Cruzadas

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As Cruzadas As Cruzadas E m 1095, na cidade de Clermont na França, o Papa Urbano II reuniu um grande número de nobres, religiosos, fanáticos e gente de toda natureza. Depois de muito "choro" encorajou os cristãos a orga- nizar uma expedição, com o objetivo de atacar Jerusa- lém resgatando-a dos infiéis árabes, que ocupavam a cidade desde a Alta Idade Média. Ao final do comovente discurso o papa foi delirantemente aplau- dido pelos presentes, que prontamente saíram empe- nhados em organizar a empreitada de retomada de Je- rusalém. Por trás dos aplausos existiam, porém, muitos problemas e motivos que iam além da simples retoma- da da Terra Santa. Para começar, poucas pessoas sabi- am efetivamente onde ficava e qual a importância de Jerusalém. Aplaudiram movidos pela fé e pelo desejo de agradar a Igreja, e por extensão agradar a Deus. Poucas pessoas sabiam o que representava a emprei- tada religiosa e o que estava por trás do choro do papa. O fato é que a expedição convocada pelo papa partiria em 1096, quase um ano depois do Concílio de Clermont. No todo, seriam oito expedições, que pas- saram para a história como o primeiro grande con- fronto entre o Ocidente e Oriente e apelidada por al- guns historiadores como a primeira "efetiva" guerra mundial da história. “Não há, entre as guerras travadas pelos homens, nenhuma que seja mais zelosamente empreendida do que aquelas que se combate pela fé. E entre as “guerras santas” nenhuma foi mais sangrenta e dilatada do que as Cruzadas cristãs, durante a Idade Média”. In. Anne Fremantale O Tempo da História 1054 Divisão da Igreja Cisma do Oriente 1095 Convocação da Primeira Cruzada 1096 Cruzada dos Mendigos 1096 - 1099 Cruzada dos Nobres 1189 - 1192 Cruzada dos Reis 1270 Oitava e última Cruzada Cavaleiros cristãos que participaram das Cruzadas em quadro do século XVII

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As CruzadasAs Cruzadas

Em 1095, na cidade de Clermont naFrança, o Papa Urbano II reuniu umgrande número de nobres, religiosos,fanáticos e gente de toda natureza.

Depois de muito "choro" encorajou os cristãos a orga-nizar uma expedição, com o objetivo de atacar Jerusa-lém resgatando-a dos infiéis árabes, que ocupavam acidade desde a Alta Idade Média. Ao final docomovente discurso o papa foi delirantemente aplau-dido pelos presentes, que prontamente saíram empe-nhados em organizar a empreitada de retomada de Je-rusalém.

Por trás dos aplausos existiam, porém, muitosproblemas e motivos que iam além da simples retoma-da da Terra Santa. Para começar, poucas pessoas sabi-am efetivamente onde ficava e qual a importância deJerusalém. Aplaudiram movidos pela fé e pelo desejode agradar a Igreja, e por extensão agradar a Deus.Poucas pessoas sabiam o que representava a emprei-tada religiosa e o que estava por trás do choro do papa.O fato é que a expedição convocada pelo papa partiriaem 1096, quase um ano depois do Concílio deClermont. No todo, seriam oito expedições, que pas-

saram para a história como o primeiro grande con-fronto entre o Ocidente e Oriente e apelidada por al-guns historiadores como a primeira "efetiva" guerramundial da história.

“Não há, entre as guerras travadas pelos homens, nenhuma que seja maiszelosamente empreendida do que aquelas que se combate pela fé. E entre as “guerrassantas” nenhuma foi mais sangrenta e dilatada do que as Cruzadas cristãs, durante a

Idade Média”. In. Anne Fremantale

O Tempo da História

1054

Divisão daIgreja

Cismado Oriente

1095

Convocação daPrimeiraCruzada

1096

Cruzadados

Mendigos

1096 - 1099

Cruzadados

Nobres

1189 - 1192

Cruzadados Reis

1270

Oitava e últimaCruzada

Cavaleiroscristãos queparticiparam dasCruzadas emquadro do séculoXVII

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POR QUE ACONTECERAM ASCRUZADAS?

Lendo o discurso dopapa pode-se inferir alguns mo-tivos da expedição. Com efeito,desde que haviam dominado Je-rusalém, os árabes conseguirammanter uma relação amistosacom os cristãos, que tinham ohábito de visitar a cidade emgrupos de peregrinos integradospor dezenas de pessoas. Entre-tanto a partir do século XI osárabes fecharam a porta de Je-rusalém aos cristãos fornecen-do o grande artifício das Cruza-das. Do ponto de vista religiosonão era muito difícil convencercristãos ávidos por uma vaga no

céu, que a participação na expedição contra os infiéis,assegurava de antemão um lugar garantido ao lado deDeus.

A promessa de conquista das "terras que jorra-vam leite e mel" despertaram a cobiça e ambição decentenas de nobres que possuíam títulos de nobreza,mas não tinham acesso às melhores terras.

O problema acontecia na herança deixada pornobres feudais, que normalmente beneficiava os filhosmais velhos e prejudicava os mais novos. Em caso demorte do senhor feudal as terras eram entregues aoherdeiro mais velho.

Insatisfeitos com o prejuízo, muitos nobres re-jeitados recorreram à guerra enfrentando os própriosirmãos.

A Pregação da Cruzada

"No mês de novembro (1095), o papa reuniu todos os bispo da Gália e da Espanha erealizou um grande concílio em Clermont...

"Dos confins de Jerusalém e da cidade de Constantinopla graves notícias, repetidas ve-zes tem chegado aos nossos ouvidos. Uma raça oriunda do Reino dos Persas, uma raça malditae totalmente alheia a Deus...invadiu com violência a terra dos cristãos e as despovoou pelapilhagem e pelo fogo. Levaram para sua própria terra parte dos cativos e a outra parte delesmataram em torturas cruéis. Das Igrejas de Deus destruíram umas e ocuparam outras para aprática da sua religião.

Que os ódios desapareçam entre vós, que terminem vossas brigas, que cessem as guer-ras e adormeçam as desavenças e controvérsias. Entrai no caminho do Santo Sepulcro; arrancaiaquela terra da raça malvada para que fique em vosso poder. É a terra na qual, disse a escritura,escorre leite e mel... Jerusalém é o centro do mundo; sua terra é mais fértil do que todas asoutras.

Quando um ataque for lançado sobre o inimigo, que um grito seja dado pelos soldados deDeus: Deus o quer! Deus o quer!

Em seguida... fez uma comovente descrição da desolação da Cristandade no Oriente eexpôs os sofrimentos e a opressão atrozes que os sarracenos infligiam aos cristãos. Na suapiedosa alocução, o orador, comovido até às lágrimas, falou igualmente, com insistência, sobrea maneira como eram espezinhados Jerusalém e os Lugares Santos...

... Foi, nos ricos e nos pobres, nas mulheres, nos monges e nos clérigos, nos citadinos enos camponeses, uma prodigiosa vontade de ir a Jerusalém ou de ajudar os que aí fossem...Ladrões, piratas e outros celerados surgiam das profundezas da iniquidade e, tocados peloEspírito de Deus, confessavam seus crimes e, arrependendo-se deles, partiam para a Cruzadaa fim de satisfazer Deus por causa dos seus pecados".

Quadro doséculo XVrepresentandoa partida doscruzados paraa Terra Santa

“ESTAMOS RESOLVIDOS ECOMETIDOS À LUTA ... PARA EXPUL-SAR OS PAGÃOS DA TERRA SANTA.

AQUELE CHÃO PISADO PELOSSAGRADOS PÉS...QUE HÁ QUATORZE

SÉCULOS ATRÁS FORAM CRAVADOS -POR AMOR DE NÓS, À DURA CRUZ”.

HENRIQUE IV

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Daí o papa ter se referido "aos ódios que desa-pareçam entre vós, que terminem vossas brigas, quecessem as guerras e adormeçam as desavenças e con-trovérsias As Cruzadas colocaram os nobres"sem-ter-ra" do lado da Igreja Ca-tólica facilitando a for-mação dos batalhões cru-zados.

No aspecto mate-rial, o contexto era extre-mamente favorável àconvocação das Cruza-das. Desde o início doséculo XI, ocorrerammudanças na agriculturaque multiplicaram a pro-dução. O uso do aradocom ponta de ferro pos-sibilitou a utilização maiscoerente do solo. Aconstrução de pontes di-namizou as comunicaçõese permitiu melhor circulação da produção. Com a uti-lização de ferraduras os cavalos suportaram viagensmais longas, apesar das estradas não prestarem.

O manso senhorial foi dividido racionalmenteem três partes, e se fez o rodízio das áreas cultivadas.O plantio de leguminosas intercaladas nas culturas re-cuperou os nutrientes dos solos desgastados e o hábi-to de colocar o gado pastando na área em pousio, fa-cilitou a adubação do solo.

Com o aumento da produção agrícola e a mai-or oferta de alimentos, diminuiu a fome que era oflagelo da sociedade feudal. A população melhor ali-mentada ficou menos susceptível às terríveis epidemi-as que matavam milhares de pessoas. Em resumo apóso século X a população europeia não parou de cres-cer. Em contrapartida, era impossível absorver toda amão-de-obra excedente na precária estrutura agrária

feudal. Concretamente, não havia trabalho para to-dos e perigosamente centenas de camponeses vaga-vam pelos campos e estradas.

Essa situação perturbadora explica outro mo-tivo das Cruzadas. No

que partiam milharesde homens para o ou-tro lado do mundo di-minuía também o pro-blema de alimentarmais bocas e encontrartrabalho para a popu-lação que não paravade crescer. Como pro-metia o papa UrbanoII, "no Oriente en-contrariam terrasque jorravam leite emel". As Cruzadas ti-veram o suporte dapopulação excedente,que atendeu de imedi-

ato o apelo do papa acreditando que além das rique-zas teria o lote assegurado no céu.

No que se refere ao aspecto econômico, devese destacar o empenho das cidades de Veneza e Gê-nova que participaram ativamente da empreitada,principalmente após a Segunda Cruzada, quandoentão financiaram expedições com o objetivo de au-mentar os negócios com o mundo oriental. Na AltaIdade Média, Veneza e Gênova mantiveram um ra-zoável padrão comercial, apesar do marasmo eco-nômico do ocidente. Com a venda do sal consegui-ram acumular grande fortuna que foi então empre-gada nas expedições das Cruzadas. O interesse pu-ramente econômico das cidades italianas foi enco-berto pela motivação religiosa. Antes do fim dasCruzadas já eram as cidades mais ricas do mundoocidental.

Jerusalém é ponto de referênciafundamental às três grandes religiões monoteístas. Dentro das muralhas da cidade velha estão locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos.

Muçulmanos

Jerusalém é a terceira cidade mais importantepara a fé Islâmica, depois de Meca e Medina (ambas naArábia Saudita)

Jerusalém - A cidade sagrada

Na gravura,cavaleiroscristãosatacamfortaleza naÁsia Menor

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Na empreitada de reconquista de Jerusalém oscristãos esperavam receber ajuda de Constantinopla.

Na prática os árabes se mostra-ram um grande ameaça aosbizantinos e uma união com oscristãos, em tese, seria bem vin-da. Lembre que em 1054, católi-cos e bizantinos chegaram aoápice das divergências religiosasquando então, houve o Cisma doOriente. Daí emdiante, a cristan-dade desmem-brada passou ater duas igrejas:Católica Apostó-lica no mundoocidental e Cris-tã Ortodoxa, nomundo oriental.Resumindo; asCruzadas poderiam favorecer aunião das duas igre-jas.

AS EXPEDIÇÕES PARA ATERRA SANTA

O interessante é que antes do em-barque da expedição oficial, saiu uma ex-pedição que a Igreja não reconheceu comoprimeira Cruzada. O grupo de 5.000 pes-soas foi comandado por um líder religiosochamado Pedro, o Eremita que organizouum exército de indigentes. Como era de seesperar, o grupo comandado pelo Eremitaenfrentou inúmeros problemas ao longo dopercurso, sendo que poucos chegaram noOriente. A "Cruzada dos Mendigos" comofoi então chamada, já chegou esfaceladaem Constantinopla para enfrentar em se-

guida, o deserto, que serviu de sepultura para os últi-mos sobreviventes.

Em 1097, nobres, cavaleiros e centenas de pes-soas humildes partiram em direção à Jerusalém inte-grando a Primeira Cruzada. A expedição reuniu gentede todos os cantos e de todas as classes sociais. Comdiferentes motivos, homens foram em busca da salva-ção eterna, da conquista, pilhagem e da fama pessoal.Já em fins de 1097, conseguiram um triunfo parcialretomando uma parte da Ásia Menor, anteriormentedominada pelos muçulmanos. Em 1099, derrotaram

os árabes reconquistando Jerusalém.A conquista da cidade santa foi ce-

lebrada em todo o Ocidente, dando a im-pressão que era uma vitória definitiva doscristãos. Entretanto a derrota árabe se deunum momento de extrema divisão e des-gaste interno do mundo islâmico como umtodo.

Atacados por uma coalizão cristãextremamente numerosa e animada pelo

fervor religioso, os árabes não conseguiram en-carar a briga de igual paraigual. Com a derrota dos mu-çulmanos estruturou-se umreino cristão que se mantevepor meio século, quando en-tão, os árabes foram aos pou-cos recuperando o que havi-am perdido. Após a vitória oscristãos foram se espalhandopor várias regiões entre Jeru-salém e Constantinopla. Comisso não criaram raízes nummeio, por natureza, hostil aodominador.

No que se refere ao co-mércio, as regiões dominadaseram litorâneas, facilitando aconstrução de fortificações que

asseguravam o desembarque de naviosque chegavam com interesse comercial.

Pedro, o Eremita,entrega a UrbanoII uma súplica doPatriarca deJerusalém

DEUS OQUER!!!!

"Fora dos combates os cruzados não se poderiam apre-sentar como modelos de compostura. Os cidadãos de Cons-

tantinopla lhes detestavam as maneiras rústicas. Até mesmo aosmais civilizados ocidentais aquela cidade deixava boquiabertos de

espanto. Nessa época Paris, Londres e Roma eram pouco mais quevilas, com a sua feira. Constantinopla tinha ruas pavimentadas,

iluminadas à noite, lojas abrigadas em colunatas, parques, teatros,um hipódromo, mansões para os ricos, blocos de resi-dênciasoperárias, a incomparável igreja de Santa Sophia, e o palácio

imperial, repleto de mármores, mosaicos, pedras raras esuntuosas tapeçarias. A riqueza da cidade era tentadora, e os

cruzados não reprimiram o ímpeto de saquear. Ana Comnena, filhado imperador, talvez a mulher mais azeda que já lançou palavras em papel - invectivou os

cruzados como epíteto de "bestas louras" sempre "ávidos por dinheiro". (In.Anne Fremantale. AConquista pelas Cruzadas. Coleção Time-Life. Livraria José Olympio . Pág 56/57

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Essa importante mudança encerrou séculos dehostilidade comercial entre árabes e cristãos, e no casoos dois tiveram a ganhar. Foi aí que cidades comoVeneza, Gênova e Pisa despertaram para as Cruza-das. A porta aberta pelas cruzadas intensificou o co-mércio de especiarias estimulando o interesse pelo Ori-ente. Com o tempo o interesse comercial extrapolou amotivação religiosa inicial.

No Oriente, os cristãos ficaram fascinados comas riquezas e os padrões culturais diferentes. Até en-tão a sociedade feudal vivera enclausurada nos feudose castelos, condicionada a seguir os valoresteocentricos. Entorpecidos pelo preconceito e desco-nhecimento, os cristãos não poderiam imaginar queencontrariam um mundo mais dinâmico e desenvolvi-do que o mundo ocidental. Independente do desfechomilitar, o contato com o mundo oriental se mostravaextremamente enriquecedor para os cristãos.

REFLUXO CRISTÃO NASCRUZADAS.

Depois de meio século os árabes se recupera-ram e começaram a fustigar os reinos cristãos. A que-da do reino de Odessa em 1144 motivou a segundaCruzada liderada pelos reis Luís VII da França eConrado III da Alemanha. Logo após os árabes recu-perarem Jerusalém, em 1187, organizou-se da terceiraCruzada liderada pelos reis Frederico Barba-Ruiva daAlemanha, Felipe II da França e Ricardo Coração deLeão da Inglaterra. Fortalecidos, os árabes derrota-ram os cristãos nas duas cruzadas.

A presença de monarcas liderando as duas cru-zadas se deu num contexto de interesse pelo reforçoda autoridade pessoal. Na Europa, as monarquiasengatinhavam o processo de centralização política des-pertando a cobiça dos monarcas e suseranos. Entre-tanto a participação dos monarcas teve efeitodesagregador, pois raramente conseguiram se enten-der.

A quarta Cruzada que foi patrocinada pelosmercadores de Veneza, concentrou-se basicamente noaspecto comercial. Quando a expedição chegou aConstantinopla atacou a capital do Império Bizantino,destruindo e saqueando 1/3 da cidade. Ficou então pa-tente o interesse mercantil. Com o domínio deConstantinopla, os mercadores de Veneza asseguravamo controle da melhor rota de comércio do mundo.

Os sucessivos fracassos mexeram com o Oci-dente. Foi nesse contexto que se organizou a inusitadaCruzada de jovens e crianças. Seus integrantes marcha-ram para o Oriente acreditando que Deus abriria o ca-minho nas águas do Mediterrâneo para a passagem dosguerreiros infantis. Sem muita opção os garotos foramcapturados por mercadores de escravos. Conivente como absurdo, a Igreja incentivava a ida dos garotos pro-metendo indulgências e o lugar garantido no céu.

As últimas Cruzadas ratificaram os interessesanteriores. A sexta Cruzada, em 1228, foi liderada porum nobre excomungado pela própria Igreja! No Orien-te o excomungado Frederico II da Alemanha casou-secom a filha do rei de Jerusalém. O casamento garantiu-lhe uma patética e efêmera presença na cidade santa,até quando saiu escorraçado pelos árabes.

Na última cruzada o rei francês Luís IXcondicionara o regresso à conquista de Jerusalém. Con-seguiu no máximo combater os árabes em circunstânci-as completamente desfavoráveis. Depois da última ten-tativa, em 1270, morreu vítima de uma peste no norteda África. Reconhecendo o desprendimento e zelo cris-tão, a Igreja resolveu canonizar o rei que havia lutadoem vão. Daí em diante não houve mais quem se aventu-rasse, por melhor que fossem as promessas. Emboratenha amargado uma derrota militar, restava ao mundoocidental a perspectiva de acentuar as trocas comerci-ais que muito contribuíram para o renascimento econô-mico do continente europeu.

Mapa dasCruzadas. Fonte:Brasil 500 Anos.Editora AbrilCultural. pág 7

Na gravura da esquerda, cavaleiros devotoschefiados pelo rei Luís IX (de coroa na cabeça), velejampara a África, tencionando invadir a Terra Santa através doEgito.

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das O Castelo de Belvoir

De alta competência nas artes da guerra, mas relativamente poucos emnúmero, os cruzados do século XII contruíram castelos na Terra Santa paraguardar suas posses e a fim de servir como centros para o início de novasconquistas. A maioria estava situada em locais estratégicos; o castelo de Belvoir,aqui ilustrado, ficava na borda de uma escarpa elevada no sul da Galiléia, domi-nando a vista para o rio Jordão e seus lados vitais. Os muçulmanos que captura-ram Belvoir intato em 1189, conheciam-no como a “Estrela dos Ventos”, e ohistoriador árabe Abu Shama disse que ele “estava colocado entre as estrelas

como um ninho de falcão”.Construído para os

Hospitalários, uma ordem fechadade monges guerreiros, Belvoirficou pronto em 1168. Foi um dosprimeiros castelos concêntricosda história da arquitetura ociden-tal, consistindo em uma fortalezaquadrada interna, cercada poroutra faixa de fortificaçõesexternas. É provável que osHospitalários ocupassem afortaleza interna, enquanto seusauxiliares mercenários ficavamnas estruturas de fora.

Como sistema defensivo,um castelo como esse tinha umponto fraco: se o inimigo rompes-se o círculo externo de defesa,poderia usá-lo para repelir umaforça de auxílio, ao mesmo tempoem que assediava a guarniçãointerna. De qualquer forma,Belvoir suportou um sítio dedezoito meses entre 1187 e 1189,antes de se render. In GeoffreyParker.op cit. pág 77.

Fundada para proteger os peregrinos da Terra Santa, a Ordem dosTemplários usava o motivo de dois cavaleiros sobre um único cavalo comosímbolo do voto de pobreza que os prendia. Ele aparece em sinetes do séculoXII e na ilustração ao lado, da Chronica Majora, do historiador inglês MateusParis, de cerca de 1245. Os escudos trazem o desenho preto-e-branco,emblema distintivo dos templários. Com certeza, os guerreiros monges nãodividiam um cavalo para viajar ou lutar, embora a tática de fazer um cavaleirolevar outro soldado na garupa para aumentar a velocidade de um exércitofosse comum entre os muçulmanos. In. Geoffrey Parker.A Luta pelaTerraSanta. Coleção Time-Life. pág 91

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PARA VOCÊSABERMAIS.

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população da Cidade Santa foi morta pela espada, e os franj(cristãos) massacraram os muçulmanos durante uma semana. Na mesquitaal-Aqsa, eles mataram mais de 70 mil pessoas. E Ibn al-Qalanissi, que evitamanipular números que não se podem verificar, pre-cisa: “Muitas pessoasforam mortas. Os judeus foram reunidos na sinagoga e os franj os queima-ram vivos. Eles destruíram também os munumentos dos santos e o túmulo

de Abraão − que a paz esteja com ele!”Entre os monumentos saqueados pelos invasores está a mesquita de Omar, erigida em memó-

ria do segundo sucessor do Profeta, o califa Ibn al-Khattab, que tomara Jerusalém em 638. Os árabesnão deixaram de evocar com freqüência este acontecimento, com a intenção de ressaltar a diferença

entre seu comportamento e o dos franj. Neste dia, Omar fizera sua entrada no seu famoso camelobranco, enquanto o patriarca grego da Cidade Santa avançava ao seu encontro. Antes de pedir-lhepara visitar os locais sagrados do Cristianismo, o califa começou assegurando-lhe que a vida e os

bens de todos os habitantes seriam respeitados. Enquanto eles estavam na igreja de Qyama, diante doSanto Sepulcro, tendo chegado a hora da reza, Omar perguntou ao seu hóspede onde poderia esten-der seu tapete para se prosternar. O patriarca o convidou a fazê-lo onde estava, mas o califa respon-deu: “Se eu fizer isso, amanhã os muçulmanos vão querer apropriar-se desse local, dizendo: “Omar

orou aqui.” E, levando o seu tapete, foi ajoelhar-se no exterior. Ele pensara corretamente, pois foinesse preciso lugar que se construiria a mesquita que traz seu nome. Oschefes francos, infelizmente, não tiveram essa magnitude. Festejaram seutriunfo com uma matança indescritível, depois saquearam selvagemente a

cidade que pretendiam venerar.Seus próprios correligionários não foram poupados: uma das

primeiras medidas tomadas pelos franj é expulsar da Igreja do SantoSepulcro todos os sacerdotes dos ritos orientais − gregos, georgianos,armênios, coptas e sírios − que oficiavam juntos, segundo uma antiga

tradição que todos os conquistadores haviam respeitado até então. Pasmoscom tanto fanatismo, os dignatários das comunidades cristãs orientais deci-

dem resistir. Eles se recusam a revelar aos invasores o local onde estáescondida a cruz verdadeira a qual o Cristo morreu. Para esses homens a

devoção religiosa para com a relíquia é acrescida de orgulho patriótico. Nãosão eles, com efeito os concidãos do Nazareno? Mas os invasores não se

deixam de forma alguma impressionar. Prendendo os sacerdotes que têm aguarda da cruz e submetendo-os à tortura para arrancar-lhes em segredo,

eles conseguem tirar dos cristãos da Cidade Santa, pela força, a maispreciosa de suas relíquias.

Maalouf, Amin. As Cruzadas vistas pelos Árabes. EditoraBrasiliense. Pág. 57.

Terra Santa querida de todos os corações cristãos foi profanada.Os reis cristãos devem empunhar suas armas contra os inimigos de Deus. Aguerra à qual são chamados é uma guerra e Deus o quer! deve ser seu grito.Quem perder a vida nessa empresa ganhará o paraíso e a remissão de seuspecados”. Com tais palavras o papa Urbano II pregou a Primeira Cruzada.

As Cruzadas vistaspelos Árabes.

As Cruzadas vistaspelos Árabes.

Os CristãosOs CristãosA gravura mostraos cristãos naporta deJerusalém.