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Page 1: CTC Recomendação de adubação da - · PDF file20 - Revista Coplana - Janeiro 2008 1. Introdução - A definição de doses de fertilizantes para a cana-de-açúcar pela estimativa

20 - Revista Coplana - Janeiro 2008

1. Introdução - A definição de doses de fertilizantes para a cana-de-açúcar pela estimativa de produtividade (t de cana/ha) é uma prática que não deve ser adotada isoladamente por não ter embasamento técnico da pesquisa. Interpretações e recomendações distorcidas podem ocorrer se for utilizado apenas este parâmetro, podendo resultar em doses insufi-cientes, em alguns casos de falta de nutrientes no solo, ou em doses anti-econômicas, com adubação em excesso, em situações de fertilidade natu-ral elevada.

A recomendação da adubação deve se basear fundamentalmente nas análises químicas dos solos. Existem “curvas de respostas” para os prin-cipais nutrientes (fósforo, potássio e cálcio + magnésio), e níveis críticos para a maioria dos macro e micronutrientes, obtidos em trabalhos desen-volvidos no CTC em experimentação no campo.

2. Curva de Calibração - A curva de calibração de um determinado nutriente (Figura 1) resulta da resposta em produtividade da cana a doses crescentes do nutriente, com conhecimento prévio do seu teor inicial no solo, através da análise química. Cada “ponto” da Figura 1 representa a pro-dução relativa da testemunha (ausência do nutriente estudado) em relação à produção máxima obtida no experimento com a presença do nutriente.

Quanto menor o teor do nutriente no solo (esquerda do eixo X), maior é a respos-ta esperada em produtividade. So-los com teores de potássio abaixo de 0,6 mmolc/cm3 (< 40 ppm) deverão responder com aumentos de pro-dutividade de até 30% com a aplica-ção de fertilizan-te potássico . Por outro lado, solos com teores aci-ma de 4,2 mmolc/cm3 de potássio (>160 ppm), pos-

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Recomendação de adubação dacana-de-açúcar pela estimativa de produtividade

Figura 1 – Curva de resposta para potássio em cana-soca (Chalita, 1991)

sivelmente de alta expectativa de produtividade, pois seus teores de nutrientes são naturalmente altos, dispensam a adubação potássica. O coeficiente de correlação (r = 0,95) significa que a curva obtida explica 95% das respostas que ocorreram nos solos estudados.

Portanto, solos com baixos teo-res de nutrientes tendem a menores expectativas de produções, porém apresentam maiores respostas aos fertilizantes aplicados se não hou-ver outro impedimento qualquer (compactação, disponibilidade de água, pragas, ervas daninhas, etc.).

Por outro lado, ensaios do CTC em solos naturalmente férteis (am-biente A) em cana-planta, onde va-riaram-se as doses de N-P2O5-K2O de 12-62-62 (T2) a até 50-250-250 (T5), mostraram não haver diferen-ça significativa entre as produtivi-dades nos diferentes tratamentos (Tabela 1). Se fosse utilizada a esti-mativa de produtividade (média de 180 t/ha nos ensaios), haveria ne-cessidade de se aplicar 180 kg de N/ha e 270 kg de K2O/ha baseando-se em recomendação de domínio pú-blico, que aplica a relação de 1 kg de nitrogênio e 1,5 kg de K20 para cada tonelada de cana esperada.

Mauro Sampaio BenediniClaudimir Pedro Penatti

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Os tratamentos no solo LVE-1 foram: T1, T2,T3,T4 e T5 - iguais aos anteri-oresT6 - 0-120-140 kg/ha de N-P2O5-K2OT7 - T3 + 60 kg/ha de fósforo no sulcoT8 - T3 + 250 kg/ha de fósforo (P2O5) em área totalT9 - T3 + 1000 kg/ha de gesso no sulcoT10 - T3 + 1000 kg/ha de calcário no sulcoT11 - T2 + 10 t/ha de torta de filtro seca no sulco

3. Considerações finais – Deve-se utilizar sempre a tabela de recomendação de adubação (Tabela 2a e 2b) do CTC obtida das curvas de respostas aos nu-trientes. Após definida a dose a ser utilizada, pode-se variar

com a expectativa de produção, que deve ser encarada como uma ferramenta complementar de auxí-lio. Se a recomendação baseada na análise de solo for de 130 kg/ha de K2O (teor muito baixo de potássio no solo) deve-se partir desse valor para variar as doses aplicadas, para mais ou menos de acordo com a produção esperada. Em uma lavou-ra de 20 corte é coerente aplicar mais fertilizante que em uma de 50 corte que esteja com um problema qualquer (pragas, ervas daninhas, falhas, compactação, etc.), mas o raciocínio deve partir sempre da dose recomendada pela tabela.

