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Rio, de 24 a 30 de julho de 1972 Número 40 - CrS 2,00 exclusivo ^T^_______ \____B^_r^^-___ W^ J^f^5i_H^___B *ir ^_a V - _B^ ^^^^^^_________l . i____Ér/*_____>__ ___________ __K ______ 4A*5.'____¦** ¦ ______ _JV¦_?* fl _______ *______***** _______ ^_9 _________¦ "_3_BP«"^ _______ _____^_1 _______________! POLITIKA ENTREVISTA O _^ LIDER DA OPOSIÇÃO DO URUGUA í) general Seregni conversa com Milton Temer, de POLITIKA - —"—— n nn a Min ¦*\\\\\\\\\WWW ,_^H 11 ¦\\\\\^m Wm IUI ,11¦ H +H _____! _____ _____ _______________ _____H +I__________ ^___ _____ ____ __¦ ,_____________V ^_____________ _______________ _______________ ________________________ _______________ ______________________________-I_H

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POLITIKAENTREVISTA O _^LIDER DA OPOSIÇÃODO URUGUA

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POLITIKA

2kolunaaberta

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Jt--v A rí^ A Ed"t

O sonhador

McGovern

George McGovern é o candidatodemocrata à presidência dos EstadosUnidos. Veio como quem não quer nada,lutando sozinho contra o establisment,contando apenas com o poder jovem. Osenador pela Dakota do Sul está surgindocomo um fenômeno tão comum nestaépoca de rebeldia em que as novas forçasse insurgem contra as velhas estruturas,como ocorreu aqui no Brasil, em 1960,com Jânio Quadros. Repudiado porquase todos, terminou por se revelar o

que o povo queria.

Pelo direito de ser candidato,McGovern teve que levar de roldão todoum esquema montado contra tudo aqui-to que ele representa. Pode ser que elenão consiga vencer as eleições, mas pelomenos acaba de dar uma grande lição. Omundo está se transformando e é neces-sário que se atente para isso. Os conven-cionais de Miami acabam de mostrar aomundo que até mesmo os Estados Uni-dos, que sempre serviram como exem-

pio para a reação, estão exigindo refor-mas liberais, que a linha dura não pode,por muito tempo, se manter sem fazerconcessões.

Contra a candidatura de McGovern

começam a se levantar todas as forças

obscurantistas do mundo. Ela representa

o fim de uma era de despotismo e a

esperança para os oprimidos, por isso

não serve aos setores dominantes, princi-

palmente de alguns países que gravitamem torno dos falcões norte-americanos,

alimentados pelas armas das ajudas mili-

tares e pelas conspirações da CIA.

Os sintomas da reação contra a candi-

datura McGovern já se fazem sentir nachamada grande imprensa, não só doBrasil como também de todos os paísesque vivem, ou melhor vegetam, em tomodos falcões. Se os editoriais desses jornaistivessem qualquer influência nos Estados

Unidos, como têm em seus países deorigem, certamente que McGovern a estaaltura estaria amargando uma derrota naconvenção democrata. Mas como, apesarda subserviência, ninguém nos EstadosUnidos dá atenção a estes países,McGovern pode ficar traqüilo e conti-

Celso burlado

nuar sua campanha, procurando o votolivre, pois é deste que vai precisar e nãodos aplausos da imprensa dos paísesengajados.

O que espanta, contudo, é o histeris-

mo da grande imprensa. O que é que tem

de mais que um liberal não possa assumir

o poder nos Estados Unidos? Afinal, o

povo norte-americano não pode escolher

quem bem endenter para governar seus

destinos? Isto é por demais comprome-

tedor. Será que esta imprensa e seus

governantes vivem e dependem das so-

bras da ajuda dos falcões? Se McGovern

for eleito e cortar esta ajuda, será quedesapareceremos como nação livre, ou

tomaremos tenência e seguiremos seu

exemplo, passando a ser uma nação

livre? A ajuda que todos os povosdesejam dos Estados Unidos é a ajuda

despretensiosa, a ajuda que venha contri-

buir para o seu desenvolvimento. Nós

precisamos de dinheiro e técnicos e isto

os falcões não dão. Eles mandam armas e

agentes da CIA, e com balas e conspira-

dores não se faz desenvolvimento.

O liberalismo está assustando os de-fensores do status quo. Eles querem acontinuação da guerra do Vietnã, a

política do big stick, pois só com elaterão garantidos seus privilégios. Manti-das as prerrogativas de espoliar as popu-lações do mundo. Continuarão comoabutres vivendo da carniça do mundo.

McGovern não garante a continuaçãodessa política, ele quer mudar. Quer queos Estados Unidos não sejam mais vistoscomo a guarda pretoriana do mundo,mas como um povo amigo, que ajuda osdemais povos do mundo a procurar seuscaminhos com liberdade, respeito àpessoa humana e conseguir atingir odesenvolvimento e o bem-estar próprio.

Por qué combater McGovern? Só oscegos e obscurantistas - sem falar nos demá-fé, que se locupletam desta situa-

ção - é que podem combater umhomem que deseja que cada povo sigaseu caminho, que aponta o rumo seguido

pelo seu país, desde 4 de julho de 1792,

para atingir o bem-estar geral e a felici-dade. Ele quer que cada povo seja rico eforte como o é o seu. Por isso ele écombatido. Talvez seja um sonhador.

Agenda

• O livro de Celso Furtado

Análise do Modelo Brasileiro lan

çado pela Civilização Brasileira

teve sua primeira edição de 10

mil exemplares esgotada em uma

semana. Enio Silveira, em con-

versa com Sebastião Nery, disse

que POLITIKA contribuiu so-

bremaneira para o sucesso davenda publicando, em primeiramão, e em manchete de primeira

página um extrato do livro. Mui-

tas pessoas que foram à Civiliza-

ção a procura do livro levavam

POLITIKA na mão ou faziam

referência ao semanário.

Talvez a Província de Grão

Pará seja a que maiores reverên-

cias preste aos restos mortais do

imperador Pedro I, que peregri-nam por todas as províncias bra-

sileiras. O governador Fernando

Gulhon está se esmerando nos

preparativos para uma pomposarecepção. Até agora, apesar de

transcorridos um ano e meio de

mandato, o governador não ti-

nha feito nada, mas aproveitou a

oportunidade para mostrar do

que é capaz. Já gastou 300

milhões de cruzeiros com os pre-

parativos. Mandou construir uma

carruagem tirada por seis cavalos

brancos (mandados vir do sul ao

preço unitário de 6 milhões) evestiu o pessoal a caráter, inclu-

sive libre para os cocheiros. É

provável que baixe um decreto

intitulando-se Presidente de Pro-vincia, para dar mais autenti-

cidade á festa.

Os comerciantes da Guana-bara estão se movimentando

para eleger um integrante daclasse para a Assembléia Legisla-tiva, em 1974. Os portugueses,de acordo com as novas normasde reciprocidade luso-brasileira,

já se comprometeram a votar nocandidato indicado. Sondado, oSr. Mozart Amaral, presidente daFederação do Comércio Varejis-ta, do Sindicato dos Lojistas, doSESC-GB, interventor no Sindi-cato dos Feirantes, conselheiroda Confederação Nacional doComércio, além de empresário,do setor de meias, declinou daindicação, afirmando que suasmúltiplas ocupações o impediamde concorrer, preferindo quefosse outro o indicado. Contudo,acredita-se que ele fará mais esteacrifício e termine por aceitarmais um cargo.

Danton Jobim já está em

plena campanha para suceder o

governador Chagas Freitas na

Guanabara. Eleito senador em1970 com um mandato de qua-tro anos, Danton acredita queserá o escolhido pelo MDB paraa sucessão estadual. Tem visitado

constantemente a zona rural dacidade-estado e afiança aos ami-

gos que Chagas não lhe faltará na

hora aprazada.

• Causou a maior repercussão

nos meios intelectuais brasileiros

o gesto do Centro Cívico Jua

rezista do México que resolveu

homenagear o alferes Joaquim

José da Silva Xavier, o Tiraden

tes, por motivo do centenário da

morte de Benito Juarez, o már

tir da independência mexicana

Uma urna contendo um punha-do de terra da Fazenda do Pom

bal, em Minas Gerais, onde nas

ceu Tiradentes, está sendo levada

para o México para que o povomexicano possa prestar uma

homenagem simbólica ao

homem que morreu para que o

Brasil se tornasse independente.

• Os europeus continuam

fazendo chacota com o Brasil e

os brasileiros, estes selvagens

subnutridos e despresíveis seres.

Há dias a imprensa francesa

publicou um telegrama proce-dente do Rio relatando um fato

sumamente desabonador ao

Brasil e seu povo. Afirmava queum deputado baiano, depois de

ter comido uma omeleta decogumelos, despiu-se, assumiu a

tribuna da Assembléia Legisla-

tiva de Salvador e fez um can-

dente discurso condenando a

democracia. E nossa imagem,

como fica? Os diplomatas brasi-

lei ros, simplesmente, desconhe-

ceram o fato.

• Ainda na França: nossos

irmãos super-civilizados, tão civi-

¦ !zCuC3 que desprezam 3Ui omcri

canos e argelinos, dando a eles

tratamento de gatunos e pregui-

çosos, resolveram limpa a barra

com o Brasil, e uma fábrica de

cigarrilhas acaba de lançar a

marca Reinitas Brésil. A revista

Lui publicou anúncio em que

aparecem dois mexicanos carac

terísticos - de chapelão, bolero

e bigodes retorcidos - encima-

dos pela legenda Tout le Brésil

dans 20 petits cigares. E somos

nós os incultos e incivilizados.

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r

Carlos

Aba llo

I— 1

POLITIKA

Muita gente já

falou sobre o

desenvolvimento brasileiro. E

as opiniões são conflitantes..

Há quem

nos veja líderes. Aqui,

a Argentina analisa o Brasil.

análise

1A

A

A política econômico-financeira do Brasil tem sido objeto de

controvérsia na imprensa especializada da Europa e dos Estados Unidos e

começa agora a repercutir nos países latino-americanos. Certos pronunciamentos

internacionais como o do presidente Richard Nixon e a recente entrevista

ex-embaixador Lincon Gordon, apontando os efeitos do desenvolvimento

brasileiro como passível de repercussão sobre os países

latino-americanos, passam

a preocupar os governos

situados nessa area. Os debates que a» se

estabelecem a respeito revestem-se das mesmas características polemicas que

se observam tanto entre nós como em outras partes do mundo.

O trabalho que hoje publicamos

é de autoria do conhecido economista argentino

Carlos Aballo, membro do Instituto de Investigações Econom.cas e Financeiras da

Confederação Geral de Economia, orgao das classes

empresariais daquele país. (Medeiros Lima).

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POLITIKA

análise

O alto índice de crescimento

apresentado pela

economia do

Brasil tem seus apologistas

na Argentina. Mas eles vêem,

também, toda nossa história.

Getúlio Vargas

• ¦ V^B

Juscelino Kubitschek João Goulart

Tudo começou

quando

os forças tradicionais resolveram

romper o equilíbrio

0 alto ritmo de crescimento do produ-

to bruto brasileiro e o relativo êxito obti-

do na luta contra a inflação nesse país pro-

vocaram em certos meios políticos, mili-

tares e econômicos da Argentina um

desses freqüentes fenômenos de admira-

ção apologética, isenta de sentido crítico

e imbuída de aspirações imitativas que

periodicamente se repetem e que

depois - quando o fenômeno se reduz à

sua exata dimensão pela própria evolução

histórica — são relegados a um piedoso es-

quecimento ou, o que é pior, substituídos

por outro modelo, a que rapidamente se

atribui similares* características milagro-

sas. Não resta dúvida que a apologia da

experiência brasileira não resulta do cará-

ter intrínseco do modelo econômico, mas

sim — em grande escala — dos interesses

que favorece e das supostas conveniências

políticas que promove. Apesar disto, nes-

te trabalho estas questões são postas de

lado e a elas só serão feitas referências

circunstanciais ou de maneira secundária.

Não representa igualmente - nem mesmo

de maneira aproximada - um trabalho

exaustivo sobre a estrutura econômica do

Brasil moderno. Trata-se simplesmente,

de analisar alguns aspectos fundamentais

desse modelo, não para julgá-lo ou elogiá-

Io, mas apenas para enfocá-lo como pol í-

tica alternativa, assinalando suas próprias

limitações, possíveis e comprovadas.

Na tarefa de desmistificar o rarátpr Ho

modelo - que é a melhor maneira de

compreendê-lo - serão assinalados dois

dos mais freqüentes erros que cometem

seus apologistas: a crença de que o eleva-

do desenvolvimento do Brasil é uma novi-

dade, produto das decisões tomadas pelos

governos militares a partir de 1964, e a

convicção de que se trata de uma mudan-

ça estrutural profunda, quando, na reali-

dade, representa — em suas diferentes

fases - respostas diferentes para fazer

frente a distintas situações conjunturais.

ECONOMIA BRASILEIRA

As características mais gerais da evolu-

ção econômica brasileira, sobretudo no

que diz respeito ao crescimento indus-

trial, são bastante similares ao processo

argentino. A atividade produtiva mais im-

portante, que atuava como propulsora do

desenvolvimento, foi, durante muitos

anos, a agricultura, configurando um sis-

tema típico semicolonial. A indústria

crescia nas primeiras décadas do século,

principalmente como resposta à evolução

do setor externo. Quando nesse setor apa-

reciam sintomas de estrangulamento ou

dificuldades na importação, a atividade'

manufatureira interna tomava impulso,

substituindo-se parte dos produtos impor-

tados. Nesse sentido, cabe mencionar es-

pecialmente o crescimento observado du-

rante os anos da Primeira Guerra Mundial.

A esmagadora maioria das atividades in-

dustriais servia para satisfazer as necessi-

dades mais imediatas de consumo.

O crescimento industrial propriamente

dite originou-se com a crise mundial dos

anos trinta, quando apareceram grandes

dificuldades na exportação e se retraiu ointeicâmbio internacional. A primeira res-

posta a essa redução de importações

consistiu, naturalmente, em substituí-las

na esfera dds artigos de consumo. •

A transformação da estrutura econômi-

ca, derivada do aparecimento de um cres-

cimento industrial continuado, deu lugar

a uma série de políticas que iriam assina-

lar u cdidter uo reyime institucional. O

setoi mais tradicional da sociedade era

constitu ido pelos latifundiários. O apareci

mento da indústria no Rio de Janeiro e

em São Paulo acentuou o processo de

concentração da população nas áreas

urbanas e deu lugar à formação de uma

classe operária numerosa, que, juntamen-

te com outras camadas da população,

passou a fazer pressão no sentido dá

transformação na estrutura das rendas. O

governo criou as condições para que a

evolução industrial afetasse o menos

possível os interesses tradicionais e isto

deu lugar, em 1937, à instituição, pelo

presidente Getúiio Vargas, daquilo que se

denominou como Estado Novo, que não

passava de um sistema de equilíbrio poli-

tico entre as diferentes classes sociais.

Como todo mecanismo de equilíbrio

baseado em uma imagem social ampla,

toda vez que aquele era submetido à ação

de um elemento crítico, aparecia a

pressão das classes extremas da imagem

social: os latifundiários e os trabalha-

dores. 0 governo, refletindo seus inte-

resses pela manutenção do crescimento

industrial, sem aceder a uma paralela

transformação na estrutura da demanda,

procurava vencer as dificuldades mediante

mecanismos de proteção e de controle de

preços.

O sistema funcionou sem maiores in-

convenientes entre 1937 e o término da

Primeira Guerra, porém a medida que

avançava o processo industrial chegou-se a

um ponto crítico pelos efeitos da redistri-

buição das rendas, devido à inflação. A

única maneira de superar essas obstru-

ÇÕes, como se verá mais adiante, era re-

correr a um programa de transformação

agrária que permitisse uma radical ampli-

ação do mercado interno de consumo, ga-

rantindo a indústria nacional e promoven-

do a expansão do setor estatal. Os setores

tradicionais, representados pelos latifun-

diários e o capital estrangeiro, opuseram-

se tenazmente a essa transformação im-

pulsionada pelo Governo e, finalmente,

Vargas foi deposto em 1945. Nesse mo-

mento, foi imposto o congelamento do

salário-mínimo que vigorou até 1952.

Não obstante, o regime não pôderetroceder e o sistema continuou funcio-

nando dentro das mesmas normas gerais,

embora bloqueando de forma direta toda

possível transformação do instável equilí-

brio existente. O conflito voltou a colo-

car-se pouco depois que Getúlio Vargas

reassumiu o governo Vargas suicidou-se

em 1954, em conseqüência de um virtual

golpe de Estado, denunciando em seu fa-

moso testamento a ação dos interesses

tradicionais do País.

A crise foi originada precisamente em

1954, peia queda do preço do café no

mercado mundial. As rendas provenientes

A

ECONOMIA

BRASILEIRA

VISTA PELA

ARGENTINA

A economia

truncou-se

desde 7954

das exportações não eram suficientes para

que o Governo proporcionasse os fundos

necessários aos plantadores e aos exporta-

dores, sem sobrar recursos para a indús

tria, uma vez que esta devia se afirmar pormeio da assistência estadual diante dasdi-

ficuldades para importar e da necessidade

de promover o reequipamento geral. Em

síntese, a evolução negativa do setor ex-

terno acelerou a ruptura do equilíbrio e

os grupos tradicionais da sociedade se

asseguraram do controle da política eco-

nômica, mediante um golpe de Estado

que teve lugar nesse ano.

O crescimento industrial, com elevada

proteção tarifária, requeria, com urgência,

um esforço financeiro do Estado para im-

pulsionar e reequipamento e melhorar a

eficiência, porém os setores tradicio-

nais — que haviam recuperado o poder em

1954 — viram logo que esse esforço podia

comprometer seriamente sua própria so-

brevivência, dado que havia uma séria cri-

se nas exportações e ^ agricultura neces-

sitava de urgentes subsídios. Os setores

mais avançados da indústria estavam inte-

ressados em promover mudanças estrutu-

rais que incrementassem a demanda inter-

na, porém os grupos latifundiários tradi-

cionais pressentiram que esse prticesso po-

ria em perigo suas posições, razSo pela

qual optaram por uma saída para a orise

industrial, mediante o auxílio de capitais

estrangeiros, a fim de evitar que se limi-

tassem os subsídios á agricultura, funda-

dos na queda dos preços internacionais.

A ruptura do equilíbrio em que se ba-

seava o Estado Novo deu lugar a um pe-

ríodo de indefinições combinado com

grandes tensões políticas, até que em

1956 retornou à normalidade institucio-

nal com a chegada de Juscelino Kubits-

chek e João Goulart ao governo.

Nesse momento já havia sido resolvida

parcialmente a futura estratégia industri-

al, optando-se pelo ingresso maciço de ca-

pitais estrangeiros. A Instrução 113, da

Superintendência da Moeda e Crédito,

concedeu tacilidades excepcionais as in-

versões estrangeiras, porém ao fazê-lo se-

lou-se o destino futuro da média e peque-

na indústrias, que devia competir em con-

dições difíceis e enfrentar uma rápida re-

novação de equipamentos. Em muitos ca-

sos, os capitais estrangeiros estabeleceram

acordos de associação com capitais brasi-

leiros e também tiveram acesso a convé-

nios similares com empresas estatais, que

podiam converter-se, desde esse momen-

to, em instituições de capitais mistos e

compartilhar com os capitais estrangeiros

as vantagens resultantes das isenções fis-

cais.

f

Bi

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POLITIKA

economia

brasileira

VISTA PELA

ARGENTINA

A produção

industrial crescia

na mesma proporção

em que

os

salários eram aumentados. Não

havia como manter a situação.

E o golpe

tornou-se iminente.

análise

Nem mesmo a entrada maciça de

capitais estrangeiros foi bastante para que

o sistema superasse as crises

A entrada de capitais estrangeiros en-

tre 1955 e 1961 -

que chegou a 2,3

bilhões de dólares - aliviou as tensões

existentes, entre os interesses conflitan-

tes, liberando o Estado da obrigação de

carregar sobre seus ombros parte do custo

da reconversão industrial, o que permitiu

uma transferência de rendas ao setor

agrário, instrumentada em grande parte

pelo sistema de preços. Os benefícios de

maior renda agropecuária - originado na

maior produtividade industrial

— não pro-

vocou um aumento da oferta de produtos

desta área. A taxa anual de crescimento

do setor agropecuário, que no período de

1947-54 havia sido de 4,9% ficou reduzi-

da a 4,3% entre os anos de 1955-60. Em

compensação, o ritmo de crescimento

industrial, que no primeiro período era de

8,3%, chegou a 10,4% como média anual

no período mencionado. Respondendo à

necessidade de criar uma infra-estrutura

adequada à magnitude do crescimento

industrial e à incorporação maciça de

capitais estrangeiros, o governo iniciou

um vasto plano de inversões públicas.

Antes de terminar o período constitu-

cional de Kubitschek, em 1960, ressurgiu

a crise de crescimento. O resultado das

exportações não chegava a suprir as neces-

sidades de importação nem a cobrir os

serviços de amortização e juros da dívida

externa. Além do mais, a demanda inter-

na de produtos industriais chocava-se com

as limitações do consumo, devido, princi-

palmente, à estrutura agrária atrasada.

Essas crises se repetiam periodicamen-

te desde 1945, porém cada vez mais

profundas. É que o ciclo de crescimento

industrial limitado, em combinação com

uma estrutura agrária que mantém fora

do mercado a metade da população do

país, havia chegado ao seu fim. Para

cobrir suas próprias deficiências de

acumulação — originada na estreiteza da

demanda — a indústria tinha que recorrer

a subsídios diretos ou dissimulados do

Estado ou ao financiamento inflacionário.

Porém, cada vez que se produziam baixas

nns preços internacionais do cafc ou

dificuldades no comércio de exportação,

parte desses subsídios tinha que voltar à

agricultura. Então, os interesses dos dois

grandes grupos dirigentes — o setor indus-

trial e o agrário — terminavam se enfren-

tando em uma recolocação dos funda-

mentos políticos do acordo de 1937, que

definiu as características gerais do Moder-

no Estado Brasileiro. A ampla imagem de»

interesses que envolvia o acordo pressupu-

nha o apoio ou o consenso da maioria da

população, porém quando artaxa inflacio-

naria começou a crescer vertiginosamente,f°i necessário recorrer a aumentos de

salários maciços, que acentuavam as diver-

Havia um

problema:

salários

gências de interesses entre os setores.

Tornava-se cada vez mais claro que era

necessário introduzir-se modificações

substanciais na composição daquele acor-

do, porque a própria

evolução econômica

impunha a exclusão de alguns dos grupos

que o integravam ou a modificação quali-

tativa do sistema de aliança em que se

baseava.

As pressões populares para obter au-

mentos salariais acentuaram-se nos

últimos anos da década de 50, tanto entre

os operários como entre os camponeses, e

em 1961 a curva dos salários começou a

subir. Os aumentos de preços, que haviam

permitido superar as deficiências na acu-

mulação de capital originadas na composi-

ção da demanda, deixaram de ser eficazes

devido à alta paralela dos salários. Torna-

va-<;e rada vez mais evidente que na futura

reorganização econômica impunha-se a

decisão de romper as limitações da de-

manda, atacando o atraso da estrutura

agrária' ou, para não afetar os interesses

tradicionais, substituindo essa fonte de

acumulação potencial por outros recur-

sos: a inversão estrangeira maciça e uma

política de estabilização das remunera-

ções. Qualquer dessas saídas importava no

sacrifício de um dos setores: a reforma

agrária, o da classe latifundiária tradicio-

nal; a inversão estrangeira maciça e o

inevitável processo de concentração em

que importava, o da pequena e media

empresa nacional, e a política de estdbJi-

tjM

A pressão popular sobre Jango

ração,o dos trabalhadores da cidade e do

campo.

A solução não veio em seguida, antes

foram tentadas várias fórmulas, as vezes

contraditórias. Em 1961, as eleições na-

cionais deram o triunfo à fórmula Jânio

Quadros — João Goulart. Durante os

meses em que Jânio Quadros exerceu a

presidência ocorreu uma liberação cam-

bial profunda destinada a favorecer a

entrada de capitais estrangeiros. Foram

também estimuladas as exportações e

elevadas as rendas do Estado, enquanto

tentava-se realizar certas reformas na eco-

nomia agrária que permitiriam a demanda

de produtos industriais. Essas reformas

consistiram, principalmente, no estabele-

cimento de preços mínimos, que benefi-

ciavam os pequenos e médios agricultores.

Paralelamente, procurou-se melhorar a

eficiência industrial, fomentando-se a

concentração e eliminando-se um dos

setores da pequena indústria. Na área da

política internacional, Jânio Quadros se-

guiu uma orientação tendente a assegurar

mercados externos sem considerações po-

líticas e a obter para o Brasil uma

liderança latino-americana que lhe permi-

tisse uma crescente penetração iiiuustnal

nos países da região.

Apesar das mudánças promovidas por

Quadros não terem sido demasiado pro-

fundas, o equilíbrio entre os setores

componentes do acordo era tão precário

que se tornou iminente um golpe de

Estado. O presidente renunciou e João

Goulart assumiu a presidência, porém

suas funções foram limitadas pelo Con-

gresso, até que um ano depois, em 1963,

recuperou suas funções. Entretanto, a

situação econômica tornara-se insustentá-

vel. A pressão popular impunha aumentos

Jânio Quadros

de salários que anulavam os incentivos

resultantes dos lucros traduzidos pela alta

dos preços e o ritmo inflacionário passou

de 24% ao ano em 1960 a 81% em 1963.

Goulart iniciou um movimento de

reformas tendentes a ampliar a demanda

para os produtos, através de uma reforma

agrária a longo prazo e o aumento das

exportações a curto prazo. Porém, as

tensões políticas e econômicas eram de-

masiado grandes e os diferentes grupos de

pressão se polarizaram em posições anta-

gônicas. Finalmente, a 19 de abril de

1964, as forças armadas tomaram o

poder.

O desenvolvimento da sociedade brasi-

leira exigia que se deixasse para trás,

definitivamente, as bases de sustentação

do Estado Novo, devendo decidir ao

mesmo tempo quais os setores a serem

marginalizados pela nova organização.

Para que se tenha uma idéia da magni-

tude do problema da demanda no Brasil,

é preciso que se leve em conta que mais

de 50% da população se encontra virtual-

mente à margem da economia de merca-

do. Nessas condições, a forma mais fácil

de gerar um desenvolvimento econômico

çp haçpia çohrp o que se Dode chamar de

mudança dos perfis da demanda, e que

pressupõe um aumento imediato da capa-

cidade de consumo da população margi-

nalizada. No caso do Brasil essa incorpo-

ração ao consumo, realizada através de

uma profunda transformação agrária,

pode alterar favoravelmente e de maneira

imediata as condições de produtividade

na agricultura. A escolha desse caminho,

porém, importa no sacrifício de grandes

interesses vinculados à propriedade da

terra.

*

a

e

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POLITIKA

6análise

A

A composição da demanda trás

à tona as limitações que são

parte da estrutura econômica

brasileira e que a obriga ao

crescimento de base contínua.

AECONOMIABRASILEIRAVISTA PELAARGENTINA

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O desenvolvimento industrial

O caminho

era um só:

exportaçãoNo caso da rejeição dessa alternativa, a

produção industrial deveria encaminhar-se

para a exportação. Como a estrutura docomércio mundial de manufaturas estáaltamente concentrada ém mãos de gran-des corporações, essa saída só seria possí-vel mediante a inversão estrangeira em

grande escala. Finalmente, se se decide

manter inalterada a estrutura da deman-

da, as possibilidades de acumulação de-vem ser estimuladas não só mediante aabertura de mercados externos, como

também promovendo uma maior taxa delucros através da limitação de aumento

dos salários. O governo militar optou poreste último caminho: refugou a possibili-dade de expandir a demanda interna atra-vés de reformas na estrutura agrária e

propiciou o concurso do capital estrangei-

ro em um processo de concentração in-

dustrial cujos elementos dinâmicos são asexportações manufaturadas. A políticafiscal e de renda permitiu uma rápidarecuperação da taxa de lucros e, obvia-mente, das possibilidades de acumulação.

CARÁTER DO CRESCIMENTO

Na evolução industrial do Brasil oode-se mencionar três etapas nitidamente dife-renciadas. A primeira cobre o períodoinicial até 1930, em que as exportaçõesconstituem o fator dinâmico da econo-mia, que impulsionava a demanda internae assegurava um paulatino crescimentoindustrial que não alcançava os setoressituados fora da área de produtos deconsumo.

A segunda etapa se desenvolveu entre1930 e os últimos anos da década de 50.Em virtude da crise nas exportações, essesetor deixou de absorver mão-de-obra,enquanto, paralelamente, declinava a ca-

pacidade de importar. Não havia comodeixar de enfrentar uma acurada substi-

Nâo era possível a

solução do problema brasileiro sem

as vendas externastuição de importações, que elevou a ocu-

pação e a demanda interna. O Estado

interferiu ativamente, nesse processo, em

primeiro lugar mediante uma políticacambial e creditícia que implicou em

verdadeiro subsídio ao setor manufaturei-

ro, e, posteriormente, através de sua parti-cipação direta na criação de indústrias de

base (siderurgia, petróleo) e o desenvolvi-

mento da infra-estrutura (energia, estra-

das).

Como resultado dessa etapa de acelera-

do crescimento industrial, o setor dasmanufaturas, que em 1940 representava

10,6 por cento do Produto Interno Brutoe concentrava 7,7 por cento da populaçãoativa do País, em 1960 havia elevado essas

percentagens para 23 por cento e 9,1 porcento, respectivamente. Por sua vez, asimportações, que. em 1949 representavam

25 por cento da oferta interna total de

produtos intermediários e 60 por centodos bens duráveis e decapitai, reduziram-se em 1965 a 10 por cento e a 20 porcento, respectivamente.

A taxa de crescimento industrial foiexcepcionalmente elevada durante esseperíodo, a tal ponto que na década dosanos 40 alcançou uma média anual de 7por cento e nos dez anos seguintes umritmo de 9 por cento ao ano. Em conjun-to, a indústria cresceu - entre 1939 e1964-a uma taxa média anual de 8 3por cento.

0 objetivo central deste trabalho visaanalisar o caráter da terceira etapa indus-tnal brasileira. Tendo-se em conta queessa etapa surgiu como uma necessidadeda própria evolução industrial do Paísseu início pode ser situado em 196o'porém quando se considera a política

seguida para impulsioná-la, então temos

que falar de critérios distintos segundo osperíodos, influenciados quase todos eles

por fortes conotações políticas.O desenvolvimento industrial brasileiro

defrontou-se com dois obstáculos consi-deráveis: a crise do comércio exterior e or»r/>mr«r>-.-. -x*n_-A_-*-__-*. UUICI nu uyi ai IU.

No âmbito das exportações, o Brasildefrontou-se com a baixa relativa dospreços dos produtos exportados, particu-

larmente o café, e a incapacidade dosmercados consumidores,

particularmentedos Estados Unidos, de aumentar suademanda de tal maneira a provê-lo deuma capacidade de importação suficientepara permitir a transformação de sua es-

trutura industrial. O lento desenvolvimen-to da agricultura, por sua vez, limitou aoferta para o consumo interno e, por suabaixa produtividade, contribuiu para aalta geral dos preços, convertendo-se em

sério obstáculo à expansão industrial. Porsua vez, o caráter de transformação exigi-da pela indústria dependia, em grandeparte, da sorte do mercado interno. Aprodução industrial brasileira cresceu nadécada de cinqüenta a uma taxa médiaaproximada de 9 por cento, porém o

nível de emprego na indústria não seelevou acima de 3 por cento ao ano nomesmo período. O dilema brasileiro con-siste, como conseqüência, em abrir o mer-cado interno de consumo para toda apopulação ou em recorrer à exportaçãoindustrial em grande escala.

Ainda no primeiro caso - unificaçãodo mercado interno no que respeita àcapacidade de consumo - a indústria ne-

cessita contar com grandes inversões, po-rem o processo só poderia ser alcançadoatravés de uma transformação interna degrande magnitude que incluiria - entreoutras coisas-uma profunda reformaagraria. No segundo caso, afastava-se adicotomia interna e procurava-se, para oscentros industriais acesso aos mercadosmundiais. Este último foi o caminho esco-Ihido.

A indústria tampouco podia chegar aomercado mundial sem passar por uma

grande transformação. O crescimento in-dustrial até os últimos anos da década de50 tendeu primordialmente a substituirimportações, contando com medidas pro-tecionistas e crescentes subsídios do Esta-

do. O setor, obviamente, não estava em

condições de competir no mercado mun-

dial e necessitava, alem do mais, passar a

produzir outros tipos de bens.

Desde 1956 (com a Instrução 113) o

governo decidiu acelerar a participação do

capital estrangeiro, que vinha substituir a

possível acumulação a ser obtida com a

unificação da demanda interna.

O resultado foi uma introdução maciça

de tecnologia, com incremento na nroHn-

tividade do trabalho, porém com redução

no nível de emprego.

Sobreveio, imediatamente, um períodoem que se procurou combinar, £ £n

Znrl í Stad0' ° crescimento dasemp esas de cap.tal nacional e aprovação

de algumas reformas básicas na estrutura

?o X?' p.*tC-"am^ "o setor agra

»ntido lPen0d0' ° Bras" se «frntJno

sent.do de uma conduta internacional infcssa política esgotou-se em pouco tem-

po (1960) porque a crise no setor externopos um limite à exportação de juros edividendos.

dependente, com vistas a expandir suasexportações nos países do Leste, e conse-

guir na América Latina uma liderança quelhe permitisse acelerar sua penetração co-mercial. Para controlar os confrontos internos a que essa estratégia daria lugar -sobretudo pelas pressões econômicas con-traditórias - adotou-se uma decidida po-litica de corte populista.

O governo de Goulart foi a expressãomáxima desse processo. A simultaneidadedos pontos de apoio procurados pressupu-nham um grande conflito interno, onderapidamente se perfilaram as opções defi-nitivas. No aspecto político, o desenrolardos movimentos populares parecia colo-car essa decisão em mãos de tais forças,enquanto que a pressão econômica detodos os setores originou um processoinflacionário incontrolável (os preços au-mentaram 81 por cento em 1963 e 92,4

por cento em 1964).

Depois dessas vacilações, a orientaçãoda terceira etapa foi escolhida pelo gover-no militar que derrubou Goulart em1964, porém antes de analisar seu signifi-cado convém passar em revista as limita-

ções da estrutura econômica brasileira.

LIMITAÇÕES ESTRUTURAIS

A composição da demanda refle^, com

particular intensidade, as limitações que a

estrutura econômica brasileira nipõc a

um crescimento harmônico e continuado.

No trabalho intitulado Estudos sobre a

distribuição de renda na América Latina,

publicado em 1967, a CEPAL estimava

que numa população de 90 milhões de

habitantes, com uma renda média per

capita de 350 dólares anuais, o perfil dademanda estava constituído por 45 mi-Ihões de pessoas (50 por cento da popula-ção) com uma renda per capita de 130dólares (20 por cento da renda total); 36milhões de pessoas (40 por cento da

população) com uma renda similar à mé-rl',-* nr>t--.\ tAf, nnr -,^,-,4- -~X-..X* ao.Ui ,-t*j (jui mediei Ud lUIIUd lldCiu

nal); 8,1 milhões de pessoas (9 porcentoda população) com uma renda per capita

de 880 dólares (22 por cento da renda) e

900 mil pessoas (1 por cento da popula-

ção) com 6,5 mil dólares de renda per

capita (18 por cento da renda). Calculan-

do os setores marginais no segundo grupo,cuja renda média é similar à média nacio-

nal, é possível dizer que cerca de 60 por

cento da população brasileira praticamen-te não têm acesso à economia de merca

do.

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AECONOMIABRASILEIRAVISTA PELAARGENTINA

O desaproveitamento fabuloso

da mão-de-obra disponível só

pode ser superado através de

uma política industrial,para

tirar o homem da agricultura

POLITIKA

7análise

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AÔ***^"- á^m. 'V * Jmtml r'l**Mmm\ .mô*m\ÊL I^LéI^H^H

A maioria que nao pumcipa uu consumo

O maior problema

é a baixa produtividadeda agro-pecuária

0 fato de o País contar, em 1970, com

uma população de 93 milhões de habitan-

tes, dos quais apenas 30 ou 38 milhões se

incluem de forma integral no mercado,

com uma capacidade de consumo não

muito elevada, cria, paralelamente, vários

problemas.

