Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    Cartozinho de Natal

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    At que eu no sou de reclamar, puxa! Ta, se h algum que no de reclamar, soueu. Pago sempre e no bufo. Claro que procuro me defender da melhor maneirapossvel, isto , chateando o patro, cobrando cada vez mais, buscando o impossvel como diz Tia Zulmira , ou seja, equilbrio oramentrio. Se o Banco do Brasil notem equilbrio oramentrio, eu que vou ter, ou no ?

    Mas a gente luta. Eu ganho cada vez mais e nem por isso deixo de terminar sempre oms que nem time de Zez Moreira: 0 x 0. Segundo clculos da tia acima citada, que brbara para assuntos econmicos, eu sou um dos homens mais ricos do Brasil, poisconsigo chegar ao fim do ms sem dever. Esta afirmativa no me agrada nada, mas duma pequena amostra de como vai mal a organizao administrativa do nossoquerido Brasil.

    Alis, minto...o cronista pede desculpas, mas estava mentindo. Eu vou no empate atdezembro, porque, quando chega o Natal, fogo. A embaralha tudo. No h tatu queresista aos compromissos natalinos. So as Festas dizem.

    O presente das crianas, a ganncia do comerciante, as gentilezas obrigatrias, osoramentos inglrios, a luta do consumidor, a malandragem do fornecedor e olhe nstodos envolvidos nesse bumba-meu-boi dos presentinhos.

    E que fossem s os presentinhos. A gente selecionava, largava uma lembrancinha nasmos dos amigos com o clssico letreiro: "Voc no repare, que presente de pobre" eia maneirando. Mas tem as listas, tem os cartezinhos.

    O que me chateia so as listas e os cartezinhos. A gente passa o ms todo comprandocoisas pros outros sem a menor esperana de que os outros estejam comprando coisaspra gente. De repente, quando o retrato do falecido Almirante Pedro lvares Cabral,que, no caminho para as ndias, ao evitar as calmarias, etc., etc. j um raro no bolsodos coitados do que deputado em Braslia, vem um de lista.

    O de lista sempre meio encabulado. Empurra a lista assim na nossa frente e diz: O pessoal todo assinou. Fica chato se voc no assinar. Ento a gente d uma olhada.A lista abre com uma quantia polpuda quase sempre fictcia que pra animar osangrado. E tem a lista dos contnuos, tem a lista dos porteiros, tem a lista dosfaxineiros, tem a lista das telefonistas, tem a lista do raio que te parta.

    A gente assina a lista meio humilhado, porque, no mximo, pode contribuir comduzentas pratas, onde est estampada a figura de Pedro I, que s margens doIpiranga, desembainhando a espada, etc., etc. e pensa que est livre, embora outraslistas estejam de tocaia, esperando a gente.

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    Ento t. H um momento em que os presentinhos j esto todos comprados, as listasj esto todas assinadas e voc j est com mais ponto perdido na tabela do que o timedo Taubat. Deve pra cachorro, mas vai dever mais.

    Vai dever mais porque faltam os cartezinhos de apelao. A campainha toca, vocabre para saber quem est batendo e o lixeiro. Ele no diz nada. Entrega umenvelopezinho, a gente abre e l est o versinho: "Mil votos de Boas Festas/ Seja feliz oano inteiro/ o que ora lhe deseja/ O vosso humilde lixeiro."

    E o vosso humilde lixeiro espalma sorridente a estira que a gente larga na mo dele.Meia hora depois a campainha toca. Desta vez quem sabe? uma cesta de Natalque um bacano teve a boa idia de enviar. Mas qual. o carteiro, fardado e meio semjeito, que passa outro cartozinho de apelao. A gente abre o envelope e l est:"Trazendo a correspondncia/ Faa frio ou calor/ Vosso carteiro modesto/ Prossegueno seu labor/ Mas a cartinha que trs/ Nesta oportunidade/ para desejar BoasFestas/ E muita felicidade."

    Mas este ano eu aprendi, irmos! Em 1963 vou comprar diversas folhas de papel(tamanho ofcio) e organizar vrias listas para as criancinhas pobres aqui da casa.Quando o cara vier com a dele, eu neutralizo a jogada com a minha. O mximo quepode acontecer ele assinar 500 na minha e eu assinar 500 na dele... ficando a terceirada melhor de trs para disputar mais tarde.

    Tambm vou mandar prensar uns cartezinhos. Quando o vosso humilde lixeiro ou ovosso carteiro modesto entregar o envelopinho, eu entrego outro a ele, para que leia:"No Inferno das notcias/ Mas com expresso serfica/ Eu batuco o ano inteiro/ Amquina datilogrfica/ Pro ano que vai entrar/ No me sinto otimista/ Mesmo assim,felicidades/ Lhe deseja este cronista."

    Conforme diz Tia Zulmira: " Malandro prevenido dorme de botina."

    O texto acima foi extrado do livro "Rosamundo e os Outros", Editora Sabi - Rio deJaneiro, 1963, pg. 174.

    P.S. - Acabo de receber o jornal. Vejam os dizeres do cartozinho que veio junto: "Aodobrar do sino, a mais bela histria da humanidade outra vez ser contada. Ns quetrabalhamos com alegria, no sol, no frio e na chuva te saudamos, querido(a)assinante".

    Vou mandar um que acabo de fazer para ele e para quem mais aparecer por aqui:"Martelando o teclado, procurando por textos: loucura!, assim nasce semanalmente oProjeto Releituras. E o ano no fim acaba, para alguns bem, pra outros mal, e a todoseu desejo Boas Festas e Feliz Natal!".

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    Conto de NatalStanislaw Ponte Preta

    (Srgio Porto)

    Era um Papai-Noel mais subdesenvolvido do que - digamos - o

    Piau. Uma barba mixuruqussima, rala, encardida, que eleacabou por puxar para debaixo do queixo, na esperana dediminuir o calor.

    Sim, porque fazia calor.

    A calada refletia por debaixo das calas dos transeuntes o seubafo quente, o que ocorria tambm por debaixo das saias daspassantes, mas esta imagem mais refrescante e talvez no dao leitor a idia do calor que fazia. A turba ignara ia e vinha,carregada de embrulhos, vtima da desonestidade dos

    comerciantes, mas, vida de comprar presentinhos.

    E o Papai Noel avacalhado ali na esquina, badalando. Era umsininho de som fino, que ele badalava meio sem jeito, como seestivesse disfarando alguma coisa sem aquela dignidade debadalar de sino dos verdadeiros Papais- Noeis.

