Cristiano Voitina

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Balneário Camboriú, 13 de novembro de 2010 32 Entrevista Balneário Camboriú, 30 de outubro de 2010 32 Entrevista Nome – CRISTIANO VOITINA Idade – 44 Natural – Brusque Em BC desde – 1990 Formação – Biólogo Profissão – Palestrante (atualmente é presi- dente do Instituto de Desenvolvimento e Inte- gração Ambiental, IDEIA) Lazer – Fotografar pássaros. Ainda quero fazer um livro sobre os nossos pássaros. Comida predileta – Peixes em geral Um bom filme – ‘A vida é bela’ Estilo de música – Reggae Religião – Católica Planos – Ter filhos, casar no religioso, escre- ver um livro. Perfil – Sou carinhoso, emotivo, revoltado com mentiras, injustiças, falsidades. Políti- cos corruptos me deixam muito irritado. Sou direto quando tenho que dizer algo e às vezes mal entendido por isso. Tenho muito senso crítico. Nunca esteve tão próximo a gente perder a praia de Taquarinhas” (Cristiano Voitina, presidente do Instituto IDEIA) nossa gente Marlise Schneider [email protected] H á quase seis anos quando aju- dou a fundar a Ong IDEIA que hoje preside, CRIS- TIANO VOITINA decidiu oficializar sua luta em defesa do meio ambiente e informar-se sobre políticas públicas que podem colocar um freio nas agressões mais perversas praticadas pelo homem. Podem, mas nem sempre conseguem. A luta mais contundente do IDEIA, no momento, é a preservação da praia de Taquarinhas, o último reduto total- mente agreste de Balneário Camboriú, ameaçado pela especulação imobiliária. Na próxima quarta-feira, uma audiên- cia poderá ser decisiva para o futuro daquela praia. ‘Se o juiz der a marte- lada, eles enfiam o trator lá e acabou-se’, disse Voitina esta semana, visivelmente chateado com a situação. A preocupa- ção pelas questões ambientais o acom- panha desde pequeno, quando plantou as primeiras árvores ‘pra garantir fru- tos aos passarinhos’. Hoje faz palestras por todos os cantos do país, de Balne- ário a Amazônia, sempre na luta pela preservação do planeta. Acredita que sua consciência ecológica pode até ser uma herança paterna. “Ainda criança, estava andando numa mata com meu pai, tinha um pé de gabiroba e o chão estava forradinho de frutas, ele parou, olhou pra mim e disse, só o ser humano pega mais do que precisa...essa frase me acompanha até hoje. Acho que meu pai, sem saber, era um ambientalista por ins- tinto”. Voitina não é católico praticante, mas tem orgulho do parentesco com o Papa João Paulo II (seu pai é primo em segundo grau de Karol Wojtyla). Fernanda Schneider

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Entrevista como ambientalista Cristiano Voitina, um dos defensores de Taquarinhas - Santa Catarina

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Page 1: Cristiano Voitina

Balneário Camboriú, 13 de novembro de 201032 EntrevistaBalneário Camboriú, 30 de outubro de 201032 Entrevista

Nome – CRISTIANO VOITINA Idade – 44Natural – BrusqueEm BC desde – 1990Formação – BiólogoProfissão – Palestrante (atualmente é presi-dente do Instituto de Desenvolvimento e Inte-gração Ambiental, IDEIA)Lazer – Fotografar pássaros. Ainda quero fazer um livro sobre os nossos pássaros.Comida predileta – Peixes em geralUm bom filme – ‘A vida é bela’Estilo de música – ReggaeReligião – CatólicaPlanos – Ter filhos, casar no religioso, escre-ver um livro.Perfil – Sou carinhoso, emotivo, revoltado com mentiras, injustiças, falsidades. Políti-cos corruptos me deixam muito irritado. Sou direto quando tenho que dizer algo e às vezes mal entendido por isso. Tenho muito senso crítico.