Em primeiro lugar, a demanda efetiva é

muito mais reduzida que a da populaçãoíotãi, e isto incide sobre a geração de pou-

Pança e o avanço tecnológico. Efetiva-

mente, com uma população marginal tão

elevada, a taxa de poupança tende a serreduzida (a inversão bruta fixa represen-tou, em 1970, 32,4 milhões de cruzeiros,isto é, 16,5% do Produto Interno Bruto, e

essa proporção se considerava insuficiente

Para manter o alto ritmo de crescimentosem uma exagerada dependência externa).Em segundo lugar, esse perfil da demandatraduz um desaproveitamento fabuloso da

¦ãu-de-obra disponível, que se verifica no

to de que a população economicamenteativa (30,4 milhões em 1970) representaaPenas um terço do total, porém, ainda

,rn. o aproveitamento nas atividades

agrárias e nos serviços é enorme e acentua

mais a distorção. Desses 30,4 milhões de

trabalhadores ativos, não menos de 22 mi-

Ihões dedicam-se à agricultura ou vivem

indiretamente dela e só há 8 milhões que

trabalham nas zonas urbanas. Por ultimo,

dentro deste último grupo, 3 milhões sao

operários; 1,5 milhão empregados de co-

mercio e 3,5 milhões estão concentrados

nos serviços.

Estas cifras evidenciam dois problemas:

por um lado, a baixa produtividade agrári-

a que absorve para esse setor, de forma

direta, não menos de 50% da população

ativa, enquanto que a indústria manufatu-

reira - o setor mais dinâmico da econo-

mia - conta apenas com 10%. O segundo

problema reside na forçosa tendência para

os baixos salários reais que surge desse es-

quema, dado que a taxa de acumulação

na indústria (que de per si é reduzida)

tem que ser mantida por 10% da pcpula-

cão ativa que não constitui mais que 3%

da população total. Isto faz com que a

demanda dos trabalhadores mais avança-

dos «m situação produtiva não resulte

Os aumentos de

preços e salários nâo

eram bastanteseconomicamente relevante e se,coloque

por essa via a limitação do crescimento

industrial.

Por último apesar de sua grande popu-

lação, o Brasil não pode se beneficiar de

forma decisiva da tecnologia moderna, da-

do que a concentração de renda impõe

também uma extrema concentração de al-

ta tecnologia, tanto em sua expressão eco-

nômica como na puramente geográfica.

Efetivamente, a concentração não só é

privativa do centro industrial do Centro-

Sul (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Ale-

gre, Belo Horizonte) como, além do mais,

impede que se gera um grande crescimen-

to econômico, em que pese o aumento

relativo na produtividade do trabalho.

Embora existam condições básicas para

instalação de uma economia de escala

(grande população), os sistemas industri-

ais altamente integrados dispõem apenas

de parte desse mercado potencial, reduzi-

do em termos absolutos e relativamente

pobre em sua capacidade de aquisição.

Nessas condições, a indústria altamente

integrada não pode trabalhar a pleno ren-

dimento nas melhores condições tecnoló-

gicas, anulando-se, assim, grande parte de

suas vantagens e terminando por se pro-

duzir a custos relativamente altos.

Como o crescimento industrial do Bra-

sil atual depende dos progressos na expor-

tação de manufaturas e do avanço tecno-

lógico do setor mais integrado, sucede

que grande parte desse conjunto econômi-

co é de propriedade de capitais estrangei-

ros, que assumem as posições privilegiadas

do mercado. Estas posições privilegiadas

não atingem apenas a concorrência com

outras empresas, como também resultam

da capacidade que terá este setor de se

apropriar de uma parte cada vez maior da

riqueza global, a partir do mesmo fenô-

meno da concentração, o que desenvolve-

rá ao máximo o crescimento desigual dos

diferentes setores da indústria.

O problema da baixa produtividade

agrária no Brasil não pode ser estudado

em termos gerais. Por isto, temos que nos

limitar a observação de alguns problemas.

A população urbana cresce a um ritmo

quatro vezes superior à população empre-

gada no campo. Esse crescimento, indubi-

tavelmente benéfico para uma economia

que concentra 50% de sua força de traba-

lho disponível nas tarefas agropecuárias,

obrigará - mais cedo ou mais tarde - a

incrementar a produtividade do trabalho

no setor agrário. Em que medida isto será

possível em uma estrututa agrária onde os

latifúndios ocupam 53% da terra explora-

da; as culturas médias 38%; as unidades

familiares 8% e os minifúndios 1%, porém

de tal maneira que estes últimos consti-

tuem 32% das explorações agrícolas do

País, enquanto que o primeiro grupo 3%

dos estabelecimentos do setor?' O latifún-

dio é, na atual estrutura agrária brasileira,

uma fonte de desperdício de terras e capi-

tal, enquanto que, .em contrapartida, o

minifúndio, é responsável pelo excesso re-

lativo de utilização de mão-de-obra.

Em muitas oportunidades, sobretudo

na atualidade, os governos brasileiros evi-

taram a exigência de realizar profundas

transformações na estrutura agrária do

País, incorporando novas terras à explora-

ção. Porém, a utilização mais extensiva

das terras representa um incremento dos

custo unitários, em virtude das necessida-

des de inversão em infra-estrutura e maio-

res gastos de transporte, sem que isto sig-

nifique modificar a inadequada conforma-

ção do mercado doméstico de consumo,

que é — indubitavelmente - o elemento

mais gravoso do atual ordenamento eco-

nômico. O exemplo brasileiro demons-

tra - como caso extremo - o que parece

indubitavelmente certo para todo país de-

pendente e em vias de desenvolvimento:

que não se trata unicamente de transladar

o progresso tecnológico aos centros de ir-

radiação, mas de se obter igualmente um

deslocamento na curva da demanda me-

diante a modificação da estrutura produ-

tiva.

A liquidação dos minifúndios e a trans-

formação dos latifúndios permitiriam ele-

var substancialmente a produtividade

agrária e incrementar o nível de vida no

campo. A ampliação da demanda e a pau-

latina unificação da capacidade interna de

consumo mais a alta produtividade agrí-

cola, colocariam à disposição da indústria

uma enorme fonte de acumulação, que er-

radicaria imediatamente a dependência

das exportações de manufaturas, para po-

der enfrentá-las mais adiante sobre base

mais sólida e sem necessidade de recorrer

ao concurso maciço dos conglomerados

econômicos estrangeiros.

AS REFORMAS DE 1964

A luta entre os diferentes setores paramelhorar suas rendas através dos aumen-

tos de preços e salários provocou uma in-

fiação acelerada, que saltou de 55% ao

ano em 1962 para 81% em 1963 e 92,4%

em 1964. Como a taxa de acumulação

não se pode reconstituir pelos ajustes sala-

riais, a inversão decaiu e o ritmo de cresci-

mento se contraiu, passando de 7,7?>í> em

1961 a 5,5% em 1S62, a 2,1% em 1963 e

a 2,9% em 1964.

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análise

O governo

brasileiro viu-se,

para conter a inflação,ante

duas alternativas:promover a

reforma agrária ou reduzir os

salários,E optou pela

última.

As reformas não

podiam ser postergadas

por mais tempo

0 objetivo econômico militar de 1964

foi reconstituir, de alguma forma, o com-

promisso de 1937, para liquidar as ten-

sões internas e concentrar os esforços no

sentido de recuperar as taxas de cresci-

mento. Contudo, o equilíbrio de 1937

não podia ser restabelecido a não ser

mediante a exclusão de um dos setores,

dando lugar a uma nova estratégia de

desenvolvimento. Sacrificando-se o setor

latifundiário tradicional e instaurando-se

uma reforma agrária, o mercado interno

tenderia a crescer aceleradamente, recons-

tituindo a taxa de acumulação na indús-

tria e liquidando as limitações inerentes à

estrutura da demanda. Porém, também

seria possível deixar as coisas como esta-

vam e reconstituir-se a taxa de acumula-

ção na indústria mediante a redução dos

salários reais e a cooperação do capital

estrangeiro, dentro de um modelo de

crescimento que viria a alentar as defor-

mações do perfil da demanda, através de

um forte processo de concentração. O

milagre brasileiro de contenção da infla-

ção e reinicio do processo de crescimento

baseou-se quase exclusivamente nos pos-

tulados mencionados no último término.

Obviamente, a ratificação do compro-

misso de 1937 entre os setores industriais

e agrários teve que excluir expressamente

os setores populares, posto que - como

ficou dito - a recomposição da taxa de

acumulação teria como base a queda dos

salários reais. O atraso na recuperação dos

salários com relação ao incremento dos

preços durante 1964 e 1965 provocou

uma queda de 15,3% na capacidade aqui-

sitiva das remunerações, segundo o Depar-

tamento Intersindical de Estatísticas e

Estudos Sócio-econômicos, de São Paulo.

A ratificação do compromisso de 1937

importava na renúncia em enfrentar uma

reforma agrária efetiva, sem contudo dei-

xar de adotar algumas alterações inadiá-

veis. O governo decidiu-se a criar melho-

res condições para o desenvolvimento

agrícola, conceder fundos para assistência

técnica, fomentar a concentração de in-

versões, e se comprometeu a não realizar

expropriações a não ser em casos extre-

mos. Embora a produtividade agrária não

tenha melhorado decisivamente, a conten-

ção dos salários impediu que estes se

transformassem em fator de aumento dos

custos industriais. O método aplicado

pelo governo se traduziu em um incre-

mento do produto gerado pelo setor, quesó se mantém com certa permanência seas condições dos preços são favoráveis. Arepercussão mais importante do planoagrícola nos últimos tempos foi o êxito

obtido na extensão e no rendimento do

cultivo de trigo na região Centro-Sul.

O outro ponto essencial do programade 1964 foram os estímulos

para o capitai

estrangeiro. 0 governo derrogou as limita-

ções à remessa de lucros; subscreveu um

acordo de garantia para as inversões nor-

te-americanas e promoveu uma grandeconcentração de capital. O fenômeno de

concentração se operou, fundamental-

mente, através de duas frentes: o sistema

tributário e o operativo, denominado de

democratização do capital.

O sistema fiscal se baseiou na folha de

salários, que estabelece uma carga tribu-

tária em função do número de operários

em relação à produção, de tal maneira

que promove a redução da mão-de-obra e

fomenta o aporte tecnológico e a concen-

tração industrial. Porém, esta forma de

promover o desenvolvimento tecnológico

baseia-se pura e simplesmente na concen-

tração e não levou em conta as próprias

condições do mercado, com o que se

acelerou o desequilíbrio existente entre o

avanço do processo industrial e a criacão

de novos empregos na indústria. Por essa

razão, a incorporação de capitais à estru-

tura industrial brasileira tendo a restringir

relativamente o mercado, mais que a

ampliá-lo.

A democratização do capital, enten-dido como um maior acesso è proprie-dade das empresas mediante a compra deações nas condições de uma baixa dossalários reais, significou

promover o aces-so da inversão estrangeira às empresas decapital nacional.

Esse processo de concentração tam-bém foi alentado através do crédito. Em1964, a taxa inflacionária foi de 92,4%;não obstante os créditos oficiais aumen-taram apenas 50% e os privados 84,2%,com inferioridade de condições

para asempresas de capital brasileiro. A grandeatração que o BrasM significa

para ocapital estrangeiro,

particularmente parao norte-americano, origina-se do fato de

que, dentro da estrutura econômica men-cionada, os aumentos da

produtividadecriados pela contribuição tecnológica nãose transferem fundamentalmente

para omercado mediante um incremento do

poder de compra dos salários, mas seencaminham

para um incremento da taxade lucratividade e acumulacão. Esses fun-dos encontram um campo propicio para ainversão, através da compra de ações deoutras empresas. O sucesso dos mercados

de valores do Rio de Janeiro e de SãoPaulo não deixa de estar ligado direta-mente ao elevado valor dos fundos dis-poníveis ppbc enpresas estrangeiras.

Finalmente, a mut jr.yo proouzida na

política externa brasileira parte do princí-

pio de que as classes dirigente s deste País

m&tnz

Delfim Neto

Não há a

divisão do

capital

aceitam plenamente e com todas as suas

conseqüências a associação com os Esta-

dos Unidos, dentro de uma estratégia de

interdependência que passa pela aceitação

das fronteiras ideológicas e a constituição

do Brasil como centro de irradiação e

influência dessa política na América Lati-

na.

MUDANÇAS APÓS 1967

O governo militar assumiu o poder a

1o. de abril de 1964, razão pela qual

pode-se atribuir à sua responsabilidade os

resultados econômicos deste ano. A taxa

de crescimento econômico global não se

pode recuperar durante dois anos, quandocontinuou evoluindo a um ritmo mais

baixo que a da taxa demográfica ( que é

de 3,1%). Esse ritmo foi de 2,9% em 1964

e 2,7^ em 1965 e em 1968 foi possívelrecuperar a taxa de expansão de 1962,

ano em que teve início a desaceleração dó

ritmo de crescimento na indústria.

A situação na indústria não era menosdramática. Durante um quarto de século,o setor vinha crescendo a um ritmosuperior a 8% ao ano. Em 1964, a taxa foi^ S.2A G Pm 1QR?

sc um ddiferença negativa de 4,7%. 0 milagrefuncionava como desacelerador da taxade inflação, objetivo alcançado através da

queda dos^ salários reais e da grandeconcentração industrial em favor do capi-tal estrangeiro.

_ Porém ambos os fatores, a concentra-

çao relativa do mercado interno e aconcentração monopol ística, levaram àbeira da falência a pequena e médiaempresa nacional. Na segunda fase ocor-reu a liberação do crédito oficial

paraevitar o desaparecimento macico da pe-quena e média indústria, cujas dificulda-

des haviam provocado o retrocesso na

produção industrial durante 1965.

A ¦

ECONOMIA

brasileira

VISTA PELA

ARGENTINA

Depois de um ano inicial de dificJdades (1967), devido à queda das txpor.tações, a evolução econômica nos anos

posteriores melhorou notavelmente 0

produto se expandiu a uma taxa de 9%eo crescimento industrial foi de 11%enquanto as exportações cresceram a uniritmo aproximado de 18 a 20% ao ano.

A característica mais relevante da se-

gunda fase da pol ítica econômica do atual

governo reside na tentatica de evitar os

pontos de grande atrito dentro do proces-

so de concentração industrial, quer frean-

do quer desacelerando a expropriaçàoea

falência das pequenas e médias empresas

quer encampando sua liquidação através

da compra de ações. Embora a agricultura

tenha melhorado notavelmente sua con

tribuição ao crescimento do produto (6%

de expansão em 1969 e 5,6% em 1970), o

governo acaba de reconhecer que o Brasil

só poderá manter sua taxa de crescimento

se a produção agrária crescer anualmente

entre 15 e 14%, melhorando sua produti-

vidade. O dilema consiste em saber se

semelhante salto poderá ser alcançado

dentro do atual plano de modificações ou

se esta meta recolocará, mais uma vez, o

problema da reforma agrária e do acesso

ao consumo médio de metade da popula-

ção brasileira.

Em julho de 1971, o ministro da

Fazenda do Brasil, Delfim Netto, acres-

centou uma exigência a mais para tornar

realidade a manutenção da atual taxa de

expansão: que a taxa de poupança se

situe, pelo menos, em 21%. Para fins do

ano em curso (1971), esta taxa poderá

chegar, se atingidas as estimativas, a 18%.

A limitação da taxa de poupança provém,

como já se disse antes, da marginalização

de metade da população, que obriga a

manter baixos os salários dentro dos

centros industriais. Aqui também se colo-

ca o dilema de se saber se será possível

chegar a essa taxa de acumulação geral

sem se incorporar ao mercado o conjunto

da população ou se será possível alcan-

çá-la através da atual concentração. Neste

último caso, as diferenças econômicos e

inter-regionais estarão condenadas a acen-

tuar-se.

A contribuição do capital estrangeiro

também porduzirá dificuldades a curto

prazo. No momento, a dívida externado

Brasil — que em 1964 era de 1 bilhão de

dólares — se situará em fins de 1971 em

5,2 bilhões, de maneira que já as entradas

líquidas anuais do capital estangeiro re-

presentam nada menos que 60% ou 65%

dos serviços totais. Ronaldo Costa, secre-

tário-adjunto para Assuntos Econômicos

do Itamarati, assinalou em julho de 1971,

na Escola Superior de Guerra, que o

Brasil deverá aumentar suas exportações

em 15% para enfrentar os compromissos

para o exterior e continuar mantendo o

crédito internacional, do qual desfruta na

atualidade.

?

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ECONOMIABRASILEIRAVISTA PELA

ARGENTINA

Não se deve considerar o que

o Brasil faz em economia como

modelo. As medidas são apenas

uma estratégia ditada pelas

pressões sociais intestinas.

ira

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¦F fs\: 3T/3*r**' ffi ___P^^*^ *^d

A exportação nas mãos das empresas multinacionais

Não há dúvida que

ao governo cabe as iniciativas do

setor financeiro.Por outro lado, a grande massa de aeu-

mulação do capital estrangeiro frente à fa-

lência e o debilitamento das empresas na-

cionais estão criando um novo quisto no

seio da economia brasileira, com um po-der econômico de fácil e rápida expansão.

Embora no princípio da segunda fase o

Governo tenha tentado neutralizar esta

força, auxiliando a pequena e média in-

dústria, a reforma tributária e os projetosem marcha indicam que não restou outro

remédio que aceitar o novo e privilegiadoquisto. Assim autorizou-se os bancos es-

trangeiros a participar dos bancos de in-

vestimento e o Banco do Brasil transfor-

mouse em uma empresa multinacional. A

tal ponto é a pressão do quisto do capitalestrangeiro

que o projeto de criação domercado do rio-dólar é, também, uma for-ma Hp pwí.ar rA rt ry A e-1 -t ry r r»ct r-»r. OO t rOC

se convertam em cruzeiros e a circulaçãomonetária interna fique sujeita diretamen-te aos altos e baixos do movimento espe-culativo de capitais. Estes projetos se en-contram indissoluvelmente unidos às leisde promoção da bolsa e de correção doefeito inflacionário nos balanços das em-

presas. A lei de fusões permite, nesses ca-sos, reavaliar os ativos por cima das corre-Çoes inflacionárias, com o que se cria umdemento de distorção no sentido oposto^existente, e que prejudica as empresasnaõ concentradas. Assim mesmo, os ban-c°s toram autorizados a comprar ações de>equenas 8 médias empresas até úm limite

% do total do capitai que como sesabe, não constitui um costacuio.

As exportações industriais brasileiras

poderiam chegar a um nível previsto de

600 milhões de dólares em 1971 (sobre

um total de exportação de 3 bilhões). Po-

rém, essas exportações se realizam através

de empresas multinacionais que dominam

praticamente o mercado dos produtos

que comercializam. Suas atividades no

Brasil se baseiam no baixo custo da mão-

de-obra e nas franquias fiscais. Como a

expansão da produção industrial está su-

bordinada em grande parte à sorte da ex-

portação de manufaturados, a dependên-

cia do setor externo aumenta, já que qual-

quer diminuição da atividade dessas em-

presas - por decisão que escapa ao con-

trole do país ou pelas alternativas do in-

tercâmbio e a inversão mundial - pode-

riam criar uma grave situação econômica

nn Rrasil

As limitações da cooperação tecnológi-

ca já foram analisadas anteriormente. Res-

ta apenas dizer que, caso não se produza

uma expansão do mercado interno, o de-

senvolvimento tecnológico provocar.' uma

série de desajustes internos de conseqüên-

cias imprevisíveis (lenta incorporação da

mão-de-obra, subutilização de recursos).

A análise do perfis da demanda mostra

a desigual distribuição do poder aquisitivo

nas diferentes camadas da população. Po-

rém o processo .ndustrial dos últimos

anos acentuou, também cs desníveis regi-

onais de desenvolvimento. A reqiao mais

beneficiada ío. a tradicionalmente ma.s

desenvolvida do :entro-sul e particular-

análise

mente a área de influência de São Paulo,

sede da maior parte das indústrias de ex-

portação.

Não obstante, a magnitude dos recur-

sos derivados do alto ritmo médio de de-

senvolvimento permitiu o início de gran-

des obras de infra-estrutura que, no futu-

ro, poderão reduzir os contrastes atuais.

Entre outras coisas, os planos indicam a

possibilidade de o Brasil elevar seu poten-

ciai hidrelétrico instalado em 30 milhões

de KW, no fim de uma década; além do

mais, entre 1970 e 1973 planeja-se au-

mentar a área semeada em 25%; entre

1971 e 1975 serão construídos navios

num total de 1,6 milhões de toneladas de

porte bruto e no aço a produção de aços

planos (estatal) poderá chegar até 7,2 mi-

lhões de toneladas, e a do aço para produ-

IOS MdU-pidlIUb \imvci.uu k* ' »««-•«» " -•-

milhões de toneladas. Em conjunto, pre-

vê-se uma inversão de 1 bilhão de dólares

em siderurgia, construção naval e indús-

tria química.

A população brasileira será de 103 mi-

lhões de habitantes em 1974 e nos quatro

anos compreendidos entre 1970 e esta da-

ta o Produto Interno Bruto terá que crês-

cer em 41%, o que permitirá o produto

per capita expandir-se em 28% até chegar

a 520 dólares .•-¦-proximadamente a meta-

| de do produto per capita atual da Argen-

I tina. A população economicamente ativa

! .^levar-se-á. em ^974. a 34,40 mHhfces át

\ pessoas, o que .mpcrta num crsâc,mente

Capital do

exterior ém

un perigodo emprego de 3% ao ano e, por último, a

taxa inflacionária prevista será de 10% ao

ano.

O problema fundamental do atua! de-

senvolvimento brasileiro é que ele repousa

sobre dois pontos críticos: a composição

restrita da demanda interna e o futuro do

intercâmbio comercial. Qualquer crise" no

comérco e a inversão mundial poderá afe-

tar seriamente a taxa de desenvolvimento

e, imediatamente, provocaria um desajus-

te interno total, pela impossibilidade de

continuar mantendo o ritmo de acumula-

ção e de importações pelo peso da dívida

externa.

Pelo contrário, se o desenvolvimento

segue como até agora, irão no futuro se

acentuar as distorsões da renda, tanto do

ponto de vista social como regional, po-

rém no caso de se voltar ao regime de

liberação salarial, é quase certo que se re-

petirá o conflito entre os diferentes seto-

res, como vem ocorrendo periodicamente

cada vez que se toma uma medida dessa

natureza.

Em síntese, a experiência brasileira

aparece mais como uma estratégia tenden-

te a evitar mudanças profundas na socie-

dade, resguardando a estrutura de interes-

ses existentes, muito mais que um grande

processo de transformação. O relativo êxi-

to' da luta contra a inflação, por sua vez,

tem como vítima o pequeno e médio ca-

pitai nacional, os trabalhadores e o con-

junto da população, com uma estrutura

de renda anacrônica que tem poucas pos-

sibilidades de transformar-se em curto

prazo. Além do mais, alguns aspectos par-

ciais desses planos obedeceram estrita-

mente a situações conjunturais: a estabili-

zação inicial foi uma resposta ao agudo

processo inflacionário desencadeado no

princípio da década de 1960 e a posterior

mudança de rumo se deve à aguda crise na

indústria.

O uebtiivo!viiTíênícj __.r3S_iC_rc c, cm

poucas palavras, uma experiência que sur-

ge das próprias condições políticas, eco-

nômicas e sociais desse país, com difícil

aplicação em outras condições, porém

provavelmente o elemento que a torna

mais desaconselhável como modelo é a

tremenda pressão social que contóm e

acumula e que não poderá ser mantida

eternamente nos limites atuais. Nesse dia,

o Brasil produzirá o milagre de uma ex-

plosão.

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POLITIKA

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Angela Davis

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N

dos filmes de gangsters —

quatro corpos (juiz Harold

Haley, Jonathan,

Christmas e McCIain) ja-

ziam inertes e ensangüen-

tados no pátio do tribunal.

Conspiração? De quem

partia? 0 FBI foi avisado

de que uma jovem negra

tinha sido vista em compa-

nhia de Jonathan Jackson,

comprando uma espingar-

da, numa loja de penhores

em San Francisco. Uma

busca frenética teve início.

A suposta fugitiva percor-

reu várias cidades (Los An-

geles, Chicago), até ser pre-

sa num motel na cidade de

Nova Iorque. A prisão se

deu em 13 de outubro.

I 7.

*>*%

O nome da negra perse-

guida: Angela Yvonne

Davis. Logo que souberam

Sérgio

Barcelos

racismo

Numa fração de segundo o juiz

foi transformando em refém e

morreu na fuzilaria

que se

seguiu ao atentado. Angela

Davis foi acusada de coautoria

de sua prisão, 300 estudan-

tes (entre radicais, militan-

tes negros e adeptos da

"new left"), fizeram mani-

festação ruidosa em Fila-

délfia. Em Nova Iorque,

Chicago e outras cidades

da América, centenas de

estudantes reuniram-se em

comícios relâmpagos. A in-

dignação era enorme.

Quem era esta moça de

26 anos, de olhar inteligen-

te, fisionomia dura e res-

postas lacônicas, porém in-

cisivas? Não lembrava de

forma alguma a antiga

subserviência de seus ante-

passados escravos e dos

conciliadores negros em

prol de uma "sociedade

capitalista negra".

Angela Davis em liberdade

Na

manhã de 7

de agosto de

1970 um negro

jfranzino, ainda

adolescente, con-

duzindo uma pequena sa-

cola, entrou timidamente

na sala. do Tribunal do

Distrito de Marin, San Ra-

fael, Califórnia. Naquele

dia estava sendo julgado

um negro de nome, James

David McCIain. Era acusa-

do de ter matado um guar-

da branco na Penitenciária

de Soledad, Califórnia.

Em companhia do réu,

encontravam-se dois ou-

tros sentenciados (negros),

William Christmas e

Ruchell Magee. Eram acu-

sados de coautores, segun-

do o libelo volumoso sus-

tentado pela promotor ia.

Respondiam os três pela

alcunha de "Soledad

Bro-

thers". O juiz era Harold

Haley, da Corte Superior

do Condado de Marin. O

julgamento se arrastava

monotonamente.

O negro franzino, até

então quase imóvel cujo

nome era Jonathan

Jackson, abriu a sacola e

retirou bruscamente uma

carabina Plainfield, semi-

automática e duas pistolas

Browning. Numa fração de

segundos o juiz Haley foi

transformado em refém,

para surpresa do promo-

tor, advogados, guardas e

alguns circunstantes. A saí-

da, no entretanto, foi blo-

queada pela polícia. Após

uma fuzilaria — â maneira

m- »* S :

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Kw#/i

v 1'

Sergio

Barcelos

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A SEARA

DO ODIO

Angela Davis é um produto

da

sociedade norte-americana.

A segregação fez dela uma

revolucionária contestadora

ao establisment do racismo

POLITIKA

racismo

A ira de

uma negra

intelectual

Vamos rctroagir alguns anos. Angela Yvonne

Davis nasceu em Birmingham (a cidadela da se-

giegação), Alabama, em 26 de janeiro de 1944.

Sua origem apesar de modesta (seus pais pos-

suíam instrução razoável) foi bem mais afortu-

nada que a maioria dos negros. Ainda adoles-

cente, Angela começou a ter conhecimento da

odiosa segregação ou o que significa ser ameri-

cano negro num país opulento, no dizer de

James Baldwin.

Ao sentir sede em praça pública, notou que

havia dois bebedouros: um para os negros e

outro para os brancos. Havia também restauran-

tes, cinemas, ônibus, somente freqüentados por

brancos. Seus pais ao serem interrogados mos-

travam-se silenciosos. Aos 19 anos de idade,

Angela experimentou a sensação mais terrível

dc sua vida e que iria afetá-la intensamente no

sentido político: uma bomba de dinamite ma-

tou 4 crianças negras no porão dc uma igreja.

Nesta época Angela estudava na Universidade

de ürandeis, Massachussets. Um de seus profes-

sores era Herbert Marcuse. Como já era uma

brilhante aluna de literatura e filosofia, toi tacil

arranjar uma bolsa de estudos na Sorbonne de

Paris. Em 1963/64 esteve em companhia de es-

tudantes (negros e asiáticos), na Sorbonne. A

guerra da Argélia atingia um clímax de violen-

cia: atentados onde morriam dezenas de inocen-

tes e as represálias não menos violentas. Isto

lembrava uma pátria não muito distante, recor-

dava-se Angela. A violência e a tortura sotriuas

pelos argelinos nas mãos dos colonizadores 1 ran-

ccses. assemelhavam-se a uma surra que assistiu

no Harlem, infligida a dois negros por 4 poli-

ciais de capacete luzidio e cassetete branco. Os

dois estavam ajoelhados como a pedir clemen-

cia.

O fato revoltara e concomitantemente repug-

nara Angela, pois recordava o negro Dred Scott

e o tempo em que a Suprema Corte dos Estados

Unidos resolvera que os negros não poderiam

tornar-se cidadãos americanos, nem mover qual-

quer ação na Corte Federal. Resumindo: todos

são iguais perante a lei à execcção do negro.

Como vêem não é gratuita toda esta vjolência e

frustração vividas em torno da Decisão Dred

Scott. Ficou latente no negro. Angela Davis vol-

tou para a América ciente que a não violência

não era de forma alguma a solução.

Km 1968 (o ano do assassinato de Martin

Luther King), Angela (após ter permanecido 3

anos na Alemanha), reiniciou seus estudos com

Marcuse, que havia saído de Brandeis para a

Universidade da Califórnia em San Diego. Não

escondia suas convicções comunistas.

Explodiam as revoltas estudantis na França

(Sorbonne) na Alemanha (Universidade Goetne,

onde Angela estivera estudando) nos Estados

Unidos (Berkeley) e outros países. O mundo

parecia um caldeirão remexido por adolescen-

tes. Figuras imberbes hasteando bandeiras do

vietcong e armadas de pedras, paus^e algumas

armas de fogo, vociferavam "slogans maoistas

e vaticinavam o fim do capitalismo. Seus ídolos

eram Marcuse (principalmente entre os ame rica-

nos), Adorno, Rudi Dutscke e os irmãos Bendit

(Daniel e Gabriel).

As revoltas possuíam consistências diferen-

tes. Na França, o Fstablishment - (De Gaulle,

somente ele) havia acabado com a guerra na

Argélia e condenava o envolvimento americano

no Vietnã, ante a apatia dos comunistas-via-

Moscou. A luta era porém contra o capitalismo.

A universidade da Sorbonne havia redigido um

manifesto violento e intensamente revolucioná-

rio: "A

revolução que está nas ruas não somente

nega a sociedade capitalista como também a so-

ciedade industrial. A sociedade de consumo irá

também perecer, idem para a sociedade de alie-

nação.

O querúbico Danton, como era chamado Da-

niel Cohn Bendit (filho de imigrantes alemães

de origem judaica) havia se impressionado com

a insurreição em Berkeley (1964). Os privilegia-

dos da sociedade afluente (os negros ocupam

um capítulo a parte) sublevaram-se contra a de-

cisão da administração em banir todo o levanta-

mento de fundos e propaganda de qualquer

idéia política e social que eles não aprovassem.

Foi este o pretexto. Havia um objetivo comum

desejado pelas minorias estudantis: a derrubada

do governo.

Na França eram inimigos comuns dos estu-

dantes, o Estado (que controlava um imenso

setor da economia, intervindo incessantemente

na política e na iniciativa privada)

o Partido

Comunista (inimigo dos estudantes e demasiado

burocrático) c a polícia (tropa de choque a ser-

viço do Establishment degaullista). A oposição

política sistemática a Dc Gaulle e a tentativa cie

derrubá-lo foi um erro primário de Cohn Bendit

e seu adeptos.

Se Cohn Bendit reconhecia que a desigualda-

de cultural não é acidente, mas parte e parcela

da estrutura opressiva das sociedades comunis-

tas e capitalistas, a solução estaria na derrubada

das instituições sem consultar as bases. Nao toi

difícil a De Gaulle (seu passado político respon-

de bem às indagações), esmagar o movimento

estudantil no momento oportuno Se eles (os

estudantes) não tentassem a derrubada do Lsta-

blishment, muitas de suas (justíssimas) reivin-

dicações seriam atendidas.

Na América a oposição ao sistema possuía

ramificações bem mais complexas. A luta mi-

cialmente implicava numa contradiçao: a oposi-

cão estudantil branca lutava contra uma socie-

dade que os tratava democraticamente. Nunca

houve qualquer restrição ao homem branco na

América. Mesmo ao lumpen (salvo as restrições

de ordem financeira) o tratamento e idêntico '^

ao negro? O que mais chocou Angela Davis toi

o tratamento que recebeu em sua terra^nataU

nnós oassar por universiu<nK..> ^ aorouimv,

Goethe e ser tratada como Prof. Davis, Mrs.

David, Fraulein Davis, etc. Ao desembarcar em

San Diego, Califórnia e ser minuciosamente re

vistada, foi tratada de cun (negro) recebendo

advertências para não freqüentar este ou aquele

lugar.

A descoberta do que significa ser americano

em^úprópno solto, lazia-a lembrar James

Baldwin A cor foi para Baldwin a causa primei-

1 n- irira Angela havia uma obsessão paranóica

tia' parte do homem branco em destruir o negro.

<su-i radicalização aumentou com o assassinato

* Lume. King. em 4 de abril de I %*. Ma,s um

profeta desarmado a perecer como Ghandi t < u-

tros apóstolos da não violência.

Luther King não era um homem pacífico da

década dos 50. Em 1967, num discurso violento

em Alabama, denunciava o aumento da taxa de

desemprego (40 a 50%) para o negro, as condi-

ções subumanas de moradia, o recrutamento

dos negros (20% compunham a linha de frente)

para a guerra no Vietnã, as torturas sotridas nas

prisões infectas de Soledad, San Quentin. Não

apoiava os movimentos radicais dos Black

Panthers, Black Powere (neste país nada funcio-

na pela moralidade, pelo amor e pela não vio-

lência).

Angela cansou-se de esperar pelas conseqüên-

cias da escuridão causada pela sociedade branca

aos negros. Os negros passariam à violência e ao

crime pois nasceram de um parto gerado pela

criminosa sociedade branca.

Ainda na Califórnia, Angela Davis fundou o

Black Students Council. Em Los Angeles, obser-

vou in loco as violências praticadas contra os

negros.

O marxismo de Angela, assimilado nas uni-

versidades, esbarrou no empirisiflo e na ignoran-

cia. A maioria dos líderes negros nunca havia

lido Hegel (este nem era mencionado ou enten-

dido o nome), Marx (uma vaga menção ao Ma-

nifesto Comunista). O negro era alimentado

pelo ódio, como Huey P. Newton, dos Black

Panthers, da Califórnia.

O objetivo comum a destruir é o sistema.

Este é culpado pelo gueto, pelo acirramento da

repressão branca. 90% do motivo pelo qual an-

damos armados é devido a impossibilidade de

frenqüentarmos as universidades. O culpado?

Ora, o sistema. Um Stokeley Carmichael, Ralph

Brown ou Eldridge Cleaver (preso em Soledad)

não se limitariam a reações organicas, a maneira

o jovem Huey P. Newton. O Manifesto da Sor-

bonne calara em suas mentes.

O que pode significar para o negro americano

um Manifesto que fala em sociedade de consu-

mo ou sociedade capitalista (quando os autores

pensam numa sociedade branca) ou ersatz para

um capitalismo podre? Um Manitesto racista.

Claro que não. As reações de intelectuais como

Angela Davis, Stokeley Carmichael, Ralph

Brown entre outros, não é senão uma assertiva

em termos étnicos. Lá está o problema das mi-

norias raciais sempre presente. E o negro e o

porto-riquenho diante do látego manejado pelos

brancos.

Segundo o sociólogo americano Hieodore

Roszak a maioria dos jovens negros, inconscien-

te ou não, coloca o problema de raça tão estrti-

tamente "que,

apesar de sua urgência, tornou-se

atualmente tão anacrônico do ponto de vista

cultural, quanto os mitos nacionalistas do secu-

lo XIX".

Quando Angela Davis diz que nossas idéias só

têm sentido, quando veiculadas por gente de

nossa cor, está confirmando o que dissemos aci

ma.

Na luta sustentada pelos estudantes nas uni-

versidades e nas ruas, há o que discernir da par-

te que- toca ao estudante negro. Enquanto os

brancos (a new left, por exemplo), opoem-se a

U.do o que o Establishment lhes oferece dc

bom a mau, o negro conceitua em bases emi-

nentemente personalistas seu odio secular.

S americana é o policial amer.cano ou po-

Íícia de ocupação Não havera mais lugar para o

negro escravo Dred Scott na moderna sociedade

amtflfana.

Como podem os negros esguecer que o pro-

blema racial é prioritário? Nao só nas ruas sao

enxotados como cães vadios como'também nas

universidades são impedido*s de falar, como Bob

Se ale, dos Black Panthers, na Universidade dc

Berkeley. Seale não fazia prosélitos, apenas con-

denava sem alardes a guerra do Vietnã. Angela

Davis em 1969, havia aceitado o cargo de assis-

tente da cadeira de Filosofia da UCLA (Univer-

sidade da Califórnia em Los Angeles).