    Tambm a roupa era mixa! A blusa no tinha aquela vermelhidodos Papais-Noeis de capa de revistas. Nunquinha Madalena. Eracor-de-rosa, daquele cor-de-rosa das camisas que usam

    componentes de blocos de sujo, no Carnaval carioca. Isto,inclusive, talvez fosse verdade: aquele Papai-Noel era tovagabundo que era bem possvel que tivesse aproveitado ouniforme do Carnaval anterior, para o Natal.

    Tia Zulmira, protegida pela sombra de uma marquise, aguardavaconduo e observava o Papai Noel. Observava, por exemplo,que o Papai-Noel usava tnis (bossa nova natalina), observavaque o Papai-Noel no fazia anncio de coisa nenhuma, aocontrrio de seus coleguinhas de outras esquinas, que traziam scostas grandes cartazes coloridos com os nomes das lojas dacidade.

    A velha, num lampejo, percebeu tudo. Viu logo que, naquelePapai-Noel, tinha truque. E, apenas para confirmar a sua teoria,abriu a bolsa, retirou um pedao de papel e escreveu:

    500 cruzeiros no grupo do gato 1.675 pelos sete lados...

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    NCr$ 200,00 centena 463 (invertido) . . . NCr$ 150,00.

    Enrolou o papelzinho no dinheiro correspondente e, saindo dedebaixo da marquise, passou disfaradamente pelo Papai-Noel eespalmou na sua mo a fezinha. Papai Noe1 apanhou tudo e

    disse baixinho:

    Obrigado, minha senhora. Um bom Natal para a senhoratambm.

    Texto extrado do livro "Dez em Humor", Editora Expresso eCultura - Rio de Janeiro, 1968, pg. 50.

    Fbula dos Dois Lees

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    Diz que eram dois lees que fugiram do Jardim Zoolgico. Na hora da fuga cada umtomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos lees foi para as matas daTijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os lees de todo jeito masningum encontrou. Tinham sumido, que nem o leite.

    Vai da, depois de uma semana, para surpresa geral, o leo que voltou foi justamente oque fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e alquebrado. Foi precisopedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoolgico outravez, porque ningum via vantagem em reintegrar um leo to carcomido assim. E,como deputado do PTB arranja sempre colocao para quem no interessa colocar, oleo foi reconduzido sua jaula.

    Passaram-se oito meses e ningum mais se lembrava do leo que fugira para o centroda cidade quando, l um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoolgicogordo, sadio, vendendo sade. Apresentava aquele ar prspero do Augusto FredericoSchmidt que, para certas coisas, tambm leo.

    Mal ficaram juntos de novo, o leo que fugira para as florestas da Tijuca disse pro

    coleguinha: Puxa, rapaz, como que voc conseguiu ficar na cidade esse tempotodo e ainda voltar com essa sade? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive quepedir arreglo, porque quase no encontrava o que comer, como ento que voc... v,diz como foi.

    O outro leo ento explicou: Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartiopblica. Cada dia eu comia um funcionrio e ningum dava por falta dele.

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    noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafrao geral e, vitima daleitura dos jornais, que folheara no lotao, chegou at a citar a Constituio nadefesa de seus interesses.

    Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e ama-secar,tenho o direito de exigir alguma coisa. No pretendo que a sala de visitas seja umjasmineiro, mas feder tambm no. Ou sai o cheiro ou saem os empregados.Reunida na cozinha, a criadagem confabulava. Os debates eram apaixonados, masnum ponto todos concordavam: ningum tinha culpa. A sala estava um brinco; davaat gosto ver. Mas ver, somente, porque o cheiro era de morte.

    Ento algum props encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho no iriamelhorar a situao?

    -- Isso mesmo aprovou a maioria, satisfeita por ter encontrado uma frmula capazde combater o mal que ameaava seu salrio.

    Pela manh, ainda ningum se levantara, e j a copeira e o chofer enceravamsofregamente, a quatro mos. Quando os patres desceram para o caf, o assoalhobrilhava. O cheiro da cera predominava, mas o misterioso odor, que h dias intrigavaa todos, persistia, a uma respirada mais forte.

    Apenas uma questo de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera como eranormal diminua, enquanto o outro, o misterioso estranhamente, aumentava.Pouco a pouco reinaria novamente, para desespero geral de empregados eempregadores.

    A patroa, enfim, contrariando os seus hbitos, tomou uma atitude: desceu do alto doseu gr-finismo com as armas de que dispunha, e com tal esprito de sacrifcio queresolveu gastar os seus perfumes. Quando ela anunciou que derramaria perfumefrancs no tapete, a arrumadeira comentou com a copeira:

    Madame apelou para a ignorncia.

    E salpicada que foi, a sala recendeu. A sorte estava lanada. Madame esbanjou suasessncias com uma altivez digna de uma rainha a caminho do cadafalso. Seria oprestigio e a experincia de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet eoutros menores, contra a ignbil catinga.

    Na hora do jantar a alegria era geral. Nas restavam dvidas de que o cheiro enjoativodaquele coquetel de perfumes era imprprio para uma sala de visitas, mas ningumpoderia deixar de concordar que aquele era prefervel ao outro, finalmente vencido.

    Mas eis que o patro, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se cauteloso, parano acordar ningum, e desceu as escadas, rumo geladeira. Ia ainda a meio caminhoquando sentiu que o exrcito de perfumistas franceses fora derrotado. O barulho que

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    fez daria para acordar um quarteiro,quanto mais os da casa, os pobres moradoresdaquela casa, despertados violentamente , e que no precisavam perguntar nada paraperceberem o que se passava. Bastou respirar.

    Hoje pela manh, finalmente, aps buscas desesperadas, uma das empregadas

    localizou o cheiro. Estava dentro de uma jarra, uma bela jarra, orgulho da famlia,pois tratava-se de pea rarssima, da dinastia Ming.

    Apertada pelo interrogatrio paterno Giselinha confessou-se culpada e, na inocnciados seus 3 anos, prometeu no fazer mais.

    No fazer mais na jarra, lgico.

    Stanislaw Ponte Preta (Srgio Marcos Rangel Porto 1923/1968) nos brinda com maisuma de suas histrias cheias de suspense e muito humor. Esta, retirada do livro"Rosamundo e os outros", publicado em 1963 (1a. edio) pela Editora Sabi Ltda.,d uma excelente idia do poder de criao do autor dos tambm consagrados "TiaZulmira e eu"," Primo Altamirando e elas", "Garoto Linha Dura" e os diversos eimpagveis nmeros do "Festival de Besteira que Assola o Pas".

    Por Vrios Motivos Principais

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    Durante uma recepo elegante, a flor dos Ponte Pretas estava a mastigar o excelentejantar, quando uma senhora que me fora apresentada pouco antes disse que adoroumeus livros e que est vida de ler o prximo.

