Cronologia A4

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Setembro de 1939 A Polônia Destruída Tópicos do capítulo: Plano Branco, hora H: 1 o de setembro, 4:45 horas Lance teatral, o 28 de agosto: o pacto germano-soviético Chamberlain interpõe a Inglaterra A 25 de agosto, Hitler ainda hesita Para a Polônia, a guerra chegou a 1 o de setembro Renascimento da Wehrmacht Hitler destroi Von Blomberg, Von Fritsch e Leck A conspiração dos generais Desacordo entre Paris e Londres - os dois ultimatos aliados A opinião de Goering 7 de setembro: A França ataca Desmoronamento da resistência polonesa 17 de setembro: Moscou intervém Balanço de 19 dias de campanha Prelúdio Escoam-se as últimas horas de agosto de 1939. Dos Cárpatos ao Báltico, a noite está fria. As previsões do tempo são excelentes. A bruma formada nas planuras se dissipará ao nascer do sol. O dia será calmo, com sol, propício à aviação. Endurecido pelo verão o terreno é também propício aos tanques. Muitos rios secaram e os grandes - o Narew, o Bug e o Vístula - são vadeáveis em quase toda a sua extensão. Tudo combina para dar as melhores condições possíveis à experiência de novos métodos de combate da Wehrmacht. O conjunto das operações é chamado de Plano Branco (Fall Weiss). A ordem de ação somente chega aos QG dos grupos de exércitos às 17 horas. O ponto de partida da guerra, a hora H do destino da Alemanha e do mundo, é à 1 o de setembro, às 4:45h da manhã. De imediato toda a rede de transmissões se movimenta, para divulgar até aos regimentos de infantaria, dispostos ao longo da fronteira polonesa, a decisão de Adolf Hitler. O prazo é tão curto que certas unidades não são avisadas a tempo e só entrarão em combate ao ouvirem o troar dos canhões. No entanto, tendo sido lançada a ordem, certos chefes estão prontos a lançar a contra-ordem. É o caso do Coronel-General Gert von Rundstedt, comandante do Grupo de Exércitos Sul, e do chefe de seu estado maior (EM), o Tenente-General Erich von Manstein. Acreditam na repetição do que se passou seis dias antes. A 25 de agosto, às 15:25h - 3 horas depois de Rundstedt ter assumido o comando - chega a seu QG, instalado em uma aldeia às margens do Neisse, a ordem de romper as hostilidades no dia seguinte, às 4:30 da manhã. Às 20:30h, no 1

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Setembro de 1939A Polnia DestrudaTpicos do captulo: Plano Branco, hora H: 1o de setembro, 4:45 horas Lance teatral, o 28 de agosto: o pacto germano-sovitico Chamberlain interpe a Inglaterra A 25 de agosto, Hitler ainda hesita Para a Polnia, a guerra chegou a 1o de setembro Renascimento da Wehrmacht Hitler destroi Von Blomberg, Von Fritsch e Leck A conspirao dos generais Desacordo entre Paris e Londres - os dois ultimatos aliados A opinio de Goering 7 de setembro: A Frana ataca Desmoronamento da resistncia polonesa 17 de setembro: Moscou intervm Balano de 19 dias de campanha Preldio Escoam-se as ltimas horas de agosto de 1939. Dos Crpatos ao Bltico, a noite est fria. As previses do tempo so excelentes. A bruma formada nas planuras se dissipar ao nascer do sol. O dia ser calmo, com sol, propcio aviao. Endurecido pelo vero o terreno tambm propcio aos tanques. Muitos rios secaram e os grandes - o Narew, o Bug e o Vstula - so vadeveis em quase toda a sua extenso. Tudo combina para dar as melhores condies possveis experincia de novos mtodos de combate da Wehrmacht. O conjunto das operaes chamado de Plano Branco (Fall Weiss). A ordem de ao somente chega aos QG dos grupos de exrcitos s 17 horas. O ponto de partida da guerra, a hora H do destino da Alemanha e do mundo, 1o de setembro, s 4:45h da manh. De imediato toda a rede de transmisses se movimenta, para divulgar at aos regimentos de infantaria, dispostos ao longo da fronteira polonesa, a deciso de Adolf Hitler. O prazo to curto que certas unidades no so avisadas a tempo e s entraro em combate ao ouvirem o troar dos canhes. No entanto, tendo sido lanada a ordem, certos chefes esto prontos a lanar a contra-ordem. o caso do Coronel-General Gert von Rundstedt, comandante do Grupo de Exrcitos Sul, e do chefe de seu estado maior (EM), o Tenente-General Erich von Manstein. Acreditam na repetio do que se passou seis dias antes. A 25 de agosto, s 15:25h - 3 horas depois de Rundstedt ter assumido o comando - chega a seu QG, instalado em uma aldeia s margens do Neisse, a ordem de romper as hostilidades no dia seguinte, s 4:30 da manh. s 20:30h, no momento em que comiam, foi-lhes entregue nova mensagem: o Fuhrer e comandante-chefe anulava a ordem de ataque e mandava deter as tropas! Trs exrcitos j estavam em marcha e foi preciso, literalmente segur-los pela gola. At meia noite, dois generais esperam - todas as disposies tomadas para deter a avalanche -, ainda acreditando numa intimidao, num blefe. meia noite, Rundstedt se levanta. Agora - diz ele - tarde demais. Acho que poderemos repousar por uma ou duas horas. Quero evitar a interveno dos Ingleses. (Hitler) Essa espera de uma semana concedido paz agonizante, correspondeu a uma ltima tentativa de Hitler para impedir o conflito. A 25 de agosto, pela manh, o telefone tocou, no gabinete de Goering. Ele ouvira a voz de Hitler: Paro tudo. - Ah! (suspiro de alvio) Srio?- No, quero ver se h um meio de evitar a interveno dos ingleses. 1

A querela de Dantzig e do Corredor ameaava desencadear o que Hitler ainda no desejava: uma guerra mundial. Ele fazia um ltimo esforo para que a luta apenas ficasse entre ele e a Polnia. A execuo militar da Polnia fora anunciada por Hitler aos comandantes de seus exrcitos no dia 23 de maio. No contem com uma reedio do caso checo. Desta vez senhores, tero a guerra... Esta deveria comear antes do fim de agosto, depois das colheitas, para que pudesse acabar antes das chuvas de outono e da estao da lama. Se o General von Brauchitsch me tivesse dito que tinha em vista uma guerra longa, eu no teria marchado. Mas ele me prometeu conquistar a Polnia em algumas semanas. A Frana e Inglaterra no interviriam. J fiz o julgamento de seus dirigentes, em Munique: Daladier, Chamberlain...que vermes!. A Unio Sovitica, ao contrrio, tinha em Stalin, um chefe no qual Hitler reconhecia quase um igual. Mas o Exrcito Vermelho estava enfraquecido pelos expurgos militares que acabavam de eliminar a maior parte de seus generais. Alis, no impossvel que a Rssia seja levada a se desinteressar da destruio do Estado polons... Esta ltima frase, consignada nos autos do processo do Tenente-Coronel Schmundt, ajudante de campo de Hitler, contm o germe da aliana hitlerista-sovitica, o lance teatral de 23 de agosto. O prembulo da reaproximao foi o envio, a Moscou de uma misso alem, encarregada de negociar um tratado comercial. Simultaneamente, a Frana e a Inglaterra iniciavam, na capital russa, negociaes tendo em vista estabelecer uma cooperao militar contra o Terceiro Reich. As duas negociaes prosseguiram lado alado, uma discreta e fluida, outra cheia de crises. Franco-britnicos e russos atingiram penosamente, no dia 25 de julho, o princpio de um acordo poltico; em seguida, chegou a Moscou uma delegao militar, chefiada pelo General Doumenc e pelo Almirante Planket. Essa delegao deparou-se com um obstculo intransponvel; a URSS e a Alemanha no tinham fronteiras comuns e os poloneses recusavam-se obstinadamente a oferecer ao Exercito Vermelho um pedao de sua ptria para campo de batalha. Foram vs todas as presses exercidas em Varsvia. E, ento, um telegrama de Hitler chegou a Moscou: o Fuhrer dos alemes pedia a Stalin que recebesse, sem demora, seu Ministro das Relaes Exteriores, Joachim von Ribbentrop. A notcia da viagem estarreceu as capitais ocidentais, no decorrer da noite de 22 para 23 de agosto. Os poucos telegramas diplomticos que assinalavam a possibilidade de uma aproximao entre o nazismo e o comunismo foram tachados de inverossmeis. Todos aqueles que, nas redaes ou nas chancelarias tiveram nas mos o teletipo soltaram a mesma exclamao de incredulidade. Despertado por seu Ministro das Relaes Exteriores, o presidente do Conselho francs, Edouard Daladier, respondeu, sonolento: Verifique se no um boato de jornalistas. A partir do dia seguinte, comunicados triunfais em Berlim e de Moscou anunciaram que um pacto de no-agresso fora assinado entre a URSS e o Reich alemo. A delegao militar franco-britnica no tinha mais nada a fazer do que voltar para casa. Na Inglaterra, a frustrao foi amarga. Na Frana, uma imensa confuso. Mas, na Alemanha, foi um alvio. Muitos que ainda duvidavam do gnio de Hitler j no tinham mais dvidas. Certos alemes acreditavam que no mais haveria guerra, de vez que a espada sovitica faltava s democracias ocidentais. Outros achavam que a guerra poderia acontecer, porque se dissipara o pesadelo das duas frentes. A frgil Polnia seria rapidamente posta de lado e a Alemanha se voltaria, com tudo, para o Oeste. Em Moscou, tudo se passara s mil maravilhas. O mau negociador que era Ribbentrop no tivera que desatar nenhum n. Stalin aceitara, imediatamente, que o pacto pblico de no-agresso fosse apenas um vu lanado sobre o pacto real: a quarta partilha da Polnia. Firmou-se acordo sem dificuldades, sobre a fronteira comum: o Narew, o Vstula e o San. Estendera a partilha at os pases blticos, reservando-se a Litunia para a Alemanha e concedendo-se Rssia a Letnia, a Estnia , a Finlndia, e, depois a Bessarbia, que a Romnia deveria entregar. Claro que o preo parecia elevado. A barreira de Estadostampes, erguida em torno do bolchevismo, pelos tratados de 1919, fora derrubada. O germanismo seria extirpado de seus velhos postos de vanguarda, em Courlande e na Livnia. Isso era pesado, mas, ao mesmo tempo, insignificante, por ser provisrio. O contrato estava maculado por mtua m-f. Stalin o assinava pelo proveito imediato que punha em caixa e pelo tempo que ganharia. Hitler o assinava com a inteno de rasg-lo. Seu objetivo - dizia ele a seus ntimos - no era retomar Dantzig e apagar o Corredor; nem mesmo destruir o Estado polons: era conquistar as plancies russas, para assegurar o futuro do povo alemo. Os sacrifcios em que se consentia eram momentneos, portanto, fictcios. Entretanto, o dia seguinte a esse triunfo diplomtico levou a Hitler clera, surpresa e decepo. A clera era motivada pela Itlia. Em maio, esta havia assinado, com a Alemanha, uma pomposa aliana militar, a que os servios de propaganda denominaram Pacto de Ao. Mas o ao se destemperava, desde a primeira prova. Ciano e Mussolini haviam descoberto, que a guerra estava iminente. Suplicaram a Hitler que a adiasse, pretextando pouca preparao de seu pas e at invocando a Exposio Universal que deveria realizar-se em Roma, em 1940 - e para a qual tinham gasto muito dinheiro. O triunfo diplomtico em Moscou no os tranqilizava. Algumas horas depois do regresso de Ribbentrop, Hitler, sem revelar qualquer emoo, ouviu o Embaixador Attolico ler uma carta constrangida, de Mussolini, comunicando-lhe sua inteno de adotar uma atitude de no-beligerncia. Quando este se retirou, Hitler explodiu: Italianos indignos de confiana, covardes e fracos, eternos traidores!.... comunicado oficial, no entanto, declarou que 2

a no-beligerncia no representava neutralidade, que a atitude da Itlia fora aprovada pelo Fuhrer e que o Pacto de Ao estava mais slido do que nunca. A surpresa e a decepo, para Hitler, vinham de Londres. Em paris, onde o pacto germanosovitico destrua a coragem, entendia-se que a Polnia, da em diante, no poderia salvar-se e que uma guerra para defend-la no teria sentido. Em Londres, porm, no houve tal compreenso. A reao do Gabinete fora um comunicado seco, declarando que o acontecimento de Moscou de maneira alguma afetava as obrigaes da Inglaterra e que esta estava decidida a cumpri-las. Algumas horas depois, o governo britnico especificou e reforou esses compromissos. A garantia de ordem geral, dada, em maio, ao governo polons, transformava-se, naquele mesmo dia, em tratado de assistncia mtua. Cada parte contratante se comprometia a dar outra toda assistncia possvel, no caso em que se julgasse necessrio repelir pelas armas qualquer ataque, direto ou indireto, soberania de um deles. Jamais os ingleses se haviam comprometido de maneira to categrica. Jamais haviam concedido qualquer coisa que se parecesse tanto com uma carta-branca. Estranhos ingleses! No ano anterior, em Berchtesgaden, em Bad Godesberg, em Munique, Chamberlain, dera a impresso, ao poderoso Fuhrer, de um velho desvairado. E eis que, sem uma frase intil, sem um nico soluo, esse mesmo Chamberlain interpunha todo o poderio britnico entre uma Polnia condenada e uma Alemanha em armas! Seria um blefe? Seria uma resoluo desesperada? Era preciso ver. E foi para ver que Adolf Hitler decidiu suspender o ataque, a 25 de agosto, horas antes do instante fatal. Mas os dias desse prazo s foram preenchidos por negociaes confusas. O ardil de Hitler esbarrara na legtima desconfiana inglesa. Os ingleses, no ano anterior, haviam acreditado no acordo de Munique. Rasgando-o, seis meses depois ao anexar a totalidade de uma Tchecoslovquia da qual havia prometido respeitar os destroos. Hitler brincara com a sua boa-f, destrura suas iluses. Agora era em vo que jurava que Dantzig e o Corredor constituam as sua ltimas reivindicaes. Quando anoiteceu no dia 31 de agosto, ainda subsistia um vestgio de negociao. Hitler admitira receber um plenipotencirio polons e Mussolini lanara a idia de uma conferencia internacional, para pr em ordem os casos europeus em litgio. Naquela noite, a Europa dormiu melhor do que nas noites anteriores, convicta de que o ponto mais crtico da crise estava superado, de que mais uma vez a paz no morreria. Mas quando o sol de 1 de setembro apareceu, os carros blindados nazistas transpuseram a fronteira e as bombas alemes caram sobre as cidades polonesas. Uma vez mais, Hitler mentira: suas disposies conciliadoras de ltima hora tinham sido uma farsa de narcotizador. A ordem de atacar a Polnia fora repetida, na vspera. O esplndido incidente de fronteira, fabricado por Himmler - o ataque emissora de Gleiwitz, por presidirios, vestidos com falsos uniformes poloneses - estava em processo de execuo. Ao comandante militar local, o Tenente-Coronel Steinmetz, que se opunha quela felonia, fizeram calar com um: Fuhrerbefehl- uma ordem do Fuhrer. Agora a rdio alem clama que o territrio alemo fora violado, que a minoria alem da Polnia est sendo massacrada e que o Exrcito alemo contrrio interveno. No se trata de declarar guerra: trata-se de uma expedio punitiva. Os dados so jogados. Mas Hitler os lana antes de ter podido responder pergunta que motivou o adiamento do 25 de agosto: a coragem da Inglaterra ser um blefe? Os poloneses pensam que tomaro Berlim As bombas que despertam a Polnia, na alvorada de 1 de setembro, no a surpreendem: ela esperava a guerra: a guerra chegou. Limitava-se a Polnia a esperar a guerra? Uma onda de fanatismo patritico levantava o pas. Por toda parte, encontrava-se pessoas do povo a dizer que tinham medo de que seus polticos deixassem passar a ocasio de dar uma lio aos alemes. Uma vez que Hitler quer o desaparecimento do Corredor, a Polnia o suprimiria sua maneira: retomando a Prssia Oriental, onde a dominao germnica foi sempre uma usurpao. Berlim est a 100 km da fronteira: ser em Berlim que se decidir a querela e que se assinar a paz. Os homens de responsabilidade rivalizam, em inconscincia, com os patriotas antolhados. No dia 15 de agosto, o embaixador polons em Paris, Lukasievicz visitou o Ministro das Relaes Exteriores, Georges Bonnet, e este o informou sobre um propsito, confessado por Hitler ao alto-comissrio da Sociedade das Naes (SDN) em Dantzig, Karls Buckhardt: Conquistarei a Polnia, em trs semanas, com meu exercito mecanizado. Lukasievicz deu de ombros: Absurdo! Seremos ns que invadiremos a Alemanha, desde que comecem as hostilidades. Vivendo em Berlim, no espetculo cotidiano da fora alem, o Embaixador Lipski garante que uma guerra provocar uma revoluo na Alemanha e que o exrcito polons entrar triunfalmente em Berlim. Apenas 20 anos so passados sobre a ressurreio da Polnia. Se houvesse prevalecido a sabedoria inglesa, o Estado renascido das cinzas da Histria teria sido confinado em seus limites 3

geogrficos e provido, em Dantzig, de simples direitos porturios. O ardor francs e o romantismo associado causa polonesa impulsionaram essa atitude razovel, encheram a Polnia de minorias nacionais, estenderam-nas sobre a Rssia Branca e sobre a Ucrnia, abriram, como uma brecha atravs da Alemanha, o acesso ao mar artificial, que tomou o nome de Corredor. A tese dos polonfilos era a de que eles construram, nas costas da Germnia, uma grande potncia eslava, tomando Rssia bolchevista seu papel de aliada da Frana. Mas apenas alimentavam uma iluso. O aliado saciado revelou-se um aliado ingrato. A decadncia francesa foi tema em Varsvia como era tema em Roma e Berlim. Fortalecida por 33 milhes de habitantes, dos quais um tero de poloneses fora, a Polnia se colocou, em relao Frana, como Estado sucessor. Recusou associar-se ao sistema de alianas que, sob o nome de Petite Entente, a diplomacia havia constitudo na Europa Central. Levantou pretenses sobre o domnio colonial francs, reclamou Madagscar, fazendo valer a tese de que as naes jovens e prolficas tinham direito a uma nova partilha do mundo. Orgulhosa, ressentia-se furiosamente de tudo quanto a fazia ser considerada um satlite da Frana, inclusive a glria dada ao General Weygand de a haver salvo da reconquista russa, em 1920. Multiplicaram-se em Varsvia as manifestaes anti-francesas. Teoricamente, a aliana francopolonesa subsistia. Mas a verdade que, at Munique e depois de Munique, as relaes das duas aliadas chegaram a formas caractersticas de antipatia. J o inverso acontecia com a Alemanha. Uma opresso aberta e manhosa era exercida sobre as minorias alemes, enquanto a Alemanha mantinha, em Dantzig, permanente conflito. O governo hitlerista no deixava de agradar ao governo polons com concesses que este acolhia com convico de que era o reconhecimento de sua fora. O marechal Goering, mestre de caa do Reich, vinha com esplndido aparato caar o alce na floresta de Bialowieza, e sempre declarava que a Alemanha tinha necessidade de uma Polnia forte e que no existia nenhuma contenda sria entre os dois pases. Joseph Beck, protegido do heri nacional Pilsudski, levava a poltica da reaproximao at s ltima conseqncias. Na crise de Munique, colocou a Polnia ao lado da Alemanha, e arrancou Tchecoslovquia um pedao de carne: o pequeno territrio de Teschen. Quando se tentava advertir os poloneses de que sua vez viria imediatamente depois da dos tchecos, eles rebatiam dizendo: Nada tememos, pois somos temidos. A 26 de janeiro de 1939, Varsvia embandeirou-se de cruzes gamadas, em homenagem Ribbentrop, que retribua a Beck a visita que este fizera a Hitler. Foi o ltimo lampejo de uma amizade que, do lado alemo, era um clculo e, do lado polons, uma quimera. Dois meses depois, o convidado Ribbentrop comunicava ao embaixador da Polnia que a Alemanha reclamava a restituio de Dantzig e o estabelecimento de uma passagem extraterritorial atravs do Corredor. A Polnia rejeitou essas exigncias. O conflito estava aberto. A aproximao do perigo no inclinou os poloneses a uma apreciao mais objetiva da fora com que contava a Alemanha de Hitler. Os estudantes quebraram as vidraas da Embaixada alem, gritando: A Berlim. Os militares exageraram sua jactncia: Do-nos conselhos perniciosos- dizia o Ministro da Guerra, Kasprzicki. No os seguiremos. Recomendam-nos o fortalecimento, a defensiva, as manobras de retirada, a resistncia sobre as nossas linhas de gua. No faremos nada disso. Nosso gnio a ofensiva e ser tomando a ofensiva que venceremos. A 1 de setembro, comea a mobilizao. O dispositivo estratgico absurdo. Querendo dar proteo totalidade do territrio nacional, o General Rydz-Smigly estendeu, ao longo das fronteiras, 7 divises, denominadas exrcitos. Colocou foras importantes na armadilha do Corredor, ordenado-lhes conquistar a Prssia Oriental, e foras ainda mais importantes, os exrcitos Kurtrzeba e Bortnowski, na salincia de Posem, plataforma de ofensiva contra Berlim. O Ocidente, baseando seus clculos na populao, avalia que a Polnia dispe de 80 divises; mas, na realidade, ela s possui 30, das quais apenas 23 so organizadas ao comearem as hostilidades. Alis, um maior nmero em nada mudaria a situao, a no ser quanto importncia das perdas. No pela insuficincia de seus efetivos, nem erradas disposies de seus comandos, mas sim pela prpria natureza que o Exercito polons est derrotado, antes mesmo de ter combatido. O armamento polons data integralmente da Primeira Guerra. A fora area somente conta com 420 aparelhos, entre os quais os nicos relativamente modernos so uns poucos caas P-24. Ao lado de 37 regimentos de uma cavalaria anacrnica, a fora blindada se reduz a uma centena de velhos tanques. A artilharia inteiramente hipomvel. O material de transmisso, rudimentar. O material de DCA (Defesa Area) mal existe. A ofensiva est em pleno curso, mas os regulamentos de manobras so formalistas e pesados. Os homens esto sobrecarregados. As frotas de combate e as frotas regimentais, constitudos por pequenos carros rsticos. Praticamente, um exercito sem motores. O que quer dizer: um exercito rstico, adaptado ao pas, ignorante dos problemas de abastecimento, de circulao, de mecnica, que trazem de reboque a motorizao dos transportes e a mecanizao dos combates... 4

Blindados, Stukas e generais conspiradores frente, o Exrcito de Hitler... Um exrcito nascido ontem. Em 1939, descontadas algumas violaes menores, a Alemanha militar ainda estava sob o regime do Tratado de Versalhes. Tinha 100.000 soldados profissionais, espalhados por 10 pequenas divises de infantaria e de cavalaria, e estava proibida de organizar foras blindadas, artilharia pesada, aviao e estado-maior geral. O restabelecimento de um servio obrigatrio e a constituio de um exrcito nacional de 36 divises s foram ordenados por Hitler a 11 de maro de 1935. O comandante-chefe, von Fritsch, considerando este total de 36 divises excessivo e provocador, declarou que 24 bastavam defesa nacional alem. Mas Hitler foi alm. O Reichswerh, durante seus 15 anos de existncia, sofrera a nostalgia dos tanques. Durante as manobras, representava-os por camionetas blindadas com telas, ou por silhuetas que dois soldados conduziam maneira de palhaos de circo nos cavalos de papelo. Reprimidos no real, os espritos imaginativos estudavam teoricamente o engenho proibido. Compreenderam que este representava uma revoluo militar, reconciliante dos dois elementos, o poder e a rapidez, que a guerra de posies havia dissociado. Trabalhando com esse rico conjunto de dados, o pensamento militar alemo concebeu uma guerra nova, liberta das lutas de materiais, das longas e tristes matanas que, de 1914 a 1918, haviam desonrado a arte militar. Grupados em grandes unidades, operando a velocidade mxima, dispensados de esperar a centopia paraltica da infantaria, os tanques penetram, manobram, envolvem, restauram guerra o que ela pode ter de alegre, de improvisado e de inteligente. Em matria de aviao, o pensamento militar alemo era atrado pela doutrina do general italiano Douhet, que proclamava a superioridade absoluta da aviao estratgica, reduzindo a guerra a bombardeios de terror. Longe de aceit-la, organizou uma fora area de cooperao, cujos princpios de ao renem e completam a revoluo dos blindados. Admitia-se - os franceses ainda o admitem - que os tanques s podiam ser usados sob a proteo da artilharia, cujo alcance definia seu raio de ao. O pensamento militar alemo reformulou o problema, substituindo o canho pelo avio. Os bombardeiros de mergulho Sturzkampfflugzeuge, ou Stukas, podiam atirar seus projteis sobre o objetivo com preciso superior de um morteiro. Nessas condies, a guerra muda de ritmo e de profundeza. cavalaria blindada, que so as grandes unidades de tanques, junta-se a artilharia volante, que a aviao. Tais inovaes no foram admitidas sem certa resistncia por um corpo de generais cuja experincia militar fora adquirida nos campos de batalha imveis e nos estados maiores do conflito precedente. A seus olhos, a infantaria permanecia como arma principal, a cujo proveito todas as outras so empregadas, segundo a frmula comum aos regulamentos de manobra de todos os exrcitos. O tanque era um dos servos do infante. Acompanhava-o, abria-lhes caminho, protegia-o com sua blindagem, e, protegido ele prprio pela artilharia, levava-o para frente. Que se pretendesse reduzir a infantaria ao papel de simples acompanhante, limitada a recolher prisioneiros, eis a idia audaciosa que causou pasmo, no Exrcito alemo. Chefes militares excelentes, como Beck ou Halder, opuseram-se a isso, por muito tempo, com todas as foras. O rbitro foi Hitler. Vastas discusses se travariam depois da guerra, sobre sua capacidade militar, uns o elevando at o gnio dos grandes capites da Histria, outros rebaixando-o a um amador. Tanto quanto possvel, convm deixar que os fatos falem. No decorrer desta narrativa, veremos Hitler prestando contas dos problemas da guerra, ora autor de vitrias magistrais, ora artfice de reveses terrveis. O que no se pode contestar a dedicao com a qual se tinha iniciado na arte militar, sob seus mais vrios aspectos. Estudara todos os clssicos da estratgia e todos os grandes capites do passado. Conhecia, em detalhes, todo o material em servio, e todos os exrcitos. Seguia, aplicadamente, a evoluo das doutrinas. Na querela entre os clssicos e os modernos, tomou o partido dos modernos. O exrcito rpido que Guderian e seus discpulos queriam organizar correspondia sua impacincia de homem obcecado diante dos poucos anos que dispunha para realizar seus grandes desgnios. Trabalhou, com toda fora de sua paixo, para impor a sua opinio aos discordantes. At 1938, frente das trs armas alemes, estavam o Ministro da Guerra, Werner von Blomberg, o comandante chefe do Exrcito, Werner von Fritsch, e o chefe do Estado Maior, Ludwig Beck - todos partidrios do equilbrio das armas, de uma estratgia defensiva-ofensiva e de uma poltica externa prudente. Hitler esmagou os dois primeiros em retumbantes processos morais. O terceiro, o monge-soldado Beck, tentou atravessar-se torrente hitlerista, fazendo valer a responsabilidade do estado-maior, diante da nao: esmagado, por sua vez, concluiu que no havia outro recurso seno derrubar Hitler, pela fora. E comeou a conspirar, imediatamente. Hitler no estava suficientemente desembaraado do nico general bastante corajoso para desafi-lo. Tendo arrancado de todos os soldados um juramento de fidelidade sua pessoa, construiu, sem oposio, o organismo que tantas vezes ser citado: o Oberkommando der Wehrmacht, ou OKW, que reunia, sob autoridade direta do Fuhrer-Chanceler, O Exrcito, a Marinha, a Aviao, as indstrias de armas, a propaganda, etc - em suma, tudo quanto constitui a capacidade militar de uma nao. As conseqncias dessa extrema concentrao de comando seriam mltiplas, profundas e acarretariam imensas vantagens e graves inconvenientes. Mas a causa da guerra revolucionria foi definitivamente ganha, quando Hitler se constituiu comandante-chefe. 5

No momento em que comeou a campanha da Polnia, eram 6 as divises blindadas. As 5 mais antigas, numeradas de 1 a 5; a mais recente levava o numero 10. Compunham-se de uma brigada de tanques, uma de fuzileiros transportados, um batalho de engenharia, um de comunicaes, uma esquadrilha de observao e um nico regimento de artilharia, composto de dois grupos de 105 rebocados ou automotores. A metade dos 288 tanques, constituindo a dotao mdia de uma diviso, de Pz Kw 1, chamados latas de sardinha, de 6 toneladas, com uma fina blindagem e duas metralhadoras. Os Pz Kw 2, de 9 toneladas e dotados de um canho de 20, so pouco menos frgeis. Foi preciso chegar-se aos Pz Kw 3 e aos Pz Kw 4 respectivamente de 15 a 20 toneladas, com calibres de 37 e 75, para conseguir armas de real poder. Mas o nmero de Pz Kw 4 no passava de 24, por diviso, e s uma vontade como a de Hitler, pde imp-los a um estado-maior que os considerava pesado demais. Tais eram essas ilustres Panzerdivisionen que iriam revolucionar a arte da guerra e permitir a Hitler dominar a Europa. Posteriormente, 4 divises ligeiras, numeradas de 6 a 9, tornar-se-iam divises blindadas, pela juno de material checo, mas, em lugar de uma brigada, s teriam um regimento de tanques, com 3 batalhes. Fica-se chocado, retrospectivamente, pela fraqueza desse corpo de combate, no somente quando o compara ao nmero de armas que iriam surgir, ao curso dos anos seguintes, mas mesmo quando colocados no quadro das armas militares da poca. A impresso produzida pelas Panzerdivisionen e os sucessos que obtiveram levaram a que se superestimasse de maneira fantstica sua fora, e foi preciso mais de um quarto de sculo para que esse exagero desaparecesse. Muito mais do que o peso e no nmero das armas, a revoluo dos blindados consistiu na doutrina de ocupao e na coragem com que essa doutrina foi traduzida nos campos de batalha. Foi pela vitria da inteligncia que a Segunda Guerra comeou. Comparativamente, a Luftwaffe era mais forte do que a arma blindada. A partir de 1934, ela superou suas doenas infantis, levantou sua produo anual de 900 a 6.000 aparelhos, fixou alguns tipos de avio que, at a afirmao do poderio industrial americano, iriam exercer o controle do espao: o caa Me109, o caa-bombardeiro Me-110, o bombardeiro de mergulho Ju-87, os bombardeiros horizontais Ju-88, He-111 e Do-17. No incio das hostilidades, pe em servio 771 caas, 408 caas-bombardeiros, 336 Stukas e 1.180 bombardeiros. Um total de 2.695 avies, constituindo uma fora area qual nenhum pas do mundo opor equivalente, antes que se passem muitos meses. Postos de parte a aviao e os blindados, o Exrcito alemo foi reconstitudo em linhas tradicionais. A motorizao era deficiente: apenas 4 divises de infantaria motorizada, cooperando com as Panzer. O resto consistia em 36 divises da ativa, 3 divises de montanha, 37 divises de reserva e 14 divises de Ersatz - estas duas ltimas categorias tiradas do nada, algumas semanas antes. O material era desigual: os obuses modernos, de 105 e 150, tm categoria superior dos 75, 105 e 135 franceses, mas muitas baterias continuavam equipadas com o velho 77, de Guilherme II. A prpria aviao carecia de chefes de grupos e iria levantar vo com um estoque de bombas estritamente suficiente para trs semanas de operaes. Reconstituda em 5 anos, a Wehrmacht era uma improvisao, com a qual se assustavam alguns generais que se haviam formado no exrcito exemplar do tempo imperial. Entre esses chefes, a maioria se esfora para ser apenas militar. Alguns so hitleristas: a maioria anti-hitlerista. No gostam de Hitler e Hitler os odeia. Entretanto, seria preciso um estranho proftico para saber que, antes do fim da guerra, mais de cinqenta marechais, generais e almirantes devero ser fuzilados, enforcados, estrangulados, pendurados pelo pescoo em ganchos de aougue ou constrangidos ao suicdio pelo Fuhrer-Chanceler. A conspirao j estava instalada nesse comando prometido a tal hecatombe. Antes de Munique, o Deuxieme Bureau (Servio francs de Inteligncia) dera de ombros diante de uma informao que advertia haver um general alemo prestes a marchar sobre Berlim, frente de sua diviso blindada. Mas o general em questo existia: chamava-se Hoeppner (condenado morte depois) e havia esperado, uma noite inteira, em sua guarnio de Turngia, o sinal que lhes deveria ser enviado pela junta dos conjurados. Estes, reunidos em casa do Coronel-General Halder, contavam, em suas fileiras, como Coronel-General Beck, o General von Witzleben, o General de Infantaria von Stulpnagel, o Almirante Canaris, o Chefe de Polcia de Berlim, etc - todos j destinados a execuo capitais. Se perdermos esta guerra, que deus tenha piedade de ns! Eles queriam deter Hitler, no dia seguinte, no momento em que voltasse do Congresso NacionalSocialista, de Nuremberg. As ordens j estavam assinadas, quando a rdio anunciou que Chamberlain obtivera uma audincia do Fuhrer e estava voando para Berchtesgaden.... a base material de nossa conspirao estava destruda - explicaria Halder, uma vez que Hitler no mais voltaria para Berlim. A base moral no o estava menos: podamos deter um insensato que atirava a Alemanha a uma guerra previamente perdida; no podamos deter um chanceler que negociava com o Primeiro Ministro da Inglaterra a volta pacfica dos alemes para o Reich.... 6

Depois de Munique, nenhuma nova ocasio se apresentou, mas a conjurao no estava morta. Um dos conjurados, Witzleben, comandava um exrcito na frente ocidental; outro, Canaris, dirigia a espionagem alem. O prprio Halder no era outro seno o chefe do Estado-Maior, o brao direito do comandante-chefe do Exrcito, von Brauchitsch!... Assim, essa guerra mundial comeava na rebelio latente de uma parte do Alto-Comando alemo contra o chefe do Exrcito e do Estado alemes. Disso resultariam estranhas revelaes. Os chefes que no conspiravam perderam o entusiasmo. Claro que nenhum deles admitia o Corredor, o estado de Dantzig, o traado arbitrrio das fronteiras orientais, a sujeio de um milho de alemes ao jugo polons. Mas achavam que o Exrcito alemo no estava ainda refeito para enfrentar um novo conflito europeu. Salvo os hitleristas Busch e Reichenau, todos assinaram, antes de Munique, um memorando, redigido pelo General Beck, para prevenir o Fuhrer contra os perigos que sua poltica aventureira fazia correr a Alemanha. O pacto germano-sovitico os serenara um pouco, libertando-os da obsesso de uma guerra, em uma Rssia cuja rudeza e imensidade quase todos conheciam. Esto inquietos. A guerra comeava antes que estivessem prontos. O moral da nao, como a dos generais, estava muito longe da exaltao. Naquele ms de agosto de 1939, nada se assemelhava torrente de entusiasmo, corrida para o sacrifcio de julho de 1914. Hitler sabia disso. No ano anterior, antes de Munique, fizera uma experincia que no ousava renovar, naquele ano: o desfile, em Berlim, de uma diviso blindada. Havia esperado uma tempestade de patriotismo: apenas provocou um espetculo de consternao! Durante trs horas, os carros blindados rolaram atravs das ruas da cidade em meio a um silencioso estupor, como se fora um exrcito inimigo numa cidade conquistada - com Hitler, sacada da Chancelaria, esperando em vo o rumor belicoso que queria provocar, passagem de seus monstros de ao. Findo o desfile, ele voltou para seu gabinete e atirou-se a uma poltrona, injuriando o povo alemo - da mesma maneira que, vencido e agonizante, o injuriaria seis anos depois, no mesmo local, depois de t-lo crucificado e desonrado. Do Bltico aos Crpatos, as tropas marcham. O plano de operaes, retocado e ampliado segundo as diretivas de Hitler, agarrou a Polnia em uma tenaz. O ramo de esquerda o Grupo de Exrcitos Norte, comandado pelo General von Bock. O ramo da direita o Grupo de Exrcitos Sul, comandado pelo General von Rundstedt. O primeiro grupo se compe de dois exrcitos: o 3 (Kuchler), surgindo da Prssia Oriental, e o 4 (Kluge), desembocando da Pomernia - ao todo 21 divises, entre as quais 9 da ativa, com apenas duas blindadas. O segundo grupo integrado por trs exrcitos: o 14 (List), reunido nos Crpatos; o 10 (Reichenau), concentrado na Alta Silsia, e o 18 (Blaskowitz), lanado da regio de Breslau - ao todo 36 divises, entre elas 28 da ativa, das quais 4 blindadas. Enquanto o Grupo Norte apagar o Corredor, forar a linha do Narew, tomar Varsvia pela retaguarda, o Grupo Sul destruir o grosso das tropas polonesas, a oeste do Vstula. Leva-se to longe o desprezo ao adversrio, que s se deixa, entre os dois grupos de exrcitos, para defender Berlim da elite das tropas polonesas, uma cadeia de guardas alfandegrios. s 4:45h, o cruzador-couraado Schleswig-Holstein, chegado na vspera a Dantzig, abre fogo sobre o territrio polons da Waterplatte. As formaes areas voam. E, dentro da bruma, os tanques de Guderian, de Hopner e de von Kleist transpem a fronteira e caem sobre os poloneses adormecidos. O dia 2 se setembro um bom dia para Hitler. As notcias militares so excelentes. O comando polons foi completamente surpreendido. Via o inicio das hostilidades segundo o precedente de 1914: 15 dias para concentrao das tropas, sem outras operaes alm de escaramuas fronteira. Essa guerra, que arranca veloz, toma-o de surpresa. Os soldados batem-se, mas os tanques blindados alemes rompem a frgil posio de resistncia e investem furiosamente, desorganizando a retaguarda, destruindo as ligaes, paralisando o exerccio do comando. A Luftwaffe derruba a aviao inimiga, neutraliza os QGs, bombardeia em mergulhos os ncleos de resistncia, provoca engarrafamento das retaguardas inimigas, jogando s estradas uma multido de civis desvairados... Ao norte do dispositivo, as tropas alemes desembocam da Prssia Oriental e atacam a posio do Mlawa, que cobre Varsvia. No Corredor, o 3 e o 4 exrcitos fazem juno. No centro, o 10 Exrcito, ponta de lana do Grupo Rundstedt, atinge o Warta, numa marcha progressiva de 80 km em 36 horas. No extremo sul, as tropas alpinas de List foraram a garganta do Jablunka, teatro de lutas interminveis, na guerra anterior, e chegam s portas de Cracvia. Era impossvel esperar um incio de ofensiva mais vivo e mais brilhante. E a Inglaterra? E a Frana? Esperaram 21 horas e 30 minutos para notificar ao governo do Reich que o prolongamento da ao militar alem os foraria a cumprir seus compromissos com a Polnia. A Wilhelmstrasse olha com superioridade essa providncia tardia. um ultimato? - pergunta Ribbentrop. No; uma advertncia - respondem os embaixadores. Graves desacordos existem entre Paris e Londres. Em Paris, o Ministro das Relaes Exteriores, Georges Bonnet, agarra-se desesperadamente proposta italiana de uma conferncia a quatro. Em Londres, suspeita-se que a Frana se est furtando a esse entendimento. O Embaixador da Polnia, Conde 7

Radzinski, chega, como um louco, ao Foreign Office, gritando que, a seu colega de Paris, Bonnet declarara que, pela Polnia, no faria massacrar as mulheres e as crianas da Frana. Esses poloneses apreciam tanto mais o egosmo sagrado quando o haviam exercido, em 1938, s custas dos tchecos. Mas os deputados ingleses vo a seu encontro na impacincia e na indignao. Vaiam uma fraca declarao de Chamberlain, resumida nisto: Ns protestamos. Esperemos, agora, a resposta do Sr. Hitler. Dizem, nos bastidores de Westminster, que a moleza do gabinete provm da defeco francesa, mas que a Inglaterra marchar sozinha e Chamberlain ser derrubado e substitudo por Churchill. Enquanto isto, em Berlim, Hitler passa a noite com alguns ntimos, na sala de msica da nova Chancelaria, lendo, com voz radiante, os boletins de vitria que lhes chegam da frente polonesa. Na Frana, a mobilizao geral fora decretada na vspera, noite, o que significava, segundo os clculos do servio alemo de contra-espionagem, que pelo menos 80 divises se concentravam do mar do Norte Suia. Ora, a Alemanha s deixara, a oeste, 11 divises ativas, e vrias semanas sero necessrias para que as 35 divises, de terceira e quarta vaga, que devem refora-las, atinjam uma segunda coeso. Nas cidades fronteiras, como Freiburg-am-Brisgau, o boato de que os franceses transpunham o Reno levantara uma onda de pnico. Mas o Fuhrer permanece imperturbvel. Registra que a Cmara francesa, votando 85 milhes de crditos suplementares, nunca pronuncia a palavra guerra. Mais uma vez a intuio hitlerista se revela exata: a Frana e a Inglaterra no passam ao. Mas Hitler se engana. Se a vontade francesa est oscilante, a resoluo inglesa firme. Ao Conde Ciano, que lhe telefonava febrilmente do palcio Chigi, Lorde Halifax responde que nenhuma conferncia pode ser cogitada sem que, previamente, a Alemanha retire suas tropas do territrio polons. Mussolini manda responder que no pode transmitir tal exigncia ao Fuhrer. Rompe-se o ltimo fio da paz. s 4 horas da manh de 3 de setembro, o Embaixador Neville Henderson recebe, de Londres, ordem de pedir audincia a Ribbentrop, para as 9 horas. Wilhelmstrasse finge dormir, como se estivesse em plena paz. Henderson tem que despertar uma poro de subalternos, para ouvir a resposta de que Sua Excelncia Ribbentrop no estaria visvel pela manh, mas que o conselheiro de embaixada Paul Schmidt, intrprete de Hitler, estava habilitado a receber qualquer comunicao do Governo ingls. Foi nas mos desse funcionrio de segunda classe que a Inglaterra teve que entregar seu ultimato: se s 11 horas dentro de duas horas! - no recebesse garantias categricas quanto imediata retirada das tropas alemes, existiria estado de guerra entre ela e o Reich alemo... A Frana segue - a reboque. Recusa apresentar seu ultimato simultaneamente com o ingls, insiste em que o prazo s expire a 4 de setembro, evita, ainda, empregar a palavra guerra. O Governo francs - escreve Bonnet - ficaria na obrigao de cumprir os compromissos que a Frana contraiu com a Polnia e que o Governo alemo conhece.... Trs horas depois de o Embaixador Henderson ter enviado o ultimato, o Embaixador Coulondre remete Wilhelmstrasse essa eufmica declarao de guerra. A da Inglaterra, Schmidt a tinha imediatamente levado ao gabinete de Hitler. Ele estava de sentado mesa de trabalho. Ribbentrop, de p, perto de uma janela. Schmidt traduziu, lentamente, o ultimato. Hitler parecia petrificado. Permaneceu imvel por um interminvel momento. Depois, lanou a seu Ministro das Relaes Exteriores um olhar furioso de homem enganado. E agora? - disse, com inflexo inexprimvel. Schmidt apressou-se a sair. Na ante sala, havia-se reunido uma pequena multido de ajudantes de campo e altos funcionrios do partido. Schmidt os ps a par do ultimato ingls. Caiu outro silncio, que a voz de Goering rompeu: Se perdermos esta guerra, que Deus tenha piedade de ns. A Frana ataca: Tarde demais! A 7 de setembro, pela manh, grupos de reconhecimento, pertencentes aos 3, 4 e 5 exrcitos franceses, transpem a fronteira alem, a oeste dos Vosges, em frente a Sarrelouis, Saarbruck e DeuxPonts. O objetivo da ofensiva aliviar a Polnia, obrigando o Exrcito alemo a voltar-se para a frente ocidental. Demasiado tarde? no, no demasiado tarde... dramaticamente, tarde demais!... Pelo relgio de 1914, essa interveno no quinto dia da mobilizao seria honrosa. Procedia-se, de incio, concentrao dos exrcitos, atrs da carapaa da cobertura, e somente quando essa concentrao terminasse seria possvel empreender ao ofensiva. A conveno franco-polonesa de estado-maiores, discutida em maio - e no ratificada, por falta de um acordo poltico -, conformava-se com essa concepo clssica. Previa que a Frana desencadearia, progressivamente, operaes ofensivas, de objetivos limitados, l pelo quarto dia de sua mobilizao, para atacar com o grosso de suas foras, l pelo 15, se o esforo principal a Alemanha se acentuasse sobre a Polnia. A Frana no estava, pois, atrasada nem quanto ao relgio de seu pensamento militar, nem quanto ao meio compromisso assumido. Mas, pelo relgio de 1939, a interveno francesa chega to tarde que se torna intil. A Polnia ainda se bate mas sua derrota est consumada. O mesmo 7 de setembro que vira a entrada prudente das 8

vanguardas francesas no Sarre, v, na Polnia, o desabamento da resistncia organizada. O 4 Exrcito alemo cerca o Vstula, at Thorn. O 3 Exrcito, tendo conseguido uma penetrao em Mlawa, toma Varsvia pela retaguarda. O corpo diplomtico, o governo e o comando saram de l precipitadamente, mas sua rota de fuga, o sudeste, est cortada pelo 14 Exrcito, que, tendo conquistado Cracvia, avana em direo fronteira romena. A oeste do Vstula, o exrcito polons do saliente de Poznan (o exrcito que devia marchar sobre Berlim) tenta, por uma reviravolta, cair sobre o flanco esquerdo do 8 Exrcito alemo. Rundstedt, porm, reorienta seu 5 Exrcito, lana o 15 Corpo de Exrcito motorizado e o 16 blindado pela retaguarda de Bortnovski. A reao polonesa nada mais resulta do que no primeiro grande cerco da guerra, o bolso do Bzura, no qual 19 divises polonesas so capturadas. Do lado alemo, as mais altas esperanas esto ultrapassadas. Somente tarde demais, quando submetidas as operaes a uma crtica pormenorizada, se revelaro certas fraquezas bastante inquietantes, em um exrcito cujas bases ainda no esto bem firmes. O rendimento excelente das unidades blindadas e areas tudo conquista. A infantaria e a cavalaria polonesas so impotentes contra os tanques; a artilharia hipomvel polonesa perde todos os cavalos, sob o bombardeio da aviao; os bombardeios em profundidade cortam as comunicaes e desorganizam as retaguardas. O prprio tempo, , uma vez mais, hitlerista. As chuvas esto atrasadas, o cu continua radioso - cmplice imperturbvel dos avies e dos tanques. , na verdade, uma bela guerra, fresca e alegre. As perdas so poucas. As divises no motorizadas mal tm ocasio de combater. As personalidades distintas do regime nazista vm assistir a essas grandes manobras, em que est compreendido o salto de Leni Riefenstahl sobre o QG de Rundstedt, com uma pequena pistola cintura e um punhal na bota branca. Quanto Hitler, transportou-se para seu primeiro QG, de campanha, no Kasino Hotel de Sopot, praia de Dantzig. No se envolve com os pormenores das operaes. Mas tira concluses sobre essa guerra de grande rendimento, na qual acreditou, contra a opinio dos profissionais. Enquanto isso, ora splices, ora afrontosamente, os representantes do comando polons, em Londres e em Paris, pedem a abertura das hostilidades areas. A resposta que a RAF, vai, todas as noites, atirar panfletos sobre a Alemanha, mas que o governo francs julga inoportuno atrair represlias sobre suas indstrias de guerra, tomando a iniciativa de bombardeios mais srios. No Sarre, elementos de uma dezena de divises avanam, passo a passo, tirando do anonimato algumas localidades, como Bubingen, Wittersheim ou Hornbach. As diretivas do comando so de uma modstia exemplar. Trata-se de investir progressiva e metodicamente sobre a Linha Siegfried entre Haardt e Mosela, e s depois e eventualmente o ataque s fortificaes dever ocorrer. A resistncia inimiga corresponde, em medida, a essa fraca agressividade - de acordo com as ordens de Hitler, que havia prescrito que suas foras se limitassem a responder aos ataques. Todavia, os soldados franceses tm cruel surpresa: as minas. As estradas saltam sob os veculos, as tropas, avanando atravs dos campos, caem em armadilhas mortais e os homens que abrem a porta de uma granja ou apanham um objeto abandonado so pulverizados. As minas... O Exrcito francs, votado defensiva, mal sabe o que so. Ftil ofensiva! S teria sentido se a Frana, adaptando seu exrcito condio de guardio dos tratados, tivesse corpos de combate blindados, capazes de se atirar sobre a Alemanha e invadi-la. O General Gamelin sabe, melhor que ningum, que se trata de um simulacro de ao, em favor de uma Polnia condenada. Desde o dia 9 de setembro, ele vem registrando, para o General Georges, seu adjunto para a frente nordeste, a gravidade das derrotas polonesas, sublinhando que as misses defensivas tomam a prioridade. A ofensiva terminou, para a Polnia. No dia 17, Moscou fala. Molotov declara que o governo polons j no d sinal de vida: logo, a Repblica Polonesa deixara de existir. A URSS, consequentemente, procede ocupao dos territrios que, em seu acordo com o Reich, lhe foram reconhecidos como zonas de influncia. Uma modificao ser aposta a esse acordo, a 28 de setembro: em troca do abandono da Litunia, pela Alemanha, a nova fronteira germano sovitica ser recuada para leste, at Bug. Ainda h combates esparsos, mal conhecidas fogueiras de herosmo, de uma guerra esquecida. Um general, Victor Thomme, defende-se, com furor, na cidade de Modlin. Um general, Prugar-Katlings, entrincheira-se na floresta de Ianov, de onde surge, com alguns esquadres - cavaleiros contra Panzer! - para se atirar ao assalto de uma diviso blindada imobilizada por falta de combustvel. Um almirante, Unruh, disputa, at o dia 2 de outubro, o pequeno porto militar de Hel, na extremidade de uma faixa de areia da baa de Dantzig. Em contrapartida, o heri de estampas de Epinal, o Marechal Rydz-Smigly, passa pela Romnia sem armas, mas com numerosa bagagem. A Polnia de Kosciuzko at hoje cora de vergonha. A prpria Varsvia, defendida por um general polons chamado Rommel, foi sitiada. Considerando que toda resistncia coordenada cessara, os generais alemes propem bloquear a cidade e esperar sua capitulao. Mas replicando que Varsvia uma fortaleza, Hitler manda que a aviao e a artilharia a castiguem. A cidade rende-se a 27 de setembro, aps um bombardeio de 4 dias. Outros desentendimentos vo produzir-se entre Hitler e seus generais. Seguindo o Exrcito vitorioso, as SS (Schutzstaffel - Guarda de Proteo) e a Gestapo se precipitam sobre a Polnia. O General 9

Petzel, comandante das foras em Poznan, protesta contra a matana dos judeus. O General von Kuchler declara ao Gauleiter da Prssia Oriental, Koch: O Exrcito alemo no foi organizado para servir de furriel a um bando de assassinos. Nomeado comandante das tropas de ocupao, o General Blaskowitz faz condenar morte os membros das SS, culpados de atrocidades, e, tendo Hitler anulado o julgamento, envia-lhe uma nota de protesto que lhe cortar a carreira. A animosidade do antimilitarista que Hitler contra os militares de carreira, prisioneiros das concepes anacrnicas de honra, jamais deixar de se exacerbar. No entanto, esses militares, to detestados, ganham para seu Fuhrer, uma bela vitria. A Polnia, que os estados-maiores ocidentais julgavam estar apta a resistir por um ano, arrasada em 19 dias. Deixa 694.000 prisioneiros nas mos de seus vencedores - e mais 217.000 nas dos russos. As perdas dos exrcitos alemes se elevam a somente a 10.572 mortos, 30.322 feridos e 3.409 desaparecidos.

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Setembro a Dezembro de 1939A Guerra EsquisitaTpicos do captulo: Um front em letargia A Linha Maginot: abrigo magnfico, arma medocre Lies da campanha da Polnia A chuva pe em discusso a ofensiva alem A volta dos submarinos Primeira arma secreta alem: a mina magntica Morte do Royal Oak Fuga e suicdio do Graf Spee Nova guerra, a 30 de novembro: a URSS contra a Finlndia Revs sovitico s margens do Lago Ladoga O OKW julga o Exrcito Vermelho Expectativa Esquisita guerra. Diariamente, trens passam s dezenas, pela margem direita do Reno, a 500m das armas francesas, postas na ponte de Chalempe: as sentinelas contam os vages e prestam conta... Uma enchente do rio carrega algumas lanchas; os estados-maiores procuram uma linha reta para faz-las afundar pelas casamatas da margem, sem que os projteis atinjam a margem alem... Soldados alemes trabalham a todo risco, sob painis, prometendo que no atiraro em primeiro lugar; um FieselerStorch faz a sua ronda, com um rudo de motocicleta rouca; alto-falantes gritam que os ingleses se batero at o ltimo francs: ningum tenta dispersar os trabalhadores, abater o avio ou fazer calar essa voz destrutiva do moral. Esquisita guerra! Exrcitos contendo centenas de milhares de homens terminam assim sua prestao de contas cotidiana: Perdas para o inimigo: nada. Perdas por acidentes: tanto (muito grande). No Grande QG a seo que desenvolve maior atividade a do...teatro para os soldados. Estranhssima guerra! O front, se que se pode empregar essa palavra pomposa, caiu em letargia. No dia 12 de setembro, a ofensiva em favor da Polnia foi detida, porque j no mais havia Polnia. A 30 de setembro, decidiu-se a retirada das foras para o territrio francs. Em 16 de outubro, porque Hitler ordenara libertar o territrio alemo, as retaguardas, deixadas em posies conquistada, foram dispersadas, para ficarem altura, os franceses evacuaram, espontaneamente, o saliente de Forbach, onde se encontram suas mais produtivas minas de hulha. O primeiro dogma de sua religio militar estritamente defensiva era no se bater em duas frentes. Consequentemente, tudo est subordinado defesa da Linha Maginot, principal posio de resistncia, onde a guerra ser ganha, contendo o assalto inimigo. opinio francesa, a Linha Maginot inspira uma confiana religiosa. Mas o menos importante oficial de estado-maior, em gozo de um mnimo de independncia de esprito, conhece os defeitos desse imenso covil de raposa. , realmente, uma linha, isto , uma posio sem profundeza, sobre a qual s se pode travar combate frontal. Os fortes se defendem mal e seus construtores ignoraram a existncia da aviao. No tomaram em considerao o bombardeio de mergulho, que tanto pode vencer os couraados terrestres quanto os do mar, nem o desembarque de tropas aerotransportadas sobre as superestruturas. O obstculo antitanques, constitudo por pedaos de trilhos, por demais fraco; os parapeitos da artilharia so vulnerveis; os campos de tiro podem ser obstrudos por uma preparao de artilharia; enfim, o poder de fogo das obras nfimo em relao sua enormidade e a seu custo. A Linha Maginot um magnfico abrigo, mas um medocre instrumento de combate. Diga-se que impenetrvel e absurda. A prova disso ser feita depois de 10 de maio de 1940. Nesse dia, os alemes se apoderaro, em 4 horas, por meio de um assalto areo, do forte belga de Eben-Emael. Os oficiais do Estado-Maior francs, reportando-se s suas notas de campanha, para apreciar o acontecimento, lero o seguinte: O forte couraado de EbenEmael, pilastra norte da defesa de Liege, comparvel s obras mais poderosas de nossas fortificaes do Nordeste.... O fato de que a Linha Maginot se detm em Montmedy escapou menos aos crebros militares franceses do que a inveno do avio. Foram elaborados projetos para prolong-la at o mar e refor-la

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numa segunda linha, disputando o acesso da Bacia Parisiense. Foi necessrio renunciar a isso, no somente por motivos financeiros, mas principalmente porque o acabamento e a duplicao da Linha Maginot absorveram o Exrcito francs. As fortificaes tm por objetivo economizar os efetivos e um costume to antigo como a guerra mant-las por tropas de valor secundrio; a Linha Maginot, contrariamente, exige para suas guarnies tropas numerosas e especializadas. Em Saint-Cyr as listas de promoes no saem mais na Legio, saem dans de bton (na arma de Engenharia). De Basilia a Sedan, 21 divises de elite se acumulam em subterrneos. Imveis, por destino, so desprovidas de meios de transporte e inutilizveis fora de sua concha. Triplicar a extenso da Linha teria estendido essa paralisia a 2/3 das grandes unidades. Mas ainda no tudo. Feita para defender, a Linha tem necessidade de ser defendida. A cada uma das divises de fortaleza preciso sobrepor uma ou duas ditas de intervalo. A destreza insuficiente, a fraca mobilidade do Exrcito francs so ainda reduzidas por essa pesada servido - e, no entanto, o dogma da Linha Maginot imposto como uma disciplina intelectual a toda a hierarquia militar. Aconteceu a um general moderar o entusiasmo do Duque de Windsor, de volta de uma visita Linha; informado disso, pelo Duque, por ocasio de um almoo em Vincennes, Gamelin pousou o guardanapo e foi ao telefone exonerar o hertico do comando. Em mdia, a Linha Maginot se encontra a uma dzia de quilmetros aqum da fronteira. Cada diviso de intervalo prolonga, para frente, seu grupo de reconhecimento e um ou dois batalhes. Frgil cobertura que se subdivide em uma linha de segurana. Por fim, s esses grupos esto em contato, algumas vezes em completa quietude, outras em condies bastante severas. Dois ou trs setores, como o de Apach, perto da fronteira luxemburguesa, ou a regio atormentada ao sul de Forbach, fazem exceo trgua tcita que os exrcitos francs e alemo se permitiram. Os alemes fazem rpidas incurses de vaivm, com cobertura do fogo de metralhadoras e de morteiros e, freqentemente, tomam de assalto os postos. Os franceses limitam-se a armar emboscadas, nas quais se deixa prender, de quando em quando, um inimigo desafortunado. Com tal jogo, enquanto os franceses fazem 100 prisioneiros, os alemes fazem 3.000. O Comando explica que no deseja deixar-se arrastar na engrenagem de uma luta nos postos avanados. S se combate em uma posio. O impressionante o deserto que se estende entre os destacamentos de cobertura e a Linha. Toda a populao foi evacuada - embora os alemes tenham deixado seus civis nas vizinhanas da fronteira. Nas aldeias, vergonhosamente pilhadas - falncia da disciplina -, mal se encontra um pequeno elemento da engenharia encarregada de fazer o jogo das destruies. Da mesma maneira que as aldeias, as cidades foram evacuadas, inclusive Estrasburgo, transformada em cidade do silncio e severamente protegida por barragens de gendarmes, - de tal maneira se teme que ela seja saqueada. Contidos no Sudoeste da Frana, os alsacianos e os lorenos acumulam um velho rancor contra franceses que no podem admitir que franceses falem alemo. E a chuva cai. E as perguntas se multiplicam. Essa guerra sem guerra no ser um malentendido? No dia 6 de outubro, em um discurso ao Reichstag, Hitler fizera uma proposta de paz: a Frana e a Inglaterra as repeliram, mas a trgua total nos combates do a impresso de que as conversaes secretas esto em curso. De resto, consolidara-se nos espritos a idia de que a Linha Maginot e a Linha Siegfried eram inexpugnveis e de que o exrcito que se arriscasse a tomar a ofensiva seria destrudo. Assim, o conflito s pode revestir-se das formas de uma luta ideolgica e econmica. Seria a propaganda e pelo bloqueio que Hitler ira ser posto de joelhos. Nascida da dvida e do tdio, uma imensa preguia toma conta do Exrcito francs. As sondagens feitas pelo controle postal pintam homens dceis mas inertes e convencidos de que sero desmobilizados antes de haverem combatido. Os acantonamentos so em geral deficientes, mas a alimentao, regulamentar ou suplementar, abundante. O Exrcito francs come e bebe. Os oficiais, que o regulamento alemo pe no regime do Goulashkanon, da cozinha rolante, vivem no luxo alimentar. Os QG so os ltimos a ter autoridade para censur-los: disputam-se os chefes dos grandes restaurantes parisienses e enviam seus carros de ligao a buscar trutas nos Vosges ou rodovalho em Boulogne. Uma das mais importantes cozinhas do GQG arrastar sua adega pelas estradas da derrota e a esvaziar, depois do armistcio, em Montauban. A desculpa desse sibaritismo sob as armas era que o sangue no corria. Mal recuperada da hemorragia 1914-18, a nao ficava reconhecida, por isso, ao Comando. Essa segunda guerra de posio no repete as matanas absurdas, as lutas de gigantes por pedaos de terra. Mas o Exrcito francs deveria empregar a trgua que lhe concediam para se reforar e se endurecer. Mas foi o contrrio que aconteceu: o Exrcito francs perdia a tmpera e amolecia. No entanto, teve, para instru-lo, uma lio gratuita. A Wehrmacht deu-lhe, na Polnia, uma exibio de seus processos de combate. Lio preciosa. Lio perdida! Depois de outubro o Deuxieme Bureau empreendeu, espontaneamente, um estudo crtico da campanha da Polnia. Prisioneiro do conformismo militar francs, atento para no se chocar, muito diretamente, com as idias dos grandes chefes, no se elevou simplicidade e fora das concluses formuladas no outro campo, atravs de estudos anlogos: falncia completa da defesa linear, 12

preponderncia da rapidez sobre a ao do fogo, etc. No obstante, enumerou com exatido todas as caractersticas da nova guerra maneira alem. Mostrou que a vitria, na Polnia, havia sido trabalho quase exclusivo das divises blindadas, cooperando com a aviao. Fez ressaltar que no havia apenas um, mas, na realidade, dois exrcitos alemes: um de infantaria-artilharia e um de tanques-aviao, cada qual operando com velocidade prpria e independentemente do outro. Entrando em pormenores, o Deuxieme Bureau demonstrou a manobra das duas divises Panzer: a 3 forando o ferrolho de Mlawa, mudando de rumo para varrer as margens do Narew, antes de descer para tomar Varsvia pela retaguarda; a 5 desembocando da Eslovquia, a 300 km de sua base de partida, depois girando 120 para se abater, ela tambm, sobre Varsvia. Os efeitos do bombardeio de mergulho, sobre o moral das tropas, o uso dos pra-quedistas, a paralisia dos movimentos militares causada pelas multides de refugiados que enchiam as estradas, nada de essencial falta a esse importante documento. A lentido de escoamento dessa papelada militar far com que ele chegue, a certos estados-maiores, durante a batalha de maio, a tempo de que possam confirmar seu fundamento. S ter essa utilidade. O Comando francs recusa-se a dar importncia a esses ensinamentos da campanha da Polnia - Kriegspiel, na realidade. Os oficiais que empreenderam seus estudos esto discretamente desencorajados. O Troisieme Bureau, autoridade decisiva, declara que no se poderia tomar o que se passara na Polnia como base de instruo do Exrcito francs durante o inverno. As condies so por demais diferentes. Na Polnia, a Alemanha enfrentara um exrcito primitivo, mediocremente comandado, mediocremente equipado, constrangido a guarnecer frentes desproporcionadas, em terreno desprovido de qualquer organizao defensiva. Na Frana, est enfrentando um exrcito moderno, comandado por um discpulo de Joffre, soberbamente equipado, instalado num campo de batalha bem dividido e bem isolado, apoiado no sistema de fortificaes mais poderoso jamais construdo: a Linha Maginot. A maior prova de que nada existe de comum entre as duas situaes que Hitler no ataca. Ele se atirara sobre a Polnia. Diante da Frana, espera. A chuva pe Hitler em xeque A primeira ordem de ataque contra o exrcito comandado, equipado, instalado, fortificado, maginotado, fora assinada a 27 de outubro, pelo Fuhrer. A ofensiva deveria se iniciar a 12 de novembro, 15 minutos antes de o sol nascer. A deciso de derrotar a Frana ainda em 1939 havia sido tomada antes mesmo do fim da guerra na Polnia. Quando Hitler a anunciou aos principais chefes da Wehrmacht, a 27 de setembro, Varsvia ainda resistia. Os generais recusaram a tomar a srio uma inteno que lhes parecia desproporcional aos meios de que dispunham. Foram necessrias muitas reunies na nova Chancelaria, a instruo n 6 sobre a conduo da guerra e, por fim, a ordem de 27 de outubro, para convenc-los de que o Fuhrer cogitava mesmo de se atirar sobre a Frana, transportando para o Oeste os mtodos de combate que no Leste haviam sido to brilhantemente bem sucedidos. Regressando da Polnia, pelas ferrovias ou rodovias, os exrcitos alemes se concentravam no Reno. Brauchitsch, conscienciosamente, visitou os QG. A unanimidade reinava neles: a ofensiva desejada pelo Fuhrer era uma impossibilidade e a ordem de ataque, para 12 de novembro, uma loucura. Brauchitsch considerou que era seu dever de comandante-chefe opor-se a elas. O dia 5 de novembro era uma data importante: devia-se decidir, ao meio-dia, se a ordem de ataque seria ou no mantida. Brauchitsch apresentou-se, pela manh, nova Chancelaria e pediu para ser recebido, a ss, pelo Fuhrer. Hitler cedeu, de m-vontade. Brauchitsch comeou pela leitura de um memorando em que reunira as consideraes militares que desaconselhavam uma ofensiva a oeste. O Exrcito francs era forte demais. O Exrcito alemo ainda no havia adquirido bastante resistncia. Faltava-lhe artilharia pesada; faltavam-lhe as munies necessrias para atacar as fortificaes francesas. Alcanada sobre um adversrio fraco, a vitria da Polnia no devia iludir ningum. Devia ser utilizada a vantagem poltica que ela dava Alemanha, para ser negociada, em boas condies, a paz geral. Hitler, de incio, escutara em silncio profundo. A exploso veio quando o Coronel-General aludiu aos defeitos morais que a campanha da Polnia fizera aparecer no novo Exrcito alemo, nascido do nazismo. A Infantaria - disse Brauchitsch - no demonstrou o mesmo esprito ofensivo que teve na guerra precedente. Mesmo em certas divises da ativa, atos de indisciplina foram assinalados.... Brauchitsch nada mais leu. Entrou na ante-sala parecendo que ia desmaiar. Hitler havia tomado o documento de suas mos, o rasgou e o pisoteou no cho. Depois chamara Keitel - Lakeitel, Keitel, o lacaio - e, atravs da porta, ouviram-no rugir contra a estupidez e a covardia dos generais. Quando Keitel saiu, era meio dia em ponto. O coronel do estado-maior Warlimont esperava porta do Fuhrer. Advertiu que o momento fixado para a confirmao da ofensiva j tinha passado. No calor da indignao, Hitler e seu general domstico haviam se esquecido disto.

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Keitel voltou cova do leo. Dali saiu logo depois, dizendo que a ordem para 27 de outubro fora confirmada. Quando Warlimont telefonou essa ordem ao Estado-Maior de Brauchitsch, o oficial que recebeu a mensagem manifestou surpresa. Mas - disse ele - o Coronel-General foi expor ao Fuhrer por que a ofensiva impossvel... O Coronel-General - respondeu Warlimont - no conseguiu convencer o Fuhrer... Brauchitsch pediu demisso. Hitler negou e ele teve que permanecer no posto, para preparar planos que desaprovava. O plano da ofensiva de 12 de novembro fora preparado pelo Estado-Maior do Exrcito (OKW), a 19 de outubro. O Exrcito alemo deveria penetrar nos trs pases cuja neutralidade, um ms antes, Hitler prometera respeitar: Holanda, Blgica e Luxemburgo. O centro de gravidade, o Schwerpunkt, era a regio de Liege. A ala a marchar, formada pelos grupos de Von Bock (grupo B), devia conquistar as costas do mar do Norte, a fim de proporcionar Marinha e Fora Area uma base de operaes aeronavais contra a Inglaterra. Um papel ofensivo menor estava determinado ao grupo de exrcitos de Von Rundstedt (grupo A), que devia atravessar as Ardenas e forar passagem pelo Mosela. Um terceiro grupo (grupo C), comandado por Von Leeb, manteria a frente pacfica, de Luxemburgo Sua. Hitler estava parcialmente satisfeito. Eles calaram as botas de Schlieffen - dissera a seus dois palacianos - Keitel e Jodl. Haviam-lhes explicado que o efeito de surpresa produzido em 1914, pela extenso da ala direita alem no podia repetir-se. Desta vez, o Comando francs esperava o ataque pela Blgica. A fina-flor de suas foras estava disposta das Ardenas ao mar do Norte - e seria a uma batalha frontal que uma reedio do Plano Schlieffen se arriscaria a chegar. Entretanto, Hitler deixou passar o plano da OKH. Embora dotado de verdadeira intuio estratgica, no tinha, disse o general francs Koeltz, a formao superior de Estado-Maior que lhe permitisse expressar plena e imediatamente a idia da manobra, nascente em seu pensamento. Na realidade, no era somente Hitler chefe de guerra, era Hitler, como general, que engendrava suas idias em estado de nebulosa e depois as precisava numa alternncia de meditaes solitrias e de conversaes descosidas. A intuio da penetrao de Sedan lhe veio muito cedo, mas ficou por muito tempo em gestao, sob forma fluida, em torno de hipteses instveis. O ultraje a Brauchitsch foi seguido, a 23 de novembro, por violenta repreenso aos comandantes de Exrcitos, reunidos na Chancelaria. Conta Halder: Hitler ladrou contra os generais: no posso expressar-me de outra maneira. Mesmo assim, alguns mantiveram sua oposio, e um deles, Leeb, chegou at a propor uma greve do Alto-Comando, para matar o projeto da ofensiva. Mas o hbito de obedincia e o fatal juramento de fidelidade prestado ao Fuhrer acorrentaram a imensa maioria desses soldados. o cu que se encarrega de adiar a ofensiva a oeste. Hitler exige bom tempo para que o rendimento da fora area e dos blindados seja digna do que foi durante o luminoso vero polons. Ora, o outono de 1939 execrvel. Novembro traz chuvas torrenciais. Os rios enchem e as inundaes estendem, pelas plancies, grandes obstculos aos tanques. As previses meteorolgicas anunciam muitas nuvens, vindas do Atlntico, prometendo dilvios para os dias seguintes. No dia 7, Hitler transfere para dia 9 a deciso relativa ao ataque. E, novamente, para dia 13, depois para 16, depois para 20. Uma suspeita apodera-se do Fuhrer: exige que os boletins bicotinados sejam fixados pela Luftwaffe, uma vez que os generais de terra lhe parecem capazes de subornar os meteorologistas. Mas os homens-barmetro da aviao no so menos pessimistas do que os da terra. Os adiamentos da ofensiva se sucedem: 27 e 29 de novembro; depois 4, 6 e 12 de dezembro... Estranha guerra. A chuva cai, torrencialmente. Em seus pssimos acantonamentos, da Alscia e das Ardenas, os homens se encharcam, sob a tempestade que no tem fim. A palha para os colches apodrece nas granjas. Atingidos por misteriosa doena ou vtima da negligncia dos seus condutores, os cavalos da artilharia morrem aos milhares. A intemprie boa razo para que se cancelem os exerccios e para que sejam suspensos os trabalhos de organizao do terreno. Os homens se unem nos botequins das aldeias e se entediam ... No mar, guerra nada esquisita Um argumento vem apoiar aqueles que sustentam que a Segunda Guerra Mundial seria mais econmica e generalizada do que uma guerra europia: enquanto as hostilidades terrestres so nulas, as hostilidades navais comearam desde o primeiro dia e prosseguiram vigorosamente. Aps o dia 3 de setembro, s 21 horas, apenas 10 horas depois da proclamao do Estado de guerra, uma exploso destruiu o navio ingls Athenia, de 13.500 toneladas, que fazia sua viagem para Nova Iorque. Houve 112 vtimas, das quais 28 passageiros americanos. A Segunda Guerra Mundial tem seu Lusitnia desde o primeiro dia.

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No dia seguinte, o Volkischer Beobachter acusa: fora Churchill quem afundara o Athenia, com a ajuda de uma mquina infernal, sem dar importncia a 1.500 vidas humanas, para criar um incidente entre a Alemanha e os Estados Unidos. Churchill (que acabara de voltar a seu posto de 1914: Primeiro-Lorde do Almirantado) protesta, sem conseguir convencer totalmente. No entanto o Volkischer mente: no fora Churchill, mas o tenente Lemp, comandante do U 30, quem afundara o Athenia. Seria preciso, porm, esperar os documentos do processo de Nuremberg para se ter certeza. A Kriegsmarine falsifica o dirio de bordo, faz com que toda a tripulao jure segredo, infringe sano disciplinar a Lemp, culpado de haver aberto as hostilidades, ao torpedear um navio, sem advertncia. Um segundo navio, o Royal Spectre, afunda 2 dias depois. Desta vez, o comandante do U 48, o jovem tenente Herbert Schultze, avisa diretamente a Churchill. Estes dois navios abrem a lista de 2.603 navios que, de 1939 a 1945, foram destrudos pelos U-Boote de Hitler. Mais ainda do que os chefes do Exrcito, os chefes da Marinha acham que a guerra prematura. A Alemanha s possui uma fraca frota de superfcie: 3 couraados de bolso, Admiral Graf Spee, Admiral Scheer e o Deutschland, construdos sob as limitaes (10.000 toneladas) do Tratado de Versalhes, 2 cruzadores de guerra, de 26.000 toneladas (Scharnhorst e Gneisenau), 1 cruzador pesado (Prinz Eugen), 5 cruzadores leves e 22 destrieres. Est terminando a construo dos couraados de 35.000 toneladas (Bismark e Tirpitz) e comeando dois outros barcos, provisoriamente denominadas H e J. Ao total, uma frota cuja reconstituio mal comea e que no pode apresentar-se candidata ao domnio dos mares. Por sua vez, a arma submarina s ressuscitara em 1935, quando o capito de fragata Karl Doenitz criou a flotilha Weedingen, composta de 3 pequenos submarinos. Em 1939, o nmero de submarinos construdos eleva-se a 57, mas a metade compe-se de canoes, de menos de 250 toneladas, no utilizveis no Atlntico, e muitos ainda no haviam concludo sua experincias. Vrias semanas se passaro at que a Alemanha possa ter nos mares, simultaneamente, mais de 3 ou 4 submarinos. Do lado aliado, a majestosa frota britnica de 1914, 8 esquadras de 8 navios de linha, j no existe. Um programa de rearmamento naval est em curso, mas os couraados da srie King George V, assim como os porta-avies do tipo Illustrious s comearo a sair do estaleiro em 1941. Enquanto espera, a frota de alto bordo se compe de 13 veteranos da Primeira Guerra, 10 couraados e 3 cruzadores de guerra, mais 6 porta-avies, dos quais 5 so velhos couraados adaptados e, ainda, dos dois nicos navios de linha construdos depois de 1919, o Nelson e o Rodney. O efetivo dos barcos ingleses de menor tonelagem continua impressionante: 15 cruzadores com canhes de 8 polegadas, 49 cruzadores com canhes de 6 polegadas, 184 destrieres, 38 corvetas, etc. Mas a Inglaterra deve guardar caminhos martimos que, sob o pavilho ingls, se marca pela presena cotidiana, no mar, de 2500 navios mercantes. Se a Itlia tivesse entrado na guerra, a Inglaterra deveria levar em conta uma fora naval poderosa e moderna: 4 couraados, dos quais dois de 35.000 toneladas, novos em folha, o Vittorio Veneto e o Littorio, 7 cruzadores pesados, 12 cruzadores leves, 59 destrieres, 69 vedette torpedeiras, 105 submarinos. A no-beligerncia de Mussolini neutraliza essa armada mediterrnea, permite que se junte luta contra a Alemanha a totalidade de uma frota francesa que, ao contrrio do Exrcito, se renovara totalmente. Alm de 3 couraados antigos, conta com 2 grandes navios de 26.000 toneladas, o Dunkerque e o Strasbourg, que os ingleses classificam como cruzadores de guerra, e termina, em seus arsenais, o Richelieu e o Jean-Bart, de 35.000 toneladas, que devem ser os barcos mais poderosos de sua gerao. Dezoito cruzadores pesados, todos modernos, constituem uma fora homognea e os 28 destrieres (mais 24, em construo) so considerados pelos ingleses como cruzadores leves. A continuidade nas construes, a habilidade do falecido Ministro da Marinha, Georges Leygues, a capacidade do chefe de Estado-Maior Franois Darlan, explicam por que, no momento mais intenso de seus crepsculo militar, a Frana possua a fora naval mais poderosa que j tivera, depois da Monarquia. Uma surpresa tcnica, porm, atinge a Inglaterra. Ao longo das costas, nos esturios, navios so destrudos de uma maneira misteriosa. Seis cargueiros explodem, um aps outro, no Tmisa, e o encouraado mais poderoso da esquadra, o Nelson, fica imobilizado durante vrias semanas. Uma tarde, fumando, nervosamente, o seu curto cachimbo, o First Sea Lord Almirante Sir Dudley Pound, vem comunicar a Churchill que aos alemes possuem um engenho secreto, que provoca essas perdas angustiantes. No se poderia cogitar de qualquer defesa enquanto esse engenho permanecesse desconhecido. Passam-se alguns dias de nsia. A 22 de novembro, chega uma informao de Southend-on-theSea, entrada do Tmisa: um avio alemo, atacado na entrada do Tmisa por uma bateria DCA, aliviara-se precipitadamente de vrios objetos luminosos, dos quais, um, cado sobre um banco de lama de Shoeburynesse, percebido na mar baixa. Dois oficiais especialistas em minas, Ouvry e Lewis, partem imediatamente de Woolwich, em plena neblina. Localizam o engenho, instalam uma iluminao de emergncia e, dentro de uma noite glacial, sobre o banco de lama, batido pelo vento, empreendem sua desmontagem. Todos os transes de O Salrio do Medo se apegam diante do trabalho dos dois homens 15

tateando perigosas protuberncias, com o tempo medido pelo fluxo da mar enchente. A sorte, cmplice necessria desses suspenses, fez com que a tripulao do avio alemo, sob tenso diante do fogo que o enquadrava, se esquecesse de armar o dispositivo de exploso. Ouvry e Lewis so bem sucedidos: levam para Southend uma mina magntica - a primeira arma secreta de Hitler. Agora s resta organizar a desmagnetizao dos navios, para que seu caso metlico no mais atraia as mquinas infernais, semeada nas guas pouco profundas. Dir-se-ia que a guerra de 1914-18 jamais cessara. A principal misso da Navy consiste, de novo, em proteger a passagem, no continente, da British Expeditionary Force: isso aconteceu sem que um nico homem ou um nico veculo fosse perdido. Cuida-se, depois, de estabelecer o bloqueio da Alemanha. iniciada a reconstituio dos imensos campos de minas ancoradas em 1918, entre a Esccia e a Noruega. Reformam-se a patrulha Fantasma, os navios transformados em cruzadores auxiliares, montando guarda nas guas tormentosas do paralelo 60. No dia 23 de novembro, ao cair da noite, um desses mobilizados, o Rawalpingi, distingue a 8000 jardas a silhueta de um grande navio de guerra. Um momento depois, ele afunda sob as salvas do Scarnhosrst, aps uma desesperada defesa. A guerra submarina recomea, maneira de 1916. Reaparecem os comboios - rebanhos de navios conduzidos por 1 a 2 pastores, couraados ou cruzadores - enquanto destrieres, barcos armados ou corvetas rondam em torno deles, como ces. No obstante, as perdas j so pesadas: 41 navios, em setembro, 27 de outubro, 21 em novembro, 25 em dezembro, num total de 114 navios e 420.000 toneladas, s em uma parte de 1939, ocupada pela guerra. Ou seja: um ritmo de destruio igual ao de 1916. Os navios de guerra no so poupados. No dia 17 de setembro, no canal de Bristol, o U 29, comandado por Schuhart, surpreende o Courageous no momento em que este vira, ao vento, para uma manobra de carga. Quinze minutos depois a marinha inglesa pode deplorar, pela primeira vez a perda de um porta-avies. Em 14 de outubro, registra-se uma faanha excepcional. Aos 59 minutos do dia, o couraado Royal Oak, ancorado na baa de Scapa Flow, abalado por um choque. Despertado, o comandante pensa numa ligeira exploso e desce ao poro para investigar. Durante esse tempo, a menos de 2 milhas, o U 47, do tenente naval Gunther Prien, torna a carregar seus tubos de torpedos, para recomear o ataque. A operao desenvolve-se superfcie, no meio do porto adormecido, sob um cu claro, em tal quietude que o oficial de bordo Von Varendorff passeia pela ponte, para desentorpecer as pernas, e asperamente repreendido, com voz abafada pelo seu comandante. Vinte e oito minutos depois da primeira, 1:27 horas, nova salva rasga o Royal Oak. Enquanto ele afunda, arrastando morte 24 oficiais e 809 marinheiros, o U 47 retorna seu caminho silencioso, desliza, novamente, entre os dois navios afundados, que obstruem - e mal - o estreito de Kirk, faz-se ao largo e toma o rumo da Alemanha, onde justa glorificao aguarda Prien e seus comandados. Uma das coisas que fazem com que esse comeo de guerra naval se assemelhe aos grandes dias de 1914 o fraco papel representado pela aviao. Uma ordem do Gabinete britnico interditou o bombardeamento dos navios alemes nos portos, mas o autoriza em alto-mar. Contigentes de Wellington e de Blenheim, utilizam esta faculdade, ao largo de Wilhelmshaven, mas s conseguem arranhar o Admiral Scheer. Inversamente, a Luftwaffe, atacando Scapa Flow, registra como resultado total o fracasso do exnavio capitnia de Jellicoe, o velho Iron Duke, convertido em bateria flutuante. O comandante chefe da Home Fleet, Almirante Sir Charles Forbes, tira disso a concluso de que a ameaa area foi exagerada. Pagar-se- caro este julgamento precipitado. ltima semelhana com 1914: os Raiders (navios corsrios). A caa ao Graf Spee ressuscita todas as emoes que marcaram, 25 anos antes, a perseguio ao Konigsberg e ao Emden. O Almirantado soube que, no dia 1o de outubro, o Admiral Graf Spee se encontrava no Atlntico e que afundou o vapor Clment, ao largo do Brasil. Vinte dias depois, os sobreviventes do vapor noruegus Lorentz Hansen chegam s Orcades e comunicam que seu navio fora destrudo pelo Deutschland. Dois couraados de bolso esto, pois, em ao - um no Atlntico Norte, outro no Sul. Temveis navios, obras primas da construo naval: canhes de 11 polegadas, blindagem de 10 cm, maquinas dando 28 ns, acumulados num deslocamento de 10.000 toneladas, graas economia de peso, realizada pela substituio da solda pelo rebite. uma ameaa que a qualquer preo deve ser eliminada dos mares. Os dois navios so idnticos, mas seus comandantes diferem. O do Deutschland d prova de excessiva prudncia e regressa a Willhelmshaven, desde 11 de novembro, com magro quadro de caa. O do Graf Spee, Langsdorff, aplica-se, obstina-se. De resto, sua conduta irrepreensvel: nenhum navio afundado antes de ser completamente evacuado; os comandantes prisioneiros so recebidos com considerao, o menos mal possvel, no Altmark, que acompanha o couraado na qualidade de reabastecedor. Langsdorff se felicita por ainda no ter feito correr uma s gota de sangue. Contra os dois corsrios, depois contra o solitrio Graf Spee, as frotas aliadas deslocam foras imensas. Oito divises navais, compostas de couraados, de cruzadores e de porta-avies, so designadas para setores que vo do Ceilo s Antilhas. No dia 22 de outubro, um SOS do SS Tevanion faz esperar que