Um agente da FBI disfarçado cm aluno apon-

tou-a como comunista. Os regentes da Universi-

dade exigiram que ela se pronunciasse. Sim, sou

comunista, mas não admito que me coloquem

no banco dos réus e sim os Nixons, os Agnews e

os Reagans.

Imediatamente, os membros do Conselho da

Universidade tentaram despedir a profa. Davis

por suas crenças políticas. O caso foi levado ao

Tribunal - o americano respeita qualquer deci-

são em nome da lei — e Angela toi absolvida.

Houve recurso, mas foi julgado inconstitucio-

nal. É o grande paradoxo da sociedade america-

na- a oposição é dirigida a um Sistema que res-

peita as leis. Também ocorrem relaxamentos no

cumprimento da lei: os assassinatos dos Kenne-

dyS, a absolvição do Major Calley, o assassinato

de Luther Kine e inúmeros casos em que a lei

ficou adormecida. No affair Angela Davis houve

várias contradições (não serão estas inerentes ao

sistema capistalista? ). A prisão de Angela acu-

sada de assassinato, rapto c conspiração, so teria

ponto de sustentação na última acusaçao ou

seja conspiração contra o regime. O libelo acu-

satório fixou-se na cumplicidade (provas. ) do

crime e rapto (Angela não esteve na sala do

tribunal). Seu advogado, Leo Branton pulven-

zou todas as frágeis acusações.

Agora quanto à conspiração. Da prisão de

Marin County (na Califórnia), esperando julga-

mento, Angela Davis escreveu um artigo para a

revista Ebony (em 7 de julho de 1971), intitula-

do, Rhetoric vs Reality. O artigo é um panfleto

violento contra o regime. Eis alguns trechos, sob

o capitalismo a gente negra é e será predestinada

a ser esmagada, manipuladae desumanizada. Nas

palavras de nosso grande intelectual negro, poeta

e líder, W. E. B. Dubois, o comunismo é a melhor

resposta e o único caminho para a criatura huma-

na.

Mais adiante, criminosos são os policiais que

em nome do Sistema praticam seu sadismo de

inspiração racista contra gente negra, crimino-

sos são os generais dirigindo operaçoes genoci-

das na Indochina. Para arrematar: os criminosos

(refere-se aos negros) são apresentados pelo pre-

sidente Nixon como anônimos habitantes uo

gueto, condenados a um sepultamento em

masmorras". Este planfeto nem foi mencionado

em julgamento. Complexo de culpa? Angela

Yvonne Davis é lioie uma cidadã livre, l oi alvo

a poucos dias de uma manitestaçâo monstro em

Nova York.

Há uma revolução que vem vindo, não sera

como as revoluções do passado (ouviu Angela. )

O homem estará naturalmente e fara parte desta

revolução. A tmudança da estrutura

será seu ato final. Palavras de Charles A. Reich.

A luta não será entre direita e esquerda (como é

cansativo este dualismo). O inimigo comum e o>

totalitarismo tecnocrático. Se este não for der-

rotado, 1984 será uma realidade.

D

D

1

01

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POLITIKA

12I bacia.Idas almas I

Kiifoc|iie desfoeado

Dos jornais: à margem de uma estrada de terra, caminho de s/tios no bairro do Cipó, periferia de São Paulouma menina grávida, espancada pela policia, é assistida por mais duas colegas naquele parto prematuro. 0 feto fo)abandonado no ei o do mato e durante cinco horas as três caminharam até chegar à casa da parturiente. Assimalguns policiais do Décimo Quinto Distrito - Indianápolis -

procedem à repressão ao trottoir nos bairrosresidenciais dessa jurisdição, inovando no processo de combater o assédio das prostitutas aos motorista*,particulares na chamada ronda das paqueras.

É a chamada visão deformada da realidade social: por despreparo e total incompetência, os responsáveis pelopoliciamento - o sistema repressivo - não conseguiram entender, ainda, que a prostituição é um grave problemasocial que requer medidas adequadas para sua solução. Não terá fim com medidas repressivas, tipo esDancampntne prisão. Uma questão de enfoque. Apenas isto. **************

POLITIKA na Universidade

JB _\ * ^r_m' ét_\ ^_\ ¦¦^'¦i-H

¦ I V^jtÍfca^ Sm

W/r __1_^___^_r W& MÉ»'--"' m*w

_féíF. ' _WeSÊ_uY *m mtk—

Não é matéria publicitária não pessoal. O negócio éque o POLITIKA é um jornal identificado. E identificável.Tanto que os alunos da Universidade de São Paulo nãodeixam de comprá-lo, todas as semanas. E o pessoal de SãoPaulo, que não perde tempo, aproveitou a reunião dosestudantes e torne-lhe de fotografia. Que a gente publica Êclaro.

Assalto

a domicilio

0 carioca, o infelizmais assaltado do mun-do - em todos os senti-dos -

pode ter um conso-Io: no edifício em auemora o general Faustinoda Costa, secretário de Se-

gu rança da Guanabara,apesar do rigoroso esque-ma montado, com vistas a

possíveis ações subversivas,um ladrão penetrou e visi-tou diversos apartamentos,

saindo calma e tranqüila-mente, sem ser abordado

por qualquer dos policiais.Se não fosse um ladrão

comum o esquema teriaido para o brejo.

O milagre

das vendas0 comércio carioca de rou-

pas femininas inventou maisuma picaretagem: contratar

moças de boa aparência quepassem o dia experimentando

vestidos e blusas, fiqindo-se decompradoras. Sabem paraquê? Para aumentar um pou-quinho o faturamento, que caidia para dia.

E não venham dizer que istoacontece com lojas desimpor-tantes. A relação das empresascontratantes é formada por AImperial, Canadá, A Moda eoutras, que fizeram do comer-cio carioca um dos mais sofisti-cados e importantes do Brasil.Isto antes de se descobrir omilagre, evidentemente

Va.

A memória

tle •luraiey

0 almirante Ernani do

Amaral Peixoto deu à re-

vista Visão (tem me lho-

rado muito ultimamente)

este depoimento, que é

bom destacar, para o País

ficar sabendo d irei ti nho

quem são, como são e co-

mo agem alguns de seusilustres homens públicos:

- "Juracy Magalhães,

quando foi promulgado oAto Institucional no. 2,me declarou que, pelo seu

passado de revolucionário,

de liberal, não poderia per-manecer no Governo. Queo presidente Castello Bran-co, dada a pressão que ha-via nos meios militares, se-ria obrigado de qualquermaneira a baixar um ato,fazendo aquilo que o Con-

gresso não queria fazer. Eurespondi, mas seria preferi-vel que ele fizesse um atoinstitucional, porque oCongresso se desmorali-zava votando aquelas me-didas. E ele me disse queaconselharia o PresidenteCastello a fazer, embora

pelo seu passado não pu-desse continuar no Minis-tério: era uma medida dita-toria/. Tanto assim que, setivesse querido, teria sidoMinistro do Dr. Getulio,com quem tinha boas rela-

ções - e real mente

tinha — e nunca aceitou.Mas acho que depois ele seesqueceu disso, porque as-sinou o ,-.1-2 e continuouno Ministério da Justiça".

Será esqjeceu, a/mi-rante? 0 Juracy sempreteve ótima memória. So-bretudo a memória doscargos.

•J»alo por

lebre

Everardo Guilhon, ofamoso Super-XX, foidesignado pelo Itamarati

para Adido de Imprensado Brasil no Paquistão.

Antes de assumir, deu uma

passada por Portugal, ondeseu irmão, IV"anoel EmílioGuilhon, era Cônsul Geral.Um dia, passeando por Lis-boa, teve sua atenção vol-tada para uma estátua deD.Pedro IV - o nosso Pe-dro I — e foi chamado peloirmão:

Everardo, esse D. Pe-dro IV não está esquisito?

É mesmo. Apesar decerta aparência, é bastantediferente do nosso Pedro I.Tem traços fisionômicos,mas não parece ele.

Bem, vai ver que é adiferença de idade .. .

Foram embora. E seesqueceram do Pedro IV.

Depois, já no Paquistão, Everardo conversavacom o Terceiro Secretárioda Errbaixada de Portugal,Antônio Lopes da Fonse-ca, e disse-lhe de sua dúvida sobre a estátua de Lis-boa.

A resposta veio sob aforma de pergunta:

A de D.Pedro IV?Essa mesma.P .as aquele não é

D.Pedro IV. É CarlosMaxim ili ano.

Ante o espanto deGuilhon, explicou:

Quando Maximilianofoi nomeado Imperador doMéxico, um escultor fezsua estátua. Que deveriaser enviada ao México.

Ora, houve a revoluçãomexicana e mataram o im-perador. E a estátua ficouencalhada.

E o que tem umacoisa com a outra?

A dúvida de Guilhonfoi desfeita:

Simples. O governode Portugal aproveitou queos dois eram parentes ecomprou, por preço bembarato, a estátua de um,dando-lhe o nome do ou-tro.

Então Guilhon arrema-tou:

Quer dizer que o D.Pedro IV de vocês é oCarlos Maximiliano do Mé-xico?

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}'|f i|VAt»C*.> PA* CHOVA' •

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MBS!

rZ^'

—«¦»- —^fT i ¦ *" . miiii

O (1ha)SaM dl» lá

Foi publicado, em São Paulo, o resultado

estatístico das obras públicas na municipalidade da Capitai.

E este não apresentou nenhum surpresa. Mas a verdsde ó que

não aqradou ao

prefeito Ferraz, o paulistano é

um gozador e anaa espalhando que está a espera

de que ele saiba que assumiu o cargo.

POLITIKA

bacia

das almas

A primeira

hei de

Imprensa

"Havendo ponderado na minha

I real presença que, mandando eu

convocar huma Assembléia Geral

Constituinte e Legislativa para o

Remo do Brazil, cumpria-me neces-

sanamente e pela suprema lei da

[salvação pública evitar que, pela

imprensa, ou verbalmente ou de

outra qualquer maneira propaguem

epubliquem os inimigos da ordem e

da tranqüilidade e da união, doutri-

nas incendiárias e subversivas, prin-

cípios desorganizadores e dissocia-

veis, que promovendo a anarchia e a

iirenca, ataquem e destruão o syste-

^ Que os povos deste grande e ri-

quíssimo Reino, por sua própria

vontade escolherão, abraçarão e me

requererão, a que eu annui e procla-

mei, e a cuja defeza e mantença já

agora elles e eu estamos indefecti-

velmente obrigados: e considerando

eu quanto pezo tenhão estas razões

e procurando ligar a bondade, a

justiça e a salvação pública sem

ofender a liberdade bem entendida

da imprensa, que desejo sustentar e

conservar, e que tantos bens tem

feito à causa sagrada da liberdade

biazilica, e fazer applicávcis em ca-

sos taes e quanto for compatível

com as actuaes circunstâncias, insti-

tuições liberae adaptadas pelas na-

ções cultas: hei por bem, e com o

parecer do meu Conselho de Esta-

do, determinar provisoriamente o

seguinte:

0 Corregedor do Crime da Cortee Casa, que por este nomeio Juiz de

Direito nas causas de abuso da liber-

dade da imprensa e nas Províncias

que tiverem Relação o Ouvidor do

Crime, e o de Comarca nas que a

não tiverem, nomeará nos casos

ocorrentes e a requerimento do Pro-

curador da Coroa e Fazenda queserá o Promotor e Fiscal de taes

delictos, vinte e quatro cidadãos

escolhidos dentre os homens bons,

honrados, inteligentes e patriotas,os quaes serão Juizes de Facto paraconhecerem da criminalidade dos

escriptos abusivos.

Os réos poderão recusar destes

vinte e quatro nomeados dezesseis

— os'oito restantes porém procede-

rão no exame conhecimento e averi-

guação dr delicto, como se procede

nos Conselhos militares investigação

e accommodando sempre as formas

mais liberais, e admitindo se o réo à

justiça e certeza que lhe dá razão,

necessidade e uso. Declarada a exis-

tència de culpa, o Juiz imporá a

pena. E, por quanto as leis antigas a

semelhantes respeitos são muito du-

ras e impróprias das idéias liberaes

dos tempos em que vivemos, os

Juizes de Direito regular-se-hão para

esta imposição pelos art. 1 2 e 13 do

tit. 2o. do decreto das Cortes de

Lisboa de 4 de Junho de 1821, que

mando nesta única parte applicar ao

Bresil. Os réos só poderão appelar

do julgado para a minha real cie-

mêr.cia.

E para que' o Procurador da

Coròa e Fazenda, tenha conheci-

mento dos delictos da imprensa,

serão todas as typographias obriga-

das a mandar-lhe hum exemplar de

todos os papéis que se imprimirem.

Todos os escriptos deverão ser

assignados p« los escriptores para

sua responsabilidade: e os editores

ou impressores que impremirem e

publicarem papéis anônimos, são

responsáveis por elles.

Os auetores, porém, de pasquins,

proclamações incendiárias, e outros

papéis não impressos, serão proces-

sados e punidos na forma prescrita

pelo rigor das leis antigas. José Bo-

nifácio de Andrada e Silva, etc.

Paço, em 18 de Junho de 1822. —

Com a rubrica de Sua Alteza Real o

Príncipe Regente. - José Bonifácio

de Andrada e Silva". Bons temposaaueles

Três lições de humildade

Sociedade

A sociedade cria situações

absolutamente contraditórias.

Semana passada, mais um ope-

rário se despencou do andaime

da construção em que traba-

lhava, . arriscando a vida. E

ganhou as manchetes dos jor-

nais por uma simples razão:

caiu do décimo andar e não

morreu, embora tenha sofrido

inúmeras contusões, algumas

sem qualquer gravidade.

Ora, campanhas são feitas

no sentido de aumentar a segu-

rança para os operários; o sindi-

cato de classe se manifesta; as

autoridades prometem punição

para os infratores. E as coisas

continuam na mesma, sém que

se passe uma semana não

havendo uma queda e uma

morte. Várias quedas e várias

mortes. Mais miséria para algu-

mas famílias.

Como, por verdadeiro mi la-

gre, um operário cai e não

morre, vira manchete de jor-.

nal. Ora, a sociedade cria, real-

mente, situações absoluta-

mente contraditórias, que fe-

rem os mais primários conhe-

cimentos de organização, res-

peito e dignidade da pessoa

humana. Afinal de contas, o

mundo é assim, dirão os mais

objetivos. O que não deixa de

ser verdade.

i y. — '

tvohijfri do ni

(MMN 4$ Oft

nfl flnWnnfluUUUUUUUUU I

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7^51 "M ¦ ¦¦¦¦II PI

** I I ^rrotni* • nmntdcrn

A Renda por Habitante am Alguns Pafsaa

(•m UM)

I

Brasil Portugal Itália Inqlaterra Auatrálla F'»n«» Alemanha Canadá Suécia

I Fomr: "Tht OECD Obsrrvrr" n.° 56 — 2.72

EUA

Dlitribui$fio da renda

Partjcipacfio

_ . percsntualCamadada na

randa total

populagSo

1960 1970

40% malt pobrea 11,20 9.05

10% aagulntaa 6.49 4,69

10% MgulntM 7.49 6,25

10% aagulnta^ 9,03 7,20

10% MgulntM 1141 9.63

10% MgulntM 15,61 14,83

10% mate rlcoa 36,67 48,35

TOTAL 100,00 100,00

80% mala pobraa 45.52 36.82

20% mala rlcm 54,48 63.18

5% mala rlcot 27,35 36.25

1% mala rlco« 11.72 17.77

Fonte: IBGE.. —I I

——rainwiw writuw r mrgmm

4 Editora Abril lançou um

Manual de Investimentos, onde

publicou alguns gráficos da eco-

n°mia nacionai. Estes três dizem

wais do que o discurso do filóso-

0 Delfim Neto, que em sua últi-

ma conferência na Escolà Supe-

nor de Guerra lançou para

o

m"ndo a tese de

que

"o

pape! da oposição é pedir

o impossível".

No primeiro gráfico, basta

uma continha de somar para ver

que o PNB ou o PIB (Produto

Interno Bruto) que virou o santo

padroeiro do milagre nacional,

praticamente dobrou de VdbZ pa-

ra 1963 e de 1963 para 1964. De

lá para cá, tem crescido mais

modestamente. Será que o mila

gre de 62, 63, 64, era mais forte

do que o de agora? Ou o PNB

não será tão importante como

resolveram dizer?

No segundo gráfico a nossa

renda por habitante (per capita)

ainda está em 380 dólares anuais.

Quem é capaz de lembrar desde

quando ela está em 380 dólares?

No terceito gráfico, temos a

síntese do Censo de 1970 sobre a

distribuição de rendas.

Analisem bem esses riscos e

vocês vão saber porque os gregos

ensinaram que a condição da sa-

bedoria é a humildade.

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POLITIKA

konjuntura

.

v— /

Do país próspero

e calmo que

era o Uruguai até a década

de 50 restou apenas o alto

nível cultural de seu povo,

que está emigrando em massa.

Milton

Temer

As tmnsrc rttmnir rin fit on ///I Dt.u*.

lf *S

JjH jj^ ^

•' ^&IIH f --ifiKli IV P* .»

jjj^

* '* ip sr.

m lUT-."' ¦

fc

General Seregni

>ls rrop« depois da fuga de Punia Carretas

O estado de guerra interna tem sua terceira prorrogação no Uruguai.

E congitando-se de sua institucionalização, se ratifica no Congresso a Lei de Seguridad.

Os direitos individuais estão suspensos e não se fala no seu restabelecimento.

Neste quadro, o Governo uruguaio vive um momento de afirmação com os sucessivos e profundos

golpes que vem aplicando na estrutura orgânica dos tupamaros. Diariamente é emitido um boletim oficial das

Fuerzas Conjuntas (Forças Armadas e Polícia) anunciando a prisão ou

morte por enfrentamientos de membros da organização clandestina. No dia em que se votava a prorrogação

do estado de guerra, apenas três membros da direção central conhecida dos tupamaros

não haviam sido ainda presos (Sendic era um deles. Se comenta que teria saído do país).

-ÍJU|

URUGUAI,

DA ÍO

num

¦VL nc

¦ m ml^*r anos 50, i

Não é mí

DECADENTE!

para os br,

EM BUSCA lã

lar atual ac

goria de "

(onde

Volonté

interpretaç

^jHNHAJm líticadefm

Montaldo,

?j^l^ jBKft meron", df

o a

in A

ãm das sem co

Pois é, a Suíça da Amé-

rica Latina, imagem do

país num tempo que ter-

minou nos meados dos

anos 50, mudou de cara.

Não é mais o país livre,

ordeiro, um povo bem ali-

mentado e feliz com o

poder que se mantinha nas

mãos dos Colorados havia

80 anos. Não, não há mais

nada do que se pintava

para os brasileiros naquela

época.

