Crítica Semanal Da Economia - EDIÇÃO Nº 1220-1221

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    Ncleo de Educao Popular 13 de Maio - So Paulo, SP .

    CRTICA SEMANAL DA ECONOMIAEDIO N 1220/1221Ano 29; 1 2 Semanas Janeiro 2015.

    Go ahead, Mrs. Yellen![1]Os prdomos da mais letal crise peridica dos ltimos setenta anos j se

    anunciam neste incio de 2015 nas principais praas financeiras do

    mundo. A elevao da taxa bsica de juros pelo Fed, como receitam

    categorizados economistas, s faria acender a espoleta da inevitvel

    exploso. JOS MARTINS.

    Os dados apresentados peloBureau of Labor Statistics(BLS) desmentem

    empiricamente a difundida ideia dos economistas oficiais de que o emprego da fora de

    trabalho nos EUA ainda continuava to baixo quanto no pior momento da ltima crise,

    em 2009. Com base nesta suposio diziam que no havia demanda para tirar a

    economia da crise. Mas, pela leitura que fizeram dos ltimos dados do BLS, resolveram

    atualizar suas anlises, aceitando tanto o desaparecimento do elevado desempregoquanto, por consequncia, da crise econmica que tambm se arrastava desde 2009.

    PAUL KRUGMANEssa fantasiosa ideia da economia poltica da demanda (puxada

    pelos salrios) como motor do crescimento econmico aparece de maneira mais

    grosseira em pregadores da paz social e seu demiurgo, o Estado pacificador cuja m

    administrao dos governos e polticos nacionais responsvel por todos os problemas

    das flutuaes e misrias econmicas.

    Um bom exemplo desse tipo de pastoral a do prmio Nobel de Economia Paul

    Krugman, que descobriu nesta semana, com quase seis anos de atraso, que a economia

    norte-americana enfim se recuperou. Com os dados doBLS na mo, ele est muito

    feliz. Ainda no estamos nem perto do pleno emprego, mas chegar l j no parece um

    sonho impossvel. D para acreditar que uma pessoa em plenas faculdades mentais

    possa escrever uma coisa dessas?

    http://g/BOLETINS%202014/Cr%C3%83%C2%ADtica%201220%201221%20Go%20ahead,%20Mrs.%20Yellen%201%C3%82%C2%AA%20e%202%C3%82%C2%AA%20Sem%20Janeiro%202015.docx%23_ftn1http://g/BOLETINS%202014/Cr%C3%83%C2%ADtica%201220%201221%20Go%20ahead,%20Mrs.%20Yellen%201%C3%82%C2%AA%20e%202%C3%82%C2%AA%20Sem%20Janeiro%202015.docx%23_ftn1http://g/BOLETINS%202014/Cr%C3%83%C2%ADtica%201220%201221%20Go%20ahead,%20Mrs.%20Yellen%201%C3%82%C2%AA%20e%202%C3%82%C2%AA%20Sem%20Janeiro%202015.docx%23_ftn1
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    Para nosso folclrico economista como, de resto, para cada nove entre dez

    economistas do capital o crescimento econmico s pode ser iniciado com prvio

    aumento da demanda, quer dizer, do emprego, dos salrios e, finalmente, do consumo

    das famlias, essa insipida categoria da economia popular. Como s agora, dados do

    BLS de apoio, ele v essas providenciais variveis da demanda a se deslocar

    rapidamente, conclui tambm com toda naturalidade do mundo que s agora a economia

    comea a se recuperar da crise de 2008/2009. Como veremos mais abaixo, justamente

    quando o atual perodo de expanso da economia se aproxima do seu esgotamento que

    os economistas descobrem que ele est comeando. As ideias sempre chegam muito

    depois de o movimento real ter completado seu ciclo.

    Mas surgem novos e mais embaraantes fenmenos para o entendimento

    bitolado do laureado economista. Por exemplo: a diminuio do desemprego, que ele

    tanto festeja, no foi acompanhada pela elevao dos salrios. A massa salarial

    permanece estagnada. Devido a seus equivocados pressupostos tericoscomo este de

    que a produo de capital s pode deslanchar com aumento prvio da demanda pelo

    produto os economistas tropeam na lgica do processo e no corrosivo paradoxo de

    que a atual recuperao da produo e do emprego nos EUA pode (e deve) ser

    inversamente proporcional ao crescimento dos salrios.

    Mas aqui no estamos a falar apenas da oferta de mercadorias em geral, da

    circulao simples de um produto agregado, paradigma da economia poltica oficial,

    mas da produo de mercadoria-capital de uma economia especificamente capitalista,

    tal como ela funciona no dia-a-dia do processo global de valorizao. E o que se pode

    verificar nesta realidade mensurada pelo BLS, Fed, etc. que a expanso da produo

    de capital (e do dependente produto da macroeconomia) ser tanto maior quanto menor

    for a elevao dos salrios.

    Como explicar, portanto, com os limitados pressupostos da economia poltica, a

    recente exploso da produo industrial e dos lucros na economia norte-americana

    mesmo com a estagnao da massa salarial? Onde est a demanda efetiva? claro que

    ela est presente. E fortssimamas bem longe dos canais do consumo assalariado, que,

    diga-se de passagem, continua fraqussimo. E a taxa de acumulao, que j retornou a

    pelo menos trs anos atrs aos elevados nveis ciclicamente observados nos ltimos

    trinta e cinco anos? Como explicar a ampliao da capacidade industrial e

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    taxa de desemprego poderia cair para cerca de 4% por volta do fim de 2016. Mas essa

    trajetria, diz ele, deve ser abortada antes daquela data. Que bela diferena daquelas

    infantilidades do fanfarro Krugman chegar ao pleno emprego j no parece um

    sonho impossvel.

    Assim, o mais provvel que o aumento do emprego seja interrompido em

    algum ponto nos prximos trimestres, devido elevao dos salrios, ou aes polticas,

    ou porque os empresrios tero dificuldade de encontrar trabalhadores no mercado.

    Ento, a economia retroceder, no por insuficincia de demanda, mas por esgotamento

    do potencial de oferta. para se pensar e precisar melhor estas datas. Coincidem grosso

    modo com as previses da Crtica.

    O que seria uma virtude (aumento do emprego) agora aparece no pensamento de

    Summers como uma barreira (aumento do salrio). No deixa de corresponder

    sugestiva dialtica da vida real do capital. Mas isso aparece de maneira nebulosa mesmo

    em economistas menos obtusos como ele. No tiram todas as consequncias possveis

    da previso. Escondem essas consequncias. Assim, o problema da crise para eles

    muito simples: se resume em como estabelecer a melhor estratgia de poltica

    econmica e monetria (Tesouro e Banco Central), que doravante deve focar muito

    mais no enfrentamento s presses inflacionrias de um fortalecido mercado de trabalho

    e dos crescentes custos salariais. A luta de classes fala mais alto. por isso que na

    teoria popular o lado mstico se sobrepe ao racional. Enquanto os capitalistas se

    dedicam nobre virtude privada de acumular o mximo de capitalquer dizer, estender

    ao mximo a propriedade privada especificamente capitalista os economistas se

    dedicam burocrtica tarefa de garantir, custe o que custar, a estabilidade da

    acumulao nacional e a eternidade da propriedade privada em geral.

    STANLEY FISHERMas quem diz estabilizao da mquina de produzir capital e

    defesa da propriedade privada diz que a explorao do trabalho tem necessariamente

    que aumentar. Por isso as minsculas variaes de emprego e de salrios ocorridas nos

    meses de Novembro e Dezembro 2014 nos EUA causaram muita preocupao nos mais

    destacados economistas do pas. Como Stanley Fischer, atual vice-presidente do Federal

    Reserve Bank (Fed, banco central dos EUA), at recentemente presidente do banco

    central de Israel: Se o desemprego continuar em declnio, se o mercado de trabalho

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    continuar a apertar e se ns observarmos algum sinal de incio de aumento de inflao,

    ento a coisa natural aumentar a taxa de juros, diz ele com a lgica metlica da

    burocracia.

    Nosso super-tecnocrata global est pensando com os rgidos parmetros

    da Curva de Philips. Segundo esta joia da economia poltica, quando a taxa de

    desemprego cai abaixo de uma determinada taxa natural de desemprego (NAIRU, na

    sigla em ingls), que nos EUA os economistas calculam em torno de 5 a 6% da fora de

    trabalho, sem explicar muito bem como chegaram nesta taxa, acende-se a luz amarela

    da inflao. Por que essa fatalidade? Porque, como vimos nos argumentos de Summers

    e agora de Fischer, a diminuio do desemprego dos trabalhadores sempre leva ao

    aumento dos custos salariais e, portanto, dos custos de produo, que para a economia

    popular o preo da mercadoria. Assim, para combater a elevao dos preos receita-se

    elevar a taxa de juros; isso resultaria no desaquecimento da demanda, da produo e,

    finalmente, em retomada do aumento de desemprego, cuja taxa seria recolocada acima

    da taxa NAIRU. E os preos cairiam naturalmente!