    Como vai se chamar?

    Fiquei meio chateado de revelar o nome do prximo livro. Ela podia me interpretarmal. Como ela insistisse, porm, eu disse:

    "Vaca Porm Honesta." (*)

    Madame deu um sorriso amarelo mas acabou concordando que o nome era muitoengraado, muito original. Depois confessando-se sempre leitora implacvel, dessasque sabem at de cor o que a gente escreve , madame pediu para que nodeixssemos de incluir aquela crnica do afogado.

    Qual? perguntei.

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    Aquela do camarada que ia se afogando, a os carros foram parando na praia deBotafogo para ver se salvavam o homem. Depois um carro bateu no outro, houveconfuso e at hoje ningum sabe se o afogado morreu ou salvou-se. Lembra-se?Aquela uma de suas melhores crnicas.

    Foi ento que eu contei pra ela o caso do colecionador de partituras famosas, que umdia foi a um editor de msica procurando o original de certa sonata que fora compostapor Haydn e Schumann juntos. O editor ficou olhando para ele e o colecionadoresclareceu: - Sei que essa partitura rarssima, mas eu pagaria qualquer preo porela.

    Vai ser um pouco difcil disse o editor conseguir uma partitura composta porHaydn e Schumann juntos, por vrios motivos. Primeiro: quando Schumann nasceu,Haydn tinha morrido no ano anterior.

    A leitora que se lembra de tudo que eu escrevi estranhou e perguntou:

    Por que me contou essa histria?

    Porque lembra a histria que estamos vivendo agora. A crnica sobre o afogadoque a senhora diz ser uma das minhas melhores crnicas... quem escreveu foiFernando Sabino.

    Ela achou engraadssimo. Papai agrada em festa.

    (*) O ttulo, mais tarde, foi trocado, porque a vaca protestou.

    Texto extrado do livro "O melhor da crnica brasileira", Jos Olympio Editora - Riode Janeiro, 1997, pg. 88.

    Vamos Acabar Com Esta Folga

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    O negcio aconteceu num caf. Tinha uma poro de sujeitos, sentados nesse caf,tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemes,o diabo.

    De repente, um alemo forte pra cachorro levantou e gritou que no via homem praele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela provocao e logo um turco, toforte como o alemo, levantou-se de l e perguntou:

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    Isso comigo?

    Pode ser com voc tambm respondeu o alemo.

    A ento o turco avanou para o alemo e levou uma traulitada to segura que caiu nocho. Vai da o alemo repetiu que no havia homem ali dentro pra ele. Queimou-seento um portugus que era maior ainda do que o turco. Queimou-se e no conversou.Partiu para cima do alemo e no teve outra sorte. Levou um murro debaixo dosqueixos e caiu sem sentidos.

    O alemo limpou as mos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que oque dizia era certo. No havia homem para ele ali naquele caf. Levantou-se ento umingls troncudo pra cachorro e tambm entrou bem. E depois do ingls foi a vez de umfrancs, depois de um noruegus etc. etc. At que, l do canto do caf levantou-se umbrasileiro magrinho, cheio de picardia para perguntar, como os outros:

    Isso comigo?

    O alemo voltou a dizer que podia ser. Ento o brasileiro deu um sorriso cheio debossa e veio vindo gingando assim pro lado do alemo. Parou perto, balanou o corpoe... pimba! O alemo deu-lhe uma porrada na cabea com tanta fora que quasedesmonta o brasileiro.

    Como, minha senhora? Qual o fim da histria? Pois a histria termina a, madame.Termina a que pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar queso mais malandros do que os outros.

    Um texto curto, extrado do livro "O Melhor da Crnica Brasileira - 1", Jos OlympioEditora - Rio de Janeiro, 1997, pg. 71, nos faz recordar o humor de Stanislaw (SrgioPorto) e pensar na falta que ele nos faz.

    A Charneca

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    Ento, na esperana v de me livrar do tormento de amar-te, adormeci um pouco. Ese digo v, amor, porque logo fiquei a sonhar contigo, a te dizer quanto vai em mimde amor, doce, terno, perdido amor s vezes; candente, nervoso, incontido amor,tantas vezes.

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    Oh os sonhos de amor, querida! Nele eras to outra, to Julieta, to Isolda, toMarlia. E eu to o Romeu do segundo ato, to o Tristo da primeira ria, to oDirceu de antes do desterro!

    Vinhas lentamente para os meus braos ansiosos, terna e eterna, simples e definitiva,

    como o barco que parte para o naufrgio. Tu, mulher que j caminhavas para mim,antes mesmo do dia em que te conheci. Para mim, que vivia na certeza de que dealgum lugar virias, impondervel, como soem ser os destinos do amor.

    No sonho, sorramos, no sonho ramos ns dois para sempre e um dia. Tu, esquecidade tantas ingratides, eras o mais puro dos pecados. Eu, vivendo o momento em que ohomem prova a si mesmo ter um pouco de eternidade, olvidava antigos dissabores, asnoites sofridas, as lgrimas cadas, a dor.

    E to glorioso fiquei, que em mim couberam todas as glrias, abateram-se sobreminha cabea todos os hinos, e se Beethoven eu fosse, passaria, num timo, da"Pattica" "Herica". Que incontida alegria! Desprend-me de ti e sa a correr pelacharneca.

    Na verdade eu nem sei o que charneca, mas isto fica bacana pra burro, em romanceingls.

    Texto extrado do livro "Primo Altamirando e Elas", Editora do Autor - Rio deJaneiro, 1962, pg. 200.

    ramos Mais Unidos aos DomingosStanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    As senhoras chegavam primeiro porque vinham diretas da missapara o caf da manh. Assim era que, mal davam as 10, se tanto,vinham chegando de conversa, abancando-se na grande mesa docaramancho. Naquele tempo pecava-se menos, mas nem porisso elas se descuidavam. Iam em jejum para a missa,confessavam l os seus pequeninos pecados, comungavam edepois vinham para o caf. Da chegarem mais cedo.

    Os homens, sempre mais dispostos ao pecado, j no secuidavam tanto. Ou antes, cuidavam mais do corpo do que daalma. Iam para a praia, para o banho de sol, os mergulhos, ojogo de bola. S chegavam mesmo e invariavelmenteatrasados na hora do almoo. Vinham ainda midos do mar epassavam a correr pelo lado da casa, rumo ao grande banheirodos fundos, para lavar o sal, refrescarem-se no chuveiro frio,

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    excelente chuveiro, que s comeou a negar gua do PrefeitoHenrique Dodsworth pra c.

    O casaro, a por volta das 2 horas, estava apinhado. Primos,primas, tios, tias, tias-avs e netos, pais e filhos, todos na

    expectativa, aguardando aquela que seria mais uma obra-mestrada lustrosa negra Eullia. Os homens beliscavam pinga, asmulheres falando, contando casos, sempre com muito assunto.Quem as ouvisse no diria que estiveram juntas no domingoanterior, nem imaginaria que estariam juntas no domingoseguinte. As moas, geralmente, na varanda da frente,cochichando bobagens. Os rapazes no jardim, se mostrando. E ameninada, mais afoita, rondando a cozinha, a roubar pastis, sefosse o caso de domingo de pastis.

    De repente aquilo que Vov chamava de "ouviram do Ipiranga asmargens plcidas". Era o grito de Eullia, que passava da copapara o caramancho, sobraando uma fumegante tigela, primeiroe nico aviso de que o almoo estava servido. E ento todos semisturavam para distribuio de lugares, ocasio em que paisrepreendiam filhos, primos obsequiavam primas e o barulhocrescia com o arrastar de cadeiras, s terminando com o incioda farta distribuio de calorias.

    Impossvel descrever os pratos nascidos da imaginao da gordae simptica negra Eullia. Hoje faltam-me palavras, mas naquele

    tempo nunca me faltou apetite. Nem a mim nem a ningum namesa, onde todos comiam a conversar em altas vozes, regando orepasto com cerveja e guaran, distribudos por ordem de idade.Havia sempre um adulto que preferia guaran, havia sempreuma criana teimando em tomar cerveja. Um olhar repreensivodo pai e aderia logo ao refresco, esquecido da vontade.Mauricinho no conversava, mas em compensao comia mais doque os outros.

    Moas e rapazes muitas vezes dispensavam a sobremesa, nansia de no chegarem atrasados na sesso dos cinemas, queeram dois e, tal como no poema de Drummond, deixavamsempre dvidas na escolha.

    A tarde descia mais calma sobre nossas cabeas, naqueleslongos domingos de Copacabana. O mormao da varandaenvolvia tudo, entrava pela sala onde alguns ouviam o futebolpelo rdio, um futebol mais disputado, porque amador, irradiado

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    por locutores menos frenticos. L, nos fundos os bem-aventurados dormiam em redes. Era grande a famlia e poucas asredes, da o revezamento tcito de todos os domingos, queningum ousava infringir.

    E quando j era de noitinha, quando o ltimo rapaz deixava suanamorada no porto de casa e vinha chegando de volta, entocomeavam as despedidas no jardim, com promessas deencontros durante a semana, coisa que poucas vezes aconteciaporque era nos domingos que nos reunamos.

    Depois, quando ramos s ns os de casa a negra Eulliaentrava mais uma vez em cena, com bolinhos, leite, biscoitos ecaf. Todos fazamos aquele lanche, antes de ir dormir. Alis,todos no. Mauricinho sempre arranjava um jeito de jantar o quesobrara do almoo.

    Srgio Porto, a outra face de Stanislaw Ponte Preta, estariacompletando 78 anos no ltimo dia 11, caso no tivesse partidoto cedo de nosso convvio. Com seu nome de batismo escreveucrnicas maravilhosas, ora lricas, ora densamente dramticas,retratando o ambiente carioca, onde deixa transparecer sua finasensibilidade sem conseguir esconder a nota de um irresistvelhumor.

    Texto extrado do livro A Casa Demolida, Editora do Autor

    Rio de Janeiro, 1963, pg. 23.

    Histria de um Nome

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    No captulo dos nomes difceis tm acontecido coisas das mais pitorescas. Ou umcamarada chamado Mimoso, que tem fsico de mastodonte, ou um sujeito fraquinhoe insignificante chamado Hrcules. Os nomes difceis, principalmente os nomes tirados

    de adjetivos condizentes com seus portadores, so rarssimos, e por isso que minhaav a paterna - dizia:

    Gente honesta, se for homem deve ser Jos, se for mulher, deve ser Maria!

    verdade que Vov no tinha nada contra os joes, paulos, mrios, odetes e v l fidlis. A sua implicncia era, sobretudo, com nomes inventados, comemorativos deum acontecimento qualquer, como era o caso, muito citado por ela, de uma tal Dona

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    Holofotina, batizada no dia em que inauguraram a luz eltrica na rua em que afamlia morava.

    Acrescente-se tambm que Vov no mantinha relaes com pessoas de nomes tiradosmetade da me e metade do pai. Jamais perdoou a um velho amigo seu o "Seu"

    Wagner porque se casara com uma senhora chamada Emlia, muito respeitvel,alis, mas que tivera o mau-gosto de convencer o marido de batizar o primeiro filhocom o nome leguminoso de Wagem "wag" de Wagner e "em" de Emlia. verdadeque a vagem comum, crua ou ensopada, ser sempre com "v", enquanto o filho de"Seu" Wagner herdara o "w" do pai. Mas isso no tinha nenhuma importncia: aconsoante no era um detalhe bastante forte para impedir o risinho gozador de todosaqueles que eram apresentados ao menino Wagem.

    Mas deixemos de lado as birras de minha av velhinha que Deus tenha, em Suasanta glria e passemos ao estranho caso da famlia Veiga, que morava pertinho denossa casa, em tempos idos.

    "Seu" Veiga, amante de boa leitura e cuja cachaa era colecionar livros, emboracolecionasse tambm filhos, talvez com a mesma paixo, levou sua mania ao extremode batizar os rebentos com nomes que tivessem relao com livros. Assim, o mais velhochamou-se Prefcio da Veiga; o segundo, Prlogo; o terceiro, ndice e, sucessivamente,foram nascendo o Tomo, o Captulo e, por fim, Eplogo da Veiga, caula do casal.

    Lembro-me bem dos filhos de "Seu" Veiga, todos excelentes rapazes, principalmente oCaptulo, sujeito prendado na confeco de bales e papagaios. At hoje ( verdadeque no me tenho dedicado muito na busca) no encontrei ningum que fizesse umpapagaio to bem quanto Captulo. Nem bales. Tomo era um bom extrema-direita ePrefcio pegou o vcio do pai - vivia comprando livros. Era, alis, o filho querido de"Seu" Veiga, pai extremoso, que no admitia piadas. No tinha o menor senso dehumor. Certa vez ficou mesmo de relaes estremecidas com meu pai, por causa deuma brincadeira. "Seu" Veiga ia passando pela nossa porta, levando a famlia para obanho de mar. Iam todos armados de barracas de praia, toalhas etc. Papai estava najanela e, ao saud-lo, fez a graa:

    Vai levar a biblioteca para o banho? "Seu" Veiga ficou queimado durante muitotempo.