Dali só restou, o alto

nível cultural e de infor-

macão facilmente consta-

tável na freqüência popu

lar atual aos filmes da cate-

goria de "Sacco

e Vanze

tti" (onde o Gian Maria

Volonté dá um show de

interpretação artística a

serviço de uma posição po

Iitica definida ) , do

Montaldo, ou no "Deca

meron", de Pasolini (deste,

fico imaginando a reação

do publico num cinema

brasileiro: há pelo menos

oito relações sexuais filma-

das sem corte).

Ou ainda nas casas lota-

das nos teatros que apre-

sentam "Ascensão

de

Arturo Ui" (explicação do

crescimento de Hitler mos-

trado na figura de um

gangster em defesa dos

grandes trustes, na luta

contra os grevistas) e "Nos

Dias da Comuna de Paris"

(aqui, numa alusão clara

ao debate entre os cami-

nhos a serem seguidos pela

esquerda quando no po-

der), ambos textos de

Brecht. Tudo na mesma

semana.

É bom lembra aqui, (um

parêntesis de informação

ao pessoal de teatro) que"Arturo

Ui" está no Tea-

tro Galpon, cuja lotação é

maior que a de um cinema

de tamanho médio no Rio.

E que eu vi a peça numa

terça feira. Vale registrar a

CrS 2,50, sem anúncio de

temporada popular. No

Rio, Villa nueva Crosse —

o ator principal - valeria

um bilhete de CrS 50,00.

Qual a explicação então

para as mudanças deste

país? Por que sua popula-

ção esta emigrando (o alto

nível cultural facilita a co-

locação em qualquer país

da América Latina?

51

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POLITIKA7

URUGUAI, PlS

DECADENTE EM

BUSCA DA SAÍDA

O Uruguai não acompanhou o

desenvolvimento da economiado mundo e ficou na base da

venda de lã e carne. Por isso

o sintético o empobreceu

15konjuntura

HOUSIWSONIIS aTUNNIUO _INTOFOt

*

ISCAM

•__H. ¦ m_Èw5h/' .*. Vn Mm. k1 /j?m

-~Z:!].k **S*VMV\ FRISON

»____n^- mml ,i___IÍ_____ __•*-'- -• %m mWrmÀW J*W^T^\ "üj^^^Mm^È

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i^y^j^^^P^ly /-^K \ f#___**_____i K víf r_r rí

***^^^^^^~ YxO^I J

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I í ^^^^ I

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**^^^~ *, 1/^1'! /// -Ml J

I--* //// __J_k Ir __H _____________H_________, I

Os jornais uruguaios com a Ley de Seguridad gozam de liberdade limitada, entretanto, quando podem,

usam a crítica para apresentar a situação interna. As fotos da repressão contra os tupamaros só

podem ser publicadas quando autorizadas, mas as agências estrangeiras as distribui para o mundo.

O rebanho bovino uruguaio, em

torno de 8 milhões, é contrabandeado quase

sempre para países vizinhos

Não adianta ficar com especula-

ções sem fazer um pequeno retrós-

pecto sintético.

Dados oficiais nos mostram quede 1908_até 1971 (último censo)

apenas dois números aumentaram

no Uruguai — o da população e o de

porcos("numa imagem muito sim-

bólica", rsssalta um importante es-

Carne e lã, ainda hoje fontes mais

importantes das exportações uru-

guaias, chegam a mostrar estatísti-

cas aterrorizadoras: há atualmenteos mesmos números para o gadobovino (em torno de 8 milhões)constantemente ameaçado pelocontrabando para o Brasil onde há

Preços muito mais altos, enquantono ovino o número desce de 26

milhões para 19, aproximadamente.Considere-se aqui que, em inícios

do século, era muito menor- a popu-tação local(Battle y Ordonez, presi-dente colorado responsável pelas

medidas de lei mais progressistas

ainda hoje no Uruguai, dizia que o

país poderia alimentar com sobras

uma população de 25 milhões,

quando mal consegue atender aos

2,5 milhões de hoje).

Neste quadro de então se estabe-

lece uma estrutura social difícil de-

imaninar Dará a América Latina da

época; ao nível das mais avançadas

do mundo: escola pública gratuita,

jornada de 8 horas de trabalho (co-

mo forma de atrair a imigração!!),

voto secreto, direitos da mulher,

aposentadoria, nacionalização do

petróleo.

Entenda-se também que já na

Ȏpoca havia os dois partidos tradi-

cionais-Colorados, ligados aos

centros urbanos e formas de econo-

mia a eles inerentes, e Blancos (Par-

tido Nacional), que representava o

interesse dos ruralistas. Tao prospe-

ro era o país, que ambos se enten-

diam e aprovavam esta legislação

avançada.

Vêm então as duas guerras, e

com elas a mudança nas relações de

troca do comércio exterior. Em

1938, quando o total das exporta-

ções mundiais alcançou — segundo

os dados dos Anuários Estatísticos

das Nações Unidas - um total de

23.500 milhões de dólares, com

5.900 milhões pertencentes aos

países da área do subdesenvolvi-

mento, o Uruguai tinha 62 milhões,

o que correspondia a 0,26% (dado

bastante alto, em função de sua

população, é bom repetir). Em

1960, a porcentagem uruguaia já

desce a 0,10 do total, batendo

0,074% em 1970.

Começa-se a pressentir a gmande

crise uruguaia a partir do fim da

guerra da Coréia, ao se perceber queum modelo econômico dos anos 10

e 20 já não podia servir mais. Os

sintéticos, principalmente, arreben-

taram com o preço da lã, enquanto

o controle da economia dos paísessubdesenvolvidos por parte de um

novo senhor (Estados Unidos subs-

tituindo a Inglaterra) fazia baixar o

preço da carne. E, na necessidade

de mudar, se cai na grande contradi-

ção que começa a esvaziar os parti-dos políticos de então: 1/3 da terra

explorável do país estava na mão de

600 famílias, que, já então, tinham

quase total participação no controle

dos bancos, da indústria e do co-

mercio exterior. Não redundou por-tanto em nada a pretensa mundança

de poder após 80 anos, quando os

Blancos ascendem ao governo, em

1953.

. --*¦¦¦*¦••»--*-»»*¦' ¦¦•**•'

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konjuntura

Os Colorados perderam

o poder

por 4 anos, após um domínio

de 80 anos, Voltaram ao poder

com Gestido e os problemas

se agravaram cada vez mais

General Seregni

If &

^ BlI # gj

B1PWBWHBWWF *. ? *•

E surge, fortemente, no debate

político, a figura sinistra do Fundo

Monetário Internacional com as

suas já conhecidas medidas básicas:

restrição de créditos, congelamento

de salários, etc. Os Colorados, então

fora de governo, caem na oposição'

e atacam os acordos e concessões

feitos.

^Claro que a pretensa mudança

não deu em nada de bom e os

Blancos saem em 1962, quando é

eleito o general Gestido —

homem

muito mais respeitado pela sua in-

contestável honorabilidade do que

por seu passado pol ítico —

trazendo

Pacheco Areco, com quem pouco se

identificava, como vice-presidente.

Os problemas do Uruguai existiriam

provavelmente então pela possível

desonestidade com que se condu-

ziam anteriormente. É o que se

pode depreender da escolha de

Gestido.

Mas Gestido não tem tempo para

muita coisa. Morre ainda no co-

meço da sua gestão. Sobe Pacheco

Areco e, estranha coincidência, co-

meçam a aumentar sua força as^

correntes políticas de esquerda.

Na^a Fidel (Frente Isquierda de

^rfaC;Ó!i>: formada pelo Partido

l.pThümsta (M-e étlèçjfel •

ndr h

Pacheco Areco sobe

te de Oscar Gestido

ele as esquerdas

no Uruguai), uma ala da Demo-

cracia Cristã e membros de uma

esquerda independente. Desta, uma

outra parte se funde com o Par-

t do Socialista para formar a Uni-

dade Popular.

0 surgimento dessas represen-

tações políticas e o crescimento da

ação dos sindicatos fortemente or-

ganizados a partir de suas bases - o

governo não tem ingerência, pois

não existem os pelegos —

começam

a preocupar as forças tradicionais. E

os Colorados, que combatiam os

Blancos pela obediência às normas

impostas pelo FMI, recuam e pas-

sam a apoiar suas medidas "sanea-

doras".

Os tupamaros — nascidos no iní-

cio da décade de 60 —

começam a

crescer, independentemente da lega-

lidade das organizações de esquer-

da. É que seus atos românticos

iniciais (roubo e publicação dos

livros contábeis das grandes com-

panhias ligadas ao capital estran-

geiro, que sem comentários suple-

mentares constituíam em si denún-

cias gravíssimas) passam a se consti-

tuir em motivo de fascínio para

uma parcela da população. E a

c: nuerda leqal, embora não apoian-

: eícdcs, r.ao . j i ave

nem era hostilizada como nos ou-

tros países da América Latina.

Havia como que uma espécie de

reconhecimento mútuo da neces-

sidade de ambos existirem.

E nisto se segurou o sistema para

mudar o eixo da linha de governo:

nada se poderia fazer pelo país

enquanto não se desse fim à anar-

quia e à subversão. Só então se

poderia marchar para a recons-

trução. Reconstrução que só via

como válida os mesmos homens e

os mesmos partidos que já haviam

levado o país à grande crise de hoje.

Com isto não se contentou um

general que então comandava a I

i < egiao Milildf — controla a capital

onde vive mais da metade do total

da população do país. Ele achava

que o simples combate à subversão

não era suficiente. Era o general

Liber Seregni, um colorado battlista

(bajista, se pronuncia aqui), o que

signifiça ser fiel aos preceitos de

Battle y Ordonez. E passa para a

reserva para não quebrar a disci-

plina da ordem hierárquica.

E é eje que a Frente Ampla,

ornanizacão criada muito ^m fun-

cao do sucesso da Iníríade p00,.(or

URUGUAI, PAÍS

DECADENTE EM

BUSCA DA SAÍDA

O Chile

serviu de

exemplo

no Chile, vai escolher como candi-

dato à presidência no pleito de

1971. M

Sem tradição política, perten-

cendo a um partido que terminava

de nascer Seregni se transforma no

grande adversário de Bordaberry

(indicado pelo colorado Pacheco

Areco) e de Ferreira Aldunate

(blanco de tendência liberal, que

declarou ser capaz de colocar-se

contra seu próprio partido se este se

levantasse contra as liberdades indi-

viduais).

(Terminou votando recente-

mente a favor da prorrogação do

estado de guerra proposto por

Bordaberry). Alduna foi o mais

votado, mas perdeu porque Borda-

berry teve a seu favor os votos de

Vasconcelos, colorado que se opõe

à linha dura de Bordaberry, mas

que terminou por beneficiá-lo.

Seregni fpi derrotado, mas a

Frente Ampla quase conseguiu con-

quistar a prefeitura de Montevidéu

muito embora seus dois partidos

rivais tivessem feito uma passeata

conjunta (isto mesmo, eram adver-

sários na eleição mas se juntaram)

contra "os

tanques soviéticos, Muro

de Berlim, e possibilidade de as

mães verem seus filhos serem envia-

dos para estudar em Moscou". As

aspas são para deixar claro que os

slogans chegaram a este nível. Não é

por menos que McGovern, na cam-

panha que faz nos Estados Unidos,

diz que o anticomunismo é ainda

um grande negocio na America La-

tina.

„ A serviço dos

que não querem

ve-la progredir.

E é com o general Seregni esta

conversa curta que se segue.

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POLITIKA

URUGUAI, PAÍS

DECADENTE EM

BUSCA DA SAÍDA

-

1® p5;

Milton Temer, um dos mais• *

experimentados repórteres

brasileiros, foi ao Uruguai

e entrevistou para

POLITIKA

o chefe da oposição, Seregn

General Seregni

Uruguai é

um estado

fcv/icfo

Quem chega a Montevidéu ho/e

sente no ar o aspecto de cidade em

fim de guerra. Tudo tem cheiro de

decadência e, nos edifícios suntuo-

sos da belle époque, ao redor da

Praça Independência, o maltrato

deixa transparecer o aspecto perma•

nente de aristocracia decadente.

%Na Calle 18 de Júlio, principal

avenida da cidade, as vitrinas enco-

bertas por papel de jornal mostram

as falências a que foram conduzidas

as grandes lojas. Os antigos e ricos

luminosos — agora empoeirados e

aos pedaços

- permanecem apaga-

dos fazendo questão de lembrar ao

grande número de aposentados que

por ali passeia em roupas velhas e

poídas a época feliz e não muito

longínqua das vacas gordas. A passi-

vidade só é cortada aqui e ali pela

sirena de um carro das Fuerzas

Conjuntas, canos de metralhadora*

aparecendo pelas janelas, em mais

uma missão contra os tupamaros.

Neste clima que já vem desde 15

dp ahril fni lanrin cp nrnrnu/oou n

estado de guerra interna) aparece a

voz de Seregn i para pedir a pacifica-

ção. E os órgãos de comunicação

que apoiam o governo não fazem

por menos. Seregni é um porta-voz

dos tupamaros.

P — O senhor é porta-voz

dos

tupamaros, General?

R — Esta é uma acusação típica

do anticomunismo de caráter co-

mercial que existe na América Lati-

na. Quando pedi a pacificação, vi-

víamos o primeiro período de Esta-

do de Guerra Interna, com duração

prevista para 30 dias. E eu dizia

então em um discurso aqui mesmo

em Montevidéu: "Quem

assegura

que terminará em 30 dias? Quem

determina o prazo fixo? "

Minhas

perguntas não foram respondidas, e

agora já se prorroga este estado pela

terceira vez, ao mesmo tempo em

que se procura institucionalizá-lo.

Quando pedi a pacificação, partia

do raciocínio que o estado de guer-

ra era mais um passo na série de

proposições do governo

contra

todas as nossas tradições legalistas.

Havíamos começado com as inicial-

mente provisórias medidas de segu-

rança estabelecidas durante a gestão

de Pacheco Areco, e que se manti-

veram durante quatro anos, chegan-

do à estatura do estado de guerra

atual.

Por enquanto, é uma guerra pe-

quena, mas que poderá

converter-se

' •.

Seregni não

faia peios

tupamaros

damente è paz, ou se multiplicam as

conseqüências dessa guerra e, na

medida em que isto aconteça,^ o

Uruguai periga na sua independên-

cia, na sua existência.

P —

E de onde partiram as acusa-

ções?

R - Claro, dos partidos políticos

tradicionais (Blancos e Colorados)

konjuntura

numa guerra grande, e seria imoral

não levar em conta esta hipótese. E

não tenha dúvidas: ou se chega rapi-

como forma de combater o surgi-

mento de uma nova opção política,

entenda bem, política e não pura-

mente eleitoral como um sucedia

ser para o outro. E nada melhor, no

raciocínio deles, que tentar desviar

o raciocínio do povo, principalmen-

te de amplos setores da classe mé-

dia, para uma identificação da Fren-

te Ampla com a guerrilha urbana,

com uma face legal da luta armada.

Mas eles parecem não conhecer o

povo uruguaio, sua tradição cultural

e política altamente sedimentada. O

povo uruguaio não se deixou iludir.

Entendeu que a Frente Ampla não

se preocupa em combater aos gru-

pos da luta armada por omissão ou

concordância com suas posições.

Entendeu, isto sim, que a Frente

Ampla considera muito mais impor-

tante combater as causas sociais e

econômicas que fizeram nascer es-

tes grupos. Não damos voltas, fala-

mos claramente. Os tupas não surgi-

riam no Uruguai de Battle y Or-

dofiez, muito embora a América

Latina vivesse então em permanente

crise de "pronunciamentos". Por-

que então, o Uruguai atendia às

necessidades do seu povo.

P - Mas dentro do encaminha-

mento do contexto atual (uma as-

sembléia no Círculo Militar de Mon-

tevidéu aprovou por aclamação uma

moção contra a publicação de penas

impostas a militares que se excedem

no cumprimeinto das tarefas de re-

pressão. Isto, a propósito

de uma

exigência feita pelo Congresso ao

Ministro da Defesa, para que isto

fosse feito) o senhor crê que a

Frente Ampla possa se manter na

legalidade por muito tempo?

R —

Nossos comitês de bairro

aumentam de número dia-a-dia. A

cada manifestação da Frente Ampla

constatamos um número cada vez

maior de participantes presentes. E

no Uruguai, o que determina a lega-

lidade e validade de uma organiza-

ção é a participação popular.

E

nisto quem mais crê são as próprias

Forças Armadas. Não existe sequer

campo para especulação sobre isto.

P - O senhor acredita e/n vir a se

eleger Presidente da República?

O povo

nõc

se deixou

iludir

R —

Se não acreditasse nas possi-

hilidades da Frente Ampla empol-

gar o poder e promover as muc.m-

ças estruturais que este país necessi-

ta para evitar que seu povo o aban-

done por total impossibilidade de

aqui encontrar os meios dignos de

viver; se não acreditasse que estas

mudanças se podem processar atra-

vés do caminho da legalidade e da

paz, eu não teria renunciado à mi-

nha tranqüila vida particular. A

Frente Ampla é a única opção pa-

cífica para a crise política, social e

econômica do país. E a cada mo-

mento, aumentam os setores que a

ela aderem.

P — E quais são essas medidas

necessárias às mudanças?

R — A fórmula para os países

subdesenvolvidos da América Lati-

na: reforma agrária, nacionalização

dos bar.cos e controle estatal do

comércio exterior. Seriam os pri-

meiros passos fundamentais para a

insstalação do caminho socialista, a

única solução a longo prazo.

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POLITIKA

J|P|

folklore

polítiko

r "Porfírio da Paz

SÃO PAULO

_ Quando

f idel Castro esteve no Rio, Vasco

Leitão da Cunha lhe ofereceu um banquete. Es-

tava lá todo o society carioca, deslumbrado com

o charuto enorpie e a engomada farda branca

de Fidel. De repente, aproximou-se dele um

homem gordo e vermelho:

Senhor primeiro-ministro, só não lhe

perdoo os fuzilamentos em Cuba.

Pois posso assegurar ao senhor

que só

fuzilei ladrões dos dinheiros públicos e caftens.

O homem gordo e vermelho ficou ainda mais

vermelho. Era Ademar de Barros.

2

Ademar recebeu a notícia da cassação atra-

vis do general Kruel, então comandante do II

iTíército. No Palácio do Morumbi, a confusão

< f© total. Ninguém sabia o que o governador

' \tr itbado ia azer.