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um torno se aperte sobre o couraado solitrio. Mas passam-se os dias e as semanas. O Graf Spee no est em parte alguma, na imensido dos mares. Para despistar os perseguidores, Langsdorff fez vasto desvio no Oceano ndico. Regressa ao Atlntico, parcialmente satisfeito com seu cruzeiro. Seus recursos esgotam-se e, a partir de 30 de setembro, ele s destrura 9 cargueiros, perfazendo um total de 50.000 toneladas, coisa bem modesta para um navio to poderoso como o seu. Ele quer, antes de voltar Alemanha, melhorar seu quadro de combate nas guas agitadas de trfico do Rio da Prata. s 6:08h, quando o Graf Spee est a 150 milhas de Montevidu, seus vigias descobrem uma fumaa. Langsdorff aproxima-se pela proa, convencido de que se trata de nova vtima. Oito minutos depois, reconhece um barco de guerra. Suas ordens lhe prescrevem evitar combate, mas a fuga difcil, na manh de um longo dia de vero, e Langsdorff se considera bastante forte para impor-se, rapidamente, ao cruzador leve cuja superestrutura se desenha no horizonte. Instantes depois, dois outros navios se tornam visveis, por sua vez - e tarde demais para fugir. O alemo tem o sol nos olhos, mas a visibilidade excelente, com vento moderado, e ligeira corrente martima, vinda do nordeste. O primeiro cruzador avistado pelo Graff Spee o Ajax, com canhes de 6 polegadas. O segundo, da mesma fora, o Achilles, da Marinha neozelandesa. O terceiro o Exeter, armado de canhes de 8 polegadas. Eles constituem, sob o comodoro Harwood, a fora G - uma das menores, pois no conta com couraados e nem com porta-avies. Alm disso, o quarto navio da diviso, o cruzador Cumberland, se reabastece nas Falkland. Sozinho contra trs, Langsdorff possui, no entanto, grande superioridade sobre os adversrios. Tem as melhores chances de destru-los, um aps o outro, sem que o Graf Spee sofra avarias. s 6:14h comea o combate. A distncia entre o Graf Spee e seus adversrios de 19 km. Hora e meia depois, a ao est terminada. O Exeter, com 3 torres, de suas 4, demolidas, pesadamente adernado a bombordo, interrompe a luta e tenta, penosamente, voltar Port Stanley. Os dois cruzadores ligeiros batem-se com extraordinria teimosia, atraindo, a curta distncia, um adversrio cuja artilharia secundria se iguala principal deles. Aproveitam-se do duelo entre o Graf Spee e o Exeter, para atingir, repetidamente, o couraado inimigo. Mas tambm sofrem danos - leves, o Achilles; graves, o Ajax. Ficam sozinhos diante de um poderoso navio cuja fora combativa est intacta; ss, sem outra superioridade seno ligeira vantagem em velocidade. O Graf Spee pode for-los a fugir. Mas o couraado que foge! As suas avarias so importantes, embora no o ponham em perigo. As cozinhas esto destrudas; o casco, furado; parte da artilharia, inutilizada; o barco est cheio de feridos. Um esprito menos fantico do que Langsdorff se faria ao largo, tentaria uma evaso, desaparecendo nos espaos desertos do oceano. Mas o humanitrio comandante do Graf Spee, que considera absurda a guerra, s sonha encontrar uma angra para reparar seu navio e desembarcar seus feridos. Montevidu est prximo: lana-se para l. uma armadilha. Os dois pequenos cruzadores vitoriosos unem-se contra ele, no limite das guas territoriais uruguaias e, voltando apressadamente das Falkland, o Cumberland d-lhes reforo, no dia seguinte. Os trs dias que se seguem inflamam o mundo, o Almirantado ingls alardeia o glorioso combate dos trs cruzadores. A curiosidade pblica espera, avidamente, a peripcia seguinte. Hitler, sufocado de raiva, bombardeia Langsdorff com telegramas, acusa-o de covarde, pe-no sob suspeita de traio. Quer que tire o Graf Spee de Montevidu e o afunde, com o pavilho hasteado. Mas Langsdorff recusa sacrificar seus homens, resiste ao Embaixador alemo no Uruguai e aos agentes nazistas que acorreram de Buenos Aires. As 72 horas de prazo que obtivera do Governo uruguaio esgotam-se. Torna-se necessrio que ele deixe Montevidu ou que aceite o internamento, terminantemente vetado pelo Fuhrer. No dia 17 de dezembro, s 18h, imensa multido aflui ao cais de Montevidu. O Graf Spee parte. Nenhum reforo aliado chega ao Achilles, ao Ajax e ao Cumberland, a bordo dos quais ressoa o toque de combate. Mas Langsdorff desembarcou a maior parte de sua tripulao e um grupo de afundamento que conduz o magnfico navio ao meio do esturio, na glria do sol poente. Ouvem-se duas a trs exploses ensurdecedoras. O Graf Spee deixa-se afundar lentamente em guas to pouco profundas, que por muito tempo seus destroos sero vistos flor dgua. Langsdorff foi o ltimo a abandonar seu navio. No dia seguinte, mata-se. Um temor, ligado ao ocorrido, apodera-se do supersticioso Hitler: o que acontecera ao Graf Spee poderia ter acontecido ao Deutschland. O mundo, divertido, teria visto a Alemanha afundar ignominiosamente. D ordem para que se rebatize, com o nome de Lutzow, o decano dos couraados de bolso. O Exrcito Sovitico entra em cena na Finlndia

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Entrementes, acontecimentos de profundo alcance se desenrolam a leste. A Rssia explorou com rapidez, sua aliana com Hitler. Ex-provncias do Imprio czarista, trs pequenos Estados corajosos estendem-se ao longo do Bltico: a minscula Estnia (capital, Tallin), a vigorosa Letnia (capital, Riga), a rstica Litunia (capital, Kovno). Anlogas e diferentes, essas trs sentinelas da Europa, abenoavam o dia em que se haviam libertado da Rssia e consideravam a Alemanha como guardi de sua independncia. Hitler submeteu-as a seu jugo. Depois do 28 de setembro, a Rssia impe Estnia um tratado de assistncia mtua. O mesmo termo falaz serve, no dia 5 de outubro, para a Letnia, e, a 11 de outubro, para a Litunia. Os governos procuram resistir, estudam as condies, embalam-se na iluso de que pelo menos salvaro sua autonomia interna. Mas no podem escapar ocupao militar. As ilhas de Dago e de Osee, os portos de Windau e de Libau so convertidos em bases soviticas. Pela primeira vez, o Exrcito vermelho entra em cidades ocidentais transbordantes de riquezas. Um relatrio faz rir os servios de informaes aliados: em Riga, as mulheres dos oficiais russos haviam ido a um espetculo de gala, na pera, usando camisola de dormir, que haviam tomado como traje a rigor! Resta, porm, um pas bltico - meio bltico, meio escandinavo - que ainda no aceitou as condies russas: a Finlndia. um pas um pouco mais importante que os outros trs: 4 milhes de habitantes e um vasto territrio que se abre sobre o oceano rtico. Possui longa experincia dos russos e uma capacidade hereditria de se fazer respeitar: provncia czarista, estendendo-se at os subrbios de So Petersburgo, sempre conservara sua liberdade poltica e seus privilgios militares. Mais tarde, aps a independncia, desenvolveu-se, na Finlndia, profundo desprezo pelo russo bolchevizado simultaneamente a um irredentismo que reivindica a Carlia e sustenta que o Imprio fins s termina nos Urais. Ora, a URSS pede a esse altivo pas a cesso de parte de seu litoral rtico, uma base naval na pennsula de Hango e o recuo da fronteira, para dar expanso a Leningrado. Se o governo s tivesse ouvido a nao, teria dito um no, sem grandes frases. Mas tambm ouviu a razo, aceitou sacrificar algumas ilhas, encontrou um intermedirio emrito: Paasikiwi, que, resistindo a Stalin, conseguiu faz-lo rir. Os russos insistem, ameaam e, no dia 27 de novembro, aps um incidente de fronteira, anunciam que o pacto de no-agresso, com a Finlndia, est assinado. Mas no o est com o governo usurpador de Helsinki, com o reacionrio Marechal Mannerheim, presidente de uma pretensa Repblica finlandesa! Est assinado com o governo legtimo do patriota Kuusinen, que a URSS instalou, provisoriamente, em pequena cidade prxima fronteira. Esse governo pede aos russos que intervenham e libertem a Finlndia. Eles satisfazem no dia 30 de novembro, tomando a ofensiva no istmo da Carlia. A Sociedade das Naes (SDN) tinha ainda um pouco de vida. Amputada da Alemanha, da Itlia e do Japo, viva dos Estados Unidos desde o nascimento, continuava a funcionar, margem da imensa guerra que comeava. Acusa a URSS pela agresso que acabava de cometer. A URSS surpreende-se: jamais suas relaes com a Finlndia haviam sido melhores; por sinal, Kuusinen e Molotov acabavam de assinar um pacto de amizade. A URSS, sinceramente, no compreende! Foi excluda - e a SDN, esgotada pelo seu primeiro gesto enrgico, morre imediatamente. Ao longe, no entanto, a guerra comea. O primeiro plano sovitico simples: consiste em marchar diretamente contra Helsinki, para l instalar o patriota Kuusinen. Desdenhando a mobilizao, o comandante russo contenta-se em fazer marchar as unidades do Okrug militar de Leningrado. Mas a resistncia com a qual se chocam as imobiliza. A Finlndia tem, apenas, pequeno exrcito permanente de 3 divises, 33.000 homens, 60 tanques velhos, 150 avies desaparelhados. A mobilizao espontnea de todo um povo decuplica esses fracos meios. Mais de 300.000 homens renem as bandeiras, constituem 7 novas divises e 8 brigadas autnomas, s quais s falta armas iguais coragem. No istmo da Carlia, 40 km de terreno glacirio, entre o golfo da Finlndia e o lago Ladoga, aquilo que pomposamente se chama Linha Mannerheim - uma simples cadeia de obras de campanha, blockhaus e abrigos sob troncos de rvores resiste a todos os assaltos. Os russos a empenham seus tanques, mas os defensores descobrem o defeito de sua couraa, uma placa de blindagem que o motor, muito exigido, torna incandescente. Para incendilos, valem-se de garrafas de gasolina. Ao fim de uma semana, a ofensiva suspensa e o nome da Finlndia ressoa no mundo com um fragor de epopia. Mas a Rssia corrige seus dispositivos militares, confia a direo da guerra ao Marechal Timoshenko, manda vir da Ucrnia e do Cucaso tropas de elite. Uma vez que a Linha Mannerheim resiste, ser pela frente oriental da Finlndia, pelos 1600 km do lado Ladoga, no Oceano rtico que o Exrcito Vermelho manobrar, usando sua superioridade em material e efetivos. Apenas pela via de Murmansk, 3 exrcitos - o 8, o 9 e o 14 - so encaminhados ao Norte. A neve chegou, o transporte arrasta-se, muitos soldados morrem de frio, nos vages - e, no entanto, o estabelecimento se efetua relativamente depressa. Uma vez mais, o plano simples. Dez caminhos atravessam a profunda floresta finlandesa: emprega-se, em cada um deles, uma diviso, uma pesada diviso russa, equipada com artilharia e tanques. Todas devero marchar para oeste, tomaro pela retaguarda essa dura Linha Mannerheim, diante da qual outro exrcito, o 7, marca passo. 18

No dia 17 de dezembro, acreditou-se que a manobra russa ia ter xito. Uma das colunas atinge Kursu, na estrada de Kemijarvi, a 150 km do golfo de Btnia. Outra atinge Suomossalmi, chave do setor central. Outras avanam na regio do lago Ladoga. O Estado-Maior finlands empreende a evacuao da Lapnia e leva a defesa a uma linha que vai de Ulu (Uleaborg) a Viipuri (Viborg). A hora final da resistncia finlandesa parece prxima. A reviravolta na situao dramtica. Distendidas pelos maus caminhos da floresta, as colunas soviticas so bloqueadas de frente, enquanto elementos mveis as assediam pelos flancos. A neve profunda, as altas arvores, os barrancos de arestas vivas que cortam as florestas neutralizam os tanques. Calados de esquis, vestidos de branco, vivendo de leite, os finlandeses cortam em pedaos a procisso de tanques que o comando sovitico aventura sobre seu solo. Na estrada de Suomossalmi, a 163 Diviso de Infantaria totalmente destruda. Enviada em seu socorro, a 44 Diviso, uma das melhores do Exrcito vermelho, tem a mesma sorte. As unidades do 8 Exrcito, que tentam contornar o lago Ladoga, so cortadas pela retaguarda e aniquilada por partes. Os russos fixam-se nas clareiras, dispe seus tanques em crculo, como carroas dos povos brbaros, e morrem de frio e fome. Os finlandeses, em bloco, no faro mais do que 2.000 prisioneiros, mas recolhem sobreviventes, uns aps outros, quando a fraqueza lhes faz cair as armas das mos. O mais importante butim a correspondncia: milhares de cartas recolhidas dos prisioneiros e dos mortos