Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

89
7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 1/89 1 REFORMADOR Cristianismo Redivivo Haroldo Dutra Dias

Transcript of Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

Page 1: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 1/89

1

REFORMADOR

Cristianismo Redivivo

Haroldo Dutra Dias

Page 2: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 2/89

2

SumárioHistória da Era Apostólica .................................................................................................... 3 (Século I) – Parte I ............................................................................................................... 3 História da Era Apostólica .................................................................................................... 7 (Século I) – Parte II .............................................................................................................. 7 

História da Era Apostólica .................................................................................................. 10 Supranaturalismo x Racionalismo ..................................................................................... 10 História da Era Apostólica .................................................................................................. 13 Racionalismo ..................................................................................................................... 13 História da Era Apostólica .................................................................................................. 16 Novas perguntas ................................................................................................................ 16 História da Era Apostólica .................................................................................................. 19 Jesus – Governador Espiritual do Orbe ............................................................................. 19 História da Era Apostólica .................................................................................................. 22  A fé transporta montanhas ................................................................................................. 22 Esperança .......................................................................................................................... 25 História da Era Apostólica .................................................................................................. 28 Nascimento de Jesus......................................................................................................... 28  As parábolas de Jesus....................................................................................................... 31 História da Era Apostólica .................................................................................................. 34  A crucificação de Jesus ..................................................................................................... 34 O candidato a discípulo ..................................................................................................... 37 História da Era Apostólica .................................................................................................. 41 Os alicerces da Igreja Cristã .............................................................................................. 41  A lição do arado ................................................................................................................. 44 História da Era Apostólica .................................................................................................. 47 

O Primeiro Mártir ............................................................................................................... 47 

No trato com a Revelação ................................................................................................. 50 História da Era Apostólica .................................................................................................. 53  A conversão de Saulo ........................................................................................................ 53 Caminho para Deus ........................................................................................................... 56 História da Era Apostólica .................................................................................................. 59  A preparação no deserto ................................................................................................... 59 Revelação Divina ............................................................................................................... 62 História da Era Apostólica .................................................................................................. 65 O regresso a Tarso ............................................................................................................ 65 Vida e morte ...................................................................................................................... 68 

História da Era Apostólica .................................................................................................. 71  A Igreja de Antioquia.......................................................................................................... 71 História da Era Apostólica .................................................................................................. 74 Síntese da Cronologia ....................................................................................................... 74 História da Era Apostólica .................................................................................................. 78  Ainda a Síntese Cronológica ............................................................................................. 78 Profecias bíblicas ............................................................................................................... 82 O Novo Testamento ........................................................................................................... 85 Redação ............................................................................................................................ 85 O resgate do Cristianismo Nascente ................................................................................. 88 

Page 3: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 3/89

3

Reformador Junho 2007 - Ano 125 Nº 2.139  – PAG 34/240  – 36/242

1 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Século I) Parte I

“Não podemos conhecer o Jesus ‘real’ através da pesquisa histórica, quer isto signifiquesua realidade total ou apenas um quadro biográfico razoavelmente completo. No entanto

podemos conhecer o ‘Jesus histórico’. Por Jesus da história, refiro-me ao Jesus quepodemos ‘resgatar’ e examinar utilizando os instrumentos científicos da moderna

pesquisa histórica.”(1) _______________1. MEIER, John P. Um judeu m arginal: repensando o Jesus h istórico. 3. ed. Rio de Janeiro:Imago, 1993. p. 35.

HAROLDO DUTRA DIAS

No Dallas Theological Seminary (Texas, USA), no mês de maio de 1965, HaroldW.Hoehner defendeu sua tese de doutorado sobre a cronologia da Era Apostólica. Seutrabalho contrariava a tradicional e respeitada posição dos eruditos do seu tempo,propondo uma completa releitura das fontes históricas sobre o tema. Ao estabelecer umanova cronologia para o primeiro século do Cristianismo, o autor apontava a necessidade

de revisar todas as conclusões dos estudiosos que o antecederam. A tese de Hoehner foi timidamente acolhida nos meios acadêmicos, a ponto dereceber o nome de “cronologia alternativa”. Atualmente, porém, vários pesquisadores têmconfirmado as proposições do professor norte-americano, incorporando muitas de suasideias.

Surpreendentemente, a leitura meticulosa dos romances psicografados porFrancisco Cândido Xavier revelou um fato inusitado: as datas estabelecidas pelo EspíritoEmmanuel, nessas obras, eram frequentemente idênticas àquelas defendidas por HaroldHoehner. À guisa de exemplo, podemos citar três episódios da vida do Cristo: o seunascimento (ano 5 a.C.), o início do seu ministério (ano 30 d.C.) e a crucificação (ano 33d.C.), todos ocorridos, segundo estes dois autores, nas datas acima especificadas. Vê-se

que Jesus foi crucificado com trinta e oito anos! (2) _______________2. XAVIER, Franc isc o Când ido . Crôni cas de além-túmulo . Pelo Espírit o Hum ber to deCampos. 15. ed. Rio de Janeiro : FEB, 2007. Cap. 15, p. 90 (a data de nasc imento de Jesu sserá abor dada com maio res detalhes em fut uro s artigo s desta colu na).

No romance Paulo e Estêvão, o Espírito Emmanuel desenvolveu um quadrocronológico das atividades apostólicas que se assemelha àquele elaborado pelo professordo Texas. Um detalhe, porém, salta aos olhos: o romance foi psicografado no primeirosemestre de 1941, na provinciana cidade de Pedro Leopoldo (MG), ao passo que a tesefoi defendida 24 anos mais tarde, na famosa universidade de teologia norte-americana.

 A constatação desses fatos nos conduz a profundas reflexões sobre o caráter daRevelação dos Espíritos, e, mais especificamente, sobre o tríplice aspecto da DoutrinaEspírita. O Espiritismo é uma Ciência com identidade própria, já que possui objeto de

Page 4: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 4/89

4

estudo próprio (o mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo) e método depesquisa próprio (mediunidade).

Nesse sentido, são valiosas as considerações do Codificador a respeito doassunto:

 Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do

princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis doprincípio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da Natureza,a reagir incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, segue-seque o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento dooutro. O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente [...].(3) 

 _______________3. KARDEC, Allan . O espirit ism o na sua expr essão mais sim ples. Rio de Janeiro: FEB , 2006.Cap . III, item 16, p. 100.

Essa relação de complementação entre a Ciência e o Espiritismo pode ser vistacomo união de esforços com vistas ao aprimoramento do saber humano, já que possibilita

uma abordagem integral dos problemas, levando em conta seus aspectos materiais eespirituais concomitantemente.No prólogo deste artigo há uma citação do historiador John P. Meier, professor na

Universidade Católica de Washington D. C., considerado um dos mais eminentespesquisadores bíblicos de sua geração. Ao estabelecer os limites da Ciência e dainvestigação humanas, ele adverte: “Por Jesus da história, refiro-me ao Jesus quepodemos ‘resgatar’ e examinar utilizando os instrumentos científicos da modernapesquisa histórica”.

 A atitude de cautela e humildade, esboçada por inúmeros cientistas como JohnMeier, tem sido o traço da Ciência pós-moderna, favorecendo o diálogo com a DoutrinaEspírita, que, por sua vez, oferece subsídios valiosos, inacessíveis aos “instrumentos

científicos da moderna pesquisa histórica”. Não se trata de sobrepujar a Ciência, desprezar suas conclusões, numa atitudemística incompatível com a fé raciocinada. O desafio é “complementar”, “unir”, “dialogar”,onde as duas partes estão dispostas a ouvir e falar.

 As palavras do Codificador, mais uma vez, lançam inestimáveis luzes sobre aquestão em debate.

 A Ciência e a Religião não puderam, até hoje, entender-se, porque, encarandocada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam.Faltava com que encher o vazio que as separava, um traço de união que asaproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem oUniverso espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis

quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vezcomprovadas pela experiência essas relações, nova luz se fez: a fé dirigiu-se àrazão; esta nada encontrou de ilógico na fé: vencido foi o materialismo. Mas,nisso, como em tudo, há pessoas que ficam atrás, até serem arrastadas pelomovimento geral, que as esmaga, se tentam resistir-lhe, em vez de oacompanharem.[...] (4)

 _______________4. KARDEC, Allan . O evangelh o segu ndo o espi rit ism o. 126. ed. Rio de Janeiro : FEB, 2006.Cap. I, item 8, p. 61.

Seguindo as pegadas de Allan Kardec, Emmanuel e outros Benfeitores do mundo

espiritual, o presente artigo inaugura uma nova coluna na revista Reformador , intitulada“Cristianismo Redivivo”.  Nossa proposta é salientar a contribuição oferecida pelarevelação espiritual no equacionamento de graves problemas relativos à história de

Page 5: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 5/89

5

Jesus, dos seus seguidores diretos e do Cristianismo, de modo geral, visando aapropriação, com maior segurança e legitimidade, da essência da Boa Nova, alicerce detodas as propostas de renovação veiculadas pela Doutrina dos Espíritos.

O esforço não é novo. A tarefa de unir pesquisa histórica e revelação espiritualpode ser encontrada na obra  A Caminho da Luz. Desse livro monumental, destacamos

dois trechos que servem de baliza à nossa iniciativa, ao mesmo tempo em que definem osrumos da nossa busca.Não deverá ser este um trabalho histórico. A história do mundo está compilada e

feita. Nossa contribuição será à tese religiosa, elucidando a influência sagrada da fée o ascendente espiritual, no curso de todas as civilizações terrestres. [...] (5) 

 _______________5. XAVIER, Francis co Când ido . A c amin ho da lu z. Pelo Es pírito Emm anuel. 34. ed. Rio d eJaneiro: FEB, 2006. “Antelóquio”, p. 11. 

Esse esforço de síntese será o da fé reclamando a sua posição em face daciência dos homens, e ante as religiões da separatividade, como a bússola da

verdadeira sabedoria.(6)  _______________6. Idem , ibidem . “Introdução”, p. 13. 

O Espírito Emmanuel esclarece que não tem a função de repetir o trabalho doshistoriadores, competindo-lhe, essencialmente, revelar o ascendente espiritual daevolução humana. Com isto, depreende-se que a leitura dos historiadores, a conjugaçãodas informações por eles oferecidas com a revelação dos Espíritos, enfim, a pesquisapuramente humana, representa a parcela de trabalho que nos compete nessa empreitada.

Feitas estas considerações, convidamos o leitor a iniciar uma longa jornada pelostrilhos da história do Cristianismo, conjugando fé e razão, revelação mediúnica e pesquisa

histórica. Dedicaremos inúmeros artigos à construção da cronologia do primeiro século doCristianismo, utilizando, basicamente, a tese de Harold W. Hoehner e a obra Paulo eEstêvão. Paralelamente, aproveitaremos o ensejo para abordar questões históricas,geográficas, culturais e linguísticas necessárias ao aprofundamento da análise. Nessecaso, será indispensável recorrer à literatura especializada, relacionando-a com o acervomediúnico de Francisco Cândido Xavier, como um todo.

Como nossa proposta é fomentar o diálogo entre Espiritismo e Ciência, por vezesserá necessário esclarecer o estado atual da pesquisa acadêmica antes de cotejar osdados oferecidos pela Espiritualidade Superior.

Todavia, uma advertência se impõe. Não se trata de oferecer todas as respostas,nem de resolver todos os enigmas. Por vezes, teremos de nos contentar com o

aprimoramento de nossas indagações. Afinal de contas, saber perguntar é o primeiropasso para encontrar a verdade. Mais uma vez, é Emmanuel que vem em nosso socorro.

 Além do túmulo, o Espírito desencarnado não encontra os milagres dasabedoria, e as novas realidades do plano imortalista transcendem aos quadrosdo conhecimento contemporâneo, conservando-se numa esfera quase inacessívelàs cogitações humanas, escapando, pois, às nossas possibilidades de exposição,em face da ausência de comparações analógicas, único meio de impressão natábua de valores restritos da mente humana. Além do mais, ainda nosencontramos num plano evolutivo, sem que possamos trazer ao vosso círculo deaprendizado as últimas equações, nesse ou naquele setor de investigação e deanálise. É por essa razão que somente poderemos cooperar convosco sem a

presunção da palavra derradeira. Considerada a nossa contribuição nesseconceito indispensável de relatividade, buscaremos concorrer com a nossamodesta parcela de experiência, sem nos determos no exame técnico das

Page 6: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 6/89

6

questões científicas, ou no objeto das polêmicas da Filosofia e das religiões,sobejamente movimentados nos bastidores da opinião, para considerarmos tão- -somente a luz espiritual que se irradia de todas as coisas e o ascendente místicode todas as atividades do espírito humano dentro de sua abençoada escolaterrestre, sob a proteção misericordiosa de Deus.(7)

 _______________7. XAVIER, Francis co Când ido . O co nso lador . Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio deJane iro: FEB, 2007. “Definição”, p. 20. 

 Assim, está dado o primeiro passo da nossa jornada de muitas milhas. Que Deus nosabençoe os propósitos.

Page 7: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 7/89

7

Reformador Julho 2007 - Ano 125 Nº 2.140  – PAG 34/280  – 36/282

2 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Século I) Parte II

“Do Jesus revolucionário e violento ao Jesus mago e folgazão, do fanático apocalíptico aomestre de sabedoria ou filósofo cínico e indiferente à escatologia, qualquer situação que

se possa conceber, qualquer teoria extrema que se possa imaginar já foram há muitopropostas, com as posições antagônicas anulando-se mutuamente e com os erros do

passado sendo repetidos por novos escritores afoitos. Num certo sentido, existem tantos‘livros sobre Jesus’ que dariam para três vidas, e um budista pecador poderia muito bem

ser condenado a passar as próximas três encarnações lendo-os todos.”(1) _______________1. MEIER, Joh n P. Um jud eu marginal: repensando o Jesus h istórico. 3. ed. Rio de Janeiro:Imago, 1993. p. 13.

HAROLDO DUTRA DIAS

Prosseguindo em nossa jornada pelas estradas do Cristianismo do primeiro século,torna-se necessário esclarecer o estado atual da pesquisa acadêmica, fazendo umbalanço dos seus avanços e retrocessos nos últimos três séculos, antes de relacioná-la

com as revelações da Espiritualidade Superior.Duas razões justificam esse procedimento. De um lado, a constatação de queforam propostas, ao longo do tempo, as maiores extravagâncias com relação à pesquisada vida de Jesus, “com os erros do passado sendo repetidos por novos escritores afoitos”,na feliz expressão de John Meier, exigindo do leitor alta dose de senso crítico, antes dedefender essa ou aquela ideia. De outro lado, o reconhecimento de que as obrasmediúnicas, igualmente, reclamam exame acurado, para que não se adote posturamística incompatível com a fé raciocinada.

Corroborando nossas assertivas, a advertência de Emmanuel é providencial. Além do túmulo, o Espírito desencarnado não encontra os milagres da

sabedoria, e as novas realidades do plano imortalista transcendem aos quadros

do conhecimento contemporâneo, conservando-se numa esfera quase inacessívelàs cogitações humanas, escapando, pois, às nossas possibilidades de exposição,em face da ausência de comparações analógicas, único meio de impressão natábua de valores restritos da mente humana.(2) (Destaque do autor)

 _______________2. XAVIER, Francisc o C. O co nso lador . Pelo Espírito Emm anuel. 27. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. “Definição”, p. 20. 

 Assim, ao combinar revelação mediúnica e pesquisa histórica, torna-se essencialdefinir quais autores serão consultados, tanto no plano físico quanto no plano espiritual.

Do ponto de vista espiritual, privilegiamos a Codificação e a produção mediúnica de

Francisco Cândido Xavier, sem que isso represente qualquer menosprezo de nossa partea outros médiuns confiáveis e honrados. O motivo da escolha se deve à especificidade dotema em estudo, mais amplamente desenvolvido neste conjunto de obras.

Page 8: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 8/89

8

Com relação aos trabalhos acadêmicos, a questão se torna mais tormentosa. Ainvestigação histórica sobre Jesus e sobre o Cristianismo do primeiro século, como todotrabalho científico, apresenta fases de desenvolvimento, refletindo o progresso dapesquisa. Nesse sentido, é imperioso saber a que fase pertence determinado autor, sobpena de se tomar como verdade conclusões que já foram amplamente rechaçadas pela

geração posterior de estudiosos.Vê-se que o desafio será, a cada passo, conjugar revelação espiritual segura compesquisa histórica atualizada, séria, embasada.

Feitas essas considerações, faremos um breve resumo das fases da pesquisasobre o Cristianismo Primitivo, apontando os autores mais representativos de cada etapa,suas propostas, conclusões, erros e acertos. Mãos a obra!

Primeira Fase:Nos domínios da Oralidade

Nos três primeiros séculos do Cristianismo, a busca pelo “Jesus  histórico” erarealizada junto às testemunhas oculares, que haviam presenciado seus feitos, suasprédicas, seu sacrifício extremo. Todos queriam beber na fonte da tradição apostólica. Omaterial de consulta disponível era fruto da narrativa dos apóstolos e dos demaisseguidores do Mestre, bem como do testemunho dos beneficiários das curas, dosmilagres, enfim, das confidências de todas as pessoas simples e anônimas que tiveram oprivilégio do contato direto com o Cristo.

Nessa época, a história do Cristianismo Primitivo estava sendo construída, aopreço do sacrifício e da renúncia. Muitas vidas foram ceifadas para que a luz da Boa Novapudesse atravessar os séculos. Com o sangue do martírio foram traçadas as mais belaspáginas desta epopeia.

Neste quadro de perseguição, é compreensível o pouco interesse pelasistematização da história do Cristianismo. Coube a Lucas, sob a orientação de Paulo deTarso, dar os primeiros passos, compondo dois livros: O Evangelho e Atos dos Apóstolos.Todavia, o objetivo deste autor, com a redação destas obras, é mais de um evangelizadordo que de um historiador. Nem poderia ser diferente.

Com a conversão do imperador Constantino (ano 312 d.C.), o Cristianismo se tornaa religião oficial do Império Romano. No entanto, as autoridades da época enfrentam umproblema crucial para a sobrevivência dessa aliança. Como conciliar a simplicidade epureza daquele movimento, cujo fundador fora um galileu humilde, que vivera nasmargens do Tiberíades, com a pompa do Império? Como harmonizar os aspectos

essencialmente judaicos da Boa Nova, resultado de mais de dois mil anos de história dopovo hebreu, com a cultura greco-romana?Por fim, como estabelecer o monoteísmo onde vigorava o culto aos deuses

tutelares da família, da agricultura, da raça? A Igreja Romana foi a resposta,historicamente bem-sucedida, para essas indagações.

 A institucionalização das igrejas, o estabelecimento do papado, a pompaemprestada ao culto, a proliferação de imagens e rituais aplacou a sede greco-romanados cidadãos do Império, convertidos ao movimento do Profeta de Nazaré, não obstantesua doutrina tenha sido completamente descaracterizada, sobretudo em razão dorompimento total com as suas origens.

No período compreendido entre o ano 400-1700 d.C., o profeta galileu, simples e

austero, bondoso e justo, considerado pelos seus contemporâneos como o Messias deIsrael, foi transformado em uma das pessoas da Trindade, ao mesmo tempo Filho e Pai,

Page 9: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 9/89

9

feito da mesma substância do Criador. Um verdadeiro Deus, à moda dos deuses gregosZeus, Apolo, Hermes.

Esse “endeusamento” da figura do Cristo estancou a busca pelas suas origens, suacultura, seus ensinos. Nessa época, vigorava a mais absoluta confusão entre o “Jesushistórico” e o “Jesus da fé”. Adorado como o Deus encarnado, nenhum estudioso tinha

tamanha autonomia intelectual para transformar esse personagem em objeto de pesquisahistórica, nem coragem para enfrentar as fogueiras da Inquisição.Num mundo de escassos pergaminhos e reduzidos leitores, de hegemonia da

tradição oral, de confusão entre Religião e Estado, não seria de se admirar que aabordagem objetiva, imparcial, criteriosa da vida de Jesus fosse uma utopia.

Essa primeira fase, cuja duração atingiu a marca dos dezessete séculos, podemuito bem ser compreendida como a etapa da abordagem puramente religiosa eteológica. Não havia Ciência, tal como é hoje compreendida, razão pela qual crença epreconceito, opinião e certeza, frequentemente, se misturam, exigindo prudência.

Page 10: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 10/89

10

Reformador Novembro 2007 - Ano 125 Nº 2.144  – PAG 36/442  – 38/444

3 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Supranaturalismo x Racionalismo

“A Ciência e a Religião não puderam, até hoje, entender -se, porque, encarando cada umaas coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam. Faltava com queencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de

união está no conhecimento das leis que regem o Universo espiritual e suas relações como mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a

existência dos seres. Uma vez comprovadas pela experiência essas relações, nova luz sefez: a fé dirigiu-se à razão; esta nada encontrou de ilógico na fé: vencido foi o

materialismo. Mas, nisso, como em tudo, há pessoas que ficam atrás, até seremarrastadas pelo movimento geral, que as esmaga, se tentam resistir-lhe, em vez de o

acompanharem [...].”(1) _______________1. KARDEC, Allan . O evangelh o segu ndo o esp irit ism o. 127. ed. Rio de Janeiro : FEB, 2007.Cap. I, item 8, p. 61.

HAROLDO DUTRA DIAS

Em edições anteriores, destacamos que a Primeira Fase do estudo da vida deJesus pode muito bem ser compreendida como a etapa da abordagem puramentereligiosa e teológica. [Ver Reformador dos meses de junho/ 07, p. 34, e julho/07, p. 34.]

O “endeusamento” da figura do Cristo estancou a busca pelas suas origens, suacultura, seus ensinos. Nessa época, vigorou o chamado supranaturalismo(2), visto comocredulidade ingênua nos milagres e nas curas de Jesus, e na unidade da natureza divinae da natureza humana na pessoa do Cristo (dogma da encarnação). _______________2. O que acon tece na natu reza, mas não decorr e das fo rças ou dos p roc edimentos danatur eza e não pode ser exp licado com base neles. É um con ceito próprio da Teolog iaCristã, que atribui à fé a crença no sobrenatural, assim entendido.” ABBAGNANO, Nicola.Dicionário de fi l oso fia. 5. ed. revista e amp liada. Martins Font es. p. 1080.

Na esteira do Empirismo Inglês (3) (Francis Bacon, 1561-1626) e do RacionalismoContinental (4)  (René Descartes, 1596-1650) surge Baruch Spinoza (1632-1677),propondo a leitura e interpretação dos livros bíblicos, como todo e qualquer escrito, à luzdo Racionalismo. _______________3. Corrente fi los ófica para a qu al tod a ideia épro veniente de uma percepção sensorial(cin co s enti do s), logo a experiênc ia écr itério o u norma da verd ade. Nesse senti do , todaverdade pode e deve ser post a à pro va, e, em con sequência, modif icada, cor rig ida ouabandonada. Entre seus representantes pod emos citar Francis B acon, Hobbes, Locke,Berk eley, Hume.

4. Posição f ilosóf ic a do s sécu lo s XV II e XVIII, na Eu ro pa , supos tam en te em oposição àescola que predominava nas i lhas bri tânicas, o Empir ismo, tendo como expoentesDescartes, Malebranche, Spin oza, Leibn iz, Wolf f.

Page 11: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 11/89

11

 A oposição à fé e à religião, herança do Renascimento, culminaria noestabelecimento do Iluminismo ( Aufklärung ). Immanuel Kant, um expoente da filosofiadesta época, definiu o Iluminismo como “a saída dos homens do estado de menoridade(não-emancipação) devido a eles mesmos. Menoridade é a incapacidade de utilizar o

próprio intelecto sem a orientação de outro. Essa menoridade será devida a eles mesmosse não for causada por deficiência intelectual, mas por falta de decisão e coragem parautilizar o intelecto como guia. Sapere aude! Ousa saber! É o lema do iluminismo”.(5) _______________5. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de fi lo so fia. 5. ed. revista e ampliada. Martins Font es. p.618.

O século das luzes, trazendo em seu bojo o Empirismo, o Racionalismo, a críticahistórica e textual, o Enciclopedismo, não poupou os textos bíblicos. O complexodesenvolvimento de concepções e metodologias, abrangendo várias áreas de estudo,favoreceu a aplicação da crítica aos textos sagrados.

 A leitura tradicional e piedosa dos Evangelhos, filha da credulidade ingênua, eivadade dogmatismo religioso milenar, sofre duro golpe. Influenciado pelo Iluminismo, H.S.Reimarus (1694-1768) inaugura a abordagem rigorosamente histórica dos quatroEvangelhos. Tem início, com a publicação dos seus fragmentos, a “busca do Jesushistórico”. 

 A Segunda Fase ( 6) do estudo da vida de Jesus, iniciada por Reimarus, é marcadapelo espírito da época  – Racionalismo. Nesse contexto, há uma resistência sistemática atodos os fatos ditos miraculosos, descritos nas páginas do Novo Testamento. Onascimento virginal, a ressurreição, as curas e os milagres despertam o interesse deinúmeros pesquisadores, que buscam, cada um à sua maneira, explicações “racionais”para esses eventos extraordinários da vida do Mestre.

 _______________6. A maior parte dos estudioso s d o tema p refere chamar o período inaugur ado po r H. S.Reimaru s d e Prim eira Fase, já que desc ons ideram tod a a pr odução do Supr anaturalismo.Em certo sentido, estão corretos já que não se pode falar em “busca do Jesus histórico”,antes do t rabalho d aquele autor. Todavia, como pretendemos traçar um esb oço do est udoda figura d e Jesus, em sentido amplo, preferimos incluir o p eríodo anterior ao Iluminism o.

 Assim, concomitante ao lançamento dos “fragmentos de wolffenbüttel” , (7) há umaprofusão de publicações conhecidas como “Vidas de Jesus do Racionalismo”,caracterizadas como tentativas da Teologia alemã de explicar, do modo mais claro eracional possível, o elemento supranatural das narrativas evangélicas.

 _______________7. Nome dado aos sete fragmentos escritos por H. S. Reimarus, publicados por GotholdEphraim Lessing, em 1778, na Alemanha.

 A premissa básica desses autores consiste em rejeitar, por falta de embasamentohistórico, todos aqueles fatos que não possam ser compreendidos com o auxílio das leisnaturais. A dimensão espiritual da vida é rotulada de “sobrenatural” e, consequentemente,desprezada. A Ciência, embora ensaiando os primeiros passos, já se revestia daarrogância, tão duramente criticada na Religião.

Na próxima edição, traçaremos um esboço das ideias principais dos racionalistas,citando os autores mais representativos do período. Antes, porém, cumpre avaliar a

atitude desses estudiosos à luz da revelação espiritual. Abordando a questão do Racionalismo, o Espírito Emmanuel faz consideraçõesvaliosas a respeito do assunto:

Page 12: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 12/89

12

Questão 199 – Poderá a Razão dispensar a Fé? – A razão humana é ainda muito frágil e não poderá dispensar a cooperação da

fé que a ilumina, para a solução dos grandes e sagrados problemas da vida.Em virtude da separação de ambas, nas estradas da vida, é que observamos o

homem terrestre no desfiladeiro terrível da miséria e da destruição. [...]

Questão 202  –  No problema da investigação, há limites para aplicação dosmétodos racionalistas?

 –  Esses limites existem, não só para a aplicação, como também para aobservação; limites esses que são condicionados pelas forças espirituais quepresidem à evolução planetária, atendendo à conveniência e ao estado deprogresso moral das criaturas.

É por esse motivo que os limites das aplicações e das análises chamadaspositivas sempre acompanham e seguirão sempre o curso da evolução espiritualdas entidades encarnadas na Terra.(8)

 _______________

8. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador . Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2003.

Vê-se que a proposta da Espiritualidade superior reside na conjugação da Razão eda Fé, não somente nos assuntos relacionados ao conhecimento, mas, sobretudo, naconstrução de uma sociedade pacífica, justa e fraterna. Na feliz expressão doCodificador,(9)  é preciso encher o vazio que separa Religião e Ciência com oconhecimento das leis que regem o Universo espiritual e suas relações com o mundocorpóreo. _______________9. Texto uti lizado como epígr afe des te arti go (Referênc ia 1).

Uma vez compreendidas essas relações, os milagres, as curas, e outrosfenômenos eminentemente espirituais, descritos nos Evangelhos, serão vistos comodecorrentes de leis imutáveis. Vencida essa resistência tola, imposta pela ciênciamaterialista pós-iluminista, o aprendiz do Mestre estará em condições de extrair o espíritoda letra, recolhendo as lições imorredouras que fluem dos fatos extraordinários da Vida deJesus.

Page 13: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 13/89

13

Reformador Dezembro 2007 - Ano 125 Nº 2.145  – PAG 32/478  – 34/480

4 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Racionalismo

“Como apreciar os racionalistas que se orgulham de suas realizações terrestres, nasquais pretendem encontrar valores finais e definitivos? – Quase sempre, os que seorgulham de alguma coisa caem no egoísmo isolacionista que os separa do plano

universal, mas, os que amam o seu esforço nas realizações alheias ou a continuidadesagrada das obras dos outros, na sua atividade própria, jamais conservam pretensões

descabidas e nunca restringem sua esfera de evolução, porquanto as energias profundasda espiritualidade lhes santificam os esforços sinceros, conduzindo-os aos grandes feitos

através dos elevados caminhos da inspiração.”(1) _______________1. XAVIER, Francisc o C. O co nso lador . Pelo Espírito Emm anuel. 24. ed. Rio de Janeiro:FEB , 2003. Questão 203 .

HAROLDO DUTRA DIAS

 A Segunda Fase do estudo da vida de Jesus, resultado do Iluminismo, é marcadapelas características daquele movimento  –  Racionalismo, Empirismo, oposição aos

dogmas da Igreja  – e pode muito bem ser compreendida como a primeira etapa (2)  daabordagem científica dos textos bíblicos. _______________2. A maior parte dos estudioso s d o tema p refere chamar o período inaugurado por H. S.Reimaru s d e Primeira Fase, já que desc on sideram toda a pr odução do supranatu ralism o.Em certo sentido, estão corretos já que não se pode falar em “busca do Jesus histórico”,antes do t rabalho d aquele autor. Todavia, como pr etendemos tr açar um esb oço do est udoda figura d e Jesus, em sentido amplo, preferimos incluir o p eríodo anterior ao Iluminism o.

 Albert Schweitzer (3)  divide esse período (Segunda Fase) em quatro etapasdistintas: 1a) Inicial (H. S. Reimarus), 2a) Racionalismo primitivo (J. J.Hess, F.V.Reinhardt, J. A. Jakobi e J. G.Herder), 3a) Racionalismo pleno (H. E. G. Paulus, K. A.Hase, F. E. D. Schleiermacher), 4a) Final (David. F. Strauss). Os dois autores principaisdeste período, sem dúvida, são H. S. Reimarus e David F. Strauss, responsáveis pelosurgimento e pelo encerramento deste Movimento. _______________3. SCHWEITZER, Alb ert. A bu sca do Jesus his tóric o. São Pau lo: Novo Sécu lo, 2003

Em edições anteriores, apresentamos um breve resumo da contribuição deReimarus ao estudo dos textos evangélicos, salientando seu caráter inovador, em razãode ter adotado uma perspectiva puramente histórica no tratamento do tema, e destacandosuas duas preciosas contribuições: a divisão metodológica entre o “Jesus histórico” e o“Cristo da fé”, e a proposição de que a pregação de Jesus só pode ser compreendida apartir do contexto da religião judaica do seu tempo.

Por outro lado, urge esclarecer que, simultaneamente ao lançamento dos“fragmentos de wolffenbüttel ”,(4) houve uma profusão de publicações conhecidas como

Page 14: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 14/89

14

“Vidas de Jesus do Racionalismo Primitivo” (2a etapa), sobre as quais discorreremosnesta edição. _______________4. Nome dado aos sete fragmentos escri tos p or H. S. Reimarus, publ icados p or Gotho ldEphr aim Less ing , em 1778, na Alemanha.

O Racionalismo primitivo coloca-se entre o sobrenaturalismo ingênuo, que confiacegamente no dogma embora seja receptivo aos aspectos espirituais da vida, e oracionalismo pleno, que aceita apenas os aspectos racionais da religião com absolutaexclusão do elemento espiritual.

Na avaliação de Schweitzer, as melhores características do Racionalismo primitivosão a ingenuidade e a honestidade. É digno de nota o esboço desta etapa traçado peloilustre autor (5): _______________5. Albert Schweitzer (1875-1965) foi o rgani sta concert ista de fama, teórico da música,pasto r e pregador, p rofes sor de Teolo gia, direto r d e um semi nário teológico , médico ,human ista, e ganhador d o Prêmi o Nobel da Paz.

 As primeiras Vidas de Jesus racionalistas estão, de um ponto de vista estético,entre as menos agradáveis de todas as produções teológicas. O sentimentalismode suas representações não tem limites. Sem limite também, e ainda maisinaceitável, é a falta de respeito para com a linguagem de Jesus. Ele tem quefalar de uma forma racional e moderna, e portanto todas as suas falas sãoreproduzidas num estilo da mais polida modernidade. Nenhuma frase foi deixadacomo foi falada; todas elas são feitas em pedaços, parafraseadas, expandidas, e,algumas vezes, com o fim de torná-las realmente vívidas; elas são refundidas nomolde do diálogo livremente inventado. Em todas estas Vidas de Jesus, nem uma

só de suas falas mantém sua forma autêntica. E, no entanto, não podemos serinjustos com os seus autores. O que eles pretendiam era trazer Jesus para pertodo próprio tempo deles, e assim fazendo tornaram-se os pioneiros do estudohistórico de Sua vida. Os defeitos de suas obras, em relação ao senso estético eao fundo histórico, são suplantados pela atratividade do pensamento propositadoe não preconceituoso que aqui desperta, espreguiça-se e começa a mover--secom liberdade.(6)

 _______________6. SCHWEITZER, Al bert . A busc a do Jesus hi stóri co . São Pau lo: Novo Sécu lo, 2003. Cap. III,p. 39.

Os autores da Segunda Fase esforçam-se por libertar a mensagem do Cristo dosséculos de dogma e superstições que a encobriram. No entanto, a proposital exclusão doelemento espiritual bem como a confiança cega na incipiente ciência da época nostransmite a impressão de que houve apenas a troca do dogmatismo religioso pelodogmatismo científico.

Encerrando esse período, surgea figura de David F. Strauss, o mais renomado expoente do Racionalismo pleno. Na suaconcepção, todos os elementos extraordinários da vida de Jesus devem sercategorizados à conta de mitos.

Partindo do estudo comparativo das religiões, Strauss procura identificar nasnarrativas evangélicas grandes temas míticos, também presentes nas demais religiões do

Orbe, imprimindo às suas avaliações um cunho fortemente psicológico. A proliferação de biografias liberais de Jesus no século XIX, incluindo os nomes deDavid F. Strauss (1808-1874), de Ernest Renan (1823-1892), de H. H. Holtzmann (1832-

Page 15: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 15/89

15

1910) e de Johannes V. Weiss (1863-1914), revela que o ideal da objetividade e daisenção, tão proclamado pelo Racionalismo, nunca foi atingido. Albert Schweitzer (7) formula dura crítica à concepção que orientou a investigação realizada pelos autores doséculo XIX, revelando a fragilidade e a inconsistência das “vidas de Jesus” escritas noespírito do liberalismo da época. Ficou demonstrado que cada autor retratava Jesus à sua

própria imagem. _______________7. Idem, ibidem . 

O conhecimento desses fatos serve de alerta, sobretudo para os espíritas,competindo-nos examinar as pesquisas dos estudiosos do mundo com atenção ecuidado, mas sempre cotejando suas conclusões com a revelação espiritual. Em suma,urge reconhecer o caráter eminentemente subjetivo da ciência humana, ainda distantedas equações definitivas no que respeita ao estudo dos textos sagrados.

Consoante às orientações do Benfeitor Emmanuel no lide deste artigo:[...] os que amam o seu esforço nas realizações alheias ou a continuidade

sagrada das obras dos outros, na sua atividade própria, jamais conservampretensões descabidas e nunca restringem sua esfera de evolução, porquanto asenergias profundas da espiritualidade lhes santificam os esforços sinceros,conduzindo-os aos grandes feitos através dos elevados caminhos dainspiração.(8)

 _______________8. XAVIER, Francisc o C. O co nso lador . Pelo Espírito Emm anuel. 24. ed. Rio de Janeiro:FEB , 2003. Questão 203 .

 Assim, fugindo de toda extravagância intelectual, mantendo a humildade,vivenciando o ensino do Mestre, aprimorando a capacidade de análise através do estudo

metódico e consistente, nos habilitamos ao recebimento da inspiração superior, que nosconduz, invariavelmente, ao porto seguro da verdade.

Page 16: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 16/89

16

Reformador Janeiro 2008 - Ano 126 Nº 2.146  –  PAG 34/32  – 36/34

5 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Novas perguntas

“A diversidade de imagens de Jesus levanta a suspeita de que os retratos de Jesus sejamna verdade auto-retratos de seus autores.”(1)

 _______________1. THEISEN, Gerd; MERZ, Annett e. O Jesu s hi stórico . São Pau lo : Lo yo la, 2002. p. 31.

HAROLDO DUTRA DIAS

O reinado de Guilherme II (1859-1941) assistiu, na Alemanha, ao florescimento doliberalismo teológico e da pesquisa “clássica” sobre a história  do Cristianismo, cujacaracterística marcante foi a exploração histórico-crítica das fontes literárias, visando areconstrução da personalidade e da vida de Jesus, ao menos na concepção dos seusexpositores mais destacados.

Inaugurava-se a Terceira Fase da pesquisa histórica do Cristianismo sob ainfluência de desmedido otimismo. F. Baur defendia a primazia dos sinóticos sobre oEvangelho de João. H. Holzmann propunha a teoria das duas fontes, segundo a qualMarcos e “Q” (2) representavam as mais antigas e confiáveis fontes para a reconstrução

do quadro biográfico do Cristo. _______________2. Ter mo alemão que significa “fonte”. Schleiermacher foi o primeiro a propor a existênciade uma coletânea de declarações de Jesus como um a das fontes do s evangelh os. Alg unscrítico s acr editam que Papi as faz referência a ess e doc umento quando mencio na aex is tên cia das “Logias” de Levi. Todavia, cumpre salientar que não há comprovaçãohistórica da existência do referido documento. O trabalho d os estud iosos tem sid oselecionar ditos de Jesus, nos evangelhos de Mateus e Lu cas, ausentes no evangelho deMarcos, prop o ndo que essa seleção aponte para a suposta fonte “Q”. Em resumo, estamosdiante de uma hipótese que deve ser anal isada com cautela.

O colapso do liberalismo teológico, porém, veio mais cedo do que se imaginava,

em virtude de três fatores: a constatação do caráter fragmentário dos evangelhos, queimpediria qualquer esforço de extrair um “desenvolvimento” da personalidade de Jesus apartir da sequência narrativa do evangelho de Marcos; o caráter tendencioso das fontesantigas, visto que o evangelista privilegiava determinada mensagem, ainda que emdetrimento de uma suposta “precisão histórica”; o elemento projetivo das biografias sobreJesus, uma vez que os biógrafos retratavam a personalidade do Mestre ao sabor dassuas preferências e conveniências pessoais.

O ocaso da Teologia Liberal contribuiu para o surgimento da chamada “TeologiaDialética”,  herdeira da filosofia existencialista de Heidegger, segundo a qual “o serhumano conquista sua ‘autenticidade’  apenas na decisão, a qual não pode serassegurada mediante argumentos objetiváveis (como o conhecimento histórico). Para umexistencialismo cristão a decisão é a resposta ao chamado de Deus no querigma (3) dacruz e da ressurreição de Cristo, que o ser humano compreende por meio de um morrer eviver existencial em Cristo”.(4)

Page 17: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 17/89

17

 _______________3. No grego, essa palavra (querigma) significa “a coisa pregada”, a pregação dos primeiroscris tãos, o u m elhor, o conju nto de c renças básic as por eles defend idas e div ulg adas.4. THEISEN, Gerd; MERZ, Annett e. O Jesu s hi stórico . São Pau lo : Lo yo la, 2002. p. 31.

O trabalho de R. Bultmann (1884-1976), o mais destacado exegeta da TeologiaDialética, reflete o ceticismo histórico que tomou conta dos pesquisadores, após o colapsoda pesquisa tradicional. Na sua concepção, o Cristianismo começa apenas com aPáscoa, razão pela qual conclui que o ensino de Jesus não é relevante para umaTeologia Cristã. Nessa abordagem, o Jesus histórico não é objeto nem fundamento dapregação neotestamentária, que se baseia exclusivamente no “Cristo”  percebido edivulgado após o Pentecostes (Cristo Querigmático).(5) _______________5. O Cri sto retr atado na p regação do s apóstol os e dos pr imeiro s cri stãos do Sécu lo I.

 A Quarta Fase da pesquisa, desenvolvida no círculo dos discípulos de Bultmann,propõe uma “nova pergunta” pelo Jesus histórico, buscando o elo entre a pregação pós-pascal dos apóstolos e a pregação do próprio Jesus. Enquanto a “antiga pergunta”(Teologia Liberal) contrapunha Jesus à pregação da Igreja, a “nova pergunta”  procuraharmonizar esses dois elementos.

No lugar da reconstrução crítico-literária das fontes, a metodologia da TeologiaDialética se concentra na comparação entre a história das religiões e a história datradição evangélica. Nesse contexto, assume papel relevante o intitulado “critério dadiferença”,  segundo o qual, para se reconstruir um mínimo de tradição autêntica sobreJesus, torna-se necessário excluir tudo que possa ser derivado tanto do Judaísmo quantoda pregação apostólica, na busca da voz “original” do Cristo. 

Na opinião dos estudiosos do tema:

[...] com o fim da escola bultmaniana ficaram cada vez mais evidentes asarbitrariedades da “nova  pergunta” pelo Jesus histórico.  Ela era basicamentedeterminada pelo interesse teológico de fundamentar a identidade cristã aodistingui-la do judaísmo e de garanti-la ao separá-la de heresias cristãs primitivas(como a gnose e o entusiasmo carismático). Por isso ela deu preferência a fontesortodoxas e canônicas.(6)

 _______________6. THEISEN, Gerd; MERZ, Annett e. O Jesu s hi stórico . São Pau lo : Lo yo la, 2002. p. 28.

 Assim, o esforço para minimizar os contornos judaicos da mensagem cristãconstitui o aspecto problemático dessa abordagem, já que favoreceu o anti-semitismo,

desfigurando o pano de fundo histórico dos evangelhos para torná-lo mais palatável aosexistencialistas. A Quinta Fase da pesquisa, também conhecida como terceira busca(Third Quest ), que se desenvolveu, sobretudo, nos países de fala inglesa, procura superaressas idiossincrasias. Nela, o interesse histórico-social substitui o interesse teológico, aopasso que a inserção de Jesus no Judaísmo substituiu o interesse de separá-lo das suasbases históricas e sociais. Há, também, maior abertura a fontes não-canônicas (em parteheréticas), tais como os apócrifos.

Em suma, munidos dos novos instrumentos da pesquisa hodierna, tais comohistória antiga, crítica literária, crítica textual, filologia, papirologia, arqueologia, geografia,religião comparada, os atuais pesquisadores tentam reconstruir o ambiente socioculturalde Jesus, de modo a experimentar o efeito que as palavras do Mestre produziram nos

ouvintes da sua época.Nesse esforço, procura-se evitar juízos preconcebidos, premissas rígidas,

preconceitos étnicos, deixando que a mensagem se estabeleça ainda que contrariamente

Page 18: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 18/89

18

às expectativas dos crentes atuais. No entanto, ao montar o quebra--cabeça da históriado Cristianismo Primitivo com as escassas peças disponíveis, nem sempre é possível aopesquisador humano dispensar certa dose de imaginação.

Na avaliação de Gerd Theisen:[...] todas as descrições de Jesus contêm um elemento construtivo que vai além

dos dados contidos nas fontes. A imaginação histórica cria com suas hipóteses uma “aurade ficcionalidade” em  torno da figura de Jesus, assim como a imaginação religiosa doCristianismo primitivo. Pois tanto aqui como lá atua uma grande força imaginativa, acesapela mesma figura histórica. Em ambos os casos, ela opera de forma aberta: símbolosreligiosos, imagens e mitos permitem sempre nova interpretação, hipóteses históricaspermitem sempre nova correção. Neste processo, nem a construção religiosa, nem areconstrução histórica da história de Jesus procede com arbitrariedade, mas com baseem convicções axiomáticas. A imaginação religiosa do cristianismo primitivo é conduzidapela sólida crença de que por meio de Jesus é possível fazer contato com Deus, arealidade última. A imaginação histórica é determinada pelas convicções básicas daconsciência histórica: todas as fontes se originam de seres humanos falíveis e devem,

portanto, ser submetidas à crítica histórica.(7) _______________7. THEISEN, Gerd; MERZ, Annett e. O Jesu s hi stórico . São Pau lo : Lo yo la, 2002. p. 31.

O espírita-cristão, abençoado pela revelação dos Espíritos superiores,especialmente na produção mediúnica de Francisco Cândido Xavier, conta com umelemento precioso, muitas vezes negligenciado. Os romances do Benfeitor Emmanuelconstituem detalhado processo de reconstrução dos três primeiros séculos doCristianismo.

Nesses romances, alguns dados da pesquisa histórica puramente humana sãoconfirmados, todavia, muitas retificações são feitas, de forma sutil. Exige-se do leitor

exame cuidadoso, sob pena de serem divulgadas informações espiritualmente incorretas,apenas porque determinado pesquisador encarnado as defenda em suas obras.Nesse sentido, é valiosa a advertência de Emmanuel:

[...] Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os sábios materialistas, noestudo das ideias religiosas, não puderam sentir que a intuição está acima darazão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria, na exposição dos princípios ena apresentação das grandes figuras do Cristianismo.

[...] É que, portas a dentro do coração, só a essência deve prevalecer para asalmas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem demarchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos.(8)

 _______________8. XAVIER, Francis co Când ido . A c amin ho da lu z. Pelo Es pírito Emm anuel. 36. ed. Rio d eJaneiro: FEB, 2007. Cap. XIV, item “A redação dos textos definitivos”, p. 124-125.

Vê-se que a proposta da Espiritualidade superior reside na conjugação da Razão eda Fé, razão pela qual, antes de iniciarmos nosso estudo da “História Apostólica”, à luz daobra Paulo e Estêvão, decidimos fazer um histórico da pesquisa acadêmica, a fim deevitar, ou pelo menos conhecer, as extravagâncias e equívocos de seus expositores.

Page 19: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 19/89

19

Reformador Março 2008 - Ano 126 Nº 2.148  –  PAG 31/109  – 33/111

6 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Jesus Governador Espiritual do Orbe

“Não podemos conhecer o Jesus ‘real’ através da pesquisa histórica, quer isto  signifiquesua realidade total ou apenas um quadro biográfico razoavelmente completo. No entanto

podemos conhecer o ‘Jesus histórico’. Por Jesus da história, refiro-me ao Jesus quepodemos ‘resgatar’ e examinar utilizando os instrumentos científicos da moderna

pesquisa histórica.”(1) _______________1. MEIER, Joh n P. Um jud eu marginal: repensando o Jesus h istórico. 3. ed. Rio de Janeiro:Imago, 1993. p. 35.

HAROLDO DUTRA DIAS

Um longo itinerário foi percorrido para que pudéssemos resumir as fases dapesquisa histórica sobre o Cristianismo, antes de compará-la com o material reveladopela Espiritualidade superior.

Novamente, utilizamos como epígrafe a citação do historiador John P. Meier,professor na Universidade Católica de Washington D. C., considerado um dos mais

eminentes pesquisadores bíblicos de sua geração. Ao estabelecer os limites da ciência eda investigação humanas, ele adverte:Por Jesus da história, refiro-me ao Jesus que podemos “resgatar” e examinar

utilizando os instrumentos científicos da moderna pesquisa histórica. A atitude de prudência e humildade esboçada por esse autor, favorece o diálogo

com a Doutrina Espírita que, por sua vez, oferece subsídios valiosos, inacessíveis aos“instrumentos científicos da  moderna pesquisa histórica”. Não  se trata de sobrepujar aCiência, desprezar suas conclusões, numa atitude mística incompatível com a féraciocinada. O desafio é “complementar”, “unir”, “dialogar”, onde ambas as partes estãodispostas a ouvir e a falar, sem submissão ou subserviência.

Doravante, destacaremos a contribuição oferecida pela revelação espiritual no

equacionamento de graves problemas relativos à história de Jesus, dos seus seguidoresdiretos, e do Cristianismo, de modo geral, visando à apropriação, com maior segurança elegitimidade, da essência da Boa Nova, alicerce de todas as propostas de renovaçãoveiculadas pela Doutrina dos Espíritos.

Nessa linha de raciocínio, somos inevitavelmente levados a indagar: Quem é Jesusna visão da Espiritualidade superior? A resposta, em O Livro dos Espíritos, é sobejamenteconhecida, mas ainda nos convida a profundas reflexões:

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lheservir de guia e modelo?

“Jesus.” Para o homem, Jesus representa o tipo da perfeição moral a que a

Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no lo oferece como o mais perfeitomodelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque,

Page 20: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 20/89

20

sendo Jesus o ser mais puro que já apareceu na Terra, o Espírito Divino oanimava.

Se alguns dos que pretenderam instruir o homem na lei de Deus, algumasvezes o desencaminharam, ensinando-lhe falsos princípios, foi porque sedeixaram dominar por sentimentos demasiado terrenos e porque confundiram as

leis que regulam as condições da vida da alma, com as que regem a vida docorpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que eram simples leishumanas, criadas para servir às paixões e para dominar os homens. (Comentáriode Kardec.) (2)

 _______________2. KARDEC, Al lan. O l ivr o do s es pírito s. Ed ição Comemorativ a do Sesquic ent enário . Rio deJaneiro : FEB, 2007.

O Benfeitor Emmanuel, por sua vez, enriqueceu nossos estudos comsurpreendentes informações sobre o papel desempenhado por Jesus na condução dosdestinos humanos:

Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos osfenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros eEleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam asrédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa Comunidadede seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao quenos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para asolução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta,por duas vezes no curso dos milênios conhecidos.

Espíritos puros:Superioridade intelectual e moral absoluta

 A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosasolar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nossosistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta,e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo àfamília humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.(3)

 _______________3. XAVIER, Francisc o C. A cam inh o d a luz. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. Cap. I, item A Comun idade d os Espírito s Pu ros , p. 17.

Diante do assombro dessas revelações de Emmanuel, resta-nos indagar o que sãoEspíritos puros. A informação é encontrada em O Livro dos Espíritos, nas respostasdadas pelos benfeitores espirituais a Allan Kardec, nas seguintes questões:

112. CARACTERÍSTICAS GERAIS  –  Nenhuma influência da matéria.Superioridade intelectual e moral absoluta, com relação aos Espíritos das outrasordens.113. Primeira classe. Classe única. Percorreram todos os graus da escala [verquestões 100 e seguintes] e se despojaram de todas as impurezas da matéria.Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm quesofrer mais provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação

em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus...................................................................................

Page 21: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 21/89

21

128. Os seres que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoriaespecial, de natureza diferente da dos outros Espíritos?“Não; são os Espíritos puros:  os que se acham no mais alto grau da escala ereúnem todas as perfeições.” ..................................................................................

170. Em que se transforma o Espírito depois da sua última encarnação?“Em Espírito bem-aventurado; em Espírito puro.”(4) _______________4. KARDEC, Al lan. O l ivr o do s espírit os . Edição Comemorativ a do Sesquic ent enário . Rio deJaneiro : FEB, 2007.

É forçoso concluir, com o professor John P. Meier, que os instrumentos científicosda moderna pesquisa histórica não são capazes de nos mostrar o “Jesus real”. Talvez seja essa a razão pela qual os historiadores, como demonstrado nos artigos anteriores,acabam por apresentar uma imagem distorcida de Jesus.

Jesus é o Governador Espiritual do Planeta, em cujas mãos repousam os destinos

de toda a humanidade terrena. A tentativa de reduzir o Mestre aos parâmetros estritamente humanos decorre davisão materialista da maioria dos pesquisadores. É nesse ponto que a revelação espiritualpode contribuir para a reconstituição do “Jesus real”, restabelecendo  a legítimacompreensão do Cristianismo.

Emmanuel destaca a relevância da atuação do Mestre, a pujança da sua influência,no que diz respeito aos rumos do progresso terrestre.

Encerramos este artigo com mais uma notável citação desse Espírito, quedescortina detalhes do Governo espiritual do Cristo:

Vê-se, então, o fio inquebrantável que sustenta os séculos das experiências

terrestres, reunindo-as, harmoniosamente, umas às outras, a fim de queconstituam o tesouro imortal da alma humana em sua gloriosa ascensão para oInfinito...................................................................................Na tela mágica dos nossos estudos, destacam-se esses missionários que omundo muitas vezes crucificou na incompreensão das almas vulgares, mas, emtudo e sobre todos, irradia-se a luz desse fio de espiritualidade que diviniza amatéria, encadeando o trabalho das civilizações, e, mais acima, ofuscando o“écran” das nossas observações  e dos nossos estudos, vemos a fonte deextraordinária luz, de onde parte o primeiro ponto geométrico desse fio de vida ede harmonia, que equilibra e satura toda a Terra numa apoteose de movimento e

divinas claridades.Nossos pobres olhos não podem divisar particularidades nesse deslumbramento,mas sabemos que o fio da luz e da vida está nas suas mãos. É Ele quem sustentatodos os elementos ativos e passivos da existência planetária. No seu coraçãoaugusto e misericordioso está o Verbo do princípio. Um sopro de sua vontadepode renovar todas as coisas, e um gesto seu pode transformar a fisionomia detodos os horizontes terrestres.(5)

 _______________5. XAVIER, Francis co C. A cam inho d a luz. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. “Introdução”, p. 14-15.

Page 22: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 22/89

22

Reformador Abril 2008 - Ano 126 Nº 2.149  –  PAG 31/149  – 33/151

7 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

A fé transporta montanhas

“Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalémadorareis o Pai [...] Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores

adorarão o Pai em espírito e verdade.”(1) _______________1. Bíbl ia d e Jeru salém. 3. ed . São Pau lo : PAULUS, 2004. J oão, 4: 21-24, p. 1851.

HAROLDO DUTRA DIAS

 A passagem acima citada diz respeito ao encontro da mulher de Samaria comJesus. A samaritana indaga quanto ao verdadeiro local de adoração a Deus, se no monteGerazim (Samaria) ou, ao contrário, no monte Sião (Jerusalém). O Mestre lhe responde,todavia, que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e verdade, não empontos geográficos fixos.

Com o Cristo, transportam-se as montanhas sagradas, da tradição bíblica, para ointerior da alma. Assim, haverá um santuário espiritual erguidoao Criador em todos os lugares da Terra onde estiver presente um espírito sincero e

fervoroso, visto que a adoração terá lugar portas adentro do coração. A fé transporta montanhas.Mudando o enfoque, urge reconhecer que a edificação do “Reino de Deus”

representa verdadeira obra divina a desdobrar--se, também, no coração dos seres. Noentanto, não raro, exige trabalhos ingentes, inúmeros sacrifícios e lutas acerbas,decorrentes do esforço de superação das nossas deficiências íntimas.

Desse modo, com o propósito de debelar o pessimismo, o desânimo, a incerteza, ahesitação, Jesus nos ensina que: “[...] se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis aesta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos seráimpossível”.(2)  _______________

2. Idem , ibid em. Mateu s, 17: 20, p. 1735.

 A fé “é força que nasce  com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria deDeus que é a sabedoria da própria vida [...]”,(3) não obstante as adversidades de cadadia. Consoante o ensino de Emmanuel: _______________3. XAVIER, Francis co C. Pensamen to e vida. Pelo Espírito Emm anuel. 17. ed. Rio deJaneiro : FEB , 2006. Cap. 6, p. 32.

Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza queultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa

energia constante de realização divina da personalidade.Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: “eu creio”, masafirmar: “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento.

Page 23: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 23/89

23

Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalharsempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pelaresponsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.

Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança quesabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e

significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposiçãosincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade doSenhor”.(4)

 _______________4. XAVIER, Francisc o C. O co nso lador . Pelo Espírito Emm anuel. 27. ed. Rio de Janeiro:FEB , 2007. Questão 354 .

Sensível aos desafios que o progresso espiritual apresenta, AllanKardec asseverou:

[...] As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a mávontade, em suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se

trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, oegoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantasmontanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso daHumanidade.[...] (5)

 _______________5. KARDEC, Allan . O Evangelho s egun do o Espir it ism o. 127. ed. Rio de Janeiro : FEB, 2007.Cap. XIX, item 2.

 A fé transporta montanhas.Noutro giro, consultando o dicionário constata-se que o vocábulo “fé” cobre um

amplo espectro de significados, tais como: “[...] confiança absoluta (em alguém ou algo);

[...] crédito, [credibilidade] (um homem digno de fé); [...] asseveração, afirmação,comprovação de algum fato; [...] compromisso assumido de ser fiel à palavra dada, decumprir exatamente o que se prometeu”. (6) (Destaque do autor.) _______________6. HOUAISS, An tônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisc o M. M. Dicio nárioHou aiss da líng ua port uguesa. 2. ed. Rio de Jan eiro : OBJ ETIVA, 2007. p. 1317.

 A palavra “fé” é utilizada para  traduzir, na Bíblia hebraica (Velho Testamento), oradical “aman”  (confirmar, sustentar; estabelecer-se; ser fiel; estar certo, crer em), bemcomo os seus derivados, em especial, os termos “omen” (verdade, fidelidade) e “emuna”(firmeza, fidelidade).

Vê-se que, no âmago dos significados dessa raiz, está a idéia de certeza, mastambém o sentido de “ser fiel” (2 Crônicas 19:9). Por sua vez, no Novo Testamento, utiliza-se o vocábulo “fé”  para traduzir a

expressão grega  (7) “pistis” (fé, confiança depositada  nas pessoas ou nos deuses), eespecialmente seu derivado “to  piston” (confiabilidade ou fidelidade daqueles que seobrigam por um contrato). _______________7. Todos os m anuscri tos do Novo Testamento, encon trados e catalogados atéo p resentemom ento , estão red igid os n a líng ua gr ega, excetu ando-se os manusc rit os r eferent es àsdiv ersas t raduções dess e mesmo texto.

Nesse ponto, Humberto de Campos vem em nosso socorro, reproduzindobelíssimo diálogo de Jesus com os discípulos:

Page 24: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 24/89

24

 – Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes. Onde ofilho e o pai que não desejam estabelecer, como ideal de união, a confiançaintegral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade do nosso Pai paraconosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não oconhecíamos e já Ele nos amava. E, acaso, poderemos desdenhar a

possibilidade de retribuição? Não seria repudiarmos o título de filhos amorosos, ofato de nos deixarmos absorver no afastamento, favorecendo a negação?..................................................................................[...] É certo que as forças destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão dofilho de Deus; mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho comperseverança e boa vontade. Entrará em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-áos tormentos com heroísmo espiritual, por amor do Reino que traz no coraçãoplantará uma flor onde haja um espinho; abrirá uma senda, embora estreita, ondeestejam em confusão os parasitos da Terra; cavará pacientemente, buscando asentranhas do solo, para que surja uma gota d’água onde queime um deserto. Doíntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o

ama e segue com atenção.(8) _______________8. XAVIER, Francis co C. B oa nova. Pelo Es pírito Humberto de Campos. 3. ed. especial. Riode Janeir o: FEB, 2007. Cap. 6, p. 49-50 e 53-54.

Munidos de fé sincera estaremos em condições de atravessar esses difíceismomentos de transição do orbe terrestre, bem como triunfar nas provas e expiações,rumo à iluminação espiritual.

É preciso procurar “[...] as águas vivas da prece para lenir o coração, mas não nosesqueçamos de acionar os nossos sentimentos, raciocínios e braços, no progresso eaperfeiçoamento de nós mesmos, de todos e de tudo, compreendendo que Jesus reclama

obreiros diligentes para a edificação de seu Reino em toda a Terra”.(9) _______________9. XAVIER, Francisc o C. Fon te viv a. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio d e Janeiro : FEB,2007. Cap . 69, p. 180-181.

 A fé transporta montanhas.

Page 25: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 25/89

25

Reformador Maio 2008 - Ano 126 Nº 2.150  – PAG 34/192  – 36/194

8 - Cristianismo Redivivo

Esperança

“[...] Que providências adotar contra o desânimo destruidor? – Espera! – disse ela [Abigail]ainda, num gesto de terna solicitude, como quem desejava esclarecer que a alma deve

estar pronta a atender ao programa divino, em qualquer circunstância, extreme decaprichos pessoais. Ouvindo-a, Saulo considerou que a esperança fora sempre a

companheira dos seus dias mais ásperos. Saberia aguardar o porvir com as bênçãos do Altíssimo. [...]”(1)

 _______________

1. XAV IER, Franc isc o Când ido. Pau lo e Es têvão. Pel o Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio deJaneiro : FEB , 2007. Segunda Part e, cap. III, p. 381-382.

HAROLDO DUTRA DIAS

O Apóstolo dos gentios nunca perdeu o ensejo de exaltar as virtudes cristãs nasinúmeras cartas que dirigiu às comunidades do Cristianismo nascente.

Recordando-se, talvez, das lições recebidas de sua noiva espiritual, Abigail,sempre manteve o firme propósito de debelar o pessimismo e o desânimo, conservando esemeando a esperança, mesmo no curso de dolorosas provações. Em meio a açoites,calúnias, perseguições, naufrágios, prisões e padecimentos físicos, o Apóstolo sempre

encontrava a palavra de bom ânimo. As inspiradas exortações de Paulo se tornaram célebres:

[...] permaneçamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e do amor, e com ocapacete da esperança.(2)

 _______________2. Bíbli a do pereg rin o. São Paulo : PAULUS, 2002. I Tess alon icen ses, 5: 8, p. 2841.

O que se escreveu então foi para a nossa instrução, para que pela paciência econsolação da Escritura tenhamos esperança.(3)

 _______________3. Bíbli a do pereg rin o. São Paulo : PAULUS, 2002. Rom anos, 15:4, p. 2732.

 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, e a caridade. [...](4) _______________4. Bíblia  sagrada. Revista e Atualizada. Traduzida por João Ferreira de Almeida. 2. ed. SãoPaulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. I Coríntios, 13:13, p. 1232.

 A palavra portuguesa “esperança”, encontrada nessas passagens, é uma traduçãodo vocábulo grego elpis (esperança, expectativa), substantivo derivado do verbo elpidzo(esperar, ter esperança, prever). Não é difícil perceber que a esperança é luz espiritualque “[...] vem de cima, à maneira do Sol que ilumina do alto e alimenta as sementeiras

novas, desperta propósitos diferentes, cria modificações redentoras e descerra visõesmais altas”.(5) _______________

Page 26: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 26/89

26

5. XAVIER, Francis co Când ido. Vinh a de luz. Pelo Espírito Emm anuel. 17. ed. Rio deJaneiro : FEB , 2008. Cap. 75, p. 173-174.

É, no mínimo, curiosa a metáfora utilizada por Paulo de Tarso, quando compara aesperança a um capacete, ao lado da fé e do amor no papel de couraça, já que estaindumentária é típica de um guerreiro.

Consoante o ensino de Emmanuel:

O capacete é a defesa da cabeça em que a vida situa a sede de manifestaçãodo pensamento e Paulo não podia lembrar outro símbolo mais adequado àvestidura do cérebro cristão, além do capacete da esperança na salvação.

Se o sentimento, muitas vezes, está sujeito aos ataques da cólera violenta, oraciocínio, em muitas ocasiões, sofre o assédio do desânimo, à frente da luta pelavitória do bem, que não pode esmorecer em tempo algum.

Raios anestesiantes são desfechados sobre o ânimo dos aprendizes por todasas forças contrárias ao Evangelho salvador.

Por isso mesmo, talvez, o apóstolo não se refere à touca protetora.Chapéu, quase sempre, indica passeio, descanso, lazer, quando não defina

convenção no traje exterior, de acordo com a moda estabelecida.Capacete, porém, é indumentária de luta, esforço, defensiva. E o discípulo de

Jesus é um combatente efetivo contra o mal, que não dispõe de muito tempo paracogitar de si mesmo, nem pode exigir demasiado repouso, quando sabe que opróprio Mestre permanece em trabalho ativo e edificante.(6)

 _______________6. XAVIER, Franci sco Când ido . Fonte viva. Pelo Espírito Emm anuel. 36. ed. Rio d e Janeiro :FEB , 2007. Cap. 94, p. 243-245.

 Allan Kardec, com extrema sensibilidade, ao organizar os capítulos do livro OEvangelho segundo o Espiritismo, selecionou belíssima comunicação de “Um  Espíritoamigo”, que assevera: 

 A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são outras tantaspicadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nosdeveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outrolado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito maisnumerosas do que as dores. O fardo parece bem menos pesado, quando se olhapara o alto, do que quando se curva para a terra a fronte. Coragem, amigos!

Tendes no Cristo o vosso modelo. [...] (7) _______________7. KARDEC, Allan . O evangelh o segu ndo o esp irit ism o. 127. ed. Rio de Janeiro : FEB, 2007.Cap. IX, item 7, p. 180-181.

Para bem compreendermos as virtudes do Cristo, necessitamos estudá-lo nosmomentos de adversidade. Já foi dito alhures que ninguém passa pela última prova doseu caráter enquanto não sofre. A vinda do Mestre ao Orbe se deu em época derecenseamento, obrigando seus pais a longo deslocamento, não obstante a gravidezadiantada de Maria. Não havia lugar para Ele. Sua única estalagem foi a manjedourahumilde. Tão logo é anunciado seu nascimento, o rei Herodes determina sua morte.

Conserva--se na casa simples de Nazaré, por longo tempo, em trabalho ativo nacarpintaria do pai.

Page 27: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 27/89

27

Inicia seu ministério na Galiléia, região rural, repleta de homens simples e rústicos,pescadores e lavradores, gente humilde e sofrida, calejada pelo tempo e pelo trabalhoárduo.

Não há maior teste à paciência de um artista do que ser obrigado a utilizarinstrumentos demasiadamente grosseiros à expressão do seu ideal, incompatíveis com o

seu talento e apuro. No entanto, na edificação do Reino Divino, os ignorantes do mundo,os fracos, os sofredores, os desalentados, os doentes e os pecadores seriam, nas mãosdo Embaixador Celeste, material de base, semelhante a formoso mármore, destinado àeterna e sublime construção.

Seus companheiros de ideal, apóstolos e discípulos, mal conseguem entender agrandeza da sua missão, perdendo-se em querelas sobre qual deles seria o maior,entregando-se ao fermento da discórdia e da traição, como no caso de Judas,abandonando o Mestre no momento mais áspero do testemunho.

Nos derradeiros instantes da sua missão divina, despede-se do mundo em meio azombarias, acusações, ingratidão dos beneficiários, abandono dos amigos e seguidores,açoites e martírios. Suas últimas palavras, no entanto, são filhas do perdão incondicional

e da inabalável esperança na vitória final do bem.Toda a vida do Mestre é um cântico de esperança, a despeito das dificuldadesenfrentadas.

Nesse ponto, confirmando o otimismo e a esperança do Cristo, Humberto deCampos nos brinda, reproduzindo a exortação de Jesus ao discípulo Bartolomeu,conhecido pelo seu temperamento grave e sensível, porém, profundamente triste:

 –  A nossa doutrina, entretanto, é a do Evangelho ou da Boa Nova e já viste,Bartolomeu, uma boa notícia não produzir alegria? Fazes bem, conservando a tuaesperança em face dos novos ensinamentos; mas, não quero senão acender obom ânimo no espírito dos meus discípulos. Se já tive ocasião de ensinar que o

meu Reino ainda não é deste mundo, isso não quer dizer que eu desdenhe otrabalho de estendê-lo, um dia, aos corações que mourejam na Terra. Achas,então, que eu teria vindo a este mundo, sem essa certeza confortadora? [...].................................................................................. – A vida terrestre é uma estrada pedregosa, que conduz aos braços amorosos deDeus. O trabalho é a marcha. A luta comum é a caminhada de cada dia. Osinstantes deliciosos da manhã e as horas noturnas de serenidade são os pontosde repouso; mas, ouve-me bem: na atividade ou no descanso físico, aoportunidade de uma hora, de uma leve ação, de uma palavra humilde, é oconvite de nosso Pai para que semeemos as suas bênçãos sacrossantas. [...]..................................................................................

[...] O Evangelho não poderia reclamar estados especiais de seus discípulos;porém, é preciso considerar que a alegria, a coragem e a esperança devem sertraços constantes de suas atividades em cada dia. Por que nos firmarmos nopesadelo de uma hora, se conhecemos a realidade gloriosa da eternidade com onosso Pai? (8)

 _______________8. XAVIER, Francis co Când ido . Bo a nov a. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed.especial. Rio de Janeir o: FEB , 2007. Cap. 8, p. 66-68.

 Agora, portanto, permaneça a esperança em nossos corações.

Page 28: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 28/89

28

Reformador Junho 2008 - Ano 126 Nº 2.151  –  PAG 30/228  – 32/230

9 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Nascimento de Jesus

“Para quem está familiarizado com a história antiga, não deve ser motivo de perturbaçãoo fato de que as principais datas na vida de Jesus sejam apenas aproximadas. [...] Naverdade, as datas de nascimento até mesmo de alguns imperadores romanos não são

certas [...].”(1) _______________1. MEIER, John P. Um judeu m arginal: repensando o Jesus histórico. 3. ed. Rio de Janeiro:Imago, 1993. p. 367.

HAROLDO DUTRA DIAS

No prólogo deste artigo há uma citação do historiador John P. Meier, professor naUniversidade Católica de Washington D. C., considerado um dos mais eminentespesquisadores bíblicos de sua geração. Ao estabelecer os limites da ciência e dainvestigação humanas, ele adverte: “Por Jesus da  história, refiro-me ao Jesus quepodemos ‘resgatar’ e examinar utilizando  os instrumentos científicos da modernapesquisa histórica”.(2)

 _______________2. Idem, ibidem. p. 35.

 A pesquisa histórica baseia-se em fontes (documentos, registros, inscrições,ossuários, obras de historiadores, achados arqueológicos) e adota métodos específicos,adequados ao tipo de fonte analisada, com vistas à interpretação consistente dos dadoscoletados.

Por vezes, seja em razão da escassez dessas fontes, seja em decorrência daausência de parâmetros na interpretação dos dados colhidos, somos obrigados areconhecer a limitação dos “instrumentos científicos da moderna pesquisa histórica”. 

Nesse ponto, consideramos preciosa a contribuição dada pela Doutrina Espírita no

equacionamento de graves questões. No caso da cronologia da vida de Jesus, é lícitoconcluir que a obra psicográfica de Francisco Cândido Xavier supre inúmeras lacunas,impossíveis de serem transpostas sem o auxílio da revelação espiritual, tendo em vista aslimitações da historiografia.

Os dados cronológicos mais importantes da vida de Jesus encontram-se nasnarrativas da infância (Mateus, 2; Lucas, 1:5, 2:1-40) e nas narrativas da paixão (Mateus,26-27; Marcos, 14-15; Lucas, 21--23; João, 13-19). Outros dados relevantes podem serencontrados nos evangelhos de Lucas e João (Lc., 3:1-2 e 23; Jo., 2:20).

Os historiadores do Cristianismo, porém, chamam a atenção para o fato de que osEvangelhos não são essencialmente obras de história, no sentido atual da palavra. OsEvangelistas não pretendiam produzir uma biografia completa ou mesmo um sumário da

vida de Jesus. Ao contrário, escreveram com a finalidade de transmitir o ensino doMestre, os fatos principais da sua vida, de modo a legar à posteridade o testemunho dafé.

Page 29: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 29/89

29

Nesse sentido, é justo considerar que os Evangelistas organizaram o material datradição (oral e/ou escrita) de acordo com um propósito redacional. Compilaram eorganizaram as narrativas sem se preocuparem com a ordem histórica dosacontecimentos. É o que nos demonstra o pesquisador norte-americano:

[...] Tais compilações ainda são visíveis em Marcos: por exemplo, as passagenspolêmicas localizadas no início do ministério de Jesus na Galiléia (2:1; 3:6), emcontraposição a outra série de passagens semelhantes já em Jerusalém, ao finaldo ministério (11:27; 12:34); uma seção central de relatos de milagres e palavrasde Jesus, agrupados pela palavra--chave “pão” (6:6; 8:21) e uma coletânea  deparábolas (4:1; 34). Não há motivo para considerarmos essas compilações comotendo preservado a inviolável ordem cronológica dos eventos, especialmenteporque Mateus e Lucas não o fizeram. Mateus, por exemplo, reordena livrementeos relatos de milagres que aparecem em Marcos, para criar um grupo conciso denove relatos divididos em três grupos intercalados por material de “enchimento”(Mateus, 8-9). O grande Sermão da Montanha, em Mateus, reaparece, em parte,

em Lucas como o Sermão da Planície, menor que o outro (ambos como tendoocorrido na Galiléia) e, parcialmente, em material espalhado por todo o longorelato da jornada final de Jesus até Jerusalém, em Lucas, 9:51; 19:27 [...]”.(3)

 _______________3. MEIER, John P. Um judeu m arginal: repensando o Jesus histórico. 3. ed. Rio de Janeiro:Imago, 1993. p. 50-51.

Por outro lado, seria temerário acusar os Evangelistas de terem distorcido os fatospara adequá-los a propósitos teológicos. Nesse caso, vale lembrar que escreveram paracontemporâneos, muitos deles testemunhas oculares dos fatos narrados, razão pela qualnão se justifica o ceticismo exagerado com relação aos dados contidos nos Evangelhos.

Deve ser encontrada uma posição de equilíbrio que prime pela fé raciocinada. Assim, considerando o relato dos Evangelistas, pode-se afirmar que Jesus nasceuno tempo do imperador Augusto (37 a.C.-14 d. C.), antes da morte de Herodes, o Grande.

No ano 525 d.C., o papa João I (470-526 d.C.) pediu a Dionísio (4) que elaborasseum calendário com o cálculo dos ciclos pascais, as datas futuras da Páscoa. Frei Dionísio,além de elaborar uma efeméride pascal, estabeleceu um novo calendário, em oposiçãoao sistema alexandrino, da era diocleciana, fixando a data do nascimento de Jesus em 25de dezembro de 753 A.U.C.,(5) declarando 1º de janeiro de 754 A.U.C. como o início doprimeiro ano da Era Cristã, o “Anno Domini” (Ano do Senhor).  _______________4. Diony siu s Exig uu s (470-540 d.C.) nasceu n a Scyt hia Menor (Romênia/Bulgária),

transferindo-se para Roma po r vo lta do ano 500 d.C., onde se tor nou tradutor de inúmerasob ras d a Igreja Romana, impo rtantes p ara o d ireito c anônico , além de ter elabo rado a tabelacom as datas da Pásco a. Todavia, seu nome entr ou p ara a his tória por ser o c riado r do“Anno Domini”, alterando o calendário da época. 5. A.U.C. (Ann o Urbis Cond itae)  – Ano da fu ndação d a cid ade de Roma. Os his toriad oresfixam a data da f undação daquela ci dade no ano 753 a.C., acolhendo os info rmes dohis tor iador romano “Varrão”. É comum confundir -se a sigla A .U.C. com Ab Urbe Cond ita,títu lo d o li vr o de Tito Lívio so bre a his tória de Roma.

Posteriormente, descobriu-se que a data estabelecida por Dionísio estavaabsolutamente equivocada, visto que fixava o nascimento de Jesus três anos após a

morte de Herodes, o Grande.Para se encontrar a data da morte de Herodes, utilizou-se preciosa informaçãofornecida pelo historiador judeu Flávio Josefo ( Antiguidades Judaicas, livro XVII, cap. 6, §

Page 30: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 30/89

30

4, item 167), segundo o qual teria ocorrido um eclipse lunar pouco antes do falecimentodaquele monarca. Com base em cálculos astronômicos precisos, é possível afirmar que amorte daquele rei se deu por volta de março/abril do ano 750 A.U.C. (4 a.C.), logo após oreferido eclipse.

Desse modo, concluem os exegetas que Jesus, seguramente, nasceu antes do ano

4 a.C. (data da morte de Herodes, o Grande). Todavia, esses pesquisadores sãounânimes em reconhecer a impossibilidade de se determinar o ano exato do nascimentode Jesus, com base nas fontes históricas atualmente disponíveis.

Os “instrumentos científicos da moderna pesquisa histórica” nos permitem chegarsomente até esse ponto.

É nesse momento que a revelação espiritual pode e deve ser conjugada com aspesquisas humanas, no intuito de resolver questões intricadas, mas extremamenterelevantes para o estudo do Cristianismo Nascente.

Nesse sentido, merece ser transcrito o extraordinário texto do Espírito Humberto deCampos, revelando a data do nascimento do Cristo:

[...] o Senhor chamou o Discípulo Bem-Amado ao seu trono de jasmins matizadode estrelas. O vidente de Patmos não trazia o estigma da decrepitude, como nosseus últimos dias entre os espórades. Na sua fisionomia pairava aquela mesmacandura adolescente que o caracterizava no princípio do apostolado. – João – disse-lhe o Mestre –, lembras-te do meu aparecimento na Terra? – Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedadede Frei Dionísio, que, calculando no século VI da era cristã, colocou erradamenteo vosso natalício em 754. – Não, meu João – retornou docemente o Senhor –, não é a questão cronológicaque me interessa, ao te arguir sobre o passado. É que nessas suavescomemorações vem até mim o doce murmúrio das lembranças!...

 – Ah! sim, Mestre Amado  – retrucou pressuroso o Discípulo  –, compreendo-vos.Falais da significação moral do acontecimento. Oh!... se me lembro... amanjedoura, a estrela guiando os poderosos ao estábulo humilde, os cânticosharmoniosos dos pastores, a alegria ressoante dos inocentes, afigurando-se-nosque os animais vos compreendiam mais que os homens, aos quais ofertáveis alição da humildade, com o tesouro da fé e da esperança.[...] (6) (Grifo nosso.)

 _______________6. XAVIER, Franc isc o Când ido . Crôni cas de além-túmulo . Pelo Espírit o Hum ber to deCampos. 15. ed. Rio de Janeir o: FEB , 2007. Cap. 15, p. 89-90.

 Assim, consoante a revelação espiritual, pelas mãos do respeitável médium

Francisco Cândido Xavier, Jesus nasceu no ano 749 da era romana. Considerando queo primeiro ano do calendário gregoriano (Anno Domini  – Ano 1), atualmente em vigor nomundo ocidental, corresponde ao ano 754 U.A.C. (ano da fundação de Roma), e tendoem vista que não há ano zero, nesse calendário, basta considerar a sequência 753 U.A.C.= 1 a.C.; 752 U.A.C. = 2 a.C.; 751 U.A.C. = 3 a.C.; 750 U.A.C. = 4 a.C. e 749 U.A.C. = 5a.C.

Desse modo, pode-se concluir que o nascimento do Mestre se deu no ano 5 a.C.

Page 31: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 31/89

31

Reformador Julho 2008 - Ano 126 Nº 2.152  – PAG 30/268  – 32/270

10 - Cristianismo Redivivo

As parábolas de Jesus

“As parábolas do Evangelho são como as sementes divinas que desabrochariam, maistarde, em árvores de misericórdia e de sabedoria para a Humanidade.”(1)

 _______________1. XAVIER, Francis co Când ido . O conso lador . Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio deJan eiro: FEB , 2008. Questão 290.

HAROLDO DUTRA DIAS 

Uma das características mais marcantes do ensino de Jesus é a utilização,frequente e admirável, das parábolas. Muitas delas inspiraram poetas, artistas, moralistas,pensadores, e influenciam, até hoje, a linguagem cotidiana: o bom samaritano, esconderuma candeia, enterrar um talento...

 A interpretação das parábolas de Jesus, todavia, tem sido dificultada pela falsacompreensão da sua natureza. Que é uma parábola? Quais ditos de Jesus pertencem aessa categoria? Estamos diante de um método pedagógico que utiliza palavras ou textossimples, historinhas límpidas e de fácil compreensão para transmitir uma mensagem? Aparábola é uma espécie de simplificação, clarificação, exemplificação?

O vocábulo grego  parabolé deriva do verbo “ parabállein (colocar ao lado de;

comparar)”, razão pela qual  significa literalmente “(palavra)  colocada ao lado de”. O sentido comum é de uma “justaposição, comparação, analogia, ilustração”. 

 A noção ocidental de  parabolé encontra-se em Aristóteles, na sua obra intituladaRetórica, II, XX, 2-4, com o sentido de justaposição, ou seja, colocação de uma coisa aolado de outra com a finalidade de comparação, ilustração, indicação de casos paralelosou análogos.

Nesse tratado, o grande filósofo grego classifica as figuras de linguagem, formasespecíficas de discurso retórico, em: 1) Imagem (eikón); 2) Metáfora (metaphorá); 3)Comparação (homoiósis); 4) Parábola ( parabolé); 5) História ilustrativa ( parádeigma); 6) Alegoria (allegoría).

Nesse quadro teórico, a parábola era vista como um recurso simples e

convincente, destinado a iluminar o que estava obscuro, ajudando a platéia acompreender alguma coisa, quando lhe fosse difícil seguir uma longa série de raciocíniosabstratos. Chegava-se a afirmar que uma parábola deve ser de mais fácil compreensãodo que aquilo que pretende ilustrar, razão pela qual seria um erro, no uso desse recursoretórico, o emprego do desconhecido e do pouco familiar.

Essa é a ideia que uma inteligência formada pelos métodos ocidentais depensamento faz das parábolas da Bíblia. De fato, em alguns casos essa noção éadequada e suficiente. Existem parábolas nos Evangelhos que podem ser tomadas comoexemplos concretos destinados a ilustrar, esclarecer, iluminar um princípio geral, como nocaso da Parábola do Bom Samaritano (Lucas, 10:29-37).

Todavia, o exame acurado das ocorrências do vocábulo  parabolé no NovoTestamento revela as limitações e inconsistências desse modelo teórico grego quandoaplicado a textos semítico--orientais da Palestina do primeiro século.

Eis alguns exemplos:

Page 32: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 32/89

32

 Aprendei, pois, a  parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e asfolhas brotam, sabeis que está próximo o verão. (Mateus, 24:32.)

Disse-lhes Jesus: Sem dúvida, citar-me-eis esta  parábola: Médico, cura-te a ti

mesmo; tudo o que ouvimos ter-se dado em Cafarnaum, faze-o também aqui natua terra. (Lucas, 4:23.) Também lhes disse uma  parábola: Ninguém tira umpedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendoda nova não se ajustará à velha. (Lucas, 5:36.)

Propôs-lhes também uma  parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outrocego? Não cairão ambos no barranco? (Lucas, 6:39.)

Então, lhes propôs Jesus esta  parábola(2)  Qual, dentre vós, é o homem que,possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa enove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? (Lucas, 15:3-4.)

 _______________2. JEREM IAS, Joach im . As parábo las de Jesu s. Tradução de João Rezen de Co st a. 8. ed.São Paul o: Pau lu s, 1986. p . 13.

Nada há no exterior do homem que, penetrando nele, o possa tornar impuro; maso que sai do homem, isso é o que o torna impuro.Se alguém tem ouvidos para ouvir ouça!E quando, ao deixar a multidão, entrou em casa, seus discípulos o interrogaramsobre a parábola. (Marcos, 7:15-17.)

Essas passagens são suficientes para demonstrar que o uso do vocábulo parabolé

nos Evangelhos se afasta sensivelmente do quadro teórico proposto pelos gregos. Isso sedeve ao fato de que a palavra parabolé é regularmente utilizada na LXX (Septuaginta) (3) para traduzir o substantivo hebraico mashal , ou a expressão aramaica mathla. _______________3. A Sep tu agi nt a, também co nh eci da como Versão d os Seten ta (LXX), éa tr adução g reg a dabíbli a heb raic a, feita apro xim adamente n o ano 200 a.C., segun do a tradição, po r duzent ossábio s ju deu s. Ess a tradução exerceu p ro funda inf luênc ia no s au to res c ris tãos do pr imeiroséculo , inclu sive n os Evangelis tas, qu e a uti l izam como modelo d e escrit a. Muitas cit açõesdo Velho Testament o, encon tradas nos Evan gelho s, são cópias qu ase perfeitas dessatradução.

Na literatura hebraica, o termo mashal /mathla apresenta uma enorme variedade designificados. Os Evangelistas, não obstante utilizarem em seus escritos o idioma grego,operavam mentalmente com categorias semíticas, utilizando constantemente as mesmasexpressões encontradas na tradução grega da bíblia hebraica (Septuaginta).

Nesse ponto, merece destaque a lição do renomado exegeta bíblico JoachimJeremias, em obra específica destinada ao tema:

[...] O mashal hebraico e o mathla aramaico designava, mesmo no judaísmo pós-bíblico, sem que se possa fazer um quadro esquemático, toda sorte de linguagemfigurada: Parábola, comparação, alegoria, fábula, provérbio, revelaçãoapocalíptica, dito enigmático, pseudônimo, símbolo, figura de ficção, exemplo

(tipo), motivo, argumentação, apologia, objeção, piada. [...].(4) _______________

Page 33: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 33/89

33

4. JEREM IAS, Joach im . As parábo las de Jesu s. Tradução de João Rezen de Co st a. 8. ed.São Paul o: Pau lu s, 1986. p . 13.

Em resumo, a expressão  parabolé assume no Novo Testamento o sentido denarrativa parabólica (Lucas, 10:29-37), comparação (Lucas, 5:36), de figura simbólica(Marcos, 13:28), provérbio ou máxima (Lucas, 4:23, 6:39), enigma (Marcos, 7:17), ousimples regra (Lucas, 14:7). Desse modo, deve ser entendida no sentido largo demashal /mathla.

Como salienta Jeremias, forçar essas passagens a se encaixarem no quadro dascategorias da retórica grega seria “impor às parábolas de Jesus uma norma que lhes éestranha”.(5) _______________5. Idem , ibidem .

Na mesma linha, afirma o filósofo francês Paul Ricoeur:

[...] A parábola não é um meio auxiliar de prova. Não há pensamento literal [...]. Oerro inicial consiste em identificar o mashal da literatura hebraica com a paraboléda retórica grega que é, por sua vez, uma parte da lógica aristotélica [...]. Omashal hebraico liga diretamente a significação do que é dito com a disposiçãocorrespondente na esfera da existência humana […].(6)

 _______________6. RICOEUR, Paul . A hermenêut ic a bíbl ic a. São Pau lo : Loy ol a, 2006. TT6. p. 181.

Nesse sentido, é lícito concluir que, enquanto a parábola grega foi qualificada comofigura de retórica, o mashal /mathla deve ser qualificado como “hermenêutico”,  tendo emvista o trabalho de interpretação que ele requer para a sua exata compreensão.

Na tarefa interpretativa dos ensinos de Jesus, contamos com a Doutrina Espírita,possibilitando-nos não somente a compreensão mas, sobretudo, propiciando terreno fértilpara a vivência, para a exemplificação, consoante a advertência dos Espíritos superiores:

Já que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensinodado pelos Espíritos? Terão eles mais alguma coisa a nos ensinar?

“Muitas vezes a palavra de Jesus era alegórica e em forma de parábolas, porqueEle falava de acordo com a época e os lugares. Agora, é preciso que a verdadeseja inteligível para todos. É necessário explicar e desenvolver aquelas leis, jáque pouquíssimos são os que as compreendem e menos ainda os que as

praticam. [...].”(7) _______________7. KARDEC, All an. O li vr o d os espírito s. Tradução de Evandro No leto Bezerr a. Ed.Com emor ativa. Rio de Janeir o: FEB , 2007. Ques tão 627.

Page 34: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 34/89

34

Reformador Setembro 2008 - Ano 126 Nº 2.154  – PAG 33/351  – 35/353

11 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

A crucificação de Jesus

“Para quem está familiarizado com a história antiga, não deve ser motivo de perturbaçãoo fato de que as principais datas na vida de Jesus sejam apenas aproximadas. [...]”(1)

 _______________1. MEIER, John P. Um judeu m arginal: repensando o Jesus histórico. 3. ed. Rio de Janeiro:Imago, 1993. p. 367.

HAROLDO DUTRA DIAS

Os dados cronológicos mais importantes da vida de Jesus encontram-se nasnarrativas da infância (Mateus, 2; Lucas, 1:5, 2:1-40) e nas da Paixão (Mateus, 26-27;Marcos, 14-15; Lucas, 21-23; João, 13-19). Outros dados relevantes podem serencontrados nos Evangelhos de Lucas e João (Lc., 3:1-2 e 23; Jo., 2:20).

Os historiadores do Cristianismo, porém, chamam a atenção para o fato de que osEvangelhos não são essencialmente obras de história, no sentido atual da palavra. OsEvangelistas não pretendiam produzir uma biografia completa ou mesmo um sumário davida de Jesus. Ao contrário, escreveram com a finalidade de transmitir o ensino do

Mestre, os fatos principais da sua vida, de modo a legar à posteridade o testemunho dafé.Nesse sentido, é justo considerar que os Evangelistas organizaram o material da

tradição (oral e/ou escrita) de acordo com um propósito redacional. Compilaram eorganizaram as narrativas sem se preocuparem com a ordem histórica dosacontecimentos.

 Assim, em se tratando de cronologia do Cristianismo Nascente, por vezes, épreciso contentar-se com o estabelecimento de intervalos temporais, dentro dos quais hámaior probabilidade de ocorrência de determinado fato. As limitações das fontes históricasdisponíveis justificam essa situação.

Seguindo o relato dos Evangelistas, entre o nascimento de Jesus e o início de seu

ministério público, houve um período de “cerca de trinta anos” (Lucas, 3:23).Considerando que seu nascimento se deu no outono/inverno do ano 5 a.C.,(2)  épossível estabelecer que sua missão pública entre os homens desenvolveu-se entre osanos 25 e 45 d.C. O intervalo é excessivamente extenso, e pode ser reduzido com baseem outros dados. _______________2. Consultar o artigo intitulado “Nascimento de Jesus”, publicado na revista Reformador,de jun ho de 2008, p.

Jesus foi crucificado quando Pôncio Pilatos era procurador da Judéia (TÁCITO, Anais, XV, 44; FLÁVIO JOSEFO,  Antiguidades Judaicas, XVIII, 63; Relato dos

evangelistas), ou seja, entre 26 e 36 d.C. Já conseguimos uma considerável redução nointervalo.

Page 35: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 35/89

35

João Batista iniciou seu ministério no ano décimo quinto de Tibério César (Lucas,3:1). Levando-se em conta as divergências na fixação desta data,(3) tal fato ocorreu entreos anos 27 e 29 d.C . _______________3. Alguns pesquisado res cons ideram, para contagem d os q uinze anos, o período em queTibério César se t orn ou co -regen te de Au gu sto , ao passo q ue o ut ros recus am esse métodode con tagem as severando qu e deve ser con tabil izado apenas o período em que ele regeusozinho, após a morte do imp erador. Visto q ue Aug usto faleceu em 19 de agosto de 14 d.C.,a cont agem deveria se iniciar após essa data.

Jesus, por sua vez, deu início ao seu ministério público após João Batista teriniciado o seu. Computando-se um período razoável de duração do ministério do Cristo, oano da sua morte, na opinião da maioria dos pesquisadores, deve se situar entre os anos29 e 34 d.C . Nesta, houve uma redução drástica daquele intervalo temporal inicialmenteproposto.

Sobre isso, julgamos oportuna a transcrição de pequeno trecho sobre acrucificação encontrado em famoso dicionário bíblico:

[...] Dentre as tentativas feitas para determinar o ano da crucificação, a maisfrutífera tem sido feita com a ajuda da astronomia. De conformidade com todos osquatro evangelhos, a crucificação teve lugar numa sexta-feira; mas enquanto quenos sinóticos essa sexta-feira é 15 de Nisã, em João é 14 de Nisã. Portanto, oproblema que tem que ser solucionado com a ajuda da astronomia, é o dedeterminar em qual dos anos 26--36 d.C. é que 14 e 15 de Nisã caíram numasexta-feira. Mas, visto que nos tempos neotestamentários o mês judaico era lunar,e o tempo de seu início era marcado pela observação da lua nova, esse problemaé basicamente o de resolver quando a lua nova se tornou visível. Estudando esse

problema, Fotheringham e Schoch chegaram cada qual a uma só fórmulamediante cuja aplicação descobriram que 15 de Nisã caiu numa sexta-feirasomente no ano 27 d.C., e que 14 de Nisã caiu numa sexta-feira somente nosanos 30 e 33. Visto que o ano de 27 como ano da crucificação está fora dequestão, a escolha recai entre os anos 30 d.C. (7 de abril) e 33 d.C. (3 de abril).[...].(4) (Grifo nosso.)

 _______________4. DOUGLAS, J. D. O nov o d ic io nário da bíbl ia. 3. ed. São Paul o: Vid a Nova, 2006. p .

Portanto, usando todos os recursos e métodos da moderna pesquisa histórica,pode-se afirmar que a crucificação ocorreu no dia 7 de abril do ano 30 d.C. ou no dia 3 de

abril do ano 33 d.C. A opção por qualquer dessas datas não isenta o pesquisador de responder aobjeções fundadas. É nesse ponto da pesquisa que julgamos conveniente conjugaresforço humano e revelação espiritual, numa operação chamada por Allan Kardec de “fé raciocinada”. 

Nesse sentido, dois textos encontradosna obra psicográfica de Francisco Cândido Xavier chamam nossa atenção:

Nos primeiros dias do ano 30, antes de suas gloriosas manifestações, avistou-seJesus como Batista, no deserto triste da Judéia, não muito longe das areiasardentes da Arábia [...].(5)

 _______________

5. XAVIER, Francis co Când ido . Bo a nov a. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed.especial. Rio d e Janeiro: FEB, 2008. Cap.

Page 36: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 36/89

36

 Aproximava-se a Páscoa no ano 33. Numerosos amigos de Públio haviamaconselhado a sua volta temporária a Jerusalém, a fim de intensificar os serviçosda procura do filhinho, no curso das festividades que concentravam, na época, asmaiores multidões da Palestina [...]...................................................................................

[...] De uma sala contígua ao seu gabinete, notou que Públio atendia a numerosaspessoas que o procuravam particularmente, em atitude discreta; e o interessanteé que, segundo as suas observações, todos expunham ao senador o mesmoassunto, isto é, a prisão inesperada de Jesus Nazareno  –  acontecimento quedesviara todas as atenções das festividades da Páscoa, tal o interessedespertado pelos feitos do Mestre, em todos os espíritos. [...] (6)

 _______________6. XAVIER, Franc isc o Când ido . Há do is m il ano s. Pelo Espírito Emmanu el. 48. ed. Rio deJaneiro : FEB , 2007. Prim eira Part e, cap. VIII, p. 144, 147 e 148.

 Assim, consoante a revelação espiritual, pelas mãos do respeitável médium

Francisco Cândido Xavier, Jesus iniciou seu ministério no ano 30 d.C. e foi crucificado noano 33 d.C..( Ora, considerando-se que a crucificação se deu em abril//maio do ano 33d.C.,(7) a conversa se deu após o outono de 34 d.C., mas antes de abril de 35 d.C. ouseja, antes de se completarem dois anos da crucificação.) _______________7. A fes ta da Pásc oa com eça no cr epúscul o da sex ta-feira (14 de Nisã), ou seja, no início dosábado (15 de Nisã), uma vez que o s ju deus con tavam o d ia a partir d as dezoito hor as. Essafest a dur ava um a semana, find and o no sábado seg uin te (22 de Nisã).

Page 37: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 37/89

37

Reformador Outubro 2008 - Ano 126 Nº 2.155  – PAG 36/394  – 38/396

12 - Cristianismo Redivivo

O candidato a discípulo

“[...] O Compositor compõe uma música, e a obra está terminada. O Escultor cinzela o seumármore, e um dia a estátua está acabada. Mas a tarefa do exegeta nunca tem fim. Elepode parar, apenas, para registrar, um tanto timidamente, as suas descobertas em certoponto do tempo, orando para que elas tenham alguma utilidade para outras pessoas, e

para que ele tenha sido fiel ao que lhe foi dado, até então. [...].”(1) _______________1. BA ILEY, Kenneth E. Through peasant eyes. Michigan: Eerdmans Publ ishin g Company,

1983. Preface, p . 7.

HAROLDO DUTRA DIAS

N a visão profética de Jeremias, Deus compara sua palavra com “um martelo que despedaça a rocha” (Jr., 23:29). E o Talmud comenta: “Tal qual a rocha que se parte emmuitos fragmentos sob o golpe do martelo, assim cada palavra do Santíssimo, benditoseja, foi dividida em setenta expressões”  (B. Shabat, 83b)  –  uma multiplicidade designificados e interpretações. Por esta razão, diz o Midrash que “a Torah(2) tem setentafaces” (Midrash Rabá, Números, 13:15). _______________

2. Torah, em sen tid o amplo, significa a “revelação divina”. Em sentido estrito, significa opentateu co mosaico, ou seja, os cinc o prim eiros liv ros d a Bíblia hebraica.

 Advertidos da complexidade que envolve a atividade do intérprete das Escrituras,podemos examinar a bela passagem do Evangelho de Lucas, na qual o candidato adiscípulo pede a Jesus a concessão de tempo, antes de aceitar o convite para segui-lo;eis o texto:

E disse a outro: Segue-me. Mas, ele disse: Permite-me ir primeiro enterrar meupai. Mas, ele respondeu: Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém,vai e proclama o Reino de Deus. (Lucas, 9:59-60.)

Muitos intérpretes acreditam que o pai acabara de morrer ou estava prestes aexpirar. Nesse caso, o candidato a discípulo pedia singela permissão para oferecer aocadáver do genitor a bênção da sepultura.

O sepultamento dos pais era considerado um dever religioso dos judeus, umaespécie de desdobramento do mandamento “honrar  pai e mãe”. (Gênesis, 50:5; Êxodo, 20:12;Deuteronômio, 5:16; Tobias, 4:3-4.) Desse dever estavam isentos somente o sumosacerdote e aqueles que fizeram o voto de nazireu (Levítico, 21:10-11; Números, 6:6-7).

Não ser sepultado era uma maldição, uma vergonha (Deuteronômio, 28:26;Salmos, 79:2), razão pela qual o dever do sepultamento tinha primazia sobre o estudo daLei, o serviço do Templo, o sacrifício da Páscoa, a observância da circuncisão, a recitação

do Shemá e a leitura da Megillah (B. Berakhot 3a; B. Megillah 3b). Até os sacerdotes, quedeveriam evitar a contaminação do contato com cadáveres, tinham permissão parasepultar seus pais (Levítico, 21:2-3).

Page 38: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 38/89

38

 A questão, posta nestes termos, oferece enormes dificuldades ao exegeta.Joaquim Jeremias salientou algumas delas:

[...] Ao chamar para o círculo dos discípulos que o acompanhavam, Jesusimprimiu um tom de urgência ao seu apelo. A Eliseu foi permitido despedir-se da

sua família (1Rs., 19:20), mas Jesus não concede essa licença (Lc., 9:61), e atémesmo rejeita o pedido de um filho que roga se lhe permita cumprir o maiselementar dever de um filho, a saber, o de sepultar o seu pai. O sepultamento sefazia na Palestina no próprio dia da morte e em seguida faziam-se dois dias deluto, quando a família enlutada recebia as expressões de condolência. Jesus nãopode conceder essa prorrogação. Por que tanta urgência? [...].(3) 

 _______________3. JEREMIAS, Joaquim . Teologia do novo testamento. São Paulo : Edito ra Hagnos, 2008.Cap . IV, p. 208.

Observando essa primeira “face”  da interpretação do texto, concluímos que a

exigência de Jesus é superior à de Elias, que permitiu a Eliseu despedir-se de seus pais(1Reis, 19:19-21), mas iguala-se à exigência de Deus, que não permitiu ao profetaEzequiel fazer luto por sua mulher (Ez., 24:15-24).

Jesus redefine o núcleo familiar sobre as bases da obediência à vontade de Deus,e não sobre os laços sanguíneos (Mateus, 12:46-50), advertindo que o discipulado é duro,e exige um compromisso absoluto e permanente.

 Allan Kardec resume magistralmente essa ideia:

Sem discutir as palavras, deve-se aqui procurar o pensamento, que era,evidentemente, este: “Os interesses  da vida futura prevalecem sobre todos osinteresses e todas as considerações humanas”, porque esse pensamento está de

acordo com a substância da doutrina de Jesus, ao passo que a idéia de umarenunciação à família seria a negação dessa doutrina.(4) _______________4. KARDEC, Allan . O evangelh o segu ndo o espi rit ism o. 127. ed. Rio de Janeiro : FEB, 2007.Cap. XXIII, item Ab andon ar pai, mãe e filhos .

Os comentaristas orientais, por sua vez, considerando os aspectos culturais do texto,fazem observações interessantes. Ibn al-Salibi comenta:

Deixa-me ir sepultar significa: deixa-me ir e servir meu pai enquanto ele é vivo;depois que ele morrer, eu o sepultarei e virei.(5)

 _______________5. IBN AL-SALIB, apud BA ILEY, Kenneth E. Through peasant eyes. Comb ined Edit ion.Michigan: Eerdm ans Publ is hing Comp any, 1983. Chapter 2, p. 26.

 A mesma idéia é apresentada pelo comentarista árabe Sa’id: 

[...] O segundo (discípulo) está olhando para um futuro longínquo, pois adia suadecisão de seguir Jesus para um tempo posterior à morte do seu pai [...]. Se oseu pai tivesse realmente morrido, por que naquele exato momento ele nãoestava velando o corpo dele? Na verdade, ele pretende adiar o assunto de seguirJesus para um futuro distante, quando o seu pai, velho, morresse. Mal sabe ele

que Jesus, dentro de muito pouco tempo entregará o seu espírito. [...].(6) _______________

Page 39: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 39/89

39

6. SA'ID, apud BA ILEY, Kenneth E. Throu gh peasant eyes. Combined Edit io n. Michigan:Eerdm ans Pub lish ing Comp any, 1983. Chapter 2, p. 26.

Kenneth Bailey, após ter vivido 47 anos em comunidades agrícolas do OrienteMédio, pesquisando os aspectos culturais e literários que estão por trás dos textos doNovo Testamento, afirma:

[...] A frase “enterrar o pai” é  expressão idiomática tradicional que se refereespecificamente aos deveres do filho de ficar em casa e cuidar de seus pais atéque eles jazam em paz, para descansar com todo o respeito. Este escritor ouviuexatamente esta expressão sendo usada repetidamente entre os habitantes doOriente Médio discutindo a emigração. Em certo ponto da conversa alguémpergunta: “Você não vai sepultar primeiro  a seu pai?”. A pessoa que  interrogageralmente está se dirigindo ao futuro emigrante, que tem cerca de trinta anos deidade. Geralmente, o pai em discussão ainda deve ter cerca de vinte anos paraviver. A ideia é: “Você não vai ficar até cumprir  o dever tradicional de tomar conta

de seus pais até a sua morte, e depois pensar em emigrar?”.  Outroscoloquialismos expressam a mesma ideia cultural Na língua síria coloquial dealdeias isoladas da Síria e do Iraque, quando um filho rebelde procura reafirmar asua independência em relação ao seu pai, a repreensão final e contundente dopai é: kabit di gurtly (“Você quer me enterrar”). A ideia é: “Você quer que eu meapresse a morrer para que a minha autoridade sobre você termine, e você fiquepor sua própria conta” [...]. Aqui estamos tratando  de expectativas dacomunidade, que podem ser mal traduzidas em termos ocidentais [...]. O recruta àmargem da estrada está dizendo: “A minha comunidade me faz certas exigências,e a força dessas exigências é muito grande. Certamente, o senhor não esperaque eu frustre as expectativas da minha comunidade, não é?”. Não obstante, é

exatamente isto que Jesus requer [...].(7) _______________7. BA ILEY, Kenneth E. Through peasant eyes. Combin ed Edit ion. Michigan: EerdmansPubl ishi ng Comp any, 1983.Chapter 2, p. 26.

Observando essa segunda “face” da interpretação do texto, concluímos que ocandidato a discípulo pedia muito mais tempo do que o necessário para o sepultamento.Na verdade adiava o compromisso por tempo indeterminado. No entanto, a resposta deJesus engloba as duas situações expostas na primeira “face”  e na segunda “face” dainterpretação. O sentido de prioridade, urgência e devotamento exigidos pelochamamento do Cristo permanece intacto nas duas abordagens.

 Allan Kardec, ao comentar os versículos em estudo (Lucas, 9:59--60), asseverou:

 A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito,sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, secomparada ao esplendor e à atividade da outra. O corpo não passa de simplesvestimenta grosseira que temporariamente cobre o Espírito, verdadeiro grilhãoque o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em libertar-se. [...] Eraisso o que aquele homem não podia por si mesmo compreender. Jesus lhoensina, dizendo: Não te preocupes com o corpo, pensa antes no Espírito; vaiensinar o reino de Deus; vai dizer aos homens que a pátria deles não é a Terra,mas o céu, porquanto somente lá transcorre a verdadeira vida.(8) (Grifo nosso.)

 _______________8. KARDEC, Allan . O evangelh o segu ndo o espi rit ism o. 127. ed. Rio de Janeiro : FEB, 2007.Cap. XXIII, item 8.

Page 40: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 40/89

40

No tocante ao ensino “deixa que os mortos enterrem seus mortos”, é valiosa a lição deEmmanuel:

O cadáver é carne sem vida, enquanto que um morto é alguém que se ausenta da

vida. Há muita gente que perambula nas sombras da morte sem morrer.Trânsfugas da evolução, cerram-se entre as paredes da própria mente,cristalizados no egoísmo ou na vaidade, negando-se a partilhar a experiênciacomum. Mergulham-se em sepulcros de ouro, de vício, de amargura e ilusão.[...].(9)

 _______________9. XAVIER, Franc isc o Când ido. Fon te viv a. Pelo Espírit o Emmanu el. 36. ed. 1a reimpr essão.Rio de Janeir o: FEB , 2008.Cap. 143.

Espiritualmente falando, apenas conhecemos um gênero temível de morte  – a daconsciência denegrida no mal, torturada de remorso ou paralítica nos

despenhadeiros que marginam a estrada da insensatez e do crime. É chegada aépoca de reconhecermos que todos somos vivos na Criação Eterna.(10) _______________10. ______. Pão nosso. Pel o Espírito Emman uel . 29. ed . Ri o de Jan ei ro : FEB, 2007. Cap . 42.

Urge atender ao chamado do Cristo no tempo intitulado “hoje”. 

Page 41: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 41/89

41

Reformador Novembro 2008 - Ano 126 Nº 2.156  – PAG 34  – 36

13 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Os alicerces da Igreja Cristã

“Os filósofos do mundo sempre pontificaram de cátedras confortáveis, mas nuncadesceram ao plano da ação pessoal, ao lado dos mais infortunados da sorte. Jesus

renovara, com exemplos divinos, todo o sistema de pregação da virtude. Chamando a sios aflitos e os enfermos, inaugurara no mundo a fórmula da verdadeira benemerência

social.”(1) _______________1. XAV IER, Franc isc o Când ido . Paul o e Es têvão. Pel o Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio deJaneiro : FEB, 2007. Prim eira par te, cap. III, p. 72.

HAROLDO DUTRA DIAS

 A s festividades da Páscoa,(2) na Palestina do ano 33 d.C.,(3) terminaram de formainesperada, gravando no coração dos Apóstolos as penosas lições do calvário. O Mestredeixara-se imolar, aceitando o supremo sacrifício sem qualquer reprovação ou murmúrio. _______________2. A fes ta da Pásc oa com eça no cr epúsc ulo da sex ta-fe ira (14 de Nisã), ou seja, no início dosábado (15 de Nisã), uma vez que o s ju deus con tavam o d ia a partir d as dezoito hor as. Essafest a dur ava um a semana, find and o no sábado seg uin te (22 de Nisã).3. Consultar o art igo i ntitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revistaReformador,de setembro de 2008, p. 33, no q ual se demonstro u qu e a crucif icação oc orr eu po r vo lta dodia 3 de abr il de 33 d.C.

De alma envolta em perplexidade e tristeza, o colégio apostólico se dispersou.Jesus, todavia, compadecendo-se da fragilidade humana, ressurgiu das sombras damorte confirmando a imortalidade da alma.

 A notícia espalhou-se rapidamente, nutrindo o coração dos seguidores deimorredoura esperança.

 Ao cabo de sete semanas (cinquenta dias),(4)  na festa de Pentecostes, quando

Jerusalém recebia os mais diversos peregrinos, inaugurou-se nova era para aHumanidade sob os auspícios “[...]dos Espíritos redimidos e santificados que cooperamcom o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização terrestre [...]”,(5)  tambémconhecidos pelo nome de Espírito Santo. Nesse sentido, o texto de Emmanuel éesclarecedor: _______________4. A fest a de Pentecos tes, palavra grega qu e sign ifica cin qu enta, écelebrada sete semanasapós a Páscoa, ou s eja, no qu inqu agésim o d ia após o sábad o Pas cal. Os heb reus adenominam “festa de Shavuot” ou festa das semanas, na qual celebram o recebimento daTorah no monte Sinai, razão pela qual é também conhecida como a festividade do “dom daTorah”. Nesse caso, o pentecostes descrito no livro “Atos dos Apóstolos”  ocorreu por

vol ta do di a 24 de maio de 33 d.C.5. XAVIER, Franci sco Când ido . O co nso lador . Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. 1ª reimpressão. Rio d e Janeir o: FEB , 2008. Questão 312.

Page 42: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 42/89

42

No dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos daMesopotâmia, da Frígia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanosse aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos humildes do Nazarenoanunciaram a Boa Nova, atendendo a cada grupo da multidão em seu idiomaparticular.

Uma onda de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral. Não faltaram oscéticos, no divino concerto, atribuindo à loucura e à embriaguez a revelaçãoobservada. Simão Pedro destaca-se e esclarece que se trata da luz prometida pelos céus à escuridão da carne.

Desde esse dia, as claridades do Pentecostes jorraram sobre o mundo,incessantemente. Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos, mas, dessa horaem diante, quebram as influências do meio, curam os doentes, levantam o espíritodos infortunados, falam aos reis da Terra em nome do Senhor.

O poder de Jesus se lhes comunicara às energias reduzidas. Estabelecera-sea era da mediunidade, alicerce de todas as realizações do Cristianismo, através

dos séculos.Contra o seu influxo, trabalham, até hoje, os prejuízos morais que avassalamos caminhos do homem, mas é sobre a mediunidade, gloriosa luz dos céusoferecida às criaturas, no Pentecostes, que se edificam as construções espirituaisde todas as comunidades sinceras da Doutrina do Cristo e é ainda ela que,dilatada dos apóstolos ao círculo de todos os homens, ressurge no Espiritismocristão, como a alma imortal do Cristianismo redivivo. (6) (Grifo nosso.)

 _______________6. XAVIER, Francisco Când ido . Caminho, v erdade e vid a. Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. 1areim pres são. Rio de J aneir o: FEB, 2008. Cap. 10, p. 35.

Doravante, guiado pela Espiritualidade superior, Simão Pedro transfere-se paraJerusalém, no segundo semestre do ano 33 d.C., fundando a instituição conhecida como“Casa do Caminho”, posto avançado de atendimento a inúmeros necessitados, além defoco irradiador da Boa Nova.

 A descrição de Emmanuel da veneranda instituição é insuperável:

Desde que viera do Tiberíades para Jerusalém, Simão transformara-se em célulacentral de grande movimento humanitarista. [...]..................................................................................Era por esse motivo que a residência de Pedro, doação de vários amigos do“Caminho”, regurgitava de enfermos e desvalidos sem esperança. Eram velhos a

exibirem úlceras asquerosas, procedentes de Cesaréia; loucos que chegavamdas regiões mais longínquas, conduzidos por parentes ansiosos de alívio;crianças paralíticas, da Iduméia, nos braços maternais, todos atraídos pela famado profeta nazareno, que ressuscitava os próprios mortos e sabia restituirtranquilidade aos corações mais infortunados do mundo.Natural era que nem todos se curassem, o que obrigava o velho pescador aagasalhar consigo todos os necessitados, com carinho de um pai. Recolhendo-seali, com a família, era auxiliado particularmente por Tiago, filho de Alfeu, e porJoão; mas, em breve, Filipe e suas filhas instalavam-se igualmente em Jerusalém,cooperando no grande esforço fraternal.[...] (7)

 _______________7. XAV IER, Franc isc o Când ido . Paul o e Es têvão. Pel o Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio deJaneiro : FEB, 2007. Prim eira par te, cap. III, p. 72-73.

Page 43: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 43/89

43

Vê-se que o ano 33 d.C. representa um marco inicial para o Cristianismo Nascente.O retorno do Mestre ao mundo espiritual implicaria a distribuição de encargos eresponsabilidades graves, tendo em vista a necessidade de concretização no plano físicodo prometido “Reino de Deus”, fruto da vivência plena do Evangelho.

Jerusalém nunca mais seria a mesma. As sementes do Cristo, quais minúsculos

grãos de mostarda, se transformariam em frondosas árvores de amor e sabedoria. Emmeio ao pântano das mais pervertidas paixões, desabrochariam lírios de puraespiritualidade.

O Espiritismo, na sua feição de Cristianismo Redivivo, repete o esforço dosprimeiros cristãos, procurando conjugar, na intimidade da “Casa Espírita”, os verbos amar, estudar, compreender, perdoar, buscando a legítima caridade. Nesse esforço deaperfeiçoamento, encontra nas primeiras instituições do Cristianismo Nascente ummodelo de vivência cristã à altura dos ensinos de Jesus.

 A “Casa do Caminho” é exemplo vivo, não obstante o transcurso dos séculos. Poresta razão, urge estudar e refletir sobre os grandes acontecimentos que marcaram oprimeiro século do Cristianismo, não somente pelos vultos que trabalharam pela causa do

Mestre, mas também pela experiência registrada por estes pioneiros, que jamais pode seresquecida, sob pena de cometermos antigos e graves erros capazes de comprometernossa ascensão espiritual.

Irmãos de jornada, avancemos! Luz acima!

Page 44: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 44/89

44

Reformador Dezembro 2008 - Ano 126 Nº 2.157  – PAG 31/469  – 33/471

14 - Cristianismo Redivivo

A lição do arado

“O ato de seguir a Jesus não é definido como a sensação de uma luz interior, ou apercepção de uma consciência intelectual, mas é comparado com a execução de uma

tarefa criativa, consumidora e ativa, como a de colocar a mão no arado e dirigir uma juntade bois.”(1)

 _______________1. BA ILEY, Kenneth E. Through peasant eyes. Michigan: Eerdmans Publ ish ing Com pany,1983. Cap . 2, p. 32. 

HAROLDO DUTRA DIAS

Narra o Evangelho de Lucas a pitoresca história do impetuoso candidato adiscípulo, cuja lealdade estava divida entre a obediência aos padrões culturais da suaépoca e o suave jugo do Cristo:

Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas permita-me despedir-me dosque estão em minha casa.Jesus, porém, lhe disse: Ninguém que põe sua mão no arado e olha para trás éapto para o Reino de Deus. (Lucas, 9:61-62.)

Muitos intérpretes salientam que o “despedir-se” da família,  no mundo oriental,implicava o pedido de permissão para partir. A autoridade dos genitores, sobretudo a dopai, era suprema, motivo pelo qual a pessoa que partia precisava pedir permissão a quemficava.

Quando alguém iniciava um novo empreendimento, costumava visitar seu pai naaldeia a fim de lhe pedir a bênção e a permissão para o cometimento, ainda quando setratasse de um homem independente.

No caso em exame, o candidato condicionava sua adesão ao Cristo à aprovaçãodos pais, ou seja, buscava conciliar a exigência social da sua época com a convocaçãoespiritual do Mestre.

Em resposta à sua súplica, Jesus estabelece um programa árduo, mostrando que atarefa de segui-lo exige concentração, dedicação e abnegação.

 Arar a terra na Palestina do primeiro século envolvia um conjunto complexo deprovidências. Joaquim Jeremias salientou algumas delas:

[...] O arado palestino, muito leve, é guiado com uma só mão. Esta mão,geralmente a esquerda, precisa ao mesmo tempo conservar o arado na posiçãovertical, regular a sua profundidade mediante pressão, e levantá-lo por sobrepedras e rochas que estejam em seu caminho. O arador usa a outra mão paraguiar o boi teimoso com um aguilhão com cerca de um metro de comprimento,provido de uma ponta de ferro. Ao mesmo tempo ele precisa ficar olhandocontinuamente entre as pernas traseiras do animal, para não perder o sulco devista. Esta forma primitiva de arado requer destreza, atenção, e concentração. Seo arador olhar para os lados, um novo sulco é aberto fora da linha. Desta forma,

Page 45: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 45/89

45

quem quiser seguir a Jesus precisa estar resolvido a quebrar os laços com opassado, e fixar os olhos apenas no Reino vindouro de Deus [...].(2)

 _______________2. JEREMIAS, Jo aqu im . As p arábo las de Jesu s. 9. ed. São Pau lo: Edi to ra Paul us , 2004.Part e III, cap . VI, p. 196.

Não bastasse a dificuldade de manejo do arado, o processo de aragem do campodesdobrava--se em múltiplas atividades, tornando a tarefa muito mais exigente do que seimagina à primeira vista:

[...] A aração era cuidadosa e minuciosa; logo que se quebrava o restolho depoisda colheita, abriam-se sulcos com margens largas entre eles, para facilitar aabsorção das chuvas. Ao arar, depois das primeiras chuvas, sulcos maispróximos, divididos por canteiros, eram abertos para propiciar a drenagem; só naterceira aração, antes da semeadura, os sulcos eram feitos consecutivamente,sem canteiros entre eles. O trabalho final era o de cobrir a semente... esse

implemento era maior e mais pesado do que o moderno arado árabe, que emgeral se parece com ele [...].(3) _______________3. APPELEBAUM. The jewish people in the first century , apud BA ILEY, Kenneth E. Throu ghpeasant eyes. Combined Edit ion . Michigan: Eerdmans Publ ishing Company, 1983. Cap. 2, p.30.

Kenneth Bailey, após ter vivido 47 anos em comunidades agrícolas do OrienteMédio, pesquisando os aspectos culturais e literários que estão por trás dos textos doNovo Testamento, afirma:

[...] É claro que a aração era uma operação muito exata, iniciando-se com aabertura de estrias para a absorção da água. Em um estágio posterior, os sulcoseram feitos de forma a permitir a drenagem. Uma terceira aração preparava osolo, e uma quarta cobria a semente depois do plantio. Obviamente qualquerpessoa que desejasse desincumbir-se de uma responsabilidade destas precisavadar atenção irrestrita ao que estava fazendo [...].(4)

 _______________4. BA ILEY, Kenneth E. Through peasant eyes. Combin ed Edit ion. Michigan: EerdmansPubl ishi ng Company , 1983. Cap. 2, p. 30.

Refletindo acerca da lição do arado, é forçoso concluir que o arador distraído

poderá bater com o arado em uma rocha, quebrar sua ponta de madeira, cansarinutilmente a parelha de animais, cortar, sem rumo, o campo não arado, ou destruir otrabalho já realizado. Em suma, o arador deve equilibrar o serviço feito, o que está porfazer, e aquele que está sendo realizado, já que qualquer distração tornará sua ação nãoapenas improdutiva, mas também destruidora.

No tocante ao símbolo do arado, é valioso o ensino de Emmanuel:

O arado é aparelho de todos os tempos. É pesado, demanda esforço decolaboração entre o homem e a máquina, provoca suor e cuidado e, sobretudo,fere a terra para que produza. Constrói o berço das sementeiras e, à suapassagem, o terreno cede para que a chuva, o Sol e os adubos sejam

convenientemente aproveitados. É necessário, pois, que o discípulo sincero tomelições com o Divino Cultivador, abraçando-se ao arado da responsabilidade, na

Page 46: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 46/89

46

luta edificante, sem dele retirar as mãos, de modo a evitar prejuízos graves à“terra de si mesmo”. ..................................................................................Um arado promete serviço, disciplina, aflição e cansaço; no entanto, não se deveesquecer que, depois dele, chegam semeaduras e colheitas, pães no prato e

celeiros guarnecidos.(5) _______________5. XAVIER, Franci sco Când ido . Pão nos so . Pelo Espírito Emm anu el. 29. ed. Rio de Janeiro :FEB, 2007. Cap. 3.

O servidor do Cristo conhece o cansaço, jamais o desânimo. Conhece o peso e a rotinado arado, mas aprende no trabalho de cada dia que a disciplina não é um cárcere, é achave da porta, como dizia Chico Xavier.

Page 47: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 47/89

47

Reformador Janeiro 2009 - Ano 126 Nº 2.158  – PAG 29/27  – 31/29

15 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

O Primeiro Mártir

“Em teus dias de dor, recorda alma querida, que a dor é para vida, aquilo que o buril,severo e contundente, entre as mãos do escultor, é para o mármore sem forma. Golpe

aqui, golpe ali, outro mais e mais outro, um corte de outro corte se aproxima, e o bloco setransforma em celeste beleza de obra-prima das.[...]”(1)

 _______________1. XAVIER, Francis co Când ido . Mãos marcadas. Espírito s Div erso s. São Paulo : Ins titu to deDif usão Espíri ta, 1972. Cap . 13  –“Maria Dolores”. 

HAROLDO DUTRA DIAS

O alicerce da obra imorredoura do Cristo formou--se à base de renúncia, sacrifícioe abnegação.

Três séculos de Cristianismo Nascente testemunharam o martírio de discípuloscorajosos, que se imolaram no altar da fé para que a luz do Evangelho se estendesse aomundo, inaugurando nova era de fraternidade e amor.

Inspirados no exemplo do próprio Mestre, eles conheceram as feras, o suplício, a

perseguição, o confisco, a brutalidade em todos os seus matizes, gravando para sempre,no coração dos homens, a lição da resignação, do amor e do perdão.Na seara de Jesus, os trabalhadores da primeira hora foram mártires.Estêvão, o grande mártir da Era  Apostólica, inaugurou o “tempo  dos sacrifícios”.

Seu testemunho de fé e de bravura, diante da mais alta corte judicial da nação hebraica,mudaria os rumos do movimento cristão e deixaria marcas indeléveis no coração do seupróprio algoz, um homem intrépido e sincero, que se tornaria o responsável pelauniversalização do Cristianismo – Paulo de Tarso.

O apedrejamento de Estêvão se deu no verão do ano 35 d.C. A informação pode ser encontrada na obra mediúnica Paulo e Estêvão,(2)  mas

somente após uma leitura inteligente e atenta dos textos. Na verdade, é necessária uma

combinação harmoniosa e criteriosa de dados. _______________2. XAV IER, Franc isc o Când ido . Paul o e Es têvão. Pel o Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio deJaneiro : FEB, 2007.

Emmanuel descreve acontecimentos, aparentemente desconexos, com enormeprecisão. Uma vez reunidas, essas descrições formam um quadro cronológico coerente econvincente, senão vejamos:

 A manhã enfeitava-se de muita alegria e de sol [...].No ar brincavam as mesmas brisas perfumadas, que sopravam de longe [...].

..................................................................................Nesse ano de 34, a cidade em peso fora atormentada por violenta revolta dosescravos oprimidos.

Page 48: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 48/89

48

[...] Em breve, a galera das águias dominadoras, auxiliada por ventos favoráveis,trazia no bojo as autoridades da missão punitiva, cuja ação deveria esclarecer osacontecimentos.(3)

 _______________3. Idem , ibidem. Prim eira part e, cap. I, p. 11-13.

[...] O coração paternal adivinhava. Àquela hora, Jeziel, conforme o programa porele mesmo traçado, arava a terra, preparando-a para as primeirassemeaduras.[...] (4)

 _______________4. XAV IER, Franc isc o Când ido . Paul o e Es têvão. Pel o Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio deJaneiro : FEB , 2007. Primeira parte, cap . I, p. 20.

De Corinto, a grande embarcação aproara em Cefalônia e Nicópolis, de ondedeveria regressar aos portos da linha de Chipre, depois de ligeira passagem pelacosta da Palestina, consoante o itinerário organizado para aproveitar o tempo

seco e tendo em vista que o inverno paralisava toda a navegação.(5) _______________5 Idem, ibi dem . Primeira par te, cap. III, p. 60.

 –  Há mais de um ano  –  exclamou o Apóstolo apagando a vivacidade com alembrança triste – foi crucificado aqui mesmo em Jerusalém, entre os ladrões.(6)

 _______________6. XAV IER, Franc isc o Când ido . Paul o e Es têvão. Pel o Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio deJaneiro : FEB, 2007. Prim eira par te, cap. III, p. 76.

Estamos na velha Jerusalém, numa clara manhã do ano 35.(7) _______________7. Idem, ibidem. Primeira parte, cap. IV, p. 84.

Naquelas primeiras horas da tarde, o sol de Jerusalém era um braseiro ardente.Não obstante o calor insuportável, a massa deslocou-se com profundo interesse.Tratava-se do primeiro processo concernente às atividades do “Caminho”, após a morte do seu fundador. [...] (8)

 _______________8. Idem, ibidem. Primeira parte, cap. VIII, p. 187-188.

 Antes de comparar os textos, é imperiosa uma ligeira exposição a respeito do

clima, agricultura e navegação na região da Acaia (sul da Grécia). Nos países banhadospelo Mar Mediterrâneo, o clima é muito semelhante, com verões secos e quentes, einvernos moderados e chuvosos. As estações do ano se dividem em dois grandes blocos:primavera –verão (abril –setembro) e outono –inverno (outubro –março).

 A semeadura de cereais se dava no início do outono, após a preparação da terrano final do verão, com vistas ao máximo aproveitamento da época das chuvas (inverno).Pela mesma razão, a navegação no Mar Mediterrâneo começava em abril e se encerravaem outubro. Era extremamente perigoso navegar no inverno, em razão das tempestadese da impossibilidade de se orientar pelo Sol e pelas estrelas.

O livro se inicia com a descrição de uma manhã de sol, com brisas perfumadas, eruas desertas, além da presença maciça de guardas romanos nas vias públicas, em

decorrência de uma revolta de escravos ocorrida em Corinto, naquele mesmo ano, ouseja, em 34 d.C.

Page 49: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 49/89

49

 A galera romana teria aproveitado os ventos favoráveis para se deslocar de Romaaté Acaia, a fim de conter o levante, o que nos permite concluir, seguramente, que anavegação se deu na primavera, pois o tempo favorável à navegação começava em abril.

Na sequência, o pai de Jeziel (Estêvão) o encontra arando a terra, preparando-apara as primeiras semeaduras. Naquela região do Mediterrâneo, a terra era arada no final

de setembro (fim do verão), ao passo que a semeadura se dava no final de outubro (empleno outono).Sendo assim, conjugando a informação da “manhã de sol, com brisas perfumadas”

e “aragem da terra”, pode-se concluir que a tragédia que acometeu a família de Estêvãose deu no final do verão do ano 34 d.C.

Jeziel (Estêvão) é enviado para as galeras, como prisioneiro, realizando umaviagem marítima, cujo itinerário foi organizado para “aproveitar o tempo seco” já que “oinverno paralisava toda navegação”. Nesse ponto, a descrição  de Emmanuel érigorosamente precisa. Não há margem para dúvidas. A embarcação partiu no outono doano 34 d.C.

 Após sua chegada em Jerusalém, Jeziel é acolhido por Simão Pedro, na Casa do

Caminho. Nesse momento, surge o diálogo entre eles, no qual o pescador de Cafarnaumrelata que “há mais de um ano [...] foi crucificado”, referindo-se a Jesus.Ora, considerando-se que a crucificação se deu em abril//maio do ano 33 d.C.,(9) 

a conversa se deu após o outono de 34 d.C., mas antes de abril de 35 d.C. ou seja,antes de se completarem dois anos da crucificação. _______________9. Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revistaReformador,ano 126, n. 2.154, setemb ro de 2008, p. 33.

Mais adiante, afirma Emmanuel: “Estamos na velha Jerusalém, numa clara manhãdo ano 35”, confirmando todos os cálculos precedentes.

Por fim, quando descreve o martírio de Estêvão, o Benfeitor espiritual utiliza aseguinte expressão: “Naquelas primeiras horas da tarde,  o sol de Jerusalém era umbraseiro ardente. Não obstante o calor insuportável [...]”. Assim, é lícito concluir queEstêvão foi martirizado no verão do ano 35 d.C.

Page 50: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 50/89

50

Reformador Fevereiro 2009 - Ano 127 Nº 2.159  – PAG 29/67  – 31/69

16 - Cristianismo Redivivo

No trato com a Revelação

“Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, o vinho novo estourará osodres, derramar-se-á, e os odres ficarão inutilizados. Põe-se, antes, vinho novo em odres

novos.” (1) _______________1. Bíbl ia de Jeru salém. 3. ed. São Pau lo : PAULUS, 2004. Lu cas 5: 37-38.

HAROLDO DUTRA DIAS

Reunidos na modesta residência de Simão Pedro, em Cafarnaum, comentavam ospresentes a sublimidade da nova revelação, quando Sara, esposa de um criador decabras da região, expôs ao Mestre suas dificuldades para vencer o egoísmo, o ciúme e oapego, não obstante reconhecesse a grandeza do Evangelho.

O Mestre, reconhecendo a legitimidade das suas dúvidas e a sinceridade da suaconfissão espontânea, utiliza elementos do cotidiano daquela nobre senhora, que vivia davenda do leite de cabras, encarecendo a necessidade de se lavar, cautelosamente, ovaso em que ele seria depositado, sob pena de azedume de todo o líquido, recolhido comenorme esforço.

Transpondo o ensino para o domínio das realidades espirituais, Jesus alerta os

ouvintes para a necessidade de se adotar o mesmo cuidado no trato com a revelaçãodivina, e acrescenta:

 – Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificamos o vaso daalma, o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades denosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens quepoderíamos recolher. Em verdade, Moisés e os profetas foram valorososportadores de mensagens divinas, mas os descendentes do povo escolhido nãopurificaram suficientemente o receptáculo vivo do Espírito para recebê-las. É poristo que os nossos contemporâneos são justos e injustos, crentes e incrédulos,bons e maus ao mesmo tempo. O leite puro dos esclarecimentos elevados

penetra o coração como alimento novo, mas aí se mistura com a ferrugem doegoísmo velho. Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre daincompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus................................................................................... – O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gotalamacenta. Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza.(2)

 _______________2. XAVIER, Franci sc o Când ido . Jesu s no lar . Pelo Espírito Neio Lúcio . 37. ed. Rio deJaneiro : FEB , 2008. Cap. 3, p. 21-22.

Findo o encontro com Nicodemos, em conversa íntima com Tiago a respeito doescândalo e do resgate das faltas, o Mestre voltou ao tema da dificuldade humana emlidar com as revelações divinas:

Page 51: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 51/89

51

O Mestre apreendeu a amplitude da objeção e esclareceu aos discípulos,perguntando: – Dentro da lei de Moisés, como se verifica o processo da redenção?Tiago meditou um instante e respondeu: –  Também na lei está escrito que o homem pagará “olho por olho,  dente por

dente”.  – Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos  –  replicou Jesus comgeneroso sorriso. – Como todos os homens, aliás, tens raciocinado, mas não tenssentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da Lei é umadeterminação de amor . Acima do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”,  está o“amar a Deus sobre  todas as coisas, de todo o coração e de todo oentendimento”.  Como poderá alguém amar o Pai, aborrecendo-lhe a obra?Contudo, não estranho a exiguidade de visão espiritual com que examinaste otexto dos profetas. Todas as criaturas hão feito o mesmo. Investigando asrevelações do Céu com o egoísmo que lhes é próprio, organizaram a justiça comoo edifício mais alto do idealismo humano. E, entretanto, coloco o amor acima da

 justiça do mundo e tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados.[...].(3) (Grifo nosso.) _______________3. XAVIER, Francis co Când ido . Bo a nov a. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed.especial. 1a reim pressão. Rio de Janeir o: FEB, 2008. Cap. 14, p.118-119.

Não são raros os comentaristas que se debruçam sobre o texto de Lucas, naquelapassagem que trata do vinho novo em odres velhos, na tentativa de opor a revelação doVelho Testamento ao Evangelho, asseverando, equivocadamente, que os odres velhosrepresentam o trabalho dos profetas.

No entanto, é preciso reconhecer que, sob a direção e assistência de Jesus, “[...]

os homens receberão sempre as revelações divinas de conformidade com a sua posiçãoevolutiva”.(4) Sendo assim, não há problema com o “vinho” da revelação divina, nossosdesafios dizem respeito aos recipientes, “odres”, que simbolizam o coração do aprendiz. _______________4. XAVIER, Franci sco Când ido . O co nso lador . Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. 1ª reimpressão. Rio d e Janeir o: FEB , 2008. Questão 271.

 A misericórdia do Cristo envia, de tempos em tempos, missionários e benfeitores,desde as mais remotas eras. O próprio Cristo desceu ao Orbe, espalhando bênçãos econsolações, mas o coração humano permanece atado ao egoísmo e ao orgulho.

Os Espíritos superiores que conduziram o trabalho do Codificador adotaram um

emblema para a Revelação Espírita:

Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema dotrabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais quemelhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é aseiva; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia oespírito pelo trabalho e tu sabes que é somente pelo trabalho do corpo que oespírito adquire conhecimentos.(5)

 _______________5. KARDEC, All an. O li vr o d os espírito s. Tradução de Evandro No leto Bezerr a. Ed.Comemorativa. Rio de Janeiro: FEB, 2007. “Prolegômenos”, p. 71. 

Não deve causar admiração o fato de Jesus ter escolhido o vinho para simbolizar arevelação espiritual.

Page 52: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 52/89

52

Urge renovar o coração, libertando-o das sombras do egoísmo destruidor, para queo vinho celeste não se transforme no vinagre das criações puramente humanas. ADoutrina Espírita é orvalho límpido e reluzente, ofertado pelos céus. É imprescindível,porém, purificar os vasos da alma, sob pena de misturarmos a bênção do Cristo aosvelhos enganos, que insistem em dominar nossos corações.

Expressando, talvez, sua preocupação com esse quadro desalentador, afirmou oBenfeitor Emmanuel:

 Asseveram muitos que o Céu estancou a fonte das dádivas, esquecendo-se deque a generalidade dos crentes entorpeceu a capacidade de receber.Onde a coragem que revestia corações humildes, à frente dos leões do circo?onde a fé que punha afirmações imortais na boca ferida dos mártires anônimos?onde os sinais públicos das vozes celestiais? onde os leprosos limpos e os cegoscurados? As oportunidades do Senhor continuam fluindo, incessantes, sobre a Terra. A misericórdia do Pai não mudou.

 A Providência Divina é invariável em todos os tempos. A atitude dos cristãos, na atualidade, porém, é muito diferente. Raríssimosperseveram na doutrina dos apóstolos, na comunhão com o Evangelho, noespírito de fraternidade, nos serviços da fé viva. A maioria prefere os chamados“pontos de vista”,  comunga com o personalismo destruidor, fortalece a raiz doegoísmo e raciocina sem iluminação espiritual.(6)

 _______________6. XAVIER, Francis co Când ido. Vinh a de luz. Pelo Espírito Emm anuel. 27. ed. Rio deJaneiro : FEB , 2008. Cap. 39, p. 97-98.

Não podemos nos esquecer de que os puros de coração verão a Deus.

Page 53: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 53/89

53

Reformador Março 2009 - Ano 127 Nº 2.160  – PAG 36/114  – 37/115

17 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

A conversão de Saulo

“O Mestre chama-o, da sua esfera de claridades imortais. Paulo tateia na treva dasexperiências humanas e responde: – Senhor, que queres que eu faça? Entre ele e Jesus

havia um abismo, que o Apóstolo soube transpor em decênios de luta redentora econstante.”(1) 

 _______________1. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírit o Emmanuel. 44. ed. Rio de J aneir o:FEB , 2007. B rev e notícia, p. 9.

HAROLDO DUTRA DIAS

 A s lições sublimes do Evangelho, como pérolas, se revelam nos menores gestosdo Mestre. Do círculo dos perseguidores do Cristianismo, Jesus convoca o verdugo deEstêvão, o primeiro mártir, para transformá-lo no apóstolo dos gentios.

O chamado de Saulo guarda a marca do perdão, com que a Providência Divinarenova as oportunidades aos filhos transviados.

Verdugo e vítima se unem, espiritualmente, para a maior tarefa de propagação do

Cristianismo Nascente, conferindo à mensagem da Boa Nova seu inigualável sabor deuniversalidade. A universalização do Cristianismo é contribuição de Paulo, no plano físico, e de

Estêvão, no plano espiritual, sob a égide do Cristo, que não cessa de prodigalizarbênçãos e serviços, visando o aprimoramento de seus tutelados na Terra.

 A conversão de Saulo representa a retomada de um destino, de uma missãoespiritual, que corria o risco de soçobrar, não fosse a misericórdia do Mestre. Neste artigo,focalizamos a data da referida conversão, em nossa tentativa de levantamento dos fatosmarcantes do primeiro século do Cristianismo no mundo.

Novamente, urge realizar uma combinação harmoniosa e criteriosa de dados, comvistas à formação de um quadro cronológico coerente e convincente, baseado nas

informações de Emmanuel:

“Estamos na velha Jerusalém, numa clara manhã do ano 35”.(2) _______________2. Idem , ibid em. P. 1, cap. 4, p. 84.

Naquelas primeiras horas da tarde, o sol de Jerusalém era um braseiro ardente.Não obstante o calor insuportável, a massa deslocou-se com profundo interesse.Tratava-se do primeiro processo concernente às atividades do “Caminho”, após amorte do seu fundador.[...] (3)

 _______________

3. Idem, ibidem. Cap. 8, p. 187-188.

Page 54: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 54/89

54

Oito meses de lutas incessantes passaram sobre a morte de Estêvão, quando omoço tarsense, capitulando ante a saudade e o amor que lhe dominavam a alma,resolveu rever a paisagem florida da estrada de Jope, onde por certoreconquistaria o afeto de Abigail, de maneira a reorganizarem todos os projetosde um futuro ditoso.(4)

 _______________4. Idem , ibid em. Cap. 9, p. 210.

Quando as sombras crepusculares se faziam mais densas, dois homensdesconhecidos entravam nos subúrbios da cidade. Embora a ventania afastasseas nuvens tempestuosas na direção do deserto, grossos pingos de chuva caíam,aqui e ali, sobre a poeira ardente das ruas. As janelas das casas residenciaisfechavam-se com estrépito. Damasco podia recordar o jovem tarsense [...]. (5)

 _______________5. XAVIER, Franci sco C.Op. ci t. P. 1, cap. 10, p. 250.

 Antes de comparar os textos, é conveniente relembrar algumas datas importantesdo primeiro século do Cristianismo, todas detalhadamente explicadas em ediçõesanteriores desta revista.

Sendo assim, considerando-se que a crucificação se deu em abril/maio do ano 33d.C.,(6) o encontro de Estêvão com Simão Pedro, na Casa do Caminho, ocorreu após ooutono de 34 d.C., mas antes de abril de 35 d.C., ou seja, antes de se completarem doisanos da crucificação.(7) _______________6. DUTRA, Harold o D. Cristianism o redivi vo: his tória da era apo stólica, a cru cificação d eJesus , Reform ado r, ano 126, n. 2.154, p. 33(351)-35(353), set. 2008.7. Idem , ibid em. O p rim eiro márti r, Reformado r, ano 127, n. 2.158, p. 29(27)--31(29), jan.

2009.

 Ao introduzir o episódio do martírio de Estêvão, afirma Emmanuel: “Estamos na velhaJerusalém, numa clara manhã do ano 35”, confirmando todos os cálculos precedentes.

Na descrição, propriamente dita, do referido martírio, o Benfeitor espiritual utiliza aseguinte expressão: “Naquelas primeiras horas da tarde, o sol de Jerusalém era umbraseiro ardente. Não obstante o calor insuportável [...]”. Assim, é lícito concluir:

O apedrejamento de Estêvão se deu no verão do ano 35 d.C.(8) _______________8. Idem , ibidem .

Decorridos oito meses da morte do primeiro Mártir, Saulo procura Abigail napequena propriedade rural situada na estrada de Jope, surpreendendo-a em grave estadode saúde.

Esse dramático encontro entre Saulo e Abigail só pode ter ocorrido no início doano 36 d.C. Saulo de Tarso, profundamente abatido com a morte de Abigail, renova osprocessos de perseguição aos cristãos e organiza a célebre viagem à cidade deDamasco, em busca de Ananias.

Na véspera de sua chegada, após viagem longa e penosa, o apóstolo dos gentiosé surpreendido pela visita do próprio Cristo, alterando-se definitivamente o rumo da suaexistência.

 Adentrando em Damasco, acometido de temporária cegueira, o jovem Saulo sente

que “grossos pingos de chuva caíam, aqui e ali, sobre a poeira ardente das ruas”. Nospaíses banhados pelo mar Mediterrâneo, o clima é muito semelhante, com verões secos e

Page 55: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 55/89

55

quentes, e invernos moderados e chuvosos. As estações do ano se dividem em doisgrandes blocos: primavera –verão (abril –setembro) e outono –inverno (outubro –março).

 A primavera tem início no mês de abril, quando cessam as chuvas.Nesse caso, é plausível postular, com base nos informes de Emmanuel, que a

conversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja, no primeiro trimestre do ano

36 d.C.

Page 56: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 56/89

56

Reformador Abril 2009 - Ano 127 Nº 2.161  – PAG 36/154  – 38/156

18 - Cristianismo Redivivo

Caminho para Deus

“Eu sou o Caminho.”(1) _______________1. Bíbl ia d e Jeru salém. 3. ed . São Pau lo : PAULUS, 2004. J oão, 14:6, p . 1879. 

HAROLDO DUTRA DIAS

 Às vésperas da sua prisão no Getsêmani, o Mestre reuniu a pequena comunidadedos seus discípulos diletos, com desvelado carinho, revelando os ásperos testemunhosque os aguardavam, apontando as diretrizes do trabalho apostólico e consolando ocoração aflito e temeroso dos seus seguidores.

Naquele momento, entregaria o Cristo aos homens a revelação inesquecívelacerca da sua pessoa e missão: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida. Ninguém vemao Pai a não ser por mim”.1 O  emissário celeste, com vistas à implantação do Reino deDeus no mundo, estabelecia o sublime roteiro, consubstanciado no seu Evangelho de Amor.

 A presença do Cristo no Orbe era prova de que o Céu descera à Terra, vencendogigantesco abismo, para revelar e provar a bondade e a misericórdia infinitas de Deus.

Pelo trabalho infatigável de suas mãos augustas, surgira para a Humanidade o luminosocaminho entre o coração humano e o Pai. A comunhão da criatura com o Criador tornara-se uma realidade.

 A comunidade cristã primitiva, incluindo os apóstolos, costumava utilizar em suascitações do Antigo Testamento uma versão grega, elaborada no século II a.C., conhecidacomo Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX).

Na Septuaginta, o vocábulo grego hodos (caminho) traduz a palavra hebraica derek(caminho). No sentido comum, esse termo indica o lugar no qual se anda, dirige oumarcha. Porém, desde a Antiguidade, a expressão é empregada em sentido figurado,significando “medidas, procedimentos,  o meio de atingir o alvo, o estilo e o modo derealizar algo”, ou ainda “o modo pelo qual se vive”. 

 Assim, hodos (caminho) pode significar os atos ou o comportamento dos homens,a forma como a vida é conduzida (Êxodo, 18:20). A vida como um todo, ou nos seusaspectos individuais, pode ser chamada “um caminho” (Salmos, 119:105; Isaías, 53:6).

Nesse contexto, a vida de uma pessoa pode ser qualificada de um modo positivo(Jeremias, 6:16; Provérbios, 8:20) ou de um modo negativo (Jeremias, 25:5; Provérbios,8:13). O ponto de referência, no Antigo Testamento, para avaliar o caminho que o homemsegue, é a vontade de Deus. Se o homem permite que a vontade Divina seja o fatordeterminante das suas ações, significa que anda no caminho de Deus. Caso contrário, eleapenas segue um caminho que escolheu para si (Jeremias, 7:23--24), que é o “caminho dos pecadores” (Salmos, 1:1).

Por esta razão, os textos dos Profetas constituem um verdadeiro chamamento aoarrependimento dos maus caminhos (Jeremias, 25:5; Isaías, 55:7). É nesse sentido quepode ser entendido o trabalho de João Batista como precursor, ou seja, aquele que

Page 57: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 57/89

57

prepara o caminho para Jesus, mediante o anúncio da vinda do Messias, e também,mediante o chamamento ao arrependimento.

Expressando esse ângulo do ensinamento, asseverou o Benfeitor Emmanuel:

Se o determinismo divino é o do bem, quem criou o mal?

 –  O determinismo divino se constitui de uma só lei, que é a do amor para acomunidade universal. Todavia, confiando em si mesmo, mais do que em Deus, ohomem transforma a sua fragilidade em foco de ações contrárias a essa mesmalei, efetuando, desse modo, uma intervenção indébita na harmonia divina.Eis o mal.Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime.Eis o resgate. [...]O Criador é sempre o pai generoso e sábio, justo e amigo, considerando os filhostransviados como incursos em vastas experiências. Mas, como Jesus e os seusprepostos são seus cooperadores divinos, e eles próprios instituem as tarefascontra os desvios das criaturas humanas, focalizam os prejuízos do mal com a

força de suas responsabilidades educativas, a fim de que a Humanidade sigaretamente no seu verdadeiro caminho para Deus.(2) (Grifo nosso.)

 _______________2. XAVIER, Francis co C. O con so lador. Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro : FEB , 2008. Q. 135.

Não é por outra razão que a expressão “andar nos caminhos do Senhor” significa, no Antigo Testamento, agir de acordo com a vontade de Deus, revelada em seusmandamentos, estatutos e ordenanças (1Reis, 2:3; 8:58).

 A lei de Deus é chamada “o  caminho do Senhor” (Jeremias,  5:4), e os Profetas seesforçam para convencer as pessoas da necessidade de sua observância, porque Israel

sucumbe, vezes sem conta, à tentação de evitar as admoestações Divinas (Êxodo, 32:8;Malaquias, 2:8). Considerando-se as enormes dificuldades encontradas para manter-sefiel aos desígnios divinos, pode-se entender a euforia do salmista: “Guardei os caminhos do Senhor” (Salmos, 18:21). 

Nessa linha interpretativa, Emmanuel assim se expressa:

 A vida deveria constituir, por parte de todos nós, rigorosa observância dossagrados interesses de Deus.(3)

 _______________3. Idem . Caminh o, verdad e e vid a. Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. Rio d e Janeiro: FEB,2008. Cap . 21.

É por essa razão que vemos o Messias coroando sua obra com o sacrifícioextremo, tomando a cruz da ignomínia sem uma queixa, deixando-se imolar, semqualquer reprovação aos seus algozes. Do cimo do madeiro, exemplificava a suafidelidade a Deus, aceitando serenamente os desígnios do Céu, em testemunho sublimedo seu inexcedível amor pelos rebeldes tutelados.

Na hora sombria da cruz, caminha humilde, coroado de espinhos, ensinando arenúncia por amor ao Reino de Deus, revelando à Humanidade o caminho da redenção.

Emmanuel, enfocando essa nuance do ensino, relata:

 A localização histórica de Jesus recorda a presença pessoal do Senhor da Vinha.

O Enviado de Deus, o Tutor Amoroso e Sábio, veio abrir caminhos novos eestabelecer a luta salvadora para que os homens reconheçam a condição deeternidade que lhes é própria.(4)

Page 58: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 58/89

58

 _______________4. Idem , ibid em. Cap . 133, p. 282.

Por fim, no Evangelho de João, a palavra hodos (caminho) se aplica à pessoa deJesus, de modo sem igual no Novo Testamento. O discípulo amado registra para aposteridade as suaves exortações do Senhor, nos últimos instantes de sua presençafísica entre eles.

Mais uma vez, Emmanuel esclarece o tema:

Jesus é o nosso caminho permanente para o Divino Amor. Junto dele seguem,esperançosos, todos os espíritos de boa vontade, aderentes sinceros ao roteirosantificador. Dessa via bendita e eterna procedem as sementes da Luz Celestialpara os homens [...] (5)

 _______________5. Idem. Pão nos so . Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 1. reimp. Rio d e Janeiro : FEB , 2008.Cap. 25.

Não podemos nos esquecer. 

Page 59: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 59/89

59

Reformador Maio 2009 - Ano 127 Nº 2.162  – PAG 34/192  – 36/194

19 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

A preparação no deserto

“O ex-rabino modificara o próprio aspecto, ao contato direto das forças agressivas daNatureza. [...] Entretanto, a solidão, as disciplinas austeras, o tear laborioso, lhe haviam

enriquecido a alma de luz e serenidade. Os olhos calmos e profundos atestavam os novosvalores do espírito. Entendera, finalmente, aquela paz desconhecida que Jesus desejara

aos discípulos.”(1) _______________1. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírit o Emmanuel. 44. ed. Rio de J aneir o:FEB, 2007. P. 2, cap . 2, p. 313. 

HAROLDO DUTRA DIAS

O romance mediúnico Paulo e Estêvão representa uma dádiva da Espiritualidadesuperior. Além de relatar o perfil dos personagens mais destacados do CristianismoNascente, bem como suas transformações ao longo do tempo, fornece dados históricosextremamente importantes para a reconstrução do primeiro século, tornando possível acompreensão de pontos obscuros do Novo Testamento.

Novamente, urge realizar uma combinação harmoniosa e criteriosa de dados, comvistas à formação de um quadro cronológico coerente e convincente, baseado nasinformações de Emmanuel:

Quando as sombras crepusculares se faziam mais densas, dois homensdesconhecidos entravam nos subúrbios da cidade. Embora a ventania afastasseas nuvens tempestuosas na direção do deserto, grossos pingos de chuva caíam,aqui e ali, sobre a poeira ardente das ruas. As janelas das casas residenciaisfechavam-se com estrépito.Damasco podia recordar o jovem tarsense [...] (2)

 _______________

2. Idem , ibid em. P. 1, cap. 9, p. 250.

Naquela tarde, Gamaliel deixou a rústica choupana, dirigindo-se com o ex-discípulo à casa do irmão, que acolheu, desde então, o jovem tarsense [...][...] o velho rabino de Jerusalém expôs ao negociante a situação do seu protegido.[...] esclareceu que ele tencionava trabalhar como tecelão nas tendas do deserto[...]Daí a três dias, Saulo despedia-se do mestre, debaixo de profunda comoção.(3)

 _______________3. Idem, ib idem . P. 2, cap. 2, p. 301-302 e 304.

Quando mais de um ano havia corrido sobre aquela soledade, uma caravanavinda de Palmira trazia-lhe um bilhete lacônico. O negociante comunicava-lhe amorte súbita do irmão, aliás de há muito esperada.

Page 60: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 60/89

60

 A partida de Gamaliel para os reinos da morte não deixou de ser uma dolorosasurpresa. [...] (4) 

 _______________4. XAVIER, Franci sco C. Op. cit . P. 2, cap. 2, p. 314.

Com efeito, depois da passagem da grande caravana que lhes trazia ossubstitutos, servidos de um camelo, os três irmãos do “Caminho” deixaram  ooásis em direção a Palmira, onde a família de Gamaliel os acolheu comdesvelado carinho. Áquila e a mulher ali ficariam algum tempo ao serviço de Ezequias, até quepudessem realizar o formoso ideal de trabalho na poderosa Roma dos césares,mas Saulo de Tarso, agora resistente como um beduíno, depois de agradecer agenerosidade do benfeitor e despedir-se dos amigos com lágrimas nos olhos,tomou novamente o rumo de Damasco, radicalmente transformado pelasmeditações de três anos consecutivos, passados no deserto. (5) (Grifo nosso.)

 _______________

5. Idem , ibidem. p. 320.

Em dois minutos achou-se novamente na via pública. Era quase meio-dia, um diaquente. Sentiu sede e fome. Consultou a bolsa, estava quase vazia. Um resto doque recebera das mãos generosas do irmão de Gamaliel, ao deixar Palmiradefinitivamente. [...] (6)

 _______________6. Idem , ibid em. P. 2, cap. 3, p. 340.

 Antes de comparar os textos, é conveniente relembrar algumas datas importantes,todas detalhadamente explicadas em edições anteriores desta revista.

 Após organizar a célebre viagem à cidade de Damasco, em busca de Ananias,Saulo adentra em Damasco, acometido de temporária cegueira, e sente que

[...] “grossos pingos de chuva caíam, aqui e ali, sobre a poeira ardente das ruas”.Nos países banhados pelo mar Mediterrâneo, o clima é muito semelhante, comverões secos e quentes e invernos moderados e chuvosos. As estações do anose dividem em dois grandes blocos: primavera –verão (abril –setembro) e outono –inverno (outubro –março). A primavera tem início no mês de abril, quando cessam as chuvas.Nesse caso, é plausível postular, com base nos informes de Emmanuel, que aconversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja, no primeiro trimestre

do ano 36 d. C. (7) _______________7. DIAS, Harold o D. Cristianismo red ivivo : his tória da era apos tólica, a con versão d e Saulo,Reformado r, ano 127, n. 2.160, p. 36(114)-37(115), mar. 2009.

O tempo de permanência do antigo doutor da lei no deserto de Palmira foiestabelecido de forma precisa por Emmanuel: três anos. Durante sua estada no Oásis deDan, foi surpreendido com a notícia da morte do seu grande orientador, Gamaliel.

Retornando para Damasco, Paulo se vê obrigado a fugir da cidade, em razão demandado de prisão expedido pelo Sinédrio. Empreende, então, a primeira viagem àcidade de Jerusalém, após sua conversão.

Nesse ponto, o Benfeitor Emmanuel, utilizando recurso por nós conhecido,menciona as condições climáticas da cidade de Jerusalém, de modo a construir sua

Page 61: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 61/89

61

cronologia com base nas estações do ano, evitando-se imprecisões decorrentes daconversão do calendário judaico para o gregoriano.

Sendo assim, não é difícil concluir que a chegada de Paulo em Jerusalém se deunum dia quente de verão, três anos após sua conversão em Damasco. Portanto, aprimeira viagem de Paulo a Jerusalém ocorreu no verão do ano 39 d.C.

Trata-se de uma data importantíssima para toda a cronologia do primeiro século doCristianismo, bem como para a cronologia da própria vida de Paulo.Na segunda epístola aos Coríntios, Paulo menciona que o “etnarca do rei Aretas”

guardava Damasco por ocasião de sua fuga dramática em um cesto (2 Cor. 11:32-33).Ora, o rei nabateu Aretas IV morreu entre 38 e 40 d.C. (provavelmente em 39 d.C.). Asseveram os pesquisadores ser improvável o controle nabateu de Damasco antes doano 37 d.C., quando a ascensão de Calígula ao trono assinalou uma nova política romanapara com os reis dependentes.

Por esta razão, acreditam que a fuga de Damasco se deu entre 37 e 39 d.C. Oromance mediúnico nos confirma que a fuga se deu no ano 39 d.C.

Na epístola aos Gálatas (Gl., 1:16-20), o Apóstolo dos gentios descreve sua

conversão, sua permanência de três anos na Arábia e sua primeira visita a Jerusalém,que, somadas ao relato de Atos dos Apóstolos (At., 9:1-30), nos confirmam os eventos,todavia, não nos oferecem um referencial seguro para a estruturação da cronologia.

Nesse caso, as indicações detalhadas de Emmanuel, na obra mediúnica,representam uma importante contribuição da Espiritualidade para a determinação precisadesses marcos cronológicos.

Page 62: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 62/89

62

Reformador Junho 2009 - Ano 127 Nº 2.163  – PAG 29/227  – 31/229

20 - Cristianismo Redivivo

Revelação Divina

“Eu sou [...] a Verdade.”(1) _______________1. Bíbl ia d e Jeru salém. 3. ed . São Pau lo : PAULUS, 2004. J oão, 14:6, p . 1879.

HAROLDO DUTRA DIAS

Frequentemente, nas proximidades do Tiberíades, o Mestre reunia seus discípulos

para a pregação da Boa Nova do reino. Não raro, inúmeras pessoas, entre transeuntes emoradores da região, se juntavam ao grupo de seguidores do Cristo, atraídos pela doçurae pelo vigor daquelas palavras.

 Assim, as primeiras peregrinações de Jesus e de seus discípulos alcançaraminesquecíveis triunfos, sobretudo entre os desfavorecidos e marginalizados, que seenchiam de consolações ante promessas divinas do Evangelho.

Naquele tempo, a palavra reinava soberana, por se tratar de uma cultura em quepredominava a transmissão oral do conhecimento, reservando-se à escrita uma posiçãosecundária.

Na verdade, os textos que compõem o Novo Testamento representam apenas umaminúscula parcela da tradição oral. Podemos afirmar com segurança que o Evangelho é

fruto da pregação e da exemplificação do Cristo. João Evangelista inicia seu livro com afrase: “No princípio era o Verbo”,  demonstrando a força da pregação na difusão doCristianismo.

No texto hebraico do Antigo Testamento, a palavra emet (verdade) significa aquiloque é fidedigno, confiável, razão pela qual muitas vezes é traduzida como fidelidade,lealdade, firmeza.

No contexto sociocultural do Antigo Testamento, a verdade não era meramente umconceito abstrato, teórico, localizado em um âmbito atemporal, ou extra-histórico, maspelo contrário era vista como algo que podia ser comprovado na experiência prática,aquilo que era testemunhado diariamente na palavra e na conduta do homem. Pode-seconfiar em uma verdade deste tipo, pois ela é firme, segura. Daí o sentido de fiel,

fidedigno, confiável. A LXX (Versão dos Setenta) traduz emet (verdade) não somente como aletheia

(verdade), mas também como pistis (fé ou fidelidade). Desse modo, pode-se concluir queessa palavra hebraica abarca os dois sentidos, verdade e fidelidade, razão pela qual,constantemente, é usada em oposição a engano ou falsidade.

No Novo Testamento, encontramos Jesus utilizando a palavra verdade em muitasde suas pregações. Seus ditos atacavam a hipocrisia, ou, de modo mais geral, qualquerdiscrepância entre a palavra e a ação, ou entre a palavra e a realidade. Condenava todasaquelas atitudes enganosas, baseadas numa contradição entre o que se diz e o que sefaz.

Jesus é o Messias em palavras e em ações, mostrando uma vida íntegra queculmina na cruz. Sua vida fornece o exemplo de suas prédicas. Não apenas prega comotambém testemunha, demonstrando absoluta correspondência entre palavra e ação.

Page 63: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 63/89

63

Considerando essa relação entre ação e palavra como uma das características daverdade, foi que Jesus ensinou: “Para isso nasci e  para isso vim ao mundo: para dartestemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz”. (João 18:37.) Noutraocasião afirmou: “Santifica-os na verdade; tua palavra é verdade”. (João, 17:17.)

O Benfeitor Emmanuel, com pleno conhecimento desse aspecto do vocábulo

verdade, bem como da importância da tradição oral, na época do Cristo, asseverou:Toda dissertação moldada no bem é útil. Jesus veio ao mundo para isso, pregoua verdade em todos os lugares, fez discursos de renovação, comentou anecessidade do amor para a solução de nossos problemas. No entanto, misturoupalavras e testemunhos vivos, desde a primeira manifestação de seu apostoladosublime até a cruz. Por pregação, portanto, o Mestre entendia igualmente ossacrifícios da vida. [...] (2)

 _______________2. XAVIER, Francis co C. Caminh o, verd ade e vid a. Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. Rio d eJaneiro : FEB , 2008. Cap. 38, p. 92.

Um dos usos mais distintivos que Paulo faz da palavra aletheia (verdade) é oemprego deste vocábulo para designar o próprio Evangelho. (Gálatas, 2:5; 5:7.) Nessecontexto paulino, a Boa Nova é a mensagem da salvação, revelada por Deus, emcontraste com meras imaginações humanas. Paulo herda o ponto de vista proféticohebraico de que a verdade divina se opõe à idolatria, precisamente porque a idolatria élogro e ilusão. (Romanos, 1:25.)

Essa nuance de significado da palavra verdade não passou despercebida doEspírito Emmanuel:

[...] Alicerçando o serviço salvador que Ele mesmo trazia das esferas mais altas,

proclama o Cristo à Humanidade que só existe um Senhor Todo-Poderoso – o Paide Infinita Misericórdia. Sabia, de antemão, que muitos homens não aceitariam averdade, que almas numerosas buscariam escapar às obrigações justas, quesurgiriam retardamento, má vontade, indiferença e preguiça, em torno da BoaNova; no entanto, sustentou a unidade divina, a fim de que todos os aprendizesse convencessem de que lhes seria possível envenenar a liberdade própria, criardeuses fictícios, erguer discórdias, trair provisoriamente a Lei, estacionar noscaminhos, ensaiar a guerra e a destruição, contudo, jamais poderiam enganar oplano das verdades eternas, ao qual todos se ajustarão, um dia, na perfeitacompreensão de que “o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só”.(3)

 _______________3. Idem. Pão n os so . Pelo Es pírit o Emmanuel. 29. ed. Rio d e Janeiro : FEB , 2008. Cap. 105.

No Evangelho de João, no entanto, aletheia (verdade) se liga à pessoa do próprioCristo. (João, 14:6.) Jesus é o caminho e o alvo, ou seja, aquilo que o homem busca e omodo de atingi-lo. Nesse sentido, a verdade não é abstrata, pelo contrário é revelada navida pessoal e real do Cristo.

Por outro lado, Jesus é a revelação de Deus aos homens, portanto, o testemunhodo próprio Deus. Ele diz Deus, na medida em que reflete o Criador em toda sua pureza.(João, 14:7.)

Nesse sentido, vale transcrever o ensino de Emmanuel no tocante a este aspectodo vocábulo:

Diante de cada discípulo, no reino individual, Jesus é a verdade sublime ereveladora.

Page 64: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 64/89

64

Todo aquele que lhe descobre a luz bendita absorve-lhe os raios celestes,transformadores... E começa a observar a experiência sob outros prismas, elegemais altos padrões de luta, descortina metas santificantes e identifica-se comhorizontes mais largos. O reino do próprio coração passa a gravitar ao redor donovo centro vital, glorioso e eterno. E à medida que se vai desvencilhando das

atrações da mentira, cada discípulo do Senhor penetra mais intensivamente naórbita da Verdade, que é a Pura Luz.(4) _______________4. XAVIER, Francis co C. Vinha d e luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de J aneiro: FEB,2008. Cap. 175, p. 388. 

Page 65: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 65/89

65

Reformador Julho 2009 - Ano 127 Nº 2.164  – PAG 34/272  – 35/273

21 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

O regresso a Tarso

“Concedamos que pudéssemos atrair para o Mestre toda cidade. E depois? Deverias epoderias responder por todos os que aderissem ao teu esforço? A verdade é que poderiasatrair, nunca, porém, converter. [...] Se Jesus, que tudo pode neste mundo sob a égide do

Pai, espera com paciência a conversão do mundo, por que não poderemos esperar, denossa parte?”(1)

 _______________1. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírit o Emmanuel. 44. ed. Rio de J aneir o:FEB , 2007. P. 2, cap . 3, p. 363.

HAROLDO DUTRA DIAS

Paulo de Tarso, ao retornar pela primeira vez a Jerusalém, após sua conversão, éconstrangido a colher os frutos da sementeira infeliz, realizada anos antes, quando searvorou em perseguidor implacável dos primeiros cristãos.

 A Lei Divina, com suas disposições soberanamente justas e misericordiosas,proporcionaria ao Doutor da Lei o ensejo da renovação dos quadros dolorosos de outrora,

mediante o trabalho paciente e árduo.Por esta razão, a primeira visita a Jerusalém reveste-se de significado especial navida do Apóstolo dos Gentios. Não obstante a profunda transformação espiritual,favorecida pela longa permanência no deserto, ao contemplar o panorama de lutas,trabalhos e sacrifícios que o aguardavam, Paulo sente necessidade de retomar sua vidano ambiente familiar de Tarso.

 A cidade natal do tecelão oferecia as condições favoráveis para que a planta tenrado Evangelho pudesse alcançar o crescimento e a robustez indispensáveis aodesempenho dos compromissos assumidos na seara do Cristo.

Por conseguinte, fixar a data em que Paulo se instalou em Tarso, bem como otempo de sua permanência naquela cidade, equivale a lançar luz sobre os primeiros dias

de sua atividade missionária.Novamente, combinando textos, estabelecemos um quadro cronológico baseadonos informes de Emmanuel:

[...] Saulo de Tarso, agora resistente como um beduíno, depois de agradecer agenerosidade do benfeitor e despedir-se dos amigos com lágrimas nos olhos,tomou novamente o rumo de Damasco, radicalmente transformado pelasmeditações de três anos consecutivos, passados no deserto.(2) (Grifo nosso.)

 _______________2. Idem , ibidem. p. 320.

Em dois minutos achou-se novamente na via pública. Era quase meio-dia, um diaquente. Sentiu sede e fome. Consultou a bolsa, estava quase vazia. Um resto do

Page 66: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 66/89

66

que recebera das mãos generosas do irmão de Gamaliel, ao deixar Palmiradefinitivamente. (3) (Grifo nosso.)

 _______________3. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. Rio de J aneir o:FEB , 2007. P. 2, cap . 3, p. 340.

 – À vista do que ocorreu  – prosseguiu o ex-pescador serenamente –, importa quete vás logo que caia a noite. A luta iniciada na Sinagoga dos cilícios é muito maisimportante que os atritos de Damasco. [...] (4)

 _______________4. Idem , ibidem. p. 364.

[...] A atitude paterna só lhe agravara as desilusões. Repelindo-o, o genitorlançava-o num abismo .Agora começava a compreender que, reencetar aexistência, não era volver à atividade no ninho antigo, mas principiar, do fundodalma, o esforço interior, alijar o passado nos mínimos resquícios, ser outro

homem enfim. [...]Quando deu acordo de si, a noite havia fechado de todo. O céu orientalresplandecia de estrelas. Ventos suaves sopravam de longe, refrescando-lhe afronte incandescida.[...] (5)

 _______________5. Idem , ibid em. p . 375-376.

Mais tarde na II Epístola aos Coríntios (12:2-4) Saulo afirmava:  –  “Conheço umhomem em Cristo que há 14 anos [...]”. Dessa gloriosa experiência o Apóstolo dosgentios extraiu novas conclusões sobre suas ideias notáveis, referentemente ao

corpo espiritual. (6) (Grifo nosso.) _______________6. Idem , ib idem . Not a de r od apé, n. 1, p. 376-377.

 Assim, durante três anos, o solitário tecelão das vizinhanças do Tauroexemplificou a humildade e o trabalho, esperando devotadamente que Jesus oconvocasse ao testemunho.(7) (Grifo nosso.)

 _______________7. Idem , ibidem. p. 385.

Sabemos que a chegada de Paulo em Jerusalém se deu num dia quente de verão,

três anos após sua conversão em Damasco, ou seja, no verão do ano 39 d.C. Suapermanência na Judeia foi extremamente curta, pois se viu obrigado a fugir daperseguição dos membros da Sinagoga dos cilícios, após ter feito ardorosa pregaçãonaquele local.

Confirmando a sequência cronológica, Emmanuel descreve mais uma vez,aparentemente de forma despretensiosa, a situação climática de Tarso. Não há dúvidasde que continuamos no verão do ano 39 d.C.

 Adormecendo naquele ambiente agreste, Paulo foi transportado espiritualmente àregião de grande elevação, onde encontrou Estêvão e Abigail. Em nota de pé de página,Emmanuel esclarece que essa visão foi narrada na II Epístola aos Coríntios 12:2-4.

Nessa carta, diz o Apóstolo que a experiência se deu 14 anos atrás. Logo, a carta

foi escrita no ano 53 d.C. Essa data confere com as hipóteses levantadas pelosestudiosos que situam sua redação entre os anos 53 d.C. e 56 d.C.

Page 67: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 67/89

67

O tecelão permaneceu em Tarso por três anos, até que Barnabé o convidasse paraos trabalhos promissores na Igreja de Antioquia.

Page 68: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 68/89

68

Reformador Setembro 2009 - Ano 127 Nº 2.166  – PAG 30/348  – 32/350

22 -Cristianismo Redivivo

Vida e morte

“Eu sou [...] a Vida.”(1) _______________1. Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo: PAULUS, 2004. João, 14:6, p. 1879. 

HAROLDO DUTRA DIAS 

No limiar do Saltério, encontramos o belíssimo verso “Feliz o homem que não vai 

ao conselho dos ímpios, não  para no caminho dos pecadores, nem se assenta na rodados zombadores”.  (2)  (Grifo nosso.) Este Salmo oferece uma síntese perfeita dosensinamentos morais encontrados nas Escrituras. Há dois caminhos: o do justo e o doinjusto. _______________2. Idem , ibid em. Salmo, 1:1, p. 864.

O primeiro nos conduz à plenitude da “vida”, ao passo que o segundo nos leva àperdição da “morte”. Comentando o referido poema, os sábios da Palestina diziam haveruma espécie de encadeamento, uma progressão na prática do mal. Quem segue oconselho dos criminosos acaba se detendo no caminho dos perversos, e termina por

zombar das realidades divinas.Por outro lado, aquele que se entrega à prática do bem é semelhante a uma árvorefrondosa, plantada próxima de um riacho, cujas folhas nunca murcham e os frutos nuncase acabam, segundo a linguagem poética do referido salmo.

No Evangelho de João encontramos a inusitada afirmativa de Jesus: “Eu sou [...] aVida”. A assertiva  merece atenção e reclama interpretação cuidadosa à luz dosensinamentos trazidos pela Espiritualidade Superior, sistematizados e codificados naDoutrina Espírita.

Sugerimos que, para a judiciosa compreensão do vocábulo “vida”,  no sentidoempregado por Jesus naquele versículo, é imperioso o exame de sua antítese: “morte”. Compreendendo o significado do termo “morte” nas Escrituras, poderemos apreender o

sentido pleno da palavra “vida”. Há três textos de Emmanuel que podem nos socorrer nessa tarefa:

Espiritualmente falando, apenas conhecemos um gênero temível de morte  – a daconsciência denegrida no mal, torturada de remorso ou  paralítica nosdespenhadeiros que marginam a estrada da insensatez e do crime.(3)  (Grifonosso.)

 _______________3. XAVIER, Franc is co C. Pão nos so . Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro : FEB, 2008. Cap. 42.

No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas conhece, defato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo desvio daLei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem atividade

Page 69: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 69/89

69

espiritual edificante, de alma endurecida e coração paralítico. [...] (4)  (Grifonosso.)

 _______________4. Idem . Caminh o, verdade e vida. Pelo Es pírito Emm anuel. 28. ed. 2. reimp. Rio d e Janeiro :FEB, 2009. Cap. 108.

O bem semeia a vida, o mal semeia a morte. O primeiro é o movimento evolutivona escala ascensional para a Divindade, o segundo é a estagnação.Muitos Espíritos, de corpo em corpo, permanecem na Terra com as mesmasrecapitulações durante milênios. A semeadura prejudicial condicionou-os àchamada “morte no pecado”. Atravessam os dias, resgatando débitos escabrosose caindo de novo pela renovação da sementeira indesejável. A existência delesconstitui largo círculo vicioso, porque o mal os enraíza ao solo ardente e árido das paixões ingratas.(5) (Grifo nosso.)

 _______________5. XAVIER, Francis co C. Caminh o, verd ade e vid a. Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. 2. reimp.

Rio d e Janeiro: FEB, 2009. Cap. 35, p. 85-86.

É notória a semelhança entre o vocabulário utilizado pelo salmista e porEmmanuel. Pode-se concluir que essa intencional analogia de palavras, adotada peloBenfeitor espiritual em seus comentários do Evangelho, tenha uma finalidade didática:facilitar o processo interpretativo.

Essas lições nos revelam que o caminho da injustiça, da maldade e da inferioridademoral guarda a marca da “paralisia” espiritual, da “estagnação”. Enfim, da prisão do ser ao“círculo vicioso” retratado no Salmo acima citado.

Mesmo quando o mal procede do exterior, somente se enraíza em nosso ser, secom ele nos afinamos, na intimidade do coração. Por esta razão, advertem-nos os amigos

espirituais que a extensão de nossa inferioridade se mede pela natureza das coisas esituações que nos atraem.O mal, nesta ótica, é a estagnação da alma que permitiu o desvio dos seus

sentimentos mais nobres. Milênios de fixação nos caminhos do mal acabam por constituirem nós “o fundo viciado e perverso da natureza humana primitivista”.(6) _______________6. Idem , ibid em. Cap . 129, p. 274.

O Cristo, tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir deguia e modelo, representa a “vida” – estado de alma alcançado por aquele que se dispõea trilhar o “caminho” do amor, expressando  em sua individualidade os clarões da

“verdade” –  pois o Mestre reflete a bondade e a sabedoria divinas em sua conduta,conforme atestam os registros evangélicos acerca da sua passagem pela Terra.Não é por outra razão que Jesus ressuscitou Lázaro, símbolo da Humanidade

escravizada no mal, e “morta no pecado”. Da mesma forma, continua ressuscitando consciências, devolvendo-lhes o sagrado dom da “vida”. 

Nessa linha interpretativa, Emmanuel assim se expressa:

Em razão disso, o Divino Mestre veio até nós para que sejamos portadores devida transbordante, repleta de luz, amor e eternidade. [...]Não nos visitou o Cristo, como doador de benefícios vulgares. Veio ligar-nos alâmpada do coração à usina do Amor de Deus, convertendo-nos em luzes

inextinguíveis. (7) (Grifo nosso.) _______________

Page 70: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 70/89

70

7. XAVIER, Francis co C. Caminh o, verd ade e vid a. Pelo Espírito Emm anuel. 28. ed. 2. reimp .Rio d e Janeiro: FEB, 2009. Cap. 166, p. 347-348.

 A alma voltada para o Cristo quase sempre foi ressuscitada por seu amor,escapando à sombra dos pesadelos intelectuais que operam a morte dosentimento... Muitos homens estão mortos, soterrados nos sepulcros daindiferença, do egoísmo, da negação. Quando um companheiro, como Lázaro,tem a felicidade de ser tocado pelo Cristo, eis que se estabelece a curiosidadegeral em torno de suas atitudes. Todos desejam conhecer-lhe as modificações.(8) (Grifo nosso.)

 _______________8. Idem , ibid em. Cap . 113, p. 241-242.

Por fim, cumpre ressaltar que a expressão “caminho, verdade e vida” constitui umaautêntica progressão no bem e no amor. Primeiramente é preciso trilhar o caminho do justo, traçado no Evangelho pela exemplificação do Mestre. Em seguida, é imperioso

harmonizar palavra e ação, de modo que nossa vida reflita verdadeiramente nossa fé. Porfim, cumpre edificar o “Reino de Deus” no coração,  para que nos desvencilhemos doslaços da “morte” no mal, a fim de alcançarmos a plenitude da vida imortal com o Cristo.

Nesse contexto, vale lembrar as assertivas do Benfeitor Emmanuel:

[...] Expressões transitórias de poder humano não atestam o Reino de Deus. Arealização divina começará do íntimo das criaturas, constituindo gloriosa luz dotemplo interno. Não surge à comum apreciação, porque a maioria dos homenstransita semicegos, através do túnel da carne, sepultando os erros do passadoculposo. A carne é digna e venerável, pois é vaso de purificação, recebendo-nos para o

resgate preciso; entretanto, para os espíritos redimidos significa “morte” ou“transformação permanente”. O homem carnal, em vista das circunstâncias quelhe governam o esforço,  pode ver somente o que está “morto” ou aquilo que “vaimorrer”. O Reino de Deus, porém, divino e imortal, escapa naturalmente à visãodos humanos.(9) (Grifo nosso.)

 _______________9. Idem , ibid em. Cap . 107, p. 229-230.

Page 71: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 71/89

71

Reformador Outubro 2009 - Ano 127 Nº 2.167  – PAG 34/392  – 36/394

23 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

A Igreja de Antioquia

“A instituição for a iniciada por discípulos de Jerusalém, sob os alvitres generosos deSimão Pedro. [...] Antioquia era dos maiores centros operários. Não faltavam contribuintes

para o custeio das obras [...] entretanto, escasseavam os legítimos trabalhadores dopensamento. [...] A instituição de Antioquia era, então, muito mais sedutora que a própriaigreja de Jerusalém. Vivia-se ali num ambiente de simplicidade pura [...]. Havia riqueza,

porque não faltava trabalho. Todos amavam as obrigações diuturnas, aguardando orepouso da noite nas reuniões da igreja, qual uma bênção de Deus. [...] A união de

pensamentos em torno de um só objetivo dava ensejo a formosas manifestações deespiritualidade. Em noites determinadas, havia fenômenos de ‘vozes diretas’”(1)

 _______________1. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírit o Emmanuel. 44. ed. Rio de J aneir o:FEB , 2007. P. 2, cap . 4, p. 387-388, 391-392.

HAROLDO DUTRA DIAS

Sabemos que a chegada de Paulo em Jerusalém se deu num dia quente de verão,

três anos após sua conversão em Damasco, ou seja, no verão do ano 39 d.C. Suapermanência na Judeia foi extremamente curta, pois se viu obrigado a fugir daperseguição dos membros da Sinagoga dos cilícios, após ter feito ardorosa pregaçãonaquele local.

Em seguida, aconselhado por Simão Pedro, o tecelão fixou residência em suacidade natal, Tarso, pelo período de três anos, até que Barnabé o convidasse para ostrabalhos promissores na Igreja de Antioquia.

Novamente, combinando textos, estabelecemos um quadro cronológico baseadonos informes de Emmanuel e Irmão X:

 Assim, durante três anos, o solitário tecelão das vizinhanças do Tauro

exemplificou a humildade e o trabalho, esperando devotadamente que Jesus oconvocasse ao testemunho.(2) (Grifo nosso.) _______________2. Idem , ibid em. P. 2, cap. 3, p. 385.

[...] Ainda, aí, entrou a compreensão de Pedro para que não faltasse ao tecelãode Tarso o ensejo devido. Observando as dificuldades, depois de indicar Barnabépara a direção do núcleo do “Caminho”, aconselhou-o a procurar o convertido deDamasco, a fim de que sua capacidade alcançasse um campo novo de exercícioespiritual. [...] Pressuroso e prestativo, Saulo de Tarso em breve se instalava em Antioquia, onde passou a cooperar ativamente com os amigos do Evangelho.(3)

 _______________3. Idem , ibid em. P. 2, cap. 4, p. 388.

Page 72: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 72/89

72

Com efeito, daí a meses, um portador da igreja de Jerusalém chegavaapressadamente a Antioquia, trazendo notícias alarmantes e dolorosas. Em longamissiva, Pedro relatava a Barnabé os últimos fatos que o acabrunhavam. Escreviana data em que Tiago, filho de Zebedeu, sofrera a pena de morte, em grandeespetáculo público. [...] (4) (Grifo nosso.)

 _______________4. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírit o Emmanuel. 44. ed. Rio de J aneir o:FEB , 2007. P. 2, cap . 4, p. 395.

Onze anos após a crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foiviolentamente arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim deresponder a processo infamante.[...]O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande poste e, ali mesmo, soba alegação de que Herodes lhe decretara a pena, legionários do povo passam-nopela espada, enquanto a turba estranha lhe apedreja os despojos. (5)  (Grifo

nosso.) _______________5. Idem . Cont os des ta e dout ra vi da. Pelo Espírit o Irmão X. 2. ed. 1. reim p. Rio de Janeir o:FEB , 2008. Cap. 23, p. 111-112.

Imensas surpresas aguardavam os emissários de Antioquia, que já nãoencontraram Simão Pedro em Jerusalém. As autoridades haviam efetuado aprisão do ex-pescador de Cafarnaum, logo após a dolorosa execução do filho deZebedeu. [...] (6) 

 _______________6. Idem. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. P. 2,cap. 4, p. 396-397.

Dentro em pouco, cheios de confiança em Deus, Saulo e Barnabé, seguidos porJoão Marcos, despediam-se dos irmãos, a caminho de Selêucia. A viagem para olitoral decorreu em ambiente de muita alegria. De quando a quando, repousavamà margem do Oronte, para a merenda salutar. À sombra dos carvalhos, na pazdos bosques enfeitados de flores, os missionários comentaram as primeirasesperanças. (7) (Grifo nosso.)

 _______________7. Idem, ibidem. p. 410.

Considerando que Paulo permaneceu três anos em Tarso, podemos concluir que asua chegada em Antioquia se deu por volta do ano 42 d.C., durante ou após o verão.No livro Atos dos Apóstolos (Cap.11, 12 e 13), há relatos de inúmeros fatos

ocorridos durante a permanência do Apóstolo em Antioquia. Alguns merecem especialdestaque para os nossos propósitos: 1) A mudança do nome dos seguidores de Jesus,que passaram a se chamar “cristãos”, um ano depois da chegada de Paulo (Atos, 11:26);2) As previsões do profeta Ágabo a respeito dos martírios em Jerusalém (Atos, 11:28); 3)O martírio de Tiago, filho de Zebedeu, e irmão de João Evangelista (Atos, 12:2); 4)

 A prisão de Simão Pedro (Atos, 12:3); 5) A morte de Herodes (Atos, 12:23); 6) Aviagem de Paulo e Barnabé a Jerusalém (Atos, 12:25); 7) A primeira viagem missionáriade Paulo e Barnabé (Atos, 13:2-4). O martírio de Tiago ocorreu, segundo o relato do

Espírito Irmão X, onze anos após a crucificação. Em publicações anterioresdemonstramos que a crucificação de Jesus se deu em abril/maio do ano 33 d.C., (8) 

Page 73: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 73/89

73

portanto, Tiago morreu no ano 44 d.C., data em que Simão Pedro escreveu a missivapara Barnabé, que se encontrava em Antioquia. _______________8. Consultar o art igo int i tulado Crist ianismo redivivo: história da era apostól ica, acruc ific ação de Jesus,Haro ldo Dutr a Dias, pub lic ado em Reformado r, ano 126, n. 2.154, p.33(351)-35(353), set. 2008.

Herodes Agripa I, filho mais novo de Herodes Magno (Herodes, o Grande), foicondecorado com o título real pelo imperador romano Calígula no ano 37 d.C., massomente reinou, efetivamente, a partir do ano 41 d.C. Os historiadores divergem quanto àdata da sua morte, especulando que ela tenha ocorrido entre setembro/outubro de 43 d.C.e fevereiro de 44 d.C.

Harold Hoehner, em sua tese de doutorado intitulada Chronology of the Apostolic Age,(9) postula que Herodes morreu no ano 44 d.C., apresentando diversas evidênciasdocumentais e arqueológicas bastante convincentes.Ademais, sua data se encaixaperfeitamente com aquela informada pelo Espírito Irmão X.

 _______________9. O leitor não d eve con fun dir es sa tese de do uto rado , não pub licada, com out ro liv ro d eHarold Hoehner int i tulado Chrono logical Aspects o f the Life of Christ, publ icado pelaedito ra Zondervan, de caráter estritamente religio so. Sua tese de dou torad o reúne todos o srequ isito s que uma ob ra acadêmi ca deve apresentar para ser aceita pelos especialistas da área, ao contrário do seu liv ro , ac ima citad o, que foi dir ig ido ao público rel ig ioso.

 Após o recebimento da carta de Simão Pedro, Paulo e Barnabé se dirigiram aJerusalém, onde foram surpreendidos pela ausência do próprio Simão, que havia seretirado da cidade, em função da sua anterior prisão. Ao regressarem da cidade santa,formulam o plano da primeira viagem missionária, que foi integralmente endossado pelaEspiritualidade superior. Nessa viagem, Paulo e Barnabé trouxeram de Jerusalém o jovem João Marcos, que se tornaria mais tarde o conhecido evangelista.

Não é demais lembrar, repetimos, que nos países banhados pelo MarMediterrâneo, o clima é muito semelhante, com verões secos e quentes e invernosmoderados e chuvosos.As estações do ano se dividem em dois grandes blocos:primavera –verão (abril –setembro) e outono –inverno (outubro –março).

Emmanuel, ao descrever o início da primeira viagem missionária, faz referência aos“bosques enfeitados de flores”, nas margens do Oronte. Essa referência – já o sabemos – não é meramente ilustrativa ou poética. Sua função é nos esclarecer que a referidaviagem teve início na primavera do ano 44 d.C. 

Page 74: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 74/89

74

Reformador Janeiro 2010 - Ano 128 Nº 2.170  – PAG 33/31  – 35/33

24 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Síntese da Cronologia

“Desde já, vejo os críticos consultando textos e combinando versículos para trazerem àtona os erros do nosso tentame singelo. [...] e ao pedantismo dogmático, ou literário, detodos os tempos, recorremos ao próprio Evangelho para repetir que, se a letra mata, o

espírito vivifica.”(1) _______________1. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírito Emmanu el. 44. ed. 2. reimp. Rio deJaneiro : FEB , 2009. Breve notícia, p . 10. 

HAROLDO DUTRA DIAS

 A simplicidade e humildade do Benfeitor espiritual Emmanuel pode levar oestudioso iniciante a crer que haja erros nas informações trazidas pelo romance históricoPaulo e Estêvão. Na época em que essa extraordinária obra veio a lume (1942), é certoque a maioria dos dados históricos, sobretudo aqueles relacionados à cronologia,estavam em discordância com as pesquisas bíblicas publicadas na primeira metade doséculo XX.

 Ainda hoje, enciclopédias, dicionários bíblicos, artigos esparsos, produzidos porautores daquele período ou por pessoas que não atualizaram seus estudos, contêmdados, datas, informes diametralmente opostos ao daquela obra mediúnica. Por outrolado, a mais recente pesquisa acadêmica (1980-2009) parece confirmar cada detalhedeste romance espiritual, como se pode constatar do trabalho de John P. Meier, E. P.Sanders, W. D. Davies, Craig Evans, Bruce Chilton, James H. Charlesworth, JosephFitzmyer, Barth Ehrman, David Flusser, Geza Vermes, Haroldo Hoehner, para citarapenas os mais conhecidos.

Temos abordado nesta coluna, ainda que de forma resumida e simples, as datasmais significativas do primeiro século do Cristianismo, conjugando essa recente pesquisahistórica com as revelações espirituais presentes na obra Paulo e Estêvão, no intuito de

fornecer um quadro cronológico desse período, capaz de auxiliar o leitor na leitura ecompreensão do Novo Testamento, em especial do livro Atos dos Apóstolos.Nesse sentido, transcorridos mais de um ano desse esforço, sentimos necessidade

de fornecer um resumo dos dados apresentados até o presente momento, na esperançade que essa “tabela cronológica”  seja útil a todos que anseiam por uma compreensãomais precisa da “História da Era Apostólica”,  com vistas a uma melhor apropriação doconteúdo espiritual da mensagem evangélica.

Naturalmente, não poderemos explicar meticulosamente todas as datasapresentadas, remetendo o leitor aos números anteriores da revista Reformador , ondepoderão ser encontrados informes mais detalhados, com a dedução de cada dataespecífica.

Todas essas datas são apresentadas com a menção da estação do anocorrespondente, tendo em vista a impossibilidade, na maioria dos casos, de se fixar o diae o mês exato do evento. Por esta razão, cumpre lembrar que nos países banhados pelo

Page 75: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 75/89

75

Mar Mediterrâneo o clima é muito semelhante, com verões secos e quentes e invernosmoderados e chuvosos. As estações do ano se dividem em dois grandes blocos:primavera –verão (abril –setembro) e outono –inverno (outubro –março).

É importante ressaltar que o romance mediúnico Paulo e Estêvão representa umaespécie de “bastidores”, making-off do livro bíblico Atos dos Apóstolos, razão pela qual é

indispensável sua leitura e citação. O fio condutor de toda a história apostólica seencontra em Atos dos Apóstolos e Emmanuel irá seguir esse roteiro de forma rigorosa. A crucificação de Jesus se deu em abril/maio do ano 33 d.C.,(2)  ao passo que

Pentecostes (Atos, 2) ocorreu cinquenta dias depois daquela data. Ainda nesse ano,Pedro discursou no Templo de Jerusalém (Atos, 3:1; 4:31). _______________2. Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revistaReformador,ano 126, n. 2.154, setembr o de 2008, p. 33(351)-35(353).

No ano 34 d.C., Pedro fixa residência na cidade de Jerusalém, fundando a “Casado Caminho”,  primeiro núcleo cristão de assistência aos necessitados e divulgação do

Evangelho. Por essa época, ocorreu a pitoresca morte de Ananias e Safira (Atos, 4:32;5:11).Os primeiros acontecimentos descritos no romance Paulo e Estêvão ocorreram na

primavera/verão do ano 34 d.C., ocasião em que Jeziel (Estêvão) é levado cativo para asgaleras romanas (outono de 34 d.C.), e acaba aportando doente em Jerusalém, sendoconduzido para a “Casa do Caminho” no inverno de 34/35 d.C., ou seja, final daquele anoe início do outro.

Nesse mesmo período, talvez, Pedro foi preso e discursou no Sinédrio (Atos, 5:12-42), sendo libertado em função da célebre intervenção de Gamaliel.

Na primavera do ano 35 d.C., Estêvão é nomeado para ser um dos setetrabalhadores que cooperariam com os Apóstolos nos trabalhos da igreja nascente (Atos,

6:1-7), sendo preso e apedrejado pouco tempo depois, no verão do ano 35 d.C.(3) (Atos,6:8; 7:60). _______________3. Consultar o artigo intitulado “O primeiro Mártir”, publicado na revista Reformador, ano127, n. 2.158, janeiro de 2009, p. 29(27)-31(29).

Decorridos oito meses da morte do primeiro Mártir, Saulo procura Abigail napequena propriedade rural situada na estrada de Jope, surpreendendo-a em grave estadode saúde. Esse dramático encontro entre Saulo e Abigail só pode ter ocorrido no início doano 36 d.C.(4) _______________

4. Consultar o artigo intitulado “A conversão de Saulo”, publicado na revistaReformador,ano 127, n. 2.160, março d e 2009, p. 36(114)-37(115).

 Adentrando em Damasco, acometido de temporária cegueira, após a gloriosa visãodo Cristo, o jovem Saulo sente que “grossos pingos de chuva caíam, aqui e ali, sobre apoeira ardente das ruas”.(5) A primavera tem início no mês de abril, quando cessam aschuvas. _______________5. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírito Emmanu el. 44. ed. 2. reimp. Rio deJaneiro : FEB , 2009. P. 1, cap. 10, p. 250.

Nesse caso, é plausível postular, com base nos informes de Emmanuel, que aconversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja, no primeiro trimestre do ano 36d.C.(6)

Page 76: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 76/89

76

 _______________6. Consultar o artigo intitulado “A conversão de Saulo”, publicado na revistaReformador,ano 127, n. 2.160, março d e 2009, p. 36(114)-37(115).

 Após breve estada em Damasco, Paulo se retira para o deserto (Atos, 9:8-25;Gálatas, 1:15-18). O tempo de permanência do antigo doutor da lei no deserto de Palmirafoi estabelecido de forma precisa: três anos (Gálatas, 1:17-18). Emmanuel confirma eesclarece detalhes sobre esse período. Durante sua estada no Oásis de Dan, Paulo foisurpreendido com a notícia da morte do seu grande orientador, Gamaliel.(7) _______________7. Consultar o artigo intitulado. “A preparação no deserto”, publicado na revistaReformado r, ano 127, n. 2.162, maio de 2009, p. 34(192)-36(194).

 Ao retornar do Oásis de Dan, no deserto da Arábia, Paulo passa por Damasco(Gálatas, 1:17), de onde se retira às pressas, escondido em um cesto, tendo em vista aordem de prisão contra ele expedida (Atos, 9:19-25).

 A chegada de Paulo em Jerusalém (Atos, 9:26-29; Gálatas, 1:18--20) verificou-senum dia quente de verão, três anos após sua conversão em Damasco, ou seja, no verãodo ano 39 d.C. Sua permanência na Judeia foi extremamente curta, pois se viu obrigado afugir da perseguição dos membros da Sinagoga dos cilícios, após ter feito ardorosapregação naquele local.(8) _______________8. Consultar o artigo intitulado “O regresso a Tarso”, publicado na revistaReformador, ano127,n.2.164,julho de 2009,p.34(272)-35(273).

 Aconselhado por Simão Pedro, o tecelão fixou residência em sua cidade natal,Tarso (Atos, 9:30; Gálatas, 1:21), pelo período de três anos. Essas informações podemser encontradas no romance Paulo e Estêvão:

[...] Saulo de Tarso, agora resistente como um beduíno, depois de agradecer agenerosidade do benfeitor e despedir-se dos amigos com lágrimas nos olhos,tomou novamente o rumo de Damasco, radicalmente transformado pelasmeditações de três anos consecutivos, passados no deserto.(9) (Grifo nosso.)

 _______________9. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírit o Emmanuel. 39. ed. Rio de J aneir o:FEB , 2003. P. 2, cap . 2, p. 320.

 Assim, durante três anos, o solitário tecelão das vizinhanças do Tauro

exemplificou a humildade e o trabalho, esperando devotadamente que Jesus oconvocasse ao testemunho.(10) (Grifo nosso.) _______________10. Idem , ibid em. p. 385.

Desse modo, a permanência de Paulo em Tarso se estendeu do verão do ano 39d.C. ao verão do ano 42 d.C., “até que  Barnabé o convidasse para os trabalhospromissores na Igreja de Antioquia”.(11) _______________11. Consultar o artigo intitulado “O regresso a Tarso”, publicado na revista Reformador,ano 127, n. 2.164, julho d e 2009, p. 34(272)-35(273).

Em resumo, da data de sua conversão em Damasco até sua chegada em Antioquia, transcorreram seis longos anos (primeiro trimestre do ano 36 d.C. até o verão

Page 77: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 77/89

77

do ano 42 d.C.), nos quais o Apóstolo dos Gentios consolidou as profundastransformações que o encontro com Jesus lhe provocou.

Page 78: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 78/89

78

Reformador Fevereiro 2010 - Ano 128 Nº 2.171  – PAG 34/72  – 36/74

25 - Cristianismo Redivivo

História da Era Apostólica

Ainda a Síntese Cronológica

“Desde já, vejo os críticos consultando textos e combinando versículos para trazerem àtona os erros do nosso tentame singelo. [...] e ao pedantismo dogmático, ou literário, detodos os tempos, recorremos ao próprio Evangelho para repetir que, se a letra mata, o

espírito vivifica” (1) _______________1. XAVIER, Fran cis co C. Paul o e Estêvão. Pelo Espírito Emmanu el. 44. ed. 2. reimp. Rio deJaneiro : FEB , 2009. Breve notícia, p . 10.

HAROLDO DUTRA DIAS

 Atendendo ao alvitre de Simão Pedro, Barnabé convidou Paulo para os trabalhospromissores na Igreja de Antioquia. No artigo anterior [publicado em jan. 2010, p. 33-35],concluímos que, da data de sua conversão em Damasco até sua chegada em Antioquia,transcorreram seis longos anos (primeiro trimestre do ano 36 d.C. até o verão do ano 42d.C.), nos quais o Apóstolo dos Gentios consolidou as profundas transformações que oencontro com Jesus lhe provocou.

Consoante os informes de Emmanuel e Irmão X:[...] Ainda, aí, entrou a compreensão de Pedro para que não faltasse ao tecelãode Tarso o ensejo devido. Observando as dificuldades, depois de indicar Barnabépara a direção do núcleo do “Caminho”, aconselhou-o a procurar o convertido deDamasco, a fim de que sua capacidade alcançasse um campo novo de exercícioespiritual.[...]Pressuroso e prestativo, Saulo de Tarso em breve se instalava em Antioquia,onde passou a cooperar ativamente com os amigos do Evangelho. [...] (2)

 _______________

2. Idem , ibid em. P. 2, cap. 4, p. 388.

Com efeito, daí a meses, um portador da igreja de Jerusalém chegavaapressadamente a Antioquia, trazendo notícias alarmantes e dolorosas. Em longamissiva, Pedro relatava a Barnabé os últimos fatos que o acabrunhavam. Escreviana data em que Tiago, filho de Zebedeu, sofrera a pena de morte, em grandeespetáculo público. [...] (3) (Grifo nosso.)

 _______________3. Idem , ibidem. p. 395.

Onze anos após a crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi

violentamente arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim deresponder a processo infamante. (Grifo nosso.)[...]

Page 79: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 79/89

79

O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande poste e, ali mesmo, soba alegação de que Herodes lhe decretara a pena, legionários do povo passam-nopela espada, enquanto a turba estranha lhe apedreja os despojos.(4)

 _______________4. XAVIER, Franc isc o C. Con tos desta e dou tra v ida. Pelo Espírit o Irmão X. 2. ed. 2. reimp.Rio d e Janeiro: FEB, 2009. Cap. 23. p. 111-112.

Imensas surpresas aguardavam os emissários de Antioquia, que já nãoencontraram Simão Pedro em Jerusalém. As autoridades haviam efetuado aprisão do ex-pescador de Cafarnaum, logo após a dolorosa execução do filho deZebedeu. [...] (5)

 _______________5. Idem . Paulo e Estêvão. Pel o Espírito Emm anu el. 44. ed. 2. reimp. Rio de J aneiro : FEB ,2007. P. 2, cap. 4, p. 396.

Nos capítulos 11, 12 e 13 do livro Atos dos Apóstolos encontramos uma descriçãoparcial dos fatos ocorridos durante a permanência do Apóstolo em Antioquia, entre eles amudança do nome dos seguidores de Jesus, que passaram a se chamar “cristãos”, umano depois da chegada de Paulo (Atos, 11:26); as previsões do profeta Ágabo a respeitodos martírios em Jerusalém (Atos, 11:28); o martírio de Tiago, filho de Zebedeu, e irmãode João Evangelista (Atos, 12:2); a prisão de Simão Pedro, a morte de Herodes (Atos,12:3 e 23) e a viagem de Paulo e Barnabé a Jerusalém (Atos, 12:25).

Essa descrição parcial é bastante enriquecida com os dados trazidos pelo BenfeitorEmmanuel, no romance Paulo e Estêvão, permitindo-nos organizar um quadrorazoavelmente detalhado do período.

Desse modo, conjugando as informações, é possível determinar que o martírio deTiago ocorreu, segundo o relato do Espírito Irmão X, onze anos após a crucificação. Em

publicações anteriores demonstramos que a crucificação de Jesus se deu em abril/maiodo ano 33 d.C.,(6) portanto, Tiago morreu no ano 44 d.C.,(7) data em que Simão Pedroescreveu a missiva para Barnabé, que se encontrava em Antioquia. _______________6. Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revistaReformador,ano 126, n. 2.154, set. 2008, p. 33(351)-35(353).7. Consultar o artigo intitulado “A Igreja de Antioquia”, publicado na revista Reformador,ano 127, n. 2.167, out . 2009, p. 34(392)--36(394).

Herodes Agripa I, filho mais novo de Herodes Magno (Herodes, o Grande), foicondecorado com o título real pelo imperador romano Calígula no ano 37 d.C., mas

somente reinou, efetivamente, a partir do ano 41 d.C. Os historiadores divergem quanto àdata da sua morte, especulando que ela tenha ocorrido entre setembro/outubro de 43 d.C.e fevereiro de 44 d.C.

Harold Hoehner, em sua tese de doutorado intitulada Chronology of the Apostolic Age,(8) postula que Herodes morreu no ano 44 d. C., apresentando diversas evidênciasdocumentais e arqueológicas bastante convincentes. Ademais, sua data se harmonizaperfeitamente com aquela informada pelo Espírito Irmão X. _______________8. O leitor não d eve con fun dir es sa tese d e dout orado, não pub licada, com out ro li vro deHarold Hoehner int i tulado Chrono logical Aspects o f the Life of Christ, publ icado pelaEdito ra Zond ervan, de caráter estritamente religio so. Sua tese de douto rado r eúne tod os o s

requ isito s que uma ob ra acadêm ica deve apresentar para ser aceita pelos especialistas da área, ao contrário do seu liv ro , ac ima citad o, que foi dir ig ido ao público rel ig ioso.

Page 80: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 80/89

80

 Após o recebimento da carta de Simão Pedro, Paulo e Barnabé dirigiram-se aJerusalém, onde foram surpreendidos pela ausência do próprio Simão, que havia seretirado da cidade, em função da sua anterior prisão.

Não obstante, Barnabé e Paulo entregaram a coleta de donativos ao apóstoloTiago, regressando a Antioquia profundamente impressionados com as mudanças

ocorridas na Igreja de Jerusalém, que perdera suas características de simplicidade eindependência.O resumo das datas mencionadas neste artigo e no anterior pode ser conferido na

tabela acima, enriquecida com outros eventos mencionados no livro Atos dos Apóstolos.

 _______________9. Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revistaReformador,ano 126, n. 2.154, set. 2008, p. 33(351)-35(353).

10. Consultar o artigo intitulado “O primeiro Mártir”, publicado na revistaReformador, ano127, n. 2.158, jan . 2009, p. 29(27)-31(29).11. Consultar o artigo intitulado “A Igreja de Antioquia”, publicado na revistaReformador,ano 127, n. 2.167, out . 2009, p. 34(392)-36(394).

Page 81: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 81/89

81

EVENTOS DATA REFERÊNCIACrucificação abril/maio do ano 33

d.C.(9) Mateus 27:27-50;Marcos, 15:16-37:Lucas, 23:26-46;

João, 19:17-30Pentecostes maio do ano 33d.C. Atos, 2:1-36Escolha dos Diáconos primavera do ano 35

d.C. Ato, 6:1-7

Martírio de Estevão verão do ano 35d.C.(10) 

 Ato, 6:8; 7:60

Conversão de Saulo 1º trimestre do ano 36d.C.

 Atos, 9:1-18

Paulo emDamasco/Arábia

verão do ano 36d.C./verão do ano 39d.C (10). 

 Atos, 9:8-25; Gálatas1:15-18

Primeira visita aJerusalém

verão do ano 39 d.C. Atos, 9:26-29; Gálatas1:18-20

Paulo em Tarso verão do ano 39d.C./verão do ano 42d.C.

 Atos, 9:30; Gálatas 1:21

Paulo em Antioquia verão do ano 42 d.C. Ato, 11:25-26Martírio de Tiago ano 44 d.C.(11)  Ato, 12:1-23Segunda visita aJerusalém

verão do ano 44 d.C. Atos, 11:30; Gálatas 2:1-10

Page 82: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 82/89

82

Reformador Março 2010 - Ano 128 Nº 2.172  – PAG 36/114  – 38/116

26 - Cristianismo Redivivo

Profecias bíblicas

“O resultado final de um acontecimento pode, portanto, ser certo, por se achar nosdesígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os detalhes e o modo de execução se

encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem sereventuais os caminhos e os meios.”(1)

 _______________1. KARDEC, All an. A gênese. Trad. Evand ro Noleto Bezerra. Rio d e Janeiro : FEB , 2009. Cap.16, item 14. 

HAROLDO DUTRA DIAS

 Ao discorrer sobre o fenômeno da predição do futuro, em sua magnífica obra  AGênese, o Codificador esclarece que a Providência Divina regula os acontecimentos queenvolvam interesses gerais da Humanidade, salientando que os homens concorrem paraa execução dos desígnios divinos, mas nenhum deles é indispensável ao seucumprimento, visto não estar o Criador à mercê de suas criaturas.

Por esta razão, “os detalhes e os modos de execução” constituem estratégias daProvidência Divina, que podem variar segundo o grau de adesão da Humanidade aospropósitos celestes, que buscam invariavelmente o progresso e o aperfeiçoamento

intelectual e moral dos seres humanos.O livre-arbítrio do homem, relativo e sempre subordinado à vontade soberana doCriador, pode opor inúmeros obstáculos ao progresso individual e coletivo, como tambémpode representar poderosa alavanca na execução desses desígnios.

Em matéria de predição dos acontecimentos concernentes ao futuro daHumanidade, ou seja, no tocante à profecia bíblica, urge compreender e meditar arespeito das questões acima mencionadas, de modo a não incorrer em falsasinterpretações ou em alarmismo inconveniente.

Nunca é demais lembrar que o amor e a misericórdia integram a Justiça Divina,razão pela qual os planos da Providência visam sempre o aperfeiçoamento dos seres.Nesse caso, provações, expiações, calamidades, guerras constituem instrumentos

didáticos da pedagogia divina, que jamais desampara os seres durante seus sofrimentos,por considerá-los todos como filhos de Deus, Espíritos imortais em evolução.

No limiar do Apocalipse, encontramos o belíssimo versículo: “E dei-lhe um tempopara que se arrependa, mas não quer se arrepender da sua prostituição”.(2) _______________2. Ap ., 2:21. Trad ução do art ic ul is ta.

Emmanuel mais uma vez nos socorre na tarefa de interpretação deste versículo:

Muita gente insiste pela rigidez e irrevogabilidade das determinações de origemdivina, entretanto, compete-nos reconhecer que os corações inclinados asemelhante interpretação, ainda não conseguem analisar a essência sublime doamor que apaga dívidas escuras e faz nascer novo dia nos horizontes da alma.

Page 83: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 83/89

83

Se entre juízes terrestres existem providências fraternas, qual seja a da liberdadesob condição, seria o tribunal celeste constituído por inteligências mais duras einflexíveis? A Casa do Pai é muito mais generosa que qualquer figuração de magnanimidadeapresentada, até agora, no mundo, pelo pensamento religioso. Em seus celeiros

abundantes, há empréstimos e moratórias, concessões de tempo e recursos quea mais vigorosa imaginação humana jamais calculará.(3) (Grifo nosso.) _______________3. XAVIER, Franc is co C. Pão nos so . Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 2. reimp. Rio deJaneiro : FEB , 2009. Cap. 92, p. 199-200.

O Altíssimo conjuga todas as providências e recursos para que o progresso dasalmas se efetue em clima de harmonia e paz, sob os auspícios do seu infinito amor. Atormenta, o desajuste, o desequilíbrio e a expiação decorrem do abandono voluntário do Amor Divino.

Não há determinações rígidas e irrevogáveis nos códigos celestes. Se o

condenado(4) pela justiça humana é acompanhado durante o cumprimento de sua pena,tendo em vista a possibilidade da concessão de diversos benefícios, dependendo do seucomportamento na prisão, não há razão para aguardar comportamento diverso daProvidência Divina, no curso das nossas expiações e provas. _______________4. Na legi sl ação b ras ilei ra, o c on den ado , du ran te a execução de sua pen a, échamado de“reeducando”, o que revela a nova visão humanista do Direito Penal.

“A profecia é revelada para que não se cumpra” 

Pelo contrário, a programação espiritual de uma existência ou de um ciclo de

progresso da civilização humana é sempre feita com base em cálculos de probabilidade.Os caminhos são tão intricados e dependem de tantas variáveis que lembram uma teia dearanha, com suas vigorosas ramificações.

Nessa linha interpretativa, Emmanuel assim se expressa:

Cada homem possui, com a existência, uma série de estações e uma relação dedias, estruturadas em precioso cálculo de probabilidades. [...](5)

 _______________5. XAVIER, Franc isco C. Vinha de lu z. Pelo Espírito Emm anuel. 27. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro : FEB , 2008. Cap. 113, p. 258.

Nesse contexto, podemos asseverar que todas as predições/profecias da Bíblia seacham subordinadas a um paradoxo, que pode ser expresso nos seguintes termos: “Aprofecia é revelada para que não se cumpra”. 

 A afirmação pode causar certa estranheza ao leitor. Pensando nisto,transcrevemos a seguir o trecho de uma entrevista concedida pelo médium FranciscoCândido Xavier sobre o assunto em estudo, que muito tem nos auxiliado na compreensãodesse palpitante tema:

O Célebre Nostradamus assinala os meses de julho e outubro de 1999 comosendo o período final do tempo que estamos atravessando; com a ocorrência deimensos cataclismos astronômicos e sociais. Nostradamus deve ser levado asério?

Page 84: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 84/89

84

 – Com respeito às profecias de Nostradamus que, aliás, devemos estudar com omaior respeito ao mensageiro humano dos vaticínios conhecidos,  pede-nosEmmanuel para lermos com meditação a Parábola de Jonas no AntigoTestamento.(6) (Grifo nosso.)

 _______________

6. XAVIER, Francisc o C.; ARANTES, Hércio M. C. Auto res d iverso s. Enc ont ros no tempo.São Pau lo : IDE, 1979. Cap . 1, q . 6.

Sendo assim, no tocante ao cumprimento das profecias, sobretudo as bíblicas, oparadigma deve ser a Parábola de Jonas, encontrada no Antigo Testamento (Jonas, 3-4),segundo nos orienta o Benfeitor Emmanuel.

O profeta Jonas foi encarregado de transmitir à cidade de Nínive tenebrososvaticínios de destruição e morte, caso os cidadãos daquele local não se arrependessemdos seus erros.

Todavia, contrariando as expectativas do profeta, os habitantes de Nínive searrependeram, passando a viver segundo as determinações da Lei Divina, motivo pelo

qual a profecia foi anulada, não obstante a revolta de Jonas, que se sentiu humilhado pelosuposto fracasso da sua missão.Quando o profeta descansava do Sol ardente, sob a sombra de uma mamoneira,

Deus enviou vermes que destruíram a planta, expondo o profeta novamente ao calorescaldante.

Diante da revolta de Jonas, Deus exclamou, na instrutiva parábola do VelhoTestamento:

“Tu tens pena da mamoneira,  que não te custou trabalho e que não fizestecrescer, que em uma noite existiu e em uma noite pereceu. E eu não terei penade Nínive, a grande cidade, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos,

que não distinguem entre direita e esquerda, assim como muitos animais!”(7) _______________7. Bíblia de Jerusalém. 3. imp. São Paulo: PAULUS, 2004. Jonas, 4:10-11, p. 1.633.

Sendo assim, considerando-se o infinito amor de Deus por todas as suas criaturas,bem como o caráter pedagógico de toda revelação acerca dos acontecimentos futuros,individuais ou coletivos, é lícito asseverar que “a profecia é revelada para que não secumpra” 

Page 85: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 85/89

85

Reformador Junho 2010 - Ano 128 Nº 2.175  – PAG 34/248  – 36/250

27 - Cristianismo Redivivo

O Novo Testamento

Redação

“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”(1) _______________1. DIAS,Harol do D. (Tradu to r). O novo t estam ento . Br asília: EDICEI, 2010. João, 8:32.

HAROLDO DUTRA DIAS

N  a época de Jesus eram utilizados rolos de papiro ou de pergaminho para oregistro de livros, cartas, documentos públicos ou privados. Havendo necessidade de umacópia do original (autógrafo), recorria-se ao trabalho dos copistas profissionais, queestavam munidos de equipamento e técnica indispensáveis ao êxito da difícil empreitada.

Do contrário, o interessado deveria lançar-se ao trabalho meticuloso e exaustivo deproduzir sua própria cópia, correndo o risco de perder o material, papiro ou pergaminho,por falhas no processo de escrita, acondicionamento ou preparo físico das tintas e dosrolos.

 Ao longo dos séculos, os livros que compõem a coletânea chamada NovoTestamento (NT) foram copiados por milhares de pessoas nos mais diversos locais ao

redor do Mar Mediterrâneo. A maior parte dessas cópias se perdeu, algumas pordesgaste natural do material utilizado, papiro ou pergaminho, outras por ignorância dolocal onde foram guardadas pelos copistas.

Por volta do século XVIII, foram descobertos diversos locais naquela região ondeestavam acondicionados manuscritos do Novo Testamento. Essas descobertasdesencadearam verdadeira corrida em busca dos “papiros e pergaminhos” antigos.

 Atualmente, estão catalogados cerca de 5.500 manuscritos gregos do NT, semcontar os manuscritos das traduções feitas ao longo dos séculos, tais como manuscritosda Vulgata Latina, da versão Siríaca, Armênia, Egípcia (Copta), além das citações dosPais da Igreja.

 A catalogação e comparação desses manuscritos ganharam fôlego na década de

70, ocasião em que se reuniram os maiores especialistas do mundo para publicarem asduas edições críticas do texto grego do NT, uma, destinada aos tradutores (UBS), e outra,aos especialistas (Nestle-Aland). As duas adotam o mesmo texto--padrão, variandoapenas as notas de rodapé, que no caso da edição Nestle-Aland é mais robusta ecompleta.

 A essa altura o leitor deve estar se perguntando: o que vem a ser uma “ediçãocrítica”? 

 Antes de responder a essa aparentemente singela pergunta, convém esclareceralguns pontos. O ramo do conhecimento que lida com a comparação e catalogação demanuscritos antigos se chama “Crítica Textual”. O estudioso da  área, por sua vez, édenominado “Crítico Textual”. 

Considerando que a imprensa foi inventada somente no século XVI, não é difícilimaginar que, antes dessa data, há uma profusão de manuscritos, nas mais diversaslínguas, de um número incalculável de autores. Existem os manuscritos gregos de

Page 86: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 86/89

86

Homero, Platão, Aristóteles; os manuscritos em latim de Virgílio, Horácio, Santo Agostinho; os manuscritos egípcios, hindus, hebreus, chineses, entre outros. Em suma,toda a literatura antiga está preservada em cópias manuscritas.

Desse modo, os críticos textuais acabam se especializando em determinado autore/ou livro, razão pela qual não devemos nos surpreender com a existência de

especialistas em manuscritos do NT.O primeiro trabalho de um crítico textual consiste na catalogação, datação,determinação da origem de cada manuscrito em particular que contenha determinado livroou fragmento dele. Uma vez realizado esse trabalho preliminar, compete-lhe a explicaçãoda história da transmissão daquele texto, separando os manuscritos por região, época,tipo de escrita, tradição textual.

 Ao reconstruir a história da transmissão do texto, o crítico textual deve especificarquais são os manuscritos mais antigos, os mais completos, os mais bem redigidos,demonstrando como esses ancestrais chegaram até nós e quais cópias derivam deles,numa espécie de construção da árvore genealógica dos manuscritos.

Encerrado o trabalho de catalogação, inicia-se a comparação crítica de cada frase

para se descobrir em quais pontos os manuscritos divergem. Essas divergências sãoconhecidas como “variantes textuais”. Obtida a lista de variantes para cada frase do texto, no caso do NT para cada

versículo, o crítico textual deve ser capaz de explicar a existência de cada uma emparticular, apontando quais delas são alterações intencionais e quais são decorrentes deerro ou desatenção do copista.

 A edição crítica de um texto antigo, portanto, representa a definição do textoadequado, ou seja, aquele que melhor reflete o “texto original perdido (autógrafo)”, apóscatalogação e comparação do maior número possível de cópias manuscritas disponíveis,acompanhadas de notas de rodapé com as variantes textuais mais importantes.

Em se tratando de textos redigidos antes da invenção da imprensa, os

especialistas utilizam apenas edições críticas, pois elas constituem um resumo de todo omaterial manuscrito disponível para determinado livro, possibilitando ao estudioso acomparação das variantes textuais e a reconstituição da história da transmissão daqueletexto. É o caso do Novo Testamento, que dispõe de duas edições críticas, como jámencionado, cuja diferença reside apenas nas notas de rodapé, uma contendo maisvariantes textuais do que a outra.

Considerando que essas duas edições críticas somente foram publicadas nadécada de 70, todas as traduções do NT feitas no século XX se baseiam nesse textocrítico da UBS//Nestle-Aland.

O estudo da edição crítica do texto grego do Novo Testamento nos permitecompreender as variantes textuais de todos os versículos, para podermos avaliar de

forma crítica quais foram introduzidas com interesse teológico e quais são resultado desimples erro dos copistas.

Por outro lado, é muito comum alguém dizer que determinado versículo foiacrescentado, mas sem embasamento da Crítica Textual, ou seja, sem dizer em quaismanuscritos aquele texto está ausente, de modo a comprovar suas afirmações. Não valeapenas dizer algo, é preciso demonstrar mediante provas manuscritas a veracidade dasafirmações. Para tanto, é imprescindível conhecer a “edição crítica” a fundo.

É bom lembrar que é ilusão buscar o autógrafo (manuscrito original) dos textosantigos. No caso do Novo Testamento, nenhum original foi encontrado. Todos osmanuscritos que possuímos (5.500) são cópias feitas ao longo de 1.500 anos.

Esse fato, porém, não nos deve preocupar. Há livros antigos de autores famososcujos manuscritos são escassos. Alguns deles contam com apenas dois ou trêsmanuscritos descobertos, mas nem por isso duvida-se da autenticidade deles.

Page 87: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 87/89

87

O Novo Testamento é o único livro antigo que conta com essa infinidade de cópiasmanuscritas, portanto, é o livro mais bem atestado da Humanidade. A imensidade decópias, não obstante o trabalho que oferece aos estudiosos, representa nossa maiorsegurança, pois permite a definição do texto-padrão com muito mais segurança do quequalquer outro livro antigo.

Seguramente, foi a estratégia adotada pela Espiritualidade superior parapreservação dos textos da segunda revelação. 

Page 88: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 88/89

88

Reformador Novembro 2010 - Ano 128 Nº 2.180  – PAG 11/425  – 12/426

28 - Entrevista HAROLDO DUTRA DIAS 

O resgate do Cristianismo Nascente

Haroldo Dutra Dias, articulista desta Revista e recente tradutor de O Novo Testamento,comenta suas motivações para os estudos sobre os Evangelhos e destaca a vasta

contribuição da obra de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier, para o resgate doCristianismo Nascente

Reformador: Qual foi sua motivação inicial para redigir a coluna “Cristianismo Redivivo”

nesta revista?

Haroldo: Após anos de pesquisa em torno da obra Paulo e Estêvão, percebi que haviasérias questões, relacionadas à cronologia e história do Cristianismo Nascente, que eramrevisadas pelo autor espiritual daquele romance histórico. Emmanuel propunha uma novacronologia do primeiro século da Era Cristã, além de abordar e esclarecer inúmerospontos obscuros. Pude notar, igualmente, que os dados históricos contidos naquele livroestavam em total desacordo com a literatura acadêmica produzida na primeira metade doséculo XX, mas em absoluta concordância com as mais recentes pesquisas sobre oassunto, levando-nos a concluir que essa obra mediúnica havia antecipado descobertas epesquisas históricas que seriam feitas somente 50, 60 anos mais tarde. Esses fatosmotivaram a redação da coluna “Cristianismo Redivivo”. A intenção é compartilhar essasinformações com os leitores de Reformador .

Reformador: Você dá ênfase às obras de Emmanuel? Por quê?Haroldo:  Acreditamos que Emmanuel tem a missão, como atesta a vasta literatura porele ditada a Chico Xavier, de resgatar o Cristianismo Nascente, na sua integral pureza eoriginalidade, tudo com base na Codificação Kardequiana. Nesse sentido, sua obra é ummonumento espiritual a desafiar nossa capacidade de leitura, estudo, pesquisa e reflexão.Os livros produzidos por esse Benfeitor espiritual representam “parada obrigatória”  paratodos os estudiosos sérios do Cristianismo, que já entenderam o papel complementar darevelação mediúnica para a pesquisa acadêmica relativa a esse tema.

Reformador: E a tradução de O Novo Testamento  – há pouco editada pela EDICEI  –,tem relação com os estudos citados?Haroldo:  A tradução de O Novo Testamento é fruto desse esforço para compreender avasta contribuição legada pelo Benfeitor Emmanuel. Na medida em que aprofundávamosna pesquisa, cada vez mais sentíamos necessidade de um texto do Novo Testamentoneutro, objetivo, fidedigno, que pudesse ser apresentado com isenção a qualquerestudioso sincero. Noutro giro, considerando as inúmeras pesquisas e descobertascientíficas relativas aos manuscritos gregos do Novo Testamento, ao ambiente cultural,histórico e linguístico no qual viveu Jesus, era necessária uma tradução atualizada,moderna, que pudesse incorporar todas essas recentes descobertas.

Reformador: Como concretizou tal tradução?Haroldo: A tradução foi feita em três anos, nos quais trabalhava em média seis horas pordia, embora ela tenha sido precedida de uma pesquisa que já dura dezessete anos. Paraesse escopo, formamos uma biblioteca especializada em Cristianismo com mais de três

Page 89: Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

7/18/2019 Cristianismo Redivivo - Haroldo Dutra Dias - Reformador.pdf

http://slidepdf.com/reader/full/cristianismo-redivivo-haroldo-dutra-dias-reformadorpdf 89/89

89

mil volumes, fora a viagem feita a Jerusalém, onde foi possível adquirir meia tonelada delivros da tradição judaica, o mesmo material que serviu de base para os estudos de Paulode Tarso. Foram consultados mais de 40 dicionários especializados em grego, em maisde cinco idiomas, dezenas de dicionários de hebraico, aramaico, inúmeras enciclopédiase dicionários bíblicos, e mais de 120 traduções do Novo Testamento em português,

inglês, espanhol, francês, alemão, latim, siríaco.Reformador: Como avalia o impacto da análise dos Evangelhos pela psicografia deChico Xavier?Haroldo:  A interpretação do Novo Testamento feita por Emmanuel representa umaprofunda mudança de paradigma na hermenêutica bíblica. Páginas sintéticas, vazadasem linguagem simples, escondem soluções de profundos enigmas exegéticos, comotambém revelam o caráter prático e vivencial desse trabalho, todo voltado para a vivênciaefetiva e plena do Evangelho. Acreditamos, sinceramente, que esse materialinterpretativo, embora trazido diretamente por Emmanuel, tenha sua origem em esferassuperiores, nas quais esse Benfeitor pôde colher sugestões e a colaboração de grandes

vultos do Cristianismo Nascente.

Reformador: Qual sua percepção pelo Centenário de Chico Xavier?Haroldo: O Centenário de Chico Xavier tem sido a grande oportunidade para nosreunirmos em torno da grandiosa literatura por ele psicografada, com o objetivo deentender a dimensão e a profundidade desse trabalho, além de representar um valiosomomento de reflexão acerca da exemplificação desse grande missionário que, com suavida e seu trabalho, traçou para todos nós um roteiro de como pode e deve ser a vida deum verdadeiro discípulo de Jesus.

Reformador: Uma mensagem para o leitor de Reformador .

Haroldo: Com os leitores desta respeitável Revista tenho a grata satisfação decompartilhar uma reflexão que muito me conforta: se a Humanidade mereceu o carinho eo esforço da Espiritualidade superior que permitiu se concretizasse no mundo a obrainsuperável do Codificador e essa literatura mediúnica subsidiária, como continuidade aotrabalho iniciado por Moisés e exemplificado por Jesus, podemos guardar a certeza deque todos estamos mergulhados em um oceano de amor, no qual Deus aguarda o nossoaprimoramento espiritual como um Pai afetuoso que pretende nos atrair para o seucoração amoroso.