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P k trocável - mmolc/dm³

mg/kg< 0,8 0,9 - 1,5 1,6 - 2,6 2,7 - 5,2 > 5,2

N - P2O5 - K2O - kg/ha

0 - 6 50 - 120 - 140 50 - 120 - 110 50 - 120 - 80 50 - 120 - 50 50 - 120 - 0

7 - 15 50 - 100 - 140 50 - 100 - 80 50 - 100 - 50 50 - 100 - 50 50 - 100 - 0

16 - 40 50 - 80 - 140 50 - 80 - 110 50 - 80 - 80 50 - 80 - 50 50 - 80 - 0

> 40 50 - 60 - 140 50 - 60 - 110 50 - 60 - 80 50 - 60 - 50 50 - 60 - 0

K trocável N - P2O5 - K2O

mmolc/dm³ kg/ha

< 0,6 100 - 30 - 130

0,7 - 1,2 100 - 30 - 100

1,3 - 2,1 100 - 30 - 70

2,2 - 4,2 100 - 30 - 40

> 4,2 100 - 30 - 0

Tratamento LR-1 LVE-1 Média

t de cana/ha

1 178 a 133 a 156

2 182 a 140 a 161

3 183 a 137 a 160

4 185 a 131 a 158

5 182 a 136 a 159

6 183 a 137 a

7 177 a 141 a

8 183 a 138 a

9 186 a 134 a

10 185 a 136 a

11 181 a 145 a

12 186 a

CV % 7,41 8,05

DMS 10% 31 29,5

CV: Coeficiente de variaçãoDMS: Diferença mínima significativa ao nível de 10% de probabilidade do teste de Tukey.

Tabela 1 - Resultados da t de cana/ha das duas áreas experimentais (Fonte Penatti e Forti, 1997)

Os tratamentos aplicados no solo LR-1 foram:T1 - 500 kg/ha da 05-25-25 + 45 kg/ha de N em complementaçãoT2 - 250 kg/ha da 05-25-25 (12-62-62)T3 - 500 kg/ha da 05-25-25T4 - 750 kg/ha da 05-25-25T5 - 1000 kg/ha da 05-25-25 (50-250-250)T6 - T3 + micronutrientes (zinco, boro e cobre)T7 - T5 + micronutrientes (zinco, boro e cobre)T8 - T3 + 250 kg/ha de fósforo (P2O5) em área totalT9 - T3 + 500 kg/ha de gesso no sulcoT10 - T3 + 10 t/ha de torta de filtro seca no sulcoT11 - T2 + 10 t/ha de torta de filtro seca no sulcoT12 - 50-80-50 kg/ha de N-P2O5-K2O

Tabela 2 a - Recomendação de Adubação para Cana PlantaTabela 2 b - Recomendação de Adubação para Cana Soca

Para o nitrogênio, especifica-mente, não há tabela de recomen-dação, pois sua disponibilidade no solo é variável e de difícil quantifi-cação, ocorrendo incoerências na correlação de doses do nutriente com os inúmeros parâmetros testa-dos (teores, tipo e textura do solo, ambiente de produção, matéria orgânica, taxa de mineralização, variedades, etc.). A recomendação é baseada em curvas de respos-tas obtidas nos diferentes tipos de solos que mostram respostas semelhantes tanto para solos de maior potencial quanto para solos de menor potencial de produção. A dose recomendada em soqueiras é de 100 kg/ha. Para a cana-planta as doses de nitrogênio em cobertu-ra devem ser de 60 kg/ha também para todos os tipos de solos.

Finalizando, ao se definir doses de nutrientes pela produtividade esperada, na maioria das vezes dei-xa-se de adubar exatamente onde se espera maior retorno. A reco-mendação única e exclusivamente pela produtividade esperada pro-vavelmente irá incorrer em queda de produtividade acentuada entre os diferentes cortes e menor longe-vidade do canavial.

Mauro Sampaio Benedini e Claudimir Pedro Penatti são membros do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira