Crítica Semanal Da Economia - EDIÇÃO Nº 1273-1274

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    Ncleo de Educao Popular 13 de Maio - So Paulo, SP .CRTICA SEMANAL DA ECONOMIA

    EDIO N1273 e 1274Ano 29; 4 Semana Novembro, 1 Dezembro 2015

    As decadentes burguesias europeias e oespetacular Estado Islmico. JOS MARTINS

    O fim da era do petrleo, tal como existiu nos ltimos setenta anos, e a

    potncia altamente explosiva do prximo choque econmico global j

    comandam a realpolitik no Oriente Mdio. Enquanto os europeus fazem

    discurso os EUA e a Rssia fazem a guerra. A chapa esquenta e atinge

    temperatura mxima na Sria. Finalmente uma bela guerra.

    Na sada do Bataclan casa de show de Paris, onde foram prestar homenagem s 90pessoas que morreram no local nos atentados de 13 de Novembro o presidente daFrana e o primeiro ministro da Inglaterra tinham a cara de dois cachorrinhosassustados. Cara de quem j foi importante no sistema mundial de Estados e hoje norepresentam muita coisa. Falam de um fictcio inimigo externo para desviar a atenode perigosas e muito reais ameaas sociais internas. No foram os verdadeiros inimigosde classe dos capitalistas franceses que promoveram o massacre no Bataclan.

    Aps a visita ao local do massacre os dois lderes fizeram pronunciamentos

    sobre o que eles chamam de luta contra o terrorismo. Dizem que vo guerra noOriente Mdio. O ano Franois Hollande declarou que os ataques areos Sria seromantidos. "Vamos intensificar nossas incurses areas, vamos escolher os objetivos que

    provoquem o maior dano possvel a esta organizao terrorista". A ambiguidade dodiscurso deixa a dvida de quem ele efetivamente pretende atacar: a Sria ou o EstadoIslmico? Acertou quem apostou na coluna um. Por seu turno, Cameron declara queser anunciada nesta semana pela Inglaterra uma estratgia para "derrotar" o EstadoIslmico, essa pea espetacular do imperialismo sucessora da no menos espetacularAl-Qaeda que assumiu os recentes atentados em Paris. Puro lero-lero. Acreditar no

    realismo desta bravata de Cameron o mesmo que acreditar que a Rainha Vitria ainda a ocupante do Palcio de Buckingham. Ou que o Estado Islmico no tem nada a vercom oMossad de Telavive nem com Special Activities Division(SAD) de Washington.

    A EUROPA VALE UM EUROOs eunucos Hollande e Cameron falam como se omundo tivesse parado na segunda metade do sculo 19. Naquela poca em que seus

    pases ainda tinham alguma bala no gatilho para amedrontar o resto do mundo. Agoraamedrontam, quando muito, apenas algumas ditaduras latino-americanas, como nasMalvinas, ou africanas no Mali, Lbia, Repblica Centro Africana e outras galinhasmortas da periferia. De todo modo, as burguesias francesas e inglesas so as duas nicas

    remanescentes das antigas grandes potncias europeias ocidentais ainda autorizadaspelos EUA para produzir armamentos. Representam, portanto, o poder militar europeu

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    na atual quadratura geopoltica global. E, como tal, no passam de coadjuvantes desegunda categoria na ordem imperialista mundial. Em particular no Oriente Mdio. Piorainda a burguesia alem, outra antiga potncia do velho continente, que s voltar a

    produzir armamentos para valer e entrar na guerra imperialista no dia em que for capazde exigir da burguesia norte-americana a retirada das suas bases militares e seusmariners de Berlim. No se avista ainda nenhum movimento neste sentido. Isso s sertentado na esteira do prximo choque econmico global. No est muito distante.

    No sistema global de Estados, a Alemanha, como de resto toda a EuropaOcidental, ainda prisioneira de guerra da OTAN. Quer dizer, dos EUA. Apenas pelo

    beneplcito destes ltimos a Alemanha desgarrou-se da Rssia no inicio dos anos 1990,quando desmoronava a chamada Unio Sovitica e, junto com ela, o muro de Berlim.Mas a libertao da Rssia aumentou ainda mais a submisso alem aos EUA. Como

    prmio de consolao ganhou a eurozona e a moeda comum. A Europa, concluram osnorte-americanos, vale um euro.

    SANS ARGENT, PAS DE GUERRE 1Assim, a Alemanha tem poder financeiropara executar as aes de guerra que so anunciadas como farsa pela Frana eInglaterra, mas no tem as armas. As duas ltimas tem as armas, mas no tem odinheiro. E muito dinheiro, pois quando a Frana e a Inglaterra falam nesta segunda-feira (23) em combater o Estado Islmico esto falando na verdade em atacar a Sria,aliada de Moscou e de Teer. Falam, portanto, em defender o claudicantestatus quonoOriente Mdio sustentado por Israel, Arbia Saudita, Egito, Turquia e outras dinastias

    petrolferas do Golfo, tradicionais paus-mandados do imperialismo norte-americano na

    rea. uma tarefa muito custosa. No seria se fosse apenas para bombardear umagrupamento de imbecis chamados de Estado Islmico pela propaganda imperialista.O governo francs tem ento que passar o chapu entre os Estados europeus com

    oramentos mais slidos pedindo dinheiro para financiar uma guerra terrestre noOriente Mdio. Esse o limite da sua irresponsabilidade. bem provvel que aAlemanha prefira doar alguma coisa para algum melhor preparado para essa tarefa. Porexemplo, quem entrou a pouco mais de um ms no terreno da batalha e mudou todo oquadro da guerra na Sria. Berlim sabe que muito melhor apoiar os russos pararesolver pelo menos seu premente problema de invaso de refugiados pelas fronteiras dasua eurozona do que incentivar incuas aventuras de seu vacilante e inconsequentescio francs. Alm de impotente para realizar seus anncios de guerra, este ltimo nosabe mais a quem recorrer. E agora balana como um debiloide entre Obama e Putin.