    Dona Odete por alcunha "A Estante" me dos meninos, sofria o desgosto de tertantos filhos homens e no ter uma menina "para me fazer companhia" - comocostumava dizer. Acreditava, inclusive, que aquilo era castigo de Deus, por causa daidia do marido de botar aqueles nomes nos garotos. Por isso, fez uma promessa: seainda tivesse uma menina, havia de cham-la Maria.

    As esperanas j estavam quase perdidas. Eplogozinho j tinha oito anos, quando avontade de Dona Odete tornou-se uma bela realidade, pesando cinco quilos emamando uma enormidade. Os vizinhos comentaram que "Seu" Veiga no gostou,

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    ainda que se conformasse, com a vinda de mais um herdeiro, s porque j lhefaltavam palavras relacionadas a livros para denominar a criana.

    S meses depois, na hora do batizado, o pai foi informado da antiga promessa. Ficoufurioso com a mulher, esbravejou, bufou, mas bom catlico acabou concordando

    em parte. E assim, em vez de receber somente o nome suave de Maria, a garotinha foiregistrada, no livro da parquia, aps a cerimnia batismal, como Errata Maria daVeiga.

    Estava cumprida a promessa de Dona Odete, estava de p a mania de "Seu" Veiga.

    Texto extrado do livro "A Casa Demolida", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1963,pg. 175.

    O Festival de Besteira Que Assola o Pas

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    Disse Stanislaw no FEBEAPA 2:

    " difcil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira comeou aassolar o Pas. Pouco depois da "redentora", cocorocas de diversas classes sociais ealgumas autoridades que geralmente se dizem "otoridades", sentindo a oportunidadede aparecer, j que a "redentora", entre outras coisas, incentivou a poltica do

    dedurismo (corruptela de dedo-durismo, isto , a arte de apontar com o dedo umcolega, um vizinho, o prximo enfim, como corrupto ou subversivo algunsapontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciaram essa feia prtica,advindo da cada besteira que eu vou te contar".

    Vamos a algumas amostras:

    "O mal do Brasil ter sido descoberto por estrangeiros" (Deputado ndio do Brasil,Assemblia do Rio).

    O cidado Arton Gomes de Arajo, natural de Brejo Santo, no Cear, era preso pelo23. Batalho de Caadores, acusado de ter ofendido "um smbolo nacional", sporque disse que o pescoo do Marechal Castelo Branco parecia pescoo de tartarugae logo depois desagravava o dito smbolo, quando declarava que no era o pescoo deS. Exa. que parecia com o da tartaruga: o da tartaruga que parecia com o de S. Exa.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    Cerca de 51 bandeiras dos pases que mantm relao com o Brasil foram colocadasno Aeroporto de Congonhas. O Secretrio de Turismo de So Paulo DeputadoOrlando Zancaner quando inaugurou a ala das bandeiras, disse que "era paraincrementar o turismo externo".

    Quando a Censura Federal proibiu em Braslia a encenao da pea Um BondeChamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Stiro paraque o mesmo agisse em defesa da classe teatral. L pelas tantas, a atriz deu um gritode "viva a Democracia". O senhor Ernani Stiro na mesma hora retrucou: "Insultoeu no tolero".

    O Dirio Oficial publica "Disposies de Seguros Privados" e mete l: "OSuperintendente de Seguros Privados, no uso de suas atribuies, resolve (...),"Clusula 2 Outros riscos cobertos O suicdio e tentativa de suicdio voluntrio ou involuntrio".

    Em Niteri o professor Carlos Roberto Borba iniciou ao de desquite contra aprofessora Eneida Borba, alegando que sua esposa no lhe d a menor ateno erecebe mal seus carinhos quando hora de programas de Roberto Carlos na televiso.A professora vai aprender que mais vale um Carlos Roberto ao vivo que um RobertoCarlos no vdeo.

    Colhemos num coleguinha do Jornal do Brasil:"O General Jos Horcio da Cunha Garcia fez uma firme apologia da Revoluo emanifestou-se contrariamente s teses de pacificao, bem como condenou oabrandamento da ao revolucionria. O conferencista foi aplaudido de p". Odistrado Rosamundo leu e, na sua proverbial vaguido, comentou: "No seria maisdistinto se aplaudissem com as mos?".

    Enquanto o Marechal Presidente declarava que em hiptese alguma permitiria fossealterada a ordem democrtica por estudantes totalitrios, insuflados por comunistasnotrios, quem passasse pela Cinelndia no dia 1. de abril depararia com o prdio daassemblia Legislativa totalmente cercado por tropas da Polcia Militar. Na certa, aseparao de poderes, prevista na Constituio, passar a ser feita com cordo deisolamento e muita cacetada.

    Notcia publicada pelo jornal O Povo, de Fortaleza (CE): "O Dr. Josias CorreiaBarbosa, advogado e professor, esteve beira de um IPM (Inqurito Policial Militar)por haver passado um telegrama para sua sobrinha Loberi, em Salvador,comunicando-lhe que a bicicleta e as pitombas tinham seguido. Houve diligenciaspelas vizinhanas, parentes foram procurados e outras providncias tomadas.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    Passados dois dias, soube o Dr. Josias que o despacho telegrfico no fora transmitidoporque um James Bond do DCT (Departamento de Correios e Telgrafos) estranharaos termos "bicicleta", "pitombas" e "Loberi", que "deviam ser de um cdigosecreto".

    "Os jornalistas deveriam apanhar da polcia no s durante a passeata, mas antestambm. Eles so incapazes de reconhecer o valor da polcia. Os fotgrafos, porexemplo, nunca fotografam os estudantes batendo no policial". Essa declarao foifeita pelo Secretrio de Segurana de Minas Gerais, coronel Joaquim Gonalves.

    A pea "Liberdade, Liberdade" estreou em Belo Horizonte e a Censura cortou apenasa palavra prostituta, substituindo-a pela expresso: "Mulher de vida fcil", o que, naatual conjuntura, nos parece um tanto difcil. Ningum mais t levando vida fcil.

    Segundo Tia Zulmira "o policial sempre suspeito" e por isso mesmo a Polciade Mato Grosso no nem mais nem menos brilhante do que as outras polcias. Tantoassim que um delegado de l, terminou seu relatrio sobre um crime poltico, comestas palavras: "A vtima foi encontrada s margens do riu sucuriu, retalhada em 4pedaos, com os membros separados do tronco, dentro de um saco de aniagem,amarrado e atado a uma pesada pedra. Ao que tudo indica, parece afastada a hiptesede suicdio".

    Em Campos (RJ) ocorria um fato espantoso: a Associao Comercial da cidadeorganizou um jri simblico de Adolph Hitler, sob o patrocnio do DiretrioAcadmico da Faculdade de Direito. Ao final do julgamento Hitler foi absolvido.

    A mini-saia era lanada no Rio e execrada em Belo Horizonte, onde o Delegado deCostumes (inclusive costumes femininos), declarava aos jornais que prenderia ocostureiro francs Pierre Cardin (bicharoca parisiense responsvel pelo referidolanamento), caso aparecesse na capital mineira "para dar espetculos obscenos, comseus vestidos decotados e saias curtas". E acrescentava furioso: "A tradio de morale pudor dos mineiros ser preservada sempre". Toda essa cocorocada iria influenciarum deputado estadual de l Lourival Pereira da Silva que fez um discurso naCmara sobre o tema "Ningum levantar a saia da Mulher Mineira".

    Em Braslia, depois de um dos maiores movimentos do Festival de Besteira, quebagunou a Universidade local, o Reitor Laerte Ramos figurinha que ama tantouma marafa que cachaa no Distrito Federal passou a se chamar "Reitor" nomeava um professor para a cadeira de Direito Penal. O ilustre lente nomeadocomeou com estas palavras a sua primeira aula: "A cincia do Direito aquela queestuda o Direito".

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    A Igreja se pronunciou, atravs da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil, sobrerecentes publicaes pretensamente cientficas, "que abordam problemas relacionadosao sexo com evidente abuso". O documento no explicou se o abuso era do problema

    ou se o abuso era do sexo. Em compensao, nessa mesma conferncia, Dom JosDelgado, Arcebispo de Fortaleza, dava entrevista Agncia Meridional sobre plulasanticoncepcionais, uma plula formidvel para fazer efeito no Festival de Besteira.Como se disse bobagem sobre o uso ou no da plula, meus Deus!!! Dom Delgado, porexemplo, dizia: "A protelao do casamento a nica concluso a que chego,atualmente, para a planificao da famlia e o controle da natalidade. E, depois disso,s existe um caminho seguro: o da continncia na vida conjugal". Como vem, opiedoso sacerdote era um bocado radical e queria acabar com a alegria do pobre.Ainda mais, falando em sexo e em continncia na vida conjugal, deixou muitococoroca achando que, dali por diante, era preciso bater continncia para o sexotambm.

    Textos extrados dos livros "O Festival de Besteira que Assola o Pas", Editora doAutor - Rio de Janeiro, 1966, "2. Festival de Besteira que Assola o Pas", EditoraSabi - Rio de Janeiro, 1967, e "Na Terra do Crioulo (A mquina de fazer) Doido -FEBEAPA 3", Editora Sabi - Rio de Janeiro, 1968, pgs. diversas.

    Pensamentos do LalauStanislaw Ponte Preta

    (Srgio Porto)

    - No Brasil as coisas acontecem, mas depois, com um simplesdesmentido, deixaram de acontecer.- Antes s do que muito acompanhado.- Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo"eu sou coronel, eu sou coronel", o mdico tirou o estetoscpiodo ouvido e quis saber: "Fora esse, qual o outro mal do qual osenhor se queixa?"- Ser imbecil mais fcil.- Est dando mais do que car no brejo.- Nos trens suburbanos no livram a cara nem de padre, que dir

    mulher de minissaia.- O mais perigoso que j esto confundindo justa causa comcala justa.- O Reino Unido no to unido assim como eles dizem, no.- Desligou o telefone com uma violncia de PM em servio.- Mais montono do que itinerrio de elevador.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    - Macrobitica um regime alimentar para quem tem 77 anos equer chegar aos 78.- Conscincia como vescula, a gente s se preocupa com elaquando di.- Difcil dizer o que incomoda mais, se a inteligncia ostensiva ou

    a burrice extravasante.- Sempre ouviu dizer que o homem totalmente realizado aqueleque tem um filho, planta uma rvore e escreve um livro. Tinhaum filho, plantou uma rvore, o filho trepou na rvore, caiu emorreu. S lhe restou escrever um livro sobre isso.- Quem no tem quiabo no oferece caruru.- Mania de grandeza a desses suplementos literrios que tmum aviso dizendo que proibido vender separadamente.- Pode-se dizer a maior besteira, mas se for dita em latim muitosconcordaro.- Homem que desmunheca e mulher que pisa duro no enganamnem no escuro.- Todo homem previdente sorri sem falha no dente.- Mulher expondo teoria sobre educao infantil solteira nacerta.- Menino mijado, bode embarcado e chefe de Estado, nunca ficadespreocupado.- Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!- Esperanto a lngua universal que no se fala em lugarnenhum.- Pra quem gosta de jil, coruja colibri.

    - Era desses caras que cruzam cabra com periscpio pra ver seconseguem um bode expiatrio.- O terceiro sexo j est quase em segundo.- As coisas que mais contribuem para avacalhar a dignidade deum homem so, pela ordem, bofeto de mulher e tombo debunda no cho.- Caetano Veloso confunde velocidade com trepidao.- Hoje em dia ningum bonzinho de graa.- A polcia prendendo bicheiros? Assim no possvel.Respeitemos ao menos as instituies!- O primeiro nome de Freud era Segismundo. Alis, no s seuprimeiro nome como tambm seu primeiro complexo.- s vezes melhor deixar em fogo lento do que mexer napanela.- Mais intil do que um vice-presidente.- Mais mole que bochecha de velha.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    - A polcia anda dizendo que prende um bandido de meia emmeia hora, ento a gente fica desconfiado que eles assaltam de15 em 15 minutos.- Ningum se conforma de j ter sido.- Quem desdenha quer comprar, quem disfara est escondendo,

    mas quem desdenha e disfara, no sabe o que est querendo.- Mulher enigmtica, s vezes pouca gramtica.- Quando um amigo morre, leva um pouco da gente.- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco pigarro, nem todatosse catarro, nem toda mulher eu agarro.- Quem diz que futebol no tem lgica ou no entende de futebolou no sabe o que lgica.- A diferena entre o religioso e o carola que o primeiro ama aDeus, o segundo, teme.- Pediatra sempre capricha na pronncia quando anuncia suaespecialidade, pra evitar mal-entendidos.- Nem todo gordo bom, muitos se fingem de bonzinhos porquesabem que correm menos.- Tinha tal pavor de avio que se sentia mal s de ver umaaeromoa.- Mulher e livro, emprestou, volta estragado.- O sol nasce para todos, a sombra pra quem mais esperto.E para terminar:- Da minha janela vejo o ptio de um colgio e quando acampainha toca para o intervalo das aulas eu paro de trabalhar efico olhando, como se estivesse no recreio tambm.

    - O importante no deixar nunca que o menino morracompletamente dentro da gente. Caso contrrio, ficamos velhosmais depressa. Dizem que por isso que os chineses, deincontestvel sabedoria, conservam o hbito de soltar papagaio(ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. No sei se verdade, nunca fui chins.