Foi convo' $da uma reunião do Secretariado,

chamados os amigos mais próximos e todos se

encaminharam para o salão de despachos. Era o

suspensa Corria um frio suor coletivo. Na cabe-

ceira da mesa, calado, olhar duro, Ademar espe-

rou que todos se sentassem. Fez-se total silêncio

Ele olhou para um lado, para o outro, conferiu

um por um:

— Agradeço comovido a solidariedade de

vocês todos. Sabem que o Castelo me cassou.

Vocês são meús amigos e eu conto com vocês.

Quero que me respondam com toda a franqueza.

Da resposta de vocês talvez dependa o destino

que será dado à minha vida. De que é que eu

devo ir embora? De avião ou de navio?

¦ Foi de avião. E de peruca marrom.

3

Salomão Jorge, deputado, amigo de

Ademar, reuniu a imprensa:

Quero comunicar a São Paulo

que rompi

com o governador Ademar de Barros.

Por que, deputado?

0 Ademar fez chover ouro no quintal do

Maia Leio (presidente do Banco do Estado); fez

chover ouro no quintal do Paulo Lauro (prefeito

de São Paulo); fez chover ouro no quintal do

Arnaldo Cardeira (foi o único deputado federal

cassado por corrupção).

E o que foi

que o governador fez com o

senhor? "

No meu quintal ele abriu o guarda-chuva.

.

Salomão Jorge foi, durante muitos anos,

secretário de Agripino Grieco. Quando o grande

crítico percorria o País de ponta a ponta, fazen-

do conferências e distribuindo ironias, Salomão

Jorge é quem arranjava auditório, arrumava as

cadeiras, cobrava ingresso.

Depois, Salomão Jorge virou deputado em

São Paulo, amigo de Ademar, ficou rico, muito

rico. Agripino Grieco foi passar férias na casa

dele. Salomão queria explicar sua fortuna:

Veja, seu Agripino, Deus afinal olhou para

mim. Você não acha?

Não acho não, Salomão. Eu acho até que

ele fechou os olhos.

5

Quando Castelo Branco nomeou Abreu

Sodré governador de São Paulo, o velho prefeito

do interior resmungou:

O doutor Abreu Sodré é muito simpático,

bem vestido, bem falante, sabe boas maneiras,

mas não é do ramo.

6

0 presidente Costa e Silva chegou a São

Paulo, deu entrevista coletiva. Milton Parron, da

Rádio Panamericana, depois de algumas pergun-

tas, saudou o presidente:~„A

jovem Pan deseja a V. Exa. feliz estada

em São Paulo e uma boa viagem.

Meu filho,

quem é essa jovem?

7

"Porfírio

da Paz, chefe da torcida organiza-

da do São Paulo Futebol Clube, foi quem inau-

gurou no Brasil a exploração política do futebol.

Conseguiu levar Leonidas do Rio para lá e virou

herói popular, de prestígio e voto. Foi vice-

prefeito, vice-governador. E teve com o presiden-te Café Filho um diálogo famoso, depois atribuí-

do a outros governadores, mas na verdade foi

ele, quando assumiu o governo paulista por al-

guns dias duranteviagem de Jânio e veio ao Rio:Como

vai São Paulo, governador?

Vai mal, presidente. Perdeu o último

jogo.

Não é o time não,

governador. É o Estado

que eu pergunto.

— Ah, o estádio? Ainda não ficou

pronto,

mas vamos terminar.

Sebastião

Nery

Refiro-me ao Estado de São Paulo,

gover-

nador. Como está indo?

Ah, sim, presidente. Agora entendi. Não

leio esse jornal. A sessão esportiva dele é muito

fraca.

8

Porfírio assumiu a prefeitura de São Paulo,

em outra viagem de Jânio. Franco Montoro,

então deputado, entrou no gabinete e encontrou

uma porção de gente sentada nas cadeiras e sofás

em frente á mesa de Porfírio:

Desculpe, prefeito. Não sabia que estava

atendendo. Volto depois.

Não, Montoro, pode ficar. Esses são meus

parentes, que vieram me ver trabalhar como pre-

feito. Vai ser só dois dias, eles estão aprovei-

tando.

9

Em cima de um palanque, Porfírio eraterrível. Industrializou a devoção a Nossa Senho-

ra Aparecida. Ganhava eleição pedindo voto em

nome de minha madrinha Nossa Senhora. Umdia, fez a grande revelação:

~~ Eu posso dizer

que sou um patriota. Sou

filho de um homem que é o único brasileiro

queestá em um hino da Pátria.

E começou a cantar:

Salve lindo

pendão da esperança, salve

símbolo augusto da paz.

O pai de Porfírio chamava-se Augusto da Paz.

D

Herbert Levy, deputado da UDN, não foi

convidado para o banquete da posse do presiden-

te Juscelino Kubitschek, no Itamarati. Ficou de

água na boca, subiu à tribuna da Câmara Federal

e denunciou "o

regabofe presidencial, com

faisoes e outras iguárias (e falava com um bruto

acento agudo no primeiro a).

Martins Rodrigues, cearense discreto, pediuaparte:

Nobre deputado, estive no banquete e só

vi lá comida brasileira, bem brasileira, nossas

conhecidas iguarias (È carregou o acento no

ultimo i).•

A Câmara veio abaixo numa gargalhada. Nun-

ca mais o doutor Levy se meteu a cronista culi-

nário.

m

o

?

?

roi

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Gerardo

Mello

Mourão

Esta a história do banco quedois irmãos receberam como olegado do pai.de quem tinham

aprendido não confiar,nunca,

em qualquer pessoa.Nem nele.

19v.

ffikção

O RANÇO

DOS

IRMÃOS

FARD

PJnj:J;:];.:j)jjjj[|j{[[[t|^

O

bom pai, segundo a sábia recomenda-

ção de Maomé - bendito seja o nome

de Alá! - é aquele que deixa aos

filhos um camelo, uma tenda sob as

tamareiras e uma lição para a vida. U

velho Farid era um bom pai. Tinha dois tiinos.

Deixou-lhes móis QUC uma tend? & uma tamara.

Deixou-lhes um banco e com o banco aflição

recomendada pela sabedoria do Alcorão, u

banco era grande e poderoso e nele se amealha-

vam e engordavam os dinheiros dos beduinos,

dos pastores e dos plantadores da montanhosa

província de Min - Ahi - Gehr, em cuja

homenagem o velho Farid deu ao estatele-

cimento o nome de Banco das Plantações ae

Min-Ahl-Gehr. Ê certo que um dos taria

trocou, posteriormente, esse nome pelo de Ban-

co Imperial, como se desejasse melhorar a

linhagem e os brasões de sua plebéia atividade ae

usura, amaldiçoada pelo Alcorão, e considerada

própria de judeus e infiéis e não dos piedosos

filhos de Alá.

Tão importante como o Banco das Plantações

de Min-Ahl-Gehr foi a lição deixada aos dois

filhos Ali Farid e Gib-el-Farid, pelo velho pai

previdente. Pois é dele que se conta urna

história, hoje difundida como anedota em todo

o mundo árabe. Muitos poderão considerar essa

história de uma torpeza ímpia, cínica e amoral,

mas alguns venerandos sheiks da província, que

conheceram pessoa/mente 0 «<*>""'""-' T"*"

ram a retidão de suas intenções e de sua

sabedoria paternal.

0 certo é que um dia o banqueiro desceu ao

pátio mou risco de sua casa arabescada e entre as

colunas de pórfiro chamou alegremente um dos

filhos, debruçado sobre o alto peitoril da janela

do segundo andar. Abriu os braços e gritou-lhe:

- Pula, meu filho, que o pai te segura.

n menino saltou. Quando já se encontrava no

ar°o

"elho recuou dois passos e deixouo

esborrachar-se no chão de mármore negro, dtan-

te dos olhos estarrecidos do irmão, que tambem

já se preparava para o salto. E esta foi a lição que

sua experiência lhes deu para a vida, explicando:

— Fiz isto para vocês aprenderem que não se

deve confiar em ninguém no mundo. Nem no

seu pai.

Os dois irmãos se olharam desconfiados, mas

o certo é que reculiitudin a lição e, ao que

parece, dela passaram a aproveitar-se desde

aquele momento. Pois o que caiu no logro da

queda começou logo a suspeitar que o outro não

se lançou porque estava acumpliciado com o pai.

E descobriu, nos olhos do irmão, um fulgor

especial, que talvez refletisse não apenas o

espanto pelo episódio, mas uma espécie de

sinistra alegria pela vaga idéia de que se o tombo

houvesse sido mortal, os cabedais do velho Farid

teriam um herdeiro único. *

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POLITIKA

20fikção

Quando o velho Farid morreu,

antes de fechar os olhos para

o mundo e abri-los para a

eternidade,deu seu conselho:'crescei

e multiplicai'

O BANCO

OOS IRMÃOS

FARID

O

certo, porém, é que nenhum dos dois

morreu. Ao contrário, cresceram e

prosperaram, senão em idade e graça,como aquele menino do Evangelho, ao

menos em idade e astúcia, em ambição

e desconfiança recíproca. Quem morreu foi o

velho Farid que, de vela na mão, antes de fechar

os olhos para o mundo e abri-los para a ete rn ida-

de, onde terá conferido a correção de sua conta-

bilidade bancária com os implacáveis livros de

fiscalização do tribunal de contas de São Pedro,

tentou erguer débil men te a mão, para dar-lhes

um último conselho:— "Crescei

e multiplicai".x

Na verdade, cresceram e multiplicaram. E com

eles cresceram e multiplicaram-se as sementes da

desavença, fertilizadas diariamente pelo receio

de um que o outro o suplantasse em fortuna e

poder. Todas as formas da ambição, da suspicá-

cia e da inveja medraram no coração desconfiado

de À/i e de Gib—el—Farid, onde se aninharam

como um nó de víboras. Eram ricos e considera-

dos, o Banco das Plantações transpusera as fron-

teiras da província muçulmana, estendera-se das

montanhas ao litoral, manipulava já não apenas

os depósitos de beduínos e pastores, mas chegara

mesmo a montar suas tendas em terras de infiéis,

transando o câmbio dos mercadores na praça de

Nova Iorque e de Paris.

A certa altura, já não era apenas um Banco:

era todo um ei to de plantação de moedas, um

rebanho de empresa, maior e mais florido que os

renques dos roçados e as cá filas de camelos sobre

que se fundara a casa de empréstimos do velho

Farid nas montanhas de Min—Ahl—Gehr. Além

disso, o velho sheik, fiel aos conselhos do Alço-

rão, de que a fortuna sem a ciência é como uma

flor sem aroma, tratara de educar os filhos, para

que fossem doutores na terra de Maomé. Com

sua prudência e sagacidade de levantino, para ter

um filho que lhe cuidasse os achaques da velhice,

e outro que embrulhasse os pleitos nos tribunais

contra os beduínos devedores e pendencieiros,formou Ali Farid em Medicina e Gib-Ahl-Farid

em Direito. Ê certo que nenhum dos dois se

distinguiu nessas especialidades, à os árabes

experientes preferiam entregar sua:, doenças aos

cur andei ros da montanha e suas demandas aos

idbuldò t. itryuieiuò uti Sehi—Huiir uu de

Jud—el—For, que à duvidosa competência hipo-

crática e forense de Ali Farid e de Gib-el—

Farid. Nenhum dos dois, porém, se preocupoumuito com isso, mesmo porque, entre os Trata-

dos de Anatomia e os compêndios do Corpus

Júris, preferiam as eficácias do Livro Caixa e do

livro de cheques, com os quais, de resto, podiamcomprar, à vontade, num e noutro ramo, osserviços dos melhores doutores da praça. A cada

olhada num destes dois livros, um travo deamargura lhes to/dava a próspera felicidade, com

a idéia de que a vida seria outra se não tivessem

que dividir, como irmãos, a copiosa safra de

juros e dividendos. Eram, assim, aparentemente,

saudáveis e venturosos, mas, no fundo, sofriam

de uma doença adquirida na infância, uma enfer-

midade velha como o mundo, delituosa como

ele, para a qual não havia terapêutica nos com-

pêndios clínicos de Ali, nem codificação nas

Pandectas de Gib—el—Farid. Era o chamado"morbus

Cainn", ou mal de Caim, como se diz

no vernáculo do Islam, e que, na crua linguagem

da Vulgata de São Jeronimo, se chama simples-

mente "invidia",

isto é, inveja.

Desde o dia da queda didática no pátio mou-

risco do velho Farid, começaram a conhecer

todos os matizes da inveja, que amarga e envene-

na o coração dos homens. Quando Ali passava a

manteiga no pão, ao café da manhã, Gib—el—Fa-

rid olhava para ver se a fatia não era melhor do

que a sua. Sofriam, assim da invidia cibalis, ou

inveja comestível .como definia o Doutor da

Igreja, Santo Afonso de Liguori. Passaram a

sofrer da invidia intellectual is, definida por San-

to Tomás, quando um arriscava o olho na provado outro, no colégio, para ver se sua nota não

seria mais alta. Com a chegada do buço, das

primeiras espinhas e da puberdade, passaramàquela perigosa invidia vaginalis, denunciada porSanto Alberto Magno, e que lhes ensombreceu as

alegrias nupciais, ao imaginar um que o outro

poderia ter maiores triunfos de vi ri li dade no

deleite sagrado.

Ora, como ensinam os mestres da Psicanálise,

ciência que ainda não era estudada pelos árabes

ao tempo do velho Farid, todas essas formas de

invidia, todas essas invejas acumuladas nos po-

rões da alma, acabaram por nutrir uma inveja

mais atuante, a invidia fiduciaria, ou inveja do

dinheiro, do poder da riqueza, de que tratou

também um dos doutores da Igreja, o Doctor

Irrefragabilis, Alexander de Hal les.

Aliás, a primeira notícia de que temos memó-

ria sobre este tipo de inveja está no princípio da

história humana, num conhecido provérbio, que

desentenderam. A sabedoria árabe já ensina,

num conhecido provérbio, que Caim matou

Abel, e a inveja matou Caim. Nem é preciso ser

Doutor da Igreja para identificar esse pecado. 0

filósofo Karl Marx, que não o era, coloca esse

pomo de discórdia na gênese da crise política e

econômica que deteriorou a sociedade celestial,

quando Caim matou Abel porque os frutos do

trabalho do irmão pareciam alcançar maior ren-

dimento que os seus, nos guichês do ministério

divino.

Seja como for, porém, os maus sentimentos

que dividiam os dois irmãos não afetavam ar,rrtor*nri ir. ninr* nrv» nrn/»Of Incmry r-vr. rv-v. »r»

de acordo com as implacáveis leis do mundo

capitalista, ocidental e cristão como o nosso, ou

oriental e muçulmano como o dos Farid, o

dinheiro não se faz com bons sentimentos, mas

com frieza e crueldade. Nem será por outra

razão que Nosso Senhor Jesus Cristo advertia

que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de

uma agulha que entrar um rico no reino dos

céus. Esta é, aliás, uma perspectiva consoladora

para os que nos habituamos à santa Pobreza,

pela certeza de que não teremos de conviver, por

toda a eternidade, com indivíduos grosseiros ede mau-gosto como o Patino e o Paul Getty,

nem de ler na outra vida os so/ecismos do Mário

Henrique Simonsen, os lugares-comuns do Otá-

vio Bulhões e os maçantes catataus do Roberto

Campos ou as entrevistas de prestisdigitador de

subúrbio e os anúncios de camelô do Professor

Delfim.

0 reino dos céus será, assim, um oásis de

tranqüilidade, entre as huris do Profeta e as

tâmaras frescas, onde estarão apenas aqueles

pobres de Deus, como o poeta Camões, que não

tinha um vintém para uma vela, mas que sabia

contar histórias de lirismo e bravura para a

doçura das noites eternas. E o Ibrahim e o

Zózimo, ou mudam de profissão, ou vão para as

caldeiras de Pero Botelho, pois no reino dos

céus, sem Teresa e sem Didu, sem Jorginho e

sem Catão, sem assunto e sem personagens, vão

acabar morrendo de fome. Mas isto é outra

história.

0 certo é que o banco dos Farid se desdobrou

numa constelação de estrelas empresariais. Já

não era um Banco: era uma holding - sábia

invenção da sagacidade capitalista para a mágica

de cantar e assobiar ao mesmo tempo, de fazer

uma caixa-forte com muitas entradas e uma só

saída para o dinheiro, uma obra-prima na arte de

lesar o fisco e a paróquia em geral.Foram, mesmo, os irmãos Farid autênticos

pioneiros da moda que hoje tomou conta do

mundo árabe, alterando no dicionário e nas

alíquotas fazendárias a significação das palavrascompra e venda Pois, como se sabe, o pobrebeduíno que se apeia de seu camelo à porta do

Marcelo Leite Barbosa, para comprar-lhe uma

ação do Banco do Brasil, além da módica corre-

tagem que tem de pagar ao dito Marcelo, vai

chiar ainda no Tesouro Nacional para esticar a

parcela do imposto de renda. E o desgraçado quevai à botica para arranjar um xarope, deixa ali,

além do preço e do lucro da mesinha, que, porsinal, vai, geralmente, para as unhas dum labora-

tório estrangeiro, a quota do ICM, que, por sua

vez, é habitualmente carreado de todas as pobres

províncias nordestinas do Islam, para as burras

do erário paulista. Mas isto também é outra

história. E a que aqui se conta é a da nova moda

da praça, que alterou os conceitos de compra e

venda para escamotear o fisco, inventando a

mágica da fusão. De acordo com essa moda,

quem compra uma camisa para vestir-se, faz uma

compra no duro, e por isso paga imposto. Mas

quem compra e vende um Banco, não compra

nem vende: faz uma fusão. Já tentei adotar o

processo no Nino, razoável casa-de-pasto aonde

freqüentemente me levam a comer, mas nem os

garçons, nem o maítre nem o Ápueda estavam

por dentro do instituto da fusão, no qual, aliás,

parecem emaranhados até homens experientes e

ladinos como o Walter Moreira Sales e o Amador

Aguiar. Pois aí, onde até o Walter se embaraçou,

os Irmãos Farid foram precursores bem sucedi-

dos. Na verdade, foram dos primeiros a digerir

Bancos na praça do Islam, desde quando absor-

veram outro estabelecimento - o BB, que não é

o Banco do Brasil, pois este nem o Jabur poderiadeglutir, mas o Banco dos Beduínos.

•:_____¦

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***J*fm******l*t*f* J / *t J ' 4 * *

O BANCO

DOS IRMÃOS

FARID

POLITIKA

Muita coisa pode acontecer,e

acontece,quando estão sendo

disputados os direitos sobre

um banco:até o crime entre

irmãos.Como a história diz.