    A Curva de Philips uma das maiores imbecilidades conhecidas na histria do

    pensamento econmico. Sintetiza todas as taras e irracionalidades internas da chamada

    cincia econmica. Mas tem elevada utilidade marginal. a forma mistificadora para

    se justificar que a elevao dos salrios provoca necessariamente inflao .Ora, uma

    elevao mais ou menos acentuada dos salrios no provocaria nenhuma variao nos

    preos de mercado se os capitalistas aceitassem diminuir um pouco (muito pouco

    mesmo) o lucro das suas empresas. Uma pequena queda dos lucros empresariais, no

    elevando os preos de venda, compensaria a elevao dos salrios e pronto, no haveria

    inflao. A Curva de Philipsseria aposentada. E com ela todos os economistas. Ento,

    no seriam estes a propor tal estapafrdia alternativa. Afinal, a prpria Curva de Philips

    est a lhes dizer que eles existem para garantir a estabilidade e aumento do capital, no

    para beneficiar outros fatores de produo menos nobres.

    Summers quanto Fischer agem por instinto: pressentem que a neutralizao do

    choque de oferta que se aproxima s poder ser bem sucedida com o aumento da

    explorao da classe trabalhadora; que achatar o custo do fator trabalho a nica

    forma de evitar a falncia dos capitalistas e outras subclasses proprietrias do

    modernocapitalismo popular fragmentos e excrementos burgueses espalhados pela

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    sociedade annima, despersonalizada, abstrao realizada, on line, centralizada em

    bolsas de valores, fundos de aes, de investimentos, de penso, ttulos pblicos, dvida

    pblica...

    S a disposio prtica de salvar a propriedade capitalista dessa multido de

    investidores justifica a idiotice terica de se pensar a complexa situao econmica

    atual pela tica demente da Curva de Philips. Mas nem tudo to simples como parece.

    A aplicao do remdio errado produzir consequncias altamente indesejadas, pois h

    um novo normal para os preos e a taxa bsica de juros na atual flutuao,

    contrariando o diagnstico dos economistas.

    O grande problema de poltica econmica a ser enfrentado nos prximos

    trimestres na economia dos EUA no ser a imaginria presso inflacionria de custos

    salariais em ascenso. Acontece que, ao contrrio do que imagina os economistas do

    capital, os preos bsicos da economia no se formam na circulao do produto, mas na

    produo do capital. Esta realidade modifica radicalmente os dados do problema.

    Assim, o desfio atual da poltica econmica desarmar a armadilha de liquidez que

    surgiu na ltima crise e que pressiona desde agora os preos para baixo (deflao) e no

    para cima (inflao). O ponto central da enfermidade do sistema a ser enfrentado

    imediatamente nos EUA como j acontece na Unio Europeia e Japo a deflao

    dos preos (e da taxa geral de lucro), no a altamente duvidosa inflao dos salrios.

    Esta ltima s existe nas brumas ideolgicas da idiota Curva de Philips.

    Os prdomos da mais letal crise peridica dos ltimos setenta anos j se

    anunciam neste incio de 2015 nas principais praas financeiras do mundo. A economia

    mundial novamente grvida de superproduo de capital. As bolsas de valores do

    moderno capitalismo popularj sentem as dores do parto. A elevao da taxa bsica de

    juros pelo Fed neste ano como receitam Fisher e Summers s faria acender a

    espoleta da inevitvel exploso.Go ahead, Mrs. Yellen!

    [1][V em frente, Sra Yellen]. A Sra Janet Yellen a nova presidente do Federal Reserve (Fed, bancocentral dos EUA)

    http://g/BOLETINS%202014/Cr%C3%83%C2%ADtica%201220%201221%20Go%20ahead,%20Mrs.%20Yellen%201%C3%82%C2%AA%20e%202%C3%82%C2%AA%20Sem%20Janeiro%202015.docx%23_ftnref1http://g/BOLETINS%202014/Cr%C3%83%C2%ADtica%201220%201221%20Go%20ahead,%20Mrs.%20Yellen%201%C3%82%C2%AA%20e%202%C3%82%C2%AA%20Sem%20Janeiro%202015.docx%23_ftnref1http://g/BOLETINS%202014/Cr%C3%83%C2%ADtica%201220%201221%20Go%20ahead,%20Mrs.%20Yellen%201%C3%82%C2%AA%20e%202%C3%82%C2%AA%20Sem%20Janeiro%202015.docx%23_ftnref1