    Stanislaw Ponte Preta, nosso querido Srgio Porto (1923/1968),teve sua vida esmiuada por Renato Srgio no livro DuplaExposio: Stanislaw Srgio Ponte Porto Preta, editado pelaEdiouro Publicaes S.A. - Rio de Janeiro, 1998. Dali extramosos frases acima (pg. 266 e seguintes), muitas das quaisrefletem o clima em que vivia o autor face "revoluoredentora de 1964", como ele costumava dizer.--

    Prova Falsa

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    Quem teve a idia foi o padrinho da caula - ele me conta. Trouxe o cachorro de

    presente e logo a famlia inteira se apaixonou pelo bicho. Ele at que no contra issode se ter um animalzinho em casa, desde que seja obediente e com um mnimo deeducao.

    Mas o cachorro era um chato desabafou.

    Desses cachorrinhos de raa, cheio de nhm-nhm-nhm, que comem comidinhaespecial, precisam de muitos cuidados, enfim, um chato de galocha. E, como se istono bastasse, implicava com o dono da casa.

    Vivia de rabo abanando para todo mundo, mas, quando eu entrava em casa, vinhalogo com aquele latido fininho e antiptico de cachorro de francesa.

    Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos polticos da oposio, que espinaframo ministro, mas quando esto com o ministro ficam mais por baixo que tapete deporo. Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependncia da casa, odesgraado rosnava ameaador, mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho,fingindo-se seu amigo.

    Quando eu reclamava, dizendo que o cachorro era um cnico, minha mulherbrigava comigo, dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu que implicava como "pobrezinho".

    Num rpido balano poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias suas, roeu amanga de um palet de casimira inglesa, rasgara diversos livros, no podia ver um pde sapato que arrastava para locais incrveis. A vida l em sua casa estava se tornandoinsuportvel. Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bichocretino. Tentou mand-lo embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianase uma espinafrao da mulher.

    Voc um desalmado disse ela, uma vez.

    Venceu a guerra fria com o cachorro graas m educao do adversrio. O cozinhocomeou a fazer pipi onde no devia. Vrias vezes exemplado, prosseguiu no feio vcio.Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez duas na boneca da filha maior. Quatro oucinco vezes fez nos brinquedos da caula. E tudo culminou com o pipi que fez em cimado vestido novo de sua mulher.

    A mandaram o cachorro embora? perguntei.

    Mandaram. Mas eu fiz questo de d-lo de presente a um amigo que adoracachorros. Ele est levando um vido em sua nova residncia.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    U... mas voc no o detestava? Como que arranjou essa sopa pra ele?

    Problema da conscincia explicou: O pipi no era dele.

    E suspirou cheio de remorso.

    Texto extrado do livro "Garoto Linha Dura", Editora do Autor - Rio de Janeiro,1964, pg. 51.

    Certas Esperanas

    Stanislaw Ponte Preta

    (Srgio Porto)

    preciso mais do que preciso, foroso dar boas festas, trocar embrulhinhos,querer mais intensamente, oferecer com mais prodigalidade, manter o sorriso e, acimade tudo, esquecer tristezas e saudades.

    Faamos um supremo esforo para lembrar e sermos lembrados, porque assim mandaa tradio e difcil esquecer tradio. Enviemos cartes e telegramas de felicitaesqueles que amamos e tambm queles que sabemos perfeitamente no gostamda gente. O Correio, nesta poca do ano, finge-se de eficiente e j l tem prontos

    impressos para que desejemos coisas boas aos outros, nivelando a todos em nossosaugrios.

    Depois de abraar e ser abraado, desejar sincera e indiferentemente, embrulhar edesembrulhar presentes, cada um poder fazer votos a si mesmo, desejar para si o quebem entender. Subindo na escala das idades, este sonhou todo o ms com umtrenzinho eltrico, aquele com uma bicicleta (com farol e tudo), o outro certa moa,mais alm um quarto sonhador esteve a remoer a idia de ser ministro e o rico... bem,o rico s pensa em ser mais rico. O rico detesta amistosamente os ministros, j notem olhos para a graa da moa, pernas para pedalar uma bicicleta e, muito menos,tempo para brincar com um trenzinho.

    Dos planos de cada um, pouqussimos sero transformados em realidade. Alguns hode abandon-los por desleixo e a maioria, mal o ano de 56 comear, no pensar maisnele, por pura desesperana. O melhor, portanto, no fazer planos. Desejar somente,posto que isso sim, humano e acalentador.

    De minha parte estou disposto a esquecer todas as passadas amarguras, tudo que odestino me arranjou de ruim neste ano que finda. Ficarei somente com as lembranasdo que me foi grato e me foi bom.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    No mais, desejarei ficar como estou porque, se no o que h de melhor, tambm no to ruim assim e, tudo somado, ficaram gratas alegrias. Que Deus me proporcione ascoisas que sempre me foram gratas e que Ele sabe no chegam a fazer de mimum ambicioso.

    Que no me falte aquele almoo honesto dos sbados (nico almoo comvel nasemana), com aquele feijo que s a negra Almira sabe fazer; que no me falte o arroze a cerveja muito importante a cerveja, meu Deus! , como importante manterem dia o ordenado da Almira.

    Se no me for dado comparecer s grandes noites de gala, que fazer? Resta-me omelhor, afinal, que esticar de vez em quando por a, transformando em festa umanoite que poderia ser de sono.

    E para os pequenos gostos pessoais, que me reste sensibilidade bastante para entret-las. Ai de mim se comeo a no achar mais graa nos pequenos gostos pessoais. Que operfume do sabonete, no banho matinal, seja sempre violeta; que haja um cigarroforte para depois do caf; uma camisa limpa para vestir; um terno que pode no sernovo, mas que tambm no esteja amarrotado. Uma vez ou outra, acredito que nome far mal um filme da Lollobrigida, nem um usque com gelo ou digamos uma valsa.

    Nada de coisas impossveis para que a vida possa ser mais bem vivida. Apenas umapraia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livropara agosto e as mesmas vontades para dezembro.

    No mais, continuarei a manter certas esperanas inconfessveis porm passveis equanto de acontecerem.

    A crnica acima foi publicada na revista "Manchete" n. 193, de 31/12/55.

    Pescaria

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    Fomos uns cinco pescar conta-nos o amigo que h muito no encontrvamos.Tinha comprado um molinete e, segundo nos confessou, desde menino sonhava em tero seu prprio molinete. Por isso aceitou o convite.