    Os ingleses so mais realistas na poltica externa. Como sempre. As notcias deLondres so de que Cameron est tentando reunir os apoios necessrios para que oParlamento britnico autorize ataques areos contra o fantasmagrico Exrcito Islmicona Sria. Apenas ataques areos, off course. Mas talvez nem isso ele consiga. A coisa simples. A burguesia inglesa tem clareza que a manuteno do conforto de suaaposentadoria de velha potncia obriga mais uma vez fazer o jogo de cena apenas paraseguir a verdadeira estratgia de Washington no Oriente Mdio. Prefere seguir sua

    1[Sem dinheiro, nada de guerra]

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    poltica externa de poodle dos EUA do que se comprometer com as decadentes eenrascadas burguesias do continente. Principalmente quando se trata de Frana eAlemanha. Espera as diretivas de Washington para se movimentar, no more.

    A NATUREZA DA GUERRAO desenlace da guerra na Sria ser comandado pelanova estratgia dos EUA para o Oriente Mdio. A Rssia protagonista ativa destanova estratgia imperialista global. Com grandes turbulncias, idas e vindas. Pureza sna teoria. A guerra entra no ponto de ebulio mxima. E, portanto, de soluo. A novaestratgia imperialista envolve coisas muito sensveis. Como o pleno restabelecimentodas relaes com o Ir e o acordo de Washington com a Rssia para que esta aumentesua presena militar e influncia na regio. Moscou exerceria o poder aliado aosinteresses imperialistas norte-americanos (econmicos e geopolticos) para enfrentar a

    profunda crise de ingovernabilidade que detona atualmente o status quo dos ltimossetenta anos na regio. Essa ingovernabilidade atingir seu ponto mais elevado com a

    exploso do prximo choque peridico global, quando os j deprimidos preos dopetrleo desabarem em queda livre. Isso abre espao para o imprevisvel.

    Imprevisvel rima com ingovernvel. O fim da era do petrleo, tal como existiunos ltimos setenta anos, e a potncia altamente explosiva do prximo choqueeconmico global j comandam a realpolitik no Oriente Mdio. A estratgia norte-americana de progressivo deslocamento de suas foras militares e reduo das despesasde guerra do Oriente Mdio para o Extremo Oriente (mares da China e do Japo)determina a execuo dessas novas alianas militares e, consequentemente, mudanasradicais de peas no tabuleiro da regio. O mais importante de tudo isso que o

    deslocamento do grosso das tropas norte-americanas para o Extremo Oriente e oconsequente vazio que se cria no Oriente Mdio j comea a criar uma situao de forteimpacto sobre a governabilidade na Europa e suas decadentes burguesias nacionais.

    DUAS BREVES OBSERVAES. Como dizia um velho ditado libans, tudo quevez miragem. Procura a essncia que no se v. claro que as miragens do EstadoIslmico desaparecero abruptamente na medida em que os termos da interrupo daguerra na Sria sejam concretamente acertados entre Washington e Moscou. Para queisso acontea, o problema no a deciso j tomada pelos secretrios de Estado JohnKerry (EUA) e Serge Lavrov (Rssia) de desmantelamento do Estado Islmico, mas aimposio das condies do armistcio a seus aliados de Tel Avive e adjacncias. Pareceque Arbia Saudita, seus parceiros tribais do Golfo Prsico e, principalmente, a Turquia,ainda so grandes obstculos ao acordo. Tel Avive, por seu lado, que no tem a verdiretamente com o problema econmico do petrleo, parece disposta a acelerar o acordoimperialista. A menos de um ms, Netaniyahu esteve pessoalmente no Kremlin emconversas reservadas com o todo poderoso Putin. A visita de um primeiro ministro deIsrael Moscou uma coisa notvel. Nunca tinha acontecido. Como a Inglaterra, Israelsegue servilmente as diretivas de Washington. Agora, compete a Netaniyahu convencerseus comparsas tribais do Golfo e fornecedores regulares da bucha de canho para o

    Estado Islmico que o acordo imperialista proposto a sada menos traumtica para suasobrevivncia. Mesmo que precariamente.

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    Se a estratgia da realpolitik Washington-Moscou para o Oriente Mdio j estem plena execuo, o que ainda falta a ser comentado com mais detalhes so suasconsequncias para o futuro das burguesias europeias do continente, principalmenteFrana e Alemanha. Afinal, tratar dos problemas atuais do Oriente Mdio do mesmomodo que os problemas que explodiram recentemente na Ucrnia o mesmo quetratar de um problema imediatamente europeu.