cristianismo

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Cristianismo e o Estado - O cristianismo tem tido grande variedade de relações com o Estado. No Império Romano, a partir do tempo de Constantino (m. 337) a Igreja foi se tornando cada vez mais privilegiada. e, finalmente, passou a dominar. Depois disso, começou a perseguir o paganismo e a HERESIA. O Decreto Gelasiano (papa Gelásio, m. 496) proclamava a supremacia da Igreja sobre o Estado. Concepções ,dessa natureza, durante a Idade Média, provocaram muitos conflitos entre papas e príncipes. Idealmente, cria-se que a cristandade (o mundo cristão) ocidental, fosse governada por Deus através do Santo Imperador Romano e outros príncipes nos assuntos seculares, e através do PAPADO e da IGREJA nos assuntos espirituais. Alguns papas e imperadores, entretanto, aspiraram ao domínio total de ambos os lados da existência humana. "Teocracia" foi a palavra empregada para descrever as pretensões da Igreja nesse sentido, e "cesaropapismo", para descrever o controle da Igreja e da teologia exercido por imperadores orientais. A REFORMA iniciou tipicamente as "igrejas oficiais" no PROTESTANTISMO. Isso significava uma só Igreja, sustentada pelo Estado, para todos os cidadãos (cf. TOLERÂNCIA). "Erastianismo" é o termo que se aplica para completar o controle, pelo Estado, da jurisdição da Igreja em tais igrejas. Na França católica (CATOLICISMO ROMANO), o "galicanismo" sujeitou largamente a Igreja à monarquia. Em Genebra, o CALVINISMO aproximou-se da teocracia. A partir do início do século XIX tem-se registrado uma tendência geral para a "desoficialização" ou, pelo menos, para reduzir os privilégios das igrejas oficiais. Muitos Estados se tornaram religiosamente neutros. Mas mesmo não-oficializado, o cristianismo atua como fonte de identidade nacional. Cristianismo e pecado - Para os cristãos, o pecado é, essencialmente, a desobediência à vontade de Deus. A falência moral resulta de uma condição pecaminosa. Todos os homens se encontram em estado de pecado ("pecado original") em razão da "queda" de Adão. Na mitologia cristã Adão foi o primeiro homem que perdeu sua natureza superior por haver desobedecido a Deus e, em conseqüência disso, "decaiu" da graça (SALVAÇÃO). A narrativa da queda tem sido contestada à luz da ciência e da história, mas a crença básica na propensão do homem para o pecado se mantém como a frustração dos planos de Deus em relação a ele. Isso agora se apóia na referência à história e à observação contemporânea. À luz dessa concepção da natureza do homem desenvolveu-se a doutrina cristã da salvação,

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um pouco sobre a história do Cristianismo no mundo

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Cristianismo e o Estado - O cristianismo tem tido grande variedade de relações com o Estado. No Império Romano, a partir do tempo de Constantino (m. 337) a Igreja foi se tornando cada vez mais privilegiada. e, finalmente, passou a dominar. Depois disso, começou a perseguir o paganismo e a HERESIA. O Decreto Gelasiano (papa Gelásio, m. 496) proclamava a supremacia da Igreja sobre o Estado. Concepções ,dessa natureza, durante a Idade Média, provocaram muitos conflitos entre papas e príncipes. Idealmente, cria-se que a cristandade (o mundo cristão) ocidental, fosse governada por Deus através do Santo Imperador Romano e outros príncipes nos assuntos seculares, e através do PAPADO e da IGREJA nos assuntos espirituais. Alguns papas e imperadores, entretanto, aspiraram ao domínio total de ambos os lados da existência humana. "Teocracia" foi a palavra empregada para descrever as pretensões da Igreja nesse sentido, e "cesaropapismo", para descrever o controle da Igreja e da teologia exercido por imperadores orientais. A REFORMA iniciou tipicamente as "igrejas oficiais" no PROTESTANTISMO. Isso significava uma só Igreja, sustentada pelo Estado, para todos os cidadãos (cf. TOLERÂNCIA). "Erastianismo" é o termo que se aplica para completar o controle, pelo Estado, da jurisdição da Igreja em tais igrejas. Na França católica (CATOLICISMO ROMANO), o "galicanismo" sujeitou largamente a Igreja à monarquia. Em Genebra, o CALVINISMO aproximou-se da teocracia. A partir do início do século XIX tem-se registrado uma tendência geral para a "desoficialização" ou, pelo menos, para reduzir os privilégios das igrejas oficiais. Muitos Estados se tornaram religiosamente neutros. Mas mesmo não-oficializado, o cristianismo atua como fonte de identidade nacional.

Cristianismo e pecado - Para os cristãos, o pecado é, essencialmente, a desobediência à vontade de Deus. A falência moral resulta de uma condição pecaminosa. Todos os homens se encontram em estado de pecado ("pecado original") em razão da "queda" de Adão. Na mitologia cristã Adão foi o primeiro homem que perdeu sua natureza superior por haver desobedecido a Deus e, em conseqüência disso, "decaiu" da graça (SALVAÇÃO). A narrativa da queda tem sido contestada à luz da ciência e da história, mas a crença básica na propensão do homem para o pecado se mantém como a frustração dos planos de Deus em relação a ele. Isso agora se apóia na referência à história e à observação contemporânea. À luz dessa concepção da natureza do homem desenvolveu-se a doutrina cristã da salvação, juntamente com recursos, como os SACRAMENTOS, em especial, a PENITÊNCIA. Os debates em torno do pecado original e seus efeitos sobre o livre-arbítrio acarretaram inúmeras controvérsias (como, por exemplo, o AUGUSTINISMO; o JANSENISMO; o PELAGIANISMO). O PROTESTANTIS~O primitivo adotou uma concepção mais pessimista do que a concepção geral CATOLICISMO ROMANO (exceto no tocante ao jansenismo). A partir do século XVIII muitos protestantes desenvolveram opiniões mais otimistas (ou talvez menos teológicas) acerca da capacidade moral humana. A experiência do século XX tendeu a reviver o pessimismo anterior. No catolicismo romano (e, às vezes, no protestantismo), a TEOLOGIA MORAL tem se caracterizado por distinções altamente desenvolvidas entre pecados como ajuda da orientação espiritual ("casuística"). Os pecados "mortais", flagrantes, deliberados e astutos, acarretam a perda graça e a danação. Os pecados "veniais", menos graves, não acarretam a perda de toda a graça. Acredita-se que ambas as formas de pecado perdoadas por Deus se o pecador se revelar mente arrependido e decidido a levar uma nova ("contrição").

Cristianismo e sexo - O ensino cristão tradicional diferencia nitidamente os sexos e seus papéis. As mulheres, subordinadas aos homens, comumente excluídas do MINISTÉRIO (MUL NO CRISTIANISMO PRIMITIVO), incorrem na suspeita de alguns ascetas de serem fontes de tentação. Ao mesmo tempo, o lugar da VIRGEM MARIA e das SANTAS é conspícuo na devoção católica (CATOLICISMO ROMANO). A sexualidade associava-se intimamente ao PECADO (em especial de acordo com Santo Agostinho (AUGUSTINISMO),

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e considerava-se o CASAMENTO um remédio para ela. A busca da santidade no MONAQUISMO envolvia um voto de castidade (abstenção da atividade sexual e do casamento), e a virgindade era assaz valorizada. O homossexualismo, aborto e a prevenção da gravidez, bem como a fornicação (relações sexuais entre pessoas não-casadas) e o adultério (relações sexuais entre pessoas casadas com outros parceiros) têm sido vistos como pecados graves, com que o catolicismo romano e algumas seitas do PROTESTANTISMO sempre se mostraram muito severos. Há pouco tempo, contudo, alguns cristãos passaram a enxergar a sexualidade de maneira muito mais positiva, considerando-a boa quando usada corretamente. A prevenção artificial da gravidez é bastante praticada, até por católicos romanos (apesar da condenação pelo PAPADO, em 1968). Alguns cristãos também aceitam a legitimidade do aborto e do homossexualismo. O reconhecimento dos direitos das mulheres e o seu papel na Igreja desenvolveram-se sob a influência feminista.

Cristianismo na África - O cristianismo romano no norte da África foi destruído, em grande parte, pelas invasões islâmicas. Os principais sobreviventes são as igrejas Monofisitas Cópticas Egito e da Etiópia (CRISTOLOGIA). Em outras partes da África, o cristianismo foi instaurado, em grande parte, pelas MISSÕES subseqüentes. Na África ocidental, exceto o CATOLICISMO ROMANO português no século XVI, a maior parte do trabalho se fez no século XIX, primeiro através do PROTESTANTISMO e, em seguida, dos católicos romanos. As áreas de atividades das duas igrejas correspondiam, em regra geral, à religião das potências européias comerciantes e coloniais rivais. O mesmo se pode dizer da África oriental, após a exploração levada a cabo por David Livingstone (1813-73). No sul da África, a colonização holandesa produziu desde o século XVII, a Igreja Reformada (CALVINISMO) local, assim como missões. A política do apartheid (teologicamente apoiada pela Igreja Reformada local) provocou muita tensão com as igrejas missionárias. Versões locais de igrejas européias de origem missionária lograram a independência desde a década de 1950. Na África oriental, grupos de cristãos converteram-se espontaneamente à IGREJA ORTODOXA. Existem, outrossim numerosas igrejas Africanas Independentes, de tipo messiânico (PENTECOSTALISMO), de mistura com a religião africana tradicional (NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS NA ÁFRICA).

Cristianismo na América Latina - A América Sul, a América Central e partes da América do Norte foram colonizadas pelos espanhóis e portugueses no século XVI. A conversão ao catolicismo romano, muitas vezes forçada e acompanhada de escravidão, fazia parte da política oficial. O trabalho missionário era em grande parte incumbência das ordens religiosas, principalmente frades e jesuítas (MONAQUISMO). Bartolomé de las Casas (1474-1566) defendeu os direitos dos índios, e os jesuítas, no Paraguai, protegeram convertidos da exploração em aldeias dirigidas paternalisticamente (Reducciones). As colônias conquistaram a independência da Europa durante o século XIX, e o anticlericalismo republicano resultava, por vezes, na desoficialização e perseguição da Igreja (como no México). Apesar disso, a influência da Igreja permanece forte, e sua inclinação para apoiar regimes conservadores tem-lhe valido a hostilidade de movimentos revolucionários. Entretanto, a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO e a reforma social radical se desenvolveram, sobretudo no seio do clero mais moço, influenciado pelos europeus. No nível popular o CATOLICISMO ROMANO incorporou amiúde, sincreticamente, crenças religiosas pré-cristãs em festas e devoções à VIRGEM MARIA (NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS DOS ÍNDIOS AMERICANOS). Nos últimos tempos, o PROTESTANTISMO evangélico, alguns cultos cristãos e o PENTECOSTALISMO vêm crescendo.

Cristianismo na Ásia - Uns poucos monofisitas nestorianos (CRISTOLOGIA) chegaram à índia e à China nos primeiros séculos. O monofisismo teve, outrora, igrejas substanciais na Ásia ocidental, mas a competição com outros cristãos minou-as em relação ao islamismo,

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ficando o cristianismo permanentemente enfraquecido nessa região. Uma penetração substancial da índia, da China e do Japão (CRISTIANISMO NO JAPÃO), operou-se através das MISSÕES católico-romanas (CATOLICISMO ROMANO) de frades e jesuítas (MONAQUISMO) desde o século XVI, dizimadas por perseguições um século depois. Novo trabalho nessa área foi realizado pelas missões protestantes e pelo renovado esforço católico-romano no século XIX. Esses esforços foram mais bem-sucedidos nos mares do Sul, menos seguros na China e pouco numerosos no Japão. As culturas indígenas e as religiões principais (BUDISMO; HINDUÍSMO; ISLAMISMO) revelaram-se, de um modo geral, resistentes ao cristianismo na Ásia, exceto, porventura, nas Filipinas e no Vietnam. O nacionalismo também desfavoreceu a imagem do cristianismo, apresentando-o como religião ocidental estrangeira.

Cristianismo na Australásia - O cristianismo na Austrália nasceu com as igrejas britânicas e, mais tarde, européias, condicionadas pela experiência colonial. Claro está que alguns anglicanos levaram consigo idéias sobre a "oficialização" da Igreja, que falharam em face da competição de outros templos. O dinheiro do povo, não raro ao alcance dos interessados para a construção de igrejas e escolas, por volta da década de 1870 foi substituído pelo auto-sustento. As igrejas tornaram-se independentes da Europa em diferentes ocasiões, e do ANGLICANISMO em 1962. O CATOLICISMO ROMANO, vigorosamente irlandês e operário, sofreu a princípio a influência do sentimento anti-britânico, tendo-se envolvido na fundação do Partido Trabalhista Australiano. As diferenças sociais entre as igrejas estão, hoje em dia, muito reduzidas. O trabalho missionário australiano é feito sobretudo em Papua, Nova Guiné; as missões da Nova Zelândia chegaram com a colonização no século XIX, em que predominaram o anglicanismo e, de modo substancial, o PRESBITERIANISMO e o METODISMO. OS maoris indígenas acabaram se tornando oficialmente cristãos, mas alguns aderiram a cultos carismáticos. (NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS NA ÁSIA E NO PACÍFICO; RELIGIÃO MELANÉSIA; RELIGIÕES NO PACÍFICO; RELIGIÕES FILIPINAS) .

Cristianismo na China - Os primeiros nestorianos (século VII) (CRISTOLOGIA) e as missões medievais ocidentais que foram à China deixaram de existir no século XIV. O jesuíta Matteo Ricci (1552-1610) encetou uma tradição (condenada no século XVIII) de adaptar o cristianismo às cerimônias e à linguagem religiosa chinesas. A influência política européia facilitou o seu reinício no século XIX. A identificação do cristianismo com essa influência agravou a tradicional xenofobia dos chineses e a sua antipatia intelectual pelo cristianismo, demonstradas na Revolta dos Boxers (1900). O movimento T'aiP'ing (década de 1850) incluiu um pouco do SINCRETISMO cristão. Importante aspecto da política missionária foi um sistema cristão superior de educação. O advento do Estado comunista (1949) acarretou a exclusão dos missionários, e tanto a necessidade quanto a política do governo induziram as igrejas a se auto-sustentar. A Revolução Cultural (1966) trouxe a perseguição, mas os atuais (1981) relatórios sugerem menor intolerância religiosa. O cristianismo, contudo, nunca foi mais que uma influência minoritária na China.

Cristianismo na Europa - Depois da queda do Império Romano ocidental e durante a Idade Média, o cristianismo tornou-se uma religião predominantemente européia. A cisão provocada pela REFORMA na Igreja ocidental deixou o norte da Europa dominado pelo PROTESTANTISMO, o sul, pelo CATOLICISMO ROMANO, e o leste, pela IGREJA ORTODOXA. Estabeleceram-se relações íntimas com o ESTADO. OS conflitos e impérios europeus (espanhol, francês, britânico) refletiram-se na expansão de suas marcas de cristianismo deixadas no resto do mundo. A teologia cristã, o CULTO e a ORGANIZAÇÃO DA IGREJA ainda estão vigorosamente marcados pela fase européia da história do mundo. O cristianismo de influência européia estendeu-se aos Estados Unidos, e lá se modificou e se expandiu pelo resto do mundo. (Cf. também CRISTIANISMO NO MUNDO COMUNISTA.)

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Cristianismo na Grã-Bretanha - Após a queda do Império Romano, o cristianismo céltico e a Igreja anglo-saxã seguiram rumos diferentes. Durante a REFORMA, igrejas oficiais separadas desenvolveram-se como a Igreja da Inglaterra e a Igreja da Escócia (PRESBITERIANISMO). A Igreja Anglicana (ANGLICANISMO) separou-se do Estado na Irlanda, de predominância católica romana (1869), e no País de Gales, vigorosamente não-conformista (1920). A TOLERÂNCIA religiosa (1689) permitiu o desenvolvimento de grupos substanciais de dissidentes (também conhecidos como não-conformistas e membros de igrejas livres do controle do Estado) (BATISTAS; CONGREGACIONALISMO; METODISMO; Presbiterianos; QUACRES), que representaram importante papel na vida inglesa. O CATOLICISMO ROMANO aumentou consideravelmente a partir do século XIX, sobretudo através da imigração irlandesa.

Cristianismo na Índia - Assevera a tradição que o APÓSTOLO Tomé chegou à índia, e ali sobrevivem diversas igrejas de origem nestoriana do século IV EC (CRISTOLOGIA). São os católicos malabarenses, os católicos malankarese, os ortodoxos sírios, as igrejas Jacobitas e Nestorianas (Mellusian) e a Igreja de Mar Thoma. O cristianismo ocidental veio com os portugueses e, sobretudo, com os jesuítas (MONAQUISMO) São Francisco Xavier (1506-52) e Roberto de Nobili (1577-1656). De Nobili exerceu influência sobre os indianos de CASTA elevada, agindo como guru hindu. Embora a Companhia Inglesa das índias Orientais fosse hostil às MISSÕES, o BA TISTA William Carey (1761-1834) desembarcou em 1793. Em 1813 a influência da Seita Clapham (MOVIMENTO REAVIVALISTA) abriu as portas da índia para o PROTESTANTISMO, Alexander Duff (1806-78) fundou missões educativas para as castas mais elevadas e, no fim do século XIX, conquanto todas as religiões fossem toleradas pelo governo, as missões protestantes americanas e européias eram numerosas. Ocorriam conversões em massa entre as castas mais pobres. A independência política (1947) apressou a independência das igrejas locais. O cristianismo na índia, embora mais bem-sucedido do que no Paquistão, representa apenas 3 por cento da população. A ocidentalização da índia, contudo, provavelmente ajudou a torná-lo mais influente do que na CHINA. A Igreja do Sul da índia (1947) incorpora o ANGLICANISMO, o CONGREGACIONALISMO, o METODISMO e o PRESBITERIANISMO. A Igreja do Norte da índia (1970) também inclui BATISTAS.

Cristianismo na Rússia - O cristianismo chegou à Rússia sob a influência bizantina, patrocinado por São Vladimir (956-1015) em Kíev. No período medieval o MONAQUISMO espalhou-se rapidamente, e a Igreja alcançou a AUTOCEFALIA no século XV. Moscou substituiu Kíev como o centro principal; tornou-se um "patriarcado" (1589), considerando-se a "terceira Roma". A reforma litúrgica do patriarca, Nikon (1605-81) provocou o cisma dos VELHOS CRENTES. Com o passar do tempo, surgiram várias outras seitas (algumas dualistas (DUALISMO», como, por exemplo, a dos Khlysts, a dos Skoptsi, a dos Dukhobors, a dos Molokons, a dos Judaizantes. Pedro, o Grande (1676-1725), subordinou a Igreja a um "Santo Sínodo", mas o patriarcado foi restaurado em 1917. O maior número de membros do cristianismo russo pertence à IGREJA ORTODOXA. O CATOLICISMO ROMANO e a presença de igrejas Uniatas na Rússia derivaram, em larga escala, da incorporação da Polônia e da Lituânia ao Império Russo, e sempre se suspeitou que fossem alienígenas. O LUTERANISMO russo é sobretudo de origem alemã, mas os BATISTAS fizeram convertidos russos. Desde a revolução comunista de 1917 o Estado permitiu, teoricamente, a observância religiosa, mas têm sido aplicadas a propaganda ateísta e a perseguição física, com maior ou menor intensidade, de acordo com a situação política (cf. CRISTIANISMO NO MUNDO COMUNISTA).

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Cristianismo nas Antilhas - A primitiva influência cristã fez-se sentir através da colonização e das missões espanholas para os escravos. Desde 1760, o METODISMO tem tido considerável bom êxito; foi seguido, no século XIX, pelos BATISTAS e pelo ANGLICANISMO. O CATOLICISMO ROMANO mostrou-se ativo sobretudo nas antigas colônias francesas e espanholas. A hostilidade dos donos de escravos estorvou algumas missões até depois da emancipação (1833). O MOVIMENTO REAVIVALISTA evangélico atraiu os índios ocidentais, que também criaram muitas seitas pentecostalistas (PENTECOSTALISMO) próprias, amiúde transmitidas por imigrantes na Inglaterra desde 1945 (principalmente RASTAFARIANOS; veja também NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS AFRO-AMERICANOS).

Cristianismo no Canadá - O cristianismo canadense reflete suas origens coloniais. A colonização francesa do século XVII levou missões jesuítas aos índios, hostis ao galicanismo (ESTADO), ao JANSENISMO e ao PROTESTANTISMO. A conquista do Canadá pela Grã-Bretanha (1763) trouxe consigo várias formas de protestantismo. A primitiva oficialização do ANGLICANISMO e de terras da Igreja cessou à proporção que cresceram outras seitas. A Igreja Unida do Canadá (925) incorporou o METODISMO, o CONGREGAOONALISMO e o PRESBITERIANISMO. O CATOLICISMO ROMANO continua forte nas províncias francesas, como parte de sua identidade cultural.

Cristianismo no Japão - São Francisco Xavier chegou a Kagoshima em 1549, e se fez um sem número de conversões ao catolicismo antes que os missionários fossem repentinamente obrigados a deixar o país em 1587. As perseguições começaram em 1597, e a política de exclusão quase conseguiu eliminar o cristianismo, ficando a exceção por conta dos grupos "ocultos" da ilha Kyushu. Os primeiros protestantes (PROTESTANTISMO) chegaram em 1859, poucos anos depois que o país voltou a abrir-se aos contatos ocidentais efetuados pelo comodoro Perry. As denominações cristãs tradicionais, representadas, notabilizaram-se por sustentar muitas escolas, universidades e hospitais. Pouco antes da Segunda Guerra Mundial, a fim de centralizar o controle, o governo obrigou mais de trinta seitas a se unir numa organização chamada Nihon Kirisuto Kyodan (Igreja Unida de Cristo no Japão), que ainda existe, embora muitas seitas e grupos não pertençam a ela. Os cristãos no Japão, que tendem a provir das classes cultas, representam menos de 1 por cento da população.

Cristianismo no mundo comunista - Sustenta a ideologia marxista que a religião se enfraquecerá quando a sua base econômica for destruída. Na Europa oriental, entretanto, os Estados comunistas enfrentam igrejas (principalmente o CATOLICISMO ROMANO polonês e as IGREJAS ORTODOXAS da Bulgária e da Romênia) que têm sido fontes capitais de identidade nacional e cultural. A ortodoxia romena ainda opera quase como uma Igreja oficial. Daí o fato de a atividade religiosa ser, de modo geral, permitida por lei (em teoria), concedendo-se às vezes subsídios estatais onde foram confiscadas as doações. (A Albânia, excepcionalmente, proíbe totalmente a religião.) Na prática, todavia, tem havido muita doutrinação e perseguição comunistas, sobretudo nas décadas de 50 e 60 e os cristãos sofrem inúmeras limitações. As reações dos eclesiásticos. têm variado sobremaneira. Alguns resistem abertamente; outros, passivos, se conformam; e outros ainda apóiam a política do Estado, embora critiquem seus erros. Presumir que apenas a primeira reação é "verdadeiramente cristã" seria simplificar em demasia. Tais reações (e políticas estatais) são condicionadas, em parte, por um passado em que as igrejas, não raro, eram baluartes de privilégios conservadores. Tampouco o declínio religioso se deve tão-só à perseguição. A rápida industrialização e urbanização produziram efeitos semelhantes à estes no Ocidente. (Cf. também CRISTIANISMO NA CHINA E NA RÚSSIA.)

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Cristianismo nos Estados Unidos - O cristianismo norte-americano deve suas características especiais a diversas tradições oriundas da Europa, porém modificadas pelo desenvolvimento em condições coloniais, republicanas e, não raro, fronteiriças. O PURITANISMO calvinista do tipo congregacionalista (CONGREGACIONALISMO) marcou as primeiras colônias da Nova Inglaterra (incluindo os Pais Peregrinos). Verificaram-se muitas mudanças subseqüentes no PROTESTANTISMO, que foi muito influenciado pelos Grandes Despertares (MOVIMENTO REAVIVALISTA) e pelo Iluminismo. O século XIX acrescentou levas maciças de imigrantes irlandeses e europeus, que trouxeram o CATOLICISMO ROMANO e uma variedade de IGREJAS ORTODOXAS étnicas. Conduzido pelo PRESBITERIANISMO, pelo CONGREGACIONALISMO, pelo METODISMO e pelos BATISTAS, o protestantismo também se multiplicou, juntamente com SEITAS e cultos numerosos (amiúde milenaristas (MILENARISM)). A Guerra Civil (1861-5) cindiu muitas igrejas em versões nortistas e sulistas, sob a influência da questão da escravidão. Desenvolveram-se grandes versões negras de inúmeras igrejas, particularmente entre batistas e metodistas, como, por exemplo, a Convenção Batista Nacional e a Igreja Africana Metodista Episcopal de Sião. Há também vários grupos pentecostalistas (PENTECOSTALISMO) negros (por exemplo, a Igreja de Deus em Cristo) e diversos cultos negros, como a Missão de Paz do Pai Divino.

A teologia estendeu-se desde o "fundamentalismo" e conservantismo social extremos até o exagerado PROTESTANTISMO LIBERAL e o Evangelho Social (movimento que, originário dos Estados Unidos no fim do século XIX, enfatizou a aplicação social do cristianismo como a construção do reino de Deus na terra). O conceito europeu de Igreja-Estado morreu com a era colonial, mas o otimismo e o sentido de "destino manifesto" dos Estados Unidos foram coloridos pela religião. A despeito da neutralidade oficial do Estado, a religião nesses termos tem sido parte do "estilo americano de vida" e meio de identidade nacional. Esse ethos provocou tensão em algumas igrejas dogmáticas e tradicionalistas, como na controvérsia "americanista" da Igreja Católica Romana do século XIX (que tentou adaptar o catolicismo romano aos ideais americanos de democracia e minimizar as diferenças entre ele e o protestantismo).

(Veja também ÍNDIOS NORTE-AMERICANOS; FILHOS DE DEUS; MOVIMENTO DE JESUS; IGREJA NATIVA AMERICANA; NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS; TEMPLO DO POVO;, IGREJA DA UNIFICAÇÃO; CAMINHO INTERNA- . CIONAL.)

Cristianismo primitivo - O cristianismo é a religião que reconhece JESUS CRISTO como seu fundador. Todas as variedades de cristianismo proclamam a sua autoridade de um jeito ou de outro. O cristianismo primitivo baseava-se nos seus ensinamentos e, sobretudo, em sua morte e ressurreição, nas quais, segundo se acreditava, Deus agira decisivamente para a salvação do mundo, e o reino de Deus, anunciado por Jesus Cristo, havia sido instaurado. O cristianismo organizou-se primeiro em JERUSALÉM (IGREJA) e foi, a princípio, um movimento dentro do JUDAÍSMO; depois de vinte anos, porém, estava arraigado entre os gentios (ANTÍOCO; PAULO) e principiou a espalhar-se depressa pelo mundo mediterrâneo. O cristianismo judeu, entretanto, continuou a predominar até a dispersão da Igreja de Jerusalém, pouco antes da destruição da cidade em 70 EC; depois disso, sua influência diminuiu rapidamente.

Quando o cristianismo gentio se apartou do judaísmo, suas igrejas deixaram de ser collegia licita (associações permitidas) aos olhos da lei romana. Foi portanto, repetidas vezes, alvo de tentativas de supressão. Depois do grande incêndio de Roma em 64 EC, Nero viu nos cristãos da capital bodes expiatórios convenientes contra os quais poderia ser dirigida a cólera popular. Mas o cristianismo continuou a difundir-se, não só para cima, socialmente (introduzindo-se na família imperial por volta do ano 96 EC), mas também para fora (alcançando a Inglaterra por volta do fim do século 11). A atração que ele exercia devia-se, em parte, ao EVANGELHO cristão, que assegurava aos crentes a imortalidade, o perdão, a

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libertação do poder dos demônios (DEMONLOGIA), a significância pessoal aos olhos de Deus e, em parte, o calor da fraternidade cristã: em que se obliterou a discriminação em função da riqueza, da classe, da raça ou do sexo. Em 313, o seu direito de existir foi, afinal, confirmado pelo edito da tolerância de Milão, promulgado por Constantino. Em 381 EC, Teodósio fez dele a religião do Império Romano (BATISMO; EUCARISTIA; MINISTÉRIO; CULTO BÍBLICO).

Cristianismo primitivo em Alexandria - O primeiro cristão alexandrino conhecido foi Apollos, judeu, de nascimento, hábil na interpretação messiânica das escrituras hebréias, que visitou Éfeso e Corinto por volta do ano 52 EC. Alguns supõem que tenha sido ele o autor da Epístola aos Hebreus. Poucos decênios depois, outro cristão alexandrino escreveu a Epístola de Barnabé. Só existe um registro continuado da Igreja de Alexandria depois do ano 180 EC. No início do século II o cristianismo alexandrino sofreu a influência do GNOSTICISMO.

Cristianismo primitivo em Antioquia - Existia um agrupamento judeu substancial em Antioquia, à margem do Orontes, desde a sua fundação em 300 AEC. Após a morte de Estêvão (33 EC), houve dispersão de cristãos helenísticos da Judéia; muitos foram para Antioquia e ali difundiram sua mensagem, primeiro entre os judeus e, em seguida, entre os pagãos de língua grega. Muitos abraçaram o CRISTIANISMO. Antioquia tornou-se, desse modo, a sede da primeira IGREJA de gentios e o centro a partir do qual foram evangelizados, nas décadas seguintes, a Cilícia, Chipre e a Ásia Menor central.

Cristianismo primitivo em Corinto - Corinto, restabelecida como colônia romana em 44 AEC, foi evangelizada pela primeira vez por PAULO (c. 50 EC), que passou ali dezoito meses e construiu uma IGREJA grande e bem-dotada, ainda que inconstante. A maioria dos problemas inerentes à cristianização dos pagãos evidenciou-se em Corinto e é tratada nas Epístolas de Paulo aos coríntios. Novos problemas surgiram (c. 96 EC), quando as lutas internas na Igreja coríntia provocaram uma admoestação de Clemente, secretário da Igreja romana para os negócios estrangeiros.

Cristianismo primitivo em Éfeso - Ainda que o cristianismo tivesse chegado a Éfeso antes de PAULO ir morar lá, a ele e aos seus companheiros se deve a completa evangelização da cidade e das suas adjacências. Mas na tradição cristã de Éfeso o nome de mais destaque é o de João, "o discípulo do Senhor", que, segundo se afirma, ali se instalou depois de velho e é comemorado pela basílica em ruínas de São João no morro Ayasoluk (corruptela de "hagios theólogos", "o teólogo santo").

Cristianismo primitivo em Jerusalém - Apesar de Jesus ter feito inúmeros DIscíPULOS na Galiléia, a primeira IGREJA cristã surgiu em Jerusalém, sete semanas após a sua morte. Atingiu rapidamente alguns milhares de fiéis e passou a reunir-se em vários grupos, alguns chefiados pelos APÓSTOLOS, outros pelos parentes de Jesus, sobretudo Tiago, filho de Alfeu. Outros grupos, que compreendiam helenistas, renunciaram à ordem do TEMPLO e, obrigados a deixar Jerusalém, promoveram o progresso cristão nas províncias vizinhas. A Igreja de Jerusalém foi se tornando cada vez mais conservadora. Desmoralizada pela execução de Tiago em 62 EC, deixou a cidade antes do cerco romano, oito anos mais tarde.

Cristianismo primitivo em Roma - O cristianismo romano originou-se, aparentemente, da vasta comunidade judaica da cidade. Os distúrbios causados pela introdução do cristianismo levaram à expulsão dos judeus de Roma no tempo de Cláudio, em 49 EC. Cinco ou seis anos depois, entretanto, eles estavam de volta. Em 57 EC a carta de Paulo aos cristãos romanos indica que a maior parte da IGREJA da capital, embora fundada em base judaica, se compunha de membros gentios. PAULO passou dois anos em Roma, em regime de prisão

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domiciliar, entre 60 e 62. Pedro visitou a cidade um ou dois anos depois. Em 65 a Igreja de Roma sobreviveu a um ataque homicida de Nero. Uma geração mais tarde, como o mostra a primeira carta de Clemente, adquiria uma posição de liderança moral entre as igrejas gentias.

Cristianismo sírio e ortodoxia oriental - O CRISTIANISMO logo se tornou a religião de muitos sírios e egípcios. Antioquia e Alexandria (veja CRISTIANISMO nessas cidades) converteram-se em centros cristãos importantes. A Armênia foi oficialmente cristã até Tiridates 111 (r. 298-330 EC).

Teodósio I fez do cristianismo a religião oficial do Império Romano em 391 EC. A ortodoxia e a HERESIA passaram a ser questões políticas. Os CONCÍLIOS DA IGREJA definiram os limites da CRISTOLOGIA ortodoxa e do conformismo imposto pelo Estado. A dissensão expressava diferenças não só teológicas como também étnicas. A Igreja Síria Oriental, sob o domínio persa, declarou sua AUTOCEFALIA em 424 EC. Essa Igreja, a Igreja Assíria ou Caldaica, rejeitou os decretos de Éfeso (431 EC) num sínodo em 484 EC e tornou-se oficialmente nestoriana. Seus missionários penetraram a Ásia central, a índia e a China antes que o violento ataque de Tamerlão (1360-1405 EC) as tivesse reduzido a sombra.

Os decretos de Calcedônia (451 EC) foram rejeitados pela Igreja Armênia, por muitos sírios ocidentais e pela maioria dos cristãos coptos do Egito. Os cristãos leais ao concílio vieram a ser conhecidos pelo nome de melquitas, realistas, ao passo que os seus adversários eram denominados monofisitas, visto que professavam sua crença na plena divindade e na plena humanidade de Cristo, como o fizera São Cirilo (? 444 EC), confessando "a natureza Una do Logos Encarnado". Jacob Baradeu fundou uma hierarquia monofisita síria, centralizada em Antioquia, em COMUNHÃO com o papa copto de Alexandria. Os monofisitas sírios são conhecidos como jacobitas.

Os coptos fundaram as igrejas da Etiópia e da Núbia. Os cristãos sírios ortodoxos do sul da Índia também se juntaram, mais tarde, à família monofisita de igrejas.

Sob a influência monotelítica, os cristãos sírios do Líbano formaram a Igreja Maronita separada no século VIII. Uniram-se a Roma durante as Cruzadas.