    Quando o encontramos, s 11 horas da noite de sbado, estava cansadssimo e queriair dormir. Mesmo assim contou como foi a pescaria.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    Eles me convidaram dizendo que estava dando muito pampo na Barra da Tijuca.Passaram l em casa s 7, me pegaram e samos para comprar isca.

    Ficaram comprando isca e l pelas 9 horas entraram num bar para tomar um negcio

    porque estava ameaando chuva e era preciso precauo. s 11 horas, saram do bar etinha um camarada na porta vendendo siris.

    Vivos? perguntamos:

    Nosso amigo diz que sim e que, por isso mesmo, era preciso preparar. Ningum levavacomida para a pescaria e, portanto, at que seria bom cozinharem uns siris para fazero farnel.

    Na casa de um dele, a cozinheira foi avisada de que chegariam dentro em pouco comuma centena de siris para preparar. E de fato chegaram, l pelas duas da tarde.

    Foi tudo muito rpido. s 5 horas os siris estavam prontinhos e todos sentados emvolta da mesa, para experimentar. Trouxeram umas cervejas e foram comendo, foramcomendo, at que chegou uma hora em que havia mais siris do que fome. Resolveramtomar providncias e telefonaram para uns amigos.

    Venham comer siris.

    Os amigos chegaram com um violo e uma garrafa de usque. Usque vai, usque vem,deu fome outra vez. Eram oito horas quando a cozinheira salvou a situao com umapanelada de carne-seca com abbora. Uns sirizinhos antes, como aperitivo, e todoscaram na carne-seca.

    Ento deu vontade de cantar. Um l pegou o violo, os outros suas caixas de fsforo ecomearam a lembrar sambas antigos.

    E nosso amigo, ainda com o canio e o molinete na mo, confessa:

    Sa de l agora.

    E a pescaria?

    Pescaria? Que pescaria?

    Homenageamos o autor, que hoje, 11/01/2002, estaria completando 79 anos de idade.

    Texto extrado do livro "10 em Humor", Editora Expresso e Cultura Rio deJaneiro, 1968, pg. 54.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    DivisoSrgio Porto (Stanislaw Ponte Preta)

    Voc poder ficar com a poltrona, se quiser. Mande forrar de novo, ajeitar as molas. claro que sentirei falta. No dela, mas das tardes em que aqui fiquei sentado, olhandoas arvores. Estas sim, eu levaria de bom grado : as rvores, a vista do morro, at aalgazarra das crianas l embaixo, na praa. 0 resto dos moveis so to poucos! podemos dividir de acordo com nossas futuras necessidades.

    A vitrola esta, to velha que o melhor deix-la ai mesmo, entregue aos cuidados ouao desespero do futuro inquilino. Tanto voc quanto eu haveremos de ter, mais cedo oumais tarde, as nossas respectivas vitrolas, mais modernas, dotadas de todos osrequisitos tcnicos e mais aquilo que faltou ao nosso amor: alta-fidelidade.

    Quanto aos discos, obedecero s nossas preferncias. Voc fica com as valsas, ascanes francesas, um ou outro "chopinzinho", o Mozart e Bing Crosby. Deixe paramim o canto pungente do negro Armstrong, os sambas antigos e estes chorinhos.Aqueles que compartilhavam do nosso gosto comum sero quebrados e jogados nolixo. justo e honesto.

    Os livros so todos seus, salvo um ou outro com dedicatria. No, no estou querendoser magnnimo. Pelo contrario: Ainda desta vez penso em mim. Ser um prazer voltara junt-los, um por um, em tardes de folga, visitando livrarias. Aos poucos ireirefazendo toda esta biblioteca, ento com um carter mais pessoal. Fique com os livrostodos, portanto. E conseqentemente com a estante tambm.

    Os quadros tambm so seus, e mais esses vasinhos de plantas. Levarei comigo ocinzeirinho verde. Ele j era meu muito antes de nos conhecermos. Tambm os doischinesinhos de marfim e esta esptula. Veja s o que est escrito nela: 12-1-48. Fiquecom toda essa quinquilharia acidentalmente juntada. Sempre detestei bibels e, maisdo que eles, a chamada arte popular, principalmente quando ela se resume nessesbonequinhos de barro. Com exceo,o de pote de melado e moringa de gua, nada quefoi feito com barro presta. Nem o homem.

    Rasgaremos todas as fotografias, todas as cartas, todas as lembranas passveis deserem destrudas. Programas de teatros, lbuns de viagens, souvenirs. Que no restenada daquilo que nos absolutamente pessoal e que no possa ser entre nos dividido.

    Fique com a poltrona, seus discos, todos os livros, os quadros, esta jarra. Eu ficareicom estes objetos, um ou outro mvel. Tudo est razoavelmente dividido. Leve a suatristeza, eu guardarei a minha.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    Srgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) A casa demolida Editora do Autor, Rio deJaneiro, 1968, pg. 201.

    A mensagem

    Stanislaw Ponte Preta(Srgio Porto)

    Um amigo nosso, comandante da VASP, conta-me a estranhamensagem recebida por um piloto americano durante umaaterrissagem.

    O avio da companhia norte-americana sobrevoava a Bahia, acaminho do Rio, quando um defeito no motor obrigou o piloto aprovidenciar uma aterrissagem no aeroporto mais prximo

    possvel.

    Na Bahia, justamente na pequena cidade de Barreiras, existeuma pista de emergncia (se que se pode chamar aquilo depista) para os avies das linhas internacionais. Raramente usada, mas era a mais prxima da rota do avio. Assim, o pilotono teve dvidas. A situao dele estava muito mais pra urubudo que pra colibri. 0 negcio era mesmo se mandar paraBarreiras.

    Pediu pouso durante certo tempo, dirigindo-se Rdio local emingls. A resposta demorou um pouco, mas acabou vindo.Algum, com forte sotaque nordestino, falando um inglsarrevesado e misturado com palavras em portugus, respondiaque estava ouvindo e aconselhava o comandante a procuraroutro local para aterrissagem.

    H dias estava chovendo em Barreiras e a pista se achava empssimo estado.

    O piloto, sem outra alternativa, insistiu em pousar assim mesmo,

    e tornou a pedir instrues, ouvindo-se l a voz a dizer queestava bem, mas que no se responsabilizava pelo que desse eviesse.

    Acontece porm que isso foi dito com outras palavras, ainda nummisto de portugus e ingls. Assim:

    Ok. You land. But se der bode, I'il take my body out.

  • 7/31/2019 Cronicas Variadas Stanislaw Ponte Preta

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    Homenageamos o autor que hoje, 11/01/2003, estariacompletando 80 anos de idade.

    Texto extrado do livro "10 em Humor", Editora Expresso eCultura Rio de Janeiro, 1968, pg. 42.