21I ffikção

A

fusão, de resto, segundo o califa Dehl-

Fihn, é uma prática correta e salutar,

até porque torna ainda mais intensa a

concentração do poder econômico nas

mãos de uns poucos, pois o dinheiro

deve ser dominado e desfrutado pela

casta dos

sheiks e dos vizirs, e não distribuído com a rafa-

meia vil dos cameleiros. Além disso, um banco,

templo do dinheiro, mesquita sagrada do capitai,

é uma instituição tão sacrossanta que seria uma

blasfêmia e um sacrilégio falar de compra e ven-

da a respeito de suas transações. E preciso man-

ter, diante de um banco aquele respeito litúrgico

e sacraI, segundo o qual os objetos de culto, uma

imagem ou um terço, também não se compram

nem se vendem, por mais son ante que se ia o

metal que por eles se pague. Para isso, o puden-

do comércio religioso encontrou uma palavra: a

troca Não se compra uma imagem: troca-se.

Também um banqueiro não aluga nem vende

dinheiro: empresta. E um banco não se vende:

funde-se.

Foi assim que os irmãos Farid compra-

ram - perdão!

— fundiram o Banco dos Beduí-

nos.

Ninguém poderia jurar - nessas coisas de ára-

bes só se afirma com certeza aqui/o que se pode

jurar pelas barbas de Maomé - que os Irmãos

Farid tenham lesado o fisco nessa fusão, nem

que com ela se tenha iniciado o último ato de

sua periclitante sociedade fraternal. Mas é possi-

vel que, no momento da fusão, tenha nascido no

coração de Ali Farid a idéia de que era chegada a

hora de Caim. Isto é, a hora de assumir sozinho

o comando dos multiplicados cabedais havidos

do finado pai.Um dia, quando Gib-el-Farid abriu os olhos,

deu-se conta de que Ali Farid, por um passe de

mágica, entre gaios e meia-noite, realizara uma

assembléia-geral da empresa-l ider, alterara a na-

tu reza das ações que a constituíam, e se tornara

senhor absoluto de seu controle e domínio, me-

diante artifício de um aumento de capital, que

ele mesmo fez e ele mesmo subscreveu.

Estava travado o duelo entre os irmãos. Se o

velho Farid descesse a uma sessão espírita no

bairro deâKah/-a/-Fath, em Behl-Hohr, teria^ por

certo após tro fado o filho com a increpação da

Bíblia:Caim,

que fizeste de teu irmão?

Ali Farid, porém, que se proclamava a si mes-

mo um homem frio, teria possivelmente, respon-

dido ao velho sheik:Pai. aprendi a lição de oue um banqueiro

não deve confiar em ningiém. Assim, apenas al-

mocei o meu irmão, antes que ele me jantasse.De resto, não é improvável que Gib-el-Farid se

estivesse preparando para jantar o irmão. Para

alguma coisa se preparava, pois até se elegera

membro do Parlamento do Islam, embora nunca

tenha sido ali mais que uma presença silenciosa e

distante.

Sentindo-se apunhalado pelas costas, sua re-

volta foi maior do que sua surpresa, pois, no

fundo, sempre esperara qualquer emboscada de

Ali. A figura do irmão assumiu, diante de seusolhos, os trágicos contornos de Caim e, se sou-besse inglês e fosse homem lido, teria imaginadoo irmão, como o personagem do drama deByron, com as mãos ensangüentadas diante docadáver de Abel, exclamando:

*

- I am brotherless.

Mas como Gib-el-Farid deve ser monoglota,

nem lê inglês nem ouviu falar em Lord Byron, há

de apenas ter-se sentido desoladamente e ver na-

culamente brotherless, isto é, um sujeito sem ir-

mão.

Procurou, então, pessoas respeitáveis do

Islam, disposto a levar o irmão à barra dos tribu-

nais, onde os vizirs, de Alcorão em punho, o

condenariam por deslealdade e rapina, mandan-

do-lhe cortar as mãos, segundo as leis do Profeta,

e devolvendo ao esbulhado, com juros e usuras,

os bens usurpados traiçoeiramente. Houve con-

versas de sheiks sensatos e muezzins piedosos, e

até i0 grande egeneroso \ Califa que governara o

Islam, Djan-el-Kuad, interveio para poupar aos

fiéis o espetáculo de uma luta fratricida e para

não poluir com o desgosto de um escândalo o ar

memorial Jo túmulo em que dormiam os ossos

do velho Farid - que Alá tenha a sua alma!

Assim, em vez de ir aos tribunais, o sensato

advogado escolhido por Gib-el-Farid foi a Ali

Farid, exprobou-lhe o comportamento, invocou

a memória do pai e tentou chamá-lo à razão. Ali,

depois de fazer-lhe uma longa crônica de sua vi-

da e das empresas do grupo, declarou, finalmen-

te, que desejava a separação dos negócios^ em

comum, mas que não se dispunha a abrir mão de

qualquer das instituições financeiras da socieda-

de fraterna.

A proposta pareceu inaceitável ao prudente

advogado, que invocou a temeridade de uma de-

manda judicial entre os dois irmãos, e que se

desenrolaria, a um tempo, no foro cível e no

foro criminal da morosa justiça do Islam.

Ali Farid retrucou que era um homem frio e

que tomara sua decisão depois de urdi-la cuida-

dosamente com os mais conspícuos leguleios de

seu Contencioso. E mais: que sua decisão podia

não ser moral, mas o que lhe importava era a

possibilidade de sustentá-la legalmente. Era, co-

mo se vê, um irrepreensível empresário capital is-

ta: make money, make money, if possible,

honestly. Como o dinheiro é um fim, pouco im-

portam a moral e a honradez para alcançá-lo. O

que importa é aicançá-iu, e contar cont a segu-

rança do himen complacente da lei.

Mas as conversações não ficaram nisso. Ao

contrário: pro/ongaram-se em entendimentos e

emissários de parte à parte. Os mais eminentes

advogados dos Islam produziram eruditos pare-

ceres, colocando os pratos da balança ao lado de

Gib-el-Farid e, sobretudo, a piedosa e infatigável

mediação de um beduíno oriundo da mesma al-

dei a dos Farid, conseguiu, afinal, estabelecer um

acordo entre os irmãos desavindos. De resto, o

bolo era grande e, por maior que fosse a fatia de

um, o outro ainda ficaria com que abastecer to-

da uma tribo.

Gib-el Farid — louvado seja Alá! — que chega-

ra a ver-se perdido, pois Ali, de a tange e queijona mão, ia deixá-lo, realmente, sem eira nem bei-

ra nem ramo de figueira, foi, assim, salvo pela

generosa intervenção de alguns sheiks magnâni-

mos, especialmente por aquele engenhoso e cava-

lheiresco beduíno, amigo do antigo Califa Supre-

mo. Dessa forma, um irmão ficou com um ban-

co, outro ficou com outro, um com uma empre-

sa, outro com outra, e assim por diante, embora

as colunas da conta de partilha não tenham sido

propriamente iguais. Mas Gib-el-Farid as consi-

derou satisfatórias, até porque para quem tinha

uma fazenda perdida, salvar uma boiada ainda é

bom negócio.

A bem da verdade e para glória de Alá, diga-se *

de passagem que Gib-el-Farid procurou, desde os

primeiros momentos, depois do difícil parto do

acordo com o ex-irmão, mostrar seu afeto e sua

gratidão aos que o haviam salvo do naufrágio.

A lição do velho Farid, porém, no pátio da

casa arabescada, continuava a envenenar-lhe a al-

ma deformada pelo hábito da desconfiança. Não

tardou muito sua convivência com a virtude da

fidelidade. Parecia, depois da manobra do irmão,

ouvir em toda parte a advertência do pátio mou-

risco: não se deve confiar em ninguém.

Por essa ou por outra razão, ou simplesmente

porque o complexo de Caim lhe haja desenca-

deado na alma doente o início de um processo

de apodrecimento do juízo, não tardou em co-

pi ar contra as pessoas a quem devia sua própria

sobrevivência no mundo dos negócios, o mesmo

comportamento de que costuma acusar o irmão

mais forte: apunha/ar pelas costas. Ê certo que

essas pessoas não se deixaram apunhalar fácil-

mente, até porque tiveram o cuidado de afastar- »

se a tempo da atmosfera ensandecida que cerca

de pesadelos a vida de Gib-el-Farid.

Sem irmão, como o Caim de Lord Byron, e

agora sem amigos, os dois Farid são hoje dois

pobres milionários, que podem encher de ouro

os cofres de sus empresas, mas que não conse-

guem encher de paz e serenidade suas almas va-

zias. Já se engalfinharam até numa demanda tra-

balhista, nos tribunais que o Islam mantém para

decidir as brigas de patrões e empregados, e con-

seguiram a salomônica decisão de uma sentença

inédita: - nenhum dos dois tinha razão. Isto é,

todos os dois perderam a causa. 0 fato deve ter

agravado o complexo dos pobres "mãos, que já

não podem confiar em nada, nem nos juizes nem

no Alcorão, e que um dia vão definitivamente

fundir a cuca, quando perceberem que há gente

no mundo que ainda confia nos outros. Por

exemplo, os depositantes que confiam ao banco

de Ali e ao banco de Gib-el-Farid. o rico dinhei

rinho com que compram seus melnes. Mas isto

outra história, e por ela Alá seja louvado!

ei-

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POLITIKA

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CLÁUDIO DE SOUZA/Vi muitos anos, a caminho do largo da Lapa,

pela Visconde de Maranguape, olho para um ca-

sarão de_ fisionomia antiga. Detenho-me diante

do portão, onde um corredor comprido, es tra-

nhamente iluminado, conduzia a um pátio. Fui

entrando.

Aquelas arcadas me devolviam as do Mosteiro

de S. Bento da minha infância, quando ia ler na

biblioteca dos frades.

Chegando ao pátio, me impressiono e inferes-

so por seus lampiões de parede, com braços lon-

gos de ferro trabalhado, com seus globos de vi-

dro, que têm, de maneira mágica, uma armadura

de arame por dentro.A

quem pertence este casarão? — perguntei

ao porteiro.Deu-me o nome do proprietário de uma paste-

laria, ali mesmo na praça, em frente ao CapelaProcurei-o imediatamente. Estava sentado à sua

mesa, escrevendo algarismos num livro de con-

tas. Ele me recebe friamente discreto.

Apresento-me com o título de vereador. Acre-

ditando que o impressionasse. De maneira algu-ma. Assim mesmo me ofereceu uma cadeira:

Sente-se, doutor.. .

Puxa os óculos para o alto da testa. Tem acaneta parada numa das mãos. E vai dizendo,com simplicidade:

O senhor não é o homem do teatro?

Sua fisionomia agora é outra. Abre-se num

sorriso amável. Manda trazer um cafezinho.Afinal o conheço pessoa/mente...

Ele também ama o teatro, desde jovem. De tal

g maneira que, quando lhe nasceu a filha, poramor ao teatro, e particularmente às peças deCláudio de Souza, chamou-a de Cláudia... E

sorrindo, um sorriso bom, de homem limpo,

digno:Meu sobrenome como sabe é Souza. Tenho

agora na família uma Cláudia de Souza.

Contei-lhe para que o procurava. Não gostariade me vender dois dos lampiões que ornavam o

pátio do casarão do Largo da Lapa?

Sua resposta veio logo:

Eles o interessam? Verdade? Então não

m'os precisa comprar. Vou tirá-los e mandá-los

de presente pelo que tem feito em favor do tea-

tro. Deixe aí ò seu endereço...

(Durante anos, namorei os azulejos da fachada

de uma casa da rua da Lapa. Quando a jogaramabaixo, procurei imediatamente o responsável

pela demolição. Estava interessado nesses azule-

jos onde há um mongol com um pássaro na mão

e, em outros, pássaros com flores no bico:Compra-os todos?

* Sim.Setenta e seis contos.

Não me olha e vai rabiscar o recibo de com-

j pra. Pede-me o nome. Para de escrever. E levanta

os olhos e me diz com seu belo acento portu-

guês:— O senhor tem feito tanto pelos moços e

pelo teatro, que lhos dou de presente.

Antes que os lampiões me chegassem, corri

até o apartamento de Cláudio de Souza, na praiado Flamengo. Contei-lhe o episódio. Pedi-lhe,

então, um de seus livros, autografado, para esse

seu admirador.Se lhe mandasse um exemplar de Flores de

Sombra?

Cláudio de Souza não parecia tocado pela es-

pontaneidade dessa admiração, pela importância

dessa homenagem. Não sei se acreditava que os

homens, depois de sua morte, o lembrariam.

Desconfiava, porém, dessa espécie de glória e

mandou construir, na alameda principal do S.João Batista, um belo túmulo que, na sua sobrie-

dade de linhas em mármore, é a miniatura de um

anfiteatro grego, com colunas e estátuas.

Dou-o de uma fortuna imensa, adquiriu a co-

bertura de um edifício na Avenida Nilo Peçanha,

onde instalou o Pen Clube a que servia com umadevoção elogiável. Dona Luiza o ajudava, baten-

do à máquina toda a correspondência do Pen,

particularmente as notas para os jornais.Certa manhã de domingo, C/áudio de Souza

me telefona:Vou dar-lhe um teatro. Venha me ver, se

possível agora mesmo...

0 carro de meu sobrinho Atmado estava nama, diante de nosso portão. Saímos depressa.Ele já estava a minha espera, na porta de seuedifício, no Flamengo. Entrou no carro. Condu-ziu-me até o Largo do Machado, mostrando-me

uma imensa e esplêndida sobreloja:Gosta? (pensei que me doaria a loja). Se

gosta, tenho prestígio com o Leonídio Ribeiro

para obter-lhe o financiamento pela Sul-Amé-rica....

Dr. C/áudio, eu lhe agradeço o interesse,mas para que incomodá-lo? (Financiamento po-derei arranjar sozinho, ruminava). Disseram-me

que o senhor é proprietário do edifício onde estáinstalado, na Avenida Rio Branco, a Casa Ale-mã ..

Era. Fiz-lhe uma sugestão:

-Seo senhor é proprietário dela, por que nãoinstala, num dos andares, o Pen e, nos outros, asentidades mais importantes da cultura brasileira.

Embaixo, doutor Cláudio, seria instalado umteatro com seu nome, com a obrigação de ence-nar uma de suas peças todos os anos. Seria oedifício da cultura brasileira, através de todos ostempos.

Começou a rir esse homem amável, educado,

que não ria nunca. . .Você endoideceu? A Casa Alemã me dá

uma renda de trezentos contos mensais. . ."

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Gáudio de Souza e sua mulher

Devia ser muito pouco, no montante de suafortuna, que era imensa, vasta, multiplicada emapartamentos, ações de empresas, títulos daDívida Pública Eu tive, ainda, a ingenuidade deinsistir:

- Mas, Doutor C/áudio, a Avenida Rio Brancoserá sempre, a rua mais importante do Brasil.Seu nome ficará permanentemente lembrado...

Em dezembro de 1954, dona Luiza me cha-mou a seu apartamento no Flamengo que, porobrigação de seu testamento, tornar-se-ia a CasaInternacional do tscritor, sob a vigilância do PenClube do Brasil.

E queixou-se:Botaram o nome do Cláudio numa ruazinha

de Vicente de Carvalho, tão longe. Ele merecia,como o Graça Aranha, uma Avenida no centroda cidade. . .

Repeti-lhe a queixa a amigos. Um deles medisse:

Dona Luiza não tem razão. A grande áreade Vicente de Carvalho pertencia a Dr. Cláudio,que aloteou e vendeu todos os lotes ganhandoassim, muito dinheiro. Deve estar contente nocéu, de ganhar nome de rua no bairro que elemesmo abriu. . .

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POLITIKAl

A Editoria

JOSÉ LUÍS DE ALMEIDA PRADO (rua das Timbiras, 643 - Belo Ho-

rizonte — MG) — "Existe

alguma razão para que vocês não continuem com

o trabalho de esclarecimento sobre a política econômico-financeira do

Brasil? Se não existir, parece-me da maior importância que voltem a

abordar o tema, já que ele é super atualizado e serve, também, para que o

pessoal das faculdades tenha fontes isentas para fazer pesquisas."

O negócio é o seguinte, José Luís: há razões. E estamos conversados,

não é?

korreio

CONGRATULAÇÕES

AMÉRICO DE MORAES (presidente da

Câmara Municipal de São Bernardo do

Campo - SP)

- "Temos

a grata satisfação

de encaminhar-lhes a inclusa cópia autênti-

ca do Requerimento n9 314/72, de autoria

do nobre vereador Mário Ladeia da Rocha e

também subscrito por outros, consignando

nos Anais desta Edilidade voto de congratu-

lações com esse jornal, pela gentileza do

envio semanal de exemplares para vereado-

res do Legislativo Sambernadense." t a se-

guinte a íntegra do requerimento:

"Reque-

remos à presidência, ouvido o Plenário, nos

termos do Art. 131, § 49, letra a do Regi-

mento Interno, que se consigne, na ata dos

trabalhos da presente sessão, voto de con-

gratulações com o jornal

POLITIKA, regis-

trando o agradecimento desta Casa pela

gentileza do envio semanal de exemplares

para vereadores do Legislativo Samberna-

dense. É com grande satisfação que teste-

munhamos, semanalmente, publicações ri-

cas em análises da realidade brasileira,

estruturadas na pesquisa histórica e dados

estatísticos. Além disso, inúmeras outras se-

ções do referido periódico fornece-nos co-

nhecimentos valiosos, inclusive com relação

ao contexto internacional. Adotando uma

linguagem simples, o jornal POLITIKA pa-

rece-nos cumpridor dos deveres de um

órgão de informação, expondo com segu-

rança a realidade sócio-econômico-política

nacional, sem dissociar-se das análises de

nível mundial. O referido jornal, desde seu

lançamento, vem seguindo linha indepen-

dente de interesses particulares, transfor-

mamdo-se num dos preferidos de estudan-

tes universitários, profissionais liberais e

personalidades ligadas à política. A Câmara

Municipal é um dos assinantes do aludido

semanário; os responsáveis pelo mesmo,

porém, num gesto de elevada cortesia, en-

viam exemplares a todos os vereadores des-

te Legislativo. Agradecemos, pois, aosdire-

tores de POLITIKA pela gentileza do envio

de exemplares a esta Casa, desejando que o

mesmo prossiga, como até aqui tem feito,

no caminho de informar sem parcialidades

e sem deturpações, meta final de qualquer

publicação em regimes democráticos."

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Fritz

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