Nunca esteve tãopróximo a gente perdera praia de Taquarinhas”(Cristiano Voitina, presidente do Instituto IDEIA)

n o s s a g e n t eMarlise [email protected]

Há quase seis anos quando aju-dou a fundar a Ong IDEIA que hoje preside, CRIS-

TIANO VOITINA decidiu oficializar sua luta em defesa do meio ambiente e informar-se sobre políticas públicas que podem colocar um freio nas agressões mais perversas praticadas pelo homem. Podem, mas nem sempre conseguem. A luta mais contundente do IDEIA, no momento, é a preservação da praia de Taquarinhas, o último reduto total-mente agreste de Balneário Camboriú, ameaçado pela especulação imobiliária. Na próxima quarta-feira, uma audiên-cia poderá ser decisiva para o futuro daquela praia. ‘Se o juiz der a marte-lada, eles enfiam o trator lá e acabou-se’, disse Voitina esta semana, visivelmente chateado com a situação. A preocupa-

ção pelas questões ambientais o acom-panha desde pequeno, quando plantou as primeiras árvores ‘pra garantir fru-tos aos passarinhos’. Hoje faz palestras por todos os cantos do país, de Balne-ário a Amazônia, sempre na luta pela preservação do planeta. Acredita que sua consciência ecológica pode até ser uma herança paterna. “Ainda criança, estava andando numa mata com meu pai, tinha um pé de gabiroba e o chão estava forradinho de frutas, ele parou, olhou pra mim e disse, só o ser humano pega mais do que precisa...essa frase me acompanha até hoje. Acho que meu pai, sem saber, era um ambientalista por ins-tinto”. Voitina não é católico praticante, mas tem orgulho do parentesco com o Papa João Paulo II (seu pai é primo em segundo grau de Karol Wojtyla).

Fernanda Schneider

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Balneário Camboriú, 13 de novembro de 2010 33Entrevista Balneário Camboriú, 30 de outubro de 2010 33

JP3 – O Instituto Ideia foi eli-minado do Conselho Gestor da APA Costa Brava por um decreto do prefeito. Como vocês estão lidando com isso, depois de tantos anos de trabalho?Voitina – Ficamos tristes e revoltados com essas manobras que eles têm de ficar mani-pulando tudo e não exercer a democracia. De não exercer a Constituição, porque uma APA é regida por leis federais, tem que ser respeitada sim. É tão maravilhoso quando a socie-dade se intera, se manifesta, participa, e é o que está acon-tecendo, a Karina e o Rodrigo fizeram um trabalho muito bom de sensibilização com o pessoal daquela região, isso já tem 3 anos.

JP3 – Já hou-veram atritos com a admi-n i s t r a ç ã o anterior nesse assunto.V o i t i n a – Sim, para fazer com que esse Conselho fosse pari-tário, que os moradores da região, a sociedade, tivessem direito a voto, o direito de dizer o que eles querem para a região deles. Então mudou a adminis-tração da cidade, mas os donos da cidade continuam sendo os mesmos.

JP3 – Qual foi a alegação?Voitina – O prefeito atual fez um decreto daquele Conselho que estava formado e que ele começasse a atuar. A Irmãos Thá entrou com um pedido, trancaram tudo, sumiram com todos os documentos das enti-dades, jogaram fora...

JP3 – Quem fez isso?Voitina – A prefeitura. Aquele Conselho deixou de existir no momento em que sumi-ram aqueles documentos. No novo decreto ele colocou duas Ongs que não existiam, que foram feitas de um dia para outro, com algumas pessoas não qualificadas, alguns dos integrantes passaram pelo Ideia e foram convidadas a se retirar por sua postura. Outra coisa errada é que colocaram dentro da Secretaria do Meio Ambiente, como diretor da fitoterapia, um ex-funcionário da Irmãos Thá. E esse ex-fun-cionário da Irmãos Thá é que está presidindo o Conselho, porque o André Ritzmann

(secretário do Meio Ambiente) colocou ele. Então hoje quem está dizendo o que é pra fazer ou não é pra fazer dentro do Conselho é a Irmãos Thá. Isso é ridículo, eles nem poderiam ter cadeira lá dentro, porque são parte interessada. Então é muita coisa errada, não é só uma coisa errada...o Procu-rador municipal alega coisas e diz coisas muito erradas, mentiras deslavadas, inventa leis que não existem. Eu não sou um conhecedor da lei, mas temos três representantes da OAB junto com a gente.

JP3 – Mas a OAB também foi eliminada, está fora do Con-selho Gestor do prefeito.Voitina – Foi eliminada a OAB

e outras insti-tuições, como a Associação Quilombola, f o r m a d a por pessoas que vivem na região, a Assoc iação de Naturismo da praia do Pinho que já deve existir há uns 30

anos, são coisas erradas, muito erradas. Fica muito explícito, eles têm que ter o poder e se eles não tem esse poder, não podem funcionar. Isso tudo é vergonhoso e assusta muito. Em julho desse ano eu e a Carla fomos, como biólogos, a Rosemeri Marenzi, doutora em unidade de conservação e o Procurador Federal fomos em Taquarinhas fazer uma vis-toria, por ‘ene’ coisas erradas que estão acontecendo lá. Aí o Alberto, que hoje está como representante da Thá ou dono da praia de Taquarinhas, ficou muito bravo e tentou expulsar a gente. O Procurador disse que ele não teria autoridade para isso. Aí ele ligou para um juiz. E daí disse que o juiz disse para retirar etc...e o Procura-dor disse que o juiz também não tem essa autoridade. Aí ele olhou pra mim e disse, então eu vou processar o Cristiano e a Carla. O Procurador disse, você não vai fazer isso porque eles são convidados meus e estão aqui a serviço do Minis-tério Público. Aí ele disse olha não adianta nada vocês fazer isso, o juiz já liberou a cons-trução. Eu não entendi, nem tinha como entender. No meu entendimento, como estava tramitando um projeto de lei em Florianópolis, tudo estaria

trancado. E o deputado Marcos Vieira estava segurando aquele projeto e também não dava pra entender porque ele pediu vis-tas e da forma que pediu.

JP3 – Por quê vocês estranha-ram a forma do pedido?Voitina – Porque foi de forma arbitrária. Quando houve aquela audiência pública aqui, que foi o maior sucesso, no outro dia o resultado dessa audiência já estaria entrando na Assembléia, na Comissão de Justiça. O Vieira estava substituindo o presidente daquela câmara técnica e quando o primeiro deputado leu o projeto e disse aprovado, ele pulou e disse que ele era o presidente, passou a mão no projeto e pediu vistas...o Sar-gento Soares ficou indignado e ficou lendo o projeto...então o Vieira disse que não adiantava ele ficar lendo tudo aquilo, por-que ele já havia pedido vistas. O Sargento Soares falou, é por-que você não esteve na audiên-cia pública, mas se for hoje lá, vão te linchar em Balneário, porque o povo quer isso. Mas eu não consegui entender tudo que estava acontecendo.

JP3 – O que estava acontecendo?Voitina – O Marcos Vieira estava segurando isso só para acontecer agora dia 3 de novembro uma audiência de conciliação. Então quando o Alberto falou para mim ele já sabia dessa audiência de con-ciliação que vai ter agora dia 3. Essa informação acabou vazando em outubro pra mim sobre essa audiência de con-ciliação. Aí é que comecei a ligar as coisas e entender por-que Marcos Vieira segurou esse projeto de lei lá sem ter motivo de segurar. O juiz poderá dizer que já se passaram cinco anos desde o embargo da constru-ção e quem deveria dizer o que deve fazer lá é o Conselho Gestor, mas como o Conselho Gestor não conseguiu até hoje administrar isso, porque não conseguiu se impor (...).