A difusão do ISLAMISMO colocou a Igreja Ortodoxa Oriental do Oriente Médio sob o domínio árabe. Os estudiosos sírios trouxeram para os árabes o saber grego. Coptos e sírios criaram uma nova literatura cristã em língua árabe. As Cruzadas perturbaram essa relação e estimularam movimentos dirigidos para Roma, especialmente entre armênios e maronitas. As invasões mongóis dizimaram as igrejas sírias. O domínio turco conferiu a todas as igrejas orientais ortodoxas um lugar reconhecido, ainda que subordinado, na sociedade, mas pouco fez para incitálas à vida espiritual ou intelectual. Quando o império turco desmoronou, os movimentos nacionalistas provocaram trágicas chacinas de armênios e nestorianos.

A atividade missionária católica romana criou os equivalentes uniatas (unidos a Roma) de todas as igrejas ortodoxas orientais. Existe também uma Igreja Mesquita Uniata. Há pouco tempo, os cristãos orientais participaram ativamente do MOVIMENTO ECUMÊNICO e conquistaram o reconhecimento, em especial dos teólogos das IGREJAS ORTODOXAS calcedônias, professando a fé cristã em sua plenitude.

É muito difícil determinar o número certo de adeptos dessas igrejas; calcula-se, porém, que eles totalizam, provavelmente, 18 milhões de ortodoxos e 4,5 milhões de uniatas.

Cristologia - Ensinamento relativo à pessoa de JESUS CRISTO (cf. DEUS; TRINDADE). Como os cristãos crêem por tradição que Cristo é, ao mesmo tempo, humano e divino, o Problema tem consistido em defender a idéia de "naturezas" distintas: a plenamente divina e a plenamente humana, numa personalidade singular e unificada. As explicações muito deveram ao pensamento grego. Teólogos primitivos viam em Cristo a Palavra (Logos) eterna de Deus tomando forma (Encarnação) humana. Em resposta aos arianos, que o viam como uma espécie de ser subordinado, entre Deus e o homem (ARIANISMO; HERESIA MEDIEVAL CRISTÃ), o CONCÍLIO de Nicéia (325 EC) definiu-o como "da mesma substância do Pai"

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(homoousion). Nos séculos IV e V proliferaram as teorias, e muitas opiniões foram condenadas como heréticas. Os apolinaristas enfatizaram a divindade de Cristo mas lhe supuseram a humanidade meramente física. Os nestorianos sustentaram a humanidade de Cristo, tão distinta da sua divindade que sugeria uma personalidade dividida. Os eutiquianos pensavam ter havido duas naturezas antes da Encarnação e uma natureza "mista" depois dela. O Concílio de Calcedônia (451) definiu os limites da ortodoxia: "Jesus Cristo... verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem... com uma alma e um corpo racionais; da mesma substância do Pai pelo que respeita à sua divindade, e... da mesma substância nossa pelo que respeita à sua humanidade... reconhecido em duas naturezas, sem confusão... sem separação". As comunidades dissidentes continuaram, incluindo os nestorianos. Os monofisitas ensinavam que só existia uma natureza (divina) depois da Encarnação. Os monotelitas ensinavam que apenas uma vontade existia em Cristo. O PROTESTANTISMO primitivo permaneceu "ortodoxo", com exceção do UNITARISMO e, mais tarde, do DEÍSMO. Do século XIX em diante, mutáveis filosofias e concepções da natureza humana geraram novas especulações. De um modo geral (à diferença da Igreja primitiva), embora a humanidade de Cristo tenha sido prontamente aceita, sua divindade tem encontrado maiores dificuldades. As teorias Kenosis vêem Cristo como se se "despisse" dos "atributos" divinos (CONCEITO CRISTÃO DE DEUS) para se tornar homem. A definição calcedoniense foi amplamente criticada, mas ainda não substituída.

Crítica da Bíblia - Utilização em documentos bíblicos dos métodos críticos aplicáveis à literatura em geral. Inclui: (1) crítica do texto: averiguação, tanto quanto possível, da relação original e avaliação das várias interpretações nos milhares de manuscritos de todo o Novo Testamento ou de parte dele; (2) crítica da fonte: investigação das fontes literárias por trás dos documentos preservados; (3) crítica da tradição: exame das fases da transmissão oral do material em nossos documentos, antes de ter sido escrito; (4) crítica da forma: estudo das "formas" ou moldes em que a tradição foi afeiçoada enquanto estava sendo transmitida; (5) crítica histórica: pesquisa do cenário histórico dos documentos existentes e de suas fontes; e (6) crítica da redação: análise da contribuição dos autores que receberam a tradição por completo e a incorporaram nas obras.

Cruzadas - Expedições militares européias que tinham por finalidade reconquistar os lugares santos cristãos na Palestina, em poder do Islã. A primeira Cruzada (1095 EC) capturou Jerusalém e fundou Estados cristãos, que caíram por volta de 1291 apesar de novas expedições. Os motivos dos cruzados não eram apenas religiosos; incluíam desejo de terras e comércio. A quarta Cruzada (1202-4) foi desviada para capturar Constantinopla da IGREJA ORTODOXA. Outras atacaram hereges (por exemplo, os albigenses - HERESIA MEDIEVAL CRISTÃ) e não-cristãos na Europa. As Cruzadas também produziram “ordens” militares (MONAQUISMO), tais como a dos hospitalários (c. Século XI) e a dos templários (fundada em 1118 EC).