a escola, como ambiente de aprendizagem,
desenvolva um trabalho que se firme no caminho dessas novas exigências que se
impõem na sociedade contemporânea.
E, particularmente, que o ensino de Matemática não se reduza à mera
aplicação de técnicas e algoritmos sistematizados, mas que prime por uma
educação que contribua para que os sujeitos possam participar ativa e criticamente
da sociedade a qual fazem parte, pois “o conhecimento torna-se pertinente quando é
capaz de situar toda a informação em seu contexto e, se possível, no conjunto global
no qual se insere” (MORIN, 2004, p. 20).
Cury (1994) reforça que esse deveria ser um dos objetivos da Matemática,
ao declarar que:
96
Ensinar a difícil tarefa de ver o todo, examiná-lo em suas partes e voltar ao todo com uma nova visão obtida a partir da análise das partes, deveria ser um dos objetivos da Matemática como disciplina de um currículo escolar, em qualquer nível. Não obstante, na maior parte das vezes, é enfatizada a redução às partes, picoteando-se os conteúdos programáticos e impedindo, por conseqüência, o aluno de ver o todo. (CURY, 1994, p. 77)
A junção das partes com o todo, vai ao encontro do que chamamos de
abordagem transdisciplinar no ensino da Matemática. Ensino esse que busca nas
diversas áreas do conhecimento e na própria Matemática a ligação de saberes que
culminem em um entendimento global dessa disciplina. Notamos que, da maneira
em que são dispostos os conteúdos a serem trabalhados na disciplina, ocorre uma
fragmentação até mesmo dentro da própria disciplina de Matemática, na medida em
que conteúdos matemáticos que possuem um fio condutor comum são ensinados
em situações diferentes e até em adiantamentos diferentes, não sendo mostrados
aos alunos o que ambos têm muito em comum.
Um outro aspecto que emergiu das nossas entrevistas foi o apontamento de
Epsilon para a causa de o professor de Matemática ter uma postura um tanto quanto
passiva no que concerne a discussões acerca do currículo de Matemática. O
entrevistado diz que isso se deve a própria natureza da Matemática que “é muito
organizada, muito pontual”. Epsilon exemplifica esse quadro utilizando o livro de
Matemática que “é muito direto é a definição, é o teorema, é o postulado, e vai
encadeando a lista de exercícios”, o que para Epsilon difere das características de
outros tipos de textos, pois o texto de Matemática apresenta-se “numa seqüência
que muitas vezes um texto não tem, e aí a pessoa fica sem paciência”.
97
Mais uma vez, voltamos ao tema da formação inicial dos professores de
Matemática. A dicotomia de conteúdos específicos versus conteúdos pedagógicos,
além da própria supervalorização dos conteúdos específicos em detrimento dos
pedagógicos levam o licenciando a buscar somente o conhecimento de sua área
restrita.
Além disso, as crenças e concepções dos professores começam a serem
elaboradas desde os primeiros momentos de escolarização. Isso leva os professores
a conceber a Matemática a partir de suas próprias experiências, tanto como alunos,
quanto como professores que lecionam esta disciplina, e essas influências são de
longa data, sendo geradas ao longo dos séculos, e passadas de geração a geração
(CURY, 1999).
Gonçalves (2000) ao realizar pesquisa de doutoramento na área de
formação e desenvolvimento profissional de formadores de professores, admite que,
em sua experiência de formador de professores de Matemática, existe uma relação
muito próxima entre a formação do leitor e a do professor de Ensino Fundamental e
Médio. O autor reconhece que “aprender a ler e a interpretar textos sobre
matemática, ensino de matemática, escola, educação, sociedade, mundo,
conhecimento, cultura, etc. é fundamental para a formação do professor
pesquisador/reflexivo” (GONÇALVES, 2000, p. 183)
Epsilon, por sua vez, ao declarar que para o professor de matemática “falta
muito é essa paciência, essa predisposição”, expõe que o professor de Matemática
carece de uma predisposição para ir além da Matemática e entrar em outros campos
que dizem respeito a essa disciplina, mas que o professor vê como campos à parte.
Nesse sentido,
98
uma das principais dificuldades para incorporar enfoques mais integradores do currículo matemático é a própria visão dos educadores matemáticos, formados em um pensamento fortemente disciplinar com poucas conexões com outros conhecimentos.13
(AZCÁRATE, 1997, p. 78)
É o que enfatiza Pi ao dizer que “no ensino médio a gente trabalha mais de
uma forma abstrata os conteúdos. É sempre interessante que a gente pudesse ter
uma capacitação contínua, uma formação continua de formas de contato com outros
professores como participação em congressos, prá gente observar essa forma,
esses conteúdos trabalhados de uma forma mais concreta”.
Para Pi, o contato com outros profissionais e a troca de experiências, faz
parte do processo de formação do professor de Matemática.
Isso nos faz lembrar da dificuldade que um profissional que possui uma
formação acadêmica deficitária, romper “individualmente e por conta própria, os
limites de uma formação restrita” (GONÇALVES, 2000, p. 183).
Acreditamos que esse rompimento não pode acontecer isoladamente, mas
em conjunto com outros professores, a partir da problematização, análise e
compreensão de suas próprias práticas, o que sobremaneira se constitui em uma
modalidade de formação contínua com vistas ao fortalecimento pessoal e
profissional dos professores, pois “o professor se qualifica muitas vezes na vivência
do dia-a-dia, na prática, na experiência que o outro colega traz” tal como nos afirma
Epsilon.
A esse respeito, Ponte (1998) distingue formação de desenvolvimento
profissional afirmando que a primeira ocorre em um movimento de fora para dentro,
associada à idéia de freqüentar cursos, enquanto que o segundo se dá em um
13 Tradução livre da pesquisadora
99
movimento de dentro para fora, ocorrendo de múltiplas formas, tais como, trocas de
experiências, reflexões, leituras e também participação em cursos formais. Assim
sendo, o que Epsilon vivencia em sua prática e que o qualifica enquanto professor
faz parte de seu processo de desenvolvimento profissional.
Acreditamos que um dos espaços que deveriam ser destinados à formação
continuada dos professores é a reunião pedagógica, reunião essa que, no CEFET-
RN, faz parte da carga horária de cada professor e é realizada semanalmente.
Essas reuniões deveriam ser compreendidas como sítio de reflexão crítica do
trabalho docente e de momentos de troca de experiências sobre o ensino de
Matemática que culminassem em formação permanente dos professores de
Matemática, pois “falar de formação de professores é falar de um investimento
educativo nos projetos da escola” (NÓVOA, 1997, p. 29).
Alfa ao opinar sobre a reunião pedagógica dá a seguinte declaração: “Eu
não sinto que eu cresça”. Gama, por sua vez, reporta às boas reuniões
pedagógicas há um tempo passado ao dizer que “nós já tivemos boas reuniões
pedagógicas, com discussões sobre aprendizagem, preocupação com o
aprendizado do aluno, etc. e tal”, mas que agora “nota uma rejeição muito grande
por parte de alguns professores com relação a essa parte didática” e acrescenta,
ainda, que para esses professores “aquilo que o supervisor tá falando é balela”.
Ao discursar sobre a reunião pedagógica Ômega diz que essas reuniões
tinham o propósito de “obrigar os professores a ler e a discutir e a procurar um
entendimento melhor das mudanças que tinham que acontecer aqui na escola” e
que essa imposição à leitura acontecia pela natureza da formação dos professores.
Dito nas palavras de Ômega: “como nós sabemos que a nossa formação como
100
professores seja da Matemática, da Física, da Química, da Biologia a gente não tem
essa formação, esse hábito de leitura”.
Percebemos que a reunião pedagógica, na instituição, não se configura em
um momento de reflexão por parte dos professores haja vista que os mesmos
deixam transparecer em suas falas certa resistência quanto à participação com o
intuito de discussão, análise e compreensão acerca de suas práticas.
Algumas conjecturas se formam acerca dessa resistência. Uma delas se
daria pelo fato de ser uma reunião compulsória. Outra pela própria formação dos
professores de Matemática, que ainda carregam imbricados em sua conduta marcas
de uma licenciatura isenta de discussões acerca da educação matemática. Uma
terceira, pela natureza individualista que o professor de Matemática costuma
desenvolver seu trabalho, fruto também de uma formação inicial que se dá nesse
sentido.
Um outro ponto que deve ser levado em consideração quando discutimos
sobre a reflexão do professor no âmbito da instituição é a distinção entre ação
rotineira e ação reflexiva. Para tal, buscamos em Dewey (1925 apud CAMPOS;
PESSOA, 1998) a definição de ação rotineira como aquela que é orientada por
impulso, tradição e autoridade e ação reflexiva aquela em que estão atreladas à
lógica da razão e da emoção, caracterizando-se pela visão ampla de percepção de
problemas. Enquanto a primeira está vinculada ao imobilismo, pois é composta de
códigos e definições acerca da realidade que são encaradas como verdades e
absorvidas pelo grupo, a segunda configura-se em um exame criterioso de todas as
alternativas que se apresentam como viáveis, dentro das inúmeras possibilidades a
que se deparam os professores. Acreditamos que a ação rotineira ainda permeia
grande parte das ações do professor.
101
Destacamos nesse momento uma investigação que Pereira e Silva (2005)
realizaram com vinte e dois professores do CEFET-RN, que lecionam na Área de
Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias (dentre os vinte e dois
professores sete lecionavam a disciplina de Matemática). A pesquisa em pauta
tratou de investigar a prática avaliativa dos professores da área supracitada, com a
intenção de contribuir para o debate, a reflexão e, conseqüentemente, a retro
alimentação dessa prática. As autoras concluíram que a prática avaliativa dos
professores investigados não estava em consonância com os tipos de avaliação que
constavam na proposta curricular da instituição. Proposta essa que prima por uma
avaliação processual. As autoras atribuem essa falta de consonância a uma
ausência de leitura e compreensão por parte de professores quanto aos aspectos
conceituais dos princípios e componentes curriculares da proposta mencionada
anteriormente. Nesse sentido, as autoras invocam a retomada nas reuniões
pedagógicas de estudos teóricos metodológicos referentes aos princípios e
componentes curriculares presentes na proposta curricular.
É interessante perceber que o estudo das pesquisadoras aponta para a
reunião pedagógica como espaço de estudo e reflexão dos professores, realizada
em um âmbito coletivo. Reunião que, no sentido etimológico da palavra deriva de
reunir que, por sua vez, significa unir novamente. E os professores necessitam
desses espaços para se re-ligarem, para que juntos não somente se proceda a um
processo de aperfeiçoamento pessoal e profissional, mas de transformação da
própria escola que culmine em práticas participativas realizadas por professores que
reflitam sobre e na sua prática, haja vista que “não há desenvolvimento curricular
sem desenvolvimento de professores” (STENHOUSE, 1975 apud SACRISTÁN,
1998, p. 143).
102
Para Sacristán (1998, p. 142) a colaboração entre os professores “ao invés
de diminuir a autonomia do professor em relação ao currículo, constrói um contexto
no qual ela pode ser ampliada”.
Por meio de uma análise crítica do currículo, realizada no âmbito de uma
prática colaborativa entre os professores ocorre um movimento dinâmico e dialético
entre o fazer e o pensar sobre o fazer e no fazer. Essa prática possibilita aos
professores um trabalho de discussão, estudo, sistematização, construção e
reconstrução que não se restringe à execução de algo criado por outros, mas que
extrapola essa condição implicando em um exercício de autonomia por parte dos
professores. É nesse âmbito que Freire em um de seus ensaios destacou estar
convencido de que “uma das mais importantes tarefas que a formação permanente
dos educadores se deveria centrar seria convidá-los a pensar criticamente sobre o
que fazem” (FREIRE, 1991, p. 123).
Nesse sentido, a colaboração entre os professores torna-se uma estratégia
que os ajuda a enfrentar dificuldades que venham surgir em suas atividades
profissionais de uma maneira coletiva, através da reflexão e troca de experiências.
Nóvoa (1997) concebe o desenvolvimento profissional de professores em
três vertentes, quais sejam: o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento
profissional e o desenvolvimento organizacional.
Para o autor, o desenvolvimento profissional de professores leva em
consideração o professor como pessoa, o coletivo docente e as organizações
escolares em que os professores exercem as suas atividades profissionais.
Entendendo o desenvolvimento profissional dessa forma atentamos para o fato de
que a profissão docente está sob a égide da complexidade que implica no
enfrentamento, por parte dos professores, de situações cotidianas imprevisíveis em
103
que se relaciona a pessoa do professor, o contexto a que está submetido e a cultura
organizacional da escola em que atua, pois “a troca de experiências e a partilha de
saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é
chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando”
(NÓVOA, 1997, p. 26).
Se o contexto no qual se dá o trabalho docente é complexo e
indeterminado, o professor deverá dispor de conhecimentos para agir nessas
situações, muitas vezes imprevisíveis. Por esse motivo, defendemos que devam ser
fomentadas discussões entre os professores acerca da natureza do ensinar
Matemática para que se compreendam seus processos de ensino e aprendizagem.
Essa busca por compreensão que irá alimentar o desenvolvimento do professor,
fazendo com que o professor exerça o seu trabalho com autonomia.
Portanto, consideramos a escola como lugar, por excelência, de
desenvolvimento profissional de professores, através das experiências por eles
vivenciadas nessa instituição e das reflexões instauradas a partir dessas vivências,
por parte dos professores.
A respeito da atitude reflexiva a que nos referimos, buscamos em Schön
(1997), um maior entendimento. O autor, que critica o modelo tecnicista de formação
profissional, defende o poder da reflexão sobre a prática como instrumento de
melhoria da mesma. O seu trabalho é sustentado em princípios como reflexão na
ação, em que os profissionais aprendem a partir da análise e interpretação de sua
própria atividade.
Para Schön (1997, p. 82) “este tipo de reflexão exige do professor uma
capacidade de prestar atenção a um aluno, mesmo numa turma de trinta, tendo a
noção de seu grau de compreensão e de suas dificuldades”.
104
Além disso, Schön afirma que é possível refletir sobre a reflexão na ação, ou
seja, ter a capacidade de olhar a posteriori sobre a prática. “Após a aula o professor
pode pensar no que aconteceu, no que observou, no significado que lhe deu e na
eventual adoção de outros sentidos” (SCÖN, 1997, p. 83).
Campos e Pessoa (1998) ao discutir a formação de professores a luz da
teoria de Schön alertam, baseadas em Zeichner e Liston (1996), para o fato de que
a reflexão na ação e sobre a ação de Schön se constitui num processo solitário em
que o professor “mantém-se em comunicação apenas com a situação e não com
outros profissionais” (CAMPOS; PESSOA, 1998, p. 201), o que contradiz a essência
da reflexão como prática social, fomentada no âmbito da coletividade.
Isso não significa que temos que deixar de lado as contribuições desse
pesquisador. Pelo contrário, devemos resgatá-las, levando em consideração a
reflexão coletiva de professores. Ao fazer isso, reiteramos que o espaço escolar, não
pode ser concebido como um espaço de aplicações teóricas, mas como um local de
construção de conhecimentos profissionais na qual os professores formam-se e re-
formam-se tendo como base o trabalho docente discutido pela reflexão por parte dos
professores.
Nesse sentido, os professores produzem conhecimento a partir das
reflexões que estabelecem entre si, levando em consideração o contexto a qual
estão inseridos. Reflexões essas que não podem ser consideradas isoladas do
contexto a qual os professores atuam, sob o risco de se produzir, nesse caso, um
conhecimento desconectado da realidade circundante.
105
UNINDO AS PEÇAS
Esse capítulo tratou de contextualizar a instituição na qual se deu a
pesquisa em questão. Para tal, inicialmente apresentamos um breve histórico,
destacando que a mesma exerce papel de destaque perante a comunidade em geral
no que concerne à qualidade do ensino ofertado na mesma. Depois foram
apresentadas as diretrizes legais que norteiam o currículo na instituição. Currículo
esse que é permeado por bases filosóficas, epistemológicas, metodológicas,
socioculturais e legais. Em seguida desvelamos o currículo de Matemática na
instituição tomando como base a palavra dos professores pesquisados. A partir de
suas palavras percebemos que embora o CEFET-RN tenha passado por recentes
reformas, no que diz respeito às suas modalidades de ensino, o currículo de
Matemática tem se mantido aquém das mesmas.
Refletimos sobre a visão absolutista da Matemática que ainda predomina
grande parte dos professores de Matemática e que acarreta um ensino baseado na
memorização e repetição. E, por fim trazemos à tona a importância da reflexão,
realizada no âmbito coletivo, para o desenvolvimento profissional dos professores de
Matemática.
No próximo capítulo apresentaremos os impedimentos que foram revelados,
pelos discursos dos professores, que de certa maneira impedem que os mesmos
exerçam uma autonomia plena.
106
CAPÍTULO 5 – REVELANDO OS IMPEDIMENTOS
Esse capítulo destina-se a revelar os impedimentos aos quais são
submetidos os professores de Matemática no exercício de suas atividades. Para tal,
primeiramente iremos discorrer para o sentido da autonomia para esses professores,
para em seguida revelar que os impedimentos que foram constatados nessa
pesquisa dizem respeito ao livro didático e ao vestibular.
5.1 O SENTIDO DA AUTONOMIA PARA OS PROFESSORES PESQUISADOS
Uma das questões a que submetemos os professores pesquisados foi
acerca da autonomia, o que eles pensavam sobre o tema e se eles se consideravam
professores autônomos.
Pi ao falar sobre o tema diz que “o professor autônomo no seu trabalho,
não é obrigado a seguir um tipo de metodologia, pode aplicar o mesmo conteúdo,
mas de forma diferente, ele não é escravo do planejamento, ele vai ter uma
flexibilidade e vai direcionar conteúdos com uma certa intuição profissional que ele
vai ter, ele vai digamos ter uma sensibilidade, você tem autonomia para avaliar
diferente”.
Observamos que na concepção de Pi a autonomia está intimamente ligada
ao estar dentro da sala de aula. Dito em outras palavras, o professor fecha a porta
de sua sala de aula e exerce sua autonomia naquele espaço dimensional. Para
107
Contreras vincular autonomia ao terreno da exclusividade profissional e território
privado dos professores seria dar “lugar a uma perspectiva reducionista e distorcida
do significado da autonomia profissional” (CONTRERAS, 2002, p. 196). Para o autor,
a autonomia entendida como a não ingerência de estranhos, está ligada à
concepção de professor como técnico especialista em que as questões de valor que
refletem a obrigação moral ficam neutralizadas ao transformar-se em técnicas
especializadas. Nesse sentido, segundo Contreras (2002, p. 197) “legitimado e
autorizado o especialista, sua autonomia era transformada na capacidade individual
que possuía e em seu privilégio de tomar decisões, a partir da definição unilateral
dos valores e interesses aos quais deve responder a prática educativa”.
Contreras chama a atenção para o fato de que a autonomia não pode ser
analisada sob uma ótica individualista ou psicologista, como se fosse uma
capacidade que os indivíduos possuem, haja vista que a autonomia “não é uma
capacidade individual, não é um estado ou um atributo das pessoas, mas um
exercício, uma qualidade da vida que vivem” (CONTRERAS, 2002, p. 197).
Alfa, por sua vez, quando fala em autonomia faz um retrospecto de sua
carreira dizendo que “no início eu tinha que estudar muito, porque eu não sabia o
conteúdo”. Alfa acrescenta ainda que “foi nesse estudo solitário que eu vi aonde é
que estão as dificuldades, os porquês da Matemática” e enfatiza que em função
desse estudo “hoje eu tenho autonomia”. Autonomia essa que para Alfa se resume
ao “trabalhar da minha forma”. Alfa em seu depoimento diz ainda que “foi um longo
aprendizado, muito tempo, não podia ser tanto tempo assim”.
O que podemos depreender do discurso de Alfa é que a autonomia é uma
capacidade que foi conquistada com o tempo e que está consolidada, o que vai de
encontro com a análise que Contreras (2002) realiza acerca do tema. Contreras
108
(2002, p. 199) ao se referir tanto à autonomia pessoal quanto à profissional nos diz
que as mesmas “não se desenvolvem nem se realizam, nem são definidas pela
capacidade de isolamento, pela capacidade de se arranjar sozinho”. O autor enfatiza
que a autonomia se desenvolve em um contexto de relações.
Omega ao ser solicitado a falar sobre autonomia diz que “a gente tem
autonomia, tem essa abertura, tem essa facilidade”.
Ômega deixa explícito em sua fala que também percebe a autonomia como
algo já alcançado, algo de que se tem posse. A autonomia é percebida como um
facilitador do trabalho do professor.
Epsilon quando se refere à autonomia diz que “com quase vinte anos de
profissão, se não tivesse adquirido isso!”.
Observamos que para os professores entrevistados ter autonomia é agir
com independência dentro de sua sala de aula. Esse fato é corroborado pelo estudo
que Morosini (1990 apud CURY, 1994) realizou que culminou em sua tese de
doutorado, com professores de cursos de graduação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e cuja conclusão revela que esses professores são “soberanos
solitários, pois reinam em sua sala de aula, tendo liberdade para adaptarem as
súmulas de suas disciplinas e escolherem a forma de desenvolvimento dos
conteúdos” (CURY, 1994, p. 221).
É nesse sentido que os professores se entendem como profissionais
autônomos, aqueles que no espaço físico de suas salas de aula, têm liberdade para
tomada de decisões.
109
5.2 O LIVRO DIDÁTICO
Conforme já mencionado anteriormente, o exercício da autonomia docente,
a nosso ver, deve ser concretizado na discussão, proposição, seleção e organização
do conhecimento escolar. No que se refere ao desenvolvimento curricular e ao
material didático a autonomia docente, deve se concretizar no exercício da
capacidade de selecionar, organizar, modificar, adaptar, substituir aumentar,
melhorar e criticar o material que a indústria editorial coloca à disposição (BONAFÉ,
1998)
Convém mencionar que formalmente no CEFET-RN não existe uma
obrigatoriedade quanto à utilização do livro-texto14, o que em tese, na nossa visão,
permitiria ao professor uma maior autonomia para produzir o seu próprio material
didático para ser utilizado em suas aulas, ou ainda, para ser um consumidor crítico
de diversos materiais disponibilizados no mercado.
Nesse sentido, tentamos compreender, a partir do discurso dos professores
de Matemática, qual o papel do livro-texto na realidade concreta a qual o professor
atua.
Segundo Porlán (1987) existe uma idéia bastante generalizada, na cultura
escolar, de que a aula é um sistema simples, formado por três elementos: alunos,
professor e livro-texto (figura 3). Porlán vai mais longe quando afirma que o espaço
de sala de aula seria definido por uma estrutura elementar baseada na interação do
professor com o grupo de alunos através do livro-texto que guiaria a atuação do
professor e da aprendizagem dos alunos.
14 Utilizaremos as expressões livro-texto e livro-didático como sinônimos.
110
Para o autor essa seria uma representação ingênua sobre a realidade
vivenciada no ambiente escolar. Ambiente esse que se traduz em uma rede
complexa e dinâmica em que estão imbricadas relações sociais, afetivas e cognitivas
que são estabelecidas na sala de aula, o que é corroborado por Demailly (1997, p.
152) quando afirma que o ensino
compõe-se de atos complexos, realizados em ambientes vivenciais e interativos, onde se cruzam as dimensões espaciais, temporais, relacionais, organizacionais, lingüísticas e instrumentais.
Essa complexidade inerente à escola é incompatível com ações
desenvolvidas em sala de aula sejam vislumbradas a priori, pois, conforme já
dissemos anteriormente, o professor depara-se amiúde com situações imprevisíveis,
e reduzir a sala de aula ao terno professor – alunos - livro-texto é pensar ser
possível construir um modelo simples de funcionamento da sala de aula.
Apesar de a utilização do livro-texto não ser obrigatória na instituição os
professores sempre escolhem algum livro que contenha “o que a gente queria” e que
tenha “um custo acessível aos alunos” segundo Epsilon. Na opinião de Epsilon o
livro-texto “facilita a vida do professor”. Essa declaração de Epsilon nos faz lembrar
da crítica que Santomé (1998, p. 156) faz acerca da adoção de livros textos:
PROFESSOR ALUNOSLIVRODIDÁTICO
Figura 3. – Adaptado de Porlán (1987)
111
O livro-texto tentará oferecer ao grupo docente um esvaziamento cultural com a intenção de que o mesmo seja assimilado pelos estudantes. Essa seleção é vendida previamente ao corpo docente como um trabalho a menos que este deve realizar.
Bárbara Freitag, por sua vez, afirma que o “livro didático não é visto como
um instrumento de trabalho auxiliar na sala de aula, mas sim como a autoridade, a
última instância, o critério absoluto de verdade, o padrão de excelência a ser
adotado na aula” (FREITAG et al, 1989, p. 124).
Santomé (1998) alerta para o fato de que os livros-texto não são utilizados
como fonte de informação fora das instituições escolares, nem pelos alunos, nem
pelo corpo docente e exemplifica esse fato ao relatar que uma pessoa formada em
lingüística que deseja saber mais sobre determinado tema de ciências naturais ao
invés de ir buscar essa informação em algum livro-texto recorre a outras fontes, tais
como monografias, revistas especializadas, dicionários científicos, documentários
audiovisuais, etc., para obter uma informação o mais objetiva possível, pois sabe
que a informação contida em um livro-texto está carregada de ideologia.
O livro-texto, sem sombra de dúvida, é um dos recursos didáticos mais
utilizados pelo professor em sala de aula e a tradição de adotá-lo, no meio escolar,
está tão enraizada que “hoje praticamente eles são considerados ‘a norma’,
chegando-se a esquecer que nem sempre foi assim e que não existe nenhuma
razão para que continue sendo dessa forma” (SANTOMÉ, 1998, p. 161, grifo do
autor).
O que para alguns professores é visto como um facilitador em sala de aula
pode ser considerado como um limitador, principalmente se o livro em questão for
utilizado como o plano de aula para o professor. Essa limitação reside no fato de que
112
a linearidade típica de muitas organizações de conteúdos propostos em livros
didáticos impede, sobremaneira, o movimento em direção da investigação de
realidades complexas e inter-relacionadas em seus elementos.
No caso da Matemática que é vista como um conhecimento pronto e
acabado, de autoria de poucas mentes iluminadas os livros-didáticos não colaboram
para que essa visão seja desmistificada, haja vista que
os livros-texto tampouco não levam em conta os processos, a forma de construção da ciência, apresentando-a como acabada. Alunos e alunas nem imaginam como esse conhecimento ocorre; onde, como, com que problemas geralmente se deparam os que têm a possibilidade de fazer ciência, etc. Assim, é lógico que não consigam imaginar facilmente que tanto eles como elas também podem/devem participar deste processo de elaboração de novos conhecimentos. (SANTOMÉ, 1998, p. 176)
Fossa (2001) em ensaio que discorre sobre o uso da história da
Matemática faz menção ao uso ornamental da história dessa ciência que é
apresentado por meio de notas históricas que narram algum fato histórico sobre a
Matemática ou, ainda, sobre algum fato picante referente à biografia de algum
Matemático famoso.
Há que se ressaltar que o uso ornamental é o que normalmente vem
apresentado nos livros-texto de Matemática. Através de sua utilização no tratamento
da história da Matemática notamos que a mesma é abordada de forma pontual, sem
levar em consideração o processo geral em que se deu àquele conhecimento.
No estudo de Santomé (1998) também há lugar para a crítica de um
currículo que se faz baseado no consumo de livros-textos. Para o autor, os livros-
textos não possibilitam nem promovem experiências interdisciplinares e
globalizadoras, não fomentam o contraste daquilo que se estuda com a realidade;
113
não estimulam os trabalhos de pesquisa e análise crítica; não promovem
modalidades mais cooperativas de trabalho na sala de aula; freiam a iniciativa dos
estudantes, limitando sua curiosidade e obrigando-os a adotar estratégias de
aprendizagem que só são válidas, na maioria das vezes, para poder ser aprovados
nos testes; reduzem o ensino a uma atividade predominantemente verbal, correndo-
se o risco de equiparar a verbalização de algo com sua compreensão; fomenta a
cultura da memorização e da repetição; não costumam ser respeitadas experiências
e conhecimentos prévios de alunos e alunas, nem suas expectativas, nem sua forma
e ritmo de aprendizagem, etc. (SANTOMÉ, 1998).
Nesse sentido, Epsilon destaca que o livro didático “deixa muito a desejar”
principalmente se “você utilizar como receita” e ainda se “esse livro não tiver sido
bem escolhido e ele trouxer conceitos errados, problemas de enfoque, de
apresentação de conteúdo”.
Gama ao falar sobre a utilização do livro-didático na instituição diz que o
mesmo foi adotado, pois se começou a perceber que não existia um padrão no
trabalho dos professores. De acordo com suas palavras: “não tinha um padrão,
então, por exemplo, de repente um professor que tava ensinando no 2º ano
começava com matrizes, outros começavam com PA e PG15, era aquela
complicação. Então eles faziam ao modo deles”.
Nesse sentido, percebemos que o livro didático foi utilizado para
padronizar a seqüência de conteúdos que deveriam ser trabalhados em sala de
aula.
Podemos perceber na fala dos professores que o livro didático é um
instrumento de trabalho do professor, contudo, observamos que existe uma
15 PA – Progressão Aritmética e PG – Progressão Geométrica
114
contradição quanto à sua utilização. Tal contradição reside no fato de que, por um
lado, o professor goza de liberdade, ele é a autoridade na sala de aula, mas por
outro ele deve se restringir a seguir um padrão imposto por um livro didático.
Na opinião de Alfa “O livro didático é muito técnico, mesmo com essas
mudanças eles ainda têm muito vício”. Essa declaração nos faz lembrar a conexão
que Santomé (1998) faz com a visão que as pessoas têm das disciplinas escolares
de acordo com a ótica das disciplinas imbricadas nos livros-texto. Assim Santomé
(1998, p. 176-177) nos diz:
A imagem que grande parte das pessoas tem de muitas disciplinas depende apenas dos livros-texto, particularmente os conhecimentos matemáticos, físicos e químicos. Esta peculiaridade também condicionará suas avaliações, expectativas e interesses nestas parcelas do saber. Não é estranho encontrar pessoas que, devido a um fracasso nestas disciplinas em seu período de escolarização, passem a considerar-se não dotadas (geneticamente?) para compreender o conhecimento destas parcelas do saber, chegando a mitificar e supervalorizar o que os outros compreendem.
Como já mencionamos em capítulo anterior, um número significativo de
pessoas, incluindo-se nesse meio os próprios professores de Matemática possui
uma visão dessa disciplina como um produto pronto e acabado, não passível de
refutações. Essa visão é ratificada pelos livros didáticos que não se preocupam em
desmistificá-la.
Essa situação torna-se incompatível com o tipo de cidadão que se está
querendo formar na escola. Cada vez mais questões de ordem social, política,
econômica e moral devem ser incluídas no meio escolar, em todas as áreas,
inclusive na Matemática. Essa necessidade implica “a variedade e diversidade nas
fontes de informação, bem como garante a presença de diferentes perspectivas que
115
podem influir na explicação de um determinado acontecimento ou situação”.
(SANTOMÉ, 1998, p. 173).
Nesse sentido, defendemos um ensino de Matemática que não se restrinja
ao livro didático, mas que busque nas mais varadas fontes sentidos que reflitam
o nível de incerteza presente na vida e que gera a impossibilidade de alcançar sempre uma única resposta, válida e verdadeira para os múltiplos problemas que surgem em uma realidade complexa em que se inter-relacionam diferentes dimensões (AZCÁRATE,1997, p. 80)16.
Essa defesa se faz necessária, pois entendemos que o livro didático não dá
conta da diversidade e complexidade que estão engendradas no ambiente escolar.
Nesse sentido, lembramos da pesquisa realizada por Rocha (2000 apud
LELLIS, 2003), professora e pesquisadora na área de Educação Matemática, da
Universidade Federal de Pelotas, em que é discutida a contribuição do ensino de
Matemática na formação de cidadãos em uma sociedade democrática. A professora
investiga a relação entre o trabalho que é feito em sala de aula pelos professores de
matemática e os princípios adotados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9394/96)17.
Rocha (2000 apud LELLIS, 2003) conclui que a Matemática é concebida
como uma disciplina isolada do mundo, “da vida do aluno” e de circunstâncias sócio-
políticas. Os professores investigados pela pesquisadora não encontram valores
educativos no ensino da Matemática, valores esses que “contribuam para indivíduos
com participação positiva na vida social, salvo o valor utilitário, as aplicações
16 Tradução livre da pesquisadora 17 Os princípios a qual a autora se refere em seu trabalho dizem respeito ao Artigo 32, inciso I, da Lei nº 9394/96.
116
práticas, as quais, de qualquer forma, não comparecem no ensino” (LELLIS, 2002, p.
21).
É evidente que essa falta de conexão da Matemática com o mundo a sua
volta, tem muito a ver com a visão cartesiana que o professor tem da Matemática
enquanto disciplina escolar. Visão essa que é fruto de uma formação linear,
fragmentada e desconectada de questões sobre o papel da Matemática no
desenvolvimento não só cognitivo, mas social e político dos alunos.
Para tal a educação não deve ser concebida de forma pontual, mas em “um
sentido amplo, como compromisso político (não necessariamente partidário), e não
apenas educação como recebimento de conteúdos específicos nos bancos da
escola”. (PEREZ, 2004, p. 261)
Nesse sentido, o ensino de Matemática deve estar intimamente ligado à
compreensão e a tomada de decisões frente a problemas de ordem social e política.
Isso implica um ensino voltado para a leitura e a interpretação de dados complexos.
Na prática, o professor desenvolveria estratégias que coadunassem para o
desenvolvimento do espírito crítico, da criatividade, da argumentação, da iniciativa e
da autonomia, o que levaria o aluno a “aprender a relacionar e analisar criticamente
a realidade não como um conjunto de partes, mas como uma totalidade”
(AZCÁRATE, 1997, p. 77)18.
Para tal, se faz necessário um confronto de fontes, dados, textos que
transcendem o uso exclusivo do livro didático em sala de aula.
Nessa direção, Azcárate (1997, p. 81) defende que
18 Tradução livre da pesquisadora
117
nós professores de Matemática devemos aprender a descobrir nexos e relações entre as disciplinas, analisar as conexões das estruturas conceituais e procedimentos matemáticos com outras disciplinas, sua utilidade e sua relação com os problemas do mundo que nos rodeia, como podemos conduzir nossos alunos e como podemos facilitar a elaboração de um conhecimento matemático mais holístico e complexo e, portanto, mais válido para sua integração com o conhecimento de um cidadão da sociedade atual.19
Gama ao discorrer sobre seu papel enquanto professor de Matemática diz
que “se a gente não se atualizar a gente vai ficando um pouco para trás em relação
a eles (os alunos), então isso me incentiva a procurar atualização”.
Nesse sentido, defendemos a reflexão crítica, oriunda da coletividade, como
uma forma de atribuir significados à prática escolar. Reflexão essa que “supõe
assumir riscos, tomar decisões, mobilizar recursos, atualizar e rever esquemas,
assumir a incompletude ou a insuficiência das coisas” (MACEDO, 2002, p. 14) e que,
além disso, faça com que rompamos com a solidão que nos assola e nos impede de
unir esforços.
Para tal, acreditamos que um ambiente em que sejam privilegiadas as
pesquisas e reflexões concernentes ao ensino da disciplina de Matemática e suas
co-relações com as diversas áreas do conhecimento, seria um lugar em que
emergiriam vários aspectos que facilitariam a atuação do professor em sala de aula,
o que vai de encontro à utilização de somente uma fonte (livro didático), no
planejamento e na execução do trabalho do professor.
5.3 O VESTIBULAR
19 Tradução livre da pesquisadora
118
Na tentativa de compreender os sentidos da autonomia docente no
desenvolvimento curricular da disciplina de Matemática um fato, em particular, nos
chamou a atenção em todas as entrevistas: a supervalorização que é dada ao
vestibular, quando das discussões acerca do currículo de matemática relativo à
etapa do Ensino Médio. Apesar de ser esse fato um impedimento ao
desenvolvimento pleno do currículo de Matemática, os professores não o
mencionarem com essa conotação.
Os professores dizem que nas reformas curriculares as quais a instituição
foi submetida, a preocupação sempre recaia nos conteúdos. Apesar de acharem que
alguns conteúdos poderiam ser retirados do currículo não o faziam porque, como diz
Gama, “a gente sabe, por exemplo, que o aluno vai fazer o que, vai fazer o
vestibular, prestar um concurso. E vestibular ta preocupado com conteúdo tanto é
que ele dá uma listagem de conteúdo e você tem que se virar para dar para o seu
aluno aquela quantidade de conteúdo”.
Ômega cita como exemplo de um dos conteúdos que já foi motivo de
discussão entre os professores os polinômios que, na sua opinião, “se discute muito
porque trabalhar com polinômios, por exemplo, que não serve para nada. E até
agora a gente continua trabalhando com polinômios e a gente não conseguiu tirar”.
E esse não conseguir tirar deve-se ao fato de que “o vestibular exige, então a gente
não tira por conta disso [...] porque pode prejudicar os alunos”, segundo Ômega.
Epsilon, diz que o professor de Matemática “é muito preso ao tradicional” e
acrescenta ainda que “a gente tem muito amor ao conteúdo”. Epsilon cita como
exemplo de conteúdo que já foi passível de discussão o Binômio de Newton,
dizendo que “a gente começou a pensar sobre o Binômio de Newton, ai alguns
119
dizem: mas pra quê dar Binômio de Newton, só que ninguém teve coragem de tirar”.
Epsilon acrescenta ainda que essa dificuldade está imersa no universo do Ensino
Médio já que “no superior a gente tem mais maleabilidade”, citando essa
maleabilidade através da disciplina de Cálculo que “no Curso de Comércio Exterior a
ementa pode ser parecida com a que eu trabalho na Física, mas o enfoque não é o
mesmo”. Epsilon é contundente ao dizer que no Ensino Médio “você tem a amarra
do vestibular, que é uma realidade”.
Esse foco voltado para o vestibular não é uma preocupação somente dos
professores, mas dos alunos também. Constatamos essa realidade quando Alfa diz
que no advento da Pedagogia de Projetos estava entusiasmado “com essa questão
de projetos, pensei uma vez, lancei essa idéia... aí os alunos disseram: ajuda a
passar no vestibular, aí eu digo: não. Então o nosso projeto é passar no vestibular.”
Alfa que tem experiência de ensino no 3º ano do Ensino Médio justifica essa postura
dos estudantes dizendo que “no 3º ano eles estão muito direcionados, o que eles
querem é aprender. Eles acharam que iria atrapalhar o conteúdo. Aí eu desisti da
idéia e nunca mais lancei”.
Percebemos uma contradição na fala desse professor, pois ao mesmo
tempo em que lançou a idéia de projetos e foi questionado pelos alunos se a referida
metodologia ajudá-los-ia a passar no vestibular posicionou-se negativamente acerca
do tema.
Acreditamos que essa contradição é fruto da visão que o professor tem da
Matemática. Visão essa que “gera uma dinâmica de ensino em que os alunos devem
acumular conhecimentos” (D’AMBROSIO, B., 1993, p. 36) e que vem dirigindo o
ensino da disciplina de matemática há muito tempo.
120
Quando Alfa diz que os que os alunos “querem é aprender” nos parece que
se o professor mudasse a sua metodologia e passasse a trabalhar com projetos, por
exemplo, os alunos iriam ficar prejudicados, pois não aprenderiam Matemática.
Nacarato, Varani e Carvalho (1998) ao discorrerem sobre o trabalho
docente colocam que esse se encontra sob a égide de alguns elementos geradores
das tensões às quais os professores estão submetidos. Elementos esses que seriam
as condições do trabalho docente, as expectativas da sociedade para com o
trabalho do professor e a imagem do professor veiculada pela mídia. As autoras,
quando refletem sobre as condições do trabalho docente listam como um dos fatores
que determinariam essas condições os controles externos sobre o trabalho docente,
entendidos como os mecanismos que predeterminam objetivos, os conteúdos, a
metodologia e a avaliação que deverão orientar o trabalhão dos professores.
Nessa reflexão as autoras destacam que, especificamente no Ensino Médio,
“atribui-se ao professor a responsabilidade de abordar e discutir os conteúdos
exigidos nos exames vestibulares” (NACARATO; VARANI; CARVALHO,1998, p. 91).
Essa exigência influencia o trabalho do professor, pois embora, muitas
vezes, ele acredite que poderia dar ênfase a alguns conteúdos matemáticos em
detrimento de outros termina por acatar as exigências do vestibular.
Pires (2005) ao discorrer sobre o currículo do Ensino Médio alerta que a
identidade dessa etapa da escolaridade ainda é bastante indefinida em nosso país.
A autora alude que a história do Ensino Médio sempre foi marcada pela dicotomia
entre uma formação de caráter propedêutico, que serviria para a continuação de
estudos em nível superior e a formação profissional que se caracteriza pela
terminalidade.
121
Para Pires (2005) esse quadro de indefinição gera muitas dúvidas
relacionadas ao que seriam aprendizagens essenciais e expõe que “essas
concepções são produto das práticas curriculares dominantes, que deixaram como
sedimento nos professores um esquema do que é, para eles, conhecimento valioso”
(SACRISTÁN, 2000 apud PIRES, 2005, p. 28).
Essa constatação de Pires (2005), calcada em Sacristán (2000), pôde ser
observada através do discurso de Epsilon quando diz que “a gente tem muito amor
aos conteúdos”. Pires (2005) constata ainda que o processo de elaboração dos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática do Ensino Médio foi bem menos
participativo do que nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental
da referida disciplina. Além disso, Pires (2005) afirma que são poucas as pesquisas
que têm como tema o ensino e a aprendizagem de Matemática na etapa do Ensino
Médio. Mas o que mais nos chama a atenção à alusão a qual a autora faz acerca
desse tema é a constatação de que
as práticas vigentes são aquelas orientadas pelos exames vestibulares, estes considerados uma das maiores incoerências da educação brasileira: em que um exame define o que se aprende e como se aprende em três anos da vida do jovem brasileiro. (PIRES, 2005, p. 28)
Concordamos com Pires quando cita essa prática como uma incoerência,
pois a escola se molda a um exame e leva a cabo um currículo em função das
diretrizes do exame vestibular.
É realidade que o ensino de Matemática na etapa em que se refere ao
Ensino Médio, tem como base o conhecimento científico e desenvolve-se na maioria
das vezes de maneira descontextualizada. Na maioria das escolas o foco do ensino
122
dessa e de outras disciplinas é o vestibular. Assim, os conteúdos, em sua maioria,
são trabalhados distantes da realidade dos alunos e conseqüentemente tornam-se
sem significados para estes.
Tomando como referencial o modelo de currículo proposto por D’Ambrosio,
U (1986), explicitado anteriormente, acreditamos que o grande problema do
desenvolvimento curricular da disciplina de Matemática resida no fato de que
existam propostas de ensino de Matemática, baseadas nas novas tendências do
ensino dessa disciplina, tais como, resolução de problemas, modelagem, entre
outras, mas para que essas propostas se efetivem e convirjam para um ensino de
Matemática mais eficiente é preciso que os componentes curriculares objetivos,
métodos e conteúdos sejam discutidos e modificados solidariamente. Portanto não
bastam mudar métodos se os conteúdos e objetivos forem mantidos ou mudar
conteúdos se os métodos e os objetivos se mantiverem e assim sucessivamente.
Nesse sentido, faz-se necessário que o professor problematize acerca das
questões concernentes ao currículo. Problematização que acontecerá a partir da
reflexão do professor sobre o que fazer, como fazer e por quê fazer.
Tomando como referencial a proposta de Contreras (2002) e Zeichner
(1997) no que se refere à reflexão enfatizamos que essa não pode ficar limitada a
sala de aula, nem tampouco ser realizada isoladamente.
Contreras (2002) defende que não é qualquer tipo de reflexão que irá
permear o processo de construção da autonomia dos professores. Mas sim uma
reflexão em que a crítica lhe seja concernente. Reflexão que não diz respeito
somente a análise da prática do professor, mas que vai além, somando-se a essa
análise o contexto em que o professor está inserido, exercendo, dessa maneira, a
função de emancipar ao possibilitar o desvelamento do sentido ideológico da prática.
123
Nesse sentido, Contreras (2002) busca em Giroux (1990) o sentido de o
professor assumir-se como intelectual, tendo em vista que essa assunção implica
em reconhecer e questionar sua natureza socialmente construída, e o modo como
se relaciona com a ordem social, assim como analisar as possibilidades
transformadoras implícitas no contexto social das aulas e do ensino. Nessa direção,
o intelectual crítico é aquele que participa ativamente do esforço de desvelar o
oculto, e desvendar a origem histórica e social daquilo que se apresenta como
natural.
Considerando que o hábito de questionar é construído progressivamente,
faz-se necessário um trabalho de cunho dialógico que possibilite o reconhecimento
dos limites de sua atuação.
Por esse motivo concebemos a autonomia docente em um contexto de
relações. Autonomia essa que não pode ser um problema de juízo próprio do
professor, vinculado ao contexto de sala de aula, nem tampouco de negociação com
a comunidade. Mas sim um processo de busca e construção permanente que será
alimentada pela análise da própria prática, das razões que sustentam as decisões e
dos contextos que a limitam ou condicionam. Ultrapassar esses limites
é uma condição necessária para a ampliação da autonomia profissional, para que o espaço de preocupações e decisões não se encontre limitado pela experiência presente do que hoje é a prática escolar, mas que possa ampliar seus horizontes em relação ao que deveria ser e ainda não é. (CONTRERAS, 2002, p. 203)
Nesse sentido, buscamos em Imbernón (2000) as quatro idéias-força que
devem impulsionar o futuro imediato da educação: a recuperação por parte dos
professores e demais agentes educativos do controle sobre seu processo de
124
trabalho; a valorização do conhecimento, tanto daquele já adquirido e desenvolvido
pelas gerações e culturas anteriores, que tem seu valor e importância mesmo nos
dias de hoje, mas que se apresenta como insuficiente para os próximos tempos,
quanto dos novos conhecimentos que são investigados e produzidos atualmente em
novas condições de número de informações, de velocidade de comunicação e de
proliferação de fontes de conhecimento; a valorização da comunidade como
verdadeira integrante do processo educativo, da comunidade de aprendizagem, co-
responsável pelo projeto pedagógico da instituição; a diversidade como projeto
cultural e educativo (IMBERNÓN, 2000).
Nessa perspectiva, a reflexão crítica amplia os horizontes do professor,
possibilitando ao mesmo que suas práticas, valores e instituições sejam
problematizados.
UNINDO AS PEÇAS
Esse capítulo finaliza nossa dissertação e nele estão contidos os
significados da autonomia docente, bem como revelados os impedimentos na qual o
professor está sujeito em seu trabalho.
Percebemos, nos discurso dos professores, que a autonomia está atrelada
a uma posição de soberania em sala de aula, o que se traduz em um trabalho
voltado para o individualismo.
125
Com relação aos impedimentos constatamos que o livro didático, utilizado
para padronizar o trabalho dos professores, fere o direito dos mesmos de buscarem
coletivamente quais os conhecimentos e qual a ordem de encadeamento desses
conhecimentos que serão trabalhados em sala de aula. Além disso, constatamos
que o vestibular é tomado como referência no que concerne ao currículo de
Matemática na instituição.
Concluímos essa parte com uma reflexão que nos leva a pensar no trabalho
docente em uma dimensão coletiva, em que a crítica e a reflexão sejam constantes.
Além disso, pensamos que o desenvolvimento curricular da disciplina de Matemática
é uma das vertentes que levarão o professor de Matemática a desenvolver-se
profissionalmente.
A seguir, apresentaremos nossas considerações finais acerca da pesquisa,
bem como algumas recomendações que achamos pertinentes e que acreditamos
que irão contribuir para a melhoria das ações do professor de matemática, bem
como para seu desenvolvimento profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso trabalho inseriu-se na linha de pesquisa que trata da formação e
desenvolvimento profissional de professores de Matemática, objetivando
compreender, a partir do discurso de professores de Matemática, o sentido atribuído
à autonomia profissional e como esse sentido é refletido no desenvolvimento
curricular da disciplina de Matemática.
Para tal utilizamos a entrevista compreensiva como procedimento
metodológico e ouvimos cinco professores de Matemática, que lecionam no Centro
Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte.
A análise das entrevistas revelou que o modelo de formação calcado na
racionalidade técnica esteve presente na formação dos professores envolvidos no
estudo.
Além disso, observamos que para esses professores a autonomia é tida
como uma capacidade de exercer o seu trabalho sem influências de outrem,
caracterizando, dessa maneira, a dimensão individual do trabalho do professor.
Percebemos, também, no desenvolvimento do estudo, que tais professores,
apesar de se dizerem autônomos, não percebem que a heteronomia está vinculada
ao seu trabalho, através da padronização imposta pelos livros didáticos e pela
imposição que é feita através do vestibular sobre o tipo de conhecimento matemático
que o professor deverá trabalhar em sala de aula, o que acarreta em um currículo de
Matemática desatualizado e estagnado, contradizendo a essência do currículo como
processo de construção permanente.
Notamos que a reunião pedagógica, lócus de excelência para reflexões e
discussões acerca do ensino de Matemática, não tem se configurado nessa direção,
128
sendo para os professores de pouca contribuição ao enriquecimento de seu
trabalho, pois eles consideram que ainda há muita resistência em refletir sobre
teorias, e que o professor de Matemática prefere concentrar-se na sua prática.
Consideramos esse um equívoco, haja vista que pensamos que as reflexões e
discussões teóricas são essenciais para uma evolução da prática.
Observamos que os professores apoiaram suas práticas, principalmente no
início de suas carreiras, na intuição e espontaneidade, não possuindo um aporte
teórico e prático que desse suporte em sua profissão. Entendemos que para que
esse quadro seja superado se faz necessário que investimentos sérios sejam feitos
na formação desses profissionais.
Para que seja superado o modelo oriundo da racionalidade técnica os
professores, primeiramente devem tomar consciência dos condicionantes que
transitam junto ao seu fazer pedagógico. Isso implica em um investimento no avanço
teórico e prático dos professores, através de um processo em que os professores
em conjunto assumam um papel cada vez mais significativo no desenvolvimento
curricular da disciplina de Matemática. Esse trabalho, realizado no âmbito coletivo,
trará como resultado a constante reconstrução dos currículos e da profissionalização
de todos os envolvidos. Para isso, investir na formação permanente de professores é
o caminho pelo qual será possível promover transformações na escola e nas
práticas pedagógicas adotadas.
Caminho esse que se ancora em um trabalho coletivo da equipe de
professores de Matemática, haja vista que autonomia não deve ser sinônimo de
individualismo, postura que só enfraquece a profissão docente e que freia o
desencadeamento de mudanças no campo educacional.
129
Finalmente recomendamos que, a instituição como agência que se presta a
formar profissionais, também, na área pedagógica, através de licenciaturas, deve
incentivar a prática investigativa por parte de seus docentes. Incentivo esse que
pode ser dado a partir do estímulo a criação de grupos de pesquisa em Educação
Matemática, para que com isso os professores dessa disciplina percebam que o
conhecimento advém de um processo histórico e que, além disso, possam refletir e
discutir questões acerca da Matemática.
REFERÊNCIAS
131
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APÊNDICE
140
PLANO EVOLUTIVO 1
HISTÓRIA DO SUJEITO O porquê de ser professor de matemática. Lacunas da formação. Formação contínua ou estanque?
VIVÊNCIAS: Sou autônomo? Impedimentos – mecanismo de controle.
AÇÃO PEDAGÓGICA: Dinâmica de elaboração do currículo matemático na instituição. Participação (ou não) do professor. Contexto de trabalho e avaliação do mesmo. O trabalho é coletivo ou isolado? Planejamento de aulas – adoção do livro-texto. Avaliação da reunião pedagógica. Dificuldades. Natureza do conhecimento priorizado em sala de aula.
DEFINIÇÕES: Educação. Educação Matemática. Currículo. Autonomia profissional.
141
PLANO EVOLUTIVO 2
A escolha Queria outra carreira.
A formação Tecnicista. Estudo solitário – longo aprendizado.
O início da carreira Trabalho com demonstrações – formalismo.
Hoje Conhecimentos prévios. Colaboração x autoridade. O vestibular. Os alunos querem conteúdo.
A matemática Forma de estimular o raciocínio. Pensamento elaborado x banalidade.
Material didático Eu produzi... O livro didático é muito técnico.
Currículo É de longa data.
Participação Não participo com afinco.
Autonomia Abertura na instituição. Longo aprendizado.
Educação Não se pára para pensar.
142
PLANO EVOLUTIVO 3
A escolha Queria outra carreira mas não passou no vestibular. Na família sempre tem um professor.
A formação Tecnicista. Estudo solitário – longo aprendizado. Hiato entre as disciplinas pedagógicas e a específicas.
O início da carreira Trabalho com demonstrações – formalismo. Espelho de outros professores. Intransigência.
Hoje Conhecimentos prévios. Colaboração x autoridade. O vestibular. Os alunos querem conteúdo. Competição.
A matemática Forma de estimular o raciocínio. Pensamento elaborado x banalidade. Aplicação.
Material didático Eu produzi... O livro didático é muito técnico.
Currículo É de longa data. Ajustes nos conteúdos.
Participação Não participo com afinco.
Autonomia Abertura na instituição. Longo aprendizado. Uso de diversas metodologias.
Educação Não se pára para pensar. Processo dinâmico.
143
PLANO EVOLUTIVO 4
A escolha Queria outra carreira, mas não passou no vestibular. Na família sempre tem uma professora. Maior afinidade.
A formação Tecnicista Estudo solitário – longo aprendizado. Hiato entre as disciplinas pedagógicas e a específicas. Mini-bacharelado. Falta de aprofundamento de conteúdos do ensino médio. Professor é profissão.
O início da carreira Trabalho com demonstrações – formalismo. Espelho de outros professores. Intransigência. Procurando, vendo, buscando.
Hoje Conhecimentos prévios. Colaboração x autoridade. Os alunos querem conteúdo. Competição. Qualificação através da experiência. Abertura para escutar.
O vestibular A amarra.
A matemática Forma de estimular o raciocínio. Pensamento elaborado x banalidade. Aplicação. Capacidade de raciocínio lógico e abstração.
Material didático Eu produzi... O livro didático é muito técnico.
Currículo É de longa data. Ajustes nos conteúdos.
Participação Não participo com afinco. Pragmatismo do professor.
144
Autonomia Abertura na instituição. Longo aprendizado. Uso de diversas metodologias.
Educação Não se pára para pensar. Processo dinâmico. Interação.
145
PLANO EVOLUTIVO 5
PARTE I – A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS SUJEITOS INVESTIGADOS
A escolha Afinidade com a disciplina. Cultura da família. O que mais se aproximava.
A Licenciatura Racionalidade técnica. Incompatibilidade com o ensino médio. Professor é profissão.
O início da carreira Trabalho com demonstrações – formalismo. Espelho de outros professores. Intransigência. Procurando, vendo, buscando.
Hoje Conhecimentos prévios. Colaboração x autoridade. Os alunos querem conteúdo. Competição. Qualificação através da experiência. Abertura para escutar.
PARTE II – CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DE MATEMÁTICA NA INSTITUIÇÃO
Currículo É de longa data. Ajustes nos conteúdos.
O vestibular A amarra.
A matemática Forma de estimular o raciocínio. Pensamento elaborado x banalidade. Aplicação. Capacidade de raciocínio lógico e abstração.
Material didático Eu produzi... O livro didático é muito técnico.
146
Participação Não participo com afinco.
Autonomia Abertura na instituição. Longo aprendizado. Uso de diversas metodologias. Não ser escravo do planejamento.
Educação Não se pára para pensar. Processo dinâmico. Interação. Não sei conceituar.
Reunião pedagógica Não sinto que eu cresça.
O ambiente de trabalho O pragmatismo do matemático.
Educação Matemática Suporte para o professor.
147
PLANO EVOLUTIVO 6
PARTE I – A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS SUJEITOS INVESTIGADOS
A escolha Afinidade com a disciplina. Cultura da família. O que mais se aproximava.
A Licenciatura Racionalidade técnica. Falta de aprofundamento de conteúdos do ensino médio. Professor é profissão.
O início da carreira Estudo solitário – longo aprendizado. Trabalho com demonstrações – formalismo. Espelho de outros professores. Intransigência. Procurando, vendo, buscando.
Hoje Conhecimentos prévios. Colaboração x autoridade. Os alunos querem conteúdo. Competição. Qualificação através da experiência. Abertura para escutar. Correr atrás.
PARTE II – CONTEXTUALIZANDO O ENSINO DE MATEMÁTICA NA INSTITUIÇÃO
Currículo É de longa data. Ajustes nos conteúdos. Feito por matemáticos. Reformulação.
O vestibular A amarra. Não somos uma ilha.
A matemática Forma de estimular o raciocínio. Pensamento elaborado x banalidade. Aplicação. Capacidade de raciocínio lógico e abstração.
148
Material didático Eu produzi... O livro didático é muito técnico.
Participação Não participo com afinco.
Autonomia Abertura na instituição. Longo aprendizado. Uso de diversas metodologias. Não ser escravo do planejamento.
Educação Não se pára para pensar. Processo dinâmico. Interação. Não sei conceituar. Formar o cidadão na sua integridade.
Reunião pedagógica Não sinto que eu cresça.
O ambiente de trabalho O pragmatismo do matemático.
Educação Matemática Suporte para o professor. Raciocínio crítico.