JP3 – A audiência será na semana que vem e depen-dendo do que acontecer lá será o ponto final desse assunto?Voitina – Sim, na quarta-feira, às duas e meia, na Justiça Federal, atrás do Teatro Muni-cipal de Itajaí. Se o juiz der a martelada, eles enfiam o trator lá e acabou-se (...). Essa admi-nistração...eles administram só para os empresários, não estão

pensando no povo, eu fico indig-nado com isso, estou tentando falar com o Piriquito desde antes das eleições para ver qual é a posição dele sobre Taquari-nhas. O Ideia como formador de opinião, eles começaram a procurar alguns integrantes...hoje temos 3700 pessoas cadas-tradas no site do Ideia para saber o que está acontecendo. Dou muitas palestras nas esco-las para adolescentes que já podem votar e na época, eles já começaram a perguntar em que eu iria votar. Eu disse não posso induzir vocês a isso, é uma res-ponsabilidade muito grande, mas vou fazer o seguinte: hoje uma das maiores ações do Ideia é defender Taquarinhas e ali é um termômetro muito bom para saber a intenção das pessoas. Na época a gente tinha 12 mil assinaturas...um candi-dato a prefeito tem que se sen-sibilizar. É uma grande expres-são da vontade da população. Então marquei uma reunião com o Dado, com o Piriquito e o Leko já tinha me falado que era a favor da construção civil. O Dado relutou um pouco, mas disse que era a favor da preser-vação de Taquarinhas. Faltava o Piriquito. Sempre em cima do muro, falei com assessores, eles diziam que ele ainda não sabia...eu pedi uma posição. Numa reunião falei com ele, levei o abaixo-assinado, ele disse que não sabia, não tinha se intei-rado daquilo, que não podia tomar uma p o s i ç ã o . . . e disse vou te procurar...houve as eleições ele não se posicionou, depois teve vários momentos em que o pro-curei , insisti, fui no gabinete, não me atendeu(...). Agora nessa última reunião do Con-selho Gestor tinha três homens da confiança dele, o secretário do Turismo, do Meio Ambiente e do Planejamento, e ele dizer que não estava sabendo de algo...é porque ele não quer, não quer assumir uma posição, ainda é um homem em cima do muro (...), acho ele um covarde, porque tem medo de conversar com as pessoas (...), ele não vai ao povo, não deixa o povo che-gar a ele, criou-se uma barreira em volta. Como munícipe, já era para ele respeitar. Como representante de uma institui-ção que é de utilidade pública federal, deveria respeitar muito mais, porque utilidade pública já é para isso.

JP3 – Diante desses aconte-cimentos do Conselho Ges-tor você sente-se frustrado, porque a batalha tem alguns anos...Voitina – Três anos já. É um trabalho grande, forte, e um Conselho é uma coisa muito bonita, faz com que a socie-dade se integre, eu achei tudo isso uma covardia muito grande(...).

JP3 - Então essa batalha por Taquarinhas pode estar pró-xima do fim.Voitina – Nunca teve tão pró-ximo a gente perder a praia de Taquarinhas(...) e a prefeitura está ajudando muito, muito essa empresa a construir em Taquarinhas.

JP3 – O Parque Estadual Taquarinhas, criado ano pas-sado, também vai...Voitina - ...ficou complicado. Passou pela primeira comis-são com muito sacrifício, houve muita pressão, mas foi mara-vilhoso. Depois que aconteceu a audiência e o Marcos Vieira segurou o projeto, o Ideia come-çou a ir lá, em todas as audiên-cias, com um banner da praia de Taquarinhas, que a gente colo-cava no meio da AL onde todos os deputados o enxergavam...o Ideia quando ia lá fazia contato

com as banca-das, os líde-res, todos os partidos se mos t raram f a v o r á v e i s pela causa da preservação e pelo projeto

de lei. O único que trancou foi o Marcos Vieira do PSDB. Me disseram que era errado acusar o partido, que deveria acusar só a pessoa. Mas se eu tiver um integrante do Ideia fazendo algo errado, o Ideia vai ter a respon-sabilidade por esse integrante(...) e todos os outros deputados se juntaram e pressionaram ele, o Dado também ajudou, foi uma discussão bem acirrada, bonito de ver e fizeram ele entregar o projeto para ir pra frente. Só que o grande problema é que na pró-xima, a de Finanças, ele é o pre-sidente. E ele já se auto declarou o relator desse projeto lá. Então ele faz o que quer, enquanto estiver lá. Mas parece que o que existe agora, uma grande solu-ção, é que até o final do ano eles têm que resolver isso tudo. Ou passa pra frente e manda para votação na AL.

EntrevistaAcervo pessoal

“Estou tentando falar com o

Piriquito desde antes das eleições para ver qual é a posição dele sobre

Taquarinhas”

A luta pela preservação de Taquarinhas já dura três anos. Audiência pública por Taquarinhas. Na mesa, Moacir Schmidt, Sargento Soares e Dado Cherem

“Ocupação em área permanente

é crime premeditado”

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Balneário Camboriú, 13 de novembro de 201034 EntrevistaBalneário Camboriú, 30 de outubro de 201034

JP3 – Quais são as grandes preocupações do Ideia, além de Taquarinhas?Voitina – É quando se deixa ocupar uma área de preser-vação permanente. As pessoas pensam que a APP é para pro-teger a fauna ou a flora, mas elas foram criadas para garan-tir o bem estar da população. Sempre que você mexe ali vai dar algum problema. Exemplo: inclinação de morro, se cons-truir ali, ou vai cair a casa, ou a casa vai cair em cima de outra casa ou vem tudo abaixo com o barranco, em todos os casos, é problema. As pessoas pen-sam, aquele que construiu lá que assuma seu risco, mas não é assim, essas pessoas que vão para o hospital, quem paga o hospital delas é a gente, então direta ou indiretamente estamos envolvidos nisso sem-pre. Ou então quando mexem em corpos d´água. Construiu em margem de rio vai dar um problema muito sério. A área mínima de limite que se deve respeitar em um córrego, um ribeirão, é 30 metros, é o espaço que normalmente o rio vai extravasar. Se cons-truir nas duas margens, vai represar. Outro problema é tubular, quando você tubula qualquer corpo d´água, aí sim o problema ficou ainda mais acentuado(...)Hoje com o aquecimento global como você vai fazer um cálculo, quando chove em quatro dias o que choveria em quatro meses...a situação hoje está muito pro-blemática. Na nossa região qualquer pedaço de terra vale ouro, aí eles deixam construir duas marinas, uma da Sibara

e outra do Toni Center lá do outro lado do rio...eles já ater-raram lá e vão fazer um muro gigante, aquele mesmo muro que fizeram de frente pra BR-101, querem fazer até lá nas margens do rio, para secar o terreno deles. E como vai fazer quando vier outra enxurrada dessas? Vai funcionar como um dique, quem vai pagar por isso? Pra prefeito, pra governa-dor do Estado, é maravilhoso.

JP3 – Por quê?Voitina – Porque quando dá

uma catás-trofe dessas, ele não precisa de licitação, é de urgência. Então ele pega qualquer um e cobra o tanto que ele quer. Você se lembra quando acon-

teciam aquelas ressacazinhas na nossa orla em 2002, 2003, 2004, estragava um pouqui-nho o calçadão, eram obras de 700, 800 mil, 1 milhão de reais, coisa que 10, 20 mil dava pra arrumar? Essas catás-trofes que para mim não são catástrofes, são crimes...uma catástrofe é um furacão...agora ocupação em área permanente isso é crime premeditado, eles sabem que isso vai acontecer e eles vão se beneficiar com isso. Isso é algo que preocupa demais. Então eles taxam um ambientalista de ser contra o progresso, o progresso tem que existir, sou totalmente a favor, mas a disciplina tem que vir junto, porque progresso desen-freado e indisciplinado é um problema muito grande.

JP3 – Quando se fala em disciplina nesse caso esta-mos falando de educação ambiental.

Voitina – O foco do Ideia é educação ambiental e recupe-ração de área degradada. O Ideia tem um convênio com o Instituto Federal Catarinense há três anos, temos um viveiro de mudas em convênio com eles. JP3 – Como funciona a edu-cação ambiental, vocês dão palestras?Voitina – A gente só ama e cuida aquilo que a gente conhece. Fazemos vários tra-balhos nessa questão, é difícil uma semana que não se faz uma palestra em escola, tudo é gratuito. Muitas vezes nos con-vidam para fazer a formação continuada dos professores, então damos palestras para os professores também. Também fizemos trabalhos com a OAB, no projeto ‘OAB vai à escola’, nós falávamos da parte ambien-tal e eles da legislação ambien-tal...Fazemos muitas palestras em todo o país e depois a gente mantém contato com aquelas comunidades. Não gostamos de trabalhar com denúncias, mas quando o prejuízo é muito grande, muitas vezes até o que a gente plantou acaba sendo derrubado. Às vezes o Minis-tério Público pede para fazer um laudo ambiental, nosso corpo técnico tem capacidade para isso e às vezes a Polícia Ambiental convida pra ir ver e a gente faz isso também, mas o mais difícil e que deixa a gente muito aflito é que plantamos e muitas vezes a própria pre-feitura faz o estrago. A gente educa e eles mostram que essa administração está superior as leis e à própria educação. A gente ensina e depois a admi-nistração vai lá e faz coisas totalmente erradas.

JP3 – Que tipo de coisas?Voitina – Isso que aconteceu

com o Conselho Gestor da APA, liberações para construir em área que não pode, isso daí é muito errado. Por exemplo, esse trabalho que vem sendo feito com a comunidade da Interpraias, é um trabalho de educação que a Karina, o Diogo estão fazendo lá e a gente ajudando, aí chega o pre-feito e faz um decreto e passa por cima de todo um traba-lho de três anos. Como educar uma pessoa a respeitar a lei se o nosso prefeito não respeita a lei?

JP3 – Há poucos dias um morador das antigas disse que continua não tomando banho aqui porque tem medo de água poluída. Qual a tua opinião a esse respeito?Voitina – É um descaso muito grande e uma prova de que os antigos administradores da cidade e o que está hoje lá também, não tem preocupa-ção com isso, porque o carro-chefe de Balneário Camboriú é o mar, a praia, nós vivemos dela. É uma grande tristeza que a maioria, quem nas-ceu e cresceu aqui, não toma banho no nosso mar. E as pes-soas que vêm de outros locais saem reclamando. É um des-caso, porque há muitos anos é cobrada uma taxa altíssima para se tratar o esgoto, 80% em cima do que você consumir de água, tem muito dinheiro para reverter esse processo de man-dar esses dejetos todos e uma coisa é certa, se não tem balne-abilidade é porque está sendo jogado muito esgoto na nossa praia. É um problema que vem se alastrando e se arras-tando de longo tempo, houve descaso da antiga administra-ção e continua com a atual. O problema existe e dinheiro para isso tem. Só pra ter uma

idéia: Brusque é uma cidade de 100 mil habitantes, Balne-ário também. A arrecadação lá é de 160 milhões e aqui é de 360 milhões, 200 milhões a mais...uma cidade muito fácil de se trabalhar, era isso o que o Piriquito dizia...que a cidade fatura 1 milhão por dia e que por isso era muito fácil de administrar. E ele está mos-trando uma das piores admi-nistrações. Uma das coisas que já está feita, arrumadinha, é fantástica, é aquela praia de Taquarinhas, atrai turistas, não existe reclamação sobre aquilo...e ele está lutando para destruir. Isso deixa a gente muito aflito.

JP3 – O Ideia participa tam-bém do Comitê do Rio Cam-boriú, presidido pelo Ênio Faqueti, do projeto Produtor de Águas vocês acompanham, tem o projeto De olho na mata ciliar que é de vocês.Voitina – O Produtor de Águas a gente vem há mais de um ano junto, ajudando a fazer e o Ideia vai fazer o trabalho de campo desse projeto. Já foram fechado os convênios. O pro-grama De olho na mata ciliar nunca parou, desde 2005, às vezes conseguimos algum recurso e quando não tem, fazemos igual, é produzindo as mudas, é doando. O Ideia tem uma cadeira no Comitê do Rio Camboriú e o Ideia é a ONG que está em dia com toda a sua documentação e por isso é o único que pode ir buscar recursos para o comitê. Estes recursos entram na conta do Ideia que repassa tudo para o Comitê e faz toda a prestação de contas. É bem complicado de fazer e ocupa muito tempo. É difícil ir atrás desses recur-sos, porque às vezes atrasa e tem certidões que têm prazo.

Acervo pessoal

Entrevista

Estado do Pará: a devastação da madeiraSafari Fotográfico no Pantanal do Mato Grosso com a esposa Carla.

“Comecei a ver que o problema da árvore ficar em pé era o ser

humano”

Viagem no rio Purus no Acre Floresta Amazônica: raízes maiores que um homem

Page 4: Cristiano Voitina

Balneário Camboriú, 13 de novembro de 2010 35Entrevista Balneário Camboriú, 30 de outubro de 2010 35Entrevista

Eleição e FeriadãoDo jeito que brasileiro é louco pra folgar, programar o 2º turno para um feriadão, vai resultar em alto índice de abstenção. Vai dar pra contar nos dedos aqueles que deixarão de viajar para votar...por aqui mesmo, as expectativas de movimento na cidade são muito positi-vas, a praia vai ‘bombar’, aliás como tem acontecido religio-samente em qualquer feriado. ‘Ah, mas feriado de finados é diferente, o pessoal não viaja tanto, não curte tanto, é uma data triste’. Nada disso. Hoje é diferente. É uma minoria que se prende a estas tradições e quem puder, vai viajar sim. Na internet pipocaram informa-ções dizendo que o feriadão vai tirar votos do Serra, porque é o eleitor dele que viaja. Como se só pobre que não tem grana pra viajar votasse na Dilma...poupe-me!

Eleição e Feriadão 2Eleição e feriadão realmente não combinam e parece que os comandantes da campanha tucana levaram a sério, tanto

que começaram a soltar cha-madinhas na tevê, pedindo pro pessoal votar antes de viajar. Ou viajar e voltar a tempo de votar. Só falta agora dizer que a culpa é do Lula...tenho cer-teza que não é, sabem por quê? Simples: porque Lula não con-tava com 2º turno, ele estava pronto pra faturar no 1º turno e isso ele não esconde de nin-guém. Quando esteve em Itajaí essa semana e apagou velinha, falou pra quem quisesse ouvir, que ele estava preparado para festança no dia 3, mas que pre-cisou adiar pra amanhã.

Eleição e SaturaçãoSe Dilma ganhar como dizem as pesquisas, Lula terá quatro anos pra preparar sua volta. Mas pra isso ele precisa acabar com esse negócio de permitir ‘reeleição’. Porque é claro que Dilma vai querer de novo...e ele, todo poderoso, não vai permi-tir, porque nestes quatro anos ele vai trabalhar como doido pra voltar e derrubar outro tucano, o mineiro Aécio Neves. Na verdade, estou saturada de Lula, porque ele deixou de ser

aquele cara em quem um dia votei e acreditei. Não tem mais nada daquilo. Tudo o que o cara combatia, principalmente a promessa de acabar com a corrupção no país, ele fez pior. As companhias que despre-zava, agora abraça com unhas e dentes. Decepção total. E nós, pobres viventes, não sabemos nem a metade do que acontece naquele paraíso. Deve ser por isso que ninguém que chega lá quer largar o osso. Saturação

é a palavra. Por isso não vou votar no Lula amanhã.

Eleição e ReligiãoOs debates não ajudaram muito. No 1º turno um não encarava o outro, não faziam perguntas nem Serra pra Dilma nem ela pra ele. Agora no 2º turno, pensei que ia melhorar, mas achei cansativo, porque ficaram batendo sempre na mesma tecla, um saco. Não contribuiu muito. Denúncias, aborto, privatização e promes-

sas, muitas promessas. Outro detalhe negativo, com esse negócio de aborto, misturaram muita religião. Acho perigosas as manifestações religiosas que aconteceram nessa campanha. Tem um bispo e um pastor quase se matando...um pedindo voto pra Dilma , outro pra Serra e dizem que garantem os votos do seu rebanho. E depois, o que querem em troca? Penso que não combinam entre si esses assuntos a esse ponto.

JP3 – Todo o trabalho de vocês é voluntário, você disse que exige muito tempo e todos têm seu trabalho, sua profissão, como vocês fazem, a profissão fica de lado?Voitina – Sim, a profissão fica de lado. Hoje a Carla e eu dedi-camos 70% do nosso tempo para o Ideia e ainda temos que dar conta da nossa vida, namorar, buscar dinheiro pra pagar contas...amo andar no meio do mato e tirar foto dos passarinhos, mas não posso fazer só isso, enquanto eu souber que estão acontecendo coisas erradas ao meu redor. Tento pagar pro meu planeta a condição de vida que ele me deu, porque a gente vive numa natureza muito boa. O Brasil tem uma bela natureza, talvez até por isso as pessoas ficam um pouco acomodadas. A falta de compromisso das pessoas me assusta um pouco.

JP3 – Desde quando você se preocupa com estas questões?Voitina – Desde que comecei a me entender por gente tenho essa preocupação. Quando eu era moleque, era algo cultural, caçar passarinhos, ter passa-rinhos na gaiola, mas aquilo tudo me incomodava. Um pas-sarinho preso me deixava triste. Comecei a pensar que passari-nhos soltos precisam de muitas árvores pra produzir alimen-tos para eles, comecei a plan-

tar árvores frutíferas e sempre eram figueiras...era no meu entendimento a que mais atraía passarinhos. Depois comecei a ver que o problema da árvore ficar em pé era o ser humano. Eu nunca fui muito preocu-pado com políticas públicas, sempre curti a natureza, mas só ficar olhando uma paisagem bonita que, de repente, alguém poderia vir e terminar com ela...me levou ao interesse por políticas públicas. Aí reuniu-se um grupo de 11 pessoas que teve a idéia e a boa vontade de montar a instituição. No meio tinha alguns mercenários que vinham com a ideia de montar uma instituição pra lucrar (...) Acho que uma das piores coisas da vida é você usar uma causa nobre pra fazer maldade, para ter benefício próprio. Comecei a ter esse entendimento de que o maior problema mesmo é o ser humano. E comecei a me preocupar com políticas públi-cas e vi que elas podem discipli-nar isso.

JP3 – As cidades procuram abrir mais espaços verdes e aqui parece acontecer o con-trário. O prefeito quer fechar com uma construção o espaço da praça mais central da cidade, mais um prédio na beira mar...Voitina – É, infelizmente, o prefeito atende só a vontade dos empresários, a especulação

Álbum familiar

“É uma grande tristeza que a maioria que nasceu e cresceu

aqui não toma banhono nosso mar”

Falando nisso... Marlise S. [email protected]

Comunidade Seringueiro no Acre, experiências diferentes. Na foto abaixo batendo arroz

imobiliária. É muito visível isso. Cada administração tem menos árvores dentro da cidade. O Parque Raimundo Malta até hoje não tem um plano de manejo e por isso está aberto a fazer qualquer coisa. A antiga administração colocou o setor de paisagismo lá dentro, que é uma agressão muito grande ao parque. O Piriquito agora vai colocar lá dentro o pessoal dos cães-guia, acho um projeto maravilhoso, mas não dentro de um parque, até porque cachor-

ros levam doenças que podem passar para animais selvagens...vai reduzindo o verde...e hoje as pessoas buscam cada vez mais o turismo natural, hoje ter uma paisagem bonita, com muito verde, isso é uma riqueza, é um tesouro e nós temos que prio-rizar a qualquer custo. Essa praça? Por que não pega esses 10 milhões e dá para a Irmãos Thá? Porque eles nem pagaram aquela praia ainda, vão acabar de pagar em 2013. Esta praça é um dos últimos espaços abertos

da cidade, vai fechar?

JP3 – Do jeito que está tam-bém não dá pra ficar. Nem é mais praça aquilo...Voitina – Faz uma arborização bonita, algo natural, as pessoas procuram por isso, mas ele não está vendo isso. Imagina um slogan de Taquarinhas dizendo ‘ se quiser conhecer uma praia totalmente preservada venha a Balneário Camboriú’. Qual o outro município que pode dizer isso?

Fabio Rodrigues Pozzebom / ABR

Fotografia é uma arte em essência que inventaram neste planeta